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<p>OUTROS PROCESSOS DE FORMA<;AO</p><p>Na lingua portuguesa, os processos basicos de forma~ao de novas palavras</p><p>sao a deriva~ao ea composi~ao. Costuma-se distinguir os dois processos dizen-</p><p>do-se que, enquanto na deriva~ao ocorre a anexa~ao de um elemento nao inde-</p><p>pendente a outro independente, na composi~ao se combinam duas ou mais</p><p>formas livres ou duas ou mais rafzes.</p><p>Todavia, ha outros mecanismos, bastante produtivos nos dias atuais, que</p><p>precisam tambem ser levados em conta. Sao os seguintes: a recomposi~ao, a</p><p>braquissernia, a acrossernia, a fonossemia e a duplica~ao silabica. Exarninare-</p><p>mos cada um deles separadamente.</p><p>RECOMPOSI<;AO</p><p>A recomposi~ao na realidade constitui uma especie de composi~ao, com</p><p>uma diferen~a bastante especf fica. Trata-se de um mecanismo formador de</p><p>novas palavras em que apenas uma parte do composto passa a valer pelo todo e</p><p>depois se liga a outra base, produzindo uma nova composi~ao.</p><p>Exemplifiquemos:</p><p>A palavra autom6vel e composta de dois elementos, o primeiro dos quais</p><p>pode ser empregado sozinho com o mesmo valor do conjunto. Ou seja: auto em</p><p>vez de autom6vel. Acrescentando-se outra base, teremos aut6dromo, que cons-</p><p>titui de fato uma recomposi~ao.</p><p>E absolutamente necessario que um dos elementos represente um composto</p><p>existente na lingua. Assim, aut6dromo se relaciona semanticamente com au-</p><p>tom6vel e nao apenas com o elemento grego [auto] que aparece, por exemplo,</p><p>em auto-retrato, auto-sugestao, aut6grafo etc. Diremos, pois, que hipodro-</p><p>mo e uma palavra formada por composi~ao (por confixa~ao, na terminologia</p><p>de Martinet) e autodromo resulta de uma recomposi~ao.</p><p>Em telefone, televisao e teleguiar nao ha recomposi~ao, desde que cada</p><p>componente vale por si. Mas em telenovela, [tele] significa "televisao", o que</p><p>191</p><p>ja e bastante diferente. De modo analogo, o substantivo teleco,munica~oes se</p><p>reduz a [tele] nas formas recompostas TELEMAR, TELEBRAS etc.</p><p>Para maior fixa~ao, mencionemos outros casos em que se configura O pro-</p><p>cesso de recomposi~ao:</p><p>fotografia foto + c6pia = fotoc6pia</p><p>fotografia foto + legenda = fotolegenda</p><p>fotografia foto + novela = fotonovela</p><p>fotografia foto + carta = fotocarta</p><p>fotografia foto + montagem = fotomontagem</p><p>televisao tele + jornal = telejornal</p><p>televisao tele + notfcia = telenotfcia</p><p>televisao tele + curso = telecurso</p><p>autom6vel rama = autorama</p><p>autom6vel auto + pista = autopista</p><p>autom6vel via = autovia</p><p>autom6vel auto + estrada = auto-estrada</p><p>BRAQUISSEMIA</p><p>Braquissemia e o emprego de parte de um vocabulo pelo vocabulo inteiro.</p><p>Tai processo se baseia no princf pio da economia da linguagem, cuja importan-</p><p>cia no mundo atual ninguem discute. Resulta da subtra~ao, nao da adi~ao de</p><p>morfes, coma acontece na deriva~ao ou na composi~ao, e o elemento restante</p><p>passa a valer semanticamente pelo todo do qual provem.</p><p>0 termo foi cunhado por Carnoy (ap. Borba, 1971), equivalendo ao que</p><p>alguns autores denominam de abreviarao vocabular (Cunha, 1972), expres-</p><p>sao que nao deve ser confundida com o termo abreviatura.</p><p>A subtra~ao pode ser em elementos terminais (ap6cope), iniciais (aferese)</p><p>ou, mais raramente, mediais (s{ncope).</p><p>Exemplos:</p><p>fotografia foto</p><p>telefone fone</p><p>motocicleta moto</p><p>autom6vel auto</p><p>pneumatico pneu</p><p>tricampeonato tri</p><p>tetracampeao tetra</p><p>quilograma quilo</p><p>cinemat6grafo cinema</p><p>192</p><p>poliomielite</p><p>Belo Horizonte</p><p>inoxidavel</p><p>bilhao</p><p>exposi~ao</p><p>restaurante</p><p>extraordinario</p><p>polio</p><p>Belo</p><p>inox</p><p>bi</p><p>expo</p><p>resto</p><p>extra</p><p>A linguagem oral, por ser mais espontanea e menos cuidada que a es-</p><p>crita, possibilita que inumeras palavras sejam reduzidas. Os alunos cha-</p><p>mam o professor de fesso ou apenas de so. Muita gente diz brigado por</p><p>obrigado. No presente do indicativo, o verbo estar se conjuga assim: (eu)</p><p>to, (tu, ele) ta, (nos) tamo, (eles) tao.</p><p>Ha um caso de braquissemia contextual em que um dos elementos e subtra-</p><p>ido, em virtude de ser empregado no vocabulo seguinte. E o que se verifica nas</p><p>frases abaixo:</p><p>a) Joao falou rapida e emotivamente.</p><p>b) Trata-se de algo sub e objetivo.</p><p>ACROSSEMIA</p><p>Algo semelhante a braquissernia e a acrossemia, mecanismo que consiste na</p><p>combina~ao de silabas ou fonemas extraidos dos elementos de um nome composto</p><p>ou de uma expressao. E o que ocorre em informatica (informa~ao automatica).</p><p>0 processo pode tambem ser denominado de acronfmia, definido por</p><p>Ezquerra (1995:45) como "a uniao do come~o de uma palavra com o final de</p><p>outra ou, mais raramente, do final de uma e inicio de outra".</p><p>Outros exemplos:</p><p>EMBRATUR</p><p>DETRAN</p><p>DECON</p><p>FUNCEME</p><p>BANESPA</p><p>UNIFOR</p><p>URCA</p><p>PROGRAD</p><p>- Empresa Brasileira de Turismo</p><p>- Departamento Estadual de Transito</p><p>- Defesa do Consumidor</p><p>- Funda~ao Cearense de Meteorologia</p><p>- Banco do Estado de Sao Paulo</p><p>- Universidade de Fortaleza</p><p>- Universidade Regional do Cariri</p><p>- Pr6-Reitoria de Gradua~ao</p><p>Bastante comum e o acronimo ser produzido em outra lingua, principal-</p><p>mente o ingles, e passar ao portugues como se fosse um vocabulo simples. Sao</p><p>incontaveis os exemplos, entre os quais:</p><p>193</p><p>Tergal - ( de poliester galo)</p><p>Transistor - (transfer resistor)</p><p>Bit - (de binary digit)</p><p>Laser _ ( de Light amplification by stimulated emission of radiation)</p><p>NASA- (de National Aeronautics and Space Administration)</p><p>VIP - (de very important person)</p><p>AIDS - (de Acquired Immunological Deficiency Syndrome)</p><p>Quanto ao ultimo exemplo acima apresentado, observa-se que em Portugal</p><p>se preferiu formar SIDA, a partir da tradu<;ao da expressao inglesa. Oaf</p><p>0 derivado sidoso, que sinonimiza com aidetico.</p><p>Pelo que vimos, sao pois de elevada freqliencia os vocabulos acrossemicos</p><p>e mereceriam ate um dicionario especializado, nao houvesse o problema de</p><p>serem criados a cada instante e de muitos cafrem cedo em completo desuso.</p><p>Consideramos a acrossemia um processo formador de palavras pelas se-</p><p>guintes razoes:</p><p>a) Os vocabulos produzidos tern autonomia de significante. Sao lidos ou</p><p>pronunciados coma formas simples e nao coma as expressoes que abreviam.</p><p>SUDENE, por exemplo, nao se pronuncia Superintendencia do Desenvolvi-</p><p>mento do Nordeste.</p><p>b) Podem receber sufixos derivacionais, fenomeno que normalmente nao</p><p>ocorre em locu<;oes, mas apenas em vocabulos isolados. De ARENA tiramos</p><p>arenista; DASP possui o derivado daspiano; para MOBRAL existe</p><p>mobralense, e assim por diante. Guerios (1981) lembra-nos um caso curioso:</p><p>a bordo de um aviao da VASP, a sobrevoar Maringa, nasceu um menino a</p><p>quern foi dado o nome de Miguel Vaspiano. Em Fernando de Noronha, co-</p><p>nhecemos tambem uma crian<;a que veio a luz num aviao da FAB e que, por</p><p>isso mesmo, foi batizada com o name de Fabiana.</p><p>c) Os acronimos sao em verdade substantivos pr6prios e muitas vezes seus</p><p>significantes se enriquecem de valores conotativos que as expressoes originarias</p><p>nao transmitem. Essas conota<;oes se devem ao intento de associa<;ao com raizes</p><p>paronimas ou homonimas. Assim, por exemplo, Clube dos Estudantes Universi-</p><p>tarios forma CEU, com timbre aberto na vogal para associar-se a parafso, vida</p><p>boa, alegria etc. SAPS lembra a raiz [sap] do latim sapere (saborear). ARENA,</p><p>q~ando ~stava em franca circula<;ao, alem de significar Alian9a Renovadora Na-</p><p>czonal, tmha campo semantico ampliado devido a vincula<;ao fonol6gica co1?</p><p>0 termo homommo. A Universidade do Vale do Acarau sugestivamente e conheci-</p><p>da por ~A. Ha uma institui<;ao, cuja finalidade precfpua e o desenvolvimento d~s</p><p>potencialidades do corpo humano, denominada exatamente CORPO, acrosseITIIa</p><p>de Centro de Orientarao e Reprogramarao Psicoorganica. 0 Grupo Armado de</p><p>194</p><p>11111</p><p>Repressiio a Roubos e Assaltos nao poderia ter um nome mais sugestivo do que</p><p>GARRA. Em Joao Pessoa, o lnstituto de Pesquisas Educacionais e abreviado</p><p>como IPE, em que a acentua~ao oxf ton a somente se deve a associa~ao com O nome</p><p>da arvore. E assim muitos outros exemplos semelhantes.</p><p>d) Existe a possibilidade de que o vocabulo acrossemico substitua comple-</p><p>tamente a expressao que designa. Radar ja e concebido como vocabulo sim-</p><p>ples,</p><p>embora venha de Radio detecting and ranging. lgualmente, modem (de</p><p>modulator I demodulator). Ede UFO ja se formaram ate os compostos hfbri-</p><p>dos ufologia, ufologo etc.</p><p>Tres esclarecimentos finais:</p><p>• As siglas em geral sao vocabulos acrossemicos. Entretanto, quando a</p><p>seqtiencia de fonemas nao se organiza em padr6es silabicos pr6prios da articu-</p><p>la~ao das palavras portuguesas, nao se tern um vocabulo autonomo. Basta o</p><p>exemplo da sigla INSS, cuja pronuncia e i-ene-esse-sse.</p><p>• Ha um processo de forma~ao conhecido como amalgama que, na realidade,</p><p>se confunde com a acrossemia. Trata-se de combinar partes de palavras, como</p><p>em motel ( de motorista e hotel); portunhol ( de portugues e espanhol); pescopia</p><p>(de pesquisa e c6pia); mallufioso (de Malluf e mafioso); tubalhau (file de</p><p>tubarao prensado pelo mesmo processo que se utiliza para o bacalhau); imprevilho</p><p>( de imprevisto e empecilho ). Azeredo (2000: 103) define amalgama lexical como</p><p>o "tipo de composi~ao em que se misturam de forma arbitraria e imprevista dois</p><p>ou mais lexemas". E cita exemplos curiosos, como expoesia, democradura etc.</p><p>• A grafia em abreviatura (acrografia) nao constitui processo de forma~ao</p><p>de vocabulos, se tiver o carater de ideograma. Numa acrografia, a letra nao</p><p>vale pelo fonema que costuma representar, mas como sfmbolo da palavra que</p><p>evoca. M. A., por exemplo, le-se Machado de Assis. Por conseguinte, nao se</p><p>deve confundir a acrossemia com a simples acrografia.</p><p>FONOSSEMIA</p><p>Os rufdos que percebemos sao de ordens diversas. Tudo o que nos circunda</p><p>emite sons e, por isso, na atividade comunicativa temos necessidade de usar</p><p>palavras que expressem esses sons. Ha, entretanto, uma nf tida diferen~a entre</p><p>os rufdos naturais e os fonemas. Estes sao produzidos pelo aparelho fonador e</p><p>se caracterizam por serem articulaveis.</p><p>Assim sendo, toda vez que tentamos reproduzir um som ffsico qualquer</p><p>atraves de fonemas, nao conseguimos uma perfeita identidade, mas apenas</p><p>uma aproxima~ao, uma imita~ao sonora.</p><p>195</p><p>I</p><p>Coloquemos um rel6gio perto de nosso ouvido e perceberemos que de fato 0</p><p>som produzido nao e "tique-taque". Mas, quando usamos essa palavra, os falantes</p><p>do portugues fazem de imediato uma associa~ao com o barulho de um rel6gio.</p><p>Como tique-taque, ha rnilhares de vocabulos expressivos empregados no sentido</p><p>de sugerir algum som ou rufdo. Tais vocabulos sao denorninados de onomatopeias.</p><p>0 processo de formar onomatopeias se chama fonossemia, termo forjado</p><p>pelo modelo de braquissemia ou acrossemia. Outras designa~oes para o mes-</p><p>mo fenomeno sao eco{smo e ideof onia.</p><p>llustremos com mais exemplos:</p><p>au-au vuco-vuco</p><p>miau toe-toe</p><p>gluglu cuco</p><p>piopio cocoric6</p><p>zunzum rataplan</p><p>cri-cri</p><p>ziriguidum</p><p>tibungo</p><p>bem-te-vi</p><p>blablabla</p><p>Freqtientemente, as bases criadas por fonossemia recebem sufixos, como</p><p>no processo da deriva~ao. Assim, os verbos referentes a vozes animais sao em</p><p>geral onomatopaicos:</p><p>cacarejar</p><p>arrulhar</p><p>trilar</p><p>berrar</p><p>urrar</p><p>pipiar</p><p>miar</p><p>c1ciar</p><p>coaxar</p><p>Notamos tambem que a maioria das bases onomatopaicas se constitui de</p><p>elementos repetidos. Quando isso acontece, a fonossemia recorre a outro proces-</p><p>so de forma~ao vocabular denorninado de duplica<;ao, que estudaremos a seguir.</p><p>DUPLICA<;AO</p><p>A duplica~ao, ou seja, a repeti~ao de um mesmo semantema para a produ-</p><p>~ao de um vocabulo, tern outras designa~oes entre os estudiosos: redobro (Ca-</p><p>mara Jr., 1968), redobramento (Macambira, 1970), reduplica<;ao ou duplica-</p><p><;ao silabica (Bechara, 1999) ou ainda tautossilabismo.</p><p>Quando os elementos sao repetidos integralmente, sem altera~ao de fonemas,</p><p>tem-se a duplica<;ao perfeita:</p><p>reco-reco tico-tico ioio</p><p>papa nenen ie-ie-ie</p><p>lufa-lufa vov6 cri-cri</p><p>nhonho lenga-lenga Dudu</p><p>mama iaia teco-teco</p><p>196</p><p>d</p><p>Quando existe altemancia vocalica ou perda de fonemas, tem-se a duplica-</p><p>rao impe,feita:</p><p>titio</p><p>mamae</p><p>zigue-zague</p><p>papai</p><p>xexeu</p><p>titia</p><p>teteia</p><p>pmgue-pongue</p><p>tique-taque</p><p>Ao analisar-se um vocabulo formado por duplica~ao, nao se pode conside-</p><p>rar o segundo elemento como morfema aditivo. 0 processo e inteiramente</p><p>diverso da deriva~ao. Tern uma natureza um tanto abstrata, pois o morfema</p><p>caracterizador nao e o segmento fonico repetido, mas o fato de haver a dupli-</p><p>ca~ao. Adverte-nos Camara Jr. (1972:103):</p><p>E um fenomeno intimamente ligado as exigencias da linguagem enfatica e</p><p>assenta no valor intensivo da repeti~ao.</p><p>lnfelizmente, as gramaticas portuguesas deixam de conferir a importancia</p><p>devida a duplica~ao. Algumas nem mesmo tratam do assunto, outras o restrin-</p><p>gem a linguagem infantil. Em geral, dao a entender que a deriva~ao ea com-</p><p>posi~ao constituem os unicos processos de forma~ao de palavras e, nesse sen- .</p><p>tido, classificam os vocabulos em simples, compostos, primitivos e derivados.</p><p>Na realidade, pelo menos a duplica~ao ea braquissemia nao sao tao margi-</p><p>nais quanto se costuma pensar. Adiante, ao analisar os nomes hipocorfsticos,</p><p>concluiremos que tais processos possuem uma alta e surpreendente produtivi-</p><p>dade, o que basta para que mere~am uma maior aten~ao dos estudiosos.</p><p>EMPRESTIMOS</p><p>Nao e s6 atraves dos processos de forma~ao das palavras que o lexico se</p><p>amplia. Ha outra fonte que, adequadamente disciplinada, possibilita o enri-</p><p>quecimento da lingua, sem causar-lhe danos relevantes. Trata-se dos empres-</p><p>timos de outras lfnguas que, a cada dia, penetram no portugues, oriundos das</p><p>mais diversas procedencias.</p><p>Os emprestimos lexicos ocorrem pela assimila~ao de tra~os culturais entre</p><p>os povos e apresentam uma certa variedade de tipos e graus. Produzem-se de</p><p>forma direta, pelo contato das lfnguas, ou de forma indireta, atraves dos meios</p><p>de comunica~ao, principalmente o radio ea televisao.</p><p>A origem dos emprestimos nao e devida ao acaso. Malmberg ( 1979)</p><p>assinala que eles sempre derivam de uma lingua de prestfgio, seja este</p><p>politico ou cultural. Tanto e assim que os povos barbaros, ao invadirem o</p><p>imperio romano, adotaram durante os seculos numerosos termos latinos. 0</p><p>frances foi, e continua a ser um pouco menos, uma lingua de grande pres-</p><p>tfgio internacional. Por causa disso, muitos galicismos penetraram no por-</p><p>197</p><p>tugues. Hoje, porem, a principal lfngua fonte de emprestimos e O • A . d l " . . ing\es em vtrtu e natura mente do poder econom1co exerc1do pelo capit 1. ' . a 1smo</p><p>amencano sobre outros pafses.</p><p>Assim sendo, cada vez mais se empregam no Brasil termos de proc dA . . l . , e en. eta mg esa, mesmo quando existem substitutos vernaculos. Em geral</p><p>vocabulos ligados a ciencia e tecnologia, ao comercio e meios de proct'u s~o</p><p>· d · l f · 1 · ~ao m ustna . A cada dia que passa, tornam-se am1 tares aos brasileiros p 1 a a-</p><p>vras relacionadas a informatica, como boot, chip, input, output, kit, Layo t</p><p>loop, megabyte, scanner, windows, word, dos, bit, cd-rom, slot, spoolinu '</p><p>capslock, mouse, enter, software, modem, reset, microsoft etc. etc. Isto afo;~</p><p>os inumeros decalques ou neologismos do tipo de caractere, inicializar</p><p>acessar, resetar ou internetar-se. Ja ouvimos ate printar e endar. Tudo co~</p><p>a maior naturalidade.</p><p>Por muito tempo, os nossos gramaticos mantiveram uma atitude</p><p>condenat6ria em rela<;ao aos emprestimos, sob a alegativa de que a lingua</p><p>portuguesa deveria manter-se inc6lume, sem nenhuma influencia alienigena.</p><p>Todavia, o purismo gramatical hoje parece nao ter muito sentido. A lingua</p><p>esta sujeita as interpenetra<;5es culturais e contra esse fato qualquer tentativa</p><p>dos gramaticos redunda em esfor<;o vao.</p><p>Com efeito, na epoca atual, em que o mundo todo se torna uma grande</p><p>aldeia, diariamente transitam vocabulos de procedencia estrangeira e inume-</p><p>ros deles terrninam sendo incorporados ao portugues. Por isso, a atitude mais</p><p>coerente ea de aceitar os emprestimos que nao possuem correspondentes ver-</p><p>naculos com o mesmo significado e, sobretudo, os que ja se encontram perfei-</p><p>tamente aportuguesados.</p><p>Alias, conforme assinala MUiler (1979), as palavras provindas de uma ou-</p><p>tra lingua, desde que nao sejam mais reconhecfveis</p><p>tra<;os especiais de</p><p>estrangeirismo, do ponto de vista sincronico ja nao podem ser designadas de</p><p>estrangeirismos.</p><p>Exemplifiquemos:</p><p>Entre os galicismos, isto e, vocabulos ou expressoes de origem francesa,</p><p>chofer e um vocabulo que nao nos incomoda. Ja esta tao arraigado ao portugues</p><p>que ate se submete a mesma regra de forma<;ao do plural dos names termina-</p><p>dos em -r (choferes), o que evidentemente nao acontece com a forma francesa</p><p>chauffeur. Falta, por outro lado, um correspondente vemaculo que tenha 0</p><p>significado exato de chof er. Os termos motorista, condutor e outros da mes-</p><p>ma esfera semantica tern significados especfficos. Qual entao o problema? A</p><p>lfngua nada sofreu; ate, pelo contrario, se tornou mais rica. , .</p><p>Galicismos dessa ordem tern livre aceita<;ao hoje, inclusive pelos gramaucos</p><p>mais exigentes. Mas antigamente a mentalidade era outra. Os puristas eram</p><p>verdadeiros policiais da lingua e condenavam qualquer emprestimo. Houve</p><p>198</p><p>ate um deles que criou uma serie de palavras ridiculas para substituir os</p><p>galicismos. Em vez de chofer, exigia que dissessemos cinesiforo.</p><p>Para os anglicismos, isto e, termos ou constru~oes da lingua inglesa, o</p><p>comportamento deve ser o mesmo. Um vocabulo como futebol ja esta</p><p>aportuguesado. Dizer ludopedio, como queria Castro Lopes, revela apenas</p><p>falta de compreensao quanta a pr6pria dinamica da If ngua.</p><p>Assim tambem italianismos, como gabarito, ou vocabulos de qualquer pro-</p><p>cedencia, desde que enrique~am o idioma e estejam aportuguesados, podem ser</p><p>empregados sem susto. Estariam nesse caso names de produtos industrializados</p><p>que penetram no mercado brasileiro. 0 ideal e que tais names sejam grafados</p><p>segundo a nossa pronuncia. 0 anglicismo shampoo deve ser escrito xampu, tal</p><p>como se fez com xerife. Nao entendemos por que uma palavra tao vulgarizada</p><p>entre n6s como show ainda nao mereceu uma grafia portuguesa.</p><p>0 unico problema diz respeito aos estrangeirismos que possuem corres-</p><p>pondentes vernaculos ou nao se acomodam facilmente ao sistema de nossa</p><p>lingua. A tf tulo de ilustra~ao, lembramos que al guns peritos em estatfstica</p><p>costumam falar de amostra randomica, quando poderiam dizer com muito</p><p>mais propriedade amostra aleatoria. A impressao e que desconhecem o adje-</p><p>tivo aleatorio ou entao pretendem ser pedantes, o que ainda e pior. Alguns</p><p>colunistas sociais empregam tambem uma linguagem que, para muitos leito-</p><p>res, nem parece escrita em portugues, como a seguinte frase: "Nas soirees do</p><p>week-end, big show na boite Love House".</p><p>Ora, a lfngua portuguesa, segundo os estilistas, e extremamente rica e pos-</p><p>sui vocabulos de rara expressividade que, com freqtiencia, sao bem mais sono-</p><p>ros que os termos alienfgenas. Por isso, ha quern considere abusiva a pratica</p><p>de usar estrangeirismos, quando existem vocabulos portugueses que possam</p><p>adequadamente substituf-los.</p><p>Em qualquer caso, porem, qualquer atitude de combate tende a tornar-se</p><p>quixotesca. Se um estrangeirismo penetra na lfngua e porque ja houve uma</p><p>previa correspondente invasao cultural de produtos, valores ou habitos. Se tais</p><p>produtos sao adrnitidos na comunidade, de que forma se pode impedir que os</p><p>vocabulos a que se referem sejam expurgados?</p><p>Diante disso, insistimos, a melhor solu~ao e acatar os emprestimos neces-</p><p>sarios, incorporando-os ao lexico portugues mediante o aportuguesamento.</p><p>Ate mesmo os gramaticos de tendencia para o purismo acabam aceitando esta</p><p>solu~ao. Eis, por exemplo, a opiniao de G6is (1949: 5):</p><p>Neste caso, porem, indispensavel se torna que o vocabulo ex6tico, ao en-</p><p>trar no portugues, se espunja, desde logo, de todos os estigmas que lhe</p><p>assinalam a ascendencia, isto e, da marca exotica, do cunho alienfgena e</p><p>sofra a naturaliza~ao, transplanta~ao ou aclima~ao, vestindo-se dos carac-</p><p>terfsticos idiomaticos, adaptando-se a mesma forma daqueles com quern</p><p>vem concorrer, assurnindo na republica das palavras, que e o vocabulario</p><p>199</p><p>L</p><p>ou lexico, a cor ambiente, a fei~ao mesol6gica, o tipo ou a facies conse "</p><p>fi . . d , , ntanea com a 1s10nomrn a hngua do pats.</p><p>Em linhas gerais, o aportuguesamento consiste numa adapta~ao do ,</p><p>bulo a fonetica, a grafia e aos paradigmas flexionais de nossa If ngua. voca.</p><p>0 nivelamento fonetico substitui fonemas inexistentes em portugu" es Por</p><p>outros aproximados. O Iii arredondado, grafado com u na palavra burea ,</p><p>substitufdo por /i/ nao-arredondado (bir6) ou por /u/ (burocracia). u, e</p><p>A adapta~ao grafica e conseqilencia da ortoepica. Usam-se as Ietras que</p><p>compoem o nosso alfabeto em vez das que nos parecem estranhas. Escreve</p><p>o voc3b°!o d~ acordo ?o1_11 a rronUncia ~ort~guesa. Ex.: teipe; bou;~:</p><p>buque; bidet bide; bibelot bibelo; knock-out nocaute.</p><p>Outra solu~ao e o decalque, que se refere ao emprestimo de um item lexical</p><p>proveniente de uma lingua e usado em o~tra sob a_ f?rma de tradu~ao. O decal-</p><p>que lexical oferece a vantagem de ev1ta_r a_s d1f1culdades levantadas pela</p><p>integra~ao fonol6gica e morfol6gica dos s1gmfican~es ?os lexemas estrangei-</p><p>ros, alem de respeitar a equivalencia na ordem dos s1gmficados. Mas, de modo</p><p>geral, os brasileiros preferem os estrangeirismos puros. E esta e a razao pela</p><p>qual temos AIDS, quando em Portugal se usa SIDA, conforme ja citamos.</p><p>Finalmente, resta observar que o vocabulo aportuguesado deve sujeitar-se</p><p>as regras flexionais do portugues: chefe, chefa, chefes, chefas. E, estando</p><p>assim plenamente adaptado, torna-se uma base pronta a receber morfes</p><p>derivacionais: chefia, chefatura, chefiar. Tudo coma se fosse, e naturalmente</p><p>ja o e, um vocabulo lidimamente portugues.</p><p>HIBRIDISMOS</p><p>Outra injustificavel atitude condenat6ria da parte de alguns gramaticos diz</p><p>respeito as palavras hfbridas, isto e, produzidas com elementos de lfnguas</p><p>diferentes. Na realidade, os usuarios do portugues em geral nao tern conscien-</p><p>cia da origem dos constituintes e, mesmo que o tivessem, nao percebemos em</p><p>que medida os hibridismos seriam um mal.</p><p>Entendemos que, muito ao contrario, eles se torn am imprescindf veis na</p><p>maioria dos casos porque, coma argumenta Camara Jr. (1968), sua forma~ao</p><p>ocorre especialmente quando, com os elementos exclusivamente gregos, ja exis-</p><p>tem vocabulos com significado distinto. Assim sendo, decimetro (lat. decem)</p><p>distingue-se de decametro (gr. deka), automovel (movel, do lat. mobile) de</p><p>automato (adjetivo grego com a raiz de mao 'agir'), televisao (visao, do lat.</p><p>visione) de telesc6pio (gr. scopeo 'ver') etc.</p><p>E preciso tambem desfazer o equf voco de certas gramaticas que consi~e-</p><p>ram o hibridismo um processo de forma~ao de palavras, distinto dos dema1</p><p>~·</p><p>Os processos que produzem os vocabulos hfbridos sao a composi~ao e a den-</p><p>va~ao, sem nenhuma diferen~a a nao ser a diversidade de origem dos ele-</p><p>200</p><p>mentos formadores. Algumas vezes ate, o constituinte grego se une a uma</p><p>base ja vernaculizada, como em televisao, teleouvinte, automovel etc. O</p><p>sufixo [ismo], de procedencia grega, e um dos mai s produtivos em portugues</p><p>e se aplica indiscriminadamente a qualquer base nominal: latinismo,</p><p>gestaltismo, socialismo, egoismo, tupinismo, caiporismo e outros ismos,</p><p>muitos sem duvida hibridismos.</p><p>EXERCICIOX</p><p>1. Escreva nos parenteses C ou R, conforme haja composi9ao ou re-</p><p>composi9ao:</p><p>( ) automotriz</p><p>( ) vf deo-crf tic a</p><p>( ) cinesc6pio</p><p>( ) fotossfntese</p><p>( ) telespectador</p><p>( ) autoclf nica</p><p>( ) radiofoto</p><p>( ) telenotfcia</p><p>( ) tragicomedia</p><p>( ) auto-onibus</p><p>( ) heliporto</p><p>( ) cine-teatro</p><p>( ) autolota9ao</p><p>( ) pneu-a90</p><p>2. Comprove que Porto Rico e Belo Horizonte sao morfologicamente no-</p><p>mes compostos.</p><p>3. A que voce atribui o fato de corrimao ter o plural corrimoes, se o plural</p><p>de mao e maos?</p><p>4. Assinale os compostos, segundo os criterios morfol6gicos:</p><p>( ) Papai Noel ( ) Livre arbf trio</p><p>( ) Imposto de renda ( ) Pedra-sabao</p><p>( ) Dor de cabe9a ( ) Bumba-meu-boi</p><p>( ) Sao Paulo ( ) Luta livre</p><p>( ) Receita Federal ( ) Maria-mole</p><p>( ) Quebra-mar ( ) Cola-tudo</p><p>( ) Botafogo ( ) Carro de aluguel</p><p>( ) Sem-vergonha ( ) Porta-bandeira</p><p>5. Indique com A, se houver aglutina9ao, e com J, se houver justaposi9ao:</p><p>( ) aguardente ( ) florezinhas</p><p>( ) florzinha ( ) formoso</p><p>( ) formosura ( ) guarda-roupa</p><p>( ) pobremente ( ) passatempo</p><p>6. Combine cada elemento da primeira coluna com todos os da segunda.</p><p>Em seguida, destaque as forma96es vigentes no portugues atual.</p><p>201</p><p>lt::n</p><p>1•. coluna</p><p>Termo- (calor)</p><p>Anemo- (vento)</p><p>Antropo- (homem)</p><p>Biblio- (livro)</p><p>Cosmo- (mundo)</p><p>Crono- (tempo)</p><p>Demo- (povo)</p><p>Pono- (som)</p><p>Hidro- (agua)</p><p>Necro- (morto)</p><p>2•. coluna</p><p>-logia (ciencia )</p><p>-metro (medida)</p><p>-grafia (escrita)</p><p>-cracia (governo)</p><p>-terapia (cura)</p><p>-scopia ( visao)</p><p>-fagia (ato de comer)</p><p>-filia ( amizade)</p><p>-sofia (sabedoria)</p><p>-fobia (aversao)</p><p>7. Os componentes de semicirculo tern significados aproximados aos do</p><p>vocabulo hemisferio. Ha uma correspondencia entre os elementos latinos</p><p>(semicfrculo) e os gregos (hemisferio). Descubra, entao, que palavras forma-</p><p>das com elementos latinos correspondem as seguintes:</p><p>a) sfntese f) dfpode</p><p>b) periferia g) pr6logo</p><p>c) antfdoto h) epiceno</p><p>d) polimorfo i) hipodermico</p><p>e) anfibologia j) policromar</p><p>8. Empregue os elementos latinos correspondentes aos substantivos postos</p><p>entre parenteses:</p><p>a) (rei) .................... cfdio</p><p>b) (pai) ................... cfdio</p><p>c) (esposa) ............. cfdio</p><p>d) (irmao ) ............... cfdio</p><p>e) (liberdade) .......... cfdio</p><p>f) (irma) ................. cfdio</p><p>g) (mae ) .................. cfdio</p><p>h) (marido ) ............. cfdio</p><p>i) (deus) ................. cfdio</p><p>9. Fac;a as combinac;oes possfveis entre os elementos da primeira coluna</p><p>com os da segunda e, em seguida, verifique quais os termos dicionarizados.</p><p>1°. coluna 2°. coluna</p><p>api- (abelha) -cola (habitante)</p><p>ali- (asa) -cultor (que cultiva)</p><p>auri- (ouro) -fern (que produz)</p><p>celi- (ceu) -forme (semelhante a)</p><p>esteli- (estrela) -voro (que come)</p><p>herbi- (erva)</p><p>202</p><p>111111</p><p>nocti- (noite)</p><p>silvi- (floresta)</p><p>magni- (grande)</p><p>homi- (homem)</p><p>-cida (que mata)</p><p>-vago (que vagueia)</p><p>-pede (pe)</p><p>10. Numa analise m6rfica dos conectivos porque, portanto, porquanto</p><p>etc., devemos destacar a preposi~ao pore considera-los vocabulos compostos?</p><p>11. De dedo duro ( delator) fez-se o verbo dedurar. Analise os elementos</p><p>desse verbo e identifique o seu processo de forma~ao.</p><p>12. Pode-se afirmar que morficamente em gol contra ha um vocabulo com-</p><p>posto? Por que?</p><p>203</p><p>{"type":"Document","isBackSide":false,"languages":["en-us"],"usedOnDeviceOCR":true}</p><p>{"type":"Imported Receipt","isBackSide":false,"languages":["en-us"],"usedOnDeviceOCR":true}</p><p>{"type":"Document","isBackSide":false,"languages":["en-us"],"usedOnDeviceOCR":true}</p><p>{"type":"Document","isBackSide":false,"languages":["en-us"],"usedOnDeviceOCR":true}</p><p>{"type":"Document","isBackSide":false,"languages":["en-us"],"usedOnDeviceOCR":true}</p><p>{"type":"Document","isBackSide":false,"languages":["en-us"],"usedOnDeviceOCR":true}</p><p>{"type":"Document","isBackSide":false,"languages":["en-us"],"usedOnDeviceOCR":true}</p><p>{"type":"Document","isBackSide":false,"languages":["en-us"],"usedOnDeviceOCR":true}</p><p>{"type":"Document","isBackSide":false,"languages":["en-us"],"usedOnDeviceOCR":true}</p><p>{"type":"Document","isBackSide":false,"languages":["en-us"],"usedOnDeviceOCR":true}</p><p>{"type":"Document","isBackSide":false,"languages":["en-us"],"usedOnDeviceOCR":true}</p><p>{"type":"Document","isBackSide":false,"languages":["en-us"],"usedOnDeviceOCR":true}</p><p>{"type":"Document","isBackSide":false,"languages":["en-us"],"usedOnDeviceOCR":true}</p>

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