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<p>ROSIMEIRE APARECIDA MANTOVAN</p><p>TATIANA DOMINGUES</p><p>DIREITOS FUNDAMENTAIS E</p><p>SOCIAIS</p><p>52</p><p>Sistemas de acesso à justiça no Brasil. Direitos difusos e coletivos</p><p>3</p><p>UNIDADE 3</p><p>SISTEMAS DE ACESSO À JUSTIÇA</p><p>NO BRASIL. DIREITOS DIFUSOS</p><p>E COLETIVOS</p><p>1. O ACESSO À JUSTIÇA PÓS-CONSTITUIÇÃO DE 1988</p><p>Como estudamos na unidade 2, os Direitos Fundamentais, individuais e coletivos so-</p><p>mente podem ser sustentados em um regime democrático, em que cidadãos tenham</p><p>acesso a bens e serviços de forma igualitária e liberdade para a defesa das diversida-</p><p>des. Assim também podemos afirmar quanto aos demais direitos.</p><p>O acesso à justiça é direito humano e imprescindível para o exercício da cidadania,</p><p>constituindo-se como um Direito Fundamental. Prevê o artigo 5º da Constituição Fede-</p><p>ral no inciso XXXV que “a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário, lesão ou</p><p>ameaça a direito” e no inciso LXXIV que “o Estado prestará assistência jurídica integral</p><p>e gratuita aos que comprovarem insuficiência de recursos”.</p><p>Como deve se lembrar, estudamos a história das Constituições Federais e, retomando</p><p>este estudo, podemos afirmar que, no Brasil, o acesso à justiça surgiu como direito fun-</p><p>damental pela primeira vez na Constituição de 1946, muito embora não tenha de fato</p><p>se efetivado em sua totalidade, sido coibido a partir do Ato Institucional nº 5 – AI 5, em</p><p>1968, ápice do regime ditatorial militar.</p><p>Somente em 1988, com a atual Constituição Federal, se consagrou como direito funda-</p><p>mental de todos os brasileiros e estrangeiros residentes no país.</p><p>O acesso à justiça deve ser considerado de forma ampla e não apenas por meio de</p><p>acesso ao Poder Judiciário. A justiça ocorrerá sempre que houver a efetivação de direi-</p><p>tos sociais já garantidos em lei.</p><p>Por esta análise, reconhecemos o acesso à justiça como condição fundamental de efi-</p><p>ciência na garantia de direitos, uma vez que é considerado direito humano.</p><p>A Constituição Federal de 1988, conhecida como a “Constituição Cidadã”, renova no</p><p>Brasil o Estado Democrático de Direito e valoriza o acesso à justiça como uma forma</p><p>de exercício da cidadania.</p><p>Estudamos na unidade 2 que o processo de aprovação da Constituição Federal de</p><p>1988 foi o mais participativo realizado no país, contando com a participação de diversos</p><p>grupos na defesa de diferentes interesses da sociedade, e trouxe à sociedade brasileira</p><p>importantes avanços com o objetivo de garantir a todos uma democracia legitimada</p><p>pela vontade do povo, sendo, de todas as Constituições Brasileiras, a que mais garante</p><p>a presença dos direitos e garantias fundamentais e seus mecanismos de defesa.</p><p>53</p><p>3</p><p>Direitos fundamentais e sociais</p><p>U</p><p>ni</p><p>ve</p><p>rs</p><p>id</p><p>ad</p><p>e</p><p>S</p><p>ão</p><p>F</p><p>ra</p><p>nc</p><p>is</p><p>co</p><p>A possibilidade de reivindicar Direitos é uma condição essencial ao exercício da Cidada-</p><p>nia e o acesso formal à justiça é parcialmente garantido na CF/88 por meio da exigência</p><p>da oferta de assistência judiciária gratuita aos necessitados, bem como da criação dos</p><p>juizados especiais, previstos em leis infraconstitucionais, que garantem o acesso do</p><p>cidadão sem a presença de um advogado, para soluções de menor potencial ofensivo.</p><p>Você se lembra de como identificamos os Direitos Fundamentais? A constituição federal de 1988</p><p>abordou o tema em seu Título II, tratando como direitos e garantia fundamentais, e tratará nos seus</p><p>artigos 5º a 17º a natureza desses direitos e garantias, apresentando a seguinte classificação:</p><p>Direitos individuais: (art. 5º).</p><p>Direitos coletivos: representam os direitos do homem integrante de uma coletividade (art. 5º).</p><p>Direitos sociais: subdivididos em direitos sociais propriamente ditos (art. 6º) e direitos traba-</p><p>lhistas (art. 7º ao 11).</p><p>Direitos à nacionalidade: vínculo jurídico-político entre a pessoa e o Estado (arts. 12 e 13).</p><p>Direitos políticos: direito de participação na vida política do Estado, direito de votar e de ser</p><p>votado ao cargo eletivo e suas condições (art. 14 ao 17).</p><p>A lei nº 9.099, de 26 de setembro de 1995, que dispõe sobre os Juizados Especiais Cíveis e</p><p>Criminais, estabelece as regras de acesso para as causas de natureza cível, o artigo 3º.</p><p>Art. 3º: o Juizado Especial Cível tem competência para conciliação, processo e julgamento das</p><p>causas cíveis de menor complexidade, assim consideradas:</p><p>I - as causas cujo valor não exceda a quarenta vezes o salário mínimo.</p><p>II - as enumeradas no art. 275, inciso II, do Código de Processo Civil.</p><p>III - a ação de despejo para uso próprio.</p><p>IV - as ações possessórias sobre bens imóveis de valor não excedente ao fixado no inciso I</p><p>deste artigo</p><p>Esta mesma lei define os critérios de acesso ao juizado especial para as ações penais, definindo</p><p>os crimes de menor potencial ofensivo no seu artigo 61.</p><p>Art. 61. Consideram-se infrações penais de menor potencial ofensivo, para os efeitos desta Lei,</p><p>as contravenções penais e os crimes a que a lei comine pena máxima não superior a dois anos,</p><p>cumulada ou não com multa.</p><p>É sabido por todos, no entanto, que o Poder Judiciário parece estar cada vez mais dis-</p><p>tante do cidadão, seja pelo distanciamento cultural, pela dificuldade de acesso, ou pela</p><p>demora excessiva nos trâmites judiciais, o que coloca em risco a garantia do Direito.</p><p>Neste sentido, Braga (2008) nos remete a uma reflexão a respeito da diferença entre o</p><p>acesso à justiça e o acesso ao judiciário, já que a justiça está representada no fortaleci-</p><p>RELEMBRE</p><p>RELEMBRE</p><p>54</p><p>Sistemas de acesso à justiça no Brasil. Direitos difusos e coletivos</p><p>3</p><p>mento de uma sociedade justa, democrática e com valores éticos geradores de</p><p>igualdade e liberdade.</p><p>O acesso à justiça pressupõe, sem embargo, a capacidade e oportunidade de</p><p>realização de um direito, primordialmente dos direitos humanos, assim consi-</p><p>derados os direitos civis, políticos e sociais, configuração leal e verdadeira da</p><p>cidadania. Somente assim o sendo, se vislumbrará maior aproximação do que</p><p>venha a ser o Direito como tentativa de construção do justo.</p><p>Contudo, é de ressaltar que acesso à justiça não se confunde, diga-se, não</p><p>se deve confundir com acesso ao Judiciário. Este, tanto quanto a dignidade, é</p><p>estranho ao povo, que não o consegue compreender, tampouco tocar, eis que</p><p>possui linguagem própria, inacessível e demasiadamente rebuscada, apresen-</p><p>ta-se com indumentária cerimoniosa, de modo a destacar seus operadores dos</p><p>demais, seja quem for. É um universo impenetrável, diferente mesmo, e não por</p><p>acaso, mas porque assim pretende ser, encharcado de formalidade e apaixona-</p><p>do pela hierarquização das relações, dos cargos e das pessoas.</p><p>A contrário senso, o acesso à justiça sim, é o escopo de tal garantia. E ao falar</p><p>em justiça, que se venham acompanhadas as características que compõem a</p><p>sua gênese, a saber, a equidade, a legitimidade e, sobretudo, a moralidade e</p><p>todos os demais valores éticos. Como bem defende Kazuo Watanabe, o acesso</p><p>à justiça não se esgota no acesso ao Judiciário e nem no próprio universo do</p><p>direito estatal, tampouco nos acanhados limites do acesso aos órgãos judiciais</p><p>já existentes. Não se trata, pois, de conceder o acesso à Justiça enquanto insti-</p><p>tuição estatal, mas, em verdade, viabilizar o acesso à ordem jurídica justa.</p><p>Definitivamente o ‘universo jurídico’ deve declinar da posição de nobreza</p><p>e assumir sua condição absolutamente popular. Diz-se popular aquilo que</p><p>é do povo, próprio do povo ou por ele feito. E o que é o Direito senão</p><p>exatamente a manifestação do povo, a forma de possibilitá-lo viver em so-</p><p>ciedade, a pacificação de suas relações e a adequação à realidade por ele</p><p>vivida? (BRAGA, 2008, p. 2).</p><p>Figura 01. Direitos de Igualdade.</p><p>Fo</p><p>nt</p><p>e:</p><p>1</p><p>23</p><p>rf.</p><p>1.1 AS DIFICULDADES DO ACESSO À JUSTIÇA</p><p>Para analisar o acesso à justiça é necessário considerar a existência de dificuldades em</p><p>face de fatores que podem ser econômicos, socioculturais e jurídicos e que afastam o</p><p>cidadão do Poder Judiciário.</p><p>55</p><p>3</p><p>Direitos fundamentais e sociais</p><p>U</p><p>ni</p><p>ve</p><p>rs</p><p>id</p><p>ad</p><p>e</p><p>S</p><p>ão</p><p>F</p><p>ra</p><p>nc</p><p>is</p><p>co</p><p>O elevado valor dos processos, perícias e outras provas que se</p><p>pretende produzir e os</p><p>honorários advocatícios, já que a justiça gratuita não garante o acesso universal, é um</p><p>dos fatores que dificultam o acesso à justiça. A desigualdade econômica é profunda no</p><p>Brasil e acaba por criar também desigualdades de acesso à justiça entre aqueles que</p><p>têm diferentes poderes aquisitivos.</p><p>Muitas vezes ainda, a demora nas decisões judiciais desestimula os que necessitam de</p><p>agilidade para a própria sobrevivência, como os longos processos trabalhistas, em que</p><p>o trabalhador muitas vezes depende da regularização de documentos ou da indeniza-</p><p>ção, para prosseguir na manutenção da sua família e no acesso a emprego.</p><p>Fatores econômicos e a exclusão social também determinam, na maioria das vezes, o</p><p>pouco conhecimento aos direitos e, dessa forma, o não reconhecimento de suas viola-</p><p>ções, o acesso aos meios necessários ou mesmo a insegurança diante da imagem do</p><p>desconhecido e da suposta superioridade que existe no mundo jurídico.</p><p>São questões a serem superadas para a ampliação do acesso e que estão além do</p><p>alcance material e formal ao processo judicial.</p><p>1.2 ACESSO À JUSTIÇA E AS POLÍTICAS PÚBLICAS: A</p><p>JUDICIALIZAÇÃO DO DIREITO</p><p>A garantia de acesso à</p><p>justiça, como estamos</p><p>tratando, é essencial</p><p>ao exercício da cidada-</p><p>nia. No entanto, neste</p><p>tema, se faz necessá-</p><p>rio trazer ao debate a</p><p>contextualização tra-</p><p>zida pela Constituição</p><p>Federal de 1988, volta-</p><p>da à efetivação de di-</p><p>reitos sociais, falando</p><p>das políticas públicas</p><p>no Brasil, já que estas</p><p>objetivam promover</p><p>direitos constitucional-</p><p>mente assegurados e os deveres estatais impostos. As diretrizes constitucionais são</p><p>os pilares para a elaboração das políticas públicas, que respondem aos anseios da</p><p>sociedade e tornam efetivos os direitos fundamentais nela estabelecidos.</p><p>Apesar de importantes avanços e conquistas da Constituição de 1988, as políticas so-</p><p>ciais não foram ofertadas na mesma dimensão em que foram concebidas, já que logo</p><p>após sua promulgação, em especial a partir do início dos anos 90, as políticas econômi-</p><p>cas neoliberais foram desenhando um caminho de flexibilização de direitos.</p><p>Modelos econômicos adotados após à Constituição Federal trouxeram impactos na uni-</p><p>versalização dos direitos propostos pelo modelo de seguridade social constitucional e,</p><p>Figura 02. O acesso ao Poder Judiciário precisa ser ampliado.</p><p>Fo</p><p>nt</p><p>e:</p><p>1</p><p>23</p><p>rf.</p><p>56</p><p>Sistemas de acesso à justiça no Brasil. Direitos difusos e coletivos</p><p>3</p><p>dentre eles, podemos citar as diversas reformas da Previdência Social, com redução de</p><p>acesso à benefícios previdenciários.</p><p>Outro fator importante a ser analisado é a redução no financiamento das políticas sociais</p><p>que, com estratégias de ajuste fiscal, comprometeram o orçamento público, como a DRU</p><p>– desvinculação de receitas da união, que permitiu a utilização de 20% das receitas de</p><p>recursos públicos vinculados, como ocorre no orçamento da política de saúde, educação</p><p>e entre outras vinculações para utilização de outras despesas públicas. Outra recente</p><p>estratégia de ajuste fiscal foi a Emenda Constitucional 95/16, aprovada em dezembro de</p><p>2016, que congela os gastos públicos pelo período de 20 anos, impactando nos gastos</p><p>com as políticas sociais, especialmente de saúde, assistência social e educação.</p><p>Aliado às questões econômicas e ainda como estratégia de redução de despesas pú-</p><p>blicas, são realizadas diversas privatizações de empresas públicas com a criação de</p><p>um Plano Nacional de Desestatização (PND) por meio da Lei Federal nº 8.031 de 12 de</p><p>abril de 1990, e as terceirizações de serviços, como na política de saúde.</p><p>Neste sentido, Bravo (apud MOTA et al, 2006, p. 14), ao analisar a política de saúde no</p><p>Brasil, afirma</p><p>A afirmação da hegemonia neoliberal no Brasil, tem sido responsável pela redu-</p><p>ção dos direitos sociais e trabalhistas, desemprego estrutural, precarização do</p><p>trabalho, desmonte da previdência pública, sucateamento da saúde e educação.</p><p>A proposta de Política de Saúde construída na década de 1980 tem sido des-</p><p>construída. A Saúde fica vinculada ao mercado, enfatizando-se as parcerias</p><p>com a sociedade civil, responsabilizando a mesma para assumir os custos da</p><p>crise. A refilantropização é uma de suas manifestações com a utilização de</p><p>agentes comunitários e cuidadores para realizarem atividades profissionais,</p><p>com o objetivo de reduzir os custos.</p><p>Com relação ao Sistema Único de Saúde (SUS), apesar das declarações ofi-</p><p>ciais de adesão ao mesmo, verificou-se o descumprimento dos dispositivos</p><p>constitucionais e legais e uma omissão do governo federal na regulamentação</p><p>e fiscalização das ações de saúde em geral.</p><p>Assim se observa um direcionamento para a desresponsabilização do Estado sobre as</p><p>políticas sociais e o seu distanciamento das garantias constitucionais.</p><p>Todo este movimento de retração dos Direitos, aliados ao amplo poder garantido na</p><p>CF/88 às instituições estabelecidas, dentre elas o Poder Judiciário, dá-se início ao fe-</p><p>nômeno da judicialização dos Direitos, que implica na utilização do Poder Judiciário,</p><p>quando da existência de um Direito violado ou negado, para que, por meio de uma</p><p>decisão judicial, este direito se efetive na esfera pública.</p><p>Estudamos na unidade 2 a teoria da separação dos Poderes do Estado, a indepen-</p><p>dência e harmonia entre os Poderes e, dessa forma, parece estranho falarmos sobre a</p><p>interferência do Poder Judiciário no que tange às políticas públicas, já que estas são de</p><p>competência do Poder Executivo.</p><p>57</p><p>3</p><p>Direitos fundamentais e sociais</p><p>U</p><p>ni</p><p>ve</p><p>rs</p><p>id</p><p>ad</p><p>e</p><p>S</p><p>ão</p><p>F</p><p>ra</p><p>nc</p><p>is</p><p>co</p><p>Ocorre que a precarização das políticas públicas, em especial políticas sociais, traz ao</p><p>debate a violação de direitos fundamentais do cidadão e a intervenção do Judiciário na</p><p>responsabilização do Estado executor.</p><p>Mendonça (2010) analisa a independência dos poderes à luz da Constituição Federal,</p><p>A tripartição dos Poderes, tal como delineada pela Constituição brasileira de</p><p>1988, conferiu ao Poder Judiciário independência frente aos Poderes Execu-</p><p>tivo e Legislativo, o que assegura por meio de clausula pétrea. No entanto,</p><p>a própria Lei Maior acaba por permitir que as decisões judiciais influenciem</p><p>e norteiem a atuação dos agentes quer do Poder Executivo, quer do Poder</p><p>Legislativo, na medida em que nenhuma ameaça de direito pode ser excluída</p><p>de apreciação jurisdicional. Em sendo respeitados os limites constitucionais,</p><p>essa atuação do Judiciário não prejudicará o Principio Federativo. Nessa</p><p>medida, a ciência processual civil, “técnica de solução de imperativa de con-</p><p>flitos”, passa a nortear a atuação dos juízes de forma que não sejam aban-</p><p>donados os princípios constitucionais, mas possibilita que o Estado exerça</p><p>a jurisdição, considerando-se para tanto o conjunto de normas que regem o</p><p>seu exercício (pelo Estado), do direito de ação pelo demandante e de defesa</p><p>(contraditório) para o demandado (MENDONÇA, 2010, p. 400).</p><p>Se por um lado o acesso à justiça é um Direi-</p><p>to Fundamental que vai garantir ao cidadão</p><p>a efetividade dos seus Direitos violados ou</p><p>negados, por outro lado precisamos analisar</p><p>a judicialização pelo aspecto da mobilização</p><p>social pelos direitos.</p><p>O processo de judicialização tende a enfra-</p><p>quecer as lutas coletivas, já que cada um</p><p>usará os seus próprios meios para acessar</p><p>seus direitos individualmente, exceto nos</p><p>casos dos Direitos Difusos e Coletivos mo-</p><p>bilizados pelo Ministério Público, que estu-</p><p>daremos adiante.</p><p>Ademais, não raro, a garantia judicial do di-</p><p>reito individual poderá implicar na negação do</p><p>direito de outra pessoa. Vamos exemplificar.</p><p>Pensemos que uma criança de 3 anos de</p><p>idade está na lista de espera para uma vaga na creche e é a primeira da lista. Ao re-</p><p>ceber uma ordem judicial para incluir outra criança, a instituição irá atender a ordem</p><p>e a priorizará, mesmo que esta criança não constasse da mesma lista. Claro que isso</p><p>garantirá o direito da criança, porém, aquela da lista de espera continuará sem a vaga</p><p>por não ter acessado o meio judicial.</p><p>Quanto à importância de acessarmos</p><p>os direitos coletivamente, Valle (2011, p. 20) nos</p><p>traz uma reflexão:</p><p>Figura 03. A luta pelos direitos coletivos.</p><p>Fo</p><p>nt</p><p>e:</p><p>1</p><p>23</p><p>rf.</p><p>58</p><p>Sistemas de acesso à justiça no Brasil. Direitos difusos e coletivos</p><p>3</p><p>A sinalização constitucional em favor dos direitos fundamentais – especialmente</p><p>dos sociais – não pode ver esvaziada a sua importância enquanto conquista</p><p>coletiva, apesar das grandes dificuldades na sua efetivação nessa mesma pers-</p><p>pectiva grupal. A solução, todavia, não estará numa seletividade opaca, que</p><p>privilegia, no suposto da estar buscando assegurar a igualdade material. (...)</p><p>(...) A efetiva concretização dos direitos fundamentais – entendidos nas suas</p><p>múltiplas dimensões e enquanto projeto coletivo – exige a busca de critérios</p><p>conhecidos e democraticamente construídos de superação de um quadro de</p><p>desigualdade social que não é desejado pela Constituição. Não seja o Texto</p><p>Fundamental, principal pilar da isonomia, o pretexto para a consagração – em</p><p>seu nome – da prática judicial da desigualdade.</p><p>1.3. O ACESSO À JUSTIÇA E A DEFESA DOS DIREITOS COLETIVOS:</p><p>A ATUAÇÃO DA DEFENSORIA PÚBLICA E DO MINISTÉRIO PÚBLICO</p><p>A Constituição Federal de 1988 amplia de forma importante a defesa dos Direitos Difu-</p><p>sos e Coletivos, trazendo novos atores no cenário da Defesa de Direitos.</p><p>Na história dos Direitos Humanos, são consagrados princípios herdados das revoluções</p><p>libertárias, especialmente a Revolução Francesa que representou importante direção</p><p>para a evolução histórica dos Direitos Humanos a partir da aprovação da Declaração</p><p>dos Direitos do Homem e do Cidadão, na França em 1789.</p><p>Sobre a Revolução Francesa e seus reflexos na Declaração, nos ensina Bobbio (2004, p. 79):</p><p>Os testemunhos da época e os historiadores estão de acordo que esse ato</p><p>representou um daqueles momentos decisivos, pelo menos simbolicamente,</p><p>que assinalam o fim de uma época e o início de outra, e, portanto, indicam</p><p>uma virada histórica do gênero humano. Um grande historiador da Revolu-</p><p>ção, George Lefebvre, escreveu “Proclamando a liberdade, a igualdade e a</p><p>soberania popular, a Declaração foi o atestado de óbito do Antigo Regime,</p><p>destruído pela revolução.”</p><p>Os princípios da Revolução Francesa marcam a história dos Direitos Humanos em</p><p>suas gerações assim identificadas, respectivamente primeira, segunda e terceira ge-</p><p>rações, que são o princípio da liberdade, que aponta para a luta pelos direitos civis</p><p>e políticos, o princípio da igualdade, pelos direitos econômicos, sociais e culturais e</p><p>o princípio da fraternidade, que engloba o direito ao meio ambiente equilibrado, uma</p><p>saudável qualidade de vida, progresso, paz, autodeterminação dos povos – sendo</p><p>estes chamamos direitos difusos.</p><p>O Brasil trouxe à luz, pela Constituição Federal, os direitos difusos, coletivos e individuais</p><p>homogêneos, mas antes disso já havia divulgado dois instrumentos desses Direitos: a</p><p>Afirmamos que o processo de judicialização tende a enfraquecer as lutas coletivas, já que cada um</p><p>usará os seus próprios meios para acessar seus direitos individualmente. A partir dessa reflexão,</p><p>identifique e discuta com os seus colegas uma situação que você tenha conhecimento que tenha</p><p>sido judicializada e reflita sobre alternativas possíveis que poderiam ter sido adotadas.</p><p>REFLITA</p><p>59</p><p>3</p><p>Direitos fundamentais e sociais</p><p>U</p><p>ni</p><p>ve</p><p>rs</p><p>id</p><p>ad</p><p>e</p><p>S</p><p>ão</p><p>F</p><p>ra</p><p>nc</p><p>is</p><p>co</p><p>Política Nacional do Meio Am-</p><p>biente em 1981 e a Lei de Ação</p><p>Civil Pública – Lei nº 7.347/85.</p><p>Posterior à Constituição Fede-</p><p>ral, novas leis deram aprofun-</p><p>damento na direção dos Direi-</p><p>tos Coletivos, dentre elas, os</p><p>estatutos da criança e do ado-</p><p>lescente, do idoso, da pessoa</p><p>com deficiência, da juventude</p><p>e da igualdade racial, que estu-</p><p>daremos oportunamente.</p><p>Os direitos difusos, coletivos</p><p>e individuais homogêneos são</p><p>frutos de conquistas sociais que antecederam a Assembleia Constituinte e são conside-</p><p>rados instrumentos processuais eficientes na solução de demandas coletivas de ordem</p><p>econômica, social ou cultural. Os direitos difusos não dizem respeito a uma só pessoa,</p><p>mas um grupo indeterminado de pessoas, tanto em número quanto em identificação.</p><p>Podemos exemplificar a partir da exibição de uma propaganda enganosa veiculada na</p><p>mídia. Sabemos que ela atingirá um número grande de pessoas que não será possível</p><p>quantificar e nem nominar individualmente todas elas. No entanto, poderá ser pleiteada</p><p>em nome dessas pessoas a retirada da propaganda, que beneficiará a todos, neste</p><p>caso, os consumidores. Neste exemplo não será possível individualizar o direito, de-</p><p>terminando quanto caberia a cada um, mas somente que a todos irá beneficiar igual-</p><p>mente. Portanto, o direito difuso é também</p><p>indivisível.</p><p>Vamos entender um pouco mais utilizando ou-</p><p>tro exemplo. O direito a respirar ar puro é outro</p><p>caso tradicional de direito difuso. Observe que</p><p>não é possível individualizar o titular do direito.</p><p>Então, podemos afirmar que os direitos di-</p><p>fusos não são utilizados individualmente, ou</p><p>seja, o uso do direito por qualquer um dos ti-</p><p>tulares implica necessariamente aos demais,</p><p>já que todos respirarão o mesmo ar.</p><p>Figura 04. Lema da Revolução Francesa em uma fachada de</p><p>prédio público na França.</p><p>Fo</p><p>nt</p><p>e:</p><p>1</p><p>23</p><p>rf.</p><p>Figura 05. O meio ambiente preservado é</p><p>um direito de todos.</p><p>Fo</p><p>nt</p><p>e:</p><p>1</p><p>23</p><p>rf.</p><p>Você gostaria de saber mais sobre a proteção ao meio ambiente na Constituição Federal? Leia</p><p>o artigo 225 da CF/88. Acesse:</p><p>SAIBA MAIS</p><p>Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm</p><p>60</p><p>Sistemas de acesso à justiça no Brasil. Direitos difusos e coletivos</p><p>3</p><p>Os direitos coletivos objetivam alcançar um</p><p>grande grupo de indivíduos com interesses</p><p>comuns, e sua defesa poderá ser exercida</p><p>por instituições democráticas, dentre elas o</p><p>Ministério Público e a Defensoria Pública.</p><p>A principal distinção entre interesses e</p><p>direitos difusos e os interesses e direitos</p><p>coletivos é que estes dizem respeito a um</p><p>número determinável de pessoas ligadas</p><p>entre si. São direitos que não dizem res-</p><p>peito a uma só pessoa, mas há entre elas</p><p>um laço jurídico.</p><p>Podemos usar como exemplo os alunos de uma determinada escola privada, que têm</p><p>um contrato em comum, uma relação jurídica com a parte contrária e o interesse co-</p><p>mum, que é o ensino. As demandas originadas desta relação atingirão aquele grupo</p><p>específico de alunos daquela escola.</p><p>2. MINISTÉRIO PÚBLICO</p><p>Conforme já abordamos nesta unidade, a possibilidade de reivindicar Direitos é uma con-</p><p>dição essencial ao exercício da Cidadania e, com a ampliação dos direitos sociais e a in-</p><p>clusão dos direitos difusos e coletivos, o Ministério Público, que até então tinha suas atri-</p><p>buições muito mais restritas, passou a ter um papel importante na administração da justiça.</p><p>De acordo com Pinho (2012, p. 165),</p><p>A valorização do Ministério Público como órgão de defesa da sociedade é, sem</p><p>dúvida alguma, uma das maiores novidades introduzidas pela Constituição De-</p><p>mocrática de 1988. A sociedade passou a dispor de um órgão público para pa-</p><p>trocinar os seus interesses contra os detentores do poder político e econômico,</p><p>inclusive contra o próprio Estado e seus agentes. Uma das características do</p><p>Poder Judiciário é justamente a inércia, pois a prestação jurisdicional só é dada</p><p>quando há uma demanda nesse sentido. Esse princípio destina-se a assegurar</p><p>a imparcialidade e a isenção do exercício da função jurisdicional. Para a conso-</p><p>lidação do Estado Democrático de Direito previsto na Constituição brasileira não</p><p>basta a imparcialidade do Poder Judiciário. É indispensável a existência de um</p><p>órgão independente que o movimente na defesa dos interesses sociais e indivi-</p><p>duais indisponíveis. Essa é a razão pela qual o Ministério Público é considerado</p><p>“essencial à função jurisdicional do Estado”.</p><p>O Ministério Público foi inserido na Constituição de 1988 em um capítulo denominado</p><p>“Das funções essenciais à justiça”, ao lado da Defensoria Pública, que trataremos mais</p><p>adiante. Apesar de estar dentro</p><p>do título destinado à “Organização dos Poderes”, não</p><p>faz parte da estrutura de nenhum dos poderes políticos, devendo ser tratado como uma</p><p>instituição à parte, com autonomia financeira e administrativa, com gestão orçamentária</p><p>própria, conforme previsão constitucional.</p><p>Figura 06. O Direito coletivo na relação jurídica</p><p>dos alunos e a escola</p><p>Fo</p><p>nt</p><p>e:</p><p>1</p><p>23</p><p>rf.</p><p>61</p><p>3</p><p>Direitos fundamentais e sociais</p><p>U</p><p>ni</p><p>ve</p><p>rs</p><p>id</p><p>ad</p><p>e</p><p>S</p><p>ão</p><p>F</p><p>ra</p><p>nc</p><p>is</p><p>co</p><p>Art. 127. O Ministério Público é instituição permanente, essencial à função ju-</p><p>risdicional do Estado, incumbindo-lhe a defesa da ordem jurídica, do regime</p><p>democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis.</p><p>§ 1º São princípios institucionais do Ministério Público a unidade, a indivisibilida-</p><p>de e a independência funcional.</p><p>§ 2º Ao Ministério Público é assegurada autonomia funcional e administrativa,</p><p>podendo, observado o disposto no art. 169, propor ao Poder Legislativo a cria-</p><p>ção e extinção de seus cargos e serviços auxiliares, provendo-os por concurso</p><p>público de provas ou de provas e títulos, a política remuneratória e os planos de</p><p>carreira; a lei disporá sobre sua organização e funcionamento.</p><p>§ 3º O Ministério Público elaborará sua proposta orçamentária dentro dos limi-</p><p>tes estabelecidos na lei de diretrizes orçamentárias.</p><p>§ 4º Se o Ministério Público não encaminhar a respectiva proposta orçamen-</p><p>tária dentro do prazo estabelecido na lei de diretrizes orçamentárias, o Poder</p><p>Executivo considerará, para fins de consolidação da proposta orçamentária</p><p>anual, os valores aprovados na lei orçamentária vigente, ajustados de acordo</p><p>com os limites estipulados na forma do § 3º.</p><p>§ 5º Se a proposta orçamentária de que trata este artigo for encaminha-</p><p>da em desacordo com os limites estipulados na forma do § 3º, o Poder</p><p>Executivo procederá aos ajustes necessários para fins de consolidação da</p><p>proposta orçamentária anual.</p><p>§ 6º Durante a execução orçamentária do exercício, não poderá haver a realiza-</p><p>ção de despesas ou a assunção de obrigações que extrapolem os limites esta-</p><p>belecidos na lei de diretrizes orçamentárias, exceto se previamente autorizadas,</p><p>mediante a abertura de créditos suplementares ou especiais.</p><p>Observamos que a atribuição deste órgão é a defesa dos interesses sociais e individu-</p><p>ais indisponíveis, sem vinculação hierárquica a nenhum dos poderes do Estado, o que</p><p>lhe atribui autonomia na sua função, já que na maioria das vezes poderá atuar contra o</p><p>próprio Estado na defesa de interesses da sociedade.</p><p>Em outras leis, anteriores à Constituição Federal de 1988, o Ministério Público já foi</p><p>vinculado ao Poder Executivo e até ao Poder Legislativo.</p><p>Com o status recebido pela CF/88, o Ministério Público passou a ser o guardião do</p><p>regime democrático, o defensor da ordem jurídica e do patrimônio público e, numa so-</p><p>ciedade com tantas desigualdades, se coloca</p><p>em destaque enquanto instituição democrática, ganhando força e importância na defe-</p><p>sa dos Direitos Sociais.</p><p>Mas vamos entender melhor quais são as atribuições do Ministério Público. O artigo 129</p><p>da Constituição Federal atribui ao Ministério Público as funções especificas das quais</p><p>destacaremos algumas delas:</p><p>Art. 129. São funções institucionais do Ministério Público:</p><p>I - promover, privativamente, a ação penal pública, na forma da lei;</p><p>II - zelar pelo efetivo respeito dos Poderes Públicos e dos serviços de relevância</p><p>62</p><p>Sistemas de acesso à justiça no Brasil. Direitos difusos e coletivos</p><p>3</p><p>pública aos direitos assegurados nesta Constituição, promovendo as medidas</p><p>necessárias a sua garantia;</p><p>III - promover o inquérito civil e a ação civil pública, para a proteção do patrimô-</p><p>nio público e social, do meio ambiente e de outros interesses difusos e coletivos;</p><p>IV - promover a ação de inconstitucionalidade ou representação para fins de</p><p>intervenção da União e dos Estados, nos casos previstos nesta Constituição;</p><p>V - defender judicialmente os direitos e interesses das populações indígenas;</p><p>VI - expedir notificações nos procedimentos administrativos de sua competên-</p><p>cia, requisitando informações e documentos para instruí-los, na forma da lei</p><p>complementar respectiva;</p><p>VII - exercer o controle externo da atividade policial, na forma da lei complemen-</p><p>tar mencionada no artigo anterior;</p><p>VIII - requisitar diligências investigatórias e a instauração de inquérito policial,</p><p>indicados os fundamentos jurídicos de suas manifestações processuais;</p><p>IX - exercer outras funções que lhe forem conferidas, desde que compatíveis</p><p>com sua finalidade, sendo-lhe vedada a representação judicial e a consultoria</p><p>jurídica de entidades públicas.</p><p>§ 1º A legitimação do Ministério Público para as ações civis previstas neste arti-</p><p>go não impede a de terceiros, nas mesmas hipóteses, segundo o disposto nesta</p><p>Constituição e na lei.</p><p>§ 2º As funções do Ministério Público só podem ser exercidas por integrantes da</p><p>carreira, que deverão residir na comarca da respectiva lotação, salvo autoriza-</p><p>ção do chefe da instituição</p><p>§ 3º O ingresso na carreira do Ministério Público far-se-á mediante concurso</p><p>público de provas e títulos, assegurada a participação da Ordem dos Advo-</p><p>gados do Brasil em sua realização, exigindo-se do bacharel em direito, no</p><p>mínimo, três anos de atividade jurídica e observando-se, nas nomeações, a</p><p>ordem de classificação.</p><p>§ 4º Aplica-se ao Ministério Público, no que couber, o disposto no art. 93.</p><p>§ 5º A distribuição de processos no Ministério Público será imediata.</p><p>As atribuições identificadas na CF/88 podem ser divididas em dois grupos, por sua na-</p><p>tureza, quais sejam, as funções relacionadas as ações de natureza penal previstas no</p><p>inciso I, VII e VIII, e as de natureza de defesa dos Direitos Coletivos e Direitos Difusos,</p><p>que vão abranger a defesa do meio ambiente e ao patrimônio público e que englobam</p><p>as de natureza administrativa para a efetividade das suas ações.</p><p>Dentre as funções de natureza penal, destacamos que é de competência do Ministério</p><p>Público a ação penal, na qual representará o Estado na acusação de uma pessoa que</p><p>comete um crime. Ou seja, ele será o autor da ação penal, já que o ato de punir uma pes-</p><p>soa que viola a lei e comete um crime é de interesse do Estado, em defesa da sociedade.</p><p>Nesse sentido, o Ministério Público também estará atuando em defesa da sociedade.</p><p>Das demais funções, vamos observar se se relacionam de forma ampla à defesa da cole-</p><p>tividade, representando então os interesses difusos e coletivos, que são zelar pelo efetivo</p><p>63</p><p>3</p><p>Direitos fundamentais e sociais</p><p>U</p><p>ni</p><p>ve</p><p>rs</p><p>id</p><p>ad</p><p>e</p><p>S</p><p>ão</p><p>F</p><p>ra</p><p>nc</p><p>is</p><p>co</p><p>respeito dos Poderes Públicos, da proteção do patrimônio público e social, do meio ambien-</p><p>te e de outros interesses difusos e coletivos e promover a ação de inconstitucionalidade.</p><p>2.1 ESTRUTURA DO MINISTÉRIO PÚBLICO</p><p>Quanto a sua estrutura, o Ministério Público é composto, conforme o artigo 128 da</p><p>CF/88, pelos seguintes órgãos:</p><p>Ministério Público da União:</p><p>Ministérios Públicos dos Estados</p><p>Compõe-se do Ministério Público Federal, Ministério Público do Trabalho, Ministério Público</p><p>Militar, Ministério Público do Distrito Federal e Territórios.</p><p>Sua atuação se dá no âmbito Federal e é regulado por leis infraconstitucionais especificas, que</p><p>dispõem sobre sua organização as carreiras dos servidores do Ministério Público da União e do</p><p>seu Regimento Interno.</p><p>O Ministério Público Estadual tem atribuições em cada Estado da Federação, com suas</p><p>normativas estabelecidas nas Constituições Estaduais, além dos Estatutos e Regimentos</p><p>Internos próprios, seguindo as regras estabelecidas na Constituição Federal.</p><p>Dentre os principais instrumentos utilizados pelo Ministério Público, estão o Inquérito Civil, que</p><p>são processos administrativos para apuração de irregularidades conduzidos pelo Órgão e a</p><p>Ação Civil Pública, que como estudamos na Unidade 2, é um instrumento processual previsto no</p><p>Art. 129 da CF e na Lei nº 7.347 de 24 de julho de 1985, e que legitimam o Ministério Público e</p><p>outras entidades para a defesa</p><p>de interesses difusos, coletivos e individuais homogêneos, como</p><p>defesa do meio ambiente, do consumidor, do patrimônio público, entre outros.</p><p>Quer saber mais sobre o Ministério Público da União? Acesse:</p><p>Figura 07. Sede do MPF - Brasília, Distrito Federal, Brasil.</p><p>Fo</p><p>nt</p><p>e:</p><p>1</p><p>23</p><p>rf.</p><p>SAIBA MAIS</p><p>Disponível em: http://www.mpu.mp.br/navegacao/legislacao</p><p>64</p><p>Sistemas de acesso à justiça no Brasil. Direitos difusos e coletivos</p><p>3</p><p>SAIBA MAIS</p><p>RELEMBRE</p><p>Defensoria Pública</p><p>Ao lado do Ministério Público, a Defensoria Pública é uma instituição essencial à função</p><p>jurisdicional do Estado, tendo como principal atribuição a promoção dos direitos hu-</p><p>manos e a defesa, em todos os graus, judicial e extrajudicial, dos direitos individuais e</p><p>coletivos, de forma integral e gratuita, conforme prevê a Constituição Federal.</p><p>Quer saber mais sobre o Ministério Público do Estado de São Paulo? Acesse:</p><p>O artigo 5º da Constituição Federal prevê no inciso XXXV que “a lei não excluirá da apreciação</p><p>do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito” e no inciso LXXIV, que “o Estado prestará assis-</p><p>tência jurídica integral e gratuita aos que comprovarem insuficiência de recursos”.</p><p>A Constituição de 1988 ampliou, como vimos nesta unidade, a garantia constitucional</p><p>de assistência jurídica e integral, que além das ações individuais, atua na defesa dos</p><p>Direitos Coletivos, como o Ministério Público.</p><p>Assim define a Constituição Federal de 1988:</p><p>Art. 134. A Defensoria Pública é instituição permanente, essencial à função</p><p>jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe, como expressão e instrumento do re-</p><p>gime democrático, fundamentalmente, a orientação jurídica, a promoção dos</p><p>direitos humanos e a defesa, em todos os graus, judicial e extrajudicial, dos</p><p>direitos individuais e coletivos, de forma integral e gratuita, aos necessitados,</p><p>na forma do inciso LXXIV do art. 5º desta Constituição Federal.</p><p>§ 1º Lei complementar organizará a Defensoria Pública da União e do Distrito</p><p>Federal e dos Territórios e prescreverão normas gerais para sua organização nos</p><p>Estados, em cargos de carreira, providos, na classe inicial, mediante concurso</p><p>público de provas e títulos, assegurada a seus integrantes a garantia da inamo-</p><p>vibilidade e vedado o exercício da advocacia fora das atribuições institucionais.</p><p>§ 2º Às Defensorias Públicas Estaduais são asseguradas autonomia funcio-</p><p>nal e administrativa e a iniciativa de sua proposta orçamentária dentro dos</p><p>limites estabelecidos na lei de diretrizes orçamentárias e subordinação ao</p><p>disposto no art. 99, § 2º</p><p>§ 3º Aplica-se o disposto no § 2º às Defensorias Públicas da União e do</p><p>Distrito Federal.</p><p>§ 4º São princípios institucionais da Defensoria Pública a unidade, a in-</p><p>divisibilidade e a independência funcional, aplicando-se também, no que</p><p>couber, o disposto no art. 93 e no inciso II do art. 96 desta Constituição</p><p>Federal (BRASIL, 1988).</p><p>Disponível em: http://www.mpsp.mp.br/portal/page/portal/home/home_interna</p><p>65</p><p>3</p><p>Direitos fundamentais e sociais</p><p>U</p><p>ni</p><p>ve</p><p>rs</p><p>id</p><p>ad</p><p>e</p><p>S</p><p>ão</p><p>F</p><p>ra</p><p>nc</p><p>is</p><p>co</p><p>IMPORTANTE</p><p>IMPORTANTE</p><p>Dessa forma, União, estados e Distrito Federal podem legislar sobre o funcionamento</p><p>da Defensoria Pública e a prestação de assistência jurídica à população. A União, em</p><p>sua competência, estabelece as normas gerais e os estados definem suas ações.</p><p>Da mesma forma que o Ministério Público atua nas esferas Federal e Estadual, a De-</p><p>fensoria Pública se organiza entre a Defensoria Pública da União para as ações relacio-</p><p>nadas ao Poder Federal e as Defensorias Públicas nos estados.</p><p>É importante destacar a principal diferença nas atribuições da Defensoria Pública em relação ao</p><p>Ministério Público, já que o Defensor Público defende os interesses daqueles que não podem</p><p>contratar um advogado particular. Ficam à disposição das pessoas consideradas hipossuficien-</p><p>tes, na forma da lei, e o Ministério Público atua somente para defesa dos interesses coletivos.</p><p>A Defensoria Pública também possui legitimidade para promover ação civil pública e</p><p>todas as espécies de ações capazes de propiciar a adequada tutela dos direitos difusos,</p><p>coletivos ou individuais homogêneos.</p><p>Quer saber mais sobre a atuação da Defensoria Pública no Estado de São Paulo? Acesse:</p><p>3. DESAFIOS PARA O SERVIÇO SOCIAL: A DEFESA DOS</p><p>DIREITOS COMO ARENA DE LUTAS HEGEMÔNICAS</p><p>Agora que você conhece os Direitos Sociais e as principais instituições para defesa, va-</p><p>mos refletir sobre o papel do serviço social na defesa intransigente dos Direitos Humanos.</p><p>O Serviço Social tem como princípio os Direitos Humanos e a recusa do arbítrio e do au-</p><p>toritarismo. Dessa forma, o projeto ético-político profissional supõe o amadurecimento</p><p>da luta pelos direitos humanos e os direitos sociais</p><p>As lutas pela garantia dos direitos humanos são construções históricas, porém encon-</p><p>tram barreiras na sociedade. Neste contexto se insere o serviço social, na disputa entre</p><p>os projetos societários que definem a direção política da sociedade e, como consequ-</p><p>ência, da ampliação ou retração na Defesa dos Direitos.</p><p>Netto (1999, p. 1) nos ensina que</p><p>Os projetos societários são projetos coletivos; mas seu traço peculiar reside no</p><p>fato de se constituírem como projetos macroscópicos, como propostas para o</p><p>conjunto da sociedade. Somente eles apresentam esta característica – os ou-</p><p>tros projetos coletivos (por exemplo, os projetos profissionais, de que trataremos</p><p>adiante) não possuem este nível de amplitude e inclusividade.</p><p>Em sociedades como a nossa, os projetos societários são, necessária e simul-</p><p>taneamente, projetos de classe, ainda que refratem mais ou menos fortemente</p><p>Disponível em: https://www.defensoria.sp.def.br/dpesp/</p><p>66</p><p>Sistemas de acesso à justiça no Brasil. Direitos difusos e coletivos</p><p>3</p><p>determinações de outra natureza (culturais, de gênero, étnicas etc.). Efetiva-</p><p>mente, as transformações em curso na ordem capitalista não reduziram a pon-</p><p>deração das classes sociais e do seu antagonismo na dinâmica da sociedade,</p><p>como constataram, entre outros, Harvey (1996) e, entre nós, Antunes (2001).</p><p>É com essas contradições que o Código de Ética do Serviço Social estabelece a</p><p>garantia que os direitos humanos são essenciais à sobrevivência da população e a</p><p>luta pela igualdade.</p><p>Na formulação do Código de Ética do Assistente Social de 1993, são inseridos os se-</p><p>guintes princípios que precisamos identificar para a compreensão do papel do Serviço</p><p>Social na Defesa dos Direitos:</p><p>I. Reconhecimento da liberdade como valor ético central e das demandas</p><p>políticas a ela inerentes - autonomia, emancipação e plena expansão dos</p><p>indivíduos sociais;</p><p>II. Defesa intransigente dos direitos humanos e recusa do arbítrio e do</p><p>autoritarismo;</p><p>III. Ampliação e consolidação da cidadania, considerada tarefa primordial de</p><p>toda sociedade, com vistas à garantia dos direitos civis sociais e políticos das</p><p>classes trabalhadoras;</p><p>IV. Defesa do aprofundamento da democracia, enquanto socialização da par-</p><p>ticipação política e da riqueza socialmente produzida;</p><p>V. Posicionamento em favor da equidade e justiça social, que assegure uni-</p><p>versalidade de acesso aos bens e serviços relativos aos programas e políti-</p><p>cas sociais, bem como sua gestão democrática;</p><p>VI. Empenho na eliminação de todas as formas de preconceito, incentivando</p><p>o respeito à diversidade, à participação de grupos socialmente discriminados</p><p>e à discussão das diferenças;</p><p>VII. Garantia do pluralismo, através do respeito às correntes profissionais</p><p>democráticas existentes e suas expressões teóricas, e compromisso com o</p><p>constante aprimoramento intelectual;</p><p>Figura 08. Desigualdade entre as classes sociais.</p><p>Fo</p><p>nt</p><p>e:</p><p>1</p><p>23</p><p>rf.</p><p>67</p><p>3</p><p>Direitos fundamentais e sociais</p><p>U</p><p>ni</p><p>ve</p><p>rs</p><p>id</p><p>ad</p><p>e</p><p>S</p><p>ão</p><p>F</p><p>ra</p><p>nc</p><p>is</p><p>co</p><p>VIII. Opção por um projeto profissional vinculado ao processo de</p><p>construção de uma nova ordem societária, sem dominação, exploração</p><p>de classe, etnia e gênero;</p><p>IX. Articulação com os movimentos de outras categorias profissionais que par-</p><p>tilhem dos princípios deste</p><p>Código e com a luta geral dos/as trabalhadores/as;</p><p>X. Compromisso com a qualidade dos serviços prestados à população e com</p><p>o aprimoramento intelectual, na perspectiva da competência profissional;</p><p>XI. Exercício do Serviço Social sem ser discriminado/a, nem discriminar, por</p><p>questões de inserção de classe social, gênero, etnia, religião, nacionalidade,</p><p>orientação sexual, identidade de gênero, idade e condição física.</p><p>Vamos observar então que, se falamos de diferenças entre classes sociais, o proje-</p><p>to profissional é também um projeto político, e se os projetos societários podem ser</p><p>transformadores ou conservadores, os projetos profissionais também podem. Dentre os</p><p>projetos profissionais transformadores, podemos identificar as estratégias do Serviço</p><p>Social. Netto (1999, p. 10), em sua análise sobre as transformações do Projeto Ético</p><p>Político do Serviço Social afirma que</p><p>Os projetos profissionais apresentam a autoimagem de uma profissão, ele-</p><p>gem os valores que a legitimam socialmente, delimitam e priorizam seus ob-</p><p>jetivos e funções, formulam os requisitos (teóricos, práticos e institucionais)</p><p>para o seu exercício, prescrevem normas para o comportamento dos pro-</p><p>fissionais e estabelecem as bases das suas relações com os usuários de</p><p>seus serviços, com as outras profissões e com as organizações e instituições</p><p>sociais privadas e públicas (inclusive o Estado, a que cabe o reconhecimento</p><p>jurídico dos estatutos profissionais).</p><p>(...)</p><p>A luta pela democracia na sociedade brasileira, encontrando eco no corpo pro-</p><p>fissional, criou o quadro necessário para romper com o quase monopólio do</p><p>conservadorismo no Serviço Social: no processo da derrota da ditadura se ins-</p><p>creveu a primeira condição – a condição política – para a constituição de um</p><p>novo projeto profissional.</p><p>Podemos afirmar que a atuação do assistente social na defesa de direitos legitima os</p><p>valores transformadores da profissão, e a luta pela construção da igualdade e da liber-</p><p>dade, pilares do projeto profissional, é muitas vezes confrontada com projetos societá-</p><p>rios conservadores, uma vez que a prática profissional não tem neutralidade e aponta</p><p>para uma direção social, conforme nos ensina Teixeira (200 9, p. 188)</p><p>Ainda que a prática profissional do (a) assistente social não se constitua como</p><p>práxis produtiva, efetivando-se no conjunto das relações sociais, nela se impri-</p><p>me uma determinada direção social por meio das diversas ações profissionais</p><p>– através das quais, como foi dito, incide-se sobre o comportamento e a ação</p><p>dos homens –, balizadas pelo projeto profissional que a norteia. Esse projeto</p><p>profissional por sua vez conecta-se a um determinado projeto societário cujo</p><p>eixo central vincula-se aos rumos da sociedade como um todo – é a disputa</p><p>entre projetos societários que determina, em última instância, a transformação</p><p>ou a perpetuação de uma dada ordem social.</p><p>68</p><p>Sistemas de acesso à justiça no Brasil. Direitos difusos e coletivos</p><p>3</p><p>IMPORTANTE</p><p>Para a autora, não há dúvidas de que o projeto ético-político do serviço social brasileiro</p><p>está vinculado a um projeto de transformação, devido à própria exigência que a dimen-</p><p>são política da profissão nos coloca, ao atuarmos na esfera da luta de classes.</p><p>Você conhece o Código de Ética do Assistente Social e a Lei de Regulamentação da profissão?</p><p>Acesse;</p><p>Ainda sobre a dimensão política da intervenção profissional, Yazbek (2014, p. 682) define que</p><p>Estamos falando do desafio de construir “parâmetros públicos que reinventem a</p><p>política no reconhecimento de direitos como medida de negociação e delibera-</p><p>ção de políticas que afetem a vida de todos” (TELLES, 1998, p. 13). Não pode</p><p>haver outra medida. Parâmetros capazes de construir caminhos alternativos na</p><p>negociação “que possam trazer a marca do debate ampliado e da deliberação</p><p>pública, ou seja, da cidadania e da democracia” (PAOLI, 2001, p. 17).</p><p>Dessa forma, a ampliação dos Direitos Sociais pela Constituição Federal trouxe aos</p><p>assistentes sociais maiores desafios, já que a efetivação desses mesmos Direitos foi</p><p>sendo flexibilizada a partir do avanço do neoliberalismo na década de 90, logo após a</p><p>aprovação da Constituição Federal, como já tratamos no início da unidade.</p><p>Boschetti (2009) analisa as fragilidades da implementação da seguridade social no Brasil</p><p>a partir de elementos que também impactam todos os demais Direitos Sociais e Humanos.</p><p>A autora aponta três caminhos fundamentais para o que ela chama de desmonte da</p><p>seguridade social, sendo o primeiro uma desconfiguração dos direitos previstos consti-</p><p>tucionalmente, já que estes não foram nem uniformizados e nem universalizados, con-</p><p>forme os princípios da seguridade social. Como referência, cita as diversas contrarre-</p><p>formas, como a da previdência de 1998, 2002 e 2003.</p><p>Outro fator que contribuiu para desmonte é a não efetivação dos espaços de participa-</p><p>ção e controle democrático previstos na Constituição, como Conselhos e Conferências,</p><p>já que o controle social e a participação são importantes instrumentos de defesa dos</p><p>direitos. Ainda, a autora afirma que enquanto instâncias deliberativas e participativas, os</p><p>Conselhos não estão sendo consolidados.</p><p>Finalmente, traz ao debate as questões relacionadas ao orçamento público, já que não</p><p>há uma ampliação das fontes de recursos, contrariando o dispositivo constitucional, so-</p><p>mado ainda à instituição da DRU - Desvinculação das Receitas da União, que autoriza a</p><p>realocação dos recursos orçamentários destinados a uma determinada política pública,</p><p>para a utilização em outras finalidades, como o pagamento da dívida pública.</p><p>Assim, ela analisa</p><p>Esse quadro revela que a seguridade social brasileira, fruto das lutas e con-</p><p>quistas da classe trabalhadora, é espaço de fortes disputas de recurso e de</p><p>Disponível em: http://www.cfess.org.br/arquivos/CEP_CFESS-SITE.pdf</p><p>69</p><p>3</p><p>Direitos fundamentais e sociais</p><p>U</p><p>ni</p><p>ve</p><p>rs</p><p>id</p><p>ad</p><p>e</p><p>S</p><p>ão</p><p>F</p><p>ra</p><p>nc</p><p>is</p><p>co</p><p>poder, constituindo-se em uma arena de conflitos. A defesa e ampliação dessas</p><p>conquistas e o posicionamento contrário às reformas neoliberais regressivas</p><p>são desafios permanentes e condições para consolidação da seguridade social</p><p>pública e universal (BOSCHETTI, 2009, p. 336).</p><p>Portanto, os desafios do serviço social na defesa intransigente dos Direitos Humanos</p><p>e Sociais, em todos os espaços sociocupacionais, tem se tornado cada vez maiores,</p><p>especialmente no que se refere à implementação e execução das políticas sociais.</p><p>Neste sentido, a professora Raichelis (2009, p. 380) analisa a intervenção profissional</p><p>da seguinte forma:</p><p>As principais mediações profissionais (que não são as únicas) são, portanto, as polí-</p><p>ticas sociais que, apesar de historicamente revelarem sua fragilidade e pouca efetivi-</p><p>dade no equacionamento das respostas requeridas pelo nível crescente de pobreza</p><p>e desigualdade social, têm sido a via por excelência para as classes subalternas</p><p>terem acesso, mesmo que precários e insuficientes, aos serviços sociais públicos.</p><p>O serviço social se constitui em uma profissão interventiva e convive no cotidiano com</p><p>as determinações históricas, estruturais e conjunturais da sociedade burguesa. Nessa</p><p>relação terá como principal matriz de atuação as dimensões profissionais teórico-meto-</p><p>dológica, ético-política e técnico-operativas, e como define Guerra (2013, p. 46)</p><p>É na realização da dimensão técnico-operativa da profissão que o assistente so-</p><p>cial legitima e constrói uma determinada cultura, um ethos profissional. É atra-</p><p>vés da dimensão técnico-operativa que o assistente social articula um conjunto</p><p>de saberes, recriando-lhes, dando-lhes uma forma peculiar e constrói um “fazer”</p><p>que é socialmente produzido e culturalmente compartilhado ao tempo em que</p><p>os vários atos teleológicos dos profissionais resultam na criação/renovação de</p><p>novos modos de ser desta cultura.</p><p>Além disso, aponta para uma prática operativa numa dimensão política.</p><p>Não é supérfluo lembrar que a dimensão técnico-operativa vela a dimensão</p><p>político-ideológica da profissão,</p><p>como aquela pela qual o Serviço Social atua na</p><p>reprodução ideológica da sociedade burguesa ou na construção da contra-he-</p><p>gemonia. O que se pretende enfatizar é que a intervenção de natureza técnico-</p><p>-operativa não é neutra: ela está travejada da dimensão ético-política e esta, por</p><p>sua vez, encontra-se aportada em fundamentos teóricos, donde a capacidade</p><p>de o profissional vir a compreender os limites e possibilidades não como algo in-</p><p>terno ou inerente ao próprio exercício profissional, mas como parte do movimen-</p><p>to contraditório constitutivo da própria realidade social (GUERRA, 2013, p. 46).</p><p>Assim, cabe ao assistente social uma reflexão sobre sua intervenção profissional, reco-</p><p>nhecendo e mediando suas possibilidades e limites neste contexto, para que possa dar</p><p>respostas às demandas presentes na realidade social, tendo como principal objetivo a</p><p>defesa dos direitos sociais e sua efetivação.</p><p>Prezado (a) aluno (a), chegamos ao fim de mais uma unidade e temos certeza de que</p><p>você pôde conhecer as instituições responsáveis pela defesa dos Direitos Sociais Hu-</p><p>manos, assim como refletir sobre a intervenção profissional e seus desafios no contexto</p><p>de violação dos direitos.</p><p>70</p><p>Sistemas de acesso à justiça no Brasil. Direitos difusos e coletivos</p><p>3</p><p>REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS</p><p>BEHRING, E. R.; BOSCHETTI, I. B. Política Social: fundamentos e História. São Paulo: Cortez, 2007.</p><p>BRAGA, M. A. P. 20 anos da constituição. Acesso à Justiça não se confunde com acesso ao Judiciário.</p><p>Revista Consultor Jurídico, 11 de outubro de 2008. Disponível em: https://www.conjur.com.br/2008-out-11/</p><p>acesso_justica_nao_confunde_acesso_judiciario. Aceso em: 29 maio 2020.</p><p>BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil: promulgada em 5 de outubro de 1988. 4. ed. São</p><p>Paulo: Saraiva, 1990.</p><p>_______. Lei nº 9.099, de 26 de setembro de 1995. Dispõe sobre os Juizados Especiais Cíveis e Criminais</p><p>e dá outras providências. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9099.htm. Aceso em: 29</p><p>maio 2020.</p><p>BRAVO. M. I. S. Política de Saúde no Brasil. In: MOTA, A. E.; et al. (Orgs.). Serviço social e saúde: formação e</p><p>trabalho profissional. São Paulo: Cortez, 2006.</p><p>BOBBIO, N. A Era dos Direitos. Trad. Carlos Nelson Coutinho. Rio de Janeiro: Elsevirer, 2004.</p><p>CARVALHO, J. M. de. Cidadania no Brasil: o longo caminho. 10. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira,</p><p>2008.</p><p>CFESS/ABEPSS. Serviço Social: Direitos Sociais e Competências Profissionais. Brasília: CFESS/ABEPSS.</p><p>2009.</p><p>CFESS. Código de Ética do Assistente Social. 1993. Disponível em: http://www.cfess.org.br/arquivos/CEP_</p><p>CFESS-SITE.pdf. Aceso em: 29 maio 2020.</p><p>COSTA, B. A. Controle judicial nas políticas públicas. Revista de Informação Legislativa, v. 50, n. 199, jul./set.</p><p>2013. Disponível em:</p><p>https://www2.senado.leg.br/bdsf/bitstream/handle/id/502928/000991428.pdf?sequence=1. Aceso em: 29</p><p>maio 2020.</p><p>COTRIM, G. V. Direito e legislação: introdução ao direito. 21. ed. São Paulo: Saraiva, 1997.</p><p>DALLARI, D. A. Direitos humanos e cidadania. 2. ed. São Paulo: Editora Moderna, 2010.</p><p>GRINOVER, A. P.; WATANABE, K. O controle jurisdicional de políticas públicas. 2. ed. São Paulo: Forense.</p><p>2010.</p><p>MENDONÇA, P. F. de. O papel do juiz na efetiva implementação da política pública. como administrar a im-</p><p>plementação? In: O Controle Jurisdicional de Politicas Publicas. 2ª edição. São Paulo Editora Forense. 2010.</p><p>71</p><p>3</p><p>Direitos fundamentais e sociais</p><p>U</p><p>ni</p><p>ve</p><p>rs</p><p>id</p><p>ad</p><p>e</p><p>S</p><p>ão</p><p>F</p><p>ra</p><p>nc</p><p>is</p><p>co</p><p>NETTO, J. P. A. A construção do projeto ético¬ político do Serviço Social frente à crise contemporânea. In:</p><p>CFESS/ABEPSS; CEAD/UnB (Org.). Crise contemporânea, questão social e Serviço Social. Brasília: CEAD.</p><p>1999.</p><p>PINHO, R. C. R. Da organização do estado, dos Poderes, e histórico das constituições. 12. ed. São Paulo:</p><p>Saraiva, 2012. v. 18.</p><p>SALVADOR, E. Fundo público e seguridade social no Brasil. 1. ed. São Paulo: Cortez, 2014.</p><p>SEIXAS, B. S. D.; SOUZA, R. K. S. Evolução histórica do acesso à justiça nas constituições brasileiras. Rev.</p><p>Direito e Democracia, v.1 4, n. 1, jan./jun. 2013. Disponível em:</p><p>http://www.periodicos.ulbra.br/index.php/direito/article/viewFile/2660/1883. Acesso em: 29 maio 2020.</p><p>SILVA, J. A. Curso de direito constitucional positivo. 9. ed. São Paulo: Malheiros editores, 1994.</p><p>SIMÕES, C. Curso de direito do serviço social. São Paulo, Cortez, 2007.</p><p>THOMÉ, D. D. O Poder Judiciário e a efetivação de Políticas Públicas: A Mediação como padrão de Atuação</p><p>nos processos coletivos. Revista Eletrônica de Direito Processual – REDP, v. 7, 2011. Disponível em: https://</p><p>www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/redp/article/view/21126/15216. Acesso em: 29 maio 2020.</p><p>VALLE, V. L. do. Judicialização das políticas públicas no Brasil: até onde nos podem levar as asas de Ícaro.</p><p>Revista Jurídica, v. 3, 2011. Disponível em: www.tjrj.jus.br/estatico/docs/revistajuridica/03/artigos/artigo3.doc.</p><p>Acesso em: 29 maio 2020.</p><p>YAZBEK, M. C. A dimensão política do trabalho do assistente social. Revista Serviço Social e Sociedade, São</p><p>Paulo, nº 120, p. 677-693. out./dez., 2014.</p><p>TEIXEIRA, J. B. O projeto ético¬ político do Serviço Social. In: CFESS/ABEPSS. Serviço social: direitos sociais</p><p>e competências profissionais. Brasília, 2009.</p><p>BOSCHETTI, I. Seguridade social no Brasil: conquistas e limites à sua efetivação. In: CFESS/ABEPSS. Ser-</p><p>viço social: direitos sociais e competências profissionais. Brasília, 2009.</p><p>RAICHELIS, R. O trabalho do assistente social na esfera estatal. In: CFESS/ABEPSS. Serviço social: direitos</p><p>sociais e competências profissionais. Brasília, 2009.</p>

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