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<p>Seção 3 Terapia intensiva neurológica</p><p>300</p><p>Coma</p><p>S. Andrew Josephson, Allan H. Ropper, Stephen L. Hauser</p><p>O coma está entre as emergências neurológicas mais comumente encontradas na</p><p>medicina geral e exige uma abordagem organizada. Ele representa uma parcela</p><p>substancial das internações em enfermarias de emergência e ocorre em todos os</p><p>serviços hospitalares.</p><p>Há um espectro contínuo de estados de redução da vigília, sendo a forma</p><p>mais grave o coma, definido como um estado semelhante a um sono profundo</p><p>com os olhos fechados do qual o paciente não pode ser acordado. Estupor refere-</p><p>se a um grau mais alto da capacidade de despertar no qual o paciente pode ser</p><p>acordado temporariamente por estímulos vigorosos, acompanhado de</p><p>comportamento motor que procura evitar ou afastar estímulos desconfortáveis ou</p><p>irritantes. A sonolência simula o sono leve e caracteriza-se por despertar fácil e</p><p>persistência da vigília por breves períodos. O estupor e a sonolência geralmente</p><p>são acompanhados de algum grau de confusão (Cap. 24). Uma descrição</p><p>narrativa precisa do nível de vigília e do tipo de respostas evocadas por</p><p>diferentes estímulos observados à beira do leito é preferível ao uso de termos</p><p>ambíguos como letargia, semicoma ou obnubilação.</p><p>Vários distúrbios que deixam os pacientes não responsivos e simulam o</p><p>coma são considerados em separado devido à sua importância especial. O estado</p><p>vegetativo significa um estado de aspecto acordado, porém irresponsivo,</p><p>geralmente em um paciente que saiu do coma. No estado vegetativo, as</p><p>pálpebras podem permanecer abertas por alguns períodos, dando a impressão de</p><p>vigília. As funções respiratória e autonômica mostram-se preservadas. Bocejos,</p><p>tosse, deglutição e movimentos de membros e cabeça persistem, mas há pouca</p><p>ou nenhuma resposta relevante ao ambiente externo e interno. Há sempre sinais</p><p>associados que indicam lesão extensa dos hemisférios cerebrais, como postura</p><p>de descerebração ou decorticação dos membros e ausência de respostas a</p><p>estímulos visuais (ver adiante). No estado minimamente consciente,</p><p>estreitamente relacionado, porém menos grave, o paciente tem comportamentos</p><p>vocais ou motores rudimentares, frequentemente espontâneos, mas alguns em</p><p>resposta ao toque, ao estímulo visual ou ao comando. A parada cardíaca com</p><p>hipoperfusão cerebral e o traumatismo craniano são as causas mais comuns dos</p><p>estados vegetativo e minimamente consciente (Cap. 301).</p><p>O prognóstico para recuperação das faculdades mentais após a persistência</p><p>do estado vegetativo após vários meses é muito reservado e após 1 ano, quase</p><p>nulo; daí a expressão estado vegetativo persistente. A maioria dos relatos de</p><p>recuperação inesperada, quando investigados cuidadosamente, revela que as</p><p>regras gerais do prognóstico prevaleceram, mas existem raros casos de</p><p>recuperação até uma condição de grave incapacitação e, em poucos casos</p><p>pediátricos, um estado ainda melhor. Os pacientes no estado minimamente</p><p>consciente têm prognóstico melhor para alguma recuperação do que aqueles em</p><p>estado vegetativo persistente, mas, mesmo nesses pacientes, é incomum haver</p><p>recuperação inesperada após 12 meses.</p><p>A possibilidade de atribuir incorretamente um comportamento relevante a</p><p>pacientes nos estados vegetativo e minimamente consciente cria problemas</p><p>desnecessários e angústia para famílias e médicos. Por outro lado, a questão</p><p>sobre se os pacientes possuem qualquer capacidade de cognição foi reaberta por</p><p>estudos de ressonância magnética (RM) funcional ao se demonstrar, em uma</p><p>pequena proporção de casos pós-traumáticos, ativação cerebral relevante em</p><p>resposta a estímulos verbais e outros estímulos, conforme discutido com mais</p><p>detalhes adiante. Esse achado sugere no mínimo que alguns desses pacientes</p><p>poderiam no futuro ser capazes de comunicar suas necessidades usando avanços</p><p>tecnológicos e que novas pesquisas poderiam esclarecer áreas de possível alvo</p><p>terapêutico do cérebro e suas conexões que parecem estar preservadas em alguns</p><p>pacientes.</p><p>De modo distinto dos distúrbios anteriores, várias síndromes que afetam a</p><p>vigília são propensas a serem erroneamente interpretadas como estupor ou coma.</p><p>Os médicos devem estar cientes dessas armadilhas ao diagnosticar o coma à</p><p>beira do leito. Mutismo acinético refere-se a um estado parcial ou totalmente</p><p>vígil no qual o paciente é capaz de formar impressões e pensar, como</p><p>demonstrado ao recontar os eventos mais tarde, mas permanece quase imóvel e</p><p>mudo. O distúrbio resulta de lesão nas regiões dos núcleos talâmicos mediais ou</p><p>nos lobos frontais (sobretudo lesões situadas profundamente ou nas superfícies</p><p>orbitofrontais) ou de hidrocefalia extrema. O termo abulia descreve uma forma</p><p>mais leve de mutismo acinético caracterizado por lentidão mental e física e por</p><p>capacidade reduzida de iniciar atividades. Em geral, também advém de lesão dos</p><p>lobos frontais mediais e das suas conexões (Cap. 26).</p><p>Catatonia é uma síndrome de hipomobilidade e mutismo que geralmente</p><p>ocorre como parte de uma psicose grave, em geral esquizofrenia ou depressão</p><p>maior. Os pacientes catatônicos fazem poucos movimentos voluntários ou</p><p>responsivos, mas piscam, deglutem e podem não parecer desconfortáveis. Não</p><p>obstante, há sinais de que o paciente é responsivo, embora possa exigir um</p><p>exame cuidadoso para demonstrá-los. Por exemplo, a elevação das pálpebras é</p><p>resistida ativamente, o piscar ocorre em resposta a uma ameaça visual e os olhos</p><p>se movem concomitantemente com a rotação da cabeça; todos esses sinais são</p><p>incompatíveis com a presença de uma lesão cerebral que cause falta de</p><p>responsividade. É típico, mas não invariável, na catatonia que os membros</p><p>conservem as posturas nas quais foram colocados pelo examinador</p><p>(“flexibilidade cérea” ou catalepsia). Com a recuperação, os pacientes com</p><p>frequência têm alguma lembrança dos eventos que ocorreram durante seu</p><p>estupor catatônico. A catatonia é superficialmente semelhante ao mutismo</p><p>acinético, mas evidências clínicas de lesão cerebral, como hiper-reflexia e</p><p>hipertonia dos membros, estão ausentes. O problema específico do coma na</p><p>morte cerebral será discutido adiante.</p><p>O estado de encarceramento (locked-in) descreve um tipo importante de</p><p>pseudocoma no qual o paciente acordado não tem meios de produzir fala ou</p><p>movimentos voluntários dos membros, mas mantém os movimentos oculares</p><p>verticais voluntários e a elevação palpebral, o que lhe permite emitir sinais de</p><p>que está consciente. As pupilas reagem normalmente. A causa habitual é infarto</p><p>(p. ex., trombose de artéria basilar) ou hemorragia da ponte ventral, a qual</p><p>interrompe todas as vias motoras (corticospinais e corticobulbares)</p><p>descendentes. Outro estado acordado semelhante, mas deseferentado, ocorre</p><p>como resultado de paralisia total da musculatura em casos graves de fraqueza</p><p>neuromuscular, como na síndrome de Guillain-Barré (Cap. 439), na neuropatia</p><p>de doença crítica (Cap. 301) e no bloqueio neuromuscular farmacológico.</p><p>ANATOMIA E FISIOLOGIA DO COMA</p><p>Quase todos os casos de coma podem ser correlacionados com (1)</p><p>anormalidades difusas dos hemisférios cerebrais ou com (2) atividade reduzida</p><p>de um sistema de alerta talamocortical especial denominado sistema reticular</p><p>ativador (SRA), o qual está localizado difusamente no tronco encefálico. O</p><p>funcionamento apropriado desse sistema, suas projeções ascendentes para o</p><p>córtex e o próprio córtex são essenciais para manter a vigília e a coerência do</p><p>pensamento. Além da lesão estrutural a esses dois sistemas, a supressão da</p><p>função reticulocerebral pode ocorrer por fármacos, toxinas ou desarranjos</p><p>metabólicos</p><p>– para PaCO2 30-35 mmHg (uso por curto prazo ou pular essa etapa)</p><p>Terapia com agentes pressóricos – fenilefrina, dopamina ou norepinefrina para manter PAM adequada e garantir PPC ≥ 60 mmHg</p><p>(manter euvolemia para minorar efeitos sistêmicos nocivos dos agentes pressóricos); pode-se ajustar a meta para PPC em cada</p><p>paciente com base no estado de autorregulação</p><p>Considerar terapias de segunda linha para a PIC elevada refratária</p><p>Craniectomia descompressiva</p><p>Terapia com dose alta de barbitúrico (“coma barbitúrico”)</p><p>Hipotermia a 33°C</p><p>aAo longo do algoritmo de tratamento da PIC, considerar nova tomografia computadorizada do crânio para identificar lesões expansivas</p><p>tratáveis por evacuação cirúrgica. Pode-se alterar a ordem das etapas com base no tratamento direcionado à causa específica da elevação</p><p>da PIC.</p><p>Siglas: AVC, acidente vascular cerebral; IV, intravenoso; LCS, líquido cerebrospinal; PaCO2, pressão parcial arterial de dióxido de</p><p>carbono; PAM, pressão arterial média; PPC, pressão de perfusão cerebral.</p><p>FIGURA 301-2 Monitoração da pressão intracraniana (PIC) e do oxigênio tecidual cerebral. A</p><p>ventriculostomia permite drenagem de líquido cerebrospinal para tratar a elevação da PIC. Os</p><p>monitores de fibra óptica da PIC e do oxigênio tecidual cerebral geralmente são fixados por meio de</p><p>um parafuso craniano. Sondas de fluxo sanguíneo cerebral e de microdiálise (não mostradas) podem</p><p>ser instaladas de maneira similar à sonda de oxigênio tecidual cerebral.</p><p>TRATAMENTO DA PRESSÃO INTRACRANIANA</p><p>ELEVADA</p><p>A PIC elevada pode acompanhar uma grande variedade de distúrbios,</p><p>incluindo traumatismo craniano, hemorragia intracerebral, HSA com</p><p>hidrocefalia e insuficiência hepática fulminante. Como o LCS e o volume</p><p>sanguíneo podem ser inicialmente redistribuídos, no momento em que a PIC</p><p>elevada ocorre, a complacência intracraniana já está gravemente</p><p>comprometida. Nesse ponto, qualquer pequeno aumento de volume de LCS,</p><p>sangue intravascular, edema ou lesão expansiva pode resultar em elevações</p><p>significativas da PIC e redução da perfusão cerebral. Esse é um mecanismo</p><p>fundamental de lesão cerebral isquêmica secundária e constitui uma</p><p>emergência que requer atenção imediata. Em geral, a PIC deve ser mantida <</p><p>20 mmHg, e a PPC, ≥ 60 mmHg.</p><p>As intervenções para reduzir a PIC idealmente devem basear-se no</p><p>mecanismo responsável pela PIC elevada (Tab. 301-2). Por exemplo, na</p><p>hidrocefalia por HSA, a principal causa de PIC elevada é redução da</p><p>drenagem de LCS. Nesse contexto, a drenagem ventricular de LCS</p><p>provavelmente será suficiente e mais apropriada. No traumatismo craniano e</p><p>no AVC, o edema citotóxico pode ser a principal anormalidade, e o uso de</p><p>agentes osmóticos, como manitol ou solução salina hipertônica, é uma</p><p>medida inicial apropriada. Conforme descrito, a PIC elevada pode causar</p><p>isquemia tecidual, e, se a autorregulação cerebral estiver íntegra, a</p><p>vasodilatação resultante pode gerar um ciclo de isquemia progressiva.</p><p>Paradoxalmente, a administração de agentes vasopressores para elevar a</p><p>PAM pode, na verdade, reduzir a PIC ao aumentar a perfusão, permitindo,</p><p>assim, vasoconstrição autorreguladora à medida que a isquemia é aliviada e,</p><p>por fim, reduzindo o volume sanguíneo intracraniano.</p><p>Os sinais precoces de PIC elevada incluem sonolência e redução do</p><p>nível de consciência. Os exames de neuroimagem podem revelar evidências</p><p>de edema e efeito de massa. Devem-se evitar soluções intravenosas (IV)</p><p>hipotônicas e recomenda-se elevação da cabeceira do leito. Os pacientes</p><p>devem ser observados cuidadosamente quanto ao risco de aspiração e</p><p>comprometimento das vias aéreas à medida que o nível de consciência</p><p>declina. O coma e as alterações pupilares unilaterais são sinais tardios e</p><p>exigem intervenção imediata. O tratamento de emergência da PIC elevada é</p><p>realizado mais rapidamente por intubação e hiperventilação, o qual induz</p><p>vasoconstrição e reduz o volume sanguíneo cerebral. A fim de evitar</p><p>provocar ou agravar a isquemia cerebral, a hiperventilação, se usada, deve</p><p>ser administrada apenas por períodos curtos até que se possa instituir um</p><p>tratamento definitivo. Além disso, os efeitos da hiperventilação sobre a PIC</p><p>são transitórios, muitas vezes durando apenas algumas horas em razão da</p><p>capacidade de tamponamento do interstício cerebral, sendo que elevações de</p><p>rebote da PIC podem suceder à suspensão abrupta da hiperventilação.</p><p>Conforme o nível de consciência declina até o coma, a capacidade de</p><p>acompanhar o estado neurológico do paciente pelo exame físico diminui e a</p><p>medição da PIC assume maior importância. Se um dispositivo de</p><p>ventriculostomia estiver instalado, a drenagem direta de LCS para reduzir a</p><p>PIC é possível. Por fim, às vezes usam-se barbitúricos em altas doses,</p><p>hemicraniectomia descompressiva, ou hipotermia para a PIC elevada</p><p>refratária, embora tais medidas tenham efeitos colaterais significativos e</p><p>apenas a hemicraniectomia descompressiva tenha demonstrado melhorar os</p><p>desfechos em pacientes selecionados.</p><p>LESÕES CEREBRAIS SECUNDÁRIAS</p><p>Os pacientes com lesões cerebrais primárias, sejam elas traumáticas ou</p><p>produzidas por AVC, estão sob risco de lesão cerebral isquêmica secundária.</p><p>Como as lesões cerebrais secundárias são determinantes importantes de mau</p><p>prognóstico, as estratégias para minimizá-las são parte essencial da terapia</p><p>intensiva de todos os pacientes. Embora a PIC elevada possa acarretar</p><p>isquemia secundária, a maioria dos casos de lesão cerebral secundária é</p><p>mediada por outros eventos clínicos que agravam a cascata isquêmica já</p><p>iniciada pela lesão cerebral primária. Os episódios de lesões cerebrais</p><p>secundárias em geral não estão associados à deterioração neurológica</p><p>evidente. Antes, induzem lesão cumulativa que limita a possibilidade de</p><p>recuperação, a qual se manifesta na forma de aumento da mortalidade ou</p><p>piora do prognóstico funcional em longo prazo. Assim, a monitoração estrita</p><p>dos sinais vitais é importante, assim como intervenção precoce para prevenir</p><p>isquemia secundária. A prevenção de hipotensão e hipoxia é crucial, pois</p><p>mostrou-se que eventos hipotensivos significativos (pressão arterial sistólica</p><p>< 90 mmHg) com duração de apenas 10 minutos influenciam adversamente o</p><p>prognóstico após lesão cerebral traumática. Até mesmo em pacientes com</p><p>AVC ou traumatismo craniano que não necessitem de monitoração da PIC, há</p><p>indicação de atenção minuciosa à perfusão cerebral adequada. A hipoxia</p><p>(saturação à oximetria de pulso < 90%), sobretudo em combinação com</p><p>hipotensão, também produz lesão cerebral secundária. De modo semelhante,</p><p>febre e hiperglicemia agravam a isquemia experimental e estão associadas a</p><p>pior prognóstico clínico após AVC e traumatismo craniano. O controle</p><p>vigoroso da febre com meta de normotermia é oportuno e em geral alcançado</p><p>com fármacos antipiréticos e cobertores hipotérmicos. O valor dos</p><p>dispositivos de superfície ou intravasculares para controle da temperatura no</p><p>tratamento da febre refratária está sendo investigado. O uso da infusão IV de</p><p>insulina é incentivado para controle da hiperglicemia, uma vez que permite</p><p>melhor regulação dos níveis de glicemia do que a insulina subcutânea (SC).</p><p>Uma meta sensata é manter a glicemia < 10,0 mmol/L (< 180 mg/dL),</p><p>embora episódios de hipoglicemia aparentemente sejam igualmente</p><p>prejudiciais e as metas ideais para glicemia não tenham sido definidas.</p><p>Novos recursos de monitoração cerebral que permitem avaliação contínua da</p><p>tensão de oxigênio, do FSC e do metabolismo (via microdiálise) do tecido</p><p>cerebral poderão aperfeiçoar o tratamento da lesão cerebral secundária.</p><p>DISTÚRBIOS DO SISTEMA NERVOSO</p><p>CENTRAL EM</p><p>TERAPIA INTENSIVA</p><p>ENCEFALOPATIA HIPÓXICO-ISQUÊMICA</p><p>Esse quadro decorre de carência de transporte de oxigênio para o cérebro em</p><p>consequência de hipotensão extrema (hipoxemia-isquemia) ou hipoxia por</p><p>insuficiência respiratória. As causas são infarto agudo do miocárdio, parada</p><p>cardíaca, choque, asfixia, paralisia respiratória e intoxicação por monóxido de</p><p>carbono ou cianeto. Em algumas circunstâncias, a hipoxia predomina. As</p><p>intoxicações por monóxido de carbono e por cianeto algumas vezes são</p><p>denominadas hipoxia histotóxica porque comprometem diretamente a cadeia</p><p>respiratória.</p><p>Manifestações clínicas Graus leves de hipoxia pura, como a que ocorre em</p><p>altitudes elevadas, causam redução do julgamento, desatenção, descoordenação</p><p>motora e, às vezes, euforia. Entretanto, nos casos de hipoxia-isquemia, como</p><p>ocorre na parada circulatória, a consciência é perdida em segundos. Se a</p><p>circulação for restaurada em 3 a 5 minutos, é possível haver recuperação</p><p>completa, mas se a hipoxia-isquemia ultrapassar esse intervalo, é provável que</p><p>haja algum grau de lesão cerebral permanente. Exceto em casos extremos, é</p><p>difícil avaliar a extensão exata da hipoxia-isquemia, e alguns pacientes alcançam</p><p>recuperação relativamente completa mesmo após 8 a 10 minutos de isquemia</p><p>cerebral global. O cérebro é mais tolerante à hipoxia pura do que à hipoxia-</p><p>isquemia. Por exemplo, uma PaO2 de apenas 20 mmHg (2,7 kPa) pode ser bem</p><p>tolerada desde que ocorra gradualmente e se mantenha pressão arterial normal,</p><p>enquanto a circulação cerebral muito reduzida ou interrompida por curto período</p><p>pode resultar em déficit permanente.</p><p>O exame clínico em diferentes momentos da evolução após um dano</p><p>hipóxico-isquêmico (especialmente parada cardíaca) é útil na avaliação do</p><p>prognóstico neurológico em longo prazo. O prognóstico é melhor nos pacientes</p><p>com função íntegra do tronco encefálico, indicada por respostas pupilares</p><p>normais à luz e reflexos oculocefálico (“olhos de boneca”), oculovestibular</p><p>(calórico) e corneano intactos. A ausência desses reflexos com midríase</p><p>persistente e pupilas não reativas à luz são sinais de prognóstico reservado. Uma</p><p>baixa probabilidade de evolução favorável em caso de coma hipóxico-isquêmico</p><p>é fortemente sugerida por ausência de reação pupilar à luz ou por resposta</p><p>motora à dor em extensão ou ausente, no terceiro dia após a lesão, exceto em</p><p>pacientes com distúrbio metabólico e naqueles tratados com dose alta de</p><p>barbitúrico ou com hipotermia, situações que confundem a interpretação desses</p><p>sinais. Do ponto de vista eletrofisiológico, a ausência bilateral do componente</p><p>N20 dos potenciais evocados somatossensitivos (PESS) nos primeiros dias</p><p>também sugere prognóstico sombrio. Além disso, a presença de padrão de surto-</p><p>supressão de estado epiléptico mioclônico no EEG (Fig. 301-3) ou um EEG não</p><p>reativo estão associadas com baixa probabilidade de desfecho funcional bom.</p><p>Níveis séricos muito elevados (> 33 μg/L) do marcador bioquímico enolase</p><p>neurônio-específica (ENE) nos primeiros 3 dias são indicativos de lesão cerebral</p><p>após reanimação de parada cardíaca e predizem prognóstico reservado. As atuais</p><p>abordagens para a definição de um prognóstico após uma parada cardíaca</p><p>estimulam o uso de uma abordagem multimodal que inclui esses testes</p><p>diagnósticos, junto com TC ou RM e a avaliação neurológica clínica. Trabalhos</p><p>recentes sugerem que a realização de hipotermia leve após parada cardíaca (ver</p><p>“Tratamento”) pode afetar o momento a partir do qual esses preditores clínicos e</p><p>eletrofisiológicos tornam-se confiáveis para identificar os pacientes com</p><p>probabilidade muito baixa de recuperação significativa. Por exemplo, a taxa de</p><p>resultados falso-positivos para predição incorreta de resultados neurológicos</p><p>insatisfatórios pode chegar a 21% (intervalo de confiança [IC] de 95%, 8-43%)</p><p>em pacientes tratados com hipotermia leve e que não apresentem nada além de</p><p>postura extensora na avaliação da função motora no terceiro dia. Assim, é</p><p>importante que haja tempo suficiente após a lesão para garantir a acurácia da</p><p>avaliação prognóstica. Entre as consequências em longo prazo para a</p><p>encefalopatia hipóxico-isquêmica estão coma ou estado vegetativo persistente (C</p><p>ap. 300), demência (Cap. 25), agnosia visual (Cap. 26), parkinsonismo,</p><p>coreoatetose, ataxia cerebelar, mioclonia, convulsões e estado de amnésia, que</p><p>pode ser consequência de lesão seletiva do hipocampo.</p><p>FIGURA 301-3 Eletrencefalograma (EEG) após parada cardíaca. Um padrão de surto-supressão é visto</p><p>em um paciente comatoso com encefalopatia hipóxico-isquêmica grave após parada cardíaca. Nesse</p><p>paciente, cada surto no EEG estava associado com tremores do corpo todo, levando ao diagnóstico clínico e</p><p>eletrofisiológico de estado epiléptico mioclônico.</p><p>Patologia Os principais achados histológicos são necrose multifocal extensa ou</p><p>cortical laminar difusa (Fig. 301-4), com acometimento frequente do hipocampo.</p><p>Os neurônios CA1 hipocampais são vulneráveis até mesmo a episódios breves</p><p>de hipoxia-isquemia, o que talvez explique por que podem ocorrer déficits de</p><p>memória persistentes seletivos após parada cardíaca breve. Pequenas áreas</p><p>esparsas de infarto ou perda neuronal podem estar presentes nos núcleos da base,</p><p>no hipotálamo ou no tronco encefálico. Em alguns casos, cicatrizes talâmicas</p><p>bilaterais extensas podem afetar as vias que medeiam a vigília, e essa patologia</p><p>pode ser responsável pelo estado vegetativo persistente. Uma forma específica</p><p>de encefalopatia hipóxico-isquêmica, os chamados infartos nas zonas de</p><p>fronteira (watershed), ocorre nos territórios distais entre as principais artérias</p><p>cerebrais e pode causar déficits cognitivos, incluindo agnosia visual, e maior</p><p>perda de força nos grupos musculares proximais do que nos distais.</p><p>FIGURA 301-4 Necrose cortical laminar na encefalopatia hipóxico-isquêmica. Ressonância magnética</p><p>ponderada em T1 pós-contraste revelando captação cortical de contraste com distribuição nas zonas de</p><p>fronteira da irrigação, compatível com necrose laminar.</p><p>Diagnóstico O diagnóstico baseia-se na história de evento hipóxico-isquêmico,</p><p>como parada cardíaca. Em geral, é necessário haver pressão arterial sistólica <</p><p>70 mmHg ou PaO2 < 40 mmHg, porém os níveis absolutos e a duração da</p><p>exposição são determinantes importantes para lesão celular. A intoxicação por</p><p>monóxido de carbono pode ser confirmada por medição da carboxiemoglobina e</p><p>é sugerida pela coloração vermelho-cereja do sangue venoso e da pele, embora</p><p>este último achado clínico seja inconstante.</p><p>TRATAMENTO</p><p>Encefalopatia hipóxico-isquêmica</p><p>O tratamento deve ser voltado à restauração da função cardiorrespiratória normal. Isso inclui assegurar uma</p><p>via aérea desobstruída, garantir oxigenação e ventilação adequadas e recuperar a perfusão cerebral, seja</p><p>com reanimação cardiopulmonar, infusão de líquidos, agentes pressóricos ou marca-passo cardíaco. A</p><p>hipotermia pode agir na cascata de lesão celular neuronal, tendo apresentado propriedades neuroprotetoras</p><p>substanciais em modelos experimentais de lesão cerebral. Em dois ensaios clínicos, a hipotermia leve</p><p>(33°C) melhorou o prognóstico funcional em pacientes que permaneceram comatosos após reanimação de</p><p>parada cardíaca. O tratamento foi instituído minutos após a reanimação cardíaca e mantido por 12 horas em</p><p>um estudo e 24 horas no outro. Em um estudo mais recente, o manejo com alvo de temperatura (MAT) para</p><p>33 ou 36°C resultou em desfechos semelhantes. As possíveis complicações do tratamento com hipotermia</p><p>incluem coagulopatia e aumento do risco de infecção. As diretrizes atuais</p><p>recomendam o MAT para</p><p>pacientes após parada cardíaca que não tenham resposta significativa aos comandos verbais após o retorno</p><p>da circulação espontânea, com a temperatura sendo mantida constante entre 32 e 36°C por pelo menos 24</p><p>horas.</p><p>A intoxicação grave por monóxido de carbono pode ser tratada com oxigênio hiperbárico. Os</p><p>anticonvulsivantes podem ser necessários para controlar convulsões, mas em geral não são administrados</p><p>profilaticamente. As mioclonias pós-hipóxicas podem responder à administração oral de clonazepam em</p><p>doses de 1,5 a 10 mg/dia, ou de valproato em dose fracionada de 300 a 1.200 mg/dia. O estado de mal</p><p>epiléptico mioclônico nas primeiras 24 horas após parada circulatória primária em geral encerra prognóstico</p><p>muito sombrio, mesmo quando as convulsões são controladas.</p><p>A intoxicação por monóxido de carbono e cianeto também pode causar encefalopatia tardia. Quando o</p><p>paciente recupera a consciência, evidencia-se comprometimento clínico mínimo, mas é possível a evolução</p><p>com síndrome parkinsoniana caracterizada por acinesia e rigidez sem tremor. Os sintomas podem agravar-se</p><p>durante meses, acompanhados por evidências crescentes de lesão nos núcleos da base observadas à TC e à</p><p>RM.</p><p>LESÃO CEREBRAL PÓS-BYPASS CARDÍACO</p><p>As lesões do SNC após uma cirurgia aberta do coração ou cirurgia de</p><p>revascularização do miocárdio (CRM) são comuns e incluem encefalopatia</p><p>aguda, AVC e uma síndrome crônica de déficit cognitivo. A hipoperfusão e a</p><p>doença embólica estão frequentemente envolvidas na patogênese dessas</p><p>síndromes, embora vários mecanismos estejam envolvidos nesses pacientes em</p><p>estado crítico, que estão em risco de várias complicações metabólicas e</p><p>decorrentes de polifarmácia.</p><p>A frequência da lesão hipóxica secundária a fluxo sanguíneo intraoperatório</p><p>inadequado diminuiu de forma acentuada com a utilização das técnicas</p><p>modernas de anestesia e cirurgia. Apesar desses avanços, alguns pacientes ainda</p><p>têm complicações neurológicas secundárias à hipoperfusão cerebral, ou podem</p><p>ter isquemia focal em razão das estenoses carotídeas ou intracranianas focais no</p><p>contexto de hipoperfusão regional. Os infartos pós-operatórios das zonas de</p><p>fronteira entre os territórios vasculares são atribuídos comumente à hipotensão</p><p>sistêmica, mas esses infartos também podem resultar da doença embólica.</p><p>A doença embólica provavelmente é o mecanismo predominante da lesão</p><p>cerebral durante uma cirurgia cardíaca, conforme evidenciado pela RM de</p><p>difusão e pelo exame de Doppler transcraniano intraoperatório. Os trombos</p><p>presentes no próprio coração e os ateromas localizados no arco aórtico podem</p><p>desprender-se durante as cirurgias cardíacas, liberando uma chuva de matéria</p><p>particulada para a circulação cerebral. O clampeamento transversal da aorta, a</p><p>manipulação do coração, as técnicas de circulação extracorpórea (bypass), as</p><p>arritmias (como a fibrilação atrial) e a entrada de ar durante a aspiração têm sido</p><p>mecanismos implicados como fontes potenciais de embolia.</p><p>Essa chuva de microêmbolos produz várias síndromes clínicas. Em alguns</p><p>casos, um único êmbolo volumoso desencadeia um AVC limitado a um vaso</p><p>calibroso, que se evidencia por déficits clínicos focais inequívocos. Quando a</p><p>quantidade de êmbolos minúsculos é grande, o paciente pode ter encefalopatia</p><p>aguda no pós-operatório, que se evidencia por um estado confusional hiperativo</p><p>ou hipoativo; em muitos casos, o estado confusional hipoativo é atribuído</p><p>erroneamente à depressão ou a um delirium induzido por sedativos. Quando a</p><p>quantidade de microêmbolos é menor, nenhuma síndrome aguda é reconhecida,</p><p>mas o paciente pode ter déficit cognitivo crônico.</p><p>ENCEFALOPATIAS METABÓLICAS</p><p>Alterações do estado mental, descritas variavelmente como confusão, delirium,</p><p>desorientação e encefalopatia, estão presentes em muitos pacientes com doença</p><p>grave internados em UTI. Os pacientes idosos são particularmente vulneráveis</p><p>ao delirium, estado confusional que se caracteriza por percepção alterada,</p><p>alucinações frequentes, delírios e perturbação do sono. Esse quadro muitas vezes</p><p>é atribuído a efeitos de medicação, privação de sono, dor e ansiedade. A</p><p>ocorrência de delirium está associada a piores desfechos nos pacientes em estado</p><p>crítico, mesmo entre aqueles sem patologia identificável no SNC, como AVC ou</p><p>traumatismo encefálico. Nesses pacientes, o delirium frequentemente é</p><p>multifatorial, sendo causado por disfunção orgânica, sepse e, em especial, por</p><p>medicamentos utilizados no tratamento de dor, agitação ou ansiedade. Os</p><p>pacientes em estado crítico costumam ser tratados com diversos sedativos e</p><p>analgésicos, incluindo opioides, benzodiazepínicos, neurolépticos e anestésicos-</p><p>sedativos, como o propofol. Nos pacientes em estado crítico que requeiram</p><p>sedação, o uso do agonista α2 de ação central, dexmedetomidina, reduz o</p><p>delirium e abrevia a ventilação mecânica em comparação com o uso de</p><p>benzodiazepínicos como lorazepam ou midazolam. A presença de familiares na</p><p>UTI ajuda a acalmar e orientar pacientes agitados e, nos casos graves, doses</p><p>baixas de neurolépticos (p. ex., 0,5 a 1 mg de haloperidol) podem ser úteis. As</p><p>estratégias atuais visam limitar o uso de sedativos quando isso puder ser feito</p><p>com segurança.</p><p>No ambiente da UTI, predominam as diversas causas metabólicas de</p><p>alteração do nível de consciência. A encefalopatia hipercápnica pode apresentar-</p><p>se com cefaleia, confusão, estupor ou coma. A síndrome de hipoventilação</p><p>ocorre com mais frequência em pacientes com história de retenção crônica por</p><p>CO2 que estejam recebendo oxigenoterapia para enfisema ou doença pulmonar</p><p>crônica (Cap. 290). A PaCO2 elevada causando narcose de CO2 pode ter efeito</p><p>anestésico direto, e a vasodilatação cerebral secundária ao aumento da PaCO2</p><p>pode induzir a elevação da PIC. A encefalopatia hepática é sugerida pela</p><p>presença de asterixe e pode ocorrer na insuficiência hepática crônica ou na forma</p><p>aguda fulminante. Hiperglicemia e hipoglicemia são causas de encefalopatia,</p><p>bem como hipernatremia e hiponatremia. Confusão, restrição dos movimentos</p><p>oculares e ataxia da marcha são indicativas da doença de Wernicke aguda (ver</p><p>adiante).</p><p>ENCEFALOPATIA ASSOCIADA À SEPSE</p><p>Patogênese Nos pacientes com sepse, a resposta sistêmica a agentes infecciosos</p><p>leva à liberação na circulação de mediadores inflamatórios que parecem</p><p>contribuir para a encefalopatia. A associação entre estado crítico e síndrome de</p><p>resposta inflamatória sistêmica (SIRS, de systemic inflammatory response</p><p>syndrome) pode causar falência múltipla de órgãos. Essa síndrome pode ocorrer</p><p>no contexto de sepse franca, queimaduras graves ou traumatismo, mesmo sem</p><p>identificação evidente do agente infeccioso. Muitos pacientes com doença</p><p>crítica, sepse ou SIRS manifestam encefalopatia sem explicação óbvia. Esse</p><p>distúrbio é genericamente chamado de encefalopatia associada à sepse. Embora</p><p>os mediadores específicos que acarretam a disfunção neurológica permaneçam</p><p>indeterminados, é evidente que a encefalopatia não é um simples efeito das</p><p>alterações metabólicas da falência múltipla de órgãos. Acredita-se que as</p><p>citocinas fator de necrose tumoral, interleucina (IL) 1, IL-2 e IL-6 exerçam um</p><p>papel nessa síndrome.</p><p>Diagnóstico A encefalopatia associada à sepse apresenta-se clinicamente como</p><p>disfunção difusa do cérebro, sem achados focais proeminentes. Confusão,</p><p>desorientação, agitação e flutuações do nível de consciência são características.</p><p>Nos casos mais profundos, sobretudo com comprometimento hemodinâmico, a</p><p>redução do nível de consciência pode ser maior, às vezes levando ao coma.</p><p>Podem-se observar hiper-reflexia e sinais de</p><p>liberação frontal, como reflexo de</p><p>preensão ou bucinador (snout reflex) (Cap. 26). Podem ocorrer movimentos</p><p>anormais como mioclonias, tremores ou asterixe. A encefalopatia associada à</p><p>sepse é bastante comum, ocorrendo na maioria dos pacientes com sepse e</p><p>falência múltipla de órgãos. O diagnóstico muitas vezes é difícil em razão de</p><p>haver muitas possíveis causas de disfunção neurológica nos pacientes em estado</p><p>crítico, e devem ser excluídas causas orgânicas, metabólicas, tóxicas e</p><p>infecciosas (p. ex., meningite ou encefalite). A taxa de mortalidade dos pacientes</p><p>com encefalopatia associada à sepse suficientemente grave para produzir coma</p><p>aproxima-se de 50%, mas isso reflete a gravidade do estado crítico subjacente, e</p><p>não é resultado direto da encefalopatia. Os pacientes que chegam ao óbito em</p><p>razão de sepse grave ou choque séptico podem apresentar níveis elevados do</p><p>biomarcador sérico de lesão cerebral S-100β e achados neuropatológicos de</p><p>apoptose neuronal e lesão isquêmica cerebral. O tratamento bem-sucedido da</p><p>doença subjacente quase sempre resulta em melhora substancial da</p><p>encefalopatia. Contudo, embora seja raro ocorrer incapacidade grave, como</p><p>estado vegetativo crônico ou minimamente consciente, tem-se identificado com</p><p>mais frequência um quadro de disfunção cognitiva clinicamente similar à</p><p>demência em alguns sobreviventes, especialmente em pacientes mais velhos.</p><p>SÍNDROME DE DESMIELINIZAÇÃO OSMÓTICA (MIELINÓLISE</p><p>PONTINA CENTRAL)</p><p>Esse distúrbio costuma se apresentar de forma devastadora como tetraplegia e</p><p>paralisia pseudobulbar, embora possa ocorrer uma apresentação menos grave. Os</p><p>fatores predisponentes incluem doença clínica subjacente grave ou deficiência</p><p>nutricional; a maioria dos casos está associada à correção rápida da hiponatremia</p><p>ou a estados hiperosmolares, e os sintomas clínicos costumam ser identificados</p><p>após a correção do sódio. Anteriormente chamada de mielinólise pontina central,</p><p>o termo mais acurado síndrome de desmielinização osmótica é atualmente</p><p>preferido. A patologia consiste em desmielinização sem inflamação na base da</p><p>ponte, com preservação relativa de axônios e neurônios. A RM ajuda a definir o</p><p>diagnóstico (Fig. 301-5) e também pode identificar quadros parciais, os quais se</p><p>apresentam na forma de confusão, disartria e/ou distúrbios do olhar conjugado</p><p>sem tetraplegia. Casos eventuais apresentam-se com lesões fora do tronco</p><p>encefálico. As diretrizes para o tratamento da hiponatremia grave devem visar à</p><p>correção gradual, isto é, ≤ 10 mmol/L (10 mEq/L) nas primeiras 24 horas e 20</p><p>mmol/L (20 mEq/L) em 48 horas.</p><p>FIGURA 301-5 Síndrome de desmielinização osmótica. Ressonância magnética ponderada em T2 axial</p><p>da ponte revelando área simétrica de sinal hiperintenso anormal na base pontina (setas).</p><p>DOENÇA DE WERNICKE</p><p>A doença de Wernicke é um distúrbio comum e prevenível causado por</p><p>deficiência de tiamina (Cap. 326). Nos Estados Unidos, os alcoolistas</p><p>representam a maioria dos casos, mas pacientes com desnutrição decorrente de</p><p>hiperêmese, inanição, diálise renal, câncer, HIV/Aids ou, raramente, cirurgia</p><p>gástrica também correm risco. A tríade clínica típica é formada por</p><p>oftalmoplegia, ataxia e confusão global. Contudo, apenas um terço dos pacientes</p><p>com doença de Wernicke aguda apresentam a tríade clínica clássica. Em sua</p><p>maioria, os pacientes manifestam desorientação profunda, indiferença e</p><p>desatenção, embora raramente apresentem-se com delirium tremens relacionado</p><p>com abstinência de etanol. Se a doença não for tratada, é possível haver</p><p>evolução para estupor, coma e morte. As anormalidades motoras oculares</p><p>incluem nistagmo horizontal ao olhar lateral, paralisia do músculo reto lateral</p><p>(em geral bilateral), paralisias do olhar conjugado e, raramente, ptose. A ataxia</p><p>da marcha provavelmente resulta de combinação de polineuropatia,</p><p>acometimento cerebelar e paresia vestibular. As pupilas costumam estar</p><p>preservadas, mas podem tornar-se mióticas na doença avançada.</p><p>A doença de Wernicke costuma estar associada a outras manifestações de</p><p>doença nutricional, como polineuropatia. Raramente, ocorre ambliopia ou</p><p>mielopatia. Taquicardia e hipotensão postural podem estar relacionadas com</p><p>disfunção do sistema nervoso autônomo ou com beri béri cardiovascular</p><p>concomitante. Os pacientes que se recuperam apresentam melhora das paralisias</p><p>oculares horas após a administração de tiamina, mas o nistagmo horizontal pode</p><p>persistir. A melhora da ataxia é mais lenta que as anormalidades motoras</p><p>oculares. Metade dos pacientes tem recuperação parcial e permanece com</p><p>marcha lenta, festinante e de base alargada com incapacidade de deambular em</p><p>tandem. Apatia, sonolência e confusão melhoram de maneira mais gradual. À</p><p>medida que tais sintomas cedem, um estado amnésico com deficiência da</p><p>memória recente e do aprendizado pode tornar-se mais evidente (psicose de</p><p>Korsakoff). A psicose de Korsakoff com frequência é persistente; o estado</p><p>mental residual caracteriza-se por lacunas da memória, confabulação e distúrbios</p><p>do sequenciamento temporal.</p><p>Patologia Observam-se lesões periventriculares circundando o terceiro</p><p>ventrículo, o aqueduto e o quarto ventrículo, com hemorragias petequiais em</p><p>casos agudos eventuais e atrofia dos corpos mamilares na maioria dos casos</p><p>crônicos. Com frequência há proliferação endotelial, desmielinização e alguma</p><p>perda neuronal. Essas alterações podem ser detectadas por RM (Fig. 301-6). O</p><p>defeito amnésico está relacionado com lesões nos núcleos dorsais mediais do</p><p>tálamo.</p><p>FIGURA 301-6 Doença de Wernicke. Ressonância magnética ponderada em T1 pós-contraste coronal</p><p>revelando captação anormal de contraste pelos corpos mamilares (setas), típica da encefalopatia de</p><p>Wernicke aguda.</p><p>Patogênese A tiamina é um cofator de várias enzimas, como a transcetolase,</p><p>piruvato-desidrogenase e α-cetoglutarato-desidrogenase. A deficiência de</p><p>tiamina produz redução difusa da utilização cerebral de glicose e resulta em</p><p>lesão mitocondrial. O glutamato acumula-se em razão de redução da atividade da</p><p>α-cetoglutarato-desidrogenase e, em combinação com a deficiência de energia,</p><p>pode acarretar lesão celular excitotóxica.</p><p>TRATAMENTO</p><p>Doença de Wernicke</p><p>A doença de Wernicke é uma emergência médica e requer administração imediata de tiamina, na dose de</p><p>100 mg por via IV ou intramuscular (IM). A dose deve ser administrada diariamente até que o paciente</p><p>receba uma dieta normal e deve ser instituída antes do tratamento com soluções glicosadas IV. Alguns</p><p>autores preconizam doses maiores, de 100 mg quatro vezes ao dia ou mais frequentes. A infusão de glicose</p><p>pode precipitar a doença de Wernicke em paciente previamente sem manifestações do quadro ou causar</p><p>agravamento rápido de casos com forma incipiente da doença. Por essa razão, deve-se administrar tiamina a</p><p>todos os pacientes alcoolistas que necessitem de glicose parenteral.</p><p>DISTÚRBIOS DE HIPERPERFUSÃO (SÍNDROME DE</p><p>ENCEFALOPATIA POSTERIOR REVERSÍVEL)</p><p>Várias síndrome diferentes, incluindo encefalopatia hipertensiva, eclâmpsia,</p><p>síndrome pós-endarterectomia carotídea e toxicidade por inibidor da calcineurina</p><p>e outros medicamentos, compartilham a patogênese comum de hiperperfusão</p><p>provavelmente devido à disfunção endotelial. O edema vasogênico é tipicamente</p><p>o processo primário que leva à disfunção neurológica e acredita-se que resulte de</p><p>um de dois mecanismos: superação do limiar de autorregulação cerebral levando</p><p>a aumento do FSC e vazamento capilar para o interstício, ou comprometimento</p><p>direto da própria BHE. A tendência observada em todos os distúrbios de</p><p>hiperperfusão de afetar as regiões</p><p>cerebrais posteriores em vez das anteriores</p><p>pode decorrer de um menor limiar para o rompimento da autorregulação na</p><p>circulação posterior ou de uma vasculopatia que seja mais comum nesses vasos</p><p>sanguíneos.</p><p>Esses distúrbios de hiperperfusão podem ser divididos entre aqueles que são</p><p>causados principalmente por pressão elevada e os que se devem basicamente à</p><p>disfunção endotelial secundária a uma etiologia tóxica ou autoimune (Tab. 301-</p><p>3). Na realidade, esses dois processos fisiopatológicos provavelmente</p><p>desempenham algum papel em todos esses distúrbios. As manifestações clínicas</p><p>de todas as síndromes de hiperperfusão são semelhantes e caracterizam-se por</p><p>cefaleias intensas, convulsões ou déficits neurológicos focais. As cefaleias não</p><p>têm características específicas, sua intensidade pode ser leve a grave e elas</p><p>podem acompanhar-se de alterações da consciência (de confusão até coma).</p><p>Também podem ocorrer convulsões de vários tipos, dependendo da gravidade e</p><p>localização do edema. Crises epilépticas não convulsivas foram descritas nos</p><p>estados de hiperperfusão; por essa razão, deve-se adotar um limiar baixo para</p><p>solicitar um EEG para esses pacientes. O déficit focal típico dos estados de</p><p>hiperperfusão é a perda da visão cortical, considerando-se a tendência de o</p><p>processo afetar os lobos occipitais. Contudo, pode ocorrer qualquer déficit focal</p><p>de acordo com a área afetada, conforme se evidencia nos pacientes que, após</p><p>endarterectomia carotídea, apresentam disfunção neurológica relacionada ao</p><p>hemisfério ipsilateral recém-reperfundido. Aparentemente, o fator de risco mais</p><p>importante é a rapidez com que ocorre a elevação, mais do que o valor absoluto</p><p>da pressão.</p><p>TABELA 301-3 ■ Etiologias comuns de síndrome de encefalopatia posterior reversível</p><p>Distúrbios nos quais a elevação da pressão capilar predomina na fisiopatologia</p><p>Encefalopatia hipertensiva, incluindo as causas secundárias como hipertensão renovascular, feocromocitoma, uso de cocaína, etc.</p><p>Síndrome pós-endarterectomia carotídea</p><p>Pré-eclâmpsia/eclâmpsia</p><p>Distúrbios nos quais a disfunção endotelial predomina na fisiopatologia</p><p>Toxicidade por inibidor da calcineurina (p. ex., ciclosporina, tacrolimo)</p><p>Toxicidade dos agentes quimioterápicos (p. ex., citarabina, azatioprina, 5-fluoruracila, cisplatina, metotrexato, antagonistas do fator de</p><p>necrose tumoral α)</p><p>Síndrome HELLP (hemólise, elevação de enzimas hepáticas, plaquetas baixas)</p><p>Síndrome hemolítico-urêmica</p><p>Nos casos clássicos, a RM mostra sinal hiperintenso de edema em T2,</p><p>principalmente na região posterior dos lobos occipitais, sem respeitar qualquer</p><p>território vascular específico (Fig. 301-7). A TC é menos sensível, mas pode</p><p>mostrar um padrão de hipodensidade irregular no território afetado. O termo</p><p>síndrome de encefalopatia posterior reversível (SEPR) costuma ser usado para</p><p>descrever essas condições; porém, a síndrome clínica nem sempre é reversível</p><p>nem limitada apenas às regiões cerebrais posteriores. Os exames de imagem</p><p>vasculares podem demonstrar estreitamento da vasculatura cerebral, em especial</p><p>na circulação posterior; ainda não está claro se essa vasculopatia não</p><p>inflamatória é uma causa primária do edema ou ocorre como fenômeno</p><p>secundário. Outros exames complementares, como a análise do LCS, costumam</p><p>fornecer resultados inespecíficos. Muitas das substâncias implicadas (p. ex.,</p><p>ciclosporina) podem causar essa síndrome mesmo em doses baixas ou anos</p><p>depois do início do tratamento. Por essa razão, níveis séricos normais desses</p><p>fármacos não excluem sua participação como agentes desencadeantes.</p><p>FIGURA 301-7 Imagem axial da ressonância magnética cerebral em FLAIR (fluid-attenuated</p><p>inversion recovey) de um paciente tratado com ciclosporina após transplante de fígado, que se</p><p>apresentou com convulsões, cefaleia e cegueira cortical. Observa-se sinal hiperintenso nos lobos occipitais,</p><p>afetando predominantemente a substância branca; isso é compatível com um estado de hiperperfusão</p><p>secundária à exposição ao inibidor da calcineurina.</p><p>O tratamento envolve a redução cuidadosa da pressão arterial com agentes</p><p>IV, como labetalol ou nicardipino, a remoção do medicamento causador, e o</p><p>tratamento de alguma condição médica subjacente, como a eclâmpsia. Se a</p><p>pressão arterial estiver muito elevada, é razoável reduzir a PAM em cerca de</p><p>20% no início, porque uma queda mais acentuada da pressão pode causar</p><p>isquemia secundária e possivelmente infarto quando a pressão cai abaixo do</p><p>limite inferior da capacidade de autorregulação do paciente. As convulsões</p><p>devem ser detectadas e controladas e, em muitos casos, isso requer monitoração</p><p>contínua do EEG. Quando se identifica atividade epiléptica, os agentes</p><p>anticonvulsivantes são eficazes – mas, no caso especial da eclâmpsia, há</p><p>evidências a favor da utilização do sulfato de magnésio para controlar as</p><p>convulsões.</p><p>LESÃO CEREBRAL APÓS TRANSPLANTE DE ÓRGÃOS SÓLIDOS</p><p>Os agentes imunossupressores devem ser administrados em doses altas aos</p><p>pacientes submetidos a transplante de órgãos sólidos, e muitos desses fármacos</p><p>causam complicações neurológicas bem-conhecidas. Nos pacientes com cefaleia,</p><p>convulsões ou déficits neurológicos focais enquanto usam inibidores da</p><p>calcineurina, deve-se considerar o diagnóstico da síndrome de hiperperfusão,</p><p>conforme descrito antes. Essa neurotoxicidade ocorre principalmente com a</p><p>ciclosporina e o tacrolimo, podendo ser encontrada mesmo com níveis séricos</p><p>normais dos fármacos. O tratamento consiste basicamente em reduzir a dose ou</p><p>suspender o fármaco. O sirolimo foi associado a pouquíssimos casos de</p><p>neurotoxicidade e pode ser uma alternativa razoável para alguns pacientes.</p><p>Outros exemplos de imunossupressores e suas complicações neurológicas são o</p><p>mutismo acinético associado ao OKT3 e a leucoencefalopatia associada ao</p><p>metotrexato, sobretudo quando é administrado por via intratecal ou com</p><p>radioterapia concomitante. Em todo paciente submetido a transplante de órgãos</p><p>sólidos que apresente queixas neurológicas, a análise cuidadosa da lista de</p><p>fármacos utilizados é essencial para determinar esses possíveis efeitos adversos.</p><p>Em muitos casos, as complicações vasculares cerebrais dos transplantes de</p><p>órgãos sólidos são detectadas no período pós-operatório imediato. Os infartos no</p><p>território das zonas limítrofes podem ocorrer principalmente quando há</p><p>hipotensão sistêmica durante a cirurgia de transplante cardíaco. Os infartos</p><p>embólicos são complicações clássicas do transplante cardíaco, mas todos os</p><p>procedimentos de transplante de órgãos sólidos colocam os pacientes em risco de</p><p>embolia sistêmica. Quando a embolia cerebral acompanha as cirurgias de</p><p>transplante renal ou hepático, a investigação detalhada para detectar um shunt</p><p>direita-esquerda deve incluir uma ecocardiografia com solução salina (p. ex.,</p><p>estudo com bolhas), bem como shunts intrapulmonares. Os pacientes submetidos</p><p>a transplante renal e alguns submetidos a transplante cardíaco têm aterosclerose</p><p>avançada, que representa um risco de AVC. Os exames de imagem como a TC</p><p>ou a RM devem ser feitos quando há suspeita de complicações vasculares</p><p>cerebrais, tanto para confirmar o diagnóstico quanto para excluir hemorragia</p><p>intracerebral que, na maioria dos casos, ocorre em razão da coagulopatia</p><p>secundária à insuficiência hepática ou após cirurgias de revascularização do</p><p>miocárdio.</p><p>Considerando que os pacientes submetidos a transplante de órgãos sólidos</p><p>precisam ser mantidos em imunossupressão crônica, as infecções constituem</p><p>uma preocupação comum (Cap. 138). Em</p><p>todo paciente transplantado com</p><p>sinais ou sintomas recentes referidos ao SNC, inclusive convulsões, confusão ou</p><p>déficit focal, deve-se cogitar infecção do SNC; tal possibilidade é avaliada por</p><p>exames de imagem (em geral RM) e, possivelmente, PL. Os patógenos mais</p><p>comuns responsáveis pelas infecções do SNC desses pacientes variam de acordo</p><p>com o tempo decorrido desde o transplante. No primeiro mês após a cirurgia, os</p><p>patógenos comuns são bactérias associadas aos procedimentos cirúrgicos e aos</p><p>cateteres de longa permanência. A partir do segundo mês, as infecções</p><p>oportunistas do SNC tornam-se mais comuns, incluindo as espécies de Nocardia</p><p>e Toxoplasma, além das infecções fúngicas como a aspergilose. As infecções</p><p>virais que podem afetar o cérebro do paciente imunossuprimido (p. ex., herpes-</p><p>vírus simples, citomegalovírus, herpes-vírus humano tipo 6 e varicela) também</p><p>são comuns após o primeiro mês. Depois do sexto mês, os pacientes</p><p>imunossuprimidos após o transplante ainda se encontram em risco de adquirir</p><p>essas infecções bacterianas, fúngicas e virais oportunistas, mas também podem</p><p>ter complicações infecciosas tardias do SNC como leucoencefalopatia multifocal</p><p>progressiva (LEMP) associada ao vírus JC (Cap. 132) e expansões clonais de</p><p>células B desencadeadas pelo vírus Epstein-Barr resultando em distúrbio</p><p>linfoproliferativo pós-transplante ou linfoma do SNC (Cap. 86).</p><p>DISTÚRBIOS DO SISTEMA NERVOSO PERIFÉRICO EM</p><p>TERAPIA INTENSIVA</p><p>Os distúrbios do sistema nervoso periférico (SNP) ocorridos em pacientes em</p><p>estado crítico surgem em dois contextos: (1) doenças neurológicas primárias que</p><p>necessitam de intervenções em terapia intensiva, como intubação e ventilação</p><p>mecânica, e (2) manifestações no SNP secundárias à doença crítica sistêmica,</p><p>muitas vezes envolvendo falência múltipla de órgãos. Na primeira categoria</p><p>estão as polineuropatias agudas, como a síndrome de Guillain-Barré (Cap. 439),</p><p>doenças da junção neuromuscular incluindo miastenia gravis (Cap. 440) e</p><p>botulismo (Cap. 148), e distúrbios musculares primários como a polimiosite (Ca</p><p>p. 358). Os outros resultam da própria doença sistêmica ou como consequência</p><p>das intervenções, e como grupo costumam ser chamadas de fraqueza adquirida</p><p>na unidade de terapia intensiva.</p><p>Os princípios gerais da avaliação respiratória em pacientes com</p><p>envolvimento do SNP, seja qual for a causa, incluem análise da mecânica</p><p>pulmonar, como força inspiratória máxima (FIM) e capacidade vital (CV), e</p><p>avaliação da força dos músculos bulbares. Seja qual for a causa da fraqueza,</p><p>deve-se considerar intubação endotraqueal quando a FIM cair abaixo de –25</p><p>cmH2O ou a CV for < 1 L. Além disso, os pacientes com fraqueza palatina grave</p><p>podem necessitar de intubação endotraqueal a fim de prevenir obstrução aguda</p><p>das vias aéreas superiores ou aspiração recorrente. Usam-se gasometria arterial e</p><p>saturação de oxigênio por oximetria de pulso para monitorar os pacientes com</p><p>potencial comprometimento respiratório secundário à disfunção do SNP.</p><p>Contudo, a intubação e a ventilação mecânica devem ser instituídas com base na</p><p>avaliação clínica e não se deve aguardar até que a saturação de oxigênio caia ou</p><p>que surja retenção de CO2 por hipoventilação. No início, pode-se considerar a</p><p>ventilação mecânica não invasiva em vez de intubação endotraqueal na</p><p>miastenia gravis, mas em geral ela é insuficiente nos pacientes com fraqueza</p><p>bulbar grave ou insuficiência ventilatória com hipercapnia. Os princípios da</p><p>ventilação mecânica são discutidos no Capítulo 295.</p><p>NEUROPATIA</p><p>Embora a encefalopatia possa ser a disfunção neurológica mais evidente em</p><p>pacientes criticamente enfermos, a disfunção do SNP também é bastante comum.</p><p>Apresenta-se em pacientes com doenças críticas prolongadas por várias semanas</p><p>e que envolvam sepse; deve haver suspeita clínica quando se observa dificuldade</p><p>no desmame da ventilação mecânica apesar de melhora da sepse e do estado</p><p>crítico. A denominação polineuropatia do paciente crítico refere-se à</p><p>complicação mais comum do SNP relacionada com os estados críticos; é</p><p>observada no contexto de estado crítico prolongado, sepse e falência múltipla de</p><p>órgãos. Os achados neurológicos incluem perda de força muscular difusa,</p><p>hiporreflexia e perda sensitiva distal. Os testes eletrofisiológicos demonstram</p><p>neuropatia sensitivomotora axonal distal simétrica e difusa; estudos patológicos</p><p>confirmaram a degeneração axonal. O mecanismo preciso da polineuropatia do</p><p>paciente crítico permanece indefinido, mas acredita-se que fatores circulantes,</p><p>como as citocinas, associados à sepse e à SIRS, sejam importantes. Relatou-se</p><p>que até 70% dos pacientes com síndrome séptica têm algum grau de neuropatia,</p><p>embora uma parcela bem menor tenha síndrome clínica suficientemente grave</p><p>para causar fraqueza intensa dos músculos ventilatórios, exigindo ventilação</p><p>mecânica prolongada ou resultando em impossibilidade de desmame do</p><p>ventilador. O controle rigoroso da glicemia com infusões de insulina parece</p><p>reduzir o risco de polineuropatia do paciente crítico. O tratamento é de suporte,</p><p>com intervenção específica dirigida à doença subjacente. Embora geralmente se</p><p>observe recuperação espontânea, a evolução pode estender-se por semanas ou</p><p>meses e exigir assistência ventilatória prolongada e cuidados mesmo após a</p><p>resolução da doença crítica subjacente.</p><p>DISTÚRBIOS DA TRANSMISSÃO NEUROMUSCULAR</p><p>Um defeito na transmissão neuromuscular pode ser a origem da fraqueza em</p><p>pacientes graves. O botulismo (Cap. 148) pode ser adquirido com a ingestão de</p><p>toxina botulínica em alimentos inadequadamente armazenados ou pode surgir a</p><p>partir de um abscesso anaeróbio causado por Clostridium botulinum (ferida</p><p>botulínica). Lactentes podem se apresentar com perda de força generalizada</p><p>causada por infecção intestinal por Clostridium, em especial se forem</p><p>alimentados com mel. Diplopia e disfagia são sinais precoces de botulismo de</p><p>causa alimentar. O tratamento é principalmente de suporte, embora o uso de</p><p>antitoxina no início da evolução possa reduzir a duração do bloqueio</p><p>neuromuscular. Os cuidados gerais na UTI são semelhantes aos prestados aos</p><p>pacientes com síndrome de Guillain-Barré ou miastenia gravis, com atenção</p><p>para evitar formação de úlcera de decúbito nos pontos de pressão, profilaxia de</p><p>trombose venosa profunda e prevenção de infecção. As autoridades de saúde</p><p>pública devem ser rapidamente comunicadas quando o diagnóstico for</p><p>confirmado a fim de prevenir a exposição de outros pelo alimento contaminado</p><p>ou por qualquer outra fonte de ferida botulínica (como uso de droga injetável).</p><p>A possibilidade de miastenia gravis não diagnosticada (Cap. 440) deve ser</p><p>considerada em pacientes com perda de força muscular em UTI; contudo, a</p><p>fraqueza persistente secundária à deficiência de transmissão na junção</p><p>neuromuscular quase sempre resulta da administração de fármacos. Diversos</p><p>medicamentos prejudicam a transmissão neuromuscular, incluindo antibióticos,</p><p>especialmente aminoglicosídeos, e agentes β-bloqueadores. Na UTI, os agentes</p><p>bloqueadores neuromusculares não despolarizantes, também conhecidos como</p><p>miorrelaxantes, são os principais responsáveis. Esse grupo de fármacos abrange</p><p>agentes como pancurônio, vecurônio, rocurônio e cisatracúrio. Eles são</p><p>frequentemente usados para facilitar a ventilação mecânica ou os outros</p><p>procedimentos de terapia intensiva, mas, com o uso prolongado, o bloqueio</p><p>neuromuscular persistente pode resultar em fraqueza, mesmo horas ou dias após</p><p>a suspensão desses fármacos. Os fatores de risco para essa ação prolongada dos</p><p>bloqueadores neuromusculares</p><p>incluem sexo feminino, acidose metabólica e</p><p>insuficiência renal.</p><p>O bloqueio neuromuscular prolongado não parece acarretar lesão</p><p>permanente do SNP. Com a suspensão dos fármacos ofensivos, restaura-se a</p><p>força muscular plena, embora talvez com alguns dias de atraso. Em geral, deve-</p><p>se usar a dose mais baixa de bloqueador neuromuscular suficiente para obter o</p><p>resultado desejado e, quando esses agentes são ministrados na UTI, convém</p><p>recorrer a um estimulador de nervos periféricos para monitorar a função da</p><p>junção neuromuscular.</p><p>MIOPATIA</p><p>Os pacientes criticamente enfermos, sobretudo aqueles com sepse, com</p><p>frequência sofrem perda de força e de massa muscular, em muitos casos apesar</p><p>de suporte nutricional aparentemente adequado. Miopatia da doença crítica é</p><p>um termo genérico que descreve vários distúrbios musculares distintos, os quais</p><p>podem ocorrer em pacientes em estado crítico. Supõe-se que a causa seja uma</p><p>miopatia catabólica decorrente de múltiplos fatores, como maior liberação de</p><p>cortisol e catecolaminas e outros fatores circulantes induzidos pela SIRS. Nessa</p><p>síndrome, conhecida como miopatia caquética, os níveis séricos de creatina-</p><p>cinase e a eletromiografia (EMG) são normais. A biópsia muscular mostra</p><p>atrofia das fibras tipo II. Também pode haver necrose panfascicular de fibras</p><p>musculares no contexto de sepse profunda. A miopatia necrosante aguda do</p><p>paciente crítico caracteriza-se clinicamente por perda de força que evolui para</p><p>um grau profundo em questão de alguns dias. Nesses casos, é possível haver</p><p>aumento associado de creatina-cinase sérica e mioglobina urinária. A EMG e a</p><p>biópsia muscular podem ser normais no início, porém, por fim, demonstram</p><p>atividade espontânea anormal e necrose panfascicular com reação inflamatória</p><p>associada. A rabdomiólise aguda pode ocorrer por consumo de álcool ou por</p><p>síndrome do compartimento.</p><p>A miopatia de filamento grosso pode ocorrer em cenário de uso de</p><p>glicocorticoide e agente bloqueador neuromuscular não despolarizante. O</p><p>cenário mais frequente é encontrado em paciente asmático que requer doses</p><p>elevadas de glicocorticoide e bloqueador neuromuscular não despolarizante para</p><p>facilitar a ventilação mecânica. Esse distúrbio muscular não é causado por ação</p><p>prolongada do bloqueador neuromuscular não despolarizante ao nível da junção</p><p>neuromuscular, mas é, de fato, uma miopatia com lesão muscular propriamente</p><p>dita; tem sido ocasionalmente descrito associado ao uso de glicocorticoide em</p><p>dose elevada ou à sepse isoladamente. Clinicamente, essa síndrome em geral é</p><p>identificada quando o paciente não consegue progredir no desmame da</p><p>ventilação mecânica apesar da resolução do processo pulmonar primário. Do</p><p>ponto de vista patológico, é possível haver perda de filamentos grossos (de</p><p>miosina). A miopatia de filamentos grossos do paciente crítico tem bom</p><p>prognóstico. Nos pacientes que sobrevivem à doença crítica subjacente, a</p><p>miopatia invariavelmente melhora e a maioria dos casos retorna ao normal.</p><p>Entretanto, como a síndrome resulta de lesão muscular verdadeira, e não apenas</p><p>de bloqueio prolongado da junção neuromuscular, esse processo de recuperação</p><p>pode levar semanas a meses, podendo ser necessária traqueostomia com suporte</p><p>ventilatório prolongado. Alguns pacientes apresentam perda de força muscular</p><p>residual em longo prazo, com atrofia e fadiga que comprometem a deambulação.</p><p>Até o momento não foi demonstrado como é possível prevenir essa complicação</p><p>miopática, exceto evitando-se o uso de bloqueador neuromuscular não</p><p>despolarizante, uma estratégia nem sempre possível. O monitoramento com</p><p>estimulador de nervo periférico talvez ajude a evitar o uso excessivo desses</p><p>agentes. Contudo, essa conduta provavelmente serve mais para evitar a</p><p>complicação do uso prolongado de bloqueador neuromuscular não</p><p>despolarizante do que para profilaxia dessa miopatia.</p><p>LEITURAS ADICIONAIS</p><p>Callaway CW et al: Part 4: Advanced life support: 2015 international consensus</p><p>on cardiopulmonary resuscitation and emergency cardiovascular care</p><p>science with treatment recommendations. Circulation 132:S84, 2015.</p><p>Dhar R: Neurologic complications of transplantation. Handb Clin Neurol</p><p>141:545, 2017.</p><p>Donnelly J et al: Regulation of the cerebral circulation: bedside assessment and</p><p>clinical implications. Crit Care 20:129, 2016.</p><p>Latronico N et al: Critical illness polyneuropathy and myopathy: A major cause</p><p>of muscle weakness and paralysis. Lancet Neurol 10:931, 2011.</p><p>Nielsen N et al: Targeted temperature management at 33 degrees C versus 36</p><p>degrees C after cardiac arrest. N Engl J Med 369:2197, 2013.</p><p>Pandharipande PP et al: Long-term cognitive impairment after critical illness. N</p><p>Engl J Med 369:1306, 2013.</p><p>Posner JB et al: Plum and Posner’s Diagnosis of Stupor and Coma, 4th ed. New</p><p>York, Oxford University Press, 2007.</p><p>Quillinan N at al: Neuropathophysiology of brain injury. Anesthesiol Clin</p><p>34:453, 2016.</p><p>Sandroni C et al: Prognostication in comatose survivors of cardiac arrest: An</p><p>advisory statement from the European Resuscitation Council and the</p><p>European Society of Intensive Care Medicine. Intensive Care Med 40:1816,</p><p>2014.</p><p>Toledano M, Fugate JE: Posterior reversible encephalopathy in the intensive care</p><p>unit. Handb Clin Neurol 141:467, 2017.</p><p>302</p><p>Hemorragia subaracnóidea</p><p>J. Claude Hemphill, III, Wade S. Smith, Daryl R. Gress</p><p>A hemorragia subaracnóidea (HSA) leva o cérebro a um estado crítico por lesões</p><p>encefálicas primárias e secundárias. Excluindo o traumatismo intracraniano, a</p><p>causa mais comum de HSA é ruptura de aneurisma sacular. Outras causas</p><p>incluem sangramento de malformação vascular (malformação arteriovenosa ou</p><p>fístula arteriovenosa dural) e extensão para o espaço subaracnóideo de</p><p>hemorragia intracerebral primária. Algumas HSAs idiopáticas são localizadas</p><p>nas cisternas perimesencefálicas e são benignas; provavelmente têm origem</p><p>venosa ou capilar, e a angiografia nada revela.</p><p>ANEURISMA SACULAR (“BERRY”)</p><p>Estudos de necropsia e angiografia concluíram que cerca de 2% dos adultos</p><p>abrigam aneurismas intracranianos, levando a uma prevalência de 4 milhões de</p><p>indivíduos nos Estados Unidos; há 25 mil a 30 mil casos por ano de rompimento</p><p>de aneurisma produzindo HSA. Para os pacientes que chegam vivos ao hospital,</p><p>a taxa de mortalidade é de 45% durante o primeiro mês. Daqueles que</p><p>sobrevivem, mais de metade permanece com déficits neurológicos significativos</p><p>em decorrência de hemorragia inicial, vasospasmo cerebral com infarto ou</p><p>hidrocefalia. Se o paciente sobreviver, mas o aneurisma não for obliterado, a</p><p>taxa de ressangramento é de cerca de 20% nas primeiras 2 semanas, 30% no</p><p>primeiro mês e, depois, 3% por ano. Com esses números alarmantes, a</p><p>prioridade terapêutica é a prevenção das complicações precoces previsíveis da</p><p>HSA.</p><p>Os aneurismas íntegros assintomáticos são bem menos perigosos que o</p><p>aneurisma recentemente rompido. O risco anual de ruptura para aneurismas com</p><p>< 10 mm é de cerca de 0,1% e para os aneurismas ≥ 10 mm é de cerca de 0,5 a</p><p>1%; a taxa de morbidade cirúrgica excede em muito essas porcentagens. A</p><p>localização do aneurisma também é um fator de risco, com os aneurismas na</p><p>bifurcação basilar parecendo ter um risco um pouco maior de ruptura. Em razão</p><p>do maior tempo de exposição ao risco de ruptura, os pacientes mais jovens com</p><p>aneurismas de tamanho > 10 mm podem beneficiar-se do tratamento profilático.</p><p>A exemplo do tratamento da estenose carotídea assintomática, a relação risco-</p><p>benefício depende muito da taxa de complicações do tratamento.</p><p>Os aneurismas gigantes, aqueles com diâmetro > 2,5 cm, ocorrem nos</p><p>mesmos locais (ver adiante)</p><p>dos pequenos aneurismas e respondem por 5% dos</p><p>casos. As três localizações mais comuns são artéria carótida interna terminal,</p><p>bifurcação da artéria cerebral média (ACM) e o ápice da artéria basilar. O risco</p><p>de ruptura é de aproximadamente 6% no primeiro ano após a identificação, e</p><p>mantém-se alto indefinidamente. Em muitos casos, produzem sintomas por</p><p>compressão do cérebro ou nervos cranianos adjacentes.</p><p>Os aneurismas micóticos costumam localizar-se distalmente à primeira</p><p>bifurcação das principais artérias do polígono de Willis. A maioria resulta de</p><p>êmbolos infectados provenientes de endocardite bacteriana, causando</p><p>degeneração séptica das artérias e dilatação e ruptura subsequentes. Há</p><p>controvérsia sobre se tais lesões devem ser pesquisadas e reparadas antes da</p><p>ruptura ou deixadas para que se curem espontaneamente com antibioticoterapia.</p><p>Fisiopatologia Os aneurismas saculares ocorrem nas bifurcações das artérias</p><p>intracranianas de grande a médio calibre; ocorre ruptura para dentro do espaço</p><p>subaracnóideo nas cisternas basilares e, algumas vezes, para dentro do</p><p>parênquima cerebral adjacente. Cerca de 85% dos aneurismas ocorrem na</p><p>circulação anterior, a maioria no polígono de Willis. Cerca de 20% dos pacientes</p><p>apresentam múltiplos aneurismas, muitos em locais espelhados bilateralmente. À</p><p>medida que se desenvolve, o aneurisma forma um colo com uma cúpula. A</p><p>extensão do colo e o tamanho da cúpula variam sobremodo e são fatores</p><p>importantes no planejamento da obliteração neurocirúrgica ou da embolização</p><p>endovascular. A lâmina elástica interna arterial desaparece na base do colo. A</p><p>túnica média afina-se e o tecido conectivo substitui as células musculares lisas.</p><p>No local de ruptura (mais frequentemente a cúpula), a parede afina-se e a</p><p>laceração que origina o sangramento muitas vezes tem comprimento ≤ 0,5 mm.</p><p>O tamanho e o local do aneurisma são importantes na predição do risco de</p><p>ruptura. Aqueles com diâmetro > 7 mm e os localizados no ápice da artéria</p><p>basilar e na origem da artéria comunicante posterior estão sob risco mais alto de</p><p>ruptura.</p><p>Manifestações clínicas A maioria dos aneurismas intracranianos íntegros é</p><p>totalmente assintomática. Os sintomas em geral decorrem da ruptura e da HSA</p><p>resultante, porém alguns pacientes com aneurisma íntegro apresentam-se com</p><p>efeito de massa sobre nervos cranianos ou parênquima cerebral. No momento da</p><p>ruptura do aneurisma com HSA franca, a pressão intracraniana (PIC) sobe</p><p>abruptamente. Isso explica a perda transitória súbita da consciência que ocorre</p><p>em quase metade dos pacientes. A perda súbita da consciência pode ser</p><p>precedida por um breve momento de cefaleia excruciante, mas a maioria dos</p><p>pacientes queixa-se pela primeira vez de cefaleia ao recuperar a consciência. Em</p><p>10% dos casos, a hemorragia pelo aneurisma é grave o suficiente para causar</p><p>perda da consciência durante vários dias. Em cerca de 45% dos casos, a cefaleia</p><p>intensa com esforço é a queixa principal. Com frequência, o paciente refere-se à</p><p>cefaleia como “a pior dor de cabeça da minha vida”; contudo, a característica</p><p>mais importante é o início súbito. Às vezes, essas rupturas se apresentam como</p><p>cefaleia de intensidade apenas moderada ou alteração no padrão habitual de</p><p>cefaleias do paciente. A cefaleia costuma ser generalizada, muitas vezes com</p><p>rigidez da nuca, e os vômitos são comuns.</p><p>Embora a cefaleia súbita com ausência de sintomas neurológicos focais seja</p><p>a marca da ruptura de aneurisma, déficits neurológicos focais podem ocorrer. Os</p><p>aneurismas na artéria comunicante anterior ou na bifurcação da ACM podem</p><p>romper-se para dentro do cérebro adjacente ou para o espaço subdural e formar</p><p>um hematoma grande o suficiente para produzir efeito de massa. Entre os</p><p>possíveis déficits resultantes estão hemiparesia, afasia e lentidão mental (abulia).</p><p>Em alguns casos, sintomas prodrômicos sugerem a localização de</p><p>aneurisma íntegro em crescimento. A paralisia do terceiro nervo craniano, em</p><p>particular quando associada à midríase, à perda do reflexo fotomotor ipsilateral</p><p>(com preservação do reflexo contralateral) e à dor focal acima ou atrás do olho,</p><p>pode ocorrer em pacientes com aneurisma expansivo na junção na artéria</p><p>comunicante posterior ou carótida interna. A paralisia do sexto nervo pode</p><p>indicar aneurisma no seio cavernoso, e defeitos dos campos visuais podem</p><p>acompanhar aneurisma em expansão na artéria carótida supraclinóidea ou artéria</p><p>cerebral anterior (ACA). Dor occipital e dor cervical posterior podem indicar</p><p>aneurisma nas artérias cerebelar inferior posterior ou cerebelar inferior anterior (</p><p>Cap. 419). Dor intra ou retro-ocular e dor na têmpora inferior podem ocorrer</p><p>com aneurisma expansivo da ACM. A cefaleia “em trovoada” é uma variante da</p><p>enxaqueca que simula HSA. Antes de concluir que um paciente com cefaleia</p><p>intensa e súbita tem enxaqueca “em trovoada”, é preciso realizar investigação</p><p>definitiva para aneurisma ou outra patologia intracraniana.</p><p>Os aneurismas podem sofrer pequenas rupturas com extravasamento de</p><p>sangue para o espaço subaracnóideo, os chamados sangramentos-sentinelas.</p><p>Cefaleia súbita inexplicável em qualquer localização deve levantar suspeita de</p><p>HSA e ser investigada em razão da possibilidade de hemorragia iminente.</p><p>1.</p><p>2.</p><p>As manifestações clínicas iniciais da HSA podem ser graduadas usando-se</p><p>os esquemas de classificação de Hunt-Hess ou da World Federation of</p><p>Neurosurgical Societies (Tab. 302-1). Para aneurismas rotos, o prognóstico de</p><p>evolução favorável cai conforme o grau aumenta. Por exemplo, é incomum que</p><p>um paciente no grau 1 de Hunt-Hess venha a óbito se o aneurisma for tratado,</p><p>mas a taxa de mortalidade dos pacientes nos graus 4 e 5 pode chegar a 60%.</p><p>TABELA 302-1 ■ Escalas de graduação para hemorragia subaracnóidea</p><p>Grau Escala de Hunt-Hess Escala da World Federation of Neurosurgical</p><p>Societies (WFNS)</p><p>1 Cefaleia leve, estado mental normal, ausência de achados motores ou de</p><p>nervos cranianos</p><p>Escore da GCSa 15, sem déficit motor</p><p>2 Cefaleia intensa, estado mental normal, possível déficit de nervos</p><p>cranianos</p><p>Escore da GCS 13 a 14, sem déficit motor</p><p>3 Sonolência, confusão, possível déficit motor leve ou de nervos cranianos Escore da GCS 13 a 14, com déficit motor</p><p>4 Estupor, déficit motor moderado a grave, possibilidade de postura</p><p>reflexa intermitente</p><p>Escore da GCS 7 a 12, com ou sem déficit motor</p><p>5 Coma, postura reflexa ou flácida Escore da GCS 3 a 6, com ou sem déficit motor</p><p>aEscala de coma de Glasgow; ver Tabela 435-1.</p><p>Déficit neurológico tardio Há quatro causas principais de déficit neurológico</p><p>tardio: rerruptura, hidrocefalia, isquemia cerebral tardia (ICT) e hiponatremia.</p><p>Rerruptura. A incidência de rerruptura de aneurisma não tratado no</p><p>primeiro mês após a HSA é de aproximadamente 30%, com pico nos</p><p>primeiros 7 dias. A rerruptura está associada à taxa de mortalidade de 50%</p><p>e prognóstico reservado. O tratamento precoce elimina esse risco.</p><p>Hidrocefalia. A hidrocefalia subaguda pode causar estupor e coma e é</p><p>atenuada com a instalação de dreno ventricular externo. Com maior</p><p>frequência, a hidrocefalia subaguda desenvolve-se ao longo de alguns</p><p>poucosdias ou semanas e causa sonolência progressiva ou raciocínio lento</p><p>com incontinência. A hidrocefalia é diferenciada de vasospasmo cerebral</p><p>com tomografia computadorizada (TC), angiotomografia computadorizada</p><p>(angio-TC), ultrassonografia com Doppler transcraniano (DTC) ou</p><p>angiografia convencional. A hidrocefalia pode remitir espontaneamente ou</p><p>exigir drenagem ventricular temporária. A hidrocefalia crônica pode</p><p>desenvolver-se semanas a</p><p>meses após a HSA e manifestar-se como</p><p>dificuldade da marcha, incontinência ou raciocínio deficiente. Entre os</p><p>possíveis sinais sutis estão ausência de iniciativa na conversação ou</p><p>incapacidade de recuperar a independência.</p><p>3.</p><p>a.</p><p>b.</p><p>c.</p><p>4.</p><p>Isquemia cerebral tardia. Vasospasmo é o estreitamento das artérias na base</p><p>do cérebro após a HSA. Ele pode causar isquemia e infarto sintomáticos em</p><p>cerca de 30% dos pacientes, e é a principal causa de morbidade e morte</p><p>tardias. Os sinais de isquemia aparecem 4 a 14 dias após a hemorragia, mais</p><p>frequentemente após 7 dias. A intensidade e a distribuição do vasospasmo</p><p>determinam se haverá infarto.</p><p>Acredita-se que o vasospasmo resulta de efeitos diretos do sangue</p><p>coagulado e seus produtos de degradação sobre as artérias dentro do</p><p>espaço subaracnóideo. Em geral, quanto maior a quantidade de sangue</p><p>circundando as artérias, maior a chance de vasospasmo sintomático. O</p><p>espasmo de grandes artérias produz sintomas atribuíveis ao território</p><p>vascular pertinente (Cap. 419). Todos esses sintomas focais podem</p><p>surgir abruptamente, ter caráter flutuante ou instalar-se ao longo de</p><p>alguns dias. Na maioria dos casos, o espasmo focal é precedido de</p><p>declínio do estado mental.</p><p>O vasospasmo é detectável de maneira confiável pela angiografia</p><p>convencional, mas esse procedimento é invasivo e implica risco de</p><p>acidente vascular cerebral (AVC) e outras complicações. A</p><p>ultrassonografia com DTC baseia-se no princípio de que a velocidade</p><p>do fluxo sanguíneo dentro de uma artéria aumenta à medida que o</p><p>diâmetro de sua luz diminui. Por meio da varredura dos trajetos de</p><p>ACM e segmento proximal da ACA, carótida terminal, vertebral e</p><p>basilar, em exames diários ou em dias alternados, pode-se detectar</p><p>vasospasmo de maneira fidedigna e instituir o tratamento para prevenir</p><p>isquemia cerebral (ver adiante). A angio-TC é outro método capaz de</p><p>detectar vasospasmo.</p><p>O edema cerebral grave em pacientes com infarto por vasospasmo</p><p>pode elevar suficientemente a PIC, e, assim, reduzir a pressão de</p><p>perfusão cerebral (PPC). O tratamento pode incluir manitol,</p><p>hiperventilação e, nos casos intratáveis, hemicraniectomia; a</p><p>hipotermia moderada também pode ser indicada.</p><p>Hiponatremia. A hiponatremia pode ser profunda e desenvolver-se</p><p>rapidamente nas primeiras 2 semanas após a HSA. Há natriurese e depleção</p><p>de volume com a HSA, de modo que os pacientes evoluem com</p><p>hiponatremia e hipovolemia. Os peptídeos natriuréticos atrial e cerebral</p><p>participam da gênese dessa “síndrome cerebral perdedora de sal”. Em geral,</p><p>o problema melhora ao longo de 1 a 2 semanas e, no contexto de HSA, não</p><p>deve ser tratada com restrição de água livre em razão do maior risco de</p><p>AVC (ver adiante).</p><p>Avaliação laboratorial e neurorradiológica (Fig. 302-1) A marca registrada da</p><p>ruptura de aneurisma é a presença de sangue no líquido cerebrospinal (LCS). Em</p><p>mais de 95% dos casos, há sangue suficiente para ser visualizado com TC de alta</p><p>qualidade sem contraste obtida em 72 horas. Se a TC não definir o diagnóstico</p><p>de HSA e não for encontrada nenhuma lesão de massa ou hidrocefalia obstrutiva,</p><p>deve-se realizar punção lombar (PL) (ver vídeo de procedimento clínico P6)</p><p>para confirmar a presença de sangue subaracnóideo. A lise de hemácias e</p><p>subsequente conversão de hemoglobina em bilirrubina tinge o LCS de amarelo</p><p>em 6 a 12 horas. Esse LCS xantocrômico atinge intensidade máxima após 48</p><p>horas e dura 1 a 4 semanas, de acordo com a quantidade de sangue no espaço</p><p>subaracnóideo.</p><p>https://fast.player.liquidplatform.com/pApiv2/embed/26df01495f4648e381a43a57a87a764d/32596a40bae8788bf7c5cf849f12901a</p><p>FIGURA 302-1 Hemorragia subaracnóidea. A. Angiotomografia computadorizada revelando aneurisma</p><p>da artéria cerebelar superior esquerda. B. Tomografia computadorizada sem contraste ao nível do terceiro</p><p>ventrículo revelando sangue no espaço subaracnóideo (hiperdenso) na fissura de Sylvius esquerda e dentro</p><p>do ventrículo lateral esquerdo. C. Angiografia convencional anteroposterior das artérias vertebral direita e</p><p>basilar revelando um grande aneurisma. D. Angiografia convencional após embolização do aneurisma com</p><p>coils (molas). Nesse procedimento, o corpo do aneurisma é preenchido com molas de platina por meio de</p><p>microcateter introduzido pela artéria femoral até o colo do aneurisma.</p><p>A extensão e a localização do sangue subaracnóideo na TC sem contraste</p><p>ajudam a localizar o aneurisma subjacente, identificar a causa de qualquer déficit</p><p>neurológico e predizer a ocorrência de vasospasmo. Observou-se alta incidência</p><p>de vasospasmo sintomático na ACM e na ACA quando a TC inicial mostra</p><p>coágulos subaracnóideos > 5 × 3 mm nas cisternas basilares, ou camadas de</p><p>sangue com espessura > 1 mm nas fissuras cerebrais. A TC prediz com menor</p><p>fidedignidade vasospasmo nas artérias vertebral, basilar ou cerebral posterior.</p><p>Indica-se PL antes de exame neurorradiológico somente quando não houver</p><p>disponibilidade de TC no momento da suspeita de HSA. Uma vez que haja</p><p>suspeita diagnóstica de hemorragia por ruptura de aneurisma sacular, em geral</p><p>realiza-se angiografia convencional de quatro vasos (artérias carótidas e</p><p>vertebrais) para localizar e definir os detalhes anatômicos do aneurisma e</p><p>determinar se existem outros aneurismas íntegros (Fig. 302-1C). Em alguns</p><p>centros, o aneurisma roto é tratado por meio de técnicas endovasculares no</p><p>momento da angiografia inicial como uma forma de acelerar o tratamento e</p><p>reduzir o número de procedimentos invasivos. A angio-TC é um método</p><p>alternativo para localizar o aneurisma e pode ser suficiente para planejar o</p><p>tratamento definitivo.</p><p>A monitoração constante (1 ou 2 vezes ao dia) dos eletrólitos é importante,</p><p>porque a hiponatremia pode ocorrer abruptamente durante as primeiras 2</p><p>semanas após a HSA (ver anteriormente).</p><p>O eletrocardiograma com frequência mostra alterações do segmento ST e</p><p>da onda T semelhantes àquelas associadas à isquemia cardíaca. Complexo QRS</p><p>alargado, intervalo QT aumentado e ondas T simétricas “apiculadas”</p><p>proeminentes ou profundamente invertidas costumam ser secundários à</p><p>hemorragia intracraniana. Há evidências de que lesões miocárdicas estruturais</p><p>produzidas por catecolaminas circulantes e descarga excessiva de neurônios</p><p>simpáticos possam ocorrer após HSA, causando essas alterações no</p><p>eletrocardiograma e uma miocardiopatia reversível porém suficiente para induzir</p><p>choque ou insuficiência cardíaca congestiva. A ecocardiografia revela um padrão</p><p>de anormalidade regional de movimento de parede que acompanha a distribuição</p><p>dos nervos simpáticos, e não as principais artérias coronárias, com preservação</p><p>relativa do ápice da parede ventricular. Os próprios nervos simpáticos parecem</p><p>ser lesionados por toxicidade direta em função da liberação excessiva de</p><p>catecolaminas. É frequente haver elevação assintomática da troponina. Arritmias</p><p>ventriculares graves ocorrendo em ambiente hospitalar são raras.</p><p>TRATAMENTO</p><p>Hemorragia subaracnóidea</p><p>O reparo precoce do aneurisma evita a rerruptura e permite a aplicação segura de técnicas para aumentar o</p><p>fluxo sanguíneo (p. ex., hipertensão induzida) caso o paciente evolua com vasospasmo e ICT. O aneurisma</p><p>pode ser “clipado” por um neurocirurgião ou receber um coil (“mola”) introduzido por um cirurgião</p><p>endovascular. O reparo cirúrgico envolve a colocação de clipe de metal pelo colo do aneurisma, eliminando</p><p>imediatamente o risco de ressangramento. Essa conduta requer craniotomia e retração do cérebro, e está</p><p>associada à morbidade neurológica. As técnicas endovasculares consistem na instalação de molas de</p><p>platina, ou outro material embólico, dentro do aneurisma</p><p>por intermédio de cateter introduzido a partir da</p><p>artéria femoral. O aneurisma é comprimido firmemente para intensificar a trombose e com o tempo é</p><p>excluído da circulação (Fig. 302-1D). Houve dois ensaios prospectivos randomizados comparando cirurgia</p><p>com tratamento endovascular para aneurisma roto: o primeiro foi o International Subarachnoid Aneurysm</p><p>Trial (ISAT), interrompido precocemente quando se constatou que 24% dos pacientes tratados por técnica</p><p>endovascular estavam mortos ou dependentes após 1 ano em comparação com 31% daqueles tratados</p><p>cirurgicamente, ou seja, redução relativa significativa de 23%. Após 5 anos de seguimento, o risco de morte</p><p>mostrou-se menor no grupo tratado com embolização com molas, embora a proporção de sobreviventes</p><p>com vida independente fosse a mesma em ambos os grupos. O risco de ressangramento foi baixo, mas os</p><p>episódios foram mais frequentes no grupo tratado com embolização com molas. Esses resultados favoráveis</p><p>ao tratamento endovascular após 1 ano foram confirmados em um segundo ensaio, embora as diferenças</p><p>nos resultados funcionais não tenham mais sido significativas após 3 anos. Considerando que alguns</p><p>aneurismas possuem morfologia que não permite tratamento endovascular, a cirurgia continua a ser uma</p><p>opção terapêutica importante. Novas técnicas endovasculares usando a colocação de molas assistida por</p><p>balão ou a colocação de stents com desvio de fluxo estão aumentando os tipos de aneurismas passíveis de</p><p>intervenção endovascular. Os hospitais que combinam recursos endovasculares e neurocirúrgicos</p><p>provavelmente oferecem os melhores resultados aos pacientes; há dados sólidos mostrando que os centros</p><p>especializados no tratamento de aneurismas possuem menores taxas de mortalidade.</p><p>FIGURA 302-2 Vasospasmo da artéria cerebral média (ACM) direita. A. A angiografia por cateter</p><p>mostra estreitamento significativo da ACM direita. B. Devido à isquemia cerebral tardia sintomática, foi</p><p>usada a angioplastia por balão para dilatar a porção proximal do tronco da ACM.</p><p>O tratamento clínico da HSA deve focar na proteção das vias aéreas, controle da pressão arterial antes</p><p>e depois do tratamento do aneurisma, prevenção de ressangramento antes do tratamento, manejo do</p><p>vasospasmo e ICT, tratamento da hidrocefalia e da hiponatremia, limitação de lesões cerebrais secundárias e</p><p>prevenção de embolia pulmonar (EP).</p><p>A hipertensão intracraniana após ruptura de aneurisma decorre de sangue no espaço subaracnóideo,</p><p>hematoma parenquimatoso, hidrocefalia aguda ou perda da autorregulação vascular. Os pacientes que</p><p>estejam em estupor devem ser submetidos à ventriculostomia de emergência para medir a PIC e tratá-la, se</p><p>elevada, a fim de prevenir isquemia cerebral. As medidas clínicas destinadas a combater a PIC elevada (p.</p><p>ex., terapia osmótica e sedação) também podem ser usadas, se necessário. A PIC elevada refratária ao</p><p>tratamento é sinal de prognóstico reservado.</p><p>Antes do tratamento definitivo do aneurisma roto, é necessário ter cautela para manter perfusão</p><p>cerebral adequada e, ao mesmo tempo, evitar elevação excessiva da pressão arterial. Se o paciente estiver</p><p>alerta, é razoável reduzir a pressão arterial sistólica a níveis inferiores a 160 mmHg por meio de</p><p>nicardipino, labetalol ou esmolol. Se o paciente estiver com depressão do nível de consciência, deve-se</p><p>medir a PIC a fim de manter PPC entre 60 e 70 mmHg. Se houver cefaleia ou dor cervical intensa,</p><p>prescrevem-se sedação leve e analgesia. Se possível, evita-se sedação extrema para não reduzir a</p><p>capacidade clínica de detectar alterações do estado neurológico. Há necessidade de hidratação adequada</p><p>para evitar hipovolemia, a qual predispõe à isquemia cerebral.</p><p>As convulsões são incomuns no quadro inicial de ruptura de aneurisma. Os tremores, os abalos e a</p><p>postura extensora que muitas vezes acompanham a perda da consciência provavelmente estão relacionados</p><p>com elevação abrupta da PIC ou, talvez, com vasospasmo agudo generalizado, e não representam</p><p>convulsões. Contudo, algumas vezes administram-se anticonvulsivantes como tratamento profilático, uma</p><p>vez que uma convulsão teoricamente poderia promover ressangramento.</p><p>Os glicocorticoides podem ajudar a reduzir a cefaleia e a dor cervical causadas pelo efeito irritativo do</p><p>sangue no espaço subaracnóideo. Não há evidências de qualidade confirmando que reduzam o edema</p><p>cerebral, sejam neuroprotetores, ou reduzam a lesão vascular; portanto, seu uso rotineiro não é</p><p>recomendado.</p><p>Os antifibrinolíticos não são prescritos rotineiramente, mas podem ser considerados em pacientes cujo</p><p>aneurisma não possa ser tratado imediatamente. Seu uso foi associado à redução na incidência de rerruptura</p><p>de aneurisma, mas também ao aumento no risco de ICT e de trombose venosa profunda (TVP). Diversos</p><p>trabalhos recentes sugeriram que o uso com duração menor (até que o aneurisma esteja seguro ou nos</p><p>primeiros 3 dias) pode reduzir a taxa de rerruptura e com mais segurança do que a indicada nos primeiros</p><p>trabalhos com tratamento mais longo.</p><p>A ICT por vasospasmo continua a ser a principal causa de morbidade e mortalidade após HSA por</p><p>aneurisma. O tratamento com o antagonista do canal de cálcio nimodipino (60 mg, via oral, 4/4 horas)</p><p>melhora o prognóstico, talvez por prevenir lesão isquêmica e não por reduzir o risco de vasospasmo. O</p><p>nimodipino causa hipotensão significativa em alguns pacientes, o que pode agravar a isquemia cerebral</p><p>naqueles com vasospasmo. O vasospasmo cerebral sintomático também pode ser tratado com aumento da</p><p>PPC produzido por elevação da pressão arterial média e por expansão do volume plasmático, assim como</p><p>pelo uso criterioso de vasopressores IV, em geral a fenilefrina ou a norepinefrina. A elevação da pressão de</p><p>perfusão foi associada à melhora clínica em muitos pacientes, porém a hipertensão arterial pode promover</p><p>ressangramento de aneurismas desprotegidos. O tratamento com hipertensão e hipervolemia induzidas</p><p>geralmente exige monitoração das pressões arterial e venosa central; a infusão de agentes pressóricos é mais</p><p>bem realizada por cateter venoso central. A expansão de volume ajuda a prevenir hipotensão e aumenta o</p><p>débito cardíaco.</p><p>Se a ICT devido ao vasospasmo sintomático persistir apesar do tratamento clínico ideal, devem ser</p><p>considerados os vasodilatadores intra-arteriais e a angioplastia transluminal percutânea (Fig. 302-2). A</p><p>vasodilatação por angioplastia direta parece ser permanente, permitindo que a terapia hipertensiva seja</p><p>progressivamente suspensa mais cedo. Os efeitos dos vasodilatadores farmacológicos (verapamil e</p><p>nicardipino) não duram mais do que cerca de 24 horas; portanto, é possível que haja necessidade de várias</p><p>doses até que o sangue subaracnóideo seja reabsorvido. Embora a papaverina intra-arterial seja um</p><p>vasodilatador eficaz, há evidências de que possa ser neurotóxica; por esse motivo, seu uso em geral deve ser</p><p>evitado.</p><p>A hidrocefalia aguda pode causar estupor ou coma. É possível haver remissão espontânea ou</p><p>necessidade de drenagem ventricular temporária. Nos casos que evoluem com hidrocefalia crônica, a</p><p>derivação ventricular é o tratamento de escolha.</p><p>A restrição de água livre está contraindicada nos pacientes com HSA e risco de ICT, uma vez que</p><p>existe a possibilidade de hipovolemia e hipotensão, bem como precipitação de isquemia cerebral. Muitos</p><p>pacientes mantêm um declínio do sódio sérico apesar da administração parenteral de soro fisiológico a</p><p>0,9%. Com frequência, a suplementação de sal por via oral com administração de solução salina a 0,9%</p><p>atenua a hiponatremia, porém muitos pacientes</p><p>como hipoglicemia, anoxia, uremia e falência hepática; esses tipos</p><p>de causas metabólicas de coma são muito mais comuns do que as lesões</p><p>estruturais.</p><p>Coma devido a lesões expansivas cerebrais e síndromes de herniação Além</p><p>da restrição fixa do crânio, a cavidade craniana é separada em compartimentos</p><p>por pregas internas da dura-máter. Os dois hemisférios cerebrais são separados</p><p>pela foice; e as fossas anterior e posterior, pelo tentório. Herniação refere-se ao</p><p>deslocamento do tecido cerebral por uma massa sobrejacente ou adjacente para</p><p>dentro de um compartimento contíguo que ele normalmente não ocupa. Coma e</p><p>muitos dos seus sinais associados podem ser atribuídos a esses deslocamentos</p><p>teciduais, e determinadas características clínicas são típicas de herniações</p><p>específicas (Fig. 300-1). São, em essência, sinais de “falsa localização”, porque</p><p>decorrem de compressão de estruturas cerebrais distantes da lesão expansiva que</p><p>é a causa direta do coma.</p><p>FIGURA 300-1 Tipos de herniação cerebral: (A) uncal; (B) central; (C) transfalcial; e (D) foraminal.</p><p>Na forma mais comum de herniação, o tecido cerebral é deslocado do</p><p>compartimento supratentorial para o infratentorial pela abertura tentorial; isso é</p><p>chamado de herniação transtentorial. A herniação transtentorial uncal se refere à</p><p>impactação do giro temporal medial anterior (unco) para dentro da abertura</p><p>tentorial adjacente e imediatamente anterior ao mesencéfalo (Fig. 300-1A). O</p><p>unco comprime o terceiro nervo em seu percurso no espaço subaracnóideo,</p><p>causando dilatação da pupila ipsilateral como primeiro sinal (as fibras que</p><p>servem à função pupilar parassimpática localizam-se perifericamente no nervo).</p><p>O coma resultante advém de compressão do mesencéfalo (e, assim, do SRA)</p><p>contra a borda tentorial oposta pelo giro para-hipocampal deslocado (Fig. 300-</p><p>2). O deslocamento lateral do mesencéfalo pode comprimir o pedúnculo cerebral</p><p>oposto contra a borda tentorial, produzindo sinal de Babinski e hemiparesia</p><p>contralateral à hemiparesia resultante da massa (sinal de Kernohan-Woltman). A</p><p>herniação também pode comprimir as artérias cerebrais anterior e posterior</p><p>quando elas passam sobre as reflexões tentoriais, com infarto cerebral resultante.</p><p>As distorções também podem comprometer partes do sistema ventricular,</p><p>resultando em hidrocefalia.</p><p>FIGURA 300-2 Imagens coronal (A) e axial (B) de ressonância magnética de paciente em estupor com</p><p>paralisia do terceiro nervo esquerdo decorrente de um grande hematoma subdural no lado esquerdo (visto</p><p>como uma margem branco-acinzentada). O mesencéfalo superior e as regiões talâmicas inferiores estão</p><p>comprimidos e deslocados horizontalmente para longe da massa, e há herniação transtentorial das estruturas</p><p>do lobo temporal medial, incluindo o unco anteriormente. O ventrículo lateral oposto ao hematoma</p><p>aumentou em razão de compressão do terceiro ventrículo.</p><p>A herniação transtentorial central denota um movimento descendente</p><p>simétrico das estruturas talâmicas pela abertura tentorial com compressão do</p><p>mesencéfalo superior (Fig. 300-1B). Pupilas mióticas e sonolência são os sinais</p><p>prenunciadores, em contrapartida à pupila aumentada unilateralmente da</p><p>síndrome uncal. As herniações transtentoriais uncais e centrais causam</p><p>compressão progressiva do tronco encefálico e do SRA, com lesão inicial ao</p><p>mesencéfalo, depois à ponte e, por fim, ao bulbo. O resultado é uma sequência</p><p>aproximada de sinais neurológicos que corresponde a cada nível afetado, sendo</p><p>os centros respiratórios no tronco encefálico geralmente preservados até</p><p>tardiamente na síndrome de herniação. Outras formas de herniação incluem a</p><p>herniação transfalcial (deslocamento do giro do cíngulo sob a foice e pela linha</p><p>média, Fig. 300-1C) e herniação foraminal (descida forçada das tonsilas do</p><p>cerebelo para dentro do forame magno, Fig. 300-1D), que causa compressão</p><p>precoce do bulbo, parada respiratória e morte.</p><p>Nem sempre se encontra uma relação direta entre as diversas configurações</p><p>de herniação transtentorial e coma. Sonolência e estupor podem ocorrer com</p><p>deslocamentos horizontais moderados do diencéfalo (tálamo) antes que as</p><p>herniações transtentoriais sejam evidentes. Esse deslocamento lateral pode ser</p><p>quantificado nas imagens axiais de tomografia computadorizada (TC) e RM (Fig</p><p>. 300-2). Nos casos de massas de crescimento agudo, um deslocamento</p><p>horizontal da glândula pineal (geralmente calcificada em adultos) de 3 a 5 mm</p><p>geralmente está associado com sonolência; de 6 a 8 mm, com estupor; e de > 9</p><p>mm, com coma. A intrusão do lobo temporal medial para dentro da abertura</p><p>tentorial também é evidente na RM e na TC como obliteração das cisternas que</p><p>circundam o tronco encefálico superior.</p><p>Coma por distúrbios metabólicos e toxinas (incluindo induzido por</p><p>fármacos e drogas) Muitas anormalidades metabólicas sistêmicas causam coma</p><p>por interrupção do transporte de substratos energéticos (p. ex., oxigênio, glicose)</p><p>ou alteração da excitabilidade neuronal (fármacos, álcool, anestesia e epilepsia).</p><p>Essas são algumas das principais causas de coma em grandes séries de casos. As</p><p>anormalidades metabólicas que produzem coma podem, em formas mais leves,</p><p>induzir um estado confusional agudo. Assim, nas encefalopatias metabólicas, a</p><p>consciência obscurecida e o coma pertencem a um espectro contínuo.</p><p>Os neurônios cerebrais dependem completamente do fluxo sanguíneo</p><p>cerebral (FSC) e do transporte de oxigênio e glicose. O FSC é de</p><p>aproximadamente 75 mL por 100 g/min na substância cinzenta e de 30 mL por</p><p>100 g/min na substância branca (média de cerca de 55 mL por 100 g/min); o</p><p>consumo de oxigênio é de 3,5 mL por 100 g/min, e a utilização de glicose é de 5</p><p>mg por 100 g/min. As reservas cerebrais de glicose são capazes de garantir a</p><p>energia por cerca de 2 minutos após a interrupção do fluxo sanguíneo, e as</p><p>reservas de oxigênio duram 8 a 10 segundos após a cessação do fluxo sanguíneo.</p><p>Hipoxia e isquemia simultâneas exaurem a glicose mais rapidamente. O ritmo do</p><p>eletrencefalograma (EEG) nessas circunstâncias torna-se difusamente lento,</p><p>típico das encefalopatias metabólicas, e, à medida que o transporte de substratos</p><p>se deteriora, subsequentemente a atividade elétrica cerebral cessa.</p><p>Diferentemente da hipoxia-isquemia, que causa destruição neuronal, a</p><p>maior parte dos distúrbios metabólicos, como hipoglicemia, hiponatremia,</p><p>hiperosmolaridade, hipercapnia, hipercalcemia e insuficiências hepática e renal,</p><p>causa alterações neuropatológicas apenas leves. Os efeitos reversíveis desses</p><p>distúrbios no cérebro não são completamente compreendidos, mas podem advir</p><p>de reservas de energia reduzidas, alterações no fluxo de íons pelas membranas</p><p>neuronais e anormalidades dos neurotransmissores. Na encefalopatia hepática</p><p>(EH), as concentrações elevadas de amônia levam ao aumento da síntese de</p><p>glutamina nos astrócitos, com edema osmótico, falência energética mitocondrial,</p><p>produção de espécies reativas do nitrogênio e oxigênio, aumentos no</p><p>neurotransmissor inibitório ácido γ-aminobutírico (GABA) e síntese de supostos</p><p>“falsos neurotransmissores”. Outros fatores, incluindo a coexistência de</p><p>inflamação e anormalidades metabólicas, também contribuem para o coma em</p><p>alguns pacientes. Com o tempo, o desenvolvimento de astrocitose difusa é típico</p><p>da EH crônica. O mecanismo da encefalopatia da disfunção renal também é</p><p>multifatorial. Diferentemente da amônia, a ureia não produz toxicidade no</p><p>sistema nervoso central (SNC), e os contribuidores para a encefalopatia urêmica</p><p>podem incluir o acúmulo de substâncias neurotóxicas como creatinina, guanidina</p><p>e compostos relacionados, a depleção de catecolaminas, a alteração</p><p>também necessitam de solução salina hipertônica IV. Deve-</p><p>se ter cuidado para não corrigir o sódio sérico com rapidez excessiva nos pacientes com hiponatremia</p><p>intensa presente há vários dias, pois a síndrome de desmielinização osmótica (Cap. 301) pode ocorrer.</p><p>Todos os pacientes devem usar meias de compressão pneumática para prevenir embolia pulmonar. A</p><p>heparina não fracionada, administrada por via subcutânea para profilaxia de TVP, pode ser iniciada dentro</p><p>de 1 a 2 dias após o tratamento endovascular ou a craniotomia com ligadura cirúrgica, e é uma medida</p><p>adjuvante útil ao uso de meias compressivas pneumáticas. O tratamento da EP depende de o aneurisma já</p><p>ter sido tratado ou não e se o paciente foi submetido à craniotomia. A anticoagulação sistêmica com</p><p>heparina está contraindicada nos pacientes com aneurismas rotos e não tratados. Há contraindicação relativa</p><p>por vários dias após craniotomia e seu uso pode retardar a trombose de um aneurisma tratado com</p><p>embolização com mola. Se ocorrer TVP ou EP nos primeiros dias após craniotomia, pode-se considerar</p><p>indicar o uso de filtro de veia cava inferior para prevenção de EPs adicionais, enquanto a anticoagulação</p><p>sistêmica com heparina é o tratamento preferencial após tratamento endovascular bem-sucedido.</p><p>LEITURAS ADICIONAIS</p><p>Diringer MN et al: Critical care management of patients following aneurysmal</p><p>subarachnoid hemorrhage: Recommendations from the Neurocritical Care</p><p>Society’s Multidisciplinary Consensus Conference. Neurocrit Care 15:211,</p><p>2011.</p><p>Etminan N, MacDonald RL: Management of aneurysmal subarachnoid</p><p>hemorrhage. Handb Clin Neurol 140:195, 2017.</p><p>Molyneux AJ et al: The durability of endovascular coiling versus neurosurgical</p><p>clipping of ruptured cerebral aneurysms: 18 year follow-up of the UK</p><p>cohort of the International Subarachnoid Aneurysm Trial (ISAT). Lancet</p><p>385:691, 2015.</p><p>do tônus de</p><p>glutamato e GABA, o aumento no cálcio cerebral, a inflamação com ruptura da</p><p>barreira hematencefálica e a frequente coexistência de doença vascular.</p><p>Coma e convulsões são manifestações comuns de alterações significativas</p><p>no equilíbrio de sódio e água no cérebro. Essas alterações da osmolaridade</p><p>advêm de distúrbios clínicos sistêmicos, como cetoacidose diabética, estado</p><p>hiperosmolar não cetótico e hiponatremia de qualquer causa (p. ex., intoxicação</p><p>hídrica, secreção excessiva de hormônio antidiurético ou de peptídeos</p><p>natriuréticos atriais). Níveis de sódio < 125 mmol/L induzem confusão, e níveis</p><p>< 119 mmol/L estão normalmente associados a coma e convulsões,</p><p>especialmente quando esses níveis são alcançados rapidamente. No coma</p><p>hiperosmolar, a osmolaridade sérica geralmente é > 350 mOsmol/L. A</p><p>hipercapnia deprime o nível de consciência de maneira proporcional à elevação</p><p>do dióxido de carbono (CO2) no sangue. Em todas essas encefalopatias</p><p>metabólicas, o grau de alteração neurológica depende, em grande parte, da</p><p>rapidez com que as alterações séricas ocorrem. A fisiopatologia de outras</p><p>encefalopatias metabólicas, como aquelas decorrentes de hipercalcemia,</p><p>hipotireoidismo, deficiência de vitamina B12 e hipotermia, é compreendida</p><p>incompletamente, mas deve refletir desequilíbrios da bioquímica, da função das</p><p>membranas no SNC e dos neurotransmissores.</p><p>O coma causado por fármacos e toxinas costuma ser, em grande medida,</p><p>reversível e não deixa lesão residual, desde que não sobrevenha à insuficiência</p><p>cardiorrespiratória. Muitos medicamentos e toxinas são capazes de deprimir a</p><p>função do sistema nervoso. Alguns produzem coma pela ação sobre o SRA e o</p><p>córtex cerebral. A combinação de sinais do córtex e do tronco encefálico, que</p><p>ocorre em certas superdosagens medicamentosas, pode levar ao diagnóstico</p><p>incorreto de doença estrutural do tronco encefálico. A superdosagem de</p><p>medicamentos que têm ações atropínicas produz sinais como midríase,</p><p>taquicardia e pele seca; a superdosagem de opiáceos produz contração pupilar de</p><p>< 1 mm de diâmetro. Algumas intoxicações medicamentosas, como por</p><p>barbituratos, podem simular todos os sinais de morte cerebral; assim, as</p><p>etiologias tóxicas devem sempre ser excluídas antes de se fazer um diagnóstico</p><p>de morte cerebral.</p><p>Coma epiléptico Convulsões elétricas generalizadas são associadas ao coma,</p><p>mesmo na ausência de convulsões motoras (estado epiléptico não convulsivo).</p><p>Como resultado, é fundamental considerar o monitoramento por EEG na</p><p>avaliação de coma para a exclusão dessa etiologia tratável. O coma autolimitado</p><p>que sucede uma convulsão, o estado pós-ictal, pode advir da exaustão das</p><p>reservas de energia ou dos efeitos de moléculas localmente tóxicas que são</p><p>subproduto das convulsões. O estado pós-ictal produz lentidão contínua e</p><p>generalizada da atividade de base do EEG, à semelhança de outras</p><p>encefalopatias metabólicas. Ele normalmente dura alguns minutos, mas em</p><p>alguns casos pode ser prolongado por horas ou mesmo (raramente) dias.</p><p>Coma devido à lesão difusa dos hemisférios cerebrais Essa categoria, que</p><p>abrange uma série de distúrbios não relacionados, resulta de lesão cerebral</p><p>estrutural extensa bilateral, simulando, assim, uma desordem metabólica.</p><p>Hipoxia-isquemia talvez seja o exemplo mais bem caracterizado, no qual</p><p>inicialmente não é possível distinguir entre os efeitos agudos reversíveis da</p><p>privação de oxigênio do cérebro e os efeitos subsequentes da lesão neuronal.</p><p>Lesão cerebral semelhante pode ser produzida por distúrbios que ocluem os</p><p>pequenos vasos sanguíneos espalhados em todo o cérebro; os exemplos incluem</p><p>malária cerebral, púrpura trombocitopênica trombótica e hiperviscosidade. A</p><p>lesão difusa de substância branca decorrente de traumatismo craniano ou</p><p>doenças inflamatórias desmielinizantes pode causar uma síndrome comatosa</p><p>semelhante.</p><p>ABORDAGEM AO PACIENTE</p><p>Coma</p><p>Um exame de paciente comatoso é mostrado no Vídeo 300-1. Os</p><p>problemas respiratórios e cardiovasculares agudos devem ser abordados</p><p>antes da avaliação neurológica. Na maioria dos casos, a avaliação médica</p><p>completa, exceto pelos sinais vitais, pela fundoscopia e pela pesquisa de</p><p>rigidez de nuca, pode ser adiada até que o exame neurológico estabeleça a</p><p>gravidade e a natureza do coma. A abordagem ao paciente com coma</p><p>decorrente de traumatismo craniano é descrita no Capítulo 435.</p><p>HISTÓRIA</p><p>A causa do coma pode ser imediatamente evidente em casos de trauma,</p><p>parada cardíaca ou ingestão de fármaco testemunhada. Nas demais, certos</p><p>pontos são úteis: (1) as circunstâncias e a rapidez com que os sintomas</p><p>neurológicos surgiram; (2) os sintomas precedentes (confusão, fraqueza,</p><p>cefaleia, febre, convulsões, tontura, diplopia ou vômitos); (3) o uso de</p><p>medicamentos, drogas ou álcool; e (4) doenças hepática, renal, pulmonar,</p><p>cardíaca crônicas ou outras doenças clínicas. A inquirição direta de</p><p>familiares, observadores e técnicos da ambulância na cena, pessoalmente ou</p><p>por telefone, é uma parte importante da avaliação, quando possível.</p><p>EXAME FÍSICO GERAL</p><p>https://fast.player.liquidplatform.com/pApiv2/embed/26df01495f4648e381a43a57a87a764d/1e70ac61edac875d8f0d64c18bb2064e</p><p>Febre sugere infecção sistêmica, meningite bacteriana, encefalite,</p><p>intermação, síndrome neuroléptica maligna, hipertermia maligna devido a</p><p>anestésicos ou intoxicação por fármacos anticolinérgicos. Apenas raramente</p><p>a febre é atribuível a uma lesão que tenha alterado o centro hipotalâmico de</p><p>regulação da temperatura (“febre central”), e esse diagnóstico só deve ser</p><p>considerado após a busca exaustiva por outras causas não conseguir revelar</p><p>uma explicação para a febre. Elevação discreta da temperatura pode suceder</p><p>a convulsões vigorosas. A hipotermia é observada na intoxicação por álcool,</p><p>barbitúricos, sedativos ou fenotiazinas; na hipoglicemia; na insuficiência</p><p>circulatória periférica; ou no hipotireoidismo extremo. A própria hipotermia</p><p>causa coma quando a temperatura estiver < 31°C independentemente da</p><p>etiologia subjacente. A taquipneia pode indicar acidose sistêmica ou</p><p>pneumonia. Os padrões respiratórios aberrantes que refletem distúrbios do</p><p>tronco encefálico serão descritos adiante. Hipertensão acentuada sugere</p><p>encefalopatia hipertensiva, hemorragia cerebral, grande infarto cerebral ou</p><p>traumatismo craniano. A hipotensão é típica do coma por intoxicação por</p><p>álcool ou barbitúricos; hemorragia interna; infarto agudo do miocárdio</p><p>causando baixo fluxo sanguíneo no cérebro; sepse; hipotireoidismo</p><p>profundo; ou crise de Addison. O exame fundoscópico pode detectar</p><p>aumento da pressão intracraniana (PIC), hemorragia subaracnóidea</p><p>(hemorragias sub-hialóideas) e encefalopatia hipertensiva (exsudatos,</p><p>hemorragias, alterações de cruzamentos arteriovenosos, papiledema).</p><p>Petéquias cutâneas sugerem púrpura trombocitopênica trombótica,</p><p>meningococemia ou diátese hemorrágica associada a uma hemorragia</p><p>intracerebral. Cianose e pele anêmica ou de coloração avermelhada são</p><p>outras indicações de doença sistêmica subjacente ou monóxido de carbono</p><p>como responsável pelo coma.</p><p>EXAME NEUROLÓGICO</p><p>O paciente deve primeiro ser observado sem intervençao do examinador.</p><p>Gestos de revolver-se no leito, aproximar uma mão da face, cruzar as pernas,</p><p>bocejar, deglutir, tossir ou gemer refletem um estado sonolento que está</p><p>próximo da vigília normal. A ausência de movimentos inquietos em um lado</p><p>ou um membro inferior em rotação lateral sugere hemiplegia. Movimentos</p><p>sutis e intermitentes</p><p>tipo fasciculação de um pé, dedo ou músculo facial</p><p>podem ser o único sinal de convulsões. Mioclonias multifocais quase sempre</p><p>indicam um distúrbio metabólico, em particular uremia, anoxia, intoxicação</p><p>medicamentosa ou, raramente, doença priônica (Cap. 430). Em um paciente</p><p>sonolento e confuso, asterixe bilateral é um sinal de encefalopatia metabólica</p><p>ou intoxicação medicamentosa.</p><p>Rigidez ou “postura” de decorticação ou de descerebração descrevem</p><p>movimentos estereotipados dos braços e das pernas que ocorrem</p><p>espontaneamente ou são suscitados por estimulação sensitiva. A flexão dos</p><p>cotovelos e dos pulsos e supinação dos braços (postura de decorticação)</p><p>sugerem lesão bilateral rostral ao mesencéfalo, enquanto a extensão dos</p><p>cotovelos e dos pulsos com pronação (postura de descerebração) indicam</p><p>lesão dos tratos motores caudais ao mesencéfalo. Essas localizações foram</p><p>adaptadas de estudos que envolveram animais e não são aplicáveis com</p><p>precisão ao coma em seres humanos. Na verdade, distúrbios agudos e</p><p>disseminados de qualquer tipo, independentemente da localização, com</p><p>frequência causam extensão dos membros.</p><p>NÍVEL DE CONSCIÊNCIA</p><p>Usa-se uma sequência de estímulos cada vez mais intensos para determinar o</p><p>limiar de consciência e da resposta motora em cada lado do corpo. Os</p><p>resultados do teste podem variar minuto a minuto, e exames sucessivos são</p><p>úteis. Tocar de leve nas narinas com um filete de algodão é um estímulo</p><p>moderado para o despertar – todos os pacientes, exceto aqueles em estupor</p><p>profundo ou coma, afastam a cabeça e despertam em algum grau. Um grau</p><p>ainda maior de responsividade está presente se o paciente usa a mão para</p><p>remover um estímulo agressor. A compressão das articulações dos dedos ou</p><p>de proeminências ósseas e a estimulação com alfinete de segurança são</p><p>formas compassivas de estímulos dolorosos; um beliscão na pele causa</p><p>equimoses e geralmente é desnecessário, mas pode ser útil para suscitar</p><p>movimentos de retirada em abdução dos membros. A “postura” em resposta a</p><p>um estímulo nocivo indica lesão grave ao sistema corticospinal, enquanto o</p><p>movimento de abdução-retirada de um membro em geral é proposital e</p><p>denota um sistema corticospinal íntegro. A “postura” também pode ser</p><p>unilateral e coexistir com movimentos propositais do membro, refletindo</p><p>lesão incompleta ao sistema motor.</p><p>REFLEXOS DO TRONCO ENCEFÁLICO</p><p>Como os núcleos dos nervos cranianos e o SRA estão localizados no tronco</p><p>encefálico, a avaliação da função do tronco encefálico é fundamental para a</p><p>localização da lesão no coma (Fig. 300-3). Os pacientes com reflexos do</p><p>tronco encefálico preservados geralmente têm localização bi-hemisférica do</p><p>coma, incluindo causa tóxica ou farmacológica, enquanto os pacientes com</p><p>reflexos anormais do tronco encefálico têm localização do coma no SRA ou</p><p>estão sofrendo de uma síndrome de herniação com impacto remoto no tronco</p><p>encefálico por uma lesão expansiva cerebral. Os reflexos mais importantes</p><p>do tronco encefálico que são examinados incluem tamanho pupilar e reação à</p><p>luz, movimentos oculares espontâneos e provocados, respostas corneanas e</p><p>padrão respiratório.</p><p>FIGURA 300-3 Exame dos reflexos do tronco encefálico no coma. A função do mesencéfalo e do</p><p>terceiro nervo é testada por meio da reação pupilar à luz, da função pontina pelos movimentos oculares</p><p>espontâneos e reflexos e pelas respostas corneanas; e a função bulbar, pelas respostas respiratórias e</p><p>faríngeas. Os movimentos oculares horizontais conjugados reflexos dependem da conexão pelo</p><p>fascículo longitudinal medial (FLM) entre o núcleo do sexto nervo e o núcleo do terceiro nervo</p><p>contralateral. A rotação da cabeça (reflexo oculocefálico) e a estimulação calórica dos labirintos</p><p>(reflexo oculovestibular) suscitam movimentos oculares contraversivos (ver detalhes no texto).</p><p>Sinais pupilares As reações pupilares são examinadas com uma luz difusa</p><p>brilhante. Pupilas reativas e redondas de tamanho médio (2,5 a 5 mm)</p><p>essencialmente excluem lesão do mesencéfalo superior, primária ou</p><p>secundária à compressão. Uma resposta à luz pode ser difícil de avaliar em</p><p>pupilas com diâmetro < 2 mm, e a iluminação forte do ambiente anula a</p><p>reatividade pupilar. Uma pupila aumentada (> 6 mm)e lentamente reativa</p><p>significa compressão ou estiramento do terceiro nervo pelos efeitos de uma</p><p>massa cerebral sobre ele. A dilatação da pupila contralateral a uma massa</p><p>hemisférica pode ocorrer, mas é infrequente. Uma pupila oval e ligeiramente</p><p>excêntrica é um sinal transitório que acompanha a compressão incipiente do</p><p>mesencéfalo-terceiro nervo. O sinal pupilar mais extremo, pupilas dilatadas e</p><p>não reativas bilateralmente, indica lesão grave do mesencéfalo, em geral</p><p>compressão por uma massa supratentorial. Ingestão de fármacos com</p><p>atividade anticolinérgica, uso de gotas oftálmicas midriáticas, tratamentos</p><p>com nebulização e traumatismo ocular direto estão entre as causas de</p><p>midríase enganosa.</p><p>Pupilas reativas e bilateralmente pequenas (1 a 2,5 mm), mas não</p><p>puntiformes, são observadas nas encefalopatias metabólicas ou nas lesões</p><p>hemisféricas bilaterais profundas, como hidrocefalia ou hemorragia talâmica.</p><p>Pupilas ainda menores (< 1 mm), porém reativas, caracterizam superdosagem</p><p>de narcóticos ou barbitúricos, mas também ocorrem na hemorragia pontina</p><p>extensa. A resposta à naloxona e a presença de movimentos oculares reflexos</p><p>(ver adiante) ajudam a distinguir entre esses casos. A miose unilateral no</p><p>coma é atribuída à disfunção de eferentes simpáticos que se originam no</p><p>hipotálamo posterior e descem no tegmento do tronco encefálico até a</p><p>medula espinal cervical. É um achado eventual em pacientes com hemorragia</p><p>cerebral volumosa que acomete o tálamo.</p><p>Movimentos oculares Os olhos são observados primeiro por elevação das</p><p>pálpebras e observação da posição em repouso e dos movimentos</p><p>espontâneos dos globos. A divergência horizontal dos olhos em repouso é</p><p>normal durante a sonolência. Quando o coma se aprofunda, os eixos oculares</p><p>podem tornar-se paralelos novamente.</p><p>Os movimentos oculares espontâneos no coma frequentemente</p><p>assumem a forma de movimentos errantes horizontais conjugados. Em si,</p><p>esse achado isenta a lesão extensa no mesencéfalo e na ponte e tem o mesmo</p><p>significado de movimentos oculares reflexos normais (ver adiante). O desvio</p><p>ocular horizontal conjugado para um lado indica lesão do lobo frontal</p><p>ipsilateral ou, menos comumente, da ponte no lado oposto. Esse fenômeno é</p><p>resumido pela seguinte máxima: os olhos olham em direção a uma lesão</p><p>hemisférica e para longe de uma lesão no tronco encefálico. As convulsões</p><p>envolvendo o lobo frontal desviam os olhos para o lado oposto, simulando</p><p>uma lesão destrutiva da ponte. Os olhos podem, por vezes, virar-se</p><p>paradoxalmente para longe do lado de uma lesão hemisférica profunda</p><p>(“olhos na direção errada”). Os olhos voltam-se para baixo e para dentro com</p><p>lesões no tálamo e no mesencéfalo superior, em geral hemorragia talâmica.</p><p>Bobbing ocular descreve movimentos oculares rápidos para baixo e lentos</p><p>para cima associados à perda dos movimentos horizontais e é diagnóstico de</p><p>lesão pontina bilateral, em geral por trombose da artéria basilar. Dipping</p><p>ocular é um movimento arrítmico e mais lento para baixo, seguido de</p><p>movimento mais rápido para cima em pacientes com olhar horizontal reflexo</p><p>normal; geralmente indica lesão anóxica cortical difusa.</p><p>Os reflexos oculocefálicos, desencadeados pelo movimento da cabeça</p><p>de um lado para o outro ou verticalmente e pela observação dos movimentos</p><p>dos olhos na direção oposta ao movimento da</p><p>cabeça, dependem da</p><p>integridade dos núcleos motores oculares e dos seus tratos de interconexão,</p><p>que se estendem do mesencéfalo à ponte e ao bulbo (Fig. 300-3). Os</p><p>movimentos, chamados de forma um pouco inadequada de “olhos de</p><p>boneca”, estão normalmente suprimidos no paciente acordado com lobos</p><p>frontais intactos. A capacidade de suscitá-los, então, reflete a redução da</p><p>influência cortical sobre o tronco encefálico e as vias intactas do tronco</p><p>encefálico. O oposto, ausência dos movimentos oculares reflexos, geralmente</p><p>indica lesão dentro do tronco encefálico, mas pode advir de superdosagem de</p><p>determinados fármacos. Nessa circunstância, tamanho pupilar e fotorreação</p><p>normais distinguem a maioria dos comas induzidos por fármacos da lesão</p><p>estrutural do tronco encefálico. Os reflexos oculocefálicos nunca devem ser</p><p>obtidos em pacientes com possível trauma craniano ou cervical, pois os</p><p>movimentos vigorosos da cabeça podem precipitar ou piorar uma lesão de</p><p>medula espinal.</p><p>A estimulação térmica, ou “calórica”, do aparelho vestibular (resposta</p><p>oculovestibular) oferece um estímulo mais intenso para o reflexo</p><p>oculocefálico, mas fornece basicamente as mesmas informações. Realiza-se</p><p>o teste irrigando o canal auditivo externo com água fria a fim de induzir</p><p>correntes de convecção nos labirintos. Após breve latência, o resultado é o</p><p>desvio tônico dos dois olhos para o lado da irrigação com água fria. Em</p><p>pacientes comatosos, o nistagmo na direção oposta pode não ocorrer. O</p><p>acrônimo “COWS” tem sido usado para lembrar gerações de estudantes de</p><p>medicina sobre a direção do nistagmo – cold water opposite, warm water</p><p>same, ou água fria oposto, água morna o mesmo –, mas como o nistagmo</p><p>costuma estar ausente na direção oposta devido à disfunção do lobo central</p><p>no coma, esse mnemônico nem sempre é verdadeiro.</p><p>Quando a córnea é tocada com um filete de algodão, em geral observa-</p><p>se uma resposta, a qual consiste em fechamento breve e bilateral das</p><p>pálpebras. O reflexo corneano depende da integridade das vias pontinas entre</p><p>o quinto (aferente) e os dois sétimos (eferentes) nervos cranianos; juntamente</p><p>com os movimentos oculares reflexos, é um teste útil da função pontina. Os</p><p>fármacos depressores do SNC diminuem ou eliminam as respostas corneanas</p><p>logo depois da paralisia dos movimentos oculares reflexos, mas antes que a</p><p>fotorreação das pupilas seja abolida. A resposta corneana pode ser perdida</p><p>durante um período no mesmo lado da hemiplegia aguda.</p><p>Padrões respiratórios Seu valor de localização é menor em comparação com</p><p>os demais sinais do tronco encefálico. Respiração superficial e lenta, mas</p><p>regular, sugere depressão metabólica ou medicamentosa. A respiração de</p><p>Cheyne-Stokes na sua forma cíclica típica, terminando com um breve</p><p>período apneico, significa lesão bi-hemisférica ou supressão metabólica e</p><p>costuma acompanhar o coma leve. A respiração rápida e profunda (de</p><p>Kussmaul) geralmente indica acidose metabólica, mas também pode ocorrer</p><p>nas lesões pontomesencefálicas. Suspiros agônicos resultam de lesão do</p><p>tronco encefálico caudal (bulbo) e são reconhecidos como o padrão</p><p>respiratório terminal de lesão cerebral grave. Diversas outras variações</p><p>respiratórias cíclicas foram descritas, mas têm menor importância.</p><p>ESTUDOS LABORATORIAIS E DE IMAGEM</p><p>Os exames mais úteis para o diagnóstico de coma são: análise toxicológica</p><p>bioquímica do sangue e da urina, TC ou RM do encéfalo, EEG e análise do</p><p>líquido cerebrospinal (LCS). A gasometria arterial é útil em pacientes com</p><p>doença pulmonar e distúrbios acidobásicos. Os distúrbios metabólicos mais</p><p>encontrados na prática clínica em geral são revelados por meio da medição de</p><p>eletrólitos, glicose, cálcio, magnésio, osmolaridade e funções renal (ureia) e</p><p>hepática (NH3). A análise toxicológica é essencial em todo caso de coma quando</p><p>o diagnóstico não é definido de imediato. Contudo, a presença de drogas ou</p><p>toxinas exógenas, em especial o álcool, não exclui a possibilidade de que outros</p><p>fatores, em particular o traumatismo craniano, também estejam contribuindo</p><p>para o estado clínico. Um nível de etanol de 43 mmol/L (0,2 g/dL) em pacientes</p><p>não habituados em geral compromete a atividade mental; um nível > 65 mmol/L</p><p>(0,3 g/dL) está associado a estupor. O desenvolvimento de tolerância pode</p><p>possibilitar que alguns alcoolistas crônicos permaneçam acordados a níveis > 87</p><p>mmol/L (0,4 g/dL).</p><p>A disponibilidade de TC e RM dirige a atenção para as causas de coma que</p><p>são detectáveis por imagem (p. ex., hemorragia, tumor ou hidrocefalia). Adotar</p><p>primariamente essa abordagem, embora às vezes seja oportuno, é imprudente</p><p>porque a maioria dos casos de coma (e confusão) é de origem metabólica ou</p><p>tóxica. Uma TC normal não exclui uma lesão anatômica como causa do coma;</p><p>infarto hemisférico bilateral precoce, infarto agudo do tronco encefálico,</p><p>encefalite, meningite, lesão por cisalhamento mecânico de axônios secundária a</p><p>traumatismo craniano fechado, trombose do seio sagital, lesão hipóxica e</p><p>hematoma subdural isodenso com o cérebro adjacente são alguns dos distúrbios</p><p>que podem não ser detectados. Algumas vezes os resultados de imagem podem</p><p>ser confusos, como quando hematomas subdurais pequenos ou acidentes</p><p>vasculares cerebrais (AVCs) antigos são encontrados, mas o coma do paciente é</p><p>causado por intoxicação.</p><p>O EEG (Cap. 418) oferece indicações nos estados metabólicos ou</p><p>induzidos por fármacos, mas raramente é diagnóstico. No entanto, é o exame</p><p>essencial para revelar coma por crises epilépticas não convulsivas e mostra</p><p>padrões bastante típicos na encefalite por herpes-vírus e na doença de príon</p><p>(Creutzfeldt-Jakob). O EEG pode, ainda, ser útil na revelação de retardamento</p><p>generalizado da atividade de base, um reflexo da gravidade da encefalopatia. A</p><p>lentificação de alta voltagem predominante (ondas δ ou trifásicas) nas regiões</p><p>frontais é típica de coma metabólico, bem como de insuficiência hepática, e a</p><p>atividade rápida (β) difusa implica os fármacos sedativos (p. ex.,</p><p>1.</p><p>a.</p><p>b.</p><p>c.</p><p>d.</p><p>e.</p><p>f.</p><p>g.</p><p>h.</p><p>i.</p><p>2.</p><p>a.</p><p>b.</p><p>c.</p><p>d.</p><p>benzodiazepínicos). Um padrão especial de “coma alfa”, definido por atividade</p><p>difusa e variável de 8 a 12 Hz, assemelha-se superficialmente ao ritmo α normal</p><p>da vigília, mas, diferentemente da atividade α, não é alterado pelos estímulos</p><p>ambientais. O coma alfa resulta de lesão pontina ou cortical difusa e está</p><p>associado a um prognóstico ruim. A atividade α normal no EEG, que é suprimida</p><p>por estimulação do paciente, também alerta o clínico para a síndrome de</p><p>encarceramento ou para a histeria ou catatonia.</p><p>A punção lombar (PL) (ver vídeo de procedimento clínico P6) deve ser</p><p>realizada se não houver causa aparente, pois o exame do LCS ainda é</p><p>indispensável no diagnóstico de várias formas de meningite e encefalite. Um</p><p>exame de imagem deve ser realizado antes da PL para excluir uma grande lesão</p><p>expansiva intracraniana que poderia levar à herniação pela PL. As hemoculturas</p><p>e a administração de antibióticos devem preceder o exame de imagem se houver</p><p>suspeita de meningite (Cap. 133).</p><p>DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL DE COMA</p><p>(Tab. 300-1) As causas de coma se dividem em três categorias gerais: casos sem</p><p>sinais neurológicos focais (p. ex., encefalopatias metabólicas e tóxicas); casos</p><p>com sinais focais proeminentes (p. ex., AVC, hemorragia cerebral); e síndromes</p><p>de meningite, caracterizadas por febre ou rigidez da nuca e excesso de células no</p><p>LCS (p. ex., meningite bacteriana, hemorragia subaracnóidea, encefalite). As</p><p>causas de coma súbito incluem ingestão de medicamentos, traumatismo, parada</p><p>cardíaca,</p><p>epilepsia e oclusão de artéria basilar. O coma de início subagudo</p><p>costuma estar relacionado com um problema clínico ou neurológico preexistente</p><p>ou, menos frequentemente, secundário a um edema cerebral que circunda uma</p><p>massa, como tumor ou infarto cerebral.</p><p>TABELA 300-1 ■ Diagnóstico diferencial de coma</p><p>Doenças que não causam sinais neurológicos focais do tronco encefálico ou lateralizantes (a TC costuma ser normal)</p><p>Intoxicações: álcool, fármacos sedativos, opiáceos, etc.</p><p>Distúrbios metabólicos: anoxia, hiponatremia, hipernatremia, hipercalcemia, acidose diabética, hiperglicemia hiperosmolar não cetótica,</p><p>hipoglicemia, uremia, coma hepático, hipercapnia, crise de Addison, estados de hipo e hipertireoidismo, deficiência nutricional profunda</p><p>Infecções sistêmicas graves: pneumonia, sepse, febre tifoide, malária, síndrome de Waterhouse-Friderichsen</p><p>Choque por qualquer causa</p><p>Estado epiléptico, estado epiléptico não convulsivo, estados pós-ictais</p><p>Síndromes de hiperperfusão, incluindo encefalopatia hipertensiva, eclâmpsia, síndrome de encefalopatia posterior reversível</p><p>Hipertermia e hipotermia graves</p><p>Concussão</p><p>Hidrocefalia aguda</p><p>Doenças que causam sinais focais do tronco encefálico ou cerebrais lateralizantes (a TC é geralmente anormal)</p><p>Hemorragia hemisférica (nos núcleos da base, no tálamo) ou infarto (território extenso da artéria cerebral média) com compressão</p><p>secundária do tronco encefálico</p><p>Infarto do tronco encefálico causado por trombose ou embolia da artéria basilar</p><p>Abscesso cerebral, empiema subdural</p><p>Hemorragias epidural e subdural, contusão cerebral</p><p>https://fast.player.liquidplatform.com/pApiv2/embed/26df01495f4648e381a43a57a87a764d/32596a40bae8788bf7c5cf849f12901a</p><p>e.</p><p>f.</p><p>g.</p><p>h.</p><p>3.</p><p>a.</p><p>b.</p><p>c.</p><p>d.</p><p>Tumor cerebral com edema circundante</p><p>Hemorragia e infarto cerebelares e pontinos</p><p>Lesão cerebral traumática difusa</p><p>Coma metabólico (ver anteriormente) no contexto de lesão focal preexistente</p><p>Doenças que causam irritação meníngea com ou sem febre e com excesso de leucócitos ou hemácias no LCS</p><p>Hemorragia subaracnóidea por ruptura de aneurisma, malformação arteriovenosa, traumatismo</p><p>Meningite e meningoencefalite infecciosas</p><p>Meningite paraneoplásica e autoimune</p><p>Meningite carcinomatosa e linfomatosa</p><p>Siglas: LCS, líquido cerebrospinal; TC, tomografia computadorizada.</p><p>O diagnóstico de coma devido à doença cerebrovascular pode ser difícil (C</p><p>ap. 419). As doenças mais comuns são (1) hemorragia nos núcleos da base e no</p><p>tálamo (início agudo, mas não instantâneo, vômitos, cefaleia, hemiplegia e sinais</p><p>oculares típicos); (2) hemorragia pontina (início súbito, pupilas puntiformes,</p><p>perda dos movimentos oculares reflexos e respostas corneanas, bobbing ocular,</p><p>“postura” e hiperventilação); (3) hemorragia cerebelar (cefaleia occipital,</p><p>vômitos, paresia do olhar e incapacidade de permanecer em pé e andar); (4)</p><p>trombose da artéria basilar (pródromo neurológico ou episódios de alerta,</p><p>diplopia, disartria, vômitos, anormalidades dos movimentos oculares e da</p><p>resposta corneana e paresia assimétrica dos membros); e (5) hemorragia</p><p>subaracnóidea (coma súbito após cefaleia intensa súbita e vômitos). O AVC mais</p><p>comum – infarto no território da artéria cerebral média – não costuma causar</p><p>coma, mas o edema em volta do grande infarto pode expandir-se durante vários</p><p>dias e provocar coma em decorrência de um efeito de massa.</p><p>A síndrome de hidrocefalia aguda acompanha muitas doenças</p><p>intracranianas, em particular a hemorragia subaracnóidea. Caracteriza-se por</p><p>cefaleia e às vezes vômitos que podem evoluir rapidamente para coma, com</p><p>postura extensora dos membros, sinal de Babinski bilateral, pupilas mióticas não</p><p>reativas e déficit dos movimentos oculocefálicos na direção vertical. Às vezes, o</p><p>coma pode não ter característica alguma, sem sinais lateralizantes, embora o</p><p>papiledema costume estar presente.</p><p>MORTE CEREBRAL</p><p>É um estado de interrupção irreversível de toda função cerebral e do tronco</p><p>encefálico com preservação da atividade cardíaca e manutenção da função</p><p>respiratória e somática por meios artificiais. A morte cerebral é o único tipo de</p><p>lesão cerebral que é moral, ética e legalmente reconhecido como equivalente à</p><p>morte. Os critérios para o diagnóstico de morte cerebral têm avançado, e é</p><p>essencial seguir os padrões de consenso, pois múltiplos estudos mostraram</p><p>variabilidade nas práticas locais. Considerando as implicações de tal diagnóstico,</p><p>os médicos devem ser abrangentes e precisos na determinação da morte cerebral.</p><p>Os critérios estabelecidos são simples, podem ser estabelecidos à beira do leito e</p><p>não oferecem chance para um erro diagnóstico. Eles contêm dois elementos</p><p>essenciais, após a confirmação de que não há fatores de confusão presentes (p.</p><p>ex., hipotermia, intoxicação medicamentosa): (1) destruição cortical difusa,</p><p>refletida por coma profundo e irresponsividade a todas as formas de estímulos;</p><p>(2) lesão global do tronco encefálico, demonstrada por ausência de fotorreação</p><p>pupilar e de reflexos corneanos, perda dos reflexos oculovestibulares, e</p><p>destruição do bulbo, manifestada por apneia total e irreversível. O diabetes</p><p>insípido costuma estar presente, mas pode surgir apenas horas ou dias depois do</p><p>aparecimento dos demais sinais clínicos de morte cerebral. As pupilas costumam</p><p>ter tamanho médio, mas podem estar alargadas. A perda de reflexos tendíneos</p><p>profundos não é imprescindível, porque a medula espinal continua funcionante.</p><p>Algumas vezes, outros reflexos que se originam na medula espinal podem estar</p><p>presentes e não devem impedir um diagnóstico de morte cerebral.</p><p>A demonstração de que a apneia decorre de lesão bulbar estrutural exige</p><p>que a PCO2 esteja alta o bastante para estimular a respiração durante um teste de</p><p>respiração espontânea. O teste de apneia pode ser realizado de maneira segura</p><p>por meio de pré-oxigenação com oxigênio a 100% antes e depois da remoção do</p><p>ventilador. A tensão de CO2 aumenta cerca de 0,3 a 0,4 kPa/min (2 a 3</p><p>mmHg/min) durante apneia. A apneia é confirmada se nenhum esforço</p><p>respiratório for observado na presença de PCO2 suficientemente elevada. O teste</p><p>de apneia em geral é interrompido se houver instabilidade cardiovascular grave.</p><p>Pode-se utilizar um EEG isoelétrico como um teste opcional de</p><p>confirmação de lesão cerebral total. A cintilografia cerebral com radionuclídeo,</p><p>angiografia cerebral ou Doppler transcraniano também podem ser incluídos para</p><p>demonstrar a ausência de FSC quando se deseja um exame confirmatório.</p><p>Algum período de observação, geralmente 6 a 24 horas, é recomendado,</p><p>durante o qual os sinais clínicos de morte cerebral são sustentados. É</p><p>aconselhável retardar o teste clínico por pelo menos 24 horas caso uma parada</p><p>cardíaca tenha causado a morte cerebral ou não se saiba a doença causadora.</p><p>É amplamente aceito na sociedade ocidental que o ventilador pode ser</p><p>desconectado de um paciente com morte cerebral e que a doação de órgãos é</p><p>subsequentemente possível. É importante haver uma boa comunicação entre o</p><p>médico e a família com preparação adequada da família para os testes de morte</p><p>cerebral e seu diagnóstico.</p><p>TRATAMENTO</p><p>Coma</p><p>O objetivo imediato em pacientes comatosos é a prevenção de lesão adicional do sistema nervoso.</p><p>Hipotensão, hipoglicemia, hipercalcemia, hipoxia, hipercapnia e hipertermia devem ser corrigidas</p><p>rapidamente. Uma cânula orofaríngea é adequada para manter a faringe aberta em um paciente sonolento</p><p>que esteja respirando normalmente. A intubação traqueal é indicada se houver apneia, obstrução das vias</p><p>aéreas superiores, hipoventilação ou vômitos ou se o paciente tiver risco de aspiração. A ventilação</p><p>mecânica é essencial se houver hipoventilação ou necessidade de induzir hipocapnia a fim de reduzir a PIC.</p><p>Obtém-se acesso intravenoso</p><p>(IV) e administram-se naloxona e glicose se houver possibilidade de</p><p>superdosagem de narcótico ou hipoglicemia; fornece-se tiamina juntamente com a glicose para evitar</p><p>encefalopatia de Wernicke em pacientes desnutridos. Em casos de suspeita de AVC isquêmico incluindo a</p><p>trombose basilar com isquemia do tronco encefálico, costuma-se usar o ativador do plasminogênio tecidual</p><p>IV ou a embolectomia mecânica após a exclusão de hemorragia cerebral e quando o paciente se apresentar</p><p>dentro da janela terapêutica estabelecida para essas intervenções (Cap. 420). A fisostigmina pode acordar</p><p>pacientes com superdosagem de fármacos do tipo anticolinérgico, mas só deve ser usada com monitoração</p><p>rigorosa; muitos médicos acreditam que a fisostigmina deve ser usada apenas no tratamento de arritmias</p><p>cardíacas associadas à superdosagem de anticolinérgicos. O uso de antagonistas dos benzodiazepínicos</p><p>oferece alguma possibilidade de melhora após uma superdosagem; porém, esses fármacos não são</p><p>comumente usados empiricamente, em parte devido à sua tendência a provocar convulsões. Outros comas</p><p>tóxicos ou induzidos por fármacos têm tratamentos específicos, como fomepizol para ingestão de</p><p>etilenoglicol.</p><p>A administração de soluções hipotônicas IV deve ser monitorada cuidadosamente em toda doença</p><p>cerebral aguda grave, devido ao potencial de exacerbar o edema cerebral. Os traumatismos da coluna</p><p>cervical não devem ser menosprezados, sobretudo antes de uma tentativa de intubação ou da pesquisa dos</p><p>reflexos oculocefálicos. Febre e meningismo indicam a necessidade urgente de analisar o LCS para se</p><p>diagnosticar meningite. Sempre que houver suspeita de meningite bacteriana aguda, antibióticos (incluindo</p><p>vancomicina e cefalosporina de terceira geração) devem ser administrados junto com dexametasona,</p><p>preferivelmente após a obtenção de hemoculturas (ver Cap. 133). O tratamento da PIC elevada é</p><p>descrito no Capítulo 301.</p><p>PROGNÓSTICO</p><p>Alguns pacientes, especialmente crianças e adultos jovens, podem apresentar</p><p>características clínicas iniciais de mau prognóstico, como reflexos anormais de</p><p>tronco encefálico, e ainda assim se recuperar; assim, não é aconselhável fazer</p><p>um prognóstico ultraprecoce fora dos casos de morte cerebral. Os comas</p><p>metabólicos têm um prognóstico bem melhor do que os traumáticos. Todos os</p><p>sistemas para estimar o desfecho em adultos devem ser vistos como</p><p>aproximações; os julgamentos clínicos devem ser ponderados por fatores como</p><p>idade, doença sistêmica subjacente e estado clínico geral. Na tentativa de coletar</p><p>informações prognósticas de um grande número de pacientes com traumatismo</p><p>craniano, criou-se a escala de coma de Glasgow; empiricamente, essa escala tem</p><p>valor preditivo nos casos de traumatismo encefálico (ver Cap. 435). No coma</p><p>anóxico, foi demonstrado que sinais clínicos como as respostas pupilares e</p><p>motoras após 1 dia, 3 dias e 1 semana têm valor preditivo; porém, algumas</p><p>dessas regras de predição são menos confiáveis em casos de hipotermia</p><p>terapêutica e, assim, aconselha-se a realização de exames seriados nesses casos.</p><p>Também foi demonstrado que a ausência das respostas corticais de potenciais</p><p>evocados somatossensitivos é um forte indicador de desfecho ruim após a lesão</p><p>hipóxica.</p><p>O desfecho uniformemente ruim do estado vegetativo persistente já foi</p><p>mencionado, mas relatos recentes de que alguns desses pacientes exibem</p><p>ativação cortical consistente na RM funcional em resposta a estímulos marcantes</p><p>começaram a alterar a percepção dessas pessoas. Em uma série, cerca de 10%</p><p>dos pacientes vegetativos (principalmente após traumatismo craniano) podiam</p><p>ativar os lobos frontal ou temporal em resposta a solicitações feitas por um</p><p>examinador para imaginar determinadas tarefas visuoespaciais. Em um caso,</p><p>uma forma rudimentar de comunicação pôde ser estabelecida. Também existem</p><p>relatos, em um número limitado de pacientes, de melhora da função cognitiva</p><p>com a implantação de eletrodos de estimulação talâmica ou com o uso de novos</p><p>agentes ativadores, incluindo o zolpidem. É prudente evitar generalizações a</p><p>partir desses achados, mas há necessidade de mais estudos sobre as novas</p><p>técnicas para ajudar a comunicação e, possivelmente, a recuperação.</p><p>LEITURAS ADICIONAIS</p><p>Edlow JA et al: Diagnosis of reversible causes of coma. Lancet 384:2064, 2014.</p><p>Greer DM et al: Variability of brain death policies in the United States. JAMA</p><p>Neurol 73:213, 2016.</p><p>Monti MM et al: Willful modulation of brain activity in disorders of</p><p>consciousness. N Engl J Med 362:579, 2010.</p><p>Posner JB et al: Plum and Posner’s Diagnosis of Stupor and Coma, 4th ed. New</p><p>York, Oxford University Press, 2007.</p><p>Rossetti AO et al: Neurologic prognostication of outcome in patients in coma</p><p>after cardiac arrest. Lancet Neurol 15:597, 2016.</p><p>301</p><p>Encefalopatias agudas graves e fraqueza</p><p>relacionada à terapia intensiva</p><p>J. Claude Hemphill, III, Wade S. Smith, S. Andrew Josephson, Daryl R.</p><p>Gress</p><p>As doenças neurológicas ameaçadoras à vida podem ser causadas por um</p><p>distúrbio primário que acometa qualquer região do neuroeixo ou decorrer de</p><p>uma afecção sistêmica, como insuficiência hepática, falência múltipla de órgãos</p><p>ou parada cardíaca (Tab. 301-1). A terapia intensiva neurológica enfatiza a</p><p>preservação do tecido neurológico e a prevenção de lesão cerebral secundária</p><p>causada por isquemia, hemorragia, edema, herniação e pressão intracraniana</p><p>(PIC) elevada. Encefalopatia é um termo geral que descreve a disfunção cerebral</p><p>que é difusa, global ou multifocal. As encefalopatias agudas graves representam</p><p>um grupo de vários distúrbios causados por diferentes etiologias neurológicas ou</p><p>sistêmicas, mas que compartilham a lesão cerebral primária e secundária.</p><p>TABELA 301-1 ■ Distúrbios neurológicos em terapia intensiva</p><p>Localização ao longo do neuroeixo Síndrome</p><p>Sistema nervoso central</p><p>Cérebro: hemisférios cerebrais Encefalopatia global</p><p>Delirium</p><p>Sepse</p><p>Insuficiência orgânica – hepática, renal</p><p>Relacionada a fármacos – sedativos/hipnóticos, analgésicos, bloqueadores H2, anti-hipertensivos</p><p>Superdosagem de medicamento</p><p>Distúrbios eletrolíticos – hiponatremia, hipoglicemia</p><p>Hipotensão/hipoperfusão</p><p>Hipoxia</p><p>Meningite</p><p>Hemorragia subaracnóidea</p><p>Doença de Wernicke</p><p>Convulsão – estado pós-ictal ou estado epiléptico não convulsivo</p><p>Encefalopatia hipertensiva</p><p>Hipotireoidismo – mixedema</p><p>Déficits focais</p><p>Acidente vascular cerebral isquêmico</p><p>Tumor</p><p>Abscesso, empiema subdural</p><p>Hemorragia intraparenquimatosa</p><p>Hematoma subdural/epidural</p><p>Tronco encefálico/cerebelo Efeito de massa e compressão</p><p>Trombose de artéria basilar</p><p>Hemorragia intraparenquimatosa</p><p>Mielinólise pontina central</p><p>Medula espinal Efeito de massa e compressão</p><p>Hérnia de disco</p><p>Hematoma epidural</p><p>Isquemia – hipotensão/embolia</p><p>Abscesso epidural</p><p>Traumatismo</p><p>Mielite</p><p>Sistema nervoso periférico</p><p>Nervos periféricos</p><p>Axonal Polineuropatia do paciente crítico</p><p>Complicação de bloqueador neuromuscular</p><p>Distúrbios metabólicos, uremia, hiperglicemia</p><p>Efeitos de medicamentos – quimioterápicos, antirretrovirais</p><p>Desmielinizante Síndrome de Guillain-Barré</p><p>Polineuropatia desmielinizante inflamatória crônica</p><p>Junção neuromuscular Efeito prolongado de bloqueio neuromuscular</p><p>Efeitos de fármacos – aminoglicosídeos</p><p>Miastenia gravis, síndrome de Lambert-Eaton, botulismo</p><p>Músculos Miopatia do paciente crítico</p><p>Miopatia da caquexia</p><p>Miopatia necrosante aguda</p><p>Miopatia do filamento grosso</p><p>Distúrbios eletrolíticos – hipo/hiperpotassemia, hipofosfatemia</p><p>Rabdomiólise</p><p>FISIOPATOLOGIA</p><p>Edema cerebral Edema do tecido cerebral acompanha muitos tipos de lesão</p><p>cerebral. Os dois tipos principais de edema são vasogênico e citotóxico. Edema</p><p>vasogênico refere-se ao influxo de líquido e solutos para o encéfalo atravessando</p><p>uma barreira hematencefálica (BHE) incompetente. Na vasculatura cerebral</p><p>normal, as junções endoteliais oclusivas associadas aos astrócitos criam uma</p><p>barreira impermeável (a BHE), por meio da qual o acesso ao interstício cerebral</p><p>depende de mecanismos de transporte específicos. A BHE pode estar</p><p>comprometida em casos de isquemia, traumatismo, infecção e distúrbios</p><p>metabólicos. O edema vasogênico resulta de alteração na permeabilidade da</p><p>BHE e caracteristicamente evolui rapidamente após lesão. O edema citotóxico</p><p>resulta de edema celular, ruptura de membrana e, por fim, morte celular. O</p><p>edema cerebral clinicamente significativo em geral representa uma combinação</p><p>dos componentes vasogênico e citotóxico. O edema pode acarretar PIC elevada,</p><p>bem como desvios teciduais e deslocamento ou herniação cerebral a partir de</p><p>processos focais (Cap. 300). Tais desvios teciduais podem induzir lesão por</p><p>distensão e compressão mecânicas, além da isquemia por hipoperfusão</p><p>secundária à PIC elevada.</p><p>Cascata isquêmica e lesão celular Quando o transporte de substratos,</p><p>principalmente oxigênio e glicose, é inadequado para manter a função celular,</p><p>uma série de reações bioquímicas inter-relacionadas, conhecidas como cascata</p><p>isquêmica, é desencadeada (ver Fig. 419-2). A liberação de aminoácidos</p><p>excitatórios, em especial glutamato, leva ao influxo de íons cálcio e sódio, os</p><p>quais abalam a homeostase celular. A elevação na concentração intracelular de</p><p>cálcio pode ativar proteases e lipases que, então, induzem peroxidação lipídica e</p><p>lesão da membrana celular mediada por radicais livres. Ocorre edema citotóxico</p><p>e, por fim, morte celular necrótica e infarto tecidual. Essa via até a morte celular</p><p>irreversível é comum no acidente vascular cerebral (AVC) isquêmico, na</p><p>isquemia cerebral global e na lesão cerebral traumática.</p><p>A penumbra refere-se a regiões de tecido cerebral isquêmico que ainda não</p><p>sofreram infarto irreversível e, portanto, são potencialmente recuperáveis se a</p><p>isquemia for revertida. Os fatores que podem agravar a lesão cerebral isquêmica</p><p>incluem hipotensão sistêmica e hipoxia, as quais reduzem ainda mais o</p><p>transporte de substratos para o tecido cerebral vulnerável, e febre, convulsões e</p><p>hiperglicemia, que podem aumentar o metabolismo celular sobrepujando os</p><p>processos compensatórios. Clinicamente, esses eventos são chamados de lesões</p><p>cerebrais secundárias porque exacerbam a lesão cerebral primária. A prevenção,</p><p>a identificação e o tratamento das lesões cerebrais secundárias são objetivos</p><p>fundamentais do manejo.</p><p>Uma via alternativa para lesão celular é a apoptose. Esse processo implica</p><p>morte celular programada, a qual pode ocorrer no contexto de AVC isquêmico,</p><p>isquemia cerebral global, lesão cerebral traumática e, possivelmente, hemorragia</p><p>intracerebral. A morte celular por apoptose pode ser histologicamente</p><p>distinguida da morte celular por necrose relacionada com isquemia e é mediada</p><p>por um conjunto distinto de vias bioquímicas; a morte celular por apoptose</p><p>ocorre sem edema cerebral e, portanto, com frequência não é visualizada nas</p><p>imagens do cérebro. Atualmente, as intervenções para a prevenção e tratamento</p><p>da morte celular apoptótica estão menos bem definidas do que aquelas para a</p><p>isquemia.</p><p>Perfusão e autorregulação cerebrais O tecido cerebral requer perfusão</p><p>constante a fim de garantir transporte adequado de substratos. A resposta</p><p>hemodinâmica cerebral tem capacidade de preservar a perfusão em uma ampla</p><p>faixa de variação da pressão arterial sistêmica. A pressão de perfusão cerebral</p><p>(PPC), definida como a pressão arterial média (PAM) sistêmica menos a PIC,</p><p>constitui a força propulsora para a circulação pelos leitos capilares cerebrais. O</p><p>termo autorregulação refere-se à resposta fisiológica por meio da qual o fluxo</p><p>sanguíneo cerebral (FSC) é regulado via alterações na resistência</p><p>cerebrovascular a fim de manter a perfusão independentemente de amplas</p><p>variações fisiológicas como ativação neuronal ou alterações hemodinâmicas. Se</p><p>a pressão arterial sistêmica cair, a perfusão cerebral é preservada com</p><p>vasodilatação de arteríolas cerebrais; de modo semelhante, ocorre vasoconstrição</p><p>arteriolar quando há elevação da pressão sistêmica a fim de prevenir</p><p>hiperperfusão, resultando em perfusão razoavelmente constante ao longo de</p><p>variações amplas na pressão arterial (Fig. 301-1). Nos limites extremos da PAM</p><p>ou PPC (altos ou baixos), o fluxo passa a ser diretamente proporcional à pressão</p><p>de perfusão. Tais alterações da autorregulação ocorrem na microcirculação e são</p><p>mediadas por vasos abaixo da resolução daqueles visualizados na angiografia. O</p><p>FSC também é fortemente influenciado por pH e PaCO2. O FSC aumenta com</p><p>hipercapnia e acidose e é reduzido com hipocapnia e alcalose em razão de</p><p>alterações na resistência vascular cerebral relacionadas com o pH. Essa é a</p><p>justificativa para o uso de hiperventilação para redução da PIC, e esse efeito</p><p>sobre a PIC é mediado por redução no FSC e no volume sanguíneo</p><p>intracraniano. A autorregulação cerebral é um processo complexo essencial para</p><p>o funcionamento da homeostase normal do cérebro, e esse processo pode ser</p><p>comprometido de maneira focal e imprevisível em estados patológicos como</p><p>lesão cerebral traumática e isquemia cerebral focal grave.</p><p>FIGURA 301-1 Autorregulação pressórica do fluxo sanguíneo cerebral (FSC). No estado normal em</p><p>que a autorregulação está intacta (A), a perfusão cerebral é constante em uma ampla gama de pressões</p><p>arteriais (PAs) sistêmicas. Isso é mediado por dilatação e constrição de pequenas arteríolas cerebrais</p><p>(círculos arredondados). Abaixo do limiar de PA para dilatação máxima, o FSC torna-se dependente da</p><p>pressão e diminui, enquanto, acima do limiar para constrição máxima, o FSC aumenta conforme a elevação</p><p>da PA sistêmica. Na lesão cerebral grave, os mecanismos de autorregulação podem estar comprometidos e o</p><p>FSC fica dependente da pressão (B). Nos extremos de PA, pode haver colapso vascular (PA muito baixa) ou</p><p>vasodilatação forçada (PA muito alta). PAM, pressão arterial média.</p><p>Líquido cerebrospinal (LCS) e PIC O conteúdo intracraniano inclui encéfalo,</p><p>LCS e sangue. O LCS é produzido principalmente pelo plexo corióideo nos</p><p>ventrículos laterais, deixa o cérebro saindo pelos forames de Luschka e</p><p>Magendie e flui sobre o córtex até ser absorvido pelo sistema venoso ao longo</p><p>do seio sagital superior. Nos adultos, cerca de 150 mL de LCS estão contidos nos</p><p>ventrículos e circundando o encéfalo e a medula espinal; o volume sanguíneo</p><p>cerebral também é de aproximadamente 150 mL. O crânio ósseo confere</p><p>excelente proteção ao cérebro, mas pouca tolerância para aumento do volume.</p><p>Aumentos significativos no volume resultam em aumento da PIC. Obstrução do</p><p>fluxo de saída do LCS, edema de tecido cerebral ou aumentos de volume por</p><p>tumor ou hematoma podem elevar a PIC. A PIC elevada diminui a perfusão</p><p>cerebral e pode gerar isquemia tecidual. A isquemia, por sua vez, pode causar</p><p>vasodilatação por meio de mecanismos autorreguladores destinados a restaurar a</p><p>perfusão cerebral. Contudo, a vasodilatação também aumenta o volume</p><p>sanguíneo cerebral, que, por sua vez, eleva a PIC, reduz a PPC e provoca</p><p>isquemia adicional. Esse círculo vicioso costuma ser visto na lesão cerebral</p><p>traumática, na hemorragia intracerebral maciça e nos grandes infartos</p><p>hemisféricos com desvio tecidual significativo.</p><p>ABORDAGEM AO PACIENTE</p><p>Disfunção cerebral grave</p><p>Os pacientes em estado crítico com disfunção grave do sistema nervoso</p><p>central (SNC) necessitam de avaliação e</p><p>intervenção rápidas com o objetivo</p><p>de limitar a lesão cerebral primária e secundária. A avaliação neurológica</p><p>inicial deve ser realizada concomitantemente à estabilização dos parâmetros</p><p>respiratórios, cardíacos e hemodinâmicos básicos. Podem existir barreiras</p><p>significativas à avaliação neurológica na unidade de terapia intensiva (UTI),</p><p>incluindo intubação endotraqueal (ver vídeo de procedimento clínico P4) e</p><p>uso de sedativos ou de agentes paralisantes para facilitar procedimentos.</p><p>A redução do nível de consciência é comum nos pacientes graves. A</p><p>primeira tarefa essencial na avaliação é determinar se a causa da disfunção</p><p>está relacionada com um processo difuso, em geral metabólico, ou se um</p><p>processo focal, geralmente orgânico, está implicado. Os exemplos de</p><p>processos difusos incluem encefalopatias metabólicas relacionadas com</p><p>insuficiência orgânica, superdosagem de fármaco, ou hipoxia-isquemia. Os</p><p>processos focais incluem AVCs isquêmicos e hemorrágicos e lesão cerebral</p><p>traumática, em especial com hematoma intracraniano. Como essas duas</p><p>categorias de distúrbios têm causas, tratamentos e prognósticos</p><p>fundamentalmente diferentes, a prioridade inicial é fazer essa distinção de</p><p>maneira rápida e precisa. A abordagem ao paciente comatoso é discutida</p><p>no Capítulo 300; as etiologias estão listadas na Tabela 300-1.</p><p>Déficits focais leves podem ser detectados no exame neurológico de</p><p>pacientes com encefalopatias metabólicas. Contudo, o achado de sinais focais</p><p>proeminentes, como assimetria pupilar, hemiparesia, paralisia do olhar ou</p><p>https://fast.player.liquidplatform.com/pApiv2/embed/26df01495f4648e381a43a57a87a764d/f6a6e5f1791a742b34e49bafb22ab20d</p><p>déficit de campo visual, indica a possibilidade de lesão estrutural. Todos os</p><p>pacientes com redução do nível de consciência associada a achados focais</p><p>devem realizar exame de neuroimagem com urgência, assim como todos</p><p>aqueles em coma de etiologia desconhecida. A tomografia computadorizada</p><p>(TC) costuma ser o exame inicial mais apropriado, porque pode ser realizada</p><p>de maneira rápida em pacientes críticos e demonstra bem hemorragia,</p><p>hidrocefalia e desvios de tecidos intracranianos. A ressonância magnética</p><p>(RM) pode fornecer informações mais específicas em determinadas</p><p>situações, como AVC isquêmico agudo (imagem ponderada em difusão</p><p>[DWI, de diffusion-weighted imaging]). Qualquer sugestão de traumatismo</p><p>na anamnese ou no exame físico deve alertar o médico para a possibilidade</p><p>de traumatismo da coluna cervical e suscitar avaliação radiológica com TC</p><p>ou RM. Os exames de imagem neurovascular usando angiografia ou</p><p>venografia por TC ou RM estão cada vez mais disponíveis e podem sugerir</p><p>oclusão arterial ou trombose venosa cerebral.</p><p>A isquemia aguda do tronco encefálico causada por trombose da artéria</p><p>basilar pode causar episódios breves de postura em extensão espontânea, a</p><p>qual lembra, superficialmente, uma convulsão generalizada. O coma de</p><p>instalação súbita acompanhado desses movimentos e de anormalidades de</p><p>nervos cranianos indica realização de imagem de emergência. O exame de</p><p>TC do cérebro sem contraste pode revelar artéria basilar hiperdensa, o que</p><p>indica trombo no vaso, e com subsequente angiotomografia computadorizada</p><p>(angio-TC) ou angiorressonância magnética (angio-RM) é possível avaliar a</p><p>patência da artéria basilar.</p><p>Os demais exames diagnósticos são mais bem utilizados em</p><p>circunstâncias específicas, em geral quando os exames neurorradiológicos</p><p>não revelam lesão orgânica e a etiologia da alteração do estado mental</p><p>permanece indefinida. O eletrencefalograma (EEG) pode ser importante na</p><p>avaliação de pacientes críticos com disfunção cerebral grave. O EEG de</p><p>pacientes com encefalopatia metabólica revela lentidão generalizada. Uma</p><p>das aplicações mais importantes do EEG é ajudar a excluir convulsões</p><p>ocultas, em especial o estado epiléptico não convulsivo. Convulsões</p><p>contínuas ou frequentemente recorrentes não tratadas podem causar lesão</p><p>neuronal, o que torna fundamental o diagnóstico e o tratamento das crises</p><p>nesse grupo de pacientes. A punção lombar (PL) (ver vídeo de procediment</p><p>o clínico P6) pode ser necessária para excluir processos infecciosos ou</p><p>inflamatórios, e o aumento da pressão de abertura pode ser um indício</p><p>https://fast.player.liquidplatform.com/pApiv2/embed/26df01495f4648e381a43a57a87a764d/32596a40bae8788bf7c5cf849f12901a</p><p>1.</p><p>2.</p><p>importante de trombose do seio venoso cerebral. Nos pacientes em coma ou</p><p>com encefalopatia profunda, é preferível realizar um exame de neuroimagem</p><p>antes da PL. Se houver suspeita de meningite bacteriana, pode-se realizar a</p><p>PL primeiro ou administrar antibióticos empiricamente antes da conclusão</p><p>dos exames de diagnóstico. A avaliação laboratorial padrão de pacientes</p><p>graves deve incluir dosagem dos eletrólitos séricos (em particular sódio e</p><p>cálcio), glicemia, funções renal e hepática, hemograma completo e</p><p>coagulação. Deve-se solicitar triagem toxicológica sérica ou urinária nos</p><p>pacientes com encefalopatia de causa desconhecida. O EEG e a PL serão</p><p>mais úteis quando o mecanismo de alteração do nível de consciência for</p><p>incerto; esses exames não são realizados rotineiramente para diagnóstico nos</p><p>casos evidentes de AVC ou lesão cerebral traumática.</p><p>A monitoração da PIC é um recurso importante em determinados</p><p>pacientes. Em geral, os pacientes que devem ser considerados para</p><p>monitoração da PIC são aqueles com distúrbios neurológicos primários,</p><p>como AVC ou lesão cerebral traumática, que estejam sob risco significativo</p><p>de lesão cerebral secundária decorrente de PIC elevada e PPC reduzida.</p><p>Incluem-se os pacientes com: lesão cerebral traumática grave (escore na</p><p>escala de coma de Glasgow ≤ 8 [Tab. 435-2]); grandes desvios teciduais por</p><p>AVC isquêmico ou hemorrágico supratentorial; ou hidrocefalia por</p><p>hemorragia subaracnóidea (HSA), hemorragia intraventricular ou acidente</p><p>vascular na fossa posterior. Um distúrbio adicional no qual a monitoração da</p><p>PIC pode acrescentar informações importantes é a insuficiência hepática</p><p>fulminante, em que a PIC elevada pode ser tratada com barbitúricos ou,</p><p>finalmente, com transplante de fígado. Em geral, a ventriculostomia é</p><p>preferível aos dispositivos de monitoração da PIC colocados no parênquima</p><p>cerebral porque permite a drenagem de LCS como método de tratamento da</p><p>PIC elevada. Contudo, a monitoração parenquimatosa da PIC é mais</p><p>apropriada para pacientes com edema difuso e ventrículos pequenos (o que</p><p>dificulta a instalação da ventriculostomia) ou qualquer grau de coagulopatia</p><p>(na qual a ventriculostomia implica risco mais alto de complicações</p><p>hemorrágicas) (Fig. 301-2).</p><p>TABELA 301-2 ■ Abordagem em etapas para tratamento de elevação da pressão intracraniana (PIC)a</p><p>Introduzir monitor da PIC – ventriculostomia versus dispositivo parenquimatoso</p><p>Objetivos gerais: manter a PIC < 20 mmHg e a PPC ≥ 60 mmHg. Se a PIC > 20-25 mmHg por > 5 min:</p><p>Elevar cabeceira do leito; posição da cabeça na linha média</p><p>Drenar LCS por meio da ventriculostomia (se presente)</p><p>3.</p><p>4.</p><p>5.</p><p>6.</p><p>7.</p><p>8.</p><p>a.</p><p>b.</p><p>c.</p><p>Osmoterapia – manitol 25-100 g, 4/4 h, quando necessário (manter osmolalidade sérica < 320 mOsmol), ou solução salina</p><p>hipertônica (infusão em bolus de 30 mL de NaCl a 23,4%)</p><p>Glicocorticoides – dexametasona 4 mg IV-6/6 h, para edema vasogênico por tumor, abscesso (evitar glicocorticoides no traumatismo</p><p>craniano, AVC isquêmico e hemorrágico)</p><p>Sedação (p. ex., morfina, propofol ou midazolam); acrescentar paralisia neuromuscular, se necessário (o paciente precisará de</p><p>intubação endotraqueal e ventilação mecânica nesse ponto, se ainda não precisou)</p><p>Hiperventilação</p>