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1 PORTUGUÊS INSTRUMENTAL JOZELMA DE OLIVEIRA RAMOS EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA FACULDADE ÚNICA 1 PORTUGUÊS INSTRUMENTAL JOZELMA DE OLIVEIRA RAMOS 1 © 2021, Faculdade Única. Este livro ou parte dele não podem ser reproduzidos por qualquer meio sem Autoriza- ção escrita do Editor. FACULDADE ÚNICA EDITORIAL Diretor Geral:Valdir Henrique Valério Diretor Executivo:William José Ferreira Ger. do Núcleo de Educação a Distância: Cristiane Lelis dos Santos Coord. Pedag. da Equipe Multidisciplinar: Gilvânia Barcelos Dias Teixeira Revisão Gramatical e Ortográfica: Fabiana Miraz de Freitas Grecco Revisão/Diagramação/Estruturação: Bruna Luíza mendes Leite Carla Jordânia G. de Souza Guilherme Prado Design: Aline De Paiva Alves Bárbara Carla Amorim O. Silva Élen Cristina Teixeira Oliveira Taisser Gustavo Soares Duarte Ficha catalográfica elaborada pela bibliotecária Melina Lacerda Vaz CRB – 6/2920. NEaD – Núcleo de Educação a Distância FACULDADE ÚNICA Rua Salermo, 299 Anexo 03 – Bairro Bethânia – CEP: 35164-779 – Ipatinga/MG Tel (31) 2109 -2300 – 0800 724 2300 www.faculdadeunica.com.br 2 PORTUGUÊS INSTRUMENTAL 1° edição Ipatinga, MG Faculdade Única 2021 3 Jozelma de Oliveira Ramos Doutora em Letras pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (2019). Mestre em Estudos Literários pela Universidade Federal de Minas Gerais (2010). Graduada em Letras coA autora é licenciada em Letras-português (2010) e em Letras Português-Francês (2016) pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Possui Mestrado em Estudos Literários (2013) pela (UFMG) e concluiu o doutorado em Letras (2019) pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC-MG). Atualmente, está em estágio pós-doutoral no Progra- ma de Pós-graduação em Letras: Estudos Literários (Poslit – UFMG). 4 LEGENDA DE Ícones São os conceitos, definições ou afirmações importantes aos quais você precisa ficar atento. Com o intuito de facilitar o seu estudo e uma melhor compreensão do conteúdo aplicado ao longo do livro didático, você irá encontrar ícones ao lado dos textos. Eles são para chamar a sua atenção para determinado trecho do conteúdo, cada um com uma função específica, mostradas a seguir: São opções de links de vídeos, artigos, sites ou livros da biblioteca virtual, relacionados ao conteúdo apresentado no livro. Espaço para reflexão sobre questões citadas em cada unidade, associando-os a suas ações. Atividades de multipla escolha para ajudar na fixação dos conteúdos abordados no livro. Apresentação dos significados de um determinado termo ou palavras mostradas no decorrer do livro. FIQUE ATENTO BUSQUE POR MAIS VAMOS PENSAR? FIXANDO O CONTEÚDO GLOSSÁRIO 5 SUMÁRIO UNIDADE 1 UNIDADE 2 UNIDADE 3 1.1 Linguagem e diversidade .......................................................................................................................................................8 1.2 Linguagem como ‘‘ experiência humana” ................................................................................................................9 1.3 Liguagem e poder .....................................................................................................................................................................11 1.4 Linguagem e argumentação ...........................................................................................................................................12 FIXANDO O CONTEÚDO .............................................................................................................................................................14 2.1 Introdução ......................................................................................................................................................................................19 2.2 Coerência textual .....................................................................................................................................................................20 2.3 Coesão textual ...........................................................................................................................................................................22 FIXANDO O CONTEÚDO .............................................................................................................................................................25 3.1 Concordância nominal ........................................................................................................................................................30 3.2 Regras básicas da concordância nominal ..............................................................................................................31 3.3 Concordância verbal ..............................................................................................................................................................33 3.4 Regras básicas da concordância verbal ...................................................................................................................34 FIXANDO O CONTEÚDO .............................................................................................................................................................36 LINGUAGEM E DIVERSIDADE TEXTO E COMUNICAÇÃO UNIDADE 4 4.1 Regência verbal .........................................................................................................................................................................40 4.2 Regras básicas da regência .............................................................................................................................................40 4.3 Verbos transitivos diretos ..................................................................................................................................................40 4.4 Verbos transitivos indiretos ...............................................................................................................................................41 4.5 Verbos que podem ser transitivos diretos e indiretos ...................................................................................42 4.5.1 Verbos transitivos diretos e indiretos ...............................................................................................................................42 4.5.2 Mudança de transitividade: modificaçção do sentido do verbo ..........................................................................43 FIXANDO O CONTEÚDO ............................................................................................................................................................45 CONCORDÂNCIA NOMINAL E VERBAL REGÊNCIA VERBAL E NOMINAL UNIDADE 5 5.1 Introdução .....................................................................................................................................................................................49 5.2 Colocação pronominal: os casos de próclise, mesóclise e ênclise .........................................................49 5.3 Pontuação e acentuação .....................................................................................................................................................51 5.3 Pontuação .....................................................................................................................................................................................51 5.4 Acentuação ..................................................................................................................................................................................53 5.5 Palavras oxítonas,paroxítonas e proparoxítonas ................................................................................................53 FIXANDO O CONTEÚDO .............................................................................................................................................................55 OUTROS ASPECTOS GRAMATICAIS UNIDADE 6 6.1 Introdução .....................................................................................................................................................................................58 6.2 Descrição ............................................................................................................................ ..........................................................58 6.3 Narração .........................................................................................................................................................................................59 6.4 Dissertação .............................................................................................. ...................................................................................63 FIXANDO O CONTEÚDO .............................................................................................................................................................66 RESPOSTAS DO FIXANDO O CONTEÚDO .....................................................................................................................71 REFERÊNCIAS ....................................................................................................................................................................................72 GÊNEROS E TIPOS TEXTUAIS 6 UNIDADE 1 Nesta unidade estudaremos o caráter plural da língua portuguesa e discutiremos o papel da linguagem nos processos de formação do sujeito, bem como seu lugar na sociedade. UNIDADE 2 Na unidade II veremos como se dá o processo de coerência e coesão textual, os quais são indispensáveis nas atividades comunicativas em língua portuguesa, quer sejam escritas ou orais. UNIDADE 3 Existem regras gramaticais que são importantes e devem ser sempre revisadas e consultadas, por isso, na Unidade III, estudaremos as principais regras de concordância nominal e verbal. UNIDADE 4 Nos mesmos moldes da unidade anterior, discutiremos as regras fundamentais de regência verbal e nominal. UNIDADE 5 Na unidade V, abordaremos outros aspectos gramaticais importantes que são relevantes para o aprendizado instrumental da língua portuguesa, tais como: colocação pronominal, pontuação e acentuação. UNIDADE 6 Na última unidade, estudaremos os conceitos de gênero e tipo textual. Além disso, analisaremos alguns tipos de textos acadêmicos relevantes, assim como o texto literário. C O N FI R A N O L IV R O 7 LINGUAGEM E DIVERSIDADE UNIDADE 01 8 1.1 LINGUAGEM E DIVERSIDADE Ao lermos a charge abaixo, podemos pensar que a personagem entrevistada, não obstante aos seus conhecimentos em vários idiomas estrangeiros, “não sabe português”. No entanto, podemos afirmar que sim, ela “sabe português”, mas não domina todas as variantes linguísticas necessárias para se adequar a determinadas situações comunicati- vas, tais como uma entrevista de emprego. Assim, no caso abaixo descrito, a personagem utiliza uma variante informal numa circunstância que exige formalidade, o que não é “in- correto” do ponto de vista linguístico, mas é extremamente inadequado. Figura 1: Ausência de domínio da língua portuguesa Fonte: Amaral (2018, online). Acesso em: 04 fev. 2021. O fato é que a língua portuguesa, como sabemos, possui muitas variantes. Entre elas, podemos citar aquelas que ocorrem entre as diferentes faixas etárias e nos mais diversos grupos socioeconomicamente distintos. Tais discrepâncias provocam, muitas vezes, situa- ções reveladoras de inadequação e de preconceito linguístico, entre os falantes de língua portuguesa, como exemplificado aqui por meio da charge acima. Com isso, estes sujeitos podem se sentir, muitas vezes, inaptos a interagir na sua própria língua. Para Bagno (2007, p. 08-09): O preconceito linguístico está ligado, em boa medida, à confusão que foi criada, no curso da história, entre língua e gramática normativa. Nossa tarefa mais urgente é des- fazer essa confusão. Uma receita de bolo não é um bolo, o molde de um vestido não é um vestido, um mapa-múndi não é o mundo...Também a gramática não é a língua. A língua é um enorme iceberg flutuando no mar do tem- po, e a gramática normativa é a tentativa de descrever apenas uma parcela mais visível dele, a chamada norma culta. Como se vê, conforme Bagno (2007), existe uma diferença entre conhecer a gramá- tica normativa e dominar a língua portuguesa. Na verdade, existem variantes linguísticas consideradas de mais prestígio social e que são mais condizentes, como já foi dito aqui, com determinados contextos sociais mais formais, como, por exemplo, uma apresentação de trabalho da faculdade, a escrita de um e-mail para um coordenador de curso, a elabora- ção de uma tese acadêmica etc. Por isso, existe uma necessidade de adequação linguística por parte do falante às diferentes interações sociais, as quais podem variar desde um sim- 9 ples bilhete para os pais até a escrita de uma dissertação. Por essa razão, propõe-se, nesta unidade, uma discussão sobre o que é linguagem e suas implicações sociais, bem como a necessidade de conhecer e dominar as mais diver- sas variantes linguísticas para se adaptar a contextos sociais específicos, de acordo com as necessidades de interação dos sujeitos e em situações reais de comunicação. Recomendamos a leitura do livro “Preconceito Linguístico o que é, como se faz” de Bagno (2007). Veja também o livro “Introdução à Sociolinguística: o tratamento da variação” organizado por Molica e Braga (2010) para compreender melhor a nossa diversidade linguística. Livro disponível através do link: https://bit.ly/2VVjZ- GZ. Acesso em: 04 fev. 2021. BUSQUE POR MAIS “[...] a linguagem não tem apenas a função de informar - de transmitir de forma neutra men- sagens de um emissor a um receptor, até porque o processo não pode ser compreendido somente por esse viés; ela comunica também a posição que o falante ocupa, e, portanto, se constitui em uma arena de jogos onde se travam disputas ideológicas, onde se exercem for- mas de poder. Por isso, precisamos nos adequar a cada contexto comunicativo” (GIORDANI, 2014, p. 02). FIQUE ATENTO O que significa “dominar a língua portuguesa” segundo os estudos linguísticos? Por que é im- portante nos adequarmos linguisticamente a cada situação comunicativa? VAMOS PENSAR? 1.2 LINGUAGEM COMO “EXPERIÊNCIA HUMANA” AGITA [...] eu sou a luz das estrelas Eu sou a cor do luar Eu sou as coisas da vida Eu sou o medo de amar Eu sou o medo do fraco A força da imaginação O blefe do jogador Eu sou, eu fui, eu vou [...] Eu sou os olhos do cego E a cegueira da visão É, mas eu sou o amargo da língua A mãe, o pai e o avô O filho que ainda não veio O início, o fim e o meio O início, o fim e o meio Eu sou o início, o fim e o meio Eu sou o início, o fim e o meio Fonte: Paulo Coelho Souza e Raul Santos Seixas, 1974. https://bit.ly/2VVjZGZ https://bit.ly/2VVjZGZ 10 A discussão proposta neste subtítulo está baseada na introdução da tese de dou- torado de Ramos (2019), intitulada: “Os processos enunciativos e as relações in- terpessoais de (des)colonização simbólica em A árvore das Palavras e L’élégance du hérisson”, na Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais e disponível em: https://bit.ly/3iklaXH. Acesso em: 04 fev. 2021 FIQUE ATENTO Como mostra a letra da música “Gita”, do cantor Raul Seixas, reproduzida acima, so- mos atravessados por muitas experiências e discursos, os quais nos sobrevêm por meios das mais diversas linguagens. Assim, é indiscutível que a linguagem é a “mola-mestra” que condiciona toda e qualquer experiência humana de interação. Para Benveniste(2005) a linguagem está na natureza do homem e, portanto, o constitui e fundamenta a sua rea- lidade, por meio da sua relação com o outro. Assim, é em oposição a este “outro” (eu X tu) que o sujeito adquire a consciência de si mesmo: [...] em toda língua e a todo momento, aquele que fala se apropria desse eu, este eu que [...] posto em ação no dis- curso, aí introduz a presença da pessoa sem a qual ne- nhuma linguagem é possível. Desde que o pronome eu aparece num enunciado, evocando – explicitamente ou não – o pronome tu para se opor conjuntamente a ele, uma experiência humana se instaura de novo e revela o instrumento linguístico que a funda. [...] o pronome eu [...] produz, a cada vez, uma nova pessoa (BENVENISTE, 2005, p. 68-69). Dentro dessa perspectiva da interação humana para a constituição do sujeito, sabe- -se que os processos enunciativos – construídos por meio dos nossos discursos – determi- nam social e ideologicamente (BAKHTIN, 1981) a relação entre os falantes de uma língua. Isso porque cada sujeito irá fazer uso da palavra em situações linguísticas concretas, fun- damentadas no aqui e agora, constitutivas, por sua vez, do discurso que se estabelece em uma dada situação real. Assim, pode-se dizer que é por meio da linguagem que os sujeitos constituem a si mesmos e o mundo que os cerca. Indubitavelmente, somos produto dos discursos que nos atravessaram durante toda a nossa existência por meio da interação com o outro. Segundo a autora Nancy Huston, em seu livro “L’espèce Fabulatrice” (2008), traduzi- do para o português como “A espécie Fabuladora”, nós somos efetivamente constituídos por narrativas. Sendo assim, a nossa identidade é uma construção discursiva, o que impli- ca, por exemplo, todas as informações que foram recebidas e processadas ao longo da vida, como o local de nascimento, as escolhas políticas, a religião etc. Por tudo isso, pode-se concluir que a linguagem já faz parte das nossas vidas desde o nascimento. É a partir dessa capacidade linguística que pertence, segundo Benveniste, à nossa experiência enquanto humanos, é que iremos partir para a (re)descoberta desse saber implícito, em suas muitas possibilidades. https://bit.ly/3iklaXH 11 1.3 LINGUAGEM E PODER O ano de 2020 ficou marcado por muitos acontecimentos históricos importantes, en- tre eles, o movimento contra o racismo nos Estados Unidos, o qual ficou conhecido como “Black lives matter”. Tal movimento, como sabemos, reverberou por todo o mundo e, no Brasil, passou a se chamar “vidas negras importam”. Figura 2: Movimento contra o racismo nos Estados Unidos (Black Lives Matter) Fonte: Disponível em https://bit.ly/3zhZPoV Acesso em: 04 fev. 2021. Como se vê, guardadas as devidas diferenças entre a questão do racismo nos mais diversos países e no Brasil, a frase “vidas negras importam” trouxe a população preta e marginalizada para uma posição de protagonismo. Assim, por meio da linguagem, aque- les que estão à margem puderam exprimir o seu posicionamento social e sua indignação diante da questão do racismo. Por isso, de acordo com o domínio que possuímos das variantes linguísticas, deter- minados lugares sociais serão também colocados diante de nós como lugar de perten- cimento. Por conseguinte, como falantes da língua portuguesa, precisamos conhecer e utilizar com maestria as mais diversas modalidades linguísticas propostas pelo dinamismo de nossa língua, para se apropriar delas de acordo com a situação de interação social que nos será apresentada. Segundo Giordani (2014, p. 02): [...] a linguagem não tem apenas a função de informar - de transmitir de forma neutra mensagens de um emissor a um receptor, até porque o processo não pode ser com- preendido somente por esse viés; ela comunica também a posição que o falante ocupa, e, portanto, se constitui em uma arena de jogos onde se travam disputas ideológicas, onde se exercem formas de poder. Por isso, precisamos nos adequar a cada contexto comunicativo. Essa adequação “a cada contexto comunicativo” de que fala Giordani (2014), já está prevista também nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), os quais apontam para a necessidade de que professores e alunos sejam atores nesse processo de aprendizagem linguístico-discursivo, para que ambos possam construir um saber dialógico que irá pro- porcionar a esses sujeitos um lugar social de fala, de acordo com o contexto comunicativo ao qual serão expostos. Segundo os PCNs (1998): https://bit.ly/3zhZPoV 12 O domínio da linguagem, como atividade discursiva e cognitiva, e o domínio da língua, como sistema simbólico utilizado por uma comunidade linguística, são condições de possibilidade de plena participação social. Pela lingua- gem os homens e as mulheres se comunicam, têm aces- so à informação, expressam e defendem pontos de vista, partilham ou constroem visões de mundo, produzem cul- tura (BRASIL, 1998). Portanto, o saber linguístico proporciona aos falantes, mais do que um conhecimen- to gramatical “engessado”, mas a possibilidade de se colocar no mundo enquanto cida- dãos em busca de um lugar social de fala para uma visão crítica de si mesmo, do outro e do mundo que os cerca. 1.4 LINGUAGEM E ARGUMENTAÇÃO Discutimos até aqui sobre a complexidade das variantes linguísticas da língua por- tuguesa, bem como a respeito da linguagem como inerente à nossa experiência humana e, por fim, sobre o “poder” que o domínio das mais diversas variantes linguísticas pode nos proporcionar em situações comunicativas reais. Por essa razão, podemos, nesse momento, nos aprofundar mais um pouco sobre o viés argumentativo da linguagem. A argumentação pressupõe o domínio não somente gramatical de uma língua, mas dos conhecimentos de mundo de seus falantes, dentro do contexto sociopolítico e cultural no qual estão inseridos. Entretanto, para a construção do seu discurso, o sujeito terá de lançar mão, além de sua experiência e de seu olhar sobre o mundo, dos chamados “ele- mentos articulatórios do texto”, os quais estudaremos na próxima unidade desse material. Tais elementos são essenciais na construção de um texto (falado ou escrito) para estruturar a mensagem que desejamos comunicar ao interlocutor. Vejamos, por hora, a fala, descrita abaixo, do ministro da economia Paulo Guedes: “[...] havia empregada doméstica indo pra Disneylândia, uma festa danada”. Ao ouvirmos ou lermos essa fala do discurso do ministro – o qual discorria sobre o que proporcionou a baixa do dólar para a classe das empregadas domésticas – percebemos o tom de distancia- mento entre “ser empregada doméstica” e “viajar para a Disneylândia” ou “ser pertencente à uma classe social desprivilegiada” e “fazer viagens internacionais”. Em discurso, Paulo Guedes pede desculpas às empregadas domésticas No dia 13 de fevereiro, ministro disse que, na época do dólar mais baixo, ‘havia empregada doméstica indo pra Disneylândia, uma festa danada’. Fonte: Mazui (2020, online). Assim, por trás da construção discursiva de Guedes, outras questões sociais podem ser levantadas, para serem vistas e/ou ouvidas pelo leitor/ouvinte/falante de língua portu- guesa que conhece, evidentemente, o contexto socioeconômico, tanto das classes social- mente privilegiadas quanto daquelas que estão à margem da sociedade brasileira. Para Fiorin (2014, p. 06) “os argumentos são os raciocínios que se destinam a persu- adir, isto é, a convencer ou a comover, ambos meios igualmente válidos de levar a aceitar uma determinada tese”. A “tese”, por sua vez, pode ser definida como “uma proposição 13 que se apresenta para ser demonstrada ou defendida com argumentos” (ACADEMIA BRA- SILEIRA DE LETRAS, 2008). Ora, na fala acima, podemos considerar que a provável “tese” defendida implicitamente pelo ministro é a de que “empregadas domésticas não podem viajar para a Disneylândia”, ou ainda a de que “apenas uma situação econômica incomum, como a baixa do dólar, poderia proporcionar, em caráter de exceção, viagens internacio-nais a pessoas de classes sociais menos favorecidas”. Como se vê, fica aqui, bem demarca- do nesse discurso, entre outras coisas, a complexa estratificação social no Brasil. Por essas e outras razões, precisamos entender a importância de conhecermos não somente as mais diversas variantes linguísticas do português brasileiro, mas também todo o instrumental para a construção de discursos coerentes em situações comunicativas con- cretas. Tendo em vista que a linguagem em uso, com todo o seu dinamismo, pode deixar implícita muitas ambiguidades, as quais favorecem ou não o processo de construção argu- mentativa dos seus interlocutores, no sentido de reverberar desde preconceitos socias até o pensamento crítico mais apurado. 14 1. (Prefeitura de Belo Horizonte - 2015) Leia o texto abaixo e escolha a alternativa correta: “Parece haver cada vez mais, nos dias de hoje, uma forte tendência a lutar contra as mais variadas formas de preconceito, a mostrar que eles não têm nenhum fundamento racional, nenhuma justificativa, e que são apenas o resultado da ignorância, da intolerância ou da manipulação ideológica. Infelizmente, porém, essa tendência não tem atingido um tipo de preconceito muito comum na sociedade brasileira: o preconceito linguístico. Muito pelo contrário, o que vemos é esse preconceito ser alimentado diariamente em programas de televisão e de rádio, em colunas de jornal e revista, em livros e manuais que pretendem ensinar o que é “certo” e o que é “errado”, sem falar, é claro, nos instrumentos tradicionais de ensino da língua: a gramática normativa e os livros didáticos” (BAGNO, 2007, p. 13). Considerando o pensamento de Marcos Bagno explicitado no texto acima e tendo conhecimento das atribuições de um oficial de justiça, chegamos à conclusão de que, nessa atividade, a língua escrita, o nível, o uso ou o registro do idioma deve ser predominantemente: a) Formal, de acordo com os princípios da gramática normativa; b) Informal, em busca de mais ampla compreensão da mensagem; c) Regional, adequando-o ao local onde ocorre a comunicação; d) Popular, tendo em vista que as mensagens são lidas por todos; e) Ultra formal, selecionando vocabulário erudito e construções elaboradas. 2. (FAUEL - 2016 - adaptada) Leia o texto e responda as questões abaixo: “Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São dotados de razão e consciência e devem agir em relação uns aos outros com espírito de fraternidade. Todo indivíduo tem direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal. Toda a pessoa tem direito ao trabalho, à livre escolha do trabalho, a condições equitativas e satisfatórias de trabalho e à proteção contra o desemprego”. O trecho acima foi extraído da Declaração Universal dos Direitos Humanos. A respeito da linguagem empregada nesse texto, é correto afirmar que se trata: a) De linguagem informal e escrita, como uma fala entre pessoas com bastante familiaridade. b) De linguagem formal e falada, inacessível à compreensão dos cidadãos. c) De linguagem formal e escrita, respeitando a norma padrão da língua portuguesa. d) De linguagem informal e oral, acessível à compreensão de qualquer cidadão. e) Da linguagem formal, informal e oral acessível à compreensão de todos. 3. (FGV - 2017 - adaptada) Em São Paulo se diz “bexigas”, enquanto no Rio de Janeiro se diz “balões”. Essa diferença é um exemplo de: a) Linguagem coloquial. FIXANDO O CONTEÚDO 15 b) Gíria. c) Regionalismo. d) Linguagem erudita. e) Arcaísmo. 4. (NUCEPE - 2019 adaptado) Leia o texto para responder à questão. Para dizerem milho, dizem mio Para melhor dizem mió Para pior pió Para telha dizem teia Para telhado dizem teiado E vão fazendo telhados Oswald de Andrade. Poesias reunidas. In.: Obras completas. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1978, p. 47. O poema de Oswald de Andrade, ao ilustrar a maneira como determinadas palavras são pronunciadas, a) Revela total preconceito linguístico do autor, por ironizar os vícios típicos da linguagem matuta. b) Chama-nos a atenção para as diferenças no uso da língua, por apresentar termos que fogem à gramática normativa. c) Critica o modo de falar dos brasileiros, sobretudo das pessoas incultas, que não conhecem as formalidades da língua. Apresenta a norma culta como superior ao coloquialismo presente na fala das pessoas menos esclarecidas. d) Satiriza os falantes que dizem “mio”, “mió”, “pió”, “teia”, “teiado”, por estarem infringindo regras da norma culta. e) Apresenta a norma culta como superior ao coloquialismo presente na fala das pessoas menos esclarecidas. 5. (UFMT – 2019 adaptado) Quanto ao uso dos registros da linguagem, analise as assertivas. I. WhatsApp de adolescente a um amigo: Oi, cara. Vamos no cinema no domingo? Me responde logo. → Linguagem coloquial adequada. II. E-mail de aluna do ensino médio a uma de suas professoras: Envio-lhe este e-mail para justificar minha falta ontem, que era dia de prova. Infelizmente, amanheci muito mal, com dores pelo corpo. Amanhã levarei atestado médico. Atenciosamente; → Linguagem culta adequada. III. Ligação telefônica de estudante universitário à secretaria de seu curso: Aí, cara, tô ligando pra saber se amanhã vai ter aula, se vão abrir o portão. → Linguagem coloquial adequada. Está correto o que se afirma em: a) III, apenas. b) I e II, apenas. c) I, II e III. 16 d) II e III, apenas. e) II apenas. 6. Observe o diálogo: “Mamãe, vou me preparar para ir à escola” “O sol está muito forte, meu filho!” Em uma situação comunicativa concreta, quando uma mãe diz ao filho que se prepara para ir à escola a seguinte frase: “o sol está muito forte”, está implícito nesse argumento que: a) O filho não dever ir à escola. b) O filho deve priorizar dias menos quentes para ir à escola. c) O filho não deve se proteger contra o sol. d) O filho não está habituado a se expor ao sol. e) O filho deve levar uma sombrinha ou um guarda-sol. 7. (FADESP - adaptada) Conforme estudamos, como falantes da língua portuguesa, precisamos conhecer e utilizar com maestria as mais diversas modalidades linguísticas propostas pelo dinamismo de nossa língua, para se apropriar delas de acordo com a situação de interação social que nos será apresentada. No caso da linguagem coloquial, podemos dizer que ela apresenta a) Maior dependência contextual. b) Sintaxe mais complexa. c) Traços de homogeneidade. d) Maior grau de planejamento. e) Menos argumentatividade. 8. (UESPI - 2014 adaptada) Leia, a seguir, trechos de uma entrevista concedida pelo Presidente do Tribunal Superior Eleitoral e ministro do Supremo Tribunal Federal, Marco Aurélio Mello, à Revista Veja, para responder à questão proposta. Veja: Nos últimos meses, houve uma série de manifestações no Brasil. Agora, há rolezinhos em shopping centers. A sociedade e as autoridades estão sabendo lidar com essas situações? Ministro: Aquela crença de que o brasileiro é pacífico é falsa. O brasileiro protesta, sim. A situação chegou a um limite extremo, os serviços prestados são tão ruins que há um inconformismo generalizado. Mas a sociedade não é vítima quando a situação política chega a esse ponto, ela é culpada. Reclama do governo e se esquece de que quem colocou os políticos lá foi ela própria. A manifestação é uma maneira legítima de mostrar sua insatisfação com a vida nacional. Razões para protestar não faltam. Ainda mais com a carga tributária que temos, que mais parece um confisco. Mas todos precisam perceber que são culpados pela situação [...] 17 Veja: A situação das prisões brasileiras é medieval. A falta de ação dos governos para melhorá-las contribui para o aumento da criminalidade? Ministro: Exatamente. A população carcerária provisória chegou ao mesmo número da população definitiva, quando se prega na Constituição que só se pode prender depois de assentada a culpa. Mas, no afã de dar uma satisfação vã à sociedade, transformou-se a regra - o cidadão responder ao processo em liberdade - em exceção. Com isso,o Estado não respeita a integridade do preso. As condições são desumanas e não há ressocialização dos presos. Por isso os índices de reincidência são altíssimos. O preso não sai reeducado para a vida em sociedade. Ele sai embrutecido. Revista VEJA. Editora ABRIL. Edição 2360 - ano 47 - nº 7 - 12 de fevereiro de 2014 - p. 16. Por Otávio Cabral. A entrevista é um evento comunicativo que se realiza sob condições contextuais específicas. A entrevista, acima, desenvolve-se a partir de uma linguagem com características de norma a) Culta, na modalidade oral. b) Coloquial, na modalidade escrita. c) Culta, na modalidade escrita. d) Popular, na modalidade escrita e) Informal, na modalidade oral. 18 TEXTO E COMUNICAÇÃO UNIDADE 02 19 2.1 INTRODUÇÃO Na charge abaixo, observamos que a frase escrita no quadro – “O eleitor confia na honestidade dos políticos” – é interpretada pelo aluno/leitor, a partir da pergunta feita pela professora – “Quem é o sujeito da oração?” – de forma a identificar este “quem” como uma pessoa que merece críticas por ainda acreditar na inteireza moral dos políticos brasileiros. Figura 3: Crítica à política do Brasil Fonte: Disponível em https://bit.ly/2Up2AG5. Acesso em: 04 fev. 2021. Tal resposta inusitada do aluno, contraria a intenção da professora, a qual desejava demonstrar, simplesmente, os termos gramaticais da referida oração. Isso porque o estu- dante se coloca, implicitamente, como um sujeito pertencente ao contexto sociopolítico brasileiro, marcado, indiscutivelmente, por diversos casos de corrupção. Pode-se dizer, portanto, que o exemplo acima expõe o complexo processo de co- municação por meio do texto. Ora, como sabemos, uma construção textual, por menor que seja, não é um emaranhado de elementos soltos e desconexos. Com efeito, quer seja na fala ou na escrita, é preciso que tais elementos estejam bem articulados, para que haja uma comunicação inteligível entre os sujeitos. Daí a importância de se conhecer os mecanismos responsáveis tanto pela coesão quanto pela coerência textuais, embora esta última se dê, efetivamente, no momento da interação entre leitor/ouvinte e texto, como podemos inferir pelo exemplo da charge aci- ma. Vejamos, agora, com mais detalhes, os conceitos de coerência e coesão textual. Recomendamos a leitura dos livros “A coesão textual” de Koch (2010) e “A coerência textual” dos autores Koch e Travaglia (2010). Ambos disponíveis na Biblioteca Virtual Pearson. Tais obras o ajudarão a compreender melhor os mecanismos linguísticos de coesão e coe- rência textual na língua portuguesa. Ambos estão disponíveis, res- pectivamente, nos links: https://bit.ly/3ioq1Y0 e https://bit.ly/3hL1wVU. Acesso em: 05 fev. 2021. BUSQUE POR MAIS https://bit.ly/2Up2AG5 https://bit.ly/3ioq1Y0 https://bit.ly/3hL1wVU. 20 “O domínio da língua tem estreita relação com a possibilidade de plena participação social; é por meio dela que o homem se comunica, expressa seu pensamento através de palavras, frases, orações, períodos, textos. Assim, ele constrói conceitos de mundo, adquire e produz conhecimento e se constitui como sujeito” (SILVA; FAVERO, 2020, p. 03). FIQUE ATENTO Qual é a importância de construirmos um texto (falado ou escrito) de forma coerente e coesa? Quais os tipos de equívocos que podemos provocar ao nos comunicarmos de forma inadequa- da tanto na fala quanto na escrita? VAMOS PENSAR? 2.2 COERÊNCIA TEXTUAL Ao lermos o título da reportagem abaixo, retirada do jornal carioca “Hora de notícias” e publicada no site Uol em 2011, percebemos que a ambiguidade provocada pela palavra “programa” conduz o leitor para os efeitos de humor presentes no referido título. “Fátima abandona Bonner e vai fazer programa”, brinca jornal carioca Fonte: Disponível em https://bit.ly/3ivSZp8. Acesso em: 05 fev. 2021. Exemplo citado, mas não totalmente desenvolvido por Lopes (2014) no verbete “Coerência textual” do Glossário CEALE da Universidade Federal de Minas Gerais. A referida autora ape- nas afirma que: “[...] o título de matéria jornalística ‘Fátima abandona Bonner e vai fazer programa’, veiculado em um jornal carioca, em dezembro de 2011, [...] exigirá do leitor a capa- cidade de ativar conhecimentos de várias ordens – não somente linguísticos, mas semântico- -sintáticos, pragmáticos, contextuais, socioculturais.” FIQUE ATENTO Entretanto, para que tal interpretação seja possível, é preciso que o leitor também estabeleça a relação entre a conotação pejorativa da expressão “fazer programa” e do sig- nificado denotativo implícito no título: “fazer programa (de televisão)”. Além disso, para tal processo comunicativo, outros fatores são igualmente impor- tantes, como o público-alvo do jornal de viés popular “Hora de notícias”, bem como os pre- conceitos sociais que giram em torno da figura do feminino, para a qual é direcionada a expressão ambígua citada no título. Ademais, deve-se considerar também os sujeitos que são alvos da reportagem, quais sejam, os jornalistas de renome Willian Bonner e Fátima Bernardes, os quais passaram por um processo de divórcio. Assim, esses e outros elemen- tos, tornam o título da reportagem coerente para o seu público leitor. Desse modo, ainda que não estejamos de acordo com o tipo de ironia proposto pelo 21 jornal citado acima, percebemos que a proposta de leitura/interpretação ali construída de- pende de “[...] uma ação altamente colaborativa do público-alvo, no sentido de mobilizar inferências que serão testadas na busca pela atribuição de coerência [...]” (LOPES, 2014, online) Dentro dessa perspectiva da colaboração do interlocutor para o estabelecimento da coerência textual, vejamos, agora, exemplos de “incoerência”, de acordo com Koch e Trava- glia (2010, p. 09): [...] (1) Maria tinha lavado a roupa quando chegamos, mas ainda estava lavando a roupa. (2) João não foi à aula, entretanto estava doente. (3) A galinha estava grávida. Conforme Koch e Travaglia (2010), os exemplos acima apresentam os seguintes pro- blemas de incoerência textual: em (1) a ação de “lavar roupa” apresenta-se, ao mesmo tem- po, acabada e inacabada; em (2) o uso incorreto do “entretanto” compromete a relação de causa entre a ausência de João à aula e o fato dele estar doente. Já em (3), para os referi- dos autores, a incoerência só poderia ser considerada se o texto estivesse representando o mundo real e não uma fábula, por exemplo. Ainda segundo os mesmos autores, vejamos mais um exemplo, retirado de Marcus- chi (1983) apud Koch e Travaglia (2010, p. 15), sobre problemas relativos à falta de coerência textual: João vai à padaria. A padaria é feita de tijolos. Os tijolos são caríssimos. Também os mísseis são caríssimos. Os mísseis são lançados no espaço. Segundo a teoria da Relativida- de o espaço é curvo. A geometria rimaniana também dá conta desse fenômeno. Neste excerto, é possível perceber que há elementos que apontam para uma certa coesão, como a retomada, por exemplo, das palavras “tijolos” e “mísseis”. No entanto, não é possível estabelecer nessa sequência o que os referidos autores denominam de “continui- dade/unidade de sentido”, denotando, assim, a incoerência do texto acima citado. Entretanto, há textos que mesmo na total ausência de elementos coesivos – os quais veremos mais adiante nessa unidade – são efetivamente coerentes, como é o caso do se- guinte trecho do conto “Circuito Fechado” de Ricardo Ramos: “Chinelos, vaso, descarga. Pia, sabonete. Água. Escova, creme dental, água, espuma, creme de barbear, pincel, espuma, gilete, água, cortina, sabonete, água fria, água quente, toalha. Creme para cabelo, pente” (RAMOS, 1994, p. 01). Para concluir, podemos afirmar, a partir de todos os exemplos acima citados, que a coerência textual não se dá, exatamente, pela presença e/ou ausência de elementos coe- sivos, mas sim, pela ação sociointeracional dos seus interlocutores (autor/leitor; falante/ou- vinte). Portanto, “o texto será incoerente se seu produtor nãosouber adequá-lo à situação, levando em conta destinatários; regras socioculturais, uso dos recursos linguísticos, etc.” (KOCH; TRAVAGLIA, 2010, p. 61). 22 2.3 COESÃO TEXTUAL ITAPARICA Dona de uma luminosidade fantástica em seus 240 quilômetros quadrados, a ilha de Ita- parica elegeu a liberdade como padrão e fez da aventura uma experiência que não tem hora para começar. Ali tudo flui espontaneamente, desde que o sol nasce, anunciando mais um dia, até a noite chegar, com o luar refletindo no mar e as luzes de Salvador como pano de fundo. De resto, a ilha funciona como um quebra-mar que protege todo o interior da Baía de Todos os Santos. É a maior de todas as 54 da região – a ilha-mãe, para melhor definir a geografia local [...] Fonte: Extraído de Koch (2010, p. 29) De acordo com o exemplo dado acima, todos os elementos em destaque: “Dona de uma luminosidade fantástica”, “Ali”, “a ilha” e “de todas as 54”, retomam “a ilha de Itapa- rica”. Tal encadeamento proporciona a construção de sentido do texto, de modo a evitar também repetições desnecessárias e outros problemas de textualidade, pois “é por meio de mecanismos como estes que se vai tecendo o “tecido” (tessitura do texto). A este fenô- meno é que se denomina coesão textual (KOCH, 2010). Entretanto, quando tais mecanismos não são bem empregados, perde-se a coesão do texto, o que prejudica o processo comunicativo e os efeitos de sentido que se deseja construir por meio de um texto falado ou escrito. Veja-se, por exemplo, o seguinte texto, extraído do trabalho acadêmico de Sias (2014, p. 28, grifo nosso): [...] minha gestora que ao se dedicar demais ao trabalho, não conseguiu superar os problemas do dia à dia e ad- quiriu a doença Síndrome do Pânico, pois ela atendia vá- rias pessoas com vários problemas e reclamações que à estressava demais e como ela não podia expressa tudo aquilo que ela sentia, chegou um dia [em] que ela não podia ver ninguém subindo as escadas que ela Já acha- va que era cliente e se desesperava à chorar, precisaram transferir(sic) ela para outra sala para que ela não visse mais ninguém. [...] Sugestão de reescrita – [...] minha gestora, que ao se dedi- car demais ao trabalho não conseguiu superar os proble- mas do dia a dia e adquiriu a doença Síndrome do Pâni- co, pois ela atendia várias pessoas com vários problemas e reclamações que a estressavam demais, e como não podia expressar tudo aquilo que sentia, chegou um dia [em] que não podia ver ninguém subindo as escadas que já achava que era cliente e se desesperava a chorar; pre- cisaram transferi-la para outra sala para que não visse mais ninguém. 23 Como se vê, o texto apresentado e corrigido por Sias (2014) apresenta vários pro- blemas para retomar o referente “minha gestora”, os quais foram resolvidos por meio da retirada das várias repetições do pronome “ela”, e pela utilização do pronome oblíquo “la”. Assim, tanto no primeiro texto intitulado “Itaparica”, quanto nesses últimos de Sias (2014), ocorre aquilo que Koch (2010, p. 30) caracteriza como “coesão referencial”, na qual “certos elementos linguísticos do texto fazem, de alguma forma, remissão a um determinado ele- mento anterior”. No primeiro caso, por exemplo, vimos as várias referências à ilha de Itapa- rica. Já no segundo, a tentativa de fazer a referenciação textual é prejudicada, como vimos, pelo excesso de repetição do pronome “ela”. Entretanto, há também outras formas de se estabelecer essas conexões coesivas, como, por exemplo, [...] a) pelos recursos da reiteração (repetições, paráfrases, retomadas pronominais, retomadas por palavras sinô- nimas ou por hiperônimos); b) pela associação de senti- do entre as palavras do texto (palavras semanticamente afins); c) pelo uso dos diferentes tipos de conectores (pre- posições, conjunções, advérbios e respectivas locuções) (ANTUNES, 2021, online). Para exemplificar o que diz o excerto acima, a respeito dos conectores, vejamos um trecho de “O Cortiço 81-100” de Aluízio Azevedo: [...] um mundo habitado por seres superiores; um paraíso de gozos excelentes e delicados, que os seus grosseiros sentidos repeliam; um conjunto harmonioso e discreto de sons e cores mal definidas e vaporosas; um quadro de manchas pálidas, sussurrantes, sem fir- mezas de tintas, nem contornos, em que se não determinava o que era pétala de rosa ou asa de borboleta, murmúrio de brisa ou ciciar de beijos. Não obstante, ao lado dele a crioula roncava, de papo para o ar, gorda, estrompada de serviço, tresandando a uma mistura de suor com cebola crua e gordura podre. Mas João Romão nem dava por ela; só o que ele via e sentia era todo aquele voluptuoso mundo inacessível vir descendo para a terra, chegando-se para o seu alcance, lentamente, acen- tuando-se.” [...] “Houve um silêncio, no qual o desgraçado parecia arrancar de dentro uma frase que, no entanto, era a única ideia que o levava a dirigir-se à mulher. Afinal, depois de coçar mais vivamente a cabeça, gaguejou com a voz estrangulada de soluços” AZEVEDO, Aluísio. O Cortiço. São Paulo: Ática. 1981. Como se vê, no trecho do texto literário acima, ocorre o que Koch (2010, p. 60) deno- mina de “coesão sequencial”, na qual “[...] a progressão se faz por meio de sucessivos enca- deamentos, assinalados por uma série de marcas linguísticas através das quais se estabe- lecem relações entre os enunciados”. Tais “marcas linguísticas” de que fala Koch (2010), são demonstradas no referido trecho de “O Cortiço” por meio das conjunções, respectivamen- te, aditivas (e), adversativas (não obstante, mas, no entanto) e conclusivas (afinal). Assim, no caso do uso da conjunção “não obstante”, por exemplo, observa-se que 24 há um nítido contraste entre a cena anterior a esse conectivo e a que vem após ele. Na primeira, descreve-se “um mundo habitado por seres superiores”, “um paraíso de gozos”, no entanto, após o uso do conectivo em questão, a cena passa a se opor totalmente a esse “mundo perfeito”, tornando-se grotesca, com a descrição pejorativa da personagem Berto- leza, como “a crioula que roncava de papo para o ar”. Vejamos alguns exemplos de conec- tores no quadro abaixo: Outros conectores Aditivas: ligam dois termos ou duas orações Exemplo: “Pulei do banco e gritei de alegria”. e, nem [= e não] Adversativas: ligam duas orações com ideias opostas Exemplo: “Seu quarto é pobre, mas nada lhe falta”. mas, porém, todavia, contudo, no entan- to, entretanto, não obstante. Alternativas: ligam dois termos ou duas ora- ções de sentido distinto Exemplo: “Ou eu me retiro ou tu te afastas” ou...ou; ora...ora; quer...quer...seja...seja...; nem...nem, já....já. Conclusivas: servem para ligar à anterior uma oração que exprime conclusão, consequência. Exemplo: “Julia não se preparou para o vestibu- lar, portanto, não obteve bons resultados”. logo, pois, portanto, por conseguinte, por isso, assim, então. Explicativas: ligam duas orações, a segunda das quais justifica a ideia contida na primeira. Exemplo: “Vamos comer, Açucena, que estou morrendo de fome”. que, porque, pois, porquanto. Concessivas: indica um fato contrário à ação principal, mas não é capaz de impedi-lo ou mo- dificá-lo, indicando uma “contraste”, uma opo- sição. Exemplo: “Flora prefere permanecer no Brasil, ainda que o país esteja em crise”. embora, conquanto, ainda que, mesmo que, posto que, bem que, se bem que, apesar de que, nem que, não obstante etc. Causais: indicam uma justificativa ou explica- ção para a oração anterior. Exemplo: Dona Luísa fora para lá porque estava só. porque, pois, porquanto, como [= por- que], pois que, por isso que, já que, uma vez que, visto como, que etc. Consecutivas: indicam a consequência do que foi declarado na oração anterior. Exemplo: Soube que tivera uma emoção tão grande que Deus quase a levou. que, de forma que, de maneira que, de modo que, de sorte que etc. Quadro 1: Exemplo de outros conectores Fonte: Adaptado de Cunha (2012, p. 335-338). Portanto, éjustamente este “jogo” dos conectores que vai estabelecer a coesão tex- tual e que também vai conferir sentido ao texto, estabelecendo, assim, um processo comu- nicativo eficiente e claro, daí a importância da utilização destas marcas linguísticas. 25 1. Enem 2011) Leia o texto abaixo: Cultivar um estilo de vida saudável é extremamente importante para diminuir o risco de infarto, mas também de problemas como morte súbita e derrame. Significa que manter uma alimentação saudável e praticar atividade física regularmente já reduz, por si só, as chances de desenvolver vários problemas. Além disso, é importante para o controle da pressão arterial, dos níveis de colesterol e de glicose no sangue. Também ajuda a diminuir o estresse e aumentar a capacidade física, fatores que, somados, reduzem as chances de infarto. Exercitar-se, nesses casos, com acompanhamento médico e moderação, é altamente recomendável. ATALIA, M. Nossa vida. Época. 23 mar. 2009. As ideias veiculadas no texto se organizam estabelecendo relações que atuam na construção do sentido. A esse respeito, identifica-se, no fragmento, que a) A expressão “Além disso” marca uma sequenciação de ideias. b) O conectivo “mas também” inicia oração que exprime ideia de contraste. c) O termo “como”, em “como morte súbita e derrame”, introduz uma generalização. d) O termo “Também” exprime uma justificativa. e) O termo “fatores” retoma coesivamente “níveis de colesterol e de glicose no sangue”. 2. (UFPR 2010) Entrou em vigor a lei que converte em presunção de paternidade a recusa dos homens em fazer teste de DNA. Assinale a alternativa cujo texto pode ser concluído coerentemente com essa afirmação. a) Sara Mendes deu início a um processo na justiça, para que Tiago Costa assuma a paternidade de seu filho Cássio. Tiago não fez o exame de DNA, mas assume como muito provável ser ele o pai do menino. Cássio alega que o exame não é conclusivo, pois entrou em vigor a lei que converte em presunção de paternidade a recusa dos homens em fazer teste de DNA. b) Adriano é um rapaz muito presunçoso e não admite que lhe cobrem nada. A namorada lhe pediu um exame de DNA, para esclarecer a paternidade de Amanda, sua filha. Adriano disse que não faria o exame. A namorada disse que toda essa presunção serviria para o juiz atestar a paternidade, pois entrou em vigor a lei que converte em presunção de paternidade a recusa dos homens em fazer teste de DNA. c) Carlos de Almeida responde processo na justiça por não querer reconhecer como seu o filho de Diana Santos, sua ex-namorada. Carlos se recusou a fazer o exame de DNA, o que permite ao juiz lavrar a sentença que o indica como pai da criança, porque entrou em vigor a lei que converte em presunção de paternidade a recusa dos homens em fazer teste de DNA. d) Alessandro presume que Caio seja seu filho. Sugeriu a Telma um exame de DNA. Telma disse não ser necessário, pois entrou em vigor a lei que converte em presunção de paternidade a recusa dos homens em fazer teste de DNA. e) Mário e Felipe são primos. Mário é extremamente vaidoso, pretensioso. Felipe é um rapaz FIXANDO O CONTEÚDO 26 calmo e muito simples. Os dois namoraram Teresa na mesma época. Teresa teve uma filha e entrou na justiça para exigir dos dois primos um exame de DNA. O juiz disse que não era necessário, pois entrou em vigor a lei que converte em presunção de paternidade a recusa dos homens em fazer teste de DNA. 3. (ENEM 2010) Leia o texto abaixo: O Flamengo começou a partida no ataque, enquanto o Botafogo procurava fazer uma forte marcação no meio campo e tentar lançamentos para Victor Simões, isolado entre os zagueiros rubro-negros. Mesmo com mais posse de bola, o time dirigido por Cuca tinha grande dificuldade de chegar à área alvinegra por causa do bloqueio montado pelo Botafogo na frente da sua área. No entanto, na primeira chance rubro-negra, saiu o gol. Após cruzamento da direita de Ibson, a zaga alvinegra rebateu a bola de cabeça para o meio da área. Kléberson apareceu na jogada e cabeceou por cima do goleiro Renan. Ronaldo Angelim apareceu nas costas da defesa e empurrou para o fundo da rede quase que em cima da linha: Flamengo 1 a 0. O texto, que narra uma parte do jogo final do Campeonato Carioca de futebol, realizado em 2009, contém vários conectivos, sendo que: a) Após é conectivo de causa, já que apresenta o motivo de a zaga alvinegra ter rebatido a bola de cabeça. b) Enquanto tem um significado alternativo, porque conecta duas opções possíveis para serem aplicadas no jogo. c) No entanto tem significado de tempo, porque ordena os fatos observados no jogo em ordem cronológica de ocorrência. d) Mesmo traz ideia de concessão, já que “com mais posse de bola”, ter dificuldade não é algo naturalmente esperado. e) Por causa de indica consequência, porque as tentativas de ataque do flamengo motivaram o botafogo a fazer um bloqueio. 4. (ENEM 2014) Leia o texto abaixo. Há qualquer coisa de especial nisso de botar a cara na janela em crônica de jornal ‒ eu não fazia isso há muitos anos, enquanto me escondia em poesia e ficção. Crônica algumas vezes também é feita, intencionalmente, para provocar. Além do mais, em certos dias mesmo o escritor mais escolado não está lá grande coisa. Tem os que mostram sua cara escrevendo para reclamar: moderna demais, antiquada demais. Alguns discorrem sobre o assunto, e é gostoso compartilhar ideias. Há os textos que parecem passar despercebidos, outros rendem um montão de recados: “Você escreveu exatamente o que eu sinto”, “Isso é exatamente o que falo com meus pacientes”, “É isso que digo para meus pais”, “Comentei com minha namorada”. Os estímulos são valiosos pra quem nesses tempos andava meio assim: é como me botarem no colo ‒ também eu preciso. Na verdade, nunca fui tão posta no colo por leitores como na janela do jornal. De modo que está sendo ótima, essa brincadeira séria, com alguns textos que iam acabar neste livro, outros espalhados por aí. Porque eu levo a sério ser sério… mesmo quando parece que estou brincando: essa 27 é uma das maravilhas de escrever. Como escrevi há muitos anos e continua sendo a minha verdade: palavras são meu jeito mais secreto de calar. LUFT, L. Pensar é transgredir. Rio de janeiro: Record, 2004. Os textos fazem uso constante de recurso que permitem a articulação entre suas partes. Quanto à construção do fragmento, o elemento a) “nisso” introduz o fragmento “botar a cara na janela em crônica de jornal”. b) “assim” é uma paráfrase de “é como me botarem no colo”. c) “isso” remete a “escondia em poesia e ficção”. d) “alguns” antecipa a informação “É isso que digo para meus pais”. e) “essa” recupera a informação anterior “janela do jornal”. 5. (ENEM 2010) Leia o texto abaixo. Os filhos de Anna eram bons, uma coisa verdadeira e sumarenta. Cresciam, tomavam banho, exigiam para si, malcriados, instantes cada vez mais completos. A cozinha era enfim espaçosa, o fogão enguiçado dava estouros. O calor era forte no apartamento que estavam aos poucos pagando. Mas o vento batendo nas cortinas que ela mesma cortara lembrava- lhe que se quisesse podia parar e enxugar a testa, olhando o calmo horizonte. Como um lavrador. Ela plantara as sementes que tinha na mão, não outras, mas essas apenas. LISPECTOR, C. Laços de família. Rio de Janeiro: Rocco, 1998. A autora emprega por duas vezes o conectivo mas no fragmento apresentado. Observando aspectos da organização, estruturação e funcionalidade dos elementos que articulam o texto, o conectivo mas: a) Expressa o mesmo conteúdo nas duas situações em que aparece no texto. b) Quebra a fluidez do texto e prejudica a compreensão, se usado no início da frase. c) Ocupa posição fixa, sendo inadequado seu uso na abertura da frase. d) Contém uma ideia de sequência temporal que direciona a conclusão do leitor. e) Assume funções discursivas distintas nos dois contextos de uso. 6. (UFPR 2010) Leia o trecho abaixo. Os economistas são entendidos em mercado financeiro. Os economistasdescreveram os efeitos dos juros. Os juros são altos. Todos os efeitos são arrasadores. Assinale a alternativa em que as informações acima foram reunidas adequadamente e sem ambiguidade. a Os economistas que são entendidos em mercado financeiro descreveram os efeitos dos juros altos, que são arrasadores. b) Os economistas entendidos em mercado financeiro descreveram os efeitos que são 28 arrasadores dos altos juros. c) Entendidos em mercado financeiro, os economistas descreveram os efeitos dos altos juros que são arrasadores. d) Em relação aos juros altos, os economistas, entendidos em mercado financeiros, descreveram os efeitos que são arrasadores. e) Os economistas, que são entendidos em mercado financeiro, descreveram os efeitos, arrasadores, dos juros, que são altos. 7. (UDESC 2008) Identifique a ordem em que os períodos devem aparecer, para que constituam um texto coeso e coerente. I. Elas não são mais feitas em locais precários, e sim em grandes estúdios onde há cuidado com a higiene. II. As técnicas se refinaram: há mais cores disponíveis, os pigmentos são de melhor qualidade e ferramentas como o laser tornaram bem mais simples apagar uma tatuagem que já não se quer mais. III. Vão longe, enfim, os tempos em que o conceito de tatuagem se resumia à velha âncora de marinheiro. III. Vão longe, enfim, os tempos em que o conceito de tatuagem se resumia à velha âncora de marinheiro. IV. Nos últimos dez ou quinze anos, fazer uma tatuagem deixou de ser símbolo de rebeldia de um estilo de vida marginal. Assinale a alternativa que contém a sequência correta, em que os períodos devem aparecer. a) II, I, III, IV b) IV, II, III, I c) IV, I, II, III d) III, I, IV, II e) I, III, II, IV 8. (FCC 2007) O emprego do elemento sublinhado compromete a coerência da frase: a) Cada época tem os adolescentes que merece, pois estes são influenciados pelos valores socialmente dominantes. b) Os jovens perderam a capacidade de sonhar alto, por conseguinte alguns ainda resistem ao pragmatismo moderno. c) Nos tempos modernos, sonhar faz muita falta ao adolescente, bem como alimentar a confiança em sua própria capacidade criativa. d) A menos que se mudem alguns paradigmas culturais, as gerações seguintes serão tão conformistas quanto a atual. e) Há quem fique desanimado com os jovens de hoje, porquanto parece faltar-lhes a capacidade de sonhar mais alto. 29 CONCORDÂNCIA NOMINAL E VERBAL UNIDADE 03 30 3.1 CONCORDÂNCIA NOMINAL Concordância Nominal Na regra geral o artigo, o adjetivo, o numeral e o pronome concordam em gênero e número com o substantivo a que se referem. Bela paisagem / Belas paisagens Amigo sincero / Amigos sinceros Oh. oh. oh.. Adjetivo antes de dois ou mais substantivos, concorda com o substantivo mais próximo. Paula usava estrondoso chapéu e camisa. Paula usava estrondosa camisa e chapéu. Adjetivo depois de dois ou mais substantivos, temos duas opções: ou concorda com o mais próximo ou concorda com os dois. Adjetivo antes de dois ou mais substantivos, Paula usava chapéu e camisa estrondosa. Paula usava chapéu e camisa estrondosos. Mas tome cuidado com os substantivos personativos: Paula visitou os queridos tio e sobrinha. Oh. oh. oh.. Mais de um adjetivo modificando um único substantivo, temos duas opções: o substantivo pode ir para o plural ou para o singular. Substantivo no plural e sem artigo antes dos adjetivos. Apreciava as obras inglesa, espanhola e japonesa. Substantivo no singular com os artigos antes dos adjetivos. Apreciava a obra inglesa, a espanhola e a japonesa. Substantivo no singular sem os artigos antes dos adjetivos. Apreciava a obra inglesa, espanhola e japonesa. Fonte: Disponível em https://bit.ly/3eyekNq. Acesso em: 06 fev. 2021. Conforme a letra da música “Concordância Nominal” citada acima, esta regra gra- matical ocorre nas relações entre adjetivos, pronomes, numerais e artigos com o substan- tivo. Sendo assim, todas as referidas categorias gramaticais sofrerão uma flexão em gênero e número para se ajustarem ao substantivo ao qual se referem (CUNHA, 2012). Para conhecermos tais regras, é preciso, sem sombra de dúvida, recorrermos à gra- mática, pois esse conhecimento será consolidado pela compreensão dos modelos já es- tabelecidos dentro da língua portuguesa, bem como pela prática em textos (escritos ou orais) e em exercícios de fixação. Estudaremos, pois, no próximo item, as referidas regras de concordância nominal segundo a gramática da língua portuguesa. 31 Recomendamos a consulta do livro “Manual compacto de redação e interpre- tação de texto – ensino fundamental”, disponível na Biblioteca Virtual Pearson. Disponível em: 06 fev. 2021. Disponível em: https://bit.ly/3ezy2Iy. Acesso em: 06 fev. 2021. BUSQUE POR MAIS Ouça também a música “Concordância Nominal” da banda “Sujeito simples”, disponível em: https://bit.ly/3zbnXJI. Acesso em: 06 fev. 2021. Ambas as referências acima o ajudarão a compreender melhor as regras para uma boa escrita em língua portuguesa. A expressão “em anexo” é invariável! Exemplo 1: Em anexo segue a procuração. FIQUE ATENTO A “concordância nominal” ocorre, conforme a gramática da língua portuguesa, nas relações entre adjetivos, pronomes, numerais e artigos com o substantivo. VAMOS PENSAR? 3.2 REGRAS BÁSICAS DA CONCORDÂNCIA NOMINAL Recorremos à gramática é a forma mais simples e eficiente de rememorarmos ou aprendermos certas regras que nos ajudam a aperfeiçoar a escrita e a fala, no que concer- ne à norma culta padrão da língua portuguesa. Pois, como vimos na Unidade I deste livro, todas as variantes da nossa língua são úteis em situações reais de interação. Esta é a razão pela qual não podemos negligenciar tal aprendizado. Por tudo isso, adaptamos abaixo, se- gundo Cunha (2012), algumas regras da concordância nominal. ADJETIVO REFERIDO A UM SUBSTANTIVO O adjetivo, quando se refere a um único substantivo, com ele concorda em gênero (masculino ou feminino) e número. Exemplo: “Os outros anjinhos olhavam espantados” ADJETIVO REFERIDO A MAIS DE UM SUBSTANTIVO Quando o adjetivo vem antes dos substantivos, ele con- corda em gênero e número com o substantivo mais pró- ximo, ou seja, com o primeiro deles Exemplo 1: “Vivia em tranquilos bosques e montanhas” ou “Vivia em tranquilas montanhas e bosque” Exemplo 2: “Tinha por ele alto respeito e admiração” ou “Tinha por ele alta admiração e respeito” https://bit.ly/3ezy2Iy https://bit.ly/3zbnXJI 32 Quadro 2: Regras de concordância nominal Fonte: Adaptado de Cunha (2012, p. 157-160). Vejamos, agora, outras regras básicas de concordância nominal retiradas, com algu- mas adaptações, do livro organizado pela autora Muniz (2011). Em execeção à regra, quando os substantivos são nomes próprios ou nomes de parentes- co, o adjetivo vai sempre para o plural. Exemplo: “Maria passeava com as formosas prima, irmã e tia.” QUANDO O ADJETIVO VEM DEPOIS DOS SUBSTANTIVOS Se os substantivos são de mesmo gênero e do singular, o adjetivo conserva o gênero dos substantivos e vai para o plural ou concorda com o substantivo mais próximo. Exemplo 1: “Estudo a língua e a literatura portuguesas” ou Estudo a língua e a literatura portuguesa”. Se os substantivos são de gêneros diferentes e do sin- gular, o adjetivo vai para o masculino plural ou concorda com o substantivo mais próximo. Exemplo 2: “A professora estava com uma saia e um cha- péu escuros” ou “A professora estava com uma saia e um chapéu escuro”. Se os substantivos são de gêneros e números diferentes, o adjetivo pode ir para o masculino plural (concordância mais comum) ou para o gênero e o número dos substan- tivos mais próximos. Exemplo 3: “Tinha irmão e irmãs dedicados” ou “Tinha irmão e irmãs dedicadas”. UM E OUTRO (NUM E NOUTRO) O substantivo fica no singular e o adjetivo vai para o plural. Exemplo: “Numa e noutra questão complicadas ela se confundia” ANEXO, INCLUSO, PRÓPRIO, OBRIGADO Por serem adjetivos, concordam com o substantivo a que se referem.Exemplo 1: “Seguem anexos os relatórios” Exemplo 2: “Os documentos estão inclusos no processo” Exemplo 3: “Obrigado, disse o rapaz” Exemplo 4: “Obrigada, disse a moça” Exemplo 5: “Elas próprias resolveram os exercícios” A expressão “em anexo” é invariável. Exemplo 6: “Em anexo segue a procuração” ou “Em anexo seguem o despacho” MESMO, BASTANTE Tanto podem ser advérbios como pronomes. Quando forem advérbios (acompanhando verbos, adjetivos e outros advérbios), permanecem invariáveis. Exemplo 1: “Os alunos resolveram mesmo o problema” Exemplo 2: “Eles chegaram bastante cedo no aeroporto” Quando são pronomes, concordam com a palavra a que se referem. Exemplo 4: “Os alunos mesmos resolveram o problema” Exemplo 5: “Havia bastantes razões para ela reclamar” 33 MENOS, ALERTA São palavras invariáveis. Exemplo 1: “O Amazonas é o Estado menos populoso do Brasil” Exemplo 2: “Havia menos alunos na sala hoje” Exemplo 3: “Os soldados estavam alerta” Quando for numeral (= metade), será variável e concorda com a pala- vra que se refere. Exemplo 4: “Tomou meia garrafa de champanhe” Exemplo 5: “Isso pesa meio quilo” Se for advérbio (= mais ou menos) é invariável. Exemplo 6: “A porta estava meio aberta” Exemplo 7: “Ela anda meio cabisbaixa” MUITO, POUCO Essas palavras funcionam como pronome indefinido ou como advér- bio. Se forem pronome, variam de acordo com a palavra a que se re- ferem. Exemplo 1: “Muitos alunos compareceram à formatura” Exemplo 2: “Os perfumes eram poucos” Se forem advérbio são invariáveis: Exemplo 3: “As mensalidades escolares aumentam muito” Exemplo 4: “Os meninos comeram muito ontem” LONGE, CARO Podem ser adjetivos ou advérbios Se adjetivos, concordam com o substantivo. Exemplo 1: “Longes tempos aqueles...” Exemplo 2: “Os livros estão muito caros” Se advérbios, são invariáveis: Exemplo 3: “Vocês moram longe” Exemplo 4: “Os livros custam caro” SÓ, SÓS Quando têm significado de sozinho ou sozinha, são adjetivos e podem ir para o plural. Exemplo 1: “Joana ficou só em casa” (sozinha) Exemplo 2: “Lúcia e Lívia ficaram sós.” (sozinhas) Observe que “só” é invariável quando é advérbio e significa “apenas” ou “somente”. Exemplo 3: “Depois da guerra, só restaram cinzas” (apenas) Exemplo 4: “Eles queriam ficar só na sala” (apenas) Atente-se: A locução adverbial “a sós” é invariável. POSSÍVEL Fica invariável nas expressões “o mais possível” e o “menos possível”, porque são locuções adverbiais. Exemplo 1: “Quero um vestido o mais bonito possível” Exemplo 2: “Vou comprar blusas o menos discretas possível” Alguns autores admitem flexão para essa palavra, de acordo com a flexão do artigo usado na expressão: Exemplo 4: “As previsões eram as piores possíveis” Exemplo 5: “Recebemos a melhor notícia possível” Quadro 3: Regras básicas de concordância nominal Fonte: Adaptado de Muniz (2011) Como se vê, de acordo com Cunha (2012) e Muniz (2011), são muitas as regras grama- ticais que regem a concordância nominal. Resta-nos, pois, praticar tais regras no uso da língua escrita e/ou falada, bem como nas práticas dos exercícios de fixação ao final desta unidade. 3.3 CONCORDÂNCIA VERBAL 34 A charge abaixo ilustra a ausência de concordância verbal entre “a gente” e “temos”. Para a norma culta padrão da língua portuguesa, o verbo deve ser flexionado conforme o sujeito ao qual ele se associa. Figura 4: Ausência de flexão do verbo Fonte: Disponível em https://bit.ly/3kvG8FW. Acesso em: 06 fev. 2021. Entretanto, é sempre bom lembrar que tal regra é útil para situações formais de in- teração social, nas quais esta norma de prestígio é exigida do falante. Passemos, pois, para as regras de concordância verbal estabelecidas pela gramática da língua portuguesa e, como no item anterior, no qual tratamos da concordância nominal, todo o conteúdo apre- sentado nesta seção foi retirado, com pequenas adaptações, da “Gramática do português contemporâneo (2012)” do autor Celso Cunha. 3.4 REGRAS BÁSICAS DA CONCORDÂNCIA VERBAL Os tipos de sujeito, segundo Cunha (2012), existem, entre os tipos de sujeito, o sim- ples e o composto. No caso do simples, Cunha afirma que (2012, p. 85-86) “aquele que se refere a um substantivo, um numeral, uma só palavra substantivada, etc.”, ou seja, possui apenas um núcleo. Já o sujeito composto, segundo o mesmo autor, é aquele que possui “mais de um núcleo”. O SUJEITO SIMPLES O verbo concorda em número e pessoa com o seu sujeito, venha ele claro ou subtendido: Exemplo 1: “Eu faço versos como quem morre” Exemplo 2: “Fiz tantos versos a Teresinha...” Quando o sujeito é indicador de quantidade aproximada e é forma- do de um número plural precedido das expressões cerca de, mais de, menos de, perto de e sinônimos, o verbo vai normalmente para o plural: Exemplo: “Cerca de quinhentas pessoas visitaram o maestro na casa do Engenho Velho” O verbo que tem como sujeito o pronome relativo “que” concorda em número e pessoa com o antecedente deste pronome: Exemplo: “Fui eu que te vesti do meu sudário...” Quando o relativo que vem antecedido das expressões um dos, uma das (+substantivo), o verbo de que ele é sujeito vai para a 3ª pessoa do plural ou, mais raramente, para a 3ª pessoa do singular: Exemplo: “A baronesa era uma das pessoas que mais desconfiavam de nós” Quando o sujeito é o pronome relativo “quem” o verbo, geralmente, vai para a 3ª pessoa do singular: Exemplo: “Mas não sou eu quem está em jogo” https://bit.ly/3kvG8FW 35 O SUJEITO COMPOSTO O verbo com sujeito composto vai para a 1ª pessoa do plural (nós), se entre os núcleos do sujeito houver um da 1ª pessoa: Exemplo: “O velho e eu vivíamos no plano do absoluto” O verbo vai para a 3ª pessoa do plural, se os núcleos do sujeito forem da 3ª pessoa. Exemplo: “Gemiam o vento e o mar” O verbo concorda com o núcleo do sujeito mais próximo quando o sujeito vem depois dele: Exemplo: “Em tudo reina a desolação, a pobreza extrema, o abando- no” O verbo também fica no singular quando os sujeitos são quase si- nônimos: Exemplo: “A música e a sonoridade da sua arte sempre nos diz algu- ma coisa daquele mistério” Quando os sujeitos são resumidos por um pronome indefinido (como tudo, nada, ninguém), o verbo fica no singular, em concor- dância com esse pronome. Exemplo 1: “O pasto, as várzeas, a caatinga, o marmeleiral esqueléti- co, era tudo de um cinzento de borralho” Exemplo 2: “Tudo o fazia lembrar-se dela” SINTAXE DO VERBO “HAVER” Quando este verbo possui o sentido de “existir”, “ocorrer”, “acon- tecer”, “realizar’, ou quando indica tempo decorrido, em qualquer tempo verbal, conjuga-se na 3ª pessoa do singular. Exemplo 1: “Havia sempre uns que gritavam” Exemplo 2: “Há muitos anos não chovia assim” Quadro 4: Tipos de sujeito Fonte: Adaptado de Cunha (2012, p. 288-298). Como se vê, estas são algumas das regras básicas de concordância verbal, segundo CUNHA (2012). Resta-nos, agora, dedicarmo-nos à prática de tais conhecimentos em textos escritos e/ou orais, além de buscar termos, como profissionais de Letras, uma gramática sempre à disposição para consulta. 36 1. (IBMEC 2020) Assinale a alternativa que preenche de forma adequada e correta as lacunas nas frases abaixo, respectivamente. I. Seguem _____ às cartas minhas poesias para você. II. Polvo e lula _____ serão servidos no jantar. III. Para a matrícula, é _____ a documentação pedida. a) Anexa - frescos – necessária. b) Anexas - fresca – necessária. c) Anexos - frescos – necessários. d) Anexas - frescas – necessária. e) Anexas - fresco – necessária. 2. (ITA 1997) Assinale a opção que completa corretamente as lacunas do texto a seguir: “Todas as amigas estavam _____ ansiosas _____ ler os jornais, pois foram informadas de que as críticas foram _____ indulgentes _____ rapaz, que, embora tivesse mais aptidão _____ ciências exatas, demonstrava uma certa propensão _____ arte.” a) Meio - para - bastante - para com o - para - para a. b) Muito - em - bastante - com o - nas – em. c) Bastante - por - meias - ao - a – à. d) Meias- para - muito - pelo - em – por. e) Bem - por - meio - para o - pelas – na. 3. (Uneb adaptado) Assinale a alternativa em que, pluralizando-se a frase, as palavras destacadas permanecem invariáveis: a) Este é o meio mais exato para você resolver o problema: estude só. b) Meia palavra, meio tom – índice de sua sensatez. c) Estava só naquela ocasião; acreditei, pois em sua meia promessa. d) Só estudei o elementar, o que me deixa meio apreensivo. e) Passei muito inverno só. 4. (PUC-Campinas 2020 - adaptado) “Não foi ________ a pesada suspensão que lhe deram, porque você foi o que ________ falhas apresentou; podiam ter pensado em outras penalidades mais ________.” A alternativa correta é: a) Justo; menos e cabível. b) Justa; menos e cabível. c) Justa; menos e cabíveis. d) Justo; menos e cabível. e) Justo; menos e cabíveis. FIXANDO O CONTEÚDO 37 5. (Fatec adaptado) Assinale a alternativa que completa corretamente as frases. ___ , entre analistas políticos, que, se o governo ___ essa política salarial e se o empresariado não ___ as perdas salariais ___ sérios problemas estruturais a serem resolvidos, e, quando os sindicatos ___ , estará instalado o caos total. a) Comentam-se; manter; repor; haverão; intervierem. b) Comenta-se; mantiver; repuser; haverão; intervirem. c) Comenta-se; mantesse; repuser; haverão; intervierem. d) Comenta-se; mantiver; repuser; haverá; intervierem. e) Comentam-se; manter; repor; haverá; intervirem. 6. (IFSP adaptado) Conversar pressupõe um diálogo produtivo entre as pessoas. Significa dizer que conversar é um processo cooperativo entre interlocutores. Leia o texto abaixo, que representa uma conversa. No trecho “a gente pode ter conversas literárias”, substituindo-se o sujeito por outro de primeira pessoa do plural, no tempo pretérito perfeito, o resultado é o seguinte: a) Podemos ter conversas literárias. b) Podíamos ter conversas literárias. c) Poderíamos ter conversas literárias. d) Pudemos ter conversas literárias. e) Pudéssemos ter conversas literárias. 7. (PM-PI - 2018) Indique a alternativa que preenche adequadamente as lacunas da frase: “___ anos que o homem se pergunta: se não ___ medos, como ___ esperanças?” a) Faz, houvesse, existiriam. b) Fazem, houvesse, existiriam. c) Faz, houvesse, existiria. d) Fazem, houvessem, existiriam e) Faz, houvessem, existiria. 8. (UFRGS adaptado) Leia o texto abaixo: 38 “[Eu] Disse que competência não era uma coisa tão relativa assim, que seriam as mesmas, para ele e para mim, as expectativas sobre a competência que deveria trazer consigo o cirurgião cardiovascular que...” Se substituíssemos “expectativas” por “expectativa”, quantas outras palavras precisariam obrigatoriamente de ajuste para fins de concordância? a) Uma. b) Duas c) Três. d) Quatro e) Cinco. 39 REGÊNCIA VERBAL E NOMINAL UNIDADE 04 40 4.1 REGÊNCIA VERBAL Na tirinha abaixo, observa-se um equívoco em relação à regência verbal, pois o per- sonagem utiliza “do que” em lugar da preposição “a” como pede a regência do verbo “pre- ferir”. Figura 5 : Aplicação da regência verbal Fonte: Disponível em https://bit.ly/2UkdPzK. Acesso em: 07 fev. 2021. Dentro desta perspectiva, veremos nesta unidade algumas regras principais concer- nentes à regência verbal para aprimoramos, principalmente, a expressão escrita em língua portuguesa, evitando, assim, equívocos e ambiguidades. 4.2 REGRAS BÁSICAS DA REGÊNCIA VERBAL A transitividade é fator preponderante no que diz respeito às regras de regência ver- bal. Sendo assim, há os chamados “verbos transitivos diretos”, ou seja, os quais não exigem preposição para serem complementados, os “transitivos indiretos” que pedem o uso da preposição e, por fim, aqueles que podem se encontrar em ambas as referidas classifica- ções gramaticais. Chamam-se preposições as palavras invariáveis que relacionam dois termos de uma oração, de tal modo que o sentido do primeiro (antecedente ou termo regente) é explicado ou com- pletado pelo segundo (consequente ou termo regido). Assim, conforme Cunha (2012, p. 321): FIQUE ATENTO ANTECEDENTE PREPOSIÇÃO CONSEQUENTE Vou a São Paulo Todos saíram de casa Concordo com você 4.3 VERBOS TRANSITIVOS DIRETOS Os verbos transitivos diretos são aqueles que não necessitam de preposição antes do seu complemento. Segundo Pasquale e Ulisses (2010, p. 509): “Os verbos transitivos diretos são complementados por objetos diretos. Isso significa que não exigem preposição para o estabelecimento da relação de regência”. O objeto direto, por sua vez, pode ser definido, conforme Cunha (2012), como sendo “o complemento de um verbo transitivo direto [...] que https://bit.ly/2UkdPzK 41 vem ligado ao verbo sem preposição. Exemplo: Passageiros e motoristas atiraram moedas” (CUNHA, 2012, p. 95). Assim, pode-se fazer a seguinte pergunta ao sujeito da frase: Passa- geiros e motoristas atiraram o que? Resposta: “moedas”. Portanto, o verbo “atirar” é transi- tivo direto e o objeto direto é, neste caso, “moedas”. Exemplos de verbos transitivos diretos de Pasquale e Ulisses (2010): Abandonar; adorar; condenar; humilhar; socorrer; abençoar; alegrar; conhecer; namorar; su- portar; aborrecer; ameaçar; conservar; ouvir; ver; abraçar; amolar; convidar; prejudicar; visi- tar; acompanhar; amparar; defender; prezar; acusar; auxiliar; eleger; proteger; admirar; cas- tigar; estimar e respeitar. Segundo Pasquale e Ulisses (2010), todos os verbos acima citados “funcionam exata- mente como o verbo amar”. Amo aquele rapaz Amo-o Amo aquela moça Amo-a Amam aquele rapaz Amam-no Ele deve amar aquela mulher. Ele deve amá-la. Quadro 5: Regência do verbo ‘amar’ Fonte: Adaptado de Pasquale e Ulisses (2010, p. 510) No quadro acima é possível ver como se dá a regência do verbo “amar” para os auto- res. 4.4 VERBOS TRANSITIVOS INDIRETOS Os verbos transitivos indiretos, ao contrário dos diretos, necessitam de preposição para complementar o seu sentido. Segundo Pasquale & Ulisses 2008: “Os verbos transitivos indiretos são complementados por objetos indiretos. Isso significa que esses verbos exi- gem uma preposição para o estabelecimento da relação de regência” (PASQUALE; ULIS- SES, 2010, p. 510). Para definir o objeto indireto, podemos dizer com Cunha (2012) que “o objeto indireto é o complemento de um verbo transitivo indireto, isto é, se liga ao verbo por meio de uma preposição. Exemplo: Esquecia-se de que não havia piano na casa” (CUNHA, 2012, p. 97). Desse modo, pode-se fazer a seguinte pergunta: “Esquecia-se de que?” Resposta: “de que não havia piano na casa”. Portanto, o verbo esquecer, nesta frase, é transitivo indireto, pois necessita da preposição “de”. Alguns exemplos de verbos transitivos indiretos: a) Antipatizar e simpatizar, os quais devem ser introduzidos pela preposição com. Exemplo 1: “Antipatizo com aquela vendedora”. Exemplo 2: “Simpatizo com os que reprovam os influenciadores digitais que divulgam uma falsa perfeição na internet”. b) Consistir, o qual deverá ser introduzido pela preposição em: Exemplo 3: “A política verdadeira consiste em garantir direitos iguais aos cidadãos”. c) Obedecer e desobedecer, os quais têm como complemento a preposição a. Exemplo 4: “Obedeço aos preceitos dos meus pais”. Exemplo 5: “Os jovens desobedecem aos seus pais”. Atenção: Caso o complemento do verbo não seja uma pessoa, só é possível usar a ele 42 ou a ela. Exemplo 6: “Obedeço ao código e/ou Obedeço a ele”. d) Dignar-se, como se vê é um verbo pronominal, o qual, segundo a norma culta pa- drão da língua portuguesa, rege a preposição de. Exemplo 7: “O meu ex-esposo não se dignou de olhar-me nos olhos quando nos encon- tramos”. Exemplo 8: “O vendedor mal-educado ao menos se dignou de responder-me o valor da mercadoria”. e) Responder, o qual terá a preposição a para introduzir o seu complemento. Exemplo 9: “O advogado respondeu a todos as partes interessadas no processo”. Exemplo 10: “O réu responderá a inquérito judicial”. 4.5 VERBOS QUE PODEM SER TRANSITIVOSDIRETOS OU INDIRETOS Segundo a gramática da língua portuguesa, existem alguns verbos que podem ser utilizados como transitivos diretos ou transitivos indiretos, o que não irá implicar, de forma alguma, em quaisquer alteração de sentido. Vejamos alguns deles abordados por Pasqua- le e Ulisses (2010, p. 51): abdicar (de); atender (a); desdenhar (de); acreditar (em); atentar (em- para); gozar (de); almejar (por); cogitar (de, em); necessitar (de); ansiar (por); consentir (em); preceder (a); anteceder (a); deparar (com); precisar (de); presidir (a); renunciar (a); satisfazer (a); versar (sobre). Da mesma foram, os verbos “esquecer” e “lembrar” podem ser transitivos diretos ou indire- tos. Nesse último caso, no entanto, tais verbos serão pronominais. Vejamos: 1. Esqueci o tênis. Esqueci-me do tênis. 2. Não esqueça os colegas. Não se esqueça dos colegas. 3. Não esquecemos suas sábias palavras. Não nos esquecemos de suas sábias palavras. 4. Não lembro disso. Não me lembro disso. 4.5.1 Verbos transitivos diretos e indiretos Como sabemos, os verbos transitivos diretos e indiretos são complementados por um objeto direto e também por um objeto indireto. Para este grupo, conforme Pasquale e Ulisses (2010), iremos exemplificar com os seguintes verbos: a. Agradecer, perdoar e pagar. Exemplo 1: “Agradeço aos telespectadores a audiência”. Exemplo 2: “Os textos religiosos ensinam que é preciso perdoar o pecado ao pecador”. Exemplo 3: “Paguei a dívida ao credor”. b. Informar. Exemplo 4: “Informe os novos horários aos alunos”. Exemplo 5: “Informe os alunos dos novos horários, (ou: sobre os novos horários)” c. Preferir, cujo objeto indireto, segundo a norma culta padrão, deve vir acompanhado da preposição a. 43 Exemplo 6: “Prefiro bicicleta a carro”. Exemplo 7: “Cidadãos conscientes preferem democracia a ditadura”. 4.5.2 Mudança de transitividade: modificação do sentido do verbo Vejamos alguns casos no qual tal modificação ocorre: 1. Agradar, no sentido de demonstrar carinho é transitivo direto. Exemplo 1: Marta sempre a agrada quando a revê. 2. Agradar, quando possui o sentido de satisfazer ou ser agradável a é transitivo indireto e é acompanhado pela preposição a. Exemplo 2: “O artista circense não agradou aos presentes”. 3. Aspirar, no sentido de inalar será transitivo direto. Exemplo 3: “Os indivíduos não fumantes, algumas vezes, são obrigados a aspirar a fu- maça dos cigarros dos outros”. 4. Aspirar quando possui o sentido de desejar é transitivo indireto e é acompanhado pela preposição a. Exemplo 4: “Os habitantes de países periféricos aspiram a uma política de vacinação contra a COVID-19 muito mais justa”. 5. Implicar, quando aparece no sentido de acarretar é transitivo direto: Exemplo 5: “A decisão do Supremo Tribunal Federal implicou o cancelamento do julga- mento do deputado”. 6. Implicar no sentido de implicar com é evidentemente transitivo indireto, cuja preposi- ção regida é com. Exemplo 6: “Sua irmã mais nova implica muito com você?” 7. Implicar no sentido de comprometer será transitivo direto e indireto. Exemplo 7: “Acabaram implicando a enfermeira em atividades criminosas”. Recomendamos o estudo e a leitura da “Nova Gramática da Língua portugue- sa para concursos” do autor Bezerra (2017). Disponível em: https://bit.ly/3eBEHlv. Acesso em: 07 fev. 2021. Esta obra poderá auxiliá-lo a aprofundar o conhecimento sobre regência verbal e nominal estudados neste capítulo. BUSQUE POR MAIS https://bit.ly/3eBEHlv 44 Considerações importantes: Não se esqueça de que o estudo da predicação verbal está ligado ao estudo da regência verbal. E, como a regência depende do contexto, a classificação de um verbo como transiti- vo ou intransitivo depende da função que ele está exercendo dentro da estrutura oracional. Observe: O carro virou na esquina com a rua Dom João (Verbo intransitivo) O carro, ao capotar, virou uma banca de jornais que se encontrava em uma calçada (Verbo transitivo direto) O carro, após a capotagem, virou um monte de ferros retorcidos (Verbo de ligação) Maria, em virtude da pressa, sempre andava rápido (Verbo intransitivo - ação de “andar”) Maria anda, nos últimos tempos, preocupada com a situação da família. (Verbo de ligação ‘Ela está preocupada’) A criança estava extremamente doente (Verbo de ligação) A criança estava no hospital desde a segunda-feira (Verbo intransitivo) Observe que o termo “no hospital desde a segunda-feira” funciona como o lugar em que a criança se encontra. Portanto, é uma locução adverbial de lugar. Como os advérbios não completam a significação verbal, mas tão somente transmitem uma circunstância para o verbo, considera-se o verbo ESTAR como “intransitivo”.) FIQUE ATENTO “O verbo visar, no sentido de ‘mirar’, ‘apontar’ ou ‘pôr visto’, ‘rubricar’, é transitivo direto: ‘O caçador visou o corpo do animal’ ‘O gerente não quis visar o cheque’. No sentido de ‘ter em vista’, ‘ter como objetivo’, ‘ter como meta’, a tradição da língua o dá como transitivo indireto, regendo a preposição a, mas não faltam registros (e abonos) de seu uso como transitivo direto. O ensino deve sempre visar ao progresso social” (PASQUALE; ULISSES, 2010, p. 518). VAMOS PENSAR? 45 1. (CESGRANRIO - 2016) Observa-se obediência à norma-padrão, no que se refere à regência verbal, em: a) A pobreza implica em muito sofrimento. b) Os governantes devem assistir aos pobres, diminuindo seu sofrimento. c) Todos aspiram a uma vida mais justa. d) A população não raro esquece dos menos favorecidos. e) É importante desejarmos ao fim da pobreza. 2. (Serctam - 2016) Quanto à regência verbal, considera-se correta a afirmação: a) A mulher que deu luz à duas crianças, passa bem e era um desejo que ela aspirava demais, assim como era tudo que ela sonhava. b) Ao chegar no hospital, o pai, assim que ouviu a notícia que a mulher havia dado à luz à duas meninas, ficou triste, porque ele preferia menino do que menina. c) Os desejos aos quais os jovens aspiram, são semelhantes com os quais eles sonham tanto, que muitos preferem investir o tempo em estudos, para tal realização, a desperdiçarem as oportunidades de que precisam, mesmo que isto lhes custe sacrifícios. d) As pessoas as quais me identifico são às que me repassam confiança, são as quem tenho respeito e isto me leva a lhes respeitar e, se puder lhes abraçar, sinto-me ainda mais feliz. e)Todo ser humano visa um futuro melhor, sempre quer chegar onde ainda não lhe foi possível, uma vez que os caminhos que tem de passar são, às vezes, os mesmos os quais ele anda sempre e nem se dá conta que são caminhos de sucesso. 3. (Câmara de Mongaguá - 2016) A regência está incorreta em: a) Atirem nos inimigos quando o general ordenar. b) Chamavam o cientista, maluco. c) Estimava bastante as obras de Jorge Amado. d) Custam aos advogados esses recursos. e) Aspiro o cargo de presidente há muito tempo. 4. (Prefeitura de Jambeiro 2016) “Todos pediram apoio ao prefeito.” O verbo é: a) Intransitivo. b) Transitivo indireto. c)Transitivo direto. d)Transobjetivo. e) Transitivo direto e indireto. 5. (FCC - 2006) A frase em que a regência está totalmente de acordo com o padrão culto é: a) Esperavam encontrar todos os documentos que os estudiosos se apoiaram para descrever a viagem de Colombo. FIXANDO O CONTEÚDO 46 b) Estavam cientes de que teriam muito a fazer para conseguir os registros de que dependiam. c) Encontraram-se referências à coerção que marinheiros mais experientes faziam contra os mais novos que trabalhassem mais arduamente. d) Foram informados que esboços da inóspita região circundada com imensas pedras podiam ser consultados. e) Havia registro de uma insatisfação em que os insurretos às atitudes arbitrárias de um navegante foram impedidos de lhe inquirir. 6. (FCC adaptado) Desde que passou a gozar de um prestígio absoluto, o fator velocidade impôs-se como parâmetro das ações humanas, sobrepondo-se a qualquer outro critério. Substituem de modo adequado as expressões sublinhadas, respectivamentee sem prejuízo para o sentido da frase acima: a) Desfrutar de um – investiu como – destituindo a. b) A alçar-se num – investiu-se a um – preterindo. c) Firmar-se como – determinou-se como – corroborando a. d) Favorecer-se de um – consagrou-se a um – eximindo-se de. e) Desfrutar de um – firmou-se como – sobrepujando. 7. (FCC - 2016) Considere o texto abaixo. “O rio Madeira banha os estados de Rondônia e do Amazonas ______ esse nome, pois no período de chuvas seu nível sobe e inunda grandes porções da planície florestal, trazendo troncos e restos de madeira da floresta. É um dos principais rios da bacia do Amazonas e ____ já foram dedicados textos literários, muitos _______ possuem grande valor artístico”. As lacunas do texto acima devem ser preenchidas, correta e respectivamente, com: a) Deram-no; para ele; os quais. b) Deram-lhe; a ele; dos quais. c) Deram-lhe; ante ele; aos quais. d) Deram-no; dele; pelos quais. e) Deram-lhe; nele; nos quais. 8. (FCC - 2016) Os árabes usavam mosaicos de azulejos para ornamentar as paredes de seus palácios, conferindo às paredes brilho e ostentação. Influenciados pela técnica mourisca, artesãos espanhóis e portugueses simplificaram a técnica e adaptaram a técnica aos padrões ocidentais. Fazendo-se as devidas alterações, os elementos sublinhados acima estão corretamente substituídos por um pronome, na ordem dada, em: a) Conferindo-as – adaptaram-lhe. b) Lhe conferindo – a adaptaram. c) Conferindo-lhes – adaptaram-na. d) Conferindo-a – lhes adaptaram. 47 e) Conferindo-as – as adaptaram. 48 OUTROS ASPECTOS GRAMATICAIS UNIDADE 05 49 5.1 INTRODUÇÃO Me Chama Tá tudo cinza sem você Tá tão vazio E a noite fica Sem porquê Aonde está você? Me telefona Me chama me chama Me chama Fonte: Disponível em https://bit.ly/3rtK8bp. Acesso em: 04 fev. 2021. Observa-se que no trecho da música acima, o eu-lírico segue a linguagem coloquial em relação ao uso do pronome oblíquo átono “me”. No entanto, sabemos que as músicas possuem, é claro, licença poética para tal emprego. Além disso, o uso do pronome “me” antes do verbo é, de fato, muito comum na oralidade, embora a gramática normativa esta- beleça regras diferentes para o emprego do referido pronome. Por esta razão, nesta unidade, estudaremos estes e outros pontos gramaticais, os quais são necessários para nos aperfeiçoarmos em relação à variante padrão da gramática da língua portuguesa. 5.2 COLOCAÇÃO PRONOMINAL: OS CASOS DE PRÓCLISE, MESÓCLISE E ÊNCLISE Conforme Pasquale e Ulisses (2010), veja, no quadro abaixo, as definições de próclise, mesóclise e ênclise, com exemplos: Colocação pronominal Definição Exemplos Próclise O pronome surge antes do verbo Não nos mostraram nada. Nada me disseram Ênclise O pronome surge depois do verbo. Apresento-lhe meus cumprimentos. Contaram-te tudo Mesóclise O pronome é intercalado ao verbo Mostrar-lhe-ei meus escritos. Falar-vos-iam a verdade? Quadro 6: Definição e exemplos de próclise, mesóclise e ênclise Fonte: Pasquale e Ulisses (2010, p. 547) A gramática da língua portuguesa descreve os pronomes pessoais oblíquos átonos como sendo os seguintes: me, te, se, o, a, lhe, nos, vos, se, os, as, lhes: 50 [...] quanto à função, as formas do pronome pessoal po- dem ser retas ou oblíquas. Retas, quando funcionam como sujeito da oração; oblíquas, quando nela se empre- gam fundamentalmente como objeto (direto ou indireto) (CUNHA, 2012, p. 162). Observe este outro quadro abaixo: Pronomes Pessoais Retos Pronomes pessoais oblíquos Átonos Tônicos Eu me mim, comigo Tu te ti, contigo Ele, ela o, a, lhe ele, ela Nós nos nós, conosco Vós vos vós, convosco Eles, elas os, as, lhes eles, elas Quadro 7: Complementos verbais Fonte: Cunha (2012, p. 163) Estes pronomes, ainda conforme a gramática, atuam como complementos verbais e, de acordo com a sua posição em relação ao verbo recebe as seguintes classificações, como vimos no primeiro quadro acima: a. Próclise: quando o pronome é colocado antes do verbo. Exemplo 1: Não nos deram nada neste Natal! Exemplo 2: Nada me contaram sobre a tragédia. b. Ênclise: o pronome vem após o verbo: Exemplo 3: Apresento-lhe minhas sinceras desculpas. Exemplo 4: Perguntaram-te sobre a minha vida? c. Mesóclise: neste caso, de acordo com Cunha (2012, p. 180), o pronome é colocado “no meio do verbo”, o que vai ocorrer somente se tal verbo estiver no futuro do presente ou no futuro do pretérito do indicativo: Exemplo 5: Contar-lhe-ei toda a verdade. Exemplo 6: Vendê-lo-iam por tal preço? Recomendamos para o aprofundamento estudo da colocação pronominal, ou seja, dos usos da próclise, mesóclise e ênclise, a leitura do livro “Redação na prá- tica: um guia que faz a diferença na hora de escrever bem” dos autores Terciotti e Ricino (2012). Disponível em: https://bit.ly/3Bmq53e. Acesso em: 04 fev. 2021. BUSQUE POR MAIS https://bit.ly/3Bmq53e 51 Algumas observações importantes: 1. A ênclise ocorre no início da frase. “Apresentaram-se muitas propostas durante a conferência climática” “Disseram-se coisas que não entendi”. 2. A próclise acontece, geralmente, depois de pronomes relativos, interrogativos e conjun- ções subordinativas. Ela também é utilizada devido às negações. “Ela é a pessoa que nos disse que a noiva não viria ao casamento”. “Quem te falou sobre minhas dificuldades pessoais?” “Nada foi decidido pelo juiz, embora se conhecessem todos os elementos da cena do crime” “Não me contaram nada a respeito de você” FIQUE ATENTO “O predicativo do sujeito é o termo do predicado que se refere diretamente ao sujeito” (CUNHA, 2012, p. 90). Exemplo: Ele ficou pasmo, sem palavras. VAMOS PENSAR? 5.3 PONTUAÇÃO E ACENTUAÇÃO Como podemos ver na tirinha abaixo, a personagem Mafalda evidencia como o uso da vírgula está ligado à reprodução das pausas e dos ritmos que encontramos na lingua- gem falada. Figura 6: O uso da vírgula na língua falada Fonte: Disponível em https://bit.ly/2UTUAga. Acesso em: 07 fev. 2021. Sendo assim, intuitivamente, os sinais de pontuação, como é o caso da vírgula, já es- tão presentes em nossos discursos. Por esta razão, começaremos este tópico pelo estudo da pontuação. 5.3.1 Pontuação 1) Vírgula – Casos importantes A primeira regra a ser observada em relação ao uso da vírgula é: nunca se deve se- parar por vírgula o sujeito do predicado, mesmo que ele seja muito longo ou esteja depois do predicado. Exemplo 1: “Todo o esforço de melhorar a relação entre marido e mulher resultou em https://bit.ly/2UTUAga 52 frustração”. Exemplo 2: “Foram realizadas diversas manifestações contra o aumento dos combustí- veis”. A segunda regra diz respeito aos termos intercalados entre sujeito e predicado, tais ter- mos devem estar sempre entre vírgulas. Exemplo 3: “Os professores, ontem à noite, decidiram aceitar o salário proposto pela prefeitura”. Quando o sujeito é composto, ou seja, quando possui mais de um núcleo, usa-se vírgula para separá-los. Exemplo 4: “O pai, a mãe, o irmão, os primos e a avó denunciaram o caso à polícia”. Quando os núcleos do sujeito composto são introduzidos por uma conjunção também deve- -se usar a vírgula. “Sofrem com essa pandemia os pobres, e os ricos, e o mundo inteiro, enfim”. “Nem a canto, nem os filmes, nem o teatro têm a magia dos livros”. FIQUE ATENTO Outra regra a se destacar é aquela que se refere à posição do predicativo do sujeito, ou seja, quando ele está invertido ou intercalado utiliza-se vírgulas para o isolar. Exemplo 5: “Abatido, o irmão afastou-se lentamente”. Exemplo 6: “O irmão, abatido, afastou-se lentamente”. A última regra que mostraremos aqui é a que versa sobre a “omissão de verbo”, ou seja, a vírgula pode ser usada para omitir um verbo. Exemplo 7: “Eu trabalho com ensino; você, com pesquisa”. 2) O ponto final O ponto final é usado, evidentemente, para indicar o fim de uma frase, a qual é de- nominada pela gramática normativa de “declarativa”, ou seja, “são aquelas que informam ou declaramalguma coisa” (PASQUALE; ULISSES, 2010, p. 340). Exemplo 1: “Não há natureza preservada sem consciência ambiental.” 3) O ponto de interrogação O ponto de interrogação vai indicar o final de uma frase que é interrogativa direta, a qual “ocorrem quando se quer obter alguma informação” (PASQUALE & ULISSES, 2008, p. 340). Exemplo 2: “Até quando os seres humanos irão insistir em degradar a natureza?”. No entanto, quando a frase interrogativa é indireta – a qual também podemos utili- zar, assim como a direta, para obter uma informação – usa-se o ponto final. Exemplo 3: “Eu gostaria de saber o motivo da sua indignação”. 4) O ponto de exclamação (!) Este sinal estará sempre presente no final de frases exclamativas, naquelas que ex- primam desejo ou em frases imperativas. Exemplo 4: “Que belo é este rapaz!” Exemplo 5: “Que Deus te abençoe!” 53 Exemplo 6: “Pare com os excessos ou irá morrer!” O ponto de exclamação pode ser usado com repetição ou acompanhado do sinal de interrogação para dar ênfase à frase. Exemplo 7: “O quê?! Você me enganou de novo?! Isto é inadmissível!!!” 5) As reticências O sinal de reticências, geralmente, pode indicar uma interrupção na fala ou a inten- ção de que o leitor complete o que está sendo “dito” por meio da frase. Exemplo 8: “Olha...quem sabe...bom, na verdade eu não posso afirmar...” Exemplo 9: “A cozinheira é muito eficiente, mas o chefe de cozinha...” 5.4 ACENTUAÇÃO Amou daquela vez como se fosse a última Beijou sua mulher como se fosse a última E cada filho seu como se fosse o único E atravessou a rua com seu passo tímido Subiu a construção como se fosse máquina Ergueu no patamar quatro paredes sólidas Tijolo com tijolo num desenho mágico Seus olhos embotados de cimento e lágrima Sentou pra descansar como se fosse sábado Comeu feijão com arroz como se fosse um príncipe Bebeu e soluçou como se fosse um náufrago Dançou e gargalhou como se ouvisse música E tropeçou no céu como se fosse um bêbado E flutuou no ar como se fosse um pássaro E se acabou no chão feito um pacote flácido Agonizou no meio do passeio público Morreu na contramão atrapalhando o tráfego Fonte: Disponível em https://bit.ly/3Bkm7bf. Acesso em: 09 fev. 2021. Na trecho da canção “Construção” de Chico Buarque citada acima, observa-se a uti- lização de palavras proparoxítonas, ou seja, aquelas cuja primeira sílaba é acentuada. O compositor da canção utiliza, pois, um recurso gramatical para “construir” a história trágica de um personagem, o qual é apresentado como trabalhador da construção civil. Como se vê, o uso correto da acentuação pode produzir diferentes efeitos de sentido, daí a importância de conhecê-los. 5.5 PALAVRAS OXÍTONAS, PAROXÍTONAS E PROPAROXÍTONAS Na língua portuguesa, conforme a gramática normativa, a sílaba tônica das palavras pode estar em três posições, quais sejam, na última, na antepenúltima ou na última posi- ção. Sendo assim, tais palavras são classificadas, respectivamente de: oxítonas, paroxítonas e proparoxítonas. Esta “acentuação” – com exceção das proparoxítonas que são sempre acentuadas graficamente – pode estar ou não representada por um sinal gráfico (agudo, https://bit.ly/3Bkm7bf. 54 circunflexo, etc.). Assim, a entonação da palavra revelará qual é a sílaba mais forte. Em caso de dúvida, a melhor alternativa é a consulta ao dicionário. a) Oxítonas A sílaba tônica, ou seja, a sílaba mais forte, ainda que não esteja acentuada, das pala- vras oxítonas, é a última. Exemplo: alguém, ruim, sabiá, metrô, supor, opinião, porém, saci, etc. b) Paroxítonas Nas paroxítonas, a sílaba tônica é a penúltima. Exemplo: acordo, açúcar, álbum, azei- tona, gente, planeta, dólar, caminho etc. c) Proparoxítonas A sílaba tônica das proparoxítonas é a antepenúltima. Exemplo: matemática, lúdico, ridículo, página, mágico, lâmpada, úmido, xícara etc. Na língua portuguesa também existem os chamados “monossílabos tônicos”, os quais podem também ser acentuados graficamente. Exemplo: gás, pé, fé, mês, três, nós etc. 55 1. FCC - adaptada) - Assinale a alternativa correta para completar a frase: Quando ..... as provas, ..... imediatamente. a) Lhes entregarem, corrijam-as. b) Lhes entregarem, corrijam. c) Lhes entregarem, corrijam-nas. d) Entregarem-lhes, corrijam-as. e) Entregarem-lhes, as corrijam. 2. (FCC - adaptada) - Assinale a alternativa correta para completar a frase: Acredito que todos ____ dizer que não _____ . a) Lhe irão, se precipite. b) Lhe irão, precipite-se. c) Irão-lhe, se precipite. d) Irão lhe, precipite-se. e) Ir-lhe-ão, se precipite. 3. (Santa Casa-SP - adaptada) Assinale a alternativa correta para completar a frase: Devemos ____ da tempestade. a) Resguardar-mos-nos. b) Resguardar-nos. c) Resguardarmos-nos. d) Resguardarmo-nos. e) Resguarda-nos. 4. (CCV-UFC - 2016) A colocação pronominal está de acordo com a gramática normativa em: a) Os computadores que compraram-se já estavam obsoletos. b) Nunca deve-se sobrecarregar a memória de um computador. c) Agora recuperam-se, mais facilmente, os arquivos de um computador. d) Os técnicos recomendam que se façam cópias dos arquivos importantes. e) O que procura-se, hoje em dia, é aperfeiçoar o desempenho do computador. 5. (Unifesp 2003) Existem várias palavras que recebem acento gráfico, de acordo com suas regras específicas. Indique a alternativa em que todas as palavras são acentuadas graficamente, segundo a mesma regra. a) Estômago, colégio, fábrica, lâmpada, inflexível. b) Virgílio, fúria, carícias, matéria, colégio. FIXANDO O CONTEÚDO 56 c) Trópicos, lábios, fúria, máquinas, elétricas. d) Sério, cérebro, Virgílio, sábio, lógico. e) Ésquilo, carícia, Virgílio, átomos, êmbolo. 6. (CESGRANRIO - 2016) O grupo de palavras que obedecem às normas de acentuação da Língua Portuguesa é: a) Raizes, dificil, século. b) Rúbrica, saúva, amável. c) Também, possível, êxito. d) Ídolo, parabéns, ciência. e) Indústria, saude, ninguém. 7. (FCC – Soldado PM/BA 2007) Está inteiramente correta a pontuação da seguinte frase: a) Ao longo do tempo, verificou-se que o homem é capaz de se valer de suas experiências, sobretudo as mais marcantes, para se prevenir contra tudo o que possa vir a representar uma ameaça para ele. b) Ao longo do tempo verificou-se, que o homem, é capaz de se valer de suas experiências, sobretudo as mais marcantes para se prevenir contra tudo, o que possa vir a representar uma ameaça para ele. c) Ao longo do tempo, verificou-se que o homem é capaz, de se valer de suas experiências, sobretudo, as mais marcantes, para se prevenir, contra tudo o que possa vir a representar, uma ameaça para ele. d) Ao longo do tempo verificou-se que, o homem, é capaz de se valer, de suas experiências, sobretudo as mais marcantes para se prevenir contra tudo o que o que possa vir a representar: uma ameaça para ele. e) Ao longo do tempo, verificou-se, que o homem é capaz de se valer de suas experiências, sobretudo as mais marcantes para se prevenir contra tudo o que possa vir a representar: uma ameaça para ele. 8. (UFRS 2013) Assinale a alternativa na qual o uso da pontuação está correto. a) Eu, posto que creia no bem não sou daqueles que negam o mal. b) Eu, posto que creia, no bem, não sou daqueles, que negam, o mal. c) Eu, posto que creia, no bem, não sou daqueles, que negam o mal. d) Eu, posto que creia no bem, não sou daqueles que negam o mal. e) Eu, posto que creia no bem, não sou daqueles, que negam o mal. 57 GÊNEROS E DE TIPOS TEXTUAIS UNIDADE 06 58 6.1 INTRODUÇÃO Como sabemos, dentre os principais tipos textuais temos: a descrição, a narração e a dissertação. Segundo Rojo (2021, online) “os tipos de texto são classes, categorias de uma gramática de texto (Linguística Textual) – portanto, uma construção teórica – que busca classificar os textos com base em suas características linguísticas e gramaticais”. Os referi- dos tipos textuais, geralmente, são usados na escola para o aperfeiçoamento da escrita. Com efeito, faz-se necessário dominarestas bases da escrita antes de partir para textos acadêmicos mais complexos, os quais exigirão um domínio argumentativo maior por par- te do aluno. Entretanto, tudo o que foi estudado até aqui contribui para o aperfeiçoamento do estudante em relação à língua portuguesa, embora saibamos que o percurso escolar de cada aluno diz muito sobre o seu desenvolvimento acadêmico, ou seja, às vezes podem existir muitas lacunas a serem reparadas. Não obstante, é preciso prosseguir na busca des- te aperfeiçoamento linguístico-discursivo. Por isso, nesta unidade, procuraremos ver as bases mais importantes para a constru- ção dos textos descritivo, narrativo e dissertativo. 6.2 DESCRIÇÃO Segundo o Dicionário da Academia Brasileira de Letras (2008), a palavra “descrever” significa “representar, por meio da fala ou da escrita, as características de”, o dicionário cita como exemplo a seguinte frase: “Enquanto almoçava, descrevia a casa onde morava”. Como se vê, quer seja por meio da fala ou da escrita a descrição nos proporciona construir imagens mentais capazes de denotar a pessoa ou o objeto descrito. Tal tipo tex- tual pode ser utilizado em diversos textos, inclusive, o literário, pois a descrição pode ser tanto objetiva como subjetiva, para denotar, por exemplo, características psicológicas de um personagem. Além disso, no nosso dia a dia, também construímos pequenos textos descritivos, quando contamos aos outros como decoramos a nossa nova casa ou quando informamos a alguém, perdido em nosso bairro, como chegar a um determinado lugar. Vejamos alguns exemplos de textos descritivos: “Ficara sentada à mesa a ler o Diário de Notícias, no seu roupão de manhã de fazenda preta, bordado a sutache, com largos botões de madrepérola; o cabelo louro um pouco desman- chado, com um tom seco do calor do travesseiro, enrolava-se, torcido no alto da cabeça pequenina, de perfil bonito; a sua pele tinha a brancura tenra e láctea das louras; com o co- tovelo encostado à mesa acariciava a orelha, e, no movimento lento e suave dos seus dedos, dois anéis de rubis miudinhos davam cintilações escarlates”. QUEIROZ, Eça. O primo Basílio. In: Obra completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1997 “A vítima, Jorge da Silva (42 anos), moradora da cidade de Ipatinga, era gordo, baixo (1,55), cabelos ruivos; nariz arredondado e rosto ligeiramente quadrado.” – Descrição com predo- minância objetiva. Fonte: Elaborado pela Autora (2021) 59 6.3 NARRAÇÃO Podemos perceber que assim como a descrição, a narração está muito presente em nosso dia a dia. Assim, quando contamos um filme para alguém, ou falamos como foi o nosso dia, ou ainda quando tentamos reproduzir com palavras uma notícia que lemos ou ouvimos, entre outros exemplos, estamos construindo narrativas. Dentro dessa perspectiva, quando narramos, nós também descrevemos, no entanto, não apenas produzimos imagens objetivas ou subjetivas, como no texto descritivo, mas construímos todo um “desenrolar dos fatos”, o qual nos empenhamos por narrar. Da mesma forma, nas novelas, nas crônicas, nos romances, nos contos, enfim, nos gêneros literários em geral, a descrição e a narração estarão juntas. Entretanto, para o texto narrativo, especificamente, temos de observar elementos fundamentais que o caracteri- zam, quais sejam: tempo, espaço, narrador e enredo. Vejamos estes elementos. a) Tempo Como sabemos, o tempo pode ser construído numa narrativa de diversas formas. Temos, por exemplo, o tempo cronológico, mas também o tempo da memória, marcado por lacunas e por idas e vindas entre passado, presente e futuro. Tal construção temporal se dará pela livre escolha do narrador que será construído pelo autor da trama. No livro “Memórias póstumas de Brás Cubas” de Machado de Assis, por exemplo, o narrador é um “defunto autor” que narra após a sua morte e que começa o livro, ironicamente, dedicando as suas memórias “ao verme que primeiro roeu as frias carnes do seu cadáver”. Vejamos uma cena do referido romance. Que Stendhal confessasse haver escrito um de seus livros para cem leitores, coisa é que admira e consterna. O que não admira, nem provavelmente consternará é se este outro livro não tiver os cem leitores de Stendhal, nem cinquenta, nem vinte e, quando muito, dez. Dez? Talvez cinco. Trata-se, na verdade, de uma obra difusa, na qual eu, Brás Cubas, se adotei a forma livre de um Sterne, ou de um Xavier de Maistre, não sei se lhe meti algumas rabugens de pessimismo. Pode ser. Obra de finado. Escrevi-a com a pena da galhofa e a tinta da melancolia, e não é difícil antever o que poderá sair desse conúbio. Acresce que a gente grave achará no livro umas aparências de puro romance, ao passo que a gente frívola não achará nele o seu romance usual; ei-lo aí fica privado da estima dos graves e do amor dos frívolos, que são as duas colunas máximas da opinião. Mas eu ainda espero angariar as simpatias da opinião, e o primeiro remédio é fugir a um prólogo explícito e longo. O me- lhor prólogo é o que contém menos coisas, ou o que as diz de um jeito obscuro e truncado. Conseguintemente, evito contar o processo extraordinário que empreguei na composição destas Memórias, trabalhadas cá no outro mundo. Seria curioso, mas nimiamente extenso, e aliás desnecessário ao entendimento da obra. A obra em si mesma é tudo: se te agradar, fino leitor, pago-me da tarefa; se te não agradar, pago-te com um piparote, e adeus. ASSIS, Machado. Memórias Póstumas de Brás Cubas. São Paulo: Ática, 1992. [grifo nosso] Como se vê na cena acima, o texto narrado é uma “obra de finado”, tendo sido elabo- rado, como afirma o narrador, “na composição de memórias trabalhadas cá no outro mun- do”. Assim, tal narrador reconstrói o tempo da memória de quem não poderia mais fazê-lo, pois já está morto. Nesta perspectiva, a ironia machadiana afinada permite a elaboração 60 de uma narrativa com tal tempo, surpreendente e complexo aos olhos do leitor. b) Espaço O estudo do espaço na narrativa tem se tornado um tema cada vez mais complexo. Tendo em vista que o espaço não é somente uma descrição do ambiente, mas sim um sis- tema poderosamente aberto e em processo, ou seja, que será definido pelas relações entre os sujeitos construídos na narrativa. Tal espaço, delimita assim lugares de pertencimento e de distanciamento entre os personagens, assim como de embates sociais dos indivíduos ali representados. Por isso, a elaboração de um espaço narrativo não se dá de forma ingê- nua, mas de acordo com os propósitos da trama elaborada pelo autor. Observemos o poe- ma a seguir do autor Bandeira (1980). POEMA TIRADO DE UMA NOTÍCIA DE JORNAL João Gostoso era carregador de feira-livre e morava no morro da Babilônia num barracão sem número. Uma noite ele chegou no bar Vinte de Novembro Bebeu Cantou Dançou Depois se atirou na Lagoa Rodrigo de Freitas e morreu afogado. BANDEIRA, M. Estrela da vida inteira: poesias reunidas. Rio de Janeiro: José Olympio, 1980 De acordo com o poema acima, a descrição do espaço no qual vive o personagem, como sendo o “morro da Babilônia num barracão sem número”, denota muito mais do que uma imagem, ou seja, é a construção de um espaço social excluído, marcado pela pobreza e pela tragédia, a qual será confirmada nos últimos versos do poema, no qual o espaço da lagoa se torna o lugar da morte: “Depois se atirou na Lagoa Rodrigo de Freitas e morreu afogado”. c) Narrador O narrador, grosso modo, é aquele que conta a história. No entanto, há várias manei- ras de narrar que vão para além das classificações tradicionais de narrador em 1ª pessoa e narrador em 3ª pessoa, o qual ficou conhecido como “onisciente”. Na verdade, dentro de uma narrativa, ficcional ou não, muitas “vozes” podem se manifestar, como, por exemplo, “a voz dos excluídos sociais”, como vimos no poema de Manuel Bandeira anteriormente. Além disso, o narrador pode também mesclar a sua voz à dos personagens, formando um discurso “polifônico” para trazer à tona, segundo o projetoestético do autor, as questões que estão sendo suscitadas pela trama. Vejamos, pois, as estratégias discursivas do discur- so direto, indireto e do indireto livre. 1) Discurso direto: O narrador dá voz diretamente ao personagem, de acordo com Cunha (2012, p. 367): 61 Examinando este passo do romance Menino de Engenho, de José Lins do Rego: E uma tarde um moleque chegou às carreiras, gritando: - A cheia vem no engenho de seu Lula! Verificamos que o narrador, após introduzir o persona- gem, o moleque, deixou-o expressar-se por si mesmo, limitando-se a reproduzir-lhe as palavras como ele as teriam efetivamente selecionado, organizado e pronun- ciando. É a forma de expressão denominada discurso di- reto. Assim, como está explicitado acima, no discurso direto, ouve-se a voz do persona- gem diretamente, sem a intermediação do narrador. 2)Discurso indireto: O narrador utiliza sua própria voz para reproduzir indiretamente a fala dos personagens: Tomemos como exemplo esta frase de Machado de Assis: José Dias deixou-se estar calado, suspirou e acabou con- fessando que não era médico. Ao contrário do que observamos nos enunciados em discurso direto, o narrador (Machado de Assis) incorpora aqui, ao próprio falar, uma informação do personagem (José Dias), contentando-se em transmitir ao leitor ape- nas o conteúdo [...] este processo de reproduzir enuncia- dos chama-se discurso indireto (CUNHA, 2012, p. 368-369). Portanto, como está colocado na citação acima, no discurso indireto, o narrador re- produz de forma indireta, a fala do personagem. 3) Discurso indireto livre: Nesta técnica, embora o narrador conte a história na 3ª pes- soa, como no discurso indireto, “cria-se a ilusão de um acesso íntimo à mente do perso- nagem” (LODGE, 2011, p. 53) sem que a voz do narrador desapareça do discurso, ou seja, as vozes do narrador e do personagem se misturam. Observe o exemplo abaixo: Fabiano curou no rasto a bicheira da novilha raposa. Levava no aió um frasco de creolina, e se houvesse achado o animal, teria feito o curativo ordinário. Não o encon- trou, mas supôs distinguir as pisadas dele na areia, baixou-se, cruzou dois gravetos no chão e rezou. Se o bicho não estivesse morto, voltaria para o curral, que a oração era forte. Cumprida a obrigação, Fabiano levantou-se com a consciência tranquila e marchou para casa. RAMOS, G. Vidas Secas. 23 ed. São Paulo: Martins, 1969 [grifo nosso]. 62 d) Enredo O enredo no texto narrativo nada mais é do que o “desenrolar dos fatos”, os quais, se forem narrados de forma linear, vão apresentar certos elementos, como, uma apresenta- ção do início da história, uma complicação ou conflito, um clímax – o qual se caracteriza por um momento de tensão – e um desfecho, que é o final da trama. No entanto, nem todos os enredos são construídos pelos autores de forma linear. Isto pode ser exemplificado, como vimos, pela cena retirada de Memórias Póstumas de Brás Cubas, na qual o narrador conta a história depois de sua morte. Além disso, há narrativas, cujo enredo é construído a partir do fluxo de consciência não linear do personagem, o que torna a trama ainda mais com- plexa, pois sabemos que os pensamentos e as memórias humanas não são ordenados. Vejamos um exemplo de um enredo linear: Bruxas não existem Quando eu era garoto, acreditava em bruxas, mulheres malvadas que passavam o tempo todo maquinando coisas perversas. Os meus amigos também acreditavam nisso. A prova para nós era uma mulher muito velha, uma solteirona que morava numa casinha caindo aos pedaços no fim de nossa rua. Seu nome era Ana Custódio, mas nós só a chamávamos de “bruxa”. Era muito feia, ela; gorda, enorme, os cabelos pareciam palha, o nariz era comprido, ela tinha uma enorme verruga no queixo. E estava sempre falando sozinha. Nunca tínhamos entrado na casa, mas tínhamos a certeza de que, se fizéssemos isso, nós a encontraríamos preparando venenos num grande caldeirão. Nossa diversão predileta era incomodá-la. Volta e meia invadíamos o pequeno pátio para dali roubar frutas e quando, por acaso, a velha saía à rua para fazer compras no pequeno armazém ali perto, corríamos atrás dela gritando “bruxa, bruxa!”. Um dia encontramos, no meio da rua, um bode morto. A quem pertencera esse animal nós não sabíamos, mas logo descobrimos o que fazer com ele: jogá-lo na casa da bruxa. O que seria fácil. Ao contrário do que sempre acontecia, naquela manhã, e talvez por esquecimen- to, ela deixara aberta a janela da frente. Sob comando do João Pedro, que era o nosso líder, levantamos o bicho, que era grande e pesava bastante, e com muito esforço nós o levamos até a janela. Tentamos empurrá-lo para dentro, mas aí os chifres ficaram presos na cortina. - Vamos logo - gritava o João Pedro -, antes que a bruxa apareça. E ela apareceu. No mo- mento exato em que, finalmente, conseguíamos introduzir o bode pela janela, a porta se abriu e ali estava ela, a bruxa, empunhando um cabo de vassoura. Rindo, saímos correndo. Eu, gordinho, era o último. E então aconteceu. De repente, enfiei o pé num buraco e caí. De imediato senti uma dor terrível na perna e não tive dúvida: estava quebrada. Gemendo, tentei me levantar, mas não consegui. E a bruxa, caminhando com dificuldade, mas com o cabo de vassoura na mão, aproximava-se. Àquela altura a turma estava longe, ninguém poderia me ajudar. E a mulher sem dúvida descarregaria em mim sua fúria. Em um momento, ela estava junto a mim, transtornada de raiva. Mas aí viu a minha perna, e instantaneamente mudou. Agachou-se junto a mim e começou a examiná-la com uma habilidade surpreendente. - Está quebrada - disse por fim. - Mas podemos dar um jeito. Não se preocupe, sei fazer isso. Fui enfermeira muitos anos, trabalhei em hospital. Confie em mim. Dividiu o cabo de vassoura em três pedaços e com eles, e com seu cinto de pano, impro- 63 visou uma tala, imobilizando-me a perna. A dor diminuiu muito e, amparado nela, fui até minha casa. “Chame uma ambulância”, disse a mulher à minha mãe. Sorriu. Tudo ficou bem. Levaram-me para o hospital, o médico engessou minha perna e em pou- cas semanas eu estava recuperado. Desde então, deixei de acreditar em bruxas. E tornei-me grande amigo de uma senhora que morava em minha rua, uma senhora muito boa que se chamava Ana Custódio. Fonte: Disponível em https://bit.ly/2Ultu1H. Acesso em: 10 fev. 2021. Como se vê, o conto acima de Moacyr Scliar apresenta todas as características de um enredo linear, quais sejam: uma apresentação do início da história, uma complicação ou conflito, um clímax – o qual se caracteriza por um momento de tensão – e um desfecho, que é o final da trama, como já foi dito aqui. 6.4 DISSERTAÇÃO O texto dissertativo consiste em uma exposição, argumentativa ou expositiva, de for- ma coerente e coesa, de ideias. No caso do expositivo, não há necessidade de convencer o leitor sobre o que está sendo dito, já no argumentativo, sim. Por isso, o texto dissertativo argumentativo é base dos textos acadêmicos e é também exigido dos alunos na escola e nos vestibulares. De fato, como vimos no capítulo sobre coesão e coerência textual, é importante que o texto seja claro e bem organizado para que o processo comunicativo se estabelece entre autor e leitor. Assim, o texto dissertativo é formado por uma introdução, um desenvolvimento e uma conclusão. A primeira diz respeito à explicitação do tema proposto, o qual será discuti- do no desenvolvimento. E a conclusão, por sua vez, pode retomar resumidamente o que já foi dito no texto, apresentar uma proposta de “solução” para a discussão, mas nunca deve possuir argumentos novos, pois eles não serão desenvolvidos. Vejamos, abaixo, um exem- plo de uma dissertação bem elaborada e que ganhou nota 1000 no Enem 2018, cujo tema foi a “Manipulação do comportamento do usuário pelo controle de dados na internet”: Em sua canção “Pela Internet”, o cantor brasileiro Gilberto Gil louva a quantidade de informações disponibilizadas pelas plataformas digitaispara seus usuários. No entanto, com o avanço de algoritmos e mecanismos de controle de dados desenvolvidos por em- presas de aplicativos e redes sociais, essa abundância vem sendo restringida e as notícias, e produtos culturais vêm sendo cada vez mais direcionados – uma conjuntura atual apta a moldar os hábitos e a informatividade dos usuários. Desse modo, tal manipulação do com- portamento de usuários pela seleção prévia de dados é inconcebível e merece um olhar mais crítico de enfrentamento. Em primeiro lugar, é válido reconhecer como esse panorama supracitado é capaz de limi- tar a própria cidadania do indivíduo. Acerca disso, é pertinente trazer o discurso do filósofo Jürgen Habermas, no qual ele conceitua a ação comunicativa: esta consiste na capacidade de uma pessoa em defender seus interesses e demonstrar o que acha melhor para a comu- nidade, demandando ampla informatividade prévia. Assim, sabendo que a cidadania con- siste na luta pelo bem-estar social, caso os sujeitos não possuam um pleno conhecimento da realidade na qual estão inseridos e de como seu próximo pode desfrutar do bem comum – já que suas fontes de informação estão direcionadas –, eles serão incapazes de assumir plena defesa pelo coletivo. Logo, a manipulação do comportamento não pode ser aceita em 64 nome do combate, também, ao individualismo e do zelo pelo bem grupal. Em segundo lugar, vale salientar como o controle de dados pela internet vai de encontro à concepção do indivíduo pós-moderno. Isso porque, de acordo com o filósofo pós-estrutura- lista Stuart-Hall, o sujeito inserido na pós-modernidade é dotado de múltiplas identidades. Sendo assim, as preferências e ideias das pessoas estão em constante interação, o que pode ser limitado pela prévia seleção de informações, comerciais, produtos, entre outros. Por fim, seria negligente não notar como a tentativa de tais algoritmos de criar universos culturais adequados a um gosto de seu usuário criam uma falsa sensação de livre-arbítrio e tolhe os múltiplos interesses e identidades que um sujeito poderia assumir. Portanto, são necessárias medidas capazes de mitigar essa problemática. Para tanto, as instituições escolares são responsáveis pela educação digital e emancipação de seus alu- nos, com o intuito de deixá-los cientes dos mecanismos utilizados pelas novas tecnologias de comunicação e informação e torná-los mais críticos. Isso pode ser feito pela abordagem da temática, desde o ensino fundamental – uma vez que as gerações estão, cada vez mais cedo, imersas na realidade das novas tecnologias – , de maneira lúdica e adaptada à faixa etária, contando com a capacitação prévia dos professores acerca dos novos meios comu- nicativos. Por meio, também, de palestras com profissionais das áreas da informática que expliquem como os alunos poderão ampliar seu meio de informações e demonstrem como lidar com tais seletividades, haverá um caminho traçado para uma sociedade emancipada. Fonte: Disponível em https://bit.ly/3BwnpAj. Acesso em: 09 fev. 2021. Como é possível perceber a aluna possui uma argumentação organizada e convincente, utilizando corretamente os elementos coesivos, tais como: em primeiro lugar, em segun- do lugar, no entanto, portanto etc. Além disso, o tópico frasal, no início do texto, anuncia o tema a ser tratado na redação de forma clara e objetiva. Com isso, a candidata estabelece um processo comunicativo eficiente com seus interlocutores. Recomendamos a leitura do livro “Redação para concursos e vestibulares: passo a passo” dos autores Squarisi e Curto (2009). Disponível em: https://bit.ly/3wYx- GBO. Acesso em: 10 fev. 2021. Neste livro, é possível encontrar mais informações sobre os tipos textuais abordados nesta unidade. BUSQUE POR MAIS Koch e Elias (2014) propõem que a atividade de escrita deve demandar de quem escreve o uso de inúmeras estratégias. Entre elas, destacam-se as seguintes: ativação de conheci- mentos dos componentes da situação comunicativa (interlocutores, tópico a se desenvolver, adequação do texto à interação); cuidado na seleção, na organização e no desenvolvimento de ideias, de forma que a continuidade do tema e a progressão textual sejam garantidas; equilíbrio na utilização de informações explícitas e implícitas, bem como das informações consideradas novas e daquelas já conhecidas pelo leitor; revisão do processo de escrita, con- siderando sempre o objetivo do texto, a produção e a interação com o leitor. FIQUE ATENTO https://bit.ly/3wYxGBO https://bit.ly/3wYxGBO 65 O que sustenta o texto é a organização das ideias em parágrafos. Analise este exemplo de Squarisi e Curto (2009, p. 33-34): “A guerra dos sexos acabou. As mulheres ganharam, os ho- mens perderam. Embaladas pelo movimento feminista, elas amealharam direitos, conquistas e espaços [...].” Neste exemplo, o tópico frasal: “a guerra dos sexos acabou”, anuncia o assunto do parágrafo. VAMOS PENSAR? 66 1.( FUNRIO 2012) O trecho que segue foi extraído do conto “Lâmpadas e Ventiladores”, de Humberto de Campos: A tarde estava quente, abafada, ameaçando tempestade. Na sala da sorveteria onde tomávamos chá, os ventiladores ronronavam, como gatos, refrescando o ambiente. Lufadas ardentes, fortes, brutais, varreram, lá fora, o asfalto da Avenida. O céu escureceu, de repente, e um trovão estalou, rolando pelo céu. Nesse momento, as lâmpadas do salão, abertas àquela hora, apagaram-se todas, ao mesmo tempo em que, dependendo da mesma corrente elétrica, os ventiladores foram, pouco a pouco, diminuindo a marcha, até que pararam, de todo, como aves que acabam de chegar de um grande voo. Sobre a tipologia textual dessa passagem do conto, pode-se dizer a organização predominante é: a) Argumentativa. b) Descritiva. c) Expositiva. d) Narrativa. e) Poética. 2. (PUC – SP 2014) O trecho abaixo foi extraído da obra Memórias Sentimentais de João Miramar, de Oswald de Andrade. “Beiramarávamos em auto pelo espelho de aluguel arborizado das avenidas marinhas sem sol. Losangos tênues de ouro bandeiranacionalizavam os verdes montes interiores. No outro lado azul da baía a Serra dos Órgãos serrava. Barcos. E o passado voltava na brisa de baforadas gostosas. Rolah ia vinha derrapava em túneis. Copacabana era um veludo arrepiado na luminosa noite varada pelas frestas da cidade. Didaticamente, costuma-se dizer que, em relação à sua organização, os textos podem ser compostos de descrição, narração e dissertação; no entanto é difícil encontrar-se um trecho que seja só descritivo, apenas narrativo, somente dissertativo. Levando-se em conta tal afirmação, selecione uma das alternativas abaixo para classificar o texto de Oswald de Andrade: a) Narrativo-descritivo, com predominância do descritivo. b) Dissertativo-descritivo, com predominância do dissertativo. c) Descritivo-narrativo, com predominância do narrativo. d) Descritivo-dissertativo, com predominância do dissertativo. e) Narrativo-dissertativo, com predominância do narrativo. 3. (FGV - 2020) Leia o excerto abaixo e responda ao que se pede: FIXANDO O CONTEÚDO 67 Dvorak aproximou-se do alto da colina e debruçou-se sobre uma pequena pedra para olhar a paisagem abaixo. Observou que havia uma grande caverna, cercada de vegetação, mas não conseguiu identificar a entrada. Fez um sinal para que o grupo o acompanhasse e começou a descer cuidadosamente a encosta. Acima aparece um pequeno texto narrativo; a frase, retirada desse texto, que mostra valor descritivo é: a) Dvorak aproximou-se do alto da colina. b) Debruçou-se sobre uma pequena pedra. c) Havia uma grande caverna, cercada de vegetação. d) Não conseguiu identificar a entrada. e) Fez um sinal para que o grupo o acompanhasse. 4. (FGV - 2019) -O segmento textual abaixo que deve ser classificado predominantemente como dissertativo-argumentativo é: a) A cozinha feliz, que consiste no casamento de produtos naturais, um com o outro, é a antítese da cozinha feita para impressionar. b) Restaurante sofisticado: aqueleque serve comida fria de propósito. c) Aprendi que esparramar as ervilhas no prato dá a impressão de que você comeu mais e, por isso, eu as esparramei. d) Eu cozinho com vinho, às vezes até mesmo acrescento comida a ele. e) A comida era belíssima: folhas verdes com cenouras amarelas, cercadas de carne vermelha e pimentão verde. 5. (IDIB - 2019 adaptado). Leia o texto abaixo e responda à questão solicitada. Uma mulher de 21 anos foi presa em flagrante pela Polícia Civil da Paraíba porque teria visto o filho de três anos se afogar em uma piscina no município de Mari (PB), a 77 quilômetros de João Pessoa, e não o socorreu. O caso aconteceu ontem à tarde. A mãe foi indiciada por homicídio culposo (quando não há intenção de matar), abandono de incapaz, maus tratos e negligência. A polícia está finalizando o inquérito com as qualificadoras para entregar o caso ao Ministério Público Estadual. O nome da acusada não foi divulgado. Ela está presa na delegacia de Mari aguardando audiência de custódia, que deverá ocorrer nesta terça-feira (9). O juiz decidirá se a mulher continuará presa ou responderá as acusações em liberdade. Testemunhas relataram à polícia que a mulher e dois filhos chegaram a um clube por volta das 17h, e o menino de três anos caiu na piscina destinada a adultos. Desesperado, o outro filho, de nove anos, saiu em busca de ajuda. Ele encontrou um Policial Militar, que entrou na piscina, retirou o menino já desfalecido e tentou reanimá-lo. A criança foi levada para uma policlínica do município, mas morreu. “A mãe ficou olhando o filho se afogar, não socorreu, nem chamou ninguém. Ela ficou o tempo todo ao lado da piscina olhando. Durante o socorro, ela não esboçou nenhuma reação. Estamos investigando como a criança caiu na piscina, se foi empurrada”, afirmou o delegado Francisco de Assis Araújo. A mãe foi presa em flagrante e levada para a delegacia de Sapé, responsável pelo plantão do fim de semana. Hoje, a mulher foi transferida para a delegacia de Mari. 68 Segundo a polícia, ela permaneceu calada durante o depoimento e não tem advogado. Ela deverá ser assistida por um defensor público durante a audiência de custódia e todo o processo criminal. O corpo do menino foi levado para o Núcleo de Medicina e Odontologia Legal de João Pessoa para ser submetido a necropsia. Até às 15h, a família não havia retirado o corpo para sepultamento. O texto, em função de sua natureza e objetivo de composição, se classifica como: a) Descritivo. b) Dissertativo. c) Injuntivo. d) Narrativo. e) Dramático. 6. (CCV-UFC - 2018 - UFC) Leia o texto abaixo. UM FILTRO DO SNAPCHAT PARA A VIDA INTEIRA Cada vez mais pessoas querem fazer cirurgias para ficarem parecidas com filtros do Snapchat Lábios mais cheios, olhos maiores como os de um gato ou nariz bem fino. Médicos norte- americanos estão preocupados com uma onda de cirurgias plásticas cada vez mais solicitadas nas clínicas. Essa tendência já ganhou nome: trata-se da “dismorfia do Snapchat”, que representa o desejo de ficar parecido com os filtros fotográficos disponíveis nas redes sociais. “Esse novo fenômeno traz pacientes que procuram cirurgia plástica para parecerem versões filtradas de si mesmos”, afirmam cientistas da Escola de Medicina da Universidade de Boston em relatório publicado no periódico Jama Facial Plastic Surger. “É uma tendência alarmante, pois essas selfies filtradas apresentam uma aparência inatingível e estão desfocando a linha entre realidade e fantasia para esses pacientes.” O termo “dismorfia do Snapchat” é derivado do Transtorno Dismórfico Corporal (TDC), caracterizado pela obsessão de falhas físicas – mesmo aquelas que podem ser invisíveis para outras pessoas. Embora o novo fenômeno não seja uma condição clinicamente diagnosticável, os médicos acreditam que cirurgias para alterações faciais irrealistas podem contribuir para o transtorno ou exacerbá-lo. Outras pesquisas já indicaram que mídias sociais e selfies têm alterado a forma pela qual as pessoas se enxergam. Cerca de 55% dos cirurgiões plásticos faciais relatam ter atendido pacientes que buscavam operações para ficarem melhores nas selfies, de acordo com dados da Academia Americana de Plástica Facial e Cirurgia Reconstrutiva. “Os aplicativos de mídia social estão proporcionando uma nova realidade de beleza para a sociedade de hoje”, escreveram os especialistas no estudo. “Pode-se argumentar que esses aplicativos estão nos fazendo perder contato com a realidade, porque esperamos parecer perfeitamente preparados e filtrados também na vida real.” Em comunicado, o app Facetune afirmou que o serviço está “quebrando a ilusão do ‘corpo perfeito’” por meio dos filtros de embelezamento. “Todos – desde modelos famosos até a sua tia – usam e sabem que todo mundo está usando. Argumentar o contrário é ingênuo”, 69 afirmou sem aprofundar a questão. O Snapchat não emitiu comentários. Por Nathália Fabro. Revista Galileu. Globo. Ed. 326 – Setembro de 2018, p. 13. O texto tem natureza predominantemente: a) Expositiva. b) Opinativa. c) Descritiva. d) Injuntiva. e) Narrativa. 7. (Aeronáutica - 2015 - CIAAR) Leia o texto abaixo. Há de tomar o pregador uma só matéria; há de defini-la, para que se conheça; há de dividi- la, para que se distinga; há de prová-la com a Escritura, há de declará-la com a razão, há de confirmá-la com o exemplo, há de amplificá-la com as causas, com os efeitos, com as circunstâncias, com as conveniências, que se hão de seguir; com os inconvenientes, que se devem evitar; há de responder às dúvidas, há de satisfazer às dificuldades, há de impugnar e refutar com toda a força de eloquência os argumentos contrários, e depois disto há de colher, há de apertar, há de concluir, há de persuadir, há de acabar. Isto é o sermão, isto é pregar; e o que não é isto é falar demais alto. Não nego, nem quero dizer que o sermão não haja de ter variedade de discursos, mas esses hão de nascer todos da mesma matéria, e continuar, e acabar nela. Quereis ver tudo isto com os olhos? Ora vede. Uma árvore tem raízes, tem troncos, tem ramos, tem folhas, tem varas, tem flores, tem frutos. Assim há de ser o sermão: há de ter raízes fortes e sólidas, porque há de ser fundado no Evangelho; há de ter um tronco, porque há de ter um só assunto e tratar uma só matéria. Deste tronco hão de nascer diversos ramos, que são diversos discursos, mas nascidos da mesma matéria e continuados nela. Estes ramos não hão de ser secos, senão cobertos de folhas, porque os discursos hão de ser vestidos e ornados de palavras. VIEIRA, António. Sermão da Sexagésima. In: Sermões I. São Paulo: Edições Loyola, 2009, p. 24 As prescrições presentes no trecho do sermão indicam a elaboração de um discurso a) Dialogal, porque todos os passos de um discurso preveem interlocutores em oposição. b) Científico, porque necessita estar fundamentado em provas oriundas da natureza. c) Narrativo, identificado principalmente na metáfora botânica com que é comparado. d) Argumentativo, organizando o discurso, da tomada do tema até a sua conclusão. e) Poético, uma vez que o discurso ao final deve resultar em uma metáfora botânica. 8. (VUNESP - 2019 - TJ-SP) Leia o texto abaixo. Procuram-se especialistas para identificar fraudes A recente onda de escândalos de corrupção levou as empresas brasileiras a investir em uma área ainda pouco conhecida no mercado: o compliance. O profissional que atua nesse setor é responsável por receber denúncias, combater fraudes, realizar investigações internas e garantir que a companhia cumpra leis, acordos e 70 regulamentos da sua área de atuação. Ele tem o papel importante de auxiliar a empresa a se proteger de eventuais problemas de corrupção. “Nos últimos anos, a área de compliance assumiu protagonismo nas empresas. É uma profissão com salários altos já que as pessoas com experiência ainda são escassas no mercado”, diz o advogado Thiago Jabor Pinheiro, 35. “Como não existem cursos de graduação específicos de compliance, o estudanteque se interesse pela área pode direcionar seu curso para questões de auditoria, prevenção de fraude, direito administrativo e governança corporativa”, diz Pinheiro. Apesar de sobrarem vagas nesse mercado, conseguir um emprego não é fácil. “É fundamental que a pessoa seja atenta aos detalhes, entenda como funciona uma organização e tenha fluência em inglês porque as melhores práticas vêm de fora do país, sobretudo dos EUA e da Inglaterra”, diz o advogado. Para Caroline Cadorin, diretora de uma consultoria, os candidatos precisam ter jogo de cintura para lidar com as mais diversas situações. “Estamos falando de profissionais com forte conduta ética, honestidade e que buscam a promoção da transparência. Hoje as empresas estão cientes de seus papéis ativos no combate à corrupção, especialmente aquelas envolvidas em projetos de órgãos públicos. As companhias que mantêm departamentos de compliance são vistas como mais transparentes”, diz Cadorin. Larissa Teixeira. Folha de S.Paulo, 28.09.2017. Adaptado. Analisando-se a organização do quinto parágrafo do texto, conclui-se que ele é: a) Argumentativo-narrativo. b) Estritamente argumentativo. c) Descritivo-narrativo. d) Estritamente descritivo. e) Descritivo-argumentativo. 71 RESPOSTAS DO FIXANDO O CONTEÚDO UNIDADE 1 UNIDADE 3 UNIDADE 5 UNIDADE 2 UNIDADE 4 UNIDADE 6 QUESTÃO 1 A QUESTÃO 2 C QUESTÃO 3 C QUESTÃO 4 B QUESTÃO 5 B QUESTÃO 6 E QUESTÃO 7 A QUESTÃO 8 A QUESTÃO 1 A QUESTÃO 2 C QUESTÃO 3 D QUESTÃO 4 A QUESTÃO 5 E QUESTÃO 6 E QUESTÃO 7 C QUESTÃO 8 B QUESTÃO 1 B QUESTÃO 2 A QUESTÃO 3 D QUESTÃO 4 C QUESTÃO 5 D QUESTÃO 6 D QUESTÃO 7 A QUESTÃO 8 D QUESTÃO 1 C QUESTÃO 2 E QUESTÃO 3 D QUESTÃO 4 D QUESTÃO 5 B QUESTÃO 6 C QUESTÃO 7 C QUESTÃO 8 A QUESTÃO 1 D QUESTÃO 2 B QUESTÃO 3 C QUESTÃO 4 C QUESTÃO 5 A QUESTÃO 6 E QUESTÃO 7 B QUESTÃO 8 E QUESTÃO 1 B QUESTÃO 2 C QUESTÃO 3 C QUESTÃO 4 E QUESTÃO 5 C QUESTÃO 6 D QUESTÃO 7 B QUESTÃO 8 B 72 ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS. Dicionário Escolar da língua portuguesa. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 2008. AMARAL, R. M. D.; SANTOS, J. F. C. D. A. 0. E. 0. V. 0. P. . M. D. O Uso das Variações Linguísticas por Alunos do Ensino Médio. Revista Científica Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento, [S. l.], v. 02, n. 03, p. 26-35, 2018. Disponível em: https://bit.ly/2SiJccM. Acesso em: 15 abr. 2021. ANTUNES, I. Coesão textual. Glossário Ceale, 18 mar. 2021. Disponível em: https://bit. ly/3g1LqpP. AZEVEDO, A. O Cortiço. 11. ed. São Paulo: Ática, 1981. BAGNO, M. Preconceito lingüístico o que é, como se faz. São Paulo: Loyola, 2007. BAKHTIN, M. Marxismo e filosofia da linguagem. São Paulo: Hucitec, 1981. BANDEIRA, M. Estrela da vida inteira: poesias reunidas. Rio de Janeiro: José Olympio, 1980. BENVENISTE, É. Problemas de linguística Geral. São Paulo: Pontes editores, 2005. BENVENISTE, É. Problemas de linguística Geral II. São Paulo: Pontes Editores, 2006. BEZERRA, R. Nova gramática da língua portuguesa para concursos. 08. ed. São Paulo: Método, 2017. 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