230 pág.

Pré-visualização | Página 6 de 50
as distintas contribuições, acreditamos que seremos capazes de compreender melhor este fenômeno e delimitar as causas do aparecimento deste tema e sua conexão com os acontecimentos recentes no mundo organizacional, os impactos que este tipo de violência tem sobre as vítimas, o perfil dos agressores e por último, as ações que o mundo jurídico está realizando para coibir este tipo de violência. Pretendemos construir um estado da arte deste tema através da reconstituição, sistematização e classificação das categorias de estudo mais freqüentemente apresentadas nas pesquisas realizadas nas diferentes áreas e publicadas em veículos acadêmicos internacionais. Nosso foco se concentrará em três fontes: 1) livros que tratam deste assunto; 2) websites que tratam exclusivamente deste tema; 3) artigos publicados em revistas acadêmicas de primeira linha, estrangeiras e nacionais. Analisando a base de artigos em periódicos acadêmicos levantada até o momento, tais como International Jourmal of Manpower, Aggression and Violent Behaviour, Pistes e European Journal of Work and Organizational Psychology , percebemos que, fora do país, este tema tem raízes bem entrincheiradas na área de Psicologia. Sobre estas duas últimas revistas as edições que tratavam unicamente de assédio moral foram muito importantes para o nosso entendimento deste assunto, bem como para nos familiarizarmos com os pesquisadores que estavam estudando este tema. Dentre os inúmeros pesquisadores, destacamos as contribuições de Leymann, Andrea Adams e Marie-France Hirigoyen no início dos estudos sobre assédio moral e, mais recentemente, os 28 pesquisadores Einarsen, Sheehan, Keashley, Mikkelsen, Rayner, Davenport, Piñuel y Zabala, Grenier-Peze e Salin. No Brasil, notamos que, diferentemente de outros países, pesquisadores da área de Administração participam ativamente dos debates sobre assédio moral no trabalho. Dentre os quais destacamos os trabalhos de Freitas, Heloani, Margarida Barreto, Liliana Guimarães, Adriana Rimoli, Lia Soboll e Martiningo Filho, entre outros. Na medida em que nossa pesquisa avançava, percebemos que seria muito valioso realizar a pesquisa bibliográfica em websites, para investigar como este tema estava sendo pesquisado fora do país e descobrir quais pesquisadores estavam mais envolvidos nesta área. Isto se deve ao fato de a internet ser um meio valioso de propagação de informação, de fácil acesso e de rápida disseminação do conteúdo. O Anexo 1 lista os principais websites consultados. Incluímos, quando possível, o país de origem dos organizadores do website, para que se perceba como este tema realmente se alastrou e é objeto de interesse de pesquisadores do mundo inteiro. Finalmente, acreditamos que alguns valores não podem deixar de fazer parte do universo organizacional, tais como respeito aos colegas e um ambiente de trabalho livre da violência. Esperamos contribuir para que as empresas, através das pessoas que as dirigem e que ali trabalham possam reconhecer que, independente das pressões por lucros, o ser humano tem o direito de ser tratado com dignidade e humanidade. Por tudo que apresentamos, esperamos que este trabalho possa contribuir com a preservação dos direitos das pessoas. Como disse Pellegrino (1983, p. 4) “a sociedade só pode ser preservada – e respeitada - pelo trabalhador na medida em que o respeite e o preserve.” 29 PARTE I – CONTEXTO SÓCIO-ORGANIZACIONAL Homo homni lupus est Thomas Hobbes 1 A propósito da violência e da violência no trabalho Na sociedade atual o tema assédio moral articula-se dentro de um tema muito maior que é o tema da violência. A questão da violência aparece nos dias atuais como grande ameaça à vida em sociedade; ela domina as conversas, monopoliza a atenção da mídia e figura como um tema sério de estudo entre acadêmicos de todo o mundo. Para Johnson e Indivik (2001) a cada semana atingimos um novo patamar de incivilidade. Agamben (2002) defende que o que temos hoje diante dos olhos é de fato uma vida exposta a uma violência sem precedentes precisamente nas formas mais profanas e banais. Enriquez (2006) diz que o vínculo social se desfaz cada vez mais rapidamente e que a violência a que assistimos não é fundadora do direito e nem necessária à relação humana, mas que é uma violência excessiva que visa suprimir não somente o indivíduo, mas o próprio sentido, fazendo com que nada na vida tenha sentido. Golding (apud SANTOS E DIAS, 2004) afirma que este é um dos mais importantes problemas de Saúde Pública hoje, devido às conseqüências para as vítimas, ao temor que causa na comunidade, e a seu enorme custo para a sociedade. Santos e Dias (2004) na sua abrangente revisão da literatura sobre a questão da violência dizem que a maneira como encaramos a violência muda historicamente, pois, atos que não eram considerados violentos passam a ser assim considerados. Fraga (apud SANTOS E DIAS, 2004, p. 3) explica que “a violência dos primatas é chamada de “violência original”, já que “era praticada como necessidade incontornável no processo de luta pela sobrevivência, num grau de desenvolvimento histórico que não oferecia outras saídas ou possibilidades de ação e relação”. Este mesmo autor explica que existe atualmente outro tipo de violência, mais sutil e destrutiva, desestruturante e desagregadora. 30 O tema é tão difícil que até mesmo uma definição simples de violência é complicada. Ferreira (1986, p. 1779), por exemplo, diz que “violência é um ato contrário ao direito e à justiça, impetuoso, tumultuoso e intenso, em que se faz uso da força causando constrangimento físico ou moral”. O dicionário Michaelis (2007, p. 2205) define como “qualquer força realizada contra a vontade, liberdade ou resistência da pessoa ou coisa; constrangimento físico exercido sobre a pessoa para obrigá-la a submeter-se à vontade de outrem.” Para Moser (1987) uma conduta é considerada agressiva se atende a três critérios independentes: 1) a constatação de dano possível ou real para a vítima; 2) a intenção, por parte do autor, de produzir conseqüências negativas; e 3) o fato de que o comportamento seja considerado pela vítima e/ou um observador como inapropriado. Santos e Dias (2004) situam a violência como uma estratégia de sobrevivência das camadas populares vitimadas pelas contradições do capitalismo. Para estes autores, as desigualdades sociais, o contraste brutal entre opulência e indigência e as poucas oportunidades de emprego e de remuneração dignas, levariam os pobres a se rebelarem e tentarem recuperar o excedente a que foram expropriados. Outra abordagem é desenvolvida por Koop e Lundberg (apud SANTOS E DIAS, 2004), eles dizem que a violência, dinheiro e conhecimento são os três pilares do poder humano, mas que a violência é o que tem menor poder porque só pode ser utilizada para punir. Sendo que os outros dois, ao contrário, podem ser usados positivamente ou negativamente. Hannah Arendt (2001) discorda daqueles que associam violência a poder, pois para ela o poder resulta da capacidade humana de agir em conjunto, de conseguir agir em consenso, portanto vê poder e violência como diametralmente opostos, visto que a presença absoluta de um significa a ausência de outro. Para ela, é a desintegração de poder que permite a violência, e que “a violência aparece onde o poder está em risco, mas, deixada em seu próprio curso, ela conduz à desaparição do poder.” (p. 44). Rifiotis (apud SANTOS E DIAS, 2004) diz que a violência é o caos, é a falta de limite, o imprevisível. Para este teórico a violência significa uma ruptura, provocada por um elemento não integrado, que está fora de tempo e de lugar. Agudelo (apud SANTOS E DIAS, 2004) define-a como a utilização de força física ou de coação