Modulo 2 - Didática e o Processo Pedagógico no Ensino Superior

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<p>DIDÁTICA DO ENSINO</p><p>SUPERIOR</p><p>Unidade 2</p><p>Didática e o Processo</p><p>Pedagógico no Ensino</p><p>Superior</p><p>CEO</p><p>DAVID LIRA STEPHEN BARROS</p><p>Diretora Editorial</p><p>ALESSANDRA FERREIRA</p><p>Gerente Editorial</p><p>LAURA KRISTINA FRANCO DOS SANTOS</p><p>Projeto Gráfico</p><p>TIAGO DA ROCHA</p><p>Autoria</p><p>LISIANE LUCENA BEZERRA</p><p>4 DIDÁTICA DO ENSINO SUPERIOR</p><p>U</p><p>ni</p><p>da</p><p>de</p><p>2</p><p>A</p><p>U</p><p>TO</p><p>RI</p><p>A</p><p>Lisiane Lucena Bezerra</p><p>Olá. Sou licenciada em Ciências Agrárias, mestre em</p><p>Fitotecnia e doutora em Agronomia/Fitotecnia, com experiência</p><p>técnico-profissional na área de licenciatura de mais de 10 anos.</p><p>Atualmente, leciono disciplinas na área de Educação em curso</p><p>de licenciatura, na Universidade Estadual da Paraíba (UEPB). Sou</p><p>apaixonada pelo que faço e adoro transmitir minha experiência de</p><p>vida àqueles que estão iniciando em suas profissões.</p><p>5DIDÁTICA DO ENSINO SUPERIOR</p><p>U</p><p>ni</p><p>da</p><p>de</p><p>2</p><p>ÍC</p><p>O</p><p>N</p><p>ES</p><p>Esses ícones aparecerão em sua trilha de aprendizagem nos seguintes casos:</p><p>OBJETIVO</p><p>No início do</p><p>desenvolvimento</p><p>de uma nova</p><p>competência. DEFINIÇÃO</p><p>Caso haja a</p><p>necessidade de</p><p>apresentar um novo</p><p>conceito.</p><p>NOTA</p><p>Quando são</p><p>necessárias</p><p>observações ou</p><p>complementações. IMPORTANTE</p><p>Se as observações</p><p>escritas tiverem que</p><p>ser priorizadas.</p><p>EXPLICANDO</p><p>MELHOR</p><p>Se algo precisar ser</p><p>melhor explicado ou</p><p>detalhado. VOCÊ SABIA?</p><p>Se existirem</p><p>curiosidades e</p><p>indagações lúdicas</p><p>sobre o tema em</p><p>estudo.</p><p>SAIBA MAIS</p><p>Existência de</p><p>textos, referências</p><p>bibliográficas e links</p><p>para aprofundar seu</p><p>conhecimento.</p><p>ACESSE</p><p>Se for preciso acessar</p><p>sites para fazer</p><p>downloads, assistir</p><p>vídeos, ler textos ou</p><p>ouvir podcasts.</p><p>REFLITA</p><p>Se houver a</p><p>necessidade de</p><p>chamar a atenção</p><p>sobre algo a</p><p>ser refletido ou</p><p>discutido.</p><p>RESUMINDO</p><p>Quando for preciso</p><p>fazer um resumo</p><p>cumulativo das últimas</p><p>abordagens.</p><p>ATIVIDADES</p><p>Quando alguma</p><p>atividade de</p><p>autoaprendizagem</p><p>for aplicada. TESTANDO</p><p>Quando uma</p><p>competência é</p><p>concluída e questões</p><p>são explicadas.</p><p>6 DIDÁTICA DO ENSINO SUPERIOR</p><p>U</p><p>ni</p><p>da</p><p>de</p><p>2</p><p>Didática como ação pedagógica no ensino superior ............. 9</p><p>Didática e a ação pedagógica ..........................................................................13</p><p>Elementos do processo didático ............................................ 20</p><p>O processo didático ..........................................................................................20</p><p>O processo de ensino ........................................................................22</p><p>O processo de aprendizagem ...........................................................25</p><p>A aprendizagem e o processo de assimilação ativa ....................................27</p><p>O ensino-aprendizagem .....................................................................29</p><p>Professor-aluno e a relação entre eles ...........................................30</p><p>A didática e as tendências pedagógicas ................................ 32</p><p>Tendências pedagógicas liberais ....................................................................36</p><p>Tendência tradicional .........................................................................37</p><p>Tendência renovada progressista ....................................................38</p><p>Tendência renovada não diretiva .....................................................38</p><p>Tendência tecnicista ...........................................................................39</p><p>Tendências pedagógicas progressistas .........................................................40</p><p>Tendência libertadora ........................................................................41</p><p>Tendência libertária ............................................................................41</p><p>Tendência crítico-social dos conteúdos ..........................................42</p><p>A didática e o trabalho dos professores no ensino</p><p>superior .................................................................................... 45</p><p>A didática no ensino superior .........................................................................45</p><p>O trabalho docente ...........................................................................................48</p><p>SU</p><p>M</p><p>Á</p><p>RI</p><p>O</p><p>7DIDÁTICA DO ENSINO SUPERIOR</p><p>U</p><p>ni</p><p>da</p><p>de</p><p>2</p><p>A</p><p>PR</p><p>ES</p><p>EN</p><p>TA</p><p>ÇÃ</p><p>O</p><p>Você conhece a didática no ensino e como ela pode</p><p>ser utilizada como ação pedagógica no ensino superior? E os</p><p>elementos que compõem o processo didático? Então, a Didática,</p><p>considerada uma disciplina teórica por Comenius, tem por objetivo</p><p>o estudo da ação pedagógica na docência. O processo de ensino,</p><p>intrinsecamente ligado à utilização da didática no ensino superior,</p><p>é desenvolvido por meio da assimilação de conhecimentos e do</p><p>acúmulo de experiências. Os principais elementos do processo</p><p>didático são o ensino, os conteúdos e a aprendizagem, que</p><p>devem ser articulados da melhor forma para alcançar os objetivos</p><p>educacionais no ensino superior. As tendências pedagógicas</p><p>brasileiras são classificadas em liberais ou progressistas, termos</p><p>que denotam características divergentes. Além disso, muitos</p><p>docentes do ensino superior ainda sentem grande dificuldade</p><p>em utilizar a didática, pois sua formação é em áreas diferentes,</p><p>tornando-se um obstáculo para o desenvolvimento de um ensino</p><p>de qualidade.</p><p>8 DIDÁTICA DO ENSINO SUPERIOR</p><p>U</p><p>ni</p><p>da</p><p>de</p><p>2</p><p>O</p><p>BJ</p><p>ET</p><p>IV</p><p>O</p><p>S</p><p>Olá. Seja muito bem-vindo à Unidade 2. Nosso objetivo</p><p>é auxiliar você no desenvolvimento das seguintes competências</p><p>profissionais, até o término desta etapa de estudos:</p><p>1. Entender a didática como atividade pedagógica no</p><p>ensino superior.</p><p>2. Identificar os elementos do processo didático.</p><p>3. Avaliar as tendências pedagógicas no campo da</p><p>didática.</p><p>4. Aplicar a didática na tarefa dos professores no ensino</p><p>superior.</p><p>E aí? Você se sente preparado para mergulhar nesse mun-</p><p>do de novos conhecimentos? Vamos lá!</p><p>9DIDÁTICA DO ENSINO SUPERIOR</p><p>U</p><p>ni</p><p>da</p><p>de</p><p>2</p><p>Didática como ação pedagógica</p><p>no ensino superior</p><p>OBJETIVO</p><p>Ao finalizar este capítulo, você será capaz de com-</p><p>preender a didática e sua ação pedagógica no en-</p><p>sino superior, o que será de fundamental impor-</p><p>tância para o exercício de sua profissão. E então,</p><p>motivado para desenvolver esta competência? Va-</p><p>mos lá.</p><p>O processo educativo, realizado nas instituições, ocorre</p><p>por meio do ensino e da instrução, baseando-se tanto na assimi-</p><p>lação de conhecimentos quanto no acúmulo de experiências das</p><p>ações anteriores no contexto histórico-social de que ele faz parte.</p><p>A pedagogia é um campo de conhecimento</p><p>que investiga a natureza das finalidades da</p><p>educação numa determinada sociedade,</p><p>bem como os meios apropriados para a</p><p>formação dos indivíduos, tendo em vista</p><p>prepará-los para as tarefas da vida social.</p><p>Uma vez que a prática educativa é o processo</p><p>pelo qual são assimilados conhecimentos e</p><p>experiências acumulados pela prática social</p><p>da humanidade, cabe a Pedagogia assegurá-</p><p>lo, orientando-o para finalidades sociais e</p><p>políticas, e criando um conjunto de condições</p><p>metodológicas e organizativas para viabilizá-</p><p>lo. (LIBÂNEO, 1994, p. 24)</p><p>10 DIDÁTICA DO ENSINO SUPERIOR</p><p>U</p><p>ni</p><p>da</p><p>de</p><p>2</p><p>É verdade que os enormes desafios expostos à prática da</p><p>docência no ensino superior estão relacionados às possibilidades</p><p>de articular duas ações didáticas no contexto da sala de aula.</p><p>Imagem 2. 1 – Duas ações didáticas</p><p>Ensinar</p><p>Aprender</p><p>Fonte: Elaborado pela autoria (2023).</p><p>Não é frequente que um profissional com domínio sobre o</p><p>conhecimento também possua uma boa capacidade de transpor</p><p>esse conhecimento em situações que envolvem a aprendizagem.</p><p>Com isso, entende-se que é difícil para um professor realizar o</p><p>planejamento, gerenciamento e avaliações de situações didáticas</p><p>que se mostrem eficientes para o desenvolvimento da autonomia</p><p>acadêmica sem compreender os próprios conteúdos envolvidos</p><p>na área em que atua, que, por sua vez, serão utilizados para sua</p><p>ação didática.</p><p>A prática de ensino, juntamente com a didática, forma um</p><p>espaço multidimensional no qual o professor deve ter consciência</p><p>de que uma boa relação com o aluno</p><p>em: 18 jul. 2020.</p><p>PAIVA, R. I. D. de; SILVA, S. L. de A. A importância da didática no</p><p>processo de ensino e aprendizagem: a prática do professor em</p><p>foco. Revista Ensino Interdisciplinar, v. 1, n. 1, p. 109-118, 2015.</p><p>Disponível em: http://www.gerson.110mb.com/index_arquivos/</p><p>Didatica.pdf. Acesso em: 05 jul. 2020.</p><p>PEREIRA, M. P. et al. Pós-colonialismo e literatura: questões</p><p>identitárias nos países africanos de língua oficial portuguesa.</p><p>Macapá: UNIFAP, 2017. Disponível em: https://www2.unifap.</p><p>br/editora/files/2014/12/ebook_pos_colonialismo_e_literatura_</p><p>unifap.pdf. Acesso em: 05 maio 2020.</p><p>PETERM, B.; LUCKMAN, T. A construção social da realidade:</p><p>tratado de sociologia do conhecimento. Petrópolis: Vozes, 1976.</p><p>Disponível em: https://cristianorodriguesdotcom.files.wordpress.</p><p>com/2013/06/bergerluckman.pdf. Acesso em: 10 mar. 2020.</p><p>62 DIDÁTICA DO ENSINO SUPERIOR</p><p>U</p><p>ni</p><p>da</p><p>de</p><p>2</p><p>PIMENTA, S. G. O protagonismo da didática nos cursos de</p><p>licenciatura: a didática como campo disciplinar. In: ENDIPE, 16.,</p><p>2012, Campinas. Anais[...] Campinas: Unicamp, 2012. Disponível</p><p>em: http://endipe.pro.br/ebooks-2012/0042m.pdf. Acesso em: 22</p><p>jul. 2020.</p><p>PRANDI, L. R. Tendências do processo didático-pedagógico no</p><p>Ensino Superior na contemporaneidade. Akrópolis - Revista</p><p>de Ciências Humanas, Umuarama, v. 17, n. 3, p. 137-142, 2009.</p><p>Disponível em: https://ojs.revistasunipar.com.br/index.php/</p><p>akropolis/article/view/2852. Acesso em: 20 jul. 2020.</p><p>PROENÇA, M. G.; TENO, N. A. Algumas aproximações:</p><p>compreendendo o conceito de identidade. Educação e Fronteiras,</p><p>[S. l.], v. 1, n. 3, p. 132-145, 2012. Disponível em: https://ojs.ufgd.</p><p>edu.br/index.php/educacao/article/view/1521. Acesso em: 09 jul.</p><p>2020.</p><p>REBÊLO, T. G.; SILVA, W. C. Tendências pedagógicas e didática</p><p>no ensino superior: um estudo de caso no curso de Pedagogia</p><p>da Faculdade Salesiana Dom Bosco de Manaus. Areté - Revista</p><p>Amazônica de Ensino de Ciências, Manaus, v. 9, n. 20, p. 32-</p><p>40, 2016. Disponível em: http://periodicos.uea.edu.br/index.php/</p><p>arete/article/view/242. Acesso em: 18 jul. 2020.</p><p>RESCHLINSKI, M. D.; SCHWERTNER, S. F. Andragogia na educação</p><p>profissional. [S. l.]: [S. n.], 2018. Disponível em: https://www.</p><p>univates.br/bdu/bitstream/10737/2020/1/2017MileneRechlinski.</p><p>pdf. Acesso em: 15 mar. 2020.</p><p>ROCHA, K. C.; MARTINS, R. E. Experiências da prática docente do</p><p>professor de geografia na modalidade de educação de jovens e</p><p>adultos (EJA) dentro do projeto de Educação Comunitária Integrar.</p><p>In: ENCONTRO DE PRÁTICAS DE ENSINO DE GEOGRAFIA DA REGIÃO</p><p>SUL, 2., 2014, Florianópolis. Anais eletrônicos[...] Florianópolis:</p><p>UFSC, 2014. Disponível em: https://anaisenpegsul.paginas.ufsc.</p><p>63DIDÁTICA DO ENSINO SUPERIOR</p><p>U</p><p>ni</p><p>da</p><p>de</p><p>2</p><p>br/files/2014/11/KLEICER-CARDOSO-ROCHA-e-ROSA-ELISABETE-</p><p>MILITZ-WYPYCZYNSKI-MARTINS.pdf. Acesso em: 15 mar. 2020.</p><p>RODRIGUES, L. P.; MOURA, L. S.; TESTA, E. O tradicional e o moderno</p><p>quanto à didática no ensino superior. Revista Científica do ITPAC,</p><p>Araguaína, v. 4, n. 3, 2011. Disponível em: https://assets.unitpac.</p><p>com.br/arquivos/Revista/43/5.pdf. Acesso em: 05 jul. 2020.</p><p>RONDÔNIA. Secretaria de Estado da Educação. Educação para</p><p>jovens e adultos - EJA: Ensino Fundamental e Ensino Médio.</p><p>Rondônia: SEDUC RO, 2013. Disponível em: https://fep.if.usp.</p><p>br/~profis/arquivo/docs_curriculares/RO/Rondonia_Referencial_</p><p>Curricular_EJA.pdf. Acesso em: 06 mar. 2020.</p><p>SANTOS, S. C. dos. O processo de ensino-aprendizagem e a</p><p>relação professor-aluno: aplicação dos “sete princípios para a boa</p><p>prática na educação do ensino superior”. Caderno de Pesquisa</p><p>em Administração, São Paulo, v. 8, n. 1, p. 69-82, 2001. Disponível</p><p>em: sinprodf.org.br/wp-content/uploads/2012/01/tx_5_proc_ens_</p><p>aprend.pdf. Acesso em: 19 jul. 2020.</p><p>SECCO, C. L. Mia Couto: o outro lado das palavras e dos sonhos. Via</p><p>Atlântica, [S. l.], v. 1, n. 9, p. 71-84, 2006. Disponível em: https://</p><p>www.revistas.usp.br/viaatlantica/article/view/50041. Acesso em:</p><p>07 maio 2020.</p><p>SERPA, J. A modalidade semipresencial na percepção dos alunos</p><p>do ensino superior. Revista Digital Simonsem, Rio de Janeiro,</p><p>n. 3, p. 174-180, 2015. Disponível em: http://www.simonsen.</p><p>br/revista-digital/wp-content/uploads/2015/11/16-%20Revista-</p><p>Simonsen_N3-Joyce.pdf. Acesso em: 18 mar. 2020.</p><p>SILVA, M. A tradição da transgressão: língua portuguesa e</p><p>identidade cultural em Luandino Vieira. SCRIPTA, Belo Horizonte,</p><p>v. 11, n. 20, p. 167-176, 2007. http://periodicos.pucminas.br/index.</p><p>php/scripta/article/view/14028. Acesso em: 06 maio 2020.</p><p>SILVA, M. Angola, Moçambique e Cabo Verde: uma introdução a</p><p>prosa de ficção da África Lusófona. Nau Literária, [S. l.], v. 7, n.</p><p>64 DIDÁTICA DO ENSINO SUPERIOR</p><p>U</p><p>ni</p><p>da</p><p>de</p><p>2</p><p>1, p. 1-17, 2011. Disponível em: https://seer.ufrgs.br/NauLiteraria/</p><p>article/view/20491/13330. Acesso em: 01 maio 2020.</p><p>SPRINGER, A. R.; CUNHA, J. R.; PAGEL, T. G. Públicos da desigualdade</p><p>social na EJA: ações educativas para o reconhecimento e a</p><p>valorização dos sujeitos. [S. l.]: [S. n.], 2020. Disponível em: https://</p><p>www2.faccat.br/portal/sites/default/files/springer_cunha_pagel2.</p><p>pdf Acesso em: 08 mar. 2020.</p><p>TARTARI, E. Tendências pedagógicas nas práticas educacionais:</p><p>o caso de uma professora de ciências e matemática. 2013. 116</p><p>f. Dissertação (Metrado em Educação) – Universidade do Sul de</p><p>Santa Catarina, Tubarão, 2013. Disponível em: https://repositorio.</p><p>animaeducacao.com.br/bitstream/ANIMA/3571/1/108054_</p><p>Emerson.pdf. Acesso em: 18 jul. 2020.</p><p>TAVARES, C. O sujeito pós-colonial na narrativa de Mia Couto. Nau</p><p>Literária, Porto Alegre, v. 7, n. 2, p. 1-10, 2011. Disponível em:</p><p>https://seer.ufrgs.br/NauLiteraria/article/view/20618. Acesso em:</p><p>08 maio 2020.</p><p>ZASLAVSKY, A. Ação pedagógica, ação comunicativa e didática.</p><p>Conjuntura: Filosofia Educação, Caxias do Sul, v. 22, n. 1, p. 69-</p><p>81, 2017. Disponível em: http://educa.fcc.org.br/pdf/conjectura/</p><p>v22n1/2178-4612-conjectura-22-01-00069.pdf. Acesso em: 16 jul.</p><p>2020.</p><p>é importante, favorecendo a</p><p>construção do conhecimento e a aquisição dos saberes expostos</p><p>pelo docente dentro do cotidiano educacional.</p><p>11DIDÁTICA DO ENSINO SUPERIOR</p><p>U</p><p>ni</p><p>da</p><p>de</p><p>2</p><p>Assim, se o docente tem a docência como a área em que</p><p>atua, além das peculiaridades referentes aos diferentes campos</p><p>de conhecimento, a didática também faz parte do quadro, sendo</p><p>um conteúdo próprio pertencente à prática pedagógica da univer-</p><p>sidade.</p><p>De acordo com Camilloni (2008, p. 22), “A didática é uma</p><p>disciplina teórica que se ocupa de estudar a ação pedagógica”.</p><p>As discussões sobre didática no Brasil têm</p><p>ocorrido com altos e baixos, de modo cíclico.</p><p>A história brasileira recente assim o indica.</p><p>O advento do escolanovismo a partir da</p><p>década de 30 foi interrompido bruscamente</p><p>pelo tecnicismo – teoria pedagógica</p><p>instrumentalista – característico da ditadura</p><p>militar e pela repressão dos debates</p><p>divergentes. Vale observar que, apesar disso, o</p><p>escolanovismo também já se apresentava com</p><p>viés tecnicista. Com a anistia, as discussões</p><p>foram retomadas no sentido de uma didática</p><p>de base dialética, conectada com a realidade</p><p>social ou com a situação sócio-histórica.</p><p>Na década de 90, as políticas educacionais</p><p>neoliberais entram em cena, assim como o</p><p>imperativo de garantir o acesso universal à</p><p>educação, recuperando novamente certo</p><p>tecnicismo, agora literalmente conectado às</p><p>novas tecnologias disponíveis. Essa oscilação</p><p>pendular humanismo-tecnicismo parece</p><p>persistir até o presente (...). (ZASLAVSKY, 2017,</p><p>p. 73)</p><p>12 DIDÁTICA DO ENSINO SUPERIOR</p><p>U</p><p>ni</p><p>da</p><p>de</p><p>2</p><p>De forma concisa, a conceituação da ação pedagógica é</p><p>tida como unidirecional e não por meio da interação. Ela não se</p><p>assemelha à ação docente, mas sim à articulação efetiva no que</p><p>se refere à ação docente ligada à ação discente, para que o enten-</p><p>dimento seja obtido. Já a didática tem o foco direcionado para a</p><p>reflexão, que possibilita a orientação referente ao entendimento</p><p>em situação de assimetria que passa a existir entre o professor e</p><p>os alunos (Zaslavsky, 2017).</p><p>É perceptível no ensino superior a existência de um dis-</p><p>tanciamento entre os docentes no que se refere às práticas ino-</p><p>vadoras na pedagogia, persistindo no conservadorismo e autori-</p><p>tarismo. Com isso, fica evidente uma resistência, de certa forma</p><p>natural, ao abandono de métodos ultrapassados, os quais tinham</p><p>o ensino-aprendizagem como base do processo em que as infor-</p><p>mações eram acumuladas. Nesse contexto, o ensino-aprendiza-</p><p>gem é resumido na simplificação do ato de transmissão do saber</p><p>por meio de aulas que têm o professor como centro.</p><p>Com o passar do tempo na realização do ensino-aprendiza-</p><p>gem, o docente se responsabiliza por uma pedagogia no momento</p><p>em que ele privilegia e seleciona procedimentos específicos para</p><p>que seus objetivos relacionados aos alunos sejam alcançados.</p><p>No momento em que o professor tem como objetivo a</p><p>criação de condições que venham a possibilitar ao aluno a apren-</p><p>dizagem de conhecimento, a condução da disciplina passa a ser</p><p>um desafio pedagógico. Nesse cenário, para ter êxito no desenvol-</p><p>vimento do processo de ensino-aprendizagem, o docente, além</p><p>de ter conhecimento relacionado ao conteúdo específico, também</p><p>apresenta a necessidade de ter em seu poder o conhecimento pe-</p><p>dagógico, habilitando-o a trabalhar o conteúdo, favorecendo, as-</p><p>sim, a aprendizagem do discente. Em outras palavras, o docente</p><p>13DIDÁTICA DO ENSINO SUPERIOR</p><p>U</p><p>ni</p><p>da</p><p>de</p><p>2</p><p>tem a necessidade de criar estratégias no intuito de transforma-</p><p>ção da matéria em condicionantes favoráveis ao aprendizado.</p><p>Imagem 2. 2 – Alguns condicionantes para transformação da matéria</p><p>Tempo</p><p>Projeto pedagógico</p><p>Motivação dos alunos</p><p>Fonte: Elaborado pela autoria (2023).</p><p>Didática e a ação pedagógica</p><p>O exercício da docência é um grande desafio, pois exige do</p><p>profissional características específicas que não podem ser negli-</p><p>genciadas em nenhuma condição. Além disso, há um envolvimen-</p><p>to indispensável de um conjunto de capacidades técnicas que são</p><p>substanciais para o exercício da função de docente, e que devem</p><p>ser desenvolvidas continuamente que são:</p><p>• Adquiridas;</p><p>• Aperfeiçoadas;</p><p>• Recriadas;</p><p>• Atualizadas.</p><p>O ramo da pedagogia ou docência necessita que os co-</p><p>nhecimentos disciplinares, profissionais e investigativos sejam do-</p><p>minados para o desenvolvimento do processo de ensino-apren-</p><p>dizagem, que envolve o trabalho de sujeitos cognoscentes sobre</p><p>objetos cognoscíveis.</p><p>14 DIDÁTICA DO ENSINO SUPERIOR</p><p>U</p><p>ni</p><p>da</p><p>de</p><p>2</p><p>Imagem 2. 3 – Trabalhos que envolvem sujeitos</p><p>Sujeitos cognoscentes</p><p>Objeto cognoscível</p><p>• Professores e alunos</p><p>• Conhecimento</p><p>Fonte: Elaborado pela autoria (2023).</p><p>Esses trabalhos são realizados em contextos estabeleci-</p><p>dos, com o objetivo de promover a formação humana.</p><p>É exclusividade da Didática a responsabilidade pelas fun-</p><p>damentações e teorizações sobre os procedimentos e conceitos</p><p>relacionados à relação entre docentes e discentes no contexto do</p><p>conhecimento, como ensinar e aprender. Portanto, no campo da</p><p>produção de conhecimentos relacionados ao ensino, a Didática</p><p>gera saberes fundamentais tanto para a formação quanto para a</p><p>prática da profissão docente. Por esse motivo, a Didática é consi-</p><p>derada uma disciplina essencial nos cursos de licenciatura, tendo</p><p>a responsabilidade de formar docentes, manifestando-se no ato</p><p>do ensino (CRUZ, 2017).</p><p>Para a prática da ação pedagógica, há uma exigência com-</p><p>plexa e variada relacionada à articulação de várias formalizações,</p><p>como:</p><p>• Científico-didática;</p><p>• Pedagógicas;</p><p>• Teórico-científicas.</p><p>15DIDÁTICA DO ENSINO SUPERIOR</p><p>U</p><p>ni</p><p>da</p><p>de</p><p>2</p><p>Existe a reivindicação desses conhecimentos, pois a ativi-</p><p>dade da docência implica em vários fatores, como:</p><p>• Articulação de saberes diferentes na sua atuação de</p><p>ensino;</p><p>• A maneira como o docente analisa e compreende as</p><p>práticas educativas utilizadas por ele;</p><p>• Sua atitude ao se deparar com o desconhecido ou</p><p>inesperado.</p><p>Ainda segundo o estudo realizado por Cruz (2017),</p><p>Ora, sendo a didática o domínio de</p><p>conhecimento sobre o processo ensino-</p><p>aprendizagem e sendo o ensino a ação que</p><p>especifica a função docente, os saberes que</p><p>o professor possui, mobiliza, transforma</p><p>e recria, a partir de nova compreensão,</p><p>para ensinar e fazer o aluno aprender é a</p><p>didática em si. Nesse sentido, esse campo,</p><p>mais do que aquilo que faz o professor para</p><p>ensinar, representa também a própria base</p><p>de fundamentos acerca do que ele reflete,</p><p>analisa, compara, escolhe, decide, propõe,</p><p>implementa, avalia e registra para ensinar,</p><p>constituindo-se, portanto, em síntese da</p><p>sua base de conhecimento profissional</p><p>e expressão objetiva de seu raciocínio</p><p>pedagógico. (CRUZ, 2017, p. 677)</p><p>16 DIDÁTICA DO ENSINO SUPERIOR</p><p>U</p><p>ni</p><p>da</p><p>de</p><p>2</p><p>SAIBA MAIS</p><p>Você quer se aprofundar mais nesse tema? Reco-</p><p>mendamos o acesso à seguinte fonte de consulta</p><p>e aprofundamento - artigo ”Didática e docência no</p><p>ensino superior”, de Cruz (2017), disponível aqui.</p><p>Assim, o estudo sobre a ação pedagógica no que se refere</p><p>à relação entre teoria e prática dentro da sala de aula com os dis-</p><p>centes do ensino superior é observado com extrema importância</p><p>para investigar duas questões consideradas fundamentais:</p><p>1. Se algum tipo de atividade proporcionou a aproximação</p><p>para novas vivências, como a realização de teatro,</p><p>danças, construção de maquetes e brincadeiras, de</p><p>forma que favoreceu a constituição de novos olhares</p><p>relacionados à sociedade e à cultura, de maneira</p><p>que suas futuras práticas pedagógicas puderam ser</p><p>redirecionadas.</p><p>2. Se os alunos mostraram mudanças qualitativas</p><p>diante da proposta das atividades, no que se refere</p><p>à organização, planejamento e reflexão teórica, além</p><p>da organização no decorrer das atividades, em que</p><p>seu modo de pensar e agir foram influenciados e</p><p>modificados. Em outras palavras, se a promoção dessas</p><p>atividades teve resultados de humanização no âmbito</p><p>da transformação pessoal dos alunos, sobre o curso e</p><p>seu propósito social.</p><p>https://www.scielo.br/pdf/rbeped/v98n250/2176-6681-rbeped-98-250-672.pdf</p><p>17DIDÁTICA DO ENSINO SUPERIOR</p><p>U</p><p>ni</p><p>da</p><p>de</p><p>2</p><p>É de fundamental importância a formação inicial de docen-</p><p>tes no que se refere ao desenvolvimento das ações pedagógicas</p><p>humanizadoras, pois, por meio dessa formação, o campo educa-</p><p>cional tem a possibilidade de ser transformado.</p><p>Desse modo, o espaço prático referente à aprendizagem</p><p>ligado à docência não pode se limitar exclusivamente ao estágio</p><p>docente, ele precisa:</p><p>• Estar em sala de aula;</p><p>• Estar mediando a relação entre teoria e prática para</p><p>possibilitar a problematização de situações;</p><p>• Da organização e planejamento de atividades.</p><p>Dessa forma, Libâneo (2014) relata em seu trabalho que:</p><p>Podemos, numa breve síntese, concluir que</p><p>a questão sobre o “campo do didático” se</p><p>resolve, em primeira instância, pelo papel do</p><p>ensino em criar as condições para assegurar</p><p>a relação do aluno com um saber (mediação,</p><p>compartilhamento de significados), levando</p><p>a uma mudança qualitativa nas relações</p><p>com esse saber promovendo, assim, o</p><p>desenvolvimento humano. A atividade de</p><p>ensino que visa a organização das formas</p><p>de relação com um saber é permeada pela</p><p>atividade social coletiva e pela atividade</p><p>de aprendizagem individual. Além disso,</p><p>essas atividades se dão em contextos de</p><p>práticas socioculturais, as quais atuam nas</p><p>formas de aprendizagem e nos processos de</p><p>subjetivação. (LIBÂNEO, 2014, p. 137)</p><p>18 DIDÁTICA DO ENSINO SUPERIOR</p><p>U</p><p>ni</p><p>da</p><p>de</p><p>2</p><p>Ainda de acordo com o autor, a Didática é tida como uma</p><p>disciplina pedagógica. Isso quer dizer que ela é considerada uma</p><p>vertente da pedagogia, juntamente com outras disciplinas que fa-</p><p>zem parte dessa área.</p><p>Imagem 2. 4 – Outras disciplinas consideradas vertentes da pedagogia</p><p>Teoria da Educação</p><p>Teoria da Organização Escolar</p><p>Psicologia Educacional</p><p>Teoria da Escola</p><p>Sociologia Educacional</p><p>Fonte: Elaborado pela autoria (2023).</p><p>Assim, constrói-se uma ponte entre as disciplinas relacio-</p><p>nadas à fundamentação teórica e às práticas de ensino, promo-</p><p>vendo uma reflexão que envolve a teoria do ensino-aprendizagem</p><p>ocasionada pela teoria pedagógica e por outras ciências educacio-</p><p>nais. Dessa forma, a didática agrega características pertencentes</p><p>ao processo de ensino-aprendizagem, além de sua relação com as</p><p>peculiaridades epistemológicas das matérias de ensino de forma</p><p>individual.</p><p>As didáticas específicas, interligadas com a didática bási-</p><p>ca, objetivam estudar as particularidades do processo de ensino</p><p>referente a cada disciplina, envolvendo os conteúdos, objetivos e</p><p>métodos.</p><p>19DIDÁTICA DO ENSINO SUPERIOR</p><p>U</p><p>ni</p><p>da</p><p>de</p><p>2</p><p>A ação pedagógica refere-se aos fracionamentos das dis-</p><p>ciplinas anteriores que são necessários. Em outras palavras, ela</p><p>abrange tanto o processo quanto o resultado da formação docen-</p><p>te resultante dessas disciplinas e do currículo em sua totalidade.</p><p>São apresentadas como momentos de experiências em que os fu-</p><p>turos docentes constituem um contato mais literal com o campo</p><p>profissional do trabalho. Isso significa que existe um estreitamen-</p><p>to direcionado à realidade escolar em suas diversas faces, bus-</p><p>cando a reflexão e envolvendo essa mesma realidade, resultando</p><p>no enriquecimento intrinsecamente ligado à dimensão prática da</p><p>teoria.</p><p>A ação pedagógica deve ser organizada em concordância</p><p>tanto com a didática quanto com as didáticas específicas, pois jun-</p><p>tas elas constituem uma unidade. Além disso, é interessante que</p><p>as demais disciplinas do currículo em sua totalidade estejam arti-</p><p>culadas com as práticas de ensino.</p><p>RESUMINDO</p><p>E então? Gostou do que mostramos? Aprendeu</p><p>tudo direitinho? Agora, só para termos certeza de</p><p>que você realmente entendeu o tema deste capítu-</p><p>lo, vamos resumir tudo o que vimos.</p><p>Você deve ter aprendido sobre a didática e seu</p><p>papel no ensino superior, sua relação com a ação</p><p>pedagógica na formação de profissionais, e como</p><p>ela, em conjunto com as demais disciplinas do</p><p>currículo, atua sobre os alunos e influencia a for-</p><p>mação dos futuros profissionais docentes quando</p><p>trabalhada de forma eficiente.</p><p>20 DIDÁTICA DO ENSINO SUPERIOR</p><p>U</p><p>ni</p><p>da</p><p>de</p><p>2</p><p>Elementos do processo</p><p>didático</p><p>OBJETIVO</p><p>Ao finalizar este capítulo você será capaz de averi-</p><p>guar os componentes do processo didático e seus</p><p>elementos. Isto será de fundamental importância</p><p>para o exercício de sua profissão. E então? Moti-</p><p>vado para desenvolver esta competência? Então</p><p>vamos lá.</p><p>O processo didático</p><p>O processo didático tem como centro a fundamental rela-</p><p>ção entre o ensino e a aprendizagem, que são desenvolvidos de</p><p>forma a envolver um confronto ativo do aluno com a matéria, com</p><p>mediação docente. A principal função do docente é validar a uni-</p><p>dade didática que deve existir entre ensino e aprendizagem, como</p><p>resultado do processo de ensino. Ensino e aprendizagem repre-</p><p>sentam duas particularidades pertencentes a um mesmo proces-</p><p>so. O docente realiza o planejamento, dirige e controla o processo</p><p>de ensino, com o objetivo de estimular e suscitar a atividade pró-</p><p>pria dos discentes no que se refere à aprendizagem.</p><p>O processo didático se caracteriza pela reciprocidade da</p><p>ação que existe entre três componentes:</p><p>21DIDÁTICA DO ENSINO SUPERIOR</p><p>U</p><p>ni</p><p>da</p><p>de</p><p>2</p><p>Imagem 2. 5 – Componentes do processo didático</p><p>Conteúdos</p><p>Aprendizagem Ensino</p><p>Fonte: Elaborado pela autoria (2023).</p><p>No que se refere aos conteúdos, eles correspondem às</p><p>disciplinas ou matérias, em que os conhecimentos são sistemati-</p><p>zados, constituindo a base para que os objetivos se concretizem.</p><p>Já a atividade docente, no que se refere à seleção, organização e</p><p>explicação dos conteúdos, é considerada ensino. Além disso, inclui</p><p>a organização das atividades discentes para o estudo, consideran-</p><p>do objetivos, formas de organização, métodos e meios que mais</p><p>se adequam ao papel da aprendizagem do discente. A aprendiza-</p><p>gem, por sua vez, representa a atividade do discente relacionada à</p><p>assimilação de habilidades e conhecimentos.</p><p>Esses componentes atuam com referência a objetivos que</p><p>explicitam exigências pedagógicas e sociopolíticas determinadas,</p><p>baseando-se também em um conjunto de condições referentes a</p><p>uma situação didática real.</p><p>22 DIDÁTICA DO ENSINO SUPERIOR</p><p>U</p><p>ni</p><p>da</p><p>de</p><p>2</p><p>O processo de ensino</p><p>O processo de ensino é de fundamental importância para</p><p>que os discentes possam progredir intelectualmente. Ele abrange</p><p>a assimilação de conhecimentos pelos alunos, mas também inclui</p><p>outras tarefas.</p><p>Para garantir uma assimilação ativa, o docente deve ado-</p><p>tar algumas ações, como:</p><p>• Passar previamente os objetivos do ensino;</p><p>• Explicar a matéria;</p><p>• Estimular os alunos a compartilharem conhecimentos</p><p>que já dominam;</p><p>• Incentivar o desejo dos alunos de aprender uma nova</p><p>matéria.</p><p>A matéria deve ser apresentada de forma compreensível e</p><p>significativa, levando em consideração o nível de capacidade cog-</p><p>nitiva dos discentes, além de empregar métodos que sejam efica-</p><p>zes para o ensino.</p><p>Assim, o ensino é uma combinação adequada entre a</p><p>condução do processo de ensino pelo professor e uma atividade</p><p>voltada para a autonomia e independência do aluno por meio da</p><p>assimilação ativa. Em outras palavras, o processo de ensino é uma</p><p>atividade mediadora que proporciona as condições e os meios</p><p>para que os alunos se tornem sujeitos ativos capazes de assimilar</p><p>conhecimentos.</p><p>O ensino consiste na resposta planejada às exigências na-</p><p>turais do processo de aprendizagem. Daí que mais importante é o</p><p>professor acompanhar a aprendizagem do aluno do que se con-</p><p>centrar demasiadamente no assunto a ser ensinado, ou mesmo</p><p>23DIDÁTICA DO ENSINO SUPERIOR</p><p>U</p><p>ni</p><p>da</p><p>de</p><p>2</p><p>nas técnicas didáticas como tais. O ensino é visto como resultan-</p><p>te de uma relação pessoal do professor com o aluno. O segredo</p><p>do bom ensino é o entusiasmo pessoal do professor, que vem do</p><p>seu amor a ciência e aos alunos. Esse entusiasmo pode e deve ser</p><p>canalizado, mediante planejamento e metodologia adequados,</p><p>sobretudo para o estímulo ao entusiasmo dos alunos pela realiza-</p><p>ção, por iniciativa própria, dos esforços intelectuais e morais que</p><p>a</p><p>aprendizagem exige. (SANTOS, 2001, p. 70)</p><p>Dessa forma, a aprendizagem que os discentes adquirem</p><p>ao longo de sua formação, por meio do estudo das disciplinas, re-</p><p>sulta no progressivo aprimoramento de suas funções intelectuais</p><p>e saberes.</p><p>Libâneo (1994) relata em seu livro que o ensino apresenta</p><p>três funções consideradas inseparáveis.</p><p>Imagem 2. 6 – Funções do ensino</p><p>Organização de conteúdos para que possam ser trans-</p><p>mitidos de forma que os alunos possam ter uma rela-</p><p>ção subjetiva com eles.</p><p>Auxiliar os alunos a conhecerem suas possibilidades de</p><p>aprender, orientar suas dificuldades, indicar métodos</p><p>de estudo e atividades para que possam aprender de</p><p>forma autônoma e independente.</p><p>Dirigir e controlar a atividade docente para os objetivos</p><p>da aprendizagem.</p><p>Fonte: Elaborado pela autoria (2023).</p><p>24 DIDÁTICA DO ENSINO SUPERIOR</p><p>U</p><p>ni</p><p>da</p><p>de</p><p>2</p><p>Ainda segundo o autor, a atividade do ensino está ligada,</p><p>de forma mais ampla, à vida social, que pode ser chamada de prá-</p><p>tica social. De forma ampla, o ensino atua como mediador entre o</p><p>indivíduo e a sociedade.</p><p>Essa função de mediação tem o significado de explicitar</p><p>os objetivos da formação acadêmica mediante as exigências rela-</p><p>cionadas ao contexto social, cultural e político de uma sociedade</p><p>marcada pelos antagonismos de interesses dos grupos sociais.</p><p>Isso envolve entender que, ao dominar habilidades e conheci-</p><p>mentos, o indivíduo pode usar esses instrumentos para superar</p><p>as condições ligadas à origem social, seja por meio da luta coleti-</p><p>va para transformar a sociedade ou pela melhoria de sua própria</p><p>condição de vida.</p><p>Além do que foi exposto, outros elementos situacionais</p><p>ligados ao processo de ensino-aprendizagem condicionam a ativi-</p><p>dade do ensino, como:</p><p>• Os mecanismos de gestão;</p><p>• A organização do ambiente;</p><p>• As fontes de conhecimentos utilizadas;</p><p>• O material didático;</p><p>• O propósito unitário do grupo docente, entre outros.</p><p>25DIDÁTICA DO ENSINO SUPERIOR</p><p>U</p><p>ni</p><p>da</p><p>de</p><p>2</p><p>SAIBA MAIS</p><p>Você quer se aprofundar mais nesse tema? Reco-</p><p>mendamos o acesso à seguinte fonte de consulta</p><p>e aprofundamento - capítulo do livro “O processo</p><p>do ensino na escola”, de Libâneo (1994), disponível</p><p>aqui .</p><p>O processo de aprendizagem</p><p>Para que o processo de ensino seja conduzido de forma</p><p>eficaz, é essencial uma clara e segura compreensão sobre a apren-</p><p>dizagem, que envolve:</p><p>• A forma como as pessoas aprendem;</p><p>• A influência de condições externas e internas sobre</p><p>esse processo.</p><p>De maneira geral, a aprendizagem pode ser adquirida por</p><p>meio de qualquer atividade praticada pelo ser humano em seu</p><p>ambiente. Desde o nascimento, inicia-se o processo de aprendiza-</p><p>gem, que perdura ao longo da vida.</p><p>O processo de aprendizagem pode ser classificado em</p><p>dois aspectos.</p><p>https://www.professorrenato.com/attachments/article/161/Didatica%20Jose-carlos-libaneo_obra.pdf</p><p>26 DIDÁTICA DO ENSINO SUPERIOR</p><p>U</p><p>ni</p><p>da</p><p>de</p><p>2</p><p>Imagem 2. 7 – Aspectos do processo de aprendizagem</p><p>Aprendizagem casual</p><p>Aprendizagem organizada</p><p>Fonte: Elaborado pela autoria (2023).</p><p>Aprendizagem casual</p><p>Na aprendizagem casual, destaca-se a espontaneidade,</p><p>que surge naturalmente da interação entre as pessoas e o am-</p><p>biente ao qual pertencem. Isso significa que ela ocorre por meio</p><p>da observação de acontecimentos e objetos, da convivência em</p><p>sociedade, do acesso a meios de comunicação, conversas, leitu-</p><p>ras, entre outros. Dessa forma, há um acúmulo de experiências,</p><p>aquisição de conhecimentos, formação de convicções e desenvol-</p><p>vimento de atitudes.</p><p>Aprendizagem organizada</p><p>A aprendizagem organizada, por outro lado, é direcionada</p><p>especificamente para adquirir habilidades, conhecimentos e nor-</p><p>mas necessárias para a convivência social. Embora possa ocorrer</p><p>em diversos contextos, as condições específicas para transmitir</p><p>e assimilar esse conhecimento e habilidades são predominante-</p><p>mente encontradas no ambiente escolar. Assim, a organização</p><p>intencional, sistemática e planejada das condições e objetivos da</p><p>aprendizagem é uma função particular do ensino.</p><p>27DIDÁTICA DO ENSINO SUPERIOR</p><p>U</p><p>ni</p><p>da</p><p>de</p><p>2</p><p>Dessa forma, para o autor Libâneo (1994):</p><p>Isso significa que podemos aprender</p><p>conhecimentos sistematizados(fatos,</p><p>conceitos, princípios, métodos de</p><p>conhecimento etc.); habilidades e hábitos</p><p>intelectuais e sensório motores (observar</p><p>um fato e extrair conclusões, destacar</p><p>propriedades e relações das coisas, dominar</p><p>procedimentos para resolver exercícios,</p><p>escrever e ler, uso adequado dos sentidos,</p><p>manipulação de objetos e instrumentos, etc.);</p><p>atitudes e valores (por exemplo, perseverança</p><p>e responsabilidade no estudo, modo científico</p><p>de resolver problemas humanos, senso crítico</p><p>frente aos objetivos de estudo e a realidade,</p><p>espírito de camaradagem e solidariedade,</p><p>convicções, valores humanos e sociais,</p><p>interesse pelo conhecimento, modos de</p><p>convivência social etc.). (LIBÂNEO, 1994, p. 83)</p><p>Os resultados estão incorporados tanto nos objetivos</p><p>quanto nos conteúdos de ensino. No processo de ensino, são es-</p><p>tabelecidos objetivos, métodos e conteúdos, porém sua assimila-</p><p>ção depende da atividade mental dos discentes.</p><p>A aprendizagem e o processo de</p><p>assimilação ativa</p><p>Segundo Libâneo (1994), a assimilação ativa, também co-</p><p>nhecida como apropriação de habilidades e conhecimentos, ocor-</p><p>re por meio de um processo que envolve diversas características.</p><p>28 DIDÁTICA DO ENSINO SUPERIOR</p><p>U</p><p>ni</p><p>da</p><p>de</p><p>2</p><p>Imagem 2. 8 – Características para que ocorra assimilação ativa</p><p>Percepção</p><p>Reflexão</p><p>Aplicação Compreensão</p><p>Fonte: Elaborado pela autoria (2023).</p><p>Essas características são desenvolvidas por meio dos</p><p>meios motivacionais, atitudinais e intelectuais do próprio discen-</p><p>te, com orientação e direcionamento do professor. Este conceito</p><p>é fundamental tanto na teoria instrucional quanto no processo de</p><p>ensino, proporcionando a compreensão de que aprender significa</p><p>assimilar relações do mundo, fatos e fenômenos da sociedade e</p><p>da natureza por meio do estudo.</p><p>Portanto, a aprendizagem se estabelece como uma rela-</p><p>ção cognitiva entre o sujeito e os objetos que fornecem o conhe-</p><p>cimento. Nesse processo, o sujeito interage com os objetos de co-</p><p>nhecimento para que ocorra a assimilação, ao mesmo tempo em</p><p>que é influenciado pelas propriedades do objeto, modificando e</p><p>enriquecendo suas estruturas mentais.</p><p>É através desse processo que ampliamos nossa compreen-</p><p>são da realidade e buscamos transformações, visando interesses</p><p>sociais e humanos.</p><p>29DIDÁTICA DO ENSINO SUPERIOR</p><p>U</p><p>ni</p><p>da</p><p>de</p><p>2</p><p>Em síntese, temos nas situações didáticas fatores externos</p><p>e internos mutuamente relacionados. O professor propõe objeti-</p><p>vos e conteúdos, tendo em conta características dos alunos e da</p><p>sua prática de vida. Os alunos, por sua vez, dispõem em seu or-</p><p>ganismo físico-psicológico de meios internos de assimilação ativa,</p><p>meios esses que constituem o conjunto de suas capacidades cog-</p><p>noscitivas, tais como: percepção, motivação, compreensão, me-</p><p>mória, atenção, atitudes, conhecimentos já disponíveis. (LIBÂNEO,</p><p>1994, p. 84)</p><p>Ainda segundo o autor, é possível concluir que nenhum</p><p>discente possui capacidades cognitivas prontas e acabadas des-</p><p>de o nascimento. Essas capacidades se desenvolvem ao longo da</p><p>vida, especialmente no processo de ensino, onde os conhecimen-</p><p>tos são assimilados.</p><p>O ensino-aprendizagem</p><p>Em resumo, a relação entre ensino e aprendizagem não</p><p>é mecânica; não se resume a uma simples transmissão na qual</p><p>o professor ensina e o discente apenas absorve. Trata-se de uma</p><p>relação recíproca, na qual se destaca o papel do professor como</p><p>guia e a atividade dos discentes.</p><p>Dessa forma, compreendemos que o ensino possui diver-</p><p>sos objetivos.</p><p>Imagem 2. 9 – Objetivos do ensino</p><p>Estimular IncentivarDirigir Impulsionar</p><p>Fonte: Elaborado pela autoria (2023).</p><p>30 DIDÁTICA DO ENSINO SUPERIOR</p><p>U</p><p>ni</p><p>da</p><p>de</p><p>2</p><p>O ensino, como já discutido anteriormente, possui um ca-</p><p>ráter eminentemente pedagógico, o que significa que seu papel é</p><p>direcionar de maneira definida o processo realizado na instituição</p><p>de ensino.</p><p>Professor-aluno e a relação entre eles</p><p>O processo educativo é orientado pela interação entre o</p><p>docente e o discente. A qualidade dessa interação pode favorecer</p><p>mais ou menos a aprendizagem do aluno e direcioná-la para dife-</p><p>rentes caminhos.</p><p>O comportamento do professor em sala de aula é crucial,</p><p>pois desempenha um papel fundamental no processo de aprendi-</p><p>zagem. A relação estabelecida entre aluno e professor pode tanto</p><p>facilitar quanto dificultar o aprendizado.</p><p>Portanto, observamos que o processo didático desem-</p><p>penha um papel fundamental ao ajudar a resolver contradições</p><p>entre ensino e aprendizagem, além de identificar as dificuldades</p><p>enfrentadas pelos discentes para que possam progredir intelec-</p><p>tualmente.</p><p>31DIDÁTICA DO ENSINO SUPERIOR</p><p>U</p><p>ni</p><p>da</p><p>de</p><p>2</p><p>SAIBA MAIS</p><p>Você quer se aprofundar mais nesse tema? Reco-</p><p>mendamos o acesso à seguinte fonte de consulta</p><p>e aprofundamento - artigo: “O processo de en-</p><p>sino-aprendizagem e a relação professor-aluno:</p><p>aplicação dos ‘sete princípios para a boa prática na</p><p>educação do ensino superior’”, de Santos (2001),</p><p>disponível aqui.</p><p>RESUMINDO</p><p>Vamos recapitular o que estudamos neste capí-</p><p>tulo para garantir seu entendimento. Exploramos</p><p>os elementos que compõem o processo didático,</p><p>incluindo os conteúdos, a aprendizagem, o ensino</p><p>e a relação entre ensino e aprendizagem. Observa-</p><p>mos como cada um desses elementos se integra</p><p>no processo educacional, enfatizando a interação</p><p>crucial entre professor e aluno e o papel funda-</p><p>mental desempenhado pelo professor no ambien-</p><p>te educacional.</p><p>https://www.sinprodf.org.br/wp-content/uploads/2012/01/tx_5_proc_ens_aprend.pdf</p><p>32 DIDÁTICA DO ENSINO SUPERIOR</p><p>U</p><p>ni</p><p>da</p><p>de</p><p>2</p><p>A didática e as tendências</p><p>pedagógicas</p><p>OBJETIVO</p><p>Ao finalizar este capítulo, você será capaz de anali-</p><p>sar as tendências pedagógicas e a didática. Isso se-</p><p>rá de fundamental importância para o exercício de</p><p>sua profissão. E então? Motivado para desenvolver</p><p>esta competência? Então, vamos lá.</p><p>A educação pode ser compreendida através das ações de</p><p>seus diversos agentes, refletindo as concepções que permeiam</p><p>esse campo. Portanto, é crucial entender como os docentes po-</p><p>dem construir suas práticas educacionais no Ensino Superior, pla-</p><p>nejando ações pedagógicas alinhadas com as tendências contem-</p><p>porâneas.</p><p>Embora a didática se preocupe com os métodos e técnicas</p><p>de ensino, é igualmente importante considerar seus fundamentos</p><p>e as influências que afetam sua aplicação. Nesse sentido, Prandi</p><p>(2009) questiona qual a tendência do processo didático-pedagógi-</p><p>co no ensino superior na atualidade.</p><p>33DIDÁTICA DO ENSINO SUPERIOR</p><p>U</p><p>ni</p><p>da</p><p>de</p><p>2</p><p>Pressupõe-se que o trabalho docente</p><p>constitui o exercício profissional do professor</p><p>e este é o seu primeiro compromisso com a</p><p>sociedade, haja vista que sua principal tarefa</p><p>é preparar os acadêmicos para se tornarem</p><p>cidadãos ativos e participantes na família,</p><p>no trabalho, nas associações de classe,</p><p>na vida cultural e política. É uma atividade</p><p>fundamentalmente social, porque contribui</p><p>para a formação cultural e científica do povo,</p><p>tarefa indispensável para outras conquistas</p><p>democráticas. O desafio é educar as pessoas,</p><p>proporcionando-lhes um desenvolvimento</p><p>humano, cultural, científico e tecnológico, de</p><p>modo que adquiram condições para enfrentar</p><p>as exigências do mundo contemporâneo.</p><p>(PRANDI, 2009, p. 138)</p><p>Diante da concepção pedagógica de cada instituição, são</p><p>definidos os objetivos, conteúdos, estratégias, metodologias de</p><p>ensino-aprendizagem e avaliação. Portanto, é crucial determinar</p><p>as tendências pedagógicas, pois orientam o trabalho do educador</p><p>e auxiliam na busca por respostas para as seguintes questões:</p><p>Imagem 2. 10 – Indagações para determinar as tendências pedagógicas</p><p>O que</p><p>ensinar?</p><p>Para</p><p>quem?</p><p>Para quê?</p><p>Por quê?</p><p>Como?</p><p>Fonte: Elaborado pela autoria (2023).</p><p>34 DIDÁTICA DO ENSINO SUPERIOR</p><p>U</p><p>ni</p><p>da</p><p>de</p><p>2</p><p>A busca pela qualidade do ensino tem sido uma preocu-</p><p>pação contínua, e a avaliação realizada para medir o desempenho</p><p>dos estudantes leva as instituições de ensino superior a adapta-</p><p>rem seus currículos, métodos de ensino e recursos pedagógicos.</p><p>No entanto, diante dessa realidade, é essencial estudar</p><p>as tendências pedagógicas e suas características. As tendências</p><p>pedagógicas são reflexos das ações e ideias implementadas nas</p><p>instituições.</p><p>Para Ferreira (2003), entende-se por tendência</p><p>toda e qualquer orientação de cunho filosófico</p><p>e pedagógico que determina padrões e ações</p><p>educativas, ainda que esteja desprovida de</p><p>uma reflexão e de uma intencionalidade mais</p><p>concreta. Uma tendência pedagógica é, na</p><p>verdade, uma inclinação por pensamentos</p><p>e comportamentos pedagógicos lidos na</p><p>história da educação ou mesmo em outras</p><p>práticas pedagógicas hodiernas. (FERREIRA,</p><p>2003, p. 2)</p><p>É essencial clarificar as categorias que orientam a prática</p><p>ou estudo em educação, pois definir essas categorias remete o</p><p>autor a classificações e aderências a certas linhas de pensamento.</p><p>Essas linhas determinarão os caminhos a serem seguidos, refletin-</p><p>do assim a maneira como se concebe a educação.</p><p>Segundo Ferreira (2003), partindo do princípio de que toda</p><p>ação educativa implica fundamentalmente uma intencionalidade</p><p>política, é necessário, a partir dessa premissa, mover-se adiante, o</p><p>que só ocorre após compreender essas racionalidades.</p><p>É importante destacar que esse processo ocorre coletiva-</p><p>mente, sendo validado e consolidado no grupo de professores,</p><p>um momento e espaço propícios para a reflexão necessária e para</p><p>35DIDÁTICA DO ENSINO SUPERIOR</p><p>U</p><p>ni</p><p>da</p><p>de</p><p>2</p><p>discernir entre as diversas possibilidades que orientam a prática</p><p>educativa.</p><p>Vale destacar que, enquanto sujeito histórico,</p><p>cultural, o professor se faz a partir das ideias</p><p>e dos valores predominantes em cada época.</p><p>Assim, o professor parece caminhar muito</p><p>vagarosamente e com dificuldade para</p><p>incorporar as mudanças sociais. Atualmente,</p><p>o que tem se observado nas instituições de</p><p>ensino, sobretudo superior, é a tendência</p><p>de o professor manter-se cativo aos</p><p>conhecimentos que construiu durante toda</p><p>sua “vida de aluno” e incluindo-se aí o período</p><p>do curso de formação. (PRANDI, 2009, p. 140)</p><p>A classificação e descrição das tendências pedagógicas</p><p>brasileiras podem servir como ponto de partida para uma análise</p><p>mais crítica do trabalho docente, permitindo ao professor refle-</p><p>tir sobre sua postura em sala de aula e ajudando-o a compreen-</p><p>der como o conhecimento teórico relacionado à sua prática pode</p><p>orientar e redirecionar sua função educativa.</p><p>Segundo Libâneo (1990), as tendências pedagógicas bra-</p><p>sileiras podem ser categorizadas como liberais ou progressistas,</p><p>termos que indicam características distintas entre si.</p><p>36 DIDÁTICA DO ENSINO SUPERIOR</p><p>U</p><p>ni</p><p>da</p><p>de</p><p>2</p><p>Imagem 2. 11 – Tendências pedagógicas brasileiras</p><p>Liberal</p><p>Progressista</p><p>Fonte: Elaborado pela autoria (2023).</p><p>Pode-se afirmar que essas duas vertentes têm em comum</p><p>o fato de que ambas foram fortemente influenciadas por aconte-</p><p>cimentos e eventos históricos, políticos e socioculturais que ocor-</p><p>reram tanto no Brasil quanto no mundo.</p><p>Tendências pedagógicas liberais</p><p>As tendências liberais visam à reprodução dos modelos</p><p>sociais, atentando para as necessidades do mercado capitalista e</p><p>visando formar trabalhadores que ocupem as vagas pré-definidas</p><p>pelo mercado. Elas se dividem em quatro outras tendências:</p><p>• Tradicional: centrada no ensino voltado para o exterior;</p><p>• Renovada progressista: enfatiza métodos ativos de</p><p>aprendizagem;</p><p>• Renovada não diretiva: promove a autonomia e livre</p><p>iniciativa do educando no processo educativo;</p><p>• Tecnicista: utiliza técnicas específicas para o ensino.</p><p>37DIDÁTICA DO ENSINO SUPERIOR</p><p>U</p><p>ni</p><p>da</p><p>de</p><p>2</p><p>Imagem 2. 12 – Tendência pedagógica liberal</p><p>Te</p><p>nd</p><p>ên</p><p>ci</p><p>a</p><p>Li</p><p>be</p><p>ra</p><p>l Tradicional</p><p>Renovada</p><p>Progressista</p><p>Renovada</p><p>não diretiva</p><p>Tecnicista</p><p>Fonte: Elaborado pela autoria (2023).</p><p>Tendência tradicional</p><p>Na pedagogia tradicional, conforme Libâneo (1990, p. 64),</p><p>“a Didática é</p><p>uma disciplina normativa, um conjunto de princípios</p><p>e regras que regulam o ensino. A atividade de ensinar é centrada</p><p>no professor que expõe e interpreta a matéria”. Essa tendência é</p><p>centrada no ensino voltado para o exterior, onde a escola assume</p><p>o papel de preparar intelectual e moralmente os alunos para as-</p><p>sumirem seu papel na sociedade. Os conteúdos são transmitidos</p><p>aos alunos como verdades absolutas, uma vez que o conhecimen-</p><p>to e os valores sociais são vistos como acumulativos ao longo do</p><p>tempo. O método utilizado é baseado na lógica e na sequência</p><p>da matéria. Na relação professor-aluno, predomina a autoridade</p><p>do professor, que estabelece uma atitude receptiva por parte dos</p><p>alunos. Segundo Libâneo (1990), em consequência desse modelo</p><p>educativo, o processo de ensino-aprendizagem ocorre de forma</p><p>passiva e mecânica.</p><p>38 DIDÁTICA DO ENSINO SUPERIOR</p><p>U</p><p>ni</p><p>da</p><p>de</p><p>2</p><p>Tendência renovada progressista</p><p>A escola tem como papel se adaptar às necessidades in-</p><p>dividuais ao meio social. Os conteúdos são postos por meio das</p><p>experiências vivenciadas pelos alunos diante das situações-pro-</p><p>blemas. Os métodos ocorrem por meio de experiências, pesquisas</p><p>e solução de problemas. Na relação professor-aluno, o professor</p><p>auxilia o aluno no seu livre desenvolvimento. A aprendizagem é</p><p>fundamentada por meio da motivação e estímulos de problemas.</p><p>Essa tendência pretendia preparar o aluno</p><p>para a vida, buscando o aprendizado por meio</p><p>de descobertas, colocando o educando no</p><p>centro do processo de ensino-aprendizagem.</p><p>Essa vertente defende o conceito da cultura</p><p>como desenvolvimento das habilidades</p><p>individuais, preconizando uma educação que</p><p>enfoque a autoeducação (o educando como</p><p>sujeito do conhecimento). (OLIVEIRA, 2017, p.</p><p>18)</p><p>Tendência renovada não diretiva</p><p>Na tendência renovada progressista, a escola assume o</p><p>papel de adaptar-se às necessidades individuais e ao meio social.</p><p>Os conteúdos são apresentados por meio das experiências viven-</p><p>ciadas pelos alunos diante de situações-problema. Os métodos</p><p>educativos são baseados em experiências, pesquisa e resolução</p><p>de problemas. Na relação professor-aluno, o professor auxilia o</p><p>aluno em seu livre desenvolvimento. A aprendizagem é funda-</p><p>mentada na motivação e no estímulo para resolver problemas.</p><p>Conforme Oliveira (2017), nessa tendência,</p><p>39DIDÁTICA DO ENSINO SUPERIOR</p><p>U</p><p>ni</p><p>da</p><p>de</p><p>2</p><p>cujo enfoque centra-se mais ainda na</p><p>Imagem 2. do educando, preocupando-se</p><p>mais com seus aspectos psicológicos do que</p><p>intelectuais. Permeada por objetivos voltados</p><p>para a autorrealização e para as relações</p><p>interpessoais, com suas bases nas teorias do</p><p>psicólogo norte-americano Carl Rogers (1973),</p><p>para quem a descoberta por si mesmo seria</p><p>o aspecto mais relevante do processo de</p><p>ensino-aprendizagem. (OLIVEIRA, 2017, p. 19)</p><p>Tendência tecnicista</p><p>Essa tendência molda o comportamento humano por meio</p><p>de técnicas específicas. Os conteúdos são apresentados como in-</p><p>formações sistemáticas com uma sequência lógica e psicológica.</p><p>Os métodos consistem em técnicas e procedimentos para a trans-</p><p>missão e recepção de informações. Na relação professor-aluno,</p><p>ocorre a transmissão de informações pelo professor e a fixação</p><p>dessas informações pelo aluno. Nessa abordagem, a aprendiza-</p><p>gem é baseada no desempenho.</p><p>Segundo Luckesi e Aranha (2005; 1996, apud OLIVEIRA,</p><p>2017), nesse modelo de ensino, o professor assume o papel de</p><p>uma “ponte” entre o aluno e o conhecimento científico, atuando</p><p>como mero transmissor de conhecimento e executor de ordens</p><p>técnicas.</p><p>40 DIDÁTICA DO ENSINO SUPERIOR</p><p>U</p><p>ni</p><p>da</p><p>de</p><p>2</p><p>Tendências pedagógicas</p><p>progressistas</p><p>A pedagogia progressista se manifesta em três tendências</p><p>distintas:</p><p>• Libertadora: conhecida como pedagogia de Paulo Freire,</p><p>enfatiza a conscientização crítica e a emancipação dos</p><p>indivíduos por meio da educação.</p><p>• Libertária: defende a autogestão pedagógica,</p><p>promovendo a liberdade e a autonomia dos estudantes</p><p>na organização do seu aprendizado.</p><p>• Crítico-social dos conteúdos: diferentemente das</p><p>anteriores, prioriza a análise crítica dos conteúdos em</p><p>confronto com as realidades sociais, buscando uma</p><p>educação que promova a transformação social.</p><p>Imagem 2. 13 – Tendência pedagógica progressista</p><p>Te</p><p>nd</p><p>ên</p><p>ci</p><p>a</p><p>Pr</p><p>og</p><p>re</p><p>ss</p><p>is</p><p>ta</p><p>Libertadora</p><p>Crítico-social</p><p>dos conteúdos</p><p>Libertária</p><p>Fonte: Elaborado pela autoria (2023).</p><p>41DIDÁTICA DO ENSINO SUPERIOR</p><p>U</p><p>ni</p><p>da</p><p>de</p><p>2</p><p>Tendência libertadora</p><p>Essa tendência apresenta características que contrastam</p><p>com o modelo liberal de ensino, promovendo a participação ativa</p><p>do educando no contexto político-social em que está inserido. Se-</p><p>gundo Aranha (1996, apud OLIVEIRA, 2017) e com base na obra do</p><p>educador Paulo Freire,</p><p>a tendência progressista libertadora</p><p>ganhou forma na década de 60 através</p><p>do desenvolvimento de um processo de</p><p>alfabetização com jovens e adultos que</p><p>freire desenvolveu a partir do contexto social</p><p>desses alunos, oriundos da periferia do recife.</p><p>(ARANHA, 1996, apud OLIVEIRA, 2017, p. 26)</p><p>Essa tendência não se limita apenas às escolas; ela busca</p><p>conscientizar tanto professores quanto alunos sobre a realidade</p><p>em que vivem, visando à transformação social. Nesse contexto, os</p><p>conteúdos são temas geradores.</p><p>Assim, pretendia ter aplicabilidade de seus</p><p>princípios nas escolas públicas oficiais.</p><p>Caberia a escola, nesse caso, o papel de</p><p>transformadora da realidade social local, dos</p><p>conteúdos na forma de temas geradores,</p><p>que são elencados do contexto social e do</p><p>cotidiano dos alunos. (LIBÂNEO, 1994, apud</p><p>TARTARI, 2013, p. 38)</p><p>Tendência libertária</p><p>Na tendência libertária, a escola assume o papel de trans-</p><p>formar a personalidade dos alunos em direção a um modelo li-</p><p>bertário e autogestionário. Os conteúdos são apresentados, mas</p><p>não impostos. O método de ensino envolve a vivência grupal com</p><p>42 DIDÁTICA DO ENSINO SUPERIOR</p><p>U</p><p>ni</p><p>da</p><p>de</p><p>2</p><p>autogestão. A relação entre professor e aluno é não diretiva, onde</p><p>o professor atua como orientador e os alunos têm liberdade. A</p><p>aprendizagem ocorre de maneira informal, através de experiên-</p><p>cias coletivas. Além disso, nessa tendência,</p><p>a escola tornou-se responsável por formar</p><p>grupos de discussões com temática político-</p><p>sociais, tais como: assembleias associações,</p><p>eleições e outros movimentos sociais</p><p>semelhantes, onde o educando poderá utilizar</p><p>o conhecimento desenvolvido na instituição</p><p>escolar para manutenção destes movimentos</p><p>sociais. (ARANHA, 1996, apud OLIVEIRA, 2017,</p><p>p. 23)</p><p>Tendência crítico-social dos conteúdos</p><p>A tendência crítico-social dos conteúdos se preocupa com</p><p>uma educação voltada para a transformação social e para o de-</p><p>senvolvimento da consciência crítica dos educandos. Ela surgiu no</p><p>Brasil no final da década de 70 e início dos anos 80, tendo como</p><p>principal expoente o educador Dermeval Saviani.</p><p>No cenário educacional brasileiro alguns</p><p>dos principais autores que dissertam sobre</p><p>essa tendência são: Dermerval Saviani,</p><p>José Carlos Libâneo, Maria Lúcia de Arruda</p><p>Aranha, entre outros que defendem a ideia</p><p>de que trabalhar com desenvolvimento dos</p><p>conteúdos escolares é algo imprescindível</p><p>para a formação plena do indivíduo, todavia,</p><p>esses conteúdos não devem ser apresentados</p><p>de forma aleatória e tradicional, devem ser</p><p>vivos, significativos e associados as realidades</p><p>sociais. (OLIVEIRA, 2017, p. 34)</p><p>43DIDÁTICA DO ENSINO SUPERIOR</p><p>U</p><p>ni</p><p>da</p><p>de</p><p>2</p><p>Nessa tendência, a escola tem como papel a difusão dos</p><p>conteúdos culturais universais, que são organizados pela humani-</p><p>dade diante da realidade social. O método surge da relação entre</p><p>a experiência vivida pelo aluno e o conhecimento sistematizado.</p><p>Na relação professor-aluno, o aluno desempenha o papel de par-</p><p>ticipante ativo, enquanto o professor atua como mediador entre o</p><p>saber e o aluno. A aprendizagem é baseada nas estruturas cogni-</p><p>tivas já desenvolvidas pelos alunos.</p><p>SAIBA MAIS</p><p>Você quer se aprofundar mais nesse tema? Reco-</p><p>mendamos o acesso à seguinte fonte de consulta e</p><p>aprofundamento - artigo “Tendências</p><p>pedagógicas</p><p>e didática no ensino superior: um estudo de caso</p><p>no curso de pedagogia da Faculdade Salesiana</p><p>Dom Bosco de Manaus, de Rebêlo e Silva (2016),</p><p>disponível aqui.</p><p>http://periodicos.uea.edu.br/index.php/arete/article/view/242/242</p><p>44 DIDÁTICA DO ENSINO SUPERIOR</p><p>U</p><p>ni</p><p>da</p><p>de</p><p>2</p><p>RESUMINDO</p><p>E então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu</p><p>mesmo tudinho? Agora, só para termos certeza de</p><p>que você realmente entendeu o tema de estudo</p><p>deste capítulo, vamos resumir tudo o que vimos.</p><p>Você deve ter aprendido sobre as tendências libe-</p><p>rais e progressistas na educação. As tendências</p><p>liberais são representadas pelas abordagens tradi-</p><p>cional, renovada progressista, renovada não dire-</p><p>tiva e tecnicista. Já as tendências progressistas se</p><p>dividem em três vertentes: libertadora, libertária e</p><p>crítico-social dos conteúdos, esta última enfatizan-</p><p>do a importância dos conteúdos no contexto das</p><p>realidades sociais.</p><p>45DIDÁTICA DO ENSINO SUPERIOR</p><p>U</p><p>ni</p><p>da</p><p>de</p><p>2</p><p>A didática e o trabalho</p><p>dos professores no ensino</p><p>superior</p><p>OBJETIVO</p><p>Ao finalizar este capítulo, você será capaz de iden-</p><p>tificar a didática na tarefa dos professores no ensi-</p><p>no superior. Isso será de fundamental importância</p><p>para o exercício de sua profissão. E então? Moti-</p><p>vado para desenvolver esta competência? Então,</p><p>vamos lá.</p><p>A didática no ensino superior</p><p>A formação docente no ensino superior tem como função</p><p>torná-lo consciente sobre a complexidade e as problemáticas rela-</p><p>cionadas ao ensino, bem como:</p><p>• Formar profissionais;</p><p>• Formar no ensino superior;</p><p>• Formar professores;</p><p>• Formar pesquisadores.</p><p>Desse modo, surge um questionamento:</p><p>• Qual a função da didática na Educação?</p><p>Diante dessa pergunta, para a autora com Barbosa (2011):</p><p>46 DIDÁTICA DO ENSINO SUPERIOR</p><p>U</p><p>ni</p><p>da</p><p>de</p><p>2</p><p>O papel da didática na formação de professores</p><p>não está, para muitos, adequadamente</p><p>definido, o que gera indefinição de seu</p><p>próprio conteúdo. Alguns estudiosos têm</p><p>a sensação de que, ao tentar superar uma</p><p>visão meramente instrumental da didática,</p><p>esta se limita a suplementar conhecimentos</p><p>de filosofia, sociologia, psicologia, passando</p><p>a ser “invadida” por diferentes campos do</p><p>conhecimento e perdendo especificidade</p><p>própria. Outros consideram que a didática</p><p>deve ser entendida como um elemento</p><p>articulado dos conhecimentos produzidos</p><p>pelas disciplinas de Fundamentos da Educação</p><p>e Prática Pedagógica. (BARBOSA, 2011, p. 12)</p><p>A autora argumenta que a didática visa responder ao</p><p>“como fazer”, referindo-se à prática pedagógica, que por sua vez</p><p>só ganha sentido quando se articula com o “por que fazer” e o</p><p>“para que fazer”.</p><p>Assim, o ensino da didática no ensino superior parte de</p><p>uma visão abrangente do processo de ensino-aprendizagem, con-</p><p>siderando um cenário multidimensional da prática pedagógica</p><p>que requer compreensão e articulação integradas.</p><p>Imagem 2. 14 – Dimensões da didática sobre a prática pedagógica</p><p>Humana Técnica Político-</p><p>social</p><p>Fonte: Elaborado pela autoria (2023).</p><p>47DIDÁTICA DO ENSINO SUPERIOR</p><p>U</p><p>ni</p><p>da</p><p>de</p><p>2</p><p>Seguindo essa linha de raciocínio, as competências política</p><p>e técnica do docente se entrelaçam e se complementam mutua-</p><p>mente, sem possibilidade de separação. A dimensão técnica da</p><p>prática pedagógica precisa ser pensada à luz do projeto político-</p><p>-social que orienta sua atuação.</p><p>Portanto, é crucial reconhecer o papel significativo da</p><p>Didática como disciplina que não se limita à simples função de</p><p>planejar o ensino ou desenvolver técnicas de ensino no contex-</p><p>to educacional. Ela não é meramente normativa, instrumental ou</p><p>prescritiva; é uma disciplina que visa criar condições reais para</p><p>o ensino-aprendizagem, incorporando especificidades sociais e</p><p>compreendendo o ensino como uma prática social. Assim, ela tem</p><p>o potencial de promover inclusão social, emancipação política e</p><p>humana dos indivíduos.</p><p>E a importância da disciplina Didática. Ao</p><p>estudar o ensino como fenômeno complexo</p><p>e prática social, a didática busca compreender</p><p>o ensino em situação, suas funções sociais,</p><p>suas implicações mais amplas; realizar</p><p>ação autorreflexiva como componente do</p><p>fenômeno que estuda, (porque é parte</p><p>integrante da trama do ensinar); assim,</p><p>a didática, como parte do evento ensino,</p><p>ajuda a criar respostas novas assumindo</p><p>ao mesmo tempo um caráter explicativo,</p><p>compreensivo e projetivo, sobre a natureza do</p><p>ensino, seus problemas e suas causas, suas</p><p>consequências, suas possibilidades e seus</p><p>limites na construção do humano. (PIMENTA,</p><p>2012, p. 59)</p><p>48 DIDÁTICA DO ENSINO SUPERIOR</p><p>U</p><p>ni</p><p>da</p><p>de</p><p>2</p><p>Ainda segundo a autora, os docentes são profissionais for-</p><p>mados para mediar de modo crítico-reflexivo a relação entre alu-</p><p>no e conhecimento por meio de seu trabalho específico, que é o</p><p>ensino em determinada situação.</p><p>Deve ser destacado que a questão relacionada à didática,</p><p>visando fundamentar as práticas docentes no ensino superior, é</p><p>uma preocupação antiga. Muitos docentes não tiveram formação</p><p>específica para a docência; são profissionais de outras áreas que</p><p>se tornaram professores devido à especialização na sua discipli-</p><p>na. Embora possuam conhecimento especializado e experiência</p><p>prática, na maioria dos casos, carecem de formação pedagógica</p><p>ou didática.</p><p>A didática nos convida a refletir sobre nossa abordagem</p><p>diante da realidade e a considerar profundamente o significado</p><p>do ato de ensinar, especialmente dadas as circunstâncias atuais.</p><p>Ela nos orienta a pensar sobre aqueles que receberão nosso en-</p><p>sino, ativamente ou passivamente, sendo o discente o sujeito que</p><p>deve influenciar as práticas adotadas pelo professor, assim como</p><p>a teoria subjacente e os métodos empregados.</p><p>O discente está diante de nós, e a didática nos capacita a</p><p>observar esse sujeito, refletir sobre suas necessidades e organizar</p><p>o ensino com base nessa observação.</p><p>O trabalho docente</p><p>O trabalho docente nas universidades é um tema de gran-</p><p>de importância em diversos países. No Brasil, a formação para o</p><p>ensino superior não segue uma regulação específica como ocorre</p><p>na Educação Básica. Geralmente, os profissionais são formados</p><p>em cursos de pós-graduação, conforme permite a Lei de Diretrizes</p><p>e Bases.</p><p>49DIDÁTICA DO ENSINO SUPERIOR</p><p>U</p><p>ni</p><p>da</p><p>de</p><p>2</p><p>Muitos docentes veem seu trabalho como simplesmente</p><p>“aplicar” o conteúdo determinado pelo programa, frequentemen-</p><p>te seguindo um livro didático. Assim, é compreensível que muitos</p><p>no ensino superior não tenham formação específica em docência</p><p>e, consequentemente, subestimem a importância da formação</p><p>didática para seu desempenho profissional. Isso resulta em um</p><p>ensino que se limita à transmissão de conteúdos, muitas vezes re-</p><p>produzindo os modelos de professores que eles próprios tiveram</p><p>quando eram estudantes.</p><p>Imagem 2. 15 – Professor universitário em sala de aula</p><p>Fonte: Pixabay</p><p>Ao analisar detalhadamente a prática docente, percebe-se</p><p>que a falta de conhecimentos oriundos das ciências sociais e huma-</p><p>nas tem exposto os professores do ensino superior a dificuldades</p><p>frequentes relacionadas ao desenvolvimento e à compreensão de</p><p>sua profissão. Isso se deve ao fato de que a docência demanda do</p><p>profissional o domínio de habilidades e saberes diversos.</p><p>50 DIDÁTICA DO ENSINO SUPERIOR</p><p>U</p><p>ni</p><p>da</p><p>de</p><p>2</p><p>Esses professores possuem experiências e trajetórias sig-</p><p>nificativas em suas áreas de especialização específicas. No entan-</p><p>to, nas instituições de ensino superior, é perceptível uma lacuna</p><p>no conhecimento científico relacionado ao processo de ensino-</p><p>-aprendizagem. Esta lacuna pode resultar em dificuldades na in-</p><p>terpretação dos fenômenos que ocorrem ao longo de todo o pro-</p><p>cesso educativo em sala de aula.</p><p>A estruturação das aulas deve envolver uma reflexão</p><p>profunda sobre os objetivos que se busca alcançar no estudo do</p><p>processo de ensino. Este processo é visto como uma colaboração</p><p>ativa entre professores e alunos, com o professor atuando como</p><p>orientador. O objetivo é garantir que os alunos assimilem de for-</p><p>ma sólida e consciente os hábitos, conhecimentos e habilidades</p><p>necessários para o desenvolvimento de suas capacidades intelec-</p><p>tuais.</p><p>As aulas são estruturadas seguindo etapas que correspon-</p><p>dem aos diferentes momentos do processo de ensino.</p><p>Imagem 2. 16 – Etapas para estruturação de uma aula</p><p>Organização</p><p>Sequência</p><p>Inter-relação</p><p>Fonte: Elaborado pela autoria (2023).</p><p>51DIDÁTICA DO ENSINO SUPERIOR</p><p>U</p><p>ni</p><p>da</p><p>de</p><p>2</p><p>O trabalho docente é uma atividade que requer plane-</p><p>jamento consciente e intencional para alcançar os objetivos de</p><p>aprendizagem. Por essa razão, é necessário que seja:</p><p>• Ordenado.</p><p>• Estruturado.</p><p>A Didática, responsável por estudar o ensino e suas instru-</p><p>ções, desempenha o papel de extrair conhecimento em diversos</p><p>campos do saber humano, contribuindo para a construção do co-</p><p>nhecimento e das habilidades necessárias.</p><p>Considero que as práticas docentes</p><p>universitárias precisam se utilizar dos</p><p>fundamentos de métodos ativos, na</p><p>perspectiva de uma didática crítica, mesmo</p><p>sabendo que tais métodos, por exigirem a</p><p>participação efetiva dos alunos no processo</p><p>de ensino-aprendizagem, podem criar novas</p><p>contradições nas aulas, na medida em que não</p><p>se deva abrir mão da qualidade do processo</p><p>de ensino, que deve se pautar pelo rigor</p><p>do conhecimento; pela capacidade de lidar</p><p>com problemas complexos; pela capacidade</p><p>de raciocinar criticamente, de argumentar</p><p>frente a problemas postos, além de atitudes</p><p>de autoconfiança; autodisciplina; capacidade</p><p>de agir na urgência etc. Reitero que se deve</p><p>fugir da prática sem a ciência, o que seria um</p><p>mero empirismo, o que não é a perspectiva</p><p>do ensino na universidade. Realço também</p><p>a necessidade de formar jovens capazes de</p><p>pensar com autonomia e produzir ideias</p><p>próprias, com rigor e criatividade. (FRANCO,</p><p>2013, p. 163)</p><p>52 DIDÁTICA DO ENSINO SUPERIOR</p><p>U</p><p>ni</p><p>da</p><p>de</p><p>2</p><p>De acordo com Libâneo (1994), o trabalho docente, de for-</p><p>ma geral, está intimamente ligado às metodologias específicas das</p><p>disciplinas, embora não se restrinja a elas. Depende de vários fato-</p><p>res, podendo-se identificar cinco momentos articulados relativos à</p><p>metodologia do ensino:</p><p>Imagem 2. 17 – Momentos da metodologia do ensino</p><p>Orientação inicial dos objetivos de ensino e aprendiza-</p><p>gem</p><p>Transmissão/assimilação da matéria nova</p><p>Consolidação e aprimoramento dos conhecimentos,</p><p>habilidades e hábitos</p><p>Aplicação de conhecimentos, habilidades e hábitos</p><p>Verificação e avaliação dos conhecimentos e habilida-</p><p>des</p><p>Fonte: Elaborado pela autoria (2023).</p><p>• Orientação dos objetivos do ensino - aprendizagem no</p><p>início</p><p>Nesse momento inicial, o docente busca incentivar os dis-</p><p>centes a estudarem a matéria, expondo-lhes os objetivos a serem</p><p>alcançados e os resultados desejados. Estimular os alunos a te-</p><p>rem vontade de dominar um conhecimento novo resulta em no-</p><p>vos avanços.</p><p>53DIDÁTICA DO ENSINO SUPERIOR</p><p>U</p><p>ni</p><p>da</p><p>de</p><p>2</p><p>• Transmissão/assimilação de nova matéria</p><p>No segundo momento, quando a atividade mental e a</p><p>atenção dos alunos são provocadas, é a ocasião ideal para que</p><p>os discentes se familiarizem com o conteúdo a ser estudado. Esta</p><p>fase visa formar ideias claras sobre o assunto, permitindo que os</p><p>alunos integrem os elementos necessários para sua compreensão.</p><p>É crucial estabelecer uma conexão contínua com os conhecimen-</p><p>tos prévios dos alunos, de modo que suas experiências de vida se</p><p>aproximem dos conteúdos. Através do exercício do pensamento</p><p>orientado pelo docente, os alunos progridem na formação de con-</p><p>ceitos e no desenvolvimento de suas capacidades cognitivas.</p><p>• Aprimoramento e consolidação dos conhecimentos,</p><p>hábitos e habilidades</p><p>A assimilação dos conhecimentos ocorre durante o pro-</p><p>cesso de percepção e compreensão da matéria. No entanto, para</p><p>que se tornem instrumentos que auxiliem no pensamento inde-</p><p>pendente, é necessário aprimorá-los e consolidá-los. Isso é al-</p><p>cançado principalmente através de exercícios práticos e revisões,</p><p>onde os conhecimentos e habilidades são aplicados, permitindo</p><p>que os objetivos de ensino sejam alcançados.</p><p>• Aplicação dos conhecimentos, habilidades e hábitos</p><p>A aplicação dessas ações ocorre através de revisões, exer-</p><p>cícios e atividades práticas, tanto em casa quanto em situações</p><p>diferentes das trabalhadas anteriormente. A confirmação do pro-</p><p>cesso de ensino acontece quando os alunos conseguem utilizar</p><p>esses conhecimentos de forma independente.</p><p>• Verificação e avaliação das habilidades e conhecimentos</p><p>54 DIDÁTICA DO ENSINO SUPERIOR</p><p>U</p><p>ni</p><p>da</p><p>de</p><p>2</p><p>A avaliação dos resultados da aprendizagem ocorre ao</p><p>longo de todo o processo de ensino, desde a fase inicial de orien-</p><p>tação até a aplicação e consolidação dos conteúdos. O docente</p><p>continuamente colhe informações e avalia o progresso dos alunos</p><p>e seu desenvolvimento intelectual.</p><p>No ensino superior, o docente deve sistematicamente con-</p><p>trolar a práxis dos objetivos relacionados à aprendizagem ao lon-</p><p>go do processo de ensino.</p><p>SAIBA MAIS</p><p>Você quer se aprofundar mais nesse tema? Reco-</p><p>mendamos o acesso à seguinte fonte de consulta e</p><p>aprofundamento - artigo “Didática: uma esperança</p><p>para as dificuldades pedagógicas do ensino supe-</p><p>rior?”, de Franco (2013), disponível aqui.</p><p>http://professor.pucgoias.edu.br/SiteDocente/admin/arquivosUpload/5146/material/Didatica%20M.%20Amelia.pdf</p><p>55DIDÁTICA DO ENSINO SUPERIOR</p><p>U</p><p>ni</p><p>da</p><p>de</p><p>2</p><p>RESUMINDO</p><p>E então? Gostou do que mostramos? Aprendeu tu-</p><p>do? Agora, para garantirmos que você realmente</p><p>compreendeu o tema deste capítulo, vamos resu-</p><p>mir o que vimos. Você deve ter aprendido sobre</p><p>a Didática como instrumento utilizado no trabalho</p><p>docente no ensino superior, e sobre as caracterís-</p><p>ticas gerais da maioria dos docentes nesse nível,</p><p>que muitas vezes não utilizam a Didática devido à</p><p>falta de formação específica. Observamos também</p><p>que o objetivo da Didática é melhorar a desenvol-</p><p>tura dos professores no ensino superior para que</p><p>os conteúdos sejam melhor assimilados pelos alu-</p><p>nos. Além disso, exploramos as etapas fundamen-</p><p>tais para o desenvolvimento de uma metodologia</p><p>de ensino que se articulam entre si, buscando pro-</p><p>porcionar aos alunos o melhor caminho para o de-</p><p>senvolvimento intelectual.</p><p>56 DIDÁTICA DO ENSINO SUPERIOR</p><p>U</p><p>ni</p><p>da</p><p>de</p><p>2</p><p>ALMEIDA, D. P.; ALMEIDA, R. P.; CAETANO, M. M. Considerações</p><p>sobre as literaturas africanas de expressão portuguesa. Soletras,</p><p>São Gonçalo, ano 9, n. 17, p. 50-61, 2009. Disponível em:</p><p>https://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/soletras/article/</p><p>view/6289/4492. Acesso em: 08 maio 2020.</p><p>BARBOSA, J. R. Didática do ensino superior. 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