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<p>MÓDULO 8: JÚRI, NULIDADES,</p><p>RECURSOS E AÇÕES DE IMPUGNAÇÃO</p><p>TEMA 10 – AÇÕES DE IMPUGNAÇÃO:</p><p>REVISÃO CRIMINAL & MANDADO DE</p><p>SEGURANÇA</p><p>RESUMO</p><p>HIPÓTESES DE CABIMENTO DA REVISÃO CRIMINAL</p><p>Art. 621. A revisão dos processos findos será admitida:</p><p>I - quando a sentença condenatória for contrária ao texto expresso da lei penal ou à</p><p>evidência dos autos;</p><p>II - quando a sentença condenatória se fundar em depoimentos, exames ou documentos</p><p>comprovadamente falsos;</p><p>III - quando, após a sentença, se descobrirem novas provas de inocência do condenado</p><p>ou de circunstância que determine ou autorize diminuição especial da pena.</p><p>As possibilidades de ajuizamento da revisão criminal, trazidas pelo artigo 621, são dispostas em</p><p>rol taxativo, justamente porque se busca desconstituir uma decisão coberta pelo manto da coisa</p><p>julgada.</p><p>O artigo 621, do CPP deve ser interpretado de maneira restrita, sendo inviável a utilização da</p><p>revisão criminal como meio comum de impugnação de sentenças condenatórias ou absolutórias</p><p>impróprias, como se tratasse de verdadeira apelação1.</p><p>Não obstante o artigo 621 apenas mencionar “sentença condenatória”, é assente a inclusão,</p><p>também, da sentença absolutória imprópria, isto é, aquela que impõe ao inimputável uma medida</p><p>de segurança. Ressalvado esse caso, não há outra possibilidade de se ingressar com revisão</p><p>criminal contra decisão absolutória2.</p><p>O artigo 626, conforme entendimento da doutrina e da jurisprudência, traz outra hipótese de</p><p>cabimento, quando configurada nulidade do processo.</p><p>1) Contrariedade ao texto expresso de lei penal (inciso I)</p><p>Admite-se revisão criminal quando a decisão condenatória ou absolutória imprópria contrariar</p><p>texto expresso de lei penal.</p><p>Na dicção de Renato Brasileiro, apesar de o dispositivo referir-se à “lei penal”, entende-se que</p><p>essa contrariedade não abrange apenas a lei penal substantiva, como também a lei processual</p><p>1 LIMA, Renato Brasileiro. Manual de Processo Penal. BA: Juspodivm. 3ª ed., pág. 1793.</p><p>2 NUCCI, Guilherme de Souza. Código de Processo Penal Comentado. RJ: Forense, 16ª ed., Nota 7, pág. 1363.</p><p>penal e a própria Constituição Federal. Exemplificando, se comprovado que, para a prolação de</p><p>sentença condenatória, valeu-se o juiz de provas obtidas por meios ilícitos, admite-se o</p><p>ajuizamento da revisão criminal em face da violação ao texto expresso do artigo 5º, LVI, da CF3.</p><p>Essa contrariedade ao texto expresso de lei mencionada pelo artigo 621 deve ser frontal,</p><p>inequívoca, direta, patente. Quando se tratar de interpretação controversa de texto de lei, não</p><p>cabe revisão criminal para se buscar outra análise do mesmo preceito4. Assim, se o decisum</p><p>transitado em julgado estiver lastreado em interpretação razoável, não se autoriza a</p><p>desconstituição à coisa julgada. Nesse sentido, aplica-se, por analogia, a Súmula 343, do STF:</p><p>“Não cabe ação rescisória, por ofensa a liberal disposição de lei, quando a decisão</p><p>rescindenda se tiver baseado em texto legal de interpretação controvertida nos tribunais”.</p><p>No entanto, firmando a jurisprudência entendimento em sentido contrário ao decidido à época,</p><p>em que a interpretação de determinado texto de lei era razoável, caberá ação revisional. Em</p><p>outras palavras, será permitida a desconstituição da coisa julgada com base na afronta à lei,</p><p>apenas quando o magistrado adotar posicionamento oposto ao majoritário.</p><p>A simples alteração na jurisprudência, em regra, não autoriza o ajuizamento da revisional. Há</p><p>duas ressalvas a esta regra, uma já vista acima, quando, de maneira clara e flagrante, firmar-se</p><p>um posicionamento francamente majoritário e, a outra, quando o Plenário do Supremo Tribunal</p><p>Federal alterar o entendimento em relação a uma questão qualquer, em particular, de direito, se</p><p>favorável ao réu, deve provocar a alteração de todas as decisões anteriores, dando margem ao</p><p>ajuizamento da revisão criminal. A modificação na interpretação de um instituto, tomada pelo</p><p>Plenário da Corte Excelsa, deve ser observada tal como se houvesse lei penal benéfica,</p><p>operando retroativamente5.</p><p>2) Contrariedade à evidência dos autos (inciso I)</p><p>Admite-se revisão criminal quando a decisão condenatória ou absolutória imprópria contrariar à</p><p>evidência dos autos.</p><p>A hipótese autorizadora recai sobre a condenação que não esteja lastreada sequer em uma</p><p>única prova. Torna-se indispensável que a decisão condenatória proferida ofenda frontalmente</p><p>as provas constantes dos autos, de maneira clara e cristalina.</p><p>Imagine que todas as testemunhas idôneas e imparciais ouvidas afirmaram não ter sido o réu o</p><p>autor do crime, mas o juiz, somente porque o acusado confessou na fase policial, resolveu</p><p>3 LIMA, Renato Brasileiro. Manual de Processo Penal. BA: Juspodivm. 3ª ed., pág. 1793.</p><p>4 NUCCI, Guilherme de Souza. Código de Processo Penal Comentado. RJ: Forense, 16ª ed., Nota 8, pág. 1363.</p><p>5 NUCCI, Guilherme de Souza. Código de Processo Penal Comentado. RJ: Forense, 16ª ed., Nota 8, pág. 1366.</p><p>condená-lo. Não tendo havido recurso, transitou em julgado a decisão. É caso de revisão</p><p>criminal6.</p><p>LEITURA COMPLEMENTAR</p><p>“Embora a coisa julgada mereça total proteção do ordenamento jurídico, em alguns casos</p><p>excepcionais, o overruling demonstra claramente a superação do entendimento jurisprudencial,</p><p>figurando uma ofensa à liberdade a mantença da condenação criminal. Nestes casos, a proteção</p><p>à coisa julgada não se justifica pela ofensa à liberdade ambulatorial, bem com, em última análise,</p><p>ao próprio sentimento de Justiça. (...)”.</p><p>Para a íntegra do texto, segue link abaixo:</p><p>O retrospective overruling in mellius como fundamento para a revisão criminal</p><p>JURISPRUDÊNCIA</p><p>REVISÃO CRIMINAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. RECEBIMENTO COMO</p><p>REGIMENTAL. IMPOSSIBILIDADE. APRESENTAÇÃO APÓS O QUINQUÍDIO RECURSAL.</p><p>AÇÃO (DES)CONSTITUTIVA. TRÂNSITO EM JULGADO. NECESSIDADE. PEDIDO NÃO</p><p>CONHECIDO.</p><p>1. Não há previsão legal ou regimental que autorize a parte a pleitear a revisão criminal contra</p><p>decisão do Relator em agravo no recurso especial cuja decisão ainda não transitou em julgado,</p><p>sendo cabível, para tanto, o agravo regimental, conforme preceitua o art.</p><p>258 do Regimento Interno desta Corte Superior de Justiça.</p><p>2. Apresentado o pedido após o transcurso do prazo recursal do recurso cabível, inaplicável o</p><p>princípio da fungibilidade recursal.</p><p>3. Nos termos do artigo 621 do Código de Processo Penal, a revisão criminal exige o trânsito em</p><p>julgado da sentença condenatória, circunstância inocorrente na espécie.</p><p>4. Pedido não conhecido.</p><p>(STJ, AgRg no AREsp 1059732/SP, Rel. Ministro JORGE MUSSI, QUINTA TURMA, julgado em</p><p>05/10/2017, DJe 06/11/2017)</p><p>AGRAVO REGIMENTAL. REVISÃO CRIMINAL. AUSÊNCIA DOS REQUISITOS LEGAIS</p><p>PREVISTOS NO ART. 621 DO CPPB. OFENSA AO ARTIGO 59 DO CP.</p><p>INOCORRÊNCIA. DOSIMETRIA DA PENA. IMPOSSIBILIDADE DE REDISCUSSÃO DAS</p><p>QUESTÕES MERITÓRIAS POR MERO INCONFORMISMO DA DEFESA. AGRAVO</p><p>REGIMENTAL DESPROVIDO.</p><p>I - De acordo com o art. 105, I, alínea "e", da Constituição Federal, compete ao Superior Tribunal</p><p>de Justiça, processar e julgar, originariamente, "as revisões criminais e as ações rescisórias de</p><p>6 NUCCI, Guilherme de Souza. Código de Processo Penal Comentado. RJ: Forense, 16ª ed., Nota 9, pág. 1366.</p><p>https://repositorio.ufba.br/ri/bitstream/ri/17255/1/FABIANO%20CAVALCANTE%20PIMENTEL%20-%20Tese%20-%20Vers%C3%A3o%20Final-margem%20em%20a4.pdf</p><p>seus julgados" II - In casu, a revisão criminal não foi conhecida porquanto inviável a análise de</p><p>pleito revisional que não encontra amparo nas hipóteses taxativamente previstas no artigo 621,</p><p>do Código de Processo Penal Brasileiro.</p><p>III - É assente no âmbito deste Tribunal Superior de Justiça o entendimento</p><p>de que o mero</p><p>inconformismo da defesa com o provimento jurisdicional obtido, cuja pretensão, em verdade, visa</p><p>rediscutir questões de mérito, não constitui vício a ser sanado através da via processual da</p><p>revisão criminal.</p><p>Agravo regimental desprovido.</p><p>(STJ, AgRg na RvCr 3.930/ES, Rel. Ministro FELIX FISCHER, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em</p><p>23/08/2017, DJe 29/08/2017)</p><p>PENAL E PROCESSO PENAL. AGRAVO REGIMENTAL EM REVISÃO CRIMINAL. ESTUPRO</p><p>DE VULNERÁVEL. VÍTIMA MENOR DE 14 ANOS. FATO ANTERIOR À VIGÊNCIA DA LEI</p><p>12.015/09. CONSENTIMENTO DA VÍTIMA. IRRELEVÂNCIA. PEDIDO REVISIONAL</p><p>FUNDAMENTADO NA PRIMEIRA PARTE DO ART. 621, I, DO CPP (JULGADO CONTRÁRIO</p><p>A TEXTO EXPRESSO DA LEI PENAL). TESE DE CABIMENTO DA REVISÃO CRIMINAL PARA</p><p>PRESTIGIAR MUTAÇÃO JURISPRUDENCIAL SUPERVENIENTE BENÉFICA AO</p><p>CONDENADO. CASO EM QUE A ORIENTAÇÃO JURISPRUDENCIAL VEIO A SE ASSENTAR</p><p>EM SENTIDO OPOSTO AO DO INTERESSE DO RÉU. INEXISTÊNCIA DE HIPÓTESE LEGAL</p><p>QUE ADMITA REVISÃO CRIMINAL COM O OBJETIVO DE ATRIBUIR ULTRATIVIDADE A</p><p>ENTENDIMENTO JURISPRUDENCIAL MINORITÁRIO JÁ SUPERADO, AINDA QUE MAIS</p><p>BENÉFICO AO RÉU.</p><p>1. Situação em que o autor da revisão criminal, embora fundamente o pedido revisional na</p><p>primeira parte do art. 621, I, do CPP, na realidade, defende o cabimento da revisão criminal em</p><p>favor do condenado sempre que for produzida uma mutação jurisprudencial que possa a vir a</p><p>beneficiá-lo.</p><p>2. Com efeito, a doutrina (a respeito do tema, consulte-se, entre outros Aury Lopes Júnior, em</p><p>sua obra "Direito processual penal e sua conformidade constitucional". Volume II. 5ª. ed. - Rio de</p><p>Janeiro: Lumen Juris, 2011) admite a possibilidade de revisão criminal em situações nas quais</p><p>se pleiteia a adoção de nova orientação jurisprudencial mais benigna ao réu, como ocorreu, por</p><p>exemplo, com o entendimento, hoje pacífico, acerca da inconstitucionalidade do regime</p><p>integralmente fechado para os crimes hediondos.</p><p>Entretanto, na situação em exame, não existiu nenhuma evolução jurisprudencial favorável ao</p><p>autor da revisão criminal.</p><p>3. A despeito de alegar que a jurisprudência da época em que os fatos ocorreram (out/2002 a</p><p>abril/2003) entendia ser possível a relativização da presunção de violência contida no art. 224 do</p><p>CP, o autor não o demonstra, fazendo alusão a julgados desta Corte e do STF proferidos entre</p><p>2009 e 2012, que se contrapõem a outros da mesma época e em sentido oposto invocados no</p><p>julgado que se pretende rescindir, o que só demonstra que não existia entendimento pacífico</p><p>sobre o tema no período.</p><p>4. A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal e do Superior Tribunal de Justiça assentou o</p><p>entendimento de que, sob a normativa anterior à Lei nº 12.015/09, era absoluta a presunção de</p><p>violência no estupro e no atentado violento ao pudor (referida na antiga redação do art. 224, "a",</p><p>do CPB), quando a vítima não fosse maior de 14 anos de idade, ainda que esta anuísse</p><p>voluntariamente ao ato sexual (EREsp 762.044/SP, Rel. Min. Nilson Naves, Rel. para o acórdão</p><p>Ministro Felix Fischer, Terceira Seção, DJe 14/4/2010).</p><p>5. Revela-se incabível o ajuizamento de revisão criminal com fundamento do art. 621, I, do CPP</p><p>com vistas à aplicação de um determinado entendimento jurisprudencial tanto ultrapassado como</p><p>minoritário.</p><p>6. Agravo regimental a que se nega provimento.</p><p>(AgRg na RvCr 4.074/MG, Rel. Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA, TERCEIRA</p><p>SEÇÃO, julgado em 27/09/2017, DJe 31/10/2017).</p><p>FONTE BIBLIOGRÁFICA</p><p>NUCCI, Guilherme de Souza, Princípios Constitucionais Penais e Processuais Penais. 4.</p><p>ed. Rio de janeiro: Forense, 2015.</p><p>NUCCI, Guilherme de Souza. Código de Processo Penal Comentado. RJ: Forense, 16ª ed.</p><p>LIMA, Renato Brasileiro. Manual de Processo Penal. BA: Juspodivm. 3ª ed.</p>

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