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<p>TEMA 1- PRISÃO EM FLAGRANTE</p><p>AULA I - CONCEITO E ESPÉCIES</p><p>Nesta aula, adentraremos à temática que envolve a prisão em flagrante, especificamente, tratando a respeito do seu conceito e espécies lícitas.</p><p>Dessa forma, flagrar alguém, no plano processual penal, significa surpreender alguém durante a execução do delito (próprio), logo após a sua prática em fuga (impróprio) ou na posse da res (presumido).</p><p>Trata-se de medida restritiva de liberdade, de natureza cautelar e processual, consistente na prisão, independente de ordem escrita do juiz competente, de quem é surpreendido cometendo, ou logo após ter cometido, um crime.</p><p>É a única prisão que pode ser dada por qualquer pessoa, por expressa permissão prevista em nossa Carta Magna.</p><p>Quando o infrator está cometendo o crime (flagrante próprio), acabou de cometer e é perseguido logo após a consumação do delito (flagrante impróprio), ou, ainda, é encontrado com objetos ou proveito da infração (flagrante presumido), estaremos diante de situações de flagrante delito.</p><p>Forçoso concluir que a prisão em flagrante passou a assumir natureza precautelar, com duração limitada até a adoção pelo juiz de uma das providências do artigo 310 do CPP (relaxar a prisão em flagrante, convertê-la em prisão preventiva ou conceder a liberdade provisória).</p><p>São espécies de prisão em flagrante expressas no Código de Processo Penal:</p><p>A) Flagrante próprio - art. 302, I e II, do CPP</p><p>B) Flagrante impróprio (quase-flagrante) - art. 302, III, do CPP</p><p>C) Flagrante presumido - art. 302, inciso IV, do CPP</p><p>Além das espécies previstas em lei, temos ainda duas espécies decorrentes da classificação doutrinária:</p><p>D) Flagrante diferido (retardado, postergado ou prorrogado) - Trata-se de espécie decorrente da Política Criminal em busca de mais inteligência policial para combater organizações criminosas, traficantes e lavadores de dinheiro.</p><p>Serve para aprofundar as investigações retardando o momento da prisão para prender mais integrantes com mais provas.</p><p>Abaixo, as previsões legais respectivas:</p><p>* artigo 53, inciso II, da Lei n. 11.343/2006;</p><p>* artigo 4º, B, da Lei 9.613/98, com redação dada pela Lei 12.683/2012;</p><p>* artigo 8º da Lei 12.850/2013 (Lei das Organizações Criminosas).</p><p>Obs: AÇÃO CONTROLADA (sinônimo).</p><p>E) Flagrante esperado - há ainda a espécie em que a polícia espera o início dos atos executórios para prender.</p><p>Após ter ciência da prática futura de infração penal, desloca-se até o local e espera o início dos atos de execução para dar voz de prisão ao infrator.</p><p>Obs: Sinônimos: tocaia - campana - averiguação de denúncia anônima de crime futuro.</p><p>QUESTÃO 1-Joeslei, logo após a prática de uma infração penal, foi perseguido ininterruptamente pelo mesmo policial militar que testemunhou o crime. Após 72 horas de perseguição, o policial conseguiu vencer o criminoso pelo cansaço e o conduziu ao Distrito Policial. Chegando no DP, o delegado se recusou a lavrar o auto de prisão em flagrante, por força dos 3 dias de tempo entre a consumação do crime e a captura. Pergunta-se: agiu certo a autoridade policial?</p><p>RESPOSTA 1-Não. Trata-se de flagrante impróprio que, nos termos do CPP, é uma modalidade lícita de flagrante. Trata-se da hipótese em que mesmo após um ou mais dias de diferença entre a consumação e prisão, admite-se a lavratura do auto de prisão em flagrante, desde que o</p><p>agente de segurança não tenha interrompido a perseguição.</p><p>QUESTÃO 2-O flagrante presumido consiste na prisão do agente que:</p><p>RESPOSTA 2-É encontrado logo depois do fato, com instrumentos, armas ou objetos que estejam relacionados com o fato.</p><p>Fundamentação: Conceito clássico e doutrinário de flagrante na modalidade presumida, é aquele em que a pessoa é encontrada, logo depois do fato, com instrumentos, armas ou objetos que estejam relacionados com o fato (por exemplo, com o telefone celular da vítima).</p><p>AULA II - FORMALIDADES NO FLAGRANTE</p><p>Trataremos nesta aula, a respeito das formalidades da prisão em flagrante. Este assunto, é de suma importância, pois nos permite eivar ou detectar erros na prisão em flagrante.</p><p>Sendo assim, o auto de prisão em flagrante é o documento elaborado, em regra, sob a presidência da autoridade policial, contendo as formalidades que revestem a prisão em flagrante, tendo por objetivo precípuo retratar os fatos que ensejaram a restrição de liberdade do agente e, ainda, reunir os primeiros elementos de convicção acerca da infração penal que motivou a prisão.</p><p>Uma vez preso em flagrante, por policial ou particular, o acusado deve ser conduzido à presença da autoridade policial.</p><p>Se a autoridade policial considerar se tratar de situação de flagrância e que o fato constitui crime, determinará a lavratura do auto de prisão (procedimento administrativo), incumbindo-lhe proceder da seguinte forma:</p><p>a) oitiva do condutor</p><p>b) oitiva de testemunhas</p><p>c) Interrogatório do preso</p><p>d) Nota de culpa</p><p>Oitiva do condutor</p><p>O condutor é a pessoa que levou o preso até a Delegacia de Polícia e o apresentou à autoridade policial. Pode ser policial ou qualquer pessoa. Embora na maioria das vezes o condutor seja quem procedeu à prisão, não precisa necessariamente ser o responsável pela detenção do suspeito.</p><p>Importante ressaltar que, a falta de testemunhas da infração não impedirá a lavratura do auto de prisão em flagrante, mas, nesse caso, com o condutor deverão assinar a peça pelo menos duas pessoas que tenham testemunhado a apresentação do preso à autoridade (art. 304, § 2º, do CPP).</p><p>Interrogatório do preso</p><p>As formalidades para o interrogatório devem observar as mesmas regras do interrogatório judicial, previstas nos arts. 185 a 196 do CPP, dentre as quais se destaca a advertência ao preso do seu direito constitucional ao silêncio, sem que isso possa ser interpretado em seu desfavor (art. 5º, LXIII, da CF).</p><p>O direito à assistência por advogado constitui direito constitucionalmente assegurado ao preso (art. 5º, LXIII, da CF/88). Nesse sentido, à evidência, não cabe à autoridade policial vedar a presença do advogado nos atos que integram a lavratura do auto de prisão em flagrante, podendo o profissional acompanhar a oitiva do condutor, das testemunhas, bem como o interrogatório do flagrado.</p><p>Nota de culpa</p><p>Trata-se a nota de culpa de documento por meio do qual a autoridade policial cientifica o preso dos motivos de sua prisão, do nome do condutor e das testemunhas.</p><p>Prazo para remessa do Auto ao juiz</p><p>Cumpre à autoridade policial, em até 24 horas após a realização da prisão, encaminhar o auto de prisão em flagrante devidamente instruído ao juiz competente, bem como entregar ao preso, no mesmo prazo, mediante recibo, a nota de culpa, assinada pela autoridade.</p><p>QUESTÃO 1-Aponte as irregularidades formais do auto de prisão em flagrante delito, no exemplo concreto abaixo apresentado:</p><p>Júpyter, pessoa sempre distraída, foi preso em flagrante esperado e conduzido ao Distrito Policial pela prática de lesão corporal gravíssima contra o seu próprio filho.</p><p>Diante da repugnância da situação, a delegada negou ao preso o direito de ter o apoio de sua família e de um advogado; não permitiu que o preso fosse ouvido e negou todos os pedidos de elementos de prova requeridos de próprio punho pelo preso; após 72 horas, enviou o auto de prisão em flagrante para o juiz, sem ter emitido nota de culpa.</p><p>RESPOSTA 1-Apresentado o preso à autoridade competente, ouvirá esta o condutor e colherá, desde logo, sua assinatura, entregando a este cópia do termo e recibo de entrega do preso. Em seguida, procederá à oitiva das testemunhas que o acompanharem e ao interrogatório do acusado sobre a imputação que lhe é feita, colhendo, após cada oitiva, suas respectivas assinaturas, lavrando, a autoridade, afinal, o auto.</p><p>A prisão de qualquer pessoa e o local onde se encontre serão comunicados imediatamente ao juiz competente, ao Ministério Público e à família do preso ou à pessoa por ele indicada.</p><p>Em até 24 (vinte e quatro) horas após a realização da prisão, será encaminhado ao juiz competente o auto de prisão em flagrante e, caso o autuado não informe o nome de seu advogado,</p><p>supre necessidade existente na legislação, desde que se revogou a medida de segurança provisória, em face da edição da Lei de Execução Penal, em 1984Os inimputáveis e semi-imputáveis, quando cometem delitos violentos, precisam de recolhimento provisório e imediato, não sendo cabível aguardar o término do processo, para que se possa instituir a medida de segurança pertinente. Os hospitais de custódia e tratamento, como regra, recusavam-se a receber réus sem o laudo médico e a aplicação da medida de segurança adequada; muitos dos réus, doentes mentais, permaneciam em cárcere comum, evidenciando flagrante prejuízo à sua saúde e à tranquilidade dos demais detentos. A nova medida cautelar deve ser o suprimento para tal lacuna. Diante disso, assim que detectada a enfermidade mental, ainda na fase investigatória, se preciso, realiza-se o exame de insanidade mental, fixando-se a indispensabilidade da internação provisória, a ser decretada pelo juiz. A lei menciona a existência do risco de reiteração, o que representa a quase totalidade das hipóteses de inimputáveis ou semi-imputáveis, que praticam fatos violentos. Esse risco, em verdade, advém da periculosidade do agente, algo inerente à doença mental.</p><p>9. Fiança: em notas específicas, comentaremos a respeito da fiança. Destina-se, precipuamente, a garantir o comparecimento do réu aos atos do processo, evitando-se a sua fuga. Porém, parece-nos incompreensível fixar-se fiança para quem obstrui o andamento processual ou resiste, sem motivo, a ordem judicial. Essas duas hipóteses permitem a decretação da prisão preventiva.</p><p>10. Monitoração eletrônica: surgiu em nossa legislação para saídas temporárias, durante o cumprimento da pena, bem como para o regime aberto. Estende-se, agora, para a fase processual, o que nos parece lógico e razoável. Tudo depende, naturalmente, dos recursos do Estado. Quando eficiente, a monitoração pode dar bons resultados; se ineficaz ou inexistente, por certo, a medida cautelar tende ao absoluto fracasso. Em face da lacuna legal, deve-se estabelecer, paralelamente, à monitoração eletrônica o recolhimento domiciliar, a proibição de acesso ou frequência a certos lugares ou medida similar. Afinal, sozinha, a monitoração não serve para nada. O que se vai monitorar? O afastamento do domicílio; a aproximação da vítima; a frequência a lugar vedado etc. (Código de Processo Penal Comentado, Forense).</p><p>Outro ponto importante a se destacar é possibilidade, ou não, de detração das medidas cautelares alternativas à prisão. Sobre o tema leciona Renato Brasileiro:</p><p>Inicialmente, parece-nos que, havendo semelhança e homogeneidade entre a medida cautelar aplicada no curso do processo e a pena imposta ao acusado na sentença condenatória irrecorrível, é plenamente possível a detração. A título de exemplo, supondo que tenha sido imposta ao acusado a medida cautelar de recolhimento domiciliar no período noturno, se acaso for condenado ao cumprimento da pena restritiva de direitos de limitação de final de semana, não temos dúvida quanto à possibilidade de detração, já que a cautelar guarda certa similitude com a pena definitiva.</p><p>Problema maior diz respeito à possibilidade de detração da pena privativa de liberdade aplicada ao final do processo. Em se tratando de medidas cautelares diversas da prisão que acarretam a restrição completa à liberdade de locomoção, pensamos não haver qualquer óbice à detração. Logo, na hipótese de internação provisória do inimputável (CPP, art. 319, VII) e prisão domiciliar (CPP, arts. 317 e 318), o tempo referente ao cumprimento da cautelar deve ser descontado da pena definitiva aplicada ao agente.</p><p>Todavia, quanto às demais medidas cautelares, como não há restrição absoluta à liberdade de locomoção e como elas não guardam homogeneidade com uma possível pena de prisão a ser aplicada ao final do processo, revela-se inviável a aplicação do art. 42 do Código Penal.</p><p>Mesmo antes do advento da Lei nº 12.403/11, os Tribunais Superiores já tiveram a oportunidade de analisar discussão semelhante, porém no tocante à possibilidade de ser levado em consideração, para fins de detração, o lapso temporal referente ao período em que o acusado permanecera em gozo de liberdade provisória. Em caso concreto referente à condenação à pena de 9 (nove) anos de reclusão e 3 (três) meses de detenção, no qual foi concedida liberdade provisória com os ônus de pagamento de fiança, comparecimento quinzenal em juízo e necessidade de autorização judicial para se ausentar do distrito da culpa, concluiu o Supremo que não seria possível a detração penal considerando-se o lapso em que o acusado esteve em liberdade provisória, por ausência de previsão legal, já que o art. 42 do CP prevê o cômputo de período relativo ao cumprimento de pena ou de medida restritiva de liberdade.</p><p>Certamente, este será o entendimento que irá acabar prevalecendo, ou seja, caso a medida cautelar diversa da prisão não acarrete restrição completa à liberdade de locomoção, não será possível a detração.</p><p>Não obstante, nas hipóteses em que o acusado se sujeitar à imposição de medidas cautelares extremamente gravosas (v.g., monitoramento eletrônico, proibição de ausentar-se da comarca, etc.), parece-nos extremamente desarrazoado não se conceder nenhum benefício àquele que cumpriu a medida cautelar por um longo período, até mesmo como forma de compensação decorrente dos gravames inerentes a esse castigo antecipado. A título de exemplo, suponha-se que determinado acusado tenha cumprido cumulativamente as medidas cautelares de proibição de se ausentar da comarca e monitoramento eletrônico durante 5 (cinco) anos. Seria possível simplesmente desconsiderar esse lapso temporal por ocasião do cumprimento do tempo de prisão penal? Será que, nesse caso, não seria justo descontar ao menos uma parte do tempo de restrição parcial de sua liberdade de locomoção?</p><p>Para aqueles que dizem que tal lapso temporal não deve ser computado para fins de possível detração, criar-se-ia situação de absoluta desigualdade em relação àquele que não cumpriu nenhuma medida cautelar durante o curso da persecução penal. Exemplificando, tanto o acusado que cumpriu 5 (cinco) anos de monitoramento eletrônico e proibição de ausentar-se da comarca, quanto aquele que não esteve submetido a nenhuma medida cautelar durante o mesmo período, não terão nenhum tempo a descontar da prisão penal. Isso servirá como fator de evidente desestímulo aos acusados que cumprem as medidas cautelares, já que saberão, de antemão, que nenhum benefício será recebido por tal comportamento. (Manual de Processo Penal, Jus Podium).</p><p>QUESTÃO 1-Leandro foi processado pelo delito de embriaguez ao volante, sendo-lhe fixada a medida cautelar de recolhimento domiciliar noturno, a qual foi cumprida pelo período de 74 dias.</p><p>Ao final do processo, foi condenado à pena de 8 meses de detenção, a qual foi substituída por prestação de serviços à comunidade.</p><p>Na qualidade de advogado, você requereu ao juízo da execução da detração da medida alternativa, sendo o pleito indeferido. Qual recurso deve ser utilizado e qual tese apresentada?</p><p>RESPOSTA 1-O recurso cabível será o agravo em execução.</p><p>Embora o art. 42 do Código Penal não preveja expressamente a detração das medidas alternativas à prisão, deve-se alegar que durante o processo o acusado já sofreu restrição em sua liberdade, motivo pelo qual tal período deve ser descontado da pena a cumprir.</p><p>Nos termos do art. 46, § 3º, do Código Penal, o condenado deve cumprir uma hora de serviço à comunidade por dia de condenação.</p><p>Portanto, deve-se requer que o período de 74 dias seja desconto da pena a cumprir, na prática haveria o desconto de 74 horas de prestação de serviços à comunidade.</p><p>QUESTÃO 2-Sobre a internação provisória, é CORRETO afirmar:</p><p>RESPOSTA 2-Em casos de urgência é possível utilizar atestados médicos particulares.</p><p>Fundamentação- Havendo urgência na decretação da medida cautelar e não havendo tempo hábil para realização de perícia médica, o juiz poderá se utilizar de outros elementos de prova, como atestados particulares.</p><p>Porém, deve requerer imediata realização de perícia.</p><p>TEMA 04- VIOLÊNCIA DOMÉSTICA</p><p>Aula I – Introdução e Contextualização Histórica</p><p>A Lei nº 11.340/2006, popularmente conhecida como Lei Maria da Penha, teve inspiração na Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher.</p><p>O nome popular atribuído à citada lei advém de importante expoente no combate à violência doméstica, a farmacêutica brasileira Maria da Penha Maia Fernandes, que batalhou para que seu agressor, marido à época dos fatos, restasse processado e punido.</p><p>No ano de 1983, Maria da Penha sofreu duas tentativas de homicídio praticadas por seu marido, o professor colombiano Marco Antonio Heredia Viveros.</p><p>Na primeira tentativa, foi alvejada por tiros enquanto dormia, restando paraplégica em razão dos disparos. Para acobertar o crime, simulou seu marido um assalto à residência.</p><p>Na segunda ocasião, após retornar para casa, seu marido tentou eletrocutá-la durante o banho.</p><p>Frente à impunidade de seu agressor e a morosidade da Justiça local, buscou a vítima a Comissão Interamericana de Direitos Humanos (Organização dos Estados Americanos – OEA).</p><p>Seu caso apresentado à OEA deu origem ao Relatório nº 54/20011 , responsabilizando o País por negligência, omissão e tolerância em relação à violência doméstica.</p><p>Apenas em setembro de 2006 entra em vigor a conhecida Lei Maria da Penha.</p><p>A lei trouxe o necessário debate acerca da violência doméstica no Brasil, realidade ignorada por grande parcela da sociedade. Estudos apontam dados alarmantes sobre o tema:</p><p>43,7 mil Mulheres foram assassinadas entre 2000 e 2010.</p><p>Brasil apresenta uma taxa de 4,4 homicídios em 100 mil mulheres, ocupando o 7º lugar entre 84 países pesquisados pela Organização Mundial de Saúde.</p><p>42,5% do total de agressões contra a mulher foram cometidas pelo parceiro ou exparceiro.</p><p>Para mulheres na faixa etária de 20 a 49 anos, 65% do total de agressões foram cometidas pelo parceiro ou ex-parceiro.</p><p>QUESTÃO 1-Efetue a análise das recomendações constantes do Relatório nº 54/2001, da Comissão Interamericana de Direito Humanos, originado de denúncia efetuada por Maria da Penha Maia Fernandes. Contextualize a existência do referido relatório e aborde ao menos duas de suas recomendações.</p><p>Encontra-se o relatório acessível no seguinte link:</p><p>https://www.cidh.oas.org/annualrep/2000port/12051.htm</p><p>RESPOSTA 1-No ano de 1983 Maria da Penha sofreu duas tentativas de homicídio praticadas por seu marido, o professor colombiano Marco Antonio Heredia Viveros.</p><p>Na primeira tentativa, foi alvejada por tiros enquanto dormia, restando paraplégica em razão dos disparos. Para acobertar o crime, simulou seu marido um assalto à residência.</p><p>Na segunda ocasião, após retornar para casa, seu marido tentou eletrocutá-la durante o banho.</p><p>Frente à impunidade de seu agressor e a morosidade da Justiça local, buscou a vítima a Comissão Interamericana de Direitos Humanos (Organização dos Estados Americanos – OEA).</p><p>Seu caso apresentado à OEA deu origem ao Relatório nº 54/2001, responsabilizando o País por negligência, omissão e tolerância em relação à violência doméstica.</p><p>Em seu relatório restaram apresentadas as seguintes recomendações:</p><p>A Comissão Interamericana de Direitos Humanos reitera ao Estado Brasileiro as seguintes recomendações:</p><p>1. Completar rápida e efetivamente o processamento penal do responsável da agressão e tentativa de homicídio em prejuízo da Senhora Maria da Penha Fernandes Maia.</p><p>2. Proceder a uma investigação séria, imparcial e exaustiva a fim de determinar a responsabilidade pelas irregularidades e atrasos injustificados que impediram o processamento rápido e efetivo do responsável, bem como tomar as medidas administrativas, legislativas e judiciárias correspondentes.</p><p>3. Adotar, sem prejuízo das ações que possam ser instauradas contra o responsável civil da agressão, as medidas necessárias para que o Estado assegure à vítima adequada reparação simbólica e material pelas violações aqui estabelecidas, particularmente por sua falha em oferecer um recurso rápido e efetivo; por manter o caso na impunidade por mais de quinze anos; e por impedir com esse atraso a possibilidade oportuna de ação de reparação e indenização civil.</p><p>4. Prosseguir e intensificar o processo de reforma que evite a tolerância estatal e o tratamento discriminatório com respeito à violência doméstica contra mulheres no Brasil. A Comissão recomenda particularmente o seguinte:</p><p>a) Medidas de capacitação e sensibilização dos funcionários judiciais e policiais especializados para que compreendam a importância de não tolerar a violência doméstica;</p><p>b) Simplificar os procedimentos judiciais penais a fim de que possa ser reduzido o tempo processual, sem afetar os direitos e garantias de devido processo;</p><p>c) O estabelecimento de formas alternativas às judiciais, rápidas e efetivas de solução de conflitos intrafamiliares, bem como de sensibilização com respeito à sua gravidade e às consequências penais que gera;</p><p>d) Multiplicar o número de delegacias policiais especiais para a defesa dos direitos da mulher e dotá-las dos recursos especiais necessários à efetiva tramitação e investigação de todas as denúncias de violência doméstica, bem como prestar apoio ao Ministério Público na preparação de seus informes judiciais.</p><p>e) Incluir em seus planos pedagógicos unidades curriculares destinadas à compreensão da importância do respeito à mulher e a seus direitos reconhecidos na Convenção de Belém do Pará, bem como ao manejo dos conflitos intrafamiliares.</p><p>5. Apresentar à Comissão Interamericana de Direitos Humanos, dentro do prazo de 60 dias a partir da transmissão deste relatório ao Estado, um relatório sobre o cumprimento destas recomendações para os efeitos previstos no artigo 51 da Convenção Americana</p><p>QUESTÃO 2-Acerca do Relatório nº 54/2001, da Comissão Interamericana de Direito Humanos, é correto afirmar que:</p><p>RESPOSTA 2-responsabilizou o Estado brasileiro por negligência, omissão e tolerância em relação à violência doméstica.</p><p>Fundamentação: Considerando a impunidade de seu agressor, e a morosidade da Justiça brasileira, buscou Maria da Penha Maia Fernandes, vítima de violência doméstica, a Comissão Interamericana de Direitos Humanos. Apresentado seu caso à Organização dos Estados Americanos, originou-se o Relatório nº 54/2001, no qual restou o Brasil responsabilizado por negligência, omissão e tolerância em relação à violência doméstica."</p><p>Aula II – Conceito e Procedimentos</p><p>O conceito de violência doméstica e familiar contra a mulher é extraído do art. 5º, da Lei nº 11.340/2006, como qualquer ação ou omissão baseada no gênero que lhe cause morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico e moral ou patrimonial.</p><p>“Art. 5º Para os efeitos desta Lei, configura violência doméstica e familiar contra a mulher qualquer ação ou omissão baseada no gênero que lhe cause morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral ou patrimonial:</p><p>I - no âmbito da unidade doméstica, compreendida como o espaço de convívio permanente de pessoas, com ou sem vínculo familiar, inclusive as esporadicamente agregadas;</p><p>II - no âmbito da família, compreendida como a comunidade formada por indivíduos que são ou se consideram aparentados, unidos por laços naturais, por afinidade ou por vontade expressa;</p><p>III - em qualquer relação íntima de afeto, na qual o agressor conviva ou tenha convivido com a ofendida, independentemente de coabitação.</p><p>Parágrafo único. As relações pessoais enunciadas neste artigo independem de orientação sexual. ”</p><p>Observa-se que a palavra violência é aplicada em sentido amplo, englobando não só o constrangimento físico, mas também o constrangimento moral.</p><p>De forma geral, busca a legislação coibir a opressão da mulher, especialmente quando se encontra em seu lar.</p><p>Entretanto, é necessária cautela na análise dos fatos, pois nem toda violência praticada contra uma vítima mulher necessariamente se enquadrará em hipótese de violência doméstica e familiar, sendo imprescindível a verificação dos agentes</p><p>envolvidos nos fatos e seus vínculos domésticos ou familiar.</p><p>A violência doméstica e familiar contra a mulher que poderá ser praticada nos seguintes âmbitos:</p><p>Unidade doméstica – Trata-se do local onde há o convívio permanente de pessoas, ainda que sem vínculo familiar, em ambiente familiar. Neste conceito se englobam as pessoas esporadicamente agregadas (ex. sobrinha, enteada, etc.).</p><p>Família - como a comunidade formada por indivíduos que são ou se consideram aparentados, unidos por laços naturais, por afinidade ou por vontade expressa;</p><p>Relação íntima de afeto – na qual o agressor conviva ou tenha convivido com a ofendida, independentemente de coabitação.</p><p>Formas de violência doméstica e familiar:</p><p>“Art. 7º São formas de violência doméstica e familiar contra a mulher, entre outras:</p><p>I - a violência física, entendida como qualquer conduta que ofenda sua integridade ou saúde corporal;</p><p>II - a violência psicológica, entendida como qualquer conduta que lhe cause dano emocional e diminuição da autoestima ou que lhe prejudique e perturbe o pleno desenvolvimento ou que vise degradar ou controlar suas ações, comportamentos, crenças e decisões, mediante ameaça, constrangimento, humilhação, manipulação, isolamento, vigilância constante, perseguição contumaz, insulto, chantagem, violação de sua intimidade, ridicularização, exploração e limitação do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que lhe cause prejuízo à saúde psicológica e à autodeterminação;</p><p>III - a violência sexual, entendida como qualquer conduta que a constranja a presenciar, a manter ou a participar de relação sexual não desejada, mediante intimidação, ameaça, coação ou uso da força; que a induza a comercializar ou a utilizar, de qualquer modo, a sua sexualidade, que a impeça de usar qualquer método contraceptivo ou que a force ao matrimônio, à gravidez, ao aborto ou à prostituição, mediante coação, chantagem, suborno ou manipulação; ou que limite ou anule o exercício de seus direitos sexuais e reprodutivos;</p><p>IV - a violência patrimonial, entendida como qualquer conduta que configure retenção, subtração, destruição parcial ou total de seus objetos, instrumentos de trabalho, documentos pessoais, bens, valores e direitos ou recursos econômicos, incluindo os destinados a satisfazer suas necessidades;</p><p>V - a violência moral, entendida como qualquer conduta que configure calúnia, difamação ou injúria. “</p><p>DO ATENDIMENTO PELA AUTORIDADE POLICIAL</p><p>Deverá a autoridade policial, na hipótese da iminência ou da prática de violência doméstica e familiar contra a mulher adotar as providências legais (Art. 10 e seguintes).</p><p>Providências legais – Exemplos:</p><p>I. Garantir proteção policial, quando necessário, comunicando de imediato ao Ministério Público e ao Poder Judiciário;</p><p>II. Fornecer transporte para a ofendida e seus dependentes para abrigo ou local seguro, quando houver risco de vida;</p><p>III. Se necessário, acompanhar a ofendida para assegurar a retirada de seus pertences do local da ocorrência ou do domicílio familiar.</p><p>LEITURA COMPLEMENTAR</p><p>1 - “No dia 19 de dezembro de 2018, entrou em vigor a Lei n.º 13.772 com dois objetivos centrais:</p><p>1) alterar a Lei n.º 11.340 (Lei Maria da Penha), de 7 de agosto de 2006, para reconhecer que a violação da intimidade da mulher configura violência doméstica e familiar; e</p><p>2) alterar o Código Penal, para criminalizar o registro não autorizado de conteúdo com cena de nudez ou ato sexual ou libidinoso de caráter íntimo e privado.</p><p>Sabe-se que os meios de comunicação têm evoluído de forma célere e o direito penal – a ultima ratio – tem sido constantemente acionado para defender bens jurídicos que outros ramos do direito não o têm feito satisfatoriamente. Exemplo disso é a neocriminalização das filmagens não consentidas de atos sexuais (CP, art. 216-B), que se tornaram comum nos últimos anos, causando abalos psicológicos e irreparáveis em diversas vítimas. (...)”.</p><p>Para a íntegra do texto, segue o link abaixo: O Novo Conceito de Violência Psicológica da Lei Maria da Penha e o Novo Delito do Art. 216-B CP</p><p>2 – “536 mulheres foram vítimas de agressão física a cada hora no último ano no Brasil. O dado é de estudo divulgado pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública.</p><p>A 2ª edição da pesquisa "Visível e Invisível - A vitimização de Mulheres no Brasil”, publicada em 26 de fevereiro, revelou também que 52% das vítimas de violência doméstica não buscou apoio de famílias, amigos ou autoridades após sofrer a violência. (....)”.</p><p>QUESTÃO 1-Mário, inconformado com o término do namoro por Elisangela, passa a ameaçar diariamente sua ex-namorada, exigindo que retomem o relacionamento. Apesar das ameaças, Elisangela permanece firme em sua decisão. Com o insucesso das ameaças, Mario dirige-se até a casa de Elisangela, com o objetivo de retomar o relacionamento de qualquer forma. Frente à resposta negativa de sua ex-namorada, Mário passar a agredir Elisangela com socos e chutes.</p><p>Considerando o caso narrado, é possível a incidência da Lei nº 11.340/2006? Caso afirmativo, qual o contexto descrito no art. 5º da referida lei se enquadra a situação? Indique, caso existente a forma de violência aplicada.</p><p>RESPOSTA 1-Sim, é aplicável a Lei nº 11.340/2006 ao caso narrado.</p><p>Como pacificado pela jurisprudência, trata-se o namoro de uma relação intima de afeto, que independe de coabitação, amoldando-se ao conceito trazido pelo art. 5º, inciso III, da Lei Maria da Penha:</p><p>Art. 5º Para os efeitos desta Lei, configura violência doméstica e familiar contra a mulher qualquer ação ou omissão baseada no gênero que lhe cause morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral ou patrimonial:</p><p>(...)</p><p>III - Em qualquer relação íntima de afeto, na qual o agressor conviva ou tenha convivido com a ofendida, independentemente de coabitação.</p><p>Desta forma, ainda que tenha o relacionamento terminado, na hipótese de agressão em razão deste relacionamento restará configurada violência doméstica.</p><p>No caso apresentado é possível verificar o emprego de violência física e violência psicológica, descritas nos incisos I e II, do art. 7º, da Lei nº 11.340/2006.</p><p>Art. 7º São formas de violência doméstica e familiar contra a mulher, entre outras:</p><p>I - A violência física, entendida como qualquer conduta que ofenda sua integridade ou saúde corporal;</p><p>II - a violência psicológica, entendida como qualquer conduta que lhe cause dano emocional e diminuição da autoestima ou que lhe prejudique e perturbe o pleno desenvolvimento ou que vise degradar ou controlar suas ações, comportamentos, crenças e decisões, mediante ameaça, constrangimento, humilhação, manipulação, isolamento, vigilância constante, perseguição contumaz, insulto, chantagem, violação de sua intimidade, ridicularização, exploração e limitação do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que lhe cause prejuízo à saúde psicológica e à autodeterminação.</p><p>QUESTÃO 2-Nos termos da Lei nº 11.340/2006, é forma de violência doméstica e familiar contra a mulher:</p><p>RESPOSTA 2-a violência psicológica, entendida como qualquer conduta que lhe prejudique e perturbe o pleno desenvolvimento.</p><p>Fundamentação: Nos termos do art. 7º, inciso II, da Lei nº 11.340/2006: “II - a violência psicológica, entendida como qualquer conduta que lhe cause dano emocional e diminuição da auto-estima ou que lhe prejudique e perturbe o pleno desenvolvimento ou que vise degradar ou controlar suas ações, comportamentos, crenças e decisões, mediante ameaça, constrangimento, humilhação, manipulação, isolamento, vigilância constante, perseguição contumaz, insulto, chantagem, ridicularização, exploração e limitação do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que lhe cause prejuízo à saúde psicológica e à autodeterminação.”</p><p>Aula III – Medidas Protetivas</p><p>Medidas Protetivas de Urgência</p><p>As medidas protetivas de urgência possuem natureza jurídica cautelar e objetivam proteger as vítimas de violência doméstica (Arts. 22 a 24 da Lei nº 11.340/2006). Para a concessão de tais medidas, são necessários os seguintes requisitos:</p><p>1. Fumus commissi delicti - Demonstração</p><p>de indícios do cometimento de violência doméstica ou familiar contra a mulher.</p><p>2. Periculum libertatis - Risco concreto à vítima ou a terceiro.</p><p>Entre as medidas protetivas, temos as medidas que obrigam o agressor (art. 22) e as medidas protetivas à ofendida (arts. 23 e 24). Como exemplos podemos citar:</p><p>Medidas protetivas que obrigam o agressor – art. 22:</p><p>a) Afastamento do lar, domicílio ou local de convivência com a ofendida;</p><p>b) Proibição de aproximação da ofendida;</p><p>c) Contato com a ofendida.</p><p>Medidas protetivas à ofendida – arts. 23 e 24:</p><p>a) Encaminhar a ofendida e seus dependentes a programa oficial ou comunitário de proteção ou de atendimento;</p><p>b) Determinar a recondução da ofendida e a de seus dependentes ao respectivo domicílio, após afastamento do agressor;</p><p>c) Determinar o afastamento da ofendida do lar, sem prejuízo dos direitos relativos a bens, guarda dos filhos e alimentos;</p><p>d) Proibição temporária para a celebração de atos e contratos de compra, venda e locação de propriedade em comum, salvo expressa autorização judicial.</p><p>As medidas protetivas poderão ser concedidas tanto durante a fase de inquérito policial quanto na fase processual, sendo possível a aplicação destas de forma isolada ou cumulativa.</p><p>O rol de medidas protetivas listadas pela Lei é exemplificativo, não havendo óbice na concessão de medida não listada na Lei.</p><p>O deferimento de ofício das medidas protetivas apenas é possível durante o curso da ação penal, sendo necessário o pedido da parte ou o requerimento do Ministério Público durante a fase inquisitorial (art. 282, §2º, do CPP).</p><p>ALTERAÇÃO LEGISLATIVA – LEI Nº 13.827/2019</p><p>Antes da edição da Lei nº 13.827/2019, a medida protetiva somente poderia ser concedida pela autoridade judicial, sem a existência de exceções.</p><p>Com a inovação legislativa criou-se uma exceção, permitindo a concessão da medida protetiva de afastamento do lar pelo Delegado de Polícia ou pelo policial, dentro das restritas hipóteses legais.</p><p>Como regra, a medida de afastamento do agressor do lar será determinada pela autoridade judicial (art. 12-C, inciso I), mas poderá, excepcionalmente, ser deferida pelo Delegado de Polícia (art. 12-C, inciso II), quando o Município em questão não for sede de comarca, ou pelo policial, quando o Município não for sede de comarca e não houver delegado disponível no momento da denúncia.</p><p>Na hipótese de concessão da medida por Delegado ou por policial, deverá a autoridade judicial ser comunicada no prazo máximo de 24 horas e decidirá, em igual prazo, sobre a manutenção ou revogação da medida, dando ciência ao Ministério Público concomitantemente, nos moldes determinados no art. 12-C, §1º)</p><p>QUESTÃO 1-Thaís, após sofrer severas agressões de seu marido Henrique, decide procurar a autoridade policial de sua cidade para narrar os fatos e pleitear o imediato afastamento do agressor do lar. Considerando as disposições da Lei nº 11.340/2006, responda:</p><p>a) Quais os requisitos para o deferimento da medida protetiva de afastamento do lar?</p><p>b) Quem poderá conceder tal medida protetiva? Em quais condições?</p><p>RESPOSTA 1-Para a concessão da medida protetiva de afastamento do lar, deverá a autoridade apurar a presença de basicamente dois requisitos:</p><p>a) a existência de risco atual ou iminente à vida ou à integridade física da mulher, ou de seus dependentes;</p><p>b) em situação de violência doméstica ou familiar.</p><p>Diante de tais requisitos, com base no art. 12-C, da Lei nº 11.340/2006, é possível o imediato afastamento do agressor do lar, domicílio ou local de convivência com vítima.</p><p>Como regra, a medida de afastamento do agressor do lar será determinada pela autoridade judicial (art. 12-C, inciso I), mas poderá, excepcionalmente, ser deferida pelo Delegado de Polícia (art. 12-C, inciso II), quando o Município em questão não for sede de comarca, ou pelo policial, quando o Município não for sede de comarca e não houver delegado disponível no momento da denúncia.</p><p>Na hipótese de concessão da medida por Delegado ou por policial, deverá a autoridade judicial ser comunicada no prazo máximo de 24 horas e decidirá, em igual prazo, sobre a manutenção ou revogação da medida, dando ciência ao Ministério Público concomitantemente, nos moldes determinados no art. 12-C, §1º).</p><p>QUESTÃO 2-É correto afirmar que não constitui medida protetiva de urgência, nos termos da Lei nº 11.340/2006:</p><p>RESPOSTA 2-o afastamento de cargo ou função pública;</p><p>Fundamentação: As medidas protetivas de urgência estão dispostas nos arts. 22 a 24, do Lei nº 11.340/2006. Analisando tais dispositivos, é possível apurar a inexistência de medida protetiva consistente no afastamento de cargo ou função pública."</p><p>AULA IV - DESCUMPRIMENTO DA PRISÃO PREVENTIVA, LIBERDADE PROVISÓRIA E OUTROS TIPOS PENAIS CONEXOS</p><p>Para finalizarmos a temática que envolve a violência doméstica, interessante iniciarmos pontuando que antes da Lei nº 13.641/18 o descumprimento de medida protetiva não configurava crime, apenas:</p><p>a) Execução da multa eventualmente imposta (art. 22, §4º da Lei 11.340/2006);</p><p>b) Decretação de sua prisão preventiva (art. 313, inciso III, do CPP e art. 20, da 11.340/2006).</p><p>Nesta situação, considerando a existência de sanção civil (multa) ou sanção processual penal (prisão preventiva), nem mesmo o crime de desobediência era possível ser imputado. Precedentes do STJ: REsp 1.374.653-MG (Info 538); RHC 41.970-MG (Info 544).</p><p>Após a edição da Lei nº 13.641/18, com a inclusão do art. 24-A, há a criação de um tipo penal específico para a conduta de descumprimento de medidas protetivas impostas:</p><p>Art. 24-A. Descumprir decisão judicial que defere medidas protetivas de urgência previstas nesta Lei: Pena - detenção, de 3 (três) meses a 2 (dois) anos.</p><p>Trata-se o crime criado de um tipo específico de desobediência, sendo o único crime previsto no âmbito da Lei nº 11.340/2006.</p><p>Importante frisar que o descumprimento da decisão judicial poderá ser feito mediante conduta comissiva (ex.: viola ordem proibindo que se aproxime da vítima), ou conduta omissiva (ex.: deixa de prestar os alimentos provisionais ou provisórios fixados).</p><p>Art. 20. Em qualquer fase do inquérito policial ou da instrução criminal, caberá a prisão preventiva do agressor, decretada pelo juiz, de ofício, a requerimento do Ministério Público ou mediante representação da autoridade policial. Parágrafo único. O juiz poderá revogar a prisão preventiva se, no curso do processo, verificar a falta de motivo para que subsista, bem como de novo decretá-la, se sobrevierem razões que a justifiquem.</p><p>Importante dizer que a previsão específica da prisão preventiva, no âmbito da legislação extravagante, não afasta seu regramento constante no Código de Processo Penal, em especial:</p><p>Art. 313. Nos termos do art. 312 deste Código, será admitida a decretação da prisão preventiva: I - nos crimes dolosos punidos com pena privativa de liberdade máxima superior a 4 (quatro) anos; II - se tiver sido condenado por outro crime doloso, em sentença transitada em julgado, ressalvado o disposto no inciso I do caput do art. 64 do Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 - Código Penal;</p><p>Art. 312. A prisão preventiva poderá ser decretada como garantia da ordem pública, da ordem econômica, por conveniência da instrução criminal, ou para assegurar a aplicação da lei penal, quando houver prova da existência do crime e indício suficiente de autoria. (g.n.)</p><p>III - se o crime envolver violência doméstica e familiar contra a mulher, criança, adolescente, idoso, enfermo ou pessoa com deficiência, para garantir a execução das medidas protetivas de urgência; (g.n.) Parágrafo único. Também será admitida a prisão preventiva quando houver dúvida sobre a identidade civil da pessoa ou quando esta não fornecer elementos suficientes para esclarecê-la, devendo o preso ser colocado imediatamente em liberdade após a identificação, salvo se outra hipótese recomendar a manutenção da medida.</p><p>Assim, observando as disposições traçadas pelo Código de Processo Penal, temos na hipótese de crime envolvendo violência doméstica e familiar contra a mulher,</p><p>criança, adolescente, idoso, enfermo ou pessoa com deficiência, objetivando garantir a execução das medidas protetivas de urgência, a possibilidade de o magistrado decretar a prisão preventiva do agente.</p><p>A prisão preventiva, fundada na hipótese do inciso III do art. 313, independe dos requisitos expostos nos incisos I (PPL máxima superior a 4 anos) e inciso II (reincidência), configurando hipótese excepcional de decretação da prisão preventiva, para garantia da execução das medidas protetivas de urgência.</p><p>Apesar de não haver menção expressa no inciso III, nesta hipótese apenas será admitida a prisão preventiva em crimes dolosos. Isto porque na conduta criminosa exigida, envolvendo violência doméstica e familiar, deverá se demonstrar a consciência e a vontade do agente de atingir uma das vítimas arroladas no inciso, situação incompatível com a modalidade culposa.</p><p>O que se nota é que a criação da hipótese do inciso III permitiu a decretação da prisão preventiva aos casos em que ela normalmente não teria cabimento Não obstante a previsão existente, a decretação da prisão preventiva deverá ser utilizada como ultima ratio, apenas quando essencial para assegurar o cumprimento de medidas protetivas impostas e com a presença dos requisitos do art. 312, do Código de Processo Penal.</p><p>Porém, tal tema não é pacífico, pois para alguns doutrinadores a presença dos requisitos do art. 312, do CPP, somente é necessária quando a prisão se destinar a durar durante toda instrução criminal. Assim, para tal corrente, caso a prisão preventiva seja voltada apenas para período em que se executa determinada medida protetiva de urgência (ex. separação de corpos), estariam dispensados os elementos formais do art. 312.</p><p>Em que pese esta posição mais rigorosa, temos que lembrar que muitos dos crimes cometidos no cenário da Lei Maria da Penha possuem penas pequenas, como, por exemplo, a lesão corporal (pena de detenção de três meses a três anos). Neste sentido, a depender do caso, poderá a prisão cautelar se mostrar extremamente gravosa caso tenha longa duração, por ser totalmente incompatível com o delito praticado. É necessário que, na hipótese de sua decretação, o magistrado se mantenha atento para que a prisão cautelar não se alongue por tempo maior que o necessário.</p><p>Como apresentado, a previsão do inciso III, do Art. 313, do CPP, apenas ampliou as hipóteses de decretação da prisão preventiva, abarcando situações que anteriormente não a admitiriam.</p><p>Para as demais situações, a prisão preventiva continua sendo aplicada normalmente aos crimes praticados que preencham seus demais requisitos legais, ainda que praticados no contexto da Lei 11.340/2006.</p><p>Com a alteração promovida pela Lei nº 13.827/2019, incluiu-se através do art. 12-C, parágrafo 2º, expressa vedação de concessão de liberdade ao preso, quando houver risco à integridade física da ofendida ou à efetividade da medida protetiva de urgência.</p><p>Assim, para que se possa falar na vedação imposta pelo art. 12-C, §2º, da Lei Maria da Pena, notamos que são necessários requisitos cumulativos, quais seja:</p><p>Tiver o agente praticado crime com violência doméstica e familiar contra mulher;</p><p>A liberdade do agente acarretar risco (concreto) à integridade física da vítima, ou risco (concreto) à efetividade da medida protetiva.</p><p>Importante lembrar que, caso o risco à vítima ou à efetividade da medida protetiva possa ser afastado com a concessão de outras medidas cautelares diversas da prisão, torna-se incabível a prisão preventiva.</p><p>Inserido no Código Penal através da Lei nº 13.104/2015, trata-se o feminicídio da ocorrência do crime de homicídio doloso praticado contra a mulher em razão da condição de sexo feminino, ou seja, por razões de gênero.</p><p>A referida lei estabeleceu o feminicídio como qualificadora do crime de homicídio, disposta no inciso VI, do §2º do art. 121 do Código Penal, e também incluiu a conduta no rol dos crimes hediondos.</p><p>Esclarece o art. 121, §2-A, do Código Penal, que há razões de condição de sexo feminino quando o delito envolver: I) violência doméstica e familiar; ou II) menosprezo ou discriminação à condição de mulher.</p><p>A inclusão do crime de perseguição no Código Penal ocorreu através da Lei nº 14.132/2021, com a inclusão do art. 147-A, que objetiva punir a conduta conhecida popularmente como stalking, através da qual o sujeito ativo tipo prática violência consistente na invasão reiterada da esfera de privacidade da vítima.</p><p>Da breve análise do tipo penal, verifica-se que o agente persegue a vítima, de forma reiterada, por qualquer meio, e prática ao menos uma das seguintes condutas: I) ameaça a integridade física ou psicológica da vítima; II) restringe a capacidade de locomoção da vítima; ou III) invade ou perturba de qualquer forma, a esfera de liberdade ou privacidade da vítima;</p><p>Cabe ainda apontar que com a inovação legislativa, a Lei nº 14.132/2021 revogou a contravenção prevista no art. 65 da Lei das Contravenções Penais (Decreto Lei nº 3.688/41), aumentando o rigor na punição da conduta narrada.</p><p>Ainda, cuidou o legislador de prever expressamente entre as causas de aumentos de pena a exasperação da pena quando o crime é cometido contra mulher por razões da condição de sexo feminino (Art. 147-A, §1º, inciso II, do CP).</p><p>ATENÇÃO PARA ALTERAÇÃO LEGISLATIVA!</p><p>Em 29/07/2021 foi publicada, no Diário Oficial da União, a Lei nº 14.188/2021. Referida legislação define o programa de cooperação conhecido como Sinal Vermelho contra a Violência Doméstica como uma das medidas de enfrentamento da violência doméstica e familiar contra a mulher previstas na Lei Maria da Penha (Lei nº 11.340, de 07 de agosto de 2006. Ademais, a mencionada lei alterou o Código Penal para modificar a modalidade da pena da lesão corporal simples cometida contra a mulher por razões da condição de sexo feminino, além de criar o tipo penal de violência psicológica contra a mulher, nos seguintes termos:</p><p>Art. 4º O Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal), passa a vigorar com as seguintes alterações: "Art. 129 ............................................................................................ ................................................................................................................</p><p>§ 13. Se a lesão for praticada contra a mulher, por razões da condição do sexo feminino, nos termos do § 2º-A do art. 121 deste Código: Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro anos)." (NR)</p><p>Violência psicológica contra a mulher</p><p>Art. 147-B. Causar dano emocional à mulher que a prejudique e perturbe seu pleno desenvolvimento ou que vise a degradar ou a controlar suas ações, comportamentos, crenças e decisões, mediante ameaça, constrangimento, humilhação, manipulação, isolamento, chantagem, ridicularização, limitação do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que cause prejuízo à sua saúde psicológica e autodeterminação: Pena - reclusão, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa, se a conduta não constitui crime mais grave.</p><p>ATENÇÃO PARA ALTERAÇÃO LEGISLATIVA!</p><p>Outra relevante alteração legislativa, promulgada com vistas ao legítimo interesse de defesa da mulher, foi sancionada no dia 08 de março de 2022, Dia Internacional da Mulher, a chamada Lei nº. 14.310/2022. Referida norma acrescenta ao parágrafo único do artigo 38-A, da Lei Maria da Penha, a necessidade de imediato registro da medida protetiva de urgência nos bancos de dados regulamentados pelo CNJ. De tal sorte, promove-se acesso instantâneo ao Ministério Público, a Defensoria Pública e aos órgãos de segurança pública e de assistência social, a fim de propiciar efetiva fiscalização e eficiência das medidas protetivas. Referida norma entra em vigor em 90 (noventa) dias após sua publicação oficial.</p><p>Destarte, o parágrafo único do art. 38-A da Lei nº 11.340, de 7 de agosto de 2006 (Lei Maria da Penha), passa a vigorar com a seguinte redação</p><p>Art. 38-A. (...) Parágrafo único. As medidas protetivas de urgência serão, após sua concessão, imediatamente registradas em banco de dados mantido e regulamentado pelo Conselho Nacional</p><p>de Justiça, garantido o acesso instantâneo do Ministério Público, da Defensoria Pública e dos órgãos de segurança pública e de assistência social, com vistas à fiscalização e à efetividade das medidas protetivas. (g.n).</p><p>QUESTÃO 1-Jorge, após praticar o crime de lesão corporal contra sua esposa, teve sua prisão preventiva decretada por desobedecer a medida protetiva imposta pelo juízo competente, com base nos arts. 312 e 313, inciso III, ambos do CPP.</p><p>Considerando a possibilidade trazida pelo art. 313, inciso III, do CPP, discorra sobre os possíveis excessos na decretação da prisão preventiva.</p><p>RESPOSTA 1-A criação da hipótese do inciso III, do art. 313, do CPP, permitiu que a prisão preventiva restasse decretava nos casos em que ela normalmente não teria cabimento, quando necessária para garantir a execução das medidas de urgência.</p><p>Entretanto, a decretação da prisão preventiva deverá ser utilizada como ultima ratio, apenas quando essencial para assegurar o cumprimento de medidas protetivas impostas e com a presença dos requisitos do art. 312, do Código de Processo Penal.</p><p>Necessário ponderar que muitos dos crimes cometidos no cenário da Lei Maria da Penha possuem penas pequenas, como, por exemplo, a lesão corporal, com pena de detenção de três meses a três anos.</p><p>Assim, poderá a prisão cautelar se mostrar extremamente gravosa caso tenha longa duração, por ser totalmente incompatível com o delito praticado.</p><p>É necessário que, na hipótese de sua decretação, o magistrado se mantenha atento para que a prisão cautelar não se alongue por tempo maior que o necessário.</p><p>QUESTÃO 2-No que diz respeito a imposição de prisão cautelar, nos casos de violência doméstica, é correto afirmar que:</p><p>RESPOSTA 2-será admitida a prisão preventiva, nos casos de violência doméstica, para garantir a execução das medidas protetivas de urgência.</p><p>Fundamentação: Nos moldes descritos no art. 313, inciso III, do Código de Processo Penal.</p><p>TEMA 05- Contradições e excessos nas prisões cautelares</p><p>Aula I – Duração da Prisão</p><p>RESUMO</p><p>Introdução</p><p>Desde a redação original do Código de Processo Penal, a prisão preventiva não tem prazo de duração previsto, o que ocasiona uma celeuma doutrinária e jurisprudencial sobre sua duração. Não raro na jurisprudência se encontram casos em que o excesso é gigantesco, em clara violação aos direitos fundamentais do acusado, já que ele não foi considerado culpado por sentença condenatória transitada em julgado.</p><p>Antes da mudança do Código, em 2008, a jurisprudência usava como parâmetro para a prisão preventiva o prazo de 81 dias. Tratava-se da soma dos prazos previstos para a realização da instrução criminal.</p><p>Como se sabe, em 2008 houve mudança no Código de Processo Penal, no que se refere aos procedimentos. A Lei 11.689/2008 introduziu um novo procedimento para julgamento dos crimes de competência do júri e a Lei 11.719/2008 estabeleceu novas regras sobre o procedimento ordinário e sumário.</p><p>Com a nova sistemática, houve inovação no que se refere aos prazos para a conclusão dos procedimentos.</p><p>O procedimento do júri tem o prazo de 90 dias para a conclusão sobre formação de culpa, ou seja, para a conclusão da primeira fase do procedimento (art. 412, CPP). Já o procedimento ordinário deve ser concluído em 60 dias (art. 400, CPP) e o procedimento sumário em 30 dias (art. 531, CPP). Em leis especiais há previsão de outros prazos.</p><p>A Lei 12.850/2013, que define a organização criminosa, prevê que a instrução poderá durar até 120 dias, se o réu estiver preso, prazo que poderá ser prorrogado por período idêntico. Isso significa a possibilidade de um prazo de 240 dias, o que equivale a 8 meses.</p><p>Art. 22 - Parágrafo único. A instrução criminal deverá ser encerrada em prazo razoável, o qual não poderá exceder a 120 (cento e vinte) dias quando o réu estiver preso, prorrogáveis em até igual período, por decisão fundamentada, devidamente motivada pela complexidade da causa ou por fato procrastinatório atribuível ao réu.</p><p>Porém, apesar de os prazos para a conclusão dos procedimentos estarem previstos no Código de Processo Penal, certo é que “reina a absoluta indeterminação acerca da duração da prisão cautelar” (Lopes Jr., 2012, p. 788), já que a jurisprudência não reconhece esse prazo como um prazo limite para a prisão preventiva.</p><p>Aury Lopes Jr. sustenta que tais prazos deveriam ser utilizados como parâmetros, mas reconhece que não são peremptórios:</p><p>São marcos que podem ser utilizados como indicativos de excesso de prazo em caso de prisão preventiva. Contudo, são prazos sem sanção, logo, com um grande risco de ineficácia. (Lopes Jr., 2012, p. 788).</p><p>Razoabilidade</p><p>Como se disse acima, a previsão dos prazos para a conclusão da instrução não tem sido entendida como um prazo para a prisão preventiva, já que tais prazos são considerados como prazos impróprios, que não acarretam sanção por sua inobservância.</p><p>Deste modo, a jurisprudência tem adotado o princípio da razoabilidade na verificação do prazo da prisão preventiva. Segundo Nucci, é preciso um equilíbrio para evitar que alguém fique preso indefinidamente. Nas palavras do autor, “razoável é a prisão cautelar cujo tempo de duração é o menor possível em face dos concretos elementos extraídos do processo”. (Nucci, 2015, p. 551).</p><p>Para aplicação da razoabilidade, Nucci preconiza a aplicação dos seguintes critérios:</p><p>a) Complexidade da causa;</p><p>b) Número de réus;</p><p>c) Número de processos na vara/Tribunal;</p><p>d) Atuação do juiz;</p><p>e) Atuação das partes.</p><p>Crítica à falta de prazo legal expresso</p><p>Entendendo ser insuficiente a aplicação do princípio da razoabilidade, Aury Lopes Jr. defende a necessidade de que a lei preveja um prazo expresso para duração da prisão preventiva. Referido autor informa que havia no PL 4.208/2001, que originou a Lei 12.403/2011, que disciplinou a prisão cautelar e as medidas cautelares diversas da prisão, o art. 315-A: “a prisão terá duração máxima de 180 dias em cada grau de jurisdição”. Com isso, a prisão preventiva poderia durar no máximo 180 dias em cada grau de jurisdição. Assim, em primeira instância, o prazo seria de 180 dias e, em segunda instância, para julgamento da apelação, seria de mais 180 dias. Contudo, tal previsão não constou da Lei.</p><p>Crítica às Súmulas 21 e 52 do STJ</p><p>As antigas Súmulas do Superior Tribunal de Justiça, Súmula 21, de 1990, e 52, de 1992, continuam em vigor.</p><p>A primeira trata da inexistência de excesso de prazo após a pronúncia, no caso de procedimento do júri:</p><p>Súmula 21, STJ: Pronunciado o réu, fica superada a alegação do constrangimento ilegal da prisão por excesso de prazo na instrução.</p><p>Como sublinham Badaró e Lopes Jr.:</p><p>O procedimento do júri somente termina com o julgamento em plenário, e não com a decisão de pronúncia. Pronunciado o acusado, terá fim apenas a primeira fase do processo, mas não todo o processo. Não há porque excluir do cômputo do prazo razoável toda a segunda fase do procedimento do júri. (Badaró; Lopes Jr., 2006, p. 113).</p><p>Já a Súmula 52 estabelece que, após o término da instrução, independentemente da prolação da sentença, não se pode mais cogitar excesso de prazo:</p><p>Súmula 52, STJ: Encerrada a instrução criminal, fica superada a alegação de constrangimento por excesso de prazo.</p><p>Segundo os mesmos autores, a Constituição da República fala em “razoável duração do processo” (art. 5º, LXXVIII, CR/88) e não em “razoável duração da instrução”, pois o término da instrução não põe fim ao processo (Badaró; Lopes Jr, 2006, p. 110).</p><p>As Súmulas também são criticadas por Brasileiro de Lima, que propõe uma ponderação:</p><p>A aplicação irrestrita das duas súmulas pode nos levar a uma conclusão absurda, qual seja, a de que, pronunciado o acusado, ou encerrada a instrução do processo, não haverá mais espaço para a caracterização do excesso de prazo na formação da culpa. (...) impõe-se um juízo de ponderação entre os valores constitucionais do exercício do poder-dever de julgar (art. 5º, XXXV) e, de outro, do direito subjetivo à razoável duração do processo e aos meios que garantam a celeridade de sua tramitação</p><p>(art. 5º, LXXVIII) (...) Nessa linha de raciocínio, tanto a súmula n. 21 quanto a de n. 52 do STJ vêm sendo mitigadas pelo próprios Tribunais Superiores. (LIMA, 2016, p. 308).</p><p>Proporcionalidade</p><p>Ao lado do princípio da razoabilidade, também a doutrina aponta a aplicação do princípio da proporcionalidade. Para Nucci, “proporcional é prisão cautelar cujo período de duração não excede os limites da pena mínima prevista para o delito” (Nucci, 2015, p. 551). Badaró afirma que se exige a “proporcionalidade entre a prisão cautelar e a provável pena a ser aplicada ao final do processo.” (Badaró, 2016, p. 1038).</p><p>Em suma, a eventual condenação não pode acarretar situação mais grave que a existente na prisão cautelar.</p><p>Assim, sustenta Badaró que ainda que presente a admissibilidade (art. 313,CPP), o pressuposto positivo (art. 312,CPP), pressuposto negativo (art. 314,CPP) e um dos requisitos (art. 312,CPP), somente será cabível se houver a previsão de uma pena tão grave quanto à prisão cautelar.</p><p>São critérios para verificação da proporcionalidade:</p><p>a) Pena cominada;</p><p>b) Condições pessoais do réu;</p><p>c) Potencial aplicação da pena mínima;</p><p>d) Benefícios da progressão (1/6, 2/5, 3/5);</p><p>e) Possibilidade de penas alternativas;</p><p>f) Possibilidade de sursis;</p><p>g) Regime inicial de cumprimento de pena.</p><p>Com base nisso, ilustre-se com hipóteses de falta de proporcionalidade.</p><p>Preso em flagrante por estelionato (art. 171, CP), que contém pena de reclusão de 1 a 5 anos. Embora seja admissível a prisão, pela pena máxima cominada (art. 313, I, CPP), é certo que é cabível a suspensão condicional do processo, o chamado sursis processual (art. 89, Lei 9.099/95), razão pela qual não tem sentido a conversão da prisão em flagrante em prisão preventiva, se, muito provavelmente, será concedido o benefício do sursis processual. Ademais, ainda que seja condenado, é bastante improvável que a pena privativa de liberdade não seja substituída por pena restritiva de direitos (art. 44, CP).</p><p>QUESTÃO 1-Leia o seguinte texto e responda:</p><p>Em um processo por roubo, em que o único réu foi preso em flagrante, que foi convertido em prisão preventiva, verifica-se que, apesar de decorridos 75 dias desde o recebimento da</p><p>denúncia, ainda não houve o julgamento. Na primeira audiência, duas testemunhas de acusação faltaram. Eram os policiais militares que efetuaram a prisão. Verificou-se que não foi feita a devida intimação, por falha do oficial de justiça. Houve uma segunda audiência em que, apesar de devidamente intimados, apenas um deles compareceu e foi ouvido. O Ministério Público insistiu na oitiva do segundo policial militar. A audiência está agendada para daqui a 23 dias. Neste caso, há excesso de prazo que imponha a revogação da prisão preventiva?</p><p>RESPOSTA 1-Ainda que não exista prazo expresso para a prisão preventiva, grande parte da doutrina</p><p>sustenta que deve-se ter como parâmetro o prazo de 60 dias, para o procedimento ordinário,</p><p>previsto no art. 400, CPP. No presente caso, já decorreu prazo superior ao previsto, 75 dias, e</p><p>se for realizada a audiência na data prevista, terá decorrido o prazo de 98 dias, prazo bastante</p><p>superior ao previsto em lei. Não havendo justificativa para a demora, pois o caso não é</p><p>complexo, não há vários réus e tampouco a defesa deu causa ao atraso, é de rigor a</p><p>revogação da prisão preventiva por excesso de prazo. Caso o juiz não conceda, é cabível a</p><p>impetração de habeas corpus com essa finalidade.</p><p>QUESTÃO 2-Sobre o prazo da prisão preventiva, é incorreto dizer:</p><p>RESPOSTA 2-há prazo expresso para a prisão preventiva, que é de 81 dias.</p><p>Fundamentação: Inexiste prazo expresso para a prisão preventiva.</p><p>Aula II – Desnecessidade da prisão</p><p>RESUMO</p><p>Introdução</p><p>Sabidamente, a prisão cautelar se justifica com a presença do fumus commissi delicti e do periculum libertatis.</p><p>O fumus commissi delicti diz respeito aos indícios de autoria do crime, ou como diz Sanguiné, “um juízo de prognóstico de provável cometimento do crime” (Sanguiné, 2014, p. 447).</p><p>Já o periculum libertatis trata, em tradução literal, do perigo que a liberdade do acusado acarreta, consubstanciado em “pelo menos, um dos requisitos eventuais previstos no art. 312 do CPP, desde que se enquadrem entre as finalidades constitucionalmente legítimas.” (Sanguiné, 2014, p. 448).</p><p>A seguir, veremos algumas das hipóteses em que não há necessidade da prisão, não obstante, eventualmente, fundamente alguns decretos de prisão preventiva.</p><p>Clamor público</p><p>Não raro, o clamor público serve de fundamento para a prisão preventiva. Trata-se de leitura baseada na grande repercussão social do fato, em razão da ampla divulgação midiática.</p><p>Como dizem Pacelli e Fischer, a “repercussão midiática do crime, invariavelmente objeto de leituras tendentes ao sensacionalismo retórico.” (Pacelli/Fischer). A rigor, as razões para a ocorrência de maior ou menor repercussão social decorre de fatores extrajurídicos e jamais poderia servir para o decreto de prisão. Sabe-se que especialmente a condição socioeconômica do autor ou vítima do delito é um fator preponderante para a repercussão midiática. Por mais bizarro que seja o crime, se as pessoas envolvidas forem de classe social mais baixa, é muito provável que não exista repercussão ou que ela seja mínima.</p><p>Há, no entanto, clara confusão entre a repercussão social e a garantia da ordem pública, que tem sido o fundamento para os decretos de prisão baseados no clamor público.</p><p>Interessante observar o seguinte julgado, do Supremo Tribunal Federal. O relator sorteado, Min. Marco Aurélio, ficou vencido, prevalecendo o voto do Min. Luiz Fux, designado relator para o acórdão. Embora tenha havido divergência, nota-se que o voto do Min. Luiz Fux também Aula II – Desnecessidade da prisão rechaçava a possibilidade de prisão preventiva em razão do clamor popular. A divergência ocorreu porque o Min. Luiz Fux entendeu que o clamor popular não tinha sido o único fundamento para a prisão. Confiram-se os dois votos:</p><p>2. In casu, o paciente, após discussão banal com a vítima, desferiu-lhe, inopinadamente e de surpresa, 6 (seis) disparos de arma de fogo que foram a causa eficiente de sua morte, tendo um dos tiros atingido, por erro de execução, uma mulher grávida de 8 (oito) meses que não veio a óbito por circunstâncias alheias à vontade do agente. A prisão preventiva decretada em prol da garantida ordem pública funda-se não somente no clamor popular causado, mas principalmente na periculosidade exacerbada do paciente atestada pelo modus operandi das práticas delituosas. (STF – HC 117885/SP – Rel. p/acórdão Min. Luiz Fux – j. 27/10/2015 – vencido Min. Marco Aurélio)</p><p>PRISÃO PREVENTIVA – MEIO SOCIAL – CREDIBILIDADE DO JUDICIÁRIO. O clamor social, na maioria das vezes a envolver visão apaixonada, não serve a fundamentar a custódia precária e efêmera, devendo-se dizer o mesmo quanto ao prestígio do Judiciário, ao qual incumbe, independentemente de fatores atécnicos, da capa do processo, da repercussão do crime, guardar a mais absoluta equidistância, decidindo à luz da ordem jurídica. (STF – HC 117885/SP – voto vencido – Min. Marco Aurélio).</p><p>Gravidade abstrata do crime</p><p>Também não é raro que a prisão preventiva seja decretada tendo como fundamento a gravidade abstrata do crime. Argumentos como o de que o “roubo assola as grandes cidades”, “crime cometido mediante violência” não se prestam, a rigor, para justificar a prisão cautelar.</p><p>Em suma, cautelaridade não se confunde com a gravidade do crime.</p><p>Um bom exemplo disso é o crime de homicídio, que é, com muita frequência, um fato eventual na vida do autor. Difícil justificar a prisão se se constata que o homicídio foi cometido, em uma situação muito específica, por uma pessoa que jamais havia delinquido, que tem comprovada atividade lícita e vínculo com o local onde mora. Apesar da gravidade abstrata do homicídio, com frequência sua prisão é desnecessária.</p><p>Até mesmo em casos de tráfico de droga, se não há outro elemento a justificar a prisão, o simples fato de ser crime de tráfico não enseja a prisão, conforme já</p><p>decidiu o Supremo Tribunal Federal:</p><p>Habeas corpus. 2. Tráfico de entorpecentes. Prisão preventiva. 3. Segregação cautelar mantida com base, apenas, na gravidade abstrata do crime. 4. Ausência de fundamentação idônea. Decisão contrária à jurisprudência dominante desta Corte. Constrangimento ilegal configurado. 5. Ordem concedida para revogar o decreto prisional sem prejuízo da análise da aplicação de medidas cautelares previstas no art. 319 do CPP. (STF – HC 139325/MG – Rel. Min. Gilmar Mendes – j. 27/06/2017)</p><p>Prisão para interrogatório</p><p>Outra situação é a decretação da prisão cautelar para que o investigado seja ouvido. Tal prisão não será cabível, principalmente, em razão do direito de permanecer em silêncio, como dizem Pacelli e Fischer: “se ele tem direito a não se pronunciar, a prisão apenas para a formalização desse direito (ao silêncio) seria inteiramente arbitrária.” (Pacelli/Fischer).</p><p>Insuficiência de medidas cautelares diversas da prisão</p><p>Dispõe o Código de Processo Penal, no art. 310, II, que a prisão em flagrante será convertida em prisão preventiva, se, além dos requisitos do art. 312, “se revelarem inadequadas ou insuficientes as medidas cautelares diversas da prisão”.</p><p>Resta claro que a prisão cautelar é ultima ratio. Trata-se da ideia de necessidade, que significa dizer que a mediada necessária é a menos gravosa, dentre as que atinjam o mesmo fim. Daí ser preferível a aplicação de uma das “outras medidas cautelares”, que vêm disciplinadas no capítulo V. Vejamos dois exemplos:</p><p>Suponha que uma pessoa cometeu crime de lesão corporal grave (art. 129, § 2º, CP), em uma briga de torcida de futebol. Embora seja admissível a prisão, já que se trata de crime doloso cuja pena máxima é superior a quatro anos (art. 313, I, CPP), é preciso verificar se é suficiente a aplicação da medida cautelar prevista no inciso II do art. 319, que pode ser a proibição de frequentar lugares com aglomeração de torcedores de futebol:</p><p>Art. 319, II - proibição de acesso ou frequência a determinados lugares quando, por circunstâncias relacionadas ao fato, deva o indiciado ou acusado permanecer distante desses locais para evitar o risco de novas infrações;</p><p>Um segundo exemplo é o caso de pessoa que comete crime no exercício de uma função pública. Em tal caso, é muito menos grave que, ao invés da prisão, seja decretada a suspensão do exercício da função pública.</p><p>Art. 319, VI - suspensão do exercício de função pública ou de atividade de natureza econômica ou financeira quando houver justo receio de sua utilização para a prática de infrações penais;</p><p>Prisão para proteção do preso</p><p>Outra situação em que a prisão não é necessária e que, estranhamente, é usada como fundamento para a decretação é a prisão para a proteção da integridade física do acusado. Trata-se de paradoxo gritante, pois decretar a prisão de alguém significa priva-la de sua liberdade, colocá-la em um ambiente violento, com opressivas regras da subcultura do cárcere. Assim, como pode parecer razoável para alguém colocar uma pessoa na prisão, sob a alegação de que é para seu próprio bem?</p><p>Apesar da manifesta contradição, há casos em que a prisão foi decretada sob esse fundamento. Confira-se o seguinte caso, julgado pelo Supremo Tribunal Federal.</p><p>A prisão preventiva foi decretada com o seguinte fundamento, pelo juiz, em caso de homicídio cometido na cidade de Guareí-SP:</p><p>“... a revolta de populares contra o acusado é suficiente para a manutenção da custódia cautelar, eis que necessária a preservação da integridade física do próprio réu...”.</p><p>A concessão da ordem de habeas corpus, pelo Supremo Tribunal Federal, se deu de forma lacônica, mas incisiva:</p><p>“Ninguém pode ser preso para sua própria proteção” (HC 100.863/SP – Rel. Min. Joaquim Barbosa – j. 4/12/2009).</p><p>QUESTÃO 1-Leia o seguinte texto e responda:</p><p>Em uma pequena e pacata cidade do interior do Estado de São Paulo, após uma calorosa discussão com seu vizinho, Joaquim matou-o com um tiro de espingarda cartucheira.</p><p>Imediatamente após o crime, Joaquim foi até a delegacia, chorando muito, visivelmente arrependido, e confessou o crime. Como na cidade o último homicídio foi cometido havia 15 anos, ao receber a denúncia, atendendo ao requerimento do Ministério Público, o juiz decretou a prisão preventiva nos seguintes termos:</p><p>“O crime provocou gravíssima sensação de insegurança na população ordeira da cidade. A repercussão social impõe que seja decretada a prisão preventiva nos termos do art. 312, CPP, como garantia da ordem pública, pois é preciso dar à população o recado de que o crime não compensa. A prisão cumprirá a função de acalmar os ânimos da população, assustada com o homicídio e, além disso, servirá para proteger o próprio réu, evitando que sofra algum ato de vingança.”</p><p>A prisão neste caso, foi corretamente decretada?</p><p>RESPOSTA 1-A prisão foi indevidamente decretada. Como se viu na aula, o clamor público jamais poderá servir de justificativa para a prisão preventiva. Do mesmo modo, consoante julgado do Supremo Tribunal Federal, não é cabível a prisão preventiva para proteção da integridade física do próprio preso.</p><p>QUESTÃO 2-Sobre a prisão cautelar, é incorreto dizer:</p><p>RESPOSTA 2-a repercussão social do crime, na sua localidade, pode ser usada como motivo para decretação da prisão para garantia da ordem pública.</p><p>Fundamentação: A jurisprudência, inclusive do STJ, e doutrina afirmam ser incabível prisão cautelar em razão da maior repercussão social, ou seja, do clamor público de determinado crime."</p><p>Aula III – Controle judicial efetivo</p><p>RESUMO</p><p>Introdução</p><p>Inicialmente, é importante relembrar, no que se refere ao controle judicial, que a prisão em flagrante, embora seja realizada pela autoridade policial, é sujeita ao controle do juiz. Com efeito, estabelece o art. 306, CPP, que a prisão será comunicada imediatamente ao juiz competente (caput) e que em até 24 horas, será encaminhado ao juiz competente o auto de prisão em flagrante.</p><p>Diz a Constituição que a prisão ilegal será imediatamente relaxada (art. 5º, LXV) e, por sua vez, o Código de Processo Penal estabelece que, ao receber o auto de prisão em flagrante, o juiz deverá relaxar a prisão ilegal (art. 310, I, CPP). Por sua vez, no que se refere à prisão temporária ou preventiva (arts. 312, 387, § 1º, e 413, § 3º, CPP) que é decretada por magistrado, o controle será feito por superior instância, mediante o habeas corpus.</p><p>Hipóteses de flagrância</p><p>Como já visto, o art. 302, CPP estabelece as hipóteses de flagrância, ou seja, situações em que poderá a pessoa ser presa em flagrante (flagrante próprio (incisos I e II), quase-flagrante (III) e o flagrante presumido (IV)).</p><p>São frequentes situações em que, embora não haja a situação de flagrância, é lavrado o auto de prisão em flagrante. Nesses casos, será de rigor que o magistrado, ao receber o auto de prisão em flagrante, deverá, fundamentadamente, relaxar a prisão em flagrante (art. 310, I, CPP). Trata-se e uma importante forma de controle da prisão em flagrante.</p><p>São exemplos de relaxamento da prisão em flagrante, retirados da realidade forense, o caso de prisão em flagrante por homicídio culposo cometido na condução de veículo automotor (art. 302, CTB), quando o condutor do veículo presta socorro. Ocorre que o art. 301, CTB é expresso no sentido de que, ao condutor, em acidente com vítima, “não se imporá a prisão em flagrante, nem se exigirá fiança, se prestar pronto e integral socorro àquela”.</p><p>Outro exemplo em que isso ocorre é a hipótese em que a prisão é enquadrada na situação de quase-flagrante, ou seja, a descrita no inciso III do art. 302, CPP, sem que haja efetiva perseguição. Em alguns casos, dá-se uma amplitude exageradamente elástica ao sentido de perseguição existente no texto legal.</p><p>Motivação genérica ou abstrata</p><p>São várias as situações em que não existe uma fundamentação válida da prisão cautelar, por ter sido usada uma motivação abstrata, sem apoio em dados concretos. Diz Sanguiné:</p><p>“Segundo a jurisprudência consolidada do STF, para que o decreto de custódia cautelar seja idôneo,</p><p>é necessário que o ato judicial constritivo da liberdade traga, fundamentadamente, elementos concretos aptos a justificar a necessidade da decretação da medida.” (Sanguiné, 2014, p. 452)</p><p>Uma das situações é a motivação que se limita a uma singela repetição do texto legal, que apenas diz, por exemplo, que a prisão é “imprescindível à garantia da ordem pública”.</p><p>Também é inválida a motivação assentada em afirmações de caráter puramente subjetivo, vale dizer, na simples opinião pessoal do magistrado.</p><p>Outra hipótese é a decretação da prisão sem demonstração concreta do fundamento, como na situação em que se diz que a prisão é necessária em razão da evidência de que o acusado irá fugir, mas sem demonstrar de onde, concretamente, foi retirada indício que autorizasse a conclusão de que há risco de fuga do acusado.</p><p>Na mesma linha, há o decreto de prisão cautelar baseado em argumentos puramente genéricos e especulativos, com suposições vagas, que não encontram respaldo em nenhum dado da realidade.</p><p>Outro vício existente é o que ocorre quando a decretação da prisão cautelar é restrita apenas a uma mera adequação típica, ou seja, demonstrando que a imputação é de determinado crime.</p><p>Em tal caso, o fundamento não é válido, pois sua admissão seria o reconhecimento de que existe uma espécie de prisão compulsória. Em suma, se bastasse a menção à adequação típica, teríamos a prisão cautelar em todos os processos relativos àquele crime.</p><p>Fundamento em textos legais impeditivos</p><p>Não pode existir prisão automática para determinados crimes. A ideia de que para determinado crime não é possível a liberdade provisória implicaria na aplicação automática da prisão para todo acusado daquele crime, mesmo sem cautelaridade. Diz Sanguiné:</p><p>“Não são admissíveis decretos prisionais que impõem, de forma automática e sem fundamentação, a obrigatoriedade do acusado manter-se preso. Não havendo indicação judicial demonstrativa do periculum libertatis, mas somente menção a textos legais impeditivos da liberdade ou de recorrer, não subsiste o decisum prisional.” (Sanguiné, 2014, p. 453).</p><p>A antiga redação da Lei dos Crimes Hediondos (Lei 8072/1990) vedava, no art. 2º, II, que fosse concedida fiança e liberdade provisória para os crimes hediondos. A Lei 11.464/2007 deu nova redação ao inciso II, deixando apenas a vedação à fiança. Tal proibição não possui grande relevância em razão do esvaziamento do instituto da fiança no Processo Penal Brasileiro. Apesar da severa crítica da doutrina acerca da proibição legal da liberdade provisória, o Estatuto do Desarmamento (Lei 10.826/2003), no art. 21, considerava que os “crimes previstos nos arts. 16, 17 e 18 são insuscetíveis de liberdade provisória”. Ocorre que o Supremo Tribunal Federal, ao julgar a ADIn 3112, decidiu ser inconstitucional a vedação da liberdade provisória:</p><p>V - Insusceptibilidade de liberdade provisória quanto aos delitos elencados nos arts. 16, 17 e 18. Inconstitucionalidade reconhecida, visto que o texto magno não autoriza a prisão ex lege, em face dos princípios da presunção de inocência e da obrigatoriedade de fundamentação dos mandados de prisão pela autoridade judiciária competente. (STF — ADI 3112 – j. 06/06/2007)</p><p>Da mesma forma, o art. 44 da Lei de Drogas (lei 11.343/2006) prescreve que os crimes previstos nos “arts. 33, caput e § 1o , e 34 a 37 desta Lei são inafiançáveis e insuscetíveis de sursis, graça, indulto, anistia e liberdade provisória”.</p><p>Apesar do texto legal, é cabível a liberdade provisória:</p><p>“...cuida-se de privilegiar o princípio constitucional da presunção da inocência, não se permitindo a prisão cautelar a bel-prazer, sem necessidade, calcando-se em preceito legal simplista e generalizante. Não se pode fundar a proibição de liberdade provisória em elementos abstratos, tal como a singela tipificação em crime de tráfico de drogas”. (Nucci, 2012, p. 290)</p><p>A prisão por imposição legal viola a presunção da inocência, pois se decreta a prisão mesmo que inexistente a cautelaridade, o que significa transformar a prisão cautelar em verdadeira antecipação da pena.</p><p>Motivação em argumentos extra legem</p><p>Segundo Saguiné, são argumentos que ofendem o princípio da legalidade e da proporcionalidade, por se tratarem de fundamentos extra legem, as seguintes hipóteses:</p><p>“a mera alusão à gravidade abstrata ou natureza do crime — embora relevante no momento inicial para indicar risco de fuga —, ao modus operandi, e sua classificação como hediondo, ou ao status profissional (v.g., policial militar) do imputado, o clamor público ou repercussão social do crime na comunidade local, a finalidade de contenção da escalada criminosa etc., por si sós, não constituem motivação de cunho cautelar, com vistas a assegurar o resultado final do processo” (Sanguiné, 2014, p. 454).</p><p>Motivação implícita</p><p>Trata-se de uma argumentação expressa sobre uma questão decidida, que funciona como “justificação implícita para outro ponto em que não foram explicitadas as razões de convencimento judicial, mas tacitamente abrangido na decisão, segundo regras da lógica” (Sanguiné, 2014, p. 455). Referido autor reconhece que é “um antídoto à repetição de argumentos relativos a questões de fato ou de direito análogas ou de qualquer modo correlatas por uma relação de implicação racional ou normativa” (Sanguiné, 2014, p. 455). ]A crítica à motivação implícita é que ela seria, em regra, uma forma de disfarçar a falta de motivação. No caso, por exemplo, de uma sentença condenatória em que há vasta fundamentação da condenação e da fixação da pena, e uma motivação genérica sobre a decretação ou manutenção da prisão preventiva, a decisão deve ser considerada desfundamentada. Isso porque a motivação é distinta, já que para a decretação de prisão preventiva é imprescindível a demonstração da cautelaridade. Por isso, Sanguiné arremata que a motivação implícita “não atende à exigência constitucional das decisões judiciais, pois o juiz não explicita seu raciocínio e suas opções valorativas” (Sanguiné, 2014, p. 455).</p><p>Fundamentação per relationem</p><p>Trata-se da fundamentação em que se faz menção a outro texto existente no processo, seja outra decisão ou até parecer ministerial, ou seja, a decisão aproveita a motivação já existente nos autos (Sanguiné, 2014, p. 456). Por exemplo, ao decidir a manutenção da prisão preventiva no momento da sentença condenatória, o juiz faz remissão à decretação da prisão constante nos autos.</p><p>Na jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, há a aceitação da motivação per relationem, desde que presentes algumas exigências, como se vê abaixo:</p><p>“Ao proferir uma decisão, o magistrado não pode simplesmente fazer remissão aos fundamentos de outra, sem a devida transcrição. Com base nesse entendimento, a Sexta Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ) anulou o julgamento de apelação cujo acórdão afirmou apenas que ratificava os fundamentos da sentença e adotava o parecer do Ministério Público. O inciso IX do artigo 93 da Constituição Federal determina que toda decisão judicial deve ser fundamentada. A jurisprudência do STJ admite que o magistrado adote motivação de outra decisão ou parecer, desde que haja a sua transcrição no acórdão. É a chamada motivação ad relationem. No caso julgado, não houve a transcrição de trechos que pudessem indicar a motivação que estava sendo acolhida para negar provimento à apelação. Segundo os ministros da Sexta Turma, essa simples referência não permite apreciar quais foram as razões ou fundamentos da sentença condenatória ou do parecer ministerial e se as alegações formuladas pela defesa na apelação foram satisfatoriamente rechaçadas.” (STJ — HC 220562 — Rel. Min. Alderita Ramos de Oliveira — Desembargadora convocada — j. 21.02.2013)</p><p>“2. Contudo, conquanto se admita que o magistrado reenvie a fundamentação de seu decisum a outra peça constante do processo, e ainda que se permita que a motivação dos julgados seja sucinta, deve-se garantir, tanto às partes do processo quanto à sociedade em geral, a possibilidade de ter acesso e de compreender as razões</p><p>pelas quais determinada decisão foi tomada.” (HC 219572/SP, Rel. Ministro JORGE MUSSI, QUINTA TURMA, julgado em 09/10/2012, DJe 05/11/2012)</p><p>“2. Não se desconhece a existência de inúmeros julgados, tanto desta Corte Superior, quanto do Supremo Tribunal Federal, que afastam a alegação de nulidade pela suposta ofensa ao artigo 93, inciso X, da Constituição Federal, quando a autoridade judiciária, ao fundamentar sua decisão, reporta-se à sentença ou ao parecer ministerial. Contudo, conquanto se admita que o magistrado reenvie a fundamentação de seu decisum a outra peça constante do processo, e ainda que se permita que a motivação dos julgados seja sucinta, deve-se garantir, tanto às partes do processo, quanto à sociedade em geral, a possibilidade de ter acesso e de compreender as razões pelas quais determinada decisão foi tomada.” (HC 210981/SP, Rel. Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA, SEXTA TURMA, julgado em 03/11/2011, DJe 21/11/2011)</p><p>QUESTÃO 1-Leia o seguinte texto e responda:</p><p>Ao decretar a prisão preventiva de acusado de crime de roubo, o juiz motivou do seguinte</p><p>modo sua decisão: “Trata-se de crime grave, praticado com emprego de violência ou grave ameaça, que grande temor causa nos moradores das grandes cidades. Apesar de se tratar de roubo simples, já que sem emprego de arma, entendo que autor desse tipo de crime nenhuma condescendência</p><p>merece do Poder Judiciário. Desse modo, para garantia da ordem pública, é de rigor o cerceamento da liberdade do réu, razão pela qual decreto a prisão preventiva, nos termos do art. 312, do Código de Processo Penal”.</p><p>É válida a motivação acima transcrita?</p><p>RESPOSTA 1-A motivação transcrita no problema não é válida para decretação da prisão preventiva. O</p><p>rimeiro vício que se vê é a fundamentação baseada na gravidade abstrata do crime de roubo,</p><p>eque não é fundamentação válida, como dito em aula, com base na doutrina e jurisprudência.</p><p>Ademais, o juiz também fundamentou em sua opinião estritamente pessoal, dizendo que</p><p>ntende que autor de tal crime não merece condescendência. Não há nenhuma linha</p><p>demonstrando o periculum libertatis do agente que justificasse a decretação da prisão</p><p>preventiva.</p><p>QUESTÃO 2-Sobre a prisão cautelar, é incorreto dizer:</p><p>RESPOSTA 2-A motivação per relationem jamais é aceita pela jurisprudência do STJ.</p><p>Fundamentação: O STJ aceita a motivação per relationem, desde que preenchidos certos requisitos."</p><p>Aula IV – Ausência de representação pelo abuso</p><p>RESUMO</p><p>Introdução</p><p>Na prisão cautelar — seja a prisão em flagrante, temporária ou preventiva — o preso é, não raro, submetido a toda sorte de abuso, constrangimentos, humilhação, senão à tortura.</p><p>A Lei de Abuso de Autoridade, Lei 4.898/65 — curiosamente uma lei promulgada no início da ditadura militar — trata do direito de representação contra o abuso de autoridade (art. 1º), para apuração da responsabilidade civil, administrativa e penal. No art. 2º, estabelece que a representação será feita por petição dirigida à autoridade superior competente para aplicar a sanção (inciso I) ou ao Ministério Público.</p><p>A Constituição da República, no art. 5º, XXXIV, assegura o direito de petição contra ilegalidade e abuso de poder.</p><p>Como dito, constatam-se diversas formas de abuso na prisão cautelar, tais como prisão em flagrante, sem a presença das hipóteses de flagrância, exposição indevida no momento da prisão, uso desnecessário de algemas, não comunicação da prisão, não relaxamento da prisão, quando a lei determina, e, por fim, a mais grave delas, que é tortura, seja a física ou psicológica.</p><p>Crimes de abuso de autoridade</p><p>São diversos os tipos de abuso de autoridade, contidos no art. 4º, da Lei 4.898/1965: Art. 4º Constitui também abuso de autoridade:</p><p>a) ordenar ou executar medida privativa da liberdade individual, sem as formalidades legais ou com abuso de poder;</p><p>b) submeter pessoa sob sua guarda ou custódia a vexame ou a constrangimento não autorizado em lei;</p><p>c) deixar de comunicar, imediatamente, ao juiz competente a prisão ou detenção de qualquer pessoa;</p><p>d) deixar o Juiz de ordenar o relaxamento de prisão ou detenção ilegal que lhe seja comunicada;</p><p>e) levar à prisão e nela deter quem quer que se proponha a prestar fiança, permitida em lei;</p><p>f) cobrar o carcereiro ou agente de autoridade policial carceragem, custas, emolumentos ou qualquer outra despesa, desde que a cobrança não tenha apoio em lei, quer quanto à espécie quer quanto ao seu valor;</p><p>g) recusar o carcereiro ou agente de autoridade policial recibo de importância recebida a título de carceragem, custas, emolumentos ou de qualquer outra despesa;</p><p>h) o ato lesivo da honra ou do patrimônio de pessoa natural ou jurídica, quando praticado com abuso ou desvio de poder ou sem competência legal;</p><p>i) prolongar a execução de prisão temporária, de pena ou de medida de segurança, deixando de expedir em tempo oportuno ou de cumprir imediatamente ordem de liberdade.</p><p>Como se vê, são diversas as formas de abuso de autoridade. Há condutas específicas, como a hipótese da alínea “i”, que foi introduzida pela Lei 7.960/89, que introduziu no ordenamento jurídico a prisão temporária.</p><p>A seguir, serão abordadas algumas formas de abuso de autoridade, não raro, cometidas na execução da prisão cautelar.</p><p>Inexistência de situação de flagrante</p><p>Trata-se da situação em que a autoridade policial prende em flagrante a pessoa, não obstante a situação concreta não se amolde a nenhuma das hipóteses descritas no art. 302, CPP.</p><p>Uma situação corriqueira é a prisão com base no inciso III do art. 302, chamado pela doutrina de quase-flagrante, em que a prisão ocorrerá se houver a perseguição do autor do delito. Muitas vezes, apesar de baseado em tal situação, a prisão ocorreu após uma mera procura da pessoa, que é presa por se amoldar à descrição feita pela vítima, sem qualquer objeto que pudesse presumir a autoria do crime. Em tal situação, confunde-se a perseguição com procura, em claro atentado à liberdade do indivíduo.</p><p>Outra situação, já verificada na realidade, é a prisão do condutor de veículo que presta socorro, na hipótese de autoria de homicídio culposo. Ocorre que o art. 301 do Código de Trânsito Brasileiro estabelece que ao “condutor de veículo, nos casos de acidentes de trânsito de que resulte vítima, não se imporá a prisão em flagrante, nem se exigirá fiança, se prestar pronto e integral socorro àquela.”</p><p>Apesar disso, há casos em que o auto de prisão em flagrante é lavrado.</p><p>Há também casos em que a conduta é atípica e a prisão em flagrante é realizada. Aqui, em geral, a prisão é realizada porque se entende que a conduta é típica. Muitas vezes, há controvérsia doutrinária e jurisprudencial sobre a tipicidade de determinada conduta e, caso a autoridade policial adote o entendimento de que é típica, não se poderá cogitar abuso de autoridade, por falta de dolo. É o exemplo da colocação de fita isolante na placa de veículo automotor, para evitar multa pelo radar fotográfico. Na jurisprudência encontram-se julgados em sentidos diversos sobre a eventual configuração do crime descrito no art. 311, CP. Não há como entender que houve abuso de autoridade se o delegado de polícia entendeu mais apropriada a jurisprudência de que configura crime.</p><p>Exposição vexatória</p><p>Problema também muito grave é a prisão em que os autores são expostos ao público, especialmente à mídia, de forma vexatória. Não existe nenhuma previsão de que o preso seja exposto à mídia. Frequentemente, os presos são enfileirados em frente a um cartaz da repartição (Batalhão da Polícia Militar, Delegacia de Polícia, etc.) que efetuou a prisão.</p><p>Não há dúvida de que diversos dispositivos legais impedem tal exposição. Como já visto, o art. 4º, b, Lei 4.898/1965, tipifica o ato de “submeter pessoa sob sua guarda ou custódia a vexame ou a constrangimento não autorizado em lei”.</p><p>Na Constituição da República, ao menos três dispositivos podem ser evocados para a vedação de tal prática. O primeiro é a presunção de inocência (art. 5º, LVII, CR/88). É inegável que o tratamento dispensado, além do constrangimento,</p><p>cópia integral para a Defensoria Pública.</p><p>No mesmo prazo, será entregue ao preso, mediante recibo, a nota de culpa, assinada pela autoridade, com o motivo da prisão, o nome do condutor e os das testemunhas.</p><p>Quando o fato for praticado em presença da autoridade, ou contra esta, no exercício de suas funções, constarão do auto a narração deste fato, a voz de prisão, as declarações que fizer o preso e os depoimentos das testemunhas, sendo tudo assinado pela autoridade, pelo preso e pelas testemunhas e remetido imediatamente ao juiz a quem couber tomar conhecimento do fato delituoso, se não o for a autoridade que houver presidido o auto.</p><p>QUESTÃO 2-No que diz respeito à prisão em flagrante, é CORRETO afirmar:</p><p>RESPOSTA 2-Para efeito da lavratura do auto de prisão em flagrante e estabelecimento da materialidade do crime de tráfico de drogas, é suficiente o laudo de constatação da natureza e quantidade da droga, firmado por perito oficial ou, na falta deste, por pessoa idônea.</p><p>Fundamentação: a alternativa foi retirada do texto da Lei de Drogas: Art. 50. Ocorrendo prisão em flagrante, a autoridade de polícia judiciária fará, imediatamente, comunicação ao juiz competente, remetendo-lhe cópia do auto lavrado, do qual será dada vista ao órgão do Ministério Público, em 24 (vinte e quatro) horas. § 1º Para efeito da lavratura do auto de prisão em flagrante e estabelecimento da materialidade do delito, é suficiente o laudo de constatação da natureza e quantidade da droga, firmado por perito oficial ou, na falta deste, por pessoa idônea.</p><p>AULA III - ABUSOS NO FLAGRANTE</p><p>Nesta aula, nos debruçaremos no estudo dos abusos no flagrante, as também chamadas modalidades ilícitas na prisão em flagrante. Nesse sentido, temos duas modalidades ilícitas de prisão em flagrante: flagrante provocado ou preparado e o flagrante forjado.</p><p>O flagrante preparado ocorre quando uma pessoa, policial ou particular, provoca, induz ou instiga alguém a praticar uma infração penal, somente para poder prendê-la em situação de flagrância.</p><p>Nesse caso, não fosse a ação do agente provocador, o sujeito não teria praticado o delito, pelo menos nas circunstâncias pelas quais foi preso.</p><p>Trata-se, na verdade, de hipótese de crime impossível (art. 17 do Código Penal), já que, por força da preparação engendrada pelo policial ou terceiro para prendê-lo, jamais o sujeito consumaria o crime.</p><p>Em síntese, simultaneamente à indução à prática do crime, o agente provocador do flagrante age para evitar a consumação.</p><p>A jurisprudência do STF é pacífica em interligar essa espécie de prisão com a absoluta impossibilidade de consumação (crime impossível).</p><p>É o que diz a Súmula 145 do STF:</p><p>Não há crime quando a preparação do flagrante pela polícia torna impossível a sua consumação.</p><p>Trata-se de hipótese de crime impossível, que não é punível nos termos do artigo 17 do Código Penal.</p><p>Em que pese a súmula mencionar somente o flagrante pela polícia, a ilegalidade também pode decorrer de flagrante preparado por particular.</p><p>Ex: Suspeitando que a empregada doméstica esteja furtando objetos da residência, dona de casa deixa uma joia na mesa de centro da sala, ficando a espreita. No momento em que a empregada pega a joia, a dona de casa, auxiliada ou não por outras pessoas, a detém, prendendo-a em flagrante. Trata-se de prisão ilegal, já decorrente de flagrante preparado.</p><p>Temos ainda o flagrante forjado se caracteriza pela criação de provas para forjar a prática de um crime inexistente. Trata-se de uma armação, uma mentira, um engodo, uma farsa.</p><p>Aqui a ação da autoridade policial ou de um particular visa a simular um fato típico inexistente, com o objetivo de incriminar falsamente alguém.</p><p>Ex: policial coloca droga no interior do veículo de determinada pessoa para prendê-la pelo delito de tráfico ilícito de entorpecentes na modalidade transportar (art. 33 da Lei 11.343/20060.</p><p>Trata-se de hipótese de flagrante absolutamente nulo, merecendo, pois, ser relaxado.</p><p>A autoridade policial ou particular que forjou o flagrante responderá por denunciação caluniosa e/ou abuso de autoridade, se for funcionário público no exercício da função.</p><p>Regra especial - toda prisão ilegal deverá ser relaxada pelo juiz competente. É o que ocorre nas audiências de custódia (art. 310, I, CPP).</p><p>QUESTÃO 1-Para se vingar de seu desafeto, Mikail Marshal, policial militar, colocou subrepiticiamente na bolsa de Guido um grande número de documentos falsificados.</p><p>Após conseguir colocar a papelada sem que ninguém tivesse visto, forçou a vítima a abrir a bolsa e, por essa razão, encontrou os documentos falsos e deu voz de prisão para Guido.</p><p>Diante do caso prático, pergunta-se:</p><p>Estamos diante de alguma modalidade de flagrante? Qual? Trata-se de modalidade válida? Justifique a sua resposta.</p><p>RESPOSTA 1-Trata-se de hipótese de prisão em flagrante forjado.</p><p>Não é lícita e, além de anular a decisão do magistrado, submete o policial aos rigores da lei.</p><p>QUESTÃO 2-Féres, Deputado Federal, foi preso em flagrante pela prática de ato que configura crime de racismo. Considerando a disciplina das imunidades parlamentares na Constituição da República, Féres</p><p>RESPOSTA 2-poderia ter sido preso, uma vez que racismo constituiu crime inafiançável, devendo os autos, nesse caso, ser remetidos dentro de 24 horas à Câmara dos Deputados para que, pelo voto da maioria de seus membros, resolva sobre a prisão.</p><p>Fundamentação: A resposta correta foi retirada do texto constitucional: Art. 52, § 2º Desde a expedição do diploma, os membros do Congresso Nacional não poderão ser presos, salvo em flagrante de crime inafiançável. Nesse caso, os autos serão remetidos dentro de vinte e quatro horas à Casa respectiva, para que, pelo voto da maioria de seus membros, resolva sobre a prisão.</p><p>AULA IV - DIREITOS DO PRESO E AUDIÊNCIA DE CUSTÓDIA</p><p>Nesta aula, adentraremos a importante temática que envolve os direitos do preso na audiência de custódia.</p><p>Dessa forma, necessário iniciarmos com a leitura do art. 310 do Código de Processo Penal, com a redação do Pacote Anticrime:</p><p>Art. 310. Após receber o auto de prisão em flagrante, no prazo máximo de até 24 (vinte e quatro) horas após a realização da prisão, o juiz deverá promover audiência de custódia com a presença do acusado, seu advogado constituído ou membro da Defensoria Pública e o membro do Ministério Público, e, nessa audiência, o juiz deverá, fundamentadamente: (Redação dada pela Lei nº 13.964, de 2019) (Vigência)</p><p>I - relaxar a prisão ilegal; ou (Incluído pela Lei nº 12.403, de 2011).</p><p>II - converter a prisão em flagrante em preventiva, quando presentes os requisitos constantes do art. 312 deste Código, e se revelarem inadequadas ou insuficientes as medidas cautelares diversas da prisão; ou (Incluído pela Lei nº 12.403, de 2011).</p><p>III - conceder liberdade provisória, com ou sem fiança.</p><p>A partir desta redação, uma vez que consta o termo da própria lei, podemos conceituar audiência de custódia como a realização de uma audiência sem demora após prisão em flagrante, que permite contato imediato do custodiado com o juiz de garantias, um defensor e com o Ministério Público.</p><p>Em continuidade, no mesmo artigo supramencionado, o juiz poderá, ainda:</p><p>§ 1º Se o juiz verificar, pelo auto de prisão em flagrante, que o agente praticou o fato em qualquer das condições constantes dos incisos I, II ou III do caput do art. 23 do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal), poderá, fundamentadamente, conceder ao acusado liberdade provisória, mediante termo de comparecimento obrigatório a todos os atos processuais, sob pena de revogação. (Renumerado do parágrafo único pela Lei nº 13.964, de 2019) (Vigência)</p><p>§ 2º Se o juiz verificar que o agente é reincidente ou que integra organização criminosa armada ou milícia, ou que porta arma de fogo de uso restrito, deverá denegar a liberdade provisória, com ou sem medidas cautelares. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) (Vigência)</p><p>§ 3º A autoridade que deu causa, sem motivação idônea, à não realização</p><p>é uma prática em que o preso é apresentado como se houvesse certeza de que ele foi o autor do crime. Não tem sentido que uma pessoa sobre a qual existe ainda uma precária situação de suspeita seja apresentado como se fosse autor do crime. Eventual absolvição não apagará todos os efeitos sociais de tal prisão. Do mesmo modo, o art. 5º, III, proíbe a tortura e veda o tratamento “degradante”. Por fim, no art. 5º, XLIX, “é assegurado aos presos o respeito à integridade física e moral”. Não há como negar que tal tipo de exposição é uma forma clara de violação à integridade moral do preso.</p><p>Merece ser citado como exemplo um caso ocorrido na cidade de São Paulo, em 1996, que ficou conhecido como Caso Bar Bodega. Dois jovens de classe média alta foram mortos em um latrocínio ocorrido no referido bar. A polícia anunciou a prisão dos supostos autores, que confessaram sob tortura, todos expostos à mídia. Contudo, eram inocentes, o que foi percebido pelo Promotor de Justiça responsável pelo caso. Posteriormente, os verdadeiros autores foram condenados, mas a vida daqueles jovens inocentes, apresentados como assassinos, foram prejudicadas para sempre. O Delegado responsável pelo caso e seus subordinados foram absolvidos e os jovens não conseguiram receber indenização do Estado. (Dorneles, 2007).</p><p>Deixar de comunicar ao juiz a prisão</p><p>Outra forma de abuso é a não comunicação da prisão à autoridade judicial, o que contraria a Constituição da República, em seu art. 5º, LXII: “a prisão de qualquer pessoa e o local onde se encontre serão comunicados imediatamente ao juiz competente”. A lei tipifica a conduta da autoridade policial que não comunica ao juiz a prisão (art. 4º, c).</p><p>Deixar de relaxar a prisão ilegal</p><p>Dispõe a Constituição da República, no art. 5º, LXV, que “a prisão ilegal será imediatamente relaxada pela autoridade judiciária”. A Lei de Abuso de Autoridade, por sua vez, tipifica o crime de deixar o juiz de relaxar a prisão em flagrante ilegal, que seja comunicada. Trata-se de crime próprio que tem como sujeito ativo o juiz. Obviamente, para que exista o crime, é imprescindível o dolo, que pressupõe a consciência de que a prisão era ilegal e a vontade de não relaxar, apesar da ilegalidade. Nucci assevera ainda:</p><p>“Exige-se o elemento subjetivo específico tácito, consistente na vontade de abusar do poder que detém em nome do Estado.” (Nucci, 2012, p. 51)</p><p>Inexistindo a forma culposa, a conduta “relativamente comum” de “tomar ciência do auto de prisão em flagrante e, sem fazer uma leitura atenta da peça, manter a prisão, fazendo inserir os termos tradicionais” não configura crime (Nucci, 2012, p. 51). Tais despachos padronizados podem apenas configurar infração disciplinar.</p><p>Uso desnecessário de algemas</p><p>Tradicionalmente, as algemas eram usadas, no Brasil, mesmo em hipóteses de prisão em que não havia qualquer necessidade. No entanto, em 13 de agosto de 2008, o Supremo Tribunal Federal editou a súmula vinculante nº 11:</p><p>“Só é lícito o uso de algemas em casos de resistência e de fundado receio de fuga ou de perigo à integridade física própria ou alheia, por parte do preso ou de terceiros, justificada a excepcionalidade por escrito, sob pena de responsabilidade disciplinar, civil e penal do agente ou da autoridade e de nulidade da prisão ou do ato processual a que se refere, sem prejuízo da responsabilidade civil do Estado.”</p><p>Com a aprovação da dita súmula, pode-se dizer que a regra é de que as algemas não serão usadas, e a exceção é o uso das algemas — tentativa de fuga, resistência, agressão contra policiais, terceiros ou contra si (STF – 89.429-RO – Rel. Min. Cármen Lúcia – j. 22/08/2006). A alegação de que o a pessoa a ser julgada está presa não é suficiente para justificar o uso de algemas, consoante a decisão do STF:</p><p>“Mas a ótica da Súmula é inversa. E ótica vinculante! O fato de o réu encontrar-se preso é absolutamente neutro, pois não se imagina que o uso de algemas seja cogitado na hipótese de acusado que responde à acusação em liberdade. À obviedade, ao exigir causa excepcionante, a Súmula não se contenta com os requisitos da prisão, naturalmente presentes.” (Rcl 22557 – Rel. Min. Edson Fachin, Decisão Monocrática, j. 15.12.2015).</p><p>Convém destacar que o Código de Processo Penal, em seu art. 284, estabelece que “Não será permitido o emprego de força, salvo a indispensável no caso de resistência ou de tentativa de fuga do preso.” Indiscutível que o uso de algemas deve ser entendido nesse sentido.</p><p>Por sua vez, a Lei de Execução Penal dispõe de modo específico no art. 199 que “O emprego de algemas será disciplinado por decreto federal.” A falta do referido decreto sempre foi usada, antes da edição da súmula vinculante, como justificativa para o uso indiscriminado de algemas.</p><p>Apenas em 26 de setembro 2016, apesar de a Lei de Execução Penal ser de 1984, foi editado o Decreto 8.858, que disciplina o seguinte:</p><p>Art. 2º É permitido o emprego de algemas apenas em casos de resistência e de fundado receio de fuga ou de perigo à integridade física própria ou alheia, causado pelo preso ou por terceiros, justificada a sua excepcionalidade por escrito.</p><p>Tortura</p><p>Por fim, a pior das formas de abuso de autoridade que pode ser cometido contra o preso é a tortura, vedada pela Constituição da República no art. 5º, III: “ninguém será submetido a tortura nem a tratamento desumano ou degradante”. As diversas modalidades de tortura são tipificadas na Lei 9.455/97.</p><p>QUESTÃO 1-Leia o seguinte texto e responda:</p><p>Em julgamento do Tribunal do Júri, o juiz, apesar de requerimento da defesa para retirada das algemas do réu, manteve-o algemado, sob o fundamento de que “estando preso</p><p>preventivamente o acusado, é de rigor o uso de algemas”. Sustentou ainda que, ao determinar que todo réu preso permaneça algemado em plenário, estaria fazendo valer o princípio da isonomia.</p><p>É válido o fundamento do juiz?</p><p>RESPOSTA 1-A fundamentação do juiz é insubsistente. Não teria sentido algemar réu que não estivesse preso, conforme já decidiu o Supremo Tribunal Federal, em julgado transcrito no Resumo. Ou seja, a Súmula Vinculante nº 11, ao exigir requisitos como a probabilidade de fuga ou para garantir a integridade física de alguém, o fez para os réus presos. Se bastasse estar preso, a súmula teria estabelecido apenas este requisito. Assim, não é válida a singela alegação de que se trata de réu preso.</p><p>QUESTÃO 2-Sobre o abuso na prisão cautelar, é correto dizer:</p><p>RESPOSTA 2-no caso em que o juiz deixa de relaxar uma prisão manifestamente ilegal, em razão da desatenção na leitura dos autos, não se configura o crime de abuso de autoridade, já que não existe modalidade culposa.</p><p>Fundamentação: O mencionado crime de abuso de autoridade só se configura se houver dolo, o que pressupõe a consciência de que é hipótese de prisão ilegal e a vontade de, apesar dessa consciência, não relaxar a prisão.</p><p>TEMA 06- Liberdade provisória</p><p>AULA I - CONCEITO E NATUREZA JURÍDICA</p><p>Nesta aula, adentraremos à temática que envolve a liberdade provisória, especificamente, em seu conceito e natureza jurídica, abordando suas principais nuances.</p><p>Desta forma, cabe pedido de liberdade provisória nas hipóteses de prisão em flagrante legal, cuja custódia não se afigura necessária, por estarem ausentes os pressupostos da prisão preventiva.</p><p>Entende-se por liberdade provisória o instituto destinado a conferir ao acusado o direito de responder ao processo em liberdade, mediante o cumprimento ou não de determinadas condições.</p><p>A liberdade provisória está prevista no art. 310, III, do CPP, segundo o qual, ao receber o auto de prisão em flagrante, o juiz poderá, fundamentadamente, conceder a liberdade provisória, com ou sem fiança. Está previsto ainda no art. 5º, LXVI, da CF/88, que ninguém será levado à prisão ou nela mantido quando a lei admitir a liberdade provisória, com ou sem fiança.</p><p>Além disso, o art. 321 do CPP dispõe que, ausentes os requisitos que autorizam a decretação da prisão preventiva, o juiz deverá conceder liberdade provisória, impondo, se for o caso, as medidas cautelares</p><p>previstas no art. 319 do CPP e observados os critérios constantes do art. 282 do CPP.</p><p>Art. 321. Ausentes os requisitos que autorizam a decretação da prisão preventiva, o juiz deverá conceder liberdade provisória, impondo, se for o caso, as medidas cautelares previstas no art. 319 deste Código e observados os critérios constantes do art. 282 deste Código. (Redação dada pela Lei nº 12.403, de 2011).</p><p>Art. 310. Após receber o auto de prisão em flagrante, no prazo máximo de até 24 (vinte e quatro) horas após a realização da prisão, o juiz deverá promover audiência de custódia com a presença do acusado, seu advogado constituído ou membro da Defensoria Pública e o membro do Ministério Público, e, nessa audiência, o juiz deverá, fundamentadamente: (Redação dada pela Lei nº 13.964, de 2019)</p><p>(...)</p><p>III - conceder liberdade provisória, com ou sem fiança. (Incluído pela Lei nº 12.403, de 2011).</p><p>Art. 310. § 1º Se o juiz verificar, pelo auto de prisão em flagrante, que o agente praticou o fato em qualquer das condições constantes dos incisos I, II ou III do caput do art. 23 do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal), poderá, fundamentadamente, conceder ao acusado liberdade provisória, mediante termo de comparecimento obrigatório a todos os atos processuais, sob pena de revogação.</p><p>Após as alterações do CPP, pode o juiz converter o flagrante em preventiva mesmo se o representante do Ministério Público assim não o requerer, ignorando a liberdade provisória no caso concreto? Trata-se de uma questão bastante polêmica e que nos remete a leitura dos artigos abaixo:</p><p>Art. 282. (...) § 2º As medidas cautelares serão decretadas pelo juiz a requerimento das partes ou, quando no curso da investigação criminal, por representação da autoridade policial ou mediante requerimento do Ministério Público. (Redação dada pela Lei nº 13.964, de 2019)</p><p>Art. 311. Em qualquer fase da investigação policial ou do processo penal, caberá a prisão preventiva decretada pelo juiz, a requerimento do Ministério Público, do querelante ou do assistente, ou por representação da autoridade policial. (Redação dada pela Lei nº 13.964, de 2019)</p><p>Segundo os doutrinadores Aury Lopes Jr. e Alexandre Morais da Rosa, sem declarar formalmente inconstitucional o art. 311, do CPP, toda decisão que prende de ofício é ilegal. Mas a verdade é: o art. 311 é integralmente constitucional e fundamental para efetivação do sistema acusatório e, assim, criar as condições de possibilidade de um juiz imparcial. Afinal, cada um no seu quadrado, faz parte das regras do jogo. Talvez até a mais importante de todas as regras.</p><p>Por fim, segundo Leonardo Ribas Tavares, o formal encaminhamento do auto, pelo delegado, nos termos do art. 306 do CPP, muito bem poderia ser equiparado a uma 'representação'. Afinal, a autoridade colocou o agente em custódia e está levando o caso à apreciação judicial. Logo, não seria uma prisão de ofício propriamente dita.</p><p>QUESTÃO 1-Você, advogado especialista da área penal, é convidado por uma renomada faculdade de Direito para participar de uma mesa de debate acerca da liberdade provisória. De acordo com os conhecimentos adquiridos por você, para introduzir o debate, direcionam um questionamento a você: o que é liberdade provisória e qual o seu fundamento legal?</p><p>RESPOSTA 1--Entende-se por liberdade provisória o instituto destinado a conferir ao acusado o direito de responder ao processo em liberdade, mediante o cumprimento ou não de determinadas condições.</p><p>A liberdade provisória está prevista no art. 310, III, do CPP, segundo o qual, ao receber o auto de prisão em flagrante, o juiz poderá, fundamentadamente, conceder a liberdade provisória, com ou sem fiança. Está previsto ainda no art. 5º, LXVI, da CF/88, que ninguém será levado à prisão ou nela mantido quando a lei admitir a liberdade provisória, com ou sem fiança.</p><p>QUESTÃO 2-Assinale a assertiva correta:</p><p>RESPOSTA 2-Ausentes os requisitos que autorizam a decretação da prisão preventiva, o juiz deverá conceder liberdade provisória, impondo, se for o caso, as medidas cautelares previstas no art. 319.”</p><p>Fundamentação: Conforme disposição do art. 321, CPP.</p><p>AULA IV - A LEI 13.964/2019 (PACOTE ANTICRIME) E O SISTEMA ACUSATÓRIO</p><p>Se a prisão em flagrante se revestir de legalidade, pode o magistrado conceder a liberdade provisória sem nenhuma restrição, ou, ao contrário, impor ao agente a prestação de fiança e/ou outra medida cautelar diversa da prisão, cujo rol taxativo encontra-se nos artigos 319 e 320 do CPP.</p><p>A lei não pode impedir o magistrado de optar pela concessão da medida cautelar da liberdade provisória. Em especial agora com o novo posicionamento do STF que veda o magistrado de converter o flagrante em preventiva sem a representação da autoridade policial ou requerimento do representante do Parquet.</p><p>Porém, em relação à medida cautelar da fiança, devemos relembrar que há crimes que são inafiançáveis, tais como os crimes de racismo, tortura, tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, terrorismo, crimes hediondos, bem como crimes cometidos por grupos armados, civis ou militares, contra a ordem constitucional e o Estado Democrático.</p><p>As vedações são válidas pois decorrem de regra emanada pelo Constituinte originário de 1988 (art. 5º, XLII e XLIII, da CF/88), regra repetida posteriormente no Código de Processo Penal.</p><p>É o que se extrai do art. 323 do CPP:</p><p>Art. 323. Não será concedida fiança:</p><p>I - nos crimes de racismo;</p><p>II - nos crimes de tortura, tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, terrorismo e nos definidos como crimes hediondos;</p><p>III - nos crimes cometidos por grupos armados, civis ou militares, contra a ordem constitucional e o Estado Democrático;</p><p>Além da vedação por espécie de delito, outras regras impedem o arbitramento da fiança, seja pelo delegado de polícia, seja pelo magistrado competente. Tais situações complementares encontram-se no art. 324 do CPP:</p><p>Art. 324. Não será, igualmente, concedida fiança:</p><p>I - aos que, no mesmo processo, tiverem quebrado fiança anteriormente concedida ou infringido, sem motivo justo, qualquer das obrigações a que se referem os arts. 327 e 328 deste Código;</p><p>II - em caso de prisão civil ou militar;</p><p>III - (revogado);</p><p>IV - quando presentes os motivos que autorizam a decretação da prisão preventiva (art. 312).</p><p>Lei Maria da Penha - Lei 11.340, de 2006</p><p>Art. 12-C. Verificada a existência de risco atual ou iminente à vida ou à integridade física da mulher em situação de violência doméstica e familiar, ou de seus dependentes, o agressor será imediatamente afastado do lar, domicílio ou local de convivência com a ofendida: (Incluído pela Lei nº 13.827, de 2019)</p><p>§ 2º Nos casos de risco à integridade física da ofendida ou à efetividade da medida protetiva de urgência, não será concedida liberdade provisória ao preso. (Incluído pela Lei nº 13.827, de 2019)</p><p>Art. 310 (...) § 2º Se o juiz verificar que o agente é reincidente ou que integra organização criminosa armada ou milícia, ou que porta arma de fogo de uso restrito, deverá denegar a liberdade provisória, com ou sem medidas cautelares.</p><p>QUESTÃO 1-Lúcia, mãe de Otávio, te procura, desesperada, em seu escritório para dizer que seu filho foi preso. Ao analisar os autos, antes de realizar o pedido da liberdade provisória, você descobre que estavam presentes todos os fundamentos da prisão preventiva. De acordo com os conhecimentos adquiridos por você, explique a sua cliente por que não caberia a liberdade provisória em seu caso.</p><p>RESPOSTA 1-Importante esclarecer a Lúcia, que não caberia a liberdade provisória, pois o caso de seu filho não se enquadra dentro das hipóteses legais para sua concessão. São elas:</p><p>a) Quando ausentes os fundamentos da prisão preventiva (art. 321 do CPP)</p><p>Nos termos do art. 321 do CPP, ausentes os requisitos da prisão preventiva, o juiz deverá conceder a liberdade provisória, sendo-lhe facultado, com a observância dos critérios da necessidade e da adequação previstos no art. 282 do CPP, exigir a prestação de fiança com a finalidade de assegurar o comparecimento</p><p>a atos do processo, evitar a obstrução do seu andamento ou em caso de resistência injustificada à ordem judicial, bem como aplicar outras medidas cautelares diversas da prisão previstas no art. 319 do CPP.</p><p>b) Quando houver indicativos de que o agente praticou a infração penal abrigado por excludentes de ilicitude (art. 310, parágrafo único, do CPP)</p><p>Trata-se da hipótese em que os elementos constantes no auto de prisão em flagrante indicam ter o agente praticado o fato em situação de legítima defesa, estado de necessidade, exercício regular do direito ou estrito cumprimento do dever legal. Nesses casos, deverá o juiz conceder a liberdade provisória ao agente, independentemente se o fato praticado caracteriza delito afiançável ou inafiançável.</p><p>Embora não esteja previsto no art. 310, parágrafo único, do CPP, parte da doutrina entende possível a concessão da liberdade provisória nas hipóteses de excludente de culpabilidade (embriaguez acidental completa, coação moral irresistível, erro de proibição etc.), uma vez que, ao final, o agente não será privado de liberdade.</p><p>c) Quando, embora afiançável o crime, não possui condições econômicas para pegar a fiança (art. 350 do CPP)</p><p>QUESTÃO 2-Analise as assertivas e assinale a alternativa correta: São medidas cautelares diversas da prisão:</p><p>I - comparecimento periódico em juízo, no prazo e nas condições fixadas pelo juiz, para informar e justificar atividades;</p><p>II - proibição de acesso ou frequência a determinados lugares quando, por circunstâncias relacionadas ao fato, deva o indiciado ou acusado permanecer distante desses locais para evitar o risco de novas infrações;</p><p>III - proibição de manter contato com pessoa determinada quando, por circunstâncias relacionadas ao fato, deva o indiciado ou acusado dela permanecer distante</p><p>RESPOSTA 2-Todas as assertivas estão corretas.</p><p>Fundamentação- Conforme disposição do artigo 319, CPP.</p><p>AULA III - FIANÇA</p><p>Nesta aula adentraremos ao estudo da fiança e os seus desdobramentos no âmbito do Direito Penal.</p><p>Sem delongas, podemos dizer que a fiança é um direito daquele for indiciado ou réu e que lhe permite, desde que preenchidos alguns requisitos previstos em lei, mediante caução e cumprimento de certas obrigações, responder ao processo em liberdade.</p><p>Em regra, a fiança poderá ser prestada pelo próprio preso ou por terceiro em seu favor. Consiste, basicamente, por sua natureza real, no depósito de dinheiro, pedras, objetos ou metais preciosos, títulos de dívida pública ou hipoteca de imóvel. Caso ocorra a quebra da fiança implicará na perca de metade de seu valor, devendo o magistrado decretar a prisão preventiva ou aplicar qualquer das outras medidas cautelares previstas no artigo 319 do Código de Processo Penal.</p><p>Importante mencionar que se o réu for absolvido ou se for declarada extinta a ação penal, a fiança será devolvida em sua integralidade. Ademais, caso o réu seja condenado irrecorrivelmente haverá perda do valor da fiança e não se apresentar à prisão.</p><p>Em continuidade, prevê o artigo 322 do Código de Processo Penal, que a autoridade policial somente poderá conceder a fiança nos casos de infração cuja pena privativa de liberdade máxima não seja superior a quatro anos e, para os demais casos, a fiança será requerida ao juiz que decidirá em 48 (quarenta e oito) horas.</p><p>Art. 322. A autoridade policial somente poderá conceder fiança nos casos de infração cuja pena privativa de liberdade máxima não seja superior a 4 (quatro) anos. (Redação dada pela Lei nº 12.403, de 2011).</p><p>Parágrafo único. Nos demais casos, a fiança será requerida ao juiz, que decidirá em 48 (quarenta e oito) horas. (Redação dada pela Lei nº 12.403, de 2011).</p><p>§ 1o Se assim recomendar a situação econômica do preso, a fiança poderá ser:</p><p>I - dispensada, na forma do art. 350 deste Código;</p><p>II - reduzida até o máximo de 2/3 (dois terços); ou</p><p>III - aumentada em até 1.000 (mil) vezes.</p><p>Art. 326. Para determinar o valor da fiança, a autoridade terá em consideração a natureza da infração, as condições pessoais de fortuna e vida pregressa do acusado, as circunstâncias indicativas de sua periculosidade, bem como a importância provável das custas do processo, até final julgamento.</p><p>Art. 327. A fiança tomada por termo obrigará o afiançado a comparecer perante a autoridade, todas as vezes que for intimado para atos do inquérito e da instrução criminal e para o julgamento. Quando o réu não comparecer, a fiança será havida como quebrada.</p><p>Art. 328. O réu afiançado não poderá, sob pena de quebramento da fiança, mudar de residência, sem prévia permissão da autoridade processante, ou ausentar-se por mais de 8 (oito) dias de sua residência, sem comunicar àquela autoridade o lugar onde será encontrado.</p><p>Por fim, a fiança será paga através da geração de uma guia no próprio site da OAB, no campo "fiança". Após o pagamento, é necessário imprimir o comprovante de pagamento e protocolar uma petição de juntada, entregando-a em cartório. Feito o alvará de soltura pelo serventuário e assinado pelo juiz que, após assinado será entregue a polícia para realização dos procedimentos administrativos de liberação.</p><p>Questão 1-No dia 15 de janeiro de 2011, por volta das 14 horas, n. 2000, na Rua das Mocas, São Paulo/SP, Josué Silva foi preso em flagrante pela prática do delito de receptação, previsto no art. 180, caput, do Código Penal, acusado de estar conduzindo veículo automotor que sabia ser produto de crime. Marilda, esposa de Josué, procurou um advogado e lhe informou que o marido jamais havia se envolvido em atividade ilícita. Disse, ainda, possuírem residência fixa e que Josué tinha carteira de trabalho, embora estivesse, na ocasião, desempregado. Informou que estava grávida e o marido era o único que poderia contribuir para o sustento da família. Ao analisar a folha de antecedentes criminais de Josué, a autoridade policial constatou que o flagrado respondia a processo pelo delito de furto. Diante dessa anotação na Folha de Antecedentes Criminais de Josué, a autoridade policial representou pela conversão da prisão em flagrante em preventiva, afirmando que existiria risco concreto para a ordem pública, pois o indiciado possuía outros envolvimentos com o aparato judicial. Você, como advogado(a) indicado por Josué, é comunicado da ocorrência da prisão em flagrante, além de tomar conhecimento da representação formulada pelo Delegado. Da mesma forma, o comunicado de prisão já foi encaminhado para o Ministério Público e para o magistrado, sendo todas as legalidades da prisão em flagrante observadas. Com base somente nas informações de que dispõe e nas que podem ser inferidas pelo caso concreto acima, na qualidade de advogado de Josué, redija a peça cabível, exclusiva de advogado, em favor do seu cliente, apontando os argumentos e fundamentos jurídicos pertinentes ao caso.</p><p>Resposta 1-</p><p>Questão 2-Acerca da fiança, assinale a assertiva correta:</p><p>Resposta 2-A autoridade policial somente poderá conceder fiança nos casos de infração cuja pena privativa de liberdade máxima não seja superior a 4 (quatro) anos.”</p><p>Fundamentação- Conforme disposição do art. 322, CPP.</p><p>AULA II - CABIMENTO</p><p>Em continuidade aos nossos estudos, adentraremos a respeito do cabimento da liberdade provisória. Nesses casos, se ausentes os requisitos da prisão preventiva, será possível a concessão da liberdade provisória vinculada à fixação de uma medida cautelar diversa da prisão, salvo a fiança.</p><p>Eis as hipóteses:</p><p>a) Quando ausentes os fundamentos da prisão preventiva (art. 321 do CPP)</p><p>Nos termos do art. 321 do CPP, ausentes os requisitos da prisão preventiva, o juiz deverá conceder a liberdade provisória, sendo-lhe facultado, com a observância dos critérios da necessidade e da adequação previstos no art. 282 do CPP, exigir a prestação de fiança com a finalidade de assegurar o comparecimento a atos do processo, evitar a obstrução do seu andamento ou em caso de resistência injustificada à ordem judicial, bem como aplicar outras medidas cautelares diversas da prisão previstas no art. 319 do CPP.</p><p>b) Quando houver indicativos de que o agente</p><p>praticou a infração penal abrigado por excludentes de ilicitude (art. 310, parágrafo único, do CPP)</p><p>Trata-se da hipótese em que os elementos constantes no auto de prisão em flagrante indicam ter o agente praticado o fato em situação de legítima defesa, estado de necessidade, exercício regular do direito ou estrito cumprimento do dever legal. Nesses casos, deverá o juiz conceder a liberdade provisória ao agente, independentemente se o fato praticado caracteriza delito afiançável ou inafiançável.</p><p>Embora não esteja previsto no art. 310, parágrafo único, do CPP, parte da doutrina entende possível a concessão da liberdade provisória nas hipóteses de excludente de culpabilidade (embriaguez acidental completa, coação moral irresistível, erro de proibição etc.), uma vez que, ao final, o agente não será privado de liberdade.</p><p>c) Quando, embora afiançável o crime, não possui condições econômicas para pegar a fiança (art. 350 do CPP)</p><p>Art. 321. Ausentes os requisitos que autorizam a decretação da prisão preventiva, o juiz deverá conceder liberdade provisória, impondo, se for o caso, as medidas cautelares previstas no art. 319 deste Código e observados os critérios constantes do art. 282 deste Código.</p><p>Art. 319. São medidas cautelares diversas da prisão:</p><p>I - comparecimento periódico em juízo, no prazo e nas condições fixadas pelo juiz, para informar e justificar atividades;</p><p>II - proibição de acesso ou frequência a determinados lugares quando, por circunstâncias relacionadas ao fato, deva o indiciado ou acusado permanecer distante desses locais para evitar o risco de novas infrações;</p><p>III - proibição de manter contato com pessoa determinada quando, por circunstâncias relacionadas ao fato, deva o indiciado ou acusado dela permanecer distante;</p><p>IV - proibição de ausentar-se da Comarca quando a permanência seja conveniente ou necessária para a investigação ou instrução;</p><p>V - recolhimento domiciliar no período noturno e nos dias de folga quando o investigado ou acusado tenha residência e trabalho fixos;</p><p>VI - suspensão do exercício de função pública ou de atividade de natureza econômica ou financeira quando houver justo receio de sua utilização para a prática de infrações penais;</p><p>VII - internação provisória do acusado nas hipóteses de crimes praticados com violência ou grave ameaça, quando os peritos concluírem ser inimputável ou semi-imputável (art. 26 do CP) e houver risco de reiteração;</p><p>VIII - fiança, nas infrações que a admitem, para assegurar o comparecimento a atos do processo, evitar a obstrução do seu andamento ou em caso de resistência injustificada à ordem judicial;</p><p>IX - monitoração eletrônica.</p><p>Art. 320. A proibição de ausentar-se do País será comunicada pelo juiz às autoridades encarregadas de fiscalizar as saídas do território nacional, intimando-se o indiciado ou acusado para entregar o passaporte, no prazo de 24 (vinte e quatro) horas.</p><p>A jurisprudência e a doutrina oscilavam em relação ao art. 44 da Lei n. 11.343/2006, que veda a concessão de liberdade provisória no crime de tráfico ilícito de entorpecentes.</p><p>Todavia, o STF, no julgamento do HC 104.339/SP, considerou inconstitucional o disposto no art. 44 da Lei n. 11.343/2006 também na parte que vedava a concessão da liberdade provisória, sob o fundamento de que o dispositivo viola o princípio da presunção da inocência e da dignidade da pessoa humana, bem como que a Lei n. 11.464/2007, ao excluir dos crimes hediondos e equiparados a vedação à liberdade provisória, sendo posterior à Lei de Drogas, revogou, tacitamente, o art. 44 desta lei, que proibia o benefício ao crime de tráfico de drogas.</p><p>QUESTÃO 1-Sandra, é acusada do crime de racismo contra Heloisa. Desesperada, te procura em seu escritório para saber se será possível o cabimento da fiança em seu caso. De acordo com os conhecimentos adquiridos por você, responda o questionamento de Sandra.</p><p>RESPOSTA 1-Deve-se lembrar a Sandra que há crimes que são inafiançáveis, tais como os crimes de racismo, tortura, tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, terrorismo, crimes hediondos, bem como crimes cometidos por grupos armados, civis ou militares, contra a ordem constitucional e o Estado Democrático.</p><p>As vedações são válidas pois decorrem de regra emanada pelo Constituinte originário de 1988 (art. 5º, XLII e XLIII, da CF/88), regra repetida posteriormente no Código de Processo Penal.</p><p>É o que se extrai do art. 323 do CPP:</p><p>Art. 323. Não será concedida fiança:</p><p>I - nos crimes de racismo;</p><p>II - nos crimes de tortura, tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, terrorismo e nos definidos como crimes hediondos;</p><p>III - nos crimes cometidos por grupos armados, civis ou militares, contra a ordem constitucional e o Estado Democrático;</p><p>QUESTÃO 2-Não será concedida fiança, exceto:</p><p>RESPOSTA 2- “Nos crimes de furto”.</p><p>Fundamentação- Conforme disposição do artigo 323, CPP.]</p><p>TEMA 07- CITAÇÃO E INTIMAÇÃO</p><p>Aula I – Conceitos</p><p>RESUMO</p><p>A citação e a intimação compõem o acervo de atos chamatórios ao processo, que podem ou devem ser realizados durante seu curso.</p><p>Citação</p><p>É o ato processual através do qual o acusado é cientificado que contra ele foi recebida uma denúncia ou queixa-crime, chamando-o para exercer seu direito de defesa.</p><p>Nos termos do art. 363, do Código de Processo Penal, a formação do processo somente estará completada com a citação do acusado.</p><p>Art. 363. O processo terá completada a sua formação quando realizada a citação do acusado.</p><p>Como regra geral, o acusado será citado para apresentar resposta escrita à acusação, nos termos do art. 396, do CPP.</p><p>Art. 396. Nos procedimentos ordinário e sumário, oferecida a denúncia ou queixa, o juiz, se não a rejeitar liminarmente, recebê-la-á e ordenará a citação do acusado para responder à acusação, por escrito, no prazo de 10 (dez) dias.</p><p>A exceção ocorre nos processos de competência originária dos Tribunais, onde recebida a denúncia ou queixa, será designado dia e hora para o interrogatório, e determinada a citação do acusado ou querelado, conforme prescreve o art. 7º, da Lei n. 8.038/1990:</p><p>Art. 7º - Recebida a denúncia ou a queixa, o relator designará dia e hora para o interrogatório, mandando citar o acusado ou querelado e intimar o órgão do Ministério Público, bem como o querelante ou o assistente, se for o caso.</p><p>Tendo o réu sido citado validamente, e não atendendo o chamamento ao processo, será decretada sua revelia. Isto implica em duas situações:</p><p>a) Réu citado pessoalmente</p><p>Na hipótese de a citação do réu ter se aperfeiçoado validamente, e deixar de comparecer sem qualquer justo motivo, ou não comunicar a mudança de endereço ao juízo competente, será decretada sua revelia, prosseguindo o feito sem a presença do acusado, nos moldes do art. 367, do CPP.</p><p>Art. 367. O processo seguirá sem a presença do acusado que, citado ou intimado pessoalmente para qualquer ato, deixar de comparecer sem motivo justificado, ou, no caso de mudança de residência, não comunicar o novo endereço ao juízo.</p><p>b) Réu citado por edital</p><p>Tratando-se de réu citado por edital, que não compareça aos autos do processo e não constitua advogado, será decretada a suspensão do processo e do prazo prescricional. Caso entenda necessário, poderá o magistrado determinar a produção antecipada das provas consideradas urgentes, ou, ainda, decretar a prisão preventiva.</p><p>Art. 366. Se o acusado, citado por edital, não comparecer, nem constituir advogado, ficarão suspensos o processo e o curso do prazo prescricional, podendo o juiz determinar a produção antecipada das provas consideradas urgentes e, se for o caso, decretar prisão preventiva, nos termos do disposto no art. 312.</p><p>No que tange à produção antecipada de provas, lastreada na situação descrita no art. 366, do CPP, deverá a decisão que determina a produção antecipada de provas ser fundamentada de forma concreta, não se mostrando válido apenas o argumento do simples decurso do tempo. Este é o entendimento consubstanciado na Súmula 455, do Superior Tribunal de Justiça:</p><p>Súmula 455, STJ: “A decisão que determina a produção antecipada de provas</p><p>com base no artigo 366 do CPP deve ser concretamente fundamentada, não a justificando unicamente o mero decurso do tempo”.</p><p>QUESTÃO 1-Pedro foi denunciado pela suposta prática de crime de furto qualificado pela destruição de</p><p>obstáculo (art. 155, § 4º, inciso I, do CP). Recebida a denúncia, determinou o magistrado a</p><p>citação do acusado para, nos termos dos arts. 396 e 396-A, do CPP, responder à acusação por</p><p>escrito. Entretanto, Pedro não foi localizado no endereço colhido durante o inquérito policial,</p><p>sendo o oficial de justiça informado por vizinho que o acusado havia mudado para outro</p><p>Estado. Assim, após as providências cabíveis, cuidou o magistrado de promover a citação por edital do acusado.</p><p>Quais as consequências do não atendimento da referida citação por edital? Quais providências poderá o magistrado adotar?</p><p>RESPOSTA 1- Tratando-se de réu citado por edital, que não compareça aos autos do processo e não constitua advogado, será decretada a suspensão do processo e do prazo prescricional.</p><p>Caso entenda necessário, poderá o magistrado determinar a produção antecipada das provas</p><p>consideradas urgentes, desde que fundamentada de forma concreta, não se mostrando válido</p><p>apenas o argumento do simples decurso do tempo (Súmula 455, do Superior Tribunal de</p><p>Justiça).</p><p>De outro lado, poderá o magistrado decretar a prisão preventiva do acusado, observando os</p><p>requisitos expressos pelo art. 312, do Código de Processo Penal.</p><p>QUESTÃO 2-No que se refere à citação e intimação no processo penal, é correto afirmar que:</p><p>RESPOSTA 2-ao réu citado por edital, que não compareça aos autos do processo e não constitua advogado, será decretada a suspensão do processo e do prazo prescricional.</p><p>Fundamentação: Tratando-se de réu citado por edital, que não compareça aos autos do processo e não constitua advogado, será decretada a suspensão do processo e do prazo prescricional, nos moldes do art. 366, do CPP.</p><p>Aula II – Espécies I</p><p>RESUMO</p><p>Temos duas espécies de citação, classificadas em citação real e citação ficta (presumida).</p><p>Citação real</p><p>A citação real é aquela realizada na pessoa do réu, através dos seguintes meios:</p><p>a) Mandado cumprido por Oficial de Justiça;</p><p>b) Carta precatória;</p><p>c) Carta rogatória;</p><p>d) Ofício requisitório;</p><p>e) Carta de ordem.</p><p>a) Mandado cumprido por Oficial de Justiça;</p><p>Caso se encontre o réu no território abrangido pela jurisdição do magistrado responsável pelo processo criminal, será o réu citado por mandado cumprido por oficial de justiça. O mandado seguirá os requisitos dos arts. 352 e 357, do CPP.</p><p>b) Carta precatória – art. 353, do CPP.</p><p>Caso se encontre o réu no território nacional, mas fora do território abrangido pela jurisdição do magistrado responsável pelo processo criminal, será o réu citado por precatória.</p><p>Processamento da carta precatória:</p><p>Juízo deprecante (juízo do processo), seguindo os requisitos do art. 354 do CPP, determinará a expedição da carta precatória ao juízo deprecado (juízo em que será cumprida)</p><p>- Caso citado pelo oficial de justiça, a precatória será devolvida ao juízo deprecante devidamente cumprida.</p><p>- Do contrário, na impossibilidade de se localizar o réu, a carta será devolvida sem cumprimento.</p><p>QUESTÃO 1-Jorge foi denunciado pela prática do crime previsto no art. 171, do Código Penal. Recebida a denúncia pela 01ª Vara Criminal da Comarca de Sorocaba/SP, determinou o magistrado a citação do acusado, residente e domiciliado na cidade de Belo Horizonte/MG. Qual modalidade de citação se mostra apropriada ao caso e como ocorre seu processamento?</p><p>RESPOSTA 1-Frente ao caso narrado se mostra adequada a citação real, por meio de carta precatória,</p><p>regulada através do art. 353, do Código de Processo Penal.</p><p>Seu cabimento decorre do réu se encontrar em território nacional, mas fora do território</p><p>abrangido pela jurisdição do magistrado responsável pelo processo criminal.</p><p>Desta forma, deverá o juízo deprecante (Sorocaba/SP), seguindo os requisitos expressos no</p><p>art. 354, do CPP, determinar a expedição de carta precatória ao juízo deprecado (Belo</p><p>Horizonte/MG), com a finalidade de citar o réu.</p><p>Caso seja o acusado efetivamente citado pelo oficial de justiça, a precatória será devolvida ao</p><p>juízo deprecante devidamente cumprida. Do contrário, na impossibilidade de se localizar o réu,</p><p>a carta será devolvida sem cumprimento.</p><p>QUESTÃO 2-Acerca da citação, é correto afirmar que:</p><p>RESPOSTA 2-será o réu citado por carta precatória quando se encontrar no território nacional, mas fora do território abrangido pela jurisdição do magistrado responsável pelo processo.</p><p>Fundamentação: Nos termos do art. 353, do CPP, caso se encontre o réu no território nacional, mas fora do território abrangido pela jurisdição do magistrado responsável pelo processo criminal, será o réu citado por precatória.</p><p>Aula III – Espécies II</p><p>RESUMO</p><p>c) Carta rogatória - Duas hipóteses:</p><p>c.1. Encontrando-se o acusado no estrangeiro, em lugar conhecido – Art. 368 do CPP. Será empregada a citação por meio de rogatória nos casos em que o acusado esteja fora do território nacional, em lugar conhecido. Nesta hipótese o prazo prescricional restará suspenso até o efetivo cumprimento da carta rogatória. Isto importa dizer que uma vez aperfeiçoada a citação, o prazo prescricional voltará a correr a partir desta data.</p><p>c.2. A citação de quem se encontre em legação estrangeira (missão diplomática) – Art. 369 do CPP. Caso o réu se encontre em legação estrangeira, ou seja, missão diplomática, será citado através de carta rogatória. A citação de réu em legação estrangeira não suspende o prazo prescricional.</p><p>Disposições gerais - Rogatória Importante consignar que a expedição de carta rogatória não suspende a instrução criminal, aplicando-se o disposto nos §§ 1º e 2º do art. 222, do CPP (conforme expresso no parágrafo único).</p><p>d.1) Citação do militar – Ofício requisitório</p><p>A citação do militar na ativa é feita através do chefe do respectivo serviço. Temos duas situações:</p><p>I) Citação para a ciência do réu acerca do processo crime instaurado e prazo para resposta à acusação</p><p>Caso a citação do militar tenha por objetivo apenas cientificar o réu da instauração de processo criminal em seu desfavor e conceder prazo para resposta à acusação, o ofício não irá conter requisição de comparecimento.</p><p>II) Citação tem por objetivo a ciência do réu acerca do processo crime instaurado, prazo para resposta à acusação e ciência de audiência designada que deva se fazer presente.</p><p>Tratando-se de citação do militar, com objetivo de também cientificar o réu de audiência designada que deva se fazer presente, o ofício deverá conter requisição de comparecimento ao ato, sob pena de não estar o acusado obrigado a comparecer.</p><p>d.2) Funcionário Público – Ofício requisitório</p><p>Aplica-se ao réu funcionário público as mesmas regras da citação pessoal (mandado por oficial de justiça ou precatória). Caso seja designado ato que o réu deva comparecer, o chefe da repartição na qual o funcionário público está lotado também será notificado da data e horário que este deverá comparecer, sob pena de não estar o acusado obrigado a comparecer.</p><p>QUESTÃO 1-Discorra acerca da citação do militar e do funcionário público, apresentando seus principais pontos.</p><p>RESPOSTA 1- A citação do militar na ativa é feita através do chefe do respectivo serviço. Nestas hipóteses encontramos duas situações distintas.</p><p>Caso a citação do militar tenha por objetivo apenas cientificar o réu da instauração de processo</p><p>criminal em seu desfavor e conceder prazo para resposta à acusação, o ofício não irá conter</p><p>requisição de comparecimento.</p><p>Tratando-se de citação do militar, com objetivo de também cientificar o réu de audiência</p><p>designada que deva se fazer presente, o ofício deverá conter requisição de comparecimento ao</p><p>ato, sob pena de não estar o acusado obrigado a comparecer.</p><p>De outro lado, ao réu funcionário público aplicam-se as mesmas regras da citação pessoal</p><p>(mandado por oficial de justiça ou precatória).</p><p>Caso seja designado ato que o réu deva comparecer, o chefe da repartição na qual o</p><p>funcionário público está</p><p>lotado também será notificado da data e horário que este deverá</p><p>comparecer, sob pena de não estar o acusado obrigado a comparecer.</p><p>QUESTÃO 2-Assinale a afirmativa incorreta:</p><p>RESPOSTA 2- a citação através de carta rogatória de acusado que se encontre no estrangeiro, em lugar conhecido, não suspende o prazo prescricional.</p><p>Fundamentação: Será suspenso o prazo prescricional na hipótese de citação através de carta rogatória de acusado que se encontre no estrangeiro, nos termos do art. 368, do CPP."</p><p>Aula IV – Espécies e Vícios no Chamamento ao Processo</p><p>RESUMO</p><p>d.3) Réu preso – Ofício requisitório</p><p>Nos termos determinados pelo Código de Processo Penal, em seu art. 360, o réu preso será citado pessoalmente. Podemos encontrar duas situações:</p><p>I) Citação para a ciência do réu preso acerca do processo crime instaurado e prazo para resposta à acusação – O ofício não conterá requisição de comparecimento;</p><p>II) Caso a citação também tenha o objetivo de cientificar o acusado de audiência designada para seu interrogatório – Deverá ser expedido ofício ao Diretor do estabelecimento em que estiver o réu preso, requisitando sua apresentação.</p><p>e) Citação por meio de carta de ordem</p><p>Assemelha-se à carta precatória, distinguindo-se por não tramitar entre autoridades judiciárias de mesmo grau. É expedida por órgão jurisdicional de grau superior para outro de grau inferior, contendo determinada ordem.</p><p>Citação ficta</p><p>É aquela realizada por meio de edital ou por meio de citação por hora certa.</p><p>a) Citação por edital</p><p>É a publicação de edital, com teor semelhante ao do mandado de citação, na imprensa oficial ou afixado em local determinado do Fórum. Ocorrerá a citação por edital em duas hipóteses:</p><p>I) Não localizado o réu, após esgotadas as tentativas (arts. 361 e 363, §1º, do CPP)</p><p>II) Réu no estrangeiro em local não conhecido.</p><p>b) Citação por hora certa</p><p>É aquela promovida quando o réu se oculta para evitar a citação. Determina o CPC/2015 (arts. 252 a 254): Caso, por duas vezes, o oficial de justiça houver procurado o acusado em seu domicílio ou residência, sem o encontrar, suspeitando que está se ocultando, deverá intimar qualquer pessoa da família, ou, em sua falta, qualquer vizinho, que no dia seguinte voltará, para citação em hora determinada.</p><p>Intimação</p><p>É a comunicação realizada sobre algum ato processual.</p><p>Regras para ciência de atos – Intimações (art. 370 CPP):</p><p>a) Defensor constituído pelo réu (§1º):</p><p>-Ciência através de publicação no órgão incumbido da publicidade dos atos judiciais na comarca.</p><p>b) Advogado do querelante e do assistente da acusação (§1º):</p><p>Ciência através de publicação no órgão incumbido da publicidade dos atos judiciais na comarca. Caso não haja na localidade órgão que faça a publicidade dos atos judiciais, nos moldes do art. 370, §2º, do CPP: “... a intimação far-se-á diretamente pelo escrivão, por mandado, ou via postal com comprovante de recebimento, ou por qualquer outro meio idôneo. ”</p><p>c) Ministério Público (§4º):</p><p>Será dada ciência pessoal aos membros do Ministério Público.</p><p>d) Defensor nomeado pelo juiz (§4º):</p><p>Ao defensor público nomeado pelo juiz, será dada ciência pessoal.</p><p>Vícios no chamamento ao processo</p><p>A ausência da citação do réu ocasionará nulidade absoluta, nos termos do art. 564, III, “e”, do CPP.</p><p>Porém, ainda que tenha sido viciada a citação, caso o réu dela tomar conhecimento, constituir advogado e apresentar sua defesa (arts. 396 a 396-A), não será declarada a nulidade por não haver prejuízo.</p><p>Art. 570. A falta ou a nulidade da citação, da intimação ou notificação estará sanada, desde que o interessado compareça, antes de o ato consumar-se, embora declare que o faz para o único fim de argui-la. O juiz ordenará, todavia, a suspensão ou o adiamento do ato, quando reconhecer que a irregularidade poderá prejudicar direito da parte.</p><p>QUESTÃO 1-Trata-se a intimação da comunicação sobre algum ato processual efetuada às partes do</p><p>processo. Considerando as regras traçadas pelo Código de Processo Penal, indique como se</p><p>dará a ciência dos atos para as seguintes partes:</p><p>a) Defensor constituído;</p><p>b) Advogado do querelante e assistente da acusação;</p><p>c) Ministério Público;</p><p>d) Defensor nomeado pelo magistrado.</p><p>RESPOSTA 1-No que tange às regras para ciência dos atos, disciplina o art. 370, do Código de Processo</p><p>Penal: a) Defensor constituído pelo réu (§1º):</p><p>A ciência do defensor constituído pelo réu ocorrerá através de publicação no órgão incumbido</p><p>da publicidade dos atos judiciais na comarca.</p><p>Caso não haja na localidade órgão que faça a publicidade dos atos judiciais, nos moldes do art. 370, §2º, do CPP: “... a intimação far-se-á diretamente pelo escrivão, por mandado, ou via postal com comprovante de recebimento, ou por qualquer outro meio idôneo”.</p><p>b) Advogado do querelante e do assistente da acusação (§1º):</p><p>A ciência do querelante e do assistente da acusação ocorrerá através de publicação no órgão</p><p>incumbido da publicidade dos atos judiciais na comarca.</p><p>Caso não haja na localidade órgão que faça a publicidade dos atos judiciais, nos moldes do art. 370, §2º, do CPP: “... a intimação far-se-á diretamente pelo escrivão, por mandado, ou via postal com comprovante de recebimento, ou por qualquer outro meio idôneo”.</p><p>c) Ministério Público (§4º):</p><p>Aos membros do Ministério Público será dada ciência pessoal.</p><p>d) Defensor nomeado pelo juiz (§4º): Ao defensor público nomeado pelo juiz, será dada ciência pessoal.</p><p>QUESTÃO 2-Caberá a citação por hora certa do acusado quando:</p><p>RESPOSTA 2-verificado que o réu se oculta para não ser citado, após diligenciar o oficial de justiça, por duas vezes, em seu domicílio ou residência.</p><p>Fundamentação: Nos termos dos art. 252, do Código de Processo Civil, quando, por 2 (duas) vezes, o oficial de justiça houver procurado o citando em seu domicílio ou residência sem o encontrar, deverá, havendo suspeita de ocultação, intimar qualquer pessoa da família ou, em sua falta, qualquer vizinho de que, no dia útil imediato, voltará a fim de efetuar a citação, na hora que designar.</p><p>TEMA 08- SENTENÇA CRIMINAL I</p><p>Aula I – Atos Jurisdicionais</p><p>RESUMO</p><p>Dividem-se em:</p><p>a) Despachos (de mero expediente)</p><p>Decisões do magistrado, sem carga decisória, com a finalidade de dar andamento ao processo.</p><p>b) Decisões interlocutórias</p><p>Decisões do magistrado, com carga decisória, porém sem examinar a pretensão punitiva do Estado, podendo ou não acarretar a extinção do processo, de uma etapa do procedimento ou de um procedimento incidental.</p><p>Dividem-se em interlocutórias simples e interlocutórias mistas.</p><p>b.1) Decisões interlocutórias simples - resolvem uma controvérsia, sem colocar fim ao processo, nem a uma etapa do procedimento ou procedimento incidental.</p><p>b.2) Decisões interlocutórias mistas - resolvem uma controvérsia, colocando fim ao processo, a uma etapa do procedimento ou procedimento incidental.</p><p>b.2.1) Terminativas (decisões com força de definitiva) - extinguem o processo sem julgamento de mérito ou resolvem um procedimento incidental de maneira definitiva.</p><p>b.2.2) Não terminativas – colocam fim a uma etapa do procedimento, sem provocarem a extinção do processo.</p><p>c) Decisões definitivas</p><p>São aquelas que julgam a pretensão punitiva, acarretando a extinção do processo.</p><p>c.1) Sentença definitiva ou decisão definitiva em sentido estrito – Decisão que julga a pretensão punitiva, absolvendo ou condenando.</p><p>c.2) Decisão definitiva em sentido amplo – Julga a pretensão punitiva, porém sem condenar ou absolver. Trata-se da decisão que julga extinta a punibilidade.</p><p>Outras classificações:</p><p>Decisões executáveis e não executáveis</p><p>Decisões executáveis - podem ser executadas imediatamente. Exemplo: sentença absolutória produz o efeito imediato de colocar o acusado em liberdade. Art. 596. A apelação da sentença absolutória não impedirá que o réu seja posto imediatamente em liberdade.</p><p>•Decisões não executáveis: não comportam execução imediata, ficando condicionadas a um evento futuro. Exemplo: sentença condenatória em 1ª instância não produz o efeito automático de dar início à execução provisória, com</p><p>a expedição de mandado se prisão.</p><p>Decisões subjetivamente simples, subjetivamente plúrimas e subjetivamente complexas</p><p>Decisões subjetivamente simples – prolatadas monocraticamente, por um único julgador. Ex.: sentenças proferidas em 1ª instância pelo juiz singular</p><p>Decisões subjetivamente plúrimas – prolatadas por um órgão colegiado homogêneo. Ex.: acordão proferido por 3 desembargadores.</p><p>Decisões subjetivamente complexas – prolatadas por um órgão colegiado heterogêneo. Ex.: decisão proferida no júri, sendo a condenação ou absolvição emanada dos jurados (juízes leigos) e a pena aplicada pelo juiz (juiz togado).</p><p>Decisões suicidas, vazias e autofágicas</p><p>Decisões suicidas – são aquelas em que há contradição entre a fundamentação e o dispositivo. São nulas.</p><p>Decisões vazias – são aquelas desprovidas de fundamentação, em ofensa ao art. 93, IX, da CF, e ao art. 381, III e IV, do CPP. Também gera nulidade.</p><p>Decisões autofágicas – são aquelas em que é reconhecida a autoria e materialidade do delito, porém o juiz reconhece a extinção da punibilidade.</p><p>Decisões condenatórias, declaratórias, constitutivas (positivas e negativas), mandamentais e executivas</p><p>Condenatória - julga procedente a pretensão punitiva do Estado.</p><p>Declaratória - absolve ou julga extinta a punibilidade.</p><p>Constitutiva positiva - faz surgir uma situação jurídica nova. Ex.: reabilitação.</p><p>Constitutiva negativa - desfaz, desconstitui uma situação jurídica anterior. Ex.: revisão criminal, que visa a desfazer a sentença condenatória transitada em julgado.</p><p>Mandamental - traz um comando, uma ordem judicial a ser cumprida, sob pena de desobediência. Ex.: HC determinando a expedição de alvará de soltura.</p><p>Executiva – encerra eficácia executiva. Ex.: medida assecuratória de sequestro (art. 125). Verifica-se a eficácia executiva com a autorização de venda dos bens (art. 133).</p><p>QUESTÃO 1-A sentença que (I) absolve o acusado, porém mantém a segregação cautelar; e a que (II) condena o acusado em primeira instância, determinando a expedição de mandado de prisão como consequência automática da condenação estão corretas? Justifique?</p><p>RESPOSTA 1-Não. A sentença absolutória é considerada “executável” no tocante à colocação do acusado em liberdade, ou seja, produz efeitos imediatamente. Nesse sentido: “Art. 596. A apelação da sentença absolutória não impedirá que o réu seja posto imediatamente em liberdade”. Por outro lado, a sentença de 1ª instância é considerada “não executável”, ou seja, não produz efeitos imediatamente. A prisão preventiva do acusado é até possível, mas deve ser fundamentada em elementos concretos, não decorrendo automaticamente da condenação.</p><p>QUESTÃO 2-Marque a assertiva correta, conforme a doutrina majoritária:</p><p>RESPOSTA 2-Exemplo de decisão interlocutória mista não terminativa é a pronúncia, por conter carga decisória e colocar fim a uma etapa do procedimento, porém sem provocar a extinção do processo.</p><p>Fundamentação: Decisões interlocutórias mistas resolvem uma controvérsia, colocando fim ao processo, a uma etapa do procedimento ou procedimento incidental. As não terminativas colocam fim a uma etapa do procedimento, sem provocarem a extinção do processo. Um exemplo é justamente a decisão de pronúncia.</p><p>Aula II – Conceito, Natureza Jurídica, Estrutura e Requisitos</p><p>RESUMO</p><p>Conceito de sentença</p><p>“É a decisão terminativa do processo e definitiva quanto ao mérito, abordando a questão relativa à pretensão punitiva do Estado, para julgar procedente ou improcedente a imputação.</p><p>É a autêntica sentença, tal como consta do art. 381 do Código de Processo Penal, vale dizer, o conceito estrito de sentença” (NUCCI, Guilherme Souza. Código de Processo Penal Comentado, 16ª edição, 2017).</p><p>Espécies</p><p>Condenatória - Julga procedente a pretensão punitiva do Estado</p><p>Absolutória - Julga improcedente a pretensão punitiva</p><p>Absolutória própria – Reconhece a inocência do acusado</p><p>Absolutória imprópria – Reconhece a prática de um fático típico e antijurídico praticado por acusado inimputável, impondo-lhe medida de segurança</p><p>Requisitos e estrutura da sentença</p><p>Art. 381. A sentença conterá: I - os nomes das partes ou, quando não possível, as indicações necessárias para identificá-las; II - a exposição sucinta da acusação e da defesa; III - a indicação dos motivos de fato e de direito em que se fundar a decisão; IV - a indicação dos artigos de lei aplicados; V - o dispositivo; VI - a data e a assinatura do juiz.</p><p>Desrespeito gera nulidade: CPP, art. 564. A nulidade ocorrerá nos seguintes casos: (...) IV - por omissão de formalidade que constitua elemento essencial do ato</p><p>a) Relatório</p><p>- os nomes das partes ou, quando não possível, as indicações necessárias para identificá-las;</p><p>- a exposição sucinta da acusação e da defesa;</p><p>Falta ou deficiência gera nulidade relativa, segundo jurisprudência majoritária:</p><p>ROUBOS DUPLAMENTE MAJORADOS. Preliminares de nulidade. Insuficiência do relatório da sentença. Relatório adequado. Ausência de prejuízo. (...) A alegada ausência do relatório não se verifica. A sentença o contém, apresentando-o em suas duas primeiras laudas, com sucinta descrição da imputação e registro dos principais atos processuais. A mera falta de descrição das teses arguidas nos memoriais pela defesa não enseja nulidade por absoluta falta de prejuízo: os argumentos podem ser consultados diretamente na peça de origem apenas três laudas antes da própria sentença. Declarar nulidade por esse motivo seria colocar pequena questão formal à frente da celeridade e economia processual, eis que, como já mencionei acima, não há sequer alegação de prejuízo efetivo, sendo caso de invocar o brocardo pas de nullité sans grief, positivado no artigo 563 do Código de Processo Penal. Ademais, ainda que se pudesse reputar defeituoso o relatório, não seria caso de nulidade absoluta, o que a lei reserva para a falta de sentença (não insuficiência do seu relatório), como se vê no artigo 564, inciso III, alínea m, do Código de Processo Penal. Diante disso, destacando a absoluta falta de prejuízo, rejeito a preliminar de nulidade. (TJSP, Apelação criminal Nº 0066991- 17.2014.8.26.0050, Rel. Otávio de Almeida Toledo. m 10ª Câmara Criminal Extraordinária. 16/09/2016, v.u.) Obs.:</p><p>No JECRIM, há dispensa de relatório.</p><p>JECRIM (Lei 9.099/1995)</p><p>Art. 81. Aberta a audiência, será dada a palavra ao defensor para responder à acusação, após o que o Juiz receberá, ou não, a denúncia ou queixa; havendo recebimento, serão ouvidas a vítima e as testemunhas de acusação e defesa, interrogando-se a seguir o acusado, se presente, passando-se imediatamente aos debates orais e à prolação da sentença.</p><p>(...)</p><p>§ 3º A sentença, dispensado o relatório, mencionará os elementos de convicção do Juiz.</p><p>b) Fundamentação</p><p>- Indicação dos motivos de fato e de direito em que se fundar a decisão.</p><p>- Adota-se, como regra, o livre convencimento motivado ou persuasão racional.</p><p>Nos termos do art. 93, IX, CF:</p><p>“Todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão públicos, e fundamentadas todas as decisões, sob pena de nulidade, podendo a lei limitar a presença, em determinados atos, às próprias partes e a seus advogados, ou somente a estes, em casos nos quais a preservação do direito à intimidade do interessado no sigilo não prejudique o interesse público à informação”.</p><p>Art. 155. O juiz formará sua convicção pela livre apreciação da prova produzida em contraditório judicial, não podendo fundamentar sua decisão exclusivamente nos elementos informativos colhidos na investigação, ressalvadas as provas cautelares, não repetíveis e antecipadas.</p><p>Fundamentação per relationem</p><p>Aquela em que a autoridade judiciária adota como fundamento da decisão a manifestação das partes ou outra decisão.</p><p>É admissível? Tema controvertido.</p><p>Quando o julgador agrega fundamentos próprios, tem-se entendido que é admissível.</p><p>(...) É cediço, que a "fundamentação per relationem é admitida pelo Superior Tribunal de Justiça, bem como pelo Supremo Tribunal Federal, sendo imprescindível, no entanto, que o julgador agregue fundamentos</p><p>próprios" (RHC 61.438/RS, Rel. Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA, QUINTA TURMA, julgado em 25/10/2016, DJe 7/11/2016). (STJ, HC 104828 / SP, Rel. Min. Antonio Saldanha Palheiro, 6ª T., j. 21/02/2017)</p><p>Quando o julgador apenas remete à outra decisão, sem agregar fundamentos próprios, há decisões reconhecendo nulidade.</p><p>PENAL. RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS. PRISÃO PREVENTIVA. ACÓRDÃO RECORRIDO. NULIDADE. CARÊNCIA DE FUNDAMENTAÇÃO. ADOÇÃO DO PARECER MINISTERIAL. PER RELATIONEM. INSUFICIÊNCIA. RECURSO PROVIDO. PEDIDO SUBSIDIÁRIO PREJUDICADO.</p><p>1 - A Terceira Seção deste Superior Tribunal de Justiça, no julgamento do Habeas corpus 216.659, ocorrido em 8/6/2016, com ressalva de compreensão pessoal, decidiu que a mera transcrição do parecer do Ministério Público não é apta a suprir a exigência constitucional de fundamentação das decisões judiciais, prevista no art. 93, IX, da Constituição Federal. 2 - Tendo sido evidenciado constrangimento ilegal em razão da ausência de fundamentação idônea, deve o acórdão recorrido ser anulado, para que seja realizado novo julgamento pelo Tribunal. 3- Pedido subsidiário prejudicado, referente à revogação da prisão preventiva. 4- Recurso provido para anular o acórdão recorrido, determinando o retorno dos autos à Corte de origem para que profira novo julgamento, com apreciação das alegações trazidas nas razões do writ, como entender de direito. (STJ, RHC 79682 / RS, Rel. Min. Nefi Cordeiro, 6º T., j. 04/04/2017, m.v.).</p><p>Voto vencido: (Min. Rogerio Schietti Cruz) "Dada essa peculiaridade, de ser a tese defensiva algo que não demandava muita elaboração jurídica, pois exigia simplesmente uma explanação dos atos e fatos que teriam causado o atraso na conclusão do feito, não vejo nenhum prejuízo a que o desembargador tenha feito a incorporação do parecer ministerial ao seu voto e o tenha tomado como a sua própria convicção". Júri (peculiaridades):</p><p>- A sentença dispensa relatório.</p><p>- Vigora o sistema da íntima convicção – jurados não precisam motivar a decisão (sigilo das votações). Porém, o juiz togado deve fundamentar a dosimetria da pena.</p><p>c) Dispositivo</p><p>Conclusão da sentença, trazendo o comando absolutório ou condenatório. Sentença sem dispositivo é considerada inexistente.</p><p>d) Autenticação -</p><p>Data e a assinatura do juiz.</p><p>Sem assinatura, a decisão é inexistente.</p><p>CPP, art. 388. A sentença poderá ser datilografada e neste caso o juiz a rubricará em todas as folhas.</p><p>Mera falta de rubrica não gera nulidade:</p><p>RHC - PROCESSUAL PENAL - SENTENÇA - FOLHAS - RUBRICA - A ASSINATURA DO JUIZ E NECESSARIA A SENTENÇA. DE OUTRAS RAZÕES, CARACTERIZAR A COMPETENCIA, DECORRENTE DO JUIZO NATURAL. IRRELEVANTE, POREM, AS FOLHAS SEREM RUBRICADAS. A INTERPRETAÇÃO JURIDICA NÃO PODE PRENDER-SE A ASPECTOS FORMAIS SECUNDARIOS. (STJ, RHC 3155 / SP, Rel. Min. Luiz Vicente Cernicchiaro, 6ª T., j. 08/11/1993).</p><p>QUESTÃO 1-José é condenado por tráfico de drogas em sentença bem fundamentada. Há recurso de apelação e o Tribunal confirma a sentença, limitando-se a reproduzir o seu teor, inclusive entre aspas. É possível arguir nulidade do acórdão? Qual o fundamento?</p><p>RESPOSTA 1-É possível alegar nulidade do acórdão, por falta de fundamentação. Com efeito, estabelece a Constituição Federal que “todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão públicos, e fundamentadas todas as decisões, sob pena de nulidade” (art. 93, IX). Outrossim, em conformidade com o sistema da persuasão racional, o julgador é livre para apreciar a prova produzida nos autos, devendo fundamentar suas decisões. Na jurisprudência:</p><p>“É cediço, que a "fundamentação per relationem é admitida pelo Superior Tribunal de Justiça, bem como pelo Supremo Tribunal Federal, sendo imprescindível, no entanto, que o julgador agregue fundamentos próprios" (RHC 61.438/RS, Rel. Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA, QUINTA TURMA, julgado em 25/10/2016, DJe 7/11/2016). (STJ, HC 104828 / SP, Rel. Min. Antonio Saldanha Palheiro, 6ª T., j. 21/02/2017).</p><p>QUESTÃO 2-Assinale assertiva correta:</p><p>RESPOSTA 2-A técnica da fundamentação per relationem consiste em adotar, como razão de decidir, os fundamentos constantes em manifestação das partes ou em decisão anterior.</p><p>Fundamentação: De fato, a técnica da fundamentação per relationem consiste em adotar, como razão de decidir, os fundamentos constantes em manifestação das partes ou em decisão anterior. A jurisprudência tem admitido sua utilização, notadamente quando a decisão, além de remeter a outra, agrega fundamentos próprios."</p><p>Aula III – Sentença Absolutória</p><p>RESUMO</p><p>Absolvição própria – Reconhece a inocência do acusado.</p><p>Absolvição imprópria – Reconhece a prática de um fático típico e antijurídico praticado por acusado inimputável, impondo-lhe medida de segurança</p><p>Absolvição sumária própria:</p><p>Art. 397. Após o cumprimento do disposto no art. 396-A, e parágrafos, deste Código, o juiz deverá absolver sumariamente o acusado quando verificar:</p><p>I - a existência manifesta de causa excludente da ilicitude do fato;</p><p>II - a existência manifesta de causa excludente da culpabilidade do agente, salvo inimputabilidade;</p><p>III - que o fato narrado evidentemente não constitui crime; ou</p><p>IV - extinta a punibilidade do agente.</p><p>Júri:</p><p>Art. 415. O juiz, fundamentadamente, absolverá desde logo o acusado, quando:</p><p>I – provada a inexistência do fato;</p><p>II – provado não ser ele autor ou partícipe do fato;</p><p>III – o fato não constituir infração penal;</p><p>IV – demonstrada causa de isenção de pena ou de exclusão do crime.</p><p>Parágrafo único. Não se aplica o disposto no inciso IV do caput deste artigo ao caso de inimputabilidade prevista no caput do art. 26 do Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 – Código Penal, salvo quando esta for a única tese defensiva. Absolvição sumária imprópria:</p><p>Art. 415. O juiz, fundamentadamente, absolverá desde logo o acusado, quando:</p><p>(...)</p><p>IV – demonstrada causa de isenção de pena ou de exclusão do crime. Parágrafo único. Não se aplica o disposto no inciso IV do caput deste artigo ao caso de inimputabilidade prevista no caput do art. 26 do Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 – Código Penal, salvo quando esta for a única tese defensiva.</p><p>A sentença absolutória deve ser fundamentada em algum dos incisos do art. 386 do Código de Processo Penal:</p><p>Art. 386. O juiz absolverá o réu, mencionando a causa na parte dispositiva, desde que reconheça:</p><p>I - estar provada a inexistência do fato;</p><p>II - não haver prova da existência do fato;</p><p>III - não constituir o fato infração penal;</p><p>IV – estar provado que o réu não concorreu para a infração penal;</p><p>V – não existir prova de ter o réu concorrido para a infração penal;</p><p>VI – existirem circunstâncias que excluam o crime ou isentem o réu de pena (arts. 20, 21, 22, 23, 26 e § 1o do art. 28, todos do Código Penal)*, ou mesmo se houver fundada dúvida sobre sua existência;</p><p>VII – não existir prova suficiente para a condenação.</p><p>Hipóteses:</p><p>- Erro de tipo e de proibição (arts. 20 e 21).</p><p>- Coação moral irresistível e obediência hierárquica (art. 22).</p><p>-Legítima defesa, estado de necessidade, estrito regular de direito e estrito cumprimento do dever legal (art. 23).</p><p>-Inimputabilidade (art. 26).</p><p>-Embriaguez acidente (§ 1º do art. 28).</p><p>Jurisprudência:</p><p>A absolvição com base no inciso I, do art. 386, do CPP, só tem lugar quando há prova inequívoca da inexistência do fato delitivo, ou seja, quando há juízo de certeza quanto à atipicidade. Hipótese em que a absolvição foi enquadrada no inciso II do art. 386 do CPP, pois as instâncias ordinárias consideraram que as provas obtidas (testemunhal somada ao exame clínico) não foram suficientes para suprir a falta do exame de alcoolemia, que o acusado se recusou a realizar. Na dúvida quanto à embriaguez, correta a absolvição com base no art. 386, II, do CPP. 5. Habeas corpus não conhecido” (HC 242150 – SP, 5.ª T., rel. Gurgel de Faria, 09.06.2015, v.u.)</p><p>Incisos I, IV e VI (1ª parte) – envolvem juízo de certeza. De modo geral, impedem proposição de ação indenizatória na esfera cível*.</p><p>Incisos II, V, VI (2ª parte) e VII</p><p>– envolve juízo de dúvida. De modo geral, não impedem proposição de ação indenizatória na esfera cível*.</p><p>Inciso III – juízo de certeza. Porém, traz reflexos estritamente penais*. *Obs.: ver mais detidamente em aula própria sobre ação civil ex delicto.</p><p>Efeitos da sentença absolutória</p><p>Art. 386, parágrafo único. Na sentença absolutória, o juiz:</p><p>I - mandará, se for o caso, pôr o réu em liberdade;</p><p>II – ordenará a cessação das medidas cautelares e provisoriamente aplicadas;</p><p>III - aplicará medida de segurança, se cabível. Outros efeitos:</p><p>Restituição da fiança</p><p>Art. 337. Se a fiança for declarada sem efeito ou passar em julgado sentença que houver absolvido o acusado ou declarada extinta a ação penal, o valor que a constituir, atualizado, será restituído sem desconto, salvo o disposto no parágrafo único do art. 336 deste Código.</p><p>Levantamento do sequestro</p><p>Art. 131. O sequestro será levantado: (...) III - se for julgada extinta a punibilidade ou absolvido o réu, por sentença transitada em julgado.</p><p>Levantamento do arresto ou cancelamento da hipoteca</p><p>Art. 141. O arresto será levantado ou cancelada a hipoteca, se, por sentença irrecorrível, o réu for absolvido ou julgada extinta a punibilidade.</p><p>Retirada da identificação fotográfica</p><p>LEI Nº 12.037, DE 1º DE OUTUBRO DE 2009.</p><p>Dispõe sobre a identificação criminal do civilmente identificado, regulamentando o art. 5º, inciso LVIII, da Constituição Federal.</p><p>Art. 7º No caso de não oferecimento da denúncia, ou sua rejeição, ou absolvição, é facultado ao indiciado ou ao réu, após o arquivamento definitivo do inquérito, ou trânsito em julgado da sentença, requerer a retirada da identificação fotográfica do inquérito ou processo, desde que apresente provas de sua identificação civil.</p><p>Princípio da vedação do duplo processo pelo mesmo fato CADH,</p><p>art. 8, 4 - “O acusado absolvido por sentença transitada em julgado não poderá ser submetido a novo processo pelos mesmos fatos elementos”.</p><p>CF, art. 5º, XXXVI – “A lei não prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada”.</p><p>Revisão criminal: reabertura do processo apenas em caso de sentença condenatória (art. 621, CPP).</p><p>QUESTÃO 1-Marco, regularmente processado por tráfico de drogas, é processado por latrocínio (art. 157, §</p><p>3º, do Código Penal). Ao final, o juiz absolve o acusado lançando mão do in dubio pro reo, com fundamento no art. 386, IV, do Código de Processo Penal (“não existir prova de ter o réu concorrido para a infração penal”). A sentença absolutória transita em julgado. Pergunta-se:</p><p>I. Sobrevindo prova cabal de que o crime foi praticado por Marco, existe óbice a novo</p><p>processo contra ele?</p><p>II. A família da vítima pode processo Marco no âmbito cível, buscando indenização?</p><p>RESPOSTA 1-I. Não é possível, por conta do princípio da vedação do duplo processo pelo mesmo fato. Nesse sentido, estabelece a Convenção Americana de Direitos Humanos, art. 8, 4 ? “O acusado absolvido por sentença transitada em julgado não poderá ser submetido a novo processo pelos mesmos fatos”. Também a Constituição Federal prevê, no art. 5º, XXXVI, que “a lei não prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada”. Por fim, a revisão criminal é admissível apenas em caso de sentença condenatória (art. 621, CPP).</p><p>II. Sim, pois a absolvição se deu com fulcro no art. 386, V (falta de prova de ter o réu concorrido para a infração), ou seja, com juízo de dúvida</p><p>QUESTÃO 2-No tocante às hipóteses que autorizam a absolvição sumária, previstas no art. 397 do Código de Processo Penal, marque a assertiva incorreta:</p><p>RESPOSTA 2-existência manifesta de causa excludente da culpabilidade do agente (inimputabilidade, consciência potencial da ilicitude e inexigibilidade de conduta divers;</p><p>Fundamentação: Nos termos do art. 397 do CPP, “após o cumprimento do disposto no art. 396-A, e parágrafos, deste Código, o juiz deverá absolver sumariamente o acusado quando verificar: I - a existência manifesta de causa excludente da ilicitude do fato; II - a existência manifesta de causa excludente da culpabilidade do agente, salvo inimputabilidade; III - que o fato narrado evidentemente não constitui crime; ou IV - extinta a punibilidade do agente”.</p><p>AULA IV- Sentença condenatória</p><p>RESUMO</p><p>Decisão que encerra julgamento de procedência da pretensão punitiva estatal.</p><p>Nos termos do art. 387 do Código de Processo Penal:</p><p>Art. 387. O juiz, ao proferir sentença condenatória:</p><p>I – mencionará as circunstâncias agravantes ou atenuantes definidas no Código Penal, e cuja existência reconhecer;</p><p>II – mencionará as outras circunstâncias apuradas e tudo o mais que deva ser levado em conta na aplicação da pena, de acordo com o disposto nos arts. 59 e 60 do Decreto-lei 2.848, de 7 de dezembro de 1940 – Código Penal;</p><p>III – aplicará as penas de acordo com essas conclusões;</p><p>IV – fixará valor mínimo para reparação dos danos causados pela infração, considerando os prejuízos sofridos pelo ofendido;</p><p>V – atenderá, quanto à aplicação provisória de interdições de direitos e medidas de segurança, ao disposto no Título XI deste Livro; VI – determinará se a sentença deverá ser publicada na íntegra ou em resumo e designará o jornal em que será feita a publicação (art. 73, § 1.º, do Código Penal).</p><p>§ 1.º O juiz decidirá, fundamentadamente, sobre a manutenção ou, se for o caso, a imposição de prisão preventiva ou de outra medida cautelar, sem prejuízo do conhecimento de apelação que vier a ser interposta.</p><p>§ 2.º O tempo de prisão provisória, de prisão administrativa ou de internação, no Brasil ou no estrangeiro, será computado para fins de determinação do regime inicial de pena privativa de liberdade.</p><p>Examinamos cada uma dessas disposições:</p><p>I – mencionará as circunstâncias agravantes ou atenuantes definidas no Código Penal, e cuja existência reconhecer;</p><p>II – mencionará as outras circunstâncias apuradas e tudo o mais que deva ser levado em conta na aplicação da pena, de acordo com o disposto nos arts. 59 e 60 do Decreto-lei 2.848, de 7 de dezembro de 1940 – Código Penal;</p><p>III – aplicará as penas de acordo com essas conclusões;</p><p>Os incisos dizem respeito à individualização da pena. Deve o juiz efetuar a dosimetria da pena, conforme o sistema trifásico, bem como fixar o regime inicial e a possibilidade ou não de substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de direitos e concessão de suspensão condicional da pena.</p><p>Sobre o tema, ver aula sobre dosimetria da pena.</p><p>Juiz pode reconhecer agravantes não trazidas na denúncia? Pode condenar se o promotor pedir absolvição?</p><p>A lei diz que sim:</p><p>Art. 385. Nos crimes de ação pública, o juiz poderá proferir sentença condenatória, ainda que o Ministério Público tenha opinado pela absolvição, bem como reconhecer agravantes, embora nenhuma tenha sido alegada.</p><p>A jurisprudência também:</p><p>Nos termos do art. 385 do Código de Processo Penal, nos crimes de ação pública, o juiz poderá proferir sentença condenatória, ainda que o Ministério Público tenha opinado pela absolvição, bem como reconhecer agravantes, embora nenhuma tenha sido alegada.</p><p>Não há ilegalidade na condenação do paciente pelo crime de lesão corporal de natureza grave, a despeito de posicionamento diverso pelo Ministério Público quando da apresentação de alegações finais, por não estar o Magistrado vinculado às manifestações jurídicas ministeriais, em observância ao princípio do livre convencimento motivado. O artigo 385 do Código de Processo Penal foi recepcionado pela Constituição Federal. Precedentes desta Corte” (HC 350.708 – SC, 5.ª T., rel. Reynaldo Soares da Fonseca, 28.04.2016, v.u.).</p><p>Há autores que dizem que não pode, pois fere o sistema acusatório.</p><p>IV – fixará valor mínimo para reparação dos danos causados pela infração, considerando os prejuízos sofridos pelo ofendido;</p><p>Permite-se que o juiz, na sentença condenatória criminal, fixe um valor mínimo para reparação dos danos causados pela infração.</p><p>Depende de pedido expresso e contraditório:</p><p>PENAL. RECURSO ESPECIAL. HOMICÍDIO. REPARAÇÃO PELOS DANOS CAUSADOS À VÍTIMA.</p><p>ART. 387, IV, DO CPP. PEDIDO FORMAL E OPORTUNIDADE DE PRODUÇÃO DE CONTRAPROVA. AUSÊNCIA. OFENSA AO PRINCÍPIO DA AMPLA DEFESA. RECURSO DESPROVIDO. I. O art. 387, IV, do Código de Processo Penal, na redação dada pela Lei 11.719, de 20 de junho de 2008, estabelece que o Juiz, ao proferir sentença condenatória fixará um valor mínimo para a reparação dos danos causados pela infração, considerando os prejuízos sofridos pelo ofendido. II. Hipótese em que o Tribunal a quo afastou a aplicação do valor mínimo para reparação dos danos causados à vítima porque a questão não foi debatida nos autos. III. Se a questão não foi submetida ao contraditório, tendo sido questionada em embargos de declaração após a prolação da sentença condenatória, sem que tenha sido dada oportunidade ao réu de se defender ou produzir contraprova, há ofensa ao princípio da ampla defesa. IV. Recurso desprovido. (STJ, REsp 1185542 / RS, Rel. Min. Gilson Dipp, 5ª T., j. 14/04/2011, v.u.)</p><p>V – atenderá, quanto à aplicação provisória de interdições de direitos e medidas de segurança, ao disposto no Título XI deste Livro; Não existem mais. Revogadas na reforma de 1984.</p><p>VI – determinará se a sentença deverá ser publicada na íntegra ou em resumo e designará o jornal em que será feita a publicação (art. 73, § 1.º, do Código Penal). Não existe mais essa possibilidade.</p><p>§ 1.º O juiz decidirá, fundamentadamente, sobre a manutenção ou, se for o caso, a imposição de prisão preventiva ou de outra medida cautelar, sem prejuízo do conhecimento de apelação que vier a ser interposta.</p><p>A prisão deve ser regida pelo art. 312 do Código de Processo Penal; logo, exige-se fundamentação concreta. Não há prisão automática como consequência da condenação em 1ª instância.</p><p>Nesse sentido:</p><p>Nos termos do art. 387 do Código de Processo Penal, o juiz, ao proferir sentença condenatória, decidirá, fundamentadamente, sobre a manutenção de eventual prisão já realizada. Pode-se até aceitar uma nova fundamentação em termos mais sintéticos; mas há que se exigir, de todo modo, a explicitação quanto à permanência, no tempo, das mesmas circunstâncias autorizativas da prisão anterior. Doutrina. 3. Hipótese em que o juízo sentenciante (a) não teceu qualquer consideração sobre a permanência ou não dos motivos inaugurais do decreto prisional; e (b) lastreou sua decisão tão somente na gravidade em abstrato do delito, circunstâncias que são rechaçadas categoricamente pela jurisprudência desta Corte. 4. Habeas corpus conhecido em parte e, nessa extensão, concedido” (HC 128195 – SP, 2.ª T., rel. Teori Zavascki, 08.09.2015, v.u.)</p><p>§ 2.º O tempo de prisão provisória, de prisão administrativa ou de internação, no Brasil ou no estrangeiro, será computado para fins de determinação do regime inicial de pena privativa de liberdade.</p><p>O tempo de prisão cautelar deve ser considerada pelo juiz para fixação do regime inicial. Ex.: sujeito permaneceu preso durante 2 anos, sendo condenado a 5 anos e 4 meses. Em princípio, o juiz aplicaria o regime semiaberto. Porém, tendo em vista que já houve o cumprimento de parte considerável da pena, o juiz pode fixar desde logo o regime aberto.</p><p>Efeitos penais da condenação</p><p>Principal - dever de cumprir a pena Secundários (exemplos)</p><p>Gera reincidência (art. 63)</p><p>Regressão de regime (art. 118, II, LEP)</p><p>Impede a suspensão condicional da pena (art. 77, I)</p><p>Revogação de suspensão condicional da pena (art. 81, I, e § 1.º)</p><p>Revogação de livramento condicional (art. 86)</p><p>Aumenta o prazo da prescrição da pretensão executória (art. 110, caput, in fine)</p><p>Efeitos extrapenais da condenação</p><p>Efeitos genéricos</p><p>Art. 91 - São efeitos da condenação:</p><p>I - tornar certa a obrigação de indenizar o dano causado pelo crime;</p><p>II - a perda em favor da União, ressalvado o direito do lesado ou de terceiro de boa-fé:</p><p>a) dos instrumentos do crime, desde que consistam em coisas cujo fabrico, alienação, uso, porte ou detenção constitua fato ilícito;</p><p>b) do produto do crime ou de qualquer bem ou valor que constitua proveito auferido pelo agente com a prática do fato criminoso.</p><p>§ 1o Poderá ser decretada a perda de bens ou valores equivalentes ao produto ou proveito do crime quando estes não forem encontrados ou quando se localizarem no exterior.</p><p>§ 2o Na hipótese do § 1o, as medidas assecuratórias previstas na legislação processual poderão abranger bens ou valores equivalentes do investigado ou acusado para posterior decretação de perda.</p><p>Efeitos específicos</p><p>Art. 92 - São também efeitos da condenação:</p><p>I - a perda de cargo, função pública ou mandato eletivo: a) quando aplicada pena privativa de liberdade por tempo igual ou superior a um ano, nos crimes praticados com abuso de poder ou violação de dever para com a Administração Pública; b) quando for aplicada pena privativa de liberdade por tempo superior a 4 (quatro) anos nos demais casos.</p><p>II - a incapacidade para o exercício do pátrio poder, tutela ou curatela, nos crimes dolosos, sujeitos à pena de reclusão, cometidos contra filho, tutelado ou curatelado;</p><p>III - a inabilitação para dirigir veículo, quando utilizado como meio para a prática de crime doloso.</p><p>Parágrafo único - Os efeitos de que trata este artigo não são automáticos, devendo ser motivadamente declarados na sentença.</p><p>Obs.: Há aulas específicas sobre dosimetria da pena, efeitos da condenação e prisão!</p><p>QUESTÃO 1-João está sendo acusado pela prática de furto de um notebook avaliado em R$ 2.000,00. O juiz</p><p>profere sentença condenatória e, de ofício, condena o acusado a reparar à vítima o prejuízo causado, com fulcro no art. 387, IV, do CPP. Está correta a decisão? Justifique?</p><p>RESPOSTA 1-Não. Para que haja indenização em favor da vítima, é preciso que haja pedido expresso, oportunizando-se contraditório e ampla defesa. Nesse sentido:</p><p>“PENAL. RECURSO ESPECIAL. HOMICÍDIO. REPARAÇÃO PELOS DANOS CAUSADOS À VÍTIMA. ART. 387, IV, DO CPP. PEDIDO FORMAL E OPORTUNIDADE DE PRODUÇÃO DE CONTRAPROVA. AUSÊNCIA. OFENSA AO PRINCÍPIO DA AMPLA DEFESA. RECURSO DESPROVIDO. I. O art. 387, IV, do Código de Processo Penal, na redação dada pela Lei 11.719, de 20 de junho de 2008, estabelece que o Juiz, ao proferir sentença condenatória fixará um valor mínimo para a reparação dos danos causados pela infração, considerando os prejuízos sofridos pelo ofendido. II. Hipótese em que o Tribunal a quo afastou a aplicação do valor mínimo para reparação dos danos causados à vítima porque a questão não foi debatida nos autos. III. Se a questão não foi submetida ao contraditório, tendo sido questionada em embargos de declaração após a prolação da sentença condenatória, sem que tenha sido dada oportunidade ao réu de se defender ou produzir contraprova, há ofensa ao princípio da ampla defesa. IV. Recurso desprovido” (STJ, REsp 1185542 / RS, Rel. Min. Gilson Dipp, 5ª T., j. 14/04/2011, v.u.).</p><p>QUESTÃO 2-Marque a assertiva correta:</p><p>RESPOSTA 2-O tempo de prisão provisória, de prisão administrativa ou de internação, no Brasil ou no estrangeiro, será computado para fins de determinação do regime inicial de pena privativa de liberdade.</p><p>Fundamentação: Conforme artigo 387, § 2.º, do CPP, “o tempo de prisão provisória, de prisão administrativa ou de internação, no Brasil ou no estrangeiro, será computado para fins de determinação do regime inicial de pena privativa de liberdade”.</p><p>TEMA 09- SENTENÇA CRIMINAL II</p><p>Aula I – Correlação Entre Acusação e Sentença - Emendatio Libelli</p><p>RESUMO</p><p>Correlação entre acusação e sentença</p><p>Regra segundo a qual o fato imputado ao réu na inicial acusatória deve guardar congruência com o fato reconhecido pelo julgador na sentença, sob pena de violação ao contraditório e à ampla defesa. Violação enseja nulidade absoluta.</p><p>Contudo, essa correlação envolve os fatos. Aplica-se o brocardo narra mihi factum dabo tibi ius (narra-me os fatos e darei o direito). O réu se defende dos fatos, não da capitulação jurídica.</p><p>Emendatio libelli</p><p>Art. 383. O juiz, sem modificar a descrição do fato contida na denúncia ou queixa, poderá atribuir-lhe definição jurídica diversa, ainda que, em consequência,</p><p>da audiência de custódia no prazo estabelecido no caput deste artigo responderá administrativa, civil e penalmente pela omissão. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) (Vigência)</p><p>§ 4º Transcorridas 24 (vinte e quatro) horas após o decurso do prazo estabelecido no caput deste artigo, a não realização de audiência de custódia sem motivação idônea ensejará também a ilegalidade da prisão, a ser relaxada pela autoridade competente, sem prejuízo da possibilidade de imediata decretação de prisão preventiva. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) (Vigência)</p><p>O §1º trata a respeito das excludentes de ilicitude previstas no Código Penal, poderá conceder ao preso a liberdade provisória. Para o caso do §2º, o juiz deve denegar a liberdade provisória, importante colocar aqui que, reincidente, organização criminosa e arma de uso restrito, a não concessão da liberdade provisória só é possível se houver a conversão do flagrante em preventiva. Logo, se não estiverem presentes os requisitos da previsão preventiva, é obrigatória a concessão da prisão preventiva.</p><p>Acerca do §4º, muito embora esteja em vigor, importante colocarmos que a sua eficácia foi suspendida pelo STF, para que não produza efeitos, tendo em vista a inviabilidade que o Judiciário encontra para cumprir este dispositivo.</p><p>Pontuando este posicionamento, vale a leitura das palavras do professor Renato Brasileiro:</p><p>A parte final do art. 310, §4º, do CPP, deixa entrever que o relaxamento da prisão em flagrante ilegal não impede a decretação da prisão preventiva e/ou temporária, nem tampouco a decretação das medidas cautelares diversas da prisão, desde que presente seus requisitos legais. Não se pode confundir o juízo de legalidade da prisão em flagrante com o juízo de necessidade das medidas cautelares. O que não se pode admitir, todavia, é o relaxamento da prisão em flagrante em virtude da não realização da audiência de custódia sem motivação idônea, e a subsequente e automática decretação de eventual prisão preventiva. Esta modalidade de prisão cautelar somente se afigura possível quando presentes o fumus comissi delicti, consubstanciado na prova da materialidade e indícios de autoria, e o periculum libertatis - garantia da ordem pública, da ordem econômica, da aplicação da lei penal e conveniência da instrução criminal -, e desde que se revelem inadequadas ou insuficientes as medidas cautelares diversas da prisão listadas no art. 319 do CPP.</p><p>Por fim, salientamos que o único objetivo da audiência de custódia é decidir se o preso em flagrante continuará preso, mas preventivamente; ou se responderá ao processo em liberdade, após o relaxamento do flagrante por ilegalidade ou pela concessão de liberdade provisória.</p><p>QUESTÃO 1-Após a lavratura do auto de prisão em flagrante, o delegado remeteu ao juiz da 1.ª Vara Criminal da Comarca de Leme, a documentação para que o juiz se pronunciasse sobre a prisão do suspeito.</p><p>O juiz afirmou que não faria a audiência de custódia por ausência de previsão legal no Brasil. Agiu certo o magistrado? Justifique a sua resposta.</p><p>RESPOSTA 1-Não, agiu de forma incorreta. A audiência de custódia possui previsão legal no Brasil desde 1992, após a assinatura, referendo, ratificação e publicação do Pacto de San José da Costa Rica.</p><p>QUESTÃO 2-Heráclides foi preso em flagrante como incurso no art. 157, §2º, incisos I e II do CP, em 15/04/2014, às 15 horas. O flagrante foi convertido em prisão preventiva e o indiciado foi denunciado, mas a Defensoria Pública, não tendo obtido sucesso no primeiro grau, protocolou habeas corpus no Tribunal de Justiça do Estado, alegando que, pela certidão do Registro Civil anexada, o paciente nasceu em 15/04/1996, às 20h07min, sendo, portanto, inimputável. O Procurador de Justiça junto à Câmara Criminal deve propor</p><p>RESPOSTA 2-a denegação da ordem.</p><p>Fundamentação: A ordem de habeas corpus deverá ser denegada pois considera-se, para fins de idade penal, qualquer horário do dia de aniversário, desprezando-se as horas.</p><p>TEMA 02- PRISÃO PREVENTIVA</p><p>AULA 01: CONCEITO E HIPÓTESES</p><p>Prisão preventiva é a prisão provisória por excelência, baseada na necessidade de custódia para o melhor andamento da persecução penal, ou para garantir a paz social antes do trânsito em julgado.</p><p>Conforme dispõe o art. 311 do Código de Processo Penal:</p><p>Art. 311. Em qualquer fase da investigação policial ou do processo penal, caberá a prisão preventiva decretada pelo juiz, a requerimento do Ministério Público, do querelante ou do assistente, ou por representação da autoridade policial. (Redação dada pela Lei nº 13.964, de 2019)</p><p>Ou seja, pode ser decretada a qualquer tempo, seja durante o inquérito ou durante a ação penal, mediante requerimento do Ministério Público, do querelante, do assistente de acusação, ou por representação da autoridade policial. Contudo, o juiz não poderá decretar a prisão preventiva de ofício, em nenhuma fase da persecução penal (o que era possível antes do Pacote Anticrime, apenas durante a ação penal).</p><p>Há possibilidade, entretanto, do magistrado voltar a decretar a prisão preventiva de ofício, nos termos do art. 316 do CPP. Ou seja, uma vez revogada, o juiz poderá decretá-la novamente, sem requerimento das partes.</p><p>Tema bastante importante a respeito da prisão preventiva é a sua duração. Sobre o assunto leciona Nucci:</p><p>7-A. Duração da prisão preventiva e princípio da razoabilidade: inexiste um prazo determinado, como ocorre com a prisão temporária, para a duração dessa modalidade de prisão cautelar. A regra é perdurar até quando seja necessária, durante o curso do processo, não podendo, é lógico, ultrapassar eventual decisão absolutória - que faz cessar os motivos determinantes de sua decretação - bem como o trânsito em julgado de decisão condenatória, pois, a partir desse ponto, está-se diante de prisão-pena. A prisão preventiva tem a finalidade de assegurar o bom andamento da instrução criminal, não podendo esta prolongar-se indefinidamente, por culpa do juiz ou por provocação do órgão acusatório. Se assim acontecer, configura constrangimento ilegal. Por outro lado, dentro da razoabilidade, havendo necessidade, não se deve estipular um prazo fixo para o término da instrução, como ocorria no passado, mencionando-se como parâmetro o cômputo de 81dias, que era a simples somatória dos prazos previstos no Código de Processo Penal para que colheita da prova se encerrasse. Igualmente, agora, com os novos prazos estipulados pela Lei11.689/2008 para o procedimento do júri, quanto à fase de formação da culpa (90 dias, conforme art.412) e pela Lei 11.719/2008 para o procedimento comum ordinário (60 dias, conforme art. 400, caput) e para o comum sumário (30 dias, conforme art. 531), deve-se ter a mesma tolerância da razoabilidade, embora com maior cautela, pois tais prazos constam no texto legal. Em tese, portanto, os prazos estabelecidos devem ser respeitados, salvo motivo de força maior. Alguns critérios formaram-se, na jurisprudência, para apontar a maior extensão do procedimento instrutório, sem gerar excesso de prazo, tais como: a) elevado número de corréus, especialmente, quando há diversos defensores; b) provas produzidas por carta precatória; c) provas periciais variadas; d) diligências solicitadas pela defesa do acusado. Nesse sentido: TJSP: "Ademais, o processo conta com seis réus cujos defensores são distintos, havendo necessidade de expedição de cartas precatórias para oitiva de testemunhas. Tais circunstâncias demonstram a complexidade do feito e justificam seu retardamento, não sendo possível atribuir eventual demora à inércia do Poder Judiciário, sendo ocaso da aplicação do princípio da razoabilidade" (HC 990.10.455036-0, 16.ª C., rel. Almeida Toledo, j. 14.12.2010, v.u.); "Habeas Corpus. Furto qualificado. Prisão em flagrante. Pretendido relaxamento por excesso de prazo. Decurso de 9 meses sem encerramento da instrução. Inadmissibilidade. Demora decorrente da complexidade do feito. Necessidade de expedição de carta precatória para citação e interrogatório do paciente. Princípio da</p><p>tenha de aplicar pena mais grave.</p><p>§ 1o Se, em consequência de definição jurídica diversa, houver possibilidade de proposta de suspensão condicional do processo, o juiz procederá de acordo com o disposto na lei.</p><p>§ 2o Tratando-se de infração da competência de outro juízo, a este serão encaminhados os autos.</p><p>Hipótese em que o juiz, ao condenar ou pronunciar o réu, atribui nova definição jurídica ao fato descrito, embora sem acrescentar a esse fato circunstância ou elemento que já não esteja descrito na inicial.</p><p>Exemplo: a denúncia descreve um furto qualificado, mas capitula o fato como furto simples. O juiz pode condenar pelo furto qualificado. Hipóteses que ensejam emendatio libelli</p><p>1) Erro na capitulação jurídica</p><p>Exemplo: promotor narra roubo praticado contra várias vítimas e tipifica como um só roubo. Juiz condena por roubo em concurso formal.</p><p>Na jurisprudência:</p><p>REGIMENTAL. AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. ROUBO MAJORADO. RECONHECIMENTO DO CONCURSO FORMAL. AUSÊNCIA DE CORRELAÇÃO ENTRE A DENÚNCIA E A SENTENÇA. FATOS DEVIDAMENTE NARRADOS NA Aula I – Correlação Entre Acusação e Sentença - Emendatio Libelli INICIAL. EMENDATIO LIBELLI. POSSIBILIDADE DE DEFINIÇÃO JURÍDICA DIVERSA PELO MAGISTRADO. NULIDADE INEXISTENTE. RECURSO IMPROVIDO. 1. O princípio da correlação entre a denúncia e a sentença condenatória representa no sistema processual penal uma das mais importantes garantias ao acusado, porquanto descreve balizas para a prolação do édito repressivo ao dispor que deve haver precisa correspondência entre o fato imputado ao réu e a sua responsabilidade penal. 2. Havendo adequada descrição dos fatos na exordial acusatória - como ocorre na hipótese -, não há ofensa ao referido postulado quando o magistrado, autorizado pela norma contida no artigo 383 do Código de Processo Penal, lhes atribui definição jurídica diversa da proposta pelo órgão acusatório. 3. Agravo regimental a que se nega provimento (STJ, AgRg no AREsp 1082662 / PI, Rel. Min. Jorge Mussi, 5ª T., j. 08/08/2017, v.u.)</p><p>2) Diferença de interpretação</p><p>Exemplo: promotor descreve saques indevidos feitos por meio de fraude via internet. Tipifica a conduta como estelionato. O juiz, contudo, entende que esses mesmos fatos configuram furto mediante fraude.</p><p>Hipóteses de alteração inadmissível</p><p>Inclusão de fatos não conhecidos da defesa</p><p>Alteração de elemento subjetivo (ex.: dolo para culpa e vice-versa)</p><p>Imputação de crime tentado e reconhecimento de crime consumado</p><p>Crítica</p><p>Para alguns autores, mesmo na hipótese de emendatio libelli, deveria ser oportunizado o contraditório. Essa posição não tem sido adotada pela jurisprudência.</p><p>Suspensão condicional do processo</p><p>§ 1o Se, em consequência de definição jurídica diversa, houver possibilidade de proposta de suspensão condicional do processo, o juiz procederá de acordo com o disposto na lei.</p><p>Súmulas relacionadas</p><p>Súmula 337 do STJ - É cabível a suspensão condicional do processo na desclassificação do crime e na procedência parcial da pretensão punitiva.</p><p>Súmula 696 do STF - Reunidos os pressupostos legais permissivos da suspensão condicional do processo, mas se recusando o promotor de justiça a propô-la, o juiz, dissentindo, remeterá a questão ao Procurador-Geral, aplicando-se por analogia o art. 28 do Código de Processo Penal.</p><p>Modificação de competência</p><p>§ 2o Tratando-se de infração da competência de outro juízo, a este serão encaminhados os autos.</p><p>Emendatio libelli em 2ª instância</p><p>Admissível, mas, havendo recurso exclusivo da defesa, não pode agravar a situação do acusado (proibição da reformatio in pejus)</p><p>Art. 617. O tribunal, câmara ou turma atenderá nas suas decisões ao disposto nos arts. 383, 386 e 387, no que for aplicável, não podendo, porém, ser agravada a pena, quando somente o réu houver apelado da sentença.</p><p>Na jurisprudência:</p><p>PROCESSUAL PENAL. HABEAS CORPUS. EMENDATIO LIBELLI EM SEGUNDO GRAU JURISDICIONAL. POSSIBILIDADE. REEXAME FÁTICO-PROBATÓRIO INVIÁVEL NESTA ESTREITA VIA ELEITA. FLAGRANTE ILEGALIDADE. INEXISTÊNCIA. WRIT NÃO CONHECIDO. 1. É imperiosa a necessidade de racionalização do emprego do habeas corpus, em prestígio ao âmbito de cognição da garantia constitucional e em louvor à lógica do sistema recursal. In casu, foi impetrada indevidamente a ordem como substitutiva de recurso especial. 2. A emendatio libelli pode ser aplicada em segundo grau, desde que nos limites do art. 617 do Código de Processo Penal, que proíbe a reformatio in pejus. Precedentes. E a decisão impugnada foi mais favorável ao paciente, na medida em que a pena imposta é menor do que aquela em tese pretendida na imputação originária. Aliás, o acórdão impugnado consignou expressamente que a conduta foi bem descrita na denúncia e que somente a capitulação foi modificada em benefício do acusado. (STJ, HC 294149 / SP, Rel. Min. MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA, j. 03/02/2015, v.u.).</p><p>Júri</p><p>Admissível. Há artigo específico:</p><p>Art. 418. O juiz poderá dar ao fato definição jurídica diversa da constante da acusação, embora o acusado fique sujeito a pena mais grave.</p><p>QUESTÃO 1-Márcio está sendo processado porque, em determinado dia e horário, teria subtraído bem mediante emprego de violência ou grave ameaça. Por equívoco, o promotor, embora tenha descrito na denúncia o crime de roubo, capitulou a conduta como furto (art. 155). Ao final, o juiz condenou Márcio pelo crime mais grave. A modificação da capitulação jurídica, prejudicial à Defesa, enseja nulidade?</p><p>RESPOSTA 1-É amplamente majoritário o entendimento de que não há nulidade. O réu se defende dos fatos e não da capitulação jurídica. Portanto, o Defensor deve ficar bastante atento à descrição fática para não ser surpreendido.</p><p>QUESTÃO 2-Indique a assertiva correta:</p><p>RESPOSTA 2-O juiz, sem modificar a descrição do fato contida na denúncia ou queixa, poderá atribuir-lhe definição jurídica diversa, ainda que, em consequência, tenha de aplicar pena mais grave.</p><p>Fundamentação: Nos termos do art. 383 do CPP</p><p>Aula II – Correlação Entre Acusação e Sentença – Mutatio Libelli I</p><p>Mutatio libelli</p><p>Art. 384. Encerrada a instrução probatória, se entender cabível nova definição jurídica do fato, em consequência de prova existente nos autos de elemento ou circunstância da infração penal não contida na acusação, o Ministério Público deverá aditar a denúncia ou queixa, no prazo de 5 dias, se em virtude desta houver sido instaurado o processo em crime de ação pública, reduzindo-se a termo o aditamento, quando feito oralmente.</p><p>§ 1.º Não procedendo o órgão do Ministério Público ao aditamento, aplica-se o art. 28 deste Código.</p><p>§ 2.º Ouvido o defensor do acusado no prazo de 5 dias e admitido o aditamento, o juiz, a requerimento de qualquer das partes, designará dia e hora para continuação da audiência, com inquirição de testemunhas, novo interrogatório do acusado, realização de debates e julgamento.</p><p>§ 3.º Aplicam-se as disposições dos §§ 1.º e 2.º do art. 383 ao caput deste artigo.</p><p>§ 4.º Havendo aditamento, cada parte poderá arrolar até 3 testemunhas, no prazo de 5 dias, ficando o juiz, na sentença, adstrito aos termos do aditamento.</p><p>§ 5.º Não recebido o aditamento, o processo prosseguirá.</p><p>Ocorre quando, no curso da instrução, surge prova de elementar ou circunstância não prevista na inicial.</p><p>Exemplo: denúncia descreve um furto. Durante a instrução, sobrevém prova de o crime foi praticado com violência ou grave ameaça. O juiz não pode condenar pelo roubo, é preciso que a inicial seja aditada e seja oportunizado o contraditório.</p><p>Notas:</p><p>Momento “Encerrada a instrução probatória”.</p><p>Depende de “prova existente nos autos”, ou seja, deve ficar realmente demonstrada a existência de elementar ou circunstâncias.</p><p>Aditamento espontâneo – havendo o surgimento de elementar ou circunstância, deve o promotor de justiça realizar o aditamento, no prazo de 5 dias</p><p>Aditamento provocado – quedando-se inerte o promotor, deve o juiz remeter os autos ao Procurador Geral, aplicando-se o art. 28 do CPP (§ 1º do art. 384). Parte da doutrina afirma que esse dispositivo fere o sistema acusatório</p><p>e a imparcialidade do juiz.</p><p>Ação penal pública – o promotor poderá realizar o aditamento em ação penal pública ou privada subsidiária da pública. Entende-se que o querelante também pode aditar a ação privada, porém respeitado o prazo decadencial de 6 meses (contado a partir da ciência de fato novo).</p><p>Contraditório – antes de receber o aditamento, o juiz deve abrir vista à Defesa pelo prazo de 5 dias (art. § 2.º do art. 384)</p><p>Havendo aditamento, cada parte poderá arrolar até 3 testemunhas, no prazo de 5 dias (art. § 4.º do art. 384). Há quem entenda que é um novo prazo de 5 dias. Para outros, não é um novo prazo, ou seja, deve o promotor arrolar as testemunhas já no prazo do aditamento e a defesa fazê-lo no prazo concedido para se manifestar sobre o aditamento.</p><p>Em seguida, o juiz designará dia e hora para a audiência, com inquirição de testemunhas, novo interrogatório do acusado, realização de debates e julgamento (art. § 2.º do art. 384)</p><p>Fica o juiz, na sentença, adstrito aos termos do aditamento. Para alguns, não pode o juiz condenar com base na imputação original, apenas com base na imputação constante no aditamento. Para outros, o juiz pode condenar também com base na imputação original.</p><p>Aplicam-se as disposições dos §§ 1.º e 2.º do art. 383 ao caput deste artigo (art. § 3.º do art. 384)</p><p>QUESTÃO 1-José foi denunciado pela prática de furto de um notebook (art. 155, caput, do Código Penal).</p><p>Ao final da instrução, não fica comprovado que José efetivamente subtraiu o objeto, mas tão somente que estava na posse do bem, produto de crime. Por essa razão, em debates orais, o Ministério Público pugna pela condenação do réu pela prática do crime de receptação (art. 180, caput, do Código Penal). Está correta a postura do promotor de Justiça? Explique.</p><p>RESPOSTA 1-Não. O crime de furto e de receptação têm elementares distintas. Encerrada a instrução probatória e entendendo o promotor ser cabível nova definição jurídica do fato, em consequência de prova existente nos autos de elemento ou circunstância da infração não contida na acusação, deverá aditar a denúncia, no prazo de 5 dias. Nesse sentido:</p><p>“APELAÇÃO CRIMINAL. FURTO QUALIFICADO. CASO DE MUTATIO LIBELLI. RÉU DENUNCIADO POR FURTO QUALIFICADO E CONDENADO POR FATO NÃO DENUNCIADO (RECEPTAÇÃO). VIOLAÇÃO DOS PRINCÍPIOS DA CORRELAÇÃO, DA AMPLA DEFESA, DO CONTRADITÓRIO E DO DEVIDO PROCESSO LEGAL. A sentença padece de nulidade insanável, pois o réu, denunciado por furto qualificado, foi condenado por receptação. Caso em que se evidencia a mutatio libelli. Contudo, a desclassificação foi operada na sentença condenatória sem o prévio cumprimento das regras do art. 384 do CPP. Sentença nula no ponto, por violação aos princípios da ampla defesa, da correlação e do devido processo legal” (Apelação Crime Nº 70069729226, Sexta Câmara Criminal, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Aymoré Roque Pottes de Mello, Julgado em 27/10/2016)</p><p>QUESTÃO 2-A respeito da mutatio libelli, está incorreta a seguinte assertiva:</p><p>RESPOSTA 2-Feito o aditamento, deverá o juiz decidir sobre o seu recebimento e, caso o admita, será aberta vista ao defensor do acusado para se manifestar sobre o seu teor, no prazo de 5 dias.</p><p>Fundamentação: A defesa é ouvida previamente ao recebimento do aditamento. Nesse sentido, dispõe o art. 384, § 2.º, do CPP: “Ouvido o defensor do acusado no prazo de 5 dias e admitido o aditamento, o juiz, a requerimento de qualquer das partes, designará dia e hora para continuação da audiência, com inquirição de testemunhas, novo interrogatório do acusado, realização de debates e julgamento” (grifo nosso).</p><p>Aula III – Correlação entre Acusação e Sentença – Mutatio Libelli II</p><p>Mutatio libelli em 2ª instância</p><p>Não é admissível. O art. 617 não faz referência ao art. 384 do CPP, que trata justamente da mutatio libelli.</p><p>Art. 617. O tribunal, câmara ou turma atenderá nas suas decisões ao disposto nos arts. 383, 386 e 387, no que for aplicável, não podendo, porém, ser agravada a pena, quando somente o réu houver apelado da sentença.</p><p>Nesse sentido:</p><p>Súmula 453 do STF - Não se aplicam à segunda instância o art. 384 e parágrafo único do Código de Processo Penal, que possibilitam dar nova definição jurídica ao fato delituoso, em virtude de circunstância elementar não contida, explícita ou implicitamente, na denúncia ou queixa.</p><p>Obs.: em se tratando de competência originária, entende-se que é possível.</p><p>Júri</p><p>Há disposição específica:</p><p>Art. 411, § 3º. “O juiz poderá dar ao fato definição jurídica diversa da constante da acusação, embora o acusado fique sujeito a pena mais grave”.</p><p>Emendatio x mutatio</p><p>Desclassificação de peculato para furto ou para apropriação indébita- Emendatio libelli</p><p>Desclassificação de furto para receptação- Mutatio libelli</p><p>Desclassificação de roubo para extorsão e vice-versa- Mutatio libelli</p><p>Desclassificação de furto qualificado para furto simples- Emendatio libelli</p><p>Desclassificação de crime consumado para tentado- Emendatio libelli</p><p>Desclassificação de crime tentado para consumado- Mutatio libelli</p><p>Desclassificação do crime do art. 33 da Lei 11.343/2006 para o tipo do art. 28 da mesma lei - Se a tese defensiva era “uso próprio”, pode o juiz condenar sem necessidade de aditamento. Do contrário, é preciso aditamento, tratando-se de hipótese de mutatio libelli. O tema não é pacífico.</p><p>Na jurisprudência:</p><p>Art. 33 para art. 28 da Lei 11.343/2006 “Induvidosamente, não há a mínima prova de que a posse era para tráfico, na linha do tipo do art. 33 da Lei nº 11.343/2006. Há, certamente, elementos de que a substância, possivelmente, tinha a finalidade de uso. (...) Contudo, cabe ressaltar que é inaplicável o art. 383 do Código de Processo Penal à espécie, porquanto este é incidente quando é mantida a descrição fática da denúncia. Contudo, como ressaltado, a 'finalidade de tráfico' não restou comprovada. O art. 28 da Lei 11.343/2006 também exige o dolo específico, qual seja, 'para consumo pessoal'. (...) descrição de conduta do recorrido que se amolde à elementar do tipo descrito no art. 28 da Lei de Tóxicos correspondente à finalidade de consumo pessoal da droga” (STJ, REsp 1435727, Rel. Min. Jorge Mussi, j. 20/06/2014)</p><p>Furto qualificado para receptação</p><p>“APELAÇÃO CRIMINAL. FURTO QUALIFICADO. CASO DE MUTATIO LIBELLI. RÉU DENUNCIADO POR FURTO QUALIFICADO E CONDENADO POR FATO NÃO DENUNCIADO (RECEPTAÇÃO). VIOLAÇÃO DOS PRINCÍPIOS DA CORRELAÇÃO, DA AMPLA DEFESA, DO CONTRADITÓRIO E DO DEVIDO PROCESSO LEGAL. A sentença padece de nulidade insanável, pois o réu, denunciado por furto qualificado, foi condenado por receptação. Caso em que se evidencia a mutatio libelli. Contudo, a desclassificação foi operada na sentença condenatória sem o prévio cumprimento das regras do art. 384 do CPP. Sentença nula no ponto, por violação aos princípios da ampla defesa, da correlação e do devido processo legal” (Apelação Crime Nº 70069729226, Sexta Câmara Criminal, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Aymoré Roque Pottes de Mello, Julgado em 27/10/2016)</p><p>QUESTÃO 1-José é denunciado pela prática de tráfico de drogas. A tese defensiva consiste na alegação de que o entorpecente não pertence ao acusado. Por ocasião da sentença, o juiz, entendendo que não ficou demonstrada a intenção de comercializar a droga, condena José pelo crime do art. 28 da Lei 11.343/2006. Com base nessas informações, está correta a decisão? Justifique.</p><p>RESPOSTA 1-É possível sustentar que a sentença viola a correlação entre acusação e sentença, ferindo o contraditório e a ampla defesa. Afinal, a elementar “para uso próprio” não consta da inicial que imputa ao réu o crime de tráfico de drogas. Nesse sentido:</p><p>“Induvidosamente, não há a mínima prova de que a posse era para tráfico, na linha do tipo do art. 33 da Lei nº 11.343/2006. Há, certamente, elementos de que a substância, possivelmente, tinha a finalidade de uso. (...) Contudo, cabe ressaltar que é inaplicável o art. 383 do Código de Processo Penal à espécie, porquanto este é incidente quando é mantida a descrição fática da denúncia. Contudo, como ressaltado,</p><p>a 'finalidade de tráfico' não restou comprovada. O art. 28 da Lei 11.343/2006 também exige o dolo específico, qual seja, 'para consumo pessoal'. (...) descrição de conduta do recorrido que se amolde à elementar do tipo descrito no art. 28 da Lei de Tóxicos correspondente à finalidade de consumo pessoal da droga”. (STJ, REsp 1435727, Rel. Min. Jorge Mussi, j. 20/06/2014)</p><p>QUESTÃO 2-A respeito da mutatio libelli, marque a alternativa correta:</p><p>RESPOSTA 2-Se, em consequência de definição jurídica diversa, houver possibilidade de proposta de suspensão condicional do processo, o juiz procederá de acordo com o disposto na lei.</p><p>Fundamentação: Nesse sentido, o § 3º do art. 384 estabelece que se aplicam à mutatio libelli o § 1º do art. 383, segundo o qual “se, em consequência de definição jurídica diversa, houver possibilidade de proposta de suspensão condicional do processo, o juiz procederá de acordo com o disposto na lei”.</p><p>Aula IV – Publicação e Intimação da Sentença</p><p>RESUMO</p><p>Publicação da sentença</p><p>Art. 389. A sentença será publicada em mão do escrivão, que lavrará nos autos o respectivo termo, registrando-a em livro especialmente destinado a esse fim. Produz reflexos na prescrição:</p><p>Causas interruptivas da prescrição</p><p>Art. 117 - O curso da prescrição interrompe-se: (...)</p><p>IV - pela publicação da sentença ou acórdão condenatórios recorríveis</p><p>Redução dos prazos de prescrição</p><p>Art. 115 - São reduzidos de metade os prazos de prescrição quando o criminoso era, ao tempo do crime, menor de 21 anos, ou, na data da sentença, maior de 70 anos</p><p>Esgotamento de instância</p><p>Após a prolação da sentença, não pode o juiz modificar o seu teor. Exceto:</p><p>a) Correção de inexatidões materiais ou erros de cálculo</p><p>b) Por meio de embargos de declaração</p><p>c) Interposição de recurso com efeito regressivo</p><p>d) Reconhecer extinção da punibilidade</p><p>Art. 61. Em qualquer fase do processo, o juiz, se reconhecer extinta a punibilidade, deverá declará-lo de ofício.</p><p>Na jurisprudência:</p><p>PROCESSUAL PENAL. HABEAS CORPUS. HOMICÍDIO QUALIFICADO. CONDENAÇÃO PELO TRIBUNAL DO JÚRI ANULADA PELO TRIBUNAL DE ORIGEM. ACÓRDÃO TRANSITADO EM JULGADO POSTERIORMENTE CASSADO EM QUESTÃO DE ORDEM PELA MESMA TURMA JULGADORA. IMPOSSIBILIDADE. DESRESPEITO AO DEVIDO PROCESSO LEGAL. PRECLUSÃO. 1. No caso, o Aula IV – Publicação e Intimação da Sentença julgamento do Tribunal do Júri, que havia condenado o paciente, foi anulado, pois o Tribunal de origem reconheceu, de ofício, nulidade em razão da imprestabilidade da mídia acostada aos autos, que impossibilitaria a análise das provas produzidas no referido julgamento. 2. Não obstante a certificação do trânsito em julgado, foi o referido acórdão reformado, em parte, para afastar a nulidade anteriormente reconhecida, em questão de ordem, motivada por pedido de reconsideração formulado pela Magistrada condutora do feito em primeiro grau. 3. Há, no presente caso, evidente e intolerável inobservância ao devido processo legal, especificamente à regra da preclusão, instituto que visa garantir a lisura da marcha processual, evitando retrocessos e atrasos indevidos, assegurando às partes que seja observada a estabilidade dos atos praticados. Desse modo, não poderia o decisum já transitado em julgado ser parcialmente cassado, porquanto alcançado pela preclusão (Precedentes). 4. A estabilidade do julgado é um valor que, no processo penal, com maior vigor, em decorrência do princípio do favor rei, somente admite relativização quando a sua desconstituição for motivada por interesse do acusado, razão pela qual só há revisão criminal em favor do réu, jamais pro societate. 5. Ordem concedida. (STJ, HC 358916 / MA, Rel. Min. ANTONIO SALDANHA PALHEIRO, 6ª T., j. 04/04/2017, v.u.).</p><p>Embargos de declaração</p><p>Art. 382. Qualquer das partes poderá, no prazo de 2 dias, pedir ao juiz que declare a sentença, sempre que nela houver obscuridade, ambiguidade, contradição ou omissão.</p><p>Art. 619. Aos acórdãos proferidos pelos Tribunais de Apelação, câmaras ou turmas, poderão ser opostos embargos de declaração, no prazo de dois dias contados da sua publicação, quando houver na sentença ambiguidade, obscuridade, contradição ou omissão.</p><p>Obscuridade – falta de clareza, gerando dúvida no destinatário</p><p>Ambiguidade – emprego de expressões com duplo sentido</p><p>Contradição – assertivas contraditórias no corpo da sentença</p><p>Omissão – falta de manifestação sobre algum ponto relevante Intimação da sentença</p><p>Advogado constituído - Imprensa (art. 370, § 1º, do CPP)</p><p>Defensor nomeado - intimação pessoal (art. 370, § 4º, do CPP).</p><p>Ministério Público - Intimação pessoal (art. 370, § 4º, do CPP)</p><p>Defensoria Pública - intimação pessoal (art. 5º, § 5º, da Lei 1.060/1.950 e art. 44, I, da Lei Complementar n. 80/1994)</p><p>Art. 390. O escrivão, dentro de 3 dias após a publicação, e sob pena de suspensão de 5 dias, dará conhecimento da sentença ao órgão do Ministério Público.</p><p>Art. 391. O querelante ou o assistente será intimado da sentença, pessoalmente ou na pessoa de seu advogado. Se nenhum deles for encontrado no lugar da sede do juízo, a intimação será feita mediante edital com o prazo de 10 dias, afixado no lugar de costume.</p><p>Art. 392. A intimação da sentença será feita:</p><p>I – ao réu, pessoalmente, se estiver preso;</p><p>II – ao réu, pessoalmente, ou ao defensor por ele constituído, quando se livrar solto, ou, sendo afiançável a infração, tiver prestado fiança;</p><p>III – ao defensor constituído pelo réu, se este, afiançável, ou não, a infração, expedido o mandado de prisão, não tiver sido encontrado, e assim o certificar o oficial de justiça;</p><p>IV – mediante edital, nos casos do n. II, se o réu e o defensor que houver constituído não forem encontrados, e assim o certificar o oficial de justiça;</p><p>V – mediante edital, nos casos do n. III, se o defensor que o réu houver constituído também não for encontrado, e assim o certificar o oficial de justiça;</p><p>VI – mediante edital, se o réu, não tendo constituído defensor, não for encontrado, e assim o certificar o oficial de justiça.</p><p>§ 1.º O prazo do edital será de 90 dias, se tiver sido imposta pena privativa de liberdade por tempo igual ou superior a 1 ano, e de 60 dias, nos outros casos.</p><p>§ 2.º O prazo para apelação correrá após o término do fixado no edital, salvo se, no curso deste, for feita a intimação por qualquer das outras formas estabelecidas neste artigo.</p><p>Há quem defenda que o acusado deve ser sempre intimado da sentença, devendo-se fazer uma releitura constitucional do art. 392 do CPP.</p><p>A jurisprudência majoritária tem seguido o texto da lei: (...)</p><p>No julgamento do HC 381.297/TO, relator em. Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA, a Quinta Turma reafirmou a jurisprudência desta Corte a respeito do art. 392, II, do CPP, no sentido de que, em se tratando de réu solto, é suficiente a intimação da defesa técnica acerca da sentença condenatória. 3. Sendo, no caso de réu solto, prescindível a intimação pessoal do acusado, tem-se como inexigível a sua intimação por edital, bastando para convalidação do ato a intimação do advogado constituído. (STJ, HC 398497 / PR, Rel. Min. Ribeiro Dantas, 5ª T., j. 22/08/2017, DJ 30/08/2017, v.u.)</p><p>Quando intimados o acusado e seu defensor constituído, o prazo recursal terá início a partir da data da última intimação:</p><p>PROCESSO PENAL. AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. ATENTADO VIOLENTO AO PUDOR. ADVOGADO CONSTITUÍDO. INTIMAÇÃO DA SENTENÇA CONDENATÓRIA PELA IMPRENSA OFICIAL. NULIDADE. NÃO OCORRÊNCIA. DECISÃO MONOCRÁTICA MANTIDA. 1. A teor do disposto nos arts. 370, § 1º, e 392, II, do Código de Processo Penal, a intimação da sentença condenatória, ao defensor constituído, será feita mediante publicação no órgão incumbido da publicidade dos atos judiciais da Comarca. Ademais, quando intimados o acusado e seu defensor constituído, o prazo recursal terá início a partir da data da última intimação. 2. Extrai-se do acórdão que o advogado do recorrente foi intimado da sentença, pela imprensa oficial, em 23/10/2008, e a intimação pessoal do acusado ocorreu em 3/11/2008. Desse modo, considerando a data</p><p>da interposição da apelação criminal (17/11/2008), apresenta-se correta a conclusão do Tribunal de origem pela intempestividade daquele recurso. 3. Agravo regimental a que se nega provimento. (STJ, AgRg no REsp 1281492 / MG, Rel. Min. Ribeiro Dantas, 5ª T. j. 01/09/2016, v.u.)</p><p>QUESTÃO 1- Fernando está sendo processado pela prática de furto qualificado por rompimento de obstáculo. Na sentença, o juiz condena Fernando pela prática de furto simples, afastando a qualificadora por conta da ausência de laudo pericial. Poucos dias após a publicação da sentença, sobrevém o laudo pericial e o juiz reconsidera a sentença, para o fim de reconhecer a qualificadora. É admissível essa revisão da sentença? Justifique.</p><p>RESPOSTA 1-Não. Após a publicação da sentença, há o esgotamento da instância. O juiz somente pode modificar a sentença para a correção de inexatidões materiais ou erros de cálculo, ou por meio de embargos de declaração, para afastar obscuridade, ambiguidade, contradição ou omissão. Também é possível quando houver a interposição de recurso com efeito regressivo ou para o fim de reconhecer extinção da punibilidade.</p><p>QUESTÃO 2-Após a prolação da sentença, não pode o juiz do conhecimento modificar o seu teor, nem mesmo no seguinte caso:</p><p>RESPOSTA 2-Aplicação de precedente jurisprudencial benéfico ao acusado</p><p>Fundamentação: O esgotamento da instância é efeito da sentença; uma vez prolatada, não mais poderá ser alterada pelo seu prolator. A aplicação de precedente jurisprudencial não é exceção."</p><p>TEMA 10- PROCEDIMENTOS</p><p>Aula I – Procedimento Comum</p><p>RESUMO</p><p>Processo & Procedimento Processo e procedimento não se confundem, a começar pela distinção feita pela própria Constituição Federal ao estabelecer competência privativa da União para legislar sobre processo (artigo 22, I), autorizando Estados e Distrito Federal a legislarem de forma concorrente sobre procedimento em matéria processual (art. 24, XI).</p><p>Assim, o que disser respeito ao processo penal, é da competência privativa da União. Porém, quando se tratar do encadeamento dos atos internos do processo, é possível que os Estados e o Distrito Federal possam estabelecer determinadas regras, peculiares às suas respectivas regiões, caso exista lacuna na legislação federal.</p><p>O processo é o instrumento pelo qual a jurisdição é exercida enquanto o procedimento é o modo pelo qual a sequência de atos deve se desenvolver. Costuma-se dizer que o procedimento é a medida do processo.</p><p>Renato Brasileiro apresenta a distinção com bastante primor ao lecionar que o processo, em sentido estrito, é o instrumento por meio do qual o Estado exerce a jurisdição, o autor exerce o direito de ação e o acusado o direito de defesa, havendo entre seus sujeitos uma relação jurídica diversa da relação jurídica de direito material, qual seja, a relação jurídica processual, que impõe a todos deveres, direitos, ônus e sujeições. O procedimento, ao seu turno, é o modo pelo qual os diversos atos se relacionam na série constitutiva do processo, representando o modo do processo atuar em juízo. Assim, enquanto o processo penal é formado por um conjunto de atos processuais que o levam da formulação da peça acusatória ao movimento final, geralmente uma sentença absolutória ou condenatória, o procedimento é o modo como esse processo se desenvolve, a forma como tramita, a sequência de atos que se realizam no exercício da jurisdição, bem como a relação que se estabelece entre eles na série, que pode ser, no âmbito criminal, comum ordinário, comum sumário, comum sumaríssimo ou especial.</p><p>Procedimento Comum & Procedimento Especial</p><p>O artigo 394, do Código de Processo Penal, inaugura o Título I, do Livro II, intitulado equivocadamente pelo legislador “Do Processo Comum”, quando tecnicamente correto seria “Do Procedimento Comum”, assim como “Dos Procedimentos em Espécie”.</p><p>A legislação processual penal selecionou uma forma padrão de procedimento, a que denominou de comum, subdividido em ordinário, sumário e sumaríssimo, reservando os casos específicos ao procedimento especial. Temos, assim, duas grandes classes de procedimento: o comum, regra geral, e o especial, com regras de tramitação próprias de acordo com as particularidades de certas infrações penais.</p><p>São de tramitação especial os crimes dolosos contra a vida (artigos 406 a 497), os crimes de responsabilidade dos funcionários públicos (artigos 513 a 518), os crimes contra a honra (artigos 519 a 523), os crimes contra a propriedade imaterial (artigos 524 a 530-I) e os crimes previstos na Lei de Drogas (Lei 11.343/06). Observa-se que o procedimento especial está contemplado tanto no Código de Processo Penal quanto em legislação extravagante.</p><p>Todas as demais infrações penais, não submetidas a procedimento específico, devem seguir o procedimento comum, que é o rito padrão estabelecido no Código de Processo Penal, consoante teor do artigo 394, § 2º, do CPP: “Aplica-se a todos os processos o procedimento comum, salvo disposições em contrário deste Código ou de lei especial”. O § 5º, do referido artigo, esmiuçando a subsidiariedade do procedimento comum, estabelece que são as disposições do procedimento comum ordinário aplicáveis diante de lacunas existentes nos demais procedimentos (especial, sumário e sumaríssimo).</p><p>Não obstante a prevalência do procedimento especial sobre o procedimento comum, atenção deve ser dada à previsão contida no artigo 394, § 4º, do CPP, que prevê “as disposições dos artigos 395 a 398 deste Código aplicam-se a todos os procedimentos penais de primeiro grau, ainda que não regulados neste Código”.</p><p>Disso extrai-se, na dicção de Renato Brasileiro, que ainda que determinado crime esteja sujeito a um procedimento especial previsto no Código de Processo Penal ou na legislação extravagante, se se tratar de procedimento penal de primeiro grau, ainda que não regulado no CPP, a ele serão aplicáveis as disposições dos artigos 395 (causas de rejeição da peça acusatória), 396 (recebimento da peça acusatória e citação do acusado), 396-A (resposta à acusação) e 397 (absolvição sumária).</p><p>No entanto, Guilherme de Souza Nucci faz uma importante observação, pautado na regra de que lei especial afasta lei geral, entendendo que a aplicação dos artigos 396 a 397 somente é cabível se a lei especial não contiver procedimento diverso e incompatível com o preceituado nesses três artigos. Se a legislação especial prevê um procedimento prévio de defesa do denunciado, antes do recebimento da denúncia ou da queixa, não parece ter cabimento, após ter sido a peça acusatória recebida, reiniciar o procedimento de citação e oitiva das razões do réu para, se for o caso, absolvê-lo sumariamente. Se as provas fossem tão evidentes assim, já não teria o magistrado recebida a denúncia ou a queixa, pois houve defesa preliminar, com exibição de provas.</p><p>Classificação do Procedimento Comum:</p><p>O procedimento comum contempla três espécies de procedimentos, a depender da quantidade de pena cominada em abstrato ao delito: o procedimento pode ser ordinário, sumário e sumaríssimo, abandonando-se, a partir da Lei 11.719 de 2008, o antigo critério que levava em consideração a natureza da pena privativa de liberdade (reclusão, detenção e prisão simples).</p><p>De acordo com o artigo 394, § 1º, do CPP, o procedimento comum será:</p><p>Ordinário: quando tiver por objeto crime cuja sanção máxima cominada for igual ou superior a 4 anos de pena privativa de liberdade. Ilustrando: furto, roubo, extorsão, apropriação indébita, estelionato, receptação.</p><p>Sumário: quando tiver por objeto crime cuja sanção máxima cominada seja inferior a 4 (quatro) anos de pena privativa de liberdade Ilustrando: homicídio culposo, violação de sepultura.</p><p>Sumaríssimo: reservado para as infrações penais de menor potencial ofensivo, compreendendo as contravenções penais e crimes com pena máxima não superior a 2 anos, cumulada ou não com multa, ressalvadas as hipóteses de violência doméstica e familiar contra a mulher.</p><p>Ilustrando: furto de coisa comum (6 meses a 2 anos), fraude no comércio, dano, ato obsceno, importunação</p><p>ofensiva ao pudor, desacato.</p><p>Há infrações, contudo, que não estão sujeitas a procedimentos especiais e também não se submetem aos critérios estabelecidos pelo artigo 394, § 1º, do Código de Processo Penal. São elas:</p><p>Infrações penais praticadas com violência doméstica e familiar contra a mulher: A Lei Maria da Penha (Lei 11.340/06), em seu artigo 41, afasta expressamente a incidência da Lei 9.099/95 (Lei dos Juizados Especiais Criminais), não se aplicando o procedimento comum sumaríssimo e os institutos despenalizadores para as infrações penais praticadas no contexto de violência doméstica e familiar contra a mulher. Assim, ainda que a pena máxima cominada seja igual ou inferior a 2 anos, o crime cometido nesses parâmetros será submetido ao procedimento comum ordinário ou sumário, a partir da pena máxima cominada ao delito, em trâmite perante a Justiça Comum ou, se houver, perante Vara Especializada de Violência Doméstica e Familiar contra a mulher.</p><p>Crimes tipificados no Estatuto do Idoso cuja pena máxima não ultrapasse 4 anos: para essas infrações penais, o artigo 94, da Lei 10.741/03, determina seja aplicado o procedimento sumaríssimo, cujo escopo é conciliar a idade avançada da vítima e a celeridade processual. Por esta razão, o Pleno do STF, no julgamento da ADI 3.096, confirmou a constitucionalidade do artigo 94, mas proibiu que os infratores sejam beneficiados pelos institutos despenalizadores da Lei 9.099/95.</p><p>Em suma, afasta-se a incidência do artigo 394, § 1º, inciso II (procedimento sumário), diante do caráter especial do Estatuto do Idoso.</p><p>Por fim, atenção no caso de concurso de crimes, qualificadoras, majorantes e minorantes. A determinação do procedimento leva em consideração a somatória das penas máximas cominadas em abstrato aos delitos (concurso material e concurso formal impróprio) ou o máximo aumento ou menor diminuição (concurso formal próprio e crime continuado) ou, ainda, a pena máxima prevista no caso de qualificadoras. Procedimento Comum Ordinário (Rito Ordinário)</p><p>1. Oferecimento da peça acusatória (denúncia ou queixa)</p><p>Conforme já estudado em aula anterior (Módulo 3 - Tema 7), a exordial acusatória deve preencher os requisitos elencados no artigo 41, do Código de Processo Penal, consoante o qual “a denúncia ou queixa conterá a exposição do fato criminoso, com todas as suas circunstâncias, a qualificação do acusado ou esclarecimentos pelos quais se possa identificálo, a classificação do crime e, quando necessário, o rol das testemunhas”.</p><p>2. Juízo de admissibilidade da peça acusatória.</p><p>A teor do artigo 396, do CPP, oferecida a denúncia ou a queixa, o juiz, se não a rejeitar liminarmente, recebê-la-á e ordenará a citação do acusado para responder à acusação, por escrito, no prazo de 10 (dez) dias.</p><p>Nesse primeiro momento, o magistrado possui duas opções: rejeitar liminarmente a peça acusatória, caso configurada alguma das hipóteses do artigo 395, do CPP, ou recebê-la, com a subsequente citação do acusado.</p><p>Muito se discutiu, após o advento da Lei 11.719/08, sobre qual seria o momento do juízo de admissibilidade da peça acusatória, já que o Código trouxe a expressão “recebimento” em dois momentos distintos: artigo 396, caput, e artigo 399, caput.</p><p>O assunto foi pacificado, determinando-se como o momento adequado para o recebimento o instante posterior ao oferecimento da denúncia ou da queixa, ou seja, o previsto no artigo 396, caput, do CPP. É este o momento para a interrupção da prescrição, inclusive.</p><p>O principal argumento gira em torno da citação que, conforme ensina Renato Brasileiro8 , pressupõe, obrigatoriamente, a existência de um processo penal. Em seus dizeres, se o caput do artigo 363 dispõe que o processo terá completada a sua formação quando realizada a citação do acusado, como seria possível que a relação jurídica estivesse completa sem que antes tivesse ocorrido o recebimento da peça acusatória? Além disso, como seria possível falar-se em absolvição sumária do réu sem anterior recebimento da peça acusatória? Portanto, o momento processual correto para o recebimento da peça acusatória é o do artigo 396, do CPP. Se o artigo 399, do CPP, torna a mencionar o recebimento da denúncia, há de se entender que o vocábulo recebida foi empregado indevidamente pelo legislador, que teria andado melhor se tivesse utilizado a expressão “não tendo ocorrido a absolvição sumária do acusado”.</p><p>2.1. Rejeição (ou não recebimento) da peça acusatória</p><p>Estabelece o artigo 395, do CPP, que a denúncia ou queixa será rejeitada quando for manifestamente inepta (inciso I), faltar pressuposto processual ou condição para o exercício da ação penal (inciso II) ou faltar justa causa para o exercício da ação penal (inciso III).</p><p>Inépcia da denúncia ou queixa (inciso I): conforme ensinamentos de Guilherme de Souza Nucci, configura-se a inépcia da peça acusatória quando não se prestar aos fins aos quais se destina, ou seja, não possuir a menor aptidão para concentrar, concatenadamente, em detalhes, o conteúdo da imputação, permitindo ao réu a exata compreensão da amplitude da acusação, garantindo-lhe, assim, a possibilidade de exercer o contraditório e a ampla defesa.</p><p>De modo geral, a inobservância dos requisitos do artigo 41, do CPP, conduz à inépcia da exordial acusatória, devendo o magistrado rejeitá-la.</p><p>No entanto, conforme pondera Renato Brasileiro, nem sempre isso ocorrerá, citando como exemplo a ausência de indicação do rol de testemunhas, por entender o órgão ministerial que a autoria e a materialidade estão comprovadas por vasta prova documental, a denúncia deve ser recebida.</p><p>Guilherme de Souza Nucci elenca algumas causas de inépcia da denúncia, a saber: a) descrição dos fatos de maneira truncada, lacunosa ou em desacordo com os dados constantes do inquérito; b) a inserção de coautores ou partícipes inexistentes na investigação policial; c) a narrativa tendente a firmar um determinado tipo penal, mas cuja conclusão aponta para outro (não se trata de mero erro de classificação, o que ensejaria aditamento da denúncia ou até mesmo objeto de emendatio libeli); d) a menção a elemento subjetivo calcado em dolo, porém com descrição dos elementos componentes da culpa (vice-versa); e) a introdução de jurisprudência ou referências doutrinárias (o réu se defende dos fatos alegados e não tem obrigação alguma de conhecer dados técnicos); f) a descrição muito extensa e detalhada do caso, de modo a tornar incompreensível o cerne da imputação; g) a descrição confusa e misturada de fatos típicos incriminadores diversos.</p><p>Falta de pressuposto processual (inciso II): os pressupostos processuais são os requisitos necessários para a existência e validade da relação processual para que o processo possa atingir o seu fim, sendo, portanto, de duas espécies: pressupostos processuais de existência e pressupostos processuais de validade.</p><p>A existência do processo penal está condicionada a dois fatores: que a demanda seja veiculada por uma peça acusatória e que o órgão esteja investido de jurisdição. Como pressuposto de validade, pode-se mencionar a inexistência de suspeição do magistrado, bem como a sua competência para decidir a causa, além da ausência de litispendência e coisa julgada.</p><p>Falta de condições da ação (inciso II): a denúncia ou a queixa será rejeitada quando faltar condições para o exercício da ação penal. As condições da ação são os requisitos exigidos pela lei para que o órgão acusatório, no exercício do seu direito de ação, consiga obter do Poder Judiciário uma análise quanto à existência da pretensão punitiva do Estado e a possibilidade de sua efetivação.</p><p>As condições da ação podem ser genéricas ou específicas. Dentre as genéricas, tem-se a possibilidade jurídica do pedido e o interesse de agir. As condições da ação específicas, também conhecidas como condições de procedibilidade, estão previstas de maneira esparsa na legislação, como, por exemplo, a exigência de representação do ofendido, requisição do Ministro da Justiça, ingresso do estrangeiro no território nacional no caso de extraterritorialidade</p><p>condicionada etc.</p><p>Falta de justa causa para a ação penal: a expressão justa causa é ampla, não sendo incomum a sua conceituação de formas diversas. A melhor diretriz é entendê-la como uma síntese das condições da ação, de modo que, consoante bem pondera Guilherme de Souza Nucci, o legislador poderia ter somente inserido o inciso III, que abrangeria o disposto nos incisos I e II, como também interpretá-la como a necessidade de um lastro probatório mínimo indispensável para a instauração de um processo penal (prova da materialidade e indícios de autoria).</p><p>De acordo com o artigo 581, inciso I, do CPP, o recurso cabível contra a rejeição da peça acusatória é o recurso em sentido estrito. Atenção quanto à previsão constante do artigo 82, da Lei 9.099/95, que estabelece, contudo, o recurso de apelação.</p><p>2.2. Recebimento da peça acusatória</p><p>O legislador processual não estabeleceu as hipóteses de recebimento da exordial acusatória, optando por prever as hipóteses em que ela não deverá ser recebida. Assim, se o juiz não rejeitar liminarmente a denúncia ou a queixa, pois não presentes as situações previstas no artigo 395, do CPP, a peça inaugural deverá ser recebida.</p><p>Estando apta a peça acusatória, preenchidas as condições da ação penal e havendo justa causa, deve o magistrado receber a denúncia ou a queixa. Assim fazendo, determina-se a citação do réu para oferecer resposta à acusação.</p><p>Acerca da motivação para o recebimento da exordial acusatória, prevalece na jurisprudência o entendimento de que o magistrado não está obrigado a fundamentar a decisão de recebimento, até mesmo para se evitar que eventual excesso na fundamentação acarrete indevida antecipação da análise do mérito. Na doutrina, Renato Brasileiro preleciona que, não obstante a desnecessidade de motivação, deve o juiz, ao menos, manifestar-se quanto à regularidade da peça acusatória, quanto à presença dos pressupostos processuais e das condições da ação.</p><p>O Código de Processo Penal, diferentemente do que ocorre com a decisão de rejeição da exordial acusatória, não prevê recurso contra o recebimento da denúncia. Em regra, portanto, essa decisão é irrecorrível. Os Tribunais admitem, em situações excepcionais, o trancamento do processo via habeas corpus quando há risco para a liberdade de locomoção, ou seja, para delitos punidos com pena privativa de liberdade. Para os demais, não puníveis nesses termos, admite-se mandado de segurança.</p><p>3. Citação do acusado</p><p>Recebida a peça acusatória, o acusado deve ser citado para oferecer resposta à acusação no prazo de 10 dias. A citação, amplamente estudada no Módulo 7, tema 7, deve ser feita pessoalmente, permitindo-se a citação por edital caso não seja encontrado.</p><p>No teor do artigo 366, do CPP, se o acusado, citado por edital, não comparecer, nem constituir advogado, ficarão suspensos o processo e o curso do prazo prescricional, podendo o juiz determinar a produção antecipada das provas consideradas urgentes e, se for o caso, decretar prisão preventiva, nos termos do disposto no art. 312.</p><p>4. Resposta à acusação</p><p>Não confundir resposta à acusação com defesa preliminar. A defesa preliminar, não prevista para o rito comum ordinário e sumário, deve ser ofertada depois do oferecimento da peça acusatória e antes do recebimento da denúncia. Esse é o ponto central para se diferenciar as duas formas de reação defensiva à peça acusatória.</p><p>Nos dizeres de Renato Brasileiro, a defesa ou resposta preliminar é uma oportunidade que o acusado tem de ser ouvido antes de o juiz receber a peça acusatória, objetivando impedir a instauração de um processo temerário. Esta peça defensiva visa evitar o processo como pena, isto é, impedir a instauração de processo leviano, com base em acusação que a apresentação de defesa preliminar antes do recebimento da denúncia possa, de logo, demonstrar de todo infundada.</p><p>A defesa preliminar está prevista para alguns procedimentos como na Lei de Drogas, nos Juizados Especiais Criminais, na Lei de improbidade administrativa, nos crimes funcionais afiançáveis, no procedimento originário dos Tribunais.</p><p>A resposta à acusação, prevista no artigo 396-A, do CPP, deve ser oferecida pela defesa técnica no prazo de 10 dias, após a citação do acusado. Esse prazo, conforme teor da Súmula 710, do STF, começa a fluir a partir da efetiva citação, e não da data da juntada aos autos do mandado ou da carta precatória.</p><p>O objetivo principal da resposta à acusação, considerando que a denúncia já foi recebida, é buscar a absolvição sumária. A par disso, a defesa deve arguir preliminares, oferecer documentos e justificações (causas excludentes da ilicitude), especificar as provas pretendidas e arrolar testemunhas, qualificando-as e requerendo sua intimação, quando necessário.</p><p>Neste momento processual, é importante à defesa ter estratégia, não sendo oportuno, muitas vezes, antecipar sua defesa de mérito em sede de resposta à acusação. Caso o causídico vislumbre não ter elementos suficientes nos autos para o acolhimento de eventual absolvição sumária, melhor resguardar uma possível tese de excludente de tipicidade para momento posterior, evitando que o órgão acusatório, ab initio, conduza a instrução processual colhendo elementos para afastar referida alegação.</p><p>Em relação às testemunhas (limite máximo de 8), elas devem ser arroladas na resposta à acusação, sob pena de preclusão temporal. É responsabilidade da defesa qualificá-las, não sendo suficiente indicar apenas o nome e sobrenome.</p><p>5. Absolvição sumária</p><p>Apresentada a resposta à acusação, os autos serão conclusos ao magistrado, que analisará possível absolvição sumária do réu, cujas hipóteses estão previstas no artigo 397, do CPP, quais sejam: existência manifesta de causa excludente da ilicitude do fato (inciso I); existência manifesta de causa excludente da culpabilidade do agente, salvo inimputabilidade (inciso II); fato narrado evidentemente não constitui crime (inciso III); extinta a punibilidade do agente (inciso IV).</p><p>Causa excludente da ilicitude: caso o advogado consiga provar ter o acusado agido em estado de necessidade, legítima defesa, estrito cumprimento de dever legal ou no exercício regular de direito (artigo 23, do CP), o juiz deverá absolvê-lo sumariamente. Conforme pondera Guilherme de Souza Nucci, é quase impossível que consiga o réu, em meras alegações, em resposta à acusação, apresentar uma contra-argumentação e uma contraprova tão fortes de modo a tornar manifesta a licitude de sua conduta. Essa situação somente ficaria clara o suficiente, em tese, após a devida instrução processual.</p><p>Causa excludente da culpabilidade, salvo inimputabilidade: são causas excludentes da culpabilidade que podem conduzir à absolvição sumária a coação moral irresistível, a obediência hierárquica, a inexigibilidade de conduta diversa, o erro de proibição e a embriaguez acidental.</p><p>Por expressa previsão legal, a inimputabilidade não conduz à absolvição sumária. Adverte Nucci acerca do equívoco legislativo ao excluir a possibilidade de absolvição sumária com aplicação de medida de segurança em virtude de comprovada inimputabilidade. O jurista exemplifica o caso de um exame de insanidade mental tenha sido realizado na fase investigatória e, posteriormente, o órgão acusatório ingressou com a denúncia, objetivando a absolvição com aplicação de medida de segurança. Se, na resposta à acusação, houver pedido expresso para que se reconheça a doença mental, aplicando-se a medida de segurança, o magistrado deveria absolver sumariamente o réu, impondo a medida cabível.</p><p>De maneira diversa, o entendimento de Renato Brasileiro, segundo o qual o inimputável, no âmbito do procedimento comum, não pode ser absolvido sumariamente, ainda que seja esta sua única tese defensiva, porquanto a imposição de medida de segurança pressupõe a existência de um devido processo legal no qual tenha sido reconhecida a tipicidade e a ilicitude de sua conduta. Deve-se permitir ao acusado que se defenda ao longo do processo para demonstrar sua inocência. Assim, não seria possível uma</p><p>absolvição sumária imprópria.</p><p>Fato narrado evidentemente não constitui crime: são os casos de reconhecimento de atipicidade formal ou material da conduta delituosa.</p><p>Extinta a punibilidade do agente: é assente na doutrina o equívoco legislativo ao inserir, dentre as hipóteses de absolvição sumária, a extinção da punibilidade. Isto porque, a teor do artigo 61, do CPP, é dever do magistrado, em qualquer fase do processo, declarar de ofício caso verifique alguma causa de extinção da punibilidade. Assim, trata-se de uma decisão declaratória de extinção da punibilidade e não de uma decisão absolutória.</p><p>Não à toa a súmula 18, do STJ, que preceitua “a sentença concessiva do perdão judicial é declaratória da extinção da punibilidade, não subsistindo qualquer efeito condenatório”.</p><p>O recurso adequado contra a absolvição sumária, na esteira do artigo 593, inciso I, do CPP, é a apelação.</p><p>Caso o magistrado, conforme bem observa Renato Brasileiro, refute os argumentos expendidos pela defesa na resposta à acusação e não absolva sumariamente o acusado, determinando o prosseguimento do feito com a designação da audiência una de instrução e julgamento, a defesa terá a possibilidade de buscar o trancamento do processo via habeas corpus ou mandado de segurança.</p><p>6. Designação da audiência una de instrução e julgamento</p><p>Estabelece o artigo 399, do CPP, que recebida a denúncia ou queixa, o juiz designará dia e hora para a audiência, ordenando a intimação do acusado, de seu defensor, do Ministério Público e, se for o caso, do querelante e do assistente.</p><p>Conforme comentários acima tecidos acerca da impropriedade da expressão “recebida a denúncia”, não se trata de um segundo recebimento da peça acusatória, devendo o dispositivo ser lido da seguinte forma: tendo sido recebida a denúncia ou a queixa, nos moldes do artigo 396, caput, e não tendo havido absolvição sumária, nos termos do artigo 397, deve o juiz prosseguir com a instrução, designando dia e hora para a audiência, intimando-se as partes.</p><p>O § 1º, do artigo 399, do CPP, determina a requisição de acusado preso para comparecer ao interrogatório, cabendo ao poder público sua apresentação. Importante ter em mente que, caso o réu preso queira participar da audiência, mas não foi apresentado pelo Estado, a audiência deve ser adiada para outra data, sob pena de nulidade absoluta.</p><p>O § 2º, do artigo 399, do CPP, ao seu turno, prevê o princípio da identidade física do juiz, consoante o qual “o juiz que presidiu a instrução deverá proferir a sentença”. No entanto, é assente na doutrina e jurisprudência a relativização desse princípio em hipóteses excepcionais de afastamentos temporários (férias, licenças) ou definitivos (promoção) de magistrados, aplicando-se, por analogia, a previsão do artigo 132, do antigo CPC (ultratividade dessa previsão).</p><p>7. Audiência una de instrução e julgamento</p><p>Conforme dicção do artigo 400, do CPP, na audiência de instrução e julgamento, a ser realizada no prazo máximo de 60 (sessenta) dias, proceder-se-á à tomada de declarações do ofendido, à inquirição das testemunhas arroladas pela acusação e pela defesa, nesta ordem, ressalvado o disposto no art. 222 deste Código, bem como aos esclarecimentos dos peritos, às acareações e ao reconhecimento de pessoas e coisas, interrogando-se, em seguida, o acusado.</p><p>À evidência, o prazo de 60 dias é impróprio, inexistindo qualquer sanção em caso de descumprimento. O que pode ocorrer, no caso de réu preso, é constrangimento ilegal por excesso de prazo, a ser discutido via habeas corpus, permitindo que o acusado responda ao processo em liberdade.</p><p>Deve-se respeitar a ordem de inquirição estabelecida em lei, inovando o CPP ao prever, corretamente, o interrogatório do acusado ao final, após colhida as declarações do ofendido e as provas testemunhais.</p><p>A inversão da ordem é permitida no caso de expedição de carta precatória ou quando houver concordância das partes. Caso o magistrado inverta a ordem, a parte interessada deverá demonstrar o prejuízo, pois trata-se de nulidade relativa.</p><p>O § 1º, do artigo em tela, prevê que as provas serão produzidas numa só audiência, podendo o juiz indeferir as consideradas irrelevantes, impertinentes ou protelatórias. Conforme entendimento de Guilherme de Souza Nucci, não há que se deferir a realização de qualquer espécie de prova considerada irrelevante (desnecessária para a apuração da verdade relacionada à imputação), impertinente (desviada do foco principal da causa, embora possa ser importante para outros fins) ou protelatórias (repetida ou já demonstrada por outras provas anteriormente produzidas. Eventual indeferimento, por óbvio, deve ser sempre fundamentado.</p><p>Estabelece o artigo 401, § 1º, do CPP, que as partes podem arrolar 8 testemunhas cada uma. Não se computam nesse número a vítima, as pessoas que, não obstante tenham sido indicadas, nada sabem sobre os fatos, e as testemunhas referidas, aquelas que não prestam compromisso. A parte que arrolou a testemunha pode desistir de sua oitiva, consoante autoriza o § 2º, do artigo 401. No entanto, como o magistrado pode inquirir quem entender necessário, a testemunha dispensada pela parte poderá ser ouvida.</p><p>O artigo 402, do CPP, abre a possibilidade de as partes requererem diligências a partir dos elementos produzidos durante a audiência de instrução, não constantes dos autos, a saber: produzidas as provas, ao final da audiência, o Ministério Público, o querelante e o assistente e, a seguir, o acusado poderão requerer diligências cuja necessidade se origine de circunstâncias ou fatos apurados na instrução.</p><p>Esse artigo deve ser interpretado em conjunto com o artigo 404, do CPP, consoante o qual ordenado diligência considerada imprescindível, de ofício ou a requerimento da parte, a audiência será concluída sem as alegações finais. Como se percebe, em observância ao princípio da busca da verdade, o próprio juiz, inclusive, independentemente do requerimento das partes, pode determinar a realização de diligências consideradas imprescindíveis ao esclarecimento do fato criminoso.</p><p>Caso existente a fase de diligência ao final da audiência, as alegações deverão ser apresentadas de forma escrita, como estabelece o parágrafo único, do artigo 404, a saber: realizada, em seguida, a diligência determinada, as partes apresentarão, no prazo sucessivo de 5 (cinco) dias, suas alegações finais, por memorial, e, no prazo de 10 (dez) dias, o juiz proferirá a sentença.</p><p>O artigo 403 prossegue a instrução quando inexistentes diligências ou, caso requeridas, sejam indeferidas, momento em que, na própria audiência, as partes deverão oferecer alegações finais orais por 20 minutos, prorrogáveis por mais 10 minutos, proferindo o juiz, a seguir, a sentença. Na hipótese de concurso de agentes, o prazo estipulado é individual. Ao assistente do Ministério Público, após a manifestação desse, serão concedidos 10 minutos, prorrogandose por igual período o tempo de manifestação da defesa.</p><p>O princípio da oralidade é a regra no procedimento comum, podendo o magistrado converter em memoriais (alegações por escrito) a depender da complexidade do caso, do número de acusados e do deferimento de diligências que não possam ser concluídas na própria audiência. Nesse caso, o juiz terá o prazo de 10 dias para proferir a sentença.</p><p>QUESTÃO 1-Com fundamento em inquérito policial, o representante do Ministério Público ofereceu denúncia contra determinada pessoa, classificando o fato delituoso como aquele previsto no caput do artigo 155 do CP. O juiz, em decisão interlocutória, entendendo que a peça inicial atendia aos requisitos formais previstos no artigo 41 do CPP, proferiu o seguinte despacho: “recebo a denúncia”. Em seguida, determinou a regular citação do réu, indicando data para o interrogatório e intimando o Ministério Público para o ato processual.</p><p>Indaga-se: a decisão proferida pelo magistrado está de acordo com os preceitos constitucionais e legais? Qual medida de impugnação seria cabível?</p><p>RESPOSTA 1-É assente na doutrina e jurisprudência a desnecessidade</p><p>de motivação para o recebimento da peça acusatória, encontrando-se escorreita a decisão proferida. Presume-se que, acompanhada de provas pré-constituídas, o juiz delas tenha se valido para analisar a existência de justa causa para a ação penal.</p><p>Nesse sentido, recente julgado do STJ, a saber: “(...) 3. No que concerne à nulidade da decisão que recebeu a denúncia, verifico que igualmente não merece prosperar a irresignação do recorrente. Com efeito, conforme firmado pelo Superior Tribunal de Justiça em consonância com o entendimento do Supremo Tribunal Federal, tem-se que na fase do art. 395 do Código de Processo Penal, ou seja, antes da citação do acusado, bastaria uma fundamentação concisa acerca dos requisitos do art. 41 do referido diploma legal, até mesmo para evitar o pré julgamento da ação penal. Dessa forma, não há constrangimento ilegal na hipótese dos autos, uma vez que efetivamente afirmada pelo Magistrado de origem, por ocasião do recebimento da denúncia, a presença dos requisitos do art. 41 do Código de Processo Penal. 4. Recurso em habeas corpus improvido.” (STJ, RHC 75.487/ES, Rel. Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA, QUINTA TURMA, julgado em 21/09/2017, DJe 27/09/2017).</p><p>O Código de Processo Penal, diferentemente do que ocorre com a decisão de rejeição da exordial acusatória, não prevê recurso contra o recebimento da denúncia. Em regra, portanto, essa decisão é irrecorrível. Os Tribunais admitem, em situações excepcionais, o trancamento do processo via habeas corpus quando há risco para a liberdade de locomoção, ou seja, para delitos punidos com pena privativa de liberdade. Para os demais, não puníveis nesses termos, admite-se mandado de segurança.</p><p>QUESTÃO 2-No rito do procedimento comum ordinário, constata-se, imediatamente após o oferecimento da resposta escrita à acusação, que existe em favor do acusado manifesta causa de exclusão da ilicitude. Nesse caso, o magistrado deve proceder à:</p><p>RESPOSTA 2- absolvição sumária do acusado</p><p>Fundamentação: Não rejeitada a peça acusatória, o acusado é citado para que, no prazo de 10 dias, ofereça resposta à acusação. Ofertada a resposta, os autos serão conclusos ao juiz para verificar se é caso de absolvição sumária, nos termos do artigo 397, do CPP.</p><p>Aula II – Procedimento Comum Sumário</p><p>RESUMO</p><p>Procedimento Comum Sumário</p><p>Conforme estudado em aula anterior, aplica-se o procedimento comum sumário às infrações penais cuja pena máxima cominada em abstrato seja inferior a 4 anos de pena privativa de liberdade, que não constituírem infrações de menor potencial ofensivo (artigo 394, § 1º, inciso II, CPP).</p><p>O artigo 538 encerra o capítulo V, do Título I, Livro II, ao estabelecer expressamente que nas infrações penais de menor potencial ofensivo, quando o Juizado Especial Criminal encaminhar ao juízo comum as peças existentes para a adoção de outro procedimento, observar-se-á o procedimento sumário previsto neste Capítulo.</p><p>Disso extrai-se a possibilidade de aplicação do rito sumário às infrações de menor potencial ofensivo, submetidas, em regra, ao procedimento sumaríssimo. Preceitua Renato Brasileiro1 que esta remessa dos autos dos Juizados para o Juízo comum poderá ocorrer nas seguintes hipóteses: Quando o acusado não for encontrado para ser citado, à medida que não se admite citação por edital nos Juizados;</p><p>Quando a complexidade ou circunstâncias do caso concreto não permitirem a formulação de denúncia.</p><p>Continua o autor ao esclarecer que, malgrado a adoção do rito sumário, os institutos despenalizadores da Lei 9.099/95 (transação penal, suspensão condicional do processo etc) continuam a ser aplicados desde que preenchidos seus respectivos requisitos legais. Importante lembrar que eventuais recursos interpostos contra as decisões do juízo comum serão apreciados pelo Tribunal de Justiça ou pelo Tribunal Regional Federal, e não pelas Turmas Recursais dos Juizados.</p><p>Diferenças entre o procedimento comum ordinário e o procedimento comum sumário</p><p>O artigo 394, § 5º, do CPP, é categórico ao prever que as disposições do procedimento comum ordinário são aplicáveis subsidiariamente ao procedimento sumário, cujo rito está regulamentado entre os artigos 531 e 538, do CPP, estabelecendo, em verdade, somente as diferenças entre os procedimentos.</p><p>Assim, inaugura-se o procedimento comum sumário nos mesmos moldes estabelecidos para o rito ordinário: oferecimento da peça acusatória, rejeição liminar (artigo 395, CPP) ou recebimento da exordial (artigo 396, CPP), citação do acusado, apresentação de resposta à acusação (art. 396-A, CPP), análise de possível absolvição sumária (art. 397, CPP), designação de audiência uma e intimação das partes (art. 399, CPP).</p><p>As diferenças entre os mencionados procedimentos situam-se basicamente nos prazos, já que o objetivo do rito sumário é simplificar a finalização do procedimento comum.</p><p>Renato Brasileiro indica, com precisão, as diferenças entre os procedimentos ordinário e sumário, a saber:</p><p>No procedimento comum ordinário a audiência una de instrução e julgamento deve ser realizada no prazo máximo de 60 dias a partir do despacho do magistrado ao designar a audiência (dies a quo). No sumário, esse prazo é reduzido para 30 dias, conforme consta do artigo 531, do CPP:</p><p>Na audiência de instrução e julgamento, a ser realizada no prazo máximo de 30 (trinta) dias, proceder-se-á à tomada de declarações do ofendido, se possível, à inquirição das testemunhas arroladas pela acusação e pela defesa, nesta ordem, ressalvado o disposto no art. 222 deste Código, bem como aos esclarecimentos dos peritos, às acareações e ao reconhecimento de pessoas e coisas, interrogando-se, em seguida, o acusado e procedendo-se, finalmente, ao debate.</p><p>O número de testemunhas é alterado, sendo facultado às partes, no procedimento ordinário, a indicação de até 8 testemunhas, ao passo que, para o sumário, a quantidade é de até 55 .</p><p>No procedimento ordinário, o artigo 402, do CPP, autoriza o requerimento de diligências cuja necessidade se origine de circunstâncias ou fatos apurados durante a instrução. No sumário, inexiste semelhante previsão. Não obstante, com base no princípio da busca da verdade, em situações excepcionais, o juiz pode deferir a produção de alguma prova, desde que comprovada sua imprescindibilidade.</p><p>No procedimento comum ordinário as alegações finais orais podem ser convertidas em memoriais diante de três situações: (i) complexidade do caso; (ii) número de acusados; (iii) ordenada a realização de diligência considerada imprescindível ao julgamento da causa. No procedimento comum sumário, nos estreitos limites da lei, somente há previsão de alegações finais orais. Entretanto, na prática, é possível que o magistrado, por analogia, substitua as alegações orais por memoriais, valendo-se das hipóteses autorizadoras do procedimento ordinário.</p><p>QUESTÃO 1-Após representação da vítima, o Ministério Público apresentou denúncia em face do réu por ter ele ameaçado a sua esposa de morte durante uma briga de casal. Qual o procedimento aplicável ao caso em apreço, considerando que o preceito secundário do artigo 147, do CP, prevê penas de 1 a 6 meses ou multa.</p><p>RESPOSTA 1-Em tese, tratando-se de pena máxima inferior a 2 anos, o procedimento cabível seria o sumaríssimo, nos termos do artigo 394, § 1º, inciso III, do Código de Processo Penal, c.c. o artigo 61, da Lei 9.099/95.</p><p>Ocorre que, por expressa previsão legal constante do artigo 41, da Lei 11.340/06, que afasta o</p><p>rito sumaríssimo para as infrações penais praticadas no contexto de violência doméstica e</p><p>familiar contra a mulher, o procedimento aplicável, in casu, será o sumário.</p><p>QUESTÃO 2-Assinale a alternativa em que consta aspecto que diferencia o procedimento comum ordinário do procedimento comum sumário.</p><p>RESPOSTA 2-O número máximo de testemunhas a serem ouvidas a requerimento da acusação e da defesa.</p><p>Fundamentação- Nos termos do Art 406, §§2º e 3º do CPP e art. 532 do CPP.</p><p>Aula III – Procedimento Comum Sumaríssimo</p><p>RESUMO</p><p>Procedimento Comum Sumaríssimo</p><p>O procedimento comum sumaríssimo é aplicável,</p><p>consoante determina o artigo 394, § 1º, inciso III, do CPP, às infrações de menor potencial ofensivo. Entende-se como infração de menor potencial ofensivo, a teor do artigo 611 , da Lei 9.099/95, as contravenções penais e os crimes a que a lei comine pena máxima não superior a 2 anos (leia-se até 2 anos), cumulada ou não com multa, ressalvadas as hipóteses de violência doméstica e familiar contra a mulher2 .</p><p>É preciso ter atenção para as causas de modificação da competência dos Juizados, quando, apesar de se tratar de infração de menor potencial ofensivo e, assim, em tese, sujeita ao procedimento sumaríssimo, será processado perante a Justiça comum, sob novo rito. Dessa forma, as infrações de menor potencial ofensivo serão processadas de acordo com o procedimento sumaríssimo (perante os Juizados) se inexistirem circunstâncias que desloquem a competência para o juízo comum, quais sejam:</p><p>a) Impossibilidade de citação pessoal do acusado – artigo 66, parágrafo único, da Lei 9.099/95: “Não encontrado o acusado para ser citado, o Juiz encaminhará as peças existentes ao Juízo comum para adoção do procedimento previsto em lei”, em interpretação sistemática com o artigo 538, do CPP: “Nas infrações penais de menor potencial ofensivo, quando o juizado especial criminal encaminhar ao juízo comum as peças existentes para a adoção de outro procedimento, observar-se-á o procedimento sumário previsto neste Capítulo.”</p><p>b) Complexidade da causa – artigo 77, § 2º, da Lei 9.099/95: “Se a complexidade ou circunstâncias do caso não permitirem a formulação da denúncia, o Ministério Público poderá requerer ao Juiz o encaminhamento das peças existentes, na forma do parágrafo único do art. 66 desta Lei”.</p><p>c) Conexão ou continência – artigo 60, parágrafo único: “Na reunião de processos, perante o juízo comum ou o tribunal do júri, decorrentes da aplicação das regras de conexão e continência, observar-se-ão os institutos da transação penal e da composição dos danos civis”.</p><p>1. Início da ação penal</p><p>A fase judicial do procedimento sumaríssimo inicia-se a partir do artigo 77, da Lei 9.099/95, segundo o qual “na ação penal de iniciativa pública, quando não houver aplicação de pena, pela ausência do autor do fato, ou pela não ocorrência da hipótese prevista no art. 76 desta Lei, o Ministério Público oferecerá ao Juiz, de imediato, denúncia oral, se não houver necessidade de diligências imprescindíveis.</p><p>Essa disposição anuncia que, caso não sejam alcançadas a composição dos danos civis (artigos 72 a 74) e a transação penal (artigo 76), cabe ao Ministério Público oferecer, desde logo, em homenagem à celeridade, simplicidade e informalidade, a denúncia oralmente ao juiz. Assim, inicia-se a ação penal.</p><p>Frustrada a fase preliminar, entendida como o ato precedente ao início da ação penal, em que as partes terão à disposição o ressarcimento civil dos danos e/ou a transação penal, seja pela ausência do agente do fato, do não preenchimento dos requisitos legais ou pela não aceitação da proposta, abre-se ao órgão acusatório algumas opções, conforme bem acentua Renato Brasileiro, a saber:</p><p>Requisição de diligências imprescindíveis, devolvendo-se os autos à Polícia;</p><p>Nos termos do artigo 77, § 2º e § 3º, se a complexidade ou circunstâncias do caso não permitirem a formulação da denúncia, o Ministério Público poderá requerer ao juiz a remessa dos autos ao juízo comum. O mesmo ocorrerá se o acusado não for encontrado.</p><p>Arquivamento dos autos.</p><p>Oferecimento de denúncia oral</p><p>2. Oferecimento de denúncia oral, reduzida, posteriormente, a termo</p><p>Lei 9.099/95, Art. 78. Oferecida a denúncia ou queixa, será reduzida a termo, entregando se cópia ao acusado, que com ela ficará citado e imediatamente cientificado da designação de dia e hora para a audiência de instrução e julgamento, da qual também tomarão ciência o Ministério Público, o ofendido, o responsável civil e seus advogados.</p><p>§ 1º Se o acusado não estiver presente, será citado na forma dos arts. 66 e 68 desta Lei e cientificado da data da audiência de instrução e julgamento, devendo a ela trazer suas testemunhas ou apresentar requerimento para intimação, no mínimo cinco dias antes de sua realização.</p><p>§ 2º Não estando presentes o ofendido e o responsável civil, serão intimados nos termos do art. 67 desta Lei para comparecerem à audiência de instrução e julgamento.</p><p>§ 3º As testemunhas arroladas serão intimadas na forma prevista no art. 67 desta Lei.</p><p>A peça acusatória (denúncia ou queixa) deve ser apresentada com fiel observância aos requisitos constantes do artigo 41, do CPP, em nada se diferenciando dos demais procedimentos. Assim, deve conter a exposição do fato criminoso, qualificação do acusado, classificação do crime e rol de testemunhas.</p><p>Discussão existe em torno do limite máximo de testemunhas que podem ser arroladas no procedimento sumaríssimo, diante da omissão legislativa, havendo quem defenda o limite de 5, outros, o patamar de 3 testemunhas.</p><p>Melhor posição é apresentada por Guilherme de Souza Nucci que entende o limite máximo de 5 testemunhas, à medida que o Código de Processo Penal confere o número de 8 testemunhas para crimes com sanção máxima cominada igual ou superior a quatro anos e 5 testemunhas para os crimes com sanção máxima cominada inferior a quatro anos de pena privativa de liberdade. Em relação às contravenções penais, a legislação processual determina a adoção do procedimento sumário nos casos de remessa ao juízo comum e, assim, nada mais natural a adoção, nos Juizados, desse teto de 5 testemunhas.</p><p>Em sentido contrário, o posicionamento de Renato Brasileiro ao defender o limite máximo de 3 testemunhas, valendo-se do critério da simetria (8 testemunhas no procedimento ordinário; 5 testemunhas no procedimento sumário) e aplicando-se, subsidiariamente, por analogia, o procedimento do Juizado Especial Cível, artigo 34.</p><p>Oferecida a denúncia, será reduzida a termo, especialmente para poder entregar uma cópia ao autor do fato, garantindo-se o seu direito à ampla defesa7 , que da audiência preliminar saíra citado e ciente da designação de dia e hora da audiência de instrução e julgamento.</p><p>3. Audiência de instrução e julgamento</p><p>Lei 9.099/95, Art. 79. No dia e hora designados para a audiência de instrução e julgamento, se na fase preliminar não tiver havido possibilidade de tentativa de conciliação e de oferecimento de proposta pelo Ministério Público, proceder-se-á nos termos dos arts. 72, 73, 74 e 75 desta Lei. Art. 80. Nenhum ato será adiado, determinando o Juiz, quando imprescindível, a condução coercitiva de quem deva comparecer.</p><p>O artigo 79, da Lei 9.099/95, confere nova oportunidade para a composição e a transação, antes de iniciada a audiência de instrução e julgamento. O juiz, antes de iniciada a instrução, pode, novamente, propor aos presentes a conciliação, nas esferas civil e penal. Observa Guilherme de Souza Nucci, no entanto, que, na prática, é difícil, não tendo o Ministério Público oferecido proposta de transação anteriormente, resolva fazê-lo na abertura da audiência de instrução e julgamento, quando já há denúncia ofertada. Mas, isso não significa que não seja possível que o autor do fato, não tendo aceitado, antes, as condições ofertadas pelo órgão acusatório, tenha mudado de ideia e resolva fazê-lo naquele momento. Assim sendo, o juiz pode homologar a transação e colocar fim ao procedimento.</p><p>4. Defesa preliminar</p><p>Art. 81. Aberta a audiência, será dada a palavra ao defensor para responder à acusação, após o que o Juiz receberá, ou não, a denúncia ou queixa; havendo recebimento, serão ouvidas a vítima e as testemunhas de acusação e defesa, interrogando-se a seguir o acusado, se presente, passando-se imediatamente aos debates orais e à prolação da sentença.</p><p>§ 1º Todas as provas serão produzidas na audiência de instrução e julgamento, podendo o Juiz limitar ou excluir as que considerar excessivas, impertinentes ou protelatórias.</p><p>§ 2º De todo o ocorrido na audiência será lavrado termo, assinado pelo Juiz e pelas partes, contendo breve resumo</p><p>dos fatos relevantes ocorridos em audiência e a sentença.</p><p>§ 3º A sentença, dispensado o relatório, mencionará os elementos de convicção do Juiz.</p><p>Consoante se extrai do caput, do artigo 81, da Lei 9.099/95, o legislador conferiu à defesa a oportunidade de se manifestar antes que o magistrado receba a peça acusatória. Essa defesa, conforme já estudado, não se confunde com a resposta à acusação, prevista para o procedimento comum ordinário e sumário.</p><p>O objetivo da apresentação de defesa preliminar é convencer o magistrado da presença de alguma das hipóteses de rejeição da peça acusatória, dispostas no artigo 395, do CPP: inépcia da inicial, ausência de pressupostos processuais ou condições da ação e falta de justa causa para o exercício da ação penal. Além disso, como no procedimento sumaríssimo não há previsão de oferecimento da resposta à acusação, tendo a defesa uma única oportunidade de se manifestar antes dos debates orais, é possível que, na própria defesa preliminar, apresente também argumento visando à absolvição sumária do acusado.</p><p>5. Rejeição ou recebimento da peça acusatória</p><p>Rejeitada a peça acusatória, o recurso cabível contra essa decisão é a apelação, conforme previsão no artigo 82, da Lei dos Juizados Especiais Criminais, diversamente do instrumento de impugnação previsto para o procedimento comum, que é o RESE.</p><p>Ausentes qualquer das hipóteses do artigo 395 e 397, do CPP, o magistrado deve receber a denúncia, dando início à instrução.</p><p>6. Instrução processual</p><p>Em primeiro lugar, colhe-se o depoimento da vítima, seguido da oitiva das testemunhas de acusação, defesa e, ao final, do interrogatório do acusado, passando-se, imediatamente, aos debates orais e à prolação de sentença.</p><p>QUESTÃO 1-João, denunciado como incurso no artigo 33, caput, da Lei 11.343/06, respondendo ao processo em liberdade, foi condenado, ao final da instrução processual, às penas de 1 ano e 8 meses de reclusão, em regime aberto, e pagamento de 166 dias-multa pelo delito de tráfico ilícito de entorpecentes. O seu advogado recorreu da decisão, sendo a apelação julgada parcialmente procedente. O Tribunal de Justiça desclassificou a conduta de João para o tipo penal previsto no artigo 28, da Lei 11.343/06 (porte de droga para consumo pessoal), impondo lhe pena de advertência. Agiu corretamente o Tribunal?</p><p>RESPOSTA 1-O delito previsto no artigo 28, da Lei de Drogas, é de menor potencial ofensivo, sujeito ao rito sumaríssimo e aos institutos despenalizadores. Dessa forma, realizada a desclassificação da conduta, nos moldes do caso apresentado, o Tribunal, por não ter competência, deverá remeter os autos ao Jecrim até mesmo para o oferecimento de proposta de transação penal.</p><p>QUESTÃO 2-Em matéria de procedimento dos Juizados Especiais Criminais, é correto afirmar:</p><p>RESPOSTA 2-Poderá ser dispensado o exame de corpo de delito quando a materialidade do crime estiver aferida por boletim médico ou prova equivalente.</p><p>Fundamentação: Artigo 77, § 1º, da Lei 9.099/95.</p><p>Aula IV – Procedimentos Especiais</p><p>RESUMO</p><p>Introdução</p><p>São de tramitação especial os crimes dolosos contra a vida (artigos 406 a 497), os crimes de responsabilidade dos funcionários públicos (artigos 513 a 518), os crimes contra a honra (artigos 519 a 523), os crimes contra a propriedade imaterial (artigos 524 a 530-I) e os crimes previstos na Lei de Drogas (Lei 11.343/06). Observa-se que o procedimento especial está contemplado tanto no Código de Processo Penal quanto em legislação extravagante. Conforme estudado em aula anterior, de acordo com o artigo 394, § 5º, do CPP, o procedimento comum ordinário é aplicável aos procedimentos especiais em caráter subsidiário, com destaque aos artigos 395 a 397 (artigo 389 foi revogado), aplicáveis a todos os procedimentos.</p><p>Do Processo e do Julgamento dos Crimes de Responsabilidade dos Funcionários Públicos (artigos 513 a 518, CPP)</p><p>Art. 513. Os crimes de responsabilidade dos funcionários públicos, cujo processo e julgamento competirão aos juízes de direito, a queixa ou a denúncia será instruída com documentos ou justificação que façam presumir a existência do delito ou com declaração fundamentada da impossibilidade de apresentação de qualquer dessas provas.</p><p>A priori, insta consignar o equívoco legislativo ao optar pela denominação “crimes de responsabilidade dos funcionários públicos”, pois, conforme bem observa Guilherme de Souza Nucci, referida expressão é inexata, não correspondente com o que o Código de Processo Penal, neste Capítulo, tem por fim regular. Os crimes de responsabilidade de funcionários públicos são infrações político-administrativas, normalmente julgadas por órgãos políticos (Senado Federal, Assembleia do Estado, Câmara Municipal), cuja penalidade é a perda do cargo, função pública ou inabilitando o réu ao exercício por certo período. O Capítulo em tela destina-se apenas aos delitos cometidos por funcionários públicos, no exercício de sua função, tratando-se de crimes funcionais, contemplados pelos artigos 312 a 326, do Código Penal. A dispensabilidade do inquérito policial deve ser interpretada com ressalvas, sendo sempre mais indicado que a denúncia seja precedida de apurada investigação criminal, a fim de se evitar grave situação de constrangimento ilegal, admitindo-se uma ação sem lastro suficiente.</p><p>Art. 514. Nos crimes afiançáveis, estando a denúncia ou queixa em devida forma, o juiz mandará autuá-la e ordenará a notificação do acusado, para responder por escrito, dentro do prazo de quinze dias. Parágrafo único. Se não for conhecida a residência do acusado, ou este se achar fora da jurisdição do juiz, ser-lhe-á nomeado defensor, a quem caberá apresentar a resposta preliminar.</p><p>Anuncia o artigo 514, do CPP, que os crimes funcionais afiançáveis estarão submetidos ao referido procedimento especial. Todos os delitos dispostos entre os artigos 312 e 326, do CP, são, em tese, afiançáveis, pois não compreendidos pelo artigo 3232 , do CPP, e, portanto, sujeitos ao rito especial.</p><p>Nesse saber, a explicação de Renato Brasileiro no sentido de que só há necessidade de apresentação de defesa preliminar a que se refere o art. 514 do CPP em relação aos crimes funcionais afiançáveis. Em se tratando de crimes inafiançáveis, não se faz necessária a observância da defesa preliminar. Até pouco tempo atrás, tínhamos como exemplos de crimes inafiançáveis o excesso de exação e a facilitação de contrabando ou descaminho, cujas penas são de reclusão de 3 a 8 anos. Por força da antiga redação do artigo 323, I, do CPP, tais crimes eram inafiançáveis, já que a pena mínima a eles cominada era superior a 2 anos. Ocorre que, com as mudanças produzidas pela Lei 12.403/11, todos os crimes funcionais passaram a ser afiançáveis. Logo, é de se concluir que a necessidade de notificação do agente público para fins de apresentação de defesa preliminar passou a ser aplicável a todo e qualquer crime funcional típico, inclusive o excesso de exação e a facilitação de contrabando ou descaminho.</p><p>Encontrando-se a peça acusatória em ordem e autuada, o magistrado ordenará a notificação do acusado para que apresente sua defesa preliminar no prazo de 15 dias.</p><p>Renato Brasileiro, em análise aprofundada sobre o assunto, discorre que a defesa preliminar prevista no artigo 514, do CPP, tem em mira o fato de o funcionário estar sujeito a perseguições em virtude do cumprimento de seus deveres funcionais. Portanto, a observância desse procedimento não se estende ao particular que seja corréu. Na mesma linha, é dominante o entendimento no sentido de que a defesa preliminar a que se refere o artigo 514 do CPP só é necessária enquanto o acusado for funcionário público, de modo que, se demitido ou exonerado, por exemplo, será dispensável a defesa preliminar.</p><p>O objetivo dessa manifestação prévia do acusado é apresentar argumentos capazes de conduzir à inviabilidade da ação penal, já que, para este procedimento, o inquérito policial não é prescindível.</p><p>É assente na jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, a teor da súmula 330, a dispensabilidade</p><p>razoabilidade. Ordem denegada."(HC 990.10.263145-1, 16.ª C., rel. Almeida Toledo, j. 21.09.2010, v. u.); "Habeas Corpus. Tráfico de entorpecentes. Prisão preventiva. Excesso de prazo. Inocorrência. Processo que tem seu trâmite regular. Paciente que se encontra preso no Estado do Rio de Janeiro. Expedição de cartas precatória para interrogatório e oitiva de testemunhas. Instauração de incidente de insanidade mental e de dependência químico-toxicológica a pedido da Defesa. Arrolamento de nove testemunhas de acusação. Necessidade de adequação. Razoabilidade e proporcionalidade no trâmite da instrução verificadas. Relaxamento indeferido. Ordem denegada" (HC 990.10.384884-5, 16.ª C., rel. Almeida Toledo, j. 26.10.2010, v.u.); "Habeas Corpus - Excesso de prazo - Não ocorrência - Prisão preventiva - Tráfico ilícito de entorpecentes e associação para tal - Crimes complexos que se entrelaçam entre si e que teriam sido praticados por 58 réus, em vários municípios dentro do sistema prisional - Morosidade do feito dentro da razoabilidade do possível e plenamente justificado - Dedicação do Juízo acima do normal para a concretização do processo - Instrução já encerrada faltando apenas a efetivação de perícias solicitadas pelo paciente e outros dois acusados - Precedentes - Ordem denegada" (HC 990.10.227482-9, 16.ª C., rel. Pedro Menin, 21.09.2010, v.u.) TJPI: "É pacífico e iterativo o entendimento, segundo o qual o prazo estipulado pela doutrina e jurisprudência, para o término da instrução criminal, não deve ser interpretado de forma peremptória ou definitiva, havendo a necessidade de se cotejar o tempo de segregação cautelar do acusado comas circunstâncias fáticas e a complexidade, relativas ao crime e ao processo" (HC201000010058822-PI, 1.ª C.E.C., rel. Raimundo Nonato da Costa Alencar, j. 07.12.2010, v.u.). Ver anota 22 ao art. 648, com menção à jurisprudência dominante. (Código de Processo Penal Comentado, 16ª ed., Forense)</p><p>Ainda sobre o prazo da prisão preventiva tem-se as seguintes súmulas:</p><p>STJ, súmula 21: Pronunciado o réu, fica superada a alegação do constrangimento ilegal da prisão por excesso de prazo na instrução.</p><p>STJ, súmula 52: Encerrada a instrução criminal, fica superada a alegação de constrangimento por excesso de prazo.</p><p>STJ, súmula 64: Não constitui constrangimento ilegal o excesso de prazo na instrução, provocado pela defesa.</p><p>A prisão preventiva poderá ser decretada nas seguintes hipóteses:</p><p>• Crimes dolosos com pena máxima superior a 4 anos (art. 313, I).</p><p>• Réu reincidente em crime doloso (art. 313, II).</p><p>• Casos de violência doméstica para assegurar as medidas protetivas de urgência (art. 313, III).</p><p>• Quando houver dúvida sobre a identidade civil da pessoa ou quando esta não fornecer elementos suficientes (art. 313, § 1º).</p><p>• Descumprimento das medidas cautelares (art. 312, § 1º).</p><p>QUESTÃO 1-Auro, primário e sem antecedentes, foi preso em flagrante pelo delito de estelionato tentado. Ao analisar os autos do inquérito, o magistrado entendeu pela conversão do flagrante em preventiva, posto tratar-se de tentativa de estelionato de valor superior a meio milhão de reais.</p><p>Agiu corretamente o magistrado? O que pode ser alegado em favor de Auro?</p><p>RESPOSTA 1-Não agiu com acerto o magistrado.</p><p>O estelionato possui pena máxima de 5 anos de reclusão, contudo, trata-se de estelionato tentado, ou seja, haverá a redução de 1/3 a 2/3, conforme dispõe o art. 14, parágrafo único, do Código Penal.</p><p>Ou seja, a pena máxima de Auro é inferior a 4 anos de reclusão.</p><p>Portanto, não estão presentes as hipóteses do art. 313 do CPP.</p><p>QUESTÃO 2-Sobre a prisão preventiva é INCORRETO afirmar:</p><p>RESPOSTA 2-“Pode ser decretada de ofício pelo juiz durante a ação penal, mas não durante o inquérito”</p><p>FUNDAMENTAÇÃO- pois a preventiva não poderá ser decretada de ofício pelo magistrado.</p><p>AULA 02: GARANTIA DE ORDEM PÚBLICA E DA ORDEM ECONÔMICA - I</p><p>Conforme brevemente apontado, a prisão preventiva poderá ser decretada como garantia da ordem pública, da ordem econômica, por conveniência da instrução criminal ou para assegurar a aplicação da lei penal, quando houver prova da existência do crime e indício suficiente de autoria e de perigo gerado pelo estado de liberdade do imputado (art. 312, CPP).</p><p>De tal sorte, estabelece o art. 313 do Código de Processo Penal que, nos termos do art. 312, será admitida a decretação da prisão preventiva:</p><p>I - nos crimes dolosos punidos com pena privativa de liberdade máxima superior a 4 (quatro) anos;</p><p>II - se tiver sido condenado por outro crime doloso, em sentença transitada em julgado, ressalvado o disposto no inciso I do caput do art. 64 do Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 - Código Penal;</p><p>III - se o crime envolver violência doméstica e familiar contra a mulher, criança, adolescente, idoso, enfermo ou pessoa com deficiência, para garantir a execução das medidas protetivas de urgência;</p><p>Igualmente, será admitida a prisão preventiva quando houver dúvida sobre a identidade civil da pessoa ou quando esta não fornecer elementos suficientes para esclarecê-la, devendo o preso ser colocado imediatamente em liberdade após a identificação, salvo se outra hipótese recomendar a manutenção da medida (art. 313, §1º).</p><p>O Pacote Anticrime, Lei nº 13.964, de 24 de dezembro de 2019, que aperfeiçoou a legislação penal e processual penal, positivou o entendimento firmado pelo STF sobre a prisão após segunda instância, nos seguintes termos:</p><p>Art. 313, §2º Não será admitida a decretação da prisão preventiva com a finalidade de antecipação de cumprimento de pena ou como decorrência imediata de investigação criminal ou da apresentação ou recebimento de denúncia.</p><p>No que toca ao procedimento especial dos crimes dolosos contra a vida, estabelece-se que da sentença no Júri, o juiz mandará o acusado recolher-se ou recomendá-lo-á à prisão em que se encontra, se presentes ou requisitos da prisão preventiva, ou, no caso de condenação a uma pena igual ou superior a 15 (quinze) anos de reclusão, determinará a execução provisória das penas, com expedição do mandado de prisão, se for o caso, sem prejuízo do conhecimento de recursos que vierem a ser interpostos (art. 492, I, "e" do Código de Processo Penal).</p><p>Necessidade de audiência de custódia:</p><p>O parágrafo único do art. 316 do Código de Processo Penal estabelece que decretada a prisão preventiva, deverá o órgão emissor da decisão revisar a necessidade de sua manutenção a cada 90 (noventa) dias, mediante decisão fundamentada, de ofício, sob pena de tornar a prisão ilegal.</p><p>Feitas as presentes considerações acerca da prisão preventiva, na próxima aula veremos a garantia de ordem pública e da ordem econômica enquanto fundamentos autorizadores da decretação da prisão preventiva.</p><p>QUESTÃO 1-Jair foi preso em flagrante pela prática de tráfico de entorpecentes, sendo apreendidas em seu poder 18 gramas de maconha.</p><p>Embora primário e sem antecedentes, o juiz converteu o flagrante em preventiva, justificando ser o tráfico crime equiparado a hediondo e que financia demais crimes.</p><p>Você foi contratado como advogado de Jairo, o que poderá alegar em seu favor?</p><p>RESPOSTA 1-Deve-se alegar que a opinião do julgador sobre a gravidade em abstrato do crime não é justificativa idônea para fundamentar a prisão preventiva.</p><p>Conforme entendimento dos Tribunais Superiores, é preciso demonstrar a gravidade concreta da infração. Na hipótese de tráfico de drogas, a gravidade concreta poderia ser demonstrada, por exemplo, por uma elevada quantidade de entorpecentes apreendidos – o que não ocorreu no caso de Jair.</p><p>QUESTÃO 2-Assinale a alternativa CORRETA, considerando as novidades trazidas pelo Pacote Anticrimes no que tange a prisão preventiva:</p><p>RESPOSTA 2-“Se o juiz verificar que o agente é reincidente ou que integra organização criminosa armada ou milícia, ou que porta arma de fogo de uso restrito, deverá denegar a liberdade provisória, com ou sem medidas cautelares</p><p>Fundamentação: nos termos do artigo 310, §2º do CPP.</p><p>AULA 03: GARANTIA DE ORDEM PÚBLICA E DA ORDEM ECONÔMICA - II</p><p>A garantia da ordem pública é a hipótese</p><p>dessa defesa preliminar quando a denúncia for precedida de procedimento investigatório criminal ou de inquérito policial. Assim, a ausência de notificação prévia para apresentação de defesa preliminar não gera nulidade quando a denúncia resultar de apurada investigação criminal. É o que prevê a Súmula 330, do STJ, a saber: “É desnecessária a resposta preliminar de que trata o art. 514 do Código de Processo Penal - CPP, na ação penal instruída por inquérito policial”.</p><p>Entretanto, a partir do julgamento do HC 85.779/RJ, o Plenário do Supremo Tribunal Federal, abandonando entendimento anterior, assentou que o fato de a denúncia ter se respaldado em elementos de informação colhidos no inquérito policial, não dispensa a obrigatoriedade da notificação prévia do acusado para apresentar a defesa preliminar.</p><p>Em relação ao parágrafo único do artigo em estudo, bem observa Nucci que, caso o funcionário resida em comarca diversa, deve-se expedir precatória para notificá-lo do prazo de 15 dias, nada justificando a nomeação direta de um defensor dativo, em prejuízo da ampla defesa.</p><p>Art. 515. No caso previsto no artigo anterior, durante o prazo concedido para a resposta, os autos permanecerão em cartório, onde poderão ser examinados pelo acusado ou por seu defensor. Parágrafo único. A resposta poderá ser instruída com documentos e justificações.</p><p>Art. 516. O juiz rejeitará a queixa ou denúncia, em despacho fundamentado, se convencido, pela resposta do acusado ou do seu defensor, da inexistência do crime ou da improcedência da ação.</p><p>Inexistente o crime ou improcedente a ação penal, o juiz motivadamente deverá rejeitar a peça acusatória. Compreende-se como inexistência de crime a falta de tipicidade, antijuridicidade ou culpabilidade e, como improcedência da ação penal, a falta de provas da materialidade e da autoria.</p><p>Art. 517. Recebida a denúncia ou a queixa, será o acusado citado, na forma estabelecida no Capítulo I do Título X do Livro I.</p><p>Art. 518. Na instrução criminal e nos demais termos do processo, observar-se-á o disposto nos Capítulos I e III, Título I, deste Livro.</p><p>Recebida, de maneira fundamentada, a exordial acusatória, o acusado deverá ser citado. A notificação prévia a que se refere o artigo 514 não supre a obrigatoriedade da citação, “pois a primeira ciência feita ao funcionário volta-se a fase anterior ao ajuizamento da ação penal. Assim, caso seja recebida a denúncia ou queixa, a despeito da impugnação formulada pelo funcionário, é indispensável que ele tome ciência disso, podendo, agora, defender-se nos autos do processo-crime”.</p><p>Citado o acusado, por expressa previsão legal, segue-se o rito comum, abrindo-se prazo para a apresentação de resposta à acusação e, caso não seja possível a absolvição sumária, será designada audiência de instrução e julgamento.</p><p>Do Processo e do Julgamento dos Crimes de Calúnia e Injúria (artigos 519 a 523, CPP)</p><p>Art. 519. No processo por crime de calúnia ou injúria, para o qual não haja outra forma estabelecida em lei especial, observar-se-á o disposto nos Capítulos I e III, Titulo I, deste Livro, com as modificações constantes dos artigos seguintes.</p><p>Art. 520. Antes de receber a queixa, o juiz oferecerá às partes oportunidade para se reconciliarem, fazendo-as comparecer em juízo e ouvindo-as, separadamente, sem a presença dos seus advogados, não se lavrando termo. Art.</p><p>521. Se depois de ouvir o querelante e o querelado, o juiz achar provável a reconciliação, promoverá entendimento entre eles, na sua presença.</p><p>Art. 522. No caso de reconciliação, depois de assinado pelo querelante o termo da desistência, a queixa será arquivada.</p><p>Este procedimento especial abrange todos os delitos contra a honra, inclusive a difamação, não citada neste dispositivo, pois, antes do Código Penal de 1940, não era considerada crime autônomo.</p><p>Oferecida a queixa-crime, o juiz designará audiência de conciliação para a tentativa de composição das partes. A designação dessa audiência é obrigatória, sob pena de nulidade.</p><p>A respeito das consequências pela ausência das partes, Guilherme de Souza Nucci defende que, nesse caso, subentende-se que a parte faltante não deseja a conciliação. Ocorre que prevalece o entendimento segundo o qual para o querelante gera a perempção e, para o querelado, a condução coercitiva. Nucci, em discordância com tais medidas, diz que não há motivo para se proceder de forma tão drástica, quando o objetivo da lei processual penal e conciliar as partes e não acirrar os ânimos. Mas, o autor pondera que sem a imposição de sanção – ao querelante, a perempção; ao querelado, a condução coercitiva – a audiência de conciliação pode perder totalmente o seu sentido, embora se crê que ela, de fato, é uma superfetação, buscando compor pessoas que não tiveram possibilidade ou bom senso de, anteriormente ao oferecimento da queixa, resolver amigavelmente suas rugas.</p><p>Frustrada a conciliação, segue-se o rito comum, com o recebimento da queixa-crime, citação do querelado e oferecimento de resposta à acusação, momento adequado para o oferecimento da exceção da verdade ou da notoriedade do fato imputado, nos termos do artigo 523, do CPP.</p><p>Art. 523. Quando for oferecida a exceção da verdade ou da notoriedade do fato imputado, o querelante poderá contestar a exceção no prazo de dois dias, podendo ser inquiridas as testemunhas arroladas na queixa, ou outras indicadas naquele prazo, em substituição às primeiras, ou para completar o máximo legal.</p><p>O artigo 523, do CPP, prevê outra especialidade para o procedimento dos crimes contra a honra, inserindo, no transcurso do rito comum, o oferecimento de exceção da verdade ou da notoriedade do fato. Nos dizeres de Guilherme de Souza Nucci, trata-se de questão prejudicial homogênea, pois, referindo-se ao direito material, necessita ser decidida antes do mérito da ação principal. A exceção da verdade diz respeito ao crime de calúnia (imputar alguém, falsamente, fato definido como crime), enquanto a exceção de notoriedade do fato refere-se ao delito de difamação de funcionário público, no exercício das suas funções (imputar a alguém fato ofensivo à sua reputação). Logo, se há ação penal em andamento, versando sobre calúnia ou difamação, é possível que o querelado, logo de início, apresente a exceção, que é meio de defesa indireto, visando a provar que o querelante (ação privada) ou o ofendido (ação pública) realmente praticou o delito que lhe foi imputado (calúnia) ou que o fato difundido (difamação) realmente ocorreu e é do conhecimento geral. Provada a exceção, falece direito ao órgão acusatório de alcançar a condenação, pois não há sentido em se tratar de calúnia quando há verdade na prática do crime, tampouco falar em difamação de funcionário público, quando o fato é evidente e interessa à Administração Pública a punição de quem assim se conduziu.</p><p>Oferecida a exceção e, sendo ela admissível, suspende-se o curso do processo principal, intimando-se o querelante ou o Ministério Público para apresentar a contestação, no prazo de 2 dias. Apresentada a contestação, segue-se o rito comum normalmente.</p><p>Do Processo e do Julgamento dos Crimes contra a Propriedade Imaterial (artigos 519 a 523, CPP)</p><p>A propriedade imaterial tem berço constitucional no artigo 216, que assim prevê: Constituem patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza material e imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira, nos quais se incluem: I - as formas de expressão; II - os modos de criar, fazer e viver; III - as criações científicas, artísticas e tecnológicas; IV - as obras, objetos, documentos, edificações e demais espaços destinados às manifestações artístico-culturais; V - os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico, artístico, arqueológico, paleontológico, ecológico e científico.</p><p>Os crimes contra a propriedade imaterial, nos dizeres de Guilherme de Souza Nucci, protegem a atividade criadora das pessoas, fruto do seu intelecto, o</p><p>que, indiscutivelmente, possui reflexo patrimonial.</p><p>Esses crimes estão situados tanto no Código Penal (artigos 184, “violação de direito autoral” e 186 “usurpação de nome ou pseudônimo alheio”) quanto na Lei 9.279/96 (artigos 183 a 186 – crimes contra as patentes; artigos 187 e 188 – crimes contra os desenhos industriais; artigos 189 e 190 – crimes contra as marcas; etc).</p><p>A maioria dos delitos contra a propriedade imaterial é de ação penal privada, salvo os crimes previstos no artigo 184, § 1º e 2º, do Código Penal, e as infrações praticadas em prejuízo de entidades de direito público, autarquias, empresas públicas, sociedades de economia mista ou fundações instituídas pelo poder público, afetas à ação penal pública incondicionada, reservando-se o artigo 184, § 3º, do Código Penal, para a ação penal pública condicionada à representação, nos termos do artigo 186, do Código Penal.</p><p>A constatação da espécie de iniciativa para a propositura da demanda é de suma importância, pois, tratando-se de iniciativa privada, o procedimento a ser observado será o constante dos artigos 524 a 530, aplicando-se os artigos 530-B a 530-H para os casos de ação penal pública, condicionada ou incondicionada. No entanto, para ambos, segue-se, no mais, o procedimento comum12 .</p><p>1. Ação Penal Privada – Queixa</p><p>Art. 525. No caso de haver o crime deixado vestígio, a queixa ou a denúncia não será recebida se não for instruída com o exame pericial dos objetos que constituam o corpo de delito.</p><p>Art. 526. Sem a prova de direito à ação, não será recebida a queixa, nem ordenada qualquer diligência preliminarmente requerida pelo ofendido.</p><p>Art. 527. A diligência de busca ou de apreensão será realizada por dois peritos nomeados pelo juiz, que verificarão a existência de fundamento para a apreensão, e quer esta se realize, quer não, o laudo pericial será apresentado dentro de 3 (três) dias após o encerramento da diligência. Parágrafo único. O requerente da diligência poderá impugnar o laudo contrário à apreensão, e o juiz ordenará que esta se efetue, se reconhecer a improcedência das razões aduzidas pelos peritos.</p><p>Art. 528. Encerradas as diligências, os autos serão conclusos ao juiz para homologação do laudo.</p><p>Art. 529. Nos crimes de ação privativa do ofendido, não será admitida queixa com fundamento em apreensão e em perícia, se decorrido o prazo de 30 dias, após a homologação do laudo. Parágrafo único. Será dada vista ao Ministério Público dos autos de busca e apreensão requeridas pelo ofendido, se o crime for de ação pública e não tiver sido oferecida queixa no prazo fixado neste artigo.</p><p>Art. 530. Se ocorrer prisão em flagrante e o réu não for posto em liberdade, o prazo a que se refere o artigo anterior será de 8 (oito) dias.</p><p>Art. 530-A. O disposto nos arts. 524 a 530 será aplicável aos crimes em que se proceda mediante queixa. (Incluído pela Lei nº 10.695, de 1º.7.2003)</p><p>O exame pericial é condição de procedibilidade nos crimes contra a propriedade imaterial. Extrai-se do artigo 525 que o exame de corpo de delito é indispensável para o exercício da ação penal, seja ela pública ou privada.</p><p>Adverte Nucci que se a infração deixou vestígios materiais, mas elas desapareceram, é possível a realização do exame de corpo de delito indireto, efetivado por peritos, embora fundados em elementos fornecidos por outras fontes, que não o seu contato direto com o resquício deixado pela infração penal. A prova testemunhal, para esses crimes, por se tratar de regramento especial, não pode ser considerada como exame de corpo de delito indireto.</p><p>A prova da materialidade nos crimes em comento é tão importante que autoriza-se diligências preliminares requeridas pelo ofendido, tais como a busca e apreensão de coisas em poder da pessoa investigada. Mesmo porque, se ausente exame pericial, a queixa sequer poderá ser recebida (condição de procedibilidade). No entanto, conforme preleciona Nucci, o artigo 526 estipula que, também para as diligências preliminares, é indispensável o requerente demonstrar o seu interesse e legitimidade para tanto. Afinal, a busca e apreensão é medida coercitiva séria, cujos prejuízos são evidentes para a parte investigada. A cautela é tanta que o artigo 204, da Lei 9.279/96 prevê que, “Art. 204. Realizada a diligência de busca e apreensão, responderá por perdas e danos a parte que a tiver requerido de má-fé, por espírito de emulação, mero capricho ou erro grosseiro”.</p><p>Requerida a diligência pelo ofendido e, desde que esteja bem fundamentada, demonstrando a legitimidade e o interesse, o juiz nomeará dois peritos que verificarão a necessidade, ou não, da medida. Havendo ou não apreensão, os peritos ficam obrigados a apresentar o laudo, entregando-o ao magistrado para homologação. A homologação do laudo não se reveste em um julgamento definitivo sobre a materialidade do delito, podendo ser revisto em juízo, sob o crivo do contraditório, o conteúdo apresentado. Contra a homologação, cabe apelação.</p><p>Após a homologação do laudo, o ofendido tem um prazo decadencial de 30 dias para o oferecimento da queixa. Observa Guilherme de Souza Nucci que a ciência do ofendido da autoria do crime contra a propriedade imaterial faz desencadear o prazo decadencial de seis meses para a propositura da queixa-crime. Ocorre que, se tomar providências nesse prazo de seis meses, solicitando as diligências preliminares e o laudo for concluído, tem, a partir daí, 30 dias para agir. Salienta-se que nos casos de crimes contra a propriedade imaterial sem vestígios, segue-se a regra geral de seis meses.</p><p>Independentemente da realização de diligências preliminares, caso o agente do fato seja preso em flagrante, o prazo decadencial para o oferecimento da queixa-crime passa a ser de oito dias.</p><p>2. Ação Penal Pública – Denúncia</p><p>Art. 530-B. Nos casos das infrações previstas nos §§ 1o, 2o e 3o do art. 184 do Código Penal, a autoridade policial procederá à apreensão dos bens ilicitamente produzidos ou reproduzidos, em sua totalidade, juntamente com os equipamentos, suportes e materiais que possibilitaram a sua existência, desde que estes se destinem precipuamente à prática do ilícito.(Incluído pela Lei nº 10.695, de 1º.7.2003)</p><p>Art. 530-C. Na ocasião da apreensão será lavrado termo, assinado por 2 (duas) ou mais testemunhas, com a descrição de todos os bens apreendidos e informações sobre suas origens, o qual deverá integrar o inquérito policial ou o processo. (Incluído pela Lei nº 10.695, de 1º.7.2003)</p><p>Art. 530-D. Subseqüente à apreensão, será realizada, por perito oficial, ou, na falta deste, por pessoa tecnicamente habilitada, perícia sobre todos os bens apreendidos e elaborado o laudo que deverá integrar o inquérito policial ou o processo. (Incluído pela Lei nº 10.695, de 1º.7.2003)</p><p>Art. 530-E. Os titulares de direito de autor e os que lhe são conexos serão os fiéis depositários de todos os bens apreendidos, devendo colocá-los à disposição do juiz quando do ajuizamento da ação. (Incluído pela Lei nº 10.695, de 1º.7.2003)</p><p>Art. 530-F. Ressalvada a possibilidade de se preservar o corpo de delito, o juiz poderá determinar, a requerimento da vítima, a destruição da produção ou reprodução apreendida quando não houver impugnação quanto à sua ilicitude ou quando a ação penal não puder ser iniciada por falta de determinação de quem seja o autor do ilícito. (Incluído pela Lei nº 10.695, de 1º.7.2003) Art.</p><p>530-G. O juiz, ao prolatar a sentença condenatória, poderá determinar a destruição dos bens ilicitamente produzidos ou reproduzidos e o perdimento dos equipamentos apreendidos, desde que precipuamente destinados à produção e reprodução dos bens, em favor da Fazenda Nacional, que deverá destruí-los ou doá-los aos Estados, Municípios e Distrito Federal, a instituições públicas de ensino e pesquisa ou de assistência social, bem como incorporá-los, por economia ou interesse público, ao patrimônio da União, que não poderão retorná-los aos canais de comércio. (Incluído pela Lei nº 10.695, de 1º.7.2003)</p><p>Art. 530-H. As associações de titulares de direitos de autor e</p><p>os que lhes são conexos poderão, em seu próprio nome, funcionar como assistente da acusação nos crimes previstos no art. 184 do Código Penal, quando praticado em detrimento de qualquer de seus associados. (Incluído pela Lei nº 10.695, de 1º.7.2003)</p><p>Art. 530-I. Nos crimes em que caiba ação penal pública incondicionada ou condicionada, observar-se-ão as normas constantes dos arts. 530-B, 530-C, 530-D, 530-E, 530-F, 530- G e 530-H. (Incluído pela Lei nº 10.695, de 1º.7.2003)</p><p>Se para os crimes contra a propriedade imaterial de ação penal privada há a fase preliminar de diligências, o mesmo não ocorre quando se tratar de ação penal pública, podendo a autoridade policial agir de ofício, apreendendo o ilicitamente produzido ou reproduzido, tomando as medidas necessárias para a cessação da atividade criminosa, valendo-se do perito oficial para a comprovação da materialidade.</p><p>Apreendidos os bens e devidamente relacionados no termo, procede-se à perícia realizada por perito ou por pessoa tecnicamente habilitada, cujo laudo deverá integrar o inquérito ou o processo.</p><p>Oferecida a denúncia, nos termos do artigo 530-I, do CPP, segue-se o rito comum. Consoante bem observa Nucci, as modificações introduzidas pelos artigos 530-B a 530-H não afetaram o rito ordinário para o desenvolvimento do processo, mas tão somente trouxeram algumas particularidades.</p><p>QUESTÃO 1-Roberto foi denunciado como incurso no artigo 184, § 2º, do CP, porque flagrado em posse de</p><p>633 DVDs e 72 CDs inautênticos. O magistrado de 1º grau, com fulcro no artigo 386, inciso II, do CPP, absolveu sumariamente o acusado, por entender não haver prova da existência do fato, já que não atendidas as exigências previstas no artigo 530-C, do CPP. O órgão acusatório recorreu. Qual seria a decisão mais adequada?</p><p>RESPOSTA 1-O caso em apreço foi extraído do HC 312.169, julgado pelo STJ recentemente, em 20 de julho de 2017, que não conheceu a ordem, confirmando o acórdão proferido pelo TJRS, segundo o qual deu provimento ao apelo ministerial para desconstituir a absolvição, determinando o prosseguimento do feito.</p><p>É assente na jurisprudência que a ausência de formalidades nos autos de apreensão caracteriza mera irregularidade, não descaracterizando a materialidade delitiva, sendo permitida a perícia por amostragem.</p><p>Nesse sentido: “(...) Com efeito, é assente no Superior Tribunal de Justiça o entendimento no sentido de que a inobservância das formalidades legais previstas no art. 530-C do Código de Processo Penal configura mera irregularidade, não autorizando a absolvição por falta de materialidade. Outrossim, é entendimento sumulado, por meio do verbete 574 da Súmula do Superior Tribunal de Justiça, que: ‘para a configuração do delito de violação de direito autoral e a comprovação de sua materialidade, é suficiente a perícia realizada por amostragem do produto apreendido, nos aspectos externos do material, e é desnecessária a identificação dos titulares dos direitos autorais violados ou daqueles que os representem´. Portanto, não há se falar em ausência de materialidade, uma vez que a denúncia faz expressa menção ao auto de apreensão e ao laudo pericial, no qual consta que os CDs e DVDs, analisados por amostragem, apresentam indícios de possível falsificação. Dessa forma, não se revela possível o restabelecimento da decisão proferida pelo Magistrado de origem.”</p><p>QUESTÃO 2-O Código de Processo Penal prevê nos Arts. 513/518 um procedimento especial para os crimes de responsabilidade praticados por funcionários públicos.</p><p>Com relação a esse procedimento é correto afirmar que;</p><p>RESPOSTA 2-de acordo com entendimento sumulado pelo Superior Tribunal de Justiça, é desnecessária a resposta preliminar quando a ação penal for instruída por inquérito policial". Fundamentação- Nos moldes da Súmula 330 do STJ.</p><p>mais abrangente de cabimento da prisão preventiva, podendo englobar diversas situações, sendo, na prática, a mais utilizada no dia-a-dia forense para fundamentar a custódia cautelar.</p><p>Justamente por esta abrangência, parte minoritária da doutrina chega a afirmar ser inconstitucional tal hipótese, já que exageradamente ampla. Não é, contudo, o que prevalece na doutrina e jurisprudência.</p><p>Sobre o tema, discorre Eugênio Pacelli:</p><p>É tempo, então, de examinarmos da prisão preventiva para a garantia da ordem pública, tema dos mais controvertidos nos tribunais e mesmo na doutrina. Porque razão a Lei nº 12.403/11, em pleno século XXI, resolveu insistir em manter a esdrúxula expressão?</p><p>Percebe-se, de imediato, que a prisão para garantia de ordem pública não se destina a proteger o processo penal, enquanto instrumento de aplicação da lei penal. Dirige-se, ao contrário, à proteção da própria comunidade, coletivamente considerada, no pressuposto de que ela seria duramente atingida pelo não aprisionamento de autores de crimes que causassem intranquilidade social.</p><p>A expressão garantia da ordem pública, todavia, é de dificílima definição. Pode prestar-se a justificar um perigoso controle da vida social, no ponto em se arrima na noção de ordem, e pública, sem qualquer referência ao que seja efetivamente a desordem.</p><p>O Direito português, por exemplo, desce a detalhes para esclarecer os requisitos necessários à imposição de quaisquer medidas cautelares, entre as quais poderíamos incluir a prisão preventiva para garantia da ordem pública. Prevê o art. 204, c, do CPP de Portugal, a hipótese de "Perigo, em razão da natureza e das circunstâncias do crime ou da personalidade do arguido, de que este continue a actividade criminosa ou perturbe gravemente a ordem e a tranquilidade públicas."</p><p>No Brasil, a jurisprudência, ao longo desses anos, tem se mostrado ainda um pouco vacilante, embora já dê sinais de ter optado pelo entendimento da noção de ordem pública como risco ponderável da repetição da ação delituosa objeto do processo, acompanhado do exame acerca da gravidade do fato e de sua repercussão. A Lei nº 12.403/11 parece ter aceitado essa realidade, prevendo algumas hipóteses de decretação de medidas cautelares para evitar a prática de infrações penais, conforme se vê do art. 282, I, CPP.</p><p>Houve tempo em que se defendia a prisão preventiva do acusado até mesmo para o fim da proteção de sua integridade física, como se não fosse do Estado a responsabilidade pela atividade não jurisdicional de segurança pública.</p><p>Há ainda entendimentos no sentido de se aferir o risco à ordem pública a partir unicamente da gravidade do crime praticado, a reclamar uma providência imediata por parte das autoridades, até mesmo para evitar o mencionado sentimento de intranquilidade coletiva que pode ocorrer em tais situações.</p><p>Mas o argumento, quase incontornável, contrário a semelhante modalidade de prisão, é no sentido de que estaria violado o princípio da inocência, já que, quer se pretenda fundamentar a prisão preventiva para garantia da ordem pública em razão do risco de novas infrações penais, quer se sustente a sua justificação em razão da intranquilidade causada pelo crime (aqui, acrescido de sua gravidade), de uma maneira ou de outra, estar-se-ia partindo de uma antecipação de culpabilidade. Como se percebe, a questão é bastante complexa.</p><p>Parece-nos, entretanto, que, sempre excepcionalmente, o princípio do estado de inocência haverá de ser flexibilizado quando em risco valores (normatizados) constitucionais igualmente relevantes. Não estamos nos referindo à segurança pública como mera abstração, ou como valor a ser sopesado sem critérios empíricos, mas à sua necessária concretização, diante de hipóteses excepcionalíssimas.</p><p>Com efeito, haverá, como já houve, situações em que a gravidade do crime praticado, revelada não só pela pena abstratamente cominada ao tipo, mas também pelos meios de execução, quando presentes a barbárie e o desprezo pelo valor ou bem jurídico atingido, reclame uma providência imediata do Poder Público, sob pena de se pôr em risco até mesmo a legitimidade do exercício da jurisdição penal. Muitas vezes, ou melhor, na maioria destes crimes, o seu autor assume a autoria do crime e nem sempre em situação que se possa identificar, de pronto, o risco de tortura ou de qualquer outra ilegalidade na obtenção da confissão.</p><p>É claro que em tema tão complexo e explosivo todo o cuidado é realmente pouco. Mas não é por isso que a autoridade judicial deve recusar, peremptoriamente, qualquer possibilidade de decretação de prisão para garantia de ordem pública. Infelizmente, a realidade dos dias que voam (já não corremos mais!) está a comprovar que o nível de intolerância humana atingiu patamares estratosféricos, tenha ela as cores que tiverem (religiosa, étnica, sexual, moral etc.). Não bastasse, o desejo incontrolável de sucesso pessoal e de exposição midiática caminha para um verdadeiro abismo no desrespeito à humanidade intrínseca do outro.</p><p>A Suprema Corte, no julgamento do HC nº 84.498/BA, Rel. o Min. Joaquim Barbosa, em 14.12.2004, reconheceu a possibilidade de decretação da prisão preventiva para garantia da ordem pública, em razão da "enorme repercussão em comunidade interiorana, além de restarem demonstradas a periculosidade da paciente e a possibilidade de continuação da prática criminosa". Tratava-se de apuração de homicídio qualificado, praticado contra o cônjuge. Na oportunidade, ficou vencida a Min. Ellen Gracie (Informativo STF nº 374, 2.2.2005).</p><p>Em outra oportunidade, ressaltou-se ali, no Plenário da Suprema Corte, que o sério agravo a credibilidade das instituições públicas poderia servir de fundamento idôneo para fins de decretação de prisão cautelar, considerando, sobretudo, a repercussão do caso concreto na ordem pública. Tratava-se de caso em que havia fortes indícios da existência de temível organização criminosa, com diversas ramificações e com possível ingerência em órgãos do poder público, segundo o seu eminente Relator, Min. Carlos Britto (QO em HC nº 85.298-SP, Rel. para o acórdão, Min. Carlos Britto).</p><p>De outra feita, aquela alta Corte justificou a medida cautelar com fundamento na existência de ramificações das atividades criminosas em diversas unidades da federação, bem como a alta probabilidade de reiteração delituosa, deduzida da organização e do tipo de crime (Conferir STF - HC nº 89.525-5/GO, 2ª Turma, Rel. Min. Gilmar Mendes, DJ 9.3.2007; e, ainda, HC nº 92.735/CE, 2ª Turma, Rel. Cezar Peluso, julgado em 8.9.2009).</p><p>Note-se que nos exemplos dados a existência de um agrupamento, ou organização, dirigida para a prática de crimes também se incluiria na fundamentação acautelatória, sob o argumento do risco de reiteração criminosa. (Curso de Processo Penal, 21ª edição, Atlas).</p><p>QUESTÃO 1-Walter é natural do Brasil, reside e trabalha na Comarca do Rio de Janeiro. Porém, também possui cidadania espanhola.</p><p>Walter está sendo processado pelo crime de receptação qualificada, tendo o juiz decretado sua prisão preventiva para garantir a aplicação da lei penal, argumentando que, embora primário e sem antecedentes, por possuir dupla cidadania, teria facilidade para deixar o Brasil.</p><p>Agiu com acerto o magistrado? O que pode ser requerido em favor de Walter?</p><p>RESPOSTA 1-No caso em tela, embora possua dupla cidadania, está comprovado que Walter possui vínculo com o Brasil, posto residir e trabalhar no Rio de Janeiro. Portanto, não se faz necessária a prisão preventiva, sendo suficiente a entrega de seus passaportes, com fundamento no art. 320 do Código de Processo Penal. Ademais, cumpre salientar que a prisão preventiva tem caráter subsidiário, posto que sua decretação deve ocorrer apenas se as outros medidas cautelares diversas da prisão se mostrarem insuficientes, nos termos do §6º do art. 282 do Código de Processo Penal, que estabelece: a prisão preventiva somente será determinada quando não for cabível a sua substituição por outra medida cautelar, observado o art. 319 deste Código, e o não cabimento da substituição por</p><p>outra medida cautelar deverá ser justificado de forma fundamentada nos elementos presentes do caso concreto, de forma individualizada.</p><p>QUESTÃO 2-Qual das situações abaixo NÃO justifica a prisão com fundamento na garantia da ordem pública:</p><p>RESPOSTA 2-Risco de fuga do acusado.</p><p>Fundamentação: O risco de fuga justifica a prisão preventiva pelo fundamento de assegurar a aplicação da lei penal, e não pela garantia da ordem pública.</p><p>AULA 04: APLICAÇÃO DA LEI PENAL E CONVENIÊNCIA DA INSTRUÇÃO</p><p>Aplicação da Lei Penal:</p><p>A prisão preventiva, a teor do art. 312 do Código de Processo Penal, pode ser decretada, entre outras hipóteses, para assegurar a aplicação da lei penal. Trata-se, portanto, da possibilidade de hipótese na qual se utiliza a prisão provisória para garantir que, em caso de condenação, o indivíduo efetivamente cumpra a pena imposta.</p><p>Em outras palavras, prende-se para prevenir eventual fuga. É necessário, porém, existir elementos concretos que indiquem a intenção do réu em fugir do distrito da culpa, não bastando a simples presunção do julgador.</p><p>Sobre o tema ensina Renato Brasileiro:</p><p>Enfoque especial está a merecer a situação do estrangeiro que comete crime no território nacional. De início, cumpre firmar que o fato de o suposto autor do delito ostentar a condição jurídica de estrangeiro não lhe inibe, só por si, o acesso aos instrumentos processuais de tutela da liberdade, nem lhe subtrai, por tais razões, o direito de ver respeitadas, pelo Poder Público, as prerrogativas de ordem jurídica e as garantias de índole constitucional que o ordenamento positivo brasileiro confere e assegura a qualquer pessoa que sofra persecução penal instaurada pelo Estado. Logo, pelo simples fato de o acusado ser estrangeiro, não se pode estabelecer uma presunção absoluta de fuga. Assim, caso o estrangeiro se encontre em situação regular no país, com residência fixa, além de desenvolver atividade lícita, não se afigurará necessária sua prisão com base na garantia de aplicação da lei penal. Por outro lado, em se tratando de estrangeiro em situação irregular no País, sem residência fixa, nem tampouco no exercício de atividade lícita, afigura-se lícita a decretação de sua prisão preventiva. Recentemente, no entanto, com a crescente celebração de acordos de assistência judiciária em matéria criminal pelo governo brasileiro, os Tribunais Superiores têm optado pela não decretação da prisão preventiva com base na garantia de aplicação da lei penal, sobretudo quando o agente demonstrar que possui residência certa no país de origem. Acerca desses acordos de assistência judiciária, Walter Nunes da Silva Júnior assevera que, "a par da cooperação jurídica internacional com a qual um país pede que o outro, tendo em conta decisão dada pela sua justiça, acate e determine o cumprimento do que nela restou determinado, no âmbito internacional tem-se admitido a chamada cooperação direta, hipótese na qual o país, tendo interesse na realização de uma diligência ou que seja determinada uma medida coercitiva em território alheio, solicita ao país estrangeiro o patrocínio dessa pretensão perante os órgãos jurisdicionais nacionais. A diferença é que, na assistência direta, ao invés de o Estado requerente solicitar que seja cumprida, no território alheio, a decisão dada pela sua justiça, ele pede que o Governo do Estado requerido patrocine, em seu nome, perante o seu Poder Judiciário, que este determine a realização da audiência ou proceda à diligência solicitada. Nesse caso, a cooperação jurídica internacional se faz perante a jurisdição de primeira instância, apresentando-se, assim, como forma difusa e descentralizada de enfrentar a questão". Por isso, em caso concreto apreciado pelo Supremo, entendeu-se que, prevendo o Tratado celebrado entre o Brasil e a Espanha a troca de presos, inexiste óbice ao retorno do acusado ao país de origem. Conforme versado no referido tratado, inserido na ordem jurídica nacional mediante o Decreto nº 2.576/98, mostra-se possível executar na Espanha eventual título condenatório formalizado pelo Judiciário pátrio. Destarte, conclui-se que a condição jurídica de não nacional e a circunstância de o réu estrangeiro não possuir domicílio em nosso país não legitimam a adoção de qualquer tratamento arbitrário ou discriminatório, mormente se houver acordo de assistência judiciária entre o Brasil e o país de origem do acusado em matéria penal, a permitir apoio durante a tramitação do inquérito e de eventual processo criminal. (Manual de processo penal, 4ª edição, JusPodium).</p><p>Ainda é relevante anotar que o simples não comparecimento ao interrogatório não é motivação idônea para a decretação da prisão preventiva, uma vez que o acusado tem direito ao silêncio.</p><p>Nesse sentido, o Supremo Tribunal Federal, quando do julgamento das Arguições de Descumprimento de Preceito Fundamental 395 e 444, decidiu, por 6 a 5, pela inconstitucionalidade da condução coercitiva para interrogatório.</p><p>Tratava-se da análise do art. 260 do Código de Processo Penal, que prescrevia a possibilidade de condução coercitiva do acusado para prestar depoimento, caso este não atendesse à intimação.</p><p>O Ministro Celso de Mello, em seu voto, que formou a maioria, ventilou que:</p><p>O direito ao silêncio - e o de não produzir provas contra si próprio - constitui prerrogativa individual que não pode ser desconsiderada por qualquer dos Poderes da República. Cabe enfatizar, ainda - e como natural decorrência dessa insuprimível prerrogativa constitucional -, que nenhuma conclusão desfavorável ou qualquer restrição de ordem jurídica à situação individual da pessoa que invoca essa cláusula de tutela pode ser extraída de sua válida e legítima opção pelo silêncio. Daí a grave - e corretíssima - advertência de ROGÉRIO LAURIA TUCCI ("Direitos e Garantias Individuais no Processo Penal Brasileiro", p. 370, item n. 16.3, 2ª ed., 2004, RT), para quem o direito de permanecer calado "não pode importar em desfavorecimento do imputado, até porque consistiria inominado absurdo entender-se que o exercício de um direito, expresso na Lei das Leis como fundamental do indivíduo, possa acarretar-lhe qualquer desvantagem".</p><p>Nesse sentido, a decretação da prisão preventiva para assegurar a aplicação da lei penal não só reclama elementos concretos da intenção do acusado de furtar-se do cumprimento da Lei penal, como também respeito às garantias individuais estatuídas na Constituição Federal de 1988.</p><p>Conveniência da Instrução:</p><p>O fundamento da prisão preventiva baseado na conveniência da instrução criminal tem por objetivo impedir que o acusado atue de forma indevida na produção probatória, impedindo-a ou dificultando-a.</p><p>Dá-se como exemplos a destruição de provas, alteração do local do crime, ameaça a testemunhas, ameaça a autoridades etc.</p><p>Importante ressaltar, porém, existir condutas que se encontram dentro dos direitos do acusado, como se negar a fornecer material genético, material gráfico ou sangue para perícia, ou mesmo permanecer em silêncio durante o interrogatório, posto estar acobertado pelo princípio nemo tenetur se detegere.</p><p>Sobre o tema leciona Pacelli:</p><p>As prisões preventivas por conveniência da instrução criminal e para assegurar a aplicação da lei penal são evidentemente instrumentais, porquanto se dirigem diretamente à tutela do processo, funcionando como medida cautelar para garantia da efetividade do processo principal (a ação penal). Por conveniência da instrução criminal há de se entender a prisão decretada em razão de perturbação ao regular andamento do processo, o que ocorrerá, por exemplo, quando o acusado, ou qualquer outra pessoa em seu nome, estiver intimidando testemunhas, peritos ou o próprio ofendido, ou ainda provocando qualquer incidente do qual resulte prejuízo manifesto para a instrução criminal. Evidentemente, não estamos nos referindo à eventual atuação do acusado e de seu defensor, cujo objetivo seja a procrastinação da instrução, o que pode ser feito nos limites da própria lei. (Curso de Processo Penal, 21ª edição, Atlas).</p><p>Na mesmo veia, ensina Renato Brasileiro:</p><p>A prisão preventiva decretada com base na conveniência da instrução criminal visa impedir que o agente perturbe ou impeça a produção de provas. Tutela-se, com tal prisão, a livre produção probatória, impedindo que o agente comprometa de qualquer maneira a busca da verdade. Assim, havendo indícios de intimidação ou aliciamento de testemunhas ou peritos, de supressão ou alteração de provas ou documentos, ou de qualquer tentativa de turbar a apuração dos fatos e o andamento da persecução criminal, será legítima a adoção da prisão preventiva com base na conveniência da instrução criminal. Apesar de o legislador usar a expressão "conveniência da instrução criminal", a medida cautelar não pode ser decretada com base em mera conveniência. Sua decretação está condicionada, sim, à necessidade ou indispensabilidade da medida a fim de possibilitar o bom andamento da instrução criminal. Levando-se em conta que o interrogatório é considerado meio de defesa, a ausência do acusado ao interrogatório não autoriza, por si só, a decretação da prisão preventiva com base na conveniência da instrução criminal. O direito de audiência, que se materializa através do interrogatório, desdobramento da autodefesa, é renunciável, o que significa que o acusado pode abrir mão do direito de formar a convicção do juiz quanto a sua versão sobre os fatos, sem que isso importe em risco à aplicação da lei penal e/ou à conveniência da instrução criminal. Na verdade, embora o acusado não possa obstruir a atividade probatória, não se admite que sua prisão seja decretada com o objetivo de obrigá-lo a contribuir para a apuração do fato delituoso. Afinal, por força do princípio do nemo tenetur se detegere, o acusado não está obrigado a contribuir ativamente coma produção de prova que possa incriminá-lo. Ao decretar a prisão preventiva com base nessa hipótese, deve o juiz ter sempre em mente o princípio da proporcionalidade, notadamente em seu segundo subprincípio, qual seja, o da necessidade, devendo se questionar se não existe outra medida cautelar menos gravosa que a prisão preventiva. De fato, se uma busca e apreensão for idônea a atingir o objetivo desejado, não se faz necessária uma prisão preventiva; se a condução coercitiva do acusado para o reconhecimento pessoal for apta a alcançar o fim almejado, não se afigura correto escolher medida mais gravosa consubstanciada na privação da liberdade de locomoção do acusado; se a proibição de manter contato com pessoa determinada ou a monitoração eletrônica (CPP, art. 319, III e IX, respectivamente) se revelarem adequadas e idôneas para assegurar a eficácia da investigação ou da instrução criminal, deve o magistrado evitar a decretação do cárcere ad custodiam. A prisão preventiva decretada com base na conveniência da instrução criminal subsiste enquanto persistir a instrução processual. Em outras palavras, uma vez encerrada a instrução processual (ou até mesmo ouvida a testemunha que estava sendo ameaçada), deve o juiz revogar a prisão preventiva decretada com base nessa hipótese, de acordo como art. 316, caput, c/c art. 282, §5º, ambos do Código de Processo Penal. Relembre-se que, em se tratando de processo criminal da competência do Júri, a prisão preventiva decretada com base na conveniência da instrução criminal pode perdurar até o julgamento em plenário, já que as testemunhas ameaçadas pelo acusado poderão vir a ser chamadas para depor em plenário. (Manual de Processo Penal, 4ª edição, Jus Podium)</p><p>Nesse sentido, assim como na hipótese de aplicação da prisão preventiva para a garantia da aplicação da lei penal, a prisão preventiva com base na conveniência da instrução criminal deve observar a necessidade e proporcionalidade, conforme denota de sua utilização subsidiária fixada pelo artigo 282, §6º do Código de Processo Penal.</p><p>QUESTÃO 1-Caio está sendo processado pelo delito de falsidade ideológica, tendo o Ministério Público requerido a realização de perícia grafotécnica. Caio, porém, negou-se a fornecer material gráfico, motivo pelo qual o magistrado decretou sua prisão preventiva com fundamento na conveniência da instrução, alegando que Caio estaria atrapalhando a produção de provas.</p><p>Na qualidade de advogado de Caio, o que pode ser alegado em sua defesa?</p><p>RESPOSTA 1-Deve-se alegar que o acusado possui o direito de não fornecer material gráfico para a perícia grafotécnica, trata-se de hipótese de aplicação do princípio nemo tenetur se detegere, ou seja, ninguém é obrigado a produzir provas contra si mesmo. Assim, o Ministério Público deverá procurar outra forma de comprovar suas alegações.</p><p>QUESTÃO 2-Sobre a conveniência da instrução criminal é INCORRETO afirmar:</p><p>RESPOSTA 2-Nenhuma das alternativas pode ser considerada correta.</p><p>Fundamentação: Nenhuma das alternativas pode ser considerada correta, pois todas as hipóteses descritas nas alternativas anteriores autorizam a decretação da prisão preventiva pela conveniência da instrução criminal.</p><p>TEMA 03- MEDIDAS CAUTELARES ALTERNATIVAS</p><p>AULA 01: CONCEITO E REQUISITOS</p><p>Entende-se por medida cautelar alternativa o instrumento restritivo da liberdade, de caráter provisório e urgente, diverso da prisão, utilizado como forma de controle e acompanhamento do acusado, durante a persecução penal.</p><p>São reguladas pelo art. 282 do Código de Processo Penal:</p><p>Art. 282. As medidas cautelares previstas neste Título deverão ser aplicadas observando-se a:</p><p>I - necessidade para aplicação da lei penal, para a investigação ou a instrução criminal e, nos casos expressamente previstos, para evitar a prática de infrações penais;</p><p>II - adequação da medida à gravidade do crime, circunstâncias do fato e condições pessoais do indiciado ou acusado.</p><p>§ 1º As medidas cautelares poderão ser aplicadas isolada ou cumulativamente.</p><p>§ 2º As medidas cautelares serão decretadas pelo juiz a requerimento das partes ou, quando no curso da investigação criminal, por representação da autoridade policial ou mediante requerimento do Ministério Público.</p><p>§ 3º Ressalvados os casos de urgência ou de perigo de ineficácia da medida, o juiz, ao receber o pedido de medida cautelar, determinará a intimação da parte contrária, para se manifestar no prazo de 5 (cinco) dias, acompanhada de cópia do requerimento e das peças necessárias, permanecendo os autos em juízo, e os casos de urgência ou de perigo deverão ser justificados e fundamentados em decisão que contenha elementos do caso concreto que justifiquem essa medida excepcional.</p><p>§ 4º No caso de descumprimento de qualquer das obrigações impostas, o juiz, mediante requerimento do Ministério Público, de seu assistente ou do querelante, poderá substituir a medida, impor outra em cumulação, ou, em último caso, decretar a prisão preventiva, nos termos do parágrafo único do art. 312 deste Código.</p><p>§ 5º O juiz poderá, de ofício ou a pedido das partes, revogar a medida cautelar ou substituí-la quando verificar a falta de motivo para que subsista, bem como voltar a decretá-la, se sobrevierem razões que a justifiquem.</p><p>§ 6º A prisão preventiva somente será determinada quando não for cabível a sua substituição por outra medida cautelar, observado o art. 319 deste Código, e o não cabimento da substituição por outra medida cautelar deverá ser justificado de forma fundamentada nos elementos presentes do caso concreto, de forma individualizada.</p><p>Sobre os requisitos das medidas cautelares, expõe Renato Brasileiro:</p><p>Em que pese a falta de sistematização das cautelares no Código de Processo Penal e a inexistência de um processo penal cautelar autônomo, isso não significa dizer que esses provimentos cautelares possam ser determinados durante a persecução penal sem a observância de requisitos e fundamentos próprios do processo cautelar. Como espécies de provimentos de natureza cautelar, as medidas cautelares de natureza pessoal jamais poderão ser adotadas como efeito automático da prática de determinada infração penal. Sua decretação também está condicionada à presença do fumus comissi delicti e do periculum libertatis.</p><p>Não se pode pensar que as medidas diversas da prisão, por</p><p>não implicarem a restrição absoluta da liberdade, não estejam condicionadas à observância dos pressupostos e requisitos legais. Pelo contrário. À luz da garantia da presunção de não culpabilidade e da própria redação do art. 282 do CPP, nenhuma dessas medidas pode ser aplicada sem que existam os pressupostos do fumus comissi delicti e do periculum libertatis.</p><p>Em face do caráter urgente da medida cautelar, ao analisar seu cabimento, limita-se o juiz ao exercício de uma mera cognição sumária. Em outras palavras, quando da adoção de uma medida cautelar, é inviável exigir-se que o juiz desenvolva atividade cognitiva no mesmo grau de profundidade que aquela desenvolvida para o provimento definitivo. Não se decide com base no ius, mas sim no fumus boni iuris.</p><p>O fumus boni iuris enseja a análise judicial da plausibilidade da medida pleiteada ou percebida como necessária a partir de critérios de mera probabilidade e verossimilhança e em cognição sumária dos elementos disponíveis no momento, ou seja, basta que se possa perceber ou prever a existência de indícios suficientes para a denúncia ou eventual condenação de um crime descrito ou em investigação, bem como a inexistência de causas de exclusão de ilicitude ou de culpabilidade.</p><p>Em se tratando de medidas cautelares de natureza pessoal, não há falar, porém, em fumus boni iuris, mas sim em fumus comissi delicti.</p><p>Como destaca Aury Lopes Jr., se o delito é a própria negação do direito, como se pode afirmar que a decretação de uma prisão cautelar está condicionada à comprovação da fumaça do bom direito? Ora, não é a fumaça do bom direito que determina ou não a prisão de alguém, mas sim a comprovação por elementos objetivos dos autos que formam uma aparência de que o delito foi cometido por aquela pessoa que se pretende prender. Daí o uso da expressão fumus comissi delicti, a ser entendida como a plausibilidade do direito de punir, ou seja, plausibilidade de que se trata de um fato criminoso, constatada por meio de elementos de informação que confirmem a presença de prova da materialidade e de indícios de autoria do delito. (Manual de Processo Penal, Editora Jus Podium).</p><p>Com o advento do Pacote Anticrime, a competência para fixação das medidas cautelares, no curso da investigação criminal, passa a ser do Juiz das Garantias (cuja implementação está suspensa por decisão cautelar do STF em controle concentrado de constitucionalidade). Após o recebimento da denúncia, o magistrado da instrução deverá reavaliar a necessidades das medidas cautelares, no prazo de 10 dias, conforme art. 3º-C do Código de Processo Penal.</p><p>QUESTÃO 1-Jorge foi preso em flagrante pelo delito de furto qualificado. Ao receber os autos do inquérito, o juiz de direito entendeu não estarem presentes os requisitos da prisão preventiva, posto ser Jorge primário e sem antecedentes, e tratar-se de crime sem violência ou grave ameaça. Contudo, ao conceder a liberdade provisória, fixou as medidas cautelares de comparecimento mensal em juízo, proibição de se aproximar da vítima, proibição de frequência a bares e shows, proibição de ausentar-se da comarca e recolhimento domiciliar noturno.</p><p>Na qualidade de advogado de Jorge, o que deve alegar em seu favor?</p><p>RESPOSTA 1-Deve-se alegar que as cautelares fixadas são desproporcionais ao caso concreto e não guardam relação com os fatos.</p><p>Argumenta-se que as medidas cautelares devem ter correspondência com o crime praticado, não sendo lógico, por exemplo, proibir um furtador de frequentar bares, ou proibi-lo de deixar a comarca se não há necessidade de produção de provas.</p><p>QUESTÃO 2-São requisitos para aplicação de medidas cautelares alternativas:</p><p>RESPOSTA 2-prova da materialidade, indícios de autoria, necessidade para aplicação da lei penal ou para a instrução criminal</p><p>FUNDAMENTAÇÃO: Pois não se exige prova da autoria, apenas indícios. Além disso, a garantia da ordem pública e da ordem econômica, embora sejam requisitos da prisão preventiva, não são requisitos das medidas cautelares alternativas.</p><p>AULA 02: OPORTUNIDADE PARA APLICAÇÃO</p><p>As medidas cautelares podem ser aplicadas tanto durante o inquérito policial quanto durante o processo. No decorrer do inquérito podem ser decretadas a requerimento do Ministério Público ou mediante representação da autoridade policial.</p><p>Já durante o processo podem ser decretadas a requerimento do Ministério Público ou a requerimento das partes (querelante ou assistente de acusação). Note-se que a Lei não prevê a possibilidade da vítima requerer as medidas durante o inquérito. Porém, é possível que o ofendido formule seu requerimento nos autos do inquérito, de forma que o órgão ministerial ou a autoridade policial concordem com o pleito, ensejando, assim, a possibilidade de decretação pelo juiz.</p><p>Antes, a regra era clara em permitir ao juiz que decretasse cautelar de ofício. Agora não há mais essa possibilidade, pois expressamente foi retirado do texto tal poder do juiz. Essa alteração possui grande impacto em dois aspectos da persecução penal: a) na hipótese de prisão em flagrante e b) durante o processo para as hipóteses de prisão preventiva. Quando da prisão em flagrante os autos são enviados ao juiz que, nos termos do artigo 310 do CPP vai decidir sobre a legalidade da prisão em flagrante, bem como sobre a imposição de outras cautelares, e até mesmo sobre a decretação da prisão preventiva. Posteriormente, com a regulamentação da audiência de custódia, esse tipo de decisão seria tomada na audiência de custódia. A grande discussão que surgiu em 2011 foi se o juiz poderia tomar as decisões previstas no artigo 310 sem que houvesse requerimento do Ministério Público ou representação da autoridade policial. A jurisprudência se encaminhou no sentido de que o juiz poderia atuar de ofício nos termos do artigo 310 do CPP, ou seja, sem que houvesse requerimento do MP ou representação da autoridade policial. (...)</p><p>Agora deve a discussão ser reavivada e, novamente, devemos ter as duas posições que existiam em 2011. Em primeiro lugar, é possível que a jurisprudência continue a atuar, de forma que nada mudou com a nova redação do artigo 282 do CPP. Entendemos de maneira distinta. Entendemos que a alteração do artigo 282 do CPP reforça a ideia de que se o juiz não pode atuar de ofício no processo, com muito maior razão não poderá atuar no inquérito policial. Dois argumentos vêm em reforço a essa posição: em primeiro lugar, a positivação e regulamentação da audiência de custódia no artigo 310 do CPP. Vale dizer, como o juiz deve tomar essa decisão em audiência, deve haver pedido por parte do MP para que seja imposta cautelar pelo juiz. Segundo argumento vem no sentido de acalmar aqueles que veem risco de ineficácia ou falta de eficiência do sistema penal, na medida em que a ausência de pedido de cautelar implicará a soltura do suspeito. Pode o delegado fazer a representação pela prisão preventiva ou para imposição de cautelares quando da lavratura do flagrante e remessa dos autos ao juiz nos termos do artigo 310 do CPP. Basta que haja representação por parte da autoridade policial, e o juiz poderá atuar. É importante que se entenda que no sistema acusatório há separação das funções de acusar e julgar. A repartição de competências é parte do desenho constitucional, e o juiz deve atuar como árbitro imparcial e se manter, em geral, em posição passiva e aguardar a atuação das partes ou da autoridade policial. É importante notar que, além do delegado poder representar pelas cautelares e do promotor poder requerer as cautelares, também o assistente de acusação poderá fazê-lo, nos termos do artigo 311 do CPP.</p><p>Ora, temos o delegado, o promotor e o assistente de acusação, o sistema pode funcionar tranquilamente sem que o juiz precise atuar de ofício. Assim, em nossa posição, defendemos que se não houver representação do delegado ou pedido do MP ou assistente de acusação, deverá o suspeito ser posto em liberdade. Essa vedação de atuação de ofício do juiz em sede de cautelares vem reforçada com as regras do artigo 282, § 4º do CPP: no caso de descumprimento</p><p>de cautelares o juiz não poderá substituir a medida por outra ou a prisão preventiva de ofício. Há uma exceção sobre a atuação de ofício por parte do magistrado. Ela vem prevista no artigo 282, § 5º: O juiz poderá, de ofício ou a pedido das partes, revogar a medida cautelar ou substituí-la quando verificar a falta de motivo para que subsista, bem como voltar a decretá-la, se sobrevierem razões que a justifiquem. (Comentários ao Pacote Anticrime, RT, 2020).</p><p>QUESTÃO 1-Você, advogado, foi procurado por Cristiano, o qual disse ter sido vítima do crime de lesão corporal, praticada por seu vizinho, Celso, já tendo sido registrado boletim de ocorrência e instaurado inquérito policial.</p><p>Assustado, Cristiano gostaria que Celso fosse proibido de se aproximar do agredido ou de sua família.</p><p>É viável a pretensão de seu cliente?</p><p>RESPOSTA 1-Embora o art. 282, §2º, do CPP, não preveja a possibilidade do ofendido requer medidas cautelares alternativas durante o inquérito (apenas durante o processo), é possível que o ofendido formule o pedido, aguardando que o MP ou a autoridade policial ratifiquem o requerimento.</p><p>Importante anotar que, sendo Celso vizinho de Cristiano, não haveria razoabilidade em impor distanciamento inferior à metragem existente entre ambas as residências.</p><p>QUESTÃO 2-A quais infrações penais não é possível a aplicação de medidas cautelares diversas da prisão?</p><p>RESPOSTA 2-às que não são punidas com pena privativa de liberdade;</p><p>Fundamentação- conforme disposição art. 283, § 1º, do Código de Processo Penal.</p><p>AULA 03: ESPÉCIES I</p><p>Conforme entendimento doutrinário majoritário, o rol do art. 319 é taxativo, não podendo o juiz ampliá-lo. Isto porque, tratando-se de medidas restritivas da liberdade do acusado, de rigor se faz a incidência do princípio da legalidade. Outrossim, caso se verifique que, mesmo aplicadas cumulativamente, as medidas se mostram insuficientes, estará demonstrada a necessidade da prisão preventiva.</p><p>Tratando especificamente de cada medida, expõe Nucci:</p><p>2. Comparecimento periódico em juízo: a condição é conhecida de outros institutos penais, como a suspensão condicional da pena, do regime aberto, do livramento condicional, entre outros. Parece-nos uma das mais adequadas medidas para se decretar durante a instrução, assegurando, em tese, um controle sobre o comportamento do acusado. O prazo e as condições, estabelecidos pelo juiz, devem circunscrever-se dentro do razoável, sem extrapolar os limites naturais da condição de inocência do réu, vale dizer, não podem ser mais rigorosos do que o imposto em razão do cumprimento de pena.</p><p>3. Proibição de acesso ou frequência a certos lugares: essa medida cautelar figura como condição de outros benefícios penais (livramento condicional, sursis etc.) e, em particular, como pena alternativa. Esta última representa um autêntico desastre em matéria de política criminal, pois denota consagrada inutilidade e ausência de compromisso com o sistema penal eficiente. Quase impossível de ser fiscalizada, como pena, deve ser evitada - como, aliás, vem ocorrendo - pelos julgadores. Entretanto, na seara da cautelaridade pode apresentar-se viável. O acusado sempre ter maior cuidado em cumprir o determinado pelo juiz, para permanecer em liberdade, temendo a prisão preventiva. Outro fator a impulsionar a sua eficácia é a possibilidade de auxílio da vítima do crime, atuando ou não como assistente de acusação, embora apontando ao magistrado as eventuais falhas do réu. A vedação ao acesso ou frequência a certos lugares precisa guardar correspondência com o fato praticado, tudo para evitar a reiteração criminosa ou o cometimento de outros delitos. Muito comum, portanto, impedir a presença em bares, botecos e outros lugares onde se possa servir bebida alcoólica, em particular quando se tratar de pessoa agressiva, cuja prática delituosa refere-se à embriaguez.</p><p>4. Proibição de contato com determinada pessoa: como regra, o foco é a vítima do delito, quando o cenário envolve crimes típicos de violência ou grave ameaça à pessoa, como tentativa de homicídio, lesão corporal, ameaça, constrangimento ilegal etc. Outro campo fértil para essa medida diz respeito aos delitos contra a honra, pois deles podem resultar infrações mais sérias. Essa medida foi inaugurada na Lei de Violência Doméstica, que, por ser lei especial, continua valer por seus próprios preceitos. O instrumento é útil, contando com o fato de ser interessada a pessoa em relação à qual deva o acusado distanciar-se; ela mesma pode comunicar ao magistrado do processo a infringência da medida cautelar.</p><p>5. Proibição de se ausentar da Comarca: procura-se evitar a fuga e, com isso, a necessidade da prisão preventiva. Fixa a lei, como condição a esta medida cautelar, a conveniência ou necessidade para a investigação ou instrução. Ora, como regra, tal situação inexiste, constituindo direito do réu acompanhar a instrução - e não obrigação. Por isso, a mais adequada interpretação diz respeito a eventual suspeita de ausência definitiva do distrito da culpa; em lugar da preventiva, decreta-se a medida cautelar alternativa.</p><p>6. Recolhimento domiciliar: tivemos a oportunidade de criticar o atual regime aberto, em vigor por diversas Comarcas brasileiras, onde, em lugar da Casa do Albergado, determina-se o recolhimento do sentenciado em seu próprio domicílio, criando-se a prisão albergue domiciliar. Como medida punitiva, sem a devida fiscalização, torna-se fator de descrédito para o Judiciário e para o sistema penal como um todo. Entretanto, como medida cautelar, soa-nos razoável. Não deixa de figurar como constrangimento à liberdade individual, em especial ao acusado, presumidamente inocente até a decisão condenatória definitiva. Cremos deva o réu ter maior cuidado em cumprir a medida imposta, justamente para evitar os males da prisão preventiva. (Código de Processo Penal Comentado, Forense)</p><p>QUESTÃO 1-Tadeu foi conduzido à delegacia para lavratura de Termo Circunstanciado por infração ao art. 28 da Lei 11.343/06.</p><p>Por possuir outro processo em andamento pela mesma infração penal, o juiz fixou a medida cautelar de proibição de frequentar bares, casas noturnas e shows, buscando evitar que Tadeu volte a consumir entorpecentes.</p><p>Na qualidade de advogado do investigado, o que poderá alegar em seu favor?</p><p>RESPOSTA 1-Deve-se alegar que, de acordo com o art. 283, § 1º, do Código de Processo Penal, não se aplicam medidas cautelares às infrações a que não sejam cominadas isolada, cumulativa ou alternativamente, pena privativa de liberdade.</p><p>No caso em tela, ao art. 28 da Lei de Drogas comina-se tão somente penas restritivas de direitos, motivo pelo qual Tadeu não pode sofrer qualquer medida cautelar.</p><p>QUESTÃO 2-Sobre as medidas cautelares alternativas pode-se afirmar que:</p><p>RESPOSTA 2-Podem ser fixadas cumulativamente, sem restrição de número, desde que de forma fundamentada pelo juiz.</p><p>Fundamentação- A lei não dispõe número mínimo ou máximo para a imposição de cautelares cabendo ao magistrado, ao avaliar o caso concreto, definir quantas e quais medidas são necessárias para a aplicação da lei penal e da instrução criminal.</p><p>AULA 04: ESPÉCIES II</p><p>Na presente aula daremos continuidade às medidas cautelares alternativas previstas no art. 319 do Código de Processo Penal.</p><p>Continuando a exposição de Nucci:</p><p>7. Suspensão de função ou atividade: correlaciona-se à pena restritiva de direitos de igual matiz. Esta, porém, é pesarosa e inútil, pois proíbe o condenado de exercer trabalho honesto. A medida cautelar, entretanto, parece-nos correta, evitando-se a preventiva, em particular nos casos de crimes econômico-financeiros. A função pública liga-se ao funcionalismo em geral, enquanto a atividade de natureza econômica ou financeira ao particular, em empresas privadas. A medida não é automática, dependendo da prova do justo receio do cometimento de novas infrações penais. Aliás, se tal receio for deveras evidente, dependendo do crime já praticado, é caso de decretação da prisão preventiva, para a garantia da ordem econômica.</p><p>8. Internação provisória: esta medida</p>