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<p>DIREITOS HUMANOS</p><p>PCMG Todos os cargos</p><p>1</p><p>DIREITOS HUMANOS</p><p>PCMG Todos os cargos</p><p>2</p><p>VÍVIAN CRISTINA MARIA SANTOS</p><p>Contato: vicristinasantos@gmail.com</p><p>Instagram: @profviviancristina</p><p>WhatsApp: http://bit.ly/contatohd</p><p>YouTube:</p><p>https://www.youtube.com/c/ProfessoraVívianCristina</p><p>Graduada em Direito pela Universidade</p><p>Estadual de Montes Claros. Mestre em</p><p>Direito pela Universidade de Coimbra,</p><p>Portugal.</p><p>Autora de artigos publicados em revistas</p><p>jurídicas e periódicos. Coautora da obra</p><p>“VADE MECUM Direitos Humanos para</p><p>Concursos Públicos".</p><p>Professora de Direitos Humanos e Direito</p><p>Constitucional para concursos públicos.</p><p>Criadora de conteúdo digital no instagram</p><p>@profviviancristina e no canal do YouTube</p><p>Professora Vívian Cristina.</p><p>ATENÇÃO! NÃO COMPARTILHE MATERIAL.</p><p>VIOLAÇÃO DE DIREITOS AUTORAIS É CRIME.</p><p>NÃO COLOQUE SUA NOMEAÇÃO EM RISCO!</p><p>https://www.instagram.com/humanizandodireitos/?hl=pt-br</p><p>http://bit.ly/contatohd</p><p>https://www.youtube.com/c/ProfessoraVívianCristina</p><p>DIREITOS HUMANOS</p><p>PCMG Todos os cargos</p><p>3</p><p>APRESENTAÇÃO</p><p>Olá, pessoal! Tudo bem? Sou a professora Vívian Cristina. Trabalho</p><p>com as disciplinas de Direitos Humanos e Direito Constitucional e, há mais</p><p>de 18 anos, venho ajudando os alunos a serem aprovados na OAB e em</p><p>concursos públicos.</p><p>O objetivo desse curso é prepará-los para a prova da Polícia Civil de</p><p>Minas Gerais. A matéria de Direitos Humanos não pode ser negligenciada</p><p>e o seu estudo trará um enorme diferencial na prova. A disciplina é</p><p>cobrada da mesma forma (e mesmo grau de exigência, inclusive) para todos</p><p>os cargos da PCMG. Assim, o curso vale para quem está se preparando para</p><p>as provas de Delegado (10 questões), Perito (5 questões junto com</p><p>Direito Constitucional), Investigador (4 questões) e Médico Legista (5</p><p>questões).</p><p>O texto da apostila foi elaborado de forma clara e objetiva, mas também</p><p>completa e detalhada, de modo a trazer todos os tópicos previstos no edital</p><p>de 2024.</p><p>Organizei os temas segundo uma ordem didática, para possibilitar melhor</p><p>compreensão da matéria. Indiquei, junto ao título de cada capítulo, qual</p><p>tópico do edital está sendo trabalhado, para facilitar o controle de estudos</p><p>de vocês.</p><p>Desenvolvi um método próprio para otimizar a leitura da matéria. É o LDQ,</p><p>Leitura Direcionada por Questões. Antes de todos os tópicos a serem</p><p>estudados, colocarei questões abertas para que você saiba o que é</p><p>relevante e já fazer o estudo buscando essas respostas. Você perceberá</p><p>que obterá melhor desempenho e uma leitura mais eficaz.</p><p>Ao final de cada capítulo, selecionei questões da banca para fins de</p><p>treinamento, revisão e memorização da matéria. Também menciono, ao</p><p>longo do texto, tópicos que já foram cobrados em provas da PCMG e as</p><p>preferências da banca FGV.</p><p>Tenha cuidado com materiais genéricos (supostamente, valem para</p><p>qualquer prova) elaborados sem considerar a banca; comentários</p><p>equivocados em sites de questões; questões mal elaboradas em simulados</p><p>de cursinhos (inclusive famosos); informações desatualizadas e, em</p><p>especial, pseudoprofessores que não têm o conhecimento necessário da</p><p>matéria e a repassam de forma incorreta. Saiba utilizar seu tempo! Ele é</p><p>tão ou mais valioso que o seu dinheiro. Foque nesse material, leia e</p><p>revise. Não fique acumulando apostilas.</p><p>Garanto a você que trabalhei com bastante compromisso, dedicação e</p><p>carinho para preparar o melhor e mais completo material. Pode confiar.</p><p>Espero que goste e seja muito útil aos seus estudos.</p><p>DIREITOS HUMANOS</p><p>PCMG Todos os cargos</p><p>4</p><p>Qualquer dúvida estou à disposição. Entre em contato, acompanhe as</p><p>redes sociais (adoro que me marquem quando estão estudando!), me envie</p><p>suas dúvidas e feedback. É de extrema importância para que eu saiba se</p><p>estou no caminho certo e como posso aperfeiçoar o material.</p><p>Temos uma lista de transmissão no WhatsApp, por onde me envio</p><p>recados importantes, links de aulas etc. e teremos um canal privado no</p><p>Telegram, só para os alunos. Preciso que entrem em contato comigo pelo</p><p>WhatsApp (38 99961 1415), salvem meu contato e se apresentem como</p><p>alunos, para serem incluídos nesse canal fechado, ok? Faremos a leitura de</p><p>documentos por lá, trarei dicas e explicações pontuais etc. Ter esse material</p><p>em áudio vai otimizar muito o estudo de vocês. Quem ficar de fora vai perder</p><p>uma parte importante do curso.</p><p>Ótimos estudos! Confie no processo e em você. Conte comigo!</p><p>“Não espere incentivo dos outros. O primeiro a acreditar no seu</p><p>sonho, tem que ser você.”</p><p>Com carinho,</p><p>Professora Vívian Cristina</p><p>DIREITOS HUMANOS</p><p>PCMG Todos os cargos</p><p>5</p><p>CRONOGRAMA DE ESTUDOS</p><p>Capítulo 01 + Aulas em vídeo – 23 de agosto</p><p>TEORIA GERAL DOS DIREITOS HUMANOS</p><p>Capítulo 02 + Aulas em vídeo – 30 de agosto</p><p>AFIRMAÇÃO HISTÓRICA DOS DIREITOS HUMANOS</p><p>Capítulo 03 – 06 de setembro</p><p>A CONSTITUIÇÃO BRASILEIRA DE 1988 E OS TRATADOS INTERNACIONAIS</p><p>DE PROTEÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS</p><p>Capítulo 04 + Aulas em vídeo – 13 de setembro</p><p>O SISTEMA INTERNACIONAL DE PROTEÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS</p><p>(Precedentes históricos e sistema global de proteção – ONU: Declaração Universal</p><p>dos Direitos Humanos)</p><p>Capítulo 05 + Aulas em vídeo – 20 de setembro</p><p>O SISTEMA INTERNACIONAL DE PROTEÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS -</p><p>Pactos Internacionais da ONU</p><p>Capítulo 06 + Aulas em vídeo – 27 de setembro</p><p>O CRIME DE GENOCÍDIO E O TRIBUNAL PENAL INTERNACIONAL</p><p>Capítulo 07 + Aulas em vídeo – 04 de outubro</p><p>SISTEMAS REGIONAIS DE PROTEÇÃO DE DIREITOS HUMANOS (Europeu,</p><p>americano e africano). Sistema Americano - Parte 01.</p><p>Capítulo 08 + Aulas em vídeo – 11 de outubro</p><p>SISTEMAS REGIONAIS DE PROTEÇÃO DE DIREITOS HUMANOS- Sistema</p><p>Americano - Parte 02.</p><p>Capítulo 09 + Aulas em vídeo – 18 de outubro</p><p>DIREITOS HUMANOS DAS MINORIAS E GRUPOS VULNERÁVEIS – Parte 01</p><p>Capítulo 10 + Aulas em vídeo – 25 de outubro</p><p>DIREITOS HUMANOS DAS MINORIAS E GRUPOS VULNERÁVEIS – Parte 02</p><p>Capítulo 11 + Aulas em vídeo – 01 de novembro</p><p>DIREITOS HUMANOS DAS MINORIAS E GRUPOS VULNERÁVEIS – Parte 03</p><p>Capítulo 12 + Aulas em vídeo – 08 de novembro</p><p>POLÍTICA NACIONAL DE DIREITOS HUMANOS</p><p>Capítulo 13 + Aulas em vídeo – 15 de novembro</p><p>EDUCAÇÃO E CULTURA EM DIREITOS HUMANOS</p><p>Capítulo 14 + Aulas em vídeo – 22 de novembro</p><p>SEGURANÇA PÚBLICA E DIREITOS HUMANOS</p><p>DIREITOS HUMANOS</p><p>PCMG Todos os cargos</p><p>6</p><p>Capítulo 15 + Aulas em vídeo – 29 de novembro</p><p>AGENDA 2030 E OS OBJETIVOS DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL</p><p>(ODS)</p><p>Capítulo 16 + Aulas em vídeo – 06 de dezembro</p><p>COMBATE À TORTURA E DESAPARECIMENTO FORÇADO</p><p>Capítulo 17 + Aulas em vídeo – 13 de dezembro</p><p>DIREITOS HUMANOS NO BRASIL</p><p>TABELAS RESUMO – serão postadas a partir do dia 08 de novembro</p><p>BÔNUS</p><p>NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL cobradas nas provas de Perito, Médico</p><p>Legista, Investigador e Escrivão. Será disponibilizada em tópicos, a partir de 04 de</p><p>outubro.</p><p>REVISÃO DE VÉSPERA – na semana da prova</p><p>DIREITOS HUMANOS</p><p>PCMG Todos os cargos</p><p>7</p><p>SITES INTERESSANTES</p><p>Seguem alguns sites úteis se quiserem realizar alguma pesquisa.</p><p>✓ Página da ONU com todos os seus tratados relativos aos direitos</p><p>humanos (em inglês ou francês, mas você pode traduzir o site, no</p><p>Google). É o local seguro para verificar as informações sobre um</p><p>tratado do ONU, como por exemplo, saber se o Brasil</p><p>da CF/88) e de normas internacionais (artigo 11 do Protocolo</p><p>de San Salvador e do Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e</p><p>Culturais, dentre outras) que impedem a omissão do Estado, ou uma proteção</p><p>insuficiente, na proteção e promoção do meio ambiente. Para evitar o retrocesso</p><p>socioambiental, o Estado fica não pode adotar, de forma discricionária, medidas</p><p>restritivas e nem regredir na implementação de políticas públicas voltadas à</p><p>proteção ambiental. Foi reconhecida pelo STF na ADI 4717, julgada em 2018, que</p><p>concluiu ser inconstitucional a redução de unidade de conservação por meio de</p><p>medida provisória.</p><p>Eficácia horizontal e eficácia diagonal</p><p>A mesma discussão acerca da eficácia direta dos direitos fundamentais pode ser</p><p>feita no regime jurídico de proteção internacional dos direitos humanos.</p><p>Tradicionalmente, a eficácia dos direitos fundamentais era apenas vertical.</p><p>Ou seja, válida apenas nas relações de oposição entre Estado e indivíduo, típica</p><p>do Estado Liberal.</p><p>DIREITOS HUMANOS</p><p>PCMG Todos os cargos</p><p>32</p><p>Entretanto, com o surgimento do Estado de Bem-Estar Social e, posteriormente,</p><p>do Estado Democrático de Direito, e a redefinição da clássica distinção entre</p><p>público e privado, surge a ideia de eficácia horizontal dos direitos</p><p>fundamentais. Consiste na aplicação direta desses direitos nas relações entre</p><p>particulares (os alemães chamam de Drittwirkung).</p><p>A teoria também se aplica às normas internacionais de proteção de direitos</p><p>humanos, existindo duas modalidades de eficácia horizontal nesses tratados.</p><p>Na primeira, há o reconhecimento, no próprio texto do tratado, da</p><p>vinculação dos particulares aos direitos protegidos. Essa previsão pode ser</p><p>encontrada, por exemplo, na Convenção para Eliminação de Todas as Formas de</p><p>Discriminação Racial (artigo 2.º, alínea d) e na Convenção Interamericana contra o</p><p>Racismo, a Discriminação Racial e Formas Correlatas de Intolerância (artigos 1.º,</p><p>2.º e 4.º, dentre outros).</p><p>Na segunda modalidade, busca-se exigir do Estado o cumprimento de suas</p><p>obrigações internacionais de garantia de direitos humanos. Isso inclui prevenir</p><p>ou reprimir violações de direitos humanos por atos de particulares. Se o Estado for</p><p>omisso, se não desempenhar de forma razoável o seus dever de prevenir a</p><p>violação de direitos humanos por atos de particulares, poderá ser</p><p>responsabilizado internacionalmente.</p><p>Como esclarece ACR: “A falta da devida diligência para prevenir ou reprimir e</p><p>reparar as violações de direitos humanos realizadas por particulares pode ensejar</p><p>a responsabilidade internacional do Estado. É o caso da omissão na prevenção ou</p><p>na repressão de atos ilícitos de particular, ou ainda, no estímulo ou na edição de</p><p>medidas que encorajam particulares para a violação de direitos.”</p><p>Assim, cabe ao Estado um papel ativo na promoção de direitos humanos,</p><p>cuidando para que particulares não violem os direitos protegidos, ou, em caso</p><p>de violação, buscando, de forma imediata, a reparação do dano sofrido.</p><p>A eficácia diagonal é uma espécie de eficácia horizontal, aplicada em</p><p>relações entre particulares nas quais uma das partes apresenta uma condição</p><p>de vulnerabilidade. Essa situação, faz com que os direitos de uma das partes</p><p>prevaleçam em relação à outra. Pode ser observada nas normas internacionais</p><p>de proteção de direitos humanos, nas relações que envolvam, por exemplo,</p><p>crianças, pessoas com deficiência, trabalhadores etc.</p><p>Fala-se também em eficácia vertical com repercussão lateral, que decorreria</p><p>do direito à efetividade da tutela jurisdicional, diante da omissão do legislador em</p><p>viabilizar direitos, restando ao titular socorrer-se da jurisdição. Na lição de</p><p>Marinoni, Arenhart e Mitidiero, na obra “O Novo Processo Civil”, o direito</p><p>fundamental à tutela jurisdicional efetiva “tem eficácia apenas sobre o Estado, pois</p><p>se presta unicamente a vincular o modo de atuação da jurisdição, que possui a</p><p>função de atender não apenas aos direitos fundamentais, mas a quaisquer direitos”.</p><p>Desse modo, devem ser tutelados jurisdicionalmente todos os direitos e não</p><p>apenas os fundamentais.</p><p>DIREITOS HUMANOS</p><p>PCMG Todos os cargos</p><p>33</p><p>À luz dos ensinamentos dos autores mencionados, a eficácia vertical com</p><p>repercussão lateral sobre os particulares, é a apresentada pelo direito</p><p>fundamental à efetividade da tutela jurisdicional. Assim é que este direito “incide</p><p>apenas sobre a jurisdição” (sobre a atividade do juiz), mas “pode repercutir</p><p>‘lateralmente’ sobre o particular, conforme o maior ou menor ‘grau de</p><p>agressividade’ da técnica processual empregada no caso concreto”.</p><p>Percebam que, nesse caso, não se dá a eficácia horizontal, mas a chamada</p><p>repercussão lateral sobre a esfera privada das partes, não obstante a incidência</p><p>direta e imediata desse direito se opere apenas sobre o Estado.</p><p>Historicidade</p><p>Os nossos direitos não surgiram todos de uma vez, de uma hora para outra.</p><p>São direitos construídos com o decorrer do tempo.</p><p>Se desenvolveram no plano internacional, especialmente, após a Segunda</p><p>Guerra Mundial, com a criação da ONU (não obstante a OIT - Organização</p><p>Internacional do Trabalho já existir desde 1919).</p><p>Na famosa lição de Norberto Bobbio, não são um dado, são um construído.</p><p>Essa característica também ressalta a ideia de que não são inalteráveis, ao</p><p>contrário, são direitos em constante evolução e construção.</p><p>Essencialidade</p><p>Os direitos humanos têm por conteúdo valores supremos do ser humano,</p><p>sendo essenciais por protegerem a dignidade humana (conteúdo material) e</p><p>por ocuparem posição especial no ordenamento (conteúdo formal).</p><p>Fundamentalidade formal e material</p><p>Na visão de André de Carvalho Ramos, os direitos humanos representam</p><p>valores essenciais, que podem estar explícitos ou implícitos nas Constituições e</p><p>nas normas internacionais. A sua fundamentalidade pode ser formal ou material.</p><p>A fundamentalidade dos direitos humanos pode ser formal, quando inscritos</p><p>no rol de direitos protegidos nas Constituições e nos tratados internacionais; ou</p><p>pode ser material, quando consideramos que, ainda que não expressos, são</p><p>indispensáveis para a promoção da dignidade humana.</p><p>Marcas distintivas dos direitos humanos</p><p>Ademais, apesar das diferenças em relação ao seu conteúdo, podemos destacar</p><p>quatro ideias comuns, conhecidas como marcas distintivas dos direitos</p><p>humanos:</p><p>• Universalidade – são direitos de todos</p><p>• Essencialidade – são valores indispensáveis que devem ser protegidos por</p><p>todos</p><p>• Superioridade normativa ou preferenciabilidade – são superiores em</p><p>relação às demais normas</p><p>DIREITOS HUMANOS</p><p>PCMG Todos os cargos</p><p>34</p><p>• Reciprocidade – são direitos de todos e não sujeitam apenas o Estado e os</p><p>agentes públicos, mas toda a coletividade.</p><p>Direitos humanos do ponto de vista subjetivo e objetivo</p><p>Como esclarece ACR, do ponto de vista subjetivo e objetivo, temos diferentes</p><p>maneiras de implementação dos direitos humanos. Sob o aspecto subjetivo, a</p><p>tarefa de realizar direitos humanos pode ser do Estado, do particular ou de</p><p>ambos (é o que observamos, por exemplo, em relação ao meio ambiente, cuja</p><p>proteção incumbe ao Estado e à coletividade, nos termos do artigo 225 da CF/88).</p><p>Do ponto de vista objetivo, pode ser exigida uma conduta ativa ou uma</p><p>conduta passiva para o cumprimento dos direitos humanos. Podemos ter</p><p>ainda a combinação das duas condutas. No exemplo de ACR: “o direito à vida</p><p>acarreta tanto a conduta omissiva quanto comissiva por parte dos agentes públicos:</p><p>de um lado, devem se abster de matar (sem justa causa) e, de outro, tem o dever</p><p>de proteção (de ação) para impedir que outrem viole a vida.”</p><p>Sociedade inclusiva e suas consequências</p><p>Conforme o mesmo autor, uma sociedade inclusiva, que</p><p>é aquela pautada na</p><p>defesa direitos humanos, tem várias consequências:</p><p>1. A primeira consequência é que podemos sustentar que o primeiro direito de</p><p>todo indivíduo é o direito a ter direitos. No cenário internacional Hannah Arendt</p><p>e no ordenamento jurídico interno Celso Lafer, entendem que o primeiro direito</p><p>humano, do qual derivam todos os demais, é o direito a ter direitos. Nesse mesmo</p><p>sentido, entende o STF que o direito a ter direitos é “uma prerrogativa básica,</p><p>que se qualifica como fator de viabilização dos demais direitos e liberdades”</p><p>(ADI 2903, 2005).</p><p>2. Como segunda consequência, temos o reconhecimento de que os direitos</p><p>de um indivíduo convivem com os direitos de outros. Esses direitos podem</p><p>entrar em colisão, exigindo ponderação e sopesamento dos valores envolvidos. Em</p><p>caso de conflitos de direitos, devemos estabelecer limites, preferências e</p><p>prevalências.</p><p>Na conclusão de ACR, “não há automatismo no mundo da sociedade de</p><p>direitos. Não basta anunciar um direito para que o dever de proteção incida</p><p>mecanicamente. Pelo contrário, é possível o conflito e a colisão entre direitos,</p><p>a exigir sopesamento e preferência os valores envolvidos. Por isso, nasce a</p><p>necessidade de compreendermos como é feita a convivência entre os direitos</p><p>humanos em uma sociedade inclusiva, na qual os direitos de diferentes conteúdos</p><p>interagem. Essa atividade de ponderação é exercida cotidianamente pelos órgãos</p><p>judiciais e internacionais de direitos humanos.”</p><p>DIREITOS HUMANOS</p><p>PCMG Todos os cargos</p><p>35</p><p>6. Gramática dos direitos humanos e sua hermenêutica jurídica</p><p>Como ensina Mazzuoli, “Gramática é a ciência que estuda os elementos de uma</p><p>determinada língua e orienta o uso de seu padrão culto. Conota, assim, a arte de</p><p>falar e escrever uma língua de maneira escorreita. Graças a ela a língua mantém</p><p>sua unidade e estrutura dentro de regras formais.”</p><p>A gramática dos direitos humanos estuda os elementos que compõem o núcleo</p><p>normativo dos direitos humanos e suas combinações recíprocas, orientando a sua</p><p>correta aplicação. É o estudo das normas internacionais de proteção dos</p><p>direitos humanos com o objetivo de guiar o aplicador do direito à solução</p><p>adequada, em especial no plano interno.</p><p>Compreende o estudo do sistema global (da ONU) e dos sistemas regionais</p><p>(europeu, americano e africano) de proteção dos direitos humanos, bem como</p><p>os mecanismos específicos de proteção, previstos ou não tem tratados</p><p>internacionais.</p><p>A compreensão dessa gramática possibilita às vítimas de violação a</p><p>reivindicação dos seus direitos, tantos nos tribunais internos quanto nas instâncias</p><p>internacionais, consagrando uma “cultura de direitos humanos”.</p><p>Considerando a importância dos de direitos humanos, torna-se necessária uma</p><p>adequada interpretação das normas relativas à sua proteção. Por isso, todas as</p><p>normas em vigor em um Estado, sejam internas ou internacionais, devem ser</p><p>interpretadas em conformidade com os direitos humanos, sem qualquer</p><p>exceção.</p><p>Deve ser sempre aplicada a norma mais benéfica, mais favorável ao ser</p><p>humano. É o princípio pro homine ou pro persona, por meio do qual o intérprete,</p><p>no caso concreto, deve buscar a norma mais protetiva à pessoa.</p><p>A interpretação conforme os direitos humanos deve seguir o entendimento</p><p>da jurisprudência dos tribunais internacionais, sempre que mais benéfica (no nosso</p><p>caso, a jurisprudência da Corte Interamericana de Direitos Humanos, que é o</p><p>tribunal ao qual estamos sujeitos). As decisões da Corte Interamericana valem para</p><p>as partes como res judicata (são obrigatórias, como ocorre quando o Brasil é</p><p>condenado em algum caso, por exemplo) e valem para terceiros como res</p><p>interpretata (a título de interpretação, no caso de condenação de outro país ou na</p><p>emissão de uma opinião consultiva pela Corte).</p><p>Essa interpretação mais favorável deve ser observada em todos os tipos</p><p>de normas: tanto por normas que não sejam de direitos humanos (normas relativas</p><p>ao comércio, por exemplo) quanto pelos próprios tratados internacionais de direitos</p><p>humanos.</p><p>DIREITOS HUMANOS</p><p>PCMG Todos os cargos</p><p>36</p><p>7. Classificação dos direitos humanos</p><p>7.1 Gerações ou dimensões de direitos humanos (Teoria geracional ou</p><p>dimensional)</p><p>A classificação mais famosa dos direitos humanos, é, sem dúvida, a classificação</p><p>em gerações, dimensões ou famílias. De acordo com Norberto Bobbio, em sua</p><p>obra, “A Era dos Direitos”, os direitos humanos são resultado de um processo</p><p>histórico, de luta, não surgiram de uma hora para outra, e todos de uma só vez.</p><p>Assim, falamos em gerações ou dimensões de direitos. O termo dimensão tem</p><p>sido mais utilizado na atualidade, sendo considerado mais adequado, por não</p><p>reforçar a falsa ideia de que uma geração substituiria a outra.</p><p>O primeiro a falar em gerações foi Karel Vasak, jurista de origem tcheca,</p><p>naturalizado francês, em 1979, que em uma conferência proferida no Instituto</p><p>Internacional de Direitos Humanos de Estrasburgo (França), comparou as</p><p>gerações à bandeira francesa e ao lema da revolução. O azul seria a liberdade, o</p><p>branco a igualdade e o vermelho, a fraternidade, ou solidariedade. No Brasil, o</p><p>constitucionalista Paulo Bonavides é uma das grandes referências no estudo das</p><p>gerações dos direitos fundamentais.</p><p>Assim, a primeira geração ou dimensão, são os direitos de liberdade, os</p><p>direitos individuais, civis e políticos, que têm como marco as revoluções liberais</p><p>do século XVIII na Europa e Estados Unidos. Surgem no contexto do chamado</p><p>Estado Liberal (ou Estado de Direito). Também conhecidos como direitos de</p><p>defesa ou liberdades negativas. Temos como exemplos: vida, liberdade,</p><p>igualdade em sentido formal, segurança pessoal e dos bens, propriedade.</p><p>Em regra, são as prestações negativas, nas quais o Estado deve proteger a</p><p>esfera de autonomia do indivíduo. No entanto, como ressalta André de Carvalho</p><p>Ramos (ACR): “O papel do Estado na defesa dos direitos de primeira geração é</p><p>tanto o tradicional papel passivo (abstenção em violar os direitos humanos, ou seja,</p><p>as prestações negativas) quanto ativo, pois há de se exigir ações do Estado para</p><p>garantia da segurança pública, administração da justiça, entre outras.”</p><p>A segunda geração ou dimensão, os direitos de igualdade (em sentido</p><p>material), são os direitos sociais, econômicos e culturais (ou liberdades</p><p>positivas). Na visão de ACR, “representa a modificação do papel do Estado,</p><p>exigindo-lhe um vigoroso papel ativo, além do mero fiscal das regras jurídicas. Esse</p><p>papel ativo, embora indispensável para proteger os direitos de primeira geração,</p><p>era visto anteriormente com desconfiança, por ser considerado uma ameaça aos</p><p>direitos dos indivíduos.”</p><p>Contudo, sob a influência das doutrinas socialistas, percebeu-se que a efetiva</p><p>concretização dos direitos exige um papel ativo do Estado, que assegure uma</p><p>condição material mínima de sobrevivência. Têm caráter coletivo e se</p><p>concretizam, em sua maioria, a partir da atuação positiva do Estado.</p><p>São frutos das lutas sociais na Europa e Américas, no contexto do Estado</p><p>Social, de Bem-Estar Social ou “Welfare State”, possuindo como marcos a</p><p>Constituição mexicana de 1917 (que trouxe o direito ao trabalho e à previdência</p><p>DIREITOS HUMANOS</p><p>PCMG Todos os cargos</p><p>37</p><p>social), a Constituição de Weimar de 1919 (que estabeleceu os deveres do</p><p>Estado na proteção dos direitos sociais), e no Direito Internacional, o Tratado de</p><p>Versalhes, de 1919, que criou a Organização Internacional do Trabalho,</p><p>reconhecendo direitos dos trabalhadores.</p><p>Podemos mencionar como direitos sociais: saúde, educação, trabalho, cultura,</p><p>lazer etc. (Obs.: no Brasil, a Constituição de 1934 é o grande marco da proteção</p><p>desses direitos).</p><p>A terceira geração ou dimensão</p><p>são os direitos de fraternidade, ou</p><p>solidariedade, de titularidade coletiva, chamados direitos difusos, coletivos em</p><p>sentido amplo, transindividuais ou metaindividuais. São típicos do pós Segunda</p><p>Guerra Mundial, no âmbito do paradigma do Estado Democrático de Direito.</p><p>São direitos de toda a humanidade, oriundos da constatação da vinculação do</p><p>homem ao planeta Terra, com seus recursos finitos, divisão desigual de riquezas e</p><p>ameaças à sobrevivência humana. Citem-se como exemplos: meio-ambiente,</p><p>patrimônio histórico, direito à comunicação, direitos da criança e do adolescente,</p><p>direito dos idosos, direito à paz (para Karel Vasak).</p><p>No mesmo sentido, o entendimento do STF:</p><p>“Enquanto os direitos de primeira geração (direitos civis e políticos) – que</p><p>compreendem as liberdades clássicas, negativas ou formais – realçam o princípio</p><p>da liberdade e os direitos de segunda geração (direitos econômicos, sociais</p><p>e culturais) – que se identifica com as liberdades positivas, reais ou concretas</p><p>– acentuam o princípio da igualdade, os direitos de terceira geração, que</p><p>materializam poderes de titularidade coletiva atribuídos genericamente a todas</p><p>as formações sociais, consagram o princípio da solidariedade e constituem um</p><p>momento importante no processo de desenvolvimento, expansão e</p><p>reconhecimento dos direitos humanos, caracterizados, enquanto valores</p><p>fundamentais indisponíveis, pela nota de uma essencial inexauribilidade.” (MS</p><p>22.164, Rel. Min. Celso de Mello, julgamento em 30-10-1995, Plenário, DJ de 17-</p><p>11-1995.)</p><p>Alguns autores já falam em uma quarta geração (para alguns autores até quinta,</p><p>sexta e sétima), que seriam os novos direitos. Como o assunto não está bem</p><p>definido na doutrina, é mais comum que as bancas cobrem apenas até terceira</p><p>geração. Vejamos os posicionamentos mais conhecidos acerca das próximas</p><p>dimensões.</p><p>Na visão de Norberto Bobbio, teríamos na quarta geração direitos novos,</p><p>decorrentes da evolução da sociedade, como informática, biotecnologia, medicina</p><p>genética etc..</p><p>Já para Paulo Bonavides, os direitos de quarta geração derivam da</p><p>globalização dos direitos humanos, correspondendo aos direitos de participação</p><p>democrática (democracia direta), direito ao pluralismo, bioética e limites à</p><p>manipulação genética, fundados na defesa da dignidade humana contra</p><p>intervenções abusivas do Estado ou de particulares.</p><p>http://www.stf.jus.br/jurisprudencia/IT/frame.asp?PROCESSO=22164&CLASSE=MS&cod_classe=376&ORIGEM=IT&RECURSO=0&TIP_JULGAMENTO=M</p><p>http://www.stf.jus.br/jurisprudencia/IT/frame.asp?PROCESSO=22164&CLASSE=MS&cod_classe=376&ORIGEM=IT&RECURSO=0&TIP_JULGAMENTO=M</p><p>DIREITOS HUMANOS</p><p>PCMG Todos os cargos</p><p>38</p><p>Bonavides defende ainda uma quinta geração (direito da esperança),</p><p>composta pelo direito à paz em toda a humanidade (Notem que o direito à paz</p><p>foi classificado por Karel Vasak como um direito de terceira geração).</p><p>Para os defensores da sexta geração, teríamos um direito à agua: “o direito</p><p>fundamental à água potável, como direito de sexta dimensão, significa um</p><p>acréscimo ao acervo de direitos fundamentais, nascidos, a cada passo, no longo</p><p>caminhar da Humanidade. Esse direito fundamental, necessário à existência</p><p>humana e a outras formas de vida, necessita de tratamento prioritário das</p><p>instituições sociais e estatais, bem como por parte de cada pessoa humana.”</p><p>Outra parcela da doutrina afirma que essa geração é composta pelo direito à</p><p>busca pela felicidade.</p><p>Fala-se ainda em uma sétima geração de direitos. Para os defensores dessa</p><p>corrente, a probidade administrativa constitui-se em direito fundamental da</p><p>pessoa humana e da sociedade, que integra o direito fundamental à boa</p><p>administração pública e decorre dos direitos implícitos, do regime democrático e</p><p>dos princípios adotados pela Constituição Federal, revestindo-se da mesma força</p><p>jurídica dos direitos fundamentais do catálogo expresso da Constituição, possuindo</p><p>um caráter vinculante à administração e de plena e imediata aplicação. Assim,</p><p>teríamos o direito à probidade e à boa administração pública. Dito de outro</p><p>modo, a prática da corrupção viola direitos humanos.</p><p>A teoria geracional ou dimensional é atualmente criticada por alguns</p><p>doutrinadores. André de Carvalho Ramos aponta quatro defeitos da teoria:</p><p>1) Transmite, de forma errônea, a ideia de substituição de uma geração pela outra.</p><p>As gerações não se substituem, e sim, se adicionam e interagem, em constante e</p><p>dinâmica relação. Um direito não sobrevive sem o outro.</p><p>2) A enumeração de gerações pode dar a ideia de antiguidade ou posterioridade</p><p>de um rol de direitos em relação a outros, e essa não é a realidade. No Direito</p><p>Internacional, por exemplo, os direitos sociais foram consagrados em tratados</p><p>internacionais (em 1919) antes mesmo da consagração dos direitos de primeira</p><p>geração (que são de textos do pós-Segunda Guerra, como a Declaração Universal</p><p>dos Direitos Humanos, de 1948).</p><p>3) A teoria geracional apresenta os direitos de forma fragmentada, o que ofende</p><p>a característica da indivisibilidade dos direitos humanos. Embora a teoria seja</p><p>razoável para fins didáticos, serve como justificativa para reforçar a diferenciação</p><p>da forma de implementação de uma geração em face da outra (por exemplo,</p><p>considerar os direitos civis e políticos de aplicação imediata, e os direitos sociais,</p><p>econômicos e sociais de aplicação progressiva).</p><p>4) O uso dessas divisões também é criticado se levarmos em conta as novas</p><p>interpretações sobre o conteúdo dos direitos. Por exemplo: o direito à vida seria</p><p>pertencente a qual geração? Se considerarmos a doutrina tradicional, seria de</p><p>primeira geração. Entretanto, temos vários precedentes nacionais e internacionais</p><p>que exigem que o Estado realize prestações positivas para garantir o direito à vida,</p><p>como saúde, moradia, educação etc., que são direitos de segunda geração. A</p><p>DIREITOS HUMANOS</p><p>PCMG Todos os cargos</p><p>39</p><p>jurisprudência da Corte Interamericana exige um claro conteúdo social na</p><p>promoção do direito à vida, deixando clara essa nova interpretação.</p><p>Apesar das críticas, a teoria das gerações de direitos humanos ressalta uma</p><p>importante característica desses direitos: a sua inexauribilidade, para atender</p><p>novas e recentes demandas sociais.</p><p>7.2 Teoria do status</p><p>Essa teoria costuma ser desenvolvida e estudada em Direito Constitucional. No</p><p>entanto, vamos, de forma resumida, mencioná-la também aqui no nosso estudo</p><p>dos Direitos Humanos.</p><p>Foi desenvolvida, no final do século XIX, por Georg Jellinek (1851-1911), no</p><p>contexto de repúdio ao jusnaturalismo e defesa da ideia de que os direitos</p><p>humanos devem ser previstos em normas jurídicas estatais para que possam ser</p><p>garantidos e concretizados. A teoria se relaciona à posição do direito do</p><p>indivíduo em face do Estado, com previsão de mecanismos de garantia a serem</p><p>invocados no ordenamento estatal.</p><p>Assim, a classificação é pautada no caráter positivo dos direitos e na relação</p><p>vertical (desigual) entre indivíduos e Estado. Não abarca as relações entre</p><p>particulares (horizontais) e nem os direitos difusos. Para Jellinek, o indivíduo pode</p><p>ser encontrado em quatro situações diante do Estado:</p><p>a) estado de submissão (status subjectionis ou status passivo): o indivíduo se</p><p>encontra em posição de subordinação perante o Estado, que detém atribuições e</p><p>prerrogativas aptas a vincular o indivíduo e exigir determinadas condutas ou impor</p><p>limitações a suas ações. Para o autor, esses deveres do indivíduo são importantes</p><p>para contribuir com o atingimento do bem comum.</p><p>b) status negativo (status libertatis): é o conjunto de limitações à ação do Estado,</p><p>voltados ao respeito dos direitos individuais.</p><p>Na explicação de ACR: “O indivíduo exige respeito e contenção do Estado, a fim</p><p>de assegurar o pleno exercício de seus direitos na vida privada. Nasce um espaço</p><p>de liberdade individual ao qual o Estado deve respeito, abstendo-se de qualquer</p><p>interferência. Jellinek, com isso, retrata a chamada dimensão subjetiva, liberal ou</p><p>clássica dos direitos humanos, na qual os direitos têm o condão de proteger o seu</p><p>titular (o indivíduo) contra a intervenção do Estado. É a resistência do indivíduo</p><p>contra o Estado. Ao Estado cabe a chamada prestação ou obrigação negativa: deve</p><p>se abster de determinada conduta, como, por exemplo, não confiscar, não prender</p><p>sem o devido processo legal.”</p><p>c) status positivo (status civitatis): conjunto de pretensões do indivíduo para</p><p>invocar a atuação do Estado em prol dos seus direitos. Conforme ACR: “O indivíduo</p><p>tem o poder de provocar o Estado para que interfira e atenda seus pleitos. A</p><p>liberdade do indivíduo adquire agora uma faceta positiva, apta a exigir mais do que</p><p>a simples abstenção do Estado (que era característica do status negativo), levando</p><p>à proibição da omissão estatal.” Exige-se uma ação prestacional do Estado para</p><p>DIREITOS HUMANOS</p><p>PCMG Todos os cargos</p><p>40</p><p>assegurar direitos referentes à igualdade material, como saúde, educação,</p><p>trabalho, moradia etc.</p><p>d) status ativo (status activus): é o conjunto de prerrogativas e faculdades que o</p><p>indivíduo possui para participar da formação da vontade do Estado, refletindo no</p><p>exercício de direitos políticos e no direito de aceder a cargos em órgãos públicos.</p><p>Obs.: Peter Häberle propõe a ampliação para o status activus processualis, para</p><p>que o indivíduo possa participar do procedimento de tomada de decisão por parte</p><p>do Poder Público. É visto, por exemplo, na audiência pública e na adoção do amicus</p><p>curiae.</p><p>7.3 Classificação conforme o Direito Internacional dos Direitos Humanos</p><p>(DIDH)</p><p>A classificação utilizada no Direito Internacional dos Direitos Humanos afastou-</p><p>se da polêmica da teoria das gerações dos direitos humanos.</p><p>Após a promulgação da Declaração Universal dos Direitos Humanos, em</p><p>1948, foram feitos estudos na Comissão de Direitos Humanos da ONU. A</p><p>intenção era elaborar um tratado internacional de direitos humanos que</p><p>contivesse todos os direitos humanos reconhecidos pela comunidade</p><p>internacional.</p><p>Entretanto, principalmente em decorrência do conflito ideológico no contexto</p><p>da Guerra Fria entre os blocos capitalista e socialista, não foi possível a</p><p>elaboração de um tratado único (texto com natureza vinculante) que protegesse</p><p>todas as espécies de direitos humanos. Os blocos, capitalista e comunista, não</p><p>conseguiram chegar a um acordo acerca do peso e importância a ser dados aos</p><p>direitos de primeira geração ou aos direitos de segunda geração. Tinham interesses</p><p>divergentes.</p><p>Por isso, os direitos humanos foram classificados – e separados – em dois</p><p>blocos: de um lado, os direitos civis e políticos, e de outro, os direitos</p><p>econômicos, sociais e culturais. Essa classificação será facilmente percebida</p><p>quando estudarmos os tratados internacionais de proteção dos direitos humanos.</p><p>Assim, por exemplo, o Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos e o Pacto</p><p>de San José, se referem aos direitos civis e políticos. Já o Pacto Internacional dos</p><p>Direitos Sociais, Econômicos e Culturais e o Protocolo de San Salvador, se referem</p><p>aos direitos sociais, econômicos e culturais.</p><p>Nessa classificação, identificamos cinco espécies de direitos. Vamos entender</p><p>melhor cada uma delas.</p><p>Os direitos civis são direitos que se referem à autonomia do indivíduo contra</p><p>interferências indevidas do Estado ou de terceiros. Seu conteúdo está relacionado</p><p>à proteção dos atributos da personalidade e à dignidade da pessoa humana. São</p><p>exemplos: vida, integridade física e mental, liberdade de locomoção, liberdade de</p><p>expressão, garantias judiciais, liberdade de reunião e associação etc.</p><p>DIREITOS HUMANOS</p><p>PCMG Todos os cargos</p><p>41</p><p>Já os direitos políticos são direitos de participação, ativa ou passiva, na tomada</p><p>de decisões políticas e na gestão da coisa pública. Temos o direito de votar e ser</p><p>votado, o direito de participar, sem discriminação, da condução dos negócios</p><p>públicos do país etc.</p><p>Os direitos econômicos estão relacionados à vida econômica do país,</p><p>considerando a ótica produtor-consumidor e os direitos ligados aos trabalhadores</p><p>(promoção dos direitos econômicos e proteção contra a exploração). Podemos</p><p>mencionar a liberdade de associação sindical, o direito de greve, os direitos dos</p><p>trabalhadores, de forma geral, o direito de estar protegido contra a fome etc.</p><p>Quanto aos direitos sociais, são aqueles que asseguram uma vida material</p><p>digna, exigindo prestações positivas do Estado quando necessário. Destacam-se</p><p>os direitos a um nível de vida adequado, com alimentação, moradia e vestimenta,</p><p>direito à saúde, direito à educação etc.</p><p>Por fim, os direitos culturais se relacionam à participação do indivíduo na vida</p><p>cultural de uma comunidade, além da manutenção do patrimônio histórico-cultural,</p><p>ligado à identidade e à memória de cada um. Temos nos tratados o direito de</p><p>participar da vida cultural e desfrutar do progresso científico e o direito a ações</p><p>estatais efetivas para conservação, desenvolvimento e difusão da cultura e da</p><p>ciência.</p><p>Agora você já está pronto para ver a nossa aula de revisão da matéria, na</p><p>plataforma.</p><p>Dica de vídeo:</p><p>A História dos Direitos Humanos</p><p>https://youtu.be/uCnIKEOtbfc</p><p>Aulas complementares:</p><p>Além da aula em vídeo do curso, vou deixar aqui o link de aulas gratuitas do meu</p><p>canal do YouTube, que podem te ajudar no estudo do tema. Confira, aproveite para</p><p>se inscrever no canal e deixe seu comentário para eu saber que passou por lá!</p><p>TEORIA GERAL DOS DIREITOS HUMANOS</p><p>O que são direitos humanos?</p><p>https://youtu.be/6rsT85Ubl64</p><p>Existe diferença entre direitos humanos e direitos fundamentais?</p><p>https://youtube.com/shorts/Ve8WIXguc50</p><p>Terminologias</p><p>https://youtu.be/6rsT85Ubl64</p><p>https://youtu.be/uCnIKEOtbfc</p><p>https://youtu.be/6rsT85Ubl64</p><p>https://youtube.com/shorts/Ve8WIXguc50</p><p>https://youtu.be/6rsT85Ubl64</p><p>DIREITOS HUMANOS</p><p>PCMG Todos os cargos</p><p>42</p><p>Universalidade e indivisibilidade</p><p>https://youtu.be/VTYMq9c2XxE</p><p>Indisponibilidade (Arremesso de Anões)</p><p>https://youtu.be/4kvi5TxNVgg</p><p>Inerência e transnacionalidade</p><p>https://youtube.com/shorts/dHXz1KH_0y0</p><p>Dignidade humana</p><p>https://youtube.com/shorts/QL1LtT5FhBM</p><p>Subespécies da proibição do retrocesso</p><p>https://youtu.be/651U405okck</p><p>Fundamentação filosófica dos direitos humanos</p><p>https://youtu.be/AvQrimgyh5Y</p><p>Quatro “status” de Jellinek</p><p>https://youtu.be/h3WJOG2hrmQ</p><p>Sistema multinível de proteção de direitos humanos</p><p>https://youtu.be/Lj4qtjr9A74?si=pdL4MFtP4yr-zCmz</p><p>Os três planos da universalidade</p><p>https://youtu.be/DT--SsZK6u8</p><p>Revisões</p><p>Sugiro uma média de seis revisões do tema. Marque aqui para ter controle de</p><p>quantas já realizou!</p><p>Outra sugestão é que utilize o que está em negrito ou em destaque na apostila,</p><p>e as próprias questões da LDQ, para direcionar sua revisão.</p><p>1.ª 4.ª</p><p>2.ª 5.ª</p><p>3.ª 6.ª</p><p>https://youtu.be/VTYMq9c2XxE</p><p>https://youtu.be/4kvi5TxNVgg</p><p>https://youtube.com/shorts/dHXz1KH_0y0</p><p>https://youtube.com/shorts/QL1LtT5FhBM</p><p>https://youtu.be/651U405okck</p><p>https://youtu.be/AvQrimgyh5Y</p><p>https://youtu.be/h3WJOG2hrmQ</p><p>https://youtu.be/Lj4qtjr9A74?si=pdL4MFtP4yr-zCmz</p><p>https://youtu.be/DT--SsZK6u8</p><p>DIREITOS HUMANOS</p><p>PCMG Todos os cargos</p><p>43</p><p>Questões para treinar</p><p>1. (2024/FGV/Câmara de Fortaleza/CE/Consultor Legislativo/Direitos Humanos)</p><p>Sobre o conceito de direito fundamental em relação ao de Direito Humano, assinale</p><p>a afirmação correta.</p><p>a) Direito fundamental é sinônimo de Direito Humano, uma vez que ambos visam à</p><p>proteção</p><p>da dignidade da pessoa humana.</p><p>b) Não coincidem, pois é possível haver Direito Humano que não seja direito</p><p>fundamental e vice-versa.</p><p>c) O Direito Humano só tem validade na hipótese de ser convolado em direito</p><p>fundamental com o reconhecimento formal em âmbito interno.</p><p>d) O direito fundamental é aquele que se refere a um Direito Humano pertinente a</p><p>um tratado internacional ratificado pelo Estado-nação.</p><p>e) São conceitos excludentes, uma vez que reconhecida sua natureza de direito</p><p>fundamental, não podemos admiti-lo como um Direito Humano, pois há hierarquia</p><p>entre eles.</p><p>2. (2024/FGV/Câmara dos Deputados/Analista Legislativo/Consultor</p><p>Legislativo/Reaplicação) Os Direitos Humanos podem ser definidos como aqueles</p><p>direitos que nos pertencem pelo simples fato de sermos humanos, pois são normas</p><p>que reconhecem e protegem a dignidade de todos os seres humanos, regendo o</p><p>modo como esses seres humanos individualmente vivem em sociedade e entre si,</p><p>além da sua relação com o Estado e, finalmente, as obrigações que o Estado tem</p><p>em relação a eles.</p><p>Nesse contexto, os princípios dos direitos humanos são</p><p>a) alienáveis, pois podem ser quantificados em verbas indenizatórias.</p><p>b) disponíveis, uma vez que podem ser transferidos para terceira pessoa.</p><p>c) limitados, pois delimitados no dever de responsabilidade para o seu gozo.</p><p>d) interdependentes, porque um direito complementa o outro.</p><p>e) divisíveis, em razão da possibilidade de ser partilhado por todos os seres</p><p>humanos.</p><p>3. (2024/FGV/Câmara de Fortaleza/CE/Consultor Legislativo/Direitos Humanos)</p><p>Sobre a característica da universalidade dos Direitos Humanos, assinale a</p><p>afirmativa correta.</p><p>a) Os Direitos Humanos são destinados a todos os seres humanos, que estejam</p><p>em situação regular no país de residência.</p><p>b) A realidade cultural de um país é argumento suficiente para afastar a</p><p>aplicabilidade de um direito humano, tendo em vista a prevalência da soberania</p><p>nacional.</p><p>b) O reconhecimento da multiculturalidade demanda um esforço de análise do caso</p><p>concreto para se compatibilizar um direito humano em descompasso com a cultura</p><p>daquele país.</p><p>d) A universalidade é um conceito amplo, que afirma em âmbito universal que um</p><p>determinado direito deve ser reconhecido por todos os países.</p><p>e) Os Direitos Humanos têm validade em todos os lugares do planeta, alcançada</p><p>por uma nova perspectiva comunitária, com a elaboração de documentos</p><p>internacionais de proteção destes direitos.</p><p>DIREITOS HUMANOS</p><p>PCMG Todos os cargos</p><p>44</p><p>4. (2024/FGV/Câmara de Fortaleza/CE/Consultor Legislativo/Direitos Humanos) Os</p><p>Direitos civis e políticos decorrem da dignidade inerente à pessoa humana.</p><p>Sobre esta temática, assinale a opção que informa corretamente um Direito</p><p>Humano desta natureza.</p><p>a) Direito à moradia digna.</p><p>b) Direito à saúde.</p><p>c) Direito à educação.</p><p>d) Direito a presunção de inocência.</p><p>e) Direito a condições de trabalho justas.</p><p>5. (2024/FGV/Câmara de Fortaleza/CE/Consultor Legislativo/Direitos Humanos) Os</p><p>fundamentos dos Direitos Humanos são a razão de ser desses direitos, sua base</p><p>filosófica de validade.</p><p>Acerca deste tema, assinale a alternativa correta.</p><p>a) De acordo com o fundamento jusnaturalista, os Direitos Humanos decorrem da</p><p>natureza humana, a qual se deve respeitar ao próximo para ser respeitado.</p><p>b) Os Direitos Humanos, de acordo com a corrente jusnaturalista, decorrem do</p><p>mandamento do soberano, o qual determina aqueles que fazem jus a proteção de</p><p>seus direitos pelo Estado.</p><p>c) A fundamentação positivista afirma que a validade dos Direitos Humanos decorre</p><p>da sua previsão em uma norma posta, editada conforme as regras estabelecidas</p><p>na Constituição Federal de 1988.</p><p>d) A ideia de que o direito humano decorre de um mandamento divino é</p><p>denominada como jusnaturalista, a qual tem o seu fundamento de validade nas</p><p>escrituras sagradas.</p><p>e) A tese de fundamentação religiosa prevalece nos dias atuais, tendo em vista que</p><p>todos os Estados têm uma religião predominante, que aponta as diretrizes básicas</p><p>dos Direitos Humanos vigentes.</p><p>6. (2024/FGV/Câmara de Fortaleza/CE/Consultor Legislativo/Direitos Humanos) Os</p><p>Direitos Humanos consistem em um conjunto de direitos considerado indispensável</p><p>para uma vida humana pautada na liberdade, igualdade e dignidade.</p><p>Sobre as características dos Direitos Humanos, é correto afirmar que</p><p>a) Os Direitos Humanos são universais, entretanto se destinam as pessoas que</p><p>cumprem as normas vigente.</p><p>b) As pessoas podem renunciar aos seus Direitos Humanos, caso não configure</p><p>risco a sua vida.</p><p>c) Existe a possibilidade de alienar os Direitos Humanos pela fixação de pena</p><p>pecuniária ao transgressor da norma.</p><p>d) Os Direitos Humanos são frutos do processo histórico, sendo reconhecidos</p><p>gradativamente ao passar dos anos.</p><p>e) A divisibilidade dos Direitos Humanos decorre da possibilidade de identificar</p><p>normas esparsas que tutelam bens jurídicos diversos.</p><p>7. (2024/FGV/ENAM/1.º Exame Nacional da Magistratura) Os Direitos Humanos</p><p>assumiram, na atualidade, uma posição de centralidade no ordenamento jurídico,</p><p>razão pela qual os conteúdos desses direitos agem como importante vetor</p><p>interpretativo.</p><p>DIREITOS HUMANOS</p><p>PCMG Todos os cargos</p><p>45</p><p>Acerca das características e especificidades dos Direitos Humanos, assinale a</p><p>afirmativa correta.</p><p>a) A universalidade dos Direitos Humanos acompanhou a evolução e o processo</p><p>de internacionalização desses direitos. No entanto, apesar de sua relevância</p><p>histórica, não consta expressamente de tratados e declarações internacionais,</p><p>sendo fruto de um processo interpretativo.</p><p>b) A abertura limitada dos Direitos Humanos possui relação com sua amplitude</p><p>semântica; por isso, no processo legislativo admite-se a expansão do rol desses</p><p>direitos somente no plano internacional, vedada inovação no âmbito interno.</p><p>c) A impossibilidade de o próprio titular de direitos renunciar à proteção e permitir</p><p>que eles sejam violados é chamada pela doutrina de imprescritibilidade dos Direitos</p><p>Humanos.</p><p>d) O Art. 5º, § 2º, da CRFF/88, in verbis: “Os direitos e garantias expressos nesta</p><p>Constituição não excluem outros decorrentes do regime e dos princípios por ela</p><p>adotados, ou dos tratados internacionais em que a República Federativa do Brasil</p><p>seja parte”, é um exemplo de universalidade dos Direitos Humanos.</p><p>e) A relevância da transnacionalidade, como característica dos Direitos Humanos,</p><p>possui especial aplicabilidade atualmente, dado o grande fluxo de refugiados.</p><p>8. (2023/FGV/TJ/PR/Juiz Substituto) Os casos de trabalho análogo à escravidão</p><p>revelam a violação, ao mesmo tempo, de direitos civis e de direitos sociais. Por isso</p><p>mesmo, uma das dimensões dos direitos humanos apontadas na Declaração e</p><p>Programa de Ação de Viena de 1993 é a:</p><p>a) razoabilidade;</p><p>b) indivisibilidade;</p><p>c) unilateralidade;</p><p>d) justiciabilidade;</p><p>e) proporcionalidade.</p><p>9. (2023/FGV/SEFAZ-MG/Auditor Fiscal da Receita Estadual) Em uma gincana</p><p>jurídica, foi exigido dos grupos em disputa que apresentassem os elementos</p><p>essenciais dos Direitos Humanos.</p><p>O grupo Alfa sustentou que são considerados Direitos Humanos apenas aqueles</p><p>direitos reconhecidos como tais pela ordem jurídica de cada Estado soberano, de</p><p>modo que a força possa estar a serviço do direito.</p><p>O grupo Beta sustentou que os Direitos Humanos, por imperativo de eficiência,</p><p>devem ser compreendidos a partir de um referencial de divisibilidade, organizando-</p><p>se de modo hierarquizado suas distintas partes, principiando pela liberdade e</p><p>estendendo-se às demais.</p><p>O grupo Teta, por sua vez, manifestou-se no sentido de que os Direitos Humanos</p><p>são sempre contextualizados no âmbito de determinado Estado soberano, surgindo</p><p>e se desenvolvendo sob influência exclusiva da base de valores ali existentes.</p><p>À luz do conceito e da fundamentação dos Direitos Humanos,</p><p>está correto afirmar</p><p>que</p><p>a) todos os grupos estão corretos.</p><p>b) todos os grupos estão errados.</p><p>c) apenas o grupo Alfa está correto.</p><p>d) apenas os grupos Alfa e Beta estão corretos.</p><p>e) apenas os grupos Beta e Teta estão corretos.</p><p>https://www.qconcursos.com/questoes-de-concursos/bancas/fgv</p><p>https://www.qconcursos.com/questoes-de-concursos/institutos/sefaz-mg</p><p>https://www.qconcursos.com/questoes-de-concursos/provas/fgv-2023-sefaz-mg-auditor-fiscal-da-receita-estadual-auditoria-e-fiscalizacao-manha</p><p>DIREITOS HUMANOS</p><p>PCMG Todos os cargos</p><p>46</p><p>10. (2022/FGV/Senado Federal/Consultor Legislativo) Em determinada comissão</p><p>temporária instaurada no âmbito do Senado Federal, surgiu o debate em relação</p><p>ao processo formativo do jus cogens e à sua influência na proteção dos direitos</p><p>humanos. Em uma análise que circulou no âmbito da comissão, foi afirmado que:</p><p>(1) o jus cogens é direcionado apenas às relações entre Estados, mas pode influir</p><p>indiretamente na interpretação dos direitos humanos, embora não incida nessa</p><p>seara;</p><p>(2) nem toda afronta ao jus cogens irá caracterizar uma afronta aos direitos</p><p>humanos;</p><p>(3) por ser o jus cogens fruto do direito costumeiro, sua modificação pode ser</p><p>promovida pelo direito internacional convencional.</p><p>Considerando o atual estágio de sedimentação do jus cogens no âmbito da</p><p>comunidade internacional, é correto observar, em relação às afirmações</p><p>apresentadas, que</p><p>a) todas estão certas.</p><p>b) todas estão erradas.</p><p>c) apenas a afirmação 2 está certa.</p><p>d) apenas a afirmação 3 está certa.</p><p>e) apenas as afirmações 1 e 2 estão certas.</p><p>11. (2022/FGV/Senado Federal/Consultor Legislativo) Em seu discurso para os</p><p>formandos de determinada faculdade de direito, João observou que a concepção</p><p>de solidariedade, na perspectiva dos direitos humanos, apresenta contornos</p><p>polissêmicos, que ainda carecem de compreensão pela sociedade e pelos poderes</p><p>constituídos para que alcance padrões mínimos de efetividade, inclusive na</p><p>realidade brasileira, especialmente em relação à existência, ou não, de direitos e</p><p>deveres que se formariam a partir deles.</p><p>Com os olhos voltados às reflexões de João, é correto afirmar que a referida</p><p>solidariedade</p><p>a) sempre embasa direitos subjetivos, conferindo-lhes exigibilidade imediata.</p><p>b) se situa no plano axiológico, não propriamente deontológico, contribuindo para</p><p>criar um amálgama entre os integrantes do grupamento.</p><p>c) já se encontra materializada em diversos comandos da ordem constitucional</p><p>brasileira, mas em uma perspectiva puramente principiológica.</p><p>d) já se encontra materializada em diversos comandos da ordem constitucional</p><p>brasileira, em sua dimensão objetiva, não propriamente subjetiva.</p><p>e) já se encontra materializada em diversos comandos da ordem constitucional</p><p>brasileira, embasando até mesmo deveres de custeio de direitos transindividuais.</p><p>12. (2022/FGV/Prefeitura de Santo André - SP/Agente de Políticas Públicas e</p><p>Gestão Governamental) Os direitos humanos são:</p><p>a) escalonados e intransferíveis.</p><p>b) graduados e interdependentes.</p><p>c) globais, mesmo não se aplicando a todas as culturas.</p><p>d) universais, indivisíveis, interdependentes e interrelacionados.</p><p>e) hierarquizados, de modo a garantir a precedência aos que mais precisam.</p><p>13. (2021/FGV/OAB/Exame de Ordem Unificado XXXIII) Você, que atua na defesa</p><p>de Direitos Humanos, foi convidado(a) para participar de um debate promovido pela</p><p>Comissão de Direitos Humanos da OAB. Um dos debatedores afirmou, com base</p><p>https://www.qconcursos.com/questoes-de-concursos/bancas/fgv</p><p>https://www.qconcursos.com/questoes-de-concursos/bancas/fgv</p><p>https://www.qconcursos.com/questoes-de-concursos/bancas/fgv</p><p>https://www.qconcursos.com/questoes-de-concursos/institutos/prefeitura-de-santo-andre-sp</p><p>DIREITOS HUMANOS</p><p>PCMG Todos os cargos</p><p>47</p><p>na Declaração e Programa de Ação de Viena, que é importante compreender que</p><p>Direitos Humanos são indivisíveis e devem ser considerados com igual ênfase.</p><p>Outro debatedor retrucou essa afirmação.</p><p>No momento da sua fala, você deve esclarecer que, de acordo com a Declaração</p><p>citada, os Direitos Humanos são</p><p>a) indivisíveis, interdependentes e interrelacionados, e a comunidade internacional</p><p>deve considerá-los em pé de igualdade.</p><p>b) divididos em direitos públicos e direitos privados, com ênfase nos direitos</p><p>públicos como parte do Direito Positivo de cada país.</p><p>c) divididos em direitos em sentido forte e direitos em sentido fraco, e que apenas</p><p>os direitos civis e políticos são direitos humanos em sentido forte.</p><p>d) conceitos acadêmicos sempre em disputa e que a Declaração e Programa de</p><p>Ação de Viena não fala da indivisibilidade ou da divisibilidade dos Direitos</p><p>Humanos.</p><p>14. (2014/FGV/OAB/Exame de Ordem Unificado XIII) A Companhia Energética de</p><p>Minas Gerais (Cemig) foi responsabilizada por fiscais do Ministério do Trabalho e</p><p>Emprego (MTE) e pelo Ministério Público do Trabalho (MPT) pela submissão de</p><p>179 trabalhadores a condições análogas às de escravos, em Belo Horizonte. Esse</p><p>fato gravíssimo comprova, na prática, violação de um princípio crucial acerca dos</p><p>Direitos Humanos.</p><p>Assinale a opção que expressa esse princípio.</p><p>a) O princípio do relativismo cultural determina que o trabalho forçado seja</p><p>combatido apenas nos países onde a legislação defina tal conduta como ilícita.</p><p>b) O princípio da razoabilidade, pois não é razoável que pessoas sejam submetidas</p><p>ao trabalho na condição análoga à de escravo.</p><p>c) O princípio do direito humanitário, pois o trabalho na condição análoga à de</p><p>escravo é desumano.</p><p>d) O princípio da indivisibilidade dos direitos humanos, pois o trabalho na condição</p><p>análoga à de escravo viola a um só tempo os direitos civis e políticos e os direitos</p><p>econômicos e sociais.</p><p>15. (2013/FGV/OAB/Exame de Ordem Unificado XII) O processo histórico de</p><p>afirmação dos direitos humanos foi inscrito em importantes documentos, tais como</p><p>a Declaração Universal dos Direitos do Homem e do Cidadão de 1789 ou mesmo</p><p>a Constituição Mexicana de 1917. Desse processo é possível inferir que os Direitos</p><p>Humanos são constituídos por, ao menos, duas dimensões interdependentes e</p><p>indivisíveis. São elas:</p><p>a) Direitos Naturais e Direitos Positivos.</p><p>b) Direitos Civis e Direitos Políticos.</p><p>c) Direitos Civis e Políticos e Direitos Econômicos e Sociais.</p><p>d) Direito Público e Direito Privado.</p><p>16. (2011/FGV/OAB/Exame de Ordem Unificado IV) Com relação aos chamados</p><p>“direitos econômicos, sociais e culturais”, é correto afirmar que</p><p>a) são direitos humanos de segunda geração, o que significa que não são</p><p>juridicamente exigíveis, diferentemente do que ocorre com os direitos civis e</p><p>políticos.</p><p>b) são previstos, no âmbito do sistema interamericano, no texto original da</p><p>Convenção Americana sobre Direitos Humanos (Pacto de San José da Costa Rica).</p><p>DIREITOS HUMANOS</p><p>PCMG Todos os cargos</p><p>48</p><p>c) formam, juntamente com os direitos civis e políticos, um conjunto indivisível de</p><p>direitos fundamentais, entre os quais não há qualquer relação hierárquica.</p><p>d) incluem o direito à participação no processo eleitoral, à educação, à alimentação</p><p>e à previdência social.</p><p>17. (2019/FGV/DPE-RJ/Técnico Superior Jurídico) O trabalho escravo é uma das</p><p>mais graves formas de violação de direitos humanos. Essa prática revela como uma</p><p>mesma situação pode violar diferentes tipos de direitos. Diante disso, a Declaração</p><p>dos Direitos Humanos de Viena (1993) – afirmou que todos os direitos humanos</p><p>devem ser considerados:</p><p>a) universais, indivisíveis, interdependentes e inter-relacionados;</p><p>b) naturais, positivos, nacionais e internacionais;</p><p>c) civis, políticos, morais e existenciais;</p><p>d) individuais, coletivos e transgeracionais;</p><p>e) morais, legais e constitucionais.</p><p>18. (2019/FGV/DPE-RJ/Técnico Superior Jurídico) É</p><p>costume que, no âmbito da</p><p>teoria geral dos direitos humanos, eles sejam classificados em gerações ou</p><p>dimensões que expressam a maneira como foram afirmados ao longo do tempo.</p><p>A primeira e a segunda gerações ou dimensões desses direitos são,</p><p>respectivamente:</p><p>a) Direito Nacional e Direito Internacional;</p><p>b) Direitos Naturais e Direitos Positivos;</p><p>c) Direitos Civis e Políticos e Direitos Econômicos e Sociais;</p><p>d) Direitos Transgeracionais e Direitos Individuais;</p><p>e) Direitos da Infância e Adolescência e Direitos dos Idosos.</p><p>Obs.: Todas as questões são corrigidas em aulas ao vivo no nosso Curso de</p><p>Questões e Simulados. Venha participar! As aulas estão muito ricas e produtivas.</p><p>Vocês, do Curso Teórico podem adquirir o curso com um super desconto, conforme</p><p>oferta disponível na área do aluno.</p><p>Confira a primeira aula do Curso, disponível no meu canal do YouTube:</p><p>https://youtu.be/olUlPGFojx0?si=n6Kek5SwJUgiK8it</p><p>https://www.qconcursos.com/questoes-de-concursos/bancas/fgv</p><p>https://www.qconcursos.com/questoes-de-concursos/institutos/dpe-rj</p><p>https://www.qconcursos.com/questoes-de-concursos/bancas/fgv</p><p>https://www.qconcursos.com/questoes-de-concursos/institutos/dpe-rj</p><p>https://youtu.be/olUlPGFojx0?si=n6Kek5SwJUgiK8it</p><p>DIREITOS HUMANOS</p><p>PCMG Todos os cargos</p><p>49</p><p>GABARITO</p><p>1. B 10. C</p><p>2. D 11. E</p><p>3. E 12. D</p><p>4. D 13. A</p><p>5. C 14. D</p><p>6. D 15. C</p><p>7. E 16. C</p><p>8. B 17. A</p><p>9. B 18. C</p><p>ratificou e</p><p>quando; quantos países e quais são os que ratificaram o tratado etc.</p><p>https://treaties.un.org/Pages/Treaties.aspx?id=4&subid=A&lang=en</p><p>✓ Site da ONU no Brasil (é interessante mas, bastante limitado, já que,</p><p>o português não é idioma oficial da ONU. Muitas informações não</p><p>estão disponíveis neste local)</p><p>https://brasil.un.org/pt-br</p><p>✓ Biblioteca de Direitos Humanos da USP</p><p>http://www.direitoshumanos.usp.br/</p><p>✓ Para verificar o texto de tratados já ratificados pelo Brasil, verifique o</p><p>decreto presidencial no site do planalto</p><p>https://www.gov.br/planalto/pt-br</p><p>✓ Site da Organização dos Estados Americanos (não encontramos o</p><p>conteúdo integral de todos os tratados e nem todas as decisões da</p><p>Corte em português)</p><p>http://www.oas.org/pt/</p><p>✓ Site da Comissão Interamericana de Direitos Humanos</p><p>http://www.oas.org/pt/cidh/</p><p>✓ Site da Corte Interamericana de Direitos Humanos (em espanhol ou</p><p>inglês. Apenas os casos e decisões que envolvem o Brasil são</p><p>encontrados em português)</p><p>https://www.corteidh.or.cr/</p><p>✓ Ferramenta de busca da jurisprudência da Corte Interamericana (em</p><p>espanhol ou inglês)</p><p>https://www.corteidh.or.cr/cf/themis/digesto/index.cfm</p><p>https://treaties.un.org/Pages/Treaties.aspx?id=4&subid=A&lang=en</p><p>https://brasil.un.org/pt-br</p><p>http://www.direitoshumanos.usp.br/</p><p>https://www.gov.br/planalto/pt-br</p><p>http://www.oas.org/pt/</p><p>http://www.oas.org/pt/cidh/</p><p>https://www.corteidh.or.cr/</p><p>https://www.corteidh.or.cr/cf/themis/digesto/index.cfm</p><p>DIREITOS HUMANOS</p><p>PCMG Todos os cargos</p><p>8</p><p>SUMÁRIO</p><p>TEORIA GERAL DOS DIREITOS HUMANOS</p><p>1. Direitos Humanos e Direito Constitucional seguem a mesma lógica? ................ 9</p><p>2. Conceito de direitos humanos ............................................................................ 11</p><p>3. Terminologias, amplitude, fundamento e conteúdo ........................................... 13</p><p>4. Fundamentação filosófica .................................................................................. 16</p><p>5. Características dos direitos humanos ................................................................ 19</p><p>6. Gramática dos direitos humanos ....................................................................... 35</p><p>7. Classificação dos direitos humanos ................................................................... 36</p><p>7.1 Gerações ou dimensões de direitos humanos ................................................ 36</p><p>7.2 Teoria do status ................................................................................................ 39</p><p>7.3 Classificação conforme o Direito Internacional dos Direitos Humanos ........... 40</p><p>Questões para treinar ............................................................................................. 43</p><p>DIREITOS HUMANOS</p><p>PCMG Todos os cargos</p><p>9</p><p>CAPÍTULO 01 – TEORIA GERAL DOS DIREITOS HUMANOS</p><p>Tópicos do edital: Teoria Geral dos Direitos Humanos.</p><p>MÉTODO LDQ (LEITURA DIRECIONADA POR QUESTÕES)</p><p>Ao longo de 18 anos lecionando Direitos Humanos, pude perceber que algumas</p><p>práticas facilitam o estudo e entendimento da matéria pelos alunos.</p><p>Sendo assim, desenvolvi um método para direcionar a leitura de cada tema.</p><p>Antes de todos os tópicos a serem estudados, colocarei questões abertas para que</p><p>você saiba o que é relevante e já fazer o estudo buscando essas respostas. Você</p><p>perceberá que obterá melhor desempenho e uma leitura mais eficaz.</p><p>Então, não deixe de seguir o método, ok? Leia as questões e, posteriormente,</p><p>faça o estudo do capítulo.</p><p>Espero que te ajude! Depois me conte o que achou. Boa leitura!</p><p>1. Direitos Humanos e Direito Constitucional são disciplinas que se confundem?</p><p>Seguem a mesma lógica? Explique.</p><p>2. Qual o conceito de direitos humanos?</p><p>3. A partir do conceito dado pelos doutrinadores, elabore um conceito próprio.</p><p>4. Direitos humanos se confunde com direitos fundamentais? Explique.</p><p>5. Fale sobre outras terminologias que podem aparecer no estudo do tema.</p><p>6. Como surgiram os direitos humanos?</p><p>7. Explique as correntes acerca da fundamentação filosófica dos direitos humanos.</p><p>8. Em que consiste a gramática dos direitos humanos.</p><p>9. Discorra sobre as principais características dos direitos humanos.</p><p>10. Fale sobre a importância da Conferência Mundial de Viena, de 1993, no que</p><p>tange ao estudo e proteção dos direitos humanos.</p><p>DIREITOS HUMANOS</p><p>PCMG Todos os cargos</p><p>10</p><p>11. Quais são as marcas distintivas dos direitos humanos, na visão de André de</p><p>Carvalho Ramos?</p><p>12. Explique as gerações ou dimensões de direitos humanos relacionando-as aos</p><p>paradigmas de Estado da Modernidade.</p><p>13. Explique a teoria do status, de Georg Jellinek.</p><p>14. Fale sobre a classificação conforme o Direito Internacional dos Direitos</p><p>Humanos.</p><p>15. Explique o que são direitos civis, direitos políticos, direitos econômicos e direitos</p><p>sociais.</p><p>Agora, vamos à leitura!</p><p>Esse é o capítulo mais importante no estudo de vocês. É o que forma a base</p><p>teórica da matéria. Esse entendimento permite raciocinar sobre o conteúdo e</p><p>compreender os demais tópicos. Principalmente para quem nunca estudou</p><p>Direitos Humanos, é o que nos faz “virar a chave”. Portanto, estudem com</p><p>muita dedicação. Bora gabaritar na PCMG?</p><p>1. Direitos Humanos e Direito Constitucional seguem a mesma lógica?</p><p>Pode parecer óbvio, mas, percebo que muitos alunos têm dificuldade de</p><p>compreender a matéria de Direitos Humanos por tentar interpretá-la à luz dos</p><p>princípios que são próprios do Direito Constitucional, o que é um equívoco.</p><p>Apesar de tratarem de temas afins e terem vários pontos de contato, como o</p><p>fundamento, o valor axiológico da dignidade humana, as disciplinas não se</p><p>confundem. Possuem princípios orientadores e interpretativos próprias, como</p><p>veremos, e seguem uma lógica diferenciada. Enquanto o Direito Constitucional</p><p>é regido por um princípio de hierarquia, os Direitos Humanos têm como principal</p><p>norte hermenêutico o princípio pro homine ou pro persona, que será detalhado</p><p>ao longo do nosso curso.</p><p>O estudo do Direito Constitucional, tradicionalmente, é pautado pela</p><p>famosa pirâmide normativa de Kelsen, que traz a norma fundamental no topo do</p><p>ordenamento jurídico (apesar de ser uma interpretação equivocada da teoria de</p><p>Kelsen, a Constituição ocupa esse lugar de destaque no ordenamento jurídico</p><p>interno). A supremacia da Constituição pauta o estudo do Direito</p><p>Constitucional, e significa que todas as leis e atos praticados no ordenamento</p><p>devem respeito à Constituição, tanto no aspecto material, quanto no formal.</p><p>Entretanto, essa não pode ser a lógica utilizada no estudo dos Direitos Humanos,</p><p>que é uma disciplina mais recente. O surgimento de um sistema internacional de</p><p>proteção de direitos humanos ocorre no pós Segunda Guerra Mundial, como</p><p>veremos no capítulo sobre evolução histórica. Daí os doutrinadores (e,</p><p>consequentemente, as bancas) afirmarem que os direitos humanos são um</p><p>fenômeno do pós-guerra.</p><p>Esse sistema internacional de proteção de direitos humanos tem como pano de</p><p>fundo o famoso paradigma do Estado Democrático de Direito, e como objetivo</p><p>DIREITOS HUMANOS</p><p>PCMG Todos os cargos</p><p>11</p><p>promover a dignidade humana e a cidadania, resguardando o direito mais básico</p><p>de todos: o direito a ter direitos, na expressão de Hannah Arendt. Para tanto,</p><p>utiliza-se a lógica da norma mais favorável, mais protetiva, ou princípio pro</p><p>homine ou pro persona. Busca-se sempre a interpretação que mais proteja, que</p><p>seja mais benéfica à pessoa, sem qualquer preocupação com a hierarquia das</p><p>normas.</p><p>A ideia de termos, ao lado da Constituição,</p><p>tratados internacionais de</p><p>proteção de direitos humanos, faz com que a tradicional figura da pirâmide, na</p><p>visão de Flávia Piovesan, deva ser substituída por um trapézio (teoria do trapézio</p><p>normativo).</p><p>Apesar de seguirem uma lógica distinta, como já dito, as disciplinas possuem</p><p>vários pontos de contato e tendem a se aproximar cada vez mais. Isso porque, o</p><p>paradigma do Estado Democrático de Direito também traz novidades para o Direito</p><p>Constitucional: surge o movimento do Neoconstitucionalismo, com uma releitura,</p><p>atualização e abertura do Direito Constitucional.</p><p>Assim, as Constituições passaram a abrir espaço para que os ordenamentos</p><p>jurídicos, cada qual a seu modo, internalizem os tratados internacionais de proteção</p><p>de direitos humanos. Nota-se uma internacionalização do Direito</p><p>Constitucional e, ao mesmo tempo, uma constitucionalização das normas</p><p>internacionais de proteção de direitos humanos.</p><p>Em momento oportuno, aprofundaremos em todas essas discussões. Trago aqui</p><p>apenas uma introdução, para deixar claro que, Direito Constitucional e Direitos</p><p>Humanos, apesar de serem disciplinas interrelacionadas e complementares,</p><p>não se confundem, têm hermenêutica própria e distintos objetos de estudo.</p><p>Esse raciocínio é importante para a compreensão da matéria como um todo.</p><p>2. Conceito de direitos humanos</p><p>Agora que já temos uma noção de como surgiu a disciplina, já podemos falar</p><p>sobre o seu conceito. Trarei o conceito de alguns autores, mas, é importante que</p><p>você também elabore o seu, certo?</p><p>Tecnicamente, a expressão direitos humanos significa que existem direitos</p><p>protegidos por normas internacionais (declarações ou tratados celebrados entre</p><p>Estados) com o objetivo específico de proteger os direitos das pessoas sob sua</p><p>jurisdição (ou seja, que estejam no território de determinado Estado).</p><p>Na estrutura normativa internacional, ou na arquitetura internacional dos</p><p>direitos humanos, temos dois grandes sistemas de proteção: sistema global</p><p>(universal, onusiano) e sistemas regionais. Portanto, essas normas internacionais</p><p>podem ser provenientes tanto do sistema global (ONU) quanto dos sistemas</p><p>regionais de proteção (europeu, americano e africano).</p><p>DIREITOS HUMANOS</p><p>PCMG Todos os cargos</p><p>12</p><p>Segundo André de Carvalho Ramos (ACR), os direitos humanos “consistem</p><p>em um conjunto de direitos essenciais a uma vida digna. As necessidades</p><p>humanas variam, e de acordo com o contexto histórico de uma época, novas</p><p>demandas sociais são traduzidas juridicamente e inseridas na lista dos</p><p>direitos humanos.”</p><p>Os direitos humanos, conforme Valério Mazzuoli, são os “direitos protegidos</p><p>pela ordem internacional (especialmente por meio de tratados multilaterais, globais</p><p>ou regionais) contra as violações e arbitrariedades que um Estado possa cometer</p><p>às pessoas sujeitos à sua jurisdição.”</p><p>Na lição de Flávia Piovesan e Júlia Cruz, os direitos humanos “são um conjunto</p><p>de direitos que protege a possibilidade de toda pessoa viver com dignidade. A</p><p>proteção da dignidade humana, elemento central no conceito de direitos humanos,</p><p>visa a garantir que todos os indivíduos tenham uma vida livre de arbitrariedade e</p><p>violência, com condições para se desenvolver de modo pleno e participar da vida</p><p>política, social e cultural de sua comunidade.”</p><p>Existe diferença entre direitos humanos e direitos fundamentais?</p><p>Essa é uma outra questão importante. Muitos confundem direitos humanos e</p><p>fundamentais, tratando as expressões como sinônimas. Entretanto, em provas</p><p>objetivas, vamos considerá-las como expressões distintas, como veremos.</p><p>Os direitos humanos são direitos protegidos por normas de direito</p><p>internacional, enquanto direitos fundamentais são os direitos previstos na</p><p>Constituição e na legislação interna de cada país.</p><p>Muitas vezes, a expressão direitos humanos é utilizada para se referir às normas</p><p>de proteção da ordem jurídica interna. Entretanto, tecnicamente, essa referência</p><p>não é correta. Os direitos protegidos no âmbito interno são os direitos</p><p>fundamentais. Devemos usar o termo direitos humanos para nos referirmos a</p><p>proteção internacional de tais direitos, que ampliou a proteção prevista na ordem</p><p>interna.</p><p>Direitos</p><p>Humanos</p><p>(ordem</p><p>internacional):</p><p>documentos</p><p>internacionais</p><p>Direitos</p><p>fundamentais</p><p>(ordem interna):</p><p>Constituição de</p><p>cada país</p><p>DIREITOS HUMANOS</p><p>PCMG Todos os cargos</p><p>13</p><p>Apesar de alguns autores entenderem que não há distinção entre as expressões</p><p>direitos humanos e direitos fundamentais, a doutrina majoritária faz a diferenciação</p><p>entre elas. Em provas objetivas, vocês devem marcar que existe sim diferença.</p><p>A FGV tem um posicionamento claro sobre o tema, que já foi cobrado em</p><p>algumas questões. Confira no final do capítulo.</p><p>Como os direitos humanos são direitos indispensáveis a uma vida digna,</p><p>estabelecem um nível protetivo (standard) mínimo que todos os Estados devem</p><p>respeitar, sob pena de responsabilidade internacional. Assim, na expressão de</p><p>Mazzuoli: “os direitos humanos são direitos que garantem às pessoas sujeitas</p><p>à jurisdição de um dado Estado meios de vindicação de seus direitos, para</p><p>além do plano interno, nas instâncias internacionais de proteção.”</p><p>Importante ressaltar que, não importa a nacionalidade da vítima, basta que</p><p>ela tenha um direito violado pelo Estado sob cuja jurisdição se encontra para fazer</p><p>incidir essas normas de proteção internacional (por exemplo, um canadense pode</p><p>ter seus direitos violados pelo Brasil, estando em nosso território, e acionar o Brasil</p><p>em instâncias internacionais por essa violação). Percebam que o Brasil não é</p><p>obrigado a garantir os direitos previstos em tratados apenas para brasileiros,</p><p>mas, a todos que estejam no território sob sua jurisdição.</p><p>Conforme dito anteriormente, pensando em estrutura normativa, nosso sistema</p><p>internacional de proteção de direitos humanos é dividido em sistema global,</p><p>universal ou onusiano, criado a partir da Organização das Nações Unidas (ONU)</p><p>e sistemas regionais de proteção: europeu, (inter) americano e africano).</p><p>O sistema global é competente para violações ocorridas em qualquer Estado</p><p>que dele participe.</p><p>Quanto aos sistemas regionais, para definirmos a competência, devemos</p><p>verificar o local (locus geográfico) da violação, independentemente da</p><p>nacionalidade da vítima. Por exemplo, se os direitos de um francês forem violados</p><p>no Brasil, a competência será do sistema regional americano. Por outro lado, se um</p><p>brasileiro tiver seus direitos violados na França, a competência será do sistema</p><p>regional europeu.</p><p>3. Terminologias, amplitude, fundamento e conteúdo</p><p>Além da expressão direitos humanos, outras podem aparecer em questões, por</p><p>isso, é importante saber o seu significado. Vejamos as mais comuns.</p><p>Segundo André de Carvalho Ramos e Valério Mazzuoli, temos as seguintes</p><p>expressões:</p><p>DIREITOS HUMANOS</p><p>PCMG Todos os cargos</p><p>14</p><p>Direito natural: é uma expressão que denota o reconhecimento de</p><p>direitos inerentes à natureza humana. Conforme André de Carvalho</p><p>Ramos, é um conceito ultrapassado diante da constatação da</p><p>historicidade dos direitos humanos.</p><p>Direitos do homem: também é uma expressão de cunho jusnaturalista</p><p>referente aos direitos naturais (não escritos, não positivados) aptos à</p><p>proteção global do homem e válidos a qualquer tempo. É difícil</p><p>encontrarmos exemplos na atualidade, visto que, os direitos estão escritos</p><p>em algum documento. Para o STF, o direito à fuga sem violência (RHC,</p><p>84851/BA, 2005) e o direito à autodefesa são exemplos de direitos</p><p>naturais. Existe ainda uma crítica em relação a essa expressão, ligada à</p><p>determinação de gênero que faz em relação ao “homem”, sugerindo uma</p><p>eventual discriminação quanto aos direitos da “mulher”, reforçando</p><p>o seu</p><p>desuso na atualidade.</p><p>Direitos individuais: é uma terminologia considerada excludente porque</p><p>apenas considera os direitos de primeira geração ou dimensão, deixando</p><p>de fora os demais direitos.</p><p>Liberdades públicas: também é uma expressão criticada por tratar</p><p>apenas dos direitos civis e políticos (primeira geração), não abrangendo</p><p>os direitos sociais, econômicos e culturais e nem os direitos difusos. É uma</p><p>terminologia mais utilizada pela doutrina francesa.</p><p>Direitos públicos subjetivos: é o conjunto de direitos que limita a ação</p><p>estatal em benefício do indivíduo. O termo foi utilizado pela Escola Alemã</p><p>de Direito Público do século XIX, sugerindo direitos contra o Estado</p><p>(portanto, também deixaria de fora as outras dimensões de direitos).</p><p>Direitos fundamentais: é um termo que se refere aos direitos garantidos</p><p>nas Constituições dos Estados, limitados no tempo e no espaço. Por</p><p>exemplo, nossos direitos garantidos na Constituição Brasileira de 1988,</p><p>que apenas são válidos no território brasileiro, a partir desta Constituição.</p><p>Direitos humanos: como já vimos, são os direitos protegidos em normas</p><p>internacionais, especialmente em tratados internacionais. Nas palavras de</p><p>Mazzuoli: “Trata-se, em suma, daqueles direitos que já ultrapassaram</p><p>as fronteiras estatais de proteção e ascenderam ao plano da proteção</p><p>internacional.”</p><p>DIREITOS HUMANOS</p><p>PCMG Todos os cargos</p><p>15</p><p>✓ Em termos de amplitude, qual tem maior amplitude, maior abrangência?</p><p>Direitos humanos ou direitos fundamentais?</p><p>Se pensarmos em termos de amplitude territorial, podemos constatar que os</p><p>direitos humanos são mais amplos que os direitos fundamentais, já que,</p><p>podem ser reivindicados por qualquer pessoa em qualquer condição, desde que</p><p>esteja no território de um país que reconheça normas internacionais de proteção.</p><p>Já os direitos fundamentais são mais restritos, pois, só valem no território do</p><p>país onde estejam previstos (e nem todos valem para todas as pessoas, já que, por</p><p>exemplo, os estrangeiros não podem votar, no Brasil).</p><p>As expressões direitos humanos e direitos fundamentais são utilizadas de forma</p><p>tecnicamente correta na Constituição da República Federativa do Brasil de</p><p>1988. Basta observar, por exemplo, que o Título II da Constituição se refere aos</p><p>direitos fundamentais, enquanto o parágrafo 3.º do artigo 5.º se refere aos tratados</p><p>e convenções internacionais sobre direitos humanos. Ou seja, se quisermos</p><p>indicar o conjunto de direitos na ordem interna, usamos o termo direitos</p><p>fundamentais. Se pretendemos nos referir a esses direitos no âmbito</p><p>internacional, devemos usar a expressão direitos humanos.</p><p>✓ E qual é o grande fundamento dos direitos humanos?</p><p>Como esclarece André de Carvalho Ramos, é possível vislumbrar a</p><p>essencialidade ou fundamentalidade material e formal dos direitos humanos:</p><p>“Os direitos humanos representam valores essenciais, que são explicitamente ou</p><p>implicitamente retratados nas Constituições ou nos tratados internacionais. A</p><p>fundamentalidade dos direitos humanos pode ser formal, por meio da inscrição</p><p>desses direitos no rol de direitos protegidos nas Constituições e tratados, ou pode</p><p>ser material, sendo considerado parte integrante dos direitos humanos aquele que</p><p>– mesmo não expresso – é indispensável para a promoção da dignidade humana.”</p><p>Quanto ao fundamento, os direitos humanos o retiram da dignidade humana.</p><p>Mas, afinal, o que é dignidade humana?</p><p>Podemos entender a dignidade como a qualidade intrínseca que se atribui a</p><p>cada pessoa pelo simples fato de existir. Um conceito mais completo é oferecido</p><p>por Ingo Sarlet, segundo o qual, a dignidade “é a qualidade intrínseca e distintiva</p><p>de cada ser humano que o faz merecedor de respeito e consideração por parte</p><p>do Estado e da comunidade, implicando, nesse sentido, um complexo de</p><p>direitos e deveres fundamentais que assegurem a pessoa tanto contra todo e</p><p>qualquer ato de cunho degradante e desumano, como venham a lhe garantir as</p><p>condições existenciais mínimas para uma vida saudável, além de propiciar e</p><p>promover sua participação ativa e corresponsável nos destinos da própria</p><p>existência e da vida em comunhão com os demais seres humanos.”</p><p>Conforme previsto no preâmbulo e no artigo 1.º da Declaração Universal dos</p><p>Direitos Humanos:</p><p>DIREITOS HUMANOS</p><p>PCMG Todos os cargos</p><p>16</p><p>“Considerando que o reconhecimento da dignidade inerente a todos os membros</p><p>da família humana e de seus direitos iguais e inalienáveis é o fundamento da</p><p>liberdade, da justiça e da paz no mundo [...]</p><p>Artigo 1.º - Todas as pessoas nascem livres e iguais em dignidade e direitos.</p><p>São dotadas de razão e consciência e devem agir em relação umas às outras</p><p>com espírito de fraternidade.”</p><p>Assim, a dignidade humana é o grande fundamento dos direitos humanos.</p><p>Cabe ressaltar que, internamente, a dignidade humana é prevista como um dos</p><p>fundamentos da República, no artigo 1.º, inciso III da CF/88. Na expressão de</p><p>José Afonso da Silva, a dignidade humana é o epicentro axiológico tanto do</p><p>Direito Constitucional quando do Direito Internacional dos Direitos Humanos.</p><p>Importante esclarecer que a dignidade humana não é um direito autônomo.</p><p>É um princípio, é o fundamento, estando presente no núcleo de todos os direitos</p><p>humanos e fundamentais.</p><p>ATENÇÃO! Fundamento é um só. A questão fica incorreta se trouxer mais de</p><p>um fundamento, como por exemplo, igualdade, liberdade, justiça, ao lado da</p><p>dignidade.</p><p>✓ Quanto ao conteúdo dos direitos humanos, o que merece ser destacado?</p><p>A característica marcante do conteúdo dos direitos humanos é a</p><p>indivisibilidade. Significa que os direitos civis e políticos não sobrevivem sem os</p><p>direitos sociais, econômicos e culturais e direitos difusos, e vice-versa.</p><p>Na lição de Mazzuoli: “Tomando-se como exemplo o clássico direito à vida</p><p>(direito de conteúdo liberal), pode-se facilmente constatar que esse direito não se</p><p>limita à vida física, abrangendo também todos os desdobramentos decorrentes das</p><p>condições que essa mesma vida deve ter para que seja realizada em sua plenitude,</p><p>condições tais que decorrem dos direitos econômicos, sociais e culturais (direitos</p><p>da igualdade).” Assim, os direitos humanos se complementam e não se dividem</p><p>em gerações ou dimensões, por serem indivisíveis.</p><p>A FGV tem várias perguntas sobre a indivisibilidade. É uma característica de</p><p>destaque nas questões da banca. Adiante estudaremos os seus detalhes.</p><p>4. Fundamentação filosófica</p><p>André de Carvalho Ramos apresenta uma breve síntese das tentativas de</p><p>fundamentação dos direitos humanos.</p><p>A fundamentação pode ser entendida como as razões que legitimam o</p><p>reconhecimento dos direitos humanos. Podemos classificar as teorias acerca</p><p>da fundamentação filosófica em três principais correntes: negacionistas,</p><p>jusnaturalistas e positivistas. Vejamos.</p><p>DIREITOS HUMANOS</p><p>PCMG Todos os cargos</p><p>17</p><p>Explica o autor que, para alguns, como Norberto Bobbio, a fundamentação</p><p>desses direitos é impossível ou perigosa. Isso porque, para Bobbio, se existe</p><p>divergência até na definição dos direitos humanos, como fundamentar o que não</p><p>podemos determinar? Ademais, como esses direitos formam uma classe variável,</p><p>cada contexto histórico tem sua própria fundamentação, sendo impossível</p><p>estabelecer um fundamento único.</p><p>Por fim, afirma Bobbio que, como os direitos humanos exigem, muitas vezes,</p><p>ponderação para resolver conflitos em casos concretos, buscar uma única</p><p>fundamentação poderia servir de pretexto para impedir a evolução do rol dos</p><p>direitos humanos.</p><p>Assim, os que negam a existência de fundamentação racional dos direitos</p><p>humanos, a exemplo, de Perez Luño, alegam que tais direitos são consagrados a</p><p>partir de juízos de valor, de opções morais, que não podem ser comprovadas ou</p><p>justificadas, mas aceitas por convicção pessoal. Essa é a corrente</p><p>negacionista, que defende a ideia de que os direitos humanos são apreendidos</p><p>pelos sentimentos morais.</p><p>Entretanto, como ressalta ACR, a fundamentação dos direitos humanos, ainda</p><p>hoje, é muito importante na relação direitos humanos – direito posto. Assim, se os</p><p>direitos humanos não são expressamente previstos pelo Estado, ou, se previstos,</p><p>não são efetivados, como protegê-los?</p><p>A resposta estaria no referencial ético que justifica o fato de os direitos humanos</p><p>terem uma “posição superior no ordenamento jurídico, capaz inclusive de se</p><p>sobrepor a eventual ausência de reconhecimento explícito por parte do Estado.”</p><p>Daí a importância do estudo da sua fundamentação. Vejamos as demais correntes.</p><p>A corrente jusnaturalista sustenta que há normas anteriores e superiores ao</p><p>direito estatal posto. Essa corrente pode ter origem religiosa ou origem racional.</p><p>Vejamos.</p><p>Desde a Antiguidade é possível identificar essa visão jusnaturalista,</p><p>representada na peça de teatro Antígona, de Sófocles (421 a.C.). Antígona,</p><p>personagem principal da peça, se recusa a cumprir as ordens do rei Creonte,</p><p>afirmando que as leis humanas não podem se sobrepor às leis eternas dos</p><p>deuses.</p><p>Na Idade Média, um dos grandes representantes do direito natural de inspiração</p><p>divina é São Tomás de Aquino. Para esse teólogo, a lex humana deve obedecer</p><p>à lex naturalis, que era fruto da razão divina, mas perceptível ao homem.</p><p>Hugo Grotius, um dos fundadores do Direito Internacional, inaugurou a teoria</p><p>do direito natural moderno e sustentava, no século XVI, a existência de um</p><p>conjunto de normas ideais, fruto da razão humana. Assim, as leis humanas só</p><p>seriam válidas quando compatíveis com os mandamentos daquela lei imutável e</p><p>eterna. A partir de Hugo Grócio, nos séculos XVII e XVIII, tivemos a consagração</p><p>da razão e a da laicidade das normas do direito natural.</p><p>DIREITOS HUMANOS</p><p>PCMG Todos os cargos</p><p>18</p><p>Também os iluministas, principalmente Locke e Rousseau, retomam o</p><p>racionalismo e o individualismo, inaugurando o jusnaturalismo contratualista. A</p><p>razão é fonte de direitos inerentes ao ser humano e tais direitos devem</p><p>prevalecer em face do Estado. Essa supremacia dos direitos humanos estaria</p><p>fundada no contrato social, que obriga a todos em uma sociedade, impõe a</p><p>proteção desses direitos pelo Estado, que tem o seu poder limitado. A Declaração</p><p>de Direitos do Homem e do Cidadão, de 1789, é um documento marcante dessa</p><p>visão dos direitos humanos. Sob a perspectiva de direito natural, os direitos</p><p>humanos são atemporais, inerentes ao ser humano.</p><p>A corrente jusnaturalista tem, portanto, um cunho teológico e metafísico, já</p><p>que, se baseia na existência de um direito preexistente ao direito produzido pelo</p><p>homem, oriundo de Deus (razão divina) ou da natureza imanente do ser</p><p>humano (direito natural moderno).</p><p>Apesar da influência do jusnaturalismo até os dias atuais, tanto no Direito</p><p>Internacional dos Direitos Humanos quanto na jurisprudência do STF, a corrente</p><p>sofre muitas críticas. A principal crítica feita ao jusnaturalismo é a falta de</p><p>comprovação de direitos inerentes à natureza do homem. O conteúdo dos</p><p>direitos humanos varia de acordo com o contexto histórico, são direitos</p><p>conquistados ao longo do tempo.</p><p>Assim, com a estruturação do Estado constitucional, a partir do século XVIII,</p><p>tivemos a positivação dos direitos humanos, nas Constituições e nas leis.</p><p>A corrente positivista, que se desenvolveu ao longo dos séculos XIX e XX,</p><p>trouxe a ideia de um ordenamento jurídico produzido pelo homem, através do</p><p>conceito da pirâmide da hierarquia das leis. No topo da pirâmide, está a</p><p>Constituição, pressuposto de validade de todas as demais normas do ordenamento.</p><p>Os direitos humanos foram inseridos na Constituição, adquirindo status normativo</p><p>superior.</p><p>De acordo com a Escola positivista, (inicialmente, chamada de positivismo</p><p>nacionalista) o fundamento dos direitos humanos está na existência de leis</p><p>positivas, que retiram seu fundamento de validade da Constituição. Os direitos</p><p>humanos se justificam a partir da sua validade formal.</p><p>A corrente positivista sofre muitas críticas, pois, sabemos que as leis, muitas</p><p>vezes, não protegem nem reconhecem os direitos humanos. E é justamente neste</p><p>contexto que a proteção dos direitos humanos se faz mais necessária. Como</p><p>relembra André de Carvalho Ramos, “o exemplo nazista mostra a insuficiência</p><p>da fundamentação do direito posto dos direitos humanos”.</p><p>Nota-se o conflito entre jusnaturalistas e positivistas. Os jusnaturalistas</p><p>defendem a superioridade dos princípios de moral e justiça em face de leis</p><p>incompatíveis. Para os positivistas, esses princípios de justiça não pertencem ao</p><p>ordenamento jurídico, por isso, inexiste conflito entre a lei posta e a Moral. Os</p><p>positivistas reduzem o direito ao que está escrito, positivado.</p><p>O positivismo nacionalista foi superado no plano internacional após a</p><p>barbárie nazista. Desenvolve-se o Direito Internacional dos Direitos Humanos,</p><p>DIREITOS HUMANOS</p><p>PCMG Todos os cargos</p><p>19</p><p>gerando uma positivação internacionalista, com normas e tribunais</p><p>internacionais aceitos pelos Estados e com impacto direto na vida das sociedades</p><p>locais.</p><p>Importante ainda mencionar a fundamentação moral. O conceito de direitos</p><p>morais, aprofundado por Ronald Dworkin, “consiste no conjunto de direitos</p><p>subjetivos originados diretamente de valores (contidos em princípios),</p><p>independentemente da existência de prévias regras postas.” Para esse autor,</p><p>a moralidade integra o ordenamento jurídico através dos princípios, ainda que não</p><p>positivados. Os princípios são, para Dworkin, exigências de justiça, de equidade ou</p><p>de qualquer outra dimensão da moral.</p><p>No julgamento dos casos difíceis, ou hard cases, nos quais a aplicação das</p><p>regras é insuficiente, a solução pode ser encontrada através de princípios,</p><p>realizando-se uma ponderação de valores. Existe uma fundamentação ética dos</p><p>direitos humanos.</p><p>Na conclusão de André de Carvalho Ramos, “a fundamentação dos direitos</p><p>humanos como direitos morais busca a conciliação entre os direitos</p><p>humanos entendidos como exigências éticas ou valores e os direitos</p><p>humanos entendidos como direitos positivados.”</p><p>5. Características dos direitos humanos</p><p>Tema muito cobrado em provas! Também podem aparecer em questões como</p><p>“princípios”. A FGV já perguntou sobre várias características, como verão nas</p><p>questões ao final do capítulo. Saibam o significado de cada uma e muito cuidado</p><p>para não confundir características parecidas, como inalienabilidade e</p><p>indisponibilidade. A banca já cobrou várias vezes e de diferentes formas, a ideia</p><p>de indivisibilidade.</p><p>As principais características dos direitos humanos vieram à tona com a</p><p>proclamação da Declaração Universal dos Direitos Humanos, em 1948, foram</p><p>reafirmadas na I Conferência Mundial de Direitos Humanos, em Teerã, em 1968</p><p>e consolidadas na II Conferência Mundial de Direitos Humanos, realizada em</p><p>Viena, em 1993.</p><p>A Declaração Universal dos Direitos Humanos (Declaração de Paris), de</p><p>1948, prevê: “todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e</p><p>direitos”.</p><p>Na I Conferência, em 1968, tivemos a Proclamação de Teerã, com a seguinte</p><p>disposição: “é indispensável que a comunidade internacional cumpra sua obrigação</p><p>solene de fomentar e incentivar o respeito aos direitos humanos e as liberdade</p><p>fundamentais para todos, sem distinção nenhuma por motivos de raça, cor, sexo,</p><p>idioma ou opiniões políticas ou de qualquer outra espécie.”</p><p>DIREITOS HUMANOS</p><p>PCMG Todos os cargos</p><p>20</p><p>Da Conferência de Viena, resultou uma famosa Declaração e Programa de</p><p>Ação de Viena, de 1993, que, dentre outros pontos</p><p>importantes, prevê no seu item</p><p>5:</p><p>“Todos os direitos humanos são universais, indivisíveis interdependentes e</p><p>inter-relacionados. A comunidade internacional deve tratar os direitos humanos</p><p>de forma global, justa e equitativa, em pé de igualdade e com a mesma ênfase.</p><p>Embora particularidades nacionais e regionais devam ser levadas em</p><p>consideração, assim como diversos contextos históricos, culturais e religiosos, é</p><p>dever dos Estados promover e proteger todos os direitos humanos e liberdades</p><p>fundamentais, sejam quais forem seus sistemas políticos, econômicos e culturais.”</p><p>A FGV também gosta de perguntar sobre essas conferências e documentos</p><p>delas resultantes. Confiram nas questões.</p><p>Como ressalta ACR, o estudo das características é importante por dois</p><p>motivos: primeiro, porque possibilita a compreensão do atual estágio de</p><p>desenvolvimento da proteção dos direitos humanos na esfera internacional;</p><p>segundo, porque permite ao operar brasileiro usar essas características no âmbito</p><p>interno, em conformidade com a jurisprudência internacional.</p><p>O autor trata as características como especificidades dos direitos humanos.</p><p>Vamos começar?</p><p>Centralidade dos direitos humanos</p><p>Como ressalta ACR, os direitos humanos ocupam atualmente uma posição</p><p>central, tanto no Direito Constitucional como no Direito Internacional. Nas palavras</p><p>do autor, “trata-se de uma verdadeira filtragem pro persona”, na qual todas as</p><p>normas do ordenamento jurídico devem ser compatíveis com a promoção da</p><p>dignidade humana.”</p><p>A dignidade humana é o epicentro axiológico, tanto da ordem constitucional,</p><p>quanto do direito internacional dos direitos humanos, surgido após a Segunda</p><p>Guerra Mundial.</p><p>Na expressão de Celso Lafer, a reconstrução dos direitos humanos</p><p>(internacionalização) se dá em função de uma ruptura causada pelos regimes</p><p>totalitários nazifascistas. O Direito Internacional Público, até então voltado para</p><p>as relações entre Estados, passa a concentrar-se na dimensão subjetiva da</p><p>pessoa humana e sua dignidade.</p><p>Universalidade, inerência e transnacionalidade</p><p>Essa é a característica mais questionada dos direitos humanos e está associada</p><p>ao processo de internacionalização dos direitos humanos. Podemos entendê-la em</p><p>três planos distintos:</p><p>DIREITOS HUMANOS</p><p>PCMG Todos os cargos</p><p>21</p><p>No plano da titularidade, significa que todas as pessoas são titulares de</p><p>direitos humanos. Não é necessário cumprir nenhum requisito. Basta ser pessoa,</p><p>visto que, todos têm dignidade, para reivindicar direitos no plano interno e</p><p>internacional, independentemente de sexo, raça, credo religioso, opinião política,</p><p>status social, econômico, cultural etc. Temos aqui a ideia de inerência dos direitos</p><p>humanos.</p><p>De acordo com Carlos Weis, a inerência dos direitos humanos consiste na</p><p>“qualidade de pertencimento desses direitos a todos os membros da espécie</p><p>humana, sem qualquer distinção.”</p><p>O segundo plano é o temporal. Nesse plano, os direitos humanos são</p><p>universais porque as pessoas os possuem em qualquer época da história.</p><p>Por fim, temos o plano cultural, segundo o qual os direitos humanos são</p><p>universais porque estão presentes em qualquer parte do globo, em todas as</p><p>culturas.</p><p>Com a barbárie nazista, temos o fracasso da proteção local ou nacional dos</p><p>direitos humanos e a necessidade de sua proteção segundo uma ótica</p><p>universal, garantida, de forma subsidiária, diante da omissão estatal, pelo Direito</p><p>Internacional dos Direitos Humanos.</p><p>Nessa nova sociedade internacional, a soberania dos Estados é</p><p>reconfigurada (mitigada, compartilhada), entendendo-se que a proteção dos</p><p>direitos humanos é um tema de interesse internacional e não pode estar</p><p>reservado à jurisdição de cada Estado.</p><p>Hoje podemos afirmar, usando uma expressão de Carlos Weis, que os direitos</p><p>humanos são transnacionais, ou seja, devem ser reconhecidos onde quer que os</p><p>indivíduos estejam.”</p><p>Essa característica da transnacionalidade é especialmente importante na</p><p>proteção dos direitos de apátridas e refugiados. “Os direitos humanos não mais</p><p>dependem do reconhecimento por parte de um Estado ou da existência do</p><p>vínculo de nacionalidade, existindo o dever internacional de proteção aos</p><p>indivíduos, confirmando-se o caráter universal e transnacional desses direitos”.</p><p>Apesar da previsão, em vários documentos internacionais, da universalidade dos</p><p>direitos humanos, nos deparamos com um grande desafio do Direito Internacional</p><p>dos Direitos Humanos: ser universal na diversidade.</p><p>Para muitos, a polêmica teria se encerrado após a Declaração Universal dos</p><p>Direitos Humanos, de 1948 e da Declaração de Viena, em 1993. Ambos os</p><p>documentos reforçam a universalidade dos direitos humanos.</p><p>Entretanto, as críticas permanecem, em especial, por parte dos chamados</p><p>relativistas culturais. Alguns doutrinadores entendem que a universalização dos</p><p>direitos humanos é uma “expressão disfarçada do imperialismo cultural</p><p>eurocêntrico”. Nos dizeres de Boaventura de Sousa Santos, “se observarmos a</p><p>história dos direitos humanos no período imediatamente a seguir à Segunda</p><p>DIREITOS HUMANOS</p><p>PCMG Todos os cargos</p><p>22</p><p>Grande Guerra, não é difícil concluir que as políticas de direitos humanos estiveram</p><p>em geral ao serviço dos interesses econômicos e geopolíticos dos Estados</p><p>capitalistas hegemônicos”.</p><p>Assim, essa corrente relativista propõe um diálogo multicultural, para que</p><p>seja possível a construção de um novo paradigma que consiga romper a</p><p>dicotomia universalismo x relativismo. Essa discussão será aprofundada em</p><p>outro momento do nosso estudo.</p><p>Como bem colocado por ACR, contamos com um instrumento eficaz para buscar</p><p>superar essa dicotomia: os processos internacionais de direitos humanos</p><p>perante os tribunais internacionais. No caso de conflito entre um direito</p><p>reconhecido universalmente e uma opção local, os tribunais internacionais irão</p><p>solucionar o caso, de forma legítima, através da ponderação e da argumentação</p><p>jurídica. (Obviamente, essa solução só será possível para os países que aceitarem</p><p>a jurisdição desses tribunais).</p><p>Indivisibilidade, interdependência e unidade</p><p>A indivisibilidade significa que todos os direitos humanos devem ter a</p><p>mesma proteção jurídica, uma vez que são essenciais para uma vida digna. A</p><p>divisão dos direitos humanos em direitos civis e políticos e direitos sociais,</p><p>econômicos e culturais é meramente didática.</p><p>Essa característica foi declarada na Declaração Universal dos Direitos</p><p>Humanos, de 1948 e reconhecida na Primeira Conferência Mundial de Direitos</p><p>Humanos, em Teerã, no ano de 1968 e reiterada na Segunda Conferência</p><p>Mundial, em Viena, em 1993.</p><p>A indivisibilidade apresenta duas facetas. A primeira significa reconhecer que</p><p>cada direito protegido é uma unidade incindível, ou seja, deve ser protegido</p><p>como um todo, não é possível proteger apenas um de seus aspectos.</p><p>A segunda faceta nos traz a ideia segundo a qual não é possível proteger</p><p>apenas uma categoria de direitos, todas devem ser resguardadas. Nesse</p><p>sentido, os direitos civis e políticos não se concretizam sem a efetiva proteção dos</p><p>direitos sociais, econômicos e culturais.</p><p>O objetivo da indivisibilidade é fazer com que os Estados protejam também os</p><p>direitos de segunda dimensão, garantindo o mínimo existencial, ou seja,</p><p>condições materiais mínimas de sobrevivência digna do indivíduo.</p><p>A interdependência (ou inter-relação) está relacionada à indivisibilidade e</p><p>complementaridade dos direitos humanos. Foi reconhecida na Primeira</p><p>Conferência Mundial de Direitos Humanos, em Teerã, em 1968, e confirmada</p><p>na Declaração sobre o Direito ao Desenvolvimento, em 1986, e na Conferência</p><p>de Viena, em 1993.</p><p>Significa que os direitos humanos interagem entre si para a satisfação das</p><p>necessidades dos indivíduos e concretizam da dignidade humana. São</p><p>complementares</p><p>e dependentes entre si, sendo que o conteúdo de um direito</p><p>DIREITOS HUMANOS</p><p>PCMG Todos os cargos</p><p>23</p><p>pode se vincular ao conteúdo de outro, ou ser um desdobramento dele. Exige a</p><p>atenção integral a todos os direitos humanos, sem qualquer tipo de preferência ou</p><p>exclusão.</p><p>Essa interpretação conjunta pode contribuir para coerência e superação de</p><p>eventuais conflitos entre direitos pelo uso dos princípios da proporcionalidade e</p><p>da ponderação de interesses.</p><p>Assim, nesse sentido, a Corte Interamericana de Direitos Humanos, entendeu</p><p>que pode, na sua atuação, considerar tratados internacionais de direitos</p><p>humanos como um todo, em que tenhamos como signatários os Estados</p><p>Americanos, e não só os tratados do sistema regional. Essa interpretação é</p><p>benéfica e amplia, sobremaneira, a atuação da Corte.</p><p>Por fim, os direitos humanos formam uma unidade de direitos que são</p><p>indivisíveis, interdependentes e inter-relacionados. Por isso, quando um</p><p>determinado direito é violado, todos os demais ficam comprometidos e</p><p>vulneráveis.</p><p>Como bem destaca Flávia Piovesan, o grande desafio para os países é</p><p>implementar tanto direitos de liberdade quanto os direitos de igualdade, para</p><p>alcançarmos a justiça social.</p><p>Indisponibilidade, inalienabilidade e imprescritibilidade</p><p>Essas características garantem uma proteção de intangibilidade dos direitos</p><p>humanos, demonstrando sua essencialidade e inerência à condição humana.</p><p>A indisponibilidade (ou irrenunciabilidade) dos direitos humanos significa que</p><p>não é possível que os seus titulares possam abrir mão dos seus direitos, permitir a</p><p>sua violação, vez que, não podemos renunciar a nossa condição humana.</p><p>Como se sabe, a proteção dos direitos humanos considera que as pessoas têm</p><p>autonomia e livre arbítrio na condução de sua vida. Entretanto, existem limites</p><p>à autonomia, já que, a proteção desses direitos pelo Estado ocorre mesmo contra</p><p>a vontade dos indivíduos. Ou seja, são direitos indisponíveis, irrenunciáveis. A</p><p>renúncia total a um direito humano não é possível. Na doutrina de Valério Mazzuoli,</p><p>os direitos humanos são irrenunciáveis, não mencionando o autor qualquer</p><p>ressalva.</p><p>Para alguns doutrinadores, se admite renúncia controlada, parcial e</p><p>temporária, em situações muito específicas. Podemos mencionar, alguns</p><p>exemplos. Um lutador, renuncia temporariamente à sua integridade física para</p><p>participar de uma luta. Um participante do BBB renuncia temporariamente a</p><p>vários direitos (liberdade de locomoção, privacidade, honra, imagem, intimidade,</p><p>liberdade de expressão etc) para participar do programa. Vejam que são renúncias</p><p>controladas, não são definitivas.</p><p>Na visão de ACR, a indisponibilidade dos direitos humanos não pode gerar um</p><p>paternalismo exacerbado. A intangibilidade de um direito contra a vontade do seu</p><p>DIREITOS HUMANOS</p><p>PCMG Todos os cargos</p><p>24</p><p>titular dependeria da ponderação entre a liberdade do indivíduo e o eventual direito</p><p>em colisão.</p><p>Por outro lado, não podemos permitir que pessoas violem os nossos direitos. A</p><p>autorização do titular não justifica ou convalida a sua violação. Os limites à</p><p>autonomia são impostos em prol de outros direitos ou da dignidade da</p><p>pessoa humana.</p><p>Temos um importante precedente nesse sentido, originário da França, que une</p><p>ordenamento jurídico interno e sistema internacional de proteção, no</p><p>reconhecimento da indisponibilidade dos direitos fundamentais. Me refiro ao</p><p>famoso caso do Arremesso de Pessoa com Nanismo (lancer de nain). A prática</p><p>ocorria em uma casa noturna na periferia de Paris, sendo proibida pela Prefeitura,</p><p>com base no respeito à ordem pública. (Obs.: atualmente, o termo politicamente</p><p>correto seria pessoa com nanismo, ao invés de anão).</p><p>Ocorre que a própria pessoa com nanismo se insurgiu contra a decisão,</p><p>alegando que tinha consentido com a prática, usava equipamento de</p><p>segurança e tinha o direito de trabalhar. Apesar disso, o Conselho de Estado</p><p>Francês manteve a proibição, utilizando-se de precedente da Corte Europeia</p><p>de Direitos Humanos sobre tratamento degradante. O Conselho alegou que há</p><p>limites à autonomia da vontade decorrentes da própria ideia de dignidade humana.</p><p>Inconformado com a decisão, o Senhor Manuel Wackenheim denunciou a</p><p>França perante o Comitê dos Direitos Humanos, órgão de monitoramento do</p><p>Pacto Internacional dos Direitos Civis Políticos, alegando violação aos seus direitos</p><p>à liberdade, à vida privada e ao trabalho.</p><p>O Comitê arquivou o caso, entendendo que o “arremesso de anão” foi</p><p>proibido por violar a dignidade humana, que por si só, limitava a autonomia</p><p>da vontade do indivíduo.</p><p>Podemos concluir que a dignidade humana é violada sempre que se reduz o</p><p>indivíduo a mero objeto, retirando-lhe sua condição humana. Por isso, não se</p><p>pode admitir que o próprio indivíduo aceite ser reduzido à condição de objeto, aceite</p><p>receber um tratamento indigno.</p><p>Antes de falarmos das outras características, é importante ressaltar que, apesar</p><p>de não se admitir a eliminação ou disposição do direito em abstrato, o</p><p>exercício desses direitos é facultativo, estando sujeito à negociação e existindo,</p><p>algumas vezes, prazo fatal para o seu exercício. Tomemos como exemplo direitos</p><p>dos trabalhadores, previstos no artigo 7.º da CF/88, que permite acordo ou</p><p>negociação coletiva acerca de alguns direitos e prazo prescricional para ações</p><p>trabalhistas. Assim, existe liberdade do titular para o exercício de tais direitos.</p><p>A inalienabilidade significa a impossibilidade de se atribuir valor</p><p>econômico, uma dimensão pecuniária aos direitos humanos. Não é possível</p><p>transferir ou alienar tais direitos.</p><p>A imprescritibilidade significa dizer que os direitos humanos não deixam de</p><p>valer com o passar do tempo.</p><p>DIREITOS HUMANOS</p><p>PCMG Todos os cargos</p><p>25</p><p>Segundo ACR, cabe ressaltar que temos a opção de escolher exercer ou não os</p><p>direitos, ou seja, seu exercício é facultativo e pode se sujeitar à negociação, em</p><p>alguns casos, (por exemplo, irredutibilidade do salário, salvo negociação coletiva,</p><p>no artigo 7.º, VI da CF/;88), ou mesmo em prazo fatal para serem exigidos, em</p><p>outros (é o caso da ação trabalhista, que tem prazo prescricional, nos temos do</p><p>artigo 7.º, XXIX da CF/88).</p><p>Limitabilidade (não absolutos, relativos)</p><p>Essa característica significa que, apesar de os direitos humanos serem</p><p>essenciais e gozarem de superioridade normativa, não são direitos absolutos.</p><p>Existem limites que podem ser impostos ao exercício de um direito em nome da</p><p>preservação de outro.</p><p>Obs.: vamos encontrar, em Direitos Humanos, a previsão de direitos tidos como</p><p>absolutos, em caráter excepcional, como proibição da escravidão e servidão e da</p><p>tortura. Mas, repito, a regra é a limitabilidade.</p><p>Em um Estado Democrático de Direito, essa limitação só pode ocorrer por</p><p>previsão legal e sua interpretação requer uma argumentação jurídica racional,</p><p>transparente e convincente, de modo a evitar qualquer tipo de arbítrio.</p><p>Os tribunais constitucionais se deparam, frequentemente, com a colisão entre</p><p>direitos fundamentais e os limites das restrições a esses direitos. Lembremo-nos,</p><p>por exemplo, das discussões travadas pelo STF, no contexto da pandemia,</p><p>acerca da constitucionalidade da limitação de vários direitos fundamentais.</p><p>Assim, entra em cena um dos princípios mais importantes na interpretação dos</p><p>direitos fundamentais, o princípio da proporcionalidade. Qualquer restrição só</p><p>será legítima se observar o princípio da proporcionalidade.</p><p>Tal princípio, também chamado de "limite dos limites", não deve ser entendido</p><p>como sinônimo de razoabilidade. A análise a ser feita é mais ampla e envolve três</p><p>subprincípios. São eles:</p><p>Adequação: o meio escolhido foi adequado e pertinente para atingir o resultado</p><p>desejado?</p><p>Proporcionalidade</p><p>Adequação</p><p>Necessidade</p><p>Proporcionalidade</p><p>em sentido estrito</p><p>DIREITOS HUMANOS</p><p>PCMG Todos os cargos</p><p>26</p><p>Necessidade (vedação de excesso e proibição de proteção insuficiente): o</p><p>meio escolhido foi o "mais suave" entre as opções existentes? Houve omissão?</p><p>Proporcionalidade em sentido estrito (ponderação): analisando a relação custo-</p><p>benefício, a medida trouxe mais vantagens ou desvantagens?</p><p>Dessa forma, o princípio da proporcionalidade é útil para validar atos do Poder</p><p>Legislativo e do Poder Executivo que limitem direitos fundamentais e também para</p><p>legitimar as decisões do Poder Judiciário. O juiz, ao concretizar um direito</p><p>fundamental, deve ter em mente que a sua decisão deve ser adequada, necessária</p><p>(não excessiva e suficiente) e proporcional em sentido estrito. Na expressão de</p><p>Georg Jellinek: “Não se abatem pardais disparando canhões”.</p><p>O princípio da proporcionalidade também é utilizado na jurisprudência</p><p>internacional?</p><p>Apesar de não estar expresso, com essa nomenclatura, em documentos</p><p>internacionais, o princípio vem sendo utilizado por tribunais internacionais, a</p><p>exemplo da Corte Europeia e da Corte Interamericana de Direitos Humanos.</p><p>Uma das justificativas utilizadas nesses julgamentos, cuja ideia foi reproduzida</p><p>pela Convenção Europeia de Direitos Humanos (artigos 8.º, 9.º, 10 e 11) e pela</p><p>Convenção Americana de Direitos Humanos (artigo 32), é o artigo 29, n. 2, da</p><p>Declaração Universal dos Direitos Humanos, segundo o qual:</p><p>“No exercício de seus direitos e liberdades, todo ser humano estará sujeito apenas</p><p>às limitações determinadas pela lei, exclusivamente com o fim de assegurar o</p><p>devido reconhecimento e respeito dos direitos e liberdades de outrem e de</p><p>satisfazer as justas exigências da moral, da ordem pública e do bem-estar de uma</p><p>sociedade democrática.”</p><p>Outra limitação importante, que vem fortalecer o princípio da igualdade, é</p><p>a teoria do abuso de direito. Proveniente do Direito Privado, consiste na proibição</p><p>do exercício de determinado direito que tenha como objetivo a supressão de outros</p><p>direitos humanos ou o regime democrático. Na lição de ACR: “Não há proteção</p><p>de direitos humanos para determinadas atividades que tenham como objetivo</p><p>a destruição de outros direitos ou liberdades, em especial as referentes ao</p><p>regime democrático.”</p><p>Entretanto, o mesmo autor nos alerta sobre o uso indiscriminado da teoria, que</p><p>poderia gerar violações aos direitos humanos das minorias, o que, obviamente, não</p><p>podemos permitir. Como conclui ACR: “O papel da teoria do abuso de direito dever</p><p>ser de reforço ao juízo de proporcionalidade das restrições necessárias em uma</p><p>sociedade democrática, e nunca ser uma teoria autônoma ou um cheque em branco</p><p>para que governos, mesmo que eleitos democraticamente, asfixiem ideologias</p><p>minoritárias ou divergentes.”</p><p>Por fim, cabe mencionar a limitação de direitos humanos em caso de estado</p><p>de emergência. Essa situação está prevista em tratados internacionais de proteção</p><p>de direitos humanos, a exemplo do artigo 4.° do Pacto Internacional dos Direitos</p><p>DIREITOS HUMANOS</p><p>PCMG Todos os cargos</p><p>27</p><p>Civis e Políticos, do artigo 15 da Convenção Europeia de Direitos Humanos e</p><p>artigo 27 da Convenção Americana de Direitos Humanos.</p><p>Todos os dispositivos deixam claro que as restrições são excepcionais e</p><p>temporárias, devem ser proporcionais e não implicar em discriminações. Ou</p><p>seja, tais suspensões de direitos possuem limites materiais, temporais e</p><p>processuais.</p><p>Os limites materiais se traduzem na ideia de que alguns direitos são</p><p>inderrogáveis, ou seja, não podem ser suspensos em hipótese alguma. Também</p><p>temos limitação temporária, vez que, a suspensão deve ser transitória. E como</p><p>limitação processual, a previsão de que os recursos (remédios) judiciais</p><p>básicos de garantia dos direitos humanos não podem ser suspensos.</p><p>Atenção! Direitos humanos não limitados, são limitáveis ou relativos. Cuidado</p><p>com essa nomenclatura, já cobrada em questão da FGV.</p><p>Superioridade normativa (jus cogens)</p><p>Na lição de ACR, se pensarmos no âmbito interno, os tratados internacionais de</p><p>proteção de direitos humanos costumam ser equiparados às normas</p><p>constitucionais, pela importância de seu conteúdo. Assim, possuem</p><p>superioridade normativa, se comparados às demais normas do ordenamento</p><p>jurídico.</p><p>No plano internacional, são normas compreendidas como normas</p><p>imperativas em sentido estrito (ou normas cogentes ou de jus cogens). Isso</p><p>significa que contêm valores essenciais para a comunidade internacional,</p><p>como um todo, possuindo superioridade normativa em caso de colisão com</p><p>outras normas do Direito Internacional.</p><p>Obs.: tivemos uma interessante questão da FGV sobre jus cogens. Confira na</p><p>lista de questões ao final do capítulo.</p><p>Além de serem obrigatórias, as normas de jus cogens não podem ser</p><p>alteradas pela vontade de um Estado. A sua derrogação só pode ocorrer se</p><p>aprovada pela comunidade internacional, como um todo. Assim, um Estado não</p><p>pode violar uma norma cogente. Um tratado não tem o poder de revogar uma</p><p>norma de jus cogens, que só poderia ser revogada por outra de mesma</p><p>natureza.</p><p>Segundo ACR, temos como exemplos de normas de jus cogens já reconhecidas</p><p>pela Corte Interamericana de Direitos Humanos:</p><p>princípio da igualdade e proibição de discriminação;</p><p>proibição da escravidão;</p><p>proibição da tortura e tratamentos cruéis, desumanos e degradantes;</p><p>princípio da não devolução (non-refoulement);</p><p>proibição de desaparecimento forçado;</p><p>proibição da prática de crimes contra a humanidade;</p><p>proibição genérica do uso da força nas relações internacionais;</p><p>DIREITOS HUMANOS</p><p>PCMG Todos os cargos</p><p>28</p><p>princípio da autodeterminação dos povos etc.</p><p>Infelizmente, como ressalta o autor, os Estados não respeitam essas normas</p><p>como deveriam.</p><p>Caráter erga omnes</p><p>No plano internacional, essa característica é expressa em duas vertentes.</p><p>Primeiro, no reconhecimento do interesse de todos os Estados de ver</p><p>respeitados os direitos protegidos pelo Direito Internacional.</p><p>A segunda vertente, é a ideia de aplicação geral das normas de direitos</p><p>humanos, sem qualquer tipo de discriminação, pela simples condição humana.</p><p>Conforme previsto no artigo 1.º da Convenção Americana de Direitos Humanos:</p><p>1. Os Estados Partes nesta Convenção comprometem-se a respeitar os direitos</p><p>e liberdades nela reconhecidos e a garantir seu livre e pleno exercício a toda</p><p>pessoa que esteja sujeita à sua jurisdição, sem discriminação alguma por motivo</p><p>de raça, cor, sexo, idioma, religião, opiniões políticas ou de qualquer outra natureza,</p><p>origem nacional ou social, posição econômica, nascimento ou qualquer outra</p><p>condição social.</p><p>2. Para os efeitos desta Convenção, pessoa é todo ser humano.</p><p>A grande vantagem do caráter erga omnes da proteção de direitos humanos é</p><p>possibilitar que esses direitos sejam invocados por qualquer pessoa sob a</p><p>jurisdição de um Estado, não importando sua nacionalidade ou estatuto</p><p>jurídico. Podemos exemplificar com um grupo bastante vulnerável atualmente: os</p><p>estrangeiros em situação irregular. Apesar de sofrerem restrições quanto aos</p><p>direitos básicos no plano interno, têm assegurado amplo acesso às instâncias</p><p>internacionais de proteção.</p><p>Exigibilidade</p><p>Como bem disse Norberto Bobbio, o problema atual, em relação aos direitos</p><p>humanos, não é mais de declará-los ou fundamentá-los, e sim, de protegê-</p><p>los.</p><p>Temos uma crescente preocupação com a implementação dos direitos</p><p>humanos, que representa um grande desafio perante as diversas situações de</p><p>desrespeito e violação desses direitos.</p><p>Busca-se garantir essa exigibilidade através do instituto da responsabilidade</p><p>internacional do Estado, que garante a responsabilização do Estado infrator</p><p>e</p><p>a sua condenação à reparação dos danos causados.</p><p>Os principais mecanismos para fiscalização, monitoramento e responsabilização</p><p>dos Estados são os órgãos de monitoramento dos tratados e órgãos judiciais</p><p>internacionais. Assim, temos no sistema americano, por exemplo, a atuação da</p><p>Comissão e da Corte Interamericanas, para exigir o cumprimento dos direitos</p><p>previstos na Convenção Americana de Direitos Humanos.</p><p>DIREITOS HUMANOS</p><p>PCMG Todos os cargos</p><p>29</p><p>Abertura dos direitos humanos ou não exaustividade</p><p>Também conhecida como cláusula aberta, inexauribilidade dos direitos</p><p>humanos ou princípio de não tipicidade. Consiste na possibilidade de expansão</p><p>do rol dos direitos necessários a uma vida digna.</p><p>A abertura pode ter origem internacional ou nacional. A internacional se origina</p><p>do aumento do rol de direitos protegidos pelo Direito Internacional dos Direitos</p><p>Humanos, através de novos tratados ou da jurisprudência dos tribunais</p><p>internacionais.</p><p>Já a abertura nacional é fruto das emendas constitucionais (como por exemplo,</p><p>direito à moradia, EC/26/00 e direito à alimentação, EC/64/10) e da atividade</p><p>interpretativa ampliativa dos tribunais nacionais.</p><p>Prevê o artigo 5.º, parágrafo 2.º da CRFB/88, que os direitos e garantias</p><p>fundamentais expressos na Constituição não excluem outros decorrentes do</p><p>regime e dos princípios por ela adotados, ou dos tratados internacionais dos quais</p><p>a República Federativa do Brasil seja parte. A abertura aos tratados internacionais</p><p>é uma novidade da CF/88, não existia nas constituições anteriores.</p><p>A mesma ideia pode ser observada no Direito Internacional dos Direitos</p><p>Humanos, que permite a ampliação do rol de direitos humanos, em cláusula</p><p>de abertura, inexauribilidade, ou não tipicidade de tais direitos. Mencione-se,</p><p>por exemplo, a Convenção Americana dos Direitos Humanos, ao prever no artigo</p><p>29, c, que não se admite uma interpretação que venha a excluir outros direitos</p><p>e garantias inerentes ao ser humano.</p><p>Na lição de Norberto Bobbio, “não é difícil prever que, no futuro, poderão emergir</p><p>novas pretensões que no momento nem sequer podemos imaginar.”</p><p>Proibição ou vedação do retrocesso</p><p>A ideia de proibição do retrocesso é conhecida por vários nomes: cláusula de</p><p>não regressividade, vedação ao efeito cliquet, vedação ao efeito catraca,</p><p>princípio da proibição de evolução reacionária ou ainda princípio do não</p><p>retorno da concretização. Significa que é vedado aos Estados diminuir ou</p><p>amesquinhar a proteção já conferida aos direitos humanos. Os novos tratados</p><p>de direitos humanos não podem restringir ou diminuir a proteção de direitos</p><p>humanos já assegurada. Esses direitos devem ser mantidos ou melhorados.</p><p>Atualmente, essa é uma garantia de extrema importância.</p><p>A doutrina também utiliza a expressão entrenchment ou entrincheiramento,</p><p>referindo-se à preservação do mínimo já concretizado dos direitos</p><p>fundamentais, sendo proibido o retrocesso, seja através da supressão normativa</p><p>seja pelo amesquinhamento desses direitos.</p><p>Como ensina Mazzuoli: “Se uma norma posterior revoga ou nulifica uma norma</p><p>anterior mais benéfica, essa norma posterior é inválida por violar o princípio</p><p>internacional da vedação do retrocesso (igualmente conhecido como princípio da</p><p>“proibição do retrocesso”, do “não retorno” ou “efeito cliquet”). Os tratados</p><p>internacionais de direitos humanos, da mesma forma que as leis internas, também</p><p>DIREITOS HUMANOS</p><p>PCMG Todos os cargos</p><p>30</p><p>não podem impor restrições que diminuam ou nulifiquem direitos já anteriormente</p><p>assegurados, tanto no plano interno quanto na própria órbita internacional.”</p><p>Ademais, temos, nos tratados internacionais de proteção dos direitos</p><p>econômicos, sociais e culturais uma cláusula do desenvolvimento progressivo,</p><p>que também incorpora a ideia de proibição do retrocesso.</p><p>Essa cláusula é encontrada no artigo 2.º, item 1, do Pacto Internacional dos</p><p>Direitos Econômicos, Sociais e Culturais e no artigo 1.º do Protocolo de San</p><p>Salvador. De acordo com tais artigos, os Estados comprometem-se a adotar</p><p>medidas, conforme os recursos disponíveis, para atingir, progressivamente,</p><p>a plena efetividade dos direitos protegidos.</p><p>A cláusula do desenvolvimento progressivo engloba dois sentidos: de um lado,</p><p>sugere que a efetividade plena será alcançada de forma gradual; de outro,</p><p>impõe ao Estado o dever de progredir, vedando o regresso, o retrocesso em</p><p>termos de proteção dos direitos sociais.</p><p>Segundo entendimento dos órgãos internacionais, os Estados podem até</p><p>restringir direitos sociais, desde que provem (inverte-se o ônus da prova) que</p><p>a medida era necessária e irá acarretar um avanço na efetividade dos direitos</p><p>protegidos como um todo.</p><p>Vale ressaltar, na Corte Interamericana, o voto separado do Juiz Piza-Escalante,</p><p>no Parecer Consultivo 04/84. O juiz reconheceu que a proibição de</p><p>regressividade também vale para os direitos civis e políticos. No caso,</p><p>entendeu que a proibição de retrocesso alcança também os direitos ligados à</p><p>nacionalidade (referente à reforma da Constituição da Costa Rica).</p><p>Como esclarece André de Carvalho Ramos, a proibição do retrocesso no Brasil</p><p>é proveniente dos seguintes dispositivos constitucionais:</p><p>1) Estado Democrático de Direito (artigo 1.°, caput);</p><p>2) dignidade da pessoa humana (artigo 1.º, inciso III);</p><p>3) aplicabilidade imediata das normas definidoras de direitos fundamentais (artigo</p><p>5.º, par. 1.º);</p><p>4) proteção da confiança e da segurança jurídica (artigo 1.º, caput e artigo 5.º, inciso</p><p>XXXVI;</p><p>5) cláusula pétrea (artigo 60, par. 4.º).</p><p>O mesmo autor alerta que a proibição do retrocesso não representa uma</p><p>vedação absoluta a qualquer alteração na proteção de um direito específico.</p><p>Uma eventual diminuição na proteção normativa ou fática de um direito pode ser</p><p>permitida desde que observadas algumas condições:</p><p>a) deve haver uma justificativa também de estatura jusfundamental;</p><p>b) a diminuição tem que passar pelo crivo da proporcionalidade;</p><p>c) deve ser preservado o núcleo essencial do direito envolvido.</p><p>DIREITOS HUMANOS</p><p>PCMG Todos os cargos</p><p>31</p><p>Segundo ACR, na jurisprudência do STF podemos encontrar cinco</p><p>subespécies da proibição do retrocesso:</p><p>1. Proibição do retrocesso social: no julgamento da ADI 3104, sobre a Reforma</p><p>da Previdência, o STF entendeu que não houve a violação da proibição do</p><p>retrocesso, já que, o direito de aposentadoria não foi abolido, houve apenas</p><p>mudança dos critérios para a aposentadoria.</p><p>2. Proibição do retrocesso político: após várias discussões sobre o tema, em</p><p>2020 o STF, na ADI 5889, considerou inconstitucional a reintrodução do voto</p><p>impresso no nosso ordenamento, alegando a violação da liberdade e do sigilo do</p><p>voto.</p><p>3. Proibição do retrocesso civil: no julgamento do RE 878.694/MG, em 2017,</p><p>entendeu o STF que o Código Civil não poderia desigualar a proteção sucessória</p><p>conferida aos companheiros pelas Leis n. 8.971/94 e 9.278/96. Foi fixada a seguinte</p><p>tese: “É inconstitucional a distinção de regimes sucessórios entre cônjuges e</p><p>companheiros prevista no art. 1.790 do CC/2002, devendo ser aplicado, tanto nas</p><p>hipóteses de casamento quanto nas de união estável, o regime do art. 1829 do</p><p>CC/2002.”</p><p>4. Proibição do retrocesso institucional: em 2022, no julgamento da ADPF 607,</p><p>o STF reconheceu a inconstitucionalidade do Decreto n. 9.831, de 2019, que</p><p>remanejou onze cargos de perito do Mecanismo Nacional de Prevenção e Combate</p><p>à Tortura (MNPCT) para outra área do Poder Público federal, exonerando seus</p><p>membros e determinando que a participação no Mecanismo seria considerada</p><p>prestação de serviço público relevante, não remunerada.</p><p>5. Proibição do retrocesso ecológico (ou socioambiental): decorre de normas</p><p>internas (artigo 225</p>

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