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Livro_CrescimentoEconomico IPEA

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FOLHA DE ROSTO_1nova.indd 1 18/2/2009 11:24:27
Governo Federal
Ministro de Estado Extraordinário de 
Assuntos Estratégicos – Roberto Mangabeira Unger
Secretaria de Assuntos Estratégicos
Fundação pública vinculada à Secretaria de Assuntos Estratégicos, o 
Ipea fornece suporte técnico e institucional às ações governamentais, 
possibilitando a formulação de inúmeras políticas públicas e programas de 
desenvolvimento brasileiro, e disponibiliza, para a sociedade, pesquisas e 
estudos realizados por seus técnicos.
Presidente
Marcio Pochmann
Diretor de Administração e Finanças 
Fernando Ferreira
Diretor de Estudos Macroeconômicos 
João Sicsú
Diretor de Estudos Sociais 
Jorge Abrahão de Castro
Diretora de Estudos Regionais e Urbanos 
Liana Maria da Frota Carleial
Diretor de Estudos Setoriais 
Márcio Wohlers de Almeida
Diretor de Cooperação e Desenvolvimento
Mário Lisboa Theodoro
Chefe de Gabinete 
Persio Marco Antonio Davison
Assessor-Chefe de Comunicação 
Estanislau Maria de Freitas Júnior
URL: http://www.ipea.gov.br
Ouvidoria: http://www.ipea.gov.br/ouvidoria
FOLHA DE ROSTO_1nova.indd 2 18/2/2009 11:24:27
Estratégias e Instituições
João Sicsú
Pedro Miranda
Organizadores
Armando Castelar Pinheiro 
Eduardo da Motta e Albuquerque
Fernando José Cardim de Carvalho
Miguel Bruno
Autores
Rio de Janeiro, 2009
FOLHA DE ROSTO_1nova.indd 3 18/2/2009 11:24:27
As opiniões emitidas nesta publicação são de exclusiva e inteira 
responsabilidade dos autores, não exprimindo, necessariamente, o ponto 
de vista do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada ou o da Secretaria 
de Assuntos Estratégicos.
É permitida a reprodução deste texto e dos dados nele contidos, desde 
que citada a fonte. Reproduções para fins comerciais são proibidas.
Crescimento econômico: estratégias e instituições/João Sicsú e Pedro Miranda, 
organizadores. – Rio de Janeiro: Ipea, 2009.
112 p.: gráfs., tabs.
1. Crescimento econômico 2. Desenvolvimento econômico 3. Brasil I. Sicsú, João 
II. Miranda, Pedro Carvalho de III. Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada.
ISBN - 978-85-7811-015-4 CDD 338.981
© Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada – ipea 2009
FOLHA DE ROSTO_1nova.indd 4 18/2/2009 11:24:27
Sumário
apreSentação 7
CAPÍTULO 1
a reLação entre Curto e LonGo perÍoDoS naS 
prinCipaiS CorrenteS teÓriCaS De eConomia 9
Fernando José Cardim de Carvalho
CAPÍTULO 2
piB potenCiaL e SeGurança JurÍDiCa no BraSiL 25
Armando Castelar Pinheiro
CAPÍTULO 3
CatChinG up no SÉCuLo XXi: ConStrução ComBinaDa 
De SiStemaS De inoVação e De Bem-eStar SoCiaL 55
Eduardo da Motta e Albuquerque
CAPÍTULO 4
aCumuLação De CapitaL e CreSCimento eConÔmiCo 
no BraSiL: uma anáLiSe Do perÍoDo 1950-2006 85
Miguel Bruno
sumario.indd 5 18/2/2009 11:24:59
sumario.indd 6 18/2/2009 11:24:59
APRESENTAÇÃO
Crescimento econômico e desenvolvimento não são fenômenos espontâneos. 
Exigem impulsos, coordenação de expectativas e estabelecimento de incentivos 
aos agentes econômicos. Crescimento é condição básica para que haja desenvol-
vimento. O crescimento pode ser realizado em curto espaço de tempo, mas é sua 
continuidade que abre as portas para o desenvolvimento. Os primeiros sintomas de 
uma relação sinérgica entre crescimento e desenvolvimento são: queda acentuada 
do desemprego, aumento drástico do grau de formalização da força de trabalho, 
elevação dos rendimentos, melhor distribuição funcional da renda e redução do 
déficit orçamentário nominal.
Desenvolvimento socioeconômico, entretanto, é muito mais que sintomas 
iniciais. É uma articulação que promove resultados sociais e envolve diversos 
sistemas e dimensões. O desenvolvimento é alcançado quando existe uma sólida 
articulação entre um sistema nacional de inovação maduro, um sistema de segu-
ridade social de qualidade e de acesso universal, um sistema financeiro funcional e 
um modelo macroeconômico eficiente, ou seja, é aquele que promove crescimento 
com estabilidade.
Tanto o crescimento quanto o desenvolvimento requerem estratégias e 
instituições. Estratégias são escolhas que ligam ações imediatas com objetivos 
esperados. Estratégias de crescimento e desenvolvimento podem ser também cha-
madas de planejamento. O planejamento pode ser participativo ou impositivo. As 
experiências reais de planejamento impositivo falharam, seja no Leste Europeu, 
seja nos regimes militares latino-americanos, durante décadas do século passado. 
Contudo, no mesmo período, o planejamento participativo que vigorou na Europa 
do bem-estar social mostrou-se bem-sucedido e transformou-se em lição a ser 
apreendida. Instituições ativas e eficientes são elementos essenciais de estratégias 
de planejamento participativo.
O primeiro capítulo deste livro traz uma revisão das idéias de diferentes 
correntes de pensamento econômico a respeito da temporalidade. Abordando os 
clássicos, e também Marshall, Keynes e Schumpeter, Cardim de Carvalho explora 
a relação entre curto e longo períodos e a aceitação do conceito de dependência 
de trajetórias, contrapondo teorias de origem keynesiana e schumpeteriana com 
as demais. Com isso, fica claro o grau de importância dado por estas correntes à 
função exercida pelas políticas econômicas.
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8 JOÃO SICSÚ – PEDRO MIRANDA
O papel das instituições é discutido por Armando Castelar Pinheiro, no 
segundo capítulo. O autor mostra a necessidade de elevados investimentos em 
infra-estrutura como forma de viabilizar o crescimento do produto potencial 
brasileiro, a taxas equivalentes àquelas verificadas nos anos 1950-1980. Castelar 
Pinheiro salienta, ainda, o papel da segurança jurídica como forma de reduzir a 
incerteza presente nas interações humanas e defende a idéia de que, mesmo após 
a conquista da estabilidade dos preços, o Brasil ainda conta com um baixo nível 
de segurança jurídica. O aumento da segurança jurídica é então apresentado como 
forma de estimular os agentes privados, promover o investimento e elevar a eficiência 
na alocação dos recursos na economia brasileira.
No terceiro capítulo, Eduardo Albuquerque sublinha, com base no diag-
nóstico do caso brasileiro, a importância do sistema de inovação e do sistema de 
bem-estar social como alicerce da estratégia para o desenvolvimento. Ao analisar 
experiências exitosas em processos de catching up, como as da Alemanha, do Japão 
e da Coréia do Sul, o autor salienta o caráter dinâmico essencial das inovações 
institucionais e apresenta elementos que devem ser inseridos em estratégias a serem 
adotadas no século XXI.
Miguel Bruno trata do papel do investimento em capital fixo produtivo no 
capítulo 4. O autor realiza uma análise das tendências do crescimento econômico 
brasileiro e de seus determinantes de longo prazo na segunda metade do século 
XX, salientando as relações entre lucro, acumulação e distribuição funcional da 
renda. Como conclusão, Miguel Bruno mostra a importância da acumulação de 
capital fixo produtivo e os efeitos negativos gerados pelo regime de crescimento 
adotado em anos recentes pela economia brasileira, o crescimento econômico com 
dominância financeira.
Assim, este livro é uma contribuição e um estímulo ao debate acerca do cres-
cimento e do desenvolvimento socioeconômico. Trata-se de leitura importante para 
os interessados em aspectos teóricos e empíricos relacionados a esses temas.
João Sicsú 
Diretor de Estudos Macroeconômicos do Ipea
Pedro Miranda 
Técnico de Planejamento e Pesquisa do Ipea
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Capítulo 1
A RELAÇÃO ENTRE CURTO E LONGO PERÍODOS NAS 
PRINCIPAIS CORRENTES TEÓRICAS DE ECONOMIA
Fernando José Cardim de Carvalho*
pois o tempo, que é o centro da principal dificuldade encontrada em quase todas as questões econômicas, 
é absolutamente contínuo: a Natureza desconhece forma de fracionar o tempo em longo e curto períodos; 
ambos transformam-se um no outro através de imperceptíveis gradaçõese o que é curto período para 
um problema, é longo período para outro.
alfred Marshall
1 INTRODUÇÃO
Duas noções de atividade econômica fundam abordagens completamente opostas 
da questão da temporalidade dos processos econômicos. De um lado, a economia 
política clássica via na produção de riqueza e nas formas de sua apropriação o con-
ceito apropriado de atividade econômica. Não por acidente, a obra fundadora da 
teorização econômica moderna se chamou precisamente Uma investigação sobre as 
causas da riqueza das nações. Essa perspectiva se impôs aos autores que se seguiram, 
notadamente Ricardo e Marx, e prosseguiu, com modificações importantes, na 
tradição neoclássica associada a Alfred Marshall, incluindo John Maynard Keynes. 
Nas tradições clássica e marshalliana, o papel do mercado era o de organizar a 
atividade produtiva privada, através da compensação oferecida a cada atividade, 
sob a forma de receitas de venda de bens e serviços. Como na tese da mão invisível 
de Adam Smith, o que se buscava mostrar era que a coordenação da atividade 
produtiva – aí incluída a divisão social do trabalho, fenômeno de grande comple-
xidade – poderia ser satisfatoriamente alcançada através da interação espontânea 
dos agentes econômicos buscando favorecer seus próprios interesses.
A outra noção de atividade econômica foi conceituada de modo mais consistente 
por Leon Walras e foi perpetuada através dos chamados modelos neowalrasianos. 
* professor titular do Instituto de Economia da universidade Federal do Rio de Janeiro.
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10 FERNaNDo JoSÉ CaRDIM DE CaRValHo
Para Walras, a troca, mais do que a produção, é a atividade econômica que deve 
ser objeto da economia. A produção assim como o consumo e a acumulação de 
riqueza material são os resultados da atividade econômica, mas não são eles mesmos 
uma atividade econômica. O objeto da economia deve ser explicar as proporções 
em que os bens são trocados, isto é, seus preços relativos. O que resulta desta troca 
é de interesse apenas subsidiário para a economia. Assim, Walras (1954, p. 143) 
definiu o objetivo da teoria econômica (utilizando a expressão “teoria da riqueza 
social”) do seguinte modo:
a troca de um bem por outro em um mercado perfeitamente competitivo é uma operação na qual todos 
os detentores de uma das duas mercadorias, ou de ambas, podem obter o maior grau de satisfação 
possível de seus desejos, mantendo a condição de que os dois bens sejam comprados e vendidos a um 
mesmo valor de troca em todo o mercado. 
o objeto principal da teoria da riqueza social é generalizar esta proposição mostrando primeiramente que 
se aplica à troca de diversos bens entre si assim como à troca entre dois bens, e, em segundo lugar, que 
em concorrência perfeita, esta regra se aplica à produção assim como à troca. o objeto principal da teoria 
da produção de riqueza social é mostrar como os princípios de organização da agricultura, da indústria 
e do comércio podem ser deduzidos como uma conseqüência lógica da proposição acima.
Em ambas as abordagens, o papel do mercado como local de interação entre 
agentes privados é essencial, mas na tradição clássica e na marshalliana, as tran-
sações de mercado são uma das fases do processo produtivo (aquelas com fatores 
de produção antes da atividade produtiva propriamente dita e as outras, com 
produtos finais, depois). É o processo como um todo que se constitui no objeto 
da teorização econômica. Na tradição walrasiana, o consumo dá sentido às tran-
sações de mercado, diretamente, no caso da determinação dos preços relativos de 
bens finais, ou indiretamente, no caso do mercado de fatores de produção. Mas 
são as trocas que importam ao economista. O consumo propriamente dito se dá 
quando o mercado já encerrou suas atividades e os valores já estão estabelecidos. 
O mesmo vale para a atividade produtiva que se inicia apenas quando o mercado 
de fatores de produção já cumpriu sua tarefa de precificar e distribuir os fatores 
pelas diversas firmas.
A troca, ao contrário do processo de produção, pode ser concebida como ins-
tantânea ou, melhor, atemporal. Esta é, de fato, a opção feita na tradição walrasiana 
e também na neowalrasiana. Isto porque, nessa abordagem, o que importa entender 
não é o processo de trocas mas, sim, encontrar o vetor de preços relativos com o 
qual o equilíbrio competitivo se atinge. É óbvio que Walras e seus seguidores têm 
consciência de que mercados operam ao longo do tempo.1 Analiticamente, porém, 
1. “assim é o mercado contínuo, que está sempre tendendo ao equilíbrio sem nunca realmente alcançá-lo, porque o mercado não possui 
outra maneira de se aproximar dele que não seja pelo processo de tateio…” (WalRaS, 1954, p. 380).
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11CRESCIMENto ECoNÔMICo: EStRatÉGIaS E INStItuIÇÕES
Walras se vale de um artifício para descrever o processo de tateio (tatonnement, 
groping), que equivale a eliminar sua temporalidade.2
Desse modo, não faz sentido qualificar o equilíbrio geral walrasiano como 
uma posição de equilíbrio de longo prazo, por exemplo. Já a atividade produtiva é 
um processo com temporalidade intrínseca. O mesmo vale para a acumulação de 
capital. Ambos trazem para o presente resultados futuros sob a forma de expectativas 
e se projetam para este mesmo futuro, dada a duração dos processos produtivos e de 
acumulação de capital. Mas essas projeções são complexas, envolvendo não apenas 
expectativas, mas também estratégias, contratos, bens duráveis, especialmente sob 
a forma de bens de capital, convenções etc. Além disso, tudo tem de se resolver no 
momento presente, que é onde convivem as expectativas do futuro e as heranças 
do passado, que por sua vez transforma-se continuamente em herança para o 
momento seguinte. A articulação dessas dimensões é extremamente complexa e é 
a isto que se referia Marshall na epígrafe deste capítulo.
No que segue, diversas estratégias de solução deste conundrum são apresen-
tadas. Excluiremos a abordagem walrasiana pelas razões dadas nesta introdução, 
isto é a ausência de uma temporalidade específica na atividade econômica. Segui-
remos, alternativamente, a seqüência clássicos/Marshall/Keynes, com um detour 
pela abordagem também explicitamente temporal de Schumpeter. Iniciaremos, 
na seção seguinte, com o apropriado: a visão historicizante que caracterizou a 
economia política clássica. A seção 3 abordará as idéias do mais importante teó-
rico da temporalidade em economia, Alfred Marshall, criador dos conceitos e da 
linguagem empregada nesse tipo de análise até os nossos dias. A seção 4 discutirá 
as idéias de Keynes, como continuador e, ao mesmo tempo, crítico de Marshall. 
A herança que seguidores de Keynes receberão se manifestará especialmente na 
discussão dos efeitos de política econômica, como se mostrará. A seção seguinte 
tratará de Schumpeter. A seção 6 concluirá o capítulo.
2 ECONOMIA POLÍTICA CLÁSSICA
A economia política clássica nasceu da tentativa de mostrar que agentes privados, 
operando livremente em defesa do interesse próprio, poderiam alcançar um grau 
2. Esse processo é descrito por Walras como equivalente a um em que o tateio se dá através da troca de bilhetes que darão direito à 
retirada de mercadorias apenas quando os preços de equilíbrio forem encontrados. até que isso ocorra, todas as ofertas e demandas 
são apenas tentativas, não podendo se concretizar senão em equilíbrio. Sobre o uso dos bilhetes, ver Walras (1954, p. 242 e 282). 
Hicks, em Value and Capital, obra maior da tradição de equilíbrio geral da primeira metade do século XX, também bane as operações a 
preços de desequilíbrio, chamadas por ele de “falsas trocas”. Sobre o conceito de falsas trocas, ver Hicks (1946, p. 128-129). De fato a 
atemporalidade do processo econômico nesta perspectiva foi mostrada de modo mais marcante exatamente por Hicks, na mesma obra. 
ali Hicks cria o artifício de realizar todas as trocas na “segunda-feira”, ficando o resto da “semana” dedicada à atividadede produção, 
conforme decidida na segunda-feira. Não há qualquer descrição analítica do que ocorre durante a semana, precisamente porque isso 
não tem qualquer importância nessa linha de abordagem.
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12 FERNaNDo JoSÉ CaRDIM DE CaRValHo
de coordenação de suas ações suficiente para garantir a consistência e a replicabi-
lidade desse padrão de relacionamento. Nem Smith nem, na verdade, qualquer 
outro autor clássico ou posterior foi realmente capaz de demonstrar essa afirmação, 
que é assumida como pressuposto, em vez de provada como resultado.3 O ideal de 
replicabilidade, de qualquer forma, implicaria a regularidade de comportamentos. 
Para tanto, era necessário identificar leis de comportamento. A existência de regu-
laridades na atividade econômica privada seria sinal de consistência interna, em 
contraposição à existência de regularidades causadas pela ação de algum agente 
externo, como o Estado.
A identificação de leis implica a possibilidade de separação entre relações 
essenciais, que se manifestam regularmente, e acidentais, que não seguem padrões 
estabelecidos. Essa separação é obtida, em ciências naturais, no laboratório, que 
nada mais é que uma construção artificial onde se testam hipóteses sobre o que 
constitui uma relação essencial simplesmente pela eliminação deliberada da 
influência daquilo que se julga acessório. A impossibilidade (ou, pelo menos, a 
limitação) do uso de métodos dessa natureza em ciências sociais levou a economia 
política clássica a adotar uma hipótese heróica: a da neutralidade do curto período. 
A atividade econômica estaria a cada momento obedecendo a forças essenciais e 
a forças acidentais. As primeiras seriam regulares, sistemáticas e exerceriam um 
impacto identificável sobre a atividade. As últimas seriam erráticas, imprevisíveis 
na sua ocorrência e no seu impacto. Assim, a atividade econômica a cada momento 
estaria sujeita a estímulos variados, combinações complexas de forças essenciais e 
acidentais. Os elementos acidentais, porém, não seriam sistemáticos (por definição) 
e, por isso, seu efeito teria duração curta. A observação histórica, nesse sentido, 
permitiria separar o essencial do acidental, observando-se as regularidades que 
marcariam o que é sistemático.
A economia política clássica se apoiou, portanto, numa espécie de neutralidade 
do curto período, no sentido de que o que acontecesse a cada momento seria o 
resultado não apenas de forças sistemáticas, mas também de todos esses choques 
acidentais que têm lugar o tempo todo. No longo período, apenas os elementos 
essenciais ocorreriam com a freqüência necessária para permitir a identificação das 
regularidades que seriam, então, qualificadas de leis.
A perspectiva historicizante do método clássico, naturalmente, se coadunava 
perfeitamente com a própria escolha de objeto dessa corrente. Desde Smith, para 
tomarmos um ponto de partida relativamente arbitrário na literatura, que a preo-
cupação da economia política clássica voltou-se prioritariamente para o processo de 
3. a mão invisível é uma metáfora, não uma prova, da consistência mútua de operações livremente decididas por agentes privados.
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13CRESCIMENto ECoNÔMICo: EStRatÉGIaS E INStItuIÇÕES
acumulação de capital. O foco da investigação de Smith não era propriamente por 
que algumas sociedades são ricas, mas por que elas enriquecem, e isto prosseguiu 
em Ricardo e Marx. A utilização de uma concepção de tempo histórico, portanto, 
na economia política clássica obedeceu a uma dupla demanda: a busca de iden-
tificação de leis através da repetição ao longo do tempo, e a postulação de que as 
leis relevantes eram leis de movimento, isto é, concepções de processos sistemáticos 
característicos das economias baseadas na atividade privada individual.
No que concerne mais diretamente à presente discussão, a principal impli-
cação do que acaba de ser proposto é que na economia política clássica não existe 
nenhuma influência relevante do que ocorre no curto período sobre o que ocorre 
no longo. O curto período, na verdade, é considerado ininteligível, exatamente 
porque não é possível estabelecer causalidades com relações que são acidentais em 
natureza. Isto se estabelecerá, por exemplo, na discussão da relação entre preços 
naturais e de mercado, como em Smith e Ricardo, onde os segundos gravitam em 
torno dos primeiros, sem contudo afetá-los.4
Para usar uma linguagem mais contemporânea, poder-se-ia dizer que o que 
ocorre no longo período depende apenas dos fatores tendenciais, sem qualquer 
influência de elementos conjunturais, cujo impacto seria apenas momentâneo. Na 
verdade, o curto período não é, nem pode ser, sequer objeto de teoria.5
3 MARSHALL E A INVENÇÃO DO TEMPO EM ECONOMIA
A ênfase da economia política clássica nas condições de produção foi sucedida, 
nos primeiros salvos do que viria a ser a revolução neoclássica, pela ênfase na 
formação da demanda por bens e serviços através da análise do comportamento 
de consumidores individuais. Este não é o lugar, naturalmente, para examinar as 
razões e resultados da reação neoclássica. O que importa é que a contraposição 
entre duas proposições radicalmente diferentes (a proposição clássica de que o 
valor das mercadorias depende de suas condições de produção e a proposição 
neoclássica de que o valor das mercadorias depende de sua utilidade, direta ou 
indireta, para consumidores) foi o mote para Marshall criar sua famosa “tesoura”, 
o modelo de oferta e demanda que se tornou segunda natureza para economistas 
modernos. Nesse modelo, oferta e demanda interagem para determinar os preços 
e as quantidades transacionadas de equilíbrio para cada mercadoria.
4. Marx, como sempre, recusa a linguagem naturalizante adotada por Smith e Ricardo, mas propõe basicamente a mesma relação entre 
valor e valor de mercado ou entre preço de produção e preço de mercado.
5. Isto permanece assim em abordagens que se propõem como continuadoras dos métodos clássicos. por exemplo, Eatwell (1977, p. 64), 
um expoente do neoricardianismo, observa que “acreditava-se que preços de mercado fossem influenciados por uma gama de forças 
– como incerteza, quebra de safra e monopólio, entre outras – e que por isso não poderiam ser analisados como resultantes de forças 
sistemáticas, como era o caso dos preços naturais.” ( ênfase minha). 
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14 FERNaNDo JoSÉ CaRDIM DE CaRValHo
Oferta e demanda são essenciais para a determinação de preços, argumentava 
Marshall, do mesmo modo que são necessárias as duas lâminas de uma tesoura 
para cortar um objeto. Ambas as forças estão presentes em todos os momentos, 
mas, e esta percepção está na raiz da inovação dramática introduzida por Marshall 
na teoria econômica, seu impacto sobre a formação de preços não é o mesmo em 
diferentes momentos. A interação entre oferta e demanda é mais complexa do 
que a simples contraposição estática entre duas forças opostas, mas imutáveis. 
Na verdade, propôs Marshall, tanto demanda quanto oferta tendem a mudar, em 
parte endogenamente, mas, e é o que realmente nos importa aqui, também assin-
cronicamente. Foi exatamente para lidar com essa assincronia, isto é, com o fato de 
que condições de produção e demanda variam de forma independente, inclusive 
temporalmente, que Marshall introduziu explicitamente tempo como instrumento 
analítico na teoria econômica.
Em Marshall, reconhecer a temporalidade dos processos econômicos não 
se resume à trivial constatação de que certos comportamentos são datados, ou à 
simples indexação de intervalos arbitrariamente definidos.6 A solução de Marshall 
foi, na verdade, bastante complexa, introduzindo dois conceitos centrais diversos, 
o de prazo e o de período. Estes conceitos seriam depois cruciais na consideração 
da temporalidade dos processos econômicos na teoria de Keynes.7
Em relação ao tema deste capítulo, o que interessa frisar, inicialmente, é 
que a análise de Marshall contrapôsao método clássico a idéia de que o curto 
período é tão inteligível quanto o longo, no sentido de que é possível identificar 
forças sistemáticas atuando no curto período tanto quanto no longo. O curto 
período deixa de ser, portanto, apenas a esfera do acidental e passa a ser teorizável 
tanto quanto o longo. Ainda mais pertinente ao tema em discussão, os processos 
que determinam as posições de longo período estão enraizados nos resultados 
verificados nas posições de curto. Isto significa que há um encadeamento entre 
as posições que pode, ele mesmo, ser descrito teoricamente. Assim, na economia 
marshalliana, é essencial conhecer-se o que ocorre no curto período para que se 
possa prever para onde convergirá a economia no longo. O que Marshall propôs, 
portanto, é o que bem mais tarde se conhecerá como “dependência de trajetórias” 
(path-dependence).
A chave para se entender a construção marshalliana é a compreensão de que 
seu objeto são as interações entre constrangimentos às ações dos agentes privados 
6. Como na discussão que caracterizou o nascimento de modelos dinâmicos de economia, onde se contrapunham modelos cuja natureza 
dinâmica era definida ou pela datação de variáveis ou pela proposição de taxas de variação em vez de níveis das variáveis. 
7. o presente autor discutiu detalhadamente esses temas em Carvalho (1990).
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15CRESCIMENto ECoNÔMICo: EStRatÉGIaS E INStItuIÇÕES
e a geração de incentivos para a mudança desses mesmos constrangimentos. As 
mudanças nos constrangimentos, porém, duram períodos variados, de acordo 
com o seu grau de fixidez. Assim, por exemplo, na sua aplicação universalmente 
conhecida à teoria da firma, Marshall assume, razoavelmente, que mudanças no 
grau de utilização de capacidade podem ser obtidas mais rapidamente que variações 
na capacidade instalada. Assim, variações na demanda (deslocamentos da curva 
de demanda) devem levar a novas posições de equilíbrio, que, no curto período, 
são concebidas como resultantes de variações no grau de utilização do capital 
disponível. Essas variações, no entanto, alteram as taxas de lucro sobre o capital 
que, por sua vez, podem estimular investimentos (ou desinvestimentos). É o que 
aconteceu no curto período, portanto, que explica o que ocorrerá no longo. Não 
há, como na economia política clássica, a neutralidade do curto período com a 
posição final de equilíbrio permanecendo a mesma, não importa o que ocorra 
conjunturalmente nesse mercado.8
A construção marshalliana representou um enorme progresso na concepção 
de processos econômicos. No entanto, de modo importante, apesar das aparências 
em contrário, a concepção marshalliana ainda é teleológica, no sentido de que se 
bem se possa dizer que os processos de ajuste de longo período sejam disparados 
pelas características das posições de equilíbrio de curto período, são os desequilíbrios 
de longo período, na verdade, que movem o processo. Quando oferta e demanda 
são iguais no curto período, em posição de equilíbrio, mas resultam na geração 
de lucros anormais (por excesso de utilização da capacidade instalada), haverá 
mudanças na capacidade instalada precisamente porque a existência desses lucros 
indica um desequilíbrio de longo período. Em outras palavras, do ponto de vista da 
posição de curto período, há dependência de trajetórias, no sentido que o que virá 
pela frente depende dos valores das variáveis nessa posição de equilíbrio de curto 
período. Contudo, é a partir do que esses valores representam de desequilíbrio 
de longo período, isto é, é em referência aos valores que deveriam apresentar no 
equilíbrio de longo período que os valores de curto período induzirão mudanças 
na atividade. O longo período marshalliano, assim, continua funcionando como 
um atrator, e a análise continua sendo basicamente teleológica. É o fim do caminho 
que nos permite interpretar o que representam os valores de curto período e prever 
o que deveria vir pela frente.
Para Marshall, esta trajetória do curto para o longo período é uma idéia 
tão importante que ele é levado a afirmar que, nos casos onde essa teleologia não 
8. Embora a preocupação de Marshall com tempo emirja em praticamente toda a obra (ver citações relevantes em CaRValHo, 1990), 
Marshall enfrenta diretamente a questão aqui tratada no cap. 5 do livro 5 dos principles (p. 302 a 315).
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16 FERNaNDo JoSÉ CaRDIM DE CaRValHo
possa ser estabelecida, não há possibilidade de se fazer teoria econômica. Apenas 
os casos onde se possam relacionar equilíbrios de curto e de longo períodos seriam 
realmente teorizáveis, isto é, apenas aqueles casos em que o sentido fundamental de 
uma posição de equilíbrio de curto período deve ser avaliado é dado pela posição 
final de equilíbrio de longo período.
4 KEYNES, A CRÍTICA DO MARSHALLIANISMO E A CONSIDERAÇÃO DA 
POLÍTICA ECONÔMICA
É precisamente no caráter inevitavelmente teleológico e restritivo da construção 
marshalliana que Keynes vai concentrar suas críticas metodológicas. É quase um 
clichê, e nem por isso menos verdadeira, a afirmação de que Keynes continuará 
Marshall, mas de forma a superá-lo, ultrapassando seus limites. Talvez seja exata-
mente na consideração da temporalidade dos processos econômicos e na conexão 
entre diferentes horizontes de comportamento que isto fique mais claro.
Fundamentalmente, será na recusa em atribuir a posições de longo período 
qualquer relevância como atratores que Keynes romperá com Marshall. Keynes 
enfatizará o velho conhecido conceito de incerteza, e irá usá-lo para propor uma 
forma diversa de consideração dos processos econômicos, em que a idéia de de-
pendência de trajetórias será adotada, desta vez sem qualificações. Os processos 
econômicos não serão mais explicados pelas posições finais de equilíbrio, como na 
economia política clássica e em Marshall. De fato, Keynes proporá uma abordagem 
dinâmica em que processos de gravitação a posições de equilíbrio no longo prazo 
estarão conspicuamente ausentes.
A peculiaridade metodológica mais importante da construção keynesiana reside 
na postulação de que não é ilegítimo inferir trajetórias da economia ignorando as 
limitações da informação que orienta as decisões econômicas individuais. Segundo 
Keynes, não é possível a cada tomador de decisão individual conhecer o futuro 
(e, assim, tomar as decisões que otimizem sua posição futura) porque este último 
depende, ele próprio, do que cada indivíduo decide fazer. Não existe um futuro a 
ser descoberto, determinado por parâmetros fixos do sistema. Para Keynes, o futuro 
é construído pela ação dos indivíduos. Mas os indivíduos decidem isoladamente, 
enquanto o futuro é construído coletivamente, como resultado da ação de todos, 
cada um orientado pelas suas próprias expectativas, inclusive a respeito da ação 
dos outros. Nestas circunstâncias, posições de equilíbrio tendem a ser acidentais 
e, possivelmente, nem seriam reconhecidas como tais, mesmo se eventualmente 
atingidas. Keynes adota, assim, uma visão historicizante do tempo econômico, mas, 
paradoxalmente, chega ao resultado oposto: o longo período é uma ficção teórica, 
válida apenas para uso em debates teóricos. Não há atratores, nem equilíbrios de 
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17CRESCIMENto ECoNÔMICo: EStRatÉGIaS E INStItuIÇÕES
longo período podem funcionar como tal porque as variáveis que o definem não 
se traduzem em móveis da ação dos indivíduos.
A proposta teórica de Keynes se apóia na percepção da importância de se 
considerar que decisões econômicas são tomadas em condições de incerteza fun-
damental. Uma crítica tola e simplista deve ser enfrentada de imediato, para que se 
possa prosseguir rumo a argumentos mais importantes. Alegam alguns que a ênfase 
na incerteza das decisões destrói a possibilidade de teorização porque implica que 
qualquer coisa é possível. Para Keynes, o reconhecimento da incerteza que cerca 
as decisões dos indivíduos é importante por dois motivoscentrais. O primeiro é 
questionar a validade de teorias de gravitação, que supõem implicitamente que a 
“história ocorre pelas costas dos indivíduos”. Teorias de gravitação assumem de-
terminantes das posições de equilíbrio que simplesmente não têm qualquer papel 
do processo de decisão dos agentes econômicos. Essas teorias assumem, portanto, 
que economias funcionam como o mito platônico da caverna, onde os indivíduos 
percebem apenas as sombras do que acontece, mas deuses ex machina garantem 
a operação da economia segundo “leis” objetivas. Na perspectiva de Keynes, as 
expectativas e decisões dos agentes econômicos, e suas interações, são os fatores 
determinantes do movimento de economias modernas. Argumentos baseados 
em deuses ex machina transformam o que poderia ser uma metáfora útil numa 
proposição metafísica a respeito de “leis da história” reificadas e independentes da 
ação humana.
O mais interessante, porém, pode ser o segundo motivo para consideração 
da incerteza, que é a postulação não de que o futuro é incerto, o que é, em si, 
trivial, mas da constatação de que, sob incerteza os comportamentos econômicos 
se alteram, especialmente pela adoção, pelos indivíduos, de estratégias defensivas 
que mudam a dinâmica dessas economias, inclusive inviabilizando processos de 
gravitação para equilíbrios. Em outras palavras, incerteza é importante, porque 
os agentes a reconhecem quando tomam decisões, especialmente aquelas que 
comprometem recursos em maior escala e por horizontes temporais mais distantes 
como as ligadas à acumulação de riqueza.9 Na verdade, a Teoria Geral de Keynes 
é quase um catálogo de comportamentos que são identificáveis como relevantes 
apenas se se considera que os agentes econômicos julgam necessário proteger-se 
9. É assim que o próprio Keynes define suas inovações teóricas em um de seus trabalhos, explicando e defendendo suas proposições 
feitas na teoria Geral: “o objetivo final da acumulação de riqueza é produzir resultados, ou resultados potenciais, em um momento 
relativamente ou, algumas vezes, indefinidamente, longínquo. assim, o fato de que nosso conhecimento em relação ao futuro é volátil, 
vago e incerto, torna a riqueza um objeto peculiarmente inapropriado para os métodos da teoria econômica clássica” (CWJMK, 14, p. 113, 
ênfase adicionada). o artigo em que esta afirmação está contida, the general theory of employment, publicado em 1937 e reproduzido 
integralmente na fonte citada, é talvez a mais fundamental das fontes bibliográficas para a compreensão do projeto teórico de Keynes 
apresentado na obra teoria geral do emprego, juros e moeda.
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contra as conseqüências da tomada de decisões erradas. Preferência pela liquidez, 
poupança precaucionária, comportamento convencional são apenas algumas das 
mais importantes formas de comportamento defensivo que Keynes identifica como 
resultantes da percepção de incerteza.
Em Keynes, portanto, o fenômeno da dependência de trajetórias se estabelece 
porque o futuro realmente se decide no presente. As decisões do presente se trans-
formam em restrições sobre as possibilidades futuras, sob a forma de contratos, 
estoques de bens de capital, de conhecimento, de qualificação da força de trabalho, 
de padrões competitivos e de ocupação de mercados, de regulações, de convenções 
etc. A cada momento essas variáveis são recebidas do passado e retransmitidas ao 
futuro, modificadas pelas novas ações, orientadas, por sua vez, pelas expectativas 
do futuro e pelas precauções tomadas para minimizar os custos de adoção de 
estratégias inadequadas.
Se o estado de confiança em expectativas de expansão é fraco (Keynes chamaria 
de animal spirits deficiente10), mesmo aqueles agentes que esperam mercados me-
lhores no futuro podem adotar tantas precauções (por exemplo, mantendo parte 
de seu capital em forma líquida) que a acumulação efetiva de capital será limitada 
e o crescimento da economia no futuro comprometido.
É precisamente em relação ao papel da incerteza na tomada de decisões em 
economias baseadas na propriedade privada que a política econômica assume a 
grande importância que tem. O Estado pode ser um poderoso sinalizador de de-
senvolvimentos futuros e, assim, um elemento redutor de incertezas que reforce o 
estado de confiança e o animal spirits dos tomadores de decisões. A influência do 
Estado pode se dar, de fato, de duas formas: pela sinalização de políticas e pelo grau 
de estabilidade do processo de seleção de políticas. O primeiro caso é relativamente 
óbvio: governos podem sinalizar, por exemplo, que preocupações excessivas com 
presumidas pressões inflacionárias os levarão a manter taxas de juros elevadas por 
períodos prolongados de tempo, sufocando iniciativas de expansão de investimen-
tos e do nível de atividades.11 Alternativamente, governos podem sinalizar o apoio 
continuado a estratégias privadas de expansão da economia.12
10. para os conceitos de animal spirits e estado de confiança, ver Keynes (1964, cap. 12).
11. Keynes definiu na verdade o conceito de não neutralidade da moeda exatamente com essa possibilidade em mente: “a teoria a qual 
considero indispensável trataria… de uma economia onde a moeda possui um papel próprio e afeta motivações e decisões e é, em 
suma, um dos fatores determinantes nessa situação, de modo que o curso dos acontecimentos não possa ser previsto, quer no longo ou 
no curto período, sem o conhecimento do comportamento da moeda entre o primeiro e o último estado. E é a isto que deveríamos nos 
referir quando falamos de uma economia monetária” (CWJMK, 13, p. 408-409). os motivos de Keynes para justificar a centralidade da 
moeda são expostos na fonte citada na nota de rodapé 9.
12. Keynes levantou essa possibilidade na discussão do papel da política fiscal na sustentação da demanda agregada. Ver CWJMK, 27, 
p. 322, e também 122 e 268. as idéias de Keynes a respeito de política fiscal são discutidas com algum detalhe em Carvalho (1997), 
Kregel (1983) e Wilson (1982).
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19CRESCIMENto ECoNÔMICo: EStRatÉGIaS E INStItuIÇÕES
A política econômica pode, no entanto, influenciar a economia em um sentido 
algo menos evidente, que é seu grau de estabilidade. Políticas erráticas, estratégias 
sujeitas a mudanças freqüentes contribuem para aumentar a incerteza dos agentes 
privados e tendem a penalizar decisões que comprometam esses agentes no longo 
termo, como é o caso, especialmente, do investimento produtivo. Em outras pa-
lavras, estratégias de política econômica voláteis aumentam a incerteza que cerca 
decisões já por si mais arriscadas, como o investimento produtivo, e estimulam 
comportamentos defensivos, como a preferência pela liquidez, enfraquecendo o 
estado de confiança e deprimindo o animal spirits empresarial.
A dependência de trajetórias na teoria keynesiana é estabelecida, assim, gene-
ricamente, pela possibilidade de substituição de formas produtivas de acumulação 
de riqueza por não-reprodutivas, quando os retornos esperados das primeiras fossem 
menores ou excessivamente incertos em relação aos retornos das segundas. Vale 
notar que o sacrifício de investimentos produtivos em um determinado momento 
não é compensado pelo aumento de investimentos em um período posterior, em 
um processo de flutuação em torno de uma média fixa. Na visão de Keynes, um 
investimento sacrificado é uma perda líquida de capacidade de acumulação de 
riqueza. Um investimento maior no futuro apenas indica que o estoque de capital 
poderia ter sido maior (e a taxa de crescimento da economia superior) caso o in-
vestimento no presente não tivesse sido sacrificado. A perda de investimentos de 
um dado momento, portanto, é uma perda para sempre.
A atenção ao papel da política econômica como determinante de dependência 
de trajetórias tornou-se tema comum às várias tradições keynesianas. Um tema, 
nesta área, que se tornou particularmente importante refere-se ao mix depolíticas 
macroeconômicas empregadas por governos nacionais. Em 1958, lorde Kahn o 
mais próximo dos colaboradores de Keynes, observou (KAHN, 1972, p. 127):
ao longo de qualquer intervalo de tempo, a economia está inevitavelmente sujeita a interrupções bruscas 
e recomeços (fits and starts) (…) as interrupções tendem a ser tratadas por uma maior flexibilidade 
orçamentária do que monetária, enquanto as retomadas tendem a ser enfraquecidas mais pela con-
tração monetária do que por medidas fiscais restritivas. Na medida em que esta tendência é válida (...) 
a participação do consumo cresce mais e a do investimento diminui mais do que seria desejável pela 
simples comparação de mérito entre os dois.
Em uma palestra ministrada em 1986, James Tobin insistiria no mesmo 
ponto (TOBIN, 2003, p. 127):
(…) a estratégia de administração da demanda afeta a capacidade produtiva de longo período da economia. 
a combinação de políticas é responsável por esta ligação. a razão é que a composição do produto 
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nacional será diferente com uma combinação de políticas diferente, mesmo que o pIB agregado seja o 
mesmo com uma ou outra. a combinação de restrição na oferta monetária com uma política fiscal mais 
flexível prioriza o consumo em detrimento do investimento (...) taxas de juros elevadas desestimulam 
o investimento, enquanto a política fiscal expansionista incentiva o consumo através da redução dos 
impostos, de transferências elevadas ou do aumento dos gastos correntes do governo. Na realidade, as 
compras governamentais não são sempre para o consumo; se o governo estiver aumentando seu déficit 
para acumular capital público, o qual melhoraria a produtividade e a capacidade da economia a longo 
prazo, esta explicação não seria válida.
Autores de orientação keynesiana identificarão outros fatores de dependência 
de trajetórias. Um desses fatores foi identificado através do conceito de histerese.13 
O termo é empregado em economia para designar situações onde um determinado 
resultado persiste mesmo depois que sua causa original tenha sido removida. 
Embora esta noção possa ser aplicada a qualquer característica da economia, ela 
tornou-se influente na análise do desemprego persistente.14 O desemprego além 
de uma certa duração tende a diminuir as habilidades dos trabalhadores, dificul-
tando o seu reemprego. Assim, numa dada economia, uma política contracionista 
concebida como passageira pode levar a um aumento do desemprego que torne 
alguns dos atingidos não-empregáveis depois. Um aumento posterior equivalente 
da demanda agregada, por uma política expansiva, pode não eliminar todo o 
desemprego adicional gerado. Assim, os efeitos de uma política contracionista 
passageira pode vir a ter efeitos duráveis ou permanentes sobre a economia, numa 
ilustração da dependência de trajetórias citada.
Outra possibilidade de persistência é aberta pelo emprego do conceito de 
“corredor de estabilidade”, proposto por Leijonhufvud (1981) e Clower (1986).15 
Esses autores propõem a noção de que uma economia de mercado moderna reage 
de forma diferente a choques de intensidade diferente. Choques de dimensão 
relativamente reduzida tendem a ser absorvidos pela economia, sem maior per-
turbação no seu funcionamento. Mudanças no perfil da demanda agregada, por 
exemplo, podem ser digeridas através de mudanças de preços relativos, preservado 
o nível de atividades. Choques além daquela dimensão, contudo, podem bloquear 
os mecanismos de auto-ajuste da economia, perturbando sua operação ao ponto 
mesmo de paralisá-la. Este seria o caso dos colapsos de demanda efetiva descritos 
por Keynes. Assim, flutuações de curto termo, inclusive as induzidas por mudanças 
13. “a histerese é definida como uma resposta específica do sistema à mudança no valor de um insumo: o sistema exibe certa memória 
quando há um efeito permanente na saída depois do valor do produto ter sido modificado e trazido de volta à sua posição inicial.” 
(aMaBlE et al., 1995, p. 155).
14. a referência clássica aqui é certamente Summers e Blanchard (1990).
15. Ver leijonhufvud (1981, cap. 6), Clower (1984, cap. 15) e Howitt (1990, cap. 7).
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21CRESCIMENto ECoNÔMICo: EStRatÉGIaS E INStItuIÇÕES
de política macroeconômica, poderiam ou não ser neutras em relação à trajetória 
da economia, dependendo de sua magnitude. Políticas que implicassem mudanças 
relativamente suaves nos valores, por exemplo, da política monetária ou da política 
fiscal, poderiam levar a nada mais que uma acomodação no perfil de atividades da 
economia, enquanto outras, representando rupturas mais violentas com o padrão 
normal de operações, causariam sérias repercussões e mesmo mudanças de traje-
tórias, trazendo também para cá o fenômeno da dependência de trajetória.16
5 CICLO E TENDÊNCIA EM SCHUMPETER
A última grande escola de pensamento a ser tratada aqui não tem raízes na economia 
marshalliana. O pensamento de Schumpeter foi formado na tradição austríaca, 
em que a reflexão sobre a temporalidade dos processos econômicos desenvolveu-se 
com foco no conceito de capital. Para a tradição austríaca, capital era, na verdade, 
tempo, no sentido de que a introdução de bens de produção era suposta como 
capaz de alongar o processo produtivo (já que agora a produção de um bem deveria 
incorporar também a duração dos processos necessários à produção dos bens de 
investimento). Assim, a introdução de bens de capital no processo produtivo era 
tratada como equivalente a tornar o processo de produção cada vez mais indireto, 
dedicado em proporção crescente à produção do próprio capital, antes da produção 
do bem propriamente dito.
Este conceito, apesar de engenhoso, envolve extraordinárias dificuldades, 
como foi mostrado especialmente na primeira controvérsia sobre o conceito de 
capital na década de 1930, mas também na segunda controvérsia, a chamada 
Controvérsia de Cambridge, nos anos 1960 e 1970 (ver HARCOURT, 1972).
Schumpeter, porém, escolheu um caminho diverso, propondo uma análise 
de natureza dinâmica de economias capitalistas. Sua abordagem não distingue 
curto e longo prazos. Na verdade, Schumpeter propõe que movimentos cíclicos, 
usualmente domínio das teorias de curto prazo, e tendenciais, de longo prazo, são 
de fato inseparáveis. O que Schumpeter propõe é a noção de que o desenvolvimento 
de uma economia capitalista é cíclico (SCHUMPETER, 1964, p. 170).17
O núcleo do argumento de Schumpeter seria a propensão permanente de 
uma economia capitalista a promover a introdução de inovações no processo 
produtivo.18 Inovações seriam introduzidas de modo descontínuo no tempo, 
16. Considere-se, por exemplo, o efeito violentamente destrutivo das elevações de taxas de juros utilizadas nas crises de balanço de 
pagamentos nos anos 1990, no Brasil, na Ásia etc.
17. Na verdade, Schumpeter aceita a distinção entre ciclo e tendência no sentido estatístico apenas.
18. o sumário da teoria de ciclos de Schumpeter apresentada aqui se baseia em Schumpeter (1964), especialmente os capítulos 3 e 4.
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dando origem a ondas de investimentos que tenderiam a acelerar a expansão da 
economia (fase da prosperidade no ciclo econômico). Quando os investimentos 
maturassem, contudo, a pressão competitiva exercida pela nova capacidade instalada 
forçaria as firmas incapazes de introduzir as inovações para fora do mercado, o que 
Schumpeter chamou de destruição criativa. O desemprego de fatores de produção 
antes empregados nas firmas agora falidas marcaria a fase recessiva do ciclo. Com 
o tempo, porém, esses fatores seriam reabsorvidos nas firmas sobreviventes, com 
maior produtividade. Assim, o equilíbrio seria restabelecido, mas a um nível de 
renda superior ao inicial, por causa dos ganhos resultantes da introdução de ino-
vações. O ciclo se completaria, mas num ciclo evolutivo, em que o nível de renda 
no equilíbriofinal é superior ao do equilíbrio inicial.
A dependência de trajetória se manifestaria na abordagem de Schumpeter 
principalmente a partir da essencialidade que esse autor reconhece na oferta de cré-
dito bancário para financiar a introdução de inovações. Na medida em que a oferta 
(e os termos) de crédito sejam sensíveis, por exemplo, à política monetária, emerge 
também aqui um canal pelo qual mesmo políticas concebidas para serem aplicadas de 
modo passageiro podem acabar tendo efeitos duráveis, se um de seus resultados for 
precisamente a inibição do espírito empresarial que, segundo Schumpeter, é necessário 
para que inovações sejam afinal introduzidas no processo produtivo.
6 CONCLUSÃO
Como se sugeriu nesta relativamente breve survey de abordagens e correntes de 
pensamento, Marshall certamente tinha razão quando escreveu sobre a dificuldade 
envolvida no exame da temporalidade dos processos econômicos. Isto porque, de 
fato, o tempo é aquilo que muda à medida que o tempo passa. A passagem do 
tempo é medida pelo que se permita (ou espere) que aconteça enquanto o tempo 
passa. Portanto, discutir tempo é discutir a dinâmica da economia. A dificuldade 
que isso implica se explica pela complexa e assincrônica convivência de muitas 
dinâmicas em uma economia moderna.19
As teorias de equilíbrio geral de origem walrasiana resolveram esse problema 
cortando o nó górdio, simplesmente optaram pela atemporalidade. Já os herdeiros 
das tradições clássica e marshalliana não tinham essa alternativa por terem optado 
por privilegiar a atividade produtiva e de acumulação de riqueza como objeto 
19. o tema era recorrente nos principles of Economics, a obra mais influente de Marshall. assim, Marshall (1920, p. 304) viria a insistir: 
“o elemento tempo é uma das causas principais desses problemas nas investigações econômicas que fazem com que o homem, com 
seus poderes limitados, tenha que ir passo a passo; desmembrando uma questão complexa, analisando uma parte de cada vez, e, ao 
final, combinando suas soluções parciais, para formar uma solução mais ou menos completa da questão por inteiro.”
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23CRESCIMENto ECoNÔMICo: EStRatÉGIaS E INStItuIÇÕES
da análise econômica. Neste objeto a temporalidade é intrínseca e não pode ser 
simplesmente ignorada, como na tradição walrasiana.
Neste capítulo, contudo, não se tratou realmente desse problema, da tem-
poralidade. Explorou-se apenas um aspecto dele, a relação entre o que Marshall 
chamou de curto e longo períodos. Em particular, interessamo-nos pelo conceito 
de “dependência de trajetórias” (path dependence), mostrando que ele é plena e 
explicitamente aceito apenas nas teorias de origem keynesiana, dentre as aqui dis-
cutidas, ainda que a abordagem de evolução cíclica de Schumpeter também admita 
essa possibilidade. Em particular, mostrou-se que a consideração de uma noção 
substantiva, mais do que puramente formal, de temporalidade, em que a incerteza 
do futuro e a possibilidade da inovação, da ruptura, são idéias irmãs, abre um es-
paço novo e profícuo de reflexão em torno da ação do Estado em uma economia 
moderna de mercado: o Estado como coordenador de planos e expectativas, como 
garantidor não apenas da ordem social mas também como sinalizador e promotor 
de possibilidades futuras, reduzindo, assim, as incertezas que cercam as decisões 
privadas, especialmente as dos empresários, de que dependem produção, emprego 
e investimento. É em tal contexto que se torna possível examinar alternativas de 
coordenação estatal que preservem a liberdade essencial dos indivíduos, em contraste 
com os sistemas de planejamento centralizado das economias de comando que 
floresceram e morreram no século XX. A política industrial ativa, o planejamento 
indicativo ao estilo francês do pós-segunda guerra são exemplos de possibilidade 
de intervenção democrática e eficaz do Estado na economia consistentes com as 
abordagens pós-marshallianas discutidas neste capítulo.
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CAPÍTULO 2
PIB POTENCIAL E SEGURANÇA JURÍDICA NO BRASIL
Armando Castelar Pinheiro*
1 INTRODUÇÃO
Embora não haja definição única ou consensual para Produto Interno Bruto (PIB) 
potencial, e menos ainda medição oficial ou universalmente aceita de seu valor 
em cada momento, este conceito é de grande relevância na análise econômica e na 
definição das políticas públicas. No curto prazo, ele é um importante indicador 
a ser seguido, por exemplo, na gestão da política monetária; de uma perspectiva 
mais longa, ajuda no entendimento dos determinantes da expansão da oferta 
agregada de bens e serviços, e, portanto, na identificação das restrições críticas 
à sua aceleração. Essa informação, por sua vez, pode ser usada para alimentar o 
desenho das políticas públicas.
A capacidade de produção ou, mais precisamente, de adicionar valor em um 
país é determinada pela disponibilidade e qualidade da sua mão-de-obra, pelo seu 
estoque de capital físico, aí incluídos recursos naturais como terra e água, e pela 
tecnologia e eficiência com que esses são utilizados. A relevância desses fatores, 
enquanto limitantes ao crescimento do PIB potencial no Brasil, variou ao longo do 
tempo. Mas a maioria dos estudos recentes aponta a baixa qualidade damão-de-
obra, o chamado capital humano do país, e a escassez de capital físico, notadamente 
em infra-estrutura, como as principais restrições à expansão do PIB potencial no 
Brasil. Em especial, exercícios de decomposição das fontes de crescimento pelo 
lado da oferta mostram que a forte queda nas taxas de expansão do PIB entre os 
períodos 1951-1980 e 1995-2007 resultou quase inteiramente do ritmo bem mais 
lento de acumulação de capital físico neste segundo período. Isso é consistente 
com a observação de que, apesar de a economia ter crescido meros 2,8% ao ano 
(a.a.) em 1998-2007, o país entrou o ano de 2008 enfrentando, além da escassez 
* Analista da Gávea Investimentos, professor do Instituto de Economia da UFRJ e pesquisador licenciado do Ipea.
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26 ARMANDO CASTELAR PINHEIRO
de trabalhadores qualificados, sérias limitações na infra-estrutura e níveis recordes 
de utilização da capacidade instalada na indústria.
Assim, a principal razão para o crescimento relativamente lento do PIB po-
tencial nas duas últimas décadas tem sido a baixa taxa de investimento, que, depois 
de despencar nos anos 1980, não se recuperou até hoje, apesar da estabilização de 
preços com o Plano Real, das reformas estruturais dos anos 1990 e de haver no 
país muitos projetos com grande potencial de retorno. De fato, mesmo depois do 
forte aumento da formação bruta de capital fixo (FBCF) no triênio 2005-2007, a 
taxa de investimento permaneceu abaixo do patamar atingido uma década antes. 
Assim, o Brasil tem uma economia plena de oportunidades, mas que esbarra, de 
um lado, no alto risco para quem investe e, de outro, no alto custo e na falta de 
financiamento que também reflete o risco elevado que cerca a atividade econômica 
no país, entre outros fatores. A economia também sofre com a baixa produtividade 
dos investimentos, estruturados, em parte, para protegê-los desses riscos e reduzir 
os custos de realizar negócios em um ambiente de grande incerteza.
Este capítulo analisa a importância da segurança jurídica para fomentar o 
investimento e a eficiência econômica – e, portanto, para estimular o crescimento e a 
melhoria do bem-estar social. O seu argumento subjacente é que se o Brasil gozasse 
de maior grau de segurança jurídica a economia cresceria mais rapidamente, pois 
o risco seria menor e as taxas de investimento e de crescimento da produtividade 
aumentariam. Mais crescimento geraria mais emprego, melhoraria as condições 
sociais e favoreceria a estabilidade política, o que, por sua vez, contribuiria para 
promover a segurança jurídica, criando um círculo virtuoso.
O capítulo está estruturado em sete seções. A seção 2 apresenta alguns re-
sultados que mostram como a baixa taxa de investimentos se tornou a principal 
restrição a uma expansão mais célere do PIB potencial brasileiro. A seção 3 discute o 
princípio da segurança jurídica, em particular, no que ele importa para a economia. 
As seções 4, 5 e 6 analisam como a segurança jurídica influi nos custos de transação, 
na intensidade com que se recorre a ativos específicos e na decisão sobre o tipo e a 
quantidade de investimento. A seção 7 tece algumas considerações finais.
2 RESTRIÇÕES AO CRESCIMENTO DE LONGO PRAZO NO BRASIL
Uma forma comum de analisar os determinantes do PIB potencial (Y) é representando-o 
como uma função Cobb-Douglas, com retornos constantes de escala, dos estoques de 
capital físico (K) e humano, este obtido como o produto da força de trabalho (L) pela 
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média de capital humano por trabalhador (H), e da produtividade com que o total 
dos fatores (trabalho e capital, físico e humano) é utilizado para produzir (A):1
1( )t t t t tY A K H L
α −α=
Dividindo-se ambos os lados da expressão acima pela força de trabalho, 
obtém-se que o PIB potencial por trabalhador (y) pode ser expresso como:
1
t t t ty A k H
α −α=
em que o capital humano por trabalhador é definido como:
1exp[ ( )] exp
1t t t
H h h −ψ
 η= φ =  −ψ 
Tirando logaritmos e fazendo-se a primeira diferença no tempo, obtém-se 
que a taxa de variação no PIB potencial por trabalhador entre dois anos pode ser 
aproximada por:
(1 )y A k H∆ = ∆ + α∆ + −α ∆
onde 
(ln ln )t n tx xx
n
+ −∆ =
A tabela 1 mostra os resultados obtidos utilizando-se as expressões acima 
para decompor as taxas de crescimento do PIB potencial, aqui aproximadas pelas 
variações do PIB efetivo em períodos longos e iniciados e terminados em anos si-
tuados em pontos semelhantes do ciclo econômico, de forma a minimizar o efeito 
de diferenças no grau de utilização dos fatores de produção. Na comparação entre 
os três períodos, selecionados de forma a representar a fase de alto crescimento no 
pós-guerra, o período de crise externa e alta inflação, e os anos pós-Plano Real, 
observa-se que:
l A taxa de crescimento do PIB potencial despenca em 1981-1994, recuperando-
se muito parcialmente em 1995-2006.
l Ambas as variações refletiram essencialmente o comportamento da produti-
vidade do trabalho (PIB/trabalhador), que era menor em 1994 do que em 1981.
1. A derivação a seguir acompanha de perto Pinheiro, Bonelli e Pessoa (2008).
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l Na passagem do primeiro para o segundo período, a queda no crescimento 
do PIB por trabalhador resultou da forte redução nas taxas de variação da pro-
dutividade total dos fatores (PTF) e do estoque de capital físico por trabalhador, 
sendo estas parcialmente compensadas pela melhoria da média de capital humano 
do trabalhador brasileiro.
l Já o aumento da taxa de crescimento na produtividade do trabalho ocorrido 
no período pós-Plano Real resultou inteiramente do ritmo mais acelerado de expansão 
da PTF, enquanto a taxa de variação do capital humano manteve-se estável e a do 
capital físico por trabalhador declinou. Chama a atenção, em especial, o fato de 
que em 2006 o trabalhador brasileiro contava em média com menos capital para 
auxiliá-lo a produzir do que em 1994 e, de fato, também do que em 1981!
Este último resultado chama a atenção para a queda quase contínua observada 
no ritmo de acumulação de capital físico experimentada pelo país desde o início 
dos anos 1980. Isso é ilustrado no gráfico 1, que mostra a taxa de investimento a 
preços constantes de 2000. Como se observa, depois de atingir um pico histórico 
em meados dos anos 1970, a taxa de investimento caiu quase 1% do PIB a.a. na 
década seguinte, recuperou-se um pouco com o Plano Cruzado, despencou outra 
vez nos anos seguintes, para só voltar a subir com o Plano Real. Esta retomada 
teria, porém, vida curta, e a taxa de investimento voltou a recuar na virada do 
século, chegando em 2003 a um patamar próximo à metade do recorde da década 
de 1970. Desde então se observou nova recuperação, especialmente no biênio 
2006-2007, mas essa não foi suficiente sequer para elevar a taxa de investimento 
ao nível observado uma década antes.
TABELA 1
Decomposição da taxa de crescimento do PIB 
(Médias anuais, em %)
1951-1980 1981-1994 1995-2006
PIB 7,1 1,9 2,6
Pessoal ocupado 3,0 2,1 2,1
PIB/trabalhador 4,1 –0,2 0,5
Contribuições para as variações no PIB/trabalhador
Capital/trabalhador 2,6 0,5 –0,9
Capital humano 0,1 0,8 0,7
PTF 1,4 –1,5 0,7
Fonte: Pinheiro, Bonelli e Pessoa (2008).
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29CRESCIMENTO ECONÔMICO: ESTRATÉGIAS E INSTITUIÇÕES
De quanto seria necessário elevar a taxa de investimento, em relação ao 
patamar de 2007, para que o PIB potencial pudesse crescer a uma média anual 
de, por exemplo, 5%? Uma resposta aproximada pode ser obtida utilizando-se a 
última expressão, que pode ser reescrita como:
( ) (1 )Y L A K L H∆ − ∆ = ∆ + α ∆ − ∆ + −α ∆
onde:
(1 )( ),Y A K H L∆ = ∆ + α∆ + −α ∆ + ∆ e, utilizando-se o fato de que
I K Y I K
K
K K Y
− δ − δ∆ ≈ = , deriva que
(1 )( ).
Y I K
Y A H L
K Y
− δ ∆ ≈ ∆ + α + −α ∆ + ∆  
 Resolvendo-sea expressão 
anterior na taxa de investimento ( )I Y , se obtém:
[ (1 )( ) ]I Y A L H
YY
K
∆ − ∆ − −α ∆ + ∆ + αδ≈
α
A partir dos resultados da tabela 1 e das estatísticas mais recentes das Contas 
Nacionais (CN), os seguintes valores são aqui utilizados para os parâmetros e 
variáveis na expressão acima
α = δ = ∆ = ∆ = ∆ = =0,45, 3,5%, 0,7%, 1,3%, 2,2% e 0,41YA H L
K
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de onde derivam os resultados da tabela 2. Como se vê, a taxa de investimento 
estimada para 2007 (16,8% do PIB) é suficiente para sustentar um crescimento 
pouco acima de 4,0%, que é um patamar relativamente bom, se comparado ao 
desempenho médio da economia brasileira na última década (2,8% a.a.). Porém, 
para se atingir uma taxa de expansão sustentada de 4,5% a.a. será preciso elevar a 
taxa de investimento em cerca de 2% do PIB, e para atingir 5,0% a.a, mantidas 
as demais suposições do exercício, ampliá-la em quase 5% do PIB. Patamares de 
crescimento mais elevados que esses possivelmente exigirão que, simultaneamente 
à ampliação da taxa de investimento, se eleve, por exemplo, o ritmo de expansão 
da produtividade.
TABELA 2
Requisitos de investimento para diferentes taxas de crescimento do PIB potencial
(Em %)
DY I/Y (a preços de 2000)
4,0 16,1
4,5 18,8
5,0 21,6
5,5 24,3
6,0 27,0
6,5 29,7
7,0 32,4
 
A principal conclusão do exercício anterior é que para elevar a taxa de cres-
cimento do PIB potencial per capita a um patamar próximo ao observado na fase 
áurea de 1951-1980 (pouco menos de 4% a.a), supondo uma expansão demográfica 
um pouco acima de 1% a.a, ter-se-á de aumentar a taxa de investimento em cerca 
de 5% do PIB. Uma parcela considerável desse aumento terá de ser direcionada 
à infra-estrutura. Como mostra a tabela 3, 2/5 da queda na taxa de investimento 
entre a década de 1970 e a atual ocorreram nesse setor, que atualmente apresenta 
gargalos importantes ao crescimento, especialmente em eletricidade e transporte. De 
acordo com os estudos mais recentes, cerca de metade do aumento agregado na taxa 
de investimento de que o país necessita teria de ser direcionado à infra-estrutura, 
com destaque para uma crescente participação do setor privado, tendo em vista as 
limitações fiscais à elevação dos investimentos públicos (BANCO MUNDIAL, 
2007; FRISCHTAK, 2008). E para isso, assim como para a ampliação do investi-
mento no setor imobiliário, é fundamental aumentar a segurança jurídica.
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31CRESCIMENTO ECONÔMICO: ESTRATÉGIAS E INSTITUIÇÕES
3 O PAPEL DA SEGURANÇA JURÍDICA NA ECONOMIA2
Em economia se utiliza o termo segurança jurídica para se referir ao respeito à lei e 
aos direitos de propriedade, o que na literatura anglo-saxã se denomina a prevalência 
da regra da lei (rule of law). Assim como no direito, se entende que esse é um dos 
mais importantes pilares sobre os quais se assentam as sociedades modernas. No 
direito, porém, e como seria de se esperar, o princípio da segurança jurídica é objeto 
de um tratamento analítico muito mais elaborado. Para este, o objetivo precípuo 
da segurança jurídica é facilitar a coordenação das interações humanas em geral, 
reduzindo a incerteza que as cerca, tanto em relação às interações já consumadas 
quanto aos efeitos jurídicos futuros das condutas e relações que são decididas no 
presente. Esse princípio se inspira, portanto, na confiança que deve ter o indivíduo 
em que os seus atos, quando alicerçados na norma vigente, produzirão os efeitos 
jurídicos nela previstos.
No direito positivo, a segurança jurídica é assegurada por um amplo con-
junto de princípios, motivo por que é, às vezes, descrita como um sobreprincípio, 
sendo aqueles vistos como corolários do princípio maior. Vários desses princípios 
se voltam para assegurar a continuidade das normas jurídicas e a estabilidade das 
situações constituídas, incluindo, entre outros, a irretroatividade da lei, a coisa 
julgada, o respeito aos direitos adquiridos e ao ato jurídico perfeito. Orientam-se 
esses princípios pela regra de que a lei é feita para reger o futuro, e não as situações 
pretéritas. Também se inspira nesse objetivo a tendência a se apaziguar as situações 
TABELA 3
Investimentos em infra-estrutura
(Em % do PIB)
1971-1980a 1981-1989a 1990-1999a 2000-2006b
Eletricidade 2,39 1,65 0,86 0,65
Telecomunicações 0,90 0,48 0,78 0,84
Transporte 2,28 1,66 0,71 0,51
Saneamento 0,52 0,27 0,16 0,28
Total de infra-estrutura 6,08 4,06 2,51 2,28
Total de investimento 26,34 20,23 17,02 16,29
Fontes: Bielschowsky (2002) e Frischtak (2008).
a Preços de 2000.
b Em valores correntes.
2. Esta e as próximas duas seções são parcialmente baseadas em Pinheiro (2006).
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32 ARMANDO CASTELAR PINHEIRO
jurídicas potencialmente litigiosas por força do decurso do tempo, por meio da 
consolidação dos direitos exercidos e não disputados.
A certeza das relações jurídicas é outro objetivo importante buscado pelo 
princípio da segurança jurídica. Isso abarca, de um lado, o princípio da ficção 
do conhecimento obrigatório da lei, que significa que cabe às pessoas conhecer a 
norma, identificar o que é obrigatório, proibido e permitido, e, com base nesse 
conhecimento, definir seu comportamento e estruturar suas relações. De outro, 
que as relações jurídicas baseadas na norma devem ser protegidas pelo e do poder 
público, ou seja, a expectativa de que, atendo-se à legislação, o indivíduo contará 
com o apoio do Estado para proteger suas relações jurídicas e dele não sofrerá 
sanção, prevalecendo o princípio da legalidade, de que “ninguém será obrigado a 
fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei”.3
A segurança jurídica também objetiva permitir aos indivíduos programar, 
em bases razoáveis de previsibilidade, suas expectativas em relação às implicações 
futuras de sua atuação jurídica. No que tange às relações jurídicas de cunho econô-
mico, em especial, deve a norma dar ao indivíduo a possibilidade de calcular, com 
alguma previsibilidade, as conseqüências de suas ações. Isso requer, entre outras 
coisas, que a norma seja trazida a público clara e tempestivamente. Inspiram-se 
nesse objetivo princípios como a anterioridade da norma tributária e a prévia lei 
para a configuração de crimes e transgressões. Sobre esse objetivo, observa o juiz 
Mauro Nicolau Júnior que “a segurança jurídica é o mínimo de previsibilidade 
necessária que o Estado de direito deve oferecer a todo cidadão, a respeito de 
quais são as normas de convivência que ele deve observar e com base nas quais 
pode travar relações jurídicas válidas e eficazes”(ver NICOLAU JUNIOR apud 
COELHO, 2005).
Em particular, dado o duplo papel exercido pelo poder público – que ao 
mesmo tempo é parte em grande número de relações jurídicas e responsável por 
definir e aplicar a norma –, um objetivo fundamental do princípio da segurança 
jurídica é proteger o particular nas suas relações com o Estado. A esse respeito, se 
manifestou o desembargador Sérgio Pitombo:
De fato o ordenamento jurídico impõe limites à prerrogativa da Administração Pública de rever e modificar 
ou invalidar seus atos. Um desses limites, fundado no princípio da boa-fé e da segurança jurídica, reside 
na mudança da orientação normativa interna ou jurisprudencial. Assim é que a alteração da orientação 
da Administração, no âmbito interno ou em decorrência de jurisprudência, não autoriza a revisão e 
3. Constituição Federal de 1988, artigo 5o, inciso II.
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invalidação dos atos que, de boa-fé, tenham sido praticados sob a égide de orientação então vigente, os 
quais, por assim dizer, geram direitos adquiridos.4
Há, portanto, duas dimensões subjacentes à segurança jurídica, como desen-
volvido pelo professor e jurista português Canotilho (1991):
l A relativa à estabilidade ou à eficácia ex post da norma,que rege que esta 
não deve poder ser arbitrariamente modificada, a não ser que se verifiquem fatos 
especialmente relevantes.
l A atinente à previsibilidade ou eficácia ex ante da norma, que se traduz, 
fundamentalmente, na exigência de que os indivíduos possam ter certeza e cal-
culabilidade em relação aos efeitos jurídicos dos seus atos, das relações em que se 
envolvam, e dos atos a que estão submetidos.
A segurança jurídica se traduz, portanto, por uma norma jurídica estável, 
certa, previsível e calculável, não apenas no que tange às relações jurídicas entre 
particulares, mas, principalmente, naquelas em que participa o Estado.
No Estado de direito, porém, a segurança jurídica não decorre apenas da 
estabilidade, certeza, previsibilidade e calculabilidade do ordenamento jurídico 
positivo, mas também do respeito a esses preceitos gerais na sua interpretação e 
aplicação pelo Judiciário. Mais especificamente, a segurança jurídica requer que 
esses preceitos sejam respeitados em quatro dimensões da atuação da Justiça:
l Na informada, fiel e imparcial aplicação da lei pelos magistrados.
l Na própria construção da norma, que ocorre quando o Judiciário interpreta 
as regras gerais e abstratas criadas pelo legislador, estabelecendo a jurisprudência 
por meio de um conjunto consistente de sentenças, acórdãos e outras decisões 
uniformes, ocorridas independentemente ao longo do tempo. Nesse sentido, em-
bora a jurisprudência não chegue a constituir fonte formal do direito, ela contribui 
para completar a norma e torná-la mais certa, além de ajudar a estabilizar a sua 
aplicação e interpretação.
l Na uniformidade da interpretação e aplicação da norma pelos diferentes 
tribunais.
l No controle do arbítrio estatal, freando as ações da administração pública que 
vão contra a norma ou que sejam voltadas para rever, modificar ou invalidar seus atos 
pretéritos, enfatizando, nesses casos, o seu papel de protetoras da previsibilidade e 
4. Relatório do Desembargador Sérgio Pitombo, em 11.8.1997, conforme reproduzido em Nicolau Junior apud Coelho (2005).
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da não-surpresa nas relações jurídicas. Atua o Judiciário, nesse caso, como guardião 
maior do princípio da segurança jurídica.
A importância da segurança jurídica para a economia sempre foi, se não ex-
plícita, pelo menos implicitamente reconhecida pelos economistas.5 Não obstante, 
o detalhamento, formalização e mensuração da influência da segurança jurídica 
sobre o desempenho econômico só tiveram início em um passado mais recente, a 
partir dos ferramentais desenvolvidos pela teoria econômica neo-institucionalista 
e o movimento de Direito & Economia. Ainda que utilizando abordagens distintas, 
ambos enfatizam o papel da segurança jurídica na promoção do investimento e 
da eficiência econômica, seja reduzindo os custos de transação, seja estimulando 
uma alocação eficiente de recursos.
Olson (1996) destaca entre as instituições que considera mais importantes 
para determinar o desempenho econômico das nações “os sistemas legais que 
garantem os contratos e protegem os direitos de propriedade”. Esse ponto é assim 
colocado por North (1992):
De fato, a dificuldade de se criar um sistema judicial dotado de relativa imparcialidade, que garanta o 
cumprimento de acordos, tem-se mostrado um impedimento crítico no caminho do desenvolvimento 
econômico. No mundo ocidental, a evolução de tribunais, dos sistemas legais e de um sistema judicial 
relativamente imparcial tem desempenhado um papel preponderante no desenvolvimento de um com-
plexo sistema de contratos capaz de se estender no tempo e no espaço, um requisito essencial para a 
especialização econômica.
Na mesma linha, Sherwood, Shepherd e Souza (1994) observam que:
Em economias de mercado, a estrutura legal (idealmente pelo menos) estabelecerá direitos de propriedade 
duradouros – os quais dificilmente serão alienados de forma arbitrária – e fornecerá os meios para que 
esses direitos permeiem e se façam valer ao longo de toda a estrutura de propriedade; permitirá um 
nível substancial de atividade; e garantirá liberdade suficiente para a associação no que diz respeito à 
formação de empresas e, considerando e definindo o caráter limitado da responsabilidade das partes, irá 
encorajar o crescimento do capital, estabelecendo as bases para a dissolução ordenada de associações, 
firmas, joint ventures, e assim por diante.
Em especial, a falta de segurança jurídica aumenta o risco e os custos das 
transações econômicas. Como observa Arida “[d]o ponto de vista da racionalidade 
econômica, o princípio fundamental do Direito é o do pacta sunt servanda”. Por-
tanto, a diminuição da calculabilidade dos contratos cria:
5. De fato, Adam Smith lecionou Law and Jurisprudence em Edimburgo antes de se tornar professor na Universidade de Glasgow, onde 
escreveria suas obras mais conhecidas. Em seu livro Theory of Moral Sentiments, que precedeu o clássico An Inquiry into the Nature and 
Causes of the Wealth of Nations – Adam Smith tratou com razoável detalhe “daquele ramo da moral que se relaciona à justiça”, em 
que analisou “o gradual processo de jurisprudência”.
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35CRESCIMENTO ECONÔMICO: ESTRATÉGIAS E INSTITUIÇÕES
um elemento adicional de risco e incerteza na avaliação de seus efeitos. Como bem observou Max Weber, 
a predominância de formas de produção estruturadas através do mercado requer um sistema legal com 
efeitos calculáveis racionalmente pelas partes; a sobre-determinação dos contratos por considerações 
que não podem ser racionalmente calculadas pelas partes afeta negativamente a produção e o emprego 
(ver ARIDA, 2005).
A partir dessas observações, pode-se constatar que são vários os canais por 
intermédio dos quais a segurança jurídica estimula o crescimento econômico. Uma 
forma de abordar essa questão de modo sistemático consiste em analisar como a 
segurança jurídica afeta os fatores determinantes da expansão do PIB potencial: a 
quantidade utilizada de cada fator de produção e a produtividade com que esses 
são empregados, cujas variações podem resultar tanto do progresso tecnológico 
como do aumento da eficiência com que a tecnologia disponível é utilizada.
Nas próximas seções será mantida essa abordagem ao se analisar como a falta 
de segurança jurídica distorce o sistema de preços, ao elevar o risco e o custo dos 
negócios; desencoraja investimentos e a utilização do capital disponível; estreita a 
abrangência da atividade econômica, desestimulando a especialização e dificultando 
a exploração de economias de escala; e diminui a qualidade da política econômica, 
tornando-a mais instável e deixando de coibir a expropriação pelo Estado, desesti-
mulando, dessa forma, o investimento, a eficiência, e o progresso tecnológico.
4 SEGURANÇA JURÍDICA, EFICIÊNCIA E CUSTOS DE TRANSAÇÃO
Quanto menos segurança jurídica houver, mais arriscadas se tornam as relações 
sociais e, em especial, as transações econômicas. Isso porque as bases sobre as quais 
estas repousam ficam mais instáveis; os seus efeitos, mais difíceis de prever; e os 
seus custos e benefícios, mais complicados de calcular. Há três reações possíveis 
a essas incertezas, todas elas implicando sacrifício da eficiência econômica: não 
realizar as transações que têm alto nível de risco, abrindo-se mão dos ganhos que 
elas poderiam gerar; realizá-las de outra forma, incorrendo-se na perda parcial de 
ganhos; ou compensar a baixa segurança com o uso mais intenso das instituições 
jurídicas disponíveis, consumindo mais recursos em atividades-meio. Em geral, 
duas abordagens principais são utilizadas para analisar esses impactos da segurança 
jurídica: uma enfatiza seu efeito sobre a boa definição e proteção dos direitos de 
propriedade; a outra focaliza o seu impacto sobre os custos de transação.
Nas sociedades modernas, é papel do Estado assinalar e proteger os direitos 
de propriedade.6 Quando isso não ocorre ou é malfeito,

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