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<p>ESTADO DO CEARÁ</p><p>PODER JUDICIÁRIO</p><p>TRIBUNAL DE JUSTIÇA</p><p>GABINETE DO DESEMBARGADOR FRANCISCO MAURO FERREIRA LIBERATO</p><p>______________________________________________________________________________</p><p>1</p><p>PROCESSO N. 0223834-09.2000.8.06.0001/50001 – AGRAVO INTERNO CÍVEL</p><p>AGRAVANTE: MAGDA ROBERTA BUSGAIB SOCORRO</p><p>AGRAVADA: ENGRI SOCIEDADE ANÔNIMA DE ENGENHARIA</p><p>RELATOR: DESEMBARGADOR FRANCISCO MAURO FERREIRA LIBERATO</p><p>EMENTA: CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO INTERNO EM</p><p>APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE ADJUDICAÇÃO COMPULSÓRIA</p><p>COM PEDIDO DE CANCELAMENTO DE HIPOTECA PROPOSTA</p><p>PELA AUTORA ADQUIRENTE EM FACE DA CONSTRUTORA</p><p>ENGRI E DO BANCO COMERCIAL BANCESA. PLEITO</p><p>RECONVENCIONAL OPOSTO PELA CONSTRUTORA EM FACE DA</p><p>ADQUIRENTE. FEITOS SENTENCIADOS JUNTO AO JUÍZO</p><p>FALIMENTAR. PRELIMINAR DE INCOMPETÊNCIA ABSOLUTA</p><p>DO JUÍZO PARA JULGAR A RECONVENÇÃO. REJEIÇÃO. FEITO</p><p>QUE TRAMITOU DURANTE ANOS SEM IMPUGNAÇÃO OU</p><p>OPOSIÇÃO. INEXISTÊNCIA DE PREJUÍZOS. NULIDADE DE</p><p>ALGIBEIRA. COMPETÊNCIA ESTABILIZADA. MÉRITO.</p><p>AUSÊNCIA DE PROVA DO RESGATE DOS CHEQUES MEDIANTE</p><p>PAGAMENTO DE QUANTIA EM ESPÉCIE. INEXISTÊNCIA DE</p><p>COMPROVAÇÃO QUANTO À COBRANÇA, POR TERCEIROS, DOS</p><p>TÍTULOS. MANUTENÇÃO DA IMPROCEDÊNCIA DO PLEITO DE</p><p>ADJUDICAÇÃO, À FALTA DE EFETIVA DEMONSTRAÇÃO</p><p>QUANTO AO PAGAMENTO DA ÚLTIMA PARCELA E DAS</p><p>DESPESAS COM SERVIÇOS EXTRAS. INADIMPLÊNCIA QUE</p><p>IMPEDE A ADJUDICAÇÃO PRETENDIDA. PROCEDÊNCIA DO</p><p>PLEITO RECONVENCIONAL QUE IGUALMENTE SE MANTÉM.</p><p>RECURSO CONHECIDO E DESPROVIDO.</p><p>ACÓRDÃO</p><p>Vistos, relatados e discutidos os presentes autos, acorda a Turma Julgadora da</p><p>Primeira Câmara de Direito Privado do Egrégio Tribunal de Justiça do Estado do Ceará, por</p><p>votação unânime, em conhecer e NEGAR PROVIMENTO AO AGRAVO INTERNO, na</p><p>conformidade do voto proferido pelo Relator.</p><p>Fortaleza, data e hora no sistema.</p><p>DESEMBARGADOR FRANCISCO MAURO FERREIRA LIBERATO</p><p>Presidente do Órgão Julgador/Relator</p><p>ESTADO DO CEARÁ</p><p>PODER JUDICIÁRIO</p><p>TRIBUNAL DE JUSTIÇA</p><p>GABINETE DO DESEMBARGADOR FRANCISCO MAURO FERREIRA LIBERATO</p><p>______________________________________________________________________________</p><p>2</p><p>RELATÓRIO</p><p>Trata-se de Agravo Interno interposto por MAGDA ROBERTA BUSGAIB</p><p>SOCORRO, buscando a reconsideração ou a reforma da decisão monocrática de minha lavra,</p><p>que, contrariando os seus interesses, negou provimento à apelação por ela interposta (fls.</p><p>1.702/1.716), nos autos da ação de adjudicação compulsória com pedido de cancelamento de</p><p>hipoteca, ajuizada em desfavor de ENGRI SOCIEDADE ANÔNIMA DE ENGENHARIA E</p><p>BANCO COMERCIAL BANCESA S.A.</p><p>Conforme sentença exarada pelo Juízo da 2ª Vara de Recuperação de Empresas e</p><p>Falência, as pretensões da agravante para outorga da escritura definitiva de compra e venda de</p><p>seu apartamento residencial e levantamento do ônus hipotecário a recair sobre o imóvel,</p><p>foram julgadas improcedentes, considerando o juiz a quo que ela não teria adimplido “por</p><p>completo suas obrigações contratuais junto a ENGRI, restando pendente a última parcela</p><p>pactuada” (fl. 1.345).</p><p>Em contrapartida, a reconvenção apresentada pela ré e ora agravada ENGRI</p><p>ENGENHARIA fora julgada parcialmente procedente, reconhecendo a sentença o direito ao</p><p>recebimento da última parcela contratual, bem como das despesas referentes a obras, serviços</p><p>e acabamentos extras realizados no apartamento da agravante para personalização da unidade,</p><p>quantificados os valores condenatórios em R$ 76.704,98 (setenta e seis mil, setecentos e</p><p>quatro reais e noventa e oito centavos), atualizados até 17 de maio de 2011, com fixação de</p><p>honorários sucumbenciais a serem pagos por ela em R$ 10.000,00 (dez mil reais).</p><p>Por decisão unipessoal de minha lavra, a sentença exarada restou mantida,</p><p>desprovido o apelo que a impugnou (fls. 1.702/1.716), conforme o seguinte entendimento,</p><p>verbis:</p><p>“[...] Não existiu inadimplemento contratual por parte da Apelada, que possui a</p><p>obrigação de outorgar a escritura definitiva somente após o pagamento integral da</p><p>dívida.</p><p>Neste contexto, restando configurado o descumprimento contratual da insurgente,</p><p>deve ser observada a regra do artigo 476 do Código Civil (exceptio non adimpleti</p><p>contractus).</p><p>[...]</p><p>Portanto, correta a parte da sentença que reconheceu a não quitação integral do</p><p>preço, não permitindo a adjudicação imediata do imóvel (adjudicação diferida para</p><p>após o pagamento integral da dívida) e, determinou à Recorrente a</p><p>complementação deles.</p><p>Desse modo, na medida em que era ônus da autora/recorrente comprovar fato</p><p>constitutivo de seu direito, não há que se falar em reforma da sentença, devendo a</p><p>improcedência da demanda ser mantida.”</p><p>ESTADO DO CEARÁ</p><p>PODER JUDICIÁRIO</p><p>TRIBUNAL DE JUSTIÇA</p><p>GABINETE DO DESEMBARGADOR FRANCISCO MAURO FERREIRA LIBERATO</p><p>______________________________________________________________________________</p><p>3</p><p>Anote-se que, ao apreciar os Embargos Declaratórios opostos à decisão</p><p>monocrática de desprovimento da apelação, esta Relatoria examinou a preliminar de</p><p>incompetência absoluta apontada pela agravante, afastando-a para validar o julgamento</p><p>proferido no Juízo Falimentar, em relação ao pleito reconvencional. Leia-se, fls. 13/20:</p><p>“[...] Assim, para o cancelamento da hipoteca, teriam que ser quitados os valores</p><p>apurados em perícia judicial, estando a remanescer valores a serem pagos, o que</p><p>levou a ENGRI a interpor a Reconvencional.</p><p>E aí repousa o interesse da referida instituição bancária no protocolo e julgamento</p><p>procedente da Reconvenção eis que mesmo sem ter sido inserida como parte da</p><p>referida actio no mesmo polo processual, por sinal buscava reaver os valores</p><p>emprestados e não tão somente acompanhar a baixa da hipoteca por ordem judicial</p><p>sem a devida quitação da dívida.</p><p>Logo, tendo em vista a conexão entre o fundamento da defesa e a reconvencional,</p><p>bem como que, por ocasião do manejo da Reconvenção, ainda persistia o interesse</p><p>da Massa falida/BANCESA, emerge nítida a competência da Vara de Recuperação</p><p>de Empresas e Falências.”</p><p>Nas razões deste Agravo Interno (fls. 1/17), reiteram-se então a narrativa e os</p><p>argumentos expendidos na apelação, insistindo a agravante na de nulidade da sentença</p><p>relativamente ao pleito reconvencional, renovada a arguição de incompetência absoluta do</p><p>Juízo Falimentar.</p><p>No mérito, a agravante reedita a versão da inexistência de débitos relativos ao</p><p>compromisso de compra e venda celebrado para aquisição de seu imóvel residencial,</p><p>localizado na Rua Silva Jatahy, n. 54, apartamento 300, Edifício Saint Patrick.</p><p>Alega, em suma, que a parcela final do saldo devedor teria sido adimplida</p><p>mediante entrega de cheques pós-datados a ENGRI ENGENHARIA, resgatados os títulos em</p><p>seus vencimentos e substituídos por moeda corrente, reportando-se, no ponto, ao recibo</p><p>constante dos autos, afirmando, daí, descabido cobrar-lhe uma dívida já quitada e sem que os</p><p>documentos que a materializam sejam apresentados, vedado promover uma cobrança sem</p><p>lastro.</p><p>Nessa perspectiva, expõe os pleitos recursais, assim redigidos em ordem de</p><p>prioridade:</p><p>“a) Seja acolhida a preliminar, posto que ausente, nos termos do Art. 109 do CPC,</p><p>requisito essencial à propositura da reconvenção; declarando-se absolutamente</p><p>incompetente o juízo de falência para conhecer e julgar a reconvenção, extinguindo-</p><p>a, sem mérito, nos termos do Art. 485, I do NCPC, condenando a parte Apelada ao</p><p>pagamento das custas e honorários de sucumbência relativamente à reconvenção.</p><p>ESTADO DO CEARÁ</p><p>PODER JUDICIÁRIO</p><p>TRIBUNAL DE JUSTIÇA</p><p>GABINETE DO DESEMBARGADOR FRANCISCO MAURO FERREIRA LIBERATO</p><p>______________________________________________________________________________</p><p>4</p><p>b) Caso não seja acatado o pedido anterior, que os Ilustres Magistrados, julguem</p><p>improcedente a Reconvenção da agravada, haja vista que a recorrida não apresentou</p><p>o cheque 320059, no valor de CR$ 20.000.000,00 (vinte milhões de cruzeiros), do</p><p>Banco do Estado do Ceará BEC, Agência 069 e Conta Corrente 15.368-7,</p><p>assumindo a Apelada, inclusive, conforme se vê na documentação em anexo à</p><p>apelação, que a mesmo não possui o</p><p>aludido título de crédito.</p><p>c) Seja dado integral provimento ao presente recurso, a fim de reformar a sentença</p><p>recorrida, no sentido de conceder o direito pleiteado pela agravante na petição</p><p>inicial, qual seja a adjudicação compulsória do imóvel requerido e especificado na</p><p>exordial”.</p><p>Sem contrarrazões.</p><p>É o Relatório, no essencial a consignar.</p><p>VOTO</p><p>Conheço deste Agravo Interno, que se mostra adequado à hipótese legal de</p><p>cabimento (artigo 1.021 do CPC), demonstradas a interposição tempestiva e a regularidade</p><p>formal do articulado, deduzidas alegações suficientes, em tese, para confrontar a</p><p>fundamentação da decisão recorrida.</p><p>Passo à análise do recurso.</p><p>Revista a argumentação que o respalda, MANTENHO a minha posição, fazendo-o</p><p>pelos motivos declinados de forma clara e exaustiva na decisão de desprovimento da</p><p>apelação, aos quais refiro-me para reafirmá-los, com as achegas e explanações pertinentes,</p><p>submetendo-os à apreciação e valoração deste Colegiado.</p><p>Para melhor contextualização, esclareça-se que a presente ação, proposta em</p><p>outubro de 1994, teve andamento nitidamente delongado, com redistribuições sucessivas e</p><p>incidentes que atrasaram o seu processamento, cujo desfecho coube ao Juízo da 2ª Vara de</p><p>Recuperação e Falências desta Capital, prolator da sentença.</p><p>Reexaminados os autos, observa-se que a ação fora distribuída, inicialmente, a</p><p>14ª Vara Cível de Fortaleza (fl. 228), e, após a contestação e o oferecimento de reconvenção,</p><p>houve redistribuição, em julho de 1995, a 5ª Vara de Procedimentos Sumaríssimos (fl. 639),</p><p>que, posteriormente extinta, ensejou nova redistribuição a 32ª Vara Cível em dezembro de</p><p>1996 (fl. 685).</p><p>ESTADO DO CEARÁ</p><p>PODER JUDICIÁRIO</p><p>TRIBUNAL DE JUSTIÇA</p><p>GABINETE DO DESEMBARGADOR FRANCISCO MAURO FERREIRA LIBERATO</p><p>______________________________________________________________________________</p><p>5</p><p>Em agosto de 1999, os autos foram novamente redistribuídos e então remetidos</p><p>ao Juízo da 1ª Vara de Falências e Concordatas (fl. 962), visto que a demanda ajuizada pela</p><p>agravante contava, no polo passivo, com a participação do BANCESA, que teve a falência</p><p>decretada em 2003 (fl. 978), antecedida de intervenção na instituição financeira prenunciando</p><p>o procedimento liquidatório.</p><p>Frise-se que, redistribuído o feito ao Juízo da insolvência, não se tem notícias de</p><p>questionamentos ou insurgências opostos à competência firmada, que, sem objeções ou</p><p>reclamos para novos deslocamentos do processo, se estabilizou, processando-se o feito,</p><p>inclusive com deferimento de antecipação de tutela pelo Juízo falimentar (fls. 1.067/1.073),</p><p>que, ao final, sentenciou a ação e a reconvenção promovida pela ENGRI ENGENHARIA.</p><p>Esse o quadro, forçoso convir que a agravante teve longos anos para questionar a</p><p>competência do Juízo processante, vindo a fazê-lo, pela primeira vez, apenas em sua apelação</p><p>(datada de julho de 2012). É dizer: com superlativa tardança, por estranhável ineditismo e de</p><p>forma inusitada, visando derrogar uma competência que se estabilizou e, o que é mais</p><p>ostensivo e inaceitável, sem indicação de qualquer gravame ao exercício do direito de ação e</p><p>de defesa, aliás, combativamente exercido. E esse gravame, advirta-se, não se traduz, pura e</p><p>simplesmente, a partir de um resultado processual desfavorável.</p><p>Contexto, portanto, a sinalizar que a objeção tardia tem o feitio aparente de</p><p>nulidade de algibeira ou de bolso, sacada, ao que parece, de forma estratégica, como material</p><p>jurídico adicional e pretensamente conveniente (embora inconvincente), na tentativa de</p><p>afastar a condenação pecuniária imposta em julgamento do pleito reconvencional.</p><p>Essa percepção tanto mais se acentua, quando se recorda que a jurisprudência das</p><p>Cortes Superiores, inclusive do Supremo Tribunal Federal, reconhece, em situações</p><p>sintomáticas, que, “a alegação de nulidade dos atos processuais por incompetência do juízo</p><p>após o decurso de longo período inerte caracteriza-se como nulidade de algibeira, vedada</p><p>pelo ordenamento jurídico pátrio” (STF, Recurso Extraordinário com Agravo n. 1.445.796,</p><p>Relator Ministro Alexandre de Moraes, julgado em 17.7.2023).</p><p>Por isso, “em respeito à segurança jurídica e lealdade processual, a</p><p>jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça - STJ tem se orientado no sentido de que as</p><p>nulidades, ainda quando denominadas absolutas, devem ser arguidas em momento oportuno,</p><p>bem como qualquer outra falha ocorrida no julgamento, sujeitando-se à preclusão temporal”</p><p>(STJ, AgRg no HC n. 749.139/MG, relator Ministro Joel Ilan Paciornik, Quinta Turma,</p><p>julgado em 23.8.2022, DJe de 26.8.2022.)</p><p>ESTADO DO CEARÁ</p><p>PODER JUDICIÁRIO</p><p>TRIBUNAL DE JUSTIÇA</p><p>GABINETE DO DESEMBARGADOR FRANCISCO MAURO FERREIRA LIBERATO</p><p>______________________________________________________________________________</p><p>6</p><p>De mais a mais, quanto à alegada ausência de correlação entre o pleito</p><p>reconvencional e os interesses, bens ou negócios da MASSA FALIDA DO BANCESA, apontada</p><p>pela agravante como fator excludente da competência do Juízo processante, cumpre revisitar a</p><p>fundamentação constante da decisão recorrida, suficiente, per se, para infirmar o</p><p>contraponto.</p><p>Sabe-se que, no estágio falimentar, o princípio da maximização dos ativos assume</p><p>especial projeção, de modo que, à pretensão da construtora/incorporadora sobre assegurar e</p><p>exigir o pagamento integral do saldo devedor, corresponde, por consectário, o interesse do</p><p>então agente financiador ao recebimento do capital desembolsado como empréstimo à</p><p>realização do empreendimento. Nesse sentido, as seguintes passagens extraídas da decisão:</p><p>“Ora, nos termos da jurisprudência da Corte Superior, “a reconvenção pode ser</p><p>apresentada nas hipóteses em que presente a conexão com a ação principal ou com</p><p>o fundamento da defesa”. (STJ – AgInt no AREsp 720.455 DF 2015/0129263-4,</p><p>Relator Ministro MARCO BUZZI, Data de Julgamento: 10/4/2018, T4 – Quarta</p><p>Turma, Data de publicação: DJe 17/4/2018).</p><p>Insta ressaltar que, nos termos do art. 343, do CPC, a conexão com a ação principal</p><p>ou com o objeto da defesa constitui o requisito essencial para a proposição da ação</p><p>de Reconvenção, in verbis:</p><p>Art. 343. Na contestação, é lícito ao réu propor reconvenção para manifestar</p><p>pretensão própria, conexa com a ação principal ou com o fundamento da defesa.</p><p>[g. n.]</p><p>[...]</p><p>Portanto, resta patente que o único requisito exigido pelo Código de Processo Civil</p><p>para o cabimento da ação reconvencional é a sua conexão com a causa principal ou</p><p>com os fundamentos da defesa apresentada.</p><p>A partir da inteligência do art. 55, do CPC, constata-se que duas ou mais ações</p><p>serão conexas quando lhes for comum o objeto ou a causa de pedir.</p><p>Assim, evidente a conexão, haja vista que, na espécie, tanto a ação reconvencional,</p><p>quanto a principal (Adjudicação compulsória), possuem como objeto o mesmo</p><p>imóvel, existindo, também, conexão com o fundamento da defesa que é a ausência</p><p>de pagamento da última parcela da unidade vendida pela embargante (e outros),</p><p>situação que estaria a impedir a promovida (Reconvinte) de resgatar a hipoteca</p><p>junto ao BANCO COMERCIAL BANCESA.</p><p>Relevante destacar que sempre foi intuito da parte autora que a ré ENGRI</p><p>reconhecesse a quitação do preço contratado referente às unidades 500, 600 e 300</p><p>do Edifício Saint Patrick, localizado na Rua Silva Jatahy 54 e, no que concerne ao</p><p>demandado BANCESA, que este tomasse ciência da “imprestabilidade da hipoteca</p><p>incidente sobre os imóveis objeto da presente demanda”; “de ver cancelada toda e</p><p>qualquer hipoteca incidente sobre suas unidades”.</p><p>No entanto, sempre persistiu pela instituição BANCESA o interesse de receber os</p><p>valores emprestados, antes de ser dada a baixa na hipoteca em relação a todos os</p><p>imóveis vendidos. Essa foi a defesa apresentada pelo BANCESA e pela massa falida.</p><p>Assim, para o cancelamento da hipoteca, teriam que ser quitados os valores</p><p>ESTADO DO CEARÁ</p><p>PODER JUDICIÁRIO</p><p>TRIBUNAL DE JUSTIÇA</p><p>GABINETE DO DESEMBARGADOR FRANCISCO MAURO FERREIRA LIBERATO</p><p>______________________________________________________________________________</p><p>7</p><p>apurados em perícia judicial, estando a remanescer valores a serem pagos, o que</p><p>levou a ENGRI a interpor a Reconvencional.</p><p>E aí repousa o interesse da referida instituição bancária no protocolo e julgamento</p><p>procedente da Reconvenção eis que mesmo sem ter sido inserida como parte da</p><p>referida actio no mesmo polo processual, por sinal buscava reaver os valores</p><p>emprestados e não tão somente acompanhar a baixa da hipoteca por ordem judicial</p><p>sem a devida quitação da dívida.</p><p>Logo, tendo em vista a conexão entre o fundamento da defesa e a reconvencional,</p><p>bem como que, por ocasião do manejo da Reconvenção, ainda persistia o interesse</p><p>da MASSA FALIDA/BANCESA, emerge nítida a competência da Vara de</p><p>Recuperação de Empresas e Falências.”</p><p>Postas essas considerações, tenho que a situação excepcional e diferenciada a que</p><p>se reporta a agravante incide, na realidade da causa, inversamente ao que sustentado neste</p><p>recurso, impondo-se a rejeição da preliminar de incompetência absoluta.</p><p>Admiti-la, para além de incompatível com a verificação, in casu, de uma concreta</p><p>interação entre os interesses do agente financiador e os do empreendedor, comprometeria,</p><p>acima de tudo, a efetividade da prestação jurisdicional, contrariando o objetivo maior da</p><p>resolução efetiva dos conflitos; os postulados da segurança jurídica e da primazia do mérito; a</p><p>vedação ao retrocesso, na vertente da impossibilidade de repristinar questões superadas, em</p><p>contextos de inexistência de prejuízos ao devido processo legal.</p><p>Preliminar superada.</p><p>Prossigo para examinar a argumentação de mérito.</p><p>Como relatado, a decisão por mim proferida manteve a improcedência das</p><p>pretensões adjudicatória e liberatória da garantia hipotecária, confirmando, de envolta, a</p><p>procedência do pleito reconvencional, no que diz com o reconhecimento do débito alusivo à</p><p>parcela final do saldo devedor, acrescido de despesas geradas e não pagas em virtude de</p><p>serviços extras para customizar o apartamento da agravante, adequando-o às suas</p><p>necessidades e conveniências, como solicitado.</p><p>A versão da agravante resume-se às seguintes proposições: i) há prova</p><p>documental - recibo - a comprovar o pagamento da última parcela, mediante entrega de 2</p><p>cheques, os quais seriam substituídos pelo repasse da quantia, em dinheiro, nas datas</p><p>especificadas, tendo sido adimplido, como combinado, todo o débito; ii) a despeito da</p><p>informação bancária, no sentido de que os cheques não foram compensados, a apresentação</p><p>dos títulos seria indispensável à comprovação da dívida e, a fortiori, à exigibilidade dos</p><p>valores; iii) sem a apresentação do cheque, a agravante estaria sujeita ao risco de ser cobrada</p><p>em duplicidade, ante a possível circulação dos cheques.</p><p>Em que pese o aduzido, não assiste razão à agravante.</p><p>ESTADO DO CEARÁ</p><p>PODER JUDICIÁRIO</p><p>TRIBUNAL DE JUSTIÇA</p><p>GABINETE DO DESEMBARGADOR FRANCISCO MAURO FERREIRA LIBERATO</p><p>______________________________________________________________________________</p><p>8</p><p>Na verdade, a argumentação deste Agravo Interno – que perfaz reiteração das</p><p>razões apelatórias – esbarra em constatações que, extraídas dos elementos probatórios dos</p><p>autos e do material jurídico aplicável, antagonizam a versão da agravante ou, quando menos,</p><p>a descredenciam pela fragilidade e, por vezes, desconexão de suas alegações.</p><p>Isso porque: i) não há prova do resgate dos cheques mediante pagamento de</p><p>quantia em espécie; ii) não se tem conhecimento de cobrança, por terceiros, dos títulos</p><p>(receio, aliás, que rivaliza com a própria afirmação da agravante, ao asseverar que os cheques</p><p>foram por ela resgatados, ao efetuar “a troca em moeda corrente” (fl. 1.416), tornando</p><p>incompreensível, então, o temor de que estejam em posse de terceiros); iii) considerando a</p><p>data grafada no recibo de fl. 595, para fins de apresentação dos cheques – 27.7.92 e 4.9.92 –</p><p>implausível venha a agravante a ser cobrada pelos valores expressos no título como ordem de</p><p>pagamento, certo que, qualquer que seja a pretensão a exigi-los, fatalmente encontra-se</p><p>fulminada pela prescrição prevista no Código Civil, artigos 205 e 206; iv) a própria sentença</p><p>condenatória constitui fato oponível, em caso de eventual e indevida cobrança dos títulos em</p><p>duplicidade; v) a quitação pretendida mediante a entrega dos cheques somente se</p><p>perfectibilizaria após a compensação ou à vista de comprovada substituição dos títulos por</p><p>outro meio de pagamento; vi) o recebimento do crédito inadimplido, no caso, não depende da</p><p>posse dos cheques, por onde desinfluente o desfecho da cautelar ajuizada para exibi-los, já</p><p>definitivamente arquivada, por sentença terminativa (carência de interesse de agir).</p><p>Para uma mais detida análise, transcrevo, adiante, o conteúdo da decisão</p><p>agravada, ao tempo em que reafirmo os fundamentos nela explicitados, resultantes de um</p><p>exame pormenorizado dos elementos da causa, de seus conectivos probatórios e de seus</p><p>desdobramentos legais.</p><p>Confira-se:</p><p>“Note-se que a requerida trouxe documentos que comprovam todos os serviços extras</p><p>realizados nos apartamentos das autoras, os quais embasaram o laudo pericial e sua</p><p>conclusão, caindo por terra as alegações autorais inseridas na réplica.</p><p>A insurgência especificamente é quanto à quitação do apartamento. Sustenta a apelante</p><p>que o cheque nº 320059, referente à última parcela contratual, foi entregue à</p><p>Construtora, nos termos do Recibo de fl. 595, estando a ré dolosamente negando a</p><p>quitação.</p><p>No entanto, instado a se manifestar por ordem Judicial (fls. 965), o Banco do Estado do</p><p>Ceará respondeu, afirmando que a referida Cártula não foi compensada (fl. 967).</p><p>Vejamos o teor do Ofício s/n, de 25/05/2000, do Banco do Estado do Ceará (fl. 967):</p><p>“Em cumprimento ao disposto no Ofício nº 454/2000, anexo, vimos informar a esse D.</p><p>Juízo que, segundo ASBACE/MICROFILMAGEM, não houve movimentação na conta</p><p>nº 15.368-7, da Ag. 069 Virgílio Távora, nos meses de julho e setembro de 1992,</p><p>referente aos cheques no valores de CR$ 20.000.000,00 e CR$ 27.431.000,00, em favor</p><p>de ENGRI Sociedade Anônima de Engenharia ou do Banco Comercial Bancesa S/A”.</p><p>ESTADO DO CEARÁ</p><p>PODER JUDICIÁRIO</p><p>TRIBUNAL DE JUSTIÇA</p><p>GABINETE DO DESEMBARGADOR FRANCISCO MAURO FERREIRA LIBERATO</p><p>______________________________________________________________________________</p><p>9</p><p>Pois bem.</p><p>Compulsando os autos, especialmente as fls. 569/595, constam os seguintes pagamentos</p><p>realizados pela recorrente, a título de cumprimento de obrigação contratual, estipulada</p><p>no Contrato de Promessa de Compra e Venda da unidade nº 300 do Edifício Saint</p><p>Patrick, a partir de 18/07/1990, sendo:</p><p>SINAL E PRINCÍPIO DE PAGAMENTO:</p><p>1.Recibo de CR$ 200.000,00 (duzentos mil cruzeiros) sinal e princípio de pagamento,</p><p>mediante cheque 1260855 do Banco Bamerindus, de L.W.Gonçalves, em 18/07/90;</p><p>2.Recibo de CR$ 463.000,00 (quatrocentos e sessenta mil cruzeiros) Complementação</p><p>do sinal e princípio de pagamento, sendo CR$ 350.000,00, mediante cheque 641068 do</p><p>Banco do Brasil, e CR$ 113.000,00, em espécie, em 30/07/1990;</p><p>Pactuado o pagamento de 19 parcelas</p><p>1.Pagamento das parcelas 01, 02, 03, 04, 05, 06, mediante carnê;</p><p>2.Recibo de CR$ 2.324.200,00 (dois milhões, trezentos e vinte quatro mil, duzentos</p><p>cruzeiros), referente às parcelas 07 e 08, mediante: CR$ 549.200,00, através do cheque</p><p>772071 do BIC; CR$ 549.200,00, através do cheque 772072 do BIC; Cr$</p><p>612.900,00, através do cheque 772073 do BIC, e Cr$ 612.900,00, através do cheque</p><p>772074 do BIC; (com atraso)</p><p>3.Pagamento da parcela 09, mediante carnê (com atraso);</p><p>4.Recibo de CR$ 2.764.465,oo (dois milhões, setecentos e sessenta e quatro mil,</p><p>quatrocentos e sessenta e cinco cruzeiros), referente à parcela 10 (com atraso);</p><p>5.Pagamento da parcela 11, mediante carnê;</p><p>6.Recibo de CR$ 4.100.000,00 (quatro milhões e cem mil cruzeiros), referente à parcela</p><p>12;</p><p>7.Pagamento da parcela 14, mediante carnê (com atraso);</p><p>8.Recibo de CR$ 20.550.000,00 (vinte milhões e quinhentos e cinquenta mil cruzeiros),</p><p>referente às parcelas 13, 15 e 16 (com atraso);</p><p>9.Recibo de CR$ 18.980.000,00 (dezoito milhões e novecentos e oitenta mil cruzeiros),</p><p>referente às parcelas 17 e 18 (com atraso);</p><p>10.***Recibo datado de 27/08/1992, de CR$ 47.431.000,00 (quarenta e sete milhões e</p><p>quatrocentos e trinta e um mil cruzeiros), referente à parcela 19 (última - vencimento</p><p>24/02/1992), mediante: CR$ 20.000.000, através do cheque 320059 do BEC, para ser</p><p>apresentado dia 27/07/1992; CR$ 27.431.000,00, através do cheque 320059 do BEC,</p><p>para ser apresentado dia 04/09/1992 (com atraso)</p><p>*** (em litígio)</p><p>Comprovou a requerida inúmeras comunicações feitas à apelante acerca de débitos em</p><p>atraso, bem como que houve no período contratual a emissão pela apelante de cheques</p><p>que retornaram por insuficiência de fundos (fls.338/339). Observa-se que os referidos</p><p>cheques pertencem à conta da apelante no Banco do Estado do Ceará AG. 069.</p><p>É consabido que a ação de adjudicação compulsória é a ação pessoal na qual se visa o</p><p>cumprimento do registro de um imóvel que fora objeto de alienação.</p><p>Sobre o tema, está previsto no Código Civil:</p><p>ESTADO DO CEARÁ</p><p>PODER JUDICIÁRIO</p><p>TRIBUNAL DE JUSTIÇA</p><p>GABINETE DO DESEMBARGADOR FRANCISCO MAURO FERREIRA LIBERATO</p><p>______________________________________________________________________________</p><p>10</p><p>Art. 1.417. Mediante promessa de compra e venda, em que se não pactuou</p><p>arrependimento, celebrada por instrumento público ou particular, e registrada no</p><p>Cartório de Registro de Imóveis, adquire o promitente comprador direito real à</p><p>aquisição do imóvel.</p><p>Art. 1.418. O promitente comprador, titular de direito real, pode exigir do promitente</p><p>vendedor, ou de terceiros, a quem os direitos deste forem cedidos, a outorga da escritura</p><p>definitiva de compra e venda, conforme o disposto no instrumento preliminar; e, se</p><p>houver recusa, requerer ao juiz a adjudicação do imóvel.</p><p>Nesses termos, existem alguns critérios para a procedência da adjudicação compulsória.</p><p>Conforme pode-se extrair do disposto nos artigos 1.417 e 1.418 do Código Civil, a ação</p><p>de adjudicação compulsória tem como condições específicas, além daquelas de cunho</p><p>processual inerentes a todas as ações: (a) a existência de um contrato de promessa de</p><p>compra e venda, celebrado por instrumento público ou particular, desprovido de</p><p>cláusula de arrependimento; (b) a quitação integral do preço do negócio, já que, sem a</p><p>prova do pagamento, o autor carece da execução específica, não podendo, portanto,</p><p>exigir a escritura ou o objeto do pré-contrato (art. 1.092 do CC e art. 640 do CPC); (c) o</p><p>preenchimento dos requisitos formais do contrato típico de compromisso de compra e</p><p>venda (qualificação dos contratantes; outorga conjugal, quando necessária; perfeita</p><p>identificação e descrição do bem; o modo de pagamento; etc.); e (d) para parte da</p><p>doutrina e da jurisprudência, o registro da avença no cartório de imóveis.</p><p>Dessas condições, tem-se que a prova cabal de pagamento integral do preço é requisito</p><p>essencial para se exigir a expedição da Carta de Adjudicação.</p><p>Também é o entendimento do Colendo STJ:</p><p>AGRAVO INTERNO NO AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO</p><p>ESPECIAL. ADJUDICAÇÃO COMPULSÓRIA CUMULADA COM</p><p>DECLARATÓRIA. COMPROVAÇÃO DO PAGAMENTO INTEGRAL DO PREÇO.</p><p>AUSÊNCIA. CERCEAMENTO DO DIREITO À PROVA TESTEMUNHAL. NÃO</p><p>OCORRÊNCIA. SÚMULAS 5 E 7/STJ. CIÊNCIA DA IMOBILIÁRIA ACERCA DO</p><p>CONTRATO. IRRELEVÂNCIA. AGRAVO INTERNO DESPROVIDO.</p><p>(STJ.AgInt no AgInt no AREsp 986.521/SP, Rel. Ministro LÁZARO GUIMARÃES</p><p>(DESEMBARGADOR CONVOCADO DO TRF 5ª REGIÃO), QUARTA TURMA,</p><p>julgado em 07/11/2017, DJe 13/11/2017).</p><p>Depreende-se do precedente supramencionado que o ônus de comprovação do</p><p>pagamento da avença recai sobre a parte autora, na medida em que cabe ao autor</p><p>comprovar fato constitutivo de seu direito, nos termos do art. 373, I, do CPC/15 (art.</p><p>333, I, CPC/73).</p><p>Em análise do caso concreto, não resta dúvida de que a autora recorrente não se</p><p>desincumbiu de tal ônus.</p><p>Observe-se que o prefalado Recibo (fl. 595), correlacionado à suposta quitação do</p><p>contrato de compra e venda (parcela 19/19), não pode ser atribuída a credibilidade que</p><p>espera a recorrente, dada a inconsistência de constar a mesma numeração do cheque, do</p><p>mesmo banco e agência, para valores e vencimentos distintos.</p><p>Senão, vejamos:</p><p>ESTADO DO CEARÁ</p><p>PODER JUDICIÁRIO</p><p>TRIBUNAL DE JUSTIÇA</p><p>GABINETE DO DESEMBARGADOR FRANCISCO MAURO FERREIRA LIBERATO</p><p>______________________________________________________________________________</p><p>11</p><p>O Recibo é datado de 27/08/1992, de CR$ 47.431.000,00 (quarenta e sete milhões e</p><p>quatrocentos e trinta e um mil cruzeiros), referente à parcela 19 (última - vencimento</p><p>24/02/1992), mediante:</p><p>CR$ 20.000.000, através do cheque 320059 do BEC, para ser apresentado dia</p><p>27/07/1992;</p><p>CR$ 27.431.000,00, através do cheque 320059 do BEC, para ser apresentado dia</p><p>04/09/1992</p><p>Com efeito, não se mostra razoável crer no mero recibo, com graves inconsistências,</p><p>como prova do pagamento/quitação, quando, em confronto, não houve comprovação da</p><p>compensação dos cheques, sob pena de causar enriquecimento indevido à apelante e</p><p>prejuízo demasiado à apelada.</p><p>Ademais, se houve a substituição dos cheques por dinheiro em espécie, como alega a</p><p>recorrente em uma oportunidade, deveria ter exigido da ré um novo recibo, bem como</p><p>reter consigo a cártula. Outrossim, deveria ter a apelante, por estar consciente de que</p><p>realmente efetuara o pagamento, com a quantia sendo debitada de sua conta bancária,</p><p>procurado o Banco do Estado do Ceará e realizado uma varredura nos seus extratos</p><p>bancários em uma margem de tempo mais estendida até. É o que se espera do homem</p><p>médio, que tome as providências necessárias, ainda mais quando plausíveis e objetivas.</p><p>Mas não o fez. A suposta quitação se deu em 1992, mas somente em judicializou no ano</p><p>de 2000, não trazendo a documentação suficiente e prova robusta do alegado.</p><p>Não existiu inadimplemento contratual por parte da Apelada, que possui a obrigação de</p><p>outorgar a escritura definitiva somente após o pagamento integral da dívida.</p><p>Neste contexto, restando configurado o descumprimento contratual da insurgente, deve</p><p>ser observada a regra do artigo 476 do Código Civil (exceptio non adimpleti contractus).</p><p>A propósito:</p><p>[...]</p><p>1. Nenhum dos sujeitos da relação jurídica, antes de cumprida sua obrigação, pode</p><p>exigir o adimplemento da obrigação contraposta, eis a transposição para o processo</p><p>da máxima civilista</p><p>do exceptio non adimpleti contractus.</p><p>[...]</p><p>3. Recurso especial provido.</p><p>(STJ, REsp 826.781/RS, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA,</p><p>julgado em 22/02/2011, DJe 25/02/2011).</p><p>(g.n).</p><p>Portanto, correta a parte da sentença que reconheceu a não quitação integral do preço,</p><p>não permitindo a adjudicação imediata do imóvel (adjudicação diferida para após o</p><p>pagamento integral da dívida) e, determinou à Recorrente a complementação deles.</p><p>Desse modo, na medida em que era ônus da autora/recorrente comprovar fato</p><p>constitutivo de seu direito, não há que se falar em reforma da sentença, devendo a</p><p>improcedência da demanda ser mantida.”</p><p>Do exposto, Agravo Interno conhecido e DESPROVIDO. Decisão mantida.</p><p>ESTADO DO CEARÁ</p><p>PODER JUDICIÁRIO</p><p>TRIBUNAL DE JUSTIÇA</p><p>GABINETE DO DESEMBARGADOR FRANCISCO MAURO FERREIRA LIBERATO</p><p>______________________________________________________________________________</p><p>12</p><p>É como voto.</p><p>Fortaleza, data e hora no sistema.</p><p>DESEMBARGADOR FRANCISCO MAURO FERREIRA LIBERATO</p><p>Relator</p><p>2024-07-10T19:12:41-0300</p><p>Not specified</p>