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<p>L</p><p>ic</p><p>en</p><p>se</p><p>d</p><p>t</p><p>o</p><p>m</p><p>ay</p><p>ra</p><p>lo</p><p>rr</p><p>ay</p><p>n</p><p>e</p><p>d</p><p>o</p><p>s</p><p>sa</p><p>n</p><p>to</p><p>s</p><p>-</p><p>m</p><p>ay</p><p>ra</p><p>.lo</p><p>sa</p><p>n</p><p>to</p><p>s@</p><p>g</p><p>m</p><p>ai</p><p>l.c</p><p>o</p><p>m</p><p>COPYRIGHT</p><p>50 Alusões para usar na Redação</p><p>1ª Edição</p><p>Professores participantes: Prof. Dr. Alex Martoni, Prof. Dr. Otávio Campos, Prof. Ms.</p><p>Raphael Reis, Profª .Ms. Vanessa Martoni Prof. Ms. Waldyr Imbroisi e Prof. Dr. Wendell</p><p>Guiducci</p><p>© 2023 Todos os direitos pertencem à empresa Raphael</p><p>de Oliveira Reis Limitada (Mago da Redação Concursos)</p><p>www.professorraphaelreis.com.br</p><p>Projeto gráfico e diagramação: Daniel Serpa</p><p>www.behance.net/danielserpadesign</p><p>É proibido copiar, distribuir, reproduzir e comercializar.</p><p>Valorize o trabalho dos Professores e respeite os direitos autorais</p><p>L</p><p>ic</p><p>en</p><p>se</p><p>d</p><p>t</p><p>o</p><p>m</p><p>ay</p><p>ra</p><p>lo</p><p>rr</p><p>ay</p><p>n</p><p>e</p><p>d</p><p>o</p><p>s</p><p>sa</p><p>n</p><p>to</p><p>s</p><p>-</p><p>m</p><p>ay</p><p>ra</p><p>.lo</p><p>sa</p><p>n</p><p>to</p><p>s@</p><p>g</p><p>m</p><p>ai</p><p>l.c</p><p>o</p><p>m</p><p>SUMÁRIO</p><p>Apresentação do E-book .................................................6</p><p>Apresentação dos Professores ......................................7</p><p>1.0 Alusões Literárias</p><p>1.1 1984, de George Orwell ...................................................12</p><p>1.2 Quarto de Despejo, de</p><p>Carolina Maria Jesus ....................................................14</p><p>1.3 Vidas Secas, de Graciliano Ramos ...............................15</p><p>1.4 Torto Arado, de Itamar Vieira Jr. ....................................17</p><p>1.5 Sonho de um Homem Ridículo,</p><p>de Fiódor Dostoévski .....................................................18</p><p>1.6 Os Sertões, de Euclides da Cunha ..................................20</p><p>1.7 O Avesso da Pele, de Jefferon Tenório ..........................22</p><p>1.8 A Morte e o Meteoro, de Jocas Reiner Terron ................23</p><p>1.9 O Sol na Cabeça, de Geovani Martin ..............................25</p><p>1.10 Morte e Vida Severina,</p><p>de João Cabral de Melo Neto ...........................................27</p><p>1.11 O Jovem, de Annie Ernaux ..............................................29</p><p>1.12 O Pai da Menina Morta, de Tiago Ferro ..........................31</p><p>1.13 Temporada de Furacões, de Fernanda Melchor ..............32</p><p>1.14 Capitães de Areia, de Jorge Amado ...............................34</p><p>1.15 O Filho Eterno, de Cristovão Tezza .................................35</p><p>1.16 O Martelo, de Adelaide Ivánova ......................................37</p><p>1.17 Ensaio sobre a Cegueira, de José Saramago ................41</p><p>1.18 Memórias do Cárcere, de Graciliano Ramos .................42</p><p>1.19 Quadro Operários, de Tarsila do Amaral ........................44</p><p>1.20 A Traição das Imagens ...................................................46</p><p>L</p><p>ic</p><p>en</p><p>se</p><p>d</p><p>t</p><p>o</p><p>m</p><p>ay</p><p>ra</p><p>lo</p><p>rr</p><p>ay</p><p>n</p><p>e</p><p>d</p><p>o</p><p>s</p><p>sa</p><p>n</p><p>to</p><p>s</p><p>-</p><p>m</p><p>ay</p><p>ra</p><p>.lo</p><p>sa</p><p>n</p><p>to</p><p>s@</p><p>g</p><p>m</p><p>ai</p><p>l.c</p><p>o</p><p>m</p><p>2.0 Alusões Históricas</p><p>2.1 Escravidão ............................................................................................48</p><p>2.2 Revolução Industrial ............................................................................50</p><p>2.3 Revolta da Vacina ................................................................................51</p><p>2.4 Primavera Árabe e Revoltas de Junho ................................................53</p><p>2.5 “Roaring Twenties”, ou Os Loucos Anos 20 .......................................55</p><p>2.6 A Arte no Segundo Reinado .................................................................56</p><p>2.7 A Semana de Arte Moderna de 1922 .................................................58</p><p>2.8 A Invenção da Prensa de Gutenberg ..................................................59</p><p>2.9 Macartismo ............................................................................................61</p><p>2.10 Globalização ........................................................................................62</p><p>2.11 Colonialismo ..........................................................................................63</p><p>2.12 Urbanização no Brasil .........................................................................64</p><p>2.13 Constituinte .........................................................................................65</p><p>2.14 Movimento Sufragista ........................................................................67</p><p>2.15 Iluminismo ...........................................................................................68</p><p>3.0 Alusões Cinematográficas</p><p>3.1 O Contador de Histórias, de Luiz Villaça ..............................................70</p><p>3.2 Coringa, de Todd Phillips .....................................................................72</p><p>3.3 Triângulo da Tristeza, de Ruben Östlund .............................................74</p><p>3.4 M3gan, de Gerard Johnstone ..............................................................75</p><p>3.5 Viver, de Akira Kurosawa .....................................................................77</p><p>3.6 A Montanha dos 7 Abutres, de Billy Wilder .........................................78</p><p>3.7 A Baleia, de Darren Aronfsky ...............................................................80.......</p><p>.......................95.</p><p>L</p><p>ic</p><p>en</p><p>se</p><p>d</p><p>t</p><p>o</p><p>m</p><p>ay</p><p>ra</p><p>lo</p><p>rr</p><p>ay</p><p>n</p><p>e</p><p>d</p><p>o</p><p>s</p><p>sa</p><p>n</p><p>to</p><p>s</p><p>-</p><p>m</p><p>ay</p><p>ra</p><p>.lo</p><p>sa</p><p>n</p><p>to</p><p>s@</p><p>g</p><p>m</p><p>ai</p><p>l.c</p><p>o</p><p>m</p><p>3.8 O Som ao Redor, de Kleber Mendonça Filho .......................................82</p><p>3.9 Filadélfia, de Jonathan Demme .........................................................84</p><p>3.10 Que Horas Ela Volta? de Anna Muylaert ............................................85</p><p>3.11 Human Flow: Não Existe Lar se Não Há para Onde Ir,</p><p>de Ai Weiwei ........................................................................................87</p><p>3.12 Ela, de Spike Jonze .............................................................................88</p><p>3.13 Lixo Extraordinário, de Lucy Walker ....................................................89</p><p>3.14 Nise: O Coração da Loucura, de Roberto Berliner ..............................90</p><p>3.15 Aquarius, de Kleber Mendonça Filho ...................................................91</p><p>L</p><p>ic</p><p>en</p><p>se</p><p>d</p><p>t</p><p>o</p><p>m</p><p>ay</p><p>ra</p><p>lo</p><p>rr</p><p>ay</p><p>n</p><p>e</p><p>d</p><p>o</p><p>s</p><p>sa</p><p>n</p><p>to</p><p>s</p><p>-</p><p>m</p><p>ay</p><p>ra</p><p>.lo</p><p>sa</p><p>n</p><p>to</p><p>s@</p><p>g</p><p>m</p><p>ai</p><p>l.c</p><p>o</p><p>m</p><p>6 50 Alusões para Usar na Redação @profraphaelreis</p><p>APRESENTAÇÃO DO E-BOOK</p><p>Senhoras e senhores: este e-book que você tem diante de si é mais uma</p><p>produção do Mago da Redação, destinada a prover vocês com os recursos</p><p>necessários para serem aprovados nos certames.</p><p>Desde 2019, quando lancei o e-book “15 conceitos para usar na redação da</p><p>FCC” (hoje sendo atualizado para 40 conceitos), vi o livro alcançar centenas de</p><p>exemplares vendidos, tornando-se um best-seller no mundo dos concursos. Em</p><p>seguida, a atualização, com 25 conceitos, e outras obras – notadamente, “43</p><p>modelos de redação para a FCC” – chegaram para aprofundar os estudos de muitos</p><p>concurseiros, cumprindo o seu objetivo mais importante: contribuir decisivamente</p><p>para que muitos alunos tirassem notas excelentes em suas redações e ficassem,</p><p>assim, mais próximos da aprovação.</p><p>Neste produto, realizamos um trabalho com primor e sofisticação para que</p><p>você possa ter condições de mobilizar, de forma consistente e precisa, um dos</p><p>tipos mais apreciados de repertório sociocultural na sua redação: as alusões –</p><p>incluindo, neste e-book, alusões literárias, históricas e cinematográficas. São 50</p><p>diferentes repertórios que oferecem conhecimento de mundo para escrever sobre</p><p>qualquer tema, com explicações detalhadas e exemplos práticos de aplicação em</p><p>parágrafos introdutórios ou argumentativos.</p><p>Para ampliar o leque de opções argumentativas disponíveis e entregar para</p><p>você um trabalho profundo, diversificado e refinado, contei com a colaboração de</p><p>professores especialistas na área da redação, das artes e da literatura, membros</p><p>ic</p><p>en</p><p>se</p><p>d</p><p>t</p><p>o</p><p>m</p><p>ay</p><p>ra</p><p>lo</p><p>rr</p><p>ay</p><p>n</p><p>e</p><p>d</p><p>o</p><p>s</p><p>sa</p><p>n</p><p>to</p><p>s</p><p>-</p><p>m</p><p>ay</p><p>ra</p><p>.lo</p><p>sa</p><p>n</p><p>to</p><p>s@</p><p>g</p><p>m</p><p>ai</p><p>l.c</p><p>o</p><p>m</p><p>36 50 Alusões para Usar na Redação @profraphaelreis</p><p>Baseado em uma vivência do próprio autor, a narrativa de “O filho eterno” inicia-se</p><p>com o personagem principal se deparando com o nascimento de seu filho, Felipe, e, junto</p><p>disso, a ciência de seu diagnóstico, que o deixa desesperado. Despreparado em várias</p><p>medidas, em uma época em que o assunto sobre síndrome de down pouco era discutido</p><p>na mídia, o pai acredita que seu filho jamais poderá viver uma vida normal de um ser</p><p>humano qualquer. Utilizando a equivocada e ignorante nomenclatura “mongolóide” (que</p><p>era muito comum na época em que o livro se passa, na década de 1980), o protagonista</p><p>se vê profundamente envergonhado da condição de seu filho e da sua própria liberdade</p><p>que é negada diante dos cuidados extremos que deverá ter com seu descendente. Por</p><p>conta disso, seu desejo mais alentador é o de que o filho, bastante vulnerável a doenças,</p><p>não viverá por muito tempo, e logo logo essa situação será sanada.</p><p>No entanto, tal sentença de morte dada a Felipe, tanto pelo pai quanto por toda a</p><p>sociedade da época, não ocorre efetivamente, e possivelmente vem daí o título da obra.</p><p>Partindo, então, desse início sombrio, a narrativa vai se tornando não menos espinhosa,</p><p>mas um tanto mais fluida, em que acompanhamos o crescimento do menino até aos 26</p><p>anos de idade, bem como o amadurecimento em conjunto de seu pai e das questões</p><p>que o cercam. Com o passar do tempo, em que vemos também flashes do passado</p><p>do protagonista, em que as questões do presente parecem minimamente se justificar,</p><p>percebemos como algumas barreiras afetivas podem ser ultrapassadas a partir do</p><p>conhecimento do mundo, tanto por parte do narrador, quanto por parte do seu filho. Por</p><p>fim, desenhando uma conexão em que, paradoxalmente, o pai se sente completamente</p><p>dependente do filho (revelando, por exemplo, que se antes ele desejava sua morte, agora</p><p>“sua ausência parece matá-lo”), Tezza constrói um romance muito delicado e emocionante,</p><p>no qual se sobressaem os laços afetivos entre pai e filho, mesmo com todos os percalços</p><p>que aparecem no caminho.</p><p>Obviamente, esse pequeno resumo da obra não dá conta de toda sua complexidade,</p><p>muito menos de sua incrível capacidade narrativa (o que justifica os inúmeros prêmios que</p><p>recebeu). Mas é possível perceber que “O filho eterno” é não somente um livro incontornável</p><p>da nossa literatura contemporânea, como também uma alusão interessantíssima para</p><p>usarmos quando trabalhamos temas que envolvem a aceitação social de pessoas com</p><p>algum tipo e deficiência. Nesse caso, estamos lidando com a deficiência cognitiva,</p><p>característica da Síndrome de Down. No exemplo abaixo, utilizamos o livro para discutir</p><p>sobre o tema “Inclusão social da criança com Síndrome de Down”.</p><p>Exemplo:</p><p>Além disso, é propício discutir que o despreparo familiar corrobora a situação da</p><p>falta de inclusão das crianças com Síndrome de Down na sociedade brasileira. Muitas</p><p>vezes, os próprios pais, como cidadãos pertencentes a uma sociedade preconceituosa,</p><p>não detêm informações sobre a doença e encaram seus filhos como uma vergonha e</p><p>como alguém que é incapaz de viver tal qual os demais seres humanos. Visto isso, pode-</p><p>se citar o livro “O filho Eterno”¸ de Cristóvão Tezza, no qual o autor, tomando como partida</p><p>L</p><p>ic</p><p>en</p><p>se</p><p>d</p><p>t</p><p>o</p><p>m</p><p>ay</p><p>ra</p><p>lo</p><p>rr</p><p>ay</p><p>n</p><p>e</p><p>d</p><p>o</p><p>s</p><p>sa</p><p>n</p><p>to</p><p>s</p><p>-</p><p>m</p><p>ay</p><p>ra</p><p>.lo</p><p>sa</p><p>n</p><p>to</p><p>s@</p><p>g</p><p>m</p><p>ai</p><p>l.c</p><p>o</p><p>m</p><p>37 50 Alusões para Usar na Redação @profraphaelreis</p><p>suas experiências pessoais, conta a história de um pai que descobre que seu filho tem</p><p>Síndrome de Down e, inicialmente, não consegue aceitar essa condição. No romance, o</p><p>protagonista chega, algumas vezes, a desejar a morte do filho, já que tem a ideia de que</p><p>é uma criança muito frágil e, em certa medida, isso facilitaria a vida de ambos e evitaria a</p><p>vergonha de ser pai de uma criança deficiente. Nessa perspectiva, em analogia à realidade</p><p>brasileira, a falta de informação faz com que os responsáveis por essas crianças não as</p><p>enxerguem com a humanidade que têm, o que os leva, muitas vezes, a afastar os filhos</p><p>do convívio em sociedade, tratando-os como se devessem sempre estar às margens de</p><p>qualquer direito ou interação social.</p><p>1.16 o MArTelo</p><p>de adelaide ivánova</p><p>A poeta recifense Adelaide Ivánova, que há anos vive</p><p>na Alemanha, certa vez relatou a uma amiga que, após</p><p>um episódio em que sofreu violência sexual, passou a</p><p>dormir com um martelo embaixo do travesseiro, para</p><p>se defender caso fosse necessário. Dessa conversa,</p><p>surgiu o mote para o livro “O martelo”, publicado pela</p><p>primeira vez em Portugal em 2016 e, no ano seguinte,</p><p>em uma edição ampliada, no Brasil, o que lhe rendeu</p><p>o prestigioso Prêmio Rio de Literatura. Foi com esse</p><p>livro que Adelaide Ivánova se tornou uma poeta</p><p>reconhecida no cenário da poesia contemporânea</p><p>brasileira e conseguiu reacender discussões sobre as</p><p>violências que atingem o corpo feminino em nossa</p><p>sociedade.</p><p>L</p><p>ic</p><p>en</p><p>se</p><p>d</p><p>t</p><p>o</p><p>m</p><p>ay</p><p>ra</p><p>lo</p><p>rr</p><p>ay</p><p>n</p><p>e</p><p>d</p><p>o</p><p>s</p><p>sa</p><p>n</p><p>to</p><p>s</p><p>-</p><p>m</p><p>ay</p><p>ra</p><p>.lo</p><p>sa</p><p>n</p><p>to</p><p>s@</p><p>g</p><p>m</p><p>ai</p><p>l.c</p><p>o</p><p>m</p><p>38 50 Alusões para Usar na Redação @profraphaelreis</p><p>Em “O martelo”, não há uma linguagem complexa como muitos esperam de um</p><p>livro de poesia, mas versos diretos e discursivos, em que a técnica poética se dá muito</p><p>mais pelos cortes operados nos versos dos poemas e pelas imagens que são criadas. É</p><p>possível, no conjunto da obra, observarmos uma progressão narrativa, em que a figura do</p><p>martelo aparece tanto como uma arma de defesa, como um instrumento usado por um</p><p>juiz em um tribunal. E é justamente no tribunal, aquele clássico da jurisdição e também o</p><p>da própria sociedade, que Ivánova desenvolve seus poemas. Na primeira parte do livro, a</p><p>poeta apresenta poemas que saem da experiência da violência sexual e se encaminham</p><p>pelo tortuoso e doloroso caminho que uma mulher enfrenta para denunciar o crime. No</p><p>poema “o gato”, por exemplo, lemos: “a delegada não me levou a sério / em nada e</p><p>perguntou escorregadia / se eu queria mesmo que se / instaurasse um inquérito (...)”,</p><p>revelando a violência que existe depois do assédio, a que coloca sempre a mulher mais</p><p>uma vez em um lugar de vítima, quando os papéis se invertem e ela parece responsável</p><p>pela própria tragédia. Essa situação é também amplificada no poema seguinte, “a porca”,</p><p>em que lemos: “a escrivã é uma pessoa / e está curiosa como são / curiosas as pessoas /</p><p>pergunta-me por que bebi / tanto não respondi mas sei / que a gente bebe pra morrer /</p><p>sem ter que morrer muito”.</p><p>Como se pode notar, a violência do assunto dos poemas é amplificada pelo corte</p><p>no meio do sintagma dos versos, criando amplificações e imagens ainda mais vívidas da</p><p>situação da mulher vítima desse tipo de abuso. Os títulos com nomes de animais denunciam</p><p>ainda uma suposta não humanidade do corpo feminino quando, depois de sofrer uma</p><p>experiência traumática, é ainda colocada à prova pelas instituições que deveriam garantir</p><p>seu bem-estar. No poema “o urubu”, a poeta descreve a experiência com um exame</p><p>de corpo de delito, necessário para se abrir uma queixa desse tipo. O que vemos, no</p><p>entanto, é a frieza com que o médico trata o corpo que já está tão marcado e debilitado.</p><p>Vale a pena conferir o poema completo, para pensar nessa imagem da objetificação do</p><p>corpo feminino, que transcende um exame de rotina e se espalha por todo o corpo social,</p><p>reverberando essa problemática contemporânea. Reparem também que Adelaide Ivánova,</p><p>não por acaso, trata a situação sem rodeios e dramas, em algum lugar entre a ironia e a</p><p>resignação.</p><p>L</p><p>ic</p><p>en</p><p>se</p><p>d</p><p>t</p><p>o</p><p>m</p><p>ay</p><p>ra</p><p>lo</p><p>rr</p><p>ay</p><p>n</p><p>e</p><p>d</p><p>o</p><p>s</p><p>sa</p><p>n</p><p>to</p><p>s</p><p>-</p><p>m</p><p>ay</p><p>ra</p><p>.lo</p><p>sa</p><p>n</p><p>to</p><p>s@</p><p>g</p><p>m</p><p>ai</p><p>l.c</p><p>o</p><p>m</p><p>39 50 Alusões para Usar na Redação</p><p>@profraphaelreis</p><p>o urubu</p><p>corpo de delito é</p><p>a expressão usada</p><p>para os casos de</p><p>infração em que há</p><p>no local marcas do evento</p><p>infracional</p><p>fazendo do corpo</p><p>um lugar e de delito</p><p>um adjetivo o exame</p><p>consiste em ver e ser</p><p>visto (festas também</p><p>consistem disso)</p><p>deitada numa maca com</p><p>quatro médicos ao meu redor</p><p>conversando ao mesmo tempo</p><p>sobre mucosas a greve</p><p>a falta de corpos descartáveis</p><p>e decidindo diante de minhas pernas</p><p>abertas se depois do</p><p>expediente iam todos pro bar</p><p>o doutor do instituto</p><p>de medicina legal escreveu seu laudo</p><p>sem olhar pra minha cara</p><p>e falando no celular</p><p>eu e o doutor temos um corpo</p><p>e pelo menos outra coisa em comum:</p><p>adoramos telefonar e ir pro bar</p><p>o doutor é uma pessoa</p><p>lida com mortos e mulheres vivas</p><p>(que ele chama de peças)</p><p>com coisas.</p><p>L</p><p>ic</p><p>en</p><p>se</p><p>d</p><p>t</p><p>o</p><p>m</p><p>ay</p><p>ra</p><p>lo</p><p>rr</p><p>ay</p><p>n</p><p>e</p><p>d</p><p>o</p><p>s</p><p>sa</p><p>n</p><p>to</p><p>s</p><p>-</p><p>m</p><p>ay</p><p>ra</p><p>.lo</p><p>sa</p><p>n</p><p>to</p><p>s@</p><p>g</p><p>m</p><p>ai</p><p>l.c</p><p>o</p><p>m</p><p>40 50 Alusões para Usar na Redação @profraphaelreis</p><p>Apesar de sua recente publicação, “O Martelo” já é considerado por alguns críticos</p><p>como um dos clássicos recentes da poesia contemporânea brasileira do século XXI. No</p><p>exemplo a seguir, mostramos como esse livro pode ser utilizado para discutir o tema “A</p><p>persistência da violência contra a mulher no Brasil”.</p><p>Exemplo:</p><p>Outrossim, a falta de amparo das instituições legais colabora com a persistência</p><p>dessa chaga na sociedade brasileira. Além de sofrer violências e importunações sexuais, as</p><p>mulheres muitas vezes têm que reviver esse trauma quando decidem denunciar e passam</p><p>por situações invasivas e constrangedoras. Soma-se a esse fato também a descrença de</p><p>muitas pessoas em relação à denúncia da vítima, colocando a mulher sempre no lugar de</p><p>culpada da situação que viveu, o que dificulta ainda mais que denúncias sejam realizadas.</p><p>Essa situação pode ser exemplificada com o livro “O martelo”, da poeta Adelaide Ivánova,</p><p>que discute o tema em questão e fala do constrangimento que uma mulher assediada tem</p><p>que passar para denunciar o crime. Em poemas como “a porca”, por exemplo, vemos que</p><p>a escrivã, responsável por colher o depoimento, não só duvida da mulher, mas também</p><p>lhe pergunta o motivo de ter bebido demais, como se isso a fizesse ser responsável pelo</p><p>próprio estupro. Já no poema “o urubu”, lemos como é violento um exame de corpo</p><p>de delito, em que a mulher é mais uma vez tratada como um objeto sem vida, mesmo</p><p>tendo passado por uma situação traumática. Os poemas do livro, portanto, retratam com</p><p>bastante realidade situações muito comuns na sociedade brasileira e exemplificam a falta</p><p>de amparo institucional para solucionar esse impasse.</p><p>L</p><p>ic</p><p>en</p><p>se</p><p>d</p><p>t</p><p>o</p><p>m</p><p>ay</p><p>ra</p><p>lo</p><p>rr</p><p>ay</p><p>n</p><p>e</p><p>d</p><p>o</p><p>s</p><p>sa</p><p>n</p><p>to</p><p>s</p><p>-</p><p>m</p><p>ay</p><p>ra</p><p>.lo</p><p>sa</p><p>n</p><p>to</p><p>s@</p><p>g</p><p>m</p><p>ai</p><p>l.c</p><p>o</p><p>m</p><p>41 50 Alusões para Usar na Redação @profraphaelreis</p><p>1.17 eNSAIo SoBre A CeGUeIrA</p><p>de josé saramago</p><p>O romance “Ensaio sobre a Cegueira” (1995) é uma obra</p><p>do premiado escritor português José Saramago, laureado</p><p>com o Nobel de Literatura em 1998 pelo conjunto de sua</p><p>brilhante obra. O narrador relata – como observador - a</p><p>história de uma epidemia de cegueira “branca” que se</p><p>dissemina, deixando a população acometida por ela em uma</p><p>caótica e degradante situação de restrição de liberdade</p><p>do ir e vir e de falta de acesso à dignidade. Os “cegos”</p><p>ficam muito temerosos em relação ao contágio misterioso</p><p>que ronda o aparecimento aleatório da patologia entre as</p><p>pessoas. É irônico perceber que os personagens, na ficção,</p><p>pouco a pouco, vão ficando cegos de uma cegueira branca,</p><p>leitosa e luminosa, que lhes turva a visão e impede que enxerguem o necessário, o</p><p>essencial. Precisa representação da realidade contemporânea, o narrador convida</p><p>o leitor a ver o que acontece quando todos não podem mais ver, momento em que</p><p>mesmo o enxergar já é insuficiente se não houver predisposição a mudar.</p><p>Retrata-se, em uma metrópole fictícia, em um cenário desolador, um momento de</p><p>apocalipse social, em que a civilização se percebe desamparada diante de seus problemas</p><p>que clamam por intervenção, porém, em uma espécie de metáfora do destino, as pessoas</p><p>não conseguem “enxergar” o que precisa ser alterado. Todos parecem impotentes</p><p>e expostos a uma situação de vulnerabilidade máxima no que diz respeito às suas</p><p>necessidades particulares básicas e às demandas do coletivo que se vê frágil, frustrado,</p><p>em confronto com uma verdade que não se pode e não se quer ver.</p><p>No internato em que o governo isola os cegos em quarentena, autoritarismo, poder,</p><p>distinção entre os gêneros, hostilidade, hipocrisia - entre outros sentimentos - animalizam</p><p>os homens que estão inclusive sem acesso à segurança alimentar mínima. Ocorre, então,</p><p>no confronto entre os homens cegos (uma cegueira que os impede de ver o essencial),</p><p>a desintegração total da ética que regula as relações sociais. Há a construção de uma</p><p>espécie de alegoria da vida humana na pós-modernidade. O ser já não vale mais nada:</p><p>todos se perderam, fúteis, egoístas.</p><p>L</p><p>ic</p><p>en</p><p>se</p><p>d</p><p>t</p><p>o</p><p>m</p><p>ay</p><p>ra</p><p>lo</p><p>rr</p><p>ay</p><p>n</p><p>e</p><p>d</p><p>o</p><p>s</p><p>sa</p><p>n</p><p>to</p><p>s</p><p>-</p><p>m</p><p>ay</p><p>ra</p><p>.lo</p><p>sa</p><p>n</p><p>to</p><p>s@</p><p>g</p><p>m</p><p>ai</p><p>l.c</p><p>o</p><p>m</p><p>42 50 Alusões para Usar na Redação @profraphaelreis</p><p>O livro – que virou filme exibido em 2008 – confronta os leitores com o ápice da</p><p>alienação diante do outro que já não se enxerga mais, com o qual não se importa mais.</p><p>Há um cenário propicio à violência que pode ser abordado em diferentes temas, mas</p><p>principalmente para ilustrar a banalidade do mal haja vista que os homens alienados dos</p><p>pares seguem sem ver que a vida já não é mais possível quando os valores são deturpados</p><p>em sua totalidade.</p><p>Exemplo:</p><p>Primeiramente, é válido observar o cenário de violência que se instaurou na</p><p>contemporaneidade, impedindo que o homem possa gozar plenamente de sua liberdade,</p><p>que está comprometida pelas suas próprias escolhas as quais alimentam a desigualdade</p><p>social e a injustiça. Dessa forma, o homem perde a autonomia de se movimentar livremente</p><p>por medo da insegurança das ruas haja vista que a manutenção do cenário de distinção</p><p>de oportunidades leva ao confronto social. A exemplo disso, pode-se apontar para a</p><p>obra fictícia “Ensaio sobre a cegueira”, do escritor português José Saramago, que revela</p><p>que o homem o qual não mais pode ver seus problemas e enxergá-los a ponto de alterá-</p><p>los torna-se vítima de si mesmo, um animal enclausurado pelo medo das ruas. Assim, a</p><p>conscientização torna-se necessária visto que a informação pode fazer o homem voltar os</p><p>olhos à verdade e à essência, propondo a mudança social que reduz diferença, promove</p><p>acesso, permite o experimento da liberdade comprometida.</p><p>1.18 MeMÓrIAS do CÁrCere</p><p>de graciliano ramos</p><p>“Memórias do Cárcere” é uma obra do escritor</p><p>brasileiro Graciliano Ramos, publicada em 1953. Na</p><p>autobiografia, o narrador relata o tempo em que</p><p>esteve preso (década de 1930), vítima da ditadura</p><p>civil no Estado Novo. Graciliano constrói uma história</p><p>em que o pano de fundo é a injustiça que degrada</p><p>socialmente os indesejáveis, aproveitando para</p><p>delinear denúncia à desumanização a que se era</p><p>submetido no ambiente hostil do cárcere, onde se</p><p>negligenciam direitos essenciais à vida em nome da</p><p>opressão política e policial.</p><p>L</p><p>ic</p><p>en</p><p>se</p><p>d</p><p>t</p><p>o</p><p>m</p><p>ay</p><p>ra</p><p>lo</p><p>rr</p><p>ay</p><p>n</p><p>e</p><p>d</p><p>o</p><p>s</p><p>sa</p><p>n</p><p>to</p><p>s</p><p>-</p><p>m</p><p>ay</p><p>ra</p><p>.lo</p><p>sa</p><p>n</p><p>to</p><p>s@</p><p>g</p><p>m</p><p>ai</p><p>l.c</p><p>o</p><p>m</p><p>43 50 Alusões para Usar na Redação @profraphaelreis</p><p>Já no trânsito do escritor entre o Recife e o Rio de Janeiro de navio, as descrições</p><p>misturam-se em uma configuração do caos degradante: um cotidiano de descaso com</p><p>a higiene, a exposição a insalubre calor, o cheiro fétido, o vômito, a urina e os alimentos,</p><p>todos descartados no chão entre os encarcerados. Não há respeito. Não há direitos. Além</p><p>disso, a escassez da dignidade aparece em</p><p>fusão à injustiça haja vista que o próprio</p><p>escritor não tem clareza acerca do processo que o leva ao encarceramento.</p><p>No pavilhão, ficam claras a tortura e a pressão psicológica a que eram submetidos</p><p>os presos: uma diária luta pela sobrevivência. Na animalização da exposição à fome, à dor,</p><p>ao apagamento da identidade, à doença, e, por vezes, à morte, anulam-se os resquícios</p><p>de humanidade nos detentos. O narrador, diante de tal cenário e não alheio a descrevê-lo,</p><p>não poupa críticas à corrupção do governo e os desmandos que o mantêm, bem como o</p><p>desserviço da informação no país.</p><p>Em alguns momentos, o discurso ganha tons melancólicos a revelar um homem</p><p>contemporâneo a viver em estado de escravidão. Essa reflexão não poupa o sistema e</p><p>resvala também em convites a pensar a educação e outras forma de opressão.</p><p>A obra pode ser usada em textos de denúncia à injustiça, de crítica à ação da</p><p>segurança pública, de autoritarismo, de perda de direitos sociais, políticos, civis e humanos.</p><p>Exemplo:</p><p>Além disso, é importante observar como se constrói a injustiça em um cenário</p><p>de desigualdade social. Os preteridos, os marginalizados, muitas vezes se submetem</p><p>a situações que sequer compreendem visto que são expostos à escassez alimentar, à</p><p>moradia insegura, à desocupação laboral, à ausência de saneamento, de saúde e de</p><p>educação e, consequentemente, percebem-se desumanizados. À luz disso, é possível</p><p>aproximar a situação à denúncia feita por Graciliano Ramos na obra “Memórias do</p><p>Cárcere”, em que o narrador retoma a despersonalização dos encarcerados, que, além</p><p>de estarem privados de liberdade – alguns injustamente –, são submetidos à violência</p><p>física e moral e não têm acesso a seus direitos de cidadãos. Dessa forma, a desigualdade</p><p>é alimentada e alimenta – ao mesmo tempo – a injustiça.</p><p>L</p><p>ic</p><p>en</p><p>se</p><p>d</p><p>t</p><p>o</p><p>m</p><p>ay</p><p>ra</p><p>lo</p><p>rr</p><p>ay</p><p>n</p><p>e</p><p>d</p><p>o</p><p>s</p><p>sa</p><p>n</p><p>to</p><p>s</p><p>-</p><p>m</p><p>ay</p><p>ra</p><p>.lo</p><p>sa</p><p>n</p><p>to</p><p>s@</p><p>g</p><p>m</p><p>ai</p><p>l.c</p><p>o</p><p>m</p><p>44 50 Alusões para Usar na Redação @profraphaelreis</p><p>1.19 QUAdro “oPerÁrIoS”</p><p>de tarsila do amaral</p><p>A pintura “Operários” é uma das mais emblemáticas obras de Tarsila do Amaral,</p><p>expoente do modernismo brasileiro nas artes plásticas. A tela, pintada em 1933, é um marco</p><p>na fase social da artista e retrata de forma a um só tempo social-realista e expressionista</p><p>a industrialização no país, particularmente na cidade de São Paulo, e sua força de trabalho</p><p>formada por migrantes de várias partes do país.</p><p>Tarsila acabara de voltar de uma temporada na antiga União Soviética, onde</p><p>travou contato com a luta do proletariado russo, quando pintou “Operários”. Não à toa,</p><p>os trabalhadores são representados em primeiro plano. A indústria, que interessava</p><p>ao movimento modernista como ícone de um Brasil que se desenvolvia e de uma São</p><p>Paulo que ganhava ares metropolitanos, aparece ao fundo. São 51 rostos retratados de</p><p>forma vigorosa, mas com semblantes totalmente inexpressivos, como que sugerindo uma</p><p>certa maquinização de sua própria humanidade. É também a representação da classe</p><p>trabalhadora como uma força de trabalho de diversos matizes étnicos.</p><p>L</p><p>ic</p><p>en</p><p>se</p><p>d</p><p>t</p><p>o</p><p>m</p><p>ay</p><p>ra</p><p>lo</p><p>rr</p><p>ay</p><p>n</p><p>e</p><p>d</p><p>o</p><p>s</p><p>sa</p><p>n</p><p>to</p><p>s</p><p>-</p><p>m</p><p>ay</p><p>ra</p><p>.lo</p><p>sa</p><p>n</p><p>to</p><p>s@</p><p>g</p><p>m</p><p>ai</p><p>l.c</p><p>o</p><p>m</p><p>45 50 Alusões para Usar na Redação @profraphaelreis</p><p>Trazer os proletários para o primeiro plano de sua tela foi uma forma de Tarsila</p><p>dar a eles o destaque e a importância que lhes eram negados pelas elites do país. Ao</p><p>conferir identidade aos operários, a artista deu sua contribuição para a valorização e o</p><p>reconhecimento da importância do trabalho no processo de industrialização, em particular,</p><p>e de construção da sociedade urbana brasileira, em geral. A obra, é bom registrar, é um</p><p>marco na história da arte moderna também por sua inovação estética e a ruptura que</p><p>propõe com os padrões acadêmicos da época.</p><p>Além da importância da valorização da classe trabalhadora, “Operários” também</p><p>é uma obra de relevância por marcar um momento importante da história econômica do</p><p>Brasil. Até a década de 1930, a incipiente indústria brasileira era voltada para a produção de</p><p>bens não duráveis, notadamente alimentos e tecidos. É a partir dos anos 30 que tem início</p><p>a diversificação do parque industrial, que passa a investir na indústria de base (cimento,</p><p>siderurgia, petroquímica) e em bens duráveis, como automóveis e eletrodomésticos.</p><p>Migração, industrialização e a condição do trabalhador brasileiro são alguns temas</p><p>que podem ser ilustrados com a citação de “Operários”, de Tarsila do Amaral. Abaixo, um</p><p>parágrafo sobre o primeiro assunto.</p><p>Exemplo:</p><p>Em segunda análise, pode-se verificar um grande fluxo migratório, especialmente</p><p>das regiões Norte e Nordeste, para o Sudeste brasileiro. Trata-se de uma tentativa da</p><p>população de conseguir melhores condições de trabalho. O quadro “Operários”, de Tarsila</p><p>do Amaral, pintado ainda na década de 1930, é um retrato dessa migração. Já naquele</p><p>tempo, trabalhadores de todo o país afluíam para os grandes centros – no caso da obra</p><p>em questão, São Paulo – em busca de colocação profissional. Também hoje, famílias são</p><p>divididas, e operários são obrigados a deixar suas raízes para conquistar uma vida digna.</p><p>Fica claro, portanto, o desequilíbrio demográfico e social que a concentração das forças</p><p>de produção em uma mesma região causa no país.</p><p>L</p><p>ic</p><p>en</p><p>se</p><p>d</p><p>t</p><p>o</p><p>m</p><p>ay</p><p>ra</p><p>lo</p><p>rr</p><p>ay</p><p>n</p><p>e</p><p>d</p><p>o</p><p>s</p><p>sa</p><p>n</p><p>to</p><p>s</p><p>-</p><p>m</p><p>ay</p><p>ra</p><p>.lo</p><p>sa</p><p>n</p><p>to</p><p>s@</p><p>g</p><p>m</p><p>ai</p><p>l.c</p><p>o</p><p>m</p><p>46 50 Alusões para Usar na Redação @profraphaelreis</p><p>1.20 A TrAIÇÃo dAS IMAGeNS</p><p>de rené magritte</p><p>Pintada em 1929 pelo artista belga René Magritte, “A traição das imagens” é</p><p>uma obra que, já em seu título, figura com precisão um dos problemas fulcrais da</p><p>contemporaneidade: nossa relação com as representações imagéticas. À época de sua</p><p>produção, o pintor surrealista cerrava fileiras contra uma tradição da pintura acadêmica</p><p>orientada pela representação naturalista, pelo princípio da semelhança entre a imagem e</p><p>o seu referente como critério valorativo de uma obra. Com ímpeto provocativo, Magritte</p><p>pinta um cachimbo rigorosamente naturalista, contudo, avisa os espectadores que aquilo</p><p>que veem não é um cachimbo (“Isto não é um cachimbo”, na tradução do francês).</p><p>Esse discurso orientado para a contradição entre o que se vê e aquilo que se diz</p><p>sobre o que se vê acaba por abrir um vestíbulo que nos dá acesso a, pelo menos, duas</p><p>reflexões mais profundas. Em uma primeira perspectiva, somos convocados a refletir</p><p>sobre a distância entre a representação e a realidade, uma vez que a pintura nos dá</p><p>somente a dimensão estética do objeto, destituindo-o de sua função utilitária – não se</p><p>pode usar o cachimbo pintado para fumar. Sob um segundo ponto de vista, o quadro nos</p><p>impõe a necessidade de considerar as condições de produção de uma imagem a fim de</p><p>que não tomemos a representação como realidade. Se pensarmos no caráter artificioso,</p><p>ideologicamente dirigido, de retratos, pinturas históricas, propagandas políticas ou fotos</p><p>L</p><p>ic</p><p>en</p><p>se</p><p>d</p><p>t</p><p>o</p><p>m</p><p>ay</p><p>ra</p><p>lo</p><p>rr</p><p>ay</p><p>n</p><p>e</p><p>d</p><p>o</p><p>s</p><p>sa</p><p>n</p><p>to</p><p>s</p><p>-</p><p>m</p><p>ay</p><p>ra</p><p>.lo</p><p>sa</p><p>n</p><p>to</p><p>s@</p><p>g</p><p>m</p><p>ai</p><p>l.c</p><p>o</p><p>m</p><p>47 50 Alusões para Usar na Redação @profraphaelreis</p><p>publicadas nas redes sociais, perceberemos a extensão do problema levantado pelo pintor</p><p>belga a partir de um tão singelo objeto. Dessarte, A traição das imagens é uma alusão</p><p>de grande produtividade para se dissertar sobre problemas contemporâneos, como o</p><p>narcisismo, o individualismo e a espetacularização do eu no mundo atual.</p><p>Exemplo:</p><p>Contemporaneamente, um conjunto de novas práticas de manipulação de imagens</p><p>no mundo digital, como as fake News e as deep fakes, borram, sorrateiramente, as</p><p>fronteiras entre a realidade e a representação. Diferentemente da icônica obra do pintor</p><p>belga René Magritte,</p><p>em que uma frase nos alerta que aquilo que vemos não é um</p><p>cachimbo, a sofisticação dos modos de fabricação imagens, hoje, esconde o seu caráter</p><p>artificioso, nos tornando sujeitos de suas implicações políticas.</p><p>L</p><p>ic</p><p>en</p><p>se</p><p>d</p><p>t</p><p>o</p><p>m</p><p>ay</p><p>ra</p><p>lo</p><p>rr</p><p>ay</p><p>n</p><p>e</p><p>d</p><p>o</p><p>s</p><p>sa</p><p>n</p><p>to</p><p>s</p><p>-</p><p>m</p><p>ay</p><p>ra</p><p>.lo</p><p>sa</p><p>n</p><p>to</p><p>s@</p><p>g</p><p>m</p><p>ai</p><p>l.c</p><p>o</p><p>m</p><p>48 50 Alusões para Usar na Redação @profraphaelreis</p><p>ALUSÕES HISTÓRICAS</p><p>2.1 eSCrAVIdÃo</p><p>O tráfico atlântico praticado pelos portugueses instituiu uma nova forma de escravidão</p><p>a partir do século XVI: transformou pessoas em fonte de lucro (em grande quantidade)</p><p>– anteriormente, nas mais diversas sociedades, os escravizados eram colocados nessa</p><p>condição por serem prisioneiros de guerra. Nesse novo modelo, contingentes imensos</p><p>de seres humanos passaram a ser tratados como posses, sendo negociados livremente</p><p>no Brasil Colônia e no Brasil Império e servindo ao propósito de acumulação primitiva de</p><p>capital em território nacional.</p><p>Tivemos praticamente quatro séculos de escravidão. Ao longo desse período, de</p><p>acordo com estimativas do IBGE, cerca de 4 milhões de africanos foram trazidos à força</p><p>para o Brasil e foram submetidos a condições degradantes de vida, alimentação e trabalho.</p><p>No trajeto entre o continente africano e o Novo Mundo, estima-se que 15% dos cativos</p><p>pereciam em decorrência do cenário de precariedade e de doenças, como escorbuto,</p><p>varíola, sífilis e sarampo. Em nosso território, tornou-se recorrente o banzo, nome que se</p><p>dava ao sentimento de melancolia experimentado pelos escravizados em decorrência do</p><p>afastamento da terra natal e do cenário desalentador em que estavam inseridos, sendo</p><p>entendido como uma condição semelhante à depressão, que frequentemente levava à</p><p>morte por causas indiretas ou pelo suicídio.</p><p>L</p><p>ic</p><p>en</p><p>se</p><p>d</p><p>t</p><p>o</p><p>m</p><p>ay</p><p>ra</p><p>lo</p><p>rr</p><p>ay</p><p>n</p><p>e</p><p>d</p><p>o</p><p>s</p><p>sa</p><p>n</p><p>to</p><p>s</p><p>-</p><p>m</p><p>ay</p><p>ra</p><p>.lo</p><p>sa</p><p>n</p><p>to</p><p>s@</p><p>g</p><p>m</p><p>ai</p><p>l.c</p><p>o</p><p>m</p><p>49 50 Alusões para Usar na Redação @profraphaelreis</p><p>Com o objetivo de melhor controlar os escravos e impedir que se organizassem para</p><p>debelar revoltas contra os senhores das fazendas, tipicamente eram reunidos indivíduos</p><p>de etnias diferentes, de modo que a diferença de culturas e de idiomas fosse um entrave</p><p>para a comunicação. Além disso, eram empregados castigos físicos brutais contra os</p><p>escravizados, os quais eram impingidos com vasta gama de instrumentos de tortura e</p><p>ao bel-prazer dos donos dos cativos, uma vez que, sendo os escravos encarados como</p><p>posse e objeto, não havia qualquer limite para o que os senhores desejassem fazer.</p><p>Com a abolição da escravatura, em 1888, não houve nenhum tipo de esforço</p><p>para integrar a população negra à sociedade de classes brasileira. Ao contrário, os</p><p>ex-cativos foram marginalizados, sofrendo toda sorte de preconceito e privados de</p><p>oportunidades de educação e trabalho. Em adição, o Brasil experimentou uma política</p><p>eugenista de embranquecimento da população, segundo a qual os negros deveriam ser</p><p>deliberadamente alijados enquanto se privilegiava a mão de obra branca europeia, cuja</p><p>vinda ao país passou a ser incentivada pelo poder público. Nesse sentido, essa cruel</p><p>instituição que durou tanto tempo no Brasil pode ser aludida para se referir a diversos</p><p>temas relacionados à desigualdade e ao racismo no país, já que suas consequências, de</p><p>caráter estrutural, continuam presentes entre nós.</p><p>Exemplo:</p><p>Primeiramente, destaca-se que as desigualdades sociais afetam principalmente a</p><p>população negra. Esse grupo étnico enfrentou quase quatro séculos de escravidão, em</p><p>que não possuíam nenhum direito e eram tratados como mercadorias, fonte de lucro</p><p>para os mercadores e mão de obra para os ricos. Posteriormente, na República Velha</p><p>(1889-1930), surgiram as primeiras fábricas, e optou-se pela força de trabalho imigrante,</p><p>colocando a população negra em trabalhos subalternos. Dessa forma, esse passado</p><p>explica a subcidadania na qual a maioria da população negra vive: discriminação, baixa</p><p>remuneração e dificuldade de acessar o ensino superior.</p><p>L</p><p>ic</p><p>en</p><p>se</p><p>d</p><p>t</p><p>o</p><p>m</p><p>ay</p><p>ra</p><p>lo</p><p>rr</p><p>ay</p><p>n</p><p>e</p><p>d</p><p>o</p><p>s</p><p>sa</p><p>n</p><p>to</p><p>s</p><p>-</p><p>m</p><p>ay</p><p>ra</p><p>.lo</p><p>sa</p><p>n</p><p>to</p><p>s@</p><p>g</p><p>m</p><p>ai</p><p>l.c</p><p>o</p><p>m</p><p>50 50 Alusões para Usar na Redação @profraphaelreis</p><p>2.2 reVolUÇÃo INdUSTrIAl</p><p>As Revoluções Industriais (séculos XVIII e XIX) mudaram a sociedade – não é à toa</p><p>que esses acontecimentos, junto com a Revolução Francesa, inauguraram a Idade Con-</p><p>temporânea. Os valores burgueses e o modo de produção capitalista foram consolidados.</p><p>Isso mudou o funcionamento das instituições e as relações sociais, bem como a relação</p><p>homem-natureza.</p><p>Diversas evoluções tecnológicas foram desenvolvidas ao mesmo tempo e</p><p>mobilizadas em favor da transição do modelo de produção por manufatura para o modelo</p><p>fabril, em grande escala. A manipulação do ferro e seu emprego cada vez mais presente, a</p><p>fabricação de produtos químicos inovadores e o desenvolvimento da geração de energia</p><p>pela queima do carvão, por fontes hidráulicas e, posteriormente, pelo petróleo abriram as</p><p>portas de um mundo novo, veloz e agressivo em relação ao meio ambiente.</p><p>A condução de contingentes populacionais imensos do campo para a cidade foi</p><p>uma necessidade em meio a essas transformações, com o objetivo de ampliar a mão de</p><p>obra disponível para o desenvolvimento fabril – mão de obra essa que trabalhava em</p><p>condições insalubres, entre 14 e 18 horas por dia, com pagamentos irrisórios e condições</p><p>de vida, como alojamento e alimentação, completamente precárias. Do ponto de vista do</p><p>trabalho, deixa-se de lado a relação do indivíduo com o produto final: cada pessoa é a</p><p>apenas uma peça do processo produtivo. Do ponto de vista da relação com o tempo, cai</p><p>por terra a gestão do dia com base nos ciclos do nascer e do pôr do sol, contexto que</p><p>dá lugar ao controle do tempo produtivo pelo relógio. Do ponto de vista da relação com</p><p>o meio ambiente, deixa-se de colher da natureza o que ela dá espontaneamente ao ser</p><p>humano e passa-se a arrancar dela o que é necessário ao ritmo cada vez mais veloz de</p><p>produção.</p><p>Assim, a ligação entre os territórios por trens, o uso de telégrafos para comunicação,</p><p>os navios a vapor cruzando o oceano e o domínio da vida humana pelo passar das horas</p><p>no relógio, cenários que emergem com as Revoluções Industriais, são a base da sociedade</p><p>contemporânea, a qual é capaz de uma extraordinária produção de bens e tem o potencial</p><p>de causar danos catastróficos ao planeta. Tais revoluções, portanto, podem ser citadas em</p><p>redações de múltiplos contextos, tanto relativas à questão ambiental, como no exemplo a</p><p>seguir, quanto em temas relacionados ao mundo do trabalho e à relação do ser humano</p><p>com o tempo.</p><p>L</p><p>ic</p><p>en</p><p>se</p><p>d</p><p>t</p><p>o</p><p>m</p><p>ay</p><p>ra</p><p>lo</p><p>rr</p><p>ay</p><p>n</p><p>e</p><p>d</p><p>o</p><p>s</p><p>sa</p><p>n</p><p>to</p><p>s</p><p>-</p><p>m</p><p>ay</p><p>ra</p><p>.lo</p><p>sa</p><p>n</p><p>to</p><p>s@</p><p>g</p><p>m</p><p>ai</p><p>l.c</p><p>o</p><p>m</p><p>51 50 Alusões para Usar na Redação @profraphaelreis</p><p>2.3 reVolTA dA VACINA</p><p>A Revolta da Vacina foi um motim popular que ocorreu entre 10 e 16 de novembro</p><p>de 1904, cujas causas e consequências são vistas com cada vez mais interesse ao longo</p><p>dos anos. A razão imediata desse movimento foi a lei instituindo a obrigatoriedade da</p><p>vacinação contra a varíola na então capital do Brasil, criada sob os auspícios de Oswaldo</p><p>Cruz – médico sanitarista que havia recebido a difícil missão de afastar o Rio de Janeiro</p><p>da pecha de “cidade da morte” que recaía sobre a cidade no exterior e conter o surto</p><p>de diversas enfermidades, como a varíola, a febre amarela, a tuberculose, a leptospirose,</p><p>entre outras.</p><p>Entretanto, não é possível compreender a Revolta da Vacina exclusivamente como</p><p>uma recusa da população em ser imunizada. Fatores relacionados à exclusão social e à</p><p>desconfiança da população pobre em relação ao Estado pesaram sobremaneira para a</p><p>eclosão do motim. O Rio de Janeiro</p><p>era uma cidade povoada por grande massa de negros</p><p>recém-libertos da escravidão e pobres de todas as etnias e origens, que trabalhavam na</p><p>região central da cidade e viviam em grandes cortiços – casarões antigos nos quais havia a</p><p>divisão de quartos, de maneira precária, para abrigar o maior número possível de pessoas,</p><p>com banheiros comuns e pouca preocupação com higiene e limpeza. Tais construções</p><p>estiveram entre os primeiros alvos da política higienista aplicada por Rodrigues Alves, que</p><p>assumiu a presidência em 1902, e Pereira Passos, então prefeito do Rio.</p><p>Exemplo:</p><p>Após a consolidação do sistema capitalista com as Revoluções Industriais, houve</p><p>modificações importantes na relação homem-natureza. Dentro dessa perspectiva, o ser</p><p>humano desenvolveu habilidades para extrair recursos em quantidade muito mais elevada</p><p>do meio e para produzir bens em velocidade nunca antes experimentada. A partir dessas</p><p>mudanças, o meio ambiente passou a ser degradado em grandes proporções, seja</p><p>por causa do agressivo processo extrativista da matéria-prima necessária à produção</p><p>fabril, seja pela geração cada vez maior de resíduos sólidos e atmosféricos que poluem</p><p>vastamente o ambiente.</p><p>L</p><p>ic</p><p>en</p><p>se</p><p>d</p><p>t</p><p>o</p><p>m</p><p>ay</p><p>ra</p><p>lo</p><p>rr</p><p>ay</p><p>n</p><p>e</p><p>d</p><p>o</p><p>s</p><p>sa</p><p>n</p><p>to</p><p>s</p><p>-</p><p>m</p><p>ay</p><p>ra</p><p>.lo</p><p>sa</p><p>n</p><p>to</p><p>s@</p><p>g</p><p>m</p><p>ai</p><p>l.c</p><p>o</p><p>m</p><p>52 50 Alusões para Usar na Redação @profraphaelreis</p><p>Com os objetivos conjugados de conter o avanço das doenças e de aproximar</p><p>a capital do país dos moldes europeus, visando a uma “Paris nos trópicos”, o poder</p><p>público ordenou o “Bota-Abaixo”, política em que os cortiços foram destruídos e os</p><p>seus moradores foram simplesmente expulsos de suas casas, sem nenhum amparo ou</p><p>direcionamento. Esse processo forçou a massa trabalhadora a morar na periferia e se</p><p>marginalizar, criando, por evidente, uma situação de animosidade entre uma população</p><p>que já era alvo de preconceito e de atitudes descabidas e o Estado que arremetia contra</p><p>o povo.</p><p>Quando a obrigatoriedade da vacina é instituída, os habitantes das zonas pobres</p><p>desconfiam da validade dessa medida, cogitando, inclusive, que se trataria de uma forma</p><p>de causar a doença e a morte da população pobre e negra. Vale ressaltar que nenhuma</p><p>medida foi feita no sentido de informar e conscientizar a sociedade com relação ao</p><p>significado e à importância da medida, havendo, ao contrário, um movimento autoritário</p><p>de imunização. Começam, então, protestos de pequeno porte que, reprimidos com prisão</p><p>e violência, desencadearam a generalização dos conflitos, que tiveram a depredação</p><p>de espaços públicos e ataques a delegacias e quartéis, demonstrando que se tratava,</p><p>sobretudo, de uma manifestação contra os aparatos de repressão do Estado.</p><p>A complexidade da Revolta da Vacina e sua relação com o Bota-Abaixo, com a</p><p>violência do Estado e com a marginalização da população pobre permite que tal evento</p><p>seja citado em diversos âmbitos. Indiretamente, ela pode ser mobilizada para discutir</p><p>manifestações populares, repressão indevida e marginalização da população pobre; mais</p><p>diretamente, pode-se citar a Revolta da Vacina para discutir o negacionismo ou a própria</p><p>imunização.</p><p>Exemplo:</p><p>No ano de 1904, ocorreu uma rebelião no Rio de Janeiro que ficou conhecida</p><p>como Revolta da Vacina, a qual foi motivada pela imposição da vacinação obrigatória</p><p>à população, sem que houvesse qualquer campanha de conscientização e informação</p><p>sobre a importância da prática. Pouco mais de um século depois, nota-se que ainda</p><p>há cidadãos brasileiros que se recusam a se imunizar; entretanto, atualmente, esse</p><p>comportamento não se deve à falta de conhecimento a respeito da eficácia da vacina,</p><p>e sim a uma cultura negacionista que vem se sedimentando ao longo dos anos e à falsa</p><p>percepção da população de que certas enfermidades estão controladas.</p><p>L</p><p>ic</p><p>en</p><p>se</p><p>d</p><p>t</p><p>o</p><p>m</p><p>ay</p><p>ra</p><p>lo</p><p>rr</p><p>ay</p><p>n</p><p>e</p><p>d</p><p>o</p><p>s</p><p>sa</p><p>n</p><p>to</p><p>s</p><p>-</p><p>m</p><p>ay</p><p>ra</p><p>.lo</p><p>sa</p><p>n</p><p>to</p><p>s@</p><p>g</p><p>m</p><p>ai</p><p>l.c</p><p>o</p><p>m</p><p>53 50 Alusões para Usar na Redação @profraphaelreis</p><p>2.4 PrIMAVerA ÁrABe e</p><p>reVolTAS de JUNHo</p><p>Vamos analisar dois eventos históricos indiretamente conectados, relacionando</p><p>o mundo árabe e o Brasil. Inicialmente, tratemos da Primavera Árabe, conjunto de</p><p>manifestações civis ocorridas em países árabes a partir de 2010 contra governos de</p><p>caráter autoritário e repressivo, motivadas por contextos de dificuldades econômicas,</p><p>pobreza e desemprego. Houve protestos na Tunísia, no Egito, na Argélia, no Bahrein,</p><p>no Iraque, na Jordânia, em Omã e no Iêmen, além da eclosão de guerras civis na Líbia</p><p>e na Síria. Manifestações de menor escala também ocorreram no Kuwait, no Líbano, na</p><p>Mauritânia, no Marrocos, na Arábia Saudita, no Sudão e no Saara Ocidental.</p><p>Em comum, todos esses protestos foram motivados pelo compartilhamento de</p><p>ideias, informações e opiniões por meio das redes sociais, instrumento que havia se tornado</p><p>recentemente disponível e generalizado para a população. Nesse contexto, o vazamento</p><p>de informações deflagrando a corrupção dos governos bem como o compartilhamento</p><p>de vídeos demonstrando a violência e a repressão por parte dos aparatos do Estado</p><p>fizeram com que se acendessem focos de rebelião popular, que tiveram como estopim</p><p>a autoimolação de Mohamed Bouazizi, tunisiano que ateou fogo ao próprio corpo em</p><p>protesto contra a corrupção e a violência policial. O vídeo desse evento circulou pelas</p><p>redes e mobilizou milhões de pessoas no mundo árabe.</p><p>Três anos depois, uma série de manifestações ocorridas no Brasil foi apelidada</p><p>inicialmente de “Primavera Brasileira” em referência aos protestos no mundo árabe,</p><p>sendo depois nomeada de “Jornadas de Junho” em decorrência da concentração no</p><p>referido mês. Em comum, os dois conjuntos de manifestações tiveram como motivadores</p><p>a circulação de vídeos pelas redes sociais, os quais deflagravam intensa violência policial</p><p>e se contrapunham à narrativa exposta na TV e nos veículos de mídia tradicionais, que</p><p>deslegitimam os protestos e defendiam as forças de repressão do Estado. Digno de nota</p><p>é o fato de que se trata do ano em que se alcançou a taxa de metade da população</p><p>brasileira com acesso à internet, demonstrando como a inclusão digital criou novas formas</p><p>de organização e elaboração política e social e como estabeleceu novos canais para a</p><p>construção de narrativas políticas.</p><p>Em território brasileiro, diferente do contexto autoritário presente no mundo árabe,</p><p>as manifestações não possuíam, de início, uma pauta específica, muito embora tenha</p><p>havido mobilização de milhões de pessoas em decorrência da violência policial. Tais</p><p>protestos, que reuniram pessoas de todo espectro ideológico (esquerda e direita tomaram</p><p>as ruas naquele momento, em conjunto), eram um sintoma da crise de representatividade</p><p>que assolava a sociedade, ou seja, a sensação coletiva de que os políticos abriam mão</p><p>da representação da sociedade para defender apenas os próprios interesses ou de seus</p><p>grupos particulares. Assim, os protestos foram difusos, mas não por isso menos eloquentes:</p><p>pode-se dizer que se tratou da primeira insurreição de caráter verdadeiramente nacional</p><p>no Brasil, uma vez que mais de quinhentas cidades presenciaram a organização de atos</p><p>L</p><p>ic</p><p>en</p><p>se</p><p>d</p><p>t</p><p>o</p><p>m</p><p>ay</p><p>ra</p><p>lo</p><p>rr</p><p>ay</p><p>n</p><p>e</p><p>d</p><p>o</p><p>s</p><p>sa</p><p>n</p><p>to</p><p>s</p><p>-</p><p>m</p><p>ay</p><p>ra</p><p>.lo</p><p>sa</p><p>n</p><p>to</p><p>s@</p><p>g</p><p>m</p><p>ai</p><p>l.c</p><p>o</p><p>m</p><p>54 50 Alusões para Usar na Redação @profraphaelreis</p><p>e que, segundo pesquisa do Ibope no mês de julho, 89% dos cidadãos apoiavam os</p><p>protestos, taxa inédita em qualquer circunstância da história do país.</p><p>Embora tenham se concentrado em junho, os protestos continuaram ocorrendo ao</p><p>longo dos meses subsequentes, tendo nova concentração em outubro do mesmo ano.</p><p>Aos poucos, as pautas dos movimentos foram sendo definidas e eles passaram a ser mais</p><p>bem divididos com base nas reivindicações estabelecidas. Para alguns, tal processo foi</p><p>a</p><p>origem da escalada autoritária vista pelo Brasil nos anos subsequentes; para outros, foi</p><p>um importante movimento de amadurecimento que auxiliou na formação política e cidadã</p><p>da sociedade.</p><p>Essas manifestações – tanto a Primavera Árabe quanto as Jornadas de Junho</p><p>– podem ser citadas em diversas redações relacionadas à participação política e às</p><p>manifestações, além de poderem ser citadas na discussão sobre o uso da internet no</p><p>fazer político e sobre o ativismo digital, conforme o exemplo a seguir.</p><p>Exemplo:</p><p>Em primeiro lugar, pode-se dizer que as redes possuem papel importante para a</p><p>organização de demandas e de manifestações de caráter político. Exemplo disso foram as</p><p>“Jornadas de Junho”, protestos realizados em 2013 que ocorreram em mais de quinhentas</p><p>cidades no país. Tais dimensões, inéditas na História brasileira, só foram possíveis graças</p><p>às redes sociais, as quais uniram pessoas de diversos lugares pelo compartilhamento de</p><p>ideias, relatos e vídeos que motivavam os cidadãos a participarem dos protestos. Desse</p><p>modo, pode-se dizer que o ativismo digital tem o potencial de conectar pessoas com</p><p>ideias semelhantes e mobilizar multidões para a participação direta na democracia.</p><p>2.5 “roArING TweNTIeS” oU</p><p>oS loUCoS ANoS 20</p><p>“Roaring Twenties”, traduzido em português como “Loucos Anos Vinte”, é o termo</p><p>utilizado para se referir ao período de intensa prosperidade econômica e ampliação do</p><p>bem-estar da sociedade ocorrido na década de 1920, principalmente nos Estados Unidos,</p><p>mas também em outros países do mundo, como França, Alemanha e Inglaterra. Com o fim</p><p>da Primeira Guerra Mundial e com a reestruturação da economia dos países, puxada pelo</p><p>L</p><p>ic</p><p>en</p><p>se</p><p>d</p><p>t</p><p>o</p><p>m</p><p>ay</p><p>ra</p><p>lo</p><p>rr</p><p>ay</p><p>n</p><p>e</p><p>d</p><p>o</p><p>s</p><p>sa</p><p>n</p><p>to</p><p>s</p><p>-</p><p>m</p><p>ay</p><p>ra</p><p>.lo</p><p>sa</p><p>n</p><p>to</p><p>s@</p><p>g</p><p>m</p><p>ai</p><p>l.c</p><p>o</p><p>m</p><p>55 50 Alusões para Usar na Redação @profraphaelreis</p><p>desempenho da economia americana e pelos empréstimos concedidos pelos EUA ao Velho</p><p>Mundo, viveu-se uma fase jamais experimentada de crescimento industrial, dinamismo social,</p><p>consumo e, em adição, efervescência cultural.</p><p>A sensação coletiva experimentada pela sociedade era de alívio, uma vez que a Grande</p><p>Guerra (conforme era chamada até então, antes da Segunda Guerra Mundial) havia acabado e</p><p>as portas do crescimento e da prosperidade estavam novamente abertas. O investimento no</p><p>desenvolvimento industrial fez com que os bens e serviços supérfluos estivessem disponíveis</p><p>como nunca, tornando-se aos poucos essenciais: o uso de energia elétrica, o acesso a</p><p>automóveis, o consumo de refrigerantes (como a coca-cola), fast foods e cigarros, o gasto</p><p>com roupas, cosméticos e penteados da moda – tudo isso, recursos que em outras épocas</p><p>estariam restritos às parcelas mais ricas da sociedade, se popularizava. Foi nesse contexto</p><p>que surgiu a expressão “American way of life”, traduzida como “modo de vida americano”,</p><p>que representa a pujança do consumo e da ascensão econômica. Ao mesmo tempo, a rádio</p><p>ocupava lugar em todas as casas, sendo o primeiro meio de comunicação de massa disponível</p><p>e se prestando a divulgar o estilo de vida despojado e consumista que se valorizava à época.</p><p>A década de prosperidade e consumo, no entanto, não duraria para sempre. Uma série</p><p>de motivos, que incluem a redução da importação de bens estadunidenses pela Europa, a</p><p>famosa Quebra da Bolsa de 1929 e um descompasso entre a oferta de produtos, cada vez</p><p>maior, e a demanda, que foi se tornando limitada, fez com que os Estados Unidos e o resto do</p><p>mundo enfrentassem a Grande Depressão, período de declínio econômico global que ainda</p><p>hoje costuma ser considerado o mais grave da História.</p><p>Os “Loucos anos vinte” são uma referência interessante para discutir, principalmente,</p><p>sobre consumismo na sociedade, uma vez que a obtenção em larga escala de bens supérfluos,</p><p>hoje um aspecto essencial do sistema econômico, passou a estar disponível nessa época.</p><p>Ainda é possível articular tal referência a questões ambientais, dado que o incremento da</p><p>produção industrial levou a um maior impacto no meio ambiente, bem como temas mais</p><p>específicos relacionados à moda e à cultura. No exemplo a seguir, veja um parágrafo sobre o</p><p>tema “A ditadura da moda”:</p><p>Exemplo:</p><p>Em primeiro lugar, pode-se considerar que a imposição de um padrão de vestimenta</p><p>e de aparência tem origem, na sociedade moderna, na década de 1920, nos considerados</p><p>“Loucos Anos” por historiadores. Durante esse período, houve significativa ascensão</p><p>social das classes médias, as quais passaram a gastar seus recursos com cada vez mais</p><p>frequência em bens e serviços supérfluos. Dentro dessa perspectiva, a valorização de</p><p>peças de vestuário, penteados e acessórios se tornou uma tônica no período, alimentando</p><p>uma ótica consumista no interior da sociedade e construindo uma espécie de ditadura da</p><p>aparência, cujos efeitos são sentidos até hoje.</p><p>L</p><p>ic</p><p>en</p><p>se</p><p>d</p><p>t</p><p>o</p><p>m</p><p>ay</p><p>ra</p><p>lo</p><p>rr</p><p>ay</p><p>n</p><p>e</p><p>d</p><p>o</p><p>s</p><p>sa</p><p>n</p><p>to</p><p>s</p><p>-</p><p>m</p><p>ay</p><p>ra</p><p>.lo</p><p>sa</p><p>n</p><p>to</p><p>s@</p><p>g</p><p>m</p><p>ai</p><p>l.c</p><p>o</p><p>m</p><p>56 50 Alusões para Usar na Redação @profraphaelreis</p><p>2.6 A ArTe No SeGUNdo</p><p>reINAdo</p><p>Victor Meirelles, A primeira missa no Brasil (1860)</p><p>A proclamação da Independência do Brasil, em 1822, deu início à história de uma nação</p><p>em busca da sua identidade. Naquele momento, a falta de símbolos compartilháveis e de</p><p>percepção de unidade cultural e territorial faziam com que o adjetivo brasileiro não significasse</p><p>muito mais do que “tirador de pau-brasil” ou comerciante que mantinha negócios com o país.</p><p>Nesse sentido, com a maioridade de D. Pedro II, proclamada em 1840, a necessidade de</p><p>construção de uma identidade nacional se torna um projeto de Estado a fim de se conter o</p><p>ímpeto separatista que movia as revoltas regenciais (1831-1840). Para tal, duas instituições</p><p>passam a desempenhar um papel de protagonismo no Segundo Reinado: o Instituto Histórico</p><p>e Geográfico Brasileiro (IHGB) e a Academia Imperial de Belas Artes (AIBA).</p><p>L</p><p>ic</p><p>en</p><p>se</p><p>d</p><p>t</p><p>o</p><p>m</p><p>ay</p><p>ra</p><p>lo</p><p>rr</p><p>ay</p><p>n</p><p>e</p><p>d</p><p>o</p><p>s</p><p>sa</p><p>n</p><p>to</p><p>s</p><p>-</p><p>m</p><p>ay</p><p>ra</p><p>.lo</p><p>sa</p><p>n</p><p>to</p><p>s@</p><p>g</p><p>m</p><p>ai</p><p>l.c</p><p>o</p><p>m</p><p>57 50 Alusões para Usar na Redação @profraphaelreis</p><p>Exemplo:</p><p>De fato, não se pode assumir que a definição de uma nação seja algo que nasce</p><p>naturalmente. Nesse sentido, é importante salientar que os elementos os quais chamamos</p><p>de identidade nacional brasileira são frutos de uma construção histórica iniciada no</p><p>Segundo Reinado, quando D. Pedro II atribui à literatura e às artes plásticas a função de</p><p>porta-vozes do processo de produção de uma autoimagem do país plasmada no nativismo</p><p>indígena e no caráter pitoresco da flora de da fauna. Dentro dessa perspectiva, pensar a</p><p>identidade nacional significa investigar os diversos discursos mobilizados politicamente,</p><p>ao longo de nossa história, a fim de se construir formas simbólicas de coesão social.</p><p>À primeira, coube criar meios para estimular a produção de discursos nacionalistas</p><p>sobre o país, como o concurso por ela promovido em 1845 com o tema “Como se deve</p><p>escrever a história do Brasil”; a segunda, por sua vez, se tornou porta-voz das exigências</p><p>de propaganda do governo imperial, reorientando a cultura figurativa brasileira em direção</p><p>à representação heroica do indígena, dos aspectos pitorescos da flora e da fauna local, dos</p><p>fatos históricos e feitos militares. Esse projeto nos legou um conjunto de pinturas que, junto</p><p>com os romances fundacionais de José de Alencar e com a épica indianista de Gonçalves</p><p>Dias e Gonçalves de Magalhães, constituíram uma espécie de memória coletiva brasileira,</p><p>dentre as quais destacamos A primeira missa no Brasil (1860), Moema (1866) e A batalha dos</p><p>Guararapes (1875-79), de Victor Meireles; A batalha do Avaí (1872-77) e Independência ou</p><p>morte (1888), de Pedro Américo.</p><p>Dessarte, alusões ao processo de construção da identidade nacional são desejáveis em</p><p>redações</p><p>cujas propostas se dirijam a temas como a cultura brasileira, a identidade nacional</p><p>e a representação do indígena, permitindo ao candidato mostrar maturidade e visão crítica,</p><p>ao refutar a ideia senso comum de uma formação identitária espontânea para ratificar sua</p><p>consciência crítica do projeto político que a engendrou.</p><p>L</p><p>ic</p><p>en</p><p>se</p><p>d</p><p>t</p><p>o</p><p>m</p><p>ay</p><p>ra</p><p>lo</p><p>rr</p><p>ay</p><p>n</p><p>e</p><p>d</p><p>o</p><p>s</p><p>sa</p><p>n</p><p>to</p><p>s</p><p>-</p><p>m</p><p>ay</p><p>ra</p><p>.lo</p><p>sa</p><p>n</p><p>to</p><p>s@</p><p>g</p><p>m</p><p>ai</p><p>l.c</p><p>o</p><p>m</p><p>58 50 Alusões para Usar na Redação @profraphaelreis</p><p>2.7 SeMANA de ArTe</p><p>ModerNA de 1922</p><p>A Semana de Arte de Moderna de 1922 consistiu em um evento realizado no Theatro</p><p>Municipal de São Paulo nos dias 13, 15 e 17 de fevereiro. A iniciativa de organizá-la pode ser</p><p>atribuída ao feliz encontro entre os interesses de uma ascendente burguesia paulista e uma</p><p>emergente vanguarda artística e literária brasileira. Para a elite enriquecida pelo boom da</p><p>economia cafeeira e que prefigurava a formação de uma metrópole industrial e moderna,</p><p>investir em uma nova safra de artistas e escritores que propunham justamente a modernização</p><p>das práticas estéticas lhes parecia bastante oportuno. Contudo, na colheita, vieram frutos</p><p>estranhos. Entre os solos de piano do Guimar Novaes, principal atração do evento, e a música</p><p>erudita de Heitor Villa-Lobos, entre outros, os modernistas torpedeavam o público com suas</p><p>dissonâncias: poemas insultando a burguesia (Mário de Andrade) ou comparando a estrutura</p><p>rítmico-melódica da venerada poesia parnasiana ao coaxar de sapos (texto de Manuel Bandeira</p><p>lido por Ronald de Carvalho); pinturas de orientação expressionista, com rostos amarelados</p><p>e pinceladas visíveis ricocheteando para diferentes direções, como as de Anita Malfatti, e</p><p>esculturas talhadas sob a perspectiva primitivista, como o célebre “Cristo de tranças” de</p><p>Victor Brecheret, garantiam ao vernissage o seu quinhão na tarefa de inquietar o público</p><p>(ainda que, especula-se, as vaias e apupos que os espectadores, como contratorpedeiros,</p><p>lançavam em direção aos artistas viessem, em parte, de uma claque organizada por Oswald</p><p>de Andrade para garantir ao evento o furor necessário para que fosse, hoje, objeto de</p><p>lembrança e celebração). Missão cumprida.</p><p>Sob o ponto de vista do seu legado, o que chamamos de marco provocado pela Semana</p><p>de 22 se deve ao papel do evento na arregimentação de um conjunto de práticas críticas,</p><p>estéticas e políticas, tais como, entre outras, a assimilação seletiva das vanguardas europeias,</p><p>a revisão crítica do passado histórico brasileiro, a desconstrução da noção de identidade</p><p>nacional forjada pelo romantismo, a valorização da mestiçagem e do sincretismo cultural</p><p>brasileiro. As reverberações da semana, no curso dos anos 20, nos legaram obras indeléveis da</p><p>nossa tradição cultural: a pintura de Tarsila do Amaral sedimentou traços e cores arquetípicos</p><p>do Brasil, o que é evidenciado em sua ampla circulação nas mídias, como no recém-lançado</p><p>filme Tarsilinha; Macunaíma, rapsódia de Mário de Andrade, se inscreveu, embora com muitos</p><p>equívocos, como uma forte rubrica para se pensar a formação da identidade cultural brasileira;</p><p>o conceito de antropofagia, forjado por Oswald de Andrade seis anos depois da Semana</p><p>de 22, foi se sedimentando como uma poderosa teoria cultural, que tanto orientou práticas</p><p>estéticas, como o Cinema Novo e o Tropicalismo, como, contemporaneamente, reflexões</p><p>teóricas no campo das Ciências Humanas, como o conceito de perspectivismo ameríndio.</p><p>L</p><p>ic</p><p>en</p><p>se</p><p>d</p><p>t</p><p>o</p><p>m</p><p>ay</p><p>ra</p><p>lo</p><p>rr</p><p>ay</p><p>n</p><p>e</p><p>d</p><p>o</p><p>s</p><p>sa</p><p>n</p><p>to</p><p>s</p><p>-</p><p>m</p><p>ay</p><p>ra</p><p>.lo</p><p>sa</p><p>n</p><p>to</p><p>s@</p><p>g</p><p>m</p><p>ai</p><p>l.c</p><p>o</p><p>m</p><p>59 50 Alusões para Usar na Redação @profraphaelreis</p><p>Antes da invenção da prensa de tipos móveis pelo tipógrafo e gráfico alemão Johannes</p><p>Gutenberg no século XV, a produção de livros e outros impressos voltados para a leitura e</p><p>disseminação de ideias era feita de forma artesanal. A máquina de Gutenberg revolucionou</p><p>não só a forma como esses artefatos eram produzidos e difundidos, mas também a educação,</p><p>a cultura e, em última análise, a forma como vivemos em sociedade. O pesquisador alemão</p><p>Hans Ulrich Gumbrecht enxerga na passagem dos processos artesanais à prensa de Gutenberg</p><p>uma mudança sem precedentes dos instrumentos de comunicação, especialmente em relação</p><p>à maneira como eles agem sobre nossos pensamentos e a própria ordem social.</p><p>Além disso, a invenção de Gutenberg foi o primeiro mecanismo a possibilitar uma ideia</p><p>de meios de comunicação de massa. Antes da prensa, a produção de livros era totalmente</p><p>artesanal, o que tornava o processo limitado, dispendioso e lento. Os copistas escreviam</p><p>cada cópia de um livro à mão. Depois eles eram costurados e encadernados, em um processo</p><p>que fazia esses objetos raros, caros e acessíveis somente a uma pequena elite econômica. A</p><p>prensa de tipos móveis tornou possível produzir impressos em grande escala, de forma mais</p><p>ágil e a custos bem menores, popularizando o livro e, portanto, a leitura.</p><p>Exemplo:</p><p>Conscientes de que a noção de identidade estava inextricavelmente vinculada</p><p>ao uso do idioma, os poetas modernistas levaram a cabo, a partir da Semana de Arte</p><p>Moderna de 1922, um projeto de escrita literária redigida em uma “língua brasileira”.</p><p>Nessa perspectiva, substituir-se-ia a retórica empolada cuja observância às regras da</p><p>gramática normativa era instrumento de distinção e dominação cultural pela incorporação</p><p>do registro informal como forma de expressão de nossas especificidades culturais, nosso</p><p>modo próprio de representar a realidade. Nas palavras do poeta Oswald de Andrade,</p><p>“como somos, como falamos”.</p><p>2.8 A INVeNÇÃo dA PreNSA</p><p>de GUTeNBerG</p><p>L</p><p>ic</p><p>en</p><p>se</p><p>d</p><p>t</p><p>o</p><p>m</p><p>ay</p><p>ra</p><p>lo</p><p>rr</p><p>ay</p><p>n</p><p>e</p><p>d</p><p>o</p><p>s</p><p>sa</p><p>n</p><p>to</p><p>s</p><p>-</p><p>m</p><p>ay</p><p>ra</p><p>.lo</p><p>sa</p><p>n</p><p>to</p><p>s@</p><p>g</p><p>m</p><p>ai</p><p>l.c</p><p>o</p><p>m</p><p>60 50 Alusões para Usar na Redação @profraphaelreis</p><p>Os “tipos móveis” são pequenas letras de metal que eram usadas para compor as</p><p>palavras que seriam impressas uma a uma. Daí os termos “tipografia”, “tipógrafos” etc. Os</p><p>tipos eram dispostos em uma forma (como um grande carimbo) que, uma vez montada,</p><p>poderia ser impressa quantas vezes fosse preciso. Depois os tipos eram retirados para formar</p><p>uma nova página e assim sucessivamente, permitindo a produção de várias cópias do mesmo</p><p>livro ou material impresso. O primeiro livro impresso na prensa de Gutenberg foi a Bíblia,</p><p>em 1455. Os processos industriais foram se tornando mais velozes e eficientes ao longo do</p><p>tempo, mas a contribuição de Gutenberg permanece crucial nos dias de hoje.</p><p>A produção de livros em larga escala permitiu o amplo letramento da humanidade, pois</p><p>tornou a leitura e o conhecimento acessíveis a um público muito maior do que no período</p><p>anterior ao Renascimento. Com a disseminação do livro – e posteriormente dos jornais e das</p><p>revistas -, o que se disseminou também foi a circulação de ideias, de conceitos científicos,</p><p>de registros históricos e de informações. Tal movimento resultou em um impacto profundo</p><p>não só na cultura e na educação, mas também na política, na ciência e na religião em todo o</p><p>planeta. A importância do invento de Gutenberg pode, portanto, ser citada como alusão em</p><p>diversas discussões.</p><p>Exemplo:</p><p>Entretanto, as transformações educacionais impulsionadas pela tecnologia vêm de</p><p>muito tempo. Senão vejamos os impactos resultantes da invenção da prensa de tipos</p><p>móveis pelo alemão Johannes Gutenberg ainda no século XV. Ao permitir a impressão de</p><p>livros de forma mais barata e ágil, em grande escala, o invento possibilitou a popularização</p><p>desses artefatos do saber, massificando, também, o ato da leitura. Aquela máquina foi</p><p>responsável pela disseminação de conhecimento e informação em uma agilidade nunca</p><p>antes experimentada. É de uma transformação de escala semelhante que estamos diante</p><p>quando nos deparamos com os efeitos das tecnologias de informação</p><p>e comunicação do</p><p>século XXI.</p><p>L</p><p>ic</p><p>en</p><p>se</p><p>d</p><p>t</p><p>o</p><p>m</p><p>ay</p><p>ra</p><p>lo</p><p>rr</p><p>ay</p><p>n</p><p>e</p><p>d</p><p>o</p><p>s</p><p>sa</p><p>n</p><p>to</p><p>s</p><p>-</p><p>m</p><p>ay</p><p>ra</p><p>.lo</p><p>sa</p><p>n</p><p>to</p><p>s@</p><p>g</p><p>m</p><p>ai</p><p>l.c</p><p>o</p><p>m</p><p>61 50 Alusões para Usar na Redação @profraphaelreis</p><p>O Macartismo foi um movimento político ocorrido na década de 1950 nos Estados Unidos,</p><p>caracterizado pela perseguição ao comunismo – ou a aquilo que se julgasse “comunista” -,</p><p>frequentemente violando direitos civis fundamentais. O termo deriva do nome do senador</p><p>republicando Joseph McCarthy (“McCarthysm”, em inglês), que personificou como ninguém</p><p>a paranoia da Guerra Fria, conflito ideológico que opôs Estados Unidos e União Soviética</p><p>a partir do fim da Segunda Guerra Mundial na disputa pela hegemonia política e militar no</p><p>mundo.</p><p>Joseph McCarthy presidiu o Comitê de Atividades Antiamericanas, estabelecido para</p><p>investigar a presença de supostos comunistas na sociedade norte-americana, fosse em</p><p>instituições públicas ou privadas. A aprovação do Ato de Segurança Interna de 1950 autorizou</p><p>o Governo dos Estados Unidos a prender e deportar suspeitos de atividades subversivas</p><p>como forma de combater o “perigo vermelho”. A paranoia institucionalizada levou a uma</p><p>série de abusos, como desrespeito ao direito à ampla defesa, à liberdade de expressão e à</p><p>privacidade. Intelectuais, jornalistas, professores e políticos eram alvos preferenciais.</p><p>As audiências públicas promovidas pelo Comitê de Atividades Antiamericanas se</p><p>tornaram famosas. Cidadãos eram pressionados a denunciar amigos e familiares que</p><p>supostamente teriam ligações com o comunismo. Na maioria das vezes, as acusações eram</p><p>infundadas ou baseadas em rumores, o que não impedia que as pessoas perdessem seus</p><p>empregos e fossem hostilizadas por adeptos do radicalismo macartista. Não raro, inocentes</p><p>eram presos e condenados. Instaurou-se, assim, um clima generalizado de medo e desconfiança</p><p>na sociedade norte-americana.</p><p>Embora tenha arrefecido a partir dos anos 1960, o Macartismo deixou um legado</p><p>desastroso. A crescente intolerância política e a ascensão da extrema direita não só nos</p><p>Estados Unidos, mas no mundo, ecoam aquele período. Não à toa, no século XXI fala-se em</p><p>um “novo Macartismo”. Teorias da conspiração envolvendo a Rússia e a China, uma suposta</p><p>“ameaça comunista” que paira como um fantasma sobre as sociedades ocidentais e uma</p><p>onda de puritanismo e falso moralismo reacendem a memória da histeria vivida pelos Estados</p><p>Unidos em meados do século XX. Esta “atualização” do macartismo faz do movimento político</p><p>uma importante alusão a ser utilizada em vários temas de redação.</p><p>2.9 MACArTISMo</p><p>L</p><p>ic</p><p>en</p><p>se</p><p>d</p><p>t</p><p>o</p><p>m</p><p>ay</p><p>ra</p><p>lo</p><p>rr</p><p>ay</p><p>n</p><p>e</p><p>d</p><p>o</p><p>s</p><p>sa</p><p>n</p><p>to</p><p>s</p><p>-</p><p>m</p><p>ay</p><p>ra</p><p>.lo</p><p>sa</p><p>n</p><p>to</p><p>s@</p><p>g</p><p>m</p><p>ai</p><p>l.c</p><p>o</p><p>m</p><p>62 50 Alusões para Usar na Redação @profraphaelreis</p><p>Exemplo:</p><p>Outrossim, é preciso reconhecer que há um claro movimento de distorção de</p><p>ideias progressistas por parte de radicais da extrema direita. Esse movimento retoma</p><p>comportamentos típicos do macartismo, política de perseguição a supostas atividades</p><p>comunistas que mergulhou os Estados Unidos em uma era de paranoia e histeria na</p><p>década de 1950. A tentativa de alguns políticos brasileiros de silenciar professores nas</p><p>escolas, determinando quais temas devem ou não ser abordados na sala de aula,</p><p>pode ser encarada como uma espécie de reavivamento daquele período marcado pela</p><p>intolerância e pelo desrespeito a direitos fundamentais, como à liberdade de expressão e</p><p>de pensamento.</p><p>Globalização é um conceito empregado pela sociologia para se referir a um fenômeno</p><p>no qual a vida social nas sociedades é cada vez mais afetada pelos movimentos de integração,</p><p>em âmbito mundial, de populações, culturas, ideias e mercados. O termo emerge no final dos</p><p>anos 80 sob o influxo da autodesintegração da União Soviética, da interrupção dos projetos</p><p>de construção nacional do Terceiro Mundo e da consolidação de um novo sistema de técnicas</p><p>que assegura a irrupção de um mercado dito global, com empresas transnacionais e intenso</p><p>fluxo de capitais.</p><p>Nesse sentido, como salienta Milton Santos, “A globalização é, de certa forma, o ápice</p><p>do processo de internacionalização do mundo capitalista”. Os efeitos dessas transformações</p><p>estão presentes em várias esferas das nossas práticas sociais e culturais. Pode-se pensar, por</p><p>exemplo, em como os dispositivos tecnológicos que possuímos hoje são produzidos em uma</p><p>cadeia fragmentada em diversos países, ou como a comida japonesa se tornou um hábito tão</p><p>comum no dia a dia dos brasileiros.</p><p>Em uma redação, o conceito de globalização consiste em um componente do repertório</p><p>sociocultural com larga produtividade para se discutir sobre questões como de que modo as</p><p>formas contemporâneas de hibridismo cultural aumentam nossa empatia com a alteridade, o</p><p>recrudescimento dos movimentos xenófobos como reação à globalização, e os efeitos daquilo</p><p>que Milton Santos chama de globalização perversa – ou seja, o fato de que tal movimento</p><p>de encurtamento de distâncias não cumpre a suas promessas de liberdade e prosperidade,</p><p>levando, ao contrário, à exclusão.</p><p>2.10 GloBAlIZAÇÃo</p><p>L</p><p>ic</p><p>en</p><p>se</p><p>d</p><p>t</p><p>o</p><p>m</p><p>ay</p><p>ra</p><p>lo</p><p>rr</p><p>ay</p><p>n</p><p>e</p><p>d</p><p>o</p><p>s</p><p>sa</p><p>n</p><p>to</p><p>s</p><p>-</p><p>m</p><p>ay</p><p>ra</p><p>.lo</p><p>sa</p><p>n</p><p>to</p><p>s@</p><p>g</p><p>m</p><p>ai</p><p>l.c</p><p>o</p><p>m</p><p>63 50 Alusões para Usar na Redação @profraphaelreis</p><p>Exemplo:</p><p>Deve-se salientar, contudo, que os benefícios do desenvolvimento sociotécnico e da</p><p>integração cultural não são extensivos a todas as pessoas. Como assevera o geógrafo</p><p>Milton Santos, a globalização opera um perverso processo de ampliação do poder</p><p>político-econômico das empresas transnacionais que enfraquece as funções sociais do</p><p>Estado, provocando, desse modo, um aumento substancial dos efeitos da exclusão social,</p><p>da fome, da pobreza e do desemprego. Com isso, as promessas de prosperidade da</p><p>globalização não são cumpridas, havendo intensificação dos problemas sociais.</p><p>Colonialismo é um conceito histórico-sociológico que identifica um determinado</p><p>método de exploração econômica que uma nação impõe sobre outra. No que diz respeito,</p><p>particularmente, à História do Brasil, esse modelo exploratório se fez presente por meio de</p><p>uma combinação entre coerção militar, imposição cultural e domínio das instituições internas.</p><p>Nesse sentido, sob o ponto de vista estritamente econômico, cabe salientar que o modelo</p><p>colonialista europeu, baseado no monopólio comercial, na exploração da mão de obra</p><p>escrava e na determinação do papel das colônias como fornecedoras de matéria-prima e</p><p>consumidora de produtos manufaturados, criou condições favoráveis para a produção da</p><p>riqueza necessária para o desenvolvimento do capitalismo industrial na Europa.</p><p>Atualmente, a relevância da discussão sobre o colonialismo hoje não se justifica somente</p><p>como uma forma de compreensão de um determinado processo histórico que marcou</p><p>profundamente o processo de formação das ex-colônias, mas também na possibilidade de</p><p>vislumbrar os seus efeitos sobre o presente. Esse é, justamente, o objetivo de um campo de</p><p>reflexão crítica contemporâneo conhecido como pensamento decolonial. Sob a perspectiva</p><p>da decolonialidade, busca-se compreender e combater o conjunto de discursos e hábitos</p><p>instaurados no período de domínio colonial, mas que permaneceram com o fim do colonialismo</p><p>histórico, influindo sobre as nossas práticas sociais e culturais ainda hoje. Contudo, esses</p><p>efeitos não se dariam por meio de uma coerção visível, mas no nível epistemológico, isto é,</p><p>no estabelecimento das condições em que o conhecimento é ou não legitimado.</p><p>2.11 ColoNIAlISMo</p><p>L</p><p>ic</p><p>en</p><p>se</p><p>d</p><p>t</p><p>o</p><p>m</p><p>ay</p><p>ra</p><p>lo</p><p>rr</p><p>ay</p><p>n</p><p>e</p><p>d</p><p>o</p><p>s</p><p>sa</p><p>n</p><p>to</p><p>s</p><p>-</p><p>m</p><p>ay</p><p>ra</p><p>.lo</p><p>sa</p><p>n</p><p>to</p><p>s@</p><p>g</p><p>m</p><p>ai</p><p>l.c</p><p>o</p><p>m</p><p>64 50 Alusões para Usar na Redação @profraphaelreis</p><p>Um exemplo significativo para o caso brasileiro</p><p>é como os saberes dos povos tradicionais,</p><p>as religiões de matriz africana e as manifestações culturais da periferia são deslegitimadas por</p><p>um conjunto de discursos científicos, religiosos e estéticos de tradição eurocêntrica. Assim, as</p><p>noções de colonialismo, colonialidade e decolonialidade compõem um repertório sociocultural</p><p>de grande produtividade para se discutir sobre questões como intolerância religiosa, cultura</p><p>popular, saberes locais e educação intercultural.</p><p>Exemplo:</p><p>Nos últimos anos, a questão das diferenças culturais tem ganhado espaço nas</p><p>reflexões e pesquisas sobre educação no Brasil. O que está em causa é a relevância dos</p><p>saberes tradicionais e das especificidades étnico-raciais, cuja deslegitimação histórica</p><p>implicou prejuízos na construção de uma sociedade verdadeiramente democrática. Dentro</p><p>dessa perspectiva, o que os indígenas dizem sobre as florestas ou o que o rap nos revela</p><p>sobre a realidade das periferias se constituem como formas legítimas e enriquecedoras</p><p>de aprender com a alteridade, diferentemente do que se convencionou com base no</p><p>pensamento colonialista que é dominante no ocidente.</p><p>A intensa urbanização no Brasil começou por volta da década de 1950, mas, somente</p><p>dez anos depois, começaram-se a perceber seus impactos. Há dados do IBGE que já anunciam</p><p>que, atualmente, mais de 80% da população brasileira optou por viver nos grandes centros,</p><p>o que mudou totalmente o panorama estético de algumas regiões haja vista que não houve</p><p>planejamento para o crescimento das cidades e, portanto, isso marcou o descaso com a</p><p>preservação de qualquer patrimônio que viesse conservar, para além do imaginário popular,</p><p>o desenho arquitetônico anterior à ocupação desordenada das grandes aglomerações</p><p>urbanas submersas hoje em um trânsito caótico, uma oferta ruim de serviços, uma alta taxa</p><p>de violência.</p><p>Da migração das casas para os edifícios, iniciou-se a marginalização dos mais pobres,</p><p>e os trabalhadores desfavorecidos, sem muitas oportunidades, migraram para a periferia e</p><p>para as favelas, sendo empurrados para locais em que não havia rede de água e de esgoto,</p><p>sem pavimentação, sem escolas, sem postos de saúde, sem segurança pública. A migração</p><p>constante foi tornando ainda mais caótica a vida dos que optaram pelas cidades, pois, além</p><p>de condições indignas de habitação, essas pessoas que sonhavam com o “el dourado”</p><p>metropolitano acabavam à mercê de condições precárias de trabalho e de baixa remuneração</p><p>também.</p><p>2.12 UrBANIZAÇÃo No BrASIl</p><p>L</p><p>ic</p><p>en</p><p>se</p><p>d</p><p>t</p><p>o</p><p>m</p><p>ay</p><p>ra</p><p>lo</p><p>rr</p><p>ay</p><p>n</p><p>e</p><p>d</p><p>o</p><p>s</p><p>sa</p><p>n</p><p>to</p><p>s</p><p>-</p><p>m</p><p>ay</p><p>ra</p><p>.lo</p><p>sa</p><p>n</p><p>to</p><p>s@</p><p>g</p><p>m</p><p>ai</p><p>l.c</p><p>o</p><p>m</p><p>65 50 Alusões para Usar na Redação @profraphaelreis</p><p>Exemplo:</p><p>Em segunda análise, a urbanização acelerada do Brasil, sem planejamento de</p><p>infraestrutura, aumentou a fissura da desigualdade e escancarou as mazelas consequentes</p><p>da concentração de renda no país. Com 80% de brasileiros vivendo nos grandes centros,</p><p>segundo dados do IBGE, as cidades tornaram-se selvas de pedra com pouca oferta de</p><p>emprego, baixa remuneração e alta exclusão. Nesse contexto, tal cenário gerou o aumento</p><p>da violência, em que todos passaram a ser vítimas da verticalização das cidades, porém</p><p>os mais ricos escondem-se atrás dos muros altos e das patrulhas que guardam seus</p><p>condomínios luxuosos, enquanto os mais pobres marginalizaram-se, convivendo com</p><p>insegurança alimentar, falta de coleta de lixo, ausência de saneamento básico e, não raro,</p><p>com balas perdidas.</p><p>Para dar conta da aceleração do processo de inchaço das cidades brasileiras –</p><p>sobretudo Rio de Janeiro e São Paulo (que recebiam mais investimento do governo a fim</p><p>de garantir mínima possibilidade de atender à demanda crescente por moradia) -, houve</p><p>o crescimento dos conjuntos habitacionais, e as medidas assistencialistas surgiram. Diante</p><p>da verticalização das cidades, restou mesmo aos mais pobres a busca das áreas, embora</p><p>urbanas, periféricas, com baixa de qualidade de vida.</p><p>A vida nas favelas, o desemprego, a desigualdade, a distinta oferta de oportunidades:</p><p>tudo isso se torna tema a ser ilustrado pelo processo de urbanização descontrolada do Brasil.</p><p>José Sarney assumiu a presidência da república interinamente em 15 de março de</p><p>1985, substituindo o primeiro presidente eleito do período de redemocratização, Tancredo</p><p>Neves, adoecido e hospitalizado antes mesmo da posse. Após a morte do presidente</p><p>eleito, Sarney, o vice-presidente, assumiu a presidência de fato e, entre seus primeiros</p><p>atos, estiveram: a autorização da liberdade de expressão e de imprensa, a oferta de livre</p><p>manifestação aos sindicatos e a convocação da Constituinte.</p><p>A função da convocação da Assembleia Nacional Constituinte, reunida em 1988,</p><p>sob o olhar de seu presidente Ulysses Guimarães (PMDB), era desconstruir rastros do</p><p>autoritarismo do governo militar e inaugurar a nova ordem democrática após 21 anos</p><p>de governo não democrático, o que Guimarães fez e o que se percebe na introdução</p><p>do seu discurso em 02 de fevereiro de 1987: “Ecoam nesta sala as reivindicações das</p><p>ruas. A nação quer mudar. A nação deve mudar. A nação vai mudar.”. Porém, o próprio</p><p>2.13 CoNSTITUINTe</p><p>L</p><p>ic</p><p>en</p><p>se</p><p>d</p><p>t</p><p>o</p><p>m</p><p>ay</p><p>ra</p><p>lo</p><p>rr</p><p>ay</p><p>n</p><p>e</p><p>d</p><p>o</p><p>s</p><p>sa</p><p>n</p><p>to</p><p>s</p><p>-</p><p>m</p><p>ay</p><p>ra</p><p>.lo</p><p>sa</p><p>n</p><p>to</p><p>s@</p><p>g</p><p>m</p><p>ai</p><p>l.c</p><p>o</p><p>m</p><p>66 50 Alusões para Usar na Redação @profraphaelreis</p><p>presidente da Assembleia alerta: “A Constituição certamente não é perfeita. Ela própria</p><p>o confessa ao admitir a reforma. Quanto a ela, discordar, sim. Divergir, sim. Descumprir,</p><p>jamais. Afrontá-la, nunca.”.</p><p>Ainda que a Constituição aprovada em 1988 fosse marco concreto da</p><p>redemocratização do país, documento arcabouço da nova era, o documento parecia a</p><p>alguns um elenco de desejos que não se concretizariam e, nas palavras de Sarney, caso se</p><p>concretizassem, tornariam o país “ingovernável” naquele momento. As expectativas eram</p><p>muitas, e isso, inegavelmente, era condizente com o fato de os anseios dos cidadãos</p><p>estarem represados após anos de repressão.</p><p>A Constituição Federal de 1988, Constituição Cidadã, Carta Magna brasileira, ainda</p><p>é o documento vigente atualmente. Ela pode ser citada em todas as discussões que</p><p>permitam refletir sobre o exercício da cidadania ou sobre sua supressão, como liberdade</p><p>de expressão, acesso à saúde, à educação, à moradia, à igualdade, entre tantos outros</p><p>temas.</p><p>Exemplo:</p><p>A princípio, cabe destacar que a Constituição Federal de 1988 assegurou – como</p><p>documento cidadão – o cumprimento de diversos direitos a múltiplos segmentos sociais</p><p>que vinham até então sendo negligenciados. Entre esses, estava o direito à liberdade</p><p>de expressão, principal supressão imposta pela ditadura, cuja alteração era necessária</p><p>e urgente para que fosse – de fato – inaugurada uma nova era. Dessa forma, qualquer</p><p>descumprimento a esse asseguramento, qualquer ato de censura ou de limitação de</p><p>espaço discursivo deve ser visto como incongruente ao documento principal de regimento</p><p>do Estado, não se permitindo intolerâncias a isso ou concessões: o cidadão tem, portanto,</p><p>direito à voz, e a nação precisa ser composta pela polifonia característica da democracia.</p><p>L</p><p>ic</p><p>en</p><p>se</p><p>d</p><p>t</p><p>o</p><p>m</p><p>ay</p><p>ra</p><p>lo</p><p>rr</p><p>ay</p><p>n</p><p>e</p><p>d</p><p>o</p><p>s</p><p>sa</p><p>n</p><p>to</p><p>s</p><p>-</p><p>m</p><p>ay</p><p>ra</p><p>.lo</p><p>sa</p><p>n</p><p>to</p><p>s@</p><p>g</p><p>m</p><p>ai</p><p>l.c</p><p>o</p><p>m</p><p>67 50 Alusões para Usar na Redação @profraphaelreis</p><p>Exemplo:</p><p>Em primeira análise, destaca-se a desigualdade salarial entre homens e mulheres</p><p>como sinal da necessidade de busca persistente de direitos. Assim, vale salientar a</p><p>reivindicação permanente das mulheres por direitos iguais aos dos homens, como se</p><p>exemplifica com a luta de mais de um século delas pelo direito de participação política.</p><p>Os atos se iniciaram na Inglaterra do século XIX, espalharam-se pelo mundo e, no Brasil,</p><p>tiveram resultados positivos na década de 1930, quando o Movimento Sufragista</p><p>viu o</p><p>presidente Getúlio Vargas conceder vitória ao anseio feminista. Dessa forma, vislumbra-</p><p>se, também, a equiparação de remuneração entre homens e mulheres que desempenham</p><p>funções idênticas e se vê como inadmissível e afrontosa a situação de desigualdade diante</p><p>do mesmo empenho.</p><p>Um exemplo marcante da primeira onda feminista no mundo foi o Movimento Sufragista</p><p>que teve início na Inglaterra durante o século XIX, quando as mulheres começaram a lutar por</p><p>seus direitos políticos de modo mais contundente: elas queriam poder votar e queriam poder</p><p>ser votadas.</p><p>As manifestações de desagrado à restrição de direitos foram desde a distribuição de</p><p>panfletos e passaram por importantes atos de desobediência civil (ação legítima não violenta</p><p>de demonstração de descontentamento diante de um dispositivo legal), até chegarem, em</p><p>algumas situações, à greve de fome (feitas por algumas que estiveram privadas de liberdade</p><p>em virtude de ato relacionado ao movimento).</p><p>As ações de reivindicação de direito ao voto – que instituem o que se chamou de</p><p>Movimento Sufragista – ganharam força na primeira metade do século XX, disseminando-se</p><p>por todo o mundo. No Brasil, a instituição do voto feminino – que significou concretização</p><p>do resultado do esforço de busca ativa de mais de um século por igualdade de gênero no</p><p>que dizia respeito à participação política - aconteceu em 1932, quando o presidente Getúlio</p><p>Vargas decidiu promover a justiça eleitoral via decreto.</p><p>Apesar de hoje as mulheres representarem mais de 50% do eleitorado brasileiro, elas</p><p>ainda são minoria na ocupação de cargos políticos, mas isso não minimiza a conquista do</p><p>sufrágio, próxima de comemorar um século. Com o voto e o aumento da representatividade,</p><p>elas possuem instrumentos para avançar nas lutas que permanecem em busca da igualdade</p><p>plena e de maior participação feminina na sociedade.</p><p>O Movimento pode ser usado em textos sobre reivindicações de direitos, sobre</p><p>exercício da cidadania plena, desigualdade de gênero em qualquer situação, direitos das</p><p>minorias, entre outros.</p><p>2.14 MoVIMeNTo SUFrAGISTA</p><p>L</p><p>ic</p><p>en</p><p>se</p><p>d</p><p>t</p><p>o</p><p>m</p><p>ay</p><p>ra</p><p>lo</p><p>rr</p><p>ay</p><p>n</p><p>e</p><p>d</p><p>o</p><p>s</p><p>sa</p><p>n</p><p>to</p><p>s</p><p>-</p><p>m</p><p>ay</p><p>ra</p><p>.lo</p><p>sa</p><p>n</p><p>to</p><p>s@</p><p>g</p><p>m</p><p>ai</p><p>l.c</p><p>o</p><p>m</p><p>68 50 Alusões para Usar na Redação @profraphaelreis</p><p>O Iluminismo foi um movimento de cunho político (surgiu como crítica ao Absolutismo</p><p>e ao exercício da tirania), mas, sobretudo, de cunho intelectual (originou-se da ideia de que</p><p>somente a razão pode ser ponte para a evolução e o progresso) que se deflagrou na Europa</p><p>do século XVIII. No entanto, as ideias vinculadas ao Iluminismo já eram semente no século</p><p>XVII, quando começaram a brotar questionamentos acerca da falta de liberdade proposta em</p><p>um Estado com alta concentração de poder e da necessidade de se empunhar a razão como</p><p>único caminho para a reflexão propulsora da transformação da sociedade.</p><p>O movimento, que também ficou conhecido como Século das Luzes, contribuiu para</p><p>uma transformação histórica de alta relevância em diversos campos sociais, tendo inclusive</p><p>fortes consequências em uma mudança na visão religiosa, já que os intelectuais lutavam contra</p><p>ideologias que levavam ao preconceito e que se baseavam na fé como elemento central da</p><p>sociedade da época. Ao acreditar que somente o conhecimento científico poderia mudar</p><p>o pensamento das pessoas e levar a uma sociedade mais justa, os Iluministas defendiam,</p><p>por exemplo, a criação de limites ao excesso de poder concentrado na figura real e a maior</p><p>liberdade econômica para além das fronteiras impostas pelo Estado – o qual debelou,</p><p>inclusive, nesse caso, forte embate com o mercantilismo, levando o movimento a obter apoio</p><p>da burguesia, que já sonhava com mais liberdade econômica, política e social.</p><p>Por proporem uma nova ordem, os intelectuais iluministas rejeitavam o passado</p><p>medieval, a chamada “Idade das Trevas”. Por convocarem ao novo, contribuíram com</p><p>mudanças fundamentais ao desenvolvimento econômico em todo o ocidente. A consciência</p><p>da importância do liberalismo econômico, por exemplo, construiu caminho para o desgaste do</p><p>mercantilismo, fazendo com que a sociedade pudesse buscar outras formas de crescimento</p><p>nesse campo.</p><p>O Século das Luzes é o embrião de movimentos que se organizaram na Europa, como</p><p>a Revolução Francesa, e no Brasil, como a Inconfidência Mineira, propondo, de fato, uma nova</p><p>concepção de viver em sociedade.</p><p>O Iluminismo pode ser usado em produções textuais como referência a discussões</p><p>como liberdade de expressão, questionamento do poder do Estado, influência religiosa em</p><p>decisões políticas, entre outros temas.</p><p>2.15 IlUMINISMo</p><p>L</p><p>ic</p><p>en</p><p>se</p><p>d</p><p>t</p><p>o</p><p>m</p><p>ay</p><p>ra</p><p>lo</p><p>rr</p><p>ay</p><p>n</p><p>e</p><p>d</p><p>o</p><p>s</p><p>sa</p><p>n</p><p>to</p><p>s</p><p>-</p><p>m</p><p>ay</p><p>ra</p><p>.lo</p><p>sa</p><p>n</p><p>to</p><p>s@</p><p>g</p><p>m</p><p>ai</p><p>l.c</p><p>o</p><p>m</p><p>69 50 Alusões para Usar na Redação @profraphaelreis</p><p>Exemplo:</p><p>A princípio, vale salientar a relevância de se discutir o papel da religião na restrição</p><p>à liberdade de expressão. No século XVIII, ideias iluministas já sugeriam uma fronteira</p><p>entre Estado e religião, acreditando que a razão devia ser a única forma – ao contrário</p><p>do que ocorria quando a fé se sobrepunha como a melhor ferramenta de construção da</p><p>sociedade – de busca de evolução das relações e do ordenamento social. Dessa forma,</p><p>não é admissível, no Brasil contemporâneo, permitir um retrocesso às conquistas do</p><p>Estado laico, o que faz pensar ser mesmo uma limitação ao avanço alcançado imaginar</p><p>uma legislação de restrição de direitos à liberdade de se expressar através do humor</p><p>em canais de comunicação ou outros meios de informação por motivos exclusivamente</p><p>religiosos. Sendo assim, a busca da conscientização permanece sendo o melhor meio de</p><p>combater o humor que se constrói sobre o mau gosto.</p><p>L</p><p>ic</p><p>en</p><p>se</p><p>d</p><p>t</p><p>o</p><p>m</p><p>ay</p><p>ra</p><p>lo</p><p>rr</p><p>ay</p><p>n</p><p>e</p><p>d</p><p>o</p><p>s</p><p>sa</p><p>n</p><p>to</p><p>s</p><p>-</p><p>m</p><p>ay</p><p>ra</p><p>.lo</p><p>sa</p><p>n</p><p>to</p><p>s@</p><p>g</p><p>m</p><p>ai</p><p>l.c</p><p>o</p><p>m</p><p>70 50 Alusões para Usar na Redação @profraphaelreis</p><p>ALUSÕES CINEMATOGRÁFICAS</p><p>O filme “O Contador de Histórias” trata de uma</p><p>trajetória verdadeira: a de Roberto Carlos Ramos,</p><p>conhecido mundo afora pela sua habilidade em entreter</p><p>crianças com suas narrativas. Roberto nasceu em uma</p><p>família muito pobre, em Belo Horizonte, e sua mãe</p><p>tinha muitas dificuldades de cuidar dele e seus nove</p><p>irmãos. Na época em que tinha seis anos, a matriarca</p><p>da família, influenciada por propagandas na televisão,</p><p>leva o menino para a FEBEM, a casa de recuperação</p><p>de menores em atividade no Brasil na década de 1970.</p><p>Embora fosse um ambiente hostil, sem profissionais</p><p>adequados para lidar com crianças e adolescentes, a</p><p>publicidade fazia as pessoas crerem que se tratava de</p><p>uma instituição que oferecia educação de qualidade.</p><p>Assim, uma mãe desesperada leva seu filho, na</p><p>esperança de que se torne um “doutor”.</p><p>3.1 o CoNTAdor de HISTÓrIAS</p><p>dirigido por luiz villaça</p><p>L</p><p>ic</p><p>en</p><p>se</p><p>d</p><p>t</p><p>o</p><p>m</p><p>ay</p><p>ra</p><p>lo</p><p>rr</p><p>ay</p><p>n</p><p>e</p><p>d</p><p>o</p><p>s</p><p>sa</p><p>n</p><p>to</p><p>s</p><p>-</p><p>m</p><p>ay</p><p>ra</p><p>.lo</p><p>sa</p><p>n</p><p>to</p><p>s@</p><p>g</p><p>m</p><p>ai</p><p>l.c</p><p>o</p><p>m</p><p>71 50 Alusões para Usar na Redação @profraphaelreis</p><p>De início, Roberto se adaptou das formas que pôde ao ambiente, mas foi rapidamente</p><p>transferido para um lugar com regras mais rígidas e punições severas. Ele tinha TDAH</p><p>(Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade), em uma época em que pouco se sabia</p><p>sobre essa condição; por isso, os professores da FEBEM, despreparados para lidar com</p><p>seu caso, não conseguiam ensinar a matéria ao pequeno. Sua atividade constante, em um</p><p>ambiente semelhante a uma prisão, fez com que ele se tornasse extremamente irrequieto,</p><p>o que era punido de formas terríveis pela administração. Aos poucos, aprendeu a fugir e</p><p>acabou conhecendo o mundo dos pequenos crimes e das drogas – consta que fugiu mais de</p><p>100 vezes da instituição, sendo sempre preso novamente e castigado pelos seus</p><p>competentes e letrados da equipe do Mago da Redação, os quais você conhecerá</p><p>a seguir.</p><p>Esses conceitos podem ser utilizados em qualquer texto do gênero dissertativo-</p><p>argumentativo, cujo tema seja de atualidades e de interesse geral. Ou seja, você</p><p>pode aplicá-los de forma contextualizada e explicada às redações de diversas</p><p>bancas: FCC, Cebraspe, FGV, Vunesp, Enem, vestibulares etc.</p><p>Sério, este e-book está fodástico e espero que você goste! Tenho certeza de</p><p>que com a leitura desta obra você estará ainda mais perto da sua aprovação!</p><p>L</p><p>ic</p><p>en</p><p>se</p><p>d</p><p>t</p><p>o</p><p>m</p><p>ay</p><p>ra</p><p>lo</p><p>rr</p><p>ay</p><p>n</p><p>e</p><p>d</p><p>o</p><p>s</p><p>sa</p><p>n</p><p>to</p><p>s</p><p>-</p><p>m</p><p>ay</p><p>ra</p><p>.lo</p><p>sa</p><p>n</p><p>to</p><p>s@</p><p>g</p><p>m</p><p>ai</p><p>l.c</p><p>o</p><p>m</p><p>7 50 Alusões para Usar na Redação @profraphaelreis</p><p>APRESENTAÇÃO DOS</p><p>PROFESSORES</p><p>Raphael Reis</p><p>Waldyr Imbroisi</p><p>Wendell Guiducci</p><p>Vanessa Lage</p><p>Otávio Campos</p><p>Alex Martoni</p><p>Apresentação dos Professores</p><p>L</p><p>ic</p><p>en</p><p>se</p><p>d</p><p>t</p><p>o</p><p>m</p><p>ay</p><p>ra</p><p>lo</p><p>rr</p><p>ay</p><p>n</p><p>e</p><p>d</p><p>o</p><p>s</p><p>sa</p><p>n</p><p>to</p><p>s</p><p>-</p><p>m</p><p>ay</p><p>ra</p><p>.lo</p><p>sa</p><p>n</p><p>to</p><p>s@</p><p>g</p><p>m</p><p>ai</p><p>l.c</p><p>o</p><p>m</p><p>8 50 Alusões para Usar na Redação @profraphaelreis</p><p>Sou o professor Raphael Reis, o Mago da</p><p>Redação. Sou considerado referência nacional na</p><p>redação de concursos públicos. Isso se deve a dois</p><p>fatos: em primeiro lugar, os meus alunos possuem</p><p>um desempenho extraordinário (em todos os</p><p>certames sempre temos notas 10, ou notas bem</p><p>próximas da nota máxima).</p><p>Em segundo, eu sou o único professor no Brasil</p><p>que acertou, até o momento, mais de 50 temas</p><p>de redação em revisão (diversas bancas), sendo</p><p>20 temas em revisão de véspera de certames</p><p>organizados pela FCC e 7 temas da banca</p><p>Cebraspe.</p><p>Os bons resultados fizeram com que, em 2019, os</p><p>alunos me dessem o apelido de “Mago da Redação”,</p><p>apelido este que leva o nome da nossa empresa.</p><p>Sou graduado em História (UFJF), Especialista em Políticas Públicas e Gestão</p><p>Social (UFJF) e Mestre em Sociologia da Educação (UFJF).</p><p>Sou fundador e CEO da empresa Mago da Redação Concursos (desde abril/2021).</p><p>Nos últimos anos, tenho me especializado na parte de macroestrutura (estrutura</p><p>e conteúdo) da redação. Ao perceber que a grande dificuldade dos candidatos de</p><p>Concursos Públicos, Enem e Vestibulares é ter conteúdo para desenvolver argumentos</p><p>bem fundamentados e consistentes, ofereço diversos cursos, serviços e e-books que</p><p>contribuem para que os alunos busquem a nota máxima e fiquem mais perto da</p><p>aprovação.</p><p>Site: www.professorraphaelreis.com.br</p><p>Youtube: Professor Raphael Reis</p><p>Telegram: profrapha</p><p>Instagram: @profraphareis</p><p>L</p><p>ic</p><p>en</p><p>se</p><p>d</p><p>t</p><p>o</p><p>m</p><p>ay</p><p>ra</p><p>lo</p><p>rr</p><p>ay</p><p>n</p><p>e</p><p>d</p><p>o</p><p>s</p><p>sa</p><p>n</p><p>to</p><p>s</p><p>-</p><p>m</p><p>ay</p><p>ra</p><p>.lo</p><p>sa</p><p>n</p><p>to</p><p>s@</p><p>g</p><p>m</p><p>ai</p><p>l.c</p><p>o</p><p>m</p><p>9 50 Alusões para Usar na Redação @profraphaelreis</p><p>Eu sou Waldyr Imbroisi. Sou professor de</p><p>redação, Literatura e Língua Portuguesa há onze</p><p>anos. Sou especialista na redação do Enem e,</p><p>nos últimos anos, tenho marcado presença com</p><p>alunos nota 1000, a mais cobiçada do Exame e</p><p>obtida por apenas meia centena de candidatos. Um</p><p>millennial no centro do mundo, estou imerso em</p><p>meu tempo, nas questões do agora e no potencial</p><p>da linguagem como instrumento comunicativo.</p><p>Instagram: @waldyrimbroisi</p><p>Eu sou o professor Wendell Guiducci, jornalista</p><p>graduado pela Universidade Federal de Juiz de</p><p>Fora, mestre e doutor em estudos literários pela</p><p>mesma instituição. Atuo como editor do jornal</p><p>Tribuna de Minas, onde trabalho há duas décadas,</p><p>e sou autor dos livros de minificções “Curto &</p><p>Osso” e “Suíte Cemitério”, e “Minificção e crônica</p><p>no Brasil: trânsitos possíveis”. Também sou cantor</p><p>e compositor na banda de rock independente</p><p>Martiataka.</p><p>Instagram: @delguiducci</p><p>L</p><p>ic</p><p>en</p><p>se</p><p>d</p><p>t</p><p>o</p><p>m</p><p>ay</p><p>ra</p><p>lo</p><p>rr</p><p>ay</p><p>n</p><p>e</p><p>d</p><p>o</p><p>s</p><p>sa</p><p>n</p><p>to</p><p>s</p><p>-</p><p>m</p><p>ay</p><p>ra</p><p>.lo</p><p>sa</p><p>n</p><p>to</p><p>s@</p><p>g</p><p>m</p><p>ai</p><p>l.c</p><p>o</p><p>m</p><p>10 50 Alusões para Usar na Redação @profraphaelreis</p><p>Eu sou a professora Vanessa Lage. Graduei-</p><p>me na Universidade Federal em Letras e segui na</p><p>mesma universidade no mestrado em Linguística.</p><p>Atualmente, leciono Língua Portuguesa e Redação</p><p>em Colégio e Curso preparatório para exames de</p><p>ingresso no ensino superior, o que faço há mais</p><p>de duas décadas. Tenho experiência em aulas de</p><p>Literatura Brasileira também no mesmo segmento.</p><p>Instagram: @vanessa_lage_martoni</p><p>Eu sou Otávio Campos. Sou formado em Letras</p><p>pela Universidade Federal e atuo como professor</p><p>de Literatura, Língua Portuguesa e Redação há</p><p>9 anos. Também na UFJF me tornei mestre em</p><p>Estudos Literários, e, pela Universidade Federal de</p><p>Minas Gerais, recebi em 2022 o título de doutor</p><p>em Estudos Literários. Desde 2014, trabalho como</p><p>coordenador editorial de poesia nas Edições</p><p>Macondo. Publiquei alguns livros entre Brasil e</p><p>Portugal, sendo os mais recentes: Ao jeito dos</p><p>bichos caçados (Lisboa: Enfermaria 6, 2017) e</p><p>Tatear os destroços depois do acidente (Juiz de</p><p>Fora: Macondo, 2022).</p><p>Instagram: @otcampos</p><p>L</p><p>ic</p><p>en</p><p>se</p><p>d</p><p>t</p><p>o</p><p>m</p><p>ay</p><p>ra</p><p>lo</p><p>rr</p><p>ay</p><p>n</p><p>e</p><p>d</p><p>o</p><p>s</p><p>sa</p><p>n</p><p>to</p><p>s</p><p>-</p><p>m</p><p>ay</p><p>ra</p><p>.lo</p><p>sa</p><p>n</p><p>to</p><p>s@</p><p>g</p><p>m</p><p>ai</p><p>l.c</p><p>o</p><p>m</p><p>11 50 Alusões para Usar na Redação @profraphaelreis</p><p>Alex Martoni Doutor em Estudos de Literatura</p><p>pela UFF, com doutorado-sanduíche/Capes</p><p>pela  Stanford University  (EUA) e pós-doutorado</p><p>PNPD/Capes pela UFF. É membro da Red</p><p>Latinoamericana de Investigaciones en Prácticas y</p><p>Medios de la Imagen, do GT Anpoll Intermidialidade:</p><p>Literatura, Artes e Mídias e do Grupo de pesquisa</p><p>Intermídia/UFMG. Músico e realizador audiovisual,</p><p>é coorganizador dos livros Rituais da Percepção</p><p>(2018), Estudos de intermidialidade: teorias,</p><p>práticas, expansões (2022) e Assombros da</p><p>história: memória, técnica, política (2022).</p><p>Possui artigos publicados nas áreas de Literatura</p><p>Contemporânea Brasileira, Ensino de Literatura,</p><p>Intermidialidade, Sound Studies e Filosofia</p><p>da Técnica. Atualmente, é pós-doutorando do</p><p>PPGCOM da UERJ, onde desenvolve o projeto</p><p>Práticas intermidiais de criação na literatura contemporânea brasileira: técnica,</p><p>estética, política.</p><p>L</p><p>ic</p><p>en</p><p>se</p><p>d</p><p>t</p><p>o</p><p>m</p><p>ay</p><p>ra</p><p>lo</p><p>rr</p><p>ay</p><p>n</p><p>e</p><p>d</p><p>o</p><p>s</p><p>sa</p><p>n</p><p>to</p><p>s</p><p>-</p><p>m</p><p>ay</p><p>ra</p><p>.lo</p><p>sa</p><p>n</p><p>to</p><p>s@</p><p>g</p><p>m</p><p>ai</p><p>l.c</p><p>o</p><p>m</p><p>12 50 Alusões para Usar na Redação @profraphaelreis</p><p>ALUSÕES LITERÁRIAS</p><p>1.1 1984, de GeorGe orwell</p><p>“1984” é uma obra-prima da ficção do século XX e</p><p>um livro que merece ser lido por todos. Ele faz uma</p><p>reflexão profunda a respeito dos riscos e das mazelas</p><p>dos governos totalitários de qualquer m atiz ideológico.</p><p>Escrito na década de 1940, em plena emersão dos</p><p>regimes autocráticos ao redor do mundo, “1984”</p><p>desenha um mundo distópico (um futuro terrível para</p><p>a humanidade) em que o globo se divide em apenas</p><p>três imensos territórios; o personagem principal,</p><p>Winston Smith, reside na Oceania, na região onde no</p><p>passado havia sido a Grã-Bretanha. Lá, os habitantes</p><p>experimentam um regime ditatorial marcado</p><p>pela vigilância governamental onipresente e pela</p><p>manipulação da imprensa e da História.</p><p>L</p><p>ic</p><p>en</p><p>se</p><p>d</p><p>t</p><p>o</p><p>m</p><p>ay</p><p>ra</p><p>lo</p><p>rr</p><p>ay</p><p>n</p><p>e</p><p>d</p><p>o</p><p>s</p><p>sa</p><p>n</p><p>to</p><p>s</p><p>-</p><p>m</p><p>ay</p><p>ra</p><p>.lo</p><p>sa</p><p>n</p><p>to</p><p>s@</p><p>g</p><p>m</p><p>ai</p><p>l.c</p><p>o</p><p>m</p><p>13 50 Alusões para Usar na Redação @profraphaelreis</p><p>O território é governado pelo Grande Irmão, uma figura masculina forte, cuja imagem</p><p>jamais envelhece. Ele é praticamente adorado, compulsoriamente, pelos habitantes da</p><p>Oceania, estando presente em todos os lugares: em cada casa, em cada cômodo, há</p><p>uma tela em que sua imagem se projeta dia e noite e pela qual os agentes do governo</p><p>esquadrinham cada passo da vida das pessoas, controlando desde a atividade sexual</p><p>até os hábitos mais simples de todos. “O Grande Irmão está te observando” é um lema</p><p>geral (Não sei se você percebeu, mas, em inglês, o nome do líder é “Big Brother”. Foi da</p><p>vigilância prevista</p><p>atos.</p><p>A vida de Roberto se transformou quando uma pedagoga francesa, chamada Margherit</p><p>Duvas, visitou a casa de menores e direcionou particular atenção a ele, visto que era dado</p><p>como “irrecuperável” pelos seus tutores. Duvas acabou adotando o menino e firmou uma</p><p>relação, de início, bastante conflituosa, até acertarem seus laços. Ela o ensinou a ler e a</p><p>escrever (em português e francês), conhecendo e respeitando a sua condição, e levou-o</p><p>para França, onde teve oportunidade de estudar e se formar. Anos depois, de volta ao Brasil,</p><p>Roberto Carlos Ramos especializou-se em educação e tornou-se escritor e contador de</p><p>histórias infantis, sendo reconhecido mundialmente pela sua atividade.</p><p>Essa história real é mote para pensar uma série de temas, como adoção, educação</p><p>especial e menores infratores. Sobre este último, confira um parágrafo de introdução utilizando</p><p>a história de Roberto como repertório:</p><p>Exemplo:</p><p>O filme “O Contador de Histórias” trata de uma fascinante história real: durante</p><p>o Regime Militar brasileiro, Roberto Carlos Ramos, então uma criança infratora, vivia</p><p>entre fugas e internações em uma unidade de aprisionamento de menores. Seu caso era</p><p>dado como irreparável, já que era reincidente em diversos delitos. Contudo, a adoção</p><p>do menino por uma pedagoga deu a ele uma nova oportunidade, possibilitando que se</p><p>tornasse, hoje, um dos mais famosos contadores de histórias do mundo e reconhecido</p><p>escritor de narrativas infantis. Esse exemplo comprova a capacidade de recomeçar entre</p><p>os mais jovens, ainda que tenham cometido transgressões. No Brasil hodierno, ainda é</p><p>comum a presença de pequenos infratores, porém, diferente de Roberto Ramos, nem</p><p>todos conseguem ser reinseridos na sociedade.</p><p>L</p><p>ic</p><p>en</p><p>se</p><p>d</p><p>t</p><p>o</p><p>m</p><p>ay</p><p>ra</p><p>lo</p><p>rr</p><p>ay</p><p>n</p><p>e</p><p>d</p><p>o</p><p>s</p><p>sa</p><p>n</p><p>to</p><p>s</p><p>-</p><p>m</p><p>ay</p><p>ra</p><p>.lo</p><p>sa</p><p>n</p><p>to</p><p>s@</p><p>g</p><p>m</p><p>ai</p><p>l.c</p><p>o</p><p>m</p><p>72 50 Alusões para Usar na Redação @profraphaelreis</p><p>O filme “Coringa”, dirigido por Todd Phillips, causou</p><p>muitos debates no ano de lançamento (2019). A</p><p>história se passa na década de 1980, ocorrendo antes</p><p>do desenvolvimento da história de Bruce Wayne</p><p>como Batman, na famosa cidade de “Gotham City”.</p><p>Como tipicamente ocorre nas obras da franquia,</p><p>Gotham está tomada por problemas sociais de toda</p><p>sorte, destacando-se a criminalidade sem controle.</p><p>Nesse contexto de crise, Thomas Wayne (pai do</p><p>futuro Batman) se candidata a prefeito com o discurso</p><p>de combater os delinquentes. Nesse cenário, o filme</p><p>centra-se sobre a figura de Arthur Fleck (futuro</p><p>Coringa), representado por Joaquim Phoenix,</p><p>ganhador do Oscar de melhor ator pelo papel.</p><p>Fleck é um sujeito complexo: ele é portador de um problema neurológico que o faz rir</p><p>de maneira incontrolável em momentos inapropriados, o que lhe causa diversos problemas.</p><p>Para controlar sua condição, ele depende do fornecimento de medicamentos pela assistência</p><p>social da cidade. Ele vive com sua mãe, uma mulher idosa que sempre mandava seu filho</p><p>“colocar um sorriso no rosto”, mesmo diante de situações difíceis – um claro sintoma do</p><p>imperativo à felicidade da contemporaneidade. Finalmente, completando a caracterização de</p><p>Arthur Fleck, ele trabalhava como palhaço para uma empresa que fazia animação de eventos</p><p>e de lojas.</p><p>A violência epidêmica da cidade atinge Fleck de diversas maneiras. Em determinado</p><p>momento, ele é espancado e assaltado por um grupo de adolescentes, que quebram a placa</p><p>com a qual ele estava trabalhando apenas pelo prazer da prática da violência. O medo de</p><p>novas agressões faz com que ele aceite a arma de um colega de trabalho, a qual passa a</p><p>carregar consigo e acaba sendo responsável pela sua demissão. 0 futuro Coringa, em um</p><p>evento com crianças, deixa a arma cair no chão e causa pavor generalizado. Essa mesma</p><p>arma é usada posteriormente em um novo episódio de violência, no qual Fleck, ao defender-</p><p>se de uma agressão, mata três pessoas enquanto está vestido de palhaço.</p><p>Em decorrência desse funesto evento, ocorrem diversos protestos contra os ricos</p><p>nas cidades, nos quais os cidadãos se vestem de palhaços em referência ao até então</p><p>desconhecido assassino. Em paralelo, o serviço de assistência social cancela o fornecimento</p><p>3.2 CorINGA</p><p>dirigido por todd phillips</p><p>L</p><p>ic</p><p>en</p><p>se</p><p>d</p><p>t</p><p>o</p><p>m</p><p>ay</p><p>ra</p><p>lo</p><p>rr</p><p>ay</p><p>n</p><p>e</p><p>d</p><p>o</p><p>s</p><p>sa</p><p>n</p><p>to</p><p>s</p><p>-</p><p>m</p><p>ay</p><p>ra</p><p>.lo</p><p>sa</p><p>n</p><p>to</p><p>s@</p><p>g</p><p>m</p><p>ai</p><p>l.c</p><p>o</p><p>m</p><p>73 50 Alusões para Usar na Redação @profraphaelreis</p><p>do medicamento de Fleck e sua mãe sofre um acidente vascular cerebral por causa da pressão</p><p>de investigadores que desconfiam do envolvimento de Arthur com as mortes por arma de</p><p>fogo.</p><p>Como se pode ver, há um caldeirão de complexidades que cercam a figura de Fleck,</p><p>desde sua condição de saúde mental até a degradação da coesão social que resulta em</p><p>violência, desemprego e caos. A intensificação desses conflitos busca explicar a gênese do</p><p>Coringa enquanto personagem disruptivo e complexo da série Batman, sendo, portanto, o</p><p>resultado da falta de acolhimento em todos os processos de sua vida. Esse filme, ganhador de</p><p>diversos prêmios, pode ser utilizado como alusão cinematográfica em muitos temas: doenças</p><p>mentais, papel do Estado, porte de armas, marginalização dos indesejáveis, imperativo à</p><p>felicidade, banalidade do mal etc.</p><p>Exemplo:</p><p>Em primeira análise, é importante destacar que a violência urbana passa por um</p><p>processo de trivialização na sociedade atual. Nesse sentido, o início do filme “Coringa”</p><p>retrata bem sintomas presentes nas nossas relações sociais quando o palhaço Artur Fleck</p><p>tem sua placa de anúncio roubada e quebrada por um grupo de adolescentes que, em</p><p>seguida, agridem-no de forma violenta sem qualquer motivo para isso, senão o ímpeto</p><p>agressivo. Essa banalização do mal pode ser vista em diversos casos de violência urbana,</p><p>mostrando que a naturalização do comportamento agressivo se sobrepõe ao respeito à</p><p>dignidade humana.</p><p>L</p><p>ic</p><p>en</p><p>se</p><p>d</p><p>t</p><p>o</p><p>m</p><p>ay</p><p>ra</p><p>lo</p><p>rr</p><p>ay</p><p>n</p><p>e</p><p>d</p><p>o</p><p>s</p><p>sa</p><p>n</p><p>to</p><p>s</p><p>-</p><p>m</p><p>ay</p><p>ra</p><p>.lo</p><p>sa</p><p>n</p><p>to</p><p>s@</p><p>g</p><p>m</p><p>ai</p><p>l.c</p><p>o</p><p>m</p><p>74 50 Alusões para Usar na Redação @profraphaelreis</p><p>“Triângulo da Tristeza” é um filme de 2022, do</p><p>diretor sueco Ruben Östlund, vencedor da Palma</p><p>de Ouro no Festival de Cannes. Candidato ao Oscar</p><p>2023 nas categorias de melhor filme, melhor direção</p><p>e melhor roteiro original, não venceu nenhuma</p><p>delas, mas promoveu muitas reflexões sobre os</p><p>temas abordados. O filme é dividido em três atos: no</p><p>primeiro, conhecemos o casal de modelos Carl e Yaya;</p><p>no segundo, eles se juntam, como influenciadores</p><p>digitais, a um grupo de super-ricos em um cruzeiro</p><p>num iate de luxo; no terceiro, após o naufrágio da</p><p>embarcação, os sobreviventes, ricos e pobres, têm de</p><p>se virar em uma ilha deserta, onde a hierarquia social</p><p>dominante acaba sendo invertida.</p><p>O filme começa com Carl participando de uma seleção de modelos promovida por uma</p><p>agência de publicidade, em que um monte de garotos sem camisa exibe suas competências</p><p>estéticas para avaliadores. Em seguida, Carl está com sua namorada Yaya em um restaurante,</p><p>onde começam a discutir sobre quem paga a conta. Um debate sobre igualdade de gênero</p><p>tem início, deixando clara, mais que isso, a tensão na tentativa de exercício de poder de um</p><p>sobre o outro. Ela é mais famosa que ele, ganha mais que ele e, como influenciadora digital,</p><p>tem direito a benefícios dos quais ele desfruta apenas por estar com ela.</p><p>Um desses benefícios é o convite para um cruzeiro em um iate povoado de super-ricos.</p><p>Ali, confrontados com bilionários de todas as procedências, como o dócil casal de idosos</p><p>fabricantes de armas e o dono de uma indústria de fertilizantes, eles percebem que o poder</p><p>que possuem é tão frágil quanto sua fama virtual. O capitão do iate, um socialista americano</p><p>desiludido com o mundo e seu papel nele, servindo àqueles que considera capitalistas</p><p>opressores, trava inesperada amizade com</p><p>o industrial russo capitalista (“Eu vendo merda”, diz</p><p>este último a certa altura), o que dá origem a um diálogo repleto de citações que vão de Karl</p><p>Marx a Noam Chomsky e John Kennedy. Enquanto os dois se embebedam, o barco começa</p><p>a afundar. Uma sequência escatológica mostra os super-ricos vomitando e chafurdando em</p><p>excrementos, numa alusão chocante à sua própria podridão.</p><p>No ato seguinte, os sobreviventes do naufrágio acabam em uma ilha deserta, onde</p><p>suas posições sociais anteriormente válidas já não fazem mais sentido. Neste novo cenário, a</p><p>trabalhadora filipina Abigail assume a posição de liderança. Única capaz de pescar e cozinhar,</p><p>ela detém o poder sobre o meio de sobrevivência do grupo e se coloca no topo da hierarquia.</p><p>Ela é a única que dorme (acompanhada do modelo Carl, que troca Yaya por Abigail) numa</p><p>3.3 TrIÂNGUlo dA TrISTeZA</p><p>dirigido por ruben östlund</p><p>L</p><p>ic</p><p>en</p><p>se</p><p>d</p><p>t</p><p>o</p><p>m</p><p>ay</p><p>ra</p><p>lo</p><p>rr</p><p>ay</p><p>n</p><p>e</p><p>d</p><p>o</p><p>s</p><p>sa</p><p>n</p><p>to</p><p>s</p><p>-</p><p>m</p><p>ay</p><p>ra</p><p>.lo</p><p>sa</p><p>n</p><p>to</p><p>s@</p><p>g</p><p>m</p><p>ai</p><p>l.c</p><p>o</p><p>m</p><p>75 50 Alusões para Usar na Redação @profraphaelreis</p><p>cabine encontrada na areia, a que decide quem come e quando come, a que define quem</p><p>realiza cada tarefa. De oprimida, corrompida pelo poder, Abigail passa a opressora. E fará</p><p>tudo para que permaneçam ali naquela ilha, onde seus privilégios serão mantidos.</p><p>Como se pode notar, várias questões são abordadas pelo diretor Ruben Östlund, como</p><p>corrupção, relações de poder, influência digital, opressão, capitalismo x socialismo e abismo</p><p>social. Vejamos um parágrafo argumentativo utilizando um dos recortes possíveis do filme:</p><p>Exemplo:</p><p>Nesse viés, fica claro que a manutenção da desigualdade social pode ser vista</p><p>como de interesse dos grandes detentores do poder. Essa é uma discussão sugerida pelo</p><p>diretor sueco Ruben Östlund em seu filme “Triângulo da Tristeza”, que faz uma crítica</p><p>às estruturas de dominação. Na obra, um iate cheio de pessoas super-ricas afunda, e</p><p>os náufragos têm de lutar por sua sobrevivência em uma ilha deserta. Quem assume a</p><p>posição superior nessa nova hierarquia é uma humilde trabalhadora do barco, a única</p><p>capaz de pescar e cozinhar para alimentar os demais. Uma vez detentora dos meios</p><p>de produção, ela é quem passa a ditar as regras, oprimindo os demais. Dessa forma,</p><p>pode-se traçar um paralelo com nossa sociedade, onde quem detém o poder estabelece</p><p>uma relação de dominação, frequentemente oprimindo aqueles em posição inferior na</p><p>pirâmide social.</p><p>“M3gan” é um filme de suspense e ficção científica</p><p>dirigido por Gerard Johnstone e lançado em 2022.</p><p>Retomando a tradição dos bonecos malvados no</p><p>cinema de horror, como já visto em franquias como</p><p>“Brinquedo assassino” (1988) e “Annabelle” (2014),</p><p>a obra avança para a contemporaneidade inserindo</p><p>um novo elemento: a inteligência artificial. Além desse</p><p>tema, outros como a solidão, o luto, a inabilidade de</p><p>lidar com pessoas de carne e osso em ambientes reais</p><p>e a dependência tecnológica são abordados no filme.</p><p>3.4 M3GAN</p><p>dirigido por gerard johnstone</p><p>L</p><p>ic</p><p>en</p><p>se</p><p>d</p><p>t</p><p>o</p><p>m</p><p>ay</p><p>ra</p><p>lo</p><p>rr</p><p>ay</p><p>n</p><p>e</p><p>d</p><p>o</p><p>s</p><p>sa</p><p>n</p><p>to</p><p>s</p><p>-</p><p>m</p><p>ay</p><p>ra</p><p>.lo</p><p>sa</p><p>n</p><p>to</p><p>s@</p><p>g</p><p>m</p><p>ai</p><p>l.c</p><p>o</p><p>m</p><p>76 50 Alusões para Usar na Redação @profraphaelreis</p><p>A obra começa mostrando o evento em que Cady, uma menina de 8 anos, perde seus</p><p>pais em um acidente automobilístico. Ela é então entregue à sua tia, Gemma, uma engenheira</p><p>robótica que trabalha para uma grande multinacional que fabrica brinquedos. Acontece</p><p>que Gemma preza muito sua individualidade e não demonstra muita capacidade, ou mesmo</p><p>interesse, em se relacionar com outras pessoas, muito menos cuidar da pequena Cady, que</p><p>sofre com o luto. Pressionada a entregar um novo projeto na empresa onde trabalha, ela</p><p>decide levar para casa o protótipo da boneca M3gan, que vem desenvolvendo, para tentar</p><p>resolver ambos os problemas.</p><p>Um dos slogans do filme é “A amizade evoluiu”. E logo entendemos o porquê.</p><p>Projetada para ser mais que uma boneca, mas uma verdadeira companhia na ausência dos</p><p>pais, M3gan é uma superrobô dotada de inteligência artificial, programada inclusive para</p><p>defender sua dona de perigos domésticos. Logo Cady cria um forte vínculo com o brinquedo,</p><p>mas coisas estranhas começam a acontecer. O medo contemporâneo de que máquinas criem</p><p>vontade própria se manifesta na superproteção de M3gan, que logo evolui para uma série de</p><p>assassinatos.</p><p>A inteligência artificial que anima o corpo do robô desenvolve sentimentos, se mostra</p><p>capaz de sentir ciúmes, possessão e ódio, além de planejar vinganças. Assim, sua imaturidade</p><p>emocional acha conveniente eliminar qualquer “ameaça” a Cady ou à sua relação com a menina</p><p>- um cachorro da vizinhança é morto, a própria vizinha, um colega de escola. Atemorizada,</p><p>Gemma tira M3gan de Cady, mas a menina já criou uma dependência tão grande do robô</p><p>que se revolta contra a tia, tornando-se agressiva como um dependente químico em crise de</p><p>abstinência. E M3gan tampouco se deixará separar facilmente de Cady.</p><p>“M3gan” é um sucesso pop que, em seu enredo, traz reflexões muito contemporâneas.</p><p>Vejamos, a seguir, um parágrafo explorando um desses temas, a dependência tecnológica:</p><p>Exemplo:</p><p>Ademais, a presença massiva dos dispositivos tecnológicos na vida contemporânea,</p><p>embora facilite o dia a dia sob diversos aspectos, cria uma série de problemas que</p><p>não podem ser negligenciados, como a dependência tecnológica. Nas crianças, essa</p><p>subordinação pode ser ainda mais danosa, como podemos ver no filme “M3gan”, do diretor</p><p>Gerard Johnstone. Na obra, uma menina órfã ganha uma boneca dotada de inteligência</p><p>artificial para suprir a ausência de seus pais, mortos em um acidente de carro, e logo cria</p><p>uma dependência em relação ao brinquedo. Essa alegoria pode ser vista também na vida</p><p>real, quando pais ausentes enchem seus filhos de dispositivos como videogames, tablets</p><p>e smartphones, criando neles uma verdadeira compulsão pela tecnologia.</p><p>L</p><p>ic</p><p>en</p><p>se</p><p>d</p><p>t</p><p>o</p><p>m</p><p>ay</p><p>ra</p><p>lo</p><p>rr</p><p>ay</p><p>n</p><p>e</p><p>d</p><p>o</p><p>s</p><p>sa</p><p>n</p><p>to</p><p>s</p><p>-</p><p>m</p><p>ay</p><p>ra</p><p>.lo</p><p>sa</p><p>n</p><p>to</p><p>s@</p><p>g</p><p>m</p><p>ai</p><p>l.c</p><p>o</p><p>m</p><p>77 50 Alusões para Usar na Redação @profraphaelreis</p><p>Akira Kurosawa lançou “Viver” em 1952. Considerado</p><p>uma das melhores obras da carreira do diretor japonês,</p><p>o filme é uma resposta aos críticos que acusavam</p><p>Kurosawa de ignorar o Japão contemporâneo. Uma</p><p>releitura, ambientada na Inglaterra, foi lançada em 2022</p><p>e recebeu duas indicações ao Oscar: melhor ator, para</p><p>Bill Nighy, e melhor roteiro adaptado. Filosoficamente</p><p>denso, “Viver” faz uma crítica à burocracia reinante no</p><p>Japão dos anos 1950 e reflete sobre a efemeridade</p><p>da vida, as relações familiares, o vazio existencial e o</p><p>papel dos servidores do Estado na sociedade.</p><p>“Viver” começa apresentando o funcionário público Kenji Watanabe, que logo</p><p>descobre, através de seu médico, que tem um câncer terminal e morrerá em menos de um</p><p>ano. Viúvo, Watanabe dedicou a vida a criar o filho, mas não recebe muita atenção dele</p><p>ou da nora, embora vivam todos sob o mesmo teto. Também no trabalho, como servidor</p><p>municipal, o burocrata não tem nenhum tipo de relação social e tampouco cuida com zelo dos</p><p>seus afazeres, liderando um bando de incompetentes. A cada oportunidade, os servidores</p><p>públicos passam suas demandas para outro departamento, que passa para outro e assim por</p><p>diante, sem que nada seja resolvido em prol da população.</p><p>O choque diante da iminência da morte muda Watanabe. Sua primeira atitude é</p><p>autodestrutiva: buscar intensamente a diversão que nunca procurara. Ele abandona o trabalho</p><p>a que se dedica há décadas e conhece um boêmio que o leva para beber e fazer tudo aquilo</p><p>que jamais se permitira. O furor, porém, dura pouco. Abordado ao acaso na rua por uma</p><p>funcionária que precisa de sua recomendação para assumir um novo emprego, Watanabe se</p><p>encanta pela exuberância da jovem e sua gana de viver. Inspirada por ela,</p><p>sua existência, cujo</p><p>horizonte é restrito, ganha enfim sentido.</p><p>Watanabe decide voltar ao trabalho e, cheio de disposição, começa a resolver as</p><p>demandas em sua mesa e colocar os demais burocratas para trabalhar. Sua primeira missão</p><p>é atender à reivindicação de um grupo de cidadãs que pedem a construção de uma praça</p><p>em um terreno abandonado pelo Poder Público. Watanabe não poupa esforços para que</p><p>o equipamento urbano seja construído e, uma vez finalizada a obra, ele morre. No apagar</p><p>das luzes de sua vida, o burocrata converte-se em um realizador a serviço da população do</p><p>município. No velório, apenas as moradoras vertem lágrimas pelo falecido servidor.</p><p>3.5 VIVer</p><p>dirigido por akira kurosawa</p><p>L</p><p>ic</p><p>en</p><p>se</p><p>d</p><p>t</p><p>o</p><p>m</p><p>ay</p><p>ra</p><p>lo</p><p>rr</p><p>ay</p><p>n</p><p>e</p><p>d</p><p>o</p><p>s</p><p>sa</p><p>n</p><p>to</p><p>s</p><p>-</p><p>m</p><p>ay</p><p>ra</p><p>.lo</p><p>sa</p><p>n</p><p>to</p><p>s@</p><p>g</p><p>m</p><p>ai</p><p>l.c</p><p>o</p><p>m</p><p>78 50 Alusões para Usar na Redação @profraphaelreis</p><p>Muitos assuntos podem ser abordados a partir da citação de “Viver” como repertório</p><p>cultural em uma redação. Para além das questões filosóficas, outra abordagem possível é uma</p><p>reflexão sobre o papel do funcionário público na vida social. Vejamos a seguir um parágrafo</p><p>sobre o tema:</p><p>Exemplo:</p><p>Frente ao exposto, fica claro que uma parcela dos servidores públicos não</p><p>compreende a real natureza de seu trabalho ou mesmo o impacto positivo que seu bom</p><p>desempenho pode ter na vida das pessoas. É o que se pode ver no filme “Viver”, do</p><p>diretor japonês Akira Kurosawa. Nele, um burocrata que há décadas acumula pilhas</p><p>de tarefas em sua mesa sem realizá-las é confrontado com a iminência de sua morte.</p><p>Diante disso, ele decide preencher o vazio de sua existência e, antes de morrer, consegue</p><p>construir uma praça para os moradores de um bairro. A narrativa, assim, nos mostra</p><p>como um burocrata, consciente da razão de sua função, pode se tornar de fato aquilo</p><p>que se espera de um cidadão em seu cargo: ser um verdadeiro servidor do público.</p><p>Décimo filme dirigido por Billy Wilder, fracasso de</p><p>crítica e público quando de seu lançamento, em 1952,</p><p>“A Montanha dos Sete Abutres” é visto hoje como</p><p>uma das grandes obras do diretor polonês radicado</p><p>nos Estados Unidos. Conta a história de um jornalista</p><p>fracassado, interpretado por Kirk Douglas, que se</p><p>aproveita do soterramento de um homem para criar um</p><p>verdadeiro circo midiático (para sua autopromoção)</p><p>que termina com consequências terríveis.</p><p>3.6 A MoNTANHA doS</p><p>SeTe ABUTreS</p><p>dirigido por billy wilder</p><p>L</p><p>ic</p><p>en</p><p>se</p><p>d</p><p>t</p><p>o</p><p>m</p><p>ay</p><p>ra</p><p>lo</p><p>rr</p><p>ay</p><p>n</p><p>e</p><p>d</p><p>o</p><p>s</p><p>sa</p><p>n</p><p>to</p><p>s</p><p>-</p><p>m</p><p>ay</p><p>ra</p><p>.lo</p><p>sa</p><p>n</p><p>to</p><p>s@</p><p>g</p><p>m</p><p>ai</p><p>l.c</p><p>o</p><p>m</p><p>79 50 Alusões para Usar na Redação @profraphaelreis</p><p>Chuck Tatum (Douglas) é um repórter que foi demitido de uma dezena de jornais ao</p><p>longo da carreira por vários motivos diferentes. Trabalhando por trocados em um pequeno</p><p>jornal em Albuquerque, uma cidade do estado do Novo México, nos Estados Unidos, que</p><p>não tinha nem 100 mil habitantes em 1952, ele não vê muitas oportunidades de voltar à</p><p>grande imprensa. As notícias são pouco atrativas para ele e o cotidiano é calmo. Até que o</p><p>soterramento de um homem, chamado Leo Minosa, em uma montanha da região aguça seu</p><p>faro para o sensacionalismo.</p><p>Avesso a qualquer ética jornalística e à educação formal para a profissão, convicto</p><p>de que notícias ruins vendem mais que boas, Tatum faz sua cobertura de modo a chamar a</p><p>atenção dos veículos de imprensa de todo o país, na esperança de se beneficiar e retornar</p><p>a um grande jornal. Para tanto, não se importa em distorcer fatos, corromper pessoas e</p><p>publicar mentiras. Aos poucos, uma multidão é atraída para Albuquerque e se reúne em torno</p><p>da montanha, como se acompanhasse um verdadeiro espetáculo.</p><p>Disposto a extrair o máximo que puder da situação, Tatum começa a manipular as</p><p>pessoas ao redor, atrasando como pode o resgate do homem soterrado. Nisso, extrapola</p><p>não apenas os limites jornalísticos, mas da ética social: sem receber o socorro necessário em</p><p>tempo hábil, graças às artimanhas do assim-chamado jornalista, Leo Minosa acaba morrendo.</p><p>A irresponsabilidade, o ego e a ganância de Tatum resultam em uma tragédia para a família</p><p>da vítima.</p><p>São muitas as reflexões suscitadas pelo filme “A Montanha dos Sete Abutres”: o</p><p>comportamento de manada, o poder dos meios de comunicação, a ética jornalística, as fake</p><p>news e o sensacionalismo midiático. Vejamos abaixo um parágrafo abordando esse último</p><p>aspecto, utilizando como repertório cultural o brilhante filme de Billy Wilder.</p><p>Exemplo:</p><p>Todavia, é preciso ter em mente que o comportamento irresponsável da imprensa na</p><p>busca desenfreada por audiência, especialmente através de abordagens sensacionalistas,</p><p>pode ter consequências terríveis. No filme “A Montanha dos Sete Abutres”, do diretor Billy</p><p>Wilder, esse risco é muito bem retratado. Na obra, um jornalista em busca de autopromoção</p><p>distorce informações durante a cobertura do episódio de soterramento de um homem.</p><p>Manipulando a verdade e as pessoas ao redor, ele acaba levando a vítima à morte. Da</p><p>mesma forma, na sociedade contemporânea, o uso indevido dos meios de comunicação</p><p>– não apenas através da imprensa tradicional, mas também de influenciadores digitais –</p><p>pode causar danos irreversíveis e deve ser seriamente combatido.</p><p>L</p><p>ic</p><p>en</p><p>se</p><p>d</p><p>t</p><p>o</p><p>m</p><p>ay</p><p>ra</p><p>lo</p><p>rr</p><p>ay</p><p>n</p><p>e</p><p>d</p><p>o</p><p>s</p><p>sa</p><p>n</p><p>to</p><p>s</p><p>-</p><p>m</p><p>ay</p><p>ra</p><p>.lo</p><p>sa</p><p>n</p><p>to</p><p>s@</p><p>g</p><p>m</p><p>ai</p><p>l.c</p><p>o</p><p>m</p><p>80 50 Alusões para Usar na Redação @profraphaelreis</p><p>O diretor e roteirista norte-americano Darren</p><p>Aronofsky é conhecido por seus filmes que tratam de</p><p>temas polêmicos e, muitas vezes, perturbadores. Seu</p><p>mais novo longa-metragem, “A baleia”, vem confirmar</p><p>essa trajetória do realizador, ao se tornar um dos</p><p>filmes mais comentados dos indicados ao Oscar em</p><p>2023. Muitos desses comentários são elogiando o</p><p>tom de fábula da narrativa, e principalmente a atuação</p><p>espetacular de Brendan Fraser (que lhe rendeu o</p><p>prêmio de Melhor Ator pela Academia Americana);</p><p>no entanto outros, se não a sua maioria, são menos</p><p>gentis com a película, acusando-a de reforçar mais</p><p>estereótipos do que realmente saná-los, ao lidar com</p><p>um tema tão delicado, urgente e atual, que é a questão</p><p>da obesidade.</p><p>O filme conta a história de Charlie, um professor de escrita criativa que pesa 270 kg</p><p>e dificilmente consegue se levantar do sofá, o qual se encontra cheio de problemas, não só</p><p>físicos, mas também emocionais. Além disso, o protagonista tenta se reconciliar com sua filha,</p><p>jovem e revoltada com a ausência do pai, que a abandonou aos oito anos de idade para se</p><p>relacionar com outro homem. Além de Charlie e a filha, o filme também traz como personagens</p><p>um missionário, que regularmente visita a casa do professor e tenta salvá-lo (mesmo que seja</p><p>espiritualmente) antes de sua morte iminente, e uma enfermeira e amiga, que faz o papel</p><p>de uma figura quase materna, servindo de apoio e socorro em diversas ocasiões durante</p><p>o longa. O clima angustiante e claustrofóbico do filme é exacerbado quando temos como</p><p>cenário apenas a pequena casa do personagem, na qual ele, quando caminha com a ajuda de</p><p>equipamentos, o faz sempre com muita dificuldade, o que é realçado pelo enquadramento</p><p>quase sempre muito fechado em seus movimentos. Além disso, há uma penumbra em todo</p><p>o ambiente, justificada pela vergonha e pela repulsa que Charlie sente de si mesmo, o que o</p><p>faz se recusar a receber visitas ou manter abertas as cortinas de casa.</p><p>Ainda que sirva como uma crítica à não aceitação da sociedade ao corpo obeso, como</p><p>é o caso desse sentimento de nojo que Charlie percebe que alguns personagens têm dele, o</p><p>que se reflete em sua autoimagem, a narrativa é também colocada em paralelo com a história</p><p>de Moby Dick, a grande baleia branca do clássico literário, que exerce um fascínio entre o</p><p>desejo e a recusa do pescador que tenta caçá-la. Mas nem por isso o filme convence certos</p><p>críticos</p><p>quanto a ser uma ferramenta na penosa luta contra a gordofobia. Ao colocar no título</p><p>uma expressão que, mesmo que tente ser colocada de maneira crítica com a analogia ao</p><p>famoso livro, é tão estigmatizante, e persegue tantos cidadãos que sofrem com essa questão,</p><p>3.7 A BAleIA</p><p>dirigido por aron aronfsky</p><p>L</p><p>ic</p><p>en</p><p>se</p><p>d</p><p>t</p><p>o</p><p>m</p><p>ay</p><p>ra</p><p>lo</p><p>rr</p><p>ay</p><p>n</p><p>e</p><p>d</p><p>o</p><p>s</p><p>sa</p><p>n</p><p>to</p><p>s</p><p>-</p><p>m</p><p>ay</p><p>ra</p><p>.lo</p><p>sa</p><p>n</p><p>to</p><p>s@</p><p>g</p><p>m</p><p>ai</p><p>l.c</p><p>o</p><p>m</p><p>81 50 Alusões para Usar na Redação @profraphaelreis</p><p>parece que Aronofsky na verdade consegue reforçar os estereótipos quanto à obesidade,</p><p>além de, muitas vezes, negar uma humanidade ao seu personagem e colocá-lo como alguém</p><p>que come compulsivamente em diversas cenas.</p><p>Dessa forma, o filme “A baleia” pode ser usado como uma potente referência para</p><p>discutirmos temas que envolvem obesidade ou gordofobia, tanto pelas situações que podem</p><p>ser vistas como críticas sociais durante o filme, quanto pelas críticas que podem ser feitas</p><p>à obra, de modo a servir como uma alavanca na problemática em questão. No exemplo a</p><p>seguir, usamos o filme para argumentar quanto à prática do “fat suit” muitas vezes utilizadas</p><p>em produções midiáticas, que consiste em usar atores que não são gordos fantasiados de</p><p>atores gordos, como foi o caso de Brendan Fraser ao interpretar Charlie.</p><p>Exemplo:</p><p>Por outro lado, é importante destacar que a representatividade de pessoas obesas</p><p>nas produções cinematográficas sem a sua devida inserção no mercado é uma ação que</p><p>inefetiva para resolver o imbróglio. Tal situação pode ser observada no filme “A baleia”,</p><p>o qual conta a história de um professor obeso que enfrenta diversos problemas para</p><p>lidar com seu corpo e para ser aceito pela sociedade. Apesar da importância do tema</p><p>tratado, o protagonista do filme não foi interpretado por um ator obeso, e sim por alguém</p><p>que se fantasiou para atuar, prática comumente conhecida como “fat suit”. Essa atitude,</p><p>além de tratar pessoas obesas com um olhar exótico, aponta que os produtores não têm</p><p>conhecimento da existência de atores obesos, ou propagam a ideia de que eles não são</p><p>capazes de trabalhar. Sendo assim, essa prática cria tanto um estereótipo negativo a</p><p>pessoas gordas, quanto impede sua devida inclusão em meio à sociedade.</p><p>L</p><p>ic</p><p>en</p><p>se</p><p>d</p><p>t</p><p>o</p><p>m</p><p>ay</p><p>ra</p><p>lo</p><p>rr</p><p>ay</p><p>n</p><p>e</p><p>d</p><p>o</p><p>s</p><p>sa</p><p>n</p><p>to</p><p>s</p><p>-</p><p>m</p><p>ay</p><p>ra</p><p>.lo</p><p>sa</p><p>n</p><p>to</p><p>s@</p><p>g</p><p>m</p><p>ai</p><p>l.c</p><p>o</p><p>m</p><p>82 50 Alusões para Usar na Redação @profraphaelreis</p><p>Um dos filmes brasileiros mais originais e interessantes</p><p>dos últimos anos, “O som ao redor”, primeiro longa-</p><p>metragem do pernambucano Kleber Mendonça Filho,</p><p>foi consagrado pela crítica internacional e considerado</p><p>um dos melhores filmes de 2013 por vários veículos</p><p>importantes, como o New York Times. Toda essa</p><p>empolgação parece justificar-se pela tomada de</p><p>atitude por parte do espectador durante o filme,</p><p>o qual constrói uma crítica bem intrincada sobre as</p><p>relações de poder e desigualdades sociais, sem tomar</p><p>para si um tom panfletário, apenas apresentando as</p><p>cenas como em álbum de fotografias. Além disso, há</p><p>no ar um constante tom de tensão nas cenas, que</p><p>muitas vezes não trazem nada de mais, mas geram no</p><p>espectador uma desconfiança e uma necessidade de</p><p>atenção pelo som que há ao redor.</p><p>Dividido em três atos, o filme acompanha o dia a dia de um bairro de classe média alta,</p><p>situado na zona sul de Recife. A vizinhança, de aparência tranquila, é quase toda composta</p><p>de imóveis pertencentes a Francisco, um antigo senhor de engenho que agora vive na cidade.</p><p>Apesar de nem todos os imóveis serem ocupados por sua família, o personagem desempenha</p><p>um papel central na ordem do bairro, como se mantivesse a mesma ordem patriarcal e social</p><p>autoritária que desempenhava no engenho. No entanto, alguma coisa parece perturbar</p><p>momentaneamente essa ordem, com carros amanhecendo arrombados nas ruas, e um clima</p><p>de medo aos poucos se instaurando entre os moradores. Situação essa que é agravada com</p><p>a aparição de Clodoaldo, que, com o aval de Francisco, chega com sua equipe para promover</p><p>uma segurança particular no bairro.</p><p>À medida em que vamos tendo acesso às cenas quase hipnóticas e criando conexões</p><p>com os personagens, conseguimos perceber, com a maestria do roteiro e da direção de</p><p>Kleber Mendonça Filho, que a narrativa, aparentemente pacata, revela uma intrincada crítica</p><p>social sobre uma classe em ascensão que, para se manter no poder, e manter também</p><p>sua segurança, precisa exterminar qualquer ameaça que recaia sobre ela. Claro que esse</p><p>extermínio não necessariamente se dá por meio da morte dos personagens, mas também</p><p>pelas relações desiguais de poder entre a empregada doméstica e o patrão, entre o porteiro</p><p>do prédio (que, abusadamente, retira do plástico a revista Veja de uma das moradoras) e os</p><p>condôminos, entre os flanelinhas e a madame que sai do cabeleireiro.</p><p>3.8 o SoM Ao redor</p><p>dirigido por kleber mendonça filho</p><p>L</p><p>ic</p><p>en</p><p>se</p><p>d</p><p>t</p><p>o</p><p>m</p><p>ay</p><p>ra</p><p>lo</p><p>rr</p><p>ay</p><p>n</p><p>e</p><p>d</p><p>o</p><p>s</p><p>sa</p><p>n</p><p>to</p><p>s</p><p>-</p><p>m</p><p>ay</p><p>ra</p><p>.lo</p><p>sa</p><p>n</p><p>to</p><p>s@</p><p>g</p><p>m</p><p>ai</p><p>l.c</p><p>o</p><p>m</p><p>83 50 Alusões para Usar na Redação @profraphaelreis</p><p>Mas “O som ao redor”, como descobrimos no último ato, é também um filme sobre</p><p>vingança e sobre as marcas de um passado colonial que não param de ficar evidentes em</p><p>nosso país. Essa revelação se dá quando Clodoaldo, que supostamente está ali para proteger</p><p>os moradores, conta a Francisco que, na verdade, ele é filho de um dos homens que o</p><p>fazendeiro mandou matar para expropriar suas terras. A reviravolta final, que termina com</p><p>um estrondo (de bomba ou de tiro), também nos faz refletir de onde vem esse poder social e</p><p>econômico das elites que comandam a nossa sociedade.</p><p>Por conta disso, dentre inúmeras questões levantadas, o filme “O som ao redor”</p><p>pode ser uma ótima referência para falarmos de temas que envolvem desigualdades sociais</p><p>no contexto brasileiro. Mas essa alusão é também uma ótima carta para usarmos quando</p><p>discutimos sobre a segurança pública no cenário brasileiro, e é justamente nessa direção que</p><p>usamos o filme no exemplo a seguir.</p><p>Exemplo:</p><p>Primeiramente, podemos destacar a omissão estatal no que se refere à questão</p><p>da segurança urbana. Apesar de a Constituição Federal afirmar que é dever do Estado</p><p>garantir a segurança a todos os cidadãos, isso não é o que vem acontecendo ao se</p><p>observar o crescente número de casos de violência dentro de grandes cidades, por</p><p>exemplo. Com a falta de fiscalização e de investimentos em segurança pública, muitas</p><p>pessoas têm que optar por uma garantia privada desse direito, como é retratado no</p><p>filme brasileiro “O som ao redor”, de Kleber Mendonça Filho. Na obra, um bairro de</p><p>classe média alta de Recife tem enfrentado constante roubos de automóveis e outras</p><p>situações que colocam em risco a integridade física dos moradores. Por esse motivo,</p><p>é contratada uma equipe de segurança privada, a qual cobra uma pequena quantia</p><p>de cada morador para desempenhar seu trabalho. No entanto, essa falta de segurança</p><p>na verdade é uma arma que tal equipe utiliza para ela mesma atentar contra alguns</p><p>moradores da vizinhança. Apesar de se passar no cenário ficcional, esse filme serve como</p><p>um exemplo do que pode ocorrer na sociedade hodierna brasileira, em que, desprovidos</p><p>de assistência governamental, muitos cidadãos têm que se arriscar para tentar adquirir</p><p>um direito garantido constitucionalmente.</p><p>L</p><p>ic</p><p>en</p><p>se</p><p>d</p><p>t</p><p>o</p><p>m</p><p>ay</p><p>ra</p><p>lo</p><p>rr</p><p>ay</p><p>n</p><p>e</p><p>d</p><p>o</p><p>s</p><p>sa</p><p>n</p><p>to</p><p>s</p><p>-</p><p>m</p><p>ay</p><p>ra</p><p>.lo</p><p>sa</p><p>n</p><p>to</p><p>s@</p><p>g</p><p>m</p><p>ai</p><p>l.c</p><p>o</p><p>m</p><p>84 50 Alusões para Usar na Redação @profraphaelreis</p><p>O filme “Filadélfia” de 1993 – que contemplou o ator</p><p>norte-americano Tom Hanks com o Oscar de melhor</p><p>ator e com o Globo de Ouro de melhor ator de filme</p><p>dramático – foi, em sua década de lançamento, um</p><p>marco contra o preconceito. Ao fazer um importante</p><p>convite à reflexão sobre o tema da AIDS (doença</p><p>causada pela infecção do Vírus da Imunodeficiência</p><p>Humana), ainda pouco abordado na ficção à época,</p><p>a obra ganhou destaque tanto pela abordagem da</p><p>discussão, quanto por emprestar luz à questão da</p><p>saúde pública, à comunidade LGBTQIA+ e à relevância</p><p>da justiça para a correção do discurso de preconceito</p><p>e de discriminação em relação ao assunto.</p><p>A obra retrata a história de Andrew Beckett (interpretado por Hanks), um advogado</p><p>bem-sucedido na carreira, funcionário (e promissor sócio) de um tradicional (e conservador)</p><p>escritório jurídico localizado na cidade de Filadélfia (EUA). Em condição de ascensão profissional</p><p>proeminente, ele adoece e tem como diagnóstico a contaminação pelo vírus da AIDS. Na</p><p>sequência, Beckett é demitido e, por tudo que vivia até ali, percebe que as razões para sua</p><p>dispensa não são relacionadas ao seu desempenho no trabalho, mas possuem motivações</p><p>referentes ao preconceito acerca de sua orientação sexual e da contaminação pelo HIV (ao</p><p>desenvolver a doença, o advogado começa a ter algumas lesões na pele que são percebidas</p><p>por aqueles com quem ele trabalha).</p><p>Em seguida, Beckett contrata um advogado, Joe Miller – um colega de profissão, negro</p><p>e homofóbico (aqui percebe-se a contradição marcante em Joe) -, que teme, por falta de</p><p>informação, a contaminação por AIDS (ele evita – a princípio – tocar em objetos nos mesmos</p><p>pontos tocados por seu cliente). No desenvolver do enredo, eles se tornam amigos e, na</p><p>luta no tribunal, tentam juntos vencer a tese falsa que teria levado à demissão de Beckett. A</p><p>crença na lei e na justiça leva ambos a encararem seus medos e seus preconceitos de frente.</p><p>O filme pode ser usado para ilustrar temas como a desinformação (na década de 1990,</p><p>havia muito temor acerca da infecção por HIV e muita ignorância em torno da infecção), o</p><p>preconceito, a humanidade e a justiça.</p><p>3.9 FIlAdÉlFIA</p><p>dirigido por kleber mendonça filho</p><p>L</p><p>ic</p><p>en</p><p>se</p><p>d</p><p>t</p><p>o</p><p>m</p><p>ay</p><p>ra</p><p>lo</p><p>rr</p><p>ay</p><p>n</p><p>e</p><p>d</p><p>o</p><p>s</p><p>sa</p><p>n</p><p>to</p><p>s</p><p>-</p><p>m</p><p>ay</p><p>ra</p><p>.lo</p><p>sa</p><p>n</p><p>to</p><p>s@</p><p>g</p><p>m</p><p>ai</p><p>l.c</p><p>o</p><p>m</p><p>85 50 Alusões para Usar na Redação @profraphaelreis</p><p>Exemplo:</p><p>Em primeira instância, vale ressaltar a relevância da crença na lei e na justiça</p><p>em relação ao combate ao preconceito e à discriminação. No longa norte-americano</p><p>Filadélfia, Andrew Beckett, um advogado de carreira promissora, descobre que está</p><p>infectado pelo vírus da AIDS e, ao desenvolver a doença, vê-se demitido injustamente.</p><p>Analogamente à ficção, em que o personagem sofre de preconceito, e esse leva à</p><p>discriminação, empurrando-o a uma cruzada nos tribunais para comprovar a verdade</p><p>por trás de sua dispensa, é importante perceber que a justiça, que tem evoluído muito</p><p>nas sanções à violência tácita motivada por preconceito, deve ser sempre o caminho na</p><p>busca de punição dos que insistem em perpetuar tais práticas que, independentemente</p><p>de serem silenciosas ou invisíveis, são carregadas de violência e supressão do exercício</p><p>da humanidade e da cidadania das vítimas.</p><p>“Que horas ela volta?” é um filme brasileiro dirigido</p><p>por Anna Muylaert e lançado nos cinemas em 2015.</p><p>Graças às excelentes atuações de Regina Casé e</p><p>de Camila Márdila, a produção foi aclamada pela</p><p>crítica nacional e internacional, recebendo o Prêmio</p><p>Especial do Juri de melhor atuação para a dupla de</p><p>protagonistas no Festival Sundance, e foi selecionado</p><p>como a entrada brasileira para concorrer ao Oscar de</p><p>Melhor Filme Estrangeiro.</p><p>3.10 QUe HorAS elA VolTA?</p><p>dirigido por anna muylaert</p><p>L</p><p>ic</p><p>en</p><p>se</p><p>d</p><p>t</p><p>o</p><p>m</p><p>ay</p><p>ra</p><p>lo</p><p>rr</p><p>ay</p><p>n</p><p>e</p><p>d</p><p>o</p><p>s</p><p>sa</p><p>n</p><p>to</p><p>s</p><p>-</p><p>m</p><p>ay</p><p>ra</p><p>.lo</p><p>sa</p><p>n</p><p>to</p><p>s@</p><p>g</p><p>m</p><p>ai</p><p>l.c</p><p>o</p><p>m</p><p>86 50 Alusões para Usar na Redação @profraphaelreis</p><p>A trama do filme gira em torno de Val, uma mulher nordestina que há mais de uma</p><p>década se mudou para São Paulo em busca de emprego e melhores condições de vida,</p><p>deixando para trás sua filha pequena, Jéssica. Na capital paulista, Val começa a trabalhar</p><p>como empregada doméstica na casa de uma família rica, passando a morar na casa do casal</p><p>e a cuidar de seu filho, Fabinho. Por essa descrição inicial da narrativa, já é possível perceber</p><p>que o filme apresenta um retrato ácido do Brasil atual, em que, mesmo com a Emenda</p><p>Complementar nº 72, de 2013 (conhecida como “PEC das Domésticas”), que garantiu direitos</p><p>trabalhistas básicos à classe, ainda é muito comum casas de famílias abastadas contarem</p><p>com trabalhadoras domésticas que vivem lá. Como aparece no filme, essa situação implica</p><p>que Val trabalha 24 horas por dia, todos os dias da semana, uma condição muito similar ao</p><p>trabalho realizado em tempos passados por mulheres negras escravizadas.</p><p>Quando a filha de Val decide ir para São Paulo para prestar vestibular e passa a</p><p>conviver na casa em que sua mãe é empregada, as coisas começam a dar uma reviravolta.</p><p>Jéssica surge como um elemento de tensão na relação empregado e empregadora, que faz</p><p>tanto a protagonista quanto nós, espectadores, enxergarmos a complexa e cruel relação que</p><p>se estabelece naquela casa, muitas vezes de maneira velada, já que a empregada é citada</p><p>pelos patrões com alguém que é “quase parte da família”, e é justamente esse “quase” que</p><p>é o problema. Jéssica critica constantemente esse sistema de privilégios dos patrões, o que</p><p>deixa sua mãe desconcertada, mas também alerta ao cenário que se monta. A personagem</p><p>também se apresenta no filme como um contraponto a Fabinho, esse que, diferente dela,</p><p>foi criado por Val e, similarmente a ela, também está tentando vestibular para Arquitetura.</p><p>Jéssica consegue, por fim, ser aprovada na primeira fase do processo seletivo, já Fabinho é</p><p>reprovado, sendo enviado para estudar no Canadá.</p><p>Sendo assim, o filme aborda questões de classe social e privilégios, além de explorar a</p><p>relação complexa entre patrões e empregados domésticos no Brasil atual. Desse modo, Que</p><p>horas ela volta? é um excelente repertório para usarmos em redações que tratam desses</p><p>temas. No exemplo a seguir, nos valemos do filme como uma alusão possível para introduzir</p><p>o tema “A exploração trabalhista na sociedade brasileira”.</p><p>Exemplo:</p><p>O filme “Que horas ela volta?”, dirigido por Anna Muylaert, conta a história de Val,</p><p>uma empregada doméstica de uma rica família paulistana que não só trabalha, mas</p><p>também vive na casa de seus patrões. Essa situação faz com que a doméstica trabalhe</p><p>o tempo todo, já que seu ambiente de descanso é justamente seu ambiente laboral. Fora</p><p>da ficção, esse cenário é algo muito comum no território brasileiro, em que, apesar de</p><p>existirem leis que proíbam essa conjuntura, a exploração trabalhista se configura como</p><p>uma problemática contemporânea. Nesse viés, é importante ressaltarmos os fatores que</p><p>corroboram esse imbróglio, como a herança histórica do Brasil e a omissão do Estado</p><p>frente às legislações vigentes.</p><p>L</p><p>ic</p><p>en</p><p>se</p><p>d</p><p>t</p><p>o</p><p>m</p><p>ay</p><p>ra</p><p>lo</p><p>rr</p><p>ay</p><p>n</p><p>e</p><p>d</p><p>o</p><p>s</p><p>sa</p><p>n</p><p>to</p><p>s</p><p>-</p><p>m</p><p>ay</p><p>ra</p><p>.lo</p><p>sa</p><p>n</p><p>to</p><p>s@</p><p>g</p><p>m</p><p>ai</p><p>l.c</p><p>o</p><p>m</p><p>87 50 Alusões para Usar na Redação @profraphaelreis</p><p>Exemplo:</p><p>Conflitos entre nações, guerras civis e perseguições étnico-religiosas vêm tornando a</p><p>crise de refugiados um dos grandes flagelos humanos do nosso tempo. Como nos mostra</p><p>Ai Weiwei, no documentário Human flow: não existe lar se não há para onde ir, quando</p><p>o muro de Berlim caiu, em 1989, 11 países possuíam cercas e muros em suas fronteiras.</p><p>Em 2016, 70 deles já haviam instalado este dispositivo de contenção. Por consequência,</p><p>como afirma o artista, a intolerância e a xenofobia agravam a situação de imigrantes</p><p>que, confinados em campos de refugiados, não encontram perspectivas de acolhimento</p><p>e reinserção social.</p><p>A indissociabilidade entre estética e política nos seus</p><p>trabalhos inscreve Ai Weiwei no horizonte dos criadores</p><p>mais perturbadores da arte contemporânea mundial. O</p><p>artista chinês já se fotografou</p><p>quebrando um vaso da</p><p>dinastia Han de dois mil anos, gravou um vídeo em que</p><p>dizia, junto com outros artistas, “Fuck you motherland”,</p><p>cobriu o chão de uma sala da Tate Gallery, em Londres,</p><p>com sementes de girassol falsas, feitas à mão por</p><p>trabalhadores chineses, e registrou, em audiovisual,</p><p>uma lista impressa dos nomes dos mortos no terremoto</p><p>de Sichuan, em 2008, informação então considerada</p><p>confidencial pelo governo chinês. Dessarte, a imagem</p><p>da China que emerge por meio do ativismo de Weiwei</p><p>não é a da fascinante e temida potência mundial, mas a</p><p>de uma nação assolada por casos de corrupção e que</p><p>negligencia peremptoriamente os direitos humanos.</p><p>Em “Human flow: não existe lar se não há para onde ir”, o artista chinês amplia o</p><p>escopo de seu trabalho a fim de conceber um documentário de proporções épicas. Ao</p><p>longo dele, Weiwei percorre 40 campos de refugiados em 23 países situados na África, no</p><p>Sudeste Asiático, no Oriente Médio, na Europa e na América. A magnitude do flagelo das</p><p>crises migratórias já justifica, pela sua própria existência, a relevância da empreitada realizada</p><p>por Weiwei e o triste diagnóstico em que o artista chega: “Estamos vivendo em um momento</p><p>em que não há tolerância, estamos divididos. Tentam nos separar por cores, raça, religião,</p><p>nacionalidade”.</p><p>Assim, pelo manancial de informações, pela contundência das imagens e agudeza</p><p>das reflexões, o documentário oferece grande produtividade para a elaboração de um texto</p><p>dissertativo-argumentativo que proponha como tema a questão das crises migratórias no</p><p>mundo contemporâneo.</p><p>3.11 HUMAN Flow</p><p>dirigido por ai wei wei</p><p>L</p><p>ic</p><p>en</p><p>se</p><p>d</p><p>t</p><p>o</p><p>m</p><p>ay</p><p>ra</p><p>lo</p><p>rr</p><p>ay</p><p>n</p><p>e</p><p>d</p><p>o</p><p>s</p><p>sa</p><p>n</p><p>to</p><p>s</p><p>-</p><p>m</p><p>ay</p><p>ra</p><p>.lo</p><p>sa</p><p>n</p><p>to</p><p>s@</p><p>g</p><p>m</p><p>ai</p><p>l.c</p><p>o</p><p>m</p><p>88 50 Alusões para Usar na Redação @profraphaelreis</p><p>O filme “Ela”, lançado em 2013, aborda a relação que se</p><p>desenvolve entre Theodore, personagem interpretado</p><p>por Joaquim Phoenix, um escritor que vive em</p><p>solidão na cidade norte-americana de Los Angeles, e</p><p>Samantha, o sistema operacional do seu computador,</p><p>voz dublada pela atriz Scarlett Johansson. A relação</p><p>amorosa entre os dois personagens se inicia quando</p><p>Theodore, surpreso, percebe-se apaixonado pela voz</p><p>do dispositivo eletrônico, que ele entende, a princípio,</p><p>ter uma identidade ou uma personalidade.</p><p>À medida que a relação entre ambos os personagens, o escritor e a inteligência artificial,</p><p>aprofunda-se, ele se decepciona com o fato de ela não ser uma pessoa, e isso leva o espectador</p><p>a refletir se é mesmo possível um homem se apaixonar por uma ferramenta tecnológica e,</p><p>também, a refletir sobre a natureza do sentimento que aflora entre o homem moderno e a</p><p>tecnologia em si. Torna-se instigante pensar sobre a origem do afeto que nutre a admiração</p><p>de Theodore por Samantha haja vista que ele comprou a inteligência para organizar sua vida.</p><p>É importante refletir – inclusive – o que faz o homem amar (e sobre quem ele vai amar, ou</p><p>seja, o objeto do seu desejo) em tempos de modernidade líquida.</p><p>Samantha é uma espécie de Siri, a assistente criada pela empresa americana Apple.</p><p>Imaginar que, em 2012/2013, já se anunciava a dependência do homem da tecnologia, é</p><p>impressionante. Depois da Siri, ainda veio a Alexa, o dispositivo compatível com IOS e Android</p><p>que é útil na vida cotidiana familiar, auxiliando as pessoas em alguns afazeres cotidianos.</p><p>Ela toca a música escolhida, aciona serviços, como o de reprodução de um filme, acende</p><p>luzes, entre outras funcionalidades. Theodore, muito antes dessa evolução tecnológica toda,</p><p>encanta-se pela companhia possível dentro do universo de sua solidão, porém pode estar</p><p>encantado, também, com o que Samantha pode fazer em termos de auxílio e contribuição</p><p>para com a sua vida. O filme é ainda mais atual agora do que podia se imaginar em seu ano</p><p>de produção.</p><p>“Her” (nome original de “Ela”) pode ser usado em diferentes discussões, como avanço</p><p>tecnológico, solidão, a relação entre o homem e a máquina, o temor da evolução desenfreada</p><p>da inteligência artificial. Em tempos de tecnologia GPT-4, com seu paradoxalmente amado e</p><p>temido Chat-GPT, vale rever “Ela” e abordá-lo na redação.</p><p>3.12 elA</p><p>dirigido por spike jonze</p><p>L</p><p>ic</p><p>en</p><p>se</p><p>d</p><p>t</p><p>o</p><p>m</p><p>ay</p><p>ra</p><p>lo</p><p>rr</p><p>ay</p><p>n</p><p>e</p><p>d</p><p>o</p><p>s</p><p>sa</p><p>n</p><p>to</p><p>s</p><p>-</p><p>m</p><p>ay</p><p>ra</p><p>.lo</p><p>sa</p><p>n</p><p>to</p><p>s@</p><p>g</p><p>m</p><p>ai</p><p>l.c</p><p>o</p><p>m</p><p>89 50 Alusões para Usar na Redação @profraphaelreis</p><p>Exemplo:</p><p>Outrossim, é válido pontuar que o avanço no uso da inteligência artificial sem a</p><p>informação sobre seus impactos, sem o letramento digital exigido para que se possa utilizá-</p><p>la de modo que não haja riscos e temores de danos psicológicos e sociais, deve gerar um</p><p>alerta na sociedade. Percebe-se no filme “Ela”, produção norte-americana com Joaquim</p><p>Phoenix, um homem que se submete a um dispositivo eletrônico a ponto de que ele possa</p><p>controlar seus sentimentos. Dessa forma, a paixão de Theodore, escritor solitário, pela</p><p>máquina, o sistema operacional Samantha, que ele adquire para organizar sua vida, choca</p><p>e anuncia que a sociedade deve parar para repensar a tecnologia e sua funcionalidade e</p><p>mesmo refletir sobre as fragilidades da humanidade na contemporaneidade.</p><p>A obra do artista brasileiro Vik Muniz ocupa um lócus</p><p>singular no âmbito da arte contemporânea. Sua</p><p>pesquisa estética articula tradição e modernidade,</p><p>ao se apropriar de materiais não sancionados pela</p><p>tradição, como doce de leite, catchup, gel para cabelo</p><p>e poeira, entre outros, para revisitar a história da</p><p>iconografia ocidental, como a Mona Lisa, de Leonardo</p><p>da Vinci, feita com chocolate derretido, e a Medusa,</p><p>de Caravaggio, concebida por meio do arranjo de</p><p>fios de espaguete e molho de tomate em um prato.</p><p>Contudo, ao livre exercício de experimentação formal,</p><p>Muniz conjuga uma aguda crítica social, como na série</p><p>Crianças de açúcar, na qual o artista fotografa crianças</p><p>pobres que trabalham nas lavouras de cana-de-açúcar</p><p>em Sr. Kitts, no Caribe, transferindo, a posteriori, esses</p><p>registros para um papel escuro coberto por açúcar.</p><p>3.13 lIXo eXTrAordINÁrIo</p><p>dirigido por lucy walker</p><p>L</p><p>ic</p><p>en</p><p>se</p><p>d</p><p>t</p><p>o</p><p>m</p><p>ay</p><p>ra</p><p>lo</p><p>rr</p><p>ay</p><p>n</p><p>e</p><p>d</p><p>o</p><p>s</p><p>sa</p><p>n</p><p>to</p><p>s</p><p>-</p><p>m</p><p>ay</p><p>ra</p><p>.lo</p><p>sa</p><p>n</p><p>to</p><p>s@</p><p>g</p><p>m</p><p>ai</p><p>l.c</p><p>o</p><p>m</p><p>90 50 Alusões para Usar na Redação @profraphaelreis</p><p>Realizado em 2010, o documentário “Lixo extraordinário” se inscreve, justamente,</p><p>nesse híbrido entre experimentação e engajamento. A ideia inicial de Muniz era produzir</p><p>retratos de catadores de materiais recicláveis no maior aterro sanitário do mundo, localizado</p><p>em Jardim Gramacho, no município de Duque de Caxias, Rio de Janeiro. Contudo, na medida</p><p>em que trava contato com a realidade desumana de suas condições de trabalho, o artista</p><p>desloca o seu interesse para o conjunto de problemas concernentes à produção e destinação</p><p>do lixo na sociedade brasileira. Premiado em inúmeros festivais e candidato ao Oscar de</p><p>melhor documentário, o filme nos permite refletir sobre nossos hábitos de consumo, acerca</p><p>da destinação que damos ao lixo e em que medida podemos adotar práticas sustentáveis em</p><p>nossa vida cotidiana.</p><p>Exemplo:</p><p>Em primeira análise, é evidente que não há o devido cumprimento dos direitos dos</p><p>cidadãos no que concerne à coleta e à gestão do lixo no Brasil. Nesse viés, embora haja</p><p>uma lei promulgada em 2010 que regula o gerenciamento de resíduos sólidos no Brasil, o</p><p>que se constata, ainda, é a realidade documentada por Vik Muniz, em Lixo extraordinário:</p><p>precariedade no processo de coleta seletiva, falta de investimento em galpões de</p><p>reciclagem e desumanidade das condições de trabalho dos catadores.</p><p>A vida de Nise da Silveira é uma história de lutas por</p><p>liberdade. A médica alagoana lutou pela emancipação da</p><p>mulher em uma sociedade fundamentalmente patriarcal,</p><p>por transformações no sistema político-econômico</p><p>brasileiro e por uma ruptura com as práticas</p><p>de tratamento</p><p>da saúde mental da tradição de intervenção fisiológica do</p><p>século XIX. Única mulher a se graduar em medicina em</p><p>uma turma com 157 estudantes, Nise da Silveira integrou o</p><p>PCB, foi expulsa do partido e chegou a ser presa em 1936</p><p>acusada de difundir a ideologia marxista. Para além de sua</p><p>atuação política como mulher de esquerda, seu lugar na</p><p>história brasileira do século XX está, sobretudo, vincado</p><p>pela sua atuação como psiquiatra. No filme “Nise”, dirigido</p><p>por Roberto Berliner em 2016, testemunhamos, justamente,</p><p>os inúmeros obstáculos que a médica é obrigada a transpor</p><p>para substituir as práticas tradicionais da psiquiatria, como</p><p>lobotomia, insulinoterapia e eletrochoque, por tratamentos</p><p>mais humanizados.</p><p>3.14 NISe, o CorAÇÃo</p><p>dA loUCUrA</p><p>dirigido por roberto berliner</p><p>L</p><p>ic</p><p>en</p><p>se</p><p>d</p><p>t</p><p>o</p><p>m</p><p>ay</p><p>ra</p><p>lo</p><p>rr</p><p>ay</p><p>n</p><p>e</p><p>d</p><p>o</p><p>s</p><p>sa</p><p>n</p><p>to</p><p>s</p><p>-</p><p>m</p><p>ay</p><p>ra</p><p>.lo</p><p>sa</p><p>n</p><p>to</p><p>s@</p><p>g</p><p>m</p><p>ai</p><p>l.c</p><p>o</p><p>m</p><p>91 50 Alusões para Usar na Redação @profraphaelreis</p><p>Dentro dessa perspectiva, assistimos, ao longo do filme, à introdução gradual de</p><p>seus métodos alternativos, baseados na adoção da pintura e da modelagem como práticas</p><p>terapêuticas. O resultado desse trabalho foi recolhido para a fundação do Museu do</p><p>Inconsciente, em 1952, e pode ser parcialmente visto no seguinte endereço: https://www.</p><p>museuimagensdoinconsciente.org.br/sobre.</p><p>Na elaboração de um texto dissertativo-argumentativo, o filme Nise pode ser</p><p>empregado para salientar a diferença entre duas formas de compreensão da saúde mental e,</p><p>por conseguinte, dos distintos modos de intervenção sobre o problema.</p><p>Exemplo:</p><p>A emergência de fenômenos contemporâneos, como o aumento das cobranças</p><p>por desempenho, a migração das relações intersubjetivas para as redes sociais e, mais</p><p>recentemente, o confinamento compulsório provocado pela pandemia de COVID-19,</p><p>influenciou decisivamente no aumento vertiginoso dos problemas concernentes à saúde</p><p>mental. Nesse sentido, como nos mostra o filme “Nise”, que enfoca os desafios enfrentadas</p><p>pela psiquiatra brasileira Nise da Silveira na institucionalização de práticas terapêuticas</p><p>contra os tratamentos desumanos então vigentes, pensar sobre saúde mental nos</p><p>impõe o desafio de como lidar adequadamente com os processos de invisibilização,</p><p>desconhecimento e estigmatização que envolvem o tema.</p><p>3.15 AQUArIUS</p><p>dirigido por kleber mendonça filho</p><p>Segundo longa-metragem de ficção de Kleber Mendonça</p><p>Filho, “Aquarius” nos apresenta o drama vivido por Clara,</p><p>jornalista aposentada, viúva e mãe de três adultos, vítima</p><p>do assédio de uma construtora que deseja demolir o</p><p>Edifício Aquarius, localizado em área nobre da praia de</p><p>Boa Viagem, Recife, para construir outro, de alto padrão,</p><p>no mesmo local. Em face à resistência de Clara, única</p><p>moradora do prédio que se recusa a vender o apartamento</p><p>onde viveu boa parte de sua vida, a construtora se utiliza,</p><p>gradativamente, de estratagemas cada vez mais espúrios</p><p>com o objetivo de dissuadi-la por meio da política do medo,</p><p>que culmina na contratação de vândalos para depredarem</p><p>o prédio.</p><p>L</p><p>ic</p><p>en</p><p>se</p><p>d</p><p>t</p><p>o</p><p>m</p><p>ay</p><p>ra</p><p>lo</p><p>rr</p><p>ay</p><p>n</p><p>e</p><p>d</p><p>o</p><p>s</p><p>sa</p><p>n</p><p>to</p><p>s</p><p>-</p><p>m</p><p>ay</p><p>ra</p><p>.lo</p><p>sa</p><p>n</p><p>to</p><p>s@</p><p>g</p><p>m</p><p>ai</p><p>l.c</p><p>o</p><p>m</p><p>92 50 Alusões para Usar na Redação @profraphaelreis</p><p>Dessarte, o filme expõe, de forma contundente e precisa, a ética perversa que move o</p><p>processo de especulação imobiliária, permitindo-nos confrontar duas visões de mundo: a da</p><p>valoração objetiva, que opera no domínio do capital, e a subjetiva, que aflora na relação que</p><p>Clara mantém com o apartamento enquanto espaço de memória afetiva. Ao colocar em relevo</p><p>o processo de degradação das cidades como consequência do pensamento coronelista que</p><p>a ele se impõe, Kleber Mendonça Filho retoma algumas questões que tanto comparecem em</p><p>seu longa de estreia, “O som ao redor”, quanto mobilizam seu engajamento social em torno</p><p>do movimento Ocupe Estelita, que conseguiu reverter a construção do Novo Recife, projeto</p><p>que faria treze prédios de até 40 andares em uma das áreas mais privilegiadas da cidade, o</p><p>Cais José Estelita.</p><p>Dentro dessa perspectiva, Aquarius se oferece como uma plataforma para se pensar</p><p>processos decorrentes da gentrificação, como o crescimento vertical das cidades, a</p><p>segregação socioespacial, o aumento do preço do solo e – questão candente no filme – a</p><p>expulsão de antigos moradores.</p><p>Exemplo:</p><p>Ademais, o direito à cidade não tem sido ofertado aos cidadãos no que se refere</p><p>à possibilidade de habitar com qualidade e com base nas próprias escolhas. Tal cenário</p><p>é explorado pelo cineasta Kleber Mendonça Filho: ao nos mostrar o drama vivido pela</p><p>personagem Clara, assediada por uma construtora que deseja demolir o seu edifício</p><p>para construir outro, de alto padrão, no mesmo local, o filme Aquarius destaca a lógica</p><p>perversa do processo de especulação imobiliária, orientada por políticas de segregação</p><p>socioespacial e de verticalização da cidade, que degrada profundamente as condições</p><p>de bem-estar social e subjetivo dos cidadãos.</p><p>L</p><p>ic</p><p>en</p><p>se</p><p>d</p><p>t</p><p>o</p><p>m</p><p>ay</p><p>ra</p><p>lo</p><p>rr</p><p>ay</p><p>n</p><p>e</p><p>d</p><p>o</p><p>s</p><p>sa</p><p>n</p><p>to</p><p>s</p><p>-</p><p>m</p><p>ay</p><p>ra</p><p>.lo</p><p>sa</p><p>n</p><p>to</p><p>s@</p><p>g</p><p>m</p><p>ai</p><p>l.c</p><p>o</p><p>m</p><p>no livro que nasceu o programa de TV que se repete todos os anos na</p><p>Rede Globo).</p><p>Para melhor controlar a população, além da vigilância, outras estratégias são</p><p>usadas: a Oceania está sempre em guerra com os outros dois países, de modo que a</p><p>atenção do povo se volta a um inimigo externo que deve ser combatido e os recursos</p><p>são drenados para o conflito, não sobrando o suficiente para prover educação ou outros</p><p>supostos direitos. Ao mesmo tempo, espalham-se notícias de uma conspiração, liderada</p><p>por Emmanuel Goldstein, uma pessoa que ninguém jamais viu na vida (na verdade, um</p><p>inimigo inventado para direcionar o ódio coletivo). Qualquer um que demonstrasse desejo</p><p>de conhecer as ideias de Goldstein era torturado, ironicamente, pelo “Ministério do Amor”,</p><p>responsável por fazer todos amarem o Grande Irmão.</p><p>O emprego de Winston deslinda um dos pontos mais interessantes da narrativa: ele</p><p>trabalha no Ministério da Verdade, no qual é responsável por editar e modificar notícias,</p><p>textos e livros históricos em favor das ideias do regime vigente. Era um entendimento</p><p>fundamental do governo que controlar o passado seria uma das chaves para dominar</p><p>o presente; assim, o revisionismo de todas as obras era uma importante tarefa a que se</p><p>dedicavam diversos funcionários. Dessa forma, não havia notícias contrárias ao Grande</p><p>Irmão nem qualquer evidência ou opinião que pudesse colocar em questão sua autoridade</p><p>e poder.</p><p>Já dá para perceber que esse livro pode ser usado para discutir muitas coisas, não</p><p>é? Temas como “Fake News”, “autoritarismo” ou “liberdade de expressão” podem ser</p><p>pensados a partir do romance de Orwell. Vejamos, então, um parágrafo argumentativo</p><p>sobre o último desses três recortes:</p><p>Exemplo:</p><p>Em primeira análise, a limitação da liberdade de expressão favorece as estruturas</p><p>totalitárias de poder. Essa questão foi muito bem desenvolvida por George Orwell em seu</p><p>romance “1984”, no qual há um governo centralizador e autoritário que não mede esforços</p><p>para a manutenção do seu domínio. Entre outras estratégias, os líderes impedem que</p><p>qualquer expressão contrária ao regime seja exposta na televisão, na mídia impressa ou</p><p>mesmo em conversas entre as pessoas, tornando inviável a organização da população</p><p>para se contrapor a quem está no poder. Dessa maneira, pode-se fazer um paralelo</p><p>com a realidade atual: quando a expressão individual ou da imprensa é atacada, ocorre</p><p>a fragilização da possibilidade de oposição, fortalecendo formas de governo pouco</p><p>democráticas.</p><p>L</p><p>ic</p><p>en</p><p>se</p><p>d</p><p>t</p><p>o</p><p>m</p><p>ay</p><p>ra</p><p>lo</p><p>rr</p><p>ay</p><p>n</p><p>e</p><p>d</p><p>o</p><p>s</p><p>sa</p><p>n</p><p>to</p><p>s</p><p>-</p><p>m</p><p>ay</p><p>ra</p><p>.lo</p><p>sa</p><p>n</p><p>to</p><p>s@</p><p>g</p><p>m</p><p>ai</p><p>l.c</p><p>o</p><p>m</p><p>14 50 Alusões para Usar na Redação @profraphaelreis</p><p>1.2 QUArTo de deSPeJo</p><p>de carolina maria jesus</p><p>O livro “Quarto de Despejo”, de 1960, é uma obra de</p><p>imensa importância na história da literatura brasileira.</p><p>Ele foi escrito por Carolina Maria de Jesus, uma</p><p>mulher negra, pobre e moradora, na época, da favela</p><p>do Canindé, em São Paulo. Com o subtítulo “Diário</p><p>de uma favelada”, Carolina narra no livro a difícil vida</p><p>na periferia, sem acesso a serviços básicos e em</p><p>constante luta pela sobrevivência.</p><p>Ela sofreu inúmeros preconceitos, por sua cor, sua pobreza e sua moradia. As</p><p>pessoas que viviam em “casas de alvenaria” olhavam para os favelados com desprezo,</p><p>e diversas vezes ela foi impedida de circular por ambientes por causa de sua etnia ou</p><p>suas vestimentas. Quando contava aos outros que queria ser escritora, era recebida com</p><p>zombarias – até, ao menos, a publicação do seu livro de estreia, que teve a primeira</p><p>edição esgotada em uma semana.</p><p>O título da obra, “Quarto de Despejo”, é uma metáfora feita em relação à favela:</p><p>segundo a autora, o restante da cidade eram os outros cômodos – o centro era a “sala</p><p>de estar”, onde todos circulam e recebem visitas. No seu local de moradia, amontoava-</p><p>se aquilo que ninguém quer ver, os trastes que deveriam ser jogados fora. Por lá, viveu</p><p>em um barraco montado por ela mesma com tábuas de madeira que não oferecia</p><p>proteção real ao frio nem à chuva, precisava sair para pegar água todas as manhãs pela</p><p>ausência desse recurso encanado e ainda sofria o risco de contrair alguma doença, como</p><p>esquistossomose. Felizmente, com o dinheiro da venda do livro, conseguiu realizar seu</p><p>maior sonho: ter uma casa própria.</p><p>“Quarto de despejo” é uma obra fundamental, que pode ser usada em textos sobre</p><p>variados temas: pobreza, moradia, segregação socioespacial, preconceito, saneamento</p><p>básico, entre muitos outros. Vejamos, a seguir, um parágrafo sobre o tema “saneamento”:</p><p>Exemplo:</p><p>L</p><p>ic</p><p>en</p><p>se</p><p>d</p><p>t</p><p>o</p><p>m</p><p>ay</p><p>ra</p><p>lo</p><p>rr</p><p>ay</p><p>n</p><p>e</p><p>d</p><p>o</p><p>s</p><p>sa</p><p>n</p><p>to</p><p>s</p><p>-</p><p>m</p><p>ay</p><p>ra</p><p>.lo</p><p>sa</p><p>n</p><p>to</p><p>s@</p><p>g</p><p>m</p><p>ai</p><p>l.c</p><p>o</p><p>m</p><p>15 50 Alusões para Usar na Redação @profraphaelreis</p><p>1.3 VIdAS SeCAS</p><p>de graciliano ramos</p><p>“Vidas Secas” é um conhecido e importante</p><p>romance da literatura brasileira. Publicado em 1938</p><p>por Graciliano Ramos, enquadra-se no Regionalismo,</p><p>estética literária que tinha como base a valorização</p><p>dos aspectos específicos de regiões do Brasil – no</p><p>caso, o Nordeste.</p><p>A obra conta a história de uma família de retirantes – Fabiano e Sinhá Vitória, um</p><p>casal, seus dois filhos, que não possuem nomes na narrativa, e uma cadela extremamente</p><p>magra chamada Baleia. A narrativa se inicia com todos caminhando debaixo de sol quente,</p><p>no limite das forças, da fome e da sede, quando conseguem encontrar um sítio abandonado</p><p>onde fazem morada por um tempo. Depois, o dono retorna e acaba empregando Fabiano</p><p>como vaqueiro – embora em uma relação de trabalho extremamente desfavorável ao</p><p>retirante, pois ele não recebia dinheiro, apenas parte das crias; acabava tendo que vender</p><p>as reses ao chefe por valores exíguos ou tomar dele dinheiro emprestado, sendo obrigado</p><p>a sempre trabalhar e continuar devendo.</p><p>Além disso, a falta de saneamento coloca em risco as comunidades carentes desse</p><p>direito. Como exemplo, pode-se citar o caso de Carolina Maria de Jesus, moradora da</p><p>favela do Canindé na década de 1960 que, por meio do seu livro “Quarto de Despejo”,</p><p>conta a situação precária em que vivia: o reservatório local estava contaminado</p><p>pela esquistossomose, oferecendo riscos a todos. Contudo, não havia opção para os</p><p>moradores, uma vez que não existia outra forma de conseguir água por perto. Assim, o</p><p>tratamento desse recurso inestimável deve ser uma prioridade absoluta para preservar</p><p>a integridade e a saúde de todos os brasileiros.</p><p>L</p><p>ic</p><p>en</p><p>se</p><p>d</p><p>t</p><p>o</p><p>m</p><p>ay</p><p>ra</p><p>lo</p><p>rr</p><p>ay</p><p>n</p><p>e</p><p>d</p><p>o</p><p>s</p><p>sa</p><p>n</p><p>to</p><p>s</p><p>-</p><p>m</p><p>ay</p><p>ra</p><p>.lo</p><p>sa</p><p>n</p><p>to</p><p>s@</p><p>g</p><p>m</p><p>ai</p><p>l.c</p><p>o</p><p>m</p><p>16 50 Alusões para Usar na Redação @profraphaelreis</p><p>A vida da família é marcada por agruras. Ambos são analfabetos; Sinhá Vitória</p><p>consegue fazer contas com dificuldade, mas Fabiano, encarregado de ir à cidade fazer as</p><p>compras, tem pouca habilidade para lidar com dinheiro e, por isso, desconfia de tudo e</p><p>todos a sua volta. Sua sina é a lida com o rebanho: ele entende que só sabe fazer isso na</p><p>vida. Como conversa pouco com os outros, sua linguagem recrudesce, torna-se baseada</p><p>apenas em poucas palavras e nos sons necessários para tocar a boiada, chamar os cães.</p><p>Isso lhe causa imensos problemas, pois a inviabilidade de se comunicar faz com que seja</p><p>mal-entendido: a pior consequência, nesse caso, se deu quando foi preso por um Soldado</p><p>Amarelo, com quem não conseguiu falar; tampouco foi capaz de se defender e expor seu</p><p>lado, tamanha era sua inabilidade com as palavras.</p><p>Graciliano Ramos, ao longo do livro, tece diversas comparações entre Fabiano e os</p><p>animais, de modo que os seres humanos e os bichos se tornam extremamente semelhantes</p><p>na narrativa. Essa animalização é uma das tônicas da obra e acompanha cada reflexão do</p><p>vaqueiro. Em determinado momento, a cadela Baleia aparece com uma doença, e o pai da</p><p>família é obrigado a sacrificá-la; os sentimentos da</p><p>cachorra nessa hora são a parte mais</p><p>sensível do livro, reforçando uma ideia de secura das emoções humanas em contraste</p><p>com a “humanidade” de Baleia.</p><p>A condição de vida parca, a seca iminente e a carência absoluta de objetos</p><p>necessários também são uma marca importante da obra. Faltam querosene para acender</p><p>os lampiões, utensílios para cozinhar, roupas para vestir. Isso faz com que a vida de todos</p><p>seja apenas determinada pelo momento, pelas necessidades imediatas; nem mesmo</p><p>sonhos os retirantes são capazes de ter. Fabiano sonha apenas em ter um lugar seguro</p><p>do flagelo da seca, e Sinhá Vitória passa o livro a desejar uma cama de “lastro de couro”,</p><p>uma cama igual às que pessoas com melhores condições tinham, que não fosse apenas</p><p>varas de madeira estendidas. Os sonhos pequenos são sintomas de uma vida seca na sua</p><p>totalidade – na linguagem, nas relações, nas posses, na falta de água.</p><p>“Vidas Secas” pode ser usado para discutir vários assuntos em redações: seca,</p><p>pobreza, preconceito linguístico, justiça e muitos outros. A seguir, veja um parágrafo</p><p>sobre “acesso à justiça” fazendo referência à trajetória de Fabiano:</p><p>Exemplo:</p><p>Ademais, o sistema jurídico brasileiro, que se afasta da garantia de justiça equânime,</p><p>lesa os direitos individuais e, majoritariamente, da camada social mais vulnerável. De fato,</p><p>tal conjuntura é abordada no livro “Vidas Secas”, do nordestino Graciliano Ramos, em que</p><p>Fabiano tem suas garantias legais desrespeitadas ao ser agredido e preso injustamente</p><p>pelo Soldado Amarelo, evidenciando tanto o abuso de poder quanto o desconhecimento</p><p>acerca das leis protetoras do cidadão. Logo, a personagem se sente constantemente</p><p>enganada pelas pessoas e coagida a manter-se calada, já que, hierarquicamente, é</p><p>considerado “ninguém”, apenas um ignorante animalizado. Transpondo-se para a</p><p>contemporaneidade, existem muitos “Fabianos” que são frequentemente injustiçados e</p><p>têm seus julgamentos arquivados pela falta de notoriedade social, pois são interpretados</p><p>de forma equivocada como menos importantes e têm suas demandas postergadas na</p><p>justiça pela parcialidade.</p><p>L</p><p>ic</p><p>en</p><p>se</p><p>d</p><p>t</p><p>o</p><p>m</p><p>ay</p><p>ra</p><p>lo</p><p>rr</p><p>ay</p><p>n</p><p>e</p><p>d</p><p>o</p><p>s</p><p>sa</p><p>n</p><p>to</p><p>s</p><p>-</p><p>m</p><p>ay</p><p>ra</p><p>.lo</p><p>sa</p><p>n</p><p>to</p><p>s@</p><p>g</p><p>m</p><p>ai</p><p>l.c</p><p>o</p><p>m</p><p>17 50 Alusões para Usar na Redação @profraphaelreis</p><p>As irmãs moram com o pai, Zeca Chapéu Grande, líder místico, e a mãe, Salustiana,</p><p>parteira da região, além da avó Donana e um irmão menor, Zezé. A família reside em</p><p>um casebre próximo a outras casas de descendentes de escravos que formam uma</p><p>comunidade na fazenda, localizada - pelo que se pode inferir - no sertão da Bahia. Eles</p><p>vivem e trabalham como lavradores a troco de moradia, e uma parte do que produzem fica</p><p>com o dono do latifúndio. Um acidente logo no início do livro faz com que uma das irmãs</p><p>perca a língua. A outra, em solidariedade, também emudece: é a alegoria do silenciamento</p><p>da mulher preta e pobre no Brasil.</p><p>Com o passar do tempo, Bibiana e Belonísia compreendem o contexto de exploração</p><p>em que vivem e se revoltam com a condição. A maneira de lutar contra a situação, todavia,</p><p>é diversa: Bibiana, grávida do primo Severo, decide ir embora de Água Negra e se torna</p><p>professora. Belonísia, a irmã muda, permanece na fazenda para lutar pela dignidade de</p><p>sua família, seus parentes e vizinhos. Ela vai viver com Tobias, mas descobre nele um</p><p>homem violento que tenta dominá-la pela força e submetê-la a seus desmandos, e logo</p><p>se livra dele.</p><p>Na parte final do livro, Bibiana retorna com os filhos e o marido para junto da família.</p><p>Após a morte de Zeca Chapéu Grande, Severo se torna um líder popular que defende</p><p>os direitos dos quilombolas a viver dignamente naquela terra, mas acaba assassinado. A</p><p>polícia corrupta atribui o crime, falsamente, a envolvimento com tráfico de drogas, como</p><p>acontece em tantas periferias do Brasil real. O evento leva os moradores a se revoltarem e</p><p>construírem casas de alvenaria, proibidas pelo latifundiário. Salomão, fazendeiro mandante</p><p>do assassinato de Severo, aparece morto tempos depois. A comunidade de Água Negra</p><p>torna-se então conhecida.</p><p>São muitos os temas abordados por Itamar Vieira Júnior em “Torto arado”. A</p><p>1.4 TorTo ArAdo</p><p>de itamar vieira júnior</p><p>O livro “Torto arado”, de Itamar Vieira Júnior,</p><p>ganhador do Prêmio Jabuti em 2020, trata da</p><p>opressão da população rural brasileira, especialmente</p><p>os descendentes dos escravos africanos, pelos</p><p>grandes proprietários de terra, entre outros temas. O</p><p>enredo é desenvolvido em torno das irmãs Bibiana</p><p>e Belonísia, moradoras de uma fictícia Fazenda Água</p><p>Negra, que remete ao passado escravocrata do país</p><p>ao representar o modelo de subsistência das famílias</p><p>que ali residem.</p><p>L</p><p>ic</p><p>en</p><p>se</p><p>d</p><p>t</p><p>o</p><p>m</p><p>ay</p><p>ra</p><p>lo</p><p>rr</p><p>ay</p><p>n</p><p>e</p><p>d</p><p>o</p><p>s</p><p>sa</p><p>n</p><p>to</p><p>s</p><p>-</p><p>m</p><p>ay</p><p>ra</p><p>.lo</p><p>sa</p><p>n</p><p>to</p><p>s@</p><p>g</p><p>m</p><p>ai</p><p>l.c</p><p>o</p><p>m</p><p>18 50 Alusões para Usar na Redação @profraphaelreis</p><p>exploração do trabalhador rural, a opressão dos quilombolas e de suas tradições, o</p><p>silenciamento das mulheres, a violência doméstica, a desigualdade social originada pelo</p><p>escravismo. Vejamos a seguir um parágrafo ancorado na questão da luta pela terra.</p><p>Exemplo:</p><p>Por outro lado, é preciso reconhecer que há um submundo de violência e crime na</p><p>luta pelo direito de viver e produzir nas regiões rurais do Brasil. O tema é retratado no livro</p><p>“Torto arado”, de Itamar Vieira Júnior. A história da comunidade quilombola que tenta</p><p>se emancipar da condição de servidão em que vive, imposta por um grande latifundiário,</p><p>acaba em morte. Da mesma forma, em muitos rincões do país, trabalhadores rurais</p><p>são oprimidos pelos grandes proprietários de terra e não raro têm suas vidas ceifadas</p><p>quando decidem protestar por uma existência digna.</p><p>1.5 SoNHo de UM</p><p>HoMeM rIdÍCUlo</p><p>de fiodor dostoiévski</p><p>A novela “Sonho de um homem ridículo”, do escritor,</p><p>jornalista e filósofo russo Fiódor Dostoiévski, foi</p><p>publicada originalmente em 1877, quatro anos antes</p><p>de sua morte. Considerado por alguns um “conto</p><p>longo” de teor existencialista, é uma de suas obras</p><p>mais singulares. A história é narrada por um homem</p><p>solitário, de tendências suicidas, que evita o contato</p><p>com outras pessoas, pois já não acredita mais na</p><p>humanidade. É durante uma viagem onírica por um</p><p>mundo utópico, o tal “sonho de um homem ridículo”,</p><p>que ele é levado a repensar a sua existência.</p><p>L</p><p>ic</p><p>en</p><p>se</p><p>d</p><p>t</p><p>o</p><p>m</p><p>ay</p><p>ra</p><p>lo</p><p>rr</p><p>ay</p><p>n</p><p>e</p><p>d</p><p>o</p><p>s</p><p>sa</p><p>n</p><p>to</p><p>s</p><p>-</p><p>m</p><p>ay</p><p>ra</p><p>.lo</p><p>sa</p><p>n</p><p>to</p><p>s@</p><p>g</p><p>m</p><p>ai</p><p>l.c</p><p>o</p><p>m</p><p>19 50 Alusões para Usar na Redação @profraphaelreis</p><p>O enredo começa com o narrador caminhando pelas ruas de São Petersburgo, na</p><p>Rússia. Sua desilusão diante da realidade do mundo, com todas as suas mazelas, guerras</p><p>e corrupção, é apresentada de início. Ele já não se importa com as pessoas ou consigo</p><p>mesmo. Seu intuito é tirar a própria vida em breve. Enquanto pensa sobre o vazio de</p><p>sua existência, o personagem é tirado do transe por uma menina que o aborda pedindo</p><p>socorro para sua mãe. O narrador, todavia, a ignora e manda que procure ajuda com</p><p>outra pessoa. Nada é capaz de sensibilizá-lo. Ele segue então para casa, onde pretende</p><p>colocar um fim a sua miséria. Porém, imerso em pensamentos, com a arma sobre a mesa,</p><p>o homem ridículo acaba caindo no sono.</p><p>No sonho, o personagem é levado por uma entidade extraterrestre a um mundo de</p><p>pureza e inocência, onde tudo aquilo que julga perfeito de fato existe. Tudo nesse planeta</p><p>fantástico é igual ao nosso: o ar, a natureza, os animais. No entanto, há uma diferença</p><p>crucial: todos os habitantes são plenamente felizes e desconhecem a incompletude do</p><p>ser humano ordinário representado pelo narrador. Convivem em total harmonia entre si e</p><p>com a fauna e a flora, ignoram o sentido da tristeza e não buscam uma razão para existir:</p><p>apenas vivem. Nem a morte representa dor para essas pessoas.</p><p>Não tarda, porém, e o protagonista,</p><p>mesmo que inadvertidamente, começa a</p><p>corromper os habitantes daquele paraíso onírico. “Conheceram a dor e tomaram-lhe o</p><p>gosto; ansiavam pelo sofrimento e diziam que a verdade só se comprava pelo preço</p><p>do martírio. Depois surgiu a ciência. Como se tinham tornado maus, deram em falar de</p><p>fraternidade e de humanidade, e compreendiam estas ideias. Como se tinham tornado</p><p>criminosos, inventaram a justiça e redigiram códigos para a encerrarem neles, e, para</p><p>assegurar o cumprimento desses códigos, ergueram a guilhotina”, escreve Dostoiévski.</p><p>O narrador desperta desse sonho convertido em pesadelo e, transformado, desiste do</p><p>suicídio e decide procurar a menina que ignorou. Seu objetivo agora é pregar “a verdade”:</p><p>só o amor ao próximo dá sentido à vida humana.</p><p>Temas como saúde mental, convívio social e corrupção perpassam a novela de</p><p>Dostoiévski. Vejamos um parágrafo ancorado nesse último tema:</p><p>Exemplo:</p><p>Em suma, o problema da ética no Brasil é, também, um problema da própria</p><p>humanidade. É possível encontrar uma discussão sobre a questão na novela “Sonho de</p><p>um homem ridículo”, do escritor russo Fiódor Dostoiévski. O autor descreve na história um</p><p>sonho com um mundo perfeito, que é corrompido pelo ser humano através da mentira:</p><p>de modo que o personagem acaba por incutir sofrimentos e sentimentos maldosos nos</p><p>habitantes desse plano utópico. Ao acordar do sonho, no entanto, ele percebe que o</p><p>valor da vida está na verdade e no amor ao próximo, demonstrando a complexidade da</p><p>formação ética do ser humano e a oscilação entre a maldade e a bondade. .</p><p>L</p><p>ic</p><p>en</p><p>se</p><p>d</p><p>t</p><p>o</p><p>m</p><p>ay</p><p>ra</p><p>lo</p><p>rr</p><p>ay</p><p>n</p><p>e</p><p>d</p><p>o</p><p>s</p><p>sa</p><p>n</p><p>to</p><p>s</p><p>-</p><p>m</p><p>ay</p><p>ra</p><p>.lo</p><p>sa</p><p>n</p><p>to</p><p>s@</p><p>g</p><p>m</p><p>ai</p><p>l.c</p><p>o</p><p>m</p><p>20 50 Alusões para Usar na Redação @profraphaelreis</p><p>1.6 oS SerTÕeS</p><p>de euclides da cunha</p><p>“O sertanejo é, antes de tudo, um forte.” Talvez seja</p><p>essa a mais famosa entre todas as frases escritas</p><p>por Euclides da Cunha em sua obra máxima, “Os</p><p>Sertões”, clássico publicado em 1902. Uma mescla</p><p>de jornalismo, narrativa histórica, ensaio sociológico e</p><p>poesia, o livro descreve a Guerra de Canudos, conflito</p><p>ocorrido entre 1896 e 1897 no sertão da Bahia, que</p><p>opôs os sertanejos liderados por Antônio Conselheiro</p><p>ao Exército Brasileiro. É considerada uma das primeiras</p><p>manifestações do pré-modernismo no país.</p><p>Euclides da Cunha cobriu a Guerra de Canudos como correspondente para o jornal</p><p>“O Estado de São Paulo”. A obra é dividida em três partes: “A terra”, “O homem” e</p><p>“A luta”. Na primeira, o autor faz uma descrição a um só tempo técnica e poética do</p><p>sertão nordestino, relatando características do relevo, do clima, da fauna e da flora, como</p><p>também da ação do homem – criticando, inclusive, o uso irresponsável dos recursos</p><p>naturais. Nesse ponto, sua formação como bacharel em matemáticas, ciências físicas e</p><p>naturais foi bastante útil.</p><p>Na segunda parte, “O homem”, Euclides da Cunha traça um retrato do povo</p><p>sertanejo, dos jagunços e trabalhadores rurais do agreste, esquadrinhando sua cultura, sua</p><p>religiosidade, suas relações sociais e sua forma de vida. De certa forma, o escritor fundou</p><p>a figura do homem do sertão nordestino no imaginário popular brasileiro, uma espécie</p><p>de arquétipo que se enraizou na cultura e foi replicado por outros escritores, artistas</p><p>plásticos e diretores de cinema e televisão. É particularmente poderosa sua descrição</p><p>física do sertanejo, a quem chama de “Hércules-Quasímodo”: “da figura vulgar do tabaréu</p><p>canhestro, reponta, inesperadamente, o aspecto dominador de um titã acobreado e</p><p>potente, num desdobramento surpreendente de força e agilidade extraordinárias”.</p><p>L</p><p>ic</p><p>en</p><p>se</p><p>d</p><p>t</p><p>o</p><p>m</p><p>ay</p><p>ra</p><p>lo</p><p>rr</p><p>ay</p><p>n</p><p>e</p><p>d</p><p>o</p><p>s</p><p>sa</p><p>n</p><p>to</p><p>s</p><p>-</p><p>m</p><p>ay</p><p>ra</p><p>.lo</p><p>sa</p><p>n</p><p>to</p><p>s@</p><p>g</p><p>m</p><p>ai</p><p>l.c</p><p>o</p><p>m</p><p>21 50 Alusões para Usar na Redação @profraphaelreis</p><p>“A luta”, terceira parte de “Os Sertões”, narra o conflito propriamente dito e é</p><p>dividida em seis seções: “Preliminares”, “Travessia do Cambaio”, “Expedição Moreira</p><p>César”, “Quarta expedição”, “Nova fase da luta” e “Últimos dias”. Nela, Euclides da</p><p>Cunha descreve o desenrolar da Guerra de Canudos, conflito entre o Exército Brasileiro</p><p>e a comunidade liderada pelo religioso Antônio Conselheiro, que resultou na destruição</p><p>da cidade e na morte de cerca de 25 mil pessoas (20 mil sertanejos e 5 mil soldados,</p><p>aproximadamente). O autor relata as causas do conflito, a preparação do Exército, a</p><p>batalha em si e suas consequências.</p><p>“Os Sertões” logra fazer uma crítica à política e à sociedade brasileira da época,</p><p>denunciando como a Guerra de Canudos foi um reflexo da exclusão social, das péssimas</p><p>condições de trabalho e da falta de oportunidades de desenvolvimento para as pessoas</p><p>do sertão nordestino. “Aquela campanha lembra um refluxo para o passado. E foi, na</p><p>significação integral da palavra, um crime. Denunciêmo-lo”, escreve Euclides da Cunha</p><p>na nota de abertura do livro. Vejamos a seguir um parágrafo abordando a questão da</p><p>desigualdade social no Brasil, tendo como repertório cultural este marco da literatura</p><p>brasileira.</p><p>Exemplo:</p><p>Em primeiro lugar, cumpre compreender que a problemática da desigualdade</p><p>social no Brasil não é fato novo e tem profundas raízes na nossa história. A denúncia</p><p>já fora feita em 1902, quando Euclides da Cunha publicou o livro “Os Sertões”, sobre a</p><p>Guerra de Canudos. Mais do que narrar o conflito, o autor chamou atenção para a trágica</p><p>exclusão do povo sertanejo, impossibilitado de ter acesso a mínimas oportunidades</p><p>para construir uma vida digna. Ainda hoje, além de enfrentar as dificuldades naturais de</p><p>regiões inóspitas, assoladas pela seca, muitos brasileiros vivem à margem da sociedade</p><p>e fora da proteção dos governos, que se mostram incapazes de prover necessidades</p><p>essenciais como saneamento básico, saúde e educação para essas pessoas.</p><p>L</p><p>ic</p><p>en</p><p>se</p><p>d</p><p>t</p><p>o</p><p>m</p><p>ay</p><p>ra</p><p>lo</p><p>rr</p><p>ay</p><p>n</p><p>e</p><p>d</p><p>o</p><p>s</p><p>sa</p><p>n</p><p>to</p><p>s</p><p>-</p><p>m</p><p>ay</p><p>ra</p><p>.lo</p><p>sa</p><p>n</p><p>to</p><p>s@</p><p>g</p><p>m</p><p>ai</p><p>l.c</p><p>o</p><p>m</p><p>22 50 Alusões para Usar na Redação @profraphaelreis</p><p>1.7 o AVeSSo dA Pele</p><p>de jefferson tenório</p><p>“O avesso da pele” é o terceiro romance de Jeferson</p><p>Tenório, escritor nascido no Rio de Janeiro e radicado</p><p>em Porto Alegre. Vencedor do prêmio Jabuti 2021,</p><p>a narrativa nos apresenta a história de Pedro, jovem</p><p>negro de 22 anos que, após a morte do pai em uma</p><p>violenta abordagem policial, busca, por meio de</p><p>uma escrita memorialística, reconstruir a trajetória</p><p>paterna. A escrita de Tenório exibe grande habilidade</p><p>no entrelaçamento de diferentes tempos e vozes</p><p>narrativas, na adoção de uma forma epistolar por</p><p>meio da qual o filho, órfão desde os 10 anos, interpela</p><p>o pai, e na exposição de um conjunto de problemas</p><p>crônicos da sociedade brasileira, como a falência do</p><p>sistema educacional e o flagelo do racismo estrutural.</p><p>Nesse sentido, o romance expõe, de modo lancinante, as diversas formas em que</p><p>a autoconsciência racial vai, sub-repticiamente, se introjetando nas várias dimensões da</p><p>vida social e psíquica, provocando, no sujeito negro, resignação (“E ser confundido com</p><p>bandido vai fazer parte da sua trajetória”), medo (“seu receio de falar, seu receio de se</p><p>expor, pudesse ter a ver com as orientações que você recebeu desde a infância: não</p><p>chame atenção dos brancos. Não fale alto em certos lugares, as pessoas assustam quando</p><p>um rapaz negro fala alto”), e inúmeros receios (“Vocês eram um casal de negros gritando</p><p>pela rua. Isso causa um efeito no imaginário das pessoas, ou confirma aquilo que elas</p><p>pensam de pessoas negras: são escandalosos, barraqueiros e mal-educados”). Dentro</p><p>dessa perspectiva, O avesso da pele oferece inúmeras possibilidades de abordagem da</p><p>questão da discriminação racial em uma redação.</p><p>L</p><p>ic</p><p>en</p><p>se</p><p>d</p><p>t</p><p>o</p><p>m</p><p>ay</p><p>ra</p><p>lo</p><p>rr</p><p>ay</p><p>n</p><p>e</p><p>d</p><p>o</p><p>s</p><p>sa</p><p>n</p><p>to</p><p>s</p><p>-</p><p>m</p><p>ay</p><p>ra</p><p>.lo</p><p>sa</p><p>n</p><p>to</p><p>s@</p><p>g</p><p>m</p><p>ai</p><p>l.c</p><p>o</p><p>m</p><p>23 50 Alusões para Usar na Redação</p><p>@profraphaelreis</p><p>Exemplo:</p><p>Para além da violência física, o racismo estrutural se manifesta também em suas</p><p>formas de agressão à vida psíquica do sujeito negro, produzindo uma consciência</p><p>de si que é fortemente marcada pelo juízo do outro, tal como o personagem Pedro,</p><p>protagonista de “O avesso da pele”, de Jeferson Tenório. Por ser negro, o personagem</p><p>é ensinado, desde a infância, a não sair de casa sem os documentos, a não falar alto,</p><p>andar correndo ou fazer movimentos bruscos na rua.</p><p>1.8 A MorTe e o MeTeoro</p><p>de jocas reiners terron</p><p>“A morte e o meteoro”, de Jocas Reiners Terron, é um</p><p>desses grandes romances que despontam no cenário</p><p>da literatura contemporânea brasileira e já possuem</p><p>cara de clássico. Tão atual quanto sua publicação é</p><p>também a relevância do seu assunto, que flerta com</p><p>o tema da catástrofe humana e ambiental, em diálogo</p><p>com uma linha temática bastante cara àqueles que</p><p>estão escrevendo com e sobre os nossos tempos.</p><p>Publicado em 2019, o livro apresenta um futuro</p><p>distópico e nem tão distante, em que a Floresta</p><p>Amazônica está a ponto de entrar em colapso, o que</p><p>leva uma população indígena a buscar refúgio no</p><p>México.</p><p>L</p><p>ic</p><p>en</p><p>se</p><p>d</p><p>t</p><p>o</p><p>m</p><p>ay</p><p>ra</p><p>lo</p><p>rr</p><p>ay</p><p>n</p><p>e</p><p>d</p><p>o</p><p>s</p><p>sa</p><p>n</p><p>to</p><p>s</p><p>-</p><p>m</p><p>ay</p><p>ra</p><p>.lo</p><p>sa</p><p>n</p><p>to</p><p>s@</p><p>g</p><p>m</p><p>ai</p><p>l.c</p><p>o</p><p>m</p><p>24 50 Alusões para Usar na Redação @profraphaelreis</p><p>Narrado em primeira pessoa por um funcionário do governo mexicano, A morte e</p><p>o meteoro apresenta o narrador em seu enfadonho trabalho burocrático de acompanhar</p><p>os 50 kaajapukugi remanescentes no território brasileiro em sua jornada na busca do</p><p>exílio político, tarefa essa que lhe foi incumbida após a morte misteriosa do seu colega e</p><p>antropólogo brasileiro Boaventura. O povo fictício criado por Terron tenta se exilar no país</p><p>norte-americano não pelo fato de a floresta estar totalmente destruída e eles não terem</p><p>como se alimentar ou conseguir matérias-primas para seus remédios. Os kaajapukugi,</p><p>que habitavam a bacia do rio Purus, também “vinham sendo caçados com determinação</p><p>pelo Estado e pelos seus agentes de extermínio: garimpeiros, madeireiros, latifundiários e</p><p>seus capangas habituais, policiais, militares e governantes”.</p><p>Em uma mescla de passado e presente, o livro toma cada vez mais ares de ficção</p><p>especulativa (ou ficção científica) enquanto conecta as cenas da tragédia mundial com</p><p>a as notícias que os homens brancos (chamados de o Grande Mal pelos indígenas)</p><p>acompanham de uma missão chinesa para colonizar Marte. Assim também a narrativa</p><p>de Terron consegue nos fazer retomar nosso passado colonial, na mesma medida que</p><p>aponta um destino desesperador e catastrófico para a população, o qual se repete desde</p><p>a chegada dos portugueses e dos espanhóis no continente americano. A diferença é que</p><p>agora, no século XXI, parece que chegou a hora do extermínio final. Em contraponto,</p><p>A morte e o meteoro também pode servir como um alarme às questões que o mundo</p><p>vem vivendo, junto de uma crítica à nossa constituição como sociedade, ao pontuar que</p><p>os kaajapukugi não contavam com hierarquias, como chefes ou pajés, e priorizavam o</p><p>diálogo. Nas últimas páginas do romance, aparecem ainda os índios metropolitanos, que,</p><p>como uma mistura de diversos povos dizimados pelas Américas, são uma resistência</p><p>política ao extermínio branco: “Esses índios punks avessos a qualquer liderança, tão</p><p>anarquistas a ponto de saberem que nenhuma raça é especial, e nenhum homem é rei de</p><p>porra nenhuma”.</p><p>Como deu para perceber, “A morte e o meteoro” pode ser usado para discutir</p><p>vários assuntos e problemas da realidade brasileira. Pode-se destacar dentre eles,</p><p>principalmente, a luta e os direitos indígenas, a devastação ambiental, a xenofobia e a</p><p>omissão governamental quanto a políticas públicas pela visão extensiva e exclusiva ao</p><p>lucro. Veja a seguir um exemplo de aplicação dessa alusão em um parágrafo sobre o tema</p><p>“violência contra povos indígenas”.</p><p>Exemplo:</p><p>Ademais, é importante frisar a incúria governamental quanto à preservação das</p><p>populações indígenas. Apesar da relevância e das leis que supostamente protegem</p><p>essa parcela nativa do Brasil, são recorrentes as práticas institucionais que também</p><p>dizimam os indígenas do país. Essa situação pode ser observada no romance A morte</p><p>e o meteoro, de Joca Reiners Terron, o qual, apesar de ficcional, carrega consigo uma</p><p>marca da realidade ao apresentar a tragédia que assola o povo kaajapukugi. Na história,</p><p>a comunidade indígena pede exílio político no México, visto que todo seu bioma nativo foi</p><p>devastado, além de restarem entre eles apenas 50 remanescentes, após serem caçados</p><p>L</p><p>ic</p><p>en</p><p>se</p><p>d</p><p>t</p><p>o</p><p>m</p><p>ay</p><p>ra</p><p>lo</p><p>rr</p><p>ay</p><p>n</p><p>e</p><p>d</p><p>o</p><p>s</p><p>sa</p><p>n</p><p>to</p><p>s</p><p>-</p><p>m</p><p>ay</p><p>ra</p><p>.lo</p><p>sa</p><p>n</p><p>to</p><p>s@</p><p>g</p><p>m</p><p>ai</p><p>l.c</p><p>o</p><p>m</p><p>25 50 Alusões para Usar na Redação @profraphaelreis</p><p>pelo Estado e seus agentes de extermínio. Desse modo, a falta de políticas de proteção</p><p>e a ação de garimpeiros, madeireiros, entre outros, podem ser vistos como uma falha</p><p>estatal na promoção dos direitos indígenas.</p><p>1.9 o Sol NA CABeÇA</p><p>de geovani martins</p><p>Havia tempo que o Brasil não recebia com tanta</p><p>empolgação e aparato midiático um livro recém-</p><p>lançado por um escritor estreante, como aconteceu</p><p>em 2018 com “O sol na cabeça”, coletânea de contos</p><p>do jovem Geovani Martins. O autor, que nasceu e</p><p>viveu na periferia do Rio de Janeiro, toma um pouco</p><p>de sua vivência para construir essa obra que tem</p><p>como pano de fundo a cidade maravilhosa. Martins</p><p>apresenta, nas treze narrativas que compõem seu</p><p>livro de estreia, personagens vivendo em favelas</p><p>cariocas nas últimas décadas, realidade que passa</p><p>pela criação das UPPs, além das guerras de facções,</p><p>das milícias e das incursões da polícia no território.</p><p>Para muitos críticos, o grande mérito de “O sol na cabeça” não é sua originalidade na</p><p>estrutura, porque tanto a forma quanto o conteúdo dos contos possuem uma roupagem</p><p>clássica. O que dá força para o livro é usar a estrutura tradicional dos personagens para</p><p>dar voz a pessoas que não costumam cumprir esse papel na literatura, como o pichador,</p><p>o maconheiro, o craqueiro, o soldado do tráfico. Além disso, “O sol na cabeça” narra</p><p>diversas situações que, ainda que muito presentes nos noticiários, não são comumente</p><p>o foco da produção literária atual. Mais do que isso, as violências e as mazelas sociais de</p><p>uma parte da juventude que não vive nos centros das grandes cidades, ou nas zonas mais</p><p>economicamente incentivadas, são trazidas sem um olhar de exotismo, mas com uma</p><p>força e uma delicadeza de que só quem esteve dentro desse circuito consegue transmitir.</p><p>L</p><p>ic</p><p>en</p><p>se</p><p>d</p><p>t</p><p>o</p><p>m</p><p>ay</p><p>ra</p><p>lo</p><p>rr</p><p>ay</p><p>n</p><p>e</p><p>d</p><p>o</p><p>s</p><p>sa</p><p>n</p><p>to</p><p>s</p><p>-</p><p>m</p><p>ay</p><p>ra</p><p>.lo</p><p>sa</p><p>n</p><p>to</p><p>s@</p><p>g</p><p>m</p><p>ai</p><p>l.c</p><p>o</p><p>m</p><p>26 50 Alusões para Usar na Redação @profraphaelreis</p><p>Para ficar em alguns exemplos, podemos citar o conto de abertura do livro, “Rolézim”.</p><p>Como o próprio título já indica, nessa história o narrador-personagem descreve seu dia</p><p>ao sair da favela para ir à praia com os amigos, realizando o que para eles seria o famoso</p><p>“rolezinho”, mas, para a população branca, bem como para a polícia, a atividade é vista</p><p>como um “arrastão”. Ao retratar com humanidade as agruras da parcela preta e periférica</p><p>do Rio de Janeiro, Martins também se vale da linguagem da obra para dar mais realidade</p><p>à vida dos personagens, usando gírias cariocas e outras expressões localizadas em</p><p>contextos muito específicos: “O piloto nem roncou quando nosso bonde subiu na traseira,</p><p>o ônibus tava como, lotadão, várias gente, cadeira de praia, geral suando, apertado”. Já</p><p>no conto “Roleta-russa”, o que temos é uma apresentação da infância e da juventude,</p><p>em meio ao caos e à organização do tráfico nas favelas. A narrativa traz a história de um</p><p>menino que leva na rua, para a brincadeira cotidiana com seus amigos, a arma que o pai</p><p>ganhou do trabalho. A presença do</p><p>instrumento, ainda que se revele um jogo perigoso,</p><p>cria um microcosmo na representação de polícia e bandido que os amigos realizam, que</p><p>revela, de maneira lúdica, como as relações de poder e violência podem ser criadas fora</p><p>da narrativa hegemônica, ou seja, aquela que se desenrola na parte de baixo da cidade e</p><p>a que comumente encontramos nos livros e nas notícias.</p><p>Desse modo, “O sol na cabeça” é um excelente livro para usarmos como alusão em</p><p>redações que lidam com os temas violência do Estado, favelização e marginalização no</p><p>Brasil, racismo estrutural, uso de armas de fogo e direitos das crianças e dos adolescentes.</p><p>Veja a seguir um exemplo de aplicação prática dessa referência para discutirmos um pouco</p><p>sobre desigualdade social no que se refere ao tema “direito à cidade”.</p><p>Exemplo:</p><p>Outrossim, a desigualdade socioeconômica é outro fator que dificulta a fruição do</p><p>direito à cidade. Esse cenário pode ser observado no conto “Rolézim”, do livro “O sol</p><p>na cabeça”, de Geovani Martins. A obra apresenta uma análise realista das dificuldades</p><p>enfrentadas por jovens que moram em favelas no Rio de Janeiro, e nesse conto é descrito</p><p>um momento da vida do narrador, na sua tentativa de conseguir dinheiro para chegar à</p><p>praia com seus amigos. Mesmo conseguindo contornar essa situação, os personagens</p><p>sofrem ainda com o preconceito social das pessoas que estão na praia, além da sistêmica</p><p>violência policial ao estarem, simplesmente, frequentando um local público. Embora</p><p>ficcional, o livro diz muito sobre a realidade brasileira, principalmente sobre as barreiras</p><p>econômicas e sociais que impedem que certas pessoas tenham plenamente garantido</p><p>seu direito à cidade.</p><p>L</p><p>ic</p><p>en</p><p>se</p><p>d</p><p>t</p><p>o</p><p>m</p><p>ay</p><p>ra</p><p>lo</p><p>rr</p><p>ay</p><p>n</p><p>e</p><p>d</p><p>o</p><p>s</p><p>sa</p><p>n</p><p>to</p><p>s</p><p>-</p><p>m</p><p>ay</p><p>ra</p><p>.lo</p><p>sa</p><p>n</p><p>to</p><p>s@</p><p>g</p><p>m</p><p>ai</p><p>l.c</p><p>o</p><p>m</p><p>27 50 Alusões para Usar na Redação @profraphaelreis</p><p>Retrata-se, na obra, a trajetória de Severino, que se desloca do sertão nordestino,</p><p>sem emprego e sem condições de sobrevivência, dirigindo-se ao litoral – região do Recife –</p><p>em busca de melhores condições de vida. O caminho de Severino é marcado por diversas</p><p>situações de encontro com a morte que se impõem à experiência da vida, desvelando as</p><p>privações a que se submete o homem do sertão e alegorizando condições de injustiça</p><p>social haja vista que o personagem que inspira nome à obra percebe o poder que a divisão</p><p>de classes empresta aos mais favorecidos, como os latifundiários que, na ficção cabralina,</p><p>estão dispostos a tirar a vida de quem questionar seu poder e seu domínio da posse da</p><p>terra. Assim, o poeta também propõe reflexão sobre dramas que aparecem de forma mais</p><p>acentuada em determinadas regiões do país que possuem condição particular de política</p><p>social, enfrentando problemáticas não compartilhadas com os grandes centros urbanos.</p><p>O drama humano da exclusão confunde-se com a próprio questionamento da</p><p>existência em escassez, o que, em tom de mais desnudo pessimismo do personagem e de</p><p>coragem de seu criador, leva Severino – diante de situação de cego desespero – a pensar</p><p>em tirar a própria vida, já sem significação diante da marginalização plena e da ausência</p><p>de crença na mudança. Os “encontros” com a morte (da percepção do apagamento do</p><p>rio que guia seu caminho à participação em um funeral de um lavrador cuja “cova grande”</p><p>contrasta com sua “carne pouca”) levam Severino a um pessimismo extremo diante da</p><p>falta de visão de uma transformação social que pudesse lhe mudar a indigna vida: nota-</p><p>se que ele só quer ter a oportunidade de trabalho que se confunde com a sobrevivência</p><p>possível.</p><p>1.10 MorTe e VIdA SeVerINA</p><p>de joão cabral de melo neto</p><p>“Morte e Vida Severina” é um poema escrito pelo</p><p>pernambucano João Cabral de Melo Neto entre 1954</p><p>e 1955. O poeta destacou, em sua obra, a condição</p><p>social do retirante nordestino, vítima da seca, da</p><p>miséria, da falta de oportunidades e da fome.</p><p>L</p><p>ic</p><p>en</p><p>se</p><p>d</p><p>t</p><p>o</p><p>m</p><p>ay</p><p>ra</p><p>lo</p><p>rr</p><p>ay</p><p>n</p><p>e</p><p>d</p><p>o</p><p>s</p><p>sa</p><p>n</p><p>to</p><p>s</p><p>-</p><p>m</p><p>ay</p><p>ra</p><p>.lo</p><p>sa</p><p>n</p><p>to</p><p>s@</p><p>g</p><p>m</p><p>ai</p><p>l.c</p><p>o</p><p>m</p><p>28 50 Alusões para Usar na Redação @profraphaelreis</p><p>O personagem foge da seca, da terra árida, da desocupação, mas se percebe</p><p>determinado à mesma condição no litoral visto que, nessa região, os severinos – herdeiros</p><p>da dura e seca vida na terra improdutiva – permanecem marginalizados e, no mangue,</p><p>solo encharcado, a pobreza continua a lhe perseguir.</p><p>O livro, obra-prima da literatura brasileira de engajamento social, pode ser usado</p><p>para ilustrar, de forma a dar ênfase à argumentação, diversos temas, como a seca, a fome,</p><p>a disputa pela terra, a desigualdade regional, a desigualdade social, a injustiça.</p><p>Exemplo:</p><p>Vale, por conseguinte, ressaltar que a injustiça social no país permanece a despeito</p><p>de políticas públicas de inclusão, como as ações afirmativas. Nesse viés, é possível perceber</p><p>que algumas regiões do Brasil experimentam situações sociais agravadas por condições</p><p>peculiares, como a seca, que torna determinados locais inóspitos à sobrevivência digna,</p><p>e, nessas regiões, maltratadas pela aridez, em que há a escassez de oportunidades de</p><p>trabalho e a impossibilidade se de viver em condições mínimas de acesso à saúde,</p><p>medidas tímidas e não emancipatórias tornam-se insuficientes diante da contundente</p><p>marginalização. Dentro dessa perspectiva, O poema “Morte e Vida Severina”, obra</p><p>de João Cabral de Melo Neto, retrata as condições precárias de vida do personagem</p><p>retirante Severino, que sonha com a oportunidade de trabalhar – que lhe é impossibilitada</p><p>pela seca que assola o sertão – e busca uma vida melhor no litoral, mas percebe-se</p><p>impotente diante da injustiça que é imposta à sua classe, seja no sertão, seja no litoral.</p><p>Assim, a condição social desigual perpetua a exclusão de muitos severinos, enfatizando</p><p>a desigualdade regional no país de dimensões continentais.</p><p>L</p><p>ic</p><p>en</p><p>se</p><p>d</p><p>t</p><p>o</p><p>m</p><p>ay</p><p>ra</p><p>lo</p><p>rr</p><p>ay</p><p>n</p><p>e</p><p>d</p><p>o</p><p>s</p><p>sa</p><p>n</p><p>to</p><p>s</p><p>-</p><p>m</p><p>ay</p><p>ra</p><p>.lo</p><p>sa</p><p>n</p><p>to</p><p>s@</p><p>g</p><p>m</p><p>ai</p><p>l.c</p><p>o</p><p>m</p><p>29 50 Alusões para Usar na Redação @profraphaelreis</p><p>O livro, que possui pouco menos de quarenta páginas, é diminuto em sua estrutura,</p><p>mas, com a maestria de Ernaux para contar uma história, pode ser lido como uma obra</p><p>enorme. O mote de “O jovem” é o relacionamento de uma mulher, escritora e professora</p><p>universitária, com um homem 30 anos mais jovem. O livro começa com a afirmação: “Há cinco</p><p>anos, passei uma noite inapropriada com um jovem estudante que vinha me escrevendo</p><p>havia um ano e que queria me encontrar”, para, a partir daí, trabalhar assuntos muito</p><p>interessantes, na medida em que se mostram bastante complexos. Aqui isso não se refere</p><p>somente à diferença de idade e de desejos entre as pessoas envolvidas no romance, mas</p><p>principalmente ao olhar social sobre essa relação entre uma mulher que acaba de passar</p><p>pela menopausa e um rapaz de 25 anos que havia sido seu aluno. Daí questões como</p><p>sexo, autoaceitação e preconceitos com a idade conseguem ser trabalhados, ao mesmo</p><p>tempo, com um peso e uma delicadeza que apenas Ernaux é capaz de nos proporcionar.</p><p>Nessa perspectiva, há trechos do livro que falam sobre pessoas olhando o casal de</p><p>mãos dadas na rua, o que faz a narradora perceber “que éramos mais inaceitáveis que</p><p>um casal de homossexuais”. E quando a personagem se deparava com mulheres com a</p><p>idade igual ou superior a sua, “o fato de haver uma transgressão operada por uma de</p><p>suas semelhantes enchia-lhes de esperança e ousadia”, mostrando que seu desejo não é</p><p>algo incomum, além de revelar a importância de uma representatividade dele. Mas, além</p><p>de trazer as percepções da sociedade francesa quanto a esse relacionamento entre uma</p><p>mulher de mais idade do que um rapaz, O jovem discute também sobre certas relações de</p><p>1.11 o JoVeM</p><p>de annie ernaux</p><p>Vencedora do Prêmio Nobel de Literatura 2022, a</p><p>francesa Annie Ernaux virou uma</p><p>febre no Brasil</p><p>desde 2021, quando teve parte de sua obra editada</p><p>pela editora Fósforo. Mas Ernaux já despontava no</p><p>cenário mundial como um dos nomes incontornáveis</p><p>da literatura, desde sua primeira publicação, em</p><p>1974. Com sua prosa honesta, às vezes crua, às vezes</p><p>poética, vagando entre memórias pessoais e ficção,</p><p>não é de se espantar que seus livros, muitas vezes</p><p>lidos como autobiografia, causassem uma surpresa</p><p>e uma sensação de novidade aos leitores. Isso se</p><p>confirma quando da publicação, em 2022, do romance</p><p>“O jovem”, que, logo em sua capa, traz um retrato</p><p>da autora, hoje em dia com 82 anos, enquanto mais</p><p>jovem.</p><p>L</p><p>ic</p><p>en</p><p>se</p><p>d</p><p>t</p><p>o</p><p>m</p><p>ay</p><p>ra</p><p>lo</p><p>rr</p><p>ay</p><p>n</p><p>e</p><p>d</p><p>o</p><p>s</p><p>sa</p><p>n</p><p>to</p><p>s</p><p>-</p><p>m</p><p>ay</p><p>ra</p><p>.lo</p><p>sa</p><p>n</p><p>to</p><p>s@</p><p>g</p><p>m</p><p>ai</p><p>l.c</p><p>o</p><p>m</p><p>30 50 Alusões para Usar na Redação @profraphaelreis</p><p>poder e de classe social que marcavam aquele relacionamento. A narradora diz entender</p><p>que havia uma espécie de conveniência entre ela e o jovem, pois, em troca do prazer e</p><p>da possibilidade de reviver experiências que ele lhe proporcionava, ela lhe possibilitava</p><p>viagens e lhe poupava a busca por um emprego.</p><p>Só por essa breve apresentação da trama, é possível perceber que O jovem é um</p><p>ótimo repertório para usarmos quando trabalhamos temas que envolvem preconceitos</p><p>enraizados nas pessoas, diferenças sociais entre gêneros, libertação e independência</p><p>feminina e, principalmente, percalços enfrentados por pessoas idosas para garantir sua</p><p>aceitação social. No exemplo a seguir, trabalhamos um parágrafo sobre esse último</p><p>assunto, de modo a utilizar o livro como uma forma de exemplificar tais empecilhos.</p><p>Exemplo:</p><p>Primeiramente, podemos ressaltar que a população idosa no Brasil enfrenta sérios</p><p>desafios para ter seus direitos assegurados, por conta de uma visão preconceituosa por</p><p>parte da sociedade. Isso é o que pode ser observado, por exemplo, no livro “O jovem”,</p><p>da francesa Annie Ernaux, que, apesar de se passar na França, conta uma história que</p><p>reverbera situações comuns em todo o mundo. Na narrativa, uma mulher se relaciona</p><p>com um rapaz trinta anos mais jovem, o que desperta, nas pessoas que os veem juntos,</p><p>um sentimento de revolta, levando a narradora a afirmar que eles eram mais inaceitáveis</p><p>do que um casal de homossexuais. Essa situação, dentre diversas outras no livro, revela</p><p>o quanto há um pensamento enraizado de que pessoas mais velhas, por não serem mais</p><p>úteis para a sociedade produtivista, perdem certa parcela de humanidade, não podendo</p><p>viver situações comumente aceitas para pessoas mais jovens, como ter uma vida sexual</p><p>e afetiva. Assim, isso dificulta que essas pessoas tenham sua voz ouvida, bem como seus</p><p>direitos constitucionais respeitados.</p><p>L</p><p>ic</p><p>en</p><p>se</p><p>d</p><p>t</p><p>o</p><p>m</p><p>ay</p><p>ra</p><p>lo</p><p>rr</p><p>ay</p><p>n</p><p>e</p><p>d</p><p>o</p><p>s</p><p>sa</p><p>n</p><p>to</p><p>s</p><p>-</p><p>m</p><p>ay</p><p>ra</p><p>.lo</p><p>sa</p><p>n</p><p>to</p><p>s@</p><p>g</p><p>m</p><p>ai</p><p>l.c</p><p>o</p><p>m</p><p>31 50 Alusões para Usar na Redação @profraphaelreis</p><p>Escrito de maneira fragmentada, “O pai da menina morta” é composto de, entre</p><p>outras coisas, entradas de diários (como “segunda”, “sábado”), trechos de e-mails e relatos</p><p>de sonhos. A narrativa, portanto, não segue um registro realista, o que se esperaria de</p><p>uma reconstituição tradicional de um fato vivido. O protagonista do livro também não</p><p>conta sua a história em ordem cronológica e flana entre um presente recente — no qual</p><p>tenta abrandar sua dor com sessões de terapia budista, psicanálise e mediunidade — e</p><p>seu passado, em que passeia pela infância e pela adolescência mapeando uma angústia</p><p>que sempre esteve ali, como se a Menina Morta já projetasse sua devastação desde</p><p>antes de seu nascimento. Junto disso, revela-se também uma obsessão que surge nesse</p><p>processo de se reconstruir a partir de e depois do luto, em que o narrador monta um</p><p>dicionário pessoal a respeito da doença que matou sua filha. Enquanto o Houaiss mostra</p><p>apenas uma definição para “miocardite” — “inflação no miocárdio” —, o protagonista lista</p><p>quatorze, sendo uma delas “ninguém diagnosticou a tempo”.</p><p>Comumente conhecidos como estágio do luto, a psicologia lista cinco momentos</p><p>desse processo, que são: negação, raiva, barganha ou negociação, depressão e aceitação.</p><p>Ainda que durante o livro consigamos enxergar o narrador passando por esses estágios,</p><p>isso não é desenvolvido de maneira didática, porque cada pessoa consegue enxergar</p><p>e passar por tais etapas de maneira singular. Mas a grande jogada de “O pai da menina</p><p>morta” é justamente jogar luz sobre esse assunto, que, como a maioria dos casos de</p><p>doenças mentais, são abafados socialmente, se tornando uma espécie de tabu. O romance,</p><p>1.12 o PAI dA MeNINA MorTA</p><p>de tiago ferro</p><p>No romance autoficcional “O pai da menina morta”,</p><p>lançado em 2018, o paulista Tiago Ferro parte da</p><p>experiência pessoal da perda de sua filha para</p><p>construir uma incrível narrativa ficcional sobre o luto</p><p>e a sobrevivência. O autor afirma, em entrevistas, que</p><p>o livro começou a ser produzido dois anos antes da</p><p>sua publicação, quando sua filha de oito anos morreu</p><p>em decorrência de uma miocardite, inflamação</p><p>consequente de uma simples gripe. Assim, Ferro</p><p>utiliza a escrita como uma forma de lidar com a falta</p><p>e com a perda, criando um registro íntimo da sua</p><p>angústia, o qual, aliado à sua técnica de ficcionista,</p><p>traz ao público esse livro delicado, surpreendente e</p><p>original, que foi laureado com o Prêmio São Paulo de</p><p>Literatura e com o Prêmio Jabuti.</p><p>L</p><p>ic</p><p>en</p><p>se</p><p>d</p><p>t</p><p>o</p><p>m</p><p>ay</p><p>ra</p><p>lo</p><p>rr</p><p>ay</p><p>n</p><p>e</p><p>d</p><p>o</p><p>s</p><p>sa</p><p>n</p><p>to</p><p>s</p><p>-</p><p>m</p><p>ay</p><p>ra</p><p>.lo</p><p>sa</p><p>n</p><p>to</p><p>s@</p><p>g</p><p>m</p><p>ai</p><p>l.c</p><p>o</p><p>m</p><p>32 50 Alusões para Usar na Redação @profraphaelreis</p><p>portanto, não dialoga apenas com pais que perderam recentemente suas filhas, mas com</p><p>toda uma geração que se encontra perdida e atormentada por seus fantasmas pessoais,</p><p>o que ainda se agrava simplesmente por não poderem trazer essas angústias à tona.</p><p>Sendo assim, o livro de Tiago Ferro pode facilmente ser encaixado nas redações em</p><p>que precisamos discutir temas ligados à saúde mental e como a sociedade contemporânea</p><p>lida com eles. No exemplo a seguir, vemos a aplicação prática dessa alusão em uma</p><p>produção sobre o tema “Os estigmas associados às doenças mentais na sociedade</p><p>brasileira”.</p><p>Exemplo:</p><p>Além disso, é válido destacar que a falta de discussão sobre doenças mentais faz</p><p>com que o assunto se torne um tabu e, consequentemente, não possua fácil resolução.</p><p>Quanto a isso, podemos tomar como exemplo o livro “O pai da menina morta”, de Tiago</p><p>Ferro, o qual narra uma experiência pessoal do autor sobre como enfrentar a morte de</p><p>sua filha de oitos anos. Na narrativa, Ferro tentar lidar com o luto, fazendo um diário</p><p>pessoal da sua perda e buscando maneira de abrandar a angústia. A construção do livro,</p><p>segundo entrevistas do autor, foi o primeiro passo para conseguir não cair na depressão</p><p>do luto, porque ele pôde compartilhar suas experiências e falar sobre o assunto com</p><p>pessoas dispostas a ouvi-lo. Desse modo, percebe-se que tornar o assunto presente na</p><p>sociedade, além de ajudar as pessoas que sofrem com a saúde mental, pode trazer uma</p><p>humanização para esse sofrimento, evitando que estigmas negativos sejam criados sobre</p><p>doenças como a depressão, por exemplo.</p><p>1.13 TeMPorAdA de FUrACÕeS</p><p>de fernanda melchor</p><p>Lançado no Brasil em 2020, “Temporada de</p><p>furacões” é o primeiro livro da mexicana Fernanda</p><p>Melchor publicado no país. Finalista do prestigioso</p><p>International Book Prize em 2020, a narrativa de</p><p>Melchor nos leva até o pequeno e pobre povoado</p><p>La Matosa, que frequentemente é assolado pela</p><p>passagem de furacões e pelas diversas violências que</p><p>são praticadas sobre e pelos seus moradores.</p><p>L</p><p>ic</p><p>en</p><p>se</p><p>d</p><p>t</p><p>o</p><p>m</p><p>ay</p><p>ra</p><p>lo</p><p>rr</p><p>ay</p><p>n</p><p>e</p><p>d</p><p>o</p><p>s</p><p>sa</p><p>n</p><p>to</p><p>s</p><p>-</p><p>m</p><p>ay</p><p>ra</p><p>.lo</p><p>sa</p><p>n</p><p>to</p><p>s@</p><p>g</p><p>m</p><p>ai</p><p>l.c</p><p>o</p><p>m</p><p>33 50 Alusões para Usar na Redação @profraphaelreis</p><p>Na primeira</p><p>cena do livro, acompanhamos um grupo de garotos que chegam para</p><p>brincar às margens de um riacho e encontram nele um cadáver boiando. A partir daí, a</p><p>trama se desenvolve em um ritmo policial, tentando compreender quais as motivações</p><p>e quem poderia ter matado aquela que era conhecida como Bruxa — uma pessoa que</p><p>herdou a fama de curandeira de sua mãe. Percebemos, então, que a Bruxa, na mesma</p><p>medida que era temida em La Matosa, também era muito requerida, principalmente por</p><p>mulheres em busca de chás abortivos e mandingas para trazer a pessoa amada, mas</p><p>também por homens, pelas festas obscuras que dava em sua residência, regada a drogas</p><p>e a dinheiro em troca de relações sexuais.</p><p>Em cada capítulo, acompanhamos os desdobramentos da vida de um personagem,</p><p>que compõem um painel muito vívido e complexo, com a narração muitas vezes deixando</p><p>de lado a própria história da Bruxa para dar conta de relações familiares e denúncias sociais,</p><p>as quais ajudam a reconstruir todo o ambiente do crime. Melchor, com sua prosa certeira</p><p>e de fôlego — os longos capítulos são escritos em um parágrafo, o que dá a impressão</p><p>de sufocamento enquanto somos bombardeados de informações novas —, é como se</p><p>colocasse os próprios leitores como investigadores do assassinato. Ao percebermos que</p><p>a culpa recai sobre alguns dos homens do povoado, também somos levados a inferir</p><p>que, na verdade, a Bruxa — figura enigmática e reclusa sempre em sua casa — pode ser</p><p>uma travesti, assassinada pela sua própria existência. Mas essa personagem poderia ser</p><p>também uma mulher, sem o luxo e a cadência feminina das outras mulheres do povoado,</p><p>que recebia afeto de homens estranhos apenas enquanto conseguia fornecer dinheiro ou</p><p>drogas em troca disso. Nessa medida, Temporada de furacões se inscreve no interessante</p><p>panorama das diversas obras de autoras latino-americanas que lidam com as violências</p><p>de gênero e o feminicídio na sociedade contemporânea.</p><p>No exemplo a seguir, apresentamos uma possível abordagem do livro para</p><p>discutirmos o tema “Transfobia em debate no Brasil”. Nesse caso, utilizamos a alusão na</p><p>introdução da redação, para contextualizar e apresentar o tema.</p><p>Exemplo:</p><p>No livro “Temporada de Furacões”, de Fernanda Melchor, um grupo de jovens</p><p>descobre um corpo boiando às margens de um rio, o qual se descobre pertencente à</p><p>personagem chamada de Bruxa. Na narrativa, podemos entender que a Bruxa era uma</p><p>travesti ou uma mulher trans, que foi morta pelos homens do povoado que se relacionavam</p><p>com ela. Apesar de a narrativa ficcional se passar no México, podemos perceber inúmeras</p><p>semelhanças com a vivência de pessoas trans no Brasil, país que apresenta o maior</p><p>número de mortes desse tipo no mundo. Desse modo, é importante discutirmos a questão</p><p>da transfobia no território brasileiro, que pode estar ligada tanto à falta de uma educação</p><p>sexual nas escolas quanto à negligência governamental a respeito de políticas públicas</p><p>voltadas a essa camada popular.</p><p>L</p><p>ic</p><p>en</p><p>se</p><p>d</p><p>t</p><p>o</p><p>m</p><p>ay</p><p>ra</p><p>lo</p><p>rr</p><p>ay</p><p>n</p><p>e</p><p>d</p><p>o</p><p>s</p><p>sa</p><p>n</p><p>to</p><p>s</p><p>-</p><p>m</p><p>ay</p><p>ra</p><p>.lo</p><p>sa</p><p>n</p><p>to</p><p>s@</p><p>g</p><p>m</p><p>ai</p><p>l.c</p><p>o</p><p>m</p><p>34 50 Alusões para Usar na Redação @profraphaelreis</p><p>A história se constrói em torno de um Trapiche, junto ao cais em Salvador, capital</p><p>da Bahia, onde vive um grupo de crianças em situação de rua, desassistidas em suas</p><p>necessidades basilares, flagradas em condições, por vezes, desumanas, sem acesso ao</p><p>que é básico, como saúde, educação, moradia e atenção parental. Para sobreviver, despido</p><p>de seus direitos cidadãos, o bando de Pedro Bala, jovem líder, comete pequenos roubos</p><p>que lhe permitem tangenciar a linha mais profunda do abandono: a falta de alimento.</p><p>Sem Pernas, Professor, Gato, Volta Seca, Dora, entre muitas outras crianças, vítimas</p><p>do determinismo característico à classe social a que pertencem – objeto de denúncia</p><p>do escritor-, convivem com a miséria e a fome cotidiana e com a violência silenciosa do</p><p>Estado que lhes negligencia o que é básico, experimentando um cenário de fragilidade</p><p>sanitária em meio à varíola que se espalha na cidade tomando a vida, principalmente,</p><p>daqueles que estão à margem da sociedade.</p><p>A hipocrisia é trazida à tona na obra através de textos jornalísticos que demonstram</p><p>pretensa intenção de descrever as crianças temidas pela burguesia soteropolitana. Elas</p><p>aparecem como algozes da classe alta que teme sua ação criminosa, perigosa, porém não</p><p>se sensibiliza com o desleixo e a permissividade que os animaliza ainda na tenra idade,</p><p>cruelmente emancipados pelo descaso.</p><p>O livro, por sua gama de situações sociais contempladas e denunciadas, é</p><p>um poderoso aporte argumentativo para diferentes discussões visto que – infeliz</p><p>e incompreensivelmente – mantém-se atual, e seus temas ainda são marcantes na</p><p>sociedade brasileira contemporânea. Entre esses, estão a intolerância religiosa (a mãe</p><p>de santo Don’Aninha, protetora das crianças do grupo de Pedro Bala, pede ajuda a eles</p><p>para recuperar a imagem de Ogum apreendida pela polícia); o descaso com a assistência</p><p>em saúde (os pais da órfã menina Dora – integrante do grupo – morrem vítima da bexiga,</p><p>1.14 CAPITÃeS de AreIA</p><p>de jorge amado</p><p>“Capitães da Areia” é um romance escrito pelo</p><p>baiano Jorge Amado em 1937. Nele, propõe-se uma</p><p>reflexão que marca a história da literatura brasileira</p><p>haja vista que a obra constrói um ponto de vista sobre</p><p>a desigualdade social e seus impactos, em diferentes</p><p>âmbitos da vida das classes sociais economicamente</p><p>desfavorecidas.</p><p>L</p><p>ic</p><p>en</p><p>se</p><p>d</p><p>t</p><p>o</p><p>m</p><p>ay</p><p>ra</p><p>lo</p><p>rr</p><p>ay</p><p>n</p><p>e</p><p>d</p><p>o</p><p>s</p><p>sa</p><p>n</p><p>to</p><p>s</p><p>-</p><p>m</p><p>ay</p><p>ra</p><p>.lo</p><p>sa</p><p>n</p><p>to</p><p>s@</p><p>g</p><p>m</p><p>ai</p><p>l.c</p><p>o</p><p>m</p><p>35 50 Alusões para Usar na Redação @profraphaelreis</p><p>formalmente chamada de varíola, doença negligenciada); falta de atenção à educação</p><p>básica na infância (apenas o personagem Professor tem o domínio da leitura entre</p><p>todos); insegurança alimentar (as crianças não têm lar, não têm família, não têm garantia</p><p>de alimento); violência (aqui um ponto importante: a violência das crianças é percebida</p><p>pela sociedade que as quer ver presas no reformatório em condições indignas, porém</p><p>não percebem a ausência de assistência mínima à infância, idade de dependência e de</p><p>ingenuidade – como se percebe no fragmento em que as crianças, com a ajuda do padre</p><p>José Pedro conseguem brincar no carrossel do parque, lembrando vagamente de sua</p><p>condição pueril). Nesse caso, contemplando o exposto e reunindo as mazelas denunciadas,</p><p>é possível usar a obra como sustentação para propor reflexão – de modo exemplificativo</p><p>- sobre a desigualdade social persistente no Brasil.</p><p>Exemplo:</p><p>Primeiramente, é importante ressaltar – como consequência da desigualdade</p><p>social no Brasil – o abandono à infância, negligenciada à fome e ao desrespeito a seus</p><p>direitos básicos. Dessa forma, como os meninos do Trapiche da obra “Capitães da</p><p>Areia” de Jorge Amado, vítimas do descaso social, figuras abandonadas e expostas à</p><p>indignidade humana imposta pelo descaso estatal, encontram-se crianças nas ruas do</p><p>país. Sendo assim, nota-se que a perpetuação de uma classe social desfavorecida e sem</p><p>oportunidades mantém a infância em situação de total insegurança social haja vista que</p><p>– analogamente à obra – permite-se que aqueles comumente descritos como o “futuro</p><p>do país” mantenham-se - de forma determinista – marginalizados pela persistência da</p><p>estratificação social que exclui alguns segmentos e prestigia outros.</p><p>1.15 o FIlHo eTerNo</p><p>de cristovão tezza</p><p>“O filho eterno”, de Cristovão Tezza, é um livro, na</p><p>mesma medida, cruel e sensível sobre os desafios</p><p>que pais enfrentam para cuidar e aceitar seus filhos</p><p>com alguma condição que afeta seu desenvolvimento</p><p>cognitivo. Publicado em 2007, o livro ganhou os mais</p><p>prestigiosos prêmios literários no Brasil e também</p><p>gerou muitas controvérsias, ao expor de maneira</p><p>honesta a visão de um pai que descobre que seu filho</p><p>é portador da Síndrome de Down.</p><p>L</p>

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