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<p>LARISSA ENTRINGER BONFIM</p><p>PRÁTICAS PEDAGÓGICAS: IDENTIDADE DOCENTE</p><p>PITÁGORAS UNOPAR ANHANGUERA</p><p>LICENCIATURA EM PEDAGOGIA</p><p>Bela Vista do Paraíso PR</p><p>2024</p><p>Bela Vista do Paraíso PR</p><p>2024</p><p>PRÁTICAS PEDAGÓGICAS: IDENTIDADE DOCENTE</p><p>Relatório apresentado à Universidade Unopar</p><p>Anhanguera, como requisito parcial para o</p><p>aproveitamento do curso de Pedagogia.</p><p>LARISSA ENTRINGER BONFIM</p><p>5</p><p>Introdução</p><p>A construção da identidade docente é um tema de extrema relevância no</p><p>cenário educacional contemporâneo. Com as rápidas mudanças nas demandas</p><p>sociais, culturais e tecnológicas, os professores enfrentam o desafio de equilibrar</p><p>tradições pedagógicas com a necessidade de inovação. O papel do professor, antes</p><p>visto como simples transmissor de conhecimento, hoje é percebido de forma mais</p><p>ampla, englobando a mediação de aprendizagens, a promoção de valores e o</p><p>desenvolvimento de habilidades para lidar com um mundo cada vez mais complexo.</p><p>No entanto, essa transformação traz consigo uma crise de identidade, como apontado</p><p>por Silva e Chakur (2009), que evidenciam a dificuldade de muitos educadores em</p><p>reconhecer seu valor e papel em meio a um contexto de desvalorização profissional.</p><p>António Nóvoa (2022), em sua entrevista, reforça a importância de repensar a</p><p>formação docente, enfatizando a necessidade de reflexões profundas sobre a prática</p><p>e o autoconhecimento. Segundo ele, os professores não apenas ensinam, mas</p><p>constroem sua identidade a partir da vivência, da experiência e da colaboração com</p><p>outros profissionais. Diante disso, este texto se propõe a analisar como os educadores</p><p>podem, em meio a desafios contemporâneos, construir uma identidade docente sólida</p><p>e consciente, capaz de preservar a essência da profissão e, ao mesmo tempo, abraçar</p><p>as novas demandas da educação.</p><p>Desenvolvimento</p><p>6</p><p>A identidade docente tem sido objeto de intensos debates acadêmicos,</p><p>especialmente em tempos de rápidas transformações sociais e tecnológicas. A</p><p>educação contemporânea exige dos professores não apenas a manutenção de</p><p>valores tradicionais, mas também a habilidade de adaptar-se a um cenário em</p><p>constante mudança, marcado pela diversidade cultural, inclusão e o uso de</p><p>tecnologias emergentes. Nesse contexto, a construção de uma identidade docente</p><p>autêntica, que equilibre essas demandas aparentemente antagônicas, torna-se um</p><p>dos principais desafios enfrentados pelos educadores na atualidade. A partir das</p><p>reflexões de dois textos centrais — o estudo de Silva e Chakur (2009) sobre a crise</p><p>de identidade docente e a entrevista com António Nóvoa (2022) —, busca-se, neste</p><p>ensaio, analisar criticamente como os professores podem construir uma identidade</p><p>profissional que preserve a essência de sua missão educacional ao mesmo tempo em</p><p>que responde às demandas contemporâneas.</p><p>A Crise de Identidade Docente</p><p>O artigo de Silva e Chakur (2009) explora a crise de identidade profissional que</p><p>muitos professores enfrentam, especialmente aqueles que atuam no ensino</p><p>fundamental. A crise, conforme as autoras, não é um evento súbito, mas o resultado</p><p>de um processo gradual de desprofissionalização e desvalorização da profissão. Essa</p><p>situação decorre de uma combinação de fatores, como a pressão para cumprir</p><p>múltiplos papéis dentro da escola, a falta de apoio institucional e a ausência de</p><p>reconhecimento social adequado. A crise se manifesta de diversas formas, desde a</p><p>desmotivação pessoal até uma autoimagem negativa, prejudicando não apenas a</p><p>prática docente, mas também a construção de uma identidade profissional sólida.</p><p>Um aspecto central discutido no artigo é a tomada de consciência da crise. Silva</p><p>e Chakur (2009) identificam três níveis de consciência entre os professores</p><p>entrevistados: o nível elementar ou periférico, o nível incipiente e o nível refletido. A</p><p>maioria dos professores se encontra nos níveis mais baixos de consciência,</p><p>demonstrando dificuldades para identificar as causas centrais da crise e refletir sobre</p><p>elas de maneira profunda. A falta de reflexão crítica sobre o próprio papel e os desafios</p><p>da profissão agrava a situação, tornando a crise mais difícil de superar. Esse ponto</p><p>levanta a questão de como os professores podem desenvolver uma autocompreensão</p><p>mais clara e uma reflexão mais aprofundada sobre sua prática profissional, elemento</p><p>que será explorado em maior detalhe na análise das ideias de António Nóvoa.</p><p>7</p><p>A Identidade Docente e o Conhecimento Profissional</p><p>Na entrevista conduzida por Lomba e Faria Filho (2022), António Nóvoa oferece</p><p>uma visão complementar ao abordar a construção da identidade docente como um</p><p>processo que exige reflexão crítica e a valorização do conhecimento profissional</p><p>próprio dos professores. Para Nóvoa, os docentes não devem ser vistos apenas como</p><p>aplicadores de teorias educacionais desenvolvidas por acadêmicos, mas como</p><p>produtores de conhecimento, capazes de refletir sobre suas práticas e desenvolver</p><p>novas abordagens pedagógicas baseadas em suas experiências e vivências. Essa</p><p>perspectiva desafia o modelo tradicional de formação docente, que muitas vezes</p><p>prioriza a teoria em detrimento da prática e da reflexão crítica sobre a realidade da</p><p>sala de aula.</p><p>Nóvoa (2022) destaca a importância de uma formação docente que valorize o</p><p>autoconhecimento e a autorreflexão. Para ele, a construção da identidade profissional</p><p>docente deve ocorrer em um espaço que permita ao professor refletir sobre suas</p><p>experiências, tanto individuais quanto coletivas, e como essas experiências</p><p>contribuem para sua compreensão da profissão. Além disso, Nóvoa argumenta que</p><p>os professores precisam de tempo e espaço para desenvolver uma reflexão coletiva</p><p>sobre suas práticas, criando uma "voz coletiva" que possa influenciar os debates sobre</p><p>a educação e a formação docente. Essa visão contrasta com a realidade descrita por</p><p>Silva e Chakur (2009), em que muitos professores ainda não alcançam um nível de</p><p>reflexão suficiente para compreender as raízes da crise de identidade que enfrentam.</p><p>A Formação Docente e a Autonomia Profissional</p><p>Ambos os textos enfatizam a necessidade de mudanças profundas nos</p><p>modelos de formação docente. Enquanto Silva e Chakur (2009) apontam para a</p><p>necessidade de uma maior consciência da crise entre os professores, Nóvoa (2022)</p><p>propõe uma reestruturação dos cursos de formação inicial e continuada, com foco na</p><p>integração entre teoria e prática e na criação de oportunidades para que os</p><p>professores desenvolvam autonomia profissional. Para Nóvoa, o processo de</p><p>formação docente deve assemelhar-se a uma "residência médica", onde os</p><p>professores tenham uma experiência prática supervisionada em escolas, aliada a uma</p><p>sólida base teórica. Esse modelo permitiria aos docentes refletir criticamente sobre</p><p>suas práticas desde o início de sua carreira, algo que é visto como fundamental para</p><p>o desenvolvimento de uma identidade profissional autêntica e consciente.</p><p>A visão de Nóvoa sobre a formação docente também dialoga com a questão</p><p>8</p><p>da colaboração entre professores. Ele sugere que, para que a identidade docente seja</p><p>fortalecida, é essencial que os professores trabalhem de forma colaborativa,</p><p>compartilhando experiências e refletindo conjuntamente sobre os desafios e as</p><p>práticas pedagógicas. Essa colaboração não é apenas uma estratégia pedagógica,</p><p>mas um componente central para a construção de uma identidade profissional sólida,</p><p>baseada no reconhecimento mútuo e na valorização do trabalho coletivo.</p><p>O Papel da Escola e as Demandas Contemporâneas</p><p>Outro ponto relevante discutido por Nóvoa (2022) é o papel da escola na</p><p>formação da identidade docente. Ele critica o modelo tradicional de escola, que</p><p>considera ultrapassado e incapaz de responder aos desafios contemporâneos.</p><p>Para</p><p>Nóvoa, a escola como instituição precisa passar por uma metamorfose, abandonando</p><p>estruturas rígidas e estáticas e adotando novos modelos organizacionais que</p><p>permitam maior flexibilidade, inovação pedagógica e colaboração entre professores e</p><p>alunos. Essa transformação, segundo ele, é essencial para que a escola continue</p><p>sendo um espaço relevante para a formação do ser humano em um mundo cada vez</p><p>mais complexo e dinâmico.</p><p>Essa visão de uma escola em transformação está diretamente relacionada à</p><p>construção da identidade docente. Num ambiente escolar que incentiva a inovação e</p><p>a colaboração, os professores têm mais oportunidades para desenvolver uma</p><p>identidade profissional que seja tanto reflexiva quanto adaptável. A crise de identidade</p><p>apontada por Silva e Chakur (2009) pode, portanto, ser mitigada por um ambiente</p><p>escolar que promova o autoconhecimento, a reflexão crítica e a colaboração entre os</p><p>docentes, elementos que são essenciais para o fortalecimento da identidade</p><p>profissional.</p><p>A análise dos textos de Silva e Chakur (2009) e Nóvoa (2022) revela que a</p><p>construção da identidade docente na contemporaneidade é um processo complexo,</p><p>que envolve tanto uma compreensão profunda dos desafios enfrentados pelos</p><p>professores quanto a criação de condições institucionais que promovam o</p><p>autoconhecimento, a reflexão crítica e a colaboração. Enquanto a crise de identidade</p><p>profissional descrita por Silva e Chakur destaca as dificuldades enfrentadas pelos</p><p>professores em um cenário de desvalorização e desprofissionalização, Nóvoa oferece</p><p>uma visão mais propositiva, sugerindo caminhos para a reestruturação da formação</p><p>docente e a transformação das escolas.</p><p>A construção de uma identidade docente autêntica, que preserve a essência</p><p>9</p><p>da profissão e ao mesmo tempo abrace as demandas contemporâneas, exige dos</p><p>professores não apenas a habilidade de refletir criticamente sobre suas práticas, mas</p><p>também um ambiente escolar que valorize e promova essa reflexão. A identidade</p><p>docente não é algo fixo, mas um processo contínuo de autoconhecimento e adaptação</p><p>às mudanças, e é por meio dessa reflexão constante que os professores poderão</p><p>superar a crise de identidade e afirmar seu papel na educação do futuro..</p><p>Conclusão</p><p>A questão levantada pela charge — "Afinal, o que faz um professor?" — toca</p><p>no cerne da identidade docente e da sua importância na sociedade. A resposta</p><p>proposta — "Na pior das hipóteses faz toda a diferença!" — carrega uma verdade</p><p>10</p><p>incontestável sobre o papel transformador do educador. Um professor, em seu</p><p>exercício mais básico, não apenas transmite conteúdos acadêmicos, mas participa</p><p>ativamente da formação de seres humanos capazes de pensar criticamente, agir com</p><p>ética e interagir com o mundo de maneira consciente. Isso é fundamental em tempos</p><p>de crise de identidade docente, como descrito por Silva e Chakur (2009), em que</p><p>muitos educadores enfrentam uma desvalorização social e profissional que ofusca seu</p><p>impacto real.</p><p>A construção de uma identidade docente forte é crucial para que os professores</p><p>continuem a "fazer a diferença", mesmo diante de desafios estruturais e contextuais.</p><p>António Nóvoa (2022) nos lembra que a profissão docente vai além da mera aplicação</p><p>de teorias educacionais — trata-se de um espaço de criação e reflexão, onde o</p><p>professor é também produtor de conhecimento, em constante diálogo com seus pares</p><p>e com o contexto em que atua.</p><p>Ao refletirmos sobre "o que faz um professor", devemos reconhecer que ele é</p><p>muito mais que um transmissor de informações; ele é um agente de mudança, cuja</p><p>prática pode inspirar e transformar vidas. Mesmo diante de limitações institucionais e</p><p>dificuldades pessoais, o professor, ao desenvolver uma identidade autêntica e</p><p>consciente, pode continuar fazendo a diferença, moldando futuros, construindo uma</p><p>sociedade mais justa e democrática, e promovendo o autoconhecimento e a reflexão</p><p>em seus alunos. Em última análise, é o professor quem carrega, nas pequenas e</p><p>grandes interações cotidianas, o poder de transformar o presente e semear um futuro</p><p>melhor.</p><p>11</p><p>REFERÊNCIAS</p><p>DA SILVA, E. P.; CHAKUR, C. R. de S. L. A Tomada de Consciência da Crise de</p><p>Identidade Profissional em Professores do Ensino Fundamental 1. Schème: Revista</p><p>Eletrônica de Psicologia e Epistemologia Genéticas, 2009. Disponível em:</p><p>https://www.marilia.unesp.br/Home/RevistasEletronicas/Scheme/Vol02Num03Art05.p</p><p>df.</p><p>LOMBA, Maria Lúcia Resende; FARIA FILHO, Luciano Mendes. Os professores e sua</p><p>formação profissional: entrevista com António Nóvoa. Educar em Revista, [S.l.], dez.</p><p>2022. ISSN 1984-0411. Disponível em:</p><p>https://revistas.ufpr.br/educar/article/view/88222/48158 .</p><p>REFERÊNCIAS</p>