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<p>CAPÍTULO 1 UMA BÚSSOLA SOCIOLÓGICA 5 dos mentais dos indivíduos, e não o estado da sociedade. Em outros termos, o que normalmente nos interessa são os aspectos da vida de indivíduos particulares que os levaram a ficar deprimidos ou rai- vosos o suficiente para cometerem De modo geral, não pensamos nos padrões de relações sociais que podem estimular tais ações. Se a sociologia pode revelar as causas sociais ocultas de tal fe- nômeno aparentemente antissocial e não social, então deve haver algo de importante nela! A Explicação Sociológica do Suicídio No final do século XIX, o sociólogo francês Émile Durkheim, um dos pioneiros da disciplina, de- monstrou que o suicídio é mais do que um simples ato individual de desespero, resultante de uma desordem psíquica, como as pessoas acreditavam naquela época (Durkheim, 2000 [1897]). As ta- xas de conforme ele demonstrou, são fortemente influenciadas por forças sociais. Durkheim construiu seu argumento baseado no exame da associação entre as taxas de suicídio e as taxas de desordem psicológica de diferentes grupos. Conforme ele raciocinou, a ideia de que de- sordens psicológicas causam o suicídio só poderia ser sustentada se as taxas de suicídio fossem altas onde as de desordem psicológica fossem altas e baixas onde as de desordem psicológicas fossem baixas. Contudo, suas análises das estatísticas governamentais de países europeus e dos prontuários hospitala- res não mostraram nada nesse sentido. Ele descobriu que mais mulheres do que homens eram inter- nadas em hospitais psiquiátricos; no entanto, quatro homens cometiam suicídio para cada mulher que se matava. Os ju- deus apresentavam as maiores taxas de desordem psicológica entre os principais grupos religiosos da França; apesar disso, eram eles que apresentavam as menores taxas de suicídio. As desordens psicológicas ocorriam mais frequentemente quan- do as pessoas atingiam a maturidade, mas as taxas de suicídio aumentavam à medida que a idade dos indivíduos avançava. Assim, as taxas de suicídio e de desordem psicológi- ca não aumentavam e diminuíam juntas. que, então, explicaria a variação nas taxas de suicídio? Durkheim argu- mentou que as taxas de suicídio variam devido às diferen- ças no grau de solidariedade social nos diferentes grupos. A De acordo com ele, quanto maior o grau de compartilha- Durkheim: (1858-1917) foi o primei- ro professor de sociologia, na Franca e é mento de crenças e valores entre os membros de um gru- frequentemente considerado o primeiro po, e quanto mais frequente e intensamente eles interagem, sociólogo moderno. Em As Regras do todo Sociológico (1895) e o maior o grau de solidariedade social desse grupo. Além dis- A Perspectiva Sociológica ele argumentou que o comportamento humano é moldado por "fatos sociais", ou so, quanto maior o grau de solidariedade social, mais fir- pelo contexto social das pessoas. Na visão memente ancorados no mundo social estão os indivíduos de Durkheim, os fatos sociais definem as Ao analisar o suicídio sociologicamente, você pode testar nossa afirmação de que a sociologia ado- restrições e as oportunidades segundo e menos probabilidade haverá de cometerem suicídio se al- ta uma perspectiva única, surpreendente e esclarecedora em relação aos eventos sociais. Afinal de as quais as pessoas devem agir. Durkheim também esteve bastante interessado nas guma adversidade se abater sobre eles. Em outros termos, contas, o suicídio parece ser o ato antissocial não social supremo: é quase sempre desempenhado condições que promovem a ordem social Durkheim esperava que grupos com graus mais altos de so- nas sociedades "primitivas" e modernas e na esfera privada, longe do olhar intrusivo do público e é relativamente raro. No ano de 2001, por explorou esse problema em profundidade lidariedade apresentassem menores taxas de suicídio do que exemplo, havia menos de cinco suicídios para cada grupo de 100 mil brasileiros (Datasus, 2004). em obras como Da Divisão do Trabalho So- cial (1893) e As Formas Elementares da Vida grupos com um baixo grau de solidariedade pelo menos Quando se pensa no porquê de as pessoas cometerem suicídio, é provável que se focalizem os esta- Religiosa (1912). até certo ponto (Figura 1.1).</p><p>CAPÍTULO 1 UMA BÚSSOLA SOCIOLÓGICA 7 SOCIOLOGIA: SUA BÚSSOLA PARA UM NOVO MUNDO 16 fatalista Sexo Masculino 14 Alta Feminino 12 Alta altruísta egoista anômico 10 8 6 4 2 Baixa Alta 0 Baixa. Integração 15-24 25-44 45-64 +65 Durkheim argumentou que, à medida que o nível de solidariedade social (regulação e integração) aumenta, Durkheim a taxa de Figura 1.1 A teoria do de Durkheim Idade declina. Depois de um certo ponto, a taxa a subir. Dai as curvas em forma de U do gráfico. ocorre em ambientes de baixa regulação social de anômico". o suicidio anômico ocor- Figura 1.2 Taxa de suicídios no Brasil por sexo e idade, 2001 (por 100 mil habitantes) chamou o normas que governam o comportamento dos indivíduos são definidas de maneira vaga. Na situação Fonte: Datasus (2004). re quando ou as seja, em ambientes que de alta regulação social, tendem a ocorrer que Durkheim denominou "suici- oposta, dio fatalista". o fatalismo decorre de uma regulação ou normatização excessivas da vida social e que deixa pouco isto es- paço é, em contextos nos quais a frequência e intensidade das interações sociais são baixas, ocorre "suicidio outros para que os indivíduos manifestem suas e necessidades. Já em contextos de baixa integração social, o A teoria de Durkheim não é apenas uma curiosidade histórica. Ela também ajuda a esclarecer suicidio decorre de uma falta de integração do à sociedade devido a laços sociais fracos com forma indivíduos. Finalmente, o "suicidio altruísta" ocorre quando existe um grau muito alto de integração social, de o suicídio aqui e agora. Já mencionamos que aproximadamente cinco em cada 100 mil brasileiros que as ações individuais dizem respeito aos interesses do grupo. cometem suicídio a cada ano. Como a Figura 1.2 ilustra, a taxa de suicídio varia de acordo com a idade, da mesma forma que variava na França do século XIX. A Figura 1.2 também ilustra que as Para embasar seu argumento, Durkheim mostrou que adultos casados têm metade das chan- taxas diferem entre homens e mulheres: como na França do fim do século XIX, os homens estão, ces de cometer suicídio em relação a adultos solteiros porque o casamento normalmente cria laços com frequência, menos envolvidos na educação das crianças e em outras tarefas ligadas à família e sociais e um "cimento" moral que liga os indivíduos à sociedade. De maneira semelhante, as mu- esse dado também é consistente com a teoria de Durkheim. No entanto, diferentemente da época lheres são menos propensas a cometer suicídio do que os homens. Por quê? As mulheres geralmen- de Durkheim, o suicídio entre pessoas jovens tem se tornado mais comum nos últimos anos. Para te se envolvem mais nas relações sociais íntimas da vida familiar. Os judeus, Durkheim escreveu, o conjunto de estados brasileiros, houve uma elevação das taxas de suicídio entre pessoas de 15 a são menos propensos ao suicídio do que os cristãos. A razão? Séculos de perseguição transforma- 24 anos, passando de 3,5, em 1979, para cinco por 100 mil habitantes, em 1998 (Souza, Minayo ram-nos em um grupo mais defensivo e socialmente coeso. Os idosos são mais predispostos do que e Malaquias, 2002). De fato, essa parece ser uma tendência mundial. Por que você acha que isso os jovens e os de meia-idade a dar cabo da própria vida quando se deparam com adversidades por- tem ocorrido? Será que algumas áreas da vida social, como a vida familiar, o mundo do trabalho, a que é mais provável que vivam sós, tenham perdido o cônjuge, parte de sua rede de amigos e que religião etc., podem ter mudado no sentido de enfraquecer os laços das pessoas mais jovens com a não tenham emprego. De maneira geral, Durkheim afirmou: "O suicídio varia na razão inversa sociedade? Você pode explicar sociologicamente o aumento das taxas de suicídio entre os jovens? do grau de integração dos grupos sociais de que o indivíduo faz parte" (Durkheim, 2000 [1897]: 258). Observe que essa generalização não nos diz nada sobre o porquê de um indivíduo particular De Pessoais a Estruturas Sociais dar fim à própria vida: essa é uma questão para a psicologia. No entanto, ela evidencia que a pro- pensão de uma pessoa para o suicídio diminui conforme o grau em que está ancorada à sociedade. Você sabe há bastante tempo que vive em sociedade; no entanto, pode ser que, até o momento, não Tal generalização também nos mostra algo surpreendente e unicamente sociológico sobre como e se tenha dado conta plenamente de como a sociedade também vive em você. Padrões de relações sociais afetam seus pensamentos e sentimentos mais íntimos, influenciam suas ações e, portanto, por que as taxas de suicídio variam de grupo para grupo.</p><p>8 SOCIOLOGIA: SUA BÚSSOLA PARA UM NOVO MUNDO CAPÍTULO 1 UMA BÚSSOLA SOCIOLÓGICA ajudam a definir quem você é. Como vimos, um padrão particular de relações sociais refere-se ao entre as famílias que não podem pagar por tais serviços particulares. Assim, a pesquisa sociológica nível de solidariedade social que caracteriza os vários grupos aos quais você pertence. mostra que quando os cônjuges dividem as responsabilidades domésticas de forma igualitária, fi- Os sociólogos chamam os padrões estáveis de relações sociais de estruturas sociais. Uma cam mais satisfeitos com o casamento e mostram-se menos propensos ao divórcio (Hochschild e das principais tarefas do sociólogo é identificar e explicar a conexão existente entre os problemas Machung, 1989). Quando um casamento se encontra em risco de dissolução, os parceiros normal- pessoais dos indivíduos e as estruturas sociais nas quais eles estão inseridos. Essa tarefa é mais ár- mente acusam um ao outro pelos problemas. Entretanto, deve estar claro agora que outras forças, dua do que pode parecer a princípio, pois, em nossa vida cotidiana, normalmente percebemos as e não só as personalidades incompatíveis, exercem algum fator de estresse sobre as famílias. Com- coisas segundo o nosso próprio ponto de vista e nossas experiências parecem ser exclusivas a cada preender como a macroestrutura do patriarcalismo interfere na vida cotidiana, e fazer algo para um de nós. Além disso, se pensarmos sobre as estruturas sociais, elas podem parecer remotas e mudar essa estrutura, pode ajudar as pessoas a ter uma vida mais feliz. impessoais. Para perceber como as estruturas sociais operam em nós, é necessário um treinamen- to em sociologia. Estruturas Globais Um passo importante no sentido de expandir a consciência sociológica de alguém envolve terceiro nível de sociedade que nos envolve e permeia é composto de estruturas globais. Orga- reconhecer que existem três níveis de estruturas sociais que nos rodeiam e permeiam. Pense nessas nizações internacionais, padrões de comunicação e de viagens internacionais e as relações econô- estruturas como círculos concêntricos que irradiam a partir de você. micas entre os países são exemplos de estruturas globais. As estruturas globais têm se tornado cada Microestruturas vez mais importantes à medida que formas mais baratas de comunicação e de transporte possibili- tam que o mundo se torne interconectado cultural, econômica e politicamente. Microestruturas são padrões de relações sociais íntimas formados durante interações face a face. Compreender o funcionamento de estruturas globais também pode ser útil. Por exemplo, Famílias, círculos de amizade, colegas de trabalho são exemplos de microestruturas. muitas pessoas de países desenvolvidos se preocupam com os pobres do mundo. Fazem doações a Entender o funcionamento de microestruturas pode ser útil. Digamos que você esteja procu- instituições de caridade para ajudar a amenizar a fome nos países em desenvolvimento. Algumas rando um emprego. Você poderia pensar que a melhor coisa a fazer seria consultar o máximo de dessas pessoas também aprovam políticas governamentais de ajuda externa a países em desenvol- amigos próximos e de parentes sobre dicas e contatos. No entanto, pesquisas sociológicas mostram vimento. No entanto, muitas delas não se dão conta de que a caridade e a ajuda externa, isolada- que as pessoas que você conhece bem provavelmente conhecem muitas das mesmas pessoas que mente, não resolverão problema da pobreza no mundo. Isso porque a caridade e a ajuda externa você. Por essa razão, depois de pedir a alguns poucos contatos próximos para lhe ajudar a conseguir são insuficientes para superar a estrutura das relações sociais, que criou e sustenta a desigualdade um emprego, o melhor a fazer seria pedir a alguns conhecidos mais distantes dicas e contatos. É global, entre os países. possível que pessoas com as quais você esteja fracamente ligado (e que estão fracamente ligadas en- tre si) conheçam diferentes grupos de pessoas. Sendo assim, elas lhe darão mais informações sobre possibilidades de trabalho e garantirão que mais pessoas saibam que você está procurando empre- go. Assim, é provável que você encontre um emprego mais rapidamente se compreender "a força 2.572 dos laços fracos" em ambientes microestruturais (Granovetter, 1973). 2.400 Ajuda Macroestruturas Juros (estimados em 5%) Dívida Macroestruturas são padrões de relações sociais que se encontram "fora" e "acima" dos círculos de 1.667 pessoas íntimas ou conhecidas. Uma macroestrutura importante é o patriarcalismo, sistema tradi- 1.600 cional de desigualdade econômica e política entre homens e mulheres presente na maioria das socie- dades (para ver o Capítulo 8, "Sexualidade e Gênero", Capítulo 11, de 1.200 A ajuda como percentual A ajuda como percentual Compreender o funcionamento das macroestruturas também pode ser útil. Considere, por dos juros 78,3% dos juros 37,7% 800 exemplo, um aspecto do patriarcalismo: a maioria das mulheres casadas que trabalha em tempo in- tegral na força de trabalho remunerada desempenha mais trabalho doméstico e é responsável por 400 maiores cuidados com as crianças e com os idosos do que os maridos. Os governos e as empresas 65 83 129 49 alimentam esse fato na medida em que oferecem pouca assistência às famílias na forma de creches, 0 programas educacionais em tempo integral e instituições para idosos. No entanto, a divisão de- 1992 1999 sigual do trabalho doméstico é fonte importante de falta de satisfação no casamento, em especial Ano Figura 1.3 Ajuda externa, dívida e pagamento de juros dos países em desenvolvimento, 1992 e Alguns sociólogos também falam de "mesoestruturas", ou seja, relações sociais que ligam micro e macroestruturas. 1999 (em bilhões de dólares) Fonte: World Bank (2004a); United Nations (2004b); Central Intelligence Agency</p><p>10 SOCIOLOGIA: SUA BÚSSOLA PARA UM NOVO MUNDO CAPÍTULO 1 UMA BÚSSOLA SOCIOLOGICA 1 Detenhamo-nos nesse ponto por um momento: países como Reino Unido, França, Espanha, Portugal e outras potências imperiais condenaram alguns países à pobreza quando os colonizaram em que vive. Raramente têm consciência da complexa ligação entre suas vidas e 0 curso da his- tória mundial; por isso, os homens comuns não sabem, quase sempre, 0 que essa ligação signifi- entre os séculos XVII e XIX. No século XX, os países em desenvolvimento tomaram dinheiro em- ca para os tipos de ser em que se estão transformando e para tipo de evolução histórica de que prestado dos países ricos e dos bancos ocidentais para financiar aeroportos, estradas, portos, sistemas de saneamento e de saúde. Hoje, os países pobres pagam muito mais aos países ricos e aos bancos podem participar. Não da qualidade intelectual básica para sentir jogo que se proces- sa entre os homens e a sociedade, a biografia e a história, eu e 0 mundo. Não podem enfrentar na forma de juros do que aquilo que recebem em termos de ajuda (ver Figura 1.3). Assim, fica claro suas preocupações pessoais de modo a controlar sempre as transformações estruturais que habitual- que a ajuda externa e os programas de caridade farão muito pouco para resolver o problema da po- mente estão atrás deles (...). breza. Entender como a estrutura global de relações internacionais gerou e mantém a desigualdade global sugere novas prioridades políticas cuja finalidade seja ajudar os pobres do mundo. Uma des- que precisam (...) de uma qualidade de que ajude a [perceber] (...) que está ocor- rendo no mundo e (...) que pode estar acontecendo dentro deles mesmos. É essa qualidade (...) que sas prioridades poderia, por exemplo, envolver campanhas para o perdão das dívidas externas como forma de compensação pelas injustiças cometidas no passado. poderemos chamar de imaginação sociológica. (Mills, 1965 [1959]: 9-11) Como os exemplos ilustram, os problemas pessoais estão relacionados a estruturas sociais nos A imaginação sociológica é uma aquisição recente do repertório humano. Embora seja verda- níveis micro, macro e global. Não importa se o problema pessoal envolve procurar emprego, man- de que durante a Antiguidade e a Idade Média alguns filósofos tenham escrito sobre a sociedade, ter um casamento intacto ou agir com justiça para acabar com a pobreza mundial, considerações seu pensamento não era sociológico. Tais filósofos acreditavam que Deus e a natureza controlavam sobre as estruturas sociais aprofundam nossa compreensão do problema e sugerem mecanismos de ação apropriados. a sociedade; gastavam muito do seu tempo esboçando modelos da sociedade ideal e requisitando às pessoas que seguissem esses modelos; baseavam-se na especulação, e não na evidência, para con- cluir como a sociedade funciona. A Sociológica As Origens da Sociológica Há quase meio século, o grande sociólogo norte-americano C. Wright Mills (1916-1962) chamou a habilidade de se perceber a conexão existente entre problemas pessoais e es- A imaginação sociológica nasceu quando três revoluções modernas levaram as pessoas a refletir so- bre a sociedade de maneira inteiramente nova: truturas sociais de imaginação sociológica. Ele enfatizou a dificuldade para o desenvolvimento dessa habilidade in- telectual. Sua linguagem é um tanto sexista para os padrões 1. A Revolução Científica teve início por volta de 1550. Ela encorajou a visão de que con- de hoje, mas seu argumento continua tão verdadeiro e ins- clusões plausíveis acerca do funcionamento da sociedade devem se basear em evidências pirador como quando surgiu, na década de 1950. sólidas e não apenas em especulações. As pessoas frequentemente relacionam a Revolução Científica a ideias específicas, como as leis da gravitação universal de Newton e a teoria de Quando uma sociedade se industrializa, camponês se Copérnico de que a Terra gira em torno do Sol. No entanto, a ciência é menos uma cole- ção de ideias do que um método de investigação. Por exemplo, em 1609, Galileu apon- transforma em trabalhador; senhor feudal desapare- tou sua.nova invenção, o para o céu, efetuou algumas observações cuidadosas ce, ou passa a ser homem de negócios. Quando as classes e demonstrou que elas estavam de acordo com a teoria de Copérnico. Esse é o cerne do ascendem ou caem, homem tem emprego ou fica de- Wright Mills (1916-1962) argumentou que a imaginação sociológica é uma forma de método usar evidências para demonstrar um ponto de vista particular. Em mea- sempregado; quando a taxa de investimento se eleva ou pensamento singular. Ela possibilita que as desce, se entusiasma, ou se Quando pessoas percebam como suas ações e po- dos do século XVII, alguns filósofos, como Descartes, na França, e Hobbes, na Inglaterra, tenciais são afetados pelo contexto guerras, corretor de seguros se transforma no lança- chamaram atenção para a necessidade de uma ciência da sociedade. Quando a sociologia rico e social no qual vivem. Mills empregou dor de foguetes; caixeiro de loja, em homem do radar; a imaginação sociológica em suas obras emergiu como uma disciplina autônoma no século XIX, o compromisso em relação ao mais Por exemplo, A Elite do a mulher vive só, a criança cresce sem pai. A vida do Poder (1956) é um estudo sobre as várias método científico já era uma base sólida da imaginação sociológica. centenas de homens que ocupavam os 2. A Revolução Democrática começou por volta de 1750. Por meio dela, foi sugerido que individuo e a história da sociedade não podem ser com- "postos de comando" nas principais insti- preendidas sem compreendermos essas alternativas. tuições americanas. Essa obra sugere que as pessoas são responsáveis pela organização da sociedade e que a intervenção humana o poder econômico, político e militar é al- E, apesar disso, os homens não definem, habitualmen- tamente concentrado na sociedade ame- pode, portanto, solucionar problemas sociais. Há 400 anos, a maioria dos europeus pen- ricana, o que a torna menos democrática sava de forma diferente: para eles, Deus ordenava a ordem social. A Revolução Americana te, suas ansiedades em termos de transformação do que nos querem fazem crer. o corolá- rica (...). bem-estar que desfrutam, não atribuem rio do estudo de Mills é o de que, para tor- (1775-1783) e a Revolução Francesa (1789-1799) ajudaram a derrubar essa ideia. Esses nar a sociedade mais o poder habitualmente aos grandes altos e baixos da sociedade deve ser mais igualmente en- levantes políticos democráticos mostraram que a sociedade poderia sofrer mudanças maci- tre os ças em curtos espaços de tempo e sugeriram que as pessoas poderiam controlar a sociedade.</p><p>12 SOCIOLOGIA: SUA BÚSSOLA PARA UM NOVO MUNDO CAPÍTULO 1 - UMA BÚSSOLA SOCIOLÓGICA As implicações disso para pensamento social foram profundas: se era possível mudar a produzir descendentes. De acordo com essa perspectiva, as sociedades evoluiriam da "barbárie" à sociedade por meio da intervenção humana, então uma ciência da sociedade poderia de- "civilização". Spencer admitia que existem grandes desigualdades na sociedade, mas as coisas de- sempenhar um papel importante. A nova ciência poderia ajudar as pessoas a encontrar vem ser assim para que as sociedades evoluam (Spencer, 1975 [1897-1906]). maneiras de superar problemas sociais, melhorar o bem-estar dos cidadãos e alcançar de- As ideias de Spencer, que vieram a ser conhecidas como "darwinismo social", foram popu- terminados objetivos de maneira efetiva. Muito da justificativa da sociologia como ciência lares por algum tempo em diversas partes do mundo, mas, hoje em dia, poucos sociólogos pen- baseou-se nas revoluções democráticas que abalaram a Europa e a América do Norte. sam que as sociedades são como sistemas biológicos. Temos uma compreensão mais apropriada das 3. A Revolução Industrial teve início por volta de 1780. Ela gerou uma nova gama de pro- complexas forças econômicas, políticas, militares, religiosas etc., que geram a mudança social. Sa- blemas sociais bastante sérios que atraíram a atenção dos pensadores sociais. Como resul- bemos que as pessoas podem tomar as rédeas da situação e mudar seu ambiente social de uma ma- tado do crescimento da indústria, grandes massas populares migraram do campo para as neira que nenhuma outra espécie pode. Spencer continua a nos interessar porque estava entre os cidades, enfrentaram jornadas de trabalho extremamente longas em fábricas e minas aper- primeiros a afirmar que a sociedade funcionava de acordo com leis - e devido à visão tadas e perigosas, perderam a fé em suas confrontaram burocracias anônimas e de sociedade ideal que é possível inferir de seus escritos. reagiram à sujeira e à miséria de suas existências promovendo greves, crimes, revoluções e Em graus variáveis, é possível observar a mesma tensão entre a crença na importância da guerras. Os intelectuais nunca tiveram um laboratório como aquele. A Revolução Cien- ciência e uma visão da sociedade ideal na obra dos três gigantes da sociologia clássica: Karl Marx tífica sugeriu que uma ciência da sociedade é possível; a Revolução Democrática mostrou (1818-1883), Émile Durkheim (1858-1917) e Max Weber (1864-1920). A vida desses três ho- que as pessoas podem intervir no sentido de melhorar a sociedade; a Revolução Industrial mens estende-se por pouco mais de um século, mas eles testemunharam várias fases da transi- apresentou aos pensadores uma gama de novos problemas sociais que demandavam solu- ção violenta que ocorreu na Europa rumo ao capitalismo industrial, tentaram explicar as grandes ção. Os intelectuais reagiram a tudo isso fazendo nascer a imaginação sociológica. transformações europeias e sugeriram maneiras de melhorar a vida das pessoas. Como Comte e Spencer, acreditavam no método de pesquisa científica e, de fato, o adotaram em suas pesquisas. No entanto, diferentemente deles, Marx, Durkheim e Weber tentaram estabelecer cursos alterna- Teoria, Pesquisa e Valores tivos para as sociedades em que viviam. As ideias que eles desenvolveram não foram apenas ferra- mentas de diagnóstico a partir das quais podemos aprender, mas, como muitas ideias sociológicas, pensador social francês Auguste Comte (1798-1857) cunhou o termo sociologia em 1838 prescrições para combater os males sociais. (Comte, 1975). Comte tentou estabelecer o estudo da sociedade sobre bases enfatizan- A tensão entre análise e ideal, diagnóstico e prescrição, é evidente ao longo da produção socio- do que entender o mundo social como ele é, e não como ele ou qualquer outra pessoa lógica. Isso se torna mais claro ao se distinguir três termos importantes: teoria, pesquisa e valores. imaginava que deveria ser. No entanto, havia uma tensão em sua obra: embora Comte estives- se ansioso por adotar o método científico no estudo da sociedade, ele era um pensador conserva- Teoria dor, motivado por uma forte oposição à ideia de uma rápida mudança na sociedade francesa. Isso é evidente em seus escritos. Quando Comte se mudou de sua pequena e conservadora cidade na- As ideias sociológicas são normalmente expressas sob forma de teorias. Teorias são explicações tal para Paris, testemunhou as forças democráticas liberadas pela Revolução Francesa, os estágios conjecturais de algum aspecto da vida social; elas nos dizem como e por que determinados fatos iniciais da industrialização da sociedade e o rápido crescimento das cidades. O que ele viu o cho- se relacionam. Por exemplo, em sua teoria sobre o Durkheim relacionou fatos sobre taxas cou e entristeceu. A mudança social acelerada estava destruindo muitas das coisas que ele valoriza- de suicídio e fatos sobre solidariedade social, o que fez com que ele pudesse explicar o suicídio to- va, especialmente o respeito pela autoridade tradicional. Nesse sentido, Comte defendeu a ideia de mando por base a solidariedade social. Em nossa definição ampla, até mesmo uma intuição pode mudanças lentas e a preservação de tudo o que era tradicional na vida social. Como o pensamen- ser considerada uma teoria, desde que ela sugira como e por que certos fatos se relacionam. Como to de Comte demonstra, métodos de pesquisa e uma visão da sociedade ideal eram evi- Albert Einstein escreveu: "A essência da ciência não é nada mais do que um refinamento do pen- dentes na sociologia em suas origens. samento cotidiano" (Einstein, 1954: 270). Embora louvasse o valor dos métodos Comte nunca conduziu uma pesquisa. Nem ele, nem o segundo fundador da sociologia, o teórico social britânico Herbert Spencer (1820- Pesquisa 1903). Apesar disso, Spencer acreditava ter descoberto leis científicas que governavam o funciona- mento da sociedade. Fortemente influenciado pela teoria da evolução de Charles Darwin, Spencer Depois que os sociólogos formulam teorias, eles podem conduzir pesquisas. Pesquisa é o processo acreditava que as sociedades eram compostas de partes interdependentes, da mesma forma que os por meio do qual se observa cuidadosamente a realidade social, no intuito de se "testar" uma teo- organismos biológicos. Essas partes interdependentes incluiriam as famílias, os governos e a eco- ria ou determinar sua validade. Por exemplo, Durkheim coletou estatísticas sobre suicídio de vá- nomia. De acordo com ele, as sociedades evoluem da mesma forma que as espécies biológicas: os rias agências governamentais para verificar em que medida os dados confirmavam ou contradiziam indivíduos lutam para sobreviver e o mais apto vence a luta. Os menos aptos morrem antes de sua teoria. Dado que a pesquisa pode colocar em xeque a validade de uma teoria, as teorias são</p><p>14 SOCIOLOGIA: SUA BÚSSOLA PARA UM NOVO MUNDO CAPÍTULO 1 UMA BÚSSOLA SOCIOLÓGICA somente explicações conjecturais ou hipotéticas. Discutiremos o processo de pesquisa em detalhe 3. As teorias funcionalistas enfatizam que as estruturas sociais baseiam-se, principalmente, no Capítulo 2, "Como os Sociólogos Fazem Pesquisa". em valores compartilhados. Quando Durkheim escreveu sobre solidariedade social, por exemplo, algumas vezes ele fazia referência à frequência e à intensidade da interação so- Valores cial, mas, mais frequentemente, pensava na solidariedade social como um tipo de cimen- to moral: valores e crenças compartilhados que mantêm as pessoas juntas. Antes que os sociólogos possam formular teorias, no entanto, eles devem fazer certos julgamentos. 4. O funcionalismo sugere que o restabelecimento do equilíbrio social é a melhor solução para Por exemplo, devem decidir quais problemas vale a pena estudar; devem ter certos pressupostos os problemas da sociedade. Durkheim escreveu que a estabilidade social poderia ser restau- acerca de como as partes da sociedade se encaixam; se pretendem recomendar maneiras de melho- rada na Europa do fim do século XIX por meio da criação de novas associações de patrões e rar o funcionamento de algum aspecto da sociedade, devem até ter uma opinião sobre como a so- empregados que poderiam, por sua vez, diminuir as expectativas dos trabalhadores em relação ciedade ideal deveria ser. Como veremos em breve, essas questões são amplamente orientadas pelos ao que podiam esperar da vida. Para Durkheim, se mais pessoas desejassem menos, então a valores dos sociólogos. Valores são ideias sobre que é certo ou errado e, inevitavelmente, ajudam solidariedade social aumentaria e haveria menos greves e taxas de suicídio menores. O fun- os sociólogos a formular e a favorecer uma teoria em detrimento de outra (Edel, 1965; Kuhn, 1970 cionalismo representou, portanto, uma resposta conservadora para o mal-estar generalizado [1962]). Enquanto tais, as teorias sociológicas devem ser modificadas e até rejeitadas devido à pes- na França do fim do século XIX. Uma resposta mais liberal ou radical seria argumentar que, quisa, mas são frequentemente motivadas pelos valores dos sociólogos. se as pessoas estavam descontentamento porque conseguiam menos do que es- Durkheim, Marx e Weber encontram-se próximos às origens das principais tradições teóricas peravam da vida, então descontentamento poderia diminuir ao se encontrar formas por da sociologia: funcionalismo, a teoria do conflito e interacionismo. Uma quarta tradição teó- meio das quais pudessem extrair mais satisfação para suas vidas. rica, o feminismo, surgiu nas últimas décadas para corrigir algumas deficiências das três tradições mais antigas. Deverá ficar claro, à medida que você for lendo este livro, que existem muitas outras Parsons e Merton tradições teóricas, além dessas quatro. No entanto, dado que elas foram bastante influentes no de- sociólogo norte-americano Talcott Parsons (1902-1979) foi um dos pensadores funcionalistas senvolvimento da sociologia, apresentaremos agora um pequeno resumo de cada uma. mais importantes, depois de Durkheim. Uma de suas principais contribuições foi a de identificar Teorias e Teóricos da Sociologia como as várias instituições sociais devem operar a fim de assegurar o funcionamento regular da sociedade. Para Par- Funcionalismo sons, a sociedade encontra-se bem integrada e em equilíbrio quando as famílias educam bem as novas gerações, quan- do os militares defendem satisfatoriamente a sociedade das Durkheim ameaças externas, quando as escolas ensinam às crianças as A teoria do suicídio de Durkheim é um exemplo clássico do que se conhece hoje por funcionalis- habilidades e os valores de que elas precisam para funcio- mo. As teorias funcionalistas têm quatro características principais: nar como adultos produtivos e quando as criam um código moral compartilhado entre as pessoas (Parsons, 1. Enfatizam que o comportamento humano é governado por padrões estáveis de relações 1951). sociais, ou estruturas sociais. Por exemplo, Durkheim chamou atenção para como os pa- Parsons foi bastante criticado por exagerar o grau se- de solidariedade social influenciam as taxas de suicídio. As estruturas normalmente gundo qual os membros da sociedade compartilham valo- analisadas pelos funcionalistas são macroestruturas. res comuns e também segundo o qual as instituições sociais 2. As teorias funcionalistas mostram como as estruturas sociais mantêm ou enfraquecem o A contribuem para a harmonia social. Tais críticas fizeram equilíbrio social. É por essa razão que os funcionalistas são, às vezes, chamados de "funcio- Robert Merton (1910-2003) transformou o funcionalismo em uma teoria mais flexível, com que outro funcionalista de peso dos Estados Unidos, nalistas eles analisam como as partes da sociedade (as estruturas) se encaixam dos anos 1930 aos anos 1950. Em sua obra Robert Merton (1910-2003), propusesse que as estruturas Social Theory and Social Structure (1968 umas nas outras e como cada parte contribui para a estabilidade do todo (sua função). ele argumentou que as estruturas sociais podem gerar diferentes consequências para diferen- Com base em tais pressupostos, Durkheim argumentou que um alto grau de solidariedade sociais nem sempre são funcionais, mas podem ser disfuncionais para algumas tes grupos de pessoas. Merton notou que algumas dessas social contribui para a manutenção da ordem social, mas crescimento da indústria e das pessoas. Além disso, nem todas as funções consequências podem ser perturbadoras ou disfuncionais cidades na Europa no século XIX fez com que a solidariedade social diminuísse, contri- são algumas são latentes. Mer- ton também fez grandes contribuições na (Merton, 1968 [1949]). Além disso, afirmava que enquan- buindo para a instabilidade social. Um aspecto daquela instabilidade, Durkheim afirmou, sociologia da ciência, notadamente em seu livro Sobre os Ombros de Gigantes to algumas funções são manifestas (pretendidas e facil- podia ser demonstrado pela alta taxa de suicídio; um outro aspecto, pelas greves frequen- (1956), um estudo sobre a criatividade, a mente observáveis), outras são latentes (não pretendidas e tes dos tradição, o plágio, a transmissão de conhe- cimento e o conceito de progresso. menos óbvias). Por exemplo, uma função manifesta das es-</p><p>16 SOCIOLOGIA: SUA PARA UM NOVO MUNDO CAPÍTULO 1 UMA BÚSSOLA SOCIOLÓGICA colas é transmitir determinadas habilidades de uma geração a outra; uma função latente é encora- Marx argumentou que os proprietários da indústria estavam ansiosos por melhorar a maneira jar o desenvolvimento de uma cultura jovem separada que frequentemente entra em conflito com como o trabalho estava organizado e por adotar novas ferramentas, máquinas e métodos de produ- os valores dos pais (Coleman, 1961; Hersch, 1998). ção. Tais inovações lhes possibilitariam produzir mais eficientemente, obter mais lucros e eliminar De maneira semelhante, para antecipar um argumento que desenvolveremos mais tarde, a concorrentes ineficientes do mercado. No entanto, o impulso para lucro também faz com que os função manifesta das roupas é manter as pessoas aquecidas no inverno e frescas no verão. No en- tanto, as roupas podem estar na moda ou fora de moda. O estilo particular de roupas que adota- capitalistas concentrem os trabalhadores em estabelecimentos cada vez maiores, mantenham os sa- mos pode indicar com quem gostaríamos de nos associar e quem gostaríamos de excluir do nosso lários o mais baixo que puderem e invistam o mínimo possível na melhoria das condições de tra- círculo social. Aquilo que vestimos pode, portanto, expressar a posição que ocupamos na socieda- balho. Assim, Marx argumentou, uma classe de trabalhadores pobres cada vez maior se a uma de, o que pensamos acerca de nós mesmos e como queremos nos apresentar diante de outros. To- classe cada vez menor de proprietários dos meios de produção. das essas são funções latentes das roupas. Marx acreditava que, em última instância, os trabalhadores tornar-se-iam conscientes de que pertenciam a uma mesma classe de explorados. Ele chamou tal consciência de "consciência de clas- Teoria do Conflito se" e acreditava que ela encorajaria o crescimento dos sindicatos e partidos de trabalhadores. De acordo com Marx, em algum momento da história, essas organizações procurariam pôr fim à pro- A segunda grande tradição teórica da sociologia enfatiza a centralidade do conflito na vida social. priedade privada, substituindo-a por um sistema no qual todos dividiriam a propriedade e a rique- A teoria do conflito incorpora os seguintes elementos: za: a sociedade "comunista". 1. Geralmente se concentra nas estruturas grandes, macrossociais, tais como "relações de classe" Weber ou padrões de dominação, submissão e luta entre indivíduos de posições sociais altas e baixas. Embora algumas das ideias de Marx tenham sido adapta- 2. A teoria do conflito mostra como os principais padrões de desigualdade na sociedade pro- duzem estabilidade social em certas circunstâncias e mudança social em outras. das para o estudo da sociedade contemporânea, suas pre- 3. A teoria do conflito enfatiza como os membros visões sobre o colapso inevitável do capitalismo foram de grupos privilegiados tentam manter suas van- questionadas. Max Weber, sociólogo alemão que escre- tagens, enquanto grupos subordinados lutam para veu suas principais obras uma geração depois de Marx, foi aumentar as suas. Desse ponto de vista, as condi- um dos primeiros a encontrar falhas em sua argumentação ções sociais em um dado período de tempo são (Weber, 1946 [1922]). Weber observou rápido crescimen- a expressão de uma luta de poder contínua entre to do "setor de serviços" da economia, com seus muitos tra- grupos privilegiados e grupos balhadores intelectuais e profissionais. Ele argumentou que 4. A teoria do conflito tipicamente sugere que a eli- muitos membros desses grupos ocupacionais estabilizam a minação dos privilégios diminuirá grau de con- sociedade porque têm um status e uma renda mais alta do flito e aumentará o bem-estar humano total. A que os trabalhadores braçais empregados no setor manu- Max Weber (1864-1920) foi mais importan- fatureiro. Além disso, Weber mostrou que a luta de classes Marx te sociólogo Influenciou profun- damente o desenvolvimento da sociologia no mundo Engajado por toda a vida não é a única força motriz da história: de acordo com ele, a A teoria do conflito teve origem na obra do pensador so- em um debate com "fantasma de Marx", cial alemão Karl Marx. Membro da geração imediatamente argumentou que apenas as circunstâncias política e a religião também são fontes importantes de mu- econômicas não poderiam explicar surgi- Karl Marx (1818-1883) foi um pensador re- dança histórica. Outros autores enfatizaram que Marx não anterior à de Durkheim, Marx observou a pobreza e o des- mento do capitalismo. Conforme demons- volucionário cujas ideias afetaram não ape- trou em A Ética Protestante e o Espirito do compreendeu como o investimento em tecnologia pode- contentamento produzidos pela Revolução Industrial e de- nas a sociologia, mas o curso da história Capitalismo (1904-1905), desenvolvimentos senvolveu um argumento generalizado acerca da maneira Ele argumentava que as grandes independentes na esfera religiosa tiveram ria tornar possível para os trabalhadores trabalhar menos mudanças histórico-sociais são resultado consequências não pretendidas e benéfi- como as sociedades se desenvolvem (Marx, 1904 [1859]; do conflito entre as principais classes de cas para o desenvolvimento do capitalis- horas sob condições opressoras, assim como não previu uma Em sua obra mais im- mo em determinadas partes da Europa. Marx e Engels, 1972 [1848]). A teoria de Marx era radi- portante, o Capital (1867-1894), Marx ar- que salários mais altos, melhores condições de trabalho e Ele também argumentou que capitalis- calmente diferente da de Durkheim: em vez de enfatizar gumentou que o capitalismo produziria mo não necessariamente desembocaria benefícios do Estado poderiam apaziguar os trabalhado- tal miséria e forca coletiva entre os tra- no socialismo. AO contrário, Weber per- o equilíbrio social, a luta de classes, isto é, o conflito entre balhadores que, no final, eles tomariam cebia a "racionalização" generalizada res da indústria. Assim, percebemos que muitos aspectos o poder do Estado e criariam uma socie- da vida como a característica mais cen- as classes no sentido de resistir e superar a oposição de outras dade sem classes, na qual a produção se- tral da modernidade. Esses temas foram da teoria de Marx foram questionados por Weber e por classes, constitui o cerne de suas ideias. ria baseada nas necessidades humanas e também desenvolvidos em Economia e não na busca do lucro. Sociedade (1922). outros sociólogos.</p>

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