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<p>UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ</p><p>ESPECIALIZAÇÃO EM AUDITORIA E CONTROLE INTERNO</p><p>JOAQUIM JOSÉ DO NASCIMENTO NETO</p><p>ANÁLISE DA AUDITORIA OPERACIONAL NA LEI 12.711/2012 - LEI DE COTAS</p><p>PARA INGRESSO NO ENSINO SUPERIOR NAS INSTITUIÇÕES FEDERAIS DE</p><p>ENSINO (IFES), MINISTRO WALTON ALENCAR, JULGADA PELO ACÓRDÃO</p><p>2376/2022.</p><p>Sobral/CE</p><p>2024</p><p>A Auditoria Operacional na Lei de Cotas para Ingresso no Ensino Superior nas</p><p>Instituições Federais de Ensino (IFES), conduzida pelo Tribunal de Contas da União</p><p>(TCU), teve como foco principal avaliar a implementação e os resultados da política</p><p>de cotas instituída pela Lei 12.711/2012. Essa política visa ampliar o acesso ao ensino</p><p>superior para grupos historicamente desfavorecidos, como estudantes de escolas</p><p>públicas, de baixa renda, negros, indígenas e pessoas com deficiência, buscando</p><p>reduzir as desigualdades sociais e raciais no Brasil.</p><p>O objeto auditado foi a política de cotas para ingresso em cursos de graduação</p><p>nas IFES, com ênfase na análise da efetividade dos critérios socioeconômicos e</p><p>étnico-raciais estabelecidos pela Lei 12.711/2012. Embora o relatório não especifique</p><p>detalhadamente como o TCU selecionou esse tema, é possível inferir que a escolha</p><p>se deu pela relevância social da política de cotas e pela necessidade de avaliar a sua</p><p>eficácia, considerando que a Lei previa uma revisão após dez anos de sua publicação.</p><p>O objetivo da auditoria foi examinar a implementação da política de cotas,</p><p>avaliando aspectos como a seleção dos beneficiários, os desafios na execução e as</p><p>práticas de acompanhamento e monitoramento da política. O escopo abrangeu</p><p>também a análise das despesas associadas ao programa, que totalizaram R$ 33,04</p><p>milhões em 2021, segundo os dados do Sistema Integrado de Administração</p><p>Financeira (Siafi).</p><p>Os objetivos da política de cotas incluem a democratização do acesso ao</p><p>ensino superior e a promoção da igualdade racial, com o público-alvo sendo composto</p><p>por estudantes oriundos de escolas públicas, afrodescendentes, indígenas e pessoas</p><p>com deficiência. Essa política se alinha a metas mais amplas do Plano Nacional de</p><p>Educação (PNE), que prevê a ampliação das políticas de inclusão e assistência</p><p>estudantil como formas de reduzir as desigualdades étnico-raciais e aumentar as</p><p>taxas de acesso e permanência desses grupos no ensino superior.</p><p>No que diz respeito à governança, a auditoria apontou uma série de lacunas,</p><p>destacando a falta de coordenação entre a política de cotas e as políticas de</p><p>assistência estudantil, como o Programa Nacional de Assistência Estudantil (Pnaes)</p><p>e o Programa de Bolsa Permanência. Essa falta de coordenação compromete a</p><p>sustentabilidade da política, pois, sem suporte financeiro adequado, muitos</p><p>estudantes cotistas enfrentam dificuldades para concluir seus cursos. Além disso, a</p><p>auditoria criticou a ausência de regulamentação clara para o procedimento de</p><p>heteroidentificação, fundamental para garantir a correta aplicação das cotas raciais.</p><p>Os aspectos orçamentários abordados na auditoria revelaram que, embora o</p><p>volume de recursos fiscalizados tenha sido significativo, o relatório não detalhou a</p><p>alocação desses recursos de forma a permitir uma análise mais profunda sobre a</p><p>eficácia da política de cotas no uso dos recursos públicos.</p><p>Em termos de metas, resultados e indicadores de desempenho, a auditoria</p><p>identificou que a política de cotas ainda não atingiu plenamente seus objetivos, uma</p><p>vez que os percentuais de participação de estudantes negros, pardos, indígenas e</p><p>com deficiência nos cursos de graduação das IFES ainda não correspondem aos</p><p>percentuais dessas populações no censo do IBGE. Isso indica que há desafios</p><p>significativos na implementação da política, que ainda não conseguiu promover uma</p><p>inclusão equitativa desses grupos no ensino superior.</p><p>A auditoria também destacou a ausência de sistemas de TI corporativos</p><p>específicos que possam auxiliar no monitoramento e na gestão da política de cotas, o</p><p>que dificulta o acompanhamento de indicadores e a avaliação de resultados. Para a</p><p>coleta e análise de dados, foram utilizadas técnicas como análise documental,</p><p>avaliação de dados estatísticos e entrevistas com gestores, que permitiram ao TCU</p><p>obter uma visão abrangente sobre a implementação da política.</p><p>Quanto aos riscos associados ao programa, a auditoria identificou a falta de</p><p>regulamentação sobre a heteroidentificação e a ausência de monitoramento eficaz</p><p>como os principais fatores que comprometem a efetividade da política de cotas. Além</p><p>disso, o critério de renda, que atualmente estabelece um limite de 1,5 salário-mínimo</p><p>per capita para a subcota de baixa renda, foi considerado mal focalizado, gerando</p><p>uma competitividade desproporcional entre os candidatos mais pobres, o que pode</p><p>dificultar o acesso desses grupos ao ensino superior.</p><p>A legislação pertinente ao programa inclui a própria Lei 12.711/2012, que</p><p>estabelece as cotas, além do Estatuto da Igualdade Racial (Lei 12.288/2010), que</p><p>orienta as políticas de ação afirmativa, o Plano Nacional de Educação (Lei</p><p>13.005/2014), que estabelece metas para a inclusão educacional, o Estatuto da</p><p>Juventude (Lei 12.852/2013) e o Decreto 7.234/2010, que instituiu o Pnaes.</p><p>Os principais achados da auditoria incluem a falta de regulamentação para o</p><p>procedimento de verificação da autodeclaração racial, a ausência de estudos sobre a</p><p>convergência entre os programas de assistência estudantil e a política de cotas, e a</p><p>inadequação do critério de renda utilizado, que acaba por criar desigualdades dentro</p><p>do próprio grupo de cotistas. Em resposta a esses achados, o TCU recomendou ao</p><p>Ministério da Educação (MEC) a criação de diretrizes e regulamentações para a</p><p>heteroidentificação, a realização de estudos sobre o impacto dos programas de</p><p>assistência estudantil na retenção e evasão de estudantes cotistas, e a revisão do</p><p>critério de renda da política de cotas.</p><p>A auditoria avança além dos critérios formais e legais tradicionais ao avaliar a</p><p>política de cotas com base em indicadores de eficiência, eficácia, efetividade e</p><p>equidade. O TCU não se limitou a verificar o cumprimento das normas legais, mas</p><p>também analisou o impacto real da política sobre o público-alvo e a sociedade, o que</p><p>revela um enfoque mais abrangente e profundo.</p><p>Por fim, a auditoria contribui significativamente para a melhoria do desempenho</p><p>da ação governamental ao fornecer recomendações detalhadas e específicas para o</p><p>aprimoramento da gestão pública. Essas recomendações visam fortalecer a política</p><p>de cotas e garantir que ela atinja seus objetivos de inclusão social e educacional de</p><p>maneira mais efetiva e equitativa, promovendo assim uma maior democratização do</p><p>acesso ao ensino superior no Brasil.</p><p>.</p><p>.</p><p>REFERÊNCIAS</p><p>BRASIL. Relatório de fiscalizações em politícas e programas de governo.</p><p>Tribunal de Contas da União, Brasília, 2023.</p>

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