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<p>TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO PARANÁ</p><p>15ª CÂMARA CÍVEL</p><p>Apelação Cível n° 0073635-24.2018.8.16.0014, da 7ª Vara Cível de Londrina</p><p>Apelante (s): Itaú Unibanco S/A</p><p>Apelado (s): Osvaldo Takeshi Tomori</p><p>Relator: Desembargador Jucimar Novochadlo</p><p>APELAÇÃO CÍVEL. REVISIONAL. CONTRATO DE ABERTURA DE CRÉDITO EM</p><p>CONTA CORRENTE (LIS LIMITE ITAÚ PARA SAQUE). 1. INÉPCIA DA INICIAL.</p><p>PEDIDOS GENÉRICOS EM RELAÇÃO ÀS ABUSIVIDADES PRATICADAS NA</p><p>CONTA GARANTIDA (CAPITALIZAÇÃO DE JUROS E COMISSÃO DE</p><p>PERMANÊNCIA) E NA CONTA CORRENTE (COMISSÃO DE PERMANÊNCIA).</p><p>FALTAS QUE NÃO PODEM SER SUPRIDAS PELO PEDIDO INCIDENTAL DE</p><p>EXIBIÇÃO DE DOCUMENTOS. PETIÇÃO QUE DEVE SE FUNDAR EM</p><p>ELEMENTOS CONCRETOS. 2. CAPITALIZAÇÃO DE JUROS NA CONTA</p><p>CORRENTE. POSSIBILIDADE. MEDIDA PREVISTA NO ART. 28, §1º, INCISO I,</p><p>DA LEI 10.931/2004. EXPRESSA CONTRATAÇÃO. 3. TAXAS E TARIFAS POR</p><p>SERVIÇOS PRESTADOS. POSSIBILIDADE DE COBRANÇA. PACTUAÇÃO</p><p>EXPRESSA. SENTENÇA REFORMADA. IMPROCEDÊNCIA DA PRETENSÃO</p><p>INICIAL. 4. SUCUMBÊNCIA. INVERSÃO DO ÔNUS.</p><p>1. Restou configurada a inépcia da petição inicial em relação à conta garantida</p><p>e à comissão de permanência, tendo em vista que os pedidos relacionados a</p><p>essas matérias foram feitos de forma totalmente genérica e hipotética,</p><p>deixando condicionada a especificação da pretensão à exibição incidental de</p><p>documentos pelo réu.</p><p>2. É permitida a capitalização de juros com periodicidade inferior a um ano em</p><p>contratos celebrados após 31.3.2000 (em vigor como MP 2.170-36/2001), desde</p><p>que expressamente pactuada.</p><p>3. É possível a cobrança de tarifas e taxas no caso em que, além de estarem</p><p>expressamente previstas em contrato, correspondem a contraprestação pela</p><p>realização de serviço ou contratação de produto bancário.</p><p>4. Considerando que os pedidos formulados na inicial restaram improcedentes</p><p>em sede recursal, necessária a inversão do ônus sucumbencial determinado</p><p>na sentença, nos termos do §2º do art. 82 do CPC.</p><p>Apelação cível provida.</p><p>Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação Cível nº 0073635-</p><p>24.2018.8.16.0014, da 7ª Vara Cível de Londrina, em que figura como Apelante Itaú Unibanco S/A; e</p><p>Apelado Osvaldo Takeshi Tomori.</p><p>Trata-se de apelação cível interposta por em face de sentença1. Itaú Unibanco S/A</p><p>proferida na ação revisional e complementada em sede de embargos de declaração (NPU 0073635-</p><p>24.2018.8.16.0014; mov. 207.1 e 213.1), pela qual a pretensão inicial foi julgada procedente em relação às</p><p>contas correntes nº 16.163-4 e nº 40.222-4, para o fim de: a) determinar o expurgo da cobrança de juros</p><p>capitalizados; b) determinar o expurgo da cobrança de taxas e tarifas; c) declarar ilícita a cumulação de</p><p>comissão de permanência com outros encargos moratórios; d) condenar o réu a repetir e/ou compensar as</p><p>quantias pagas a maior, de forma simples e acrescidas de correção monetária contada de cada desembolso,</p><p>bem como de juros de mora de 1% ao mês a partir da citação; e) condenar o réu ao pagamento das custas</p><p>/despesas processuais e dos honorários advocatícios, estes fixados em 10% sobre o proveito econômico,</p><p>nos termos do art. 85, §2º, do CPC.</p><p>Nas razões de recurso, defende o apelante, em síntese, que: a) a ausência de prova</p><p>pericial ocorreu por desídia do autor que deixou de recolher sua cota dos honorários periciais, razão pela</p><p>qual a presunção deve ser desfavorável às pretensões formuladas na inicial; b) a capitalização apenas é</p><p>contratada e, consequentemente, cobrada, se eventualmente houver assinatura de Contrato de abertura de</p><p>crédito em conta corrente (LIS – PJ), o que, no caso dos autos, só ocorreu em 15/10/2012 (mov. 48.3), com</p><p>a assinatura do contrato pela parte autora, cujo fato não foi levado em conta pelo magistrado de primeiro</p><p>grau; c) referido contrato contém cláusula de renovação automática, prevendo expressamente a incidência</p><p>de capitalização mensal de juros, o que é suficiente para reconhecer a legalidade de sua cobrança; d) há</p><p>necessidade de reforma da sentença em relação às determinações de expurgo da conta garantida nº 40.222-</p><p>4, visto que nada a esse respeito foi alegado na petição inicial e portanto sequer constituiu objeto da ação; e)</p><p>diversamente do que entendeu o juízo de origem, houve expressa previsão contratual para a cobrança de</p><p>taxas e tarifas pela prestação dos serviços bancários, conforme item 1.6 do quadro geral e cláusula 11,</p><p>ambos do contrato de abertura de mov. 48.3; e f) o autor não se desincumbiu de seu ônus de provar a</p><p>efetiva cobrança de comissão de permanência e, tampouco, de sua incidência cumulativa com outros</p><p>encargos moratórios, limitando-se a alegar situação hipotética. Diante disso, pugna pelo conhecimento do</p><p>recurso e, ao final, seu provimento, a fim de que seja reformada a sentença, com a integral improcedência</p><p>da pretensão inicial e a inversão do ônus de sucumbência. (mov. 218.1, da ação)</p><p>O recurso não foi respondido. (mov. 224, da ação)</p><p>É o relatório.</p><p>O recurso comporta provimento.2.</p><p>Objeto da ação revisional</p><p>De acordo com a narrativa da petição inicial, a controvérsia recursal é restrita ao</p><p>questionamento de ilegalidades referentes à capitalização de juros, às taxas e tarifas e à comissão de</p><p>permanência cumulada com outros encargos praticadas na conta corrente de nº 16xx-3 e na conta garantida</p><p>de nº 402xx-4, ambas da agência 8092 mantida junto ao Banco apelante, entre maio de 2010 e agosto de</p><p>2018.</p><p>Da conta garantida e da comissão de permanência – inépcia da petição inicial</p><p>A análise da petição inicial demonstra que a parte autora discorreu de forma</p><p>totalmente genérica e hipotética sobre a existência de abusividades relativas à conta garantida, bem como</p><p>da cumulação indevida de comissão de permanência com outros encargos moratórios em ambas as contas</p><p>questionadas.</p><p>Todavia, tem-se que a revisão contratual deve ser respaldada em dados concretos,</p><p>indicando a parte autora os contratos, os extratos, os períodos e em quais movimentações incidiram as</p><p>ilegalidades questionadas, com a indicação dos valores impugnados de forma clara e específica.</p><p>Sob essa perspectiva, não é plausível que a parte venha a juízo e afirme</p><p>categoricamente a existência de capitalização de juros sem pactuação em relação à conta garantida e de</p><p>comissão de permanência cumulada com outros encargos nas contas corrente e garantida, mas não acoste</p><p>absolutamente nada, nenhum indício da real existência de tais abusividades no caso concreto.</p><p>Na verdade, verifica-se que a pretensão constante da petição inicial constituiu mera</p><p>tese sem respaldo nos contratos efetivamente firmados, tendo em vista que, como é cediço, a revisão de</p><p>conta corrente pressupõe o exame não só do contrato de abertura de conta corrente como dos demais</p><p>contratos de limite de crédito a ela vinculados.</p><p>Assim, inegável que o autor assumiu o risco de propor uma ação mal instruída, pediu</p><p>a revisão do contrato e a repetição do indébito de modo absolutamente genérico em relação à conta</p><p>garantida e à cumulação de comissão de permanência com outros encargos, presumido que tais</p><p>abusividades seriam verificadas após a exibição incidental de documento pelo banco e da produção de</p><p>provas.</p><p>Contudo, é pacífica a jurisprudência desta Câmara no sentido de que tanto a inversão</p><p>do ônus da prova como a exibição de documentos não eximem o autor de trazer o mínimo de provas acerca</p><p>dos fatos constitutivos do direito alegado. Nesse sentido, extrai-se da decisão proferida pelo ilustre</p><p>Desembargador Hayton Lee Swain Filho em caso análogo a seguinte conclusão:</p><p>“[...] Consoante sólido posicionamento desta C. Câmara, tanto o requerimento de inversão do ônus</p><p>da prova como o de exibição incidental de documentos não elidem a incumbência do autor de</p><p>deduzir, já na petição inicial, um mínimo de detalhamento acerca dos fatos alegados como também</p><p>fornecer ao menos indícios das ilicitudes apontadas. Do contrário, haveria a permissão pelo</p><p>Judiciário - ao qual é dado julgar casos concretos - do processamento de feitos, aplicada a teoria da</p><p>asserção, calcados em meras conjecturas, violando o autor, de acordo com interpretação</p><p>sistemática,</p><p>o requisito do artigo 319, III, do CPC (282, III, do CPC/73), de que "a petição inicial</p><p>indicará o fato e os fundamentos jurídicos do pedido. Ademais, adotada na espécie a tese de que as</p><p>supostas ilegalidades derivariam de ausência de pactuação, realmente indispensável que a inicial</p><p>viesse acompanhada de prova escrita do avençado quanto às taxas de juros remuneratórios e à</p><p>forma de incidência destes, único meio de o autor evidenciar tratar-se de pleito fundado não em</p><p>meras suposições, mas em inferências vinculadas, efetivamente, ao caso concreto.". (TJPR - 15ª C.</p><p>Cível - AC - 1676833-7 - Toledo - Rel.: Hayton Lee Swain Filho - Unânime - J. 28.06.2017)</p><p>Vale ressaltar que, no intuito da petição ser instruída com documento indispensável à</p><p>propositura da ação – exigência prevista no art. 320 do CPC –, a parte autora deveria ter se valido da</p><p>produção antecipada de prova (artigos 318 c/c 381 a 383 do CPC) ou, até mesmo, de acordo com parte da</p><p>doutrina, previamente, de ação autônoma de exibição de documento, pelo procedimento comum.</p><p>E, em tese, ainda que seja possível a formulação de pedido de exibição de</p><p>documentos de forma incidental, é certo que não há como se aferir de forma concreta as abusividades</p><p>ocorridas nos contratos celebrados, a fim de formular pretensão certa e determinada, como ordena o já</p><p>mencionado art. 324 c/c o art. 330, §2º, ambos do CPC, sem prévia análise do que fora pactuado.</p><p>Cuida-se desta forma, de alegação hipotética, inapta a respaldar a pretensão inicial</p><p>de revisão da conta garantida e da suposta cumulação da comissão de permanência com outros encargos.</p><p>Ademais, é evidente que, nessa hipótese, ocorreria cerceamento de defesa da instituição financeira, que não</p><p>conhecia os exatos limites do pedido e, portanto, da lide.</p><p>Assim, no caso em tela, constata-se que, embora tenha indicado o suposto valor</p><p>controvertido à título de capitalização (R$ 33973,65) e de taxas e tarifas (R$ 9.164,15), a mesma</p><p>especificação não ocorreu em relação à conta garantida nem à comissão de permanência.</p><p>A mesma omissão é verifica no laudo técnico produzido unilateralmente (mov. 1.5), o</p><p>qual, por si só, é insuficiente para suprir a ausência dos documentos indispensáveis e a inépcia da inicial,</p><p>tendo em vista que se refere à auditoria de extratos que não acompanharam a petição.</p><p>A propósito, oportuno citar o seguinte trecho de referido laudo (mov. 1.5, fls. 02):</p><p>“f) Constatou-se a existência de uma conta corrente garantida, de nº 40.222-4, com utilização</p><p>durante o período de 13/05 a 13/12/2.016 e que, devido à falta do respectivo contrato, por hora não</p><p>está sendo verificada. Necessário que o banco, detentor do documento, traga aos autos o</p><p>respectivo contrato.</p><p>Logo, conclui-se que a petição inicial não possui qualquer aptidão, sendo</p><p>inquestionável a conclusão de sua inépcia, em razão, não só do descumprimento do art. 320 do CPC</p><p>(instruir a inicial com os documentos indispensáveis à propositura da ação), mas também em virtude da</p><p>alegação genérica em relação às abusividades praticadas na conta garantida (capitalização de juros e</p><p>comissão de permanência) e na conta corrente (comissão de permanência), pois culminaram em pedido</p><p>incerto e condicionado à posterior conferência dos contratos e de outros documentos que viessem a ser</p><p>exibidos pelo requerido para se aferir concretamente a abusividade de tais encargos.</p><p>Nesse sentido, já se manifestou esta Câmara em diversas oportunidades. Confira-se:</p><p>APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE RESTITUIÇÃO DE VALORES. SENTENÇA QUE INDEFERE A</p><p>PETIÇÃO INICIAL ANTE A AUSÊNCIA DE DOCUMENTO INDISPENSÁVEL. I – VIOLAÇÃO AO</p><p>PRINCÍPIO DA DIALETICIDADE. PRELIMINAR ARGUIDA EM CONTRARRAZÕES. REJEITADA. II</p><p>– INÉPCIA DA PETIÇÃO INICIAL. ALEGAÇÕES GENÉRICAS. AUSÊNCIA DO CONTRATO.</p><p>PEDIDO INCIDENTAL DE EXIBIÇÃO DE DOCUMENTOS QUE NÃO SUPRE SUA FALTA.</p><p>DETERMINAÇÃO DE EMENDA À INICIAL. OPORTUNIZAÇÃO DE REGULARIZAÇÃO NÃO</p><p>ATENDIDA. MANUTENÇÃO DA SENTENÇA. I - Não há violação ao princípio da dialeticidade,</p><p>tendo em vista que a parte exequente ataca especificamente os tópicos da r. sentença. II – “Impõe-</p><p>se o indeferimento da petição inicial por inépcia, quando o pedido é feito de forma genérica,</p><p>deixando condicionada a especificação da pretensão à exibição incidental de documentos pelo réu.”.</p><p>(TJPR - 15ª C. Cível - 0002362-67.2018.8.16.0019 - Ponta Grossa - Rel.: Desembargador Jucimar</p><p>Novochadlo - J. 13.03.2019). Determinada a emenda da inicial para a juntada dos documentos</p><p>indispensáveis à propositura da ação e permanecendo inerte a parte, deve ser mantida a sentença</p><p>que indeferiu a inicial, com a extinção do feito, sem resolução do mérito. APELAÇÃO CÍVEL</p><p>CONHECIDA E NÃO PROVIDA. (TJPR - 15ª C. Cível - 0032867-95.2018.8.16.0001 - Curitiba</p><p>- Rel.: Desembargador Shiroshi Yendo - J. 07.11.2019)</p><p>APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO REVISIONAL DE CONTRATO BANCÁRIO. INDEFERIMENTO DA</p><p>PETIÇÃO INICIAL. NULIDADE DA SENTENÇA POR AUSÊNCIA DE FUNDAMENTAÇÃO.</p><p>INOCORRÊNCIA. ALEGAÇÕES GENÉRICAS. EXTINÇÃO DO PROCESSO SEM RESOLUÇÃO</p><p>DO MÉRITO. SENTENÇA MANTIDA. 1. Não merece acolhida o pedido de nulidade da sentença,</p><p>por ausência de fundamentação, isso porque embora sucinta foi devidamente motivada, motivo pelo</p><p>qual não há a alegada negativa de prestação jurisdicional. 2. É de se manter o indeferimento da</p><p>petição inicial, quando a autora, mesmo após determinação de emenda, faz apenas meras</p><p>conjecturas, arguindo a ocorrência de supostas ilegalidades de maneira absolutamente genérica,</p><p>sem qualquer liame com o caso concreto. RECURSO NÃO PROVIDO. (TJPR - 15ª C. Cível -</p><p>0002830-54.2019.8.16.0194 - Curitiba - Rel.: Desembargador Hayton Lee Swain Filho - J.</p><p>28.08.2019)</p><p>Com base nessas premissas, impõe-se dar provimento ao recurso, a fim de reformar</p><p>a sentença e de determinar a extinção do feito em relação à alegação genérica das abusividades</p><p>supostamente praticadas na conta garantida (capitalização de juros e comissão de permanência) e na conta</p><p>corrente (comissão de permanência).</p><p>Capitalização de juros na conta corrente</p><p>Pretende o Banco requerido a reforma da sentença quanto à determinação de</p><p>expurgo da capitalização de juros na conta corrente (nº 16xx-3), ao argumento de que sua prática é legal por</p><p>ter sido previamente pactuada entre as partes.</p><p>Pois bem. O Superior Tribunal de Justiça firmou o entendimento de que, por força do</p><p>art. 5º da Medida Provisória 2.170-36, é possível a capitalização mensal dos juros nas operações realizadas</p><p>por instituições integrantes do Sistema Financeiro Nacional, desde que pactuada nos contratos bancários</p><p>celebrados após 31 de março de 2000, data da publicação da primeira medida provisória com previsão</p><p>dessa cláusula (art. 5º da MP 1.963/2000). Portanto, para a aplicação da referida Medida Provisória, se faz</p><p>necessário que o contrato tenha sido celebrado após 31 de março de 2000 e que faça menção expressa à</p><p>incidência de juros capitalizados.</p><p>Nesse sentido:</p><p>[...] 2. "É permitida a capitalização de juros com periodicidade inferior a um ano em contratos</p><p>celebrados após 31/3/2000, data da publicação da Medida Provisória nº 1.963-17/2000, em vigor</p><p>como MP nº 2.170-01, desde que expressamente pactuada" (REsp n. 973.827/RS, Relatora para</p><p>acórdão Ministra MARIA ISABEL GALLOTTI, SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 8/8/2012, DJe 24/9</p><p>/2012). [...] (AgRg no AREsp 293.432/MS, Rel. Ministro ANTONIO CARLOS FERREIRA, QUARTA</p><p>TURMA, julgado em 11/06/2013, DJe 19/06/2013)</p><p>Contudo, para que seja possível o expurgo da capitalização de juros, é preciso que</p><p>fique demonstrada a sua ocorrência, o que, apesar da tese defendida pelo apelado, não restou evidenciado</p><p>nos autos.</p><p>Em outras palavras, em que pese a inversão do ônus da prova determinada pela</p><p>decisão de mov. 62.1, cabia ao autor, ora apelado, a comprovação dos fatos constitutivos de seu direito, nos</p><p>termos do art. 373, inciso I, do CPC, não sendo possível concluir pela comprovação da capitalização</p><p>somente com base em parecer técnico (mov. 1.5), elaborado de forma unilateral e desacompanhado dos</p><p>extratos e de planilha de cálculo, de modo que insuficiente para afastar a aplicação</p><p>das cláusulas 1.7.3 e 3</p><p>do contrato de abertura de crédito em conta corrente juntado pelo requerido (mov. 48.3).</p><p>Sobre o ônus da prova, colhe-se da doutrina:</p><p>“Como, nas demandas que tenham por base o CDC, o objetivo básico é a proteção ao consumidor,</p><p>procura-se facilitar a sua atuação em juízo. Apesar disso, o consumidor não fica dispensado de</p><p>. Pelo contrário, a regra continua a mesma, ou seja, o consumidor, comoproduzir provas</p><p>. (...)autor da ação de indenização, deverá comprovar os fatos constitutivos do seu direito</p><p>Deve ficar claro, porém, que o ônus de comprovar a ocorrência dos danos e da sua relação de</p><p>causalidade com determinado produto ou serviço é do consumidor. Em relação a esses dois</p><p>pressupostos da responsabilidade civil do fornecedor (dano e nexo causal), não houve alteração da</p><p>norma de distribuição do encargo probatório do artigo 333 do CPC” (SANSEVERINO, Paulo de</p><p>Tarso Vieira. Responsabilidade Civil no Código do Consumidor e a Defesa do Fornecedor. 3ª. Ed.</p><p>São Paulo: Saraiva, 2010, p. 354-5., sem destaques no original)</p><p>Ademais, não foi produzida a prova pericial nos autos por desinteresse do próprio</p><p>autor (mov. 141.1), o que era de rigor para comprovar a ocorrência da capitalização de juros na conta</p><p>corrente.</p><p>De igual modo, impunha-se ao autor a comprovação dos fatos alegados na inicial, em</p><p>relação à qual se verifica a alegação singela sobre a capitalização de juros, especialmente no período entre</p><p>maio de 2010 e setembro de 2012, vez que se limitou a afirmar a sua prática na espécie, enquanto que o</p><p>Banco requerido, por sua vez, alegou que, em relação à conta corrente, a capitalização de juros somente foi</p><p>cobrada após a assinatura do contrato de abertura de crédito em conta corrente (LIS – PJ), em 15/10/2012,</p><p>fato que restou comprovado com a juntada do instrumento nos autos (mov. 48.3). Confira-se:</p><p>Inclusive, a contratação de limite de crédito de R$ 5.000,00 contou com cláusula de</p><p>prorrogação automática (cláusula 7ª), cuja vigência se estende a todo período posterior à sua pactuação.</p><p>Logo, tendo sido o contrato de abertura de conta corrente firmado após o ano de</p><p>2000, com a comprovação pelo banco apelante acerca da contratação dos encargos incidentes sobre o</p><p>limite de crédito da conta corrente tanto no período de normalidade como no de inadimplência, não há que</p><p>se falar em expurgo ou ilegalidade da capitalização de juros.</p><p>Com base nessas premissas, diferentemente do que restou consignado na sentença,</p><p>o pedido de expurgo da capitalização na conta corrente não comporta acolhimento, uma vez que</p><p>comprovada a pactuação expressa a ensejar sua incidência.</p><p>Assim, impõe-se a reforma da sentença, a fim de julgar improcedente essa pretensão.</p><p>Taxas e tarifas</p><p>Conforme entendimento da jurisprudência, é possível a cobrança de taxas e tarifas</p><p>para a prestação de serviços bancários não isentos pelas instituições financeiras, desde que expressamente</p><p>pactuadas. Confira-se:</p><p>AGRAVO INTERNO NOS EMBARGOS DE DECLARAÇÃO EM RECURSO ESPECIAL. AÇÃO</p><p>REVISIONAL. CONTRATO BANCÁRIO. JUROS REMUNERATÓRIOS. CAPITALIZAÇÃO DE</p><p>JUROS. TAXAS E TARIFAS. SERVIÇOS BANCÁRIOS. COBRANÇA. NECESSIDADE DE</p><p>PACTUAÇÃO. AGRAVO INTERNO DESPROVIDO. 1. Nos contratos bancários, na impossibilidade</p><p>de comprovação da taxa de juros efetivamente contratada - por ausência de pactuação ou por falta</p><p>de juntada do instrumento aos autos -, aplica-se a taxa média de mercado, divulgada pelo Bacen,</p><p>praticada nas operações da mesma espécie, salvo se a taxa cobrada for mais vantajosa para o</p><p>devedor (Súmula n. 530 do STJ). 2. "A cobrança de capitalização diária de juros em contratos</p><p>bancários é possível, sendo necessária a informação acerca da taxa de juros diária a ser aplicada,</p><p>ainda que haja expressa previsão quanto à periodicidade no contrato" (AgInt no REsp n. 2.002.298</p><p>/RS, Quarta Turma).3. As normas regulamentadoras editadas pela autoridade monetária permitem</p><p>que as instituições financeiras efetuem cobranças administrativas de taxas e tarifas pela prestação</p><p>de serviços bancários não isentos, desde que expressamente previstas no contrato. 4. Agravo</p><p>interno desprovido. (AgInt nos EDcl no REsp n. 2.088.846/PR, relator Ministro João Otávio de</p><p>Noronha, Quarta Turma, julgado em 19/3/2024, DJe de 22/3/2024.)</p><p>AGRAVO INTERNO NO RECURSO ESPECIAL. AÇÃO REVISIONAL DE CONTRATO DE CONTA</p><p>CORRENTE CUMULADA COM REPETIÇÃO DE INDÉBITO. BANCÁRIO. TAXAS E TARIFAS.</p><p>PRESTAÇÃO DE SERVIÇO BANCÁRIO. CONTRATO ANTERIOR A 30/4/2008. POSSIBILIDADE</p><p>AINDA QUE AUSENTE PACTUAÇÃO. RAZÕES DO AGRAVO QUE NÃO INFIRMAM OS</p><p>FUNDAMENTOS DA DECISÃO AGRAVADA. SÚMULA 182/STJ.1. Ação revisional de contrato de</p><p>conta corrente cumulada com repetição de indébito. 2. Acerca das taxas e tarifas relacionadas à</p><p>prestação de serviço bancário, esta Corte tem entendimento no sentido de haver necessidade de</p><p>pactuação expressa para a sua cobrança, com exceção dos contratos celebrados até 30/4/2008.</p><p>Precedentes. 3. Não merece acolhimento o agravo interno que não impugna especificamente os</p><p>fundamentos da decisão agravada. 4. Agravo interno desprovido. (AgInt no REsp n. 2.009.758/PR,</p><p>relatora Ministra Nancy Andrighi, Terceira Turma, julgado em 9/11/2022, DJe de 11/11/2022.)</p><p>Este Egrégio Tribunal de Justiça, no Incidente de Uniformização de Jurisprudência nº</p><p>837.938-2/01, sumulou entendimento acerca da necessidade de autorização do correntista para cobrança de</p><p>tarifas bancárias. Confira-se:</p><p>Súmula 44: A cobrança de tarifas e taxas pela prestação de serviços por instituição financeira deve</p><p>ser prevista no contrato ou expressa e previamente autorizada ou solicitada pelo correntista, ainda</p><p>que de forma genérica.</p><p>A propósito, convém citar o seguinte precedente desta Câmara:</p><p>APELAÇÕES CÍVEIS. AÇÃO REVISIONAL C/C REPETIÇÃO DE INDÉBITO. CONTA CORRENTE.</p><p>PRESCRIÇÃO. MATÉRIA ENFRENTADA NA DECISÃO SANEADORA. PRECLUSÃO. PONTO</p><p>NÃO CONHECIDO. RECURSO DO AUTOR. JULGAMENTO “CITRA PETITA”. APLICAÇÃO DO</p><p>ART. 1.013, §3º, III DO CPC. JUROS REMUNERATÓRIOS. AUSÊNCIA DE ABUSIVIDADE.</p><p>PRETENDIDA LIMITAÇÃO À TAXA INICIALMENTE CONTRATADA PARA TODO O PERÍODO.</p><p>IMPOSSIBILIDADE. TAXAS E TARIFAS BANCÁRIAS. EXPRESSA AUTORIZAÇÃO</p><p>CONTRATUAL. REGULARIDADE.RECURSO DO BANCO. SEGURO. REGULARIDADE DA</p><p>CONTRATAÇÃO NÃO DEMONSTRADA. COBRANÇA ILEGAL. REPETIÇÃO DO INDÉBITO.</p><p>SUCUMBÊNCIA. SENTENÇA MANTIDA. 1. Não se conhece do recurso do banco no tocante à</p><p>alegada prescrição, tendo em vista que referida questão foi enfrentada na decisão saneadora e não</p><p>impugnada oportunamente. 2. Nos julgamentos “citra petita”, a análise do respectivo pleito, se o</p><p>conjunto probatório dos autos assim permitir, nos termos do art. 1.013, §3º, III, do Código de</p><p>Processo Civil, como é o caso, poderá ser feita pelo segundo grau de jurisdição, sem que seja</p><p>declarada qualquer nulidade ou caracterize ato de supressão de instância. 3. Não demonstrada a</p><p>abusividade na cobrança dos juros remuneratórios, estes devem ser mantidos conforme praticados.</p><p>Além disso, inadmissível a pretendida aplicação da taxa inicialmente pactuada para o período de</p><p>prorrogação automática, tendo em vista a expressa previsão contratual da possibilidade de reajuste</p><p>/variação das taxas a serem praticadas. 4. A legalidade da incidência de tarifas bancárias em conta</p><p>corrente pressupõe a prévia e expressa contratação pelo correntista, ainda que de forma genérica,</p><p>nos termos do entendimento do STJ e súmula 44 do TJ/PR, o que restou demonstrada. 5. Não</p><p>comprovada a regularidade na contratação do seguro e autorização para desconto em conta</p><p>corrente, deve ser mantida a ordem de restituição dos valores correspondentes. 6. A sucumbência</p><p>deve ser distribuída conforme a derrota sofrida e vitória auferida pelas partes. APELAÇÃO DO</p><p>AUTOR PARCIALMENTE PROVIDA. APELAÇÃO DO BANCO CONHECIDA EM PARTE E NÃO</p><p>PROVIDA. (TJPR - 15ª Câmara Cível - 0001965-76.2023.8.16.0069 - Cianorte - Rel.:</p><p>DESEMBARGADOR HAYTON LEE SWAIN FILHO - J. 07.05.2024)</p><p>No caso em apreço, está prevista expressamente a cobrança das tarifas bancárias,</p><p>conforme se observa do contrato (mov. 48.3):</p><p>Logo, considerando a legalidade da</p><p>cobrança das taxas e tarifas questionadas, impõe-</p><p>se a improcedência dos pedidos formulados a esse título, afastando, assim, a condenação de restituição de</p><p>referidos valores.</p><p>Sucumbência</p><p>Considerando o provimento do recurso do réu de forma que, ao final, a ação foi</p><p>julgada improcedente, necessária a inversão do ônus de sucumbência, a fim de condenar o autor ao ônus</p><p>de sucumbência, mantido o valor fixado para a verba honorária de 10% sobre o valor atualizado da causa</p><p>(R$ 43.137,80, em 25/10/2018 – mov. 1.1), em observância aos termos do art. 82, §2º, do CPC.</p><p>Pelo exposto, dá-se provimento ao apelo do réu, a fim de julgar improcedente a3.</p><p>ação revisional, com a inversão do ônus de sucumbência e a condenação do autor ao pagamento integral</p><p>das custas/despesas processuais e dos honorários advocatícios, estes fixados em 10% sobre o valor</p><p>atualizado da causa, nos termos da fundamentação.</p><p>Ante o exposto, acordam os Desembargadores da 15ª Câmara Cível do TRIBUNAL</p><p>DE JUSTIÇA DO PARANÁ, por unanimidade de votos, em julgar CONHECIDO O RECURSO DE PARTE E</p><p>PROVIDO o recurso de ITAU UNIBANCO S.A..</p><p>O julgamento foi presidido pelo (a) Desembargador Luiz Carlos Gabardo, sem voto, e</p><p>dele participaram Desembargador Jucimar Novochadlo (relator), Desembargador Luiz Cezar Nicolau e</p><p>Desembargadora Luciane Bortoleto.</p><p>Curitiba, 30 de agosto de 2024</p><p>Jucimar Novochadlo</p><p>Relator</p>