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<p>11/08/2015 A inveja e a síndrome de Solomon | EL PAÍS Semanal | EL PAÍS Brasil</p><p>http://brasil.elpais.com/brasil/2013/05/17/eps/1368793042_628150.html 1/4</p><p>BORJA VILASECA 10 MAY 2015 - 13:21 BRT</p><p>A</p><p>conformidade</p><p>PSICOLOGIA »</p><p>A inveja e a síndrome de Solomon</p><p>Formamos parte de uma sociedade que tende a condenar o talento e o sucesso alheios</p><p>A inveja paralisa o progresso por causa do medo gerado pelo fato de não se adequar à</p><p>opinião da maioria</p><p>Um dos maiores temores do ser humano é se diferenciar do resto e não ser aceito</p><p>Arquivado em: Psicologia Experiência científica Investigação científica Ciência</p><p>Em 1951, o reconhecido psicólogo americano Solomon Asch</p><p>foi a um instituto para realizar um teste de visão. Pelo</p><p>menos isso foi o que ele disse aos 123 jovens voluntários</p><p>que participaram – sem saber – de um experimento sobre a</p><p>conduta humana em um entorno social. O experimento era</p><p>muito simples. A uma turma de um colégio foi introduzido</p><p>um grupo de sete alunos, que estavam mancomunados com</p><p>Asch. Enquanto isso, um oitavo estudante entrava na sala</p><p>achando que o resto dos garotos participava da mesma</p><p>prova de visão que ele.</p><p>Fazendo-se passar por oculista, Asch mostrava três linhas</p><p>verticais de diferentes comprimentos, desenhadas junto a</p><p>uma quarta linha. Da esquerda para a direita, a primeira e a</p><p>quarta mediam exatamente o mesmo. Então, Asch pedia</p><p>que dissessem em voz alta qual das três linhas verticais era</p><p>igual à outra desenhada justo ao lado. E organizava a</p><p>atividade de tal maneira que o aluno que servia como</p><p>cobaia do experimento sempre respondesse por último,</p><p>depois de escutar a opinião do resto dos companheiros.</p><p>A resposta era tão óbvia e</p><p>singela que quase não havia</p><p>como errar. No entanto, os sete</p><p>estudantes que haviam feito um</p><p>acordo com Asch escolhiam</p><p>sempre a mesma resposta</p><p>EL PAÍS SEMANAL</p><p>ILUSTRAÇÃO DE JOSÉ LUIS ÁGREDA</p><p>javascript:void(0);</p><p>http://brasil.elpais.com/tag/investigacion_cientifica/a/</p><p>http://brasil.elpais.com/tag/psicologia/a/</p><p>http://brasil.elpais.com/tag/fecha/20150510</p><p>http://brasil.elpais.com/tag/psicologia/a/</p><p>http://brasil.elpais.com/tag/ciencia/a/</p><p>http://brasil.elpais.com/tag/psicologia/a/</p><p>http://brasil.elpais.com/</p><p>http://brasil.elpais.com/autor/borja_vilaseca/a/</p><p>http://brasil.elpais.com/tag/experimentacion_cientifica/a/</p><p>http://brasil.elpais.com/seccion/eps</p><p>11/08/2015 A inveja e a síndrome de Solomon | EL PAÍS Semanal | EL PAÍS Brasil</p><p>http://brasil.elpais.com/brasil/2013/05/17/eps/1368793042_628150.html 2/4</p><p>é o processo</p><p>por meio do</p><p>qual os</p><p>membros de</p><p>um grupo</p><p>social mudam</p><p>seus</p><p>pensamentos,</p><p>decisões e</p><p>comportamentos</p><p>para estar de</p><p>acordo com a</p><p>opinião da</p><p>maioria</p><p>(Solomon</p><p>Asch)</p><p>incorreta. Para dissimular um</p><p>pouco, um ou dois podiam</p><p>escolher outra opção, que</p><p>também estivesse equivocada.</p><p>Este exercício foi repetido 18</p><p>vezes por cada um dos 123</p><p>voluntários que participaram do</p><p>experimento. Todos</p><p>compararam as mesmas quatro</p><p>linhas verticais, dispostas em</p><p>diferente ordem.</p><p>Cabe ressaltar que apenas 25%</p><p>dos participantes mantiveram</p><p>seu critério todas as vezes que a</p><p>pergunta foi feita; o resto se</p><p>deixou influenciar pelo menos</p><p>uma vez pela opinião dos</p><p>demais. Os alunos cobaias</p><p>responderam incorretamente</p><p>mais de um terço das vezes para</p><p>não ir contra o que dizia a</p><p>maioria. Uma vez finalizado o</p><p>experimento, os 123 alunos</p><p>voluntários reconheceram que</p><p>“distinguiam perfeitamente a</p><p>linha correta, mas que não</p><p>tinham dito em voz alta por</p><p>medo de se equivocar, de ser exposto ao ridículo ou de ser o</p><p>elemento discordante do grupo”.</p><p>Atualmente, este estudo continua a fascinar as novas</p><p>gerações de pesquisadores da conduta humana. A</p><p>conclusão é unânime: estamos muito mais condicionados</p><p>em relação ao que pensamos. Para muitos, a pressão da</p><p>sociedade continua sendo um obstáculo intransponível. O</p><p>próprio Asch se surpreendeu ao ver o quanto está</p><p>equivocado afirmar que os seres humanos são livres para</p><p>decidir o próprio caminho na vida.</p><p>Além do famoso experimento,</p><p>no jargão do desenvolvimento</p><p>pessoal se diz que padecemos da síndrome de Solomon</p><p>quando tomamos decisões ou adotamos comportamentos</p><p>para evitar sobressair, se destacar ou brilhar em um</p><p>determinado grupo social, e também quando nos</p><p>boicotamos para não sair do caminho trilhado pela maioria.</p><p>De forma inconsciente, muitos tememos chamar atenção</p><p>em excesso – e inclusive triunfar – por medo de que nossas</p><p>virtudes e nossas conquistas ofendam os demais. Esta é a</p><p>razão pela qual, em geral, sentimos um pânico atroz ao falar</p><p>em público. Não em vão, por uns instantes, nos</p><p>transformamos no centro das atenções. E ao nos expormos</p><p>abertamente, ficamos à mercê do que as pessoas possam</p><p>pensar de nós, o que nos deixa em uma posição de</p><p>vulnerabilidade.</p><p>A síndrome de Solomon evidencia o lado obscuro de nossa</p><p>condição humana. Por um lado, revela nossa falta de</p><p>autoestima e de confiança em nós mesmos, ao pensarmos o</p><p>11/08/2015 A inveja e a síndrome de Solomon | EL PAÍS Semanal | EL PAÍS Brasil</p><p>http://brasil.elpais.com/brasil/2013/05/17/eps/1368793042_628150.html 3/4</p><p>“Os cães ladram e a</p><p>caravana passa”</p><p>(dito popular)</p><p>quanto o nosso valor enquanto pessoas depende de como os</p><p>outros nos avaliam. E, por outro lado, constata uma</p><p>verdade inconveniente: continuamos fazendo parte de uma</p><p>sociedade na qual se tende a condenar o talento e o sucesso</p><p>alheios. Embora ninguém fale sobre isso, em um plano mais</p><p>profundo, o fato de prosperar é mal visto. E mais agora, em</p><p>plena crise econômica, com a precária situação que assola</p><p>milhões de cidadãos.</p><p>Por trás de condutas assim se esconde um vírus, tão</p><p>escorregadio quanto letal, que não só nos adoece, mas</p><p>também paralisa o progresso da sociedade: a inveja. A Real</p><p>Academia Espanhola define esta emoção como o “desejo de</p><p>algo que não se possui”, o que provoca “tristeza ao se</p><p>observar o bem alheio”. A inveja surge quando nos</p><p>comparamos com outra pessoa e concluímos que ela tem</p><p>algo que queremos ou ao que aspiramos. Isso nos leva a pôr</p><p>o foco em nossas carências, que se acentuam na medida em</p><p>que pensamos nelas. E assim se cria o complexo de</p><p>inferioridade; de repente, sentimos que somos menos</p><p>porque outros têm mais.</p><p>Sob o feitiço da inveja, somos</p><p>incapazes de ficar felizes com as</p><p>alegrias alheias. De forma quase</p><p>inevitável, essas atuam como um</p><p>espelho onde costumamos ver</p><p>refletidas nossas próprias</p><p>frustrações. No entanto,</p><p>reconhecer nosso complexo de inferioridade é tão doloroso,</p><p>que necessitamos canalizar nossa insatisfação julgando a</p><p>pessoa que conseguiu o que invejamos. E para encontrar</p><p>motivos para criticar alguém basta ter um pouco de</p><p>imaginação.</p><p>O primeiro passo para superar o complexo de Solomon</p><p>consiste em compreender a futilidade que é se deixar</p><p>incomodar pela opinião que as outras pessoas têm sobre</p><p>nós. Se pensarmos minuciosamente, temos medo de nos</p><p>destacar devido ao que certas pessoas – movidas pelo</p><p>desgosto gerado por seu complexo de inferioridade –</p><p>possam dizer de nós para compensar suas carências e</p><p>sentir-se melhor consigo mesmas.</p><p>E o que fazer com a inveja? Como se supera? Muito</p><p>simples: deixando de demonizar o sucesso alheio para</p><p>começar a admirar e a aprender com as qualidades e com os</p><p>pontos fortes que permitiram que outros realizassem seus</p><p>sonhos. Apesar de que aquilo que cobiçamos nos destrói, o</p><p>que admiramos nos constrói. Essencialmente porque</p><p>passamos a cultivar esses sentimentos em nosso interior.</p><p>Por isso, a inveja é um mestre que nos revela os dons e</p><p>talentos inatos que ainda podemos desenvolver. Em vez de</p><p>lutar contra o externo, devemos utilizá-la para nos</p><p>aperfeiçoarmos interiormente. E no momento em que</p><p>superemos coletivamente o complexo de Solomon,</p><p>possibilitaremos que cada um contribua – de forma</p><p>individual – com o melhor de si mesmo para sociedade.</p><p>© EDICIONES EL PAÍS, S.L.</p><p>http://brasil.elpais.com/brasil/2015/04/21/estilo/1429626969_761601.html</p><p>http://elpais.com/corporativos/</p><p>11/08/2015 A inveja e a síndrome de Solomon | EL PAÍS Semanal | EL PAÍS Brasil</p><p>http://brasil.elpais.com/brasil/2013/05/17/eps/1368793042_628150.html 4/4</p>