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<p>Relações interpessoais, intergrupais e</p><p>intragrupais</p><p>Apresentação</p><p>O ser humano é relacional e se desenvolve em coletivos e grupos, no âmbito da constituição da</p><p>sociedade, onde experiencia a vida compartilhada. Na área de conhecimento da psicologia social,</p><p>diversas teorias tratam das relações interpessoais, intergrupais e intragrupais.</p><p>Desde as teorias das representações sociais até as institucionalistas, percebe-se que as reflexões</p><p>histórico-políticas buscam compreender, elegendo diferentes objetos de interesse, as formas</p><p>coletivas como os indivíduos se organizam. Dessa maneira, o grupo aparece como conceito-chave</p><p>no debate entre indivíduo e sociedade, a partir do qual é possível pensar as formas de organização</p><p>das pessoas na atualidade.</p><p>Nesta Unidade de Aprendizagem, você estudará as principais correntes teóricas que trabalham o</p><p>conceito de grupos e relações interpessoais. Entenderá como a subjetividade privatizada recebe</p><p>influência da organização grupal, seja ela positiva ou negativa. Além disso, descobrirá diferentes</p><p>maneiras de aplicação desses conceitos em contextos sociais, considerando reflexões relacionadas</p><p>à produção de subjetividade em meio às generalizações características dos grupos sociais.</p><p>Bons estudos.</p><p>Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados:</p><p>Conceituar relações interpessoais no cenário contemporâneo.•</p><p>Descrever o funcionamento dos grupos e as relações intergrupais dentro da psicologia social</p><p>contemporânea.</p><p>•</p><p>Explicar os processos de construção dos grupos sociais e das relações intragrupais.•</p><p>Desafio</p><p>O florescimento da psicologia social, embora tenha nascido na Europa, foi em território norte-</p><p>americano. O próprio Wilhelm Wundt, conjuntamente ao projeto de uma psicologia experimental,</p><p>contribuiu para o desenvolvimento de uma psicologia social, cujos primeiros objetos podem ser</p><p>definidos como a linguagem, a cultura, a religião, o mito e os costumes. A partir disso,</p><p>consideremos, neste Desafio, diferentes culturas na constituição da cultura brasileira.</p><p>Sendo assim, suponha a situação a seguir:</p><p>Aponte a câmera para o</p><p>código e acesse o link do</p><p>conteúdo ou clique no</p><p>código para acessar.</p><p>https://statics-marketplace.plataforma.grupoa.education/sagah/17b300de-43de-4df1-a5ac-696c422ba4f6/f04fcb13-7871-48cf-a7ae-dd1acb3b6734.jpg</p><p>Desse modo, responda:</p><p>Enquanto psicólogo social, como você trabalharia as questões de identidade junto ao grupo de</p><p>adolescentes nordestinos? E quais seriam as suas estratégias de atuação? Considere contemplar</p><p>aspectos relacionados à diversidade cultural e ao mercado de trabalho globalizado no âmbito das</p><p>estratégias passíveis de serem mobilizadas para a sua atuação nessa organização de trabalho.</p><p>Infográfico</p><p>Os grupos têm diversas formas de constituição. Alguns são criados espontaneamente, ao acaso,</p><p>outros, por afinidades. Muitas vezes, eles são formados quando os indivíduos se percebem dizendo</p><p>e fazendo coisas semelhantes.</p><p>O psicólogo e teórico social Michel Foucault pensa a produção do indivíduo moderno a partir de</p><p>uma dinâmica original que é o jogo da relação entre três forças. Segundo seu pensamento, é</p><p>possível constatar que, em meio a discursos, práticas e formas de percepção de si mesmo, nós</p><p>constituímos quem somos e passamos a viver entre grupos de semelhantes.</p><p>Neste Infográfico, você vai saber mais sobre a constituição dos grupos de profissionais de uma</p><p>mesma área do conhecimento, após o período do curso de graduação.</p><p>Aponte a câmera para o</p><p>código e acesse o link do</p><p>conteúdo ou clique no</p><p>código para acessar.</p><p>https://statics-marketplace.plataforma.grupoa.education/sagah/a9050fc4-45c8-4648-9a67-d9070dac22b9/598fe458-969e-4126-a3d2-615cb9fb6ce2.jpg</p><p>Conteúdo do livro</p><p>A psicologia social se consagra como uma vertente interessada no estudo do sujeito ou da</p><p>subjetividade imersa no meio social em que o indivíduo se encontra. É, portanto, uma forma de</p><p>raciocínio, uma forma de pensar a realidade coletiva e individual. Com a finalidade de problematizar</p><p>a concepção de indivíduo como uma entidade fechada em si mesma, a psicologia social se propõe a</p><p>entender a relação das pessoas quando inseridas em grupos de modo a constatar que o</p><p>pensamento, por ser interior ou fundado no passado, fica em débito no jogo atual de relações em</p><p>que está inserido.</p><p>No capítulo Relações interpessoais, intergrupais e intragrupais, base teórica desta Unidade de</p><p>Aprendizagem, você vai estudar os grupos, suas formas de articulação, bem como as principais</p><p>vertentes teóricas que os problematizam e buscam compreendê-los, além de conhecer, na</p><p>atualidade, como os grupos podem se organizar.</p><p>Boa leitura.</p><p>PSICOLOGIA SOCIAL</p><p>OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM</p><p>> Conceituar relações interpessoais no cenário contemporâneo.</p><p>> Descrever o funcionamento dos grupos e as relações intergrupais dentro</p><p>da psicologia social contemporânea.</p><p>> Explicar os processos de construção dos grupos sociais e das relações</p><p>intragrupais.</p><p>Introdução</p><p>Existe uma tradição de contar a história da psicologia e de tratar da constituição</p><p>do indivíduo moderno como se fosse um processo linear. A psicologia teria</p><p>seu nascimento na filosofia antiga e, após alguns percalços nos mosteiros da</p><p>Idade Média e nas desventuras da Idade Moderna, encontraria seu apogeu e</p><p>sua superioridade no final do século XIX. A história contada dessa maneira faz</p><p>parecer que a psicologia científica é resultado do amadurecimento mental dos</p><p>povos. A partir dessa mesma perspectiva linear, lança-se luz sobre a formação</p><p>do indivíduo moderno. Aparentemente, o que somos hoje é a etapa final de</p><p>um processo que se iniciou, talvez, com o homo neandertal. A mente humana,</p><p>com seus sabores e dissabores, seria resultado claro do processo evolutivo de</p><p>Relações</p><p>interpessoais,</p><p>intergrupais e</p><p>intragrupais</p><p>Marcela Montalvão Teti</p><p>amadurecimento, que já estava lá marcado desde seu início, sendo necessário</p><p>somente esperar o tempo passar para ver a subjetividade moderna florescer.</p><p>A história de uma ciência e a constituição do indivíduo moderno contadas</p><p>dessa forma seriam fáceis de entender. Com relação à primeira, bastaria indicar</p><p>alguns nomes, algumas datas e teríamos uma única forma, positivista e verda-</p><p>deira, de entender os processos históricos. Com relação à segunda, uma análise</p><p>substancial do indivíduo tal como ele é hoje seria suficiente para entender as</p><p>pessoas desde o início dos tempos, e qualquer mudança no desenvolvimento</p><p>desse indivíduo deveria partir somente dele.</p><p>Felizmente, historiadores e psicólogos sociais aparecem para destacar que a</p><p>história não é resultado da mentalidade de indivíduos ou o resultado bem-sucedido</p><p>de um gérmen da humanidade que já estava plantado lá no início. A história da</p><p>sociedade é feita de acontecimentos intempestivos e não de “ouropéis” (FOUCAULT,</p><p>2006a). Do mesmo modo, o desenvolvimento de uma ciência, como diria Robert</p><p>Farr (1996), deve ser contado a partir dos fatos históricos e das instituições nas</p><p>quais as perspectivas teóricas nasceram. Em outras palavras, a constituição de</p><p>uma ciência deve ser pensada atrelada às relações sociais, políticas e históricas</p><p>nas quais seus criadores estavam inseridos. Do mesmo modo, deve ser encarada</p><p>a constituição do indivíduo moderno. O que somos hoje é resultado das relações</p><p>sociais, políticas e históricas em que nos situamos. Problemas, sofrimento, alegrias</p><p>e conquistas são resultado das relações interpessoais, intergrupais e intragrupais</p><p>que desenvolvemos e mantemos.</p><p>Neste capítulo, você vai conhecer um pouco da história da psicologia e da</p><p>psicologia social, de modo a compreender o que são relações interpessoais no</p><p>cenário contemporâneo. Vai, também, identificar quais são os principais emba-</p><p>tes teóricos e metodológicos entre as vertentes europeias e estadunidenses,</p><p>no tocante aos modos como as pessoas se relacionam em seus grupos e entre</p><p>grupos. Ao final, será possível reconhecer os processos de construção de grupos</p><p>sociais e aprender</p><p>sobre influência social a partir da interação intragrupal, entre</p><p>o indivíduo e os grupos dos quais faz parte.</p><p>Para além do indivíduo-substância,</p><p>um sujeito constituído socialmente</p><p>Existe um mito em torno do nascimento da psicologia. Acredita-se que a</p><p>atividade clínica e a análise dos problemas individuais antecedem as aborda-</p><p>gens sociais, no percurso da história — talvez porque em pleno século XXI os</p><p>problemas os sofrimentos psíquicos de grande repercussão girem em torno</p><p>Relações interpessoais, intergrupais e intragrupais2</p><p>da depressão, da ansiedade, do transtorno obsessivo-compulsivo (TOC). Tais</p><p>transtornos, embora acometam muitas pessoas, não “abatem” todas elas, de</p><p>modo que nos convencemos de que o problema é só “daquela pessoa especí-</p><p>fica e não tem nada a ver comigo”. De forma equivocada, também, a vertente</p><p>social de aplicação da psicologia é, muitas vezes, confundida com uma prática</p><p>voltada ao atendimento de pessoas em situação de vulnerabilidade. A clínica</p><p>social existe e implica uma consulta com valor abaixo da média. No entanto, a</p><p>psicologia social não se reduz a isso. A psicologia social é uma forma de pensar</p><p>o indivíduo. É uma racionalidade, uma maneira de entender a subjetividade</p><p>de uma pessoa não restrita só a ela. A depressão, a ansiedade e o TOC só</p><p>vão existir ou somente serão possíveis se a sociedade, o coletivo em que as</p><p>pessoas estão envolvidas produzirem indivíduos com transtornos mentais.</p><p>Em O nascimento da medicina social, Michel Foucault (2006b) argumenta</p><p>que esta veio antes da medicina clínica. A medicina social nasceu de uma</p><p>demanda social, agrupamentos sociais que estavam se organizando em torno</p><p>da formação de estados-nações. Para organizar as pessoas em torno do que</p><p>seriam países, era necessário organizar ruas e passagens e higienizá-las de</p><p>modo a interromper contaminações mortais. O exame do indivíduo veio após</p><p>essa necessidade política de organização social. Na psicologia observamos</p><p>um caminho parecido. A história social, ou a configuração social moderna,</p><p>impõe a existência de profissionais responsáveis por entender o que mobiliza</p><p>o indivíduo, no final do século XIX. E, embora a ciência que desponta durante</p><p>o século XX tenha como foco a análise da consciência ou do inconsciente</p><p>individual, vemos florescer vertentes de cunho social que pensam o indivíduo</p><p>na sua relação com os seus pares. Figueiredo e Santi (2006) sinalizam um</p><p>momento histórico preciso em que o projeto wunditiano se faz necessário</p><p>na sociedade que se constituiu após a ruína do feudalismo.</p><p>O indivíduo para o nascimento da psicologia</p><p>Entre os séculos XVI e XIX, observa-se uma expansão dos modos de vida.</p><p>Durante a Idade Média, soberanos e servos de gleba viviam em espaços de</p><p>terra, conhecidos por feudos, distantes de si uns dos outros, com núcleos</p><p>sociais restritos em quantidade e em comunicação. Com o fim da Idade Média,</p><p>a tríade Igreja–Coroa–servos de desfaz. Com o desenvolvimento das trocas</p><p>comerciais e do monetarismo e o surgimento de uma nova tecnologia de poder,</p><p>centrada na produção de vida, chamada de “biopoder” (FOUCAULT, 2007a), as</p><p>estruturas feudais se “rompem”, abrindo espaço para a circulação de pessoas</p><p>não mais vinculadas à terra. Esse acontecimento histórico, marcado também</p><p>Relações interpessoais, intergrupais e intragrupais 3</p><p>pela queda da igreja católica e pela desintegração das coroas medievais,</p><p>estimula o surgimento de burgos, sementes das futuras cidades europeias.</p><p>O século XVI apresenta, também, a novidade dos recursos às grandes nave-</p><p>gações e a consequente extração de minérios de ouro e prata dos litorais da</p><p>América recém-descoberta. Assim, dá-se início a um processo de mudança</p><p>da configuração social do mundo medieval e instauração de novos modos</p><p>de existência, inaugurando o acontecimento filosófico chamado de Idade</p><p>Moderna, ou, de acordo com Foucault (2007a), a idade clássica.</p><p>O deslocamento entre as Idades Média e Moderna impõe mudanças nos</p><p>modos do sujeito ver a si mesmo, a natureza e os outros. A partir do século</p><p>XVI, instaura-se uma sequência de movimentos culturais e intelectuais, como</p><p>� o renascentismo, colocando o sujeito como fonte do conhecimento</p><p>legítimo;</p><p>� o empirismo, apontando a experiência e o experimento como prepon-</p><p>derante à descoberta das verdades naturais;</p><p>� o iluminismo, colocando para o sujeito da razão a presença “obscura”</p><p>da subjetividade humana.</p><p>No campo das práticas, contata-se o desenvolvimento do “sistema mercan-</p><p>til e individualização” (FIGUEIREDO; SANTI, 2006), além da paulatina constituição</p><p>do “regime disciplinar” atrelando os indivíduos aos sistemas fabris, em uma</p><p>dinâmica de produção “anatomo-política dos corpos” (FOUCAULT, 2002). A</p><p>partir de tais acontecimentos no campo dos discursos e das práticas, cons-</p><p>tata-se o nascimento do indivíduo moderno. Um sujeito dono da sua história,</p><p>capaz de mudar a situação em que vive e a natureza da sua realidade, encara</p><p>a sua sombra no desenvolvimento cotidiano de suas tarefas. Esse sujeito é</p><p>paralelo ao indivíduo livre, capaz de ir e vir, autodeterminado, mas vinculado</p><p>à produção de mercadorias e preso ao sistema capitalista decorrente da</p><p>revolução industrial.</p><p>O processo de migração dos espaços rurais às futuras cidades modernas,</p><p>entre os séculos XVI e XIX, acontece de forma lenta, marcando irreversivel-</p><p>mente a história mundial. Com a finalidade de viver melhor, as cidades ficam</p><p>povoadas, ocasionando o surgimento do fenômeno da população (FOUCAULT,</p><p>2007b). E se, de um lado, a história é marcada pela presença de indivíduos</p><p>com uma clara experiência de subjetividade privatizada (FIGUEIREDO; SANTI,</p><p>2006; FIGUEIREDO, 2007) e vida livre e independente, de outro, tem-se, pela</p><p>primeira vez na história, a presença massiva de indivíduos juntos e, consequen-</p><p>temente, a desordem social. Indivíduos coletivizados promovem alterações</p><p>Relações interpessoais, intergrupais e intragrupais4</p><p>sociais, implicando, muitas vezes, destruição de fábricas, miséria, mendicância,</p><p>doenças, revoltas populares. Tais fatos associados culminam na colocação</p><p>do indivíduo como objeto para o conhecimento, fazendo da psicologia uma</p><p>ciência necessária à constituição da sociedade moderna.</p><p>A psicologia enquanto ciência surge, portanto, no final do século XIX.</p><p>Wilhelm Wundt (1832–1920) é tido como o pai da psicologia científica, a partir</p><p>do momento em que cria o laboratório de psicologia experimental em Leipizig,</p><p>no ano de 1879. Naquele momento, Wundt atendia a uma necessidade, a um</p><p>problema social que se disseminava em diversas partes da Europa e da América</p><p>do Norte. Alguns acontecimentos históricos deram início a certa desordem</p><p>social, impondo aos intelectuais das ciências nascentes questões em torno</p><p>das razões pelas quais as pessoas agiam de tal forma. Nesse sentido, Wundt</p><p>e o Laboratório de Psicologia experimental buscam atender à demanda de</p><p>entender por que as pessoas agem como agem. Para tanto, a consciência passa</p><p>a ser objeto de investigação, a partir do “método experimental-introspectivo”</p><p>(BERNARDES, 2013, p. 23).</p><p>Ao projeto wundtiano de psicologia experimental, seguem como correntes</p><p>clássicas no estudo do indivíduo moderno a psicanálise e o behaviorismo.</p><p>Apesar de terem pensamentos opostos, os dois projetos focam em compreen-</p><p>der os problemas que atravessam o indivíduo de forma particular e propor</p><p>soluções para eles de forma isolada. Para a psicanálise, o objeto de estudo</p><p>é o inconsciente, uma parte do indivíduo que ele mesmo desconhece que</p><p>exista. A investigação desse inconsciente acontece a partir do método da</p><p>“fala livre” e da análise dos sonhos do indivíduo que sofre. O behaviorismo</p><p>foca suas análises em uma variável observável, o comportamento, por meio</p><p>do método experimental sem introspecção, e defende que as mudanças na</p><p>vida de um indivíduo acontecerão por meio da manipulação das consequências</p><p>ambientais às respostas emitidas por esse indivíduo. Por meio de diferentes</p><p>estratégias, tanto o behaviorismo como a psicanálise identificam</p><p>um indiví-</p><p>duo-substância, fechado em si mesmo. A interação social como condicionante</p><p>da subjetividade desse indivíduo tem participação coadjuvante, só aparece na</p><p>figura da família (complexo de édipo, pai–mãe–filho) ou do ambiente. Assim, a</p><p>valorização do social, ou dos processos de interação social para investigação</p><p>da subjetividade, viria por outros caminhos.</p><p>Farr (1996) é o teórico que defende que as raízes da psicologia social são</p><p>europeias, mas seu florescimento acontece em território norte-americano.</p><p>É possível afirmar isso porque paralelamente ao projeto de uma psicologia</p><p>experimental, Wundt deu início, na Alemanha, a um projeto de psicologia social,</p><p>entre 1900 e 1920 (BERNARDES, 2013). Os objetos de estudo dessa psicologia</p><p>Relações interpessoais, intergrupais e intragrupais 5</p><p>social eram a linguagem, a cultura, a religião, o mito, os costumes. Para Wundt,</p><p>estes são claramente fenômenos sociais. O desenvolvimento da psicologia</p><p>social nessa época não avança tanto em virtude das Grandes Guerras que</p><p>assolam a Europa e da consequente migração de intelectuais para os Estados</p><p>Unidos. No entanto, antes de isso acontecer, a Alemanha chegou a receber, de</p><p>acordo com Farr (1996), mais de 10.000 americanos para estudar psicologia.</p><p>Dentre eles, estava George H. Mead, um dos precursores da psicologia social</p><p>nos Estados Unidos. Foi, inclusive, aluno de Wundt, permaneceu na Alemanha</p><p>por três anos e, mesmo quando retornou a seu país natal, manteve contato</p><p>com Wundt e sua equipe de trabalho.</p><p>Nos Estados Unidos, sob grande influência do behaviorismo, observa-se o</p><p>desenvolvimento de uma ciência psicológica social fundada no método expe-</p><p>rimental, inspirada no positivismo de Augusto Comte. Essa psicologia social,</p><p>que tem por referência Gordon Allport e o Handbook of Social Psychology,</p><p>tinha por princípios básicos tratar os fenômenos sociais como fenômenos</p><p>naturais “através de métodos experimentais, sendo que seus modelos expli-</p><p>cativos nos remetem sempre, em última instância, a explicações centradas</p><p>no indivíduo” (BERNARDES, 2013, p. 27). Para Allport e demais pesquisadores</p><p>dessa vertente de psicologia social, a sociedade nada mais era do que uma</p><p>reunião de indivíduos. Assim, em solo estadunidense, dissemina-se uma ciência</p><p>social que exclui o projeto wundtiano de volkerpsychologie (psicologia dos</p><p>povos ou psicologia das massas), bem como as vertentes críticas da psicologia</p><p>social, como as correntes marxistas alemãs e a psicologia social de George</p><p>H. Mead. Entendendo as vertentes críticas e relacionais de psicologia social,</p><p>Robert Farr destaca o desenvolvimento de duas formas de psicologia social</p><p>durante o século XX: uma de cunho psicológico e outra de cunho sociológico.</p><p>A forma psicológica defende a individualização da psicologia social, reduzindo</p><p>o sentido das relações e interações sociais às leis do indivíduo. A gestalt e o</p><p>behaviorismo seriam representantes dessa vertente.</p><p>Já as formas sociológicas de psicologia social refletem a relação entre o individual</p><p>e o coletivo. Buscam uma superação desta dicotomia, não reduzindo as explicações</p><p>da psicologia social ao individual, nem tampouco ao coletivo. São exemplos desta</p><p>perspectiva a Teoria das Representações sociais [...] e o behaviorismo social [...],</p><p>dentre outros (BERNARDES, 2013, p. 32).</p><p>A tradução da história da psicologia e da psicologia social divulga uma</p><p>organização linear do pensamento, enfatizando a história das ideias e das</p><p>perspectivas teóricas. No entanto, pensar a psicologia social sob esse embasa-</p><p>mento é desconsiderar a importância dos acontecimentos e das relações sociais.</p><p>Relações interpessoais, intergrupais e intragrupais6</p><p>Psicologia social sociológica: perspectivas</p><p>estadunidenses e europeias</p><p>Em oposição a essa forma individualizada de pensar a subjetividade humana,</p><p>passamos ao estudo das vertentes de psicologia social de caráter sociológico</p><p>e, por isso mesmo, vertentes de cunho crítico que refletem a formação do</p><p>indivíduo moderno a partir da história, da cultura e dos modos de interação</p><p>social.</p><p>Interacionismo simbólico</p><p>As ideias de Georg Simmel chegaram aos Estados Unidos a partir de Robert</p><p>Park e se tornaram referência para psicólogos sociais da Escola de Chicago.</p><p>Simmel era alemão, considerado por alguns teóricos como um dos pais da</p><p>sociologia moderna, dividindo esse lugar com Durkheim, Marx e Weber. Apesar</p><p>de ser sociólogo, suas pesquisas giravam em torno das relações entre indivíduo</p><p>e sociedade e, por isso, de acordo com Álvaro e Garrido (2017, p. 70), “deva</p><p>ser considerada uma referência da psicologia social”. Para Simmel (1973), a</p><p>sociedade é resultado de ações e interações entre seus membros e por isso</p><p>mesmo é dinâmica. A perspectiva processual de sua concepção aponta para</p><p>a ideia de que nem indivíduo, nem sociedade devem ser concebidas de forma</p><p>isolada. A partir dessa ideia de sociedade, seu objeto de investigação eram</p><p>os estados mentais das pessoas e o que acontecia diariamente na vida delas.</p><p>“Seu objetivo principal era realizar uma descrição das distintas manifestações</p><p>da vida social por intermédio do estudo das inter-relações sociais básicas”</p><p>(ÁLVARO; GARRIDO, p. 70).</p><p>Cotidianamente, as pessoas dão sentido às suas interações a partir de eti-</p><p>quetas e modelos a que tiveram acesso em outros lugares. Em resumo, Simmel</p><p>se dedicou ao estudo dos seguintes modelos a partir dos quais as relações</p><p>humanas se organizam: conflito, intercâmbio, estranheza, supreordenação</p><p>e subordinação. A partir desse jogo, ele esteve interessado em investigar</p><p>uma série de tipos sociais, especialmente duas figuras, a do estranho e a</p><p>do pobre. Simmel ficava intrigado pela vida na cidade nascente, sobretudo</p><p>pela condição de estranheza que permeava os modos de vida sem qualquer</p><p>relação vicinal. A cidade era a representação da perda dos laços afetivos</p><p>do campo por meio da aproximação e da constituição de relações sociais</p><p>mediadas pela moeda, pelo dinheiro.</p><p>Relações interpessoais, intergrupais e intragrupais 7</p><p>Ainda que suas reflexões marquem o início do século XX, percebe-se o</p><p>reflexo do seu pensamento na atualidade. Simmel (1973) fala da vida na cidade</p><p>como desconectada de sentido e, por isso, caracterizada por certo frenesi,</p><p>nervosismo. O tipo de indivíduos típico dessa sociedade era o “homem blasé”,</p><p>que carregava o desejo mais profundo de se distanciar dos choques da vida</p><p>urbana na metrópole. Segundo Jacques (2014), esse homem se deixa arrastar</p><p>e disciplinar pelas exigências externas da modernidade, é um homem pas-</p><p>sivo, alienado de suas condições de existência. Nessa sociedade, o dinheiro</p><p>coordena as relações de modo a criar um sentimento de oposição entre as</p><p>trocas comerciais monetizadas. Inicialmente, o dinheiro aproxima as pessoas</p><p>do que elas desejam, mas ele também é por causa dele que desejos são</p><p>afastados daqueles que desejam. Para o sociólogo, o dinheiro nos aproxima</p><p>“a prestações” de pessoas com as quais não teríamos nenhum vínculo pessoal</p><p>e ao mesmo tempo nos torna independentes das normas sociais, daqueles</p><p>grupos dos quais fizemos parte. Nessa perspectiva, as relações interpessoais</p><p>acabam por se tornar a representação da sua expressão monetária.</p><p>Os modos de análise da subjetividade moderna, totalmente contextualizada</p><p>com o momento histórico no qual vive, com base nos processos de interação</p><p>social, fazem Simmel o formulador de uma teoria microssociológica — que</p><p>será inspiração a outros teóricos sociais que marcam uma vertente sociológica</p><p>da psicologia social, a exemplo de Erving Goffman. Antes de chegarmos ao</p><p>autor da obra Manicômios, prisões e conventos, iremos tratar um pouco sobre</p><p>George Herbert Mead.</p><p>George H. Mead costuma ser esquecido na história da psicologia social,</p><p>porque a princípio é conhecido como filósofo. Mesmo professor de psicolo-</p><p>gia social, ele preferiu ser conhecido entre os seus alunos como da área de</p><p>filosofia. O que se conhece da produção de Mead é resultado da organização</p><p>de escritos provenientes das anotações de seus</p><p>alunos e posteriormente</p><p>publicados. Dentre os alunos mais conhecidos estão J. B. Watson, “pai” do</p><p>behaviorismo, e Herbert Blumer. Este último, quando Mead morreu, em 1931,</p><p>assumiu seu curso anual de psicologia social e atribuiu o nome de intera-</p><p>cionismo simbólico ao tipo de psicologia que Mead colocava em prática.</p><p>A psicologia social de Mead tinhas raízes darwinianas, que foram esquecidas</p><p>quando Blumer levou seu pensamento para o campo da sociologia. George</p><p>Mead se intitulava um behaviorista social (PORTUGAL, 2007, p. 466). Seus</p><p>interesses de investigação giravam em torno do problema da mente humana,</p><p>da sua consciência, em relação à sociedade. Ele tecia críticas ao behaviorismo</p><p>e às suas relações com a psicologia social, pois apontava reducionismo nas</p><p>análises em torno do estímulo-resposta. Essa corrente endossava a dicotomia</p><p>Relações interpessoais, intergrupais e intragrupais8</p><p>mente-corpo, recusando a legitimidade da presença da mente nas respostas</p><p>dos indivíduos. Mead não recusava a mente, nem o corpo, mas era contrário</p><p>à ideia de indivíduo-substância nas relações sociais. Não haveria dicotomia</p><p>entre os dois eixos, visto que sua dinâmica é processual. Mead, para a vertente</p><p>crítica da psicologia social, passa a ser importante pois destaca a relação</p><p>dialética entre indivíduo e sociedade. Para ele, o ser individualizado é efeito, é</p><p>consequência da socialização, que tinha por investigação central a linguagem.</p><p>O estudo da linguagem era central na psicologia social de Mead. Ele se</p><p>interessava pela função da significação. Para ele, esta não é proveniente da</p><p>mente do indivíduo, mas ela “se origina e se mantém no ato social” (PORTUGAL,</p><p>2007, p. 466). O indivíduo, para ele, é resultado da experiência, e indivíduo e</p><p>sociedade são um processo que ultrapassa os dois eixos, sendo atravessados</p><p>por relações históricas e contextuais. A significação, para ele:</p><p>[...] nasce em um processo relacional tríplice que envolve o gesto de um organismo,</p><p>o ato social que já inclui este gesto e a reação do outro a esta ação. O gesto ganha</p><p>sua consistência no ato social que fornece diretividade para os indivíduos envol-</p><p>vidos. Não se trata de estatuir uma anterioridade absoluta ao ato social, mas de</p><p>insistir em seu caráter relacional e em sua exterioridade em relação ao indivíduo</p><p>(PORTUGAL, 2007, p. 466).</p><p>A significação é, portanto, compreendida sem fazer referência a uma</p><p>consciência individual estanque, o que explica a ideia de que o indivíduo é</p><p>resultado das interações que produz cotidianamente. Um dos objetos produ-</p><p>zidos nesse processo de interação é a mente. A mente aqui ocupa um lugar</p><p>de reflexividade. É, portanto, uma função social, dinâmica e processual.</p><p>Portugal (2007) destaca que se constitui um erro recorrer ao passado de uma</p><p>pessoa para buscar compreender seu presente. Passa a ser lógico investigar</p><p>os objetos presentificados que estimulam a função de reflexividade para</p><p>que possa surgir a mente. A constituição de um eu será devagar e imersa no</p><p>jogo das relações sociais. Na experiência social, a presença dos outros impõe</p><p>pontos de vista a respeito do eu e a adoção de algumas atitudes necessárias.</p><p>Assim, a mente não é unitária, mas se assemelha a uma “colcha de retalhos”,</p><p>na medida em que acumula “recortes” de cada relação em que está imersa.</p><p>A mente, portanto, é uma experiência eminentemente social.</p><p>O pensamento de Mead, seu behaviorismo social, ainda é presente na</p><p>Escola de Chicago entre os sociólogos, sob o título de interacionismo sim-</p><p>bólico. Em diversas universidades do Brasil, seu pensamento é adotado e é</p><p>possível constatar o estudo dos gestos e da significação nos departamentos</p><p>de sociologia e antropologia social e urbana e programas de pós-graduação.</p><p>Relações interpessoais, intergrupais e intragrupais 9</p><p>A microssociologia de Erving Goffman representa um segundo momento</p><p>da Escola de Chicago. Ele coloca em prática o interacionismo simbólico para</p><p>refletir sobre as pessoas em situação de vulnerabilidade social e descrever</p><p>em minúcia as formas de relação mediadas por instituições. Ele coloca em</p><p>prática o método etnográfico de trabalho e traz a possibilidade de analisar a</p><p>subjetividade humana a partir da observação de diversas situações sociais.</p><p>Continua sendo uma referência para a pesquisa de campo e para a percepção</p><p>de si mesmo como efeito do jogo das relações sociais. Em Manicômios, prisões</p><p>e conventos, ele se preocupa em apontar como as estruturas arquitetônicas</p><p>das instituições totais, a forma como se dispõe a equipe técnica, e os modos</p><p>“minúsculos” e microssociais de interação entre indivíduos podem acarretar</p><p>processos de identificação social. Em seu trabalho, o doente mental não é</p><p>obra de uma interioridade problemática, mas resultado da combinação entre</p><p>comportamentos, atitudes e coerções cotidianas produzidas por pessoas,</p><p>funções, normatizações e equipamentos urbanos.</p><p>Influência social: tendências a</p><p>comportamentos e atitudes com</p><p>base nos grupos</p><p>O campo de análise das pesquisas em psicologia social impõe certo nível</p><p>de atenção. Entende-se que a psicologia tem como objeto o indivíduo e os</p><p>fenômenos que dizem respeito a ele. Já a psicologia social entende que o</p><p>indivíduo e os fenômenos que o atravessam estão inseridos em um contexto</p><p>social, histórico e cultural que deve ser considerado como imanente ao campo</p><p>de análise em torno desse indivíduo. No entanto, esse nível de análise deve</p><p>acontecer sem que a psicologia prescinda dos indivíduos e opere uma análise</p><p>somente da sociedade. A sociedade não é a mera composição ou somatório</p><p>de indivíduos. Assim, cabe à psicologia social e aos pesquisadores do campo</p><p>social propor ferramentas para entender como os indivíduos se relacionam.</p><p>A saída desse impasse é operada de forma diversificada. Algumas correntes</p><p>teóricas, como vimos, focam na forma como as pessoas interagem entre si ou</p><p>na forma como se organizam em torno de grupos. De acordo com Simmel, “os</p><p>indivíduos ou os grupos sociais mantêm relações que têm seu fundamento</p><p>nas imagens mútuas que elaboram no decorrer de suas ações recíprocas”</p><p>(ALVARO; GARRIDO, 2017, p. 74). Nela existe a defesa de uma relação dialética</p><p>entre indivíduos e sociedade. A interação entre os indivíduos aparece como</p><p>mediada pelo contexto no qual estão inseridos, mas essa interação é criadora</p><p>de tipos que influenciam atitudes e comportamentos sociais.</p><p>Relações interpessoais, intergrupais e intragrupais10</p><p>No tocante aos grupos, especificamente, Myers (2014) argumenta que eles</p><p>exercem influência de forma diversificada sobre os indivíduos. Em diversas</p><p>situações do cotidiano é possível notar que um mesmo indivíduo tem um</p><p>desempenho excepcional quando faz uma tarefa sozinho, mas quando está</p><p>em grupo seu desempenho é aquém do esperado. Ao mesmo tempo, chama</p><p>a atenção que, em situações competitivas, como os jogos olímpicos, recordes</p><p>são quebrados e diversos indivíduos demonstram sua capacidade física e</p><p>mental ampliada diante de uma plateia que ovaciona o seu desempenho.</p><p>Seguindo essa ideia de que o grupo influencia as decisões e os comportamen-</p><p>tos de indivíduos, algumas orientações para o alcance da alta performance</p><p>acadêmica sugerem que estudantes intelectuais que saem com outros inte-</p><p>lectuais reforçam os interesses intelectuais uns dos outros e ampliam seu</p><p>desempenho estudantil. De outra parte, estudantes desajustados que saem</p><p>com outros na mesma situação reforçam suas tendências não muito sociais</p><p>(MYERS, 2014, p. 215–216).</p><p>Ainda de acordo com Myers (2014, p. 2017), os grupos são constituídos</p><p>por “duas ou mais pessoas que interagem e se influenciam mutuamente. Os</p><p>grupos percebem a si mesmo como ‘nós’ em contraste com ‘eles’. Segundo</p><p>Carlos (2013, p. 200), diversos autores “partem da descrição do mesmo fenô-</p><p>meno social” para conceituar o grupo, qual seja, “a reunião de duas ou mais</p><p>pessoas com um objetivo comum de ação”. Para o autor, as especificações</p><p>a respeito de como os grupos funcionam ou quais são suas características</p><p>mais importantes</p><p>vão depender do referencial de ser humano que se adota.</p><p>No entanto, alguns pontos comuns podem ser identificados entre aqueles</p><p>que estudam esse fenômeno social. A literatura ressalta a importância do</p><p>contato entre as pessoas, a busca de um objetivo comum, a dependência</p><p>entre os membros, a coesão.</p><p>Muito do que se conhece sobre grupos foi apresentado por Kurt Lewin.</p><p>Proveniente da Alemanha, chegou aos Estados Unidos fugido do nazismo e</p><p>se tornou professor do MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts). Lá ele</p><p>fundou, em 1945, o Centro de Pesquisa em Dinâmica de Grupo (BERNARDES,</p><p>2013). Para Lewin, o grupo é composto por pessoas que são interdependentes.</p><p>A ação de um indivíduo vai mudar a forma como o grupo se organiza, pois a</p><p>experiência do grupo é determinada pela posição e relação entre os demais.</p><p>Para ele, o grupo é o um “todo dinâmico” (CARLOS, 2013), o que significa dizer</p><p>que “uma mudança no estado de uma das partes modifica o estado de qual-</p><p>quer parte” (CARLOS, 2013, p. 200). Em sua concepção, o grupo trabalha para</p><p>encontrar uma essência, visto que a organização de pessoas as transcende.</p><p>Para ele, haveria uma concepção de grupo ideal, em que as relações são</p><p>Relações interpessoais, intergrupais e intragrupais 11</p><p>horizontais, em que não há conflito. Essa forma de conceber o grupo poderia</p><p>ser entendida como uma espécie de anticapitalismo romântico (CARLOS, 2013).</p><p>Lane (1989) ressalta algumas características políticas da associação or-</p><p>ganizadas entre pessoas. Para ela,</p><p>[...] o grupo [...] é condição necessária para conhecer as determinações sociais que</p><p>agem sobre o indivíduo, bem como sua ação como sujeito histórico, partindo do</p><p>pressuposto que toda ação transformadora da sociedade só pode ocorrer quando</p><p>os indivíduos se agrupam (LANE, 1989, p. 78).</p><p>Nessa concepção, o grupo é compreendido como uma estratégia de liber-</p><p>tação. Junto às pessoas que se veem e conversam com regularidade é possível</p><p>pensar, refletir sobre as condições em que se vive, discutir essas mesmas</p><p>situações ou ainda eventos que entravam o funcionamento do grupo e a vida</p><p>das pessoas que o compõem. De acordo com Lane, aí está uma possibilidade</p><p>de os participantes se sentirem sujeitos e partilharem uma experiência única,</p><p>que em outro lugar não seria possível. Nesse sentido, Gomes, Maheirie e</p><p>Corrêa (2022) defendem o uso do dispositivo de grupo para o trabalho com</p><p>jovens em situação de vulnerabilidade social em um Serviço de Convivência</p><p>e Fortalecimento de Vínculos, na periferia da cidade de Florianópolis (SC). O</p><p>grupo aqui é usado como uma estratégia de intervenção psicossocial e faz</p><p>parte da proteção social básica da Política Nacional de Assistência Social</p><p>(PNAS). As autoras apontam que o grupo, junto às políticas públicas, “acaba</p><p>sendo orientado de uma forma corretiva, moralista e julgadora” (GOMES;</p><p>MAHEIRIE; CORRÊA, 2022, p. 5), especificamente nos serviços vinculados à</p><p>assistência social que têm como foco a população empobrecida e fora do</p><p>serviço. Dessa forma, o trabalho que realizam como psicólogas sociais é de</p><p>oportunizar a fala, para produzir encontro e estranhamentos a fim de que</p><p>elaborem novos posicionamentos subjetivos.</p><p>Rodrigues (2018), em ensaio sobre os processos de influência social, afirma</p><p>que nós, seres humanos, não evoluímos de indivíduos dependentes para</p><p>independentes. O desenvolvimento do ser humano é uma passagem para</p><p>a “interdependência entre adultos” (RODRIGUES, 2018, p. 2). Olhando com</p><p>atenção para o cotidiano da vida em geral, nota-se a frequência com que as</p><p>pessoas se associam. Os grupos existem em todos os lugares: na escola, na</p><p>igreja, nas associações desportivas, na faculdade, no trabalho. No entanto, tais</p><p>grupos são organizados de formas distintas e têm características singulares.</p><p>Carlos (2013) separa os grupos em espontâneos e organizados. Na primeira</p><p>categoria estão incluídos os grupos de que fazemos parte por opção pessoal</p><p>e aqueles de que não nos damos conta de que participamos. Na segunda</p><p>Relações interpessoais, intergrupais e intragrupais12</p><p>categoria estão os grupos, coordenados pelos próprios participantes ou por</p><p>um profissional, que refletem formas de organização da sociedade, como os</p><p>associados anônimos, e que pode estar a serviço da transformação social ou</p><p>da sua manutenção. Dentro da concepção de grupos organizados ainda exis-</p><p>tem os grupos vinculados às empresas que atrelam a atividade ao alcance de</p><p>objetivos e metas, na busca por de produtividade. Nessa vertente, não existe</p><p>a intenção de se autocriticar ou “buscar o seu caminho para o funcionamento”</p><p>(CARLOS, 2013, p. 199), mas se colocar a serviço da instituição.</p><p>Lopes et al. (2018), a partir de estudos sociológicos, apresentam a seguinte</p><p>diferenciação entre os grupos: primário, secundário, endogrupo, exogrupo e</p><p>grupo de referência. O grupo primário diz respeito ao grupo da associação,</p><p>caracterizado pela colaboração íntima e sem intermediários, como pessoas</p><p>que constituem uma família residente em um mesmo local. O grupo secundário</p><p>diz respeito a um grupo formal, com pouca intimidade, como aqueles que</p><p>observamos no cotidiano do trabalho. A nomenclatura de endogrupo destaca</p><p>a categoria em que as pessoas se sentem vinculadas e se distinguem como</p><p>“nós”, podendo incluir um pequeno grupo ou toda a sociedade. O exogrupo</p><p>é a organização em que as pessoas não apresentam vínculo entre sim. Em</p><p>comparação com o exogrupo, o endogrupo se sente superior e melhor do</p><p>que os demais, entendendo que o que é aceitável para ele não deve ser para</p><p>aquele. A nomenclatura de endo e exogrupo, portanto, tem um paralelo com as</p><p>categorias de estabelecidos e outsiders, definidas por Elias e Scotson (2000).</p><p>A respeito do grupo de referência, Lopes et al. (2018) indicam que se trata do</p><p>grupo padrão, a partir do qual as pessoas se avaliam e avaliam os outros.</p><p>Em geral, o grupo de referência tem a função de regular, impondo padrões,</p><p>crenças e ações normativas, além de funcionar como modelo de comparação.</p><p>Dentre as formas mais conhecidas de influência social, Myers (2014) destaca</p><p>a facilitação social, a presença de observadores, o receio da avaliação, a vadia-</p><p>gem social e o processo de desindividuação. A seguir, é possível acompanhar</p><p>uma explicação detalhada de cada um deles.</p><p>� Facilitação social: nessa modalidade de influência social, a presença de</p><p>outras pessoas facilita o desempenho em tarefas em que a resposta</p><p>é fácil. A empolgação das pessoas próximas, por exemplo, aumenta</p><p>qualquer tendência da resposta que é dominante. Quanto maior a</p><p>empolgação, maior o desempenho da tarefa — sempre que ela for</p><p>fácil. No tocante às tarefas difíceis ou complexas, o efeito inverso é</p><p>verdadeiro. Nesses casos, se há empolgação das pessoas próximas, a</p><p>tendência é que a resposta favorecida seja a incorreta. Em geral, nessas</p><p>Relações interpessoais, intergrupais e intragrupais 13</p><p>ocasiões, é necessária certa dose de concentração, e a euforia ao redor</p><p>certamente dificulta o desempenho. Por exemplo: atletas olímpicos, que</p><p>treinam regular e exaustivamente, têm seu desempenho aumentado</p><p>diante da euforia da torcida.</p><p>� Presença de observadores: a presença de pessoas observando o de-</p><p>sempenho em uma tarefa tem efeito semelhante ao da excitação, na</p><p>facilitação social. Ser observado por um indivíduo ou por uma multidão</p><p>facilita o exercício das respostas dominantes. A presença, portanto, de</p><p>alguém a acompanhar o desempenho impulsiona o que é considerado</p><p>fácil de executar, mas prejudica o exercício de uma atividade que for</p><p>considerada difícil. Por exemplo, se uma criança percebe que está</p><p>sendo observada, enquanto desempenha uma tarefa que ache fácil,</p><p>ela se sente estimulada a fazer o seu melhor e a exibir o resultado em</p><p>seguida. Caso a tarefa seja complicada, a presença do observador pode</p><p>gerar nervosismo e insegurança de modo a prejudicar seu desempenho.</p><p>� Receio da avaliação: essa categoria tem efeito semelhante ao da pre-</p><p>sença de observadores. Quando se percebe que há alguém a observar</p><p>e mensurar desempenhos, o aumento das respostas dominantes é mais</p><p>forte. Se o indivíduo considera que a tarefa é fácil, a resposta dominante</p><p>é a correta, ou o desempenho dominante é o melhor. Por exemplo, no</p><p>ambiente de trabalho, o receio da avaliação, de estar sendo observado</p><p>constantemente, faz com que os colaboradores se dediquem com mais</p><p>afinco à tarefa que sabem bem qual é.</p><p>� Vadiagem social: trata-se da probabilidade de as pessoas se esforçarem</p><p>menos quando seu trabalho é unido em torno de um objetivo comum.</p><p>Caso a tarefa fosse desempenhada de forma individual, o esforço para</p><p>a tarefa seria maior. Os experimentos em torno da vadiagem social con-</p><p>trariam a ideia de que a “união faz a força”. Em geral, os indivíduos de um</p><p>grupo se sentem menos motivados no desempenho de uma atividade</p><p>quando executam tarefas somativas. A razão disso é que os indivíduos</p><p>não se sentem responsáveis pelo trabalho que desempenham, visto</p><p>que está difundido no corpo social do grupo. O mais interessante nessa</p><p>categoria de influência social é que quando exercem menos força no</p><p>desempenho da tarefa de grupo, os indivíduos não percebem que o</p><p>fazem. Uma das estratégias de combate à vadiagem social seria buscar</p><p>avaliar o desempenho dos indivíduos do grupo separadamente. Quando</p><p>se percebem sendo avaliados, a facilitação social acaba acontecendo.</p><p>Outra estratégia é engajar as pessoas em atividades que promovam</p><p>melhorias para cada uma delas e que sejam, de fato, desafiadoras. Por</p><p>Relações interpessoais, intergrupais e intragrupais14</p><p>exemplo, é comum, na escola, no trabalho, que nas atividades de grupo,</p><p>especialmente quando o grupo é de médio e grande porte, somente</p><p>alguns se engajem na tarefa.</p><p>� Desindividuação: acontece desindividuação quando as pessoas perdem</p><p>seu senso de identidade no grupo. Em geral, quando a empolgação vem</p><p>acompanhada de ausência de responsabilidade, não se pode avaliar</p><p>individualmente “quem fez o quê”. Com a redução das inibições normais,</p><p>os indivíduos não se reconhecem como pertencentes a um grupo. Os</p><p>casos de individuação são alarmantes e chamam a atenção quando</p><p>acontecem, visto que as pessoas podem cometer atos de vandalismo</p><p>e ações destrutivas. Os comportamentos sem limites são efeito desse</p><p>poder do grupo de perder-se na multidão. Nesses casos, o medo da</p><p>avaliação cai e o tamanho do grupo permite que os membros não ve-</p><p>nham a ser punidos, pois ninguém consegue identificar individualmente</p><p>quem agiu de forma imprudente. Por exemplo, os movimentos chamados</p><p>“arrastões” que acontecem nas praias brasileiras são fundamentados</p><p>pela ideia da responsabilidade diluída no grupo que é de grande porte</p><p>e por isso difícil de encontrar o responsável pelo vandalismo.</p><p>Subjetividade como processo psicossocial</p><p>A ciência psicológica é uma ciência rica. Nascida no final do século XIX, abarca</p><p>diversas correntes teóricas e metodológicas. Ainda que tenha como objeto</p><p>de estudo o indivíduo, consegue pensá-lo a partir de diferentes recortes.</p><p>As vertentes centradas na personalidade examinam o inconsciente, a cons-</p><p>ciência, o comportamento, a doença mental, na clínica ou no laboratório. No</p><p>entanto, a riqueza dessa ciência interessada no humano ultrapassa o estudo</p><p>do indivíduo per se. As vertentes sociais, portanto, marcam o nascedouro</p><p>da ciência psicológica apontando diversas formas de investigar o indivíduo</p><p>inserido nos grupos dos quais faz parte, indicando que a psique se forma na</p><p>relação com os outros. A psicologia social, desse modo, implica o indivíduo</p><p>no seu contexto histórico, político, cultural. Sinaliza que a despeito do que</p><p>aponta o senso comum, somos sujeitos sociais, dependemos uns dos outros,</p><p>criamos o mundo a partir das nossas relações proximais. É uma vertente</p><p>por isso, implicada na luta contra os abusos do capitalismo e das relações</p><p>opressoras individualizantes e biologizantes. É uma forma de racionalidade</p><p>que percebe a existência humana imbricada, articulada e produtora da sua</p><p>própria realidade social e, por ela, condicionada, orientada.</p><p>Relações interpessoais, intergrupais e intragrupais 15</p><p>O interacionismo simbólico, embora tenha raízes europeias, floresce nos</p><p>Estados Unidos por meio do trabalho de George H. Mead. Muitas vezes tomado</p><p>somente como filósofo, Mead permanece alheio às rotinas da pesquisa social</p><p>na psicologia. No entanto, é possível perceber que sua forma de conceber o self</p><p>o coloca na categoria de psicólogo social. Ele se intitulava behaviorista social,</p><p>mas seu pensamento se afastava do de Watson ou de Skinner. Para Mead, a</p><p>mente era importante sendo efeito da interação dos indivíduos. Debitários</p><p>de Mead, Blummer e Goffman seguem seus projetos apontando a formação</p><p>do indivíduo em diferentes situações como resultado da configuração social</p><p>da qual fazem parte.</p><p>Seligman (2011) ressalta que nossa tendência a buscar por grupos é resul-</p><p>tado evolutivo da seleção natural. Em grupos permanecemos mais fortes e por</p><p>isso sobrevivemos às adversidades. E, embora seja nítida a nossa presença nos</p><p>mais diversos grupos, temos a tendência de pensarmo-nos não influenciados</p><p>por eles. As pesquisas em psicologia social emergem para refletir exatamente</p><p>no sentido oposto. Os grupos são vias de adaptação à realidade em que se</p><p>vive, como uma via de coerção à submissão às regras sociais, mas também</p><p>como via de libertação. A partir do convívio com os demais, durante as trocas,</p><p>o diálogo, o compartilhamento de experiências, é possível notar que o pro-</p><p>blema de um perpassa tantos. A via do coletivo, então, conscientiza a respeito</p><p>dos problemas sociais e muitas vezes é a estratégia de organização para o</p><p>enfrentamento às situações de opressão, discriminação e violências sociais.</p><p>O termo subjetividade, ou subjetividades, aqui mencionado, não</p><p>tem qualquer relação com a ideia de interioridade, não é inerente ao</p><p>sujeito e não representa formas substancializadas, naturalizadas ou universali-</p><p>zadas que podem estar associadas a essa ideia. Também não é considerado um</p><p>fenômeno unívoco, nem natural. Como afirmam Prado Filho e Martins (2007), a</p><p>subjetividade é tomada como construção histórica. O termo deve ser pensado</p><p>aqui, no presente texto, como os autores citados mencionam, ou seja, em termos</p><p>sociais, históricos e políticos, de “produção de subjetividade”. A subjetividade</p><p>para uma perspectiva histórico-política de análise é o “resultado de dispersão</p><p>das forças sociais”, e deve ser tratada “em movimento, como virtualidade”. Ela</p><p>se produz no instável jogo de forças dos enunciados e dispositivos, na relação</p><p>de forças que atravessa o sujeito.</p><p>Relações interpessoais, intergrupais e intragrupais16</p><p>Referências</p><p>ÁLVARO, J. L.; GARRIDO, A. Psicologia social. Porto Alegre: AMGH; Artmed, 2017. 440 p.</p><p>BERNARDES, J. S. História. In: JACQUES, M. G. C. et al. Psicologia social contemporânea:</p><p>livro-texto. 21. ed. Petrópolis: Vozes, 2013. p. 19–35. (Psicologia Social).</p><p>CARLOS, S. A. O processo grupal. In: JACQUES, M. G. C. et al. Psicologia social contem-</p><p>porânea: livro-texto. 21. ed. Petrópolis: Vozes, 2013. p. 198–205. (Psicologia Social).</p><p>ELIAS, N.; SCOTSON, J. L. Os estabelecidos e os outsiders: sociologia das relações de</p><p>poder a partir de uma pequena comunidade. Rio de Janeiro: Zahar, 2000. 228 p.</p><p>FARR, R. M. As raízes da psicologia social moderna. 7. ed. Petrópolis: Vozes, 1996. 248 p.</p><p>(Psicologia Social).</p><p>FIGUEIREDO, L. C. M. A invenção do psicológico: quatro séculos de subjetivação (1500-</p><p>1900). 7. ed. São Paulo: Escuta, 2007. 173 p. (Linhas de Fuga).</p><p>FIGUEIREDO, L. C. M.; SANTI, P. L. R. Psicologia, uma (nova) introdução: uma visão</p><p>histórica da psicologia como ciência. 2. ed. São Paulo: EDUC, 2006. 98 p. (Série Trilhas).</p><p>FOUCAULT, M. As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas. 9. ed.</p><p>São Paulo: Martins Fontes, 2007a. 541 p. (Coleção Tópicos).</p><p>FOUCAULT, M. História da sexualidade I: a vontade de saber. 18. ed. Rio de Janeiro:</p><p>Graal, 2007b. 176 p. (Biblioteca de Filosofia e História das Ciências).</p><p>FOUCAULT, M. Nietzsche,</p><p>a genealogia e a história. In: FOUCAULT, M. Microfísica do</p><p>poder. 22. ed. Rio de Janeiro: Graal, 2006. p. 15–37.</p><p>FOUCAULT, M. O nascimento da medicina social. In: FOUCAULT, M. Microfísica do poder.</p><p>22. ed. Rio de Janeiro: Graal, 2006b. p. 79–98.</p><p>FOUCAULT, M. Vigiar e punir: nascimento da prisão. 25. ed. Petrópolis: Vozes, 2002. 262 p.</p><p>GOMES, M. A.; MAHEIRIE, K. CORRÊA, B. Jovens em vulnerabilidades psicossociais: Grupo</p><p>como lugar de acolhimento e subjetivação política. Psicologia em Estudo, Maringá, v. 27,</p><p>e47375, 2022. Disponível em: https://periodicos.uem.br/ojs/index.php/PsicolEstud/</p><p>article/view/47375. Acesso em: 7 mar. 2022.</p><p>JACQUES, P. B. Elogio aos errantes. 2. ed. Salvador: EDUFBA, 2014. 331 p.</p><p>LANE, S. T. M. O processo grupal. In: LANE, S. T. M.; CODO, W. (org.). Psicologia social: o</p><p>homem em movimento. 8. ed. São Paulo: Brasiliense, 1989. p. 78–98.</p><p>LOPES, D. D. et al. (orgs). Psicologia social. Porto Alegre: SAGAH, 2018. 213 p.</p><p>MYERS, D. G. Psicologia social. 10. ed. Porto Alegre: AMGH; Artmed, 2014. 568 p.</p><p>PORTUGAL, F. T. Psicologia social em George Herbert Mead, na Escola de Chicago e</p><p>em Erving Goffman. In: JACÓ-VILELA, A. M.; FERREIRA, A. A. L.; PORTUGAL, F. T. História</p><p>da psicologia: rumos e percursos. Rio de Janeiro: NAU, 2007. p. 463–472. (Ensino de</p><p>Psicologia, 3).</p><p>PRADO FILHO, K.; MARTINS, S. A subjetividade como objeto da(s) psicologia(s). Psicologia</p><p>e Sociedade, Belo Horizonte, v. 19, n. 3, p. 14–19, 2007. Disponível em: https://www.scielo.</p><p>br/j/psoc/a/NJYycJNvX58WS7RHRssSjjH/abstract/?lang=pt. Acesso em: 7 mar. 2022.</p><p>Relações interpessoais, intergrupais e intragrupais 17</p><p>RODRIGUES, P. R. G. Influência social, minorias ativas e desenvolvimento moral: en-</p><p>saio teórico sobre a representatividade política brasileira. Psicologia e Sociedade,</p><p>Belo Horizonte, v. 30, e173402, 2018. Disponível em: https://www.scielo.br/j/psoc/a/</p><p>fxn6ZZHqxKGwvFz8VvdbKdy/abstract/?lang=pt. Acesso em: 7 mar. 2022.</p><p>SELIGMAN, M. E. P. Florescer: uma nova compreensão sobre a natureza da felicidade e</p><p>do bem-estar. Rio de Janeiro: Objetiva, 2011. 368 p.</p><p>SIMMEL, G. A metrópole e a vida mental. In: VELHO, O. G. (org.). O fenômeno urbano.</p><p>2. ed. Rio de Janeiro: Zahar, 1973. p. 11–25.</p><p>Leituras recomendadas</p><p>ARONSON, E. Psicologia social. 8. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2015. 448 p.</p><p>FERREIRA, R. C. C. Psicologia social e comunitária: fundamentos, intervenções e trans-</p><p>formações. São Paulo: Érica, 2014. 120 p.</p><p>LANE, S. T. M. O que é psicologia social. 22. ed. São Paulo: Brasiliense, 2006. 88 p.</p><p>(Coleção Primeiros Passos, 39).</p><p>PRADO FILHO, K. Para uma arqueologia da psicologia (ou: para pensar uma psicologia</p><p>em outras bases). In: GUARESCHI, N. M. F.; HÜNING, S. M. (org.). Foucault e a psicologia.</p><p>Porto Alegre: Abrapso Sul, 2005. p. 73–91.</p><p>TORRES, C. V.; NEIVA, E. R. Psicologia social: principais temas e vertentes. Porto Alegre:</p><p>Artmed, 2011. 352 p.</p><p>Os links para sites da web fornecidos neste capítulo foram todos</p><p>testados, e seu funcionamento foi comprovado no momento da</p><p>publicação do material. No entanto, a rede é extremamente dinâmica; suas</p><p>páginas estão constantemente mudando de local e conteúdo. Assim, os edito-</p><p>res declaram não ter qualquer responsabilidade sobre qualidade, precisão ou</p><p>integralidade das informações referidas em tais links.</p><p>Relações interpessoais, intergrupais e intragrupais18</p><p>Dica do professor</p><p>O indivíduo é um ser substancial, com posições únicas e distintas das pessoas ao seu redor. Com</p><p>frequência, o sujeito faz referência às opiniões e aos gostos como se fossem exclusivos e</p><p>inigualáveis. No entanto, essa é uma herança das principais correntes que ganharam visibilidade no</p><p>início do século XX.</p><p>Ainda que o behaviorismo e a psicanálise tragam a ideia de que o ambiente e a família exercem</p><p>papéis importantes na vida do indivíduo, instrumentalmente o problema quando é criado pertence</p><p>a ele e deve ser resolvido por ele. A psicologia social vai defender que a interação entre indivíduos</p><p>sobremaneira influencia a maneira como compreendemos e compartilhamos nossa vida no</p><p>contexto social.</p><p>Nesta Dica do Professor, você vai saber mais sobre as influências do grupo, a partir de alguns</p><p>conceitos centrais.</p><p>Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar.</p><p>https://fast.player.liquidplatform.com/pApiv2/embed/cee29914fad5b594d8f5918df1e801fd/3d4f90a54cdb63b201eb722d39bd74e9</p><p>Exercícios</p><p>1) A psicologia social se consagra como a perspectiva de trabalho que estuda a subjetividade a</p><p>partir da relação entre as pessoas. No entanto, este estudo não é indiscriminado, é realizado</p><p>muitas vezes, por meio do exame de relações microssociais que as pessoas mantêm quando</p><p>estão em grupos.</p><p>Ao que segue, assinale a alternativa correta sobre a forma de organização dos grupos:</p><p>A) Um grupo é definido pelo estabelecimento de relações entre pessoas, a partir do qual se</p><p>desenvolvem objetivos individuais distintos.</p><p>B) Trata-se de um conjunto de pessoas com vidas semelhantes, que precisam estar em uma</p><p>mesma localidade geográfica para tratar de interesses.</p><p>C) Os grupos são uma coleção de indivíduos dispostos em uma sala específica, em um</p><p>departamento, trabalhando de forma isolada.</p><p>D) Grupos dizem respeito à articulação de pessoas de forma espontânea ou organizadas,</p><p>especificamente de uma faixa etária ou de uma classe social.</p><p>E) Formados com o estabelecimento de relações entre duas ou mais pessoas que</p><p>dinamicamente interagem e se influenciam, criando identidade a partir dessa interação.</p><p>2) O interacionismo simbólico pode ser compreendido como uma abordagem sobremaneira</p><p>importante tanto para a sociologia quanto para a psicologia social. Trata-se de uma corrente</p><p>que se propõe a pensar sobre as formas de relação entre as pessoas de um determinado</p><p>contexto social.</p><p>A respeito dessa teoria, é possível afirmar que:</p><p>A) Foi criada por George H. Mead, no início do século XX, após sua incursão na Alemanha, para</p><p>realizar doutoramento.</p><p>B) Foi uma teoria criada no Departamento de Psicologia da Universidade de Yale, nos Estados</p><p>Unidos.</p><p>C) Um dos maiores nomes desta corrente é Erving Goffman, conhecido pela obra Manicômios,</p><p>prisões e conventos.</p><p>D) Foi uma teoria proposta por Herbert Blumer, a partir de suas próprias experiências e</p><p>investigações.</p><p>E) Foi uma teoria criada e difundida junto aos departamentos de psicologia no Brasil, após a</p><p>crise militar no início da década de 1980.</p><p>3) Durante o desenvolvimento do ser humano, ele faz parte de vários grupos. Na infância, na</p><p>adolescência, na fase adulta ou na velhice, suas ações, seus pensamentos e suas escolhas são</p><p>permeadas ou influenciadas pela presença de outras pessoas.</p><p>Os grupos dos quais os indivíduos fazem parte são muitos e diversos tais como família,</p><p>vizinhança, educativo, esportivo, religioso, profissional, de lazer e de cultura.</p><p>A partir disso, analise as afirmativas a seguir:</p><p>I. No grupo, é possível acompanhar os processos de interação entre os indivíduos (dentro e</p><p>fora), o que possibilita reflexão socialmente orientada a respeito de comportamentos e</p><p>atitudes deles.</p><p>II. O grupo é objeto de estudo específico da psicologia social, não cabendo à nenhuma outra</p><p>corrente do pensamento psicológico, clássica ou contemporânea, investigar a subjetividade</p><p>por meio das relações micro ou macrossociais.</p><p>III. O grupo é a melhor forma de operacionalizar o trabalho de análise da psicologia social,</p><p>porque seu interesse é se afastar do indivíduo ou da reflexão internalizada, para se</p><p>concentrar exclusivamente nas relações macrossociais.</p><p>Está correto o que se afirma em:</p><p>A) A alternativa I está correta.</p><p>B) A alternativa II está correta.</p><p>C) A alternativa III está correta.</p><p>D) As alternativas I e II estão corretas.</p><p>E) As alternativas II e III estão corretas.</p><p>A influência social é um tema bastante intrigante quando se reflete a respeito da tendência</p><p>que o indivíduo tem de seguir o comportamento do grupo, deixando de lado muitas das suas</p><p>características marcantes.</p><p>Na vida contemporânea, por exemplo, quando se está em uma</p><p>4)</p><p>experiência de sala de aula síncrona, pode ser que a resposta da pessoa a uma determinada</p><p>questão seja orientada pelas características do grupo de alunos daquela turma.</p><p>A respeito da facilitação social, é possível afirmar que:</p><p>A) É uma tendência de realizar tarefas mais difíceis na presença de outras pessoas.</p><p>B) É uma forma específica de relações interpessoais, focada em desenvolvimento.</p><p>C) É uma estratégia para ficar invisível no meio da multidão.</p><p>D) Diz respeito à tendência de emitir respostas dominantes na presença de outras pessoas.</p><p>E) Diz respeito à tendência de mimetizar o comportamento, baseado no que fazem os outros.</p><p>5) Todas as relações sociais são atravessadas por relações de poder: relações familiares,</p><p>relações afetivas, relações profissionais, para citar algumas. De acordo com Michel Foucault,</p><p>os modos de subjetivação são organizados por relações de saber-poder e efeitos de</p><p>subjetividade.</p><p>Isso implica afirmar o seguinte:</p><p>A) Práticas discursivas e relações de força, cotidianas, constituem o indivíduo e influenciam a</p><p>forma como ele se relaciona consigo e com os outros.</p><p>B) Os indivíduos modernos são formados cotidianamente por meio da produção coletiva de</p><p>símbolos, da comunicação entre eles.</p><p>C) Os indivíduos são produto do modo de produção capitalista e têm sua subjetividade formada</p><p>no processo de trocas intermediadas pela moeda.</p><p>D) As pessoas não conseguem escolher as formas de viver mais adequadas aos seus interesses,</p><p>visto que estão presas ao que dizem delas e ao alcance disso.</p><p>E) Os indivíduos, tal como os compreendemos hoje, são alienados por não serem detentores dos</p><p>meios de produção.</p><p>Na prática</p><p>Os grupos exercem influência de forma diversificada sobre os indivíduos. Em diversas situações do</p><p>cotidiano, é possível notar que um mesmo indivíduo tem um desempenho excepcional quando faz</p><p>uma tarefa sozinho, mas, quando está em grupo, seu desempenho é aquém do esperado. Em muitos</p><p>casos, esse efeito é apontado como ausência de responsabilidade do aluno que apresentou</p><p>comportamento abaixo da média. Para a psicologia social, esse resultado é efeito da influência</p><p>social do grupo.</p><p>Conheça, Na Prática, como é possível conhecer um caso em que um grupo de estudantes não</p><p>trabalha de forma eficaz para cumprir uma atividade de sala de aula e quais as razões que explicam</p><p>esse fato.</p><p>Aponte a câmera para o</p><p>código e acesse o link do</p><p>conteúdo ou clique no</p><p>código para acessar.</p><p>https://statics-marketplace.plataforma.grupoa.education/sagah/a6c080b3-7f82-4cf7-92ed-19c5faff688d/64f74c83-41f5-4259-bbf0-4870d207e0f0.jpg</p><p>Saiba +</p><p>Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do professor:</p><p>Psicologia social</p><p>Por que as pessoas sozinhas são de um jeito, mas, quando estão acompanhadas, agem de forma</p><p>diferente? No capítulo 8 do livro de David G. Myers, intitulado Influência de grupo, é possível</p><p>acompanhar vários experimentos sociais que justificam tais fatos a respeito dos indivíduos quando</p><p>andam em grupos.</p><p>Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino!</p><p>Mães presas, filhos desamparados: maternidade e relações</p><p>interpessoais na prisão</p><p>Este artigo trabalha o conceito de relações interpessoais no contexto de uma instituição total. As</p><p>mães presas foram entrevistadas e participaram de grupos focais, a partir dos quais, foi possível</p><p>identificar que a precariedade das relações interpessoais da apenada interfere no exercício da</p><p>maternidade. A pesquisa sinaliza a necessidade de melhorias no tocante ao convívio interno tanto</p><p>para melhorar a qualidade das visitas de parentes, como de vida das internas.</p><p>Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar.</p><p>Relações interpessoais de adolescentes em medida</p><p>socioeducativa de internação</p><p>Neste artigo, você vai encontrar outra reflexão a respeito das relações interpessoais em contexto</p><p>de encarceramento. A diferença é que se trata de uma instituição total para adolescentes. Nele,</p><p>você percebe que a experiência de confinamento, caracterizada por relações internas hostis e</p><p>conflitivas e total afastamento da vida em sociedade, se materializa em uma vida de sofrimento,</p><p>bem distinta da ambição de se desenvolver, ressocializar.</p><p>https://doi.org/10.1590/S0103-73312018280420</p><p>Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar.</p><p>https://doi.org/10.1590/0102.3772e3645</p>