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das Nações Unidas colocaram esse tema nas suas agendas. A ideia é sempre olhar para o trade-off que existe, pensar em políticas públicas de longo prazo sempre olhando para o trade-off existente quando se procuram os benefícios da inserção internacional. A vulnerabilidade externa estrutural depende, também, das restrições internas. Se houver um país com problemas de governança, que tenha um corpo técnico medíocre, ou um corpo técnico incompetente, nesse caso você tem restrições internas extraordinárias que agravam as restrições externas. Depende de coisas desse tipo. O problema das restrições é, então, igual tanto para o plano externo como para o plano interno, inclusive a qualidade institucional. Este curso do Ipea é exatamente isso, um upgrade institucional, para reduzir as restrições internas na qualidade técnica, algo que não tem nada a ver com o governo. A gente não tem que pensar o Brasil dos governos, não temos que pensar em 2010, temos que pensar o Brasil no horizonte de 2022, por exemplo. No plano externo, entramos na tecnicalidade que é específica e deve ser levada em conta em inúmeros temas; desde a questão do FMI – ou seja, em que medida dando dinheiro ao FMI gera-se policy space – ao trade-off que há de auto- nomia de política e acesso ao mercado internacional. Toda vez que negocia acesso ao mercado você perde a autonomia de política, você abandona cada vez mais essa autonomia de política para ter ganhos de acesso ao mercado; isso é justamente o que o governo brasileiro está fazendo na OMC, o que é lamentável. E qual é o problema? Você precisa de um ponto de equilíbrio, e o ponto de equilíbrio vai depender das diretrizes estratégicas, você tem que estabelecer a fronteira, o limite do policy space, e estas são decisões estratégicas de governo. O que os técnicos têm que fazer é mostrar os trade-offs, estabelecer os benefícios para você escolher que medida utilizar, qual é o ponto de equilíbrio a se utilizar em cada uma das quatro esferas. A Argentina está fazendo o movimento contrário ao do Brasil, focando na 85Inserção internacional e sustentabilidade ambiental maximização do policy-space, enquanto nós estamos mais para a linha da inserção subordinada, focando no maior acesso ao mercado externo. Mas dentro do governo brasileiro temos posicionamentos diferentes ao longo dessa fronteira, o que é fun- damental para o trabalho técnico, para sinalizar para o governo o que significa cada ponto de trade-off. Creio que a diretriz estratégica deve ser aumentar o grau de autonomia de política, ou seja, gerar mais policy space. Se a gente pegar de Adam Smith até hoje, mais de 230 anos de ciência econômica, não há um economista, mesmo os com mais soberba, que conseguiu ousar fazer uma teoria do equilíbrio do padrão de comércio. Nunca houve quem dissesse: “O equilíbrio do padrão de comércio está aqui”. Mas para o governo federal, hoje, temos um padrão de comércio equilibradíssimo, está ótimo! E nos perguntamos: “Mas por que está ótimo?” E temos como resposta: “É porque temos 50% de commodities e 50% de manufaturados!” Esse é o tipo de coisa que a tec- nicalidade não admite, tem que ter complacência zero. Porque isso atrapalha a qualidade da pesquisa e acaba afetando a política pública. Muito obrigado pela atenção. eDuaRDo vIola – Em primeiro lugar, agradeço o convite. O que vou falar agora é basicamente como está mudando a referência do que seja a sustentabilidade. Como nós, cada vez mais, nos acostumaremos a ler e a ouvir, não mais desen- volvimento sustentável, e sim desenvolvimento de baixo carbono, crescimento de baixo carbono, transição para uma economia de baixo carbono. Ou seja, a questão climática atingiu tal centralidade no sistema internacional, porque houve uma declinação importante das incertezas científicas. Não uma eliminação abso- luta das incertezas sobre o ritmo e a velocidade das causas humanas nas mudanças climáticas. A percepção de ameaça da mudança climática para a humanidade aumentou muito para a maioria dos países do mundo que levantaram esforços em prol de uma nova arquitetura internacional, para hoje constranger a intensi- dade de carbono da economia mundial e, portanto, de cada economia nacional. Isso é uma negociação e um processo complicadíssimo de engenharia e acordo de cooperação para a humanidade, algo que não tem precedentes históricos. Não está garantido que será bem-sucedido, mas o curso é esse. E fundamentalmente, na medida em que se está cada vez mais preocupado em se trabalhar para o médio e o longo prazo, eu diria que existe praticamente a certeza de que vocês, como técnicos do Ipea, trabalharão cada vez mais pensando e analisando tecnicamente as alternativas de desenvolvimento do Brasil como um desenvolvimento de baixo carbono, já não mais um desenvolvimento genérico com o rótulo “sustentável”, que é muito difuso, tende a ser opaco. É claro que ainda vai se escutar muito sobre desenvolvimento sustentável, mas quando se faz uma análise mais refinada, a gente 86 Complexidade e Desenvolvimento percebe que não se deve falar mais em desenvolvimento sustentável, mas em de- senvolvimento de baixo carbono. Isso tem a ver com as transformações decisivas na percepção das ameaças da mudança climática no processo de construção dessa nova arquitetura para restringir as emissões de carbono. Desse ponto de vista, primeiro eu gostaria de colocar qual é, hoje, a principal realidade dentro do sistema internacional, que é a seguinte: temos oito países como principais emissores de carbono no mundo, que coincidem, em sua maioria, com as principais economias do mundo – considerando, aqui, a União Europeia (UE), formada por 27 países, como um único país. Dentro desse quadro, que é dinâmico, tivemos no ano de 2008 em primeiro lugar a China, que representa 22% das emissões globais, essas emissões crescendo, aproximadamente, a 8% a.a. Em segundo lugar os Estados Unidos, que eram os primeiros até 2007, represen- tando 20% das emissões e crescendo um pouco menos de 1% a.a. Em terceiro lugar estava a UE com 15% e crescendo cerca de 0,4% a.a. Em quarto lugar a Índia, com 8% das emissões globais e crescendo entre 10% a.a. e 12% a.a., é a taxa de emissão que mais cresce, juntamente com a Indonésia. Em quinto lugar, a Rússia com 5,5% das emissões e crescendo, muito aceleradamente nesta década, a 5% a.a. Em sexto lugar, a Indonésia com 5% das emissões globais de carbono, também crescendo entre 10% a.a. e 12% a.a. Em sétimo lugar o Brasil, que detém entre 3,5% e 5% das emissões globais de carbono, e há uma diferença muito grande, porque não contamos os anos de 2004 e 2008, porque houve uma coisa decisiva no Brasil nos últimos quatro anos que foi uma drástica queda das emissões em função da diminuição do desmatamento da Amazônia, que passou de um nível extremamente irracional, para, digamos, um nível menos irracional. E, por último, o Japão com 3% das emissões globais de carbono. É óbvio que alguns dados são mais precisos que outros, dependendo, ainda, da importância do desmatamento, mas esses são os grandes players da transição para uma economia de baixo carbono em termos de países. O que é importante é que esse é o volume total. Nós temos, então, outras duas variáveis referentes à proporção das emissões globais, a taxa de crescimento e as emissões per capita. Eu faço essa ressalva porque na nossa visão comum e na imprensa aparecem ideias muito genéricas e difusas. Por exemplo, se coloca muitas vezes ou a proporção ou, pior, apenas o número absoluto de emissão e não a taxa de crescimento. O terceiro fator importante são as emissões per capita, o que, obviamente, é muito diferente do volume. China e Estados Unidos são similares em proporção de emissões, mas os Estados Unidos têm 19 toneladas de carbono por habitante, enquanto a China tem 5 toneladas por habitante, e a Índia