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<p>FACULDADE EDUVALE DE AVARÉ</p><p>EMANUEL FARIA RAMALHO</p><p>GUSTAVO AUGUSTO CRUZ</p><p>ISABELLA EDUARDA SALLES</p><p>JACKSON ANTONIO BRIENE SILVA</p><p>MARIA EDUARDA GUZELLA CEVOLI</p><p>RESPONSABILIDADE CIVIL: Ruínas de edifício.</p><p>AVARÉ</p><p>2024</p><p>EMANUEL FARIA RAMALHO</p><p>GUSTAVO AUGUSTO CRUZ</p><p>ISABELLA EDUARDA SALLES</p><p>JACKSON ANTONIO BRIENE SILVA</p><p>MARIA EDUARDA GUZELLA CEVOLI</p><p>RESPONSABILIDADE CIVIL: Ruínas de edifício.</p><p>Trabalho referente à disciplina de Direito Civil IV, apresentado à Faculdade Eduvale de Avaré, como parte de obtenção de nota bimestral do curso de Direito.</p><p>Prof. Me. Antonio Cyro Venturelli.</p><p>AVARÉ</p><p>2024</p><p>SUMÁRIO</p><p>1. DEMANDA 4</p><p>1.1 PETIÇÃO INICIAL 4</p><p>2. SENTENÇA 5</p><p>2.1 CONTESTAÇÃO DAS REQUERIDAS 5</p><p>3. DO(S) RECURSO(S) E DA DECISÃO DO ÓRGÃO JULGADOR 7</p><p>3.1 SENTENÇA DE 2º GRAU (ACORDÃO) 8</p><p>4. EXPLICAÇÃO FUNDAMENTADA 9</p><p>REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 13</p><p>Responsabilidade civil. Vícios de construção. Ação de obrigação de fazer c. c. indenização por danos morais. Pedidos julgados parcialmente procedentes. Recurso da ré. Prejudicial de decadência. Inocorrência. Pretensão de índole indenizatória. Não incidência do prazo de 90 dias previsto no art. 26, inc. II, do CDC. Prazo prescricional decenal (CPC, art. 205). Precedente do C. Superior Tribunal de Justiça. Prova técnica que reconheceu as falhas na construção, não advindas de má conservação ou manutenção. Inexistência de outras provas que contradigam o laudo pericial. Responsabilidade das rés pelos danos causados. Dano moral inexistente. Vícios de pequena monta que não afetaram a habitabilidade do imóvel. Ofensa a direito da personalidade da autora não caracterizada. Indenização indevida. Sentença reformada em parte. Recurso parcialmente provido.</p><p>(TJSP; Apelação Cível 1021597-18.2020.8.26.0451; Relator (a): Alexandre Marcondes; Órgão Julgador: 1ª Câmara de Direito Privado; Foro de Piracicaba - 3ª Vara Cível; Data do Julgamento: 23/07/2024; Data de Registro: 23/07/2024)</p><p>1. DEMANDA</p><p>O respectivo caso, trata-se de um Procedimento Comum Cível - Ação Indenizatória por Dano Moral, onde a parte ANA KARINA ESTEVO SOUZA (“Requerente”), representada por sua advogada, ajuíza Ação de Obrigação de Fazer e Danos Morais em face de M.R.V. ENGENHARIA E PARTICIPAÇÕES S/A. e PARQUE PIAZZA BELLINI INCORPORAÇÕES SPE LTDA. (“Requeridas”), ambas qualificadas nos autos em epígrafe.</p><p>O processo em 1ª Instância ocorreu na Comarca de Piracicaba – Estado de São Paulo, na 3ª Vara Cível do Foro da respectiva Comarca, sendo o Juiz de Direito, Dr. Lourenço Carmelo Torres.</p><p>A Autora celebrou uma promessa de Compra e Venda com a Requeridas, de uma das unidades imobiliárias em construção, acarretando graves frustações futuras. O Objeto da Ação é o imóvel, bem como o ressarcimento dos danos lhe foram causados.</p><p>1.1 PETIÇÃO INICIAL</p><p>Ao realizar a análise da Petição Inicial, destaca-se os seguintes pontos:</p><p>· Antes mesmo da qualificação das partes, se observa o pedido de Produção de Prova Antecipada;</p><p>· O imóvel recém construído, começou a apresentar problemas de infiltração, provocando mofo e aparência de abandono do local, devido a péssima qualidade de serviço prestado pelas Requeridas;</p><p>· A autora pagou sinal (arras) e contratou financiamento com a Caixa Econômica Federal, afim de adimplir o restante da quantia pactuada pela compra do imóvel;</p><p>· Cabia as Rés entregar o imóvel conforme pactuado, entretendo, a Autora, ainda na vistoria, foi surpreendida pelas más condições e desgastes do local;</p><p>· Dado os fatos, a Autora foi ludibriada pelas Requeridas, esperando seu apartamento novo, e recebendo um com graves problemas. Assim, ajuizou demanda para ressarcimento e visar que as mesmas efetuem os reparos necessários;</p><p>· Autora pediu gratuidade de justiça (assegurada pela Constituição Federal, artigo 5º, LXXIV e Código de Processo Civil, artigo 98 em diante), juntada declaração de hipossuficiência;</p><p>· Adicionou hipótese de ato ilícito praticado pelas Requeridas, possuindo o dever de indenizar, descrito no artigo 186 do Código Civil/2002:</p><p>Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito.</p><p>(Lei n° 10.406, de 10 de janeiro de 2002).</p><p>· Pedido de Prova Antecipada com urgência, com fundamento no artigo 381 do Código de Processo Civil, devido as particularidades do caso afim de realizar perícia técnica.</p><p>2. SENTENÇA</p><p>O Juiz de Direito, deferiu a gratuidade de justiça e indeferiu a antecipação de prova pericial, com base nas imagens juntadas ao processo, não viu a necessidade da mesma, caso necessário, realizar-se-á em momento oportuno. Ocorreu citação através de carta (AR) para as Requeridas, advertindo o prazo para defesa (15 dias úteis).</p><p>2.1 CONTESTAÇÃO DAS REQUERIDAS</p><p>Em sua Contestação, as Requeridas alegaram ilegitimidade passiva da Requerida MRV Engenharia e Participações S/A. para figurar no polo passivo da demanda, pois conforme o contrato juntado, o negócio jurídico foi celebrado somente entre a Requerente e a empresa Piazza Bellini Inc. SPE LTDA., não sendo a empresa, parte da relação jurídica material existente.</p><p>Ainda, a falta de interesse processual, com a Autora argumentando não ter conseguido obter a solução amigável administrativamente, esta não buscou a tentativa de solução extrajudicial, junto ao canal oficial das Rés na plataforma “Consumidor.Gov”.</p><p>Conforme o histórico da Ré na plataforma, a não comprovação de submissão da demanda posta na plataforma oficial do Ministério da Justiça, não restam dúvidas de que a parte autora inegavelmente não demonstrou o interesse processual necessário para justificar a presente ação e deve ser reconhecida, conforme o artigo 485, VI, do Código de Processo Civil/2015:</p><p>Art. 485. O juiz não resolverá o mérito quando:</p><p>VI - Verificar ausência de legitimidade ou de interesse processual.</p><p>(Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015).</p><p>Decadência quanto ao direito de reclamar vícios no empreendimento. O Código de Defesa do Consumidor prescreve em seu artigo 26, que o direito de reclamar pelos vícios aparentes, em fornecimento de produtos duráveis, é de 90 (noventa) dias.</p><p>Art. 26. O direito de reclamar pelos vícios aparentes ou de fácil constatação caduca em:</p><p>II - Noventa dias, tratando-se de fornecimento de serviço e de produtos duráveis.</p><p>(Lei n° 8.078, de 11 de setembro de 1990).</p><p>Visto que o imóvel foi entregue em 13 de setembro de 2018, a Requerente teria até 12 de dezembro de 2018 para reclamar pelos supostos vícios sofridos, no entanto, somente no dia 12 de dezembro de 2020 (mais de dois anos ultrapassados) a Requerente ajuizou a demanda, logo, sendo evidente a decadência.</p><p>Conforme fotos anexas na presente contestação, fica claro a ausência de ilícito, pois as paredes foram furadas para a instalação dos móveis panejados da Requerente, acertando a tubulação que passa pelo banheiro, gerando a infiltração relatada, sendo de total responsabilidade do profissional contratado e da moradora, realizar a correção do item danificado, não sendo responsabilidade das Requeridas realizarem o reparo de um dano causado pelo prestador de serviço contratado pela Requerente. Havendo a inexistência de indenização por danos morais, não preenchendo os requisitos do artigo 186 do Código Civil (conduta (ação ou omissão com dolo ou culpa) ilícita (antijurídica); b) dano; e c) nexo causal).</p><p>Por meio de Ato ordinatório, requereu- se a Manifestação da parte autora, em réplica, acerca da contestação.</p><p>3. DO(S) RECURSO(S) E DA DECISÃO DO ÓRGÃO JULGADOR</p><p>· De 12/03/2021 até 27/06/2022, foram exibidos contestações, petições, elementos de prova, pela Requerente e Requeridas, bem como, despachos, atos ordinatórios e decisões do Órgão julgador de 1ª instância.</p><p>· 31/03/2023 – SENTENÇA (1º grau). O Juiz de Direito Julgou PROCEDENTES os pedidos da inicial, condenando as Rés de realizarem os reparos nas paredes do imóvel da Autora, devendo iniciar no prazo de 15 dias a contar do trânsito em julgado da sentença, bem como pagamento de indenização por danos morais na importância</p><p>de R$ 10.000,00 (dez mil reais), que deverá ser acrescido por correção monetária pela tabela prática do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo e juros de mora de 1% ao mês, a partir da data de publicação da sentença.</p><p>Ainda, condenou as Rés no pagamento das custas, despesas processuais e honorários advocatícios, fixados no valor mínimo da Tabela da OAB, nos termos do art.85, § 8º-A, do CPC, e, não havendo previsão na atual tabela de honorários de valores para o procedimento comum, que é o vigente no CPC, deve ser adotado, então, o valor mínimo do procedimento sumário.</p><p>Art. 85. A sentença condenará o vencido a pagar honorários ao advogado do vencedor.</p><p>§ 8º-A. Na hipótese do § 8º deste artigo, para fins de fixação equitativa de honorários sucumbenciais, o juiz deverá observar os valores recomendados pelo Conselho Seccional da Ordem dos Advogados do Brasil a título de honorários advocatícios ou o limite mínimo de 10% (dez por cento) estabelecido no § 2º deste artigo, aplicando-se o que for maior.</p><p>(Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015).</p><p>Em 10/04/2023, após a respectiva sentença, as Requeridas apresentaram Embargos de declaração, pois houve obscuridade na sentença, citando jurisprudências e súmulas do TJSP e STJ.</p><p>No dia 04/08/2023, a Autora (“apelada”) por sua vez, peticionou, narrando todos os processos e fundamentos, alegando não que a decisão do juízo não possui qualquer contradição, omissão ou erro material.</p><p>3.1 SENTENÇA DE 2º GRAU (ACORDÃO)</p><p>Por fim, no dia 23 de julho de 2024, a sessão permanente e virtual da 1ª Câmara de Direito Privado do Estado de São Paulo, proferiu a seguinte decisão: Deram provimento parcialmente ao recurso das Apelantes, utilizando como principais fundamentos: “A pretensão da autora não foi atingida pela prescrição ou decadência, vez que sujeita ao prazo prescricional decenal do artigo 205 do Código Civil, conforme jurisprudência do Egrégio Superior Tribunal de Justiça:”</p><p>A orientação do Superior Tribunal de Justiça é firme no sentido de se aplicar o prazo prescricional disposto no art. 205 do Código Civil à pretensão indenizatória decorrente do vício construtivo.</p><p>(Resp. 1617354/SP, 3ª Turma, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, j. 31/08/2020).</p><p>Não há de se falar em decadência diante da tomada de posse em setembro de 2018 e a proposta ação em dezembro de 2020. O Código Civil estabelece garantia de cinco anos, conforme disposto no artigo 618, assim o pedido das Rés deve ser acolhido em parte.</p><p>Art. 618. Nos contratos de empreitada de edifícios ou outras construções consideráveis, o empreiteiro de materiais e execução responderá, durante o prazo irredutível de cinco anos, pela solidez e segurança do trabalho, assim em razão dos materiais, como do solo.</p><p>(Lei n° 10.406, de 10 de janeiro de 2002).</p><p>Com exceção dos buracos de perfuração para colocação dos móveis planejados, constatou-se nexo de causalidade em relação às infiltrações apontadas. Nada no laudo pericial sugeriu que os vícios decorreram da falta de manutenção, não existindo provas neste sentido, mas que são provenientes de umidade externa, cuja responsabilidade é da construtora. Além do mais, o perito ressaltou que deveria ser realizada em primeiro lugar a obra de área externa, solucionando as fissuras e revestimentos, para somente depois sanar a infiltração das paredes internas.</p><p>A falta de conhecimento técnico da compradora não afasta a responsabilidade das Rés, afinal, com a ausência do mesmo, não é possível identificar os problemas e restrições que prejudiquem o imóvel, especialmente neste tipo de vício oculto, que só aparece com o decurso do tempo.</p><p>Contudo, não há dano moral a ser indenizado, tendo em vista o laudo pericial, que revela que os danos no imóvel são de pequenos custos e passíveis de reparação, não afetando a habitabilidade do imóvel, tampouco risco de ruína.</p><p>Não há, portanto, ofensa ao direito da personalidade da autora, mas simples aborrecimento suportável decorrente de pequenos vícios construtivos, contemplá-la com indenização, resultaria enriquecimento imotivado, que não se admite de acordo com os artigos 884 a 886 do Código Civil de 2002:</p><p>Art. 884. Aquele que, sem justa causa, se enriquecer à custa de outrem, será obrigado a restituir o indevidamente auferido, feita a atualização dos valores monetários.</p><p>Parágrafo único. Se o enriquecimento tiver por objeto coisa determinada, quem a recebeu é obrigado a restituí-la, e, se a coisa não mais subsistir, a restituição se fará pelo valor do bem na época em que foi exigido.</p><p>Art. 885. A restituição é devida, não só quando não tenha havido causa que justifique o enriquecimento, mas também se esta deixou de existir.</p><p>Art. 886. Não caberá a restituição por enriquecimento, se a lei conferir ao lesado outros meios para se ressarcir do prejuízo sofrido.</p><p>(Lei n° 10.406, de 10 de janeiro de 2002).</p><p>Provido em parte o recurso, a sucumbência passa a ser recíproca, devendo ambas as partes arcarem com custas e despesas do processo, dividindo em metade para cada, sendo 20% honorários advocatícios sobre o valor atualizado da indenização por danos materiais apurados no laudo pericial, a autora pagará honorários advocatícios de 15% sobre o valor da indenização por danos morais pleiteados na inicial, ressalvando o benefício da justiça gratuita.</p><p>4. EXPLICAÇÃO FUNDAMENTADA</p><p>Diante o exposto, o Tribunal reconheceu os vícios de construção e manteve a obrigação de reparo por parte das Rés, mas afastou a condenação por danos morais, entendendo que não houve violação dos direitos da autora.</p><p>(...) Relativamente às características identificadas pela doutrina, cumpre, inicialmente, destacar a questão relativa à imprescritibilidade. na doutrina, sustenta-se que esta característica dos direitos da personalidade deveria conduzir à imprescritibilidade da pretensão indenizatória dos danos morais em caso de sua lesão, com o efeito de não aplicação do prazo de 3 anos previsto no art. 206, § 3. °, V, do Código Civil. Apesar de esta orientação pretender resguardar a tutela dos direitos da personalidade, há que se afastá-la na medida em que vai de encontro à segurança jurídica, que se concretiza mediante os prazos prescricionais(...).</p><p>(DE ANDRADE, Fábio Siebeneichler, 2013).</p><p>Dano moral é o prejuízo que afeta o ânimo psíquico, moral e intelectual da vítima, atuando dentro dos direitos da personalidade, aumentando as dificuldades de se estabelecer justa recompensa pelo dano, muitas vezes custando indenizar o inefável. Não é qualquer dissabor que pode acarretar indenização.</p><p>Será moral o dano que ocasiona um distúrbio anormal na vida do indivíduo, como desânimos ou desconforto a ser examinado em cada caso. Por vezes, os danos pequenos são recompensados exageradamente, a reparação deve guiar-se especialmente pela índole dos sofrimentos ou mal estar de quem os padece, não estando sujeitos a padrões predeterminados ou matemáticos.</p><p>Expõe-se ao presente caso vícios de construção, neste caso ocultos, não sendo perceptíveis no momento da vistoria, nem após a entrega do apartamento, o que acabou gerando uma confusão entre as normas descritas no Código de Defesa do Consumidor e Código Civil, haja vista o CDC prevê um prazo de 90 dias, mas contados a partir da descoberta do vício, enquanto no Código Civil, o prazo é de 5 anos, contados a partir da entrega da obra.</p><p>A lei impõe, entretanto, à certas pessoas, em determinadas situações, a reparação de um dano independentemente de culpa. Quando isto acontece, diz-se que a responsabilidade é legal ou “objetiva”, porque prescinde da culpa e se satisfaz apenas com o dano e o nexo de causalidade, neste caso, como o dano é indenizável, deve ser reparado por aquele que existe um nexo de causalidade, no caso as rés, independente de culpa, para Savatier “culpa é a inexecução de um dever que o agente podia conhecer e observar”.</p><p>Na construção civil o construtor deve ser responsabilizado não só pelo dano que causou, mas também pelos danos que decorrem do simples fato da má execução do serviço. Portanto, todos os danos ocorridos no exercício de</p><p>sua atividade deverão ser indenizados de forma integral, independente de culpa (MONTEIRO, 2007, p.513).</p><p>A responsabilidade objetiva dispensa a culpa, mas nunca dispensará o nexo causal, que é um elemento indispensável. Aponta Caio Mário da Silva Pereira que o que importa:</p><p>É estabelecer, em face do direito positivo, que houve uma violação de direito alheio e um dano, e que existe um nexo causal, ainda que presumido, entre um e outro. Ao juiz cumpre decidir com base nas provas que o demandante incumbe produzir.</p><p>(1999:82).</p><p>Ou seja, no presente caso, fica evidente a responsabilidade civil objetiva, a responsabilidade civil por vícios de construção busca assegurar que o consumidor receba um imóvel em condições adequadas de uso e segurança, e que os responsáveis por eventuais defeitos sejam obrigados a repará-los ou indenizar os danos causados. A esse respeito, estatui o artigo 937 do Código Civil: “O dono de edifício ou construção responde pelos danos que resultarem de sua ruína, se esta provier de falta de reparos, cuja necessidade fosse manifesta”.</p><p>A doutrina entende que a simples ruína da construção já demonstra a falta de manutenção e obriga a indenização sob fundamento que será muito rara a ruína de um edifício que não necessite de reparos, o réu deverá provar que tomou todas as medidas que o caso requeria e a perícia técnica de engenharia é de vital importância. Como aponta Sílvio Rodrigues:</p><p>O proprietário é sempre responsável pela reparação do dano causado a terceiro pela ruina de edifício ou construção de seu domínio, sendo indiferente saber se a culpa pelo ocorrido é do seu antecessor na propriedade, do construtor do prédio ou do inquilino que o habitava. Ele é réu na ação de ressarcimento.</p><p>(2000:125).</p><p>Além do mais, há de referir à responsabilidade civil contratual, visto que ocorreu o descumprimento de uma obrigação contratual entre as partes, esta, baseia-se no dever de resultado, acarretando a presunção da culpa pela inexecução previsível e evitável da obrigação nascida da convenção prejudicial à outra parte, vale ressaltar que o papel da responsabilidade civil contratual é restabelecer o equilíbrio e a justiça da relação contratual e garantir que a parte lesada receba os devidos danos. Isso pode envolver a prevenção de danos materiais, lucros cessantes, danos morais ou até mesmo a rescisão do contrato. Os principais pontos e fundamentos apresentados no respectivo acórdão incluem:</p><p>· Decadência e Prescrição: O Tribunal rejeitou a alegação de decadência feita pelas rés, afirmando que a pretensão indenizatória por vícios construtivos está sujeita ao prazo prescricional decenal previsto no artigo 205 do Código Civil, conforme jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça já citada acima.</p><p>· Prova Técnica: O laudo pericial foi fundamental para o julgamento, tendo constatado a existência de vícios construtivos, como infiltrações decorrentes de umidade externa, que afetaram a unidade adquirida pela autora. O Tribunal reconheceu o nexo causal entre os vícios e a responsabilidade das rés, determinando a necessidade de reparo.</p><p>· Danos Morais: O Tribunal afastou a condenação por danos morais, concluindo que os vícios constatados eram de pequena monta e não comprometeram a habitabilidade do imóvel, caracterizando-se apenas como aborrecimentos suportáveis, não configurando ofensa aos direitos da personalidade.</p><p>· Resultado do Julgamento: O recurso foi parcialmente provido, mantendo-se a condenação das rés para reparo dos vícios construtivos, mas excluindo a indenização por danos morais. As custas processuais e os honorários advocatícios foram redistribuídos de forma proporcional entre as partes.</p><p>O presente Acórdão reforça a aplicação da responsabilidade civil objetiva em casos de vícios de construção, destacando a importância da prova pericial para a determinação da responsabilidade e a exclusão de danos morais quando os vícios não afetam a habitabilidade do imóvel.</p><p>2</p><p>REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS</p><p>ALVES, José Carlos Moreira. Do enriquecimento sem causa. RT, São Paulo, nº 259, sd.</p><p>BRASIL. Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990. Código de Defesa do Consumidor. Brasília, 11 set.1990.Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8078compilado.htm. Acesso em: 18 ago. 2024.</p><p>BRASIL. Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Código Civil. Brasília, 10 jan. 2002. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406compilada.htm?ref=blog.suitebras.com. Acesso em: 19 ago. 2024.</p><p>BRASIL. Lei nº 13105, de 16 de março de 2015. Código de Processo Civil. Brasília, 16 mar. 2015. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm. Acesso em: 18 ago. 2024.</p><p>DE ANDRADE, Fábio Siebeneichler. A tutela dos direitos da personalidade no direito brasileiro em perspectiva atual. Rev. Derecho Privado, Bogotá, n. 24, p. 81-111, jan. 2013. Disponível em: http://www.scielo.org.co/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0123-43662013000100004&lng=en&nrm=iso. acesso em 21 ago. 2024.</p><p>DIAS, José de Aguiar. Da responsabilidade civil.6. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1979. 2 v.</p><p>GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro: Responsabilidade civil 14. ed. São Paulo: Saraiva, 2019. 4 v.</p><p>MONTEIRO, W. B. Curso de direito civil: direito das obrigações: 2ª parte. 35. Ed. São Paulo: Saraiva, 2007.</p><p>TJSP; Apelação Cível 1021597-18.2020.8.26.0451; Relator (a): Alexandre Marcondes; Órgão Julgador: 1ª Câmara de Direito Privado; Foro de Piracicaba - 3ª Vara Cível; Data do Julgamento: 23/07/2024; Data de Registro: 23/07/2024</p><p>PEREIRA, Caio Mário da Silva. Responsabilidade civil 9. Ed. Rio de Janeiro: Forense, 1999.</p><p>RODRIGUES, Sílvio. Responsabilidade civil. 18. ed. São Paulo: Saraiva, 2000.</p><p>VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito Civil: Obrigações e Responsabilidade civil. 17. Ed. São Paulo: Atlas, 2017. v. 2.</p><p>VIANA, Marco Aurélio S. Contrato de construção e responsabilidade civil. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 1992.</p><p>image1.png</p>