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<p>DEFINIÇÃO</p><p>Apresentação de linhas de Ciências Sociais aplicadas à Educação por intermédio do professor,</p><p>com o uso do conhecimento sociológico e antropológico em seu cotidiano.</p><p>PROPÓSITO</p><p>Oferecer instrumentos teóricos, por meio da Antropologia e da Sociologia, que permitam a</p><p>reflexão sobre Educação, práticas docentes e cotidiano escolar.</p><p>OBJETIVOS</p><p>MÓDULO 1</p><p>Identificar as principais linhas sociológicas aplicadas à Educação</p><p>MÓDULO 2</p><p>Relacionar a Escola com alguns conceitos fundamentais da Antropologia</p><p>MÓDULO 3</p><p>Identificar a relação entre Educação e Ciências Sociais no cotidiano escolar</p><p>INTRODUÇÃO</p><p>QUEM É VOCÊ? COMO FUNCIONA SUA SOCIEDADE?</p><p>QUAIS SÃO AS REGRAS DOS AMBIENTES EM QUE VOCÊ</p><p>CONVIVE?</p><p>Em um antigo comercial, o exercício do conhecimento era definido como: “não são as</p><p>respostas que movem o mundo. São as perguntas”. Essa provocação vai guiar nosso</p><p>estudo.</p><p>Quando convivemos, podemos vivenciar o espaço social de forma recorrente, mas tendemos a</p><p>não pensar sobre ele. Geralmente, não refletimos sobre como foram definidas suas regras e</p><p>como alguns comportamentos passaram a ser naturalizados ou negados. Ao estudar sobre as</p><p>sociedades, somos provocados a perceber que todo o palco de relações humanas é composto</p><p>por construções sociais.</p><p>Neste tema, analisaremos como o conhecimento sobre as Ciências Sociais pode ser</p><p>fundamental para compreender o que representa a Escola, sua relação com a Educação e a</p><p>dinâmica de como o professor, ao se instrumentalizar com conceitos desse campo, torna-se</p><p>mais bem preparado para a atuação docente.</p><p>javascript:void(0)</p><p>javascript:void(0)</p><p>javascript:void(0)</p><p>NÃO SÃO AS RESPOSTAS QUE MOVEM O</p><p>MUNDO. SÃO AS PERGUNTAS</p><p>Campanha publicitária do Canal Futura sobre o filme Perguntas.</p><p>CONSTRUÇÃO SOCIAL</p><p>Compreendida como a ideia de que uma composição social não é algo natural, mas</p><p>organizada, pensada, “criada” no limite pelo conjunto das interações humanas.</p><p>MÓDULO 1</p><p> Identificar as principais linhas sociológicas aplicadas à Educação</p><p> Fonte: BlurryMe | Shutterstock</p><p>Dividimos a construção deste módulo em duas partes: conheceremos a história e depois</p><p>apresentaremos os principais conceitos da Sociologia, sempre relacionando-os com a</p><p>Educação. Vamos lá!</p><p>Assista ao vídeo que aborda a importância de Ciências Sociais para a Educação – com um</p><p>olhar especial para Durkheim, Weber e Marx.</p><p>SOCIOLOGIA: O CONTEXTO HISTÓRICO DO</p><p>NASCIMENTO DA NOVA CIÊNCIA</p><p>A Sociologia é uma ciência relativamente nova – do século XIX – e surgiu em um contexto de</p><p>intensas transformações na sociedade. Para conhecermos as origens da Sociologia, é</p><p>necessário considerarmos alguns fatores históricos que desencadearam a construção dessa</p><p>nova proposta científica de análise e compreensão da sociedade.</p><p>1</p><p>RENASCIMENTO</p><p>SÉCULOS XV A XVI</p><p>Movimento intelectual que propunha romper com as tradições intelectuais medievais,</p><p>retomando ideias do mundo grego.</p><p>MERCANTILISMO</p><p>SÉCULOS XVI A XVIII</p><p>Estrutura econômica que fortalecia o papel dos governos na economia, provocando acúmulo de</p><p>capital.</p><p>2</p><p>3</p><p>ILUMINISMO</p><p>SÉCULOS XVII A XIX</p><p>Movimento filosófico que se propunha a questões sobre o funcionamento social, debates</p><p>abordando formas políticas, sociais e econômicas.</p><p>REVOLUÇÃO FRANCESA</p><p>SÉCULOS XVIII A XIX</p><p>Marco de ruptura burguesa assumindo o poder. Tem reflexos nas independências das Américas</p><p>e na mudança de sistemas políticos e econômicos por toda a Europa, consolidando o</p><p>pensamento iluminista como símbolo de um novo mundo.</p><p>4</p><p>Cada um desses movimentos faz parte do processo de construção e reconstrução do olhar do</p><p>homem sobre si mesmo e sobre o mundo que o cerca.</p><p>O Renascimento marcou a entrada da Europa, até então medieval, na Idade Moderna, com o</p><p>resgate de referências da Antiguidade Clássica em diversas esferas da cultura e da sociedade:</p><p>Artes, Ciência e Filosofia.</p><p>A partir dessa revalorização dos elementos da Antiguidade Clássica, o período renascentista foi</p><p>responsável pela valorização do conhecimento humano advindo da razão e consequente</p><p>separação dos dogmas religiosos.</p><p>O Mercantilismo trouxe mudanças nas relações econômicas e comerciais não apenas na</p><p>Europa como em todo o mundo. Essa prática representou rápido desenvolvimento econômico</p><p>para o continente europeu. A partir da Expansão Marítima, o poder econômico e comercial do</p><p>continente se intensificou com a exploração de territórios, povos, rotas comerciais.</p><p>O Iluminismo, período entre o final do século XVII e início do século XVIII, foi marcado pelos</p><p>esforços do homem em analisar a sociedade em que vive sob um novo viés: o científico.</p><p>Vieram à tona os avanços e comprometimentos do homem em relação ao estudo de seus</p><p>modos de vida a partir da Ciência, da pesquisa e do debate – iniciados no Renascimento.</p><p>ILUMINISMO</p><p>javascript:void(0)</p><p>Seus pensadores, filósofos e economistas se entendiam como propagadores da luz</p><p>justamente pelo compromisso com o conhecimento e sua difusão – daí vem o termo</p><p>Iluminismo.</p><p>A PARTIR DO ILUMINISMO, OCORREU A PRINCIPAL MUDANÇA</p><p>DE PERSPECTIVA SOBRE O HOMEM E SEU PAPEL NA</p><p>SOCIEDADE: A PROPAGAÇÃO DO IDEAL DE IGUALDADE</p><p>ENTRE OS HOMENS.</p><p>O Iluminismo foi um movimento cultural que surgiu, principalmente, na Inglaterra, Holanda e</p><p>França e que pode ser definido pela defesa de que o pensamento racional deveria substituir o</p><p>misticismo e os dogmas da Igreja.</p><p>Os novos moldes de pensamento sobre a vida e a sociedade revelavam os anseios da</p><p>burguesia crescente e a tendência de rompimento com as estruturas do Antigo Regime.</p><p>Muitas ideias que surgiram nesse período fazem parte das bases que utilizamos atualmente</p><p>para pensar sobre o mundo ao nosso redor.</p><p>A partir desses elementos, podemos afirmar que o movimento defendia:</p><p>Antropocentrismo: o homem era o centro do universo</p><p>Valorização da investigação e do questionamento como formas de construção do</p><p>conhecimento em todas as áreas – natureza, política, sociedade e economia</p><p>Crença nos direitos</p><p>Liberdade econômica</p><p>Predomínio da classe burguesa</p><p>Atenção! Para visualização completa da tabela utilize a rolagem horizontal</p><p>A Revolução Francesa tem destaque quando nos propomos a analisar o contexto histórico do</p><p>surgimento da Sociologia. A Revolução, que derrubou o Antigo Regime, possuía como base a</p><p>rejeição ao modelo de governo da monarquia e sua manutenção de poder justificado pela</p><p>vontade divina. Assim, os ideais defendidos pelos revolucionários estavam alinhados com as</p><p>novas propostas de pensar o mundo e a sociedade.</p><p>Nesse contexto, surgiu a Sociologia, apesar de ainda não ser compreendida como ciência.</p><p>Nasceu com Auguste Comte e o Positivismo, buscando uma forma de enxergar a sociedade</p><p>que ajudasse a trazer estabilidade nos campos da política, da economia e da sociedade.</p><p>AUGUSTE COMTE</p><p>Auguste Comte (1798-1857) foi um pensador francês cujas ideias deram forma à corrente</p><p>filosófica do Positivismo.</p><p>POSITIVISMO</p><p>Sistema filosófico elaborado por Comte, baseado na ideia de que a cultura e a sociedade</p><p>passam por três estados: o teológico, o metafísico e o positivo.</p><p>Para Comte, a maturidade e as ciências surgem no terceiro estágio. A etapa positiva</p><p>corresponde, então, às ciências positivas, que deveriam ser a base ou os princípios da</p><p>organização científica da sociedade. No positivismo, há uma valorização da experiência</p><p>sensível (os fatos “positivos”) como principal fonte do conhecimento.</p><p>QUAL O SENTIDO DESSA</p><p>HISTÓRIA?</p><p>javascript:void(0)</p><p>javascript:void(0)</p><p>javascript:void(0)</p><p>javascript:void(0)</p><p>javascript:void(0)</p><p>javascript:void(0)</p><p>Essa perspectiva histórica levará você a perceber que as sociedades humanas se tornaram</p><p>cada vez mais complexas e, na transição do século XIX para o XX, isso estava muito claro.</p><p>Grandes intelectuais se debruçavam sobre as relações sociais, sobre o seu sentido, como os</p><p>indivíduos se relacionavam. Esse campo, dentro da nova perspectiva de Ciência (afinal, o</p><p>século XIX é o século da Ciência), fazia com que os relatos sobre outras sociedades servissem</p><p>de comparativos e, da comparação, emergiam as</p><p>VAMOS PENSAR NA RELAÇÃO ENTRE</p><p>ESCOLA E CIÊNCIAS SOCIAIS</p><p>O campo das Ciências Sociais tem muitos caminhos e agora nossa conversa é sobre você!</p><p>Sujeito cheio de anseios, tradições e culturas, certamente tem hábitos e já se viu em situações</p><p>em que se reconheceu com outra cultura, estranhando-a bastante. Imagine-se na Escola,</p><p>experimentando uma multiplicidade de histórias, vivências e culturas. Você precisará de</p><p>instrumentos para lidar adequadamente com essa realidade. Por isso, precisamos refletir sobre</p><p>esse ponto. Vamos lá?</p><p>Imagine que você é um peixe que nasceu no aquário. Para você, tudo o que existe é o aquário.</p><p>Você é capaz de elaborar teorias para o funcionamento do aquário e do mundo no entorno</p><p>dele. Mas, suas verdades são postas em xeque quando outros peixes chegam ao seu</p><p>ambiente. Eles falam de rios e natureza. Sua construção pessoal, sua forma de pensar, poderá</p><p>ser influenciada pelos relatos recebidos, afinal o aquário é o mundo que você conhece, mas, ao</p><p>menos em hipótese, existem outras culturas e outras sociedades. Você poderá falar sobre rios,</p><p>comparar o que ouviu sobre eles e a natureza que outros vivenciaram, mas sua relação diária é</p><p>com seu lugar, seu espaço, suas relações pessoais. Mesmo tendo conhecido outros peixes,</p><p>acreditado no relato deles, seu olhar sempre será marcado pelas suas experiências.</p><p>AS CIÊNCIAS SOCIAIS SÃO OS EXERCÍCIOS PARA QUE OS</p><p>MEMBROS DO AQUÁRIO PENSEM SOBRE COMO FUNCIONAM</p><p>O SEU MUNDO E, EM ESPECIAL, PERCEBAM QUE O SEU</p><p>MUNDO ESTÁ IMERSO EM OUTRO MUITO MAIS COMPLEXO</p><p>DO QUE O DAS SUAS RELAÇÕES AFETIVAS E SENSORIAIS.</p><p>Neste ponto, a provocação de um elemento é vital, a reflexão sobre quem você é, qual a</p><p>função do aquário, o que pode ser apreendido sobre a natureza e os rios não é algo efetivo,</p><p>material, indiscutível, mas sim uma construção discursiva. Mesmo que exista verdadeiramente</p><p>o aquário, os rios ou a natureza, quando pensamos e refletimos sobre eles o que criamos são</p><p>conjecturas, vitais, mas ainda assim discursos sobre uma realidade complexa e inatingível. Um</p><p>dos aquários mais importantes das sociedades urbanas ocidentais é a Escola.</p><p>Escola não é um prédio, é uma ideia, é um símbolo da modernidade contemporânea. É meta</p><p>em todo mundo conhecido como civilizado. É uma estrutura que, no século XXI, qualquer</p><p>pessoa é capaz de reconhecer. Pode ser ultratecnológica ou um conjunto de cadeiras voltadas</p><p>para um quadro velho, mas o coletivo reconhecerá: aquilo é uma Escola. É uma sala de aula. É</p><p>um professor. Todos nós, cursando uma graduação, já passamos por “bancos” escolares.</p><p>A Escola fez parte de nosso cotidiano, antes mesmo de termos uma opinião sobre ela. Todos</p><p>se acham especialista em Escola, como ela funciona bem, o que é uma Escola boa e uma</p><p>Escola ruim. Poucos são os peixes que percebem que são peixes, que estão em um aquário.</p><p>Poucos refletem a Escola como um espaço cultural, marcado por interações humanas, com</p><p>convivências muitas vezes inimagináveis. Poucos reconhecem a importância singular de</p><p>sujeitos que se atrevem a conviver com a juventude e os desafios que ela enfrenta.</p><p>CARACTERIZAÇÃO: EDUCAÇÃO E ESCOLA</p><p>Depois de conhecermos uma ampla gama de ciências sociais e entender sua relação com a</p><p>Educação, o convite é para que você assuma a condição de educador, de professor, usando a</p><p>velha característica histórica.</p><p> IMPORTANTE</p><p>É preciso que você faça um esforço a mais: tente desnaturalizar sua visão mais recorrente e</p><p>pense sobre como as relações do cotidiano escolar são ricas de possibilidades.</p><p>EDUCAÇÃO PARA ALÉM DOS MUROS DA</p><p>ESCOLA</p><p>Modernamente tão discutida, a Educação assume caráter próprio na abordagem das chamadas</p><p>ciências humanas. As reflexões teóricas sobre o assunto, pela visão de autores diversos,</p><p>apresentam em comum a característica de identificar a Educação como um componente dos</p><p>espaços de poder, e dessa forma a tratamos.</p><p>A professora Nilda Alves desenvolve seus trabalhos demarcando o trinômio cultura, Educação</p><p>e cotidiano. Sua proposta é compreender como elementos formais são reproduzidos no</p><p>cotidiano e de que maneira reconstroem elementos culturais com o objetivo de ensinar suas</p><p>benesses e restrições no meio social.</p><p>javascript:void(0)</p><p> Capa da obra Praticantepensante de Cotidianos, da Professora Nilda Alves</p><p>NILDA ALVES</p><p>É professora titular da Faculdade de Educação na Universidade Estadual do Rio de</p><p>Janeiro. Tem trabalhos notórios sobre cotidianos escolares.</p><p>A Escola visa a atender as demandas sociais, gerar conhecimentos, possibilidades, habilidades</p><p>que os indivíduos ou o coletivo entendem como necessários. Assim, ela cria o seu espaço de</p><p>uma educação formal, curricular. Essa educação formal, no entanto, muitas vezes acaba se</p><p>distanciando do cotidiano social.</p><p>Você se lembra das discussões sobre a necessidade de aprender raiz quadrada ou por que</p><p>estudar História? Isso é o que chamamos de distanciamento, as pessoas passam a não</p><p>entender por que a Escola trata de determinado assunto. Mas é ilusório achar que essa</p><p>educação formal fica fora da sociedade. Ela acaba chegando aos espaços assimétricos de</p><p>educação, reformulados e adaptados. Também é falso que a Escola se isole em seus</p><p>conhecimentos, pois a tradição e as trocas sociais sempre chegam a ela, ainda que de forma</p><p>adaptada.</p><p>javascript:void(0)</p><p>javascript:void(0)</p><p>Nilda Alves traz o conceito de Educação em múltiplos espaços, constituindo um sistema de</p><p>interações em que elementos escolares influenciam e são influenciados por um discurso que</p><p>apresenta, inclusive, características próximas, mas para espaços e fins diversos. Sua</p><p>exposição permite que compreendamos os espaços escolares como imersos na sociedade em</p><p>que convivem, são transformados e transformam as discussões.</p><p>As escolas foram espaços de defesa da tradição e de discussão dos fundamentos necessários</p><p>à civilidade. Essas características estiveram presentes em discursos não escolares e nas</p><p>relações dos profissionais da Educação.</p><p>EDUCAÇÃO ASSIMÉTRICA</p><p>É uma educação sem um condutor, sem uma formalidade de tal construção, mas</p><p>produzida pelas trocas sociais.</p><p>(...) É EVIDENTE QUE A HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO NÃO</p><p>SE PODERIA REDUZIR À DAS FORMAS ESCOLARES</p><p>(...). PORQUE AS FONTES NÃO ESCOLARES SÃO</p><p>MENOS SERIAIS E MAIS DISPERSAS, SEM DÚVIDA O</p><p>HISTORIADOR PERCORREU COM MENOS FACILIDADE</p><p>ESSE VASTO CAMPO DE INVESTIGAÇÃO.</p><p>JULIA, 1993.</p><p>A Sociologia trabalha com a Educação de forma ampla, independentemente de sua restrição</p><p>institucional, no entanto considera que existem fenômenos diversos:</p><p>Educação formal</p><p>Tem forte tentativa de controle de forma, objetivos e processos – independe do grau de</p><p>institucionalização.</p><p>Educação informal</p><p>As relações não são ordenadas, mas estabelecidas por interesses diversos, fruto das relações</p><p>sociais do indivíduo, das afetividades.</p><p> IMPORTANTE</p><p>Não crie o sinônimo organizado versus desorganizado. As duas têm ordenamento, só que</p><p>diversos. Ambas são objetos da Sociologia e o educador precisa saber que seu cotidiano</p><p>formal, necessariamente se relaciona a conceitos informais, gerando o já sinalizado movimento</p><p>de troca das escolas.</p><p>O DESAFIO É ENTENDER A EDUCAÇÃO COMO UM PROCESSO</p><p>QUE GANHA ASPECTOS DE DISCURSO E SE APRESENTA NAS</p><p>RELAÇÕES DE PODER DE UMA SOCIEDADE.</p><p>(...) A EDUCAÇÃO NUNCA SE RESTRINGIU À ESCOLA.</p><p>PRÁTICAS EDUCATIVAS TÊM OCORRIDO, AO LONGO</p><p>DO TEMPO, FORA DESSA INSTITUIÇÃO E, ÀS VEZES,</p><p>COM MAIOR FORÇA DO QUE SE CONSIDERA,</p><p>PRINCIPALMENTE EM DETERMINADOS GRUPOS</p><p>SOCIAIS E EM DETERMINADAS ÉPOCAS.</p><p>LOPES e GALVÃO, 2001.</p><p>CARACTERIZANDO EDUCAÇÃO</p><p>Avançando sobre a construção dessa possibilidade, podemos formular que educar é um</p><p>processo que pressupõe como base a intencionalidade do educador. Assim, educar significa:</p><p>ENSINAR</p><p>No sentido de transmitir conteúdo, conduta que o outro deve seguir.</p><p>QUALIFICAR</p><p>Para que o outro possa ter acesso a locais específicos, aos quais só os que alçam essa nova</p><p>posição podem ser considerados de alguma forma aptos.</p><p>ESCLARECER</p><p>Como forma de desfazer dúvidas e iluminar questões obscuras.</p><p>VIGIAR</p><p>À medida</p><p>que o educador fornece ao educando pressupostos de comportamento, permite ao</p><p>grupo dos primeiros o controle frente ao não cumprimento dos comportamentos recebidos.</p><p>DISCIPLINAR</p><p>Uma vez que o detentor do conhecimento passa a ser o delimitador das regras, permitindo-lhe,</p><p>portanto, aplicar punição quando do não cumprimento.</p><p>Essas dinâmicas têm ganhado novas possibilidades de análise, por exemplo, com a ideia de</p><p>mediação, em que o professor atua como um facilitador para o processo de despertar do</p><p>aluno. Necessário, mas em processo de consolidação.</p><p> Pierre Bourdieu</p><p>A Educação implica intencionalidade e coerção em consonância com os objetivos do grupo que</p><p>comanda o sistema educacional. Nesse ponto, aproximamo-nos do sociólogo Pierre Bourdieu,</p><p>na medida em que afirma que a Educação não é um fator transformador, mas, sim, um espaço</p><p>que introjeta a ordem, estabelece hierarquias e garante o reconhecimento do poder, não</p><p>necessariamente modificando-o.</p><p>PIERRE BOURDIEU</p><p>Pierre Bourdieu (1930-2002) foi um importante sociólogo e filósofo francês, um dos</p><p>autores mais lidos em várias áreas de conhecimento. Foi professor da École de</p><p>Sociologie du Collège de France.</p><p>Um conceito muito importante é o da ação pedagógica. Esta ocorre dentro de uma dinâmica</p><p>em que necessariamente o autor precisa estar imbuído da preocupação de ensinar. São três</p><p>passos para a ação pedagógica:</p><p>Identificar aquele que se predisporá a educar alguém.</p><p>javascript:void(0)</p><p></p><p>Detectar as necessidades de quem que será ensinado, entendendo o que ele precisa naquele</p><p>momento: conteúdos e metodologia adequados.</p><p></p><p>Definir a forma e os teores que serão ensinados, demarcando as vantagens para que o</p><p>proposto seja alcançado e, dependendo da situação, os recursos a serem adotados, caso</p><p>aquele processo falhe.</p><p>A TEORIA DA AÇÃO</p><p>Ao tratarmos de Educação, devemos considerar um conjunto de valores e hábitos próprios,</p><p>especificamente os valores da cultura cristã. Pierre Bourdieu ressalta que a Educação tem o</p><p>papel de estabelecer ordem, não necessariamente transformar, mas, sim, introjetar práticas</p><p>que permitam aos educandos se posicionarem na sociedade a que pertencem.</p><p>Assim, fundamentados nas proposições bourdianas, interessam-nos, particularmente, os</p><p>conceitos de habitus, de campo e de capital simbólico, sobre os quais discorreremos</p><p>brevemente.</p><p>HABITUS</p><p>Ressalta que um grupo é regido por práticas comuns que têm o papel de integrar, fundamentar</p><p>e legitimar determinados interesses. Podemos verificar esse conceito como o elo integrador,</p><p>que aproxima esses elementos em torno de um conhecimento comum, suas práticas e formas</p><p>de obtê-las.</p><p>CAMPO</p><p>É um espaço que agrupa os membros que compartilham do mesmo habitus, mas que são</p><p>marcados por disputas entre dominantes e dominados. É importante salientar que os campos</p><p>são caracterizados pela disputa em todos os seus segmentos, não existindo a visão dualista de</p><p>dominantes e dominados. Pelo contrário, o campo sobrevive e se modifica pela constante ação</p><p>dos seus membros, por meio dos confrontos entre os diversos dominantes e dominados.</p><p>CAPITAL SIMBÓLICO</p><p>É um conjunto de bens válidos no mercado interno de cada campo disputado por seus</p><p>membros como forma de ascensão na estrutura social. Esse capital se reflete como um todo no</p><p>campo. Um grupo terá mais legitimidade junto à sociedade a partir do momento em que os</p><p>seus bens simbólicos sejam conhecidos e reconhecidos pelos demais campos, constituindo</p><p>nesse reconhecimento o poder simbólico.</p><p>Bourdieu identifica a Educação como um conjunto de práticas, inscrito no habitus, e pelo qual a</p><p>intenção dos dominantes no campo é vender aos demais participantes seu olhar e sua forma</p><p>de ver o mundo. O autor rompe com a ideia de a Educação ser um instrumento inovador, mas,</p><p>sim, uma prática que garante a reprodução, algo que oferece regras e lógicas às disputas</p><p>sociais.</p><p>ASSIM, PODEMOS IDENTIFICAR COMO EDUCAÇÃO</p><p>PROCESSOS INERENTES A DIVERSOS ESPAÇOS DA</p><p>SOCIEDADE. BOURDIEU A RELACIONA COM UM SISTEMA DE</p><p>LEGITIMIDADES NO INTERIOR DOS CAMPOS DE PODER.</p><p>A Educação tem um compromisso com a reprodução da realidade, afastando-se do caráter</p><p>transformador que esta poderia assumir, por exemplo, na teoria marxista. Esse conceito</p><p>pressupõe o reconhecimento do poder e do prestígio de determinado campo, quando seu</p><p>habitus é reconhecido e assimilado pelos demais campos da sociedade. Esse tipo de</p><p>concepção aplicado à Idade Média nos permite, em especial, entender a dinâmica de</p><p>fortalecimento e afirmação da própria Igreja.</p><p>A CIDADANIA</p><p>Depois da caracterização, do entendimento da relação entre Educação e Escola, falta um</p><p>conceito muito antigo e também bastante atualizado, mas que precisa estar presente no olhar</p><p>de cada professor: cidadania.</p><p>O conceito de cidadania é ocidental, inspirado em relações greco-romanas e visava constituir</p><p>os sujeitos que tinham direitos políticos e, por causa disso, identificavam-se com aquela cultura</p><p>e a defendiam. Esse conceito foi muitas vezes reinventado e ressignificado, mas nunca perdeu</p><p>sua importância. Em sociedades contemporâneas, a noção de cidadania ganhou força após os</p><p>conflitos das guerras mundiais, em especial quando denunciadas as atrocidades promovidas</p><p>na guerra e pelo domínio neocolonialista.</p><p>A PARTIR DO PÓS-GUERRA, SURGE UMA PERSPECTIVA DE</p><p>MUDANÇA DA EDUCAÇÃO E DE SEU PAPEL COM A DEFESA</p><p>DA SUA FUNÇÃO DE FORTALECER A AUTONOMIA DO</p><p>SUJEITO E NÃO A NATURALIZAÇÃO DE SUA DOMINAÇÃO.</p><p>FORMAR UM CIDADÃO DEIXA DE SER FORMAR ALGUÉM</p><p>PARA O COLETIVO SOCIAL, PARA FOMENTAR A CAPACIDADE</p><p>DO SUJEITO DE EXERCER SUA CIDADANIA.</p><p>A atualização do conceito, de certa forma, deixa-o móvel, passando o sentido de que formar o</p><p>cidadão não é mais instrumentalizá-lo daquilo que seria pressuposto socialmente como</p><p>verdade, mas, sim, fomentar a capacidade de formação. A Escola não tem, ou não deveria ter</p><p>mais, a função de ser um espaço de “adestramento” dos sujeitos, mas de promover sua</p><p>autonomia.</p><p>VERIFICANDO O APRENDIZADO</p><p>1. CONSIDERANDO QUE A SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO ESTUDA</p><p>DINÂMICAS ENTRE A ESCOLA E A SOCIEDADE, ANALISE AS</p><p>AFIRMATIVAS A SEGUIR:</p><p>A EDUCAÇÃO, COMO PROCESSO SOCIAL GLOBAL QUE OCORRE EM TODA A</p><p>SOCIEDADE, DEVE SER COMPREENDIDA COMO UM FENÔMENO ESCOLAR.</p><p>OS SISTEMAS ESCOLARES, OU SEJA, O CONJUNTO DE UMA REDE DE ESCOLAS E</p><p>SUA ESTRUTURA DE SUSTENTAÇÃO COMO PARTES DO SISTEMA SOCIAL MAIS</p><p>GLOBAL É UM OBJETO POSSÍVEL DA SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO.</p><p>A ESCOLA COMO UNIDADE SOCIOLÓGICA E A SALA DE AULA COMO SUBGRUPO DE</p><p>ENSINO ANTROPOLÓGICO, ASSIM, A ESCOLA É ENTENDIDA COMO UM ESPAÇO EM</p><p>QUE É POSSÍVEL A FORMALIZAÇÃO DE PESQUISAS DE CIÊNCIAS SOCIAIS.</p><p>A SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO, AINDA QUE COMPREENDA EDUCAÇÃO E ESCOLA</p><p>COMO FENÔMENOS DIVERSOS, ANALISA QUE É FUNDAMENTAL COMPREENDER</p><p>ESSA RELAÇÃO NA DIVERSIDADE SOCIAL.</p><p>DEVEM SER CONSIDERADAS CORRETAS:</p><p>A) Somente as sentenças II e IV.</p><p>B) Somente as sentenças I e II.</p><p>C) Somente as sentenças II e III.</p><p>D) Somente as sentenças I e III.</p><p>2. DAS AFIRMATIVAS ABAIXO, A ÚNICA QUE CORRESPONDE ÀS</p><p>CONTRIBUIÇÕES DA RELAÇÃO ENTRE A ESCOLA E A EDUCAÇÃO É:</p><p>A) Ajuda os alunos de menor rendimento e inadaptação escolar a terem melhores resultados.</p><p>B) Esclarece o processo educativo e as relações entre a Escola e a sociedade como um campo</p><p>de tensão.</p><p>C) Explica a influência da Escola no comportamento e na personalidade de seus membros.</p><p>D) Permite que se compreenda o papel da Educação na sociedade e em seu desenvolvimento</p><p>como disciplina escolar.</p><p>GABARITO</p><p>1. Considerando que a sociologia da educação estuda dinâmicas entre a Escola e a</p><p>sociedade, analise as afirmativas a seguir:</p><p>A Educação, como processo social global que ocorre em toda a sociedade, deve ser compreendida</p><p>como um fenômeno escolar.</p><p>Os sistemas escolares, ou seja, o conjunto de uma rede de escolas e sua estrutura de sustentação como</p><p>partes do sistema social mais global é um objeto possível da sociologia da educação.</p><p>A Escola como unidade sociológica e a sala de aula como subgrupo de ensino antropológico, assim, a</p><p>Escola</p><p>é entendida como um espaço em que é possível a formalização de pesquisas de ciências sociais.</p><p>A sociologia da educação, ainda que compreenda Educação e Escola como fenômenos diversos, analisa</p><p>que é fundamental compreender essa relação na diversidade social.</p><p>Devem ser consideradas corretas:</p><p>A alternativa "A " está correta.</p><p>Educação e Escola na sua relação com os aspectos sociais são estudadas pela sociologia da</p><p>educação. A afirmativa I falha em generalizar Educação e Escola como algo indissociável. Já a</p><p>terceira tenta criar uma classificação em modelo de etiquetas que não tem sentido nas ciências</p><p>humanas. As afirmativas II, que define bem Escola, e IV, que demonstra a relação entre os dois</p><p>fenômenos de forma correta, fazem com que a resposta seja a letra A.</p><p>2. Das afirmativas abaixo, a única que corresponde às contribuições da relação entre a</p><p>Escola e a Educação é:</p><p>A alternativa "C " está correta.</p><p>Quando caracterizamos Escola e Educação, buscamos aplicar as dinâmicas que aprendemos</p><p>nos módulos anteriores em Ciências Sociais. Nesse sentido, buscamos que o professor</p><p>entenda de que forma esse conhecimento pode favorecer sua atuação escolar. Quando, neste</p><p>módulo, estudamos o cotidiano e as relações entre Educação e Escola, conseguimos identificar</p><p>como esse estudo favorece o docente. Então, conhecer a relação de Escola e sociedade, a</p><p>percepção sobre o papel do sujeito em meio ao coletivo na Educação e o papel da Educação</p><p>nas relações de poder, são parte dessa caracterização. No entanto, questões de rendimento</p><p>escolar não são, necessariamente, oriundas dessa dinâmica.</p><p>CONCLUSÃO</p><p>CONSIDERAÇÕES FINAIS</p><p>O tema que acabamos de estudar ofereceu uma visão dos conceitos antropológicos e</p><p>sociológicos aplicados à Educação. A partir desse estudo, aqueles que visam à docência</p><p>podem perceber a possibilidade de ampliação de sua observação e ação como docente a partir</p><p>da busca de instrumentos vinculados às Ciências Sociais.</p><p>Futuro professor, educar parte de sua intenção, parte de sua formação, sem dúvida. Você</p><p>precisa ter vontade de estar ali, precisa entender seus compromissos institucionais, mas não</p><p>esqueça da demanda dos alunos. É no aprendizado que você deve focar seu olhar, e o</p><p>aprendizado, ao mesmo tempo, não é apenas sua responsabilidade, mas fomentar, levar</p><p>fundamentos bem estruturados e constituir estratégias é seu ofício.</p><p>Mais do que isso, lembre-se de que uma aula não é um sonho, não será realizada</p><p>necessariamente conforme você planejou e organizou. Ela é uma proposta a ser construída</p><p>pela sua interação com os alunos e as demandas e experiências que eles trazem para o</p><p>ambiente escolar.</p><p>A proposta deste tema, portanto, é fomentar a reflexão sobre a prática docente e o cotidiano</p><p>escolar a partir de autores que pensaram a fundo os conceitos de Sociologia e Antropologia e</p><p>sua relação com a Educação. Desse modo, os conceitos teóricos formulados pelas Ciências</p><p>Sociais, destacando-se a Antropologia e a Sociologia, permitem observar as relações entre</p><p>Educação, Escola e prática docente.</p><p>AVALIAÇÃO DO TEMA:</p><p>REFERÊNCIAS</p><p>ALVES, N. Sobre movimentos das pesquisas nos/dos/com os cotidianos. In: Revista Teias.</p><p>Rio de Janeiro, v.4, p. 1-8, 2007.</p><p>BOURDIEU, P. Método científico e hierarquia social dos objetos. In: NOGUEIRA, M. A.;</p><p>CATANI, A. (orgs.). Pierre Bourdieu. Escritos de Educação. 3. ed. Petrópolis: Vozes, 2001.</p><p>BOURDIEU. P. Gostos de classe e estilos de vida. In: ORTIZ, R. Bourdieu. São Paulo: Ática,</p><p>1994.</p><p>DURKHEIM, E. As regras do método sociológico. 17. ed. Tradução de Maria Isaura Pereira</p><p>de Queiroz. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 2002. p. 11.</p><p>DURKHEIM. E. Educação e Sociologia. São Paulo: Melhoramentos, 1978.</p><p>FREYRE, G. Casa-Grande e Senzala. Rio de Janeiro: Record, 1998.</p><p>GEERTZ, C. A. Interpretação das culturas. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1989.</p><p>GINZBURG, C. O queijo e os vermes. Companhia das Letras: São Paulo, 2006.</p><p>HARTOG, F. O Olhar Distanciado: Lévi-Strauss e a História. In: Topoi, v. 7, n. 12, jan.-jun.</p><p>2006, pp. 9-24.</p><p>JULIA, D. Educação. In: BURGUIÈRE, A. (org.) Dicionário das Ciências Históricas. Rio de</p><p>Janeiro: Imago, 1993.</p><p>KUPER, A. Cultura, a visão dos antropólogos. Bauru, SP: EDUSC, 2002.</p><p>LÉVI-STRAUSS, C. Raça e História. In: Antropologia Estrutural II. Rio de Janeiro: Tempo</p><p>Brasileiro, 1976.</p><p>LOPES, E. M. T.; GALVÃO, A. M. O. História da Educação. Rio de Janeiro: DP&A, 2001.</p><p>NOGUEIRA, M. A. Educação, saber, produção em Marx e Engels. São Paulo: Cortez, 1990.</p><p>MARX, K.; ENGELS, F. O Capital–Livro I, Volume I. São Paulo: Nova Cultural, 1988.</p><p>RODRIGUES, A. T. Sociologia da Educação. Rio de Janeiro: Lamparina, 2007.</p><p>WEBER, M. Ensaios de Sociologia. São Paulo: LTC, 2002</p><p>WEBER, M. A Ética Protestante e o “Espírito” do Capitalismo. São Paulo: Cia. das Letras,</p><p>2004.</p><p>EXPLORE+</p><p>Para saber mais sobre Karl Marx, assista ao filme O jovem Karl Marx, uma produção</p><p>conjunta de França, Alemanha e Bélgica, dirigido por Raoul Peck.</p><p>Para compreender os ideias positivistas e a idealização de Durkheim, assista ao filme A</p><p>Onda, uma produção alemã de 2009, dirigida por Dennis Gansel.</p><p>Para conhecer a complexa relação da Antropologia com a Escola, assista ao filme Faça a</p><p>Coisa Certa, o primeiro grande sucesso do diretor norte-americano Spike Lee, em 1989.</p><p>Para entender a relação do homem com a cidadania de forma não inocente e idealizada,</p><p>leia o livro Eichmann em Jerusalém, de Hannah Arendt.</p><p>Para saber mais sobre a cultura europeia ocidental, leia o poema O Fardo do Homem</p><p>Branco, de Rudyard Kipling.</p><p>CONTEUDISTA</p><p>Rodrigo dos Santos Rainha</p><p> CURRÍCULO LATTES</p><p>javascript:void(0);</p><p>javascript:void(0);</p><p>concepções universais, com perspectivas</p><p>globais que explicariam desde o domínio europeu até o estudo sobre como as dominações</p><p>eram validadas.</p><p> François Marie Voltaire. Fonte: Nicku | Shutterstock</p><p>Sempre foi difícil defender a Sociologia como uma ciência, pela ausência de um resultado de</p><p>pesquisas desenvolvidas de maneira direta. No entanto, seus pensadores defendiam que o</p><p>vasto campo de história e a análise de sua perspectiva seriam mais do que suficientes para</p><p>alcançar tais resultados.</p><p>Ao longo do século XIX, foram fundadas as bases do pensamento sociológico. Ainda que</p><p>profundamente alterado, discutido e com autores importantes, todos, de algum modo, são</p><p>reconhecidos como tributários de três importantes pensadores: Emile Durkheim, Karl Marx e</p><p>Max Weber. Tendo posições antagônicas, não sendo contemporâneos em sua produção, os</p><p>três são entendidos como pedras angulares para conhecer, desenvolver e entender o</p><p>pensamento sociológico.</p><p>Sobre cada um desses autores, no entanto, há rios de tinta de análise de suas ideias. Há</p><p>muito mais material do que nossa abordagem ou qualquer outra poderia, de uma única vez,</p><p>alcançar. Assim, a partir de agora, você conhecerá os fundamentos básicos de seu</p><p>pensamento e, especialmente, como influenciam esse campo comumente chamado de</p><p>Sociologia da Educação.</p><p>RIOS DE TINTA</p><p>Expressão que faz alusão à quantidade de tinta gasta para escrever todas as informações</p><p>no papel.</p><p>SOCIOLOGIA E EDUCAÇÃO</p><p>Sociologia e Educação se entrelaçam como forma de analisar, compreender e debater os</p><p>processos sociais no campo do ensino e da aprendizagem. Essa vertente, a Sociologia da</p><p>Educação, tem interesse tanto pelo aspecto institucional e organizacional da Educação</p><p>como pelas relações sociais entre os indivíduos envolvidos nesse processo.</p><p>ASPECTO INSTITUCIONAL E</p><p>ORGANIZACIONAL DA EDUCAÇÃO</p><p>Determinado pelas bases que norteiam a ideia de Educação de uma sociedade.</p><p>A SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO PARTE DO PRINCÍPIO DE QUE</p><p>A EDUCAÇÃO SE DESENVOLVE EM UMA SOCIEDADE QUE</p><p>TAMBÉM É RESULTANTE DA EDUCAÇÃO.</p><p>javascript:void(0)</p><p>javascript:void(0)</p><p>A partir de diversas linhas teóricas, ela debate sobre aspectos que envolvem cultura,</p><p>sociedade, Educação e processos de aprendizagem – as realidades socioeducacionais.</p><p>Sociologia da Educação é um campo específico transdisciplinar. Dialoga com a Sociologia, a</p><p>Pedagogia e a Educação. Seu fim é perceber que a Escola deve ser entendida como um</p><p>fenômeno social.</p><p> Sala de aula em 1895</p><p>A construção contemporânea da Escola – urbana, a Escola popular que surge após a</p><p>consolidação do capitalismo – só pode ser compreendida se for associada às demandas que a</p><p>criam, ou melhor, que a inventam. A Escola é apresentada a partir da segunda metade do</p><p>século XIX e, principalmente, ao longo do século XX, como mecanismo fundamental para</p><p>difusão da Educação.</p><p>DE QUE EDUCAÇÃO ESTAMOS</p><p>FALANDO?</p><p>Depende de quem fomentou a criação dessas Escolas, dos planos estabelecidos, das</p><p>propostas que a cercam. Uma Escola não é um ato de amor! Escola é uma instituição social</p><p>javascript:void(0)</p><p>javascript:void(0)</p><p>javascript:void(0)</p><p>javascript:void(0)</p><p>que dialoga com interesses, e as pessoas que a frequentam são sujeitos que possuem</p><p>interesses, normas e cultura.</p><p>Perdendo o lirismo idealizado que temos sobre a Escola como uma instituição de natureza</p><p>positiva, devemos vê-la como uma parte do complexo social em que vivemos. Temos um</p><p>desafio: estudar como essas dinâmicas podem ser estabelecidas. O caminho será o mesmo</p><p>que todos os grandes nomes da Sociologia propuseram: conhecer Durkheim, Marx e Weber e,</p><p>depois, voltar a olhar para essa Escola.</p><p>ÉMILE DURKHEIM</p><p>Émile Durkheim (1858-1917), sociólogo e psicólogo francês, é considerado o criador da</p><p>Sociologia como ciência e pai da Sociologia da Educação. O primeiro sociólogo recebeu esse</p><p>título por ter sido o primeiro a elaborar um método bem estruturado que consolidou a Sociologia</p><p>como ciência.</p><p> Émile Durkheim</p><p>Durkheim afirmava que as ideias de Auguste Comte se aproximavam mais de abstrações</p><p>filosóficas do que de uma estrutura científica.</p><p>Ele construiu um método baseado no conceito de fato social, que representa as maneiras de</p><p>agir dos indivíduos dentro de determinado grupo social e da humanidade em geral. Tais</p><p>maneiras de agir revelam a existência de uma consciência coletiva.</p><p>PARA DURKHEIM, OS INDIVÍDUOS NÃO IMPORTAM EM SUA</p><p>AÇÃO, EM SI. O SENTIDO DO SER HUMANO É VIVER</p><p>SOCIALMENTE E SE CONSTITUIR POR ESSA RELAÇÃO.</p><p>Todos nós vivemos sob um sistema de coerção efetivo, e essa coerção não é vista como um</p><p>problema, mas como “fato social”, uma forma dos indivíduos conseguirem conviver</p><p>coletivamente. A busca social seria a do equilíbrio, e tudo o que gera desequilíbrio é entendido</p><p>como “desvio”. Desviantes têm perfeita noção de que são desviantes e que serão punidos por</p><p>isso, o que faz parte do sistema e da busca do equilíbrio social.</p><p>Para entendermos o papel de Durkheim na Sociologia da Educação, podemos partir de uma</p><p>das ideias mais marcantes do sociólogo: em cada aluno haveria dois seres igualmente distintos</p><p>e inseparáveis; um deles seria o individual. Esse conceito representou grande mudança na</p><p>análise sobre a Educação, os alunos e o processo de aprendizagem, pois apresentou outro</p><p>lado dos alunos, formado por um sistema de ideias, no qual é possível observar elementos da</p><p>sociedade da qual fazem parte.</p><p>Para Durkheim (1978), "a Educação é uma socialização da jovem geração pela geração</p><p>adulta", que deveria seguir em forma de um processo eficiente, buscando o melhor</p><p>desenvolvimento possível da comunidade na qual a Escola estivesse inserida.</p><p>Essa concepção durkheimiana, também conhecida como funcionalista, entende que as</p><p>consciências individuais são formadas pela sociedade. Por meio dessa teoria, o autor</p><p>considera a Educação com um bem social, trazendo, pela primeira vez, a discussão das</p><p>relações entre normas sociais e cultura local.</p><p> Pátio escolar em 1895</p><p>A construção do ser social, feita em boa parte pela Educação, é a assimilação pelo indivíduo de</p><p>uma série de normas e princípios – morais, religiosos, éticos ou de comportamento – que baliza</p><p>a conduta do indivíduo em um grupo. O ser humano, mais do que formador da sociedade, é um</p><p>produto dela.</p><p>A Educação para Durkheim tinha um papel de garantir que a sociedade humana não se</p><p>perdesse em uma tábula rasa, ou seja, o homem não traz elementos definidos de antes do</p><p>nascimento; todas as relações e construções vêm da relação com o mundo e cada indivíduo</p><p>preenche a sua tábula ao longo da vida, sendo a garantia da continuidade dos valores morais,</p><p>religiosos, políticos e científicos de uma sociedade.</p><p>A função de todos que optam por atuar na Escola é garantir a compreensão desses fatores, o</p><p>que avaliza o processo social.</p><p>Durkheim e sua teoria recebiam a denominação de funcionalista até por conta da percepção de</p><p>uma sociedade que funciona como um relógio. Para que efetivamente haja precisão, é</p><p>necessário que cada um entenda e reproduza plenamente seu papel social. Dinâmicas de</p><p>ruptura, de quebra dos processos, mesmo que em busca de uma ascensão social, deveriam se</p><p>reprimidas.</p><p>javascript:void(0)</p><p>TÁBULA RASA</p><p>Expressão derivada do latim, significa folha de papel em branco, usada por inúmeros</p><p>filósofos ao longo da história como metáfora para categorizar as pessoas que não têm</p><p>conhecimento.</p><p>MAS O QUE ISSO TUDO QUER</p><p>DIZER?</p><p>Para Durkheim, a sociedade era perfeita e o papel da Educação era manter essa sociedade</p><p>perfeita?</p><p>Era uma proposta que defendia os poderosos e queria garantir que os mais pobres aceitassem</p><p>sua condição?</p><p>A Resposta é: não!</p><p>Durkheim tomava como base de sua análise o funcionamento dinâmico do presente.</p><p>Sociedades humanas tendem à conservação e, na busca de se conservarem, criam sistemas</p><p>que garantem essa preservação. Para o autor, o desvio, o desviante, a desestruturação sempre</p><p>acontecerão, o que é considerado um problema e, diante disso, a vontade coletiva busca</p><p>reestabelecer seu equilíbrio.</p><p>A EDUCAÇÃO</p><p>É UM ESFORÇO DESSA MANUTENÇÃO, DE QUE</p><p>A SOCIEDADE PERMANEÇA EQUILIBRADA.</p><p>Durkheim nos ajuda a entender preceitos sociais muito presentes. Os valores de conservação,</p><p>da Escola como um ambiente de continuidade, que prepara o indivíduo para estar</p><p>perfeitamente adaptado a se integrar no tecido social, não é algo que ficou no passado e foi</p><p>javascript:void(0)</p><p>javascript:void(0)</p><p>javascript:void(0)</p><p>javascript:void(0)</p><p>superado. É um preceito cotidiano, mas que claramente gera desafios, como lidar com o outro,</p><p>qual o papel da Escola, qual o papel do professor.</p><p>A AÇÃO EXERCIDA PELAS GERAÇÕES ADULTAS</p><p>SOBRE AS GERAÇÕES QUE NÃO SE ENCONTRAM</p><p>AINDA PREPARADAS PARA A VIDA SOCIAL; TEM POR</p><p>OBJETO SUSCITAR E DESENVOLVER, NA CRIANÇA,</p><p>CERTO NÚMERO DE ESTADOS FÍSICOS,</p><p>INTELECTUAIS E MORAIS, RECLAMADOS PELA</p><p>SOCIEDADE POLÍTICA NO SEU CONJUNTO E PELO</p><p>MEIO ESPECIAL A QUE A CRIANÇA,</p><p>PARTICULARMENTE, DESTINE-SE.</p><p>DURKHEIM, 1978</p><p>O pensamento do autor nos ajuda a entender, discutir e discordar sobre o funcionamento</p><p>social.</p><p>KARL MARX</p><p>Se a busca de Durkheim era entender o presente e a dinâmica social, a de Marx era observar</p><p>como a história poderia nos ajudar a compreender a dinâmica de transformações da sociedade.</p><p>Se o primeiro buscava compreender os mecanismos do equilíbrio social, Marx, em uma</p><p>posição antagônica, propunha compreender como o equilíbrio representava a vitória da</p><p>dominação de um grupo.</p><p> Karl Marx</p><p>A ÚNICA MANEIRA DE MODIFICAÇÃO E TRANSFORMAÇÃO</p><p>SOCIAL PASSAVA PELA RUPTURA DAS ESTRUTURAS DE</p><p>DOMINAÇÃO!</p><p>Não é difícil notar como os autores perceberam de forma diversa o conhecimento sobre a</p><p>dinâmica social, mas isso não diminui a importância de um e ou de outro. Marx é um autor que,</p><p>analisando os efeitos da consolidação do capital e politicamente incomodado com a questão,</p><p>propôs uma Sociologia engajada, um olhar sobre essa dinâmica, a percepção de suas formas</p><p>de dominação e como vencer esse processo.</p><p>Observa-se a inovação de Karl Marx em relação às ciências humanas como eram vistas até</p><p>então. Ele propunha o entendimento de uma Sociologia que notasse que a história e as</p><p>sociedades eram feitas por pessoas e que disputas e ordenamentos abririam importantes</p><p>perspectivas sobre a noção de progresso.</p><p>Com Marx, temos a criação do materialismo histórico, que trazia um conceito novo para a</p><p>interpretação dos acontecimentos sociais, pois chamava fatores técnicos e econômicos para a</p><p>leitura e compreensão da história.</p><p>O idealismo dialético de Hegel foi lido, criticado e transformado no materialismo dialético.</p><p>Marx partia da premissa de que toda a história humana é baseada na existência de indivíduos</p><p>humanos e vivos, e essa premissa é fundamental para compreender a relação existente entre o</p><p>homem e a natureza.</p><p>javascript:void(0)</p><p>Para Marx, a partir dessa percepção pode-se distinguir o homem da natureza, pois torna</p><p>possível perceber que o ser humano apresenta uma concepção de religião e, mais importante,</p><p>a noção da necessidade de produção do seu meio de subsistência, ou seja, de sua vida</p><p>material.</p><p>HEGEL</p><p>Georg W. F. Hegel (1770-1831) foi um dos principais filósofos alemães do século XIX. Era</p><p>notório nas universidades e formou importantes seguidores. Sua dialética – a dinâmica da</p><p>transformação do pensamento por uma ideia construída, tese, que uma vez contraposta,</p><p>por uma antítese, leva a um novo conhecimento, síntese. Marx levou essa dinâmica para</p><p>observação e transformação das estruturas sociais.</p><p>É ESTE O FUNDAMENTO DA CRÍTICA IRRELIGIOSA: O HOMEM</p><p>FAZ A RELIGIÃO, A RELIGIÃO NÃO FAZ O HOMEM.</p><p>A religião é a autoconsciência e o sentimento de si do homem, que ainda não se encontrou ou</p><p>voltou a se perder. Mas, o homem não é um ser abstrato, apartado do mundo. O homem é o</p><p>mundo do homem, o Estado, a sociedade. A Filosofia do Direito de Hegel é criticada e</p><p>rediscutida por Marx, que formulava sua visão de mundo a partir de um sistema dialético e</p><p>materialista. Com proposições como essa, Marx vê a Escola de maneira diferente que</p><p>Durkheim:</p><p>DIALÉTICA</p><p>É a ideia de conceber a realidade como um devir, o qual se daria a partir da existência de</p><p>contradições, ou seja, esse conceito está diretamente ligado à concepção de</p><p>transformação.</p><p>javascript:void(0)</p><p>javascript:void(0)</p><p>MATERIALISMO</p><p>A Sociologia não deve ser pensada como um campo possível de pensamento, ele é</p><p>material, estrutura-se nas demandas e disputas presentes no cotidiano.</p><p>A ESCOLA PODE SER UM IMPORTANTE CAMPO DE</p><p>DOMINAÇÃO, DE REPRODUÇÃO DOS INTERESSES DE</p><p>DETERMINADOS GRUPOS.</p><p>Para Marx, o motor da História é a luta de classes. Toda sociedade é composta por grupos</p><p>que dominam os meios de produção – terras, estoque, capital –, que são as formas de garantir</p><p>a subsistência, de se inserir nas dinâmicas econômicas dentro de determinada sociedade.</p><p>Quem domina os meios de produção domina a sociedade. Mas, o que impede que os</p><p>dominados, normalmente mais numerosos, lutem e tomem para si os meios de produção? É o</p><p>estudo desses mecanismos que passam à ordem do dia do autor.</p><p>Junto com o inglês Engels, um autor mais prático, mas que auxilia na difusão das ideias</p><p>marxistas, Marx entende que as sociedades são divididas em classes sociais, nas quais</p><p>existem as classes dominantes e as classes oprimidas. As ideias das classes dominantes são,</p><p>para ele, em todas as épocas, as ideias dominantes.</p><p>A CLASSE QUE CONTROLA OS MEIOS DE PRODUÇÃO E A</p><p>FORÇA MATERIAL DOMINANTE TAMBÉM É A QUE CONTROLA</p><p>A FORÇA DOMINANTE INTELECTUAL. E OS INDIVÍDUOS QUE</p><p>POSSUEM ESSA DOMINAÇÃO TÊM A CONSCIÊNCIA DISSO.</p><p>O que modifica a história é a luta dos dominados contra os dominantes, travada não no campo</p><p>físico, mas no intelectual, permitindo que, por meio da alienação imposta, os dominados</p><p>naturalizem a dominação e se sintam incapazes de se levantar contra seus dominantes.</p><p>Para Marx, historicamente, a construção de discursos carismáticos, os treinamentos, as formas</p><p>de ensinamento sempre atuaram nesse sentido. No entanto, a Escola burguesa sofisticou esse</p><p>processo. Para legitimar a ascensão da burguesia e o seu direito aos meios de produção,</p><p>passou a ser defendida e consolidada uma estrutura escolar que tinha a finalidade de, entre</p><p>javascript:void(0)</p><p>outras, manter o quadro de alienação da classe proletária e sua fragilidade diante dos</p><p>dominantes. A crítica nos parece clara no trecho de Trabalho Assalariado e Capital, de 1847.</p><p>ALIENAÇÃO</p><p>Conceito de Marx exposto em muitos materiais e mais famoso pela forma clara que é</p><p>apresentado no chamado Manifesto Comunista. No limite, quem controla os meios de</p><p>produção aliena um conjunto de bens, que é social, do coletivo. Essa tomada dos bens –</p><p>político, culturais e principalmente econômicos – é o motivo legitimador dos</p><p>dominantes.</p><p>OUTRA PROPOSTA MUITA APRECIADA PELOS</p><p>BURGUESES É A DA “INSTRUÇÃO”, MAIS</p><p>ESPECIALMENTE DO “ENSINO INDUSTRIAL” GERAL.</p><p>NÓS NÃO CHAMAREMOS A ATENÇÃO PARA A</p><p>CONTRADIÇÃO ABSURDA QUE RESIDE NO FATO DE</p><p>QUE A INDÚSTRIA MODERNA SUBSTITUI CADA VEZ</p><p>MAIS O TRABALHO COMPLEXO PELO TRABALHO</p><p>SIMPLES. (...) O REAL SENTIDO DA INSTRUÇÃO PARA</p><p>OS ECONOMISTAS FILANTROPOS É O SEGUINTE:</p><p>ENSINAR A CADA OPERÁRIO O MAIOR NÚMERO</p><p>POSSÍVEL DE RAMOS INDUSTRIAIS DE TAL MODO</p><p>QUE, SE ELE FOR EXPULSO DE UM RAMO PELA</p><p>INTRODUÇÃO DE UMA NOVA MÁQUINA OU POR UMA</p><p>MODIFICAÇÃO NA DIVISÃO DE TRABALHO, POSSA SE</p><p>EMPREGAR EM OUTRO LUGAR O MAIS FACILMENTE</p><p>POSSÍVEL.</p><p>MARX apud NOGUEIRA, 1990</p><p>NA SOCIOLOGIA DE MARX, A</p><p>EDUCAÇÃO É ALGO NEGATIVO?</p><p>NÃO É BEM ASSIM!</p><p>Marx afirma que uma das estratégias burguesas foi a separação definitiva entre capital e</p><p>trabalho, fazendo com que a força trabalhadora perdesse a noção sobre o quanto vale sua</p><p>força produtiva. Esse seria um dos preceitos da alienação. Assim, os educadores que tivessem</p><p>o interesse em transformar efetivamente a sua sociedade teriam uma função social vital:</p><p>combater a alienação e a desumanização por meio do aprendizado de competências que</p><p>permitissem a compreensão tanto do mundo físico como do social.</p><p>Direta e indiretamente, a obra de Marx serviu como base para diversas linhas</p><p>pedagógicas</p><p>voltadas para a mudança da sociedade. Autores que seguiam o marxismo debateram como a</p><p>Educação é parte integrante do processo de transformação das condições sociais ao mesmo</p><p>tempo em que é controlada por ele.</p><p>MAX WEBER</p><p>Chegamos ao terceiro autor considerado pilar da Sociologia: Max Weber (1864-1920).</p><p>Sociólogo, jurista e intelectual alemão, Weber apresentou ideias muito valiosas para o debate</p><p>metodológico de diversas áreas das ciências sociais, pois, enquanto a abordagem de Durkheim</p><p>valorizava a coerção social e o coletivo sobre o indivíduo, Weber aponta para a valorização</p><p>javascript:void(0)</p><p>javascript:void(0)</p><p>javascript:void(0)</p><p>javascript:void(0)</p><p>da escolha do indivíduo. Ele é o agente, que medeia seus interesses, atende e se permite</p><p>estar submetido a regras, assim como opta, por interesse como indivíduo, pelo rompimento de</p><p>regras. Assim, segundo Weber, determinados pontos e conflitos internos são possíveis e</p><p>adequados à estrutura social, inclusive à realidade educacional.</p><p> Max Weber</p><p>Em relação a Marx, a História tem mais uma vez papel vital, não seria racional em si mesma,</p><p>mas o historiador seria capaz de racionalizá-la parcialmente. Quer dizer, não existe um modelo</p><p>de transformação ou conservação social, mas os indivíduos se espelham em modelos,</p><p>interpretativos, constantemente reproduzidos e que permitem ser observados e interpretados.</p><p>ATÉ AQUI ESTÁ TRANQUILO?</p><p>NÃO? ENTÃO VAMOS LÁ!</p><p>Enquanto Durkheim e Marx tentam compreender a mecânica do funcionamento social,</p><p>Weber afirma que o que temos é uma interpretação: observar a história é construir modelos</p><p>inexistentes, e que não precisam existir, mas que dali é possível notar padrões e como cada</p><p>conjunto social assume características próprias oriundas desses padrões.</p><p>javascript:void(0)</p><p>javascript:void(0)</p><p>javascript:void(0)</p><p>javascript:void(0)</p><p> RESUMINDO</p><p>Imagine alguém que pregue uma mensagem em uma sociedade:</p><p>Para Durkheim, se sua voz tiver consonância social, ele terá um papel;</p><p>Para Marx, sua voz visa legitimar um grupo ou se opor a ele;</p><p>Weber analisaria o seu papel, cruzando os modelos de pregadores com o comportamento</p><p>desse indivíduo específico.</p><p>Ele propõe que pregadores em diversas sociedades sejam tratados como sujeitos estranhos,</p><p>com hábitos excêntricos que se afastam da média das pessoas. Esse é o modelo, vamos ver</p><p>como ele, por comparação, ajuda a entender o pregador específico dessa sociedade, o que ele</p><p>fala, para quem fala, no que se afasta ou se aproxima do modelo. Essa é a operação</p><p>sociológica.</p><p>Weber sugere a construção de um modelo teórico que, como tal, tem a função de oferecer um</p><p>formato ideal que, porém, é inexistente na prática. Pode-se compreender isso ao se pensar</p><p>em um manequim de uma loja. Ele é um modelo, aquele corpo não existe, constituindo apenas</p><p>uma aproximação genérica, idealizada; o que os clientes fazem é traçar comparações para</p><p>decidirem se querem experimentar a roupa ou não.</p><p>As ações, para Weber, partem do indivíduo e podem ser organizadas por suas motivações.</p><p>Segundo Weber, podemos dividi-las em:</p><p>AÇÃO RACIONAL</p><p>Você observa e vê que no fim daquilo obterá ganhos. Exemplo: Vou colocar meu filho na</p><p>melhor escola que puder, pois, assim, ele terá mais possibilidades de ter boas condições</p><p>financeiras no futuro.</p><p>AÇÃO EM FUNÇÃO DE VALORES</p><p>Questão de ordem, de valor, orienta-se pelos valores familiares ou pelo modo como os</p><p>incorporamos à nossa hierarquia de valores. Exemplo: Vou matricular meu filho em uma escola</p><p>confessional (religiosa), assim ele fica afastado de professores que possam tentar desvirtuá-lo.</p><p>AÇÃO TRADICIONAL</p><p>Relacionada aos atos rotineiros, entendidos como comuns em uma sociedade, praticados por</p><p>recorrência. Exemplo: Criança pergunta à mãe por que precisa usar um tênis todo preto para</p><p>uniforme da escola; na aula sobre futebol, os meninos separam os times, e, se alguma menina</p><p>quiser jogar, tem que avisar.</p><p>AÇÃO AFETIVA</p><p>Relacionada a impulsos do indivíduo, lógicas construídas por ele a partir de sua observação e</p><p>sentimentos. Exemplo: Aluno invade escola e atira nos colegas, motivado por alguma vingança.</p><p>Weber entende a Educação como o meio pelo qual os indivíduos se preparam para o exercício</p><p>de funções determinadas pelas transformações provenientes da racionalização de suas vidas.</p><p>Assim, o modelo de Educação possui três finalidades básicas:</p><p>DESPERTAR O CARISMA</p><p>Encontrar os dons, despertar o gosto pelo aprender e ser capaz de levar isso à sociedade.</p><p>PREPARAR O ALUNO PARA A VIDA</p><p>É a pedagogia do cultivo, que consiste em uma forma de ensino que visa a formação de</p><p>sujeitos cultos.</p><p>ENSINO DE CONHECIMENTOS ESPECIALIZADOS</p><p>É a pedagogia do treinamento, em que a aprendizagem é voltada ao preparo do indivíduo,</p><p>objetivando sua função no campo do trabalho.</p><p>STATUS</p><p>Neste ponto, chegamos ao último conceito weberiano que abordaremos. Para Weber, status</p><p>(prestígio social) é um componente vital para os posicionamentos sociais. Desse modo, na</p><p>busca por prestígio social, o que é fomentado na Educação acaba por dar base para o</p><p>posicionamento na estratificação social.</p><p>Na obra sociológica de Max Weber, a Educação é vista como instrumento de poder de</p><p>grupos de status. Serve como um componente desse processo e não pertence</p><p>necessariamente ao domínio da competência, mas à materialização de posições sociais.</p><p>Diplomas e certificações acabam por agregar prestígio aos grupos sociais que disputam poder.</p><p>PRESTÍGIO SOCIAL</p><p>Segundo o autor, as dimensões do prestígio são econômicas, sociais e a capacidade de</p><p>distribuir poder.</p><p>[...] CLAMOR UNIVERSAL PELA CRIAÇÃO DOS</p><p>CERTIFICADOS EDUCACIONAIS EM TODOS OS</p><p>CAMPOS LEVAM À FORMAÇÃO DE UMA CAMADA</p><p>PRIVILEGIADA NOS ESCRITÓRIOS E REPARTIÇÕES.</p><p>ESSES CERTIFICADOS APOIAM AS PRETENSÕES DE</p><p>SEUS PORTADORES, DE INTERMATRIMÔNIOS COM</p><p>FAMÍLIAS NOTÁVEIS (...), AS PRETENSÕES DE SEREM</p><p>ADMITIDAS EM CÍRCULOS QUE SEGUEM “CÓDIGOS</p><p>javascript:void(0)</p><p>DE HONRA”, PRETENSÕES DE REMUNERAÇÃO</p><p>“RESPEITÁVEL” AO INVÉS DA REMUNERAÇÃO PELO</p><p>TRABALHO REALIZADO, PRETENSÕES DE</p><p>PROGRESSO GARANTIDO E PENSÕES NA VELHICE E,</p><p>ACIMA DE TUDO, PRETENSÕES DE MONOPOLIZAR</p><p>CARGOS SOCIAL E ECONOMICAMENTE</p><p>VANTAJOSOS.</p><p>WEBER, 1982.</p><p>Na sociedade do capital, existe a materialização do diploma universitário, das escolas de</p><p>formação, dos cursos que ofertam notoriedade somente por possuírem aquele documento.</p><p>VERIFICANDO O APRENDIZADO</p><p>1. A PARTIR DO ESTUDO DAS PROPOSIÇÕES DE EMILE DURKHEIM EM</p><p>RELAÇÃO À SOCIOLOGIA, ANALISE AS SEGUINTES AFIRMATIVAS:</p><p>A EDUCAÇÃO É UM COMPONENTE DE GARANTIA DA REPRODUÇÃO SOCIAL.</p><p>O FATO SOCIAL É UM CONCEITO QUE ATRIBUI A COERÇÃO SOCIAL A UM ANSEIO</p><p>COLETIVO.</p><p>AS AFIRMATIVAS SÃO:</p><p>A) Complementares, uma vez que a Educação é necessariamente um fato social.</p><p>B) Dissonantes, uma vez que esses conceitos misturam as proposições de Marx na primeira e</p><p>Durkheim na segunda.</p><p>C) A afirmativa I pode ser entendida como um ponto de convergência da teoria de Durkheim e</p><p>Marx.</p><p>D) A afirmativa II é correta por adotar um conceito de Durkheim e discorda da afirmativa I.</p><p>2. A RELAÇÃO ENTRE A ESCOLA E A EDUCAÇÃO NÃO É AUTOMÁTICA.</p><p>EDUCAÇÃO É DIFERENTE DE ESCOLA, APESAR DE A ESCOLA SER UMA</p><p>INSTITUIÇÃO PLURAL E VITAL PARA REPRODUÇÃO DA EDUCAÇÃO.</p><p>KARL MARX E MAX WEBER SE DEBRUÇAM SOBRE A ESCOLA NA</p><p>FORMAÇÃO DO CAPITALISMO, MOSTRANDO COMO ELA PASSA A TER</p><p>PAPEL DESTACADO. A AFIRMATIVA CORRETA SOBRE ESTA QUESTÃO</p><p>É:</p><p>A) Para Marx, a dissonância entre capital e trabalho promovida pela burguesia é criada pela</p><p>escola e passa a ser disseminada como algo natural e necessário.</p><p>B) Para Weber, a formação do carisma, criado pela sociedade burguesa, foi fundamental para</p><p>consolidação do capitalismo.</p><p>C) Para Marx, a alienação promovida pela escola faz com que esta instituição deva ser</p><p>combatida como uma das forças legitimadoras do domínio burguês.</p><p>D) Para Weber, a valorização do status como componente de valor social assumiu condições</p><p>singulares nas sociedades por ele estudadas, gerando a intensificação da busca de diplomas e</p><p>certificações.</p><p>GABARITO</p><p>1. A partir</p><p>do estudo das proposições de Emile Durkheim em relação à Sociologia,</p><p>analise as seguintes afirmativas:</p><p>A Educação é um componente de garantia da reprodução social.</p><p>O fato social é um conceito que atribui a coerção social a um anseio coletivo.</p><p>As afirmativas são:</p><p>A alternativa "C " está correta.</p><p>Durkheim atribui à Educação um papel fundamental na conservação social. Ela em si não é um</p><p>fato social, mas nela se manifestam e reafirmam fatos sociais. Apesar da interpretação de</p><p>Durkheim e Marx serem discordantes em relação ao papel da Educação, ambos a</p><p>compreendem como um fator de reprodução social. Para Durkheim como fundamental a</p><p>conservação e, para Marx, como uma estratégia de alienação dos grupos dominantes.</p><p>2. A relação entre a Escola e a Educação não é automática. Educação é diferente de</p><p>Escola, apesar de a Escola ser uma instituição plural e vital para reprodução da</p><p>Educação. Karl Marx e Max Weber se debruçam sobre a Escola na formação do</p><p>capitalismo, mostrando como ela passa a ter papel destacado. A afirmativa correta sobre</p><p>esta questão é:</p><p>A alternativa "D " está correta.</p><p>Para Weber, o crescimento das sociedades estruturais fomentou uma característica modelar:</p><p>sociedades são hierarquizadas e a busca por esse posicionamento sempre fomentou a disputa</p><p>por determinados bens e conhecimento, nesse sentido, a Educação tornou-se uma</p><p>necessidade para a condição de status contemporâneo e acabou por gerar uma movimentação</p><p>em garantir a regulação e consolidação do papel dos diplomas e certificados.</p><p>MÓDULO 2</p><p> Relacionar a Escola e alguns conceitos fundamentais da Antropologia</p><p>Neste módulo, você perceberá como a Antropologia pode ajudar a identificar a Escola como um</p><p>lugar muito mais complexo do que a maior parte da sociedade vê quando olha para essa</p><p>instituição.</p><p>Assista ao vídeo que trata do tema da Escola como um espaço singular e de como a visão da</p><p>Antropologia é fundamental ao educador.</p><p>BREVE HISTÓRIA DA ANTROPOLOGIA</p><p>A Antropologia é a ciência que pensa e estuda o homem dos pontos de vista biológico, social e</p><p>cultural. As abrangências ou os campos são diversos, mas não serão nosso objeto de estudo</p><p>neste momento. Queremos destacar sua formulação como campo de saber norteado por um</p><p>interesse recorrente: a relação com o outro.</p><p>O olhar para o outro buscando conhecer, entender ou negar a sua cultura é recorrente em</p><p>diversas sociedades. Não é acidental que o grego Heródoto fosse chamado de filobárbaro, o</p><p>javascript:void(0)</p><p>amante dos bárbaros, por ter dedicado sua vida a retratar e escrever sobre os povos não</p><p>gregos. Poderíamos fazer um longo passeio pela história para perceber esse processo de</p><p>relações entre a construção de culturas singulares que se estruturam na negação de outras</p><p>culturas, mas vamos a um momento singular: a construção da modernidade e, em especial,</p><p>o colonialismo e o neocolonialismo.</p><p>HERÓDOTO</p><p>Geógrafo e historiador grego, autor da obra Histórias, que narra a invasão persa à Grécia</p><p>no século V, ao mesmo tempo em que descreve, com grande riqueza de informações,</p><p>características culturais e étnicas dos povos com os quais os gregos tinham contato à</p><p>época.</p><p>Ao longo dos séculos XVI e XVII, a Europa consolidou lenta e continuamente o seu domínio no</p><p>continente americano. Nesse processo, o encontro de civilizações passou a ser parte do ideário</p><p>europeu. Aqueles homens eram retratados ora como sujeitos angelicais, puros, livres de</p><p>pecados, ora como selvagens perigosos que comiam carne humana (antropofagia).</p><p> Os Filhos de Pindorama, por Theodor de Bry</p><p>O colonialismo institucionalizou uma nova literatura que teve grande sucesso na Europa, uma</p><p>etnografia primitiva, contada por aventureiros que pareciam ter voltado de uma galáxia muito</p><p>distante da nossa visão, de tão fantásticos eram os relatos que eles organizaram. O domínio</p><p>europeu não cessou, intensificou-se e transformou-se. Nos séculos XVIII e XIX, o advento da</p><p>formação do capitalismo institucionalizou novas formas de dominação. Primeiro, a Inglaterra</p><p>expandindo para todos os cantos do mundo, depois Napoleão conduzindo uma nova fase de</p><p>expansões, as unificações italiana e alemã, que geraram novos disputantes no modelo</p><p>neocolonialista.</p><p>A Europa domina o mundo, sua cultura está presente em toda parte, como espelho ou</p><p>negação. A ideia de uma tradição correta, verdadeira, racional e civilizada é posta na mesa e</p><p>torna-se o padrão.</p><p>ETNOGRAFIA</p><p>Descrição de costumes e tradições de um grupo humano, de outra cultura.</p><p>RELATOS SOBRE O NOVO MUNDO</p><p>Alguns exemplos desses relatos: Mundus Novus, de Américo Vespúcio; Duas Viagens ao</p><p>Brasil, de Hans Staden; Viagem à Terra do Brasil, de Jean de Léry e o Relato de Viagem,</p><p>de Francisco Orellana.</p><p>MAS EXISTIAM AS OUTRAS</p><p>CULTURAS NA VISÃO DOS</p><p>javascript:void(0)</p><p>javascript:void(0)</p><p>javascript:void(0)</p><p>javascript:void(0)</p><p>EUROPEUS DESSE PERÍODO?</p><p>OUTRAS FORMAS DE</p><p>ENXERGAR, VIVER E</p><p>EXPERIENCIAR O MUNDO?</p><p>CLARO QUE SIM!</p><p>Na Europa, essas outras culturas faziam parte do objeto de pesquisa de intelectuais que viviam</p><p>em seus gabinetes e escreviam sobre esse mundo. Algumas vezes esses relatos sobre o outro</p><p>chegavam à Literatura, como em Júlio Verne em A Volta ao Mundo em 80 dias, e chegavam à</p><p>Arte, com as imagens reais e inventadas feitas por naturalistas.</p><p>Mas, no fim, vemos o desenvolvimento de uma prática etnográfica – escrita ou descrição de</p><p>outra cultura –, com grupos que registravam e detalhavam outras culturas e, novamente, na</p><p>maioria das vezes, analisando relato de outros, o que foi chamado provocativamente de</p><p>etnografia de gabinete. O seu sentido – que se apresentava como racional no século XVIII –</p><p>buscava primeiramente o pitoresco e o estranho em suas observações.</p><p> Fonte: Marzolino | Shutterstock</p><p>javascript:void(0)</p><p>javascript:void(0)</p><p>A etnografia tem grande impulso no século XIX com a partilha da África e Ásia, e as disputas</p><p>neocolonialistas. Os registros serviam para afirmar os ideais de superioridade europeia e a</p><p>ideia de hierarquização de culturas – positivistas dividiam as sociedades entre civilizadas,</p><p>bárbaras e selvagens – como forma de legitimar a própria dominação da cultura europeia</p><p>ocidental.</p><p>O capital e as disputas, sendo fortalecidos, criaram uma ordem mundial. As trocas de uma</p><p>sociedade mundial, ainda que tivessem formas próprias, estavam o tempo todo em</p><p>comparação com a sociedade europeia.</p><p>Observe alguns exemplos desse tipo de comparação:</p><p>ORDEM MUNDIAL</p><p>Ordem mundial, nesse sentido, não é o termo histórico atual dado ao fim da Guerra Fria,</p><p>mas, em vez disso, designa a ideia da formação de um sistema internacional pautado nas</p><p>relações capitalistas.</p><p>Quando você lida com uma língua europeia, você a chama de idioma. Já quando a</p><p>língua é de um grupo local, um traço não europeu, você tende a chamá-la de</p><p>dialeto.</p><p>As tradições religiosas judaico-cristãs – inclusive as muçulmanas – são tradadas</p><p>como religiões. Já tradições africanas, americanas e afins costumamos</p><p>reconhecer como mitologias.</p><p>Atenção! Para visualização completa da tabela utilize a rolagem horizontal</p><p>javascript:void(0)</p><p> ATENÇÃO</p><p>É importante ressaltar que esses termos têm finalidades próprias no campo da Antropologia,</p><p>não são compostos de forma genérica como mostramos aqui, estamos apontando para suas</p><p>percepções do senso comum e o regime de historicidades dessas ideias.</p><p>A chegada ao século XX trouxe uma série de mudanças à etnografia de gabinete. Uma série</p><p>importante de autores passou a atuar em campo (Default tooltip) , buscando compreender a</p><p>lógica da composição dessas culturas. Muitos consideram que a efetiva dinâmica de</p><p>construção da Antropologia só aqui se estrutura.</p><p>Novos conflitos e o reconhecimento de outras tradições pouco a pouco impactaram os campos</p><p>de pesquisa da Antropologia e houve a percepção de que a iconografia de dominação e</p><p>superioridade do século anterior poderia ser superada.</p><p>GRANDES PENSADORES DA</p><p>ANTROPOLOGIA</p><p>BRONISŁAW KASPER MALINOWSKI (1884-1942)</p><p>Antropólogo polonês, tido como um dos fundadores de uma Antropologia</p><p>social, de uma</p><p>etnografia funcionalista. Mais do que o detalhamento de suas teorias, o que nos interessa é</p><p>perceber sua proposição do que é função da etnografia. Percebia-se a possibilidade de outra</p><p>sociedade, outra forma de entender a humanidade, sem a proposição de hierarquização que</p><p>fundamentava o movimento anterior. Isso levou finalmente à percepção da existência do outro.</p><p> Bronislaw Kasper Malinowski</p><p>Malinowski tem uma história pitoresca em meio aos esforços de guerra. Diante da</p><p>impossibilidade de retorno à Inglaterra em um momento de conflito, acabou intensificando sua</p><p>observação de campo de forma singular, experimentando e testando uma série de técnicas que</p><p>modificariam a história da Antropologia.</p><p>FRANZ BOAS (1858-1942)</p><p>Antropólogo americano que observou as profundas distinções entre grupos que, apesar de</p><p>próximos do ponto de vista geográfico, culturalmente, pareciam pertencer a mundos diferentes,</p><p>conforme procurou demonstrar ao comparar esquimós e índios americanos. Seu pensamento</p><p>reforça e modifica a construção de Malinowski, já que, para ele, a classificação dos povos</p><p>baseada na ideia de um processo evolutivo cultural unilinear era arbitrária e não bastaria para a</p><p>caracterização dos diversos grupos etnográficos.</p><p> Franz Boas</p><p>ERA NECESSÁRIO QUE A ANTROPOLOGIA SERVISSE À</p><p>COMPREENSÃO DO ENTENDIMENTO INDIVIDUAL DOS</p><p>GRUPOS; NOTASSE SUA PRÓPRIA DINÂMICA EVOLUTIVA EM</p><p>TERMOS DE CULTURA E LINGUAGEM.</p><p>Os estudos antropológicos não deveriam construir uma composição linear da cultura, mas um</p><p>espelho que permitiria a composição de quadros comparativos não hierarquizados. De certa</p><p>forma, estudos antropológicos não serviriam como curiosidade no entendimento do outro, mas</p><p>para que as sociedades se percebessem. A provocação é olhar o espelho para que</p><p>pudessem desnaturalizar seus processos e suas hierarquias.</p><p>O pós-guerra mundial e as disputas anticolonialistas (por conflitos diretos, como na Ásia e na</p><p>África, ou com a ideia de uma descolonização do pensamento, que passou a ser debatida nas</p><p>Américas) fomentam a possibilidade do antropólogo ser um sujeito mais engajado, defensor de</p><p>grupos que possuíssem e tivessem direito a se relacionar com suas culturas.</p><p>O objetivo é atravessar o espelho, não descrever o outro, não simplesmente perceber o outro</p><p>para que possa notar suas diferenças, mas atravessar o espelho. Finalmente, reconhecer o</p><p>seu direito de ser, de denunciar, de uma sociedade que possui outras formas.</p><p>javascript:void(0)</p><p>javascript:void(0)</p><p>DISPUTAS COLONIALISTAS</p><p>Depois dos conflitos mundiais, as guerras pela independência da África e da Ásia, que já</p><p>tinham se iniciado, ampliaram seu escopo. Revelaram atrocidades dos colonizadores e</p><p>chocaram os idealistas do mundo civilizado. Das mãos cortadas pelo rei Leopoldo no</p><p>Congo à cerca de crânios na Tunísia, o olhar para o colonizador, se em algum momento</p><p>foi paternalista, passou a ser destruído e negado. Esse exercício também modifica a</p><p>antropologia.</p><p>ATRAVESSAR O ESPELHO</p><p>Conceito apresentado por Claude Lévi-Strauss para criticar a Antropologia que não via o</p><p>outro, mas queria criar uma forma da sua própria sociedade ser compreendida pela</p><p>comparação. Atravessar o espelho significa efetivamente ir ao encontro de entender o</p><p>outro.</p><p>CLAUDE LÉVI-STRAUSS (1908-2009)</p><p>O francês, famoso na música de Caetano Veloso, foi um dos importantes estudiosos das</p><p>etnias indígenas, criador da Antropologia Estrutural. Em um dos seus mais famosos artigos,</p><p>Raça e História, o autor apresenta os desafios da construção histórica do sujeito, apontando</p><p>características que permitem perceber que, para além de uma natureza humana, o homem é</p><p>composto por acúmulos culturais, próprios e inerentes àquelas comunidades. Não é um</p><p>acúmulo no sentido histórico, mas uma percepção de que conseguiríamos classificar as</p><p>sociedades em pontos evolutivos diversos, em uma comparação que em qualquer sentido não</p><p>teria fundamento.</p><p> Claude Lévi-Strauss</p><p> VOCÊ SABIA</p><p>Lévi-Strauss viajou pelo Brasil entre 1935 e 1939, realizando estudos de sociedades indígenas,</p><p>e foi professor de Sociologia na USP aos 26 anos de idade. Quando, em visita ao Rio de</p><p>Janeiro e depois de um sobrevoo à Baía de Guanabara, perguntaram a Lévi-Strauss o que teria</p><p>achado daquela beleza, ele respondeu que parecia uma boca banguela. A resposta indignou</p><p>alguns brasileiros e Caetano utilizou a referência na música O Estrangeiro de 1989.</p><p>François Hartog afirma sobre o entendimento da Antropologia estrutural proposta por Lévi-</p><p>Strauss:</p><p>O MAIS IMPORTANTE É O AFASTAMENTO</p><p>DIFERENCIAL ENTRE AS CULTURAS. É AQUI QUE</p><p>RESIDE SUA “VERDADEIRA CONTRIBUIÇÃO”</p><p>CULTURAL A UMA HISTÓRIA MILENAR, E NÃO NA</p><p>“LISTA DE SUAS INVENÇÕES PARTICULARES”.</p><p>TAMBÉM, AGORA QUE SE ENTROU EM UMA</p><p>CIVILIZAÇÃO MUNDIAL, A DIVERSIDADE DEVERIA</p><p>SER PRESERVADA, MAS NA CONDIÇÃO DE ENTENDÊ-</p><p>LA MENOS COMO CONTEÚDO DO QUE COMO FORMA:</p><p>CONTA, SOBRETUDO, O PRÓPRIO “FATO” DA</p><p>DIVERSIDADE, E MENOS “O CONTEÚDO HISTÓRICO</p><p>QUE CADA ÉPOCA LHE DEU”.</p><p>HARTOG, 2006.</p><p>A existência de culturas é própria de sociedades humanas e não são comparáveis, são</p><p>estruturadas e fundamentadas em códigos, demandas, fenômenos e escolhas. A maneira mais</p><p>tradicional de conduzir e pensar a história, como um fenômeno unificador da linha temporal da</p><p>humanidade e classificador, é absolutamente sem sentido. Por isso, o que conta são os fatos,</p><p>os eventos, as trocas, e não a concepção de que evoluíram a um ponto A, B ou C.</p><p>A questão é como conviver em sociedades tão complexas, aproximar-se sem negar ou</p><p>segregar, mas compreendendo que elas que existem e essa existência em si já é um evento</p><p>que deve ser respeitado.</p><p>As culturas são necessariamente diversas. Culturas ágrafas ou com graus de dificuldade de</p><p>entendimento sobre a função de seus agentes não podem servir como justificativa de negação,</p><p>exclusão ou violência.</p><p>CULTURAS ÁGRAFAS</p><p>Culturas que não mantêm sistemas de escritas regulares, apesar de muitas delas terem</p><p>simbolismo, ícones e até caracteres que remetem a fonemas.</p><p>javascript:void(0)</p><p> ATENÇÃO</p><p>O relativismo cultural proposto por Geertz e pelos demais não significa aceitação e</p><p>naturalização de fenômenos de exploração e violência, mas o exercício de observação de</p><p>como funciona aquela cultura, ainda que o posicionamento seja de não aceitação em nossa ou</p><p>em outra sociedade.</p><p>CLIFFORD GEERTZ (1926-2006)</p><p>Antropólogo norte-americano conhecido como o fundador da Antropologia interpretativa, Geertz</p><p>colocou a cultura e o debate da cultura como elemento fundamental e abordou os fenômenos</p><p>culturais escritos e conflituosos no seio de uma mesma sociedade.</p><p> Clifford Geertz</p><p>A ANÁLISE CULTURAL É (OU DEVERIA SER) UMA</p><p>ADIVINHAÇÃO DOS SIGNIFICADOS, UMA AVALIAÇÃO</p><p>DAS CONJECTURAS, UM TRAÇAR DE CONCLUSÕES</p><p>EXPLANATÓRIAS A PARTIR DAS MELHORES</p><p>CONJECTURAS E NÃO A DESCOBERTA DO</p><p>CONTINENTE DOS SIGNIFICADOS E O MAPEAMENTO</p><p>DA SUA PAISAGEM INCORPÓREA.</p><p>GEERTZ, 1989.</p><p>Cultura é fruto de uma concepção das teias culturais. Sociedades são complexas e constroem</p><p>e reconstroem sentidos culturais constantemente. O estudo dessas interpretações de mundo,</p><p>de construções de sentido (ainda que sejam constantemente rediscutidos e remodelados), é o</p><p>processo de entendimento antropológico.</p><p>GEERTZ, DE ALGUMA FORMA, QUEBRA O ESPELHO.</p><p>SOCIEDADES SÃO COMPLEXAS E A TODO MOMENTO SE</p><p>REESTRUTURAM E SE REINVENTAM QUANDO SE</p><p>ENCONTRAM E REALIZAM TROCAS, POIS OS SÍMBOLOS QUE</p><p>AS COMPÕEM SÃO REDIMENSIONADOS, REINVENTADOS.</p><p>O estudo da Antropologia não é o de um conjunto constituído que vai analisar outro conjunto</p><p>constituído. É uma teia de relações enormes em que o antropólogo recorta, em sua análise, um</p><p>processo de redes de trocas infinitas.</p><p>Toda sociedade é múltipla em símbolos e em trocas. Por isso, não devem ser entendidas como</p><p>culturas puras ou isoladas a serem preservadas a qualquer custo. Cultura não é algo limitado a</p><p>grandes conjuntos isolados. Esses conjuntos não existem. Os grupos sociais, as diversas</p><p>culturas estão sempre vivas trocando e se reinventando.</p><p>VAMOS ENTENDER</p><p>MELHOR?</p><p>javascript:void(0)</p><p>javascript:void(0)</p><p>javascript:void(0)</p><p>Sabe quando uma pessoa faz uma crítica ao indígena que tem um celular de última geração</p><p>dizendo que se ele tem aquele aparelho não é um índio de verdade? É esse preconceito que</p><p>Geertz explica. Não é porque há uma identificação com uma cultura singular, com a defesa de</p><p>sua existência e sua luta, que ela estará isolada e cristalizada.</p><p>A cultura está sempre em movimento.</p><p>Claro que o contexto influencia na mudança trazida por Geertz. Se Lévi-Strauss produziu no</p><p>período de Guerra Fria e descolonização, Geertz convive com a sociedade das décadas de</p><p>1980 em diante, vivencia a formação de sociedades em rede e a globalização. Vê a</p><p>multiplicação de conceitos antropológicos, que põem em xeque as noções clássicas de pureza.</p><p>Vivemos um amadurecimento dos conceitos construídos por esses autores e não são escritos</p><p>em livros de Antropologia para dificultar a compreensão dos que iniciam seus estudos. Eles</p><p>estão nos livros, mas é diante de nós que esses conceitos se materializam. Cada vez que</p><p>usamos um celular ou computador; cada vez que saímos à rua, que conversamos, esses</p><p>conceitos aparecem.</p><p>A ANTROPOLOGIA, COMO CAMPO DO CONHECIMENTO,</p><p>PROVOCOU, AO LONGO DO SÉCULO XX, UMA MUDANÇA DE</p><p>ENTENDIMENTO, LEVANDO-NOS A DEBATER AS FÓRMULAS E</p><p>NOÇÕES SUPREMACISTAS – PROVOCOU O PENSAR, O</p><p>ENTENDER E, PRINCIPALMENTE, O DESCOBRIR FORMAS DE</p><p>CONVIVÊNCIA.</p><p>Então, agora que você absorveu o entendimento da Antropologia, buscamos mostrar como</p><p>essas ideias se materializam em conceitos importantes. Todos aqueles que pretendem pensar</p><p>na docência, em qualquer campo, precisam instrumentalizar seu olhar com conhecimentos</p><p>antropológicos para ter mais possibilidades de enfrentar esse desafio. Vamos, então, conhecer</p><p>alguns desses conceitos.</p><p>CONCEITOS DE CULTURA</p><p>NÃO SE PODE DEFINIR CULTURA</p><p>O antropólogo sul-africano Adam Kuper conclui em seu livro Cultura, que não podemos definir o</p><p>conceito de cultura. Isso mostra como a Antropologia debateu o conceito de cultura e o</p><p>associou de formas diversas ao longo do tempo, chamando a nossa atenção para esse ponto.</p><p>Kuper afirma que a cultura foi trabalhada durante muitos anos como algo material, a posse que</p><p>definia um grupo, um conjunto de práticas, hábitos, formas de explicar o mundo. E essa visão</p><p>chega ao senso comum, é a maneira mais recorrente dos homens definirem cultura: um</p><p>conjunto de práticas e pensamentos que os constituem como pertencentes a uma cultura A ou</p><p>B.</p><p>No entanto, essa materialização foi debatida por autores diversos mostrando que seu</p><p>entendimento precisava ser repensado. Levando para o contexto da Escola, corresponde às</p><p>ideias que muitas vezes norteiam as festas de folclore ou as representações de outras etnias,</p><p>como as comemorações do Dia do Índio.</p><p>CULTURA COMO PRODUÇÃO</p><p>Cultura seria tudo aquilo que o homem produz. Identificados com uma leitura estruturalista de</p><p>mundo que associa cultura à ação efetiva do homem na sociedade. Ainda que não fosse mais</p><p>algo que pudesse ser possuído, passava a ser algo que constituía o meio. Pensando nessa</p><p>leitura no contexto da Escola, a cultura passava a ser um exercício de consciência dos alunos</p><p>sobre as condições de trabalho, as formas de exploração, as classes sociais a que pertencem,</p><p>os modelos de produção, consumo e identidade dos quais eles fazem parte.</p><p>LEITURA ESTRUTURALISTA</p><p>Influenciada pelas dinâmicas de trabalho, modo de produção, legitimação do</p><p>funcionamento e da estrutura social.</p><p>javascript:void(0)</p><p>CULTURA COMO IDENTIDADE E MÚLTIPLAS</p><p>FORMAS</p><p>É a percepção de que cultura é um direito, uma prática, uma identidade e que cada um tem</p><p>necessidade de ostentar em um mundo complexo, ou seja, o conceito de multiculturalismo,</p><p>criado nos anos de 1980.</p><p> Fonte: Tavarius | Shutterstock</p><p>No auge da noção de Aldeia Global e de um amálgama de culturas em um mundo mais</p><p>integrado, emerge a defesa de que as sociedades eram constituídas por culturas múltiplas. A</p><p>luta contra o apagamento acabou por reforçar sentimentos separatistas, guerras étnicas e</p><p>movimentos de negação. Desse modo, a noção de multiculturalismo – sociedades complexas</p><p>em que diversas culturas participam – passou a sofrer severas críticas.</p><p>CULTURA COMO RESSIGNIFICAÇÃO</p><p>O historiador italiano Carlo Ginzburg oferece uma importante contribuição ao debate sobre a</p><p>noção de cultura, exemplificando em seu célebre livro O Queijo e os Vermes que cultura não</p><p>deve ser interpretada como um campo de exclusão ou segmentação, mas que culturas</p><p>circulam, reinventam-se, recriam-se. Um grupo pode transformar sua negação em elemento</p><p>identitário.</p><p> EXEMPLO</p><p>Para entender, vamos falar sobre futebol!</p><p>Durante anos, os chamados clubes de massa (Corinthians em São Paulo, Flamengo no Rio de</p><p>Janeiro e Bahia em Salvador, por exemplo) eram agredidos verbalmente pelos seus</p><p>adversários com a acusação de serem torcidas de marginais, maloqueiros, ladrões, favelados</p><p>etc. As torcidas desses times de massa, no entanto, passaram a utilizar essa agressão como</p><p>marca de identidade, com comemorações que exaltavam a condição de loucos, favelados e</p><p>afins. Aquilo que era negação tornou-se uma forma de diferenciação e identidade.</p><p>São muitos os exemplos do mesmo tipo: a identificação do outro, em função da cor da pele,</p><p>como “negro”, que acaba depois se autodenominando “preto”, revelando duas formas de</p><p>reconhecer o outro pela cor e não como pessoa, como ocorria durante o período da escravidão.</p><p>Diante da desnaturação, da negação e da violência, o grupo se reinventa, afirma-se pelas</p><p>características de superação, criando, redesenhando e inventando uma nova dinâmica cultural</p><p>afirmativa.</p><p>CULTURA COMO REPRESENTAÇÃO</p><p>Outras formas de conceito de cultura têm sido adotadas, como as lentes pelas quais os</p><p>homens veem o mundo. Essa ideia vem de cultura como um discurso, uma representação, uma</p><p>simbologia.</p><p>São muitos conceitos possíveis, mas todos com o propósito de tirar do sentido de cultura algo</p><p>material, palpável, e transformá-la em uma construção, torná-la parte da maneira como uma</p><p>sociedade se vê, pensa a si mesma e se relaciona. Ao mesmo tempo que define interpretações</p><p>de mundo, ao ser debatida, a cultura faz com que as lentes se transformem e se modifiquem. É</p><p>uma estrutura estruturante.</p><p> EXEMPLO</p><p>A Escola é um excelente exemplo!</p><p>Já foi considerada um espaço atípico, um espaço de elite.</p><p>Tornou-se uma exigência, com a noção de que se você deseja ser alguém na vida, você</p><p>precisa da escola. Era necessário obedecer e cumprir.</p><p>Depois, deveria ser um espaço de construção, o aluno deveria ser estimulado a ir à</p><p>escola, a se integrar em seu ambiente.</p><p>A Escola não é o espaço em que se ensina a ser alguém, mas é o espaço do aprender.</p><p>Segundo a Base Nacional Comum Curricular, a Escola é o local onde o aluno desenvolve</p><p>habilidades e competências necessárias ao seu desenvolvimento. É uma Escola que deve</p><p>reproduzir menos e produzir – construir efetivamente – mais.</p><p>A Escola tem um forte grau de integração social, os problemas do cotidiano são lá vivenciados</p><p>e, assim, cada professor, cada aluno, cada transformação do bairro, da cidade, do país, e do</p><p>mundo influenciam no conjunto de relações culturais. As visões comuns aproximam pessoas,</p><p>as antagônicas as afastam.</p><p>VIVEMOS NUM TEMPO EM QUE TRANSFORMAMOS</p><p>DIFERENÇAS EM CAMPOS DIÁRIOS DE CONFLITOS.</p><p>ESTUDAR CULTURA NUNCA FOI TÃO IMPORTANTE.</p><p>CONCEITO DE ETNOCENTRISMO</p><p>Um dos conceitos amplamente debatidos e transformados pela Antropologia é o de</p><p>etnocentrismo. Durante o século XIX, o principal conceito que distinguia sujeitos humanos era o</p><p>de raça. A percepção de que homens pertenciam a raças diferentes e, por causa disso, tinham</p><p>diferenças marcantes era utilizada amplamente. O conceito de raça foi utilizado</p><p>cientificamente durante o século XIX para justificar a hierarquia entre os seres humanos.</p><p>javascript:void(0)</p><p>RAÇA</p><p>A lógica de ciência não significa um discurso de verdade, mas a investigação. No século</p><p>XIX, pesquisas como a de Cesare Lombroso tentavam</p><p>comprovar cientificamente quais</p><p>raças eram predispostas ao crime.</p><p> EXEMPLO</p><p>Conhece a história da Maldição de Cam?</p><p>É uma história bíblica (Gênesis 9:18 - 10:32) que ocorre depois do episódio da arca de Noé e</p><p>do dilúvio. Cam vê Noé, seu pai, embriagado e, em vez de ajudá-lo, debocha dele. Isso teria</p><p>gerado uma maldição para os descendentes de Cam, que ficaram para sempre marcados.</p><p>Não há referência à cor negra, mas é esta a associação construída por certa tradição religiosa,</p><p>adotada pela ciência do século XIX, que justificava que homens de cor preta eram inferiores ou</p><p>amaldiçoados. Os estudos científicos da época apontavam que qualquer mistura representava</p><p>a fragilização das raças puras, como aconteceria com animais de espécies diferentes. Então,</p><p>não haveria nada pior do que um mestiço de raças humanas diferentes.</p><p>Assim, havia ideias políticas que defendiam que o Brasil precisava romper com a maldição de</p><p>Cam, escolher uma raça e ir direcionando toda a população nesse sentido. Nesse contexto,</p><p>políticas públicas foram então pensadas buscando o branqueamento da sociedade brasileira.</p><p>Imigrantes brancos de todo o mundo eram estimulados a vir para o Brasil.</p><p> A redenção de Cam, por Modesto Brocos y Gómez</p><p> SAIBA MAIS</p><p>Veja o quadro de Modesto Barroso A Redenção de Cam. O quadro demonstrava o espírito</p><p>brasileiro de branquear, de eliminar a marca do que era chamado de mestiçagem na história</p><p>brasileira.</p><p>Essa não é uma exceção; no século XX, personalidades importantes como Rui Barbosa diziam</p><p>que os traços de mistura da cultura brasileira era um sinal de atraso, de um Brasil não</p><p>civilizado.</p><p>A Antropologia do século XX começava a mudar e, em vez do conceito de raça, que ainda</p><p>demoraria a ser vencido, passava a ser pensado o conceito de etnia.</p><p>Etnia é um conceito antropológico que não lidava somente com a identificação biológica dos</p><p>sujeitos, mas com sua composição social, cultural, suas práticas e relações pessoais e</p><p>coletivas para definir uma sociedade. No entanto, não abandonava a noção de raça ou da</p><p>composição de superioridade, agora cultural.</p><p>A oposição entre civilizado versus selvagem demorou a ser vencida. Entretanto, o senso</p><p>comum ainda é fortemente marcado pela composição de um etnocentrismo vital: existem</p><p>hábitos e comportamentos aceitáveis e aqueles que devem ser corrigidos.</p><p>Etnocentrismo é uma marca de negação, um conceito que define padrões sociais e de</p><p>comportamentos como corretos e, por consequência, aqueles que devem ser negados,</p><p>destruídos ou persuadidos a serem modificados.</p><p>Gilberto Freyre, famoso por estudar as relações étnicas brasileiras, ainda entendidas como</p><p>raciais, identificou na afetividade entre colonizados e escravizados (índios e africanos) a</p><p>construção de uma estrutura singular.</p><p>Freyre representou um avanço na leitura da Antropologia brasileira em relação ao rompimento</p><p>com a hierarquização racial (a valorização do branqueamento), entendendo de outro modo a</p><p>composição complexa da etnia brasileira. No entanto, seus estudos geraram entendimentos</p><p>bastante equivocados, como os que defendiam que o Brasil teria conseguido de forma única</p><p>mediar os conflitos históricos entre raças diversas e constituído uma democracia racial.</p><p>GILBERTO FREYRE</p><p>Gilberto Freyre (1900-1987) foi um importante sociólogo brasileiro, além de ter sido</p><p>escritor, jornalista, poeta e pintor.</p><p>Gilberto Freyre nunca propôs esse conceito. Em seu livro Casa Grande e Senzala, ele não</p><p>reduz a violência do colonizador, mas defende que na condição da colonização uma</p><p>relação afetiva acabou sendo constituída.</p><p>javascript:void(0)</p><p> Uma família brasileira do século XIX sendo servida por escravos, por Jean-Baptiste Debret</p><p>O conceito de raça biológica foi derrubado pelos estudos modernos de Biologia, que acabaram</p><p>ratificando que homens contemporâneos pertencem a uma mesma espécie,</p><p>independentemente de suas variações físicas, oriundas de processos diversos, e que estão em</p><p>constante modificação.</p><p>Esse conceito ganhou outra composição sociológica, como forma de identificação étnica. As</p><p>“tribos” que compõem a diversidade social dentro de um mesmo espaço, marcam traços</p><p>identitários múltiplos, e a composição histórica de raça – como forma de negação – passou a</p><p>ganhar força de identidade do grupo. Um grande exemplo é a construção nazista de</p><p>superioridade de uma raça, como os arianos e sua origem caucasiana.</p><p>Com essas novas configurações, o conceito de etnocentrismo passou a ser entendido como</p><p>um exercício a ser negado, considerado uma forma de violência.</p><p>IDENTIDADE DE GRUPO</p><p>javascript:void(0)</p><p>Um dos ícones dessa relação uma vez mais são os chamados movimentos negros e</p><p>indígenas. Traços de negação reconfigurados para uma identidade de luta pelos seus</p><p>direitos.</p><p>MAS, QUAL A RELAÇÃO DISSO</p><p>COM A ESCOLA? UM</p><p>PROFESSOR NÃO É</p><p>ETNOCÊNTRICO. ELE É</p><p>CUIDADOSO. SERÁ?</p><p>Nós tendemos ao binarismo da ação. Tendemos a identificar automaticamente o que é certo e</p><p>errado, como se não houvesse outra forma. Temos padrões históricos constituídos e</p><p>apresentados como corretos e dificuldade para rompê-los. Quando um professor entra em sala</p><p>de aula, tenta falar o que se programou para falar, tenta “levar” seu conhecimento aos alunos e</p><p>eles não o escutam, não o compreendem, não desejam sua voz, a reação do professor tende a</p><p>ser: “Que desperdício” ou “estou atirando pérolas aos porcos”.</p><p>CONCEITO DE IDENTIDADE</p><p>Qual a sua identidade? Podemos imaginar a multiplicidade de respostas que essa pergunta</p><p>pode causar: brasileiro, pai de família, mulher, negro, engenheiro. Não precisaria ter dúvida,</p><p>bastaria olhar sua carteira de identidade e lá estaria escrita a resposta.</p><p>javascript:void(0)</p><p>javascript:void(0)</p><p>javascript:void(0)</p><p>javascript:void(0)</p><p>javascript:void(0)</p><p>javascript:void(0)</p><p>javascript:void(0)</p><p>MAS, SERÁ QUE A</p><p>DETERMINAÇÃO GEOGRÁFICA É</p><p>CAPAZ DE DETERMINAR A</p><p>IDENTIDADE DE UM SUJEITO?</p><p>Identidade é outro conceito antropológico fundamental. Também foi construído e</p><p>modificado ao longo do tempo. Seus primeiros debates e formas – novamente o movimento</p><p>positivista – associavam identidade à identificação. A identidade de um sujeito era associada à</p><p>sua configuração, à sua proximidade com o ordenamento social. A maior marca identitária era a</p><p>de ser civilizado, bárbaro ou selvagem.</p><p>O século XX trouxe com força uma nova noção de identidade: a ideia de nacionalismo. Sua</p><p>identidade era a sua nação, a fidelidade à sua terra, a seus familiares e às pessoas que</p><p>conviviam diretamente com você. Por elas, você deveria viver, por elas você deveria morrer. Se</p><p>durante o século XIX isso aparecera nos campos de batalha, no século XX eram elementos do</p><p>cotidiano, como rádios, festividades e governos defendendo a ideia de civismo e luta por sua</p><p>identidade.</p><p>javascript:void(0)</p><p>javascript:void(0)</p><p>javascript:void(0)</p><p>javascript:void(0)</p><p>javascript:void(0)</p><p>javascript:void(0)</p><p> Mahatma Gandhi durante a Marcha do Sal, protesto que marcou o início do movimento de</p><p>independência da Índia</p><p>A definição de fronteiras, as composições dos Estados-Nação, a reafirmação de novas mídias,</p><p>o fortalecimento de discursos que defendiam o seu espaço vital, foram os responsáveis por</p><p>grandes conflitos do fim do século XIX até a metade do século XX. As Guerras Mundiais são</p><p>ícones da força da identidade nacional da primeira metade do século XX, mas não são únicas.</p><p>As disputas pela descolonização e a consolidação da influência do republicanismo, da</p><p>democracia representativa, acabam fortalecendo a nação, que era a principal marca identitária.</p><p>Esse movimento aparece não só no sangue e na batalha. Ganha contornos em feiras de</p><p>ciência no mundo inteiro – disputando por serem maiores, mais importantes, mais avançadas –</p><p>e contornos esportivos, como acontece em eventos esportivos como o das Olimpíadas.</p><p> SAIBA MAIS</p><p>Olimpíadas de Berlim, 1936</p><p>Adolf Hitler era o comandante da Alemanha e seu objetivo era exibir o poderio da raça ariana,</p><p>mas também mostrar ao mundo como a Alemanha era um lugar especial, civilizado, o futuro da</p><p>humanidade.</p><p>Os Estados Unidos, interessados na mesma coisa, não por uma afirmação ariana, mas pelos</p><p>seus princípios de capitalismo e liberalismo, veem no envio de seus atletas uma ameaça</p><p>nacional, a possiblidade de legitimar o discurso do alemão.</p><p>Mas, a participação dos atletas seria a chance de disputar a “superioridade” e vencer. Assim,</p><p>todos os atletas são enviados para defender os princípios norte-americanos.</p><p>O maior nome é Jesse Owens, do atletismo, jovem negro que sofre, como toda sua</p><p>comunidade, com o sistema de segregação racial, e, por causa disso, às vésperas do evento</p><p>decide não ir, pois não se via respeitado em sua identidade como cidadão americano,</p><p>tampouco gostaria de dar legitimidade ao regime de Hitler. No entanto, ele acaba indo, vence,</p><p>mas mantém o discurso crítico de que nunca se sentiu verdadeiramente americano.</p><p> EXEMPLO</p><p>Muhammad Ali (1942-2016)</p><p>Nascido Cassius Clay, é outro exemplo dessa crise de identidade – princípio do nacionalismo e</p><p>a negação étnica. O pugilista, negro, campeão olímpico, americano, uma vez convocado para</p><p>Guerra do Vietnã decide não ir. Influenciado por movimentos negros norte-americanos</p><p>importantes, Ali diz que não via sentido em matar vietnamitas por um país que os segregava,</p><p>negava, maltratava. Foi processado. Teve a licença para lutar caçada.</p><p>DESAFIOS DOCENTES</p><p>As transformações da apreensão de cultura, a formação de movimentos de grupos que lutavam</p><p>por direitos e reconhecimento (movimento negro, LGBTQ+, feminista, religiosos), entre outros</p><p>fatores, repensam o sentido das identidades. A ideia de que somos socialmente múltiplos e não</p><p>simplesmente oposições genéricas ou binárias acaba por multiplicar as formas de se identificar,</p><p>gerando intensos debates sobre o que isso significa socialmente.</p><p>Muitos professores entram em crise ao enfrentar o cotidiano das escolas. Descobrem</p><p>identidades nunca imaginadas. Professores que têm dificuldade de lidar com diversidade de</p><p>culturas, com os discursos dissonantes, com o preconceito racial, político e religioso. Muitos</p><p>acabam defendendo que a Escola não é lugar para esse debate, que na Escola todos são</p><p>iguais e que a condição diferente acaba ali. Nada mais falso!</p><p>VERIFICANDO O APRENDIZADO</p><p>1. (ENADE 2014 – ADAPTADA) OBSERVE A FIGURA ABAIXO, ADAPTADA</p><p>DO LIVRO CUIDADO, ESCOLA!, DE PAULO FREIRE.</p><p>RELACIONANDO-A ÀS FRASES ABAIXO E COM A HISTÓRIA DA</p><p>ANTROPOLOGIA, VOCÊ DIRIA QUE A SUA MELHOR INTERPRETAÇÃO É:</p><p>A) A Educação que ocorre na Escola incorpora sempre uma perspectiva de gerar e promover a</p><p>igualdade; nesse ponto, os conceitos antropológicos ajudam a perceber o que o aluno traz da</p><p>sua vida.</p><p>B) A educação sistemática e a educação assistemática são a mesma coisa que acontece,</p><p>apenas, em lugares diferentes.</p><p>C) A educação sistemática e a escola regular têm os mesmos conteúdos, mas cada uma deve</p><p>preservar seus espaços de atuação.</p><p>D) A educação sistemática, muitas vezes, desconsidera as contribuições da diversidade cultural</p><p>e das demandas sociais, gerando problemas nessa relação.</p><p>2. (ENADE DE 2011 – ADAPTADA) DURANTE OS ENCONTROS PARA A</p><p>PREPARAÇÃO DO ANO LETIVO EM UMA ESCOLA, ALGUNS TÓPICOS</p><p>FORAM CONSIDERADOS COMO OS MAIS IMPORTANTES. DENTRE ELES,</p><p>DESTACA-SE O CONHECIMENTO DA REALIDADE DOS ESTUDANTES E,</p><p>POR ISSO, NO PLANEJAMENTO DAS ATIVIDADES, FOI PRECISO LEVAR</p><p>EM CONTA:</p><p>A) A realidade expressa nos programas escolares estabelecidos.</p><p>B) A vivência limitada das pessoas de grupos sociais minoritários.</p><p>C) O meio ambiente das classes mais favorecidas daquela região.</p><p>D) O contexto sociocultural específico da realidade dos alunos.</p><p>GABARITO</p><p>1. (ENADE 2014 – ADAPTADA) Observe a figura abaixo, adaptada do livro Cuidado,</p><p>Escola!, de Paulo Freire.</p><p>Relacionando-a às frases abaixo e com a história da Antropologia, você diria que a sua</p><p>melhor interpretação é:</p><p>A alternativa "D " está correta.</p><p>Um aspecto importante de nossos estudos é diferenciar a Escola e a Educação, depois</p><p>demonstrar como a Escola é um corpo imerso na sociedade e, por causa disso, reproduz as</p><p>dinâmicas sociais em seu interior. Uma sociedade marcada pela pluralidade terá escolas</p><p>marcadas pela diversidade cultural. A Antropologia nos ensina a não sermos inocentes em</p><p>imaginar que é possível uma instituição imersa em uma sociedade sem que dialogue com suas</p><p>demandas.</p><p>2. (ENADE de 2011 – ADAPTADA) Durante os encontros para a preparação do ano letivo</p><p>em uma escola, alguns tópicos foram considerados como os mais importantes. Dentre</p><p>eles, destaca-se o conhecimento da realidade dos estudantes e, por isso, no</p><p>planejamento das atividades, foi preciso levar em conta:</p><p>A alternativa "D " está correta.</p><p>Essa questão trata da instrumentalização ofertada aos docentes ao discutir a relação entre</p><p>Antropologia e Educação. Não basta reconhecer um grupo, perceber suas relações</p><p>econômicas, tampouco imaginar que a função da Escola é transmitir conteúdo. A Escola é uma</p><p>instituição, é social, é palco de dinâmicas diversas e se quiser ser mais eficiente no</p><p>aprendizado precisará lidar com a dinâmica sociocultural da realidade dos alunos.</p><p>MÓDULO 3</p><p> Caracterizar a relação entre Educação e Ciências Sociais no cotidiano escolar</p><p>Assista ao vídeo sobre a escola como um campo de estudo das ciências humanas.</p><p>O ENCONTRO ENTRE A EDUCAÇÃO E A</p><p>SOCIEDADE</p><p>Sociedades humanas educam. Sempre existem responsáveis por passar as regras, incutir</p><p>valores, treinar e desenvolver habilidades. Os métodos variam, historicamente, de coerção a</p><p>interesses. Sem entrar em paradigmas biológicos, essa é uma característica que reproduzimos</p><p>como espécie.</p><p>No entanto, outra característica que herdamos é a de consolidar relações complexas entre</p><p>nossos pares. Nós não reproduzimos meramente um comando instintivo. Pensamos,</p><p>relacionamo-nos, recebemos regras e nos ligamos a elas. Defendemos, negamos, lutamos a</p><p>favor ou contra elas, mas é certo que sempre há um sentido relacional nessa construção.</p><p>Temos uma fantástica capacidade de acumular conhecimentos e transformá-los ao longo do</p><p>tempo. Adaptamos os conhecimentos às novas condições e saímos de um modo de vida</p><p>caracterizado por grupos de caçadores e coletores para sermos sujeitos de identidade</p><p>documentada e lidarmos com sistemas simbólicos de representações absolutamente</p><p>complexos.</p><p>Imagine a seguinte situação: Eu tenho algo e você tem outra coisa, temos o interesse em</p><p>trocar, trocamos. Em outra situação, eu tenho algo e você entende que aquilo deveria ser seu,</p><p>mas eu tenho uma força que não permite que você tome, ou então você cria estratégias e</p><p>adquire forças que podem levar o que tenho.</p><p>Atualmente, todos temos alguma coisa e há sistemas monetários que garantem um valor para</p><p>tudo, sistemas jurídicos que ajudam a definir quais são os direitos de quem, configurando</p><p>processos bem diversos. Saímos da condição do mundo natural e criamos complexos</p><p>conjuntos sociais que podem se diversificar a cada momento.</p><p>Como funciona essa formação? Como ocorre essa relação em meio à sociedade? Essas</p><p>perguntas apontam para o objeto das Ciências Sociais.</p><p>Onde entra a Educação? Ora, faz parte da nossa condição o acúmulo e a transformação das</p><p>experiências e do conhecimento, essa dinâmica é transmitida, repetida, ensinada e finalmente</p><p>aprendida geração após geração.</p><p>A EDUCAÇÃO É UM FENÔMENO MUITO PRESENTE NA</p><p>ANÁLISE DE QUALQUER FORMULAÇÃO DE SOCIEDADE. A</p><p>ESCOLA, ESSA INSTITUIÇÃO DESENVOLVIDA PARA CRIAR</p><p>UM ESPAÇO PRÓPRIO PARA FORMAR O SUJEITO A FIM DE</p><p>REPRODUZIR AS DINÂMICAS DA SOCIEDADE, É UMA DAS</p><p>INVENÇÕES MAIS INTERESSANTES PARA NOTAR COMO</p><p>ACONTECEM ESSES PROCESSOS.</p><p>Mas, a compreensão não ocorre de um momento para o outro. Esse é o primeiro passo de</p><p>outros que podem solidificar sua caminhada na formação de professores. Uma vez que isso</p><p>está claro, passamos agora a conhecer os principais campos das chamadas Ciências Sociais.</p><p> IMPORTANTE</p><p>Aquele que almeja assumir a condição de docente, de se relacionar com a Educação, nunca</p><p>poderá desistir de observar como se relacionam os homens e como eles constituem a</p><p>sociedade.</p>