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Interpretação do Tratado do Sublime

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Este trabalho consiste numa leitura interpretativa do livro Tratado do Sublime, de Longino ou Dionísio. Ignora-se o nome do autor pois ainda não há indícios de quem seja realmente o Autos, alguns o chamam de Pseudo-Longino. Chamarei apenas de Longino. 
	O livro começa com o autor fazendo uma crítica ao tratado de Cecílio, mestre da retórica judeu, e é direcionado à Postúmio Terenciano, a quem Longino trata como caríssimo amigo, homem instruído e culto. Ele diz que o tratado de Cecílio é incompleto e não ajuda os leitores. Cecílio tenta, por meio de exemplos, mostrar o que vem a ser o sublime, mas como chegar a tal ponto, como nos encaminhar para tal elevação, ele negligenciou como desnecessário. 
	Para o autor, “o sublime é o ponto mais alto e a excelência do discurso” e que os maiores poetas e escritores primaram e cercaram de eternidade a sua glória. ‘Não é a persuasão, mas a arrebatamento, que os lances geniais conduzem os ouvintes’. O discurso que visa persuadir e agradar depende de nós, ouvintes, mas o impacto dos lances geniais tem um poder, umas força, e subjugam inteiramente o ouvinte. ‘O sublime, surgido no momento certo, tudo dispersa como um raio e manifesta, inteira, de um jato, a foça do orador. 
	Alguns acreditam que a genialidade é inata, não se pode ensiná-la, se produz pelo dom natural. Mas Longino consegue provar que não é exatamente assim. A natureza, diz ele, embora siga leis próprias, não costuma ser casual, acidental, e totalmente sem método. Só a natureza, sem arte, sem método, não funciona. Faz-se necessário entender a relação da natureza com a técnica, como os dois podem articular-se. Demóstenes declarou que ter sorte na vida é o maior dos bens; o segundo é tomar boas decisões, e quando este falta, anula-se o primeiro totalmente. Aplicando isto, Longino diz que a natureza ocupa o lugar da boa sorte; a arte, o da boa decisão. 
	No capítulo III, são citados três vícios: o empolamento, puerilidade e parentirso. Para evitar a fraqueza e frieza, alguns preferem acreditar que ‘errar um alvo grandioso é sempre um nobre erro’. Por isso o empolamento aspira ultrapassar o sublime. A puerilidade é o oposto do grandioso. Longino diz ser o mais baixo dos defeitos. Ele define como uma ‘mentalidade escolar’ que aspira à originalidade, mas encalha no falso brilho. Parecido com tal vício está o parentirso, que é definida como uma ‘emoção deslocada e vazia onde não se requer emoção, ou desmedida onde se requer medida. Alguns são desviados para emoções já dispensadas e subjetivas. 
	O autor começa então a fazer crítica a alguns autores como Timeu, Xenofonte e Platão. Citando a Constituição de Esparta’ de Xenofonte, na passagem que diz “julgá-los-íamos mais modestos do que mesmo as meninas dos olhos”, ele critica dizendo que como podem as pupilas de toda gente serem modestas, sendo que em alguns a impudência em nada se revela tão bem como nos olhos.
	Todos esse mau êxitos, Longino atribui à busca de novidade nas ideias na literatura. Os vícios e virtudes tem a mesma origem, podem ajudar e atrapalhar, geram êxito e malogro. Diante deste problema o autor se propõe a determinar como podemos evitar os vício que impurificam o sublime. O que é na realidade o sublime é difícil de se apreender, pois exige uma grande experiência, mas não é impossível tal discernimento. Deve-se examinar ‘se os passos elevados em verso e prosa não têm uma soma de elementos forjados ao acaso’ e removendo-os, se revelam ocos e não admiráveis. 
	Nos empolgamos naturalmente pelo sublime. Mas apenas são consideradas belas e sublimes as passagens que agradam sempre a todos. Quando todas os tipos de pessoas são unanimes em uma admiração sólida e incontestável. Longino afirma que existe um critério universal do grande.
	No capítulo VIII, Longino nomeia cinco fontes do sublime, sendo que duas dependem da natureza e três da arte. A primeira é uma apoderação de pensamentos sublimados; a segunda, a emoção veemente, uma paixão violenta e que leva para fora de si. As duas dependentes do dom natural. As outras três se adquirem pela prática e são determinadas pela moldagem das figuras, a nobreza da expressão e a composição digna e elevada. 
	Mais uma vez Longino faz alusão à Cecílio, dizendo que este engana-se ao entender o sublime e o patético como uma coisa só e estão sempre juntos. Ele cita como exemplo os discursos panegíricos que do começo ao fim propõem dignidade e elevação mas mostram total falta de emoção. Os oradores emotivos são fracos panegiristas e os mais elogiosos fracos na emoção. Enganou-se também Cecílio, por achar que o patético não contribui para o sublime. 
	No capitulo IX Longino fala sobre a primeira fonte do sublime, a grandeza de natureza, que é a mais eficiente de todas. Embora seja um dom inato, que não poderia ser ensinado, ele propõe que a alma seja educada em direção a grandeza. É aí que surge a primeira definição: “O sublime é o reboo (eco) da grandeza da alma”. Mas, é necessário definir onde nasce o sublime: “Grandeza, naturalmente, existe nas palavras daqueles cujos os pensamentos são graves (...) as frases sublimes ocorrem às pessoas de sentimentos elevados”, portanto, pode ser aquilo que não se diz, “ressoa no silêncio”, pode se fazer ouvir sem voz, por sua própria grandeza. Longino cita como exemplo a passagem de Moisés, que concebe de maneira digna o poder divino, escrevendo: “disse Deus: “Faça-se luz” e a luz se fez; “Haja terra”, e houve terra.” Dessa forma, o ser divino, é representado como algo grande, sublime.	Comment by Jhayne Dela Costa: Cita também como exemplo o silêncio de Ájax, que mesmo não dizendo uma palavra, esse silêncio é sublime, tem ares de grandeza.	Comment by Jhayne Dela Costa: 	Comment by Jhayne Dela Costa: 	Comment by Jhayne Dela Costa: 
	Segundo Longino, para que o estilo se torne sublime, é necessário que haja uma composição das ideias escolhidas. Para exemplificar, ele cita Safo, que colhe da realidade os sentimentos que acompanham as paixões amorosas e escolhe e combina os mais agudos e intensos destes.
	O autor se preocupa em destacar as divergências entre o sublime e a amplificação: “A meu ver a distinção entre eles está em consistir o sublime numa elevação; a amplificação, numa abundância.” Ou seja, o sublime pode se dar num único pensamento, enquanto a amplificação requer quantidade e redundância.
	No capítulo XIII, ele menciona que Platão nos mostra outro caminho para o sublime, a imitação e inveja dos grandes prosadores e poetas do passado. Então, nós quando elaboramos algum trecho que requeira estilo elevado e grandioso devemos nos perguntar: “Como diria isso Homero? Ou Platão? Ou Demóstenes?”. Graças a esse sentimento de igualar-se a eles, Longino diz que “acudirão a nossa presença esse vultos e, como que brilhando, erguerão as almas de algum modo às alturas imaginadas”.
	A seguir, Longino diz que as fantasias são muito produtivas. Para ele, fantasia ocorre quando se está inspirado e emocionado. Para isso, ele cita alguns exemplos, que são tão vívidos e excitantes que pouco falta para que os ouvintes sejam forçados a ver o que se diz. Nos trechos citados, vê-se que a alma do autor acompanha as proezas descritas, se não, jamais teria fantasiado tais ações.
	A partir daí Longino compara a poesia com a pintura, tentando explicitar a superioridade da poesia e da prosa sobre esta. Para isso, ele afirma que as figuras de linguagem são “excelentes” quando não se deixam parecer que o são. O sublime e o patético ocultam com o seu brilho o uso de figuras. Surge então a comparação com a pintura. Ele explica a técnica da justaposição da luz e da sombra nas cores. Se a sombra é necessária à luz, é esta ultima que se destaca. Assim como a luz parece sair da tela e estar mais próxima de quem a vê, o sublime, que já é bem próximo naturalmente de nós, se sobressai às figuras e se torna sublime assim. As figuras são necessárias, mas tem papel secundário em dignidade. 
	Longino discorre sobre algumas destas tantas figuras como úteis no caminho para o sublime. Por exemplo, a troca vivade perguntas e respostas torna a passagem mais elevada e convincente. O assíndeto faz com que, “sem conexão, as palavras vão caindo e, por assim dizer, se derramam adiante, pouco faltando para se anteciparem ao próprio orador”. Algumas destas figuras quando associadas, “colaboram na busca do vigor, da persuasão, da beleza”. Destaca-se que o uso de conetivos tira a liberdade das expressões e apaga a emoção. “Por vezes também, numa narração, subitamente arrebatado, o escritor toma o lugar da personagem.” Como nessa passagem da Ilíada: “Heitor em altos brados exortava os troianos a atacar os navios e a abandonar os despojos sangrentos: “se eu vir alguém voluntariamente longe dos navios, cuidarei de sua morte imediata”.”.
	No capítulo XXVIII o autor faz uma alusão do efeito da perífrase no sublime como é feito na música. Assim como o acompanhamento torna a melodia principal agradável, a perífrase soa em harmonia com o texto tornando-se uma mistura agradável. Por exemplo, Platão em Oração Fúnebre chama à morte de caminhada do destino e as honrarias tradicionais de uma escolta pública da pátria, tomando assim uma expressão singela e fazendo-a musical usando a perífrase.
	Portanto, todas essas figuras conferem ao discurso mais patético e mais emoção.
	Longino destaca a importância do orador e do escritor escolher bons vocábulos, visto que esses maravilham e fascinam os ouvintes. “Realmente, a beleza das palavras é luz própria do pensamento.” Contudo, deixa claro que nem sempre é vantajoso usar de discursos pomposos. “Empregar em assuntos de pouca monta um palavreado grandioso e solene, pareceria o mesmo que assentar uma grande mascara trágica numa criancinha”.
	O texto cita também o grande uso de metáforas nesse estilo, concordando com Cecílio sobre a quantidade delas, duas ou três sobre o mesmo assunto. No uso de lugares comuns e descrições, nada é tão significativo quanto a uma sequencia cerrada de tropos. Por exemplo, a anatomia do corpo humano, por Xenofonte e Platão, foi descrita de forma magnífica. A cabeça ele chama de acrópole, o prazer é para os homens a isca do mal, o coração é nó das veias e fonte do sangue que circula vigorosamente. 
	No capitulo XXXIII, Longino compara alguns poetas e diz que não devemos nos ater apenas aos defeitos, embora ele mesmo seja muito exigente. Demóstenes por exemplo, quando quer ser divertido e espirituoso “suscita mais risota do que risadas” disse ele. Citando também as qualidades de Demóstenes, diz que esse tem “extraordinária genialidade, intensidade do estilo sublime.”. 
	Quanto a nossa inclinação a gostar de coisas grandiosas, Longino diz que a natureza nos trouxe para a vida a fim de sermos expectadores de tudo que ela é, e nos implantou um invencível amor às coisas divinas: “Como objeto de contemplação e de pensamento (...) não nos basta nem mesmo o mundo todo; as ideias não raro transpõem os limites do que nos cerca; quem circulasse os olhos pela vida e visse quanto mais espaço ocupa em tudo o extraordinário, o grande, o belo, logo saberá para que fim nascemos.”. O autor diz que as coisas que nos são uteis ou necessárias encontramos facilmente, mas as coisas admiráveis são sempre raras.
	Um dos meios que mais contribuem para a grandiosidade do discurso “como dos corpos, é a conjugação dos membros; qualquer deles, separado de outro, nada tem de notável, mas todo em conjunto, formam um organismo perfeito; igualmente, as expressões grandiosas, apartadas umas das outras e dispersas, levam consigo, desconjuntado, o sublime; formadas num só corpo pela associação(...)tornam-se sonorosas graças ao torneio”, a grandiosidade é a soma de todos os elementos. Longino diz que mesmo os prosadores e poetas não dotados ao sublime e desprovidos de grandeza, com um vocabulário corrente e popular, mas arranjado e harmonizado, lograram importância, distinção e ares de nobreza a esses materiais.
	É inadequado à grandiosidade a fragmentação de palavras de poucas silabas. Enfraquece o estilo também o excessivo retalhamento das frases, mutilando a grandeza. “A prolixidez é sem vida, por não ter propósito o alongamento”. O vocabulário trivial é terrível deformador do sublime, como na passagem em que Heródoto diz que o vento cansou-se e um fim desagradável esperava os náufragos. Por ser termo vulgar, cansar-se não tem grandeza, e desagradável, inadequado a tamanha desgraça. “No estilo sublime não devemos descambar para vocabulário sórdido e repugnante (...) mas conviria usar expressões à altura do assunto”.
Longino conclui, dizendo a Terenciano, que há ainda uma questão importante de se ressaltar. Certa vez um filósofo propôs a ele o porquê de não se existirem mais oradores e poetas sublimes e geniais, sendo em sua maioria persuasivos, argutos e versáteis. Longino responde que isto se dá devido a dominação de nossos desejos. O amor às riquezas, diz ele, é um mal insaciável. O amor ao dinheiro é uma doença que empequenece. Vende-se a alma para comprar os proveitos. “Bem, a indivíduos tais como nós, obedecer a um senhor talvez seja melhor do que ser livres, porquanto nossos apetites, inteiramente às soltas, como feras libertadas duma jaula contra as pessoas próximas, alargariam com os seus males o mundo habitado. Em síntese, dizia eu, o que arruína a índole da presente geração é a indiferença em que todos, com poucas exceções, passamos a vida sem nenhum esforço nem iniciativa que não tenha em mira louvores e prazeres, jamais uma utilidade digna de emulação e apreço.”

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