Buscar

Aula 6

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

UNIVERSIDADE ESTÁCIO DE SÁ
DIREITO DO CONSUMIDOR 
PROF. ANA LECTÍCIA
AULA 6
TEMA: O CONTRATO NO CDC I: Dirigismo contratual. Intervenção estatal. Modificação e Revisão das cláusulas contratuais: a lesão enorme e a quebra da base do negócio jurídico (art. 6o, V). Institutos afins no Código Civil (lesão: art.157, CC e teoria da imprevisão: art.478, CC).
Passemos a analisar o inciso V do artigo 6o que é revolucionário: “É direito básico do consumidor a modificação das cláusulas contratuais que estabeleçam prestações desproporcionais ou sua revisão em face de fatos supervenientes que as tornem excessivamente onerosas”. 
Teoria da lesão. Na lição de Caio Mário da Silva Pereira, conceitua-se lesão como “o prejuízo que uma pessoa sofre na conclusão de um ato negocial, resultante da desproporção existente entre as prestações das duas partes”. Verifica-se exagerado desequilíbrio nas obrigações das partes, por inexperiência, leviandade ou estado de necessidade de um dos contratantes.
A lesão se bifurcava, no direito romano, em lesão enorme e lesão enormíssima que, entretanto, se igualavam nos efeitos, no sentido de desconstituir ou reduzir o negócio jurídico.
Na lesão enorme, a coisa objeto de um contrato de compra e venda valia o dobro do preço pago. Ou seja, o contratante era enganado em mais da metade do justo valor. Por outro lado, tinha-se a lesão enormíssima quando a desproporção ultrapassasse 2/3 do valor real da coisa em relação ao mercado.
Pelo CC/02 são elementos da lesão: a) objetivo – a desproporcionalidade manisfesta entre as prestações, importando vantagem desarrazoada em favor de uma das partes em detrimento da outra; e b) subjetivo – o dolo de aproveitamento, fruto da inexperiência ou premente necessidade da parte prejudicada.
Distingue-se a lesão da teoria da imprevisão, porque naquela a lesão é contemporânea à celebração do contrato e nesta é superveniente, ocorrendo no momento de sua execução. 
Então, é um direito básico do consumidor não assinar um contrato de trato sucessivo em que a partir de um determinado momento passa a ser desproporcional (incide reajuste, ou pela mudança da própria situação econômica do consumidor). Os mais apressados aduzem que a hipótese retrata a teoria da imprevisão. Mas, embora inspirada na teoria da imprevisão prevista no Código Civil, esse dispositivo não a retrata porque falta um requisito. 
A teoria da imprevisão (art. 478, CC e cláusula rebus sic stantibus) é uma excepcionalidade, nela se exige a presença do requisito imprevisibilidade, que atinge um contrato em determinado momento, tornando irrealizável aquele contrato de trato continuado. Não é o que ocorre aqui no CDC. Isso porque aquilo que o legislador chama de fato superveniente não precisa atingir as duas partes – porque é um direito básico do consumidor, podendo atingir apenas a ele. Ademais, não há a necessidade da excepcionalidade ou mesmo da imprevisibilidade aqui. 
Como é que o legislador modifica esse contrato com base nesse direito básico do consumidor? Será pela intervenção direta do juiz no contrato fazendo a revisão da cláusula geradora da excessiva onerosidade para o consumidor. Ex: a variação do dólar em 99 frente ao contratos de leasing. A mesma sofreu abrupto reajuste, começando a se discutir a aplicabilidade desse dispositivo naquele momento. Poderia o consumidor alegar que um fato SUPERVENIENTE alterou aquela relação de modo a tornar desproporcional a prestação? 
Hoje a questão está sedimentada no STJ. Foi considerada possível tal alteração superveniente. Mas como se faz isso? Através de um pedido de revisão de cláusula, pleiteando ao juiz que arbitre um novo índice para aquele contrato. Com tal atitude o juiz faz o que chamamos de esforço de integração – que se materializa no artigo 51, parágrafo 2o do CDC que diz o seguinte: “a nulidade de uma cláusula contratual abusiva não invalida o contrato, exceto quando de sua ausência, apesar dos esforços de integração , decorrer ônus excessivos a qualquer das partes”. 
Essa expressão: “apesar dos esforços de integração” denota a participação do julgador na modificação daquela clausula para torná-la mais adequada, bem como no sentido da preservação do contrato, pois, diferentemente do que ocorre na teoria da imprevisão do Código Civil, que busca a resolução do contrato, a teoria da quebra da base do negócio jurídico visa preservá-lo. Aqui são utilizados os princípio da boa-fé objetiva e do equilíbrio contratual. (e da preservação ou conservação dos contratos).
Trata-se de uma sentença modificativa e vai operar efeito ex tunc até a data do fato superveniente. Então, a mudança do dólar – como indexador do contrato de leasing – para o INPC retroagiu até a data da modificação brusca do câmbio brasileiro. Vemos isso, principalmente, no saldo devedor da casa própria: se o saldo só aumenta: falta boa-fé e a prestação é desproporcional. Você não vai, para tanto, pleitear a nulidade da cláusula, mas tão só a revisão por fato superveniente desdobrada no artigo 51, no artigo 47 – interpretação é a favor do consumidor – e vai permear todo o capítulo de proteção contratual (art. 46 em diante), e de práticas abusivas – artigo 39 do CDC. 
 
Há quem defenda que a primeira parte do art.6, V, do CDC reflete a chamada teoria da lesão, a qual, todavia, não se confunde com a lesão prevista no NCC, art.157, uma vez que nesta se exige o aspecto da premente necessidade ou inexperiência de uma das partes contratantes, o que nãose exige na lei consumerista.
Já o inciso VI do artigo 6o – que é o da efetiva proteção e prevenção dos danos patrimoniais e morais – reforça o artigo 5o, incisos V e X da CR e tem sido sempre colocado por Sérgio Cavalieri nas hipótese de limitações tarifárias de dano em legislações. Em cotejo com o CDC aplica-se tal artigo da CF/88. Ex: se você é um músico e compra partitura por milhões de dólares e, se tais partituras forem extraviadas, seria absurdo que você fosse indenizado no patamar da Convenção de Varsóvia. 
O acesso aos órgãos judiciários e administrativos (do inciso VII do artigo 6o do CDC) – com vistas a prevenção ou a reparação de danos patrimoniais e morais, individuais, coletivos ou difusos, asseguradas as proteções administrativas e técnica. Aqui nós temos os danos ( artigo 12/14). Temos também a defesa do consumidor em juízo (artigo 81/ 102) que são os desdobramentos desse direito básico de acesso ao consumidor a reparação de danos.

Outros materiais