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<p>SEMIOLOGIA PSIQUIÁTRICA</p><p>W</p><p>BA</p><p>02</p><p>62</p><p>_v</p><p>1.</p><p>0</p><p>Proposta de Resolução</p><p>Autoria: Gabriella de Andrade Boska</p><p>Leitura crítica: Fernanda Pâmela Machado</p><p>a) Avaliação do estado mental de Cláudia e classificação de transtorno</p><p>mental.</p><p>A paciente passou por um surto psicótico, quadro agudo que antecede o</p><p>diagnóstico de esquizofrenia, caracterizado pelo rompimento com a</p><p>realidade, devido a manifestação intensa de sintomas positivos</p><p>relacionados a doença. Na tabela abaixo, está representada a avaliação</p><p>completa do estado mental:</p><p>Quadro 1 - Avaliação completa do estado mental</p><p>Função psíquica</p><p>alterada</p><p>Manifestações</p><p>psicopatológicas</p><p>Classificação dos</p><p>sintomas</p><p>Consciência. Perda da consciência</p><p>do eu, não se</p><p>reconhece como a</p><p>pessoa que realmente</p><p>é e assume outro</p><p>papel.</p><p>Positivo.</p><p>Orientação. Desorientação</p><p>autopsíquica,</p><p>incapacidade de</p><p>recordar fatos</p><p>recentes e de sua</p><p>própria história de</p><p>vida, após o surto</p><p>psicótico.</p><p>Negativo.</p><p>Juízo Delírio estruturado</p><p>com conteúdo</p><p>persecutório e</p><p>místico/ religioso.</p><p>Acreditava que estava</p><p>sendo perseguida por</p><p>homens. Após o surto,</p><p>assume o papel de</p><p>Nossa Senhora</p><p>Aparecida. Mantém</p><p>Positivo.</p><p>olhar desconfiado do</p><p>ambiente, o que pode</p><p>caracterizar a</p><p>sensação de</p><p>perseguição.</p><p>Crítica. Crítica insuficiente</p><p>quanto ao estado</p><p>psicopatológico atual,</p><p>nega qualquer</p><p>problema de saúde</p><p>mental e recusa</p><p>tratamento.</p><p>Negativo.</p><p>Senso percepção. Alucinações auditivas</p><p>e visuais. Ouve vozes</p><p>de homens, com teor</p><p>negativo e, no</p><p>momento do surto, vê</p><p>a casa cheia de</p><p>pessoas.</p><p>Positivo.</p><p>Pensamento. Acelerado, incoerente</p><p>e com fuga de ideias.</p><p>Pensamento com</p><p>conteúdo delirante,</p><p>desorganizado e sem</p><p>conseguir manter o</p><p>foco no mesmo</p><p>assunto ou ideia.</p><p>Positivo.</p><p>Afeto/ humor. Afeto embotado e</p><p>apático, não expressa</p><p>nenhuma emoção e é</p><p>resistente ao toque.</p><p>Humor lábil, oscila</p><p>entre risos e</p><p>expressões sérias, em</p><p>curto espaço de</p><p>tempo.</p><p>Positivo e negativo.</p><p>Psicomotricidade. Hipercinesia,</p><p>psicomotricidade</p><p>aumentada, com</p><p>aceleração.</p><p>Negativo.</p><p>Impulsividade/ volição. Agressividade,</p><p>dificuldade em</p><p>relações</p><p>Negativo.</p><p>interpessoais,</p><p>isolamento social.</p><p>Fonte: elaborado pela autora.</p><p>Diante desse quadro, pode-se afirmar que Cláudia possui um transtorno</p><p>do pensamento classificado como Esquizofrenia Paranoide, em que</p><p>apresenta delírios e alucinações estruturados, de caráter persecutório e,</p><p>nesse momento, acredita ser Nossa Senhora Aparecida, ou seja, está</p><p>vivendo uma realidade inexistente. Em consequência disso, apresenta</p><p>isolamento social e perda de autonomia diante das atividades básicas da</p><p>vida, como alimentação, trabalho e relacionamento interpessoal.</p><p>A esquizofrenia, geralmente, se manifesta na vida adulta e, para as</p><p>mulheres, mais tardiamente, como no caso de Cláudia, aos vinte e sete</p><p>anos.</p><p>b) Relação entre histórico de vida e demandas psicossociais de Cláudia,</p><p>com a manifestação de sintomas psicopatológicos.</p><p>Entendemos, em psicopatologia, que para uma pessoa ser</p><p>diagnosticada com algum transtorno mental, muitos fatores precisam</p><p>estar associados. No caso da paciente, vem sofrendo traumas,</p><p>estresses e violências que, aparentemente, não foram cuidados no</p><p>momento que aconteceram, o que resultou em uma desorganização</p><p>psíquica do pensamento e esquizofrenia.</p><p>As experiências vividas pela paciente estão, hoje, refletidas em seus</p><p>delírios e, aparentemente, ela criou essa realidade espiritual como</p><p>alternativa para conseguir viver afastada das lembranças e dos</p><p>sofrimentos que ainda carrega. Entretanto, essas manifestações podem</p><p>ter acontecido somente agora, devido a associação com outros</p><p>problemas psicossociais que surgiram em sua vida.</p><p>Podemos listar alguns fatos importantes:</p><p>Infância:</p><p>• Morte da mãe: nesse momento, Cláudia é afastada da figura</p><p>materna, figura de proteção. Perda que pode ser reflexo da criação</p><p>do papel de Nossa Senhora Aparecida após o surto psicótico.</p><p>• Uso problemático de álcool pelo pai: pode ter relação com alguma</p><p>predisposição genética de transtornos mentais.</p><p>• Violência sexual: trauma claro, causado pelo pai, que pode ser</p><p>reflexo das alucinações com vozes de homens dizendo que fariam</p><p>mal a ela, ou que não merecia estar viva.</p><p>Vida adulta:</p><p>• Demissão do trabalho, com dificuldade financeira: pode ter</p><p>estimulado a desorganização psíquica.</p><p>• Isolamento social e falta de contato com a família: falta de rede de</p><p>apoio e relações interpessoais.</p><p>c) Possíveis intervenções de enfermagem com base nos aspectos</p><p>biopsicossociais.</p><p>Quadro 2 - Possíveis intervenções de enfermagem com base nos</p><p>aspectos biopsicossociais</p><p>Problemas identificados Intervenções de enfermagem</p><p>Delírios persecutórios e místicos</p><p>religiosos estruturados.</p><p>• Não desvalidar a realidade</p><p>vivenciada por Cláudia.</p><p>• Respeitar a identidade</p><p>assumida pela paciente e,</p><p>de forma cuidadosa, tentar</p><p>propiciar atividades simples</p><p>e coerentes com a</p><p>realidade.</p><p>• Reforçar e dar exemplos</p><p>claros da inexistência de</p><p>homens perseguindo.</p><p>• Estimular a entender o</p><p>processo do surto psicótico</p><p>como um problema de</p><p>saúde mental.</p><p>Alucinações auditivas e visuais. • Investigar sobre as vozes e</p><p>as pessoas.</p><p>• Estimular que Cláudia fale</p><p>sobre o conteúdo das</p><p>vozes, sobre a aparência</p><p>das pessoas que vê,</p><p>tentando encontrar relação</p><p>com as experiências</p><p>traumáticas da vida.</p><p>• Deixar claro que acredita</p><p>que a paciente está ouvindo</p><p>vozes ou vendo pessoas,</p><p>mas que apenas ela está</p><p>vivenciando isso nesse</p><p>momento.</p><p>• Orientar a importância do</p><p>uso de medicações</p><p>prescritas pelo médico para</p><p>acalmar as vozes e,</p><p>consequentemente,</p><p>melhorar o contato social e</p><p>as relações interpessoais</p><p>de Cláudia.</p><p>Falta de rede de apoio e</p><p>isolamento social.</p><p>• Propor, aos poucos,</p><p>atividades coletivas no</p><p>CAPS ou em outros locais</p><p>da comunidade que a</p><p>paciente goste de</p><p>frequentar (igreja, teatro,</p><p>praça, outros).</p><p>• Inicialmente, acompanhar</p><p>Cláudia nessas propostas,</p><p>podendo incluir a família.</p><p>• - Orientar a família para que</p><p>estimulem o contato da</p><p>paciente com a comunidade</p><p>e a própria família.</p><p>Falta de autonomia. • Estimular que Cláudia</p><p>realize o máximo de</p><p>atividades sozinha, desde</p><p>autocuidado até o cuidado</p><p>da casa. Inicialmente, pode</p><p>ter o acompanhamento da</p><p>equipe do CAPS.</p><p>• Avaliar as possibilidades da</p><p>paciente continuar morando</p><p>sozinha e desempenhando</p><p>suas atividades diárias.</p><p>• Garantir que tenha acesso</p><p>a sua documentação e seja</p><p>capaz de decidir a respeito</p><p>de suas vontades, desde</p><p>que não ofereça risco para</p><p>ela mesma e para terceiros.</p><p>Ausência de atividade laboral. • Identificar as habilidades de</p><p>Cláudia, mesmo que não</p><p>sejam as mesmas</p><p>anteriores.</p><p>• Pensar em conjunto com</p><p>paciente e família, sobre o</p><p>retorno ao mercado de</p><p>trabalho.</p><p>• Propor a inserção em</p><p>cooperativas de trabalho do</p><p>interesse dela, específicas</p><p>para pessoas com</p><p>transtornos mentais (ações</p><p>de economia solidária).</p><p>Oscilações de humor. • Identificar com a paciente</p><p>os momentos em que as</p><p>oscilações de humor</p><p>aparecem.</p><p>• Tentar elencar motivos</p><p>específicos para isso,</p><p>períodos do dia.</p><p>Geralmente, estão</p><p>relacionadas às alucinações</p><p>auditivas.</p><p>• Estimular a expressão de</p><p>sentimentos.</p><p>• Trabalhar técnicas para</p><p>controle de ansiedade,</p><p>como respiração profunda</p><p>ou repetição de palavras</p><p>fáceis de lembrar em</p><p>sequência.</p><p>Perda da consciência do eu. • Sempre chamar pelo nome.</p><p>• Reforçar sua idade, nome</p><p>de familiares, endereço que</p><p>vive; atividades que</p><p>desempenhava.</p><p>• Aos poucos, retomar</p><p>atividades que</p><p>desempenhava dentro de</p><p>suas habilidades atuais.</p><p>Dificuldade em iniciar tratamento. • Fortalecimento de vínculo</p><p>de relação, de confiança:</p><p>• Agendar atividades</p><p>esporádicas no CAPS, que</p><p>sejam de seu interesse.</p><p>• Realizar visita domiciliar.,</p><p>• Não realizar nenhuma</p><p>intervenção de forma</p><p>involuntária.</p><p>Fonte: elaborado pela autora.</p><p>SEMIOLOGIA PSIQUIÁTRICA</p><p>Proposta de Resolução</p><p>Autoria: Gabriella de Andrade Boska</p><p>Leitura crítica: Fernanda Pâmela Machado</p>