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Lírica medieval Mha irmãa fremosa, treydes comygo a la igreja de Vig’, hu é o mar salido: e miraremo’-las ondas. Mha irmãa fremosa, treydes de grado a la igreja de Vig’, hu é o mar levado: e miraremo’-las ondas. A la igreja de Vig’, hu é o mar salido, e verrá hy, madre, o meu amigo: e miraremo’-las ondas. A la igreja de Vig’, hu é o mar levado, e verrá hy, madre, o meu amado: e miraremo’-las ondas. (CV 886 – Martim Codax) Ondas do mar do Vigo, se vistes meu amigo! e ai, Deus, se verrá cedo! Ondas do mar levado, se vistes meu amado! e ai, Deus, se verrá cedo! Se vistes meu amigo, o por que eu sospiro! e ai, Deus, se verrá cedo! Se vistes meu amado, por que hei gram cuidado! e ai, Deus, se verrá cedo! (CV 884, CBN 1278 – Martin Codax) Eu digo mal, com’ ome fodimalho, quanto mais posso daquestes fodidos e trob’ a eles e a seus maridos; e un deles mi pôs mui grand’ espanto: topou comigu’ e sobraçou o manto e quis en mi achantar o caralho. Ando-lhes fazendo cobras e sões quanto mais poss’, e and’ escarnecendo daquestes putos que s’andan fodendo; e ũ deles de noit’ asseitou-me e quis-me dar do caralh’ e errou-me e lançou, depós nuu, os colhões. (CBN 1626, CV 1160 - Pero da Ponte) — Digades, filha, mya filha velida, Por que tardastes na fontana fria. — Os amores ey. — Digades, filha, mya filha louçana, Por que tardastes na fria fontana. — Os amores ey. Tardey, mya madre, na fontana fria, Cervos do monte a augua volvian. — Os amores ey. Tardey, mya madre, na fria fontana, Cervos do monte volvian a augua. — Os amores ey. — Mentir, mya filha, mentir por amigo. Nunca vi cervo que volvesse o rio. — Os amores ey. — Mentir mya, filha, mentir por amado. Nunca vi cervo que volvesse o alto. — Os amores ey. (CV 797 - Pero Meogo) Ai, dona fea, fostes-vos queixar que vos nunca louv’ en[o] meu cantar; mais ora quero fazer um cantar em que vos loarei toda via; e vedes como vos quero loar: dona fea, velha e sandia! Dona fea, se Deus mi pardom, pois havedes [a]tam gram coraçom que vos eu loe, em esta razom vos quero já loar toda via; e vedes qual será a loaçom: dona fea, velha e sandia! Dona fea, nunca vos eu loei em meu trobar, pero muito trobei; mais ora já um bom cantar farei, em que vos loarei toda via; e direi-vos como vos loarei: dona fea, velha e sandia! (CBN 1486- Joam Garcia de Guilhade) ESTA É DE LOOR DE SANTA MARIA, DO DEPARTIMENTO QUE Á ENTRE AVE E EVA. Entre Av’ e Eva gran departiment’ á. Ca Eva nos tolleu o Parays’ e Deus, Ave nos y meteu; porend’, amigos meus: Entre Av’ e Eva... Eva nos foi deitar do dem’en sa prijon, e Ave en sacar; e por esta razon: Entre Av’ e Eva... Eva nos fez perder amor de Deus e ben, e pois Ave aver no-lo fez; e poren: Entre Av’ e Eva... Eva nos ensserrou os çeos sem chave, e Maria britou as portas per Ave. Entre Av’ e Eva... (D. Alfonso X, O Sábio) Leito de folhas verdes Por que tardas, Jatir, que tanto a custo À voz do meu amor moves teus passos? Da noite a viração, movendo as folhas, Já nos cimos do bosque rumoreja. Eu sob a copa da mangueira altiva Nosso leito gentil cobri zelosa Com mimoso tapiz de folhas brandas, Onde o frouxo luar brinca entre flores. Do tamarindo a flor abriu-se, há pouco, Já solta o bogari mais doce aroma! Como prece de amor, como estas preces, No silêncio da noite o bosque exala. Brilha a lua no céu, brilham estrelas, Correm perfumes no correr da brisa, A cujo influxo mágico respira-se Um quebranto de amor, melhor que a vida! A flor que desabrocha ao romper d'alva Um só giro do sol, não mais, vegeta: Eu sou aquela flor que espero ainda Doce raio do sol que me dê vida. Sejam vales ou montes, lago ou terra, Onde quer que tu vás, ou dia ou noite, Vai seguindo após ti meu pensamento; Outro amor nunca tive: és meu, sou tua! Meus olhos outros olhos nunca viram, Não sentiram meus lábios outros lábios, Nem outras mãos, Jatir, que não as tuas A arazóia na cinta me apertaram. Do tamarindo a flor jaz entreaberta, Já solta o bogari mais doce aroma Também meu coração, como estas flores, Melhor perfume ao pé da noite exala! Não me escutas, Jatir! nem tardo acodes À voz do meu amor, que em vão te chama! Tupã! lá rompe o sol! do leito inútil A brisa da manhã sacuda as folhas! (Gonçalves Dias) Confessor Medieval Irias à bailia com teu amigo, Se ele não te dera saia de sirgo? Se te dera apenas um anel de vidro Irias com ele por sombra e perigo? Irias à bailia sem teu amigo, Se ele não pudesse ir bailar contigo? Irias com ele se te houvessem dito Que o amigo que amavas é teu inimigo? Sem a flor no peito, sem saia de sirgo, Irias sem ele, e sem anel de vidro? Irias à bailia, já sem teu amigo, E sem nenhum suspiro? (Cecília Meireles)
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