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<p>ÉTICA: DIREITOS HUMANOS,</p><p>EDUCAÇÃO E TRABALHO</p><p>Dra. Giselle Soares</p><p>GUIA DA</p><p>DISCIPLINA</p><p>1 Ética: Direitos Humanos, Educação e Trabalho</p><p>Universidade Santa Cecília - Educação a Distância</p><p>1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS SOBRE ÉTICA E DIREITOS HUMANOS</p><p>Objetivo</p><p>Introduzir e problematizar as noções de ética, direitos humanos e cidadania,</p><p>relacionando-as com a vida social.</p><p>Introdução</p><p>A ética acompanha a humanidade no propósito de regular as relações sociais,</p><p>estabelecendo limites e trazendo à tona valores que alcançam os diferentes indivíduos.</p><p>Esses valores e normas de conduta são necessários para assegurar o processo civilizatório</p><p>de forma satisfatória com o intuito de promover desenvolvimento.</p><p>O estudo dessas noções requer que tenhamos condições de observar o mundo que</p><p>nos cerca, percebendo como se estabelecessem as diferentes relações sociais e como os</p><p>valores vigentes na sociedade se revelam nesse contexto.</p><p>Vale salientar que essas temáticas devem ser amplamente debatidas na vida em</p><p>sociedade para que todos os cidadãos se apropriem das questões presentes na vida em</p><p>sociedade, identificando coletivamente as possibilidades de respostas positivas para a</p><p>promoção da efetivação dos direitos. A participação é uma das questões centrais para a</p><p>construção e efetivação dos direitos na vida social.</p><p>1.1. Reflexões sobre a ética no nosso tempo</p><p>A ética é uma noção ou orientação que faz parte da vida em sociedade e acompanha</p><p>a humanidade ao longo do tempo. Portanto, pensar sobre a ética e identificar sua relevância</p><p>em uma sociedade pressupõe considerar suas determinações sócio-históricas, isso porque</p><p>a noção de ética é também produto da história e reflexo do que a humanidade em</p><p>determinado momento da história.</p><p>Vale lembrar que a definição e a explicação da conduta ética aceitável em dado</p><p>momento se define pelo modo de pensar dominante em uma sociedade ou grupo,</p><p>perpassando pelos valores presentes na coletividade. Assim, sabemos que a ética se</p><p>constitui e se altera de acordo com os valores presentes na vida em sociedade.</p><p>2 Ética: Direitos Humanos, Educação e Trabalho</p><p>Universidade Santa Cecília - Educação a Distância</p><p>https://ssvpbrasil.org.br/vicentinos-brasileiros-tem-novo-codigo-de-etica/ acesso em 17/02/2021</p><p>Em reflexo da influência dos valores presentes na sociedade no campo da ética, é</p><p>necessário considerar que a mesma se revela no comportamento dos indivíduos, isso</p><p>significa afirmar que a conduta ética se efetiva na ação humana. A ética se realiza à medida</p><p>que agimos, geralmente orientamos nossas ações a partir do que a sociedade define ou</p><p>espera de nós. Há um comportamento esperado aos cidadãos de uma sociedade, aos</p><p>profissionais de uma determinada profissão como os professores, médicos, policiais,</p><p>assistentes sociais. Há, inclusive, ética entre os grupos marginalizados da sociedade, tais</p><p>como encarcerados, população em situação de rua.</p><p>Desse modo, de jeitos diferentes a ética está presente em todos os grupos da</p><p>sociedade, isso faz com que sua realização e, até seu entendimento se tornem complexos</p><p>e demande observação e análise cuidadosa, por esse motivo pesquisadores, intelectuais</p><p>se dedicam ao estudo da ética, uma vez que seu estudo revela aspectos centrais sobre o</p><p>agir em sociedade. Os estudos sobre a ética podem fortalecer o debate em torno dela,</p><p>enriquecendo seu entendimento e a identificação de seu alcance entre os diferentes grupos</p><p>de uma sociedade.</p><p>A complexidade da vida em sociedade alcança o campo da ética, isso se apresenta</p><p>através de dilemas presentes, por exemplo no nosso tempo, tais como procedimentos</p><p>profissionais específicos, comportamentos realizados nas redes sociais, atualização de leis,</p><p>definição de limites possíveis para a ação humana em uma sociedade tecnológica.</p><p>https://ssvpbrasil.org.br/vicentinos-brasileiros-tem-novo-codigo-de-etica/</p><p>3 Ética: Direitos Humanos, Educação e Trabalho</p><p>Universidade Santa Cecília - Educação a Distância</p><p>1.2. A dimensão dos direitos humanos</p><p>A construção dos direitos se realizou também no curso da vida em sociedade, sendo</p><p>assim, resultado de determinações sócio-históricas que se apresentam como um produto</p><p>construído no curso da vida social.</p><p>A definição de direitos humanos pressupõe um debate sobre a noção de</p><p>humanidade, definindo limites civilizatórios a serem considerados para a construção</p><p>coletiva da vida social. Antes da elaboração dos direitos humanos percorreu-se uma</p><p>trajetória necessária para identificar a necessidade de definir quais os limites para</p><p>assegurar a toda humanidade as condições básicas para a existência e o desenvolvimento</p><p>pleno e geral.</p><p>A concepção de direitos humanos perpassa relações de poder, uma vez que a</p><p>história da humanidade é marcada por disputas, conflitos, domínio de um grupo de</p><p>indivíduos sobre outro. Tal situação demandou norteamento e regulamentação daquilo que</p><p>é possível nas diferentes relações sociais com o objetivo de assegurar a realização de um</p><p>padrão civilizatório humano.</p><p>Nesse sentido, a noção de dignidade humana respalda a definição e elaboração dos</p><p>direitos humanos. A dignidade humana é o princípio norteador da elaboração do conjunto</p><p>de direitos humanos elaborados em nossa sociedade e representa aquilo que é necessário</p><p>para assegurar uma vida digna, as condições mínimas para uma existência que permite o</p><p>desenvolvimento de cada ser humano. Assim, a dignidade humana perpassa as esferas da</p><p>educação, alimentação, moradia, saúde, participação, trabalho, cultura, ou seja, ela está</p><p>presente.</p><p>http://genjuridico.com.br/2020/09/21/principio-da-dignidade-humana/ acesso em 17/02/2021</p><p>http://genjuridico.com.br/2020/09/21/principio-da-dignidade-humana/</p><p>4 Ética: Direitos Humanos, Educação e Trabalho</p><p>Universidade Santa Cecília - Educação a Distância</p><p>Cabe ressaltar que a plena realização dos direitos humanos é um desafio que a</p><p>civilização humana ainda percorre, pois a falta de dignidade está presente em todas as</p><p>esferas da vida em sociedade e de formas diferentes, uma vez que situações como trabalho</p><p>escravo ainda convivem na nossa sociedade.</p><p>Podemos considerar que os direitos humanos envolvem um amplo debate e alcança</p><p>a elaboração dos direitos e das garantias fundamentais em sociedades diferentes, a</p><p>realização desses direitos é algo amplo e complexo e se reflete na validação de ações e</p><p>comportamentos aceitáveis na vida em sociedade.</p><p>1.3. Cidadania como caminho para a realização dos direitos</p><p>A elaboração dos direitos e o desenvolvimento da civilização perpassam a noção e</p><p>a construção da concepção de cidadania. O que configurou na condição de regulamentar,</p><p>ao menos, no campo jurídico a igualdade entre os indivíduos de uma sociedade,</p><p>independente das condições socioeconômicas desiguais.</p><p>Ao lado dos direitos, a cidadania é um marco regulatório para definir e permitir a</p><p>construção do ordenamento sociojurídico de uma sociedade, ou seja, seu conjunto de leis</p><p>e limites daquilo que é aceitável ou não para o desenvolvimento e a realização da vida em</p><p>sociedade.</p><p>A cidadania é a primeira condição para afirmam que todos os indivíduos participam</p><p>de uma mesma sociedade. Nesse caso, podemos indagar se a própria noção está clara e</p><p>apropriada, por exemplo, por todos os indivíduos da sociedade brasileira? Ainda, podemos</p><p>perguntar quais são efetivamente os espaços de participação dos cidadãos?</p><p>https://www.youtube.com/watch?app=desktop&v=wZcskBctAPQ acesso em 17/02/2021</p><p>https://www.youtube.com/watch?app=desktop&v=wZcskBctAPQ</p><p>5 Ética: Direitos Humanos, Educação e Trabalho</p><p>Universidade Santa Cecília - Educação a Distância</p><p>Assim, percebemos que a cidadania nasce com a ideia de cidade que conhecemos,</p><p>pois os cidadãos habitam as diferentes cidades ou municípios, com destaque</p><p>para</p><p>esses cargos. Não ficou, porém, apenas nisso, sendo importante assinalar que</p><p>essa Constituição ampliou bastante os direitos da cidadania.</p><p>Como inovação, foi dado ao cidadão o direito de apresentar projetos de lei,</p><p>por meio de iniciativa popular, tanto ao Legislativo federal quanto às</p><p>Assembléias Legislativas dos Estados e as Câmaras Municipais. Foi assegurado</p><p>também o direito de participar de plebiscito ou referendo, quando forem</p><p>feitas consultas ao povo brasileiro sobre projetos de lei ou atos do governo.</p><p>Além disso, foi atribuído também aos cidadãos brasileiros o direito de propor</p><p>certas ações judiciais, denominadas garantias constitucionais, especialmente</p><p>previstas para a garantia de direitos fundamentais. Entre essas ações estão a</p><p>Ação Popular e o Mandado de Segurança, que visam impedir abusos de</p><p>autoridades em prejuízo de direitos de um cidadão ou de toda a cidadania.</p><p>A par disso, a Constituição prevê a participação obrigatória de representantes</p><p>da comunidade em órgãos de consulta e decisões sobre os direitos da criança</p><p>e do adolescente, bem como na área da educação e da saúde. Essa</p><p>participação configura o exercício de direitos da cidadania e é muito</p><p>importante para a democratização da sociedade.</p><p>Em todos os Estados do mundo, inclusive no Brasil, a legislação estabelece</p><p>exigências mínimas para que um cidadão exerça os direitos relacionados com</p><p>a vida pública, o que significa a imposição de restrições para que alguém</p><p>38 Ética: Direitos Humanos, Educação e Trabalho</p><p>Universidade Santa Cecília - Educação a Distância</p><p>exerça os direitos da cidadania. De certo modo, isso mantém a diferenciação</p><p>entre cidadãos e cidadãos ativos. O dado novo é que no século vinte,</p><p>sobretudo a partir de sua Segunda metade, houve o reconhecimento de que</p><p>muitas dessas restrições eram anti-democráticas e por isso elas foram sendo</p><p>eliminadas. Um exemplo muito expressivo dessa mudança é o que aconteceu</p><p>com o direito de cidadania das mulheres. Em grande parte do mundo as</p><p>mulheres conquistaram o direito de votar e de ocupar todos os cargos</p><p>públicos, eliminando-se uma discriminação injusta que, no entanto, muitos</p><p>efeitos ainda permanece na prática.</p><p>Por último, é importante assinalar que os direitos da cidadania são, ao mesmo</p><p>tempo, deveres. Pode parecer estranho dizer que uma pessoa tem o dever de</p><p>exercer os seus direitos, porque isso dá a impressão de que tais direitos são</p><p>convertidos em obrigações. Mas a natureza associativa da pessoa humana, a</p><p>solidariedade natural característica da humanidade, a fraqueza dos indivíduos</p><p>isolados quando devem enfrentar o Estado ou grupos sociais poderosos são</p><p>fatores que tornam necessária a participação de todos nas atividades sociais.</p><p>Acrescente-se a isso a impossibilidade de viver democraticamente se os</p><p>membros da sociedade externarem suas opiniões e sua vontade. Tudo isso</p><p>torna imprescindível que os cidadãos exerçam seus direitos de cidadania.</p><p>DALLARI, Dalmo de Abreu. Direitos e Deveres da Cidadania.</p><p>http://www.dhnet.org.br/direitos/sos/textos/deveres.htm <Acesso em</p><p>23/06/2022></p><p>http://www.dhnet.org.br/direitos/sos/textos/deveres.htm</p><p>39 Ética: Direitos Humanos, Educação e Trabalho</p><p>Universidade Santa Cecília - Educação a Distância</p><p>7. BRASIL E A EFETIVAÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS</p><p>Objetivo</p><p>Compreender o processo de elaboração dos direitos no Brasil, bem como aspectos</p><p>ligados à implementação e efetivação dos direitos humanos no país.</p><p>Introdução</p><p>A noção de cidadania no Brasil se desenvolveu de forma frágil, ainda assim,</p><p>caminhamos para a afirmação dos direitos sociais e dos direitos humanos. Nesse sentido,</p><p>é necessário que o profissional em formação tenha elementos para refletir sobre as</p><p>principais características desse processo para poder orientar sua capacidade reflexiva</p><p>sobre a realidade, a qual se insere e também para orientar sua ação profissional com vistas</p><p>a formar uma conduta profissional que afirme os valores e princípios que norteiam os</p><p>direitos humanos.</p><p>7.1. Os direitos no Brasil</p><p>A construção dos direitos no Brasil refere-se a um processo lento. Historicamente o</p><p>reconhecimento da noção da cidadania, bem como os direitos sociais voltaram-se aos</p><p>trabalhadores com carteira assinada. Portanto, a universalização dos direitos sociais</p><p>passou a ser realidade no Brasil a partir da Constituição Federal de 1988, com isso</p><p>podemos considerar que a efetivação dos direitos no Brasil corresponda a um processo em</p><p>curso, embora nos deparamos neste início de século com o desmonte dos direitos sociais</p><p>em função do projeto e das políticas neoliberais também em curso no Brasil.</p><p>https://biblioo.info/censura-o-fantasma-que-volta-a-assustar-as-bibliotecas-brasileiras/ acesso em 24/02/2021</p><p>https://biblioo.info/censura-o-fantasma-que-volta-a-assustar-as-bibliotecas-brasileiras/</p><p>40 Ética: Direitos Humanos, Educação e Trabalho</p><p>Universidade Santa Cecília - Educação a Distância</p><p>Diante da configuração sobre os direitos sociais no Brasil podemos nos perguntar</p><p>como se constituiu o debate em torno dos direitos humanos no país. Cabe ressaltar que o</p><p>debate em torno da efetivação dos direitos humanos no Brasil ganhou corpo e intensidade</p><p>com o processo de redemocratização e com a validação das regras democráticas no país.</p><p>Vale lembrar que a ditadura militar brasileira representou um governo apoiado na</p><p>cassação dos direitos civis e políticos da população e durou entre os anos 1964 e 1985.</p><p>Nesse período, aqueles que se mobilizaram contra o regime foram considerados inimigos</p><p>da pátria, muitos foram exilados, mas antes torturados, alguns foram brutalmente assinados</p><p>e algumas famílias até hoje não tiveram os corpos dessas lideranças identificados.</p><p>Nesse sentido, a Comissão da Verdade representa um avanço para a identificação</p><p>dos mortos pelo governo militar brasileiro no período da ditadura. Assim, a Comissão da</p><p>Verdade fundada e 2011 corresponde a um marco para o reconhecimento dos direitos</p><p>humanos no Brasil, bem como o debate sobre as consequências da ditadura militar, uma</p><p>vez que conhecer o que representou esse tipo de governo é essencial para que possamos</p><p>superar e eliminar a possibilidade desse tipo de governo no país.</p><p>O debate sobre os direitos humanos perpassa as condições de vários grupos</p><p>excluídos da sociedade brasileira, podemos pensar na população em situação de rua, na</p><p>população confinada pelo sistema carcerário do país. O problema da violência frequente</p><p>contra a população residente nas periferias das grandes cidades ou contra a população</p><p>negra é outro ponto que merece atenção, na maior parte das vezes, a violência começa</p><p>pela própria polícia, quando essa deveria proteger indistintamente seus cidadãos, uma vez</p><p>que a segurança pública é um serviço que se apoia na realização do bem comum de uma</p><p>sociedade.</p><p>7.2. A luta por direitos humanos no Brasil</p><p>A mobilização para iniciar e efetivação dos direitos humanos no Brasil, alinhando à</p><p>agenda internacional da ONU se intensificou tardiamente, no processo de</p><p>redemocratização da sociedade. Desta forma, podemos considerar que a “Constituição</p><p>Cidadã de 1988 é muito representativa e simbólica, porque foi elaborada e proclamada</p><p>após a ruptura provocada pelo governo federal de modo a fundar a reconstrução</p><p>democrática no Brasil” (Chicarino, 2016, p.54).</p><p>41 Ética: Direitos Humanos, Educação e Trabalho</p><p>Universidade Santa Cecília - Educação a Distância</p><p>Na atual Constituição Federal brasileira estão contemplados os seis “instrumentos</p><p>fundamentais de proteção e promoção dos direitos humanos que integram a Declaração</p><p>Universal dos Direitos Humanos”: Convenção sobre a eliminação de todas as formas de</p><p>discriminação racial; Pacto internacional dos direitos civis e políticos; Pacto internacional</p><p>dos direitos econômicos, sociais e culturais; Convenção sobre a eliminação de todas as</p><p>formas</p><p>de discriminação contra a mulher; Convenção sobre os direitos da criança;</p><p>Convenção contra a tortura e outros tratamentos ou penas cruéis, desumanas ou</p><p>degradantes (Chicarino, 2016, p.55).</p><p>http://www.justificando.com/tag/convencao-para-a-eliminacao-de-todas-as-formas-de-discriminacao-contra-as-</p><p>mulheres/ acesso em 24/02/2021</p><p>O reconhecimento desses direitos e assinatura desses pactos internacionais são</p><p>relevantes para a presença do debate sobre direitos humanos, os reconhecimentos desses</p><p>direitos fundamentais devem alcançar a vida concreta dos indivíduos da sociedade</p><p>brasileira para que tenham uma vida melhor, acesso mais rápido aos direitos.</p><p>Nesse sentido, não podemos deixar de indagar o quanto tais direitos alcançam a</p><p>população brasileira, em especial a população mais empobrecida. Sabemos que ainda há</p><p>muito o que realizar, a educação se constitui como um caminho para a realização dos</p><p>direitos humanos, pois grande parcela da população ainda não tem compreensão do que</p><p>significam esses direitos.</p><p>Por outro lado, sua efetivação ou sua presença plena na sociedade brasileira só</p><p>acontecerá com a realização de trabalhos que abordem em termos práticos sua relevância</p><p>e seus desdobramentos. Portanto, as afirmações desses direitos na nossa Constituição</p><p>permitem que se trabalhe com esses temas em atividades escolares, sociais e culturais</p><p>http://www.justificando.com/tag/convencao-para-a-eliminacao-de-todas-as-formas-de-discriminacao-contra-as-mulheres/</p><p>http://www.justificando.com/tag/convencao-para-a-eliminacao-de-todas-as-formas-de-discriminacao-contra-as-mulheres/</p><p>42 Ética: Direitos Humanos, Educação e Trabalho</p><p>Universidade Santa Cecília - Educação a Distância</p><p>com vistas a superar preconceitos e estereótipos presentes em nossa sociedade, com</p><p>vistas a impulsionar uma mudança de valores em nossa sociedade.</p><p>7.3. Educação para os direitos humanos no Brasil</p><p>O debate em torno dos direitos no Brasil começou tardiamente, mas tivemos ações</p><p>com ênfase para a educação contidas no Plano Nacional de Educação em Direitos</p><p>Humanos (2003). Nesse Plano, a educação em direitos humanos é considerada como um</p><p>“processo sistemático e multidimensional” voltado a orientar o “sujeito de direito articulando</p><p>as dimensões de apreensão de conhecimentos historicamente construídos sobre direitos</p><p>humanos”, trabalhando a formação de uma “consciência cidadã capaz de se fazer presente</p><p>nos níveis cognitivos, sociais, éticos e políticos”. O trabalho deve ser realizado através de</p><p>ações sociais e coletivas que sejam capazes de promover a proteção e a defesa dos direitos</p><p>humanos, bem como a reparação de possíveis violações (Brasil, 2009, p.25 Apud</p><p>Chicarino, 2016, p.61).</p><p>A relevância da educação para os direitos humanos se dá pelo fato de que as</p><p>questões presentes na sociedade são construções humanas, por isso uma educação em</p><p>valores e princípios, reconhecendo que os indivíduos são protagonistas da sua história e</p><p>da história da humanidade. A “ação parte da pessoa humana, independentemente da</p><p>existência e de seu papel exercido na sociedade”. Portanto, a educação em direitos</p><p>humanos permite que os indivíduos participe da vida social de forma consciente, podendo,</p><p>inclusive cobrar dos representantes políticos ações que se pautem na demanda real dos</p><p>cidadãos (Chicarino, 2016, p.61).</p><p>http://jpmt.com.br/primavera-do-leste-inaugura-edicao-2018-do-programa-consciencia-cidada-nesta-quinta-</p><p>feira/ acesso em 25/02/21</p><p>http://jpmt.com.br/primavera-do-leste-inaugura-edicao-2018-do-programa-consciencia-cidada-nesta-quinta-feira/</p><p>http://jpmt.com.br/primavera-do-leste-inaugura-edicao-2018-do-programa-consciencia-cidada-nesta-quinta-feira/</p><p>43 Ética: Direitos Humanos, Educação e Trabalho</p><p>Universidade Santa Cecília - Educação a Distância</p><p>Nesse sentido, podemos considerar que a consciência cidadã pode ser aprendida e</p><p>trabalhada, sendo também dever do Estado e de seus governantes promover condições</p><p>para que os indivíduos sejam capazes de refletir sobre suas ações, as ações coletivas e as</p><p>reais necessidades da sociedade. À medida que os indivíduos se apropriam dos valores e</p><p>princípios que expressam a afirmação da dignidade humana, caminhamos para um nível</p><p>de desenvolvimento social que se reflete em toda a sociedade, sendo possível também o</p><p>desenvolvimento de diferentes grupos sociais.</p><p>44 Ética: Direitos Humanos, Educação e Trabalho</p><p>Universidade Santa Cecília - Educação a Distância</p><p>8. TRABALHO: SUA DIMENSÃO SOCIAL E ÉTICA</p><p>Objetivo</p><p>Dimensionar sobre a relação entre trabalho, conduta ética, bem como afirmação da</p><p>dignidade humana.</p><p>Introdução</p><p>O trabalho é atividade social humana que permite a garantia da sobrevivência</p><p>material e intelectual da humanidade. Por intermédio do trabalho participamos da vida em</p><p>sociedade, nos socializamos e nos realizamos idealmente. No entanto, o trabalho também</p><p>se caracteriza pela contradição e pelo processo de desigualdade presente na sociedade.</p><p>Os direitos se desenvolveram associados a forma de ser do trabalho, legitimando as</p><p>relações sociais em torno dele, por esse motivo há uma relação direta entre trabalho e</p><p>afirmação dos direitos humanos. Além disso, há outro debate e que envolve a realização</p><p>do trabalho que corresponde à conduta aceitável no exercício das diferentes profissões, ou</p><p>seja, a ética.</p><p>8.1. A noção de trabalho</p><p>A forma de ser do trabalho variou ao longo do tempo, isso nos permite afirmar que o</p><p>trabalho é produto da história, assim como são os homens. É importante destacar que o</p><p>trabalho é atividade humana que permite a satisfação material humana, bem como ideal,</p><p>ou seja, a humanidade se realiza no trabalho porque garante sua sobrevivência e porque</p><p>através dele pode elaborar ideias, projetar, planejar criar e realizar.</p><p>O trabalho é transformação da natureza e, em seu lugar a produção de algo que</p><p>sempre tem alguma utilidade para a humanidade. Na sociedade tudo o que é produzido</p><p>tem alguma utilidade, é bem verdade que tem também seu valor que acaba expresso em</p><p>preço. Tal dimensão se caracteriza como a dimensão econômica do trabalho.</p><p>No entanto, o trabalho faz com que a humanidade de afirme enquanto seres sociais,</p><p>pela capacidade que temos de transformar as coisas em algo novo, isso se reflete no</p><p>exercício da nossa racionalidade, mas também nos socializamos, nos comunicamos,</p><p>elaboramos coletivamente ideias e construímos coisas, podemos refletir sobre o que</p><p>45 Ética: Direitos Humanos, Educação e Trabalho</p><p>Universidade Santa Cecília - Educação a Distância</p><p>produzimos e sobre nossa condição quando colocamos em exercício, em movimento a</p><p>nossa consciência. Essas características humanas que desenvolvemos por intermédio do</p><p>trabalho nos faz seres sociais.</p><p>Operários de Tarsila do Amaral</p><p>https://arteeartistas.com.br/operarios-tarsila-do-amaral acesso em 17/02/2021</p><p>Porém, a formas de trabalho que aprisionam o homem, ao mesmo tempo há</p><p>momentos em que na realização do nosso trabalho nos deparamos com dilemas que</p><p>podem envolver outras pessoas, mas também a realização de procedimentos que sejam</p><p>questionáveis ou duvidosos. Nesse caso, nos deparamos com a dimensão ética que</p><p>envolve o trabalho e pode exigir demos uma postura que leve em consideração a</p><p>coletividade das pessoas que estão a nossa volta, uma vez que trabalho é sempre uma</p><p>atividade coletiva, resultado da soma do esforço de várias pessoas.</p><p>Por esse motivo o trabalho tem sua dimensão ética e, muitas vezes, nos deparamos</p><p>com questões que envolvem as diretrizes e princípios dos direitos humanos, isso reforça o</p><p>fato de que o trabalho é parte da construção da humanidade e resultado daquilo que</p><p>construímos coletivamente.</p><p>8.2. Trabalho e Ética</p><p>Sabemos que a forma de ser do trabalho se alterou ao longo do tempo, com isso se</p><p>alteraram também as regras para a realização do mesmo.</p><p>A sociedade moderna promoveu</p><p>a especialização de diferentes profissões, fragmentou os saberes para a produção do</p><p>conhecimento científico. Tais medidas foram consequência do desenvolvimento industrial</p><p>https://arteeartistas.com.br/operarios-tarsila-do-amaral</p><p>46 Ética: Direitos Humanos, Educação e Trabalho</p><p>Universidade Santa Cecília - Educação a Distância</p><p>que demandou domínio de técnicas, aumento de desenvolvimento tecnológico e</p><p>intensificação da ciência.</p><p>Nesse quadro de realidade, a ética foi aproximada da conduta profissional para</p><p>nortear as ações e contribuir na identificação dos limites práticos e éticos de cada profissão,</p><p>constituindo-se como um código, ou seja, uma normativa que define os comportamentos</p><p>aceitáveis para a realização de uma prática profissional.</p><p>https://gestaoescolar.org.br/conteudo/233/o-papel-do-orientador-educacional Acesso em 23/02/2021</p><p>No entanto, é importante considerar que o exercício da ética profissional está</p><p>associado a noção de moral e à concepção de direitos humanos. Primeiro, de maneira</p><p>ampla a moral remete para a divisão social do trabalho, ou seja, cada profissão tem seu</p><p>papel e sua importância na sociedade contribuindo para a soma do trabalho realizado na</p><p>vida social para a produção e realização das atividades profissionais necessárias para</p><p>assegurar a manutenção da própria sociedade. Essa concepção é explicada por Émile</p><p>Durkheim em Da Divisão do Trabalho Social (1999).</p><p>A relação entre ética e direitos humanos se manifesta no exercício da profissão, na</p><p>prática dos diferentes profissionais e dependendo da conduta de um profissional é</p><p>perceptível se o mesmo está alinhado aos princípios que sustentam a elaboração dos</p><p>direitos humanos em âmbito mundial. Por exemplo, à medida que trabalhamos com</p><p>diferentes grupos de diferentes culturas, diferentes valores e crenças como adaptamos na</p><p>nossa prática profissional quando necessário? Respeitamos a diferença do outro</p><p>independente da ação que temos para realizar?</p><p>https://gestaoescolar.org.br/conteudo/233/o-papel-do-orientador-educacional</p><p>47 Ética: Direitos Humanos, Educação e Trabalho</p><p>Universidade Santa Cecília - Educação a Distância</p><p>Essas questões muitas vezes se configuram em dilemas, desafios e, em</p><p>circunstâncias diferentes, um profissional pode cometer uma falha ética pela maneira como</p><p>trabalha com o outro, pela maneira como responde ao outro, pelo manifestação de</p><p>desrespeito seja porque a pessoa na sua frente é diferente do ponto de vista físico, cultural</p><p>ou de seus valores.</p><p>Nesse casos, é sempre adequado exercitarmos a escuta qualificada e deixar que o</p><p>outro explique o que pensa, como trata a questão, quais são suas possibilidades diante do</p><p>problema em que enfrenta. Do ponto de vista profissional, temos a responsabilidade de</p><p>orientarmos quem está diante de nós, sabendo que a outra pessoa tem suas próprias</p><p>questões e pode não conseguir prontamente realizar aquilo a que é orientada, isso pode</p><p>acontecer na sala de aula, em uma repartição pública, em um lugar privado, no atendimento</p><p>médico, jurídico ou psicossocial, por exemplo.</p><p>8.3. Trabalho e Direitos Humanos</p><p>O debate sobre os direitos humanos e o mundo do trabalho alcança, como</p><p>consequência, o reconhecimento dos direitos sociais historicamente construídos na vida</p><p>em sociedade. Essa relação envolve a regulamentação das relações de trabalho e a</p><p>respeito às condições de trabalho, assegurando a dignidade humana.</p><p>Desta forma, podemos pontuar algumas questões presentes na vida em sociedade</p><p>diretamente ligadas às questões de trabalho, especialmente presentes na sociedade</p><p>brasileira, entre elas o problema da escravidão, do trabalho infantil, das condições de</p><p>trabalhadores do campo, a inserção de trabalhadores refugiados no mercado de trabalho.</p><p>A OIT (Organização Internacional do Trabalho) foi fundada em 1919 com o objetivo</p><p>de propor Campanhas, Pactos e acompanhar em nível mundial as condições de trabalho e</p><p>situações que se configurem como desrespeito à dignidade humana. As situações podem</p><p>ser denunciadas, além da formação de Campanhas para que se fortaleça a concepção das</p><p>condições de trabalho.</p><p>Além das campanhas mundiais, em decorrência das particularidades regionais, por</p><p>exemplo no Brasil foram implementadas campanhas voltadas ao trabalho decente na região</p><p>dos Carajás no Pará, envolvendo os trabalhadores para as produtoras do algodão, proteção</p><p>48 Ética: Direitos Humanos, Educação e Trabalho</p><p>Universidade Santa Cecília - Educação a Distância</p><p>aos direitos dos trabalhadores migrantes na América Latina e Caribe. Em 2021 a ênfase</p><p>das ações é a eliminação do trabalho infantil, essa é uma campanha regional que deve ser</p><p>realizada na América Latina e Caribe.</p><p>https://www.ilo.org/brasilia/temas/trabalho-infantil/lang--pt/index.htm Acesso em 24/02/21</p><p>A questão do trabalho infantil é delicada, pois envolve o comprometimento do</p><p>desenvolvimento e pode ocorrer a não escolarização, o que implica diretamente no</p><p>processo de desenvolvimento psíquico e intelectual, comprometendo que as crianças se</p><p>tornem cidadãos e futuros profissionais, pois a condição de trabalho infantil tende a excluir</p><p>da vida em sociedade e das possibilidades de elaboração de uma projeto de vida que</p><p>contemple a formação profissional. A falta de condição fica quase que determinada,</p><p>restringindo profundamente as possibilidades futuras desse grupo social.</p><p>Podemos pensar que a escravidão se reveste de trabalho forçado nos dias de hoje,</p><p>podendo se apresentar de formas diferentes, seja no trabalho doméstico, na economia</p><p>informal, no trabalho no campo, na exploração sexual e pode envolver também os</p><p>trabalhadores que vem para o país refugiado. A questão aqui é que se alguém é forçado a</p><p>realizar determinada tarefa por um longo período de tempo, tem sua dignidade</p><p>comprometida.</p><p>https://www.ilo.org/brasilia/temas/trabalho-infantil/lang--pt/index.htm</p><p>49 Ética: Direitos Humanos, Educação e Trabalho</p><p>Universidade Santa Cecília - Educação a Distância</p><p>9. ÉTICA E SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA</p><p>Objetivo</p><p>Problematizar o alcance da ética e dos direitos humanos nos marcos da sociedade</p><p>contemporânea, identificando dilemas que fazem parte dessa sociedade.</p><p>Introdução</p><p>A questão ética e a efetivação dos direitos humanos estão presentes na sociedade</p><p>contemporânea com intensidade, uma vez que a vida se torna mais complexa, refletindo-</p><p>se em situações que se configuram como dilemas ou mesmo situações que se caracterizam</p><p>como violação de direitos.</p><p>Portanto, há a necessidade de se debater as questões presentes na sociedade,</p><p>identificando seus pontos frágeis e vislumbrando que se construa de forma coletiva</p><p>alternativas para a superação de dilemas ou violações de direitos.</p><p>9.1. Ética e desenvolvimento tecnológico</p><p>Em um tempo em que a vida é profundamente marcada pela mediação tecnológica</p><p>em nossas relações, onde a informação se processa com muita rapidez, pensamos que as</p><p>questões éticas não perpassam a rede de informações ou as redes sociais.</p><p>Embora seja pouco falado, a comunicação realizada nas redes de informação ou</p><p>sociais se definem por condutas ou limites que seus usuários devem realizar, ou seja, há</p><p>uma conduta ética esperada pelos usuários da rede, como exemplo disso, podemos pensar</p><p>nos cancelamentos realizados pelas empresas que provêm plataformas e redes,</p><p>dependendo do tipo de postagem, isso ocorre mesmo com lideranças ou figuras de</p><p>destaque da sociedade global.</p><p>O objetivo dessa prática é lembrar a todos seus usuários que há limites para</p><p>participar da rede. Nesse processo, o que chama atenção é que a sanção parte dos</p><p>administradores das redes que são privadas e no mundo, mas especialmente no Brasil a</p><p>legislação sobre a conduta aceitável nas redes de informação e sociais é ainda frágil e</p><p>pouco debatida. No entanto, nossas ações na rede</p><p>deixam rastro, pegadas virtuais, muitas</p><p>vezes somos definidos pelo nosso perfil e pelo nosso histórico nas redes das quais</p><p>50 Ética: Direitos Humanos, Educação e Trabalho</p><p>Universidade Santa Cecília - Educação a Distância</p><p>participamos, sendo difícil ocultar ou experimentar a liberdade que muitos acreditam ter.</p><p>assim, uma curtida, um comentário pode se refletir, por exemplo, em um processo seletivo</p><p>para uma vaga de trabalho.</p><p>http://www.pontojovem.net/2015/12/aumento-da-inclusao-digital-no-brasil/ Acesso em 25/02/21</p><p>Essa situação ainda é muito nova, mas remete para nosso comportamento, na vida</p><p>real ou na vida virtual nos deparamos constantemente com outras pessoas, nos</p><p>posicionamos diante dos questões ou fatos que se apresentam diante de nós, mas o que</p><p>deve nortear nosso comportamento é o fato de que o outro tem também direitos, direito à</p><p>sua dignidade, por isso é importante uma constante reflexão sobre a forma como nos</p><p>posicionamos e como tratamos o outro.</p><p>Outro aspecto importante sobre a relação entre ética e os usos da tecnologia diz</p><p>respeito ao reconhecimento da autoria de produções intelectuais, muitas vezes uma ideia,</p><p>conceito, trecho de uma obra ou mesmo imagens são repostadas ou apropriadas por várias</p><p>pessoas sem que os créditos sejam realizados. No entanto, especialmente quando</p><p>trabalhamos, de alguma forma com conhecimento, a indicação de nossas referências é</p><p>condição para assegurar a validade das ideias apresentadas ou debatidas.</p><p>A democratização do acesso à rede também é um ponto que envolve o debate da</p><p>ética e dos direitos humanos, pois pode promover ou comprometer o acesso à rede de</p><p>informações de grupos vulneráveis da nossa população. Há uma estreita relação entre</p><p>informação ou conhecimento e poder que se reflete na capacidade que as pessoas têm em</p><p>acessar os conteúdos. Podemos considerar como exemplo o que aconteceu no primeiro</p><p>ano da pandemia da Covid-19, vários alunos de escolas públicas do Brasil ficaram sem</p><p>condições de acessar as aulas, os conteúdos escolares pela falta de acesso à rede e os</p><p>recursos tecnológicos.</p><p>http://www.pontojovem.net/2015/12/aumento-da-inclusao-digital-no-brasil/</p><p>51 Ética: Direitos Humanos, Educação e Trabalho</p><p>Universidade Santa Cecília - Educação a Distância</p><p>Tal situação foi, de algum modo, contida pelos profissionais de educação que</p><p>tentaram se utilizar de alternativas criativas para que seus alunos acessassem</p><p>minimamente seus conteúdos escolares, porém a resolução dessa situação exige medidas</p><p>governamentais como políticas de acesso aos recursos tecnológicos de forma democrática</p><p>a toda sociedade.</p><p>9.2. A questão ambiental</p><p>A concepção de desenvolvimento socioeconômico atualmente se soma à questão</p><p>ambiental, pois não é possível pensar em níveis de desenvolvimento sem abarcar a</p><p>preservação ambiental.</p><p>No Brasil, constatamos com certa frequência crimes ambientais de diferentes tipos,</p><p>causados pela especulação financeira, por grupos locais, pela falta de controle e vigilância</p><p>governamental ou pela negligência de empresas ou industrias.</p><p>No entanto, é necessário associar o direito ao meio ambiente e à sua preservação</p><p>aos direitos do cidadão. A questão ambiental está diretamente ligada à dignidade humana,</p><p>se pensarmos nas invasões ou ocupações nos territórios e reservas indígenas temos isso</p><p>muito claro.</p><p>Cabe ressaltar que a humanidade compõe uma unidade com a natureza, ou seja,</p><p>somos parte da natureza e dependemos dela para garantir nossa sobrevivência. Assim,</p><p>dependemos do bem estar ambiental para assegurarmos nosso bem estar, bem como o</p><p>acesso aos recursos naturais pelas novas gerações. A preservação ambiental se associa</p><p>também aos aspectos da nossa cultura, em diferentes regiões do Brasil essa estreita</p><p>relação é ressaltada, seja no modo de vida rural, seja no modo de vida caiçara, seja no</p><p>modo de vida dos indígenas e, de tantos outros grupos que organizam suas vidas de forma</p><p>associada à questão ambiental.</p><p>52 Ética: Direitos Humanos, Educação e Trabalho</p><p>Universidade Santa Cecília - Educação a Distância</p><p>https://www.santos.sp.gov.br/?q=noticia/3a-semana-da-cultura-caicara-comeca-nesta-terca-15 acesso em 25/02/21</p><p>Outro aspecto relevante é a concepção de sustentabilidade que acabou apropriada</p><p>por diferentes empresas. É necessário que todos assumam a responsabilidade ética diante</p><p>da questão ambiental, porém é também necessário.</p><p>9.3. Cultura de paz e não-violência</p><p>Podemos pensar que a efetivação dos direitos humanos pode nos encaminhar para</p><p>uma sociedade pautada no diálogo. Tal prática pode nos levar ao exercício da não-</p><p>violência, promovendo para a sociedade uma cultura de paz.</p><p>Certamente essas práticas devem ser construídas em conjunto com os diferentes</p><p>grupos sociais presentes na sociedade. Tal prática envolve uma educação orientada pelos</p><p>princípios e valores ancorados na concepção de direitos humanos.</p><p>https://twitter.com/mppioficial/status/1090602910529056768?lang=ca acesso em 25/02/21</p><p>https://www.santos.sp.gov.br/?q=noticia/3a-semana-da-cultura-caicara-comeca-nesta-terca-15</p><p>https://twitter.com/mppioficial/status/1090602910529056768?lang=ca</p><p>53 Ética: Direitos Humanos, Educação e Trabalho</p><p>Universidade Santa Cecília - Educação a Distância</p><p>Quando pensamos na realidade da sociedade brasileira e todo a desigualdade</p><p>característica dela e dos diferentes grupos percebemos que temos a urgência da realização</p><p>de muitas ações, projetos e práticas pautadas pelos princípios da cultura de paz. É</p><p>necessário ressaltar que as instituições e os serviços públicos devem se preparar para esse</p><p>tipo de trabalho, ampliando as ações para além das áreas da educação, da assistência</p><p>social e setores do judiciário, por exemplo.</p><p>No entanto, já convivemos com a implementação de projetos que tenham como</p><p>objetivo a mediação de conflitos, com práticas e dinâmicas restaurativas, permitindo um</p><p>trabalho pautado no diálogo, no exercício da escuta e, consequentemente, na não-</p><p>violência.</p><p>Podemos considerar que todos esses elementos fazem parte de um processo em</p><p>construção, os profissionais precisam de formação e orientação, além de disposição para</p><p>a construção de uma prática sustentada pelo princípio de dignidade humana e da</p><p>consciência cidadã.</p><p>CONSTITUIÇÃO PARA A JUSTIÇA SOCIAL</p><p>DALMO DE ABREU DALLARI</p><p>Corrupção, pressões de toda ordem, golpes baixos. O poder econômico fez e</p><p>desfez para interferir no processo constituinte e manter, no país, um padrão</p><p>social anterior àquele que existia na Europa no século XIX. Em vários capítulos,</p><p>estas forças do atraso marcaram seus tentos. Mas a resistência dos</p><p>progressistas logrou mais êxitos. O resultado é uma carta alinhada com a nova</p><p>fase do constitucionalismo mundial, cuja base são os direitos humanos</p><p>A Constituição escrita é uma criação do século XVIII, tendo surgido no processo</p><p>de tomada do poder político pela burguesia. Por esse motivo, alguns resistem</p><p>à aceitação do caminho constitucional como o mais apropriado ou mesmo</p><p>como um caminho acertado para chegar a uma sociedade democrática, sem</p><p>privilégios de classe.</p><p>A discussão desse ponto é fundamental para uma tomada de posição quanto</p><p>à atitude a ser tomada em relação à nova Constituição brasileira. Se a</p><p>Constituição for sempre, inevitavelmente, um instrumento para a proteção</p><p>dos privilégios dos ricos, possibilitando apenas mudanças superficiais na</p><p>54 Ética: Direitos Humanos, Educação e Trabalho</p><p>Universidade Santa Cecília - Educação a Distância</p><p>organização social e, com isso, anestesiando as consciências e desmobilizando</p><p>o povo, então será melhor evitar sua aplicação.</p><p>Mas se, ao contrário disso, apesar de sua origem burguesa, a Constituição</p><p>oferecer instrumentos e criar possibilidades para o fortalecimento da luta pela</p><p>democratização da sociedade, a atitude deverá ser outra. Neste caso,</p><p>as</p><p>inovações constitucionais deverão ser conhecidas e analisadas, fazendo-se o</p><p>levantamento de tudo quanto for positivo e procurando-se utilizar de modo</p><p>mais eficiente possível, os novos instrumentos constitucionais para a</p><p>superação das resistências conservadoras ou reacionárias.</p><p>UM NOVO BRASIL COMEÇA A SURGIR</p><p>O século XVIII acabou, começa o século XXI.</p><p>O Brasil está atrasado na história e vive agora a disputa entre os que</p><p>pretendem manter um padrão social anterior ao século XIX na Europa e os que,</p><p>atentos aos avanços da história, querem um país moderno, que incorpore à</p><p>sua organização e às suas práticas sociais as conquistas da humanidade dos</p><p>últimos duzentos anos.</p><p>A resistência à modernização e à democratização esteve presente no</p><p>momento de convocação da constituinte, e foi em parte vencedora,</p><p>conseguindo que a nova Constituição fosse feita pelo Congresso Nacional e</p><p>não por uma verdadeira Assembléia Nacional Constituinte, eleita</p><p>exclusivamente para esse objetivo.</p><p>Depois disso, quando ficou evidente que mesmo com essa limitação a escolha</p><p>dos constituintes tinha escapado do controle, o que se tornou claro pela</p><p>eleição de pessoas de sólidas convicções democráticas, verdadeiramente</p><p>comprometidas com o interesse público e a justiça social, houve resistência</p><p>feroz e sem barreiras éticas dentro da própria Constituinte. Por meio de</p><p>pressão e corrupção, o poder econômico teve atuação ostensiva, encontrando</p><p>bons aliados em políticos corruptos, oportunistas e reacionários que, com suas</p><p>manobras e seus votos, criaram muitos obstáculos até mesmo à aprovação de</p><p>propostas moderadamente progressistas. Essa resistência teve, quanto a</p><p>alguns pontos, o apoio decisivo do poder militar e de alguns dos setores mais</p><p>conservadores da organização pública brasileira.</p><p>Ainda assim, a persistência e a competência das bancadas mais progressistas,</p><p>como a do PT, contando com significativo apoio manifestado pela presença</p><p>física e constante de grupos representativos de oprimidos e discriminados,</p><p>conseguiram fazer a constituinte ir muito além do que se previa no início. A</p><p>par de capítulos e dispositivos que revelam a presença de constituintes</p><p>atrasados e egoístas, ignorantes da história e insensíveis à justiça, foram</p><p>incorporadas à Constituição muitas normas que atualizam a organização social</p><p>e política brasileira, além de outras que abrem caminho para o século XXI.</p><p>55 Ética: Direitos Humanos, Educação e Trabalho</p><p>Universidade Santa Cecília - Educação a Distância</p><p>No seu todo, a nova Constituição brasileira representa o abandono do século</p><p>XVIII, rompendo com a concepção conservadora, formalista e positivista que</p><p>prevaleceu até aqui nos textos constitucionais brasileiros. Houve clara</p><p>atualização quanto ao papel atribuído ao Estado e à Constituição, iniciando-se</p><p>um novo processo constitucional, comprometido com a prática dos direitos e</p><p>a realização da justiça social. Se isso for bem compreendido, começa aqui um</p><p>Brasil novo.</p><p>A Constituição ontem e amanhã</p><p>Segundo a expressão de José Joaquim Canotilho, notável constitucionalista</p><p>português, chegou ao fim o período da Constituição concebida como limite.</p><p>Quando a burguesia assumiu o poder político, teve a preocupação de criar</p><p>limitações à participação do governo na vida social, por motivos facilmente</p><p>compreensíveis. Os burgueses chegavam ao poder depois de séculos de luta</p><p>contra o absolutismo. Os governantes com poder absoluto haviam praticado</p><p>muitas violências, promovendo prisões arbitrárias, confiscando patrimônios,</p><p>desrespeitando ajustes e contratos, e criando obstáculos à liberdade de</p><p>circulação de capitais e mercadorias. A Constituição escrita foi criada para</p><p>estabelecer limites bem rígidos à ação dos governos, que deveriam ser meros</p><p>vigilantes e protetores da ordem econômica e social estabelecida pelos</p><p>indivíduos. Estes deveriam gozar de inteira liberdade para o exercício de seus</p><p>direitos, o que ficaria assegurado pela vigência da Constituição que, por meio</p><p>de regras escritas, deveria fixar a organização do poder público, impedindo a</p><p>concentração do poder, e prendê-lo dentro de certos limites.</p><p>Desde o início do século XIX ficou evidente que esse aprisionamento do poder</p><p>público era muito conveniente para os indivíduos economicamente fortes.</p><p>Mas, ao mesmo tempo, era tremendamente prejudicial para os</p><p>economicamente fracos, pois no livre confronto entre os indivíduos prevalecia</p><p>sempre a vontade do que tinha mais poder econômico, que era o dono da</p><p>fábrica ou da terra, ou então o banqueiro.</p><p>E qualquer tentativa de organização e de reivindicação dos oprimidos sofria</p><p>imediata repressão por parte do poder público que, de acordo com as</p><p>limitações constitucionais, só deveria agir para conservar a ordem</p><p>estabelecida pelos particulares, além de prestar alguns serviços que estes</p><p>desejavam e que não queriam assumir.</p><p>No final do século XX, quando os oprimidos e explorados já haviam alcançado</p><p>um nível razoável de organização e, em conseqüência, de poder de pressão, os</p><p>detentores do poder econômico chamaram o poder público para assumir</p><p>novas tarefas, prestando alguns serviços aos marginalizados, para aliviar as</p><p>tensões sociais. Isso aconteceu na Europa e nos Estados Unidos da América, e</p><p>marcou o início de um processo de mudança, que se desenvolveu alternando</p><p>momentos de calmaria e de intensas lutas, sendo marcado pela ocorrência de</p><p>duas guerras mundiais e culminando com a fixação de novos padrões neste</p><p>final do século XX.</p><p>56 Ética: Direitos Humanos, Educação e Trabalho</p><p>Universidade Santa Cecília - Educação a Distância</p><p>A Declaração Universal dos Direitos Humanos, aprovada pela Organização das</p><p>Nações Unidas - ONU, em 1948, foi o primeiro anúncio do aparecimento de</p><p>novas concepções, embora ainda sem romper com o tradicional formalismo,</p><p>distanciado da realidade. A Declaração Universal proclamou a existência de</p><p>direitos fundamentais e fez a enumeração dos que então foram considerados</p><p>de mais urgente reconhecimento, reafirmando a preocupação com a liberdade</p><p>e lembrando que a igualdade, totalmente esquecida na prática dos direitos,</p><p>deve ser também preservada.</p><p>Embora a Declaração proclamasse que "todos os seres humanos nascem livres</p><p>e iguais em dignidade e direitos", isso continuou a ser ignorado no plano</p><p>concreto das relações sociais. E os direitos fundamentais permaneceram, em</p><p>grande parte, como valores abstratos, que todos louvam mas que poucos</p><p>praticam. Por esse motivo a própria ONU aprovou, em 1966, dois novos</p><p>documentos, conhecidos como Pactos dos Direitos Humanos: o Pacto dos</p><p>Direitos Civis e Políticos e o Pacto dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais.</p><p>Esses Pactos tornaram bem mais minuciosa a enumeração dos direitos</p><p>fundamentais e, o que é mais importante, estabeleceram as tarefas que os</p><p>Estados devem desempenhar para a superação das injustiças e a proteção da</p><p>dignidade humana. Foi a partir daí, seguindo a orientação dos Pactos de</p><p>Direitos Humanos e reproduzindo grande parte de seus dispositivos, adotando</p><p>inclusive a enumeração minuciosa em lugar da mera declaração abstrata, que</p><p>teve início um novo constitucionalismo, que a prática reiterada vai</p><p>confirmando e a doutrina já reconheceu.</p><p>Os Pactos de Direitos Humanos passaram a ser acolhidos nas Constituições e,</p><p>desse modo, suas regras ganharam maior eficácia. O caso mais expressivo de</p><p>transposição dos Pactos para o direito interno de um Estado ocorreu em</p><p>Portugal, quando da elaboração da Constituição de 1976, que marcou</p><p>formalmente o início de uma nova fase histórica, impedindo a aplicação das</p><p>regras antidemocráticas e garantidoras de privilégios, impostas pelo</p><p>salazarismo.</p><p>Aí começa uma nova fase do constitucionalismo, com duas características</p><p>novas essenciais: os Direitos Humanos é que determinam a legislação, em</p><p>lugar de serem considerados somente depois de incluídos na lei; Os direitos</p><p>fundamentais</p><p>não são apenas declarados ou proclamados, mas recebem da</p><p>própria Constituição a garantia de sua efetivação, mediante a previsão de</p><p>instrumentos para que os indivíduos e as organizações sociais possam</p><p>realmente exigi-los e, além disso, pela atribuição de tarefas aos órgãos do</p><p>Estado, visando a promoção dos direitos.</p><p>Essa nova orientação representa o rompimento com as concepções abstratas</p><p>e formalistas do século XVIII, que nas suas linhas fundamentais prevaleceram</p><p>até agora. Pode-se concluir que se trata de uma nova concepção de</p><p>Constituição, decorrente da comprovação de que simples ajustes parciais já</p><p>57 Ética: Direitos Humanos, Educação e Trabalho</p><p>Universidade Santa Cecília - Educação a Distância</p><p>não são suficientes para se ter uma organização estável da sociedade, livre de</p><p>conflitos violentos, constantes e de ampla repercussão.</p><p>É o constitucionalismo do século XXI que começa.</p><p>Constituição nova para um Brasil novo</p><p>Uma nova Constituição não é suficiente para criar um país novo. Ninguém há</p><p>de ter sido tão ingênuo a ponto de acreditar que, no dia seguinte ao da</p><p>promulgação da nova Constituição, abriria a janela e veria outro Brasil, livre de</p><p>injustiças, de privilégios e de marginalizações.</p><p>Mas tendo em conta o novo papel da Constituição e o seu conteúdo, que em</p><p>pontos importantes reflete a influência de setores sociais tradicionalmente</p><p>sem voz e sem força, deve-se admitir que a nova ordem constitucional</p><p>brasileira pode ser o começo de uma nova sociedade. Para que se chegue a</p><p>este resultado é necessário, entretanto, um trabalho político vigoroso, que</p><p>tenha por base um bom conhecimento das novas possibilidades</p><p>constitucionais e seja dirigido com firmeza, equilíbrio e objetividade, no</p><p>sentido da superação dos obstáculos à prática dos direitos fundamentais e ao</p><p>uso das novas garantias.</p><p>Uma inovação de extrema importância é a criação de novas possibilidades de</p><p>utilização do poder judiciário como veículo de aproximação entre a igualdade</p><p>jurídica, estabelecida na Constituição, e a igualdade social, que as normas</p><p>constitucionais em parte favorecem e em parte dificultam. É verdade que a</p><p>organização judiciária até aqui tem exercido papel relevante na conservação</p><p>da ordem estabelecida pelos dominadores. Lembrando uma expressiva</p><p>manifestação de James Baldwin, o notável escritor e militante negro norte-</p><p>americano, recentemente falecido, "o sistema judiciário tem sido um meio</p><p>legal de promover injustiças".</p><p>Mas os membros do Judiciário fazem parte da sociedade brasileira e muitos</p><p>deles já sentiram a necessidade de abandonar o legalismo formalista e</p><p>procurar uma legalidade justa. Isto, não só para atender aos reclamos da</p><p>justiça, mas também para que os juízes se livrem da imagem de elitistas</p><p>distantes e insensíveis e para que os tribunais reconquistem a confiança e o</p><p>respeito da população. As primeiras respostas do Judiciário às inovações dos</p><p>novos direitos têm sido geralmente positivas, revelando a disposição de fazer</p><p>cumprir a Constituição. E muito provavelmente a utilização intensa dos meios</p><p>judiciais deverá estimular essa disposição, entre outros motivos porque terá</p><p>como efeito imediato a valorização do poder judiciário.</p><p>As principais inovações em termos de utilização das vias judiciais para</p><p>assegurar o exercício dos direitos estão no artigo 5º da Constituição, em seus</p><p>incisos e parágrafos. Uma das mais importantes inovações, talvez mesmo a de</p><p>maior importância em termos de criação de instrumentos para a</p><p>democratização da sociedade brasileira, é a valorização das associações de</p><p>modo geral. Partindo da antiga constatação de que "a força do grupo</p><p>58 Ética: Direitos Humanos, Educação e Trabalho</p><p>Universidade Santa Cecília - Educação a Distância</p><p>compensa a fraqueza do indivíduo", pode-se dizer que os indivíduos ficaram</p><p>fortalecidos, independentemente de sua condição econômica ou social, desde</p><p>que associados.</p><p>Até aqui foram muito freqüentes os casos de indivíduos que tiveram seus</p><p>direitos desrespeitados e que não reagiram para defendê-los, ou por não</p><p>disporem de meios, não sabendo como agir e não tendo acesso a um</p><p>advogado, ou por terem medo de sofrer represálias. A partir de agora os</p><p>indivíduos poderão cobrar a aplicação das normas legais que lhes atribuem</p><p>direitos e também poderão reagir contra eventuais ofensas, por meio das</p><p>associações a que pertencerem. Isso facilita enormemente o acesso ao poder</p><p>judiciário, pois, além de poder conseguir com muito maior facilidade o auxílio</p><p>de um advogado, a associação sempre estará mais protegida.</p><p>Segundo o inciso XXI do artigo 5º da Constituição, "as entidades associativas,</p><p>quando expressamente autorizadas, têm legitimidade para representar seus</p><p>filiados judicial ou extrajudicialmente". Por força desse dispositivo, qualquer</p><p>pessoa que seja filiada a uma associação poderá ser representada por esta, em</p><p>processos administrativos ou judiciais, tanto para pedir uma previdência</p><p>necessária ao exercício de um direito quanto para proteger um direito negado</p><p>ou ofendido. Isso poderá ser utilizado, por exemplo, contra o empregador que</p><p>pratica ilegalidades, contra o loteador desonesto, contra o senhorio que</p><p>explora ilegalmente seu inquilino, contra o produtor ou vendedor de</p><p>mercadorias falsificadas, contra o prestador de serviços que procede</p><p>irregularmente - de modo geral, em todas as hipóteses de sonegação ou lesão</p><p>de um direito individual.</p><p>Em reforço desse dispositivo poderão ser lembrados alguns outros, de</p><p>utilização mais imediata: o inciso LXX, que permite aos partidos políticos, às</p><p>organizações sindicais, às entidades de classe e às associações legalmente</p><p>constituídas e em funcionamento há pelo menos um ano, valerem-se do</p><p>mandado de segurança coletivo, na defesa dos interesses de seus membros ou</p><p>associados, para protegerem direito líquido e certo ofendido por um agente</p><p>público; o inciso LXXI, segundo o qual poderá ser pedido mandado de injunção</p><p>quando a falta de uma norma regulamentadora estiver impedindo o exercício</p><p>de algum direito ou de alguma liberdade constitucional.</p><p>Tudo isso torna indispensável que as associações, seja qual for sua natureza,</p><p>fiquem preparadas para oferecer assistência jurídica aos seus membros ou</p><p>associados. Assim, para tomar um exemplo bem expressivo, mesmo os</p><p>sindicatos mais poderosos e as associações mais ricas geralmente se limitam a</p><p>oferecer assistência médica e dentária, não cogitando da assistência jurídica.</p><p>Essa falha precisa ser urgentemente corrigida, pois a partir de agora estará</p><p>prejudicando seriamente a defesa de todos os direitos dos associados.</p><p>59 Ética: Direitos Humanos, Educação e Trabalho</p><p>Universidade Santa Cecília - Educação a Distância</p><p>A par dos dispositivos mencionados, vários outros criam amplas possibilidades</p><p>de defesa de interesses e direitos, como o que amplia o alcance da ação</p><p>popular e permite que ela seja utilizada, desde que de boa fé, sem o</p><p>pagamento de custas e a condenação nos honorários de advogado. Outro</p><p>dispositivo importante é o que cria o habeas-data, medida judicial que permite</p><p>o acesso às informações que se refiram ao interessado, existentes em qualquer</p><p>entidade pública civil ou militar, sem excluir as repartições policiais e o Serviço</p><p>Nacional de Informações (SNI).</p><p>Por todas essas inovações, além de outras que a leitura da Constituição</p><p>permitirá conhecer, existe grande possibilidade de que os direitos previstos na</p><p>Constituição sejam mais do que declarações formais ou simples promessas</p><p>enganadoras. Mas, obviamente, é necessário que os indivíduos e as</p><p>associações se disponham a lutar pelos direitos, utilizando os meios</p><p>constitucionais e preparando-se para exercer, paralelamente, a pressão</p><p>política que a própria Constituição prevê e assegura.</p><p>Avanços constitucionais: conquistas do povo</p><p>Não é a Constituição que muda o Brasil, mas a mudança se tomou um pouco</p><p>mais fácil com</p><p>as novas normas constitucionais.</p><p>A nova Constituição brasileira ampliou a afirmação dos direitos fundamentais</p><p>e os meios para sua defesa. A par disso estabeleceu novas possibilidades de</p><p>participação política do povo, o que poderá ser de muita importância se o povo</p><p>for sensibilizado para a efetiva utilização dos novos mecanismos de</p><p>interferência e controle políticos.</p><p>É preciso não perder de vista que tais inovações não foram dadas de presente</p><p>ao povo brasileiro, mas são o produto de uma intensa luta e do extraordinário</p><p>esforço de grupo sociais e de lideranças populares, que de vários modos</p><p>enfrentaram as pressões e resistências do poder econômico e de políticos</p><p>retrógrados ou corruptos. Não houve o esforço e ele produzia resultados,</p><p>sendo importante lembrar que para o oferecimento de emendas populares ao</p><p>projeto de Constituição foram obtidas treze milhões de assinaturas, o que</p><p>demonstra que não é impossível sensibilizar o povo.</p><p>Esse grande esforço e os resultados conseguidos não devem ser perdidos.</p><p>Aqueles mesmos que tudo fizeram para impedir qualquer avanço, e que em</p><p>parte conseguiram manter intocados os seus privilégios, agora se esforçam</p><p>para que as inovações constitucionais não sejam aplicadas. Isso demonstra</p><p>que para os dominadores tradicionais essas inovações não são convenientes,</p><p>o que permite concluir que elas são boas para os dominados.</p><p>A partir de agora é preciso desenvolver um trabalho de organização do povo,</p><p>estimulando a criação do maior número possível de associações.</p><p>60 Ética: Direitos Humanos, Educação e Trabalho</p><p>Universidade Santa Cecília - Educação a Distância</p><p>Através delas será mais fácil informar o povo sobre seus direitos e despertar</p><p>sua consciência para a participação. Desse modo poderá haver grande</p><p>influência popular na legislação e nas decisões governamentais, pelo uso</p><p>intenso da iniciativa, que permite ao povo propor projetos de lei, bem como</p><p>do plebiscito e do referendum, que são instrumentos de consulta ao povo e</p><p>que poderão dificultar e até impedir decisões contrárias ao interesse público.</p><p>Outras tarefas imediatas e relevantes são as Constituintes estaduais e</p><p>municipais. Entre 1891 e 1930 os Estados tiveram importância na vida política</p><p>brasileira, o que favoreceu o fortalecimento de oligarquias estaduais mas, por</p><p>outro lado, impediu a implantação de ditaduras nacionais. A partir de 1930,</p><p>com a ditadura de Getúlio Vargas, os Estados perderam sua autonomia, sem</p><p>que isso representasse o enfraquecimento dos oligarcas, os quais passaram a</p><p>dar sustentação política ao governo central em troca do recebimento de</p><p>verbas da União e do controle dos órgãos públicos federais em seus Estados.</p><p>As novas Constituições estaduais poderão começar a demolição das</p><p>oligarquias, se abrirem espaços para a participação popular.</p><p>No âmbito municipal também o momento é de desafio. Pela nova</p><p>Constituição, cada Município deverá elaborar sua própria lei de organização,</p><p>havendo a possibilidade de democratizar o governo.</p><p>Além disso, por determinação constitucional, os Municípios deverão utilizar os</p><p>mecanismos de participação popular, com o acréscimo de que as associações</p><p>representativas deverão ser obrigatoriamente ouvidas no planejamento</p><p>municipal.</p><p>Em síntese, a nova Constituição não implanta no Brasil uma nova sociedade,</p><p>nem seria razoável pretender isso, pois uma democracia se fundamenta nas</p><p>relações sociais concretas e não se impõe pela simples mudança da lei. Mas,</p><p>sem dúvida alguma, a nova Constituição abriu vários caminhos para que o</p><p>povo brasileiro possa avançar no sentido de uma sociedade em que todos</p><p>sejam realmente livres e iguais, em direitos e dignidade.</p><p>DALLARI, Dalmo de Abreu. Constituição para a Justiça Social.</p><p>http://www.dhnet.org.br/direitos/militantes/dalmodallari/dallari_justsoc.ht</p><p>ml <Acesso em 23/06/2022></p><p>ESTADO DE DIREITO 1</p><p>Dalmo de Abreu Dallari</p><p>O Estado de Direito começa a se configurar como tal no final da Idade Média,</p><p>no Renascimento, nas lutas contra o absolutismo, quando aparece então a</p><p>burguesia, que tinha poder econômico, mas não tinha poder político. Este é o</p><p>http://www.dhnet.org.br/direitos/militantes/dalmodallari/dallari_justsoc.html</p><p>http://www.dhnet.org.br/direitos/militantes/dalmodallari/dallari_justsoc.html</p><p>61 Ética: Direitos Humanos, Educação e Trabalho</p><p>Universidade Santa Cecília - Educação a Distância</p><p>momento do Iluminismo, do racionalismo, das publicações de obras</p><p>extremamente importantes falando na existência de direitos naturais da</p><p>pessoa humana.</p><p>Direitos Naturais é expressão que já aparece na Idade Média, aparece em</p><p>Santo Tomás de Aquino, mas aparece sempre como uma coisa que é dada por</p><p>Deus. O direito é natural porque é dado por Deus. Existe uma expressão muito</p><p>significativa de um dos grandes autores desse período, um holandês, Hugo</p><p>Grocio, que tem essa frase: “Ainda que Deus não existisse, o homem teria</p><p>direitos naturais. São direitos naturais porque estão na natureza, fazem parte</p><p>da natureza humana.”</p><p>Neste movimento, e com esses objetivos é que se chega afinal já no século</p><p>XVIII e na segunda metade do século XVIII, na Revolução Francesa que vai</p><p>cunhar o lema famoso: liberdade, igualdade e fraternidade. E aqui eu chamo</p><p>atenção para um ponto que é importantíssimo: como é que se chama a</p><p>Declaração Francesa de 1789? Qual é o seu nome oficial? Declaração dos</p><p>Direitos do Homem e do Cidadão, Declaration des Droits de les Hommes e des</p><p>Citoyens.</p><p>Já na ocasião, isso é em 1789, na própria Assembléia houve um membro da</p><p>Assembléia, e era um homem, não era uma mulher que disse: “mas isso vai</p><p>levar à discriminação. Porque direitos do homem e do cidadão?” Aí disseram</p><p>a ele: “homem aí significa o ser humano, é a pessoa humana”. Aí é um dado</p><p>até curioso, eu consegui isso no ano passado na França, ele chegou a propor</p><p>uma Declaração dos Direitos da Cidadã, mas ele era minoria, sufocaram isso,</p><p>e não se publicou a Declaração dos Direitos da Cidadã e ficou Declaração dos</p><p>Direitos do Homem e do Cidadão.</p><p>Pois bem, vem a Assembléia Francesa de 1791 e faz uma Constituição. Os</p><p>Estados Unidos, que tinham nascido também de uma Revolução Burguesa,</p><p>fizeram 1787 a primeira Constituição escrita do mundo. Os americanos criaram</p><p>a Constituição, baseados em muitos teóricos franceses, como Rousseau e</p><p>Montesquieu, que embora tenham influenciado os americanos,nunca tinham</p><p>chegado a propor uma Constituição. Os franceses gostaram da idéia dos</p><p>americanos e resolveram também fazer a sua Constituição. Aí começa uma</p><p>tremenda distorção que vai levar a uma concepção de Estado de Direito</p><p>favorável a discriminações.</p><p>O que é que se fez na Assembléia Francesa? Ninguém pode ser obrigado a fazer</p><p>alguma coisa ou proibido de fazer algo, a não ser com base na lei, é a idéia de</p><p>Montesquieu. É a lei que vai governar, mas as coisas não param por aí. A</p><p>mesma Constituição diz que quem faz a lei são os delegados do cidadão. Aí já</p><p>complicou tudo, porque a lei então já não nasce da vida social, da convivência,</p><p>ela é feita, é fabricada. Assim nasce o Parlamento como fábrica de leis. Mas a</p><p>coisa é pior ainda. Para ser legislador, delegado dos cidadãos, era preciso ser</p><p>62 Ética: Direitos Humanos, Educação e Trabalho</p><p>Universidade Santa Cecília - Educação a Distância</p><p>cidadão ativo e para votar, também era preciso ser cidadão ativo. Esta</p><p>expressão cidadão ativo não tinha aparecido na Revolução Francesa. Ela vai</p><p>aparecer na Assembléia Francesa. Nessa mesma Constituição se diz: “para ser</p><p>cidadão ativo é preciso ser francês do sexo masculino”. Aí está a discriminação</p><p>legalizada. Esse é um aspecto muito sério, porque não se disse: “não, é</p><p>arbitrário, são homens discriminando. É justo, porque é a lei que estabelece. “</p><p>A lei não é ninguém, a lei é uma entidade abstrata. A lei estabelece então que</p><p>é direito, antes de mais nada, mas além disso é legitimo e é</p><p>justo. Foi por essa</p><p>razão que as mulheres só em 1946 adquiriram o direito de serem juízas na</p><p>França, estavam excluídas legalmente. Mas também se estabeleceu que quem</p><p>for empregado de alguém não pode ser cidadão ativo, porque: “o empregado</p><p>não tem independência para expressar sua vontade, ele sofre a coerção do</p><p>empregador, então é melhor que ele não seja cidadão ativo”.</p><p>Eles que tinham combatido os privilégios da aristocracia criaram um outro tipo</p><p>de privilegiados, que eram os homens ricos. E se atravessa todo o século XIX</p><p>com essa polêmica, com essa afirmação: “o Estado tem que ser Estado</p><p>Constitucional e sendo Estado Constitucional, ele é democrático. Ele é Estado</p><p>de Direito.” Por quê? Porque tem uma lei que rege as relações sociais.</p><p>Quando se chega então a 1914, a Primeira Guerra Mundial, no fim da guerra</p><p>começam a aparecer sinais muito concretos de avanço, no sentido de correção</p><p>dessas injustiças históricas mantidas através da lei e do “Estado de Direito”.</p><p>Em 1939, na Segunda Guerra Mundial, o que se verifica é que as duas guerras</p><p>mundiais tiveram como causa, em grande parte, profundos desníveis sociais,</p><p>profundas injustiças sociais. Então, terminada a guerra, há a necessidade de</p><p>repensar tudo isso.</p><p>Nesse momento aparece a ONU, publica uma nova Declaração de Direitos.</p><p>O que é que diz essa Declaração, de 1948, no seu artigo 1? Todos os seres</p><p>humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos. Vejam, é curioso,</p><p>vocês vão dizer: “Bom, mas ela estava repetindo a de 1789, que também se</p><p>baseou em igualdade e liberdade”. Não é isto, houve um avanço</p><p>extraordinário, com todo o conteúdo da Declaração, mas também pelo fato</p><p>dela já começar dizendo todos os seres humanos nascem livres e iguais em</p><p>dignidade e direitos. Quer dizer, não importa onde nasceu, não importa a cor</p><p>da pele, não importa a profissão, se é rico ou se é pobre, que língua fala, qual</p><p>é a sua cultura. “Todos os seres humanos” é uma afirmação de universalidade,</p><p>não é globalização, é universalidade. Os Direitos Humanos são universais.</p><p>Onde houver um ser humano, são aqueles os direitos fundamentais, direitos</p><p>inerentes à condição humana.</p><p>Então vejam, por exemplo aplicando isso ao Brasil, a São Paulo. Nós temos em</p><p>São Paulo um bairro com casas muito bonitas, mansões, o bairro do Morumbi,</p><p>por exemplo. Há mansões que têm piscina, quadra de tênis, que têm todo o</p><p>63 Ética: Direitos Humanos, Educação e Trabalho</p><p>Universidade Santa Cecília - Educação a Distância</p><p>conforto que se possa imaginar. O dono dessa mansão é um homem livre, ele</p><p>escolheu viver assim, por isso ele fez essa mansão e mora lá. Não longe dele</p><p>existe uma favela onde o indivíduo mora num barraco, evidentemente não</p><p>tem piscina nem quadra de tênis. É um espaço mínimo onde muitas pessoas</p><p>estão amontoadas com uma iluminação precária: não há ventilação, as</p><p>condições higiênicas são as piores que se possa imaginar. E aí eu diria: “ele é</p><p>um homem livre, ele escolheu morar assim. Quem sabe ele acha mais</p><p>pitoresco morar no barraco do que na mansão?! Ele é um homem livre.”</p><p>É claro que isto é uma mentira. Isto é uma hipocrisia e daí a necessidade de</p><p>uma revisão desses conceitos fundamentais para dar efetividade à afirmação</p><p>desses direitos fundamentais, como direitos de todos.</p><p>Onde os Direitos Humanos não forem respeitados para todos, onde eu não</p><p>assegurar a todos o efetivo exercício dos direitos fundamentais eu não tenho</p><p>Estado de Direito, eu não tenho democracia, eu não tenho a efetivação dos</p><p>Direitos Humanos.</p><p>1 Transcrição editada de palestra ministrada no II Colóquio Internacional de</p><p>Diretos Humanos, realizado na cidade de São Paulo em maio de 2002.</p><p>DALLARI, Dalmo de Abreu. Estado de Direito.</p><p>http://www.dhnet.org.br/direitos/militantes/dalmodallari/dallari_estado_de</p><p>_direito.pdf <acesso em 23/06/2022></p><p>ANTUNES, M.T.P. Ética. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2012.</p><p>CHICARINO, T. Educação em Direitos Humanos. São Paulo: Pearson Education</p><p>do Brasil, 2016.</p><p>GALLO, S. Ética e Cidadania: caminhos da filosofia. Campinas: Papirus, 2015.</p><p>HERMANN, N. Ética e Educação: outra sensibilidade. Belo Horizonte:</p><p>Autêntica Editora, 2014.</p><p>MARCON, K.J. Ética e Cidadania. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2017.</p><p>MIRANDA, N. Por Que Direitos Humanos. Belo Horizonte: Autêntica, 2006.</p><p>NODARI, P. & CALGARO, C. & GARRIDO, M (Orgs.). Ética, Meio Ambiente e</p><p>Direitos Humanos: a cultura de paz e não-violência. Caxias do Sul: Educs,</p><p>2017.</p><p>SAITO, T. Direitos Humanos. Curitiba, Contentius, 2020.</p><p>http://www.dhnet.org.br/direitos/militantes/dalmodallari/dallari_estado_de_direito.pdf</p><p>http://www.dhnet.org.br/direitos/militantes/dalmodallari/dallari_estado_de_direito.pdf</p><p>1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS SOBRE ÉTICA E DIREITOS HUMANOS</p><p>1.1. Reflexões sobre a ética no nosso tempo</p><p>1.2. A dimensão dos direitos humanos</p><p>1.3. Cidadania como caminho para a realização dos direitos</p><p>2. ÉTICA E SOCIEDADE</p><p>2.1. Ética como conceito</p><p>2.2. Sobre a conduta ética</p><p>2.3. O agir de acordo com a moral</p><p>3. ÉTICA E PENSAMENTO FILOSÓFICO</p><p>3.1. Ética e filosofia antiga</p><p>3.2. Ética para Kant</p><p>3.3. Ética e sociedade moderna</p><p>4. SOBRE A NOÇÃO DE CIDADANIA</p><p>4.1. Cidadania e suas determinações sócio-históricas</p><p>4.2. As revoluções burguesas</p><p>4.3. Os direitos civis, políticos e sociais</p><p>5. A NOÇÃO E O DEBATE SOBRE DIREITOS HUMANOS</p><p>5.1. Direitos humanos</p><p>5.2. Evolução dos direitos humanos</p><p>5.3. A Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948)</p><p>6. EDUCAÇÃO PARA OS DIREITOS HUMANOS</p><p>6.1 Direitos humanos e direito à educação</p><p>6.2. Os Tratados Internacionais</p><p>7. BRASIL E A EFETIVAÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS</p><p>7.1. Os direitos no Brasil</p><p>7.2. A luta por direitos humanos no Brasil</p><p>7.3. Educação para os direitos humanos no Brasil</p><p>8. TRABALHO: SUA DIMENSÃO SOCIAL E ÉTICA</p><p>8.1. A noção de trabalho</p><p>8.2. Trabalho e Ética</p><p>8.3. Trabalho e Direitos Humanos</p><p>9. ÉTICA E SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA</p><p>9.1. Ética e desenvolvimento tecnológico</p><p>9.2. A questão ambiental</p><p>9.3. Cultura de paz e não-violência</p><p>para o fato</p><p>de que os cidadãos estão alocados não só nos espaços urbanos. Podemos pensar no</p><p>direito de ir e vir, uma garantia fundamental e um direito civil assegurado a todo o cidadão.</p><p>Portanto, a cidadania envolve debate, possibilidades de participação coletiva e</p><p>construção de espaços públicos de passagem, de convivência. Além disto, os direitos</p><p>elaborados em uma nação voltam-se para seus cidadãos com o objetivo de promover</p><p>desenvolvimento, participação e convivência coletiva.</p><p>Desse modo, a realização do exercício da cidadania envolve os indivíduos e seus</p><p>governos e tem uma dimensão sociocultural e, ao mesmo tempo, sociojurídica. Além do</p><p>fato, da cidadania que conhecemos resultar do processo histórico que representou a</p><p>formação da sociedade moderna.</p><p>6 Ética: Direitos Humanos, Educação e Trabalho</p><p>Universidade Santa Cecília - Educação a Distância</p><p>2. ÉTICA E SOCIEDADE</p><p>Objetivo</p><p>Dimensionar o conceito de ética e sua relevância para a vida em sociedade,</p><p>destacando a dimensão histórica, bem como sua estreita relação com a noção de moral.</p><p>Introdução</p><p>O conceito de ética pode variar de acordo com o tempo e o espaço de uma</p><p>sociedade, desde da antiguidade até os dias de hoje forma de explica-la surgiram,</p><p>destacando determinado aspecto.</p><p>No entanto, a ética tem ligação estreita com a noção de moral, por vezes ambas se</p><p>fundem e se apresentam aos indivíduos na sociedade como única. Podemos considerar</p><p>que uma respalda a outra, se a moral pressupõe um valor, uma norma, a ética se realiza</p><p>através o comportamento dos indivíduos.</p><p>Nesse sentido, ética e moral estão presentes na vida em sociedade e normatizam</p><p>as relações sociais para que a humanidade possa realizar um projeto civilizatório que</p><p>contemple o desenvolvimento também dos indivíduos.</p><p>2.1. Ética como conceito</p><p>O conceito geral de ética remete para a noção de “princípios de conduta que</p><p>orientam a ação de uma pessoa ou grupo” (Marcon, 2017, p.36), mas a ética é também</p><p>uma área do conhecimento filosófico, tendo sido tema de reflexões de diferentes filósofos</p><p>ao longo do tempo.</p><p>http://faculdadelasalle.edu.br/eticaprofissionalecidadania/etica-e-qualidade/ acesso em 17/02/2021</p><p>http://faculdadelasalle.edu.br/eticaprofissionalecidadania/etica-e-qualidade/</p><p>7 Ética: Direitos Humanos, Educação e Trabalho</p><p>Universidade Santa Cecília - Educação a Distância</p><p>A origem da palavra vem do grego, ethos e significa “costume, maneira habitual de</p><p>agir ou índole”. De modo geral a noção de ética pode se confundir com a noção de moral</p><p>que se origina do latim, moris e remete para a ideia de normas que representam o</p><p>comportamento esperado, mas pela definição conseguimos perceber que a moral envolve</p><p>uma normativa e a ética diz respeito ao agir, a maneira de orientar um comportamento.</p><p>Percebemos, então que moral e ética às vezes se fundem e se confundem, por esse motivo</p><p>em termos práticos é difícil identificar cada um deles (Marcon, 2017, p.37).</p><p>Na filosofia o estudo da ética tem como objeto de estudo a conduta humana, por isso</p><p>o comportamento humano é o objeto de análise da ética. Tal estudo é importante porque</p><p>pode contribuir para o esclarecimento acerca da ética da própria sociedade estudada, com</p><p>isso, podem usar o “conhecimento gerado pela ética no sentido de tornar o seu próprio</p><p>conhecimento o mais alinhado possível ao que as sociedades entendem como certo, bom</p><p>e justo”. Nesse caso, além da compreensão, do entendimento sobre a ação humana, é</p><p>possível que o conhecimento busque colaborar com o bem da coletividade, da sociedade</p><p>(Marcon, 2017, p.38).</p><p>O estudo da ética se volta para o estudo dos “princípios que guiam o que as pessoas</p><p>costumam ou se habituam a fazer”, esses princípios dizem respeito ao que as pessoas</p><p>julgam como correto. Os julgamentos normativos de uma sociedade permite a identificação</p><p>dos seus padrões morais, ou seja, qual a noção de certo que influencia o agir na direção</p><p>do bem, o que significa considerar que as condutas revelam valores. Por esse motivo, o</p><p>comportamento ético é influenciado por um padrão moral, por definição social do que é</p><p>certo para um grupo ou uma sociedade (Marcon, 2017, p.39).</p><p>2.2. Sobre a conduta ética</p><p>É bem verdade que se há o comportamento ético há também a ausência da ética no</p><p>momento de agir de acordo com o esperado pela sociedade. Essa prática acompanha a</p><p>humanidade, ao mesmo tempo, em que dilemas se constituem frequentemente no curso da</p><p>vida social.</p><p>O primeiro ponto a considerarmos aqui é o tipo de comportamento ou o tipo de</p><p>situação apresentada diante de nós, porque podemos dependendo da situação, definimos</p><p>nossa conduta. Orientamos nossa ação dependendo do tipo de situação ou de dilema que</p><p>8 Ética: Direitos Humanos, Educação e Trabalho</p><p>Universidade Santa Cecília - Educação a Distância</p><p>temos diante de nós, ou seja, as situações não são iguais e não se configuram como</p><p>dilemas todas da mesma forma. Nesse sentido, devemos nos perguntar o que define a</p><p>intensidade de uma situação? Como uma situação se constitui em dilema?</p><p>Assim, agimos de acordo com a ética em situações simples como se nos deparamos</p><p>com uma carteira caída em algum local e abrimos a carteira para tentar identificar a quem</p><p>pertence, se achamos dinheiro dessa carteira e nos perguntamos sobre mantê-lo ou pegar</p><p>para si, afinal nem conhecemos a quem pertence a carteira. Podemos considerar essa uma</p><p>situação simples, mas que exige uma conduta ética.</p><p>https://proafr.wordpress.com/especial/falar-sobre-etica-e-facil/ 17/02/2021</p><p>Por outro lado, podemos durante uma caminhada nos depararmos com uma situação</p><p>de violência contra mulher, exigindo que prestemos algum tipo de socorro à vítima, por</p><p>exemplo, chamar e esperar com a vítima a chegada da ambulância. A situação de violência</p><p>não exige apenas o cuidado médico, mas envolve também a justiça, sendo necessário</p><p>registrar o ocorrido em uma delegacia de polícia. Você tem a oportunidade de testemunhar</p><p>o ocorrido ou tentar se eximir da situação para não se comprometer. Diante dessa situação,</p><p>a conduta ética pode prejudicar ou não uma vítima, pode livrar ou não o agressor de</p><p>responder legalmente ao crime cometido. Parece que esse dilema pode envolver uma</p><p>conduta ética simples, mas variando o padrão moral de uma pessoa, é possível que se</p><p>pense é melhor não se envolver, embora a violência contra a mulher seja definido em nossa</p><p>sociedade como crime. Sabemos o que é certo nessa situação, mas sua realização pode</p><p>não nos deixar confortável na situação, esse desconforto pode nos levar ou não a fugirmos</p><p>de testemunhar o ocorrido.</p><p>https://proafr.wordpress.com/especial/falar-sobre-etica-e-facil/</p><p>9 Ética: Direitos Humanos, Educação e Trabalho</p><p>Universidade Santa Cecília - Educação a Distância</p><p>As situações apresentadas são diferentes e se caracterizam também por</p><p>intensidades diferentes. No entanto, a ausência da ética pode significar o desrespeito a</p><p>uma regra socialmente definida, envolve a responsabilidade de quem descumpre uma</p><p>regra. Podemos nos perguntar o que faz indivíduos diferentes de uma mesma sociedade</p><p>escolherem padrões diferentes de conduta: cumprir ou descumprir uma regra?</p><p>O valor e a moral prevalecente em cada indivíduo será decisivo para que se</p><p>comprometa a respeitar as regras definidas e orientar sua conduta como tal, de maneira</p><p>agir de forma ética na vida em sociedade, no exercício de sua profissão.</p><p>2.3. O agir de acordo com a moral</p><p>A moral se constrói ao longo do tempo, ou seja os valores que influenciam a definição</p><p>dos padrões morais se alteram no tempo e no espaço. Além disso, é vivendo em sociedade</p><p>que apreendemos os valores, a noção de certo ou errado, bem como a conduta ética</p><p>esperada socialmente.</p><p>No entanto, um indivíduo pode depositar em outra pessoa a identificação</p><p>dos valores</p><p>e padrões morais, reproduzindo a conduta sugerira pelo outro como em uma relação entre</p><p>quem manda e quem obedece ou, entre rei e súdito ou, entre chefe e empregado. Tal</p><p>situação se define pela ausência de moral de quem reproduz o padrão e o comportamento</p><p>sugerido pelo outro, há ainda, a ausência do exercício reflexivo.</p><p>https://www.gestaoeducacional.com.br/moral-o-que-e/ acesso em 17/02/2021</p><p>A prevalência dos interesses individuais também pode comprometer a conduta de</p><p>um indivíduo, comprometendo antes a identificação do padrão moral. Busca-se, nesse</p><p>caso, a exceção à realização da regra definida como aceitável na vida em sociedade com</p><p>https://www.gestaoeducacional.com.br/moral-o-que-e/</p><p>10 Ética: Direitos Humanos, Educação e Trabalho</p><p>Universidade Santa Cecília - Educação a Distância</p><p>o propósito de obter algo para si mesmo com a oportunidade. Tal prática pode se configurar</p><p>em postura egocêntrica.</p><p>Contudo, nem sempre é simples agir de forma individualista, pois nossas ações</p><p>podem interferir diretamente no grupo ao qual pertencemos, seja a família, colegas de sala,</p><p>o grupo de trabalho. A questão é que nossas ações são perceptíveis ao outro, muitas vezes</p><p>as ações são orientadas pensando primeiro em não falhar com o grupo ao qual se faz parte,</p><p>considerando que nesse prevalece a mesma visão de mundo e o mesmo padrão moral.</p><p>Cabe ressaltar que o padrão moral pode ser definido prioritariamente pelo espaço</p><p>que ocupa, muitas vezes somos influenciados a orientar nosso padrão moral considerando</p><p>a instituição em que estamos, seja a instituição o lugar de trabalho, de cultura ou mesmo o</p><p>governo que define regras de convivência entre os diferentes indivíduos de uma cidade, por</p><p>exemplo. Podemos cumprir as regras definidas porque fazemos parte da instituição e temos</p><p>afinidade de valores, podemos agir de acordo com o padrão estabelecido sem, na verdade,</p><p>concordarmos com ele.</p><p>Os padrões morais são construídos também nos indivíduos, ou seja, nossas</p><p>experiências podem fortalecer determinado valores, dependendo do que vivenciamos, por</p><p>esse motivo, podemos orientar nossa conduta com autonomia, identificando os princípios</p><p>que se aproximam do que é importante para nós e, ao mesmo tempo, é aceitável para a</p><p>vida em sociedade. Nessa situação, agimos com autonomia porque há o exercício da</p><p>reflexão anterior ao posicionamento do indivíduo, configurando-se em uma escolha</p><p>racional.</p><p>11 Ética: Direitos Humanos, Educação e Trabalho</p><p>Universidade Santa Cecília - Educação a Distância</p><p>3. ÉTICA E PENSAMENTO FILOSÓFICO</p><p>Objetivo</p><p>Dimensionar a ética como conceito filosófico utilizado para a compreensão dos</p><p>valores de um determinado momento histórico.</p><p>Introdução</p><p>A filosofia se deteve ao estudo da ética em momentos diferentes, desde o período</p><p>antigo, na tentativa de compreendê-la os filósofos a associaram à noções de virtude, de</p><p>felicidade, de dever. Desta forma, foi considerada uma área de estudo dentro da filosofia,</p><p>seu estudo permite a própria compreensão da sociedade.</p><p>As diferentes interpretações revelam a relevância da sua noção e o quanto ela</p><p>permite que os indivíduos consigam viver de forma satisfatória, dentro daquilo que é</p><p>aceitável para a vida em sociedade, na busca pela realização do bem.</p><p>O debate sobre a ética e suas explicações são necessárias para que possamos</p><p>entender de que forma ela está presente na sociedade e no comportamento dos indivíduos.</p><p>3.1. Ética e filosofia antiga</p><p>A ética foi um dos temas contemplados entre os questionamentos levantados pelos</p><p>filósofos gregos. A busca para identificar ou definir a essência humana fez com esses</p><p>pensadores elaborassem vários questionamentos sobre a vida, sobre viver de forma</p><p>virtuosa, o que só poderia acontecer através da realização de uma postura ética.</p><p>Sócrates, Platão e Aristóteles</p><p>https://www.sabedoriapolitica.com.br/products/etica-e-politica-na-filosofia-antiga/ acesso em 14/02/2021</p><p>https://www.sabedoriapolitica.com.br/products/etica-e-politica-na-filosofia-antiga/</p><p>12 Ética: Direitos Humanos, Educação e Trabalho</p><p>Universidade Santa Cecília - Educação a Distância</p><p>Assim, o primeiro a contribuir para tal reflexão foi Sócrates que entendia a ética como</p><p>uma conquista para a vida virtuosa, por esse motivo defendia que os “homens deveriam</p><p>cuidar menos do corpo e das riquezas e mais da alma”. Acreditava, afinal que “não era o</p><p>ter que elevava a alma do homem, mas o contrário. Na Grécia antiga essa concepção</p><p>filosófica incomodou e muito, Sócrates acabou condenado a morte pelos atenienses, seguiu</p><p>confinado, aguardando sua morte, pois acreditava que não se devia responder a uma</p><p>injustiça com uma atitude injusta, pois a ausência da ética comprometia mais àquele que</p><p>punia injustamente do que o punido (Marcon, 2017, p.56).</p><p>Sócrates acreditava no equilíbrio das atitudes, em uma vida de moderação com as</p><p>paixões para segundo plano, pois o homem virtuoso “deveria ser modesto e buscar não se</p><p>tornar dependente das coisas materiais terrenas” (Marcon, 2017, p.57).</p><p>No pensamento de Platão, discípulo de Sócrates, o mundo em que vivemos se</p><p>constitui como o mundo das ideias, seria uma reprodução da vida real. No entanto, há</p><p>também para o filósofo o mundo platônico que seria o mundo ideal, aquele que deveríamos</p><p>percorrer, pois nesse mundo o “ homem possui retidão e é virtuoso”, os indivíduos devem</p><p>utilizar a inteligência para estarem no mundo ideal. Para Platão, o “comportamento ético</p><p>significa agir de acordo com os valores do homem platônico, que vive em um mundo</p><p>virtuoso”. O ser humano deve agir no esforço de corrigir seus erros, por isso o considera</p><p>um ser “sábio e procura o ideal” (Marcon, 2017, p.57).</p><p>Platão continua o pensamento de Sócrates sobre a justiça e a injustiça, considerando</p><p>também que perde mais aquele que comete a injustiça, pois esse não poderá ser feliz com</p><p>tal atitude, no lugar do prazer deve a humanidade buscar realizar o bem.</p><p>Segundo Aristóteles discípulo de Platão, a principal meta humana deve ser fazer o</p><p>bem, ou seja, “o homem deve buscar ser feliz” e para isso é necessário buscar alcançar a</p><p>meta de fazer o bem. O filósofo classificou a ética como uma ciência prática (Marcon, 2017,</p><p>p.57).</p><p>Na visão de Aristóteles, os “bens da alma são os mais importantes que o homem</p><p>pode alcançar, pois conduzem à real felicidade”. Assim, outros bens como “bens do corpo</p><p>e exteriores” seriam um caminho intermediário para se alcançar a “felicidade trazida pelos</p><p>bens da alma” (Marcon, 2017, p.57/ 58).</p><p>13 Ética: Direitos Humanos, Educação e Trabalho</p><p>Universidade Santa Cecília - Educação a Distância</p><p>3.2. Ética para Kant</p><p>Já no século XVIII, na formação da sociedade moderna, um filósofo chamado</p><p>Immanuel Kant, ao contrário dos filósofos da antiguidade, associou a ética à noção de</p><p>dever, pois considera que ao “cumprir um dever por obrigação, o homem está se baseando</p><p>na razão”. Assim, o exercício da razão faz com que o homem oriente suas ações com</p><p>retidão, aproximando-se do comportamento ético (Marcon, 2017, p.58).</p><p>Kant entende como dever uma “lei que tem origem na razão e se impõe sobre os</p><p>homens, seres racionais”. Portanto, ser ético significa “cumprir os deveres definidos</p><p>racionalmente por uma sociedade” (Marcon, 2017, p.58).</p><p>Crítica da Razão Prática</p><p>https://app.planejativo.com/ver-aula/193/material-de-apoio/resumo/filosofia/filosofia-moderna-immanuel-kant acesso em</p><p>17/02/2021</p><p>Desse modo as obrigações morais dos indivíduos racionais constituem-se em</p><p>“imperativo categórico”, uma vez que a “razão tem o poder de dominar a vontade humana”,</p><p>a razão se apresenta na forma da lei sendo capaz de se sobrepor à vontade humana. Na</p><p>obra Crítica da Razão Prática, Kant “distingue as ideias</p><p>da razão e realiza uma investigação</p><p>ética-moral. Para ele, uma moral correta estaria fundada no bem universal, um valor eterno</p><p>e absoluto” (Marcon, 2017, p.61).</p><p>O imperativo categórico considera que o indivíduo é, ao mesmo tempo, “legislador e</p><p>o ator que age conforme as leis”, justificando a noção da ética e da moral como um dever.</p><p>A consciência da cada indivíduo o “faz perceber essa “lei universal” e evitar contradições”.</p><p>Os indivíduos orientam suas vontades com base nos imperativos definidos na vida em</p><p>sociedade e aprendem, segundo Kant, que não devem fazer ao outro o que não querem</p><p>para si mesmo (Marcon, 2017, p.61).</p><p>https://app.planejativo.com/ver-aula/193/material-de-apoio/resumo/filosofia/filosofia-moderna-immanuel-kant%20acesso%20em%2017/02/2021</p><p>https://app.planejativo.com/ver-aula/193/material-de-apoio/resumo/filosofia/filosofia-moderna-immanuel-kant%20acesso%20em%2017/02/2021</p><p>14 Ética: Direitos Humanos, Educação e Trabalho</p><p>Universidade Santa Cecília - Educação a Distância</p><p>3.3. Ética e sociedade moderna</p><p>A sociedade moderna representou um período de transformação que se realizou</p><p>efetivamente nas áreas social, política econômica. Do ponto de vista sociopolítico um</p><p>advento importante foi a formação do Estado moderno, com isso, a institucionalização de</p><p>um conjunto de leis. Desse modo, a percepção das noções de ética e moral também se</p><p>alterou.</p><p>Aristóteles influenciou tal concepção de ética, uma vez que a associou à felicidade,</p><p>associada a busca do “bem e a agir segundo as suas virtudes” e, as virtudes morais podem</p><p>ser aperfeiçoadas com o tempo (Marcon, 2017, p.59).</p><p>https://www.sabedoriapolitica.com.br/products/filosofia-etica-e-sociedade/ acesso em 17/02/2021</p><p>Nesta perspectiva, refinando ambas as noções, podemos considerar a ética</p><p>associada ao pensamento filosófico, pois ela envolve explicações teóricas, definição de</p><p>princípios, aspectos ou leis universais e regras que se apresentam através de estatutos que</p><p>são instituídos na sociedade, tais como os códigos de ética de diferentes profissões.</p><p>Por outro lado, a moral envolve uma visão de mundo, valores que podem variar</p><p>dependendo da cultura, do povo ou do lugar onde se está, a moral se apresenta a partir de</p><p>normas de conduta presentes na sociedade que são capazes de pressionar os indivíduos</p><p>a agirem de acordo com os valores morais vigentes na sociedade.</p><p>Cabe ressaltar que na sociedade moderna prevalece o individualismo, também por</p><p>esse motivo a presença dos valores morais e a consciência para o agir ético são</p><p>necessários para que a sociedade se mantenha de forma equilibrada, pois à medida que</p><p>os valores são incorporados pelos indivíduos e os mesmos se refletem em seus</p><p>https://www.sabedoriapolitica.com.br/products/filosofia-etica-e-sociedade/</p><p>15 Ética: Direitos Humanos, Educação e Trabalho</p><p>Universidade Santa Cecília - Educação a Distância</p><p>comportamentos, isso faz com que os indivíduos participem da vida em sociedade,</p><p>sentindo-se ligados a ela.</p><p>Direitos Humanos: marco fundamental de uma nova era</p><p>Dalmo de Abreu Dallari</p><p>A aprovação da Declaração Universal dos Direitos Humanos pela Organização das Nações</p><p>Unidas, em 1984, foi o marco inicial de um novo ciclo na história da humanidade. Elaborado e</p><p>proclamado pouco depois do término da segunda guerra mundial, esse documento fundamental</p><p>não foi apenas um grito de protesto, uma explosão momentânea de indignação, contra as agressões</p><p>armadas e a negação da racionalidade implícita em todas as guerras.</p><p>Muito mais do que isso, a Declaração Universal de 1948 foi a proclamação solene da rejeição</p><p>do individualismo egoísta e do materialismo mal disfarçado, implantados no mundo ocidental no fim</p><p>do século dezoito, utilizando o rótulo do liberalismo e, no entanto, só cuidando da liberdade dos</p><p>privilegiados econômicos.</p><p>A par dessa rejeição, a declaração Universal proclama com muita clareza a primazia da</p><p>pessoa humana, com suas dimensões espiritual e material, com sua dignidade implícita na condição</p><p>humana e com seus valores fundamentais, protegidos como direitos próprios da natureza humana.</p><p>Desse modo, os valores humanos essenciais, aqueles que são indispensáveis para a</p><p>preservação da dignidade e o crescimento interior da pessoa, valores que nascem com a pessoa</p><p>humana e que não dependem das circunstâncias de tempo e lugar, das condições materiais e da</p><p>situação social, foram novamente colocados em primeiro plano.</p><p>A consciência de tais valores, já revelados na antigüidade e postos em evidência, sobretudo,</p><p>através da obra de grandes pensadores da Grécia antiga, havia sido perdida pela humanidade, o</p><p>que levara, afinal, ao sistema de arbítrio do absolutismo e à ordem aristocrática caracterizada pelas</p><p>discriminações e exclusões.</p><p>Embora algumas vozes isoladas já tenham denunciado as violências contra os valores</p><p>inerentes à natureza ainda no período medieval, como se verifica, por exemplo, na obra de Santo</p><p>16 Ética: Direitos Humanos, Educação e Trabalho</p><p>Universidade Santa Cecília - Educação a Distância</p><p>Tomás de Aquino, foi nos séculos dezessete e dezoito que se conjugaram vários fatores que iriam</p><p>levar à implantação de uma nova ordem. Filósofos políticos de grande envergadura, testemunhas</p><p>e às vezes vítimas de discriminações sociais e perseguições políticas e religiosas, demonstraram</p><p>com sólida argumentação a injustiça das agressões a valores inerentes à natureza humana.</p><p>Ao mesmo tempo, uma nova força social, a burguesia, que se formara a partir do século</p><p>doze e que no século dezessete já era o segmento mais rico da população, em termos de patrimônio</p><p>e renda, não queria mais aceitar sua exclusão política e a insegurança que daí decorria para a</p><p>pessoa, o patrimônio e as relações econômicas. Suas aspirações e a necessidade de proteção para</p><p>os seus interesses foram bem sistematizados na afirmação da liberdade e da igualdade como</p><p>valores fundamentais e direitos naturais da pessoa humana.</p><p>Esses mesmos valores e direitos, proclamados e defendidos pelos filósofos humanistas e</p><p>cujo respeito era desejado pelos burgueses, davam resposta às necessidades dos trabalhadores e</p><p>das camadas mais pobres da população de modo geral. Todos esses sofriam agressões,</p><p>humilhações e exclusões, não havendo o mínimo respeito por sua dignidade e pelas exigências</p><p>naturais de sua condição humana.</p><p>Foi sob inspiração desses valores humanos fundamentais que ocorreram as revoluções</p><p>burguesas dos séculos dezessete e dezoito, lideradas por intelectuais e burgueses e fortemente</p><p>apoiadas pelas massas populares, crentes em que a imposição de limitações ao poder pessoal dos</p><p>governantes e a eliminação dos privilégios da nobreza dariam lugar a uma ordem social justa, a</p><p>uma sociedade de pessoas livres e iguais.</p><p>Essas crenças e aspirações foram bem resumidas no lema da Revolução Francesa:</p><p>liberdade, igualdade e fraternidade. Elas foram também incorporadas à Declaração dos Direitos do</p><p>Homem e do Cidadão, aprovada pela assembléia Francesa em 1789. Acredita-se que os valores</p><p>humanos fundamentais iriam determinar os rumos da humanidade daí por diante.</p><p>O que ocorreu, entretanto, foi bem diferente do que se poderia supor pela aparente crença</p><p>comum nos valores fundamentais da pessoa humana e pela conjugação de esforços para demolição</p><p>da antiga ordem injusta. A nova ordem estabelecida, liderada pelos detentores do poder econômico,</p><p>apenas substituiu os privilégios, pois a partir de uma afirmação formal e abstrata de respeito à</p><p>liberdade, assegurou a supremacia política e social dos detentores de bens econômicos e de maior</p><p>renda.</p><p>A igualdade de direitos e de oportunidades foi completamente esquecida, usando-se o</p><p>sofisma de que a desigualdade é justa se todos forem livres. Não se levou em conta que nada</p><p>17 Ética: Direitos Humanos, Educação e Trabalho</p><p>Universidade Santa Cecília - Educação a Distância</p><p>significa o direito de ser livre para quem, nascido na pobreza e sem ter acesso à educação, aos</p><p>cuidados de saúde, à boa alimentação e a tudo o mais de que a pessoa humana necessita para</p><p>sobreviver e para viver com dignidade, não tem, por todas essas limitações, o poder de ser livre.</p><p>A liberdade econômica e a proteção do patrimônio foram muito benéficas para quem tinha</p><p>condições materiais para gozar dessa liberdade. Assim se desenvolvem no século dezenove a</p><p>relação industrial, houve notáveis avanços científicos e tecnológicos e as fortunas aumentaram.</p><p>Mas as diferenças sociais aumentaram profundamente, a exploração do homem pelo homem atingiu</p><p>proporções degradantes para toda a humanidade.</p><p>Na encíclica "Centésimo Ano", publicada em 1981 para comemorar o centenário da</p><p>publicação da encíclica "Rerum Novarum", na qual o papa Leão XIII fazia a denúncia da existência</p><p>de graves e extensas injustiças sociais, com multidões de marginalizados e excluídos, o papa João</p><p>Paulo II ressaltou que o século dezenove, tão celebrado pelo dinamismo da economia, foi o mesmo</p><p>que criou o capitalismo e o proletariado. E poderia acrescentar que foi um século em que se usou</p><p>amplamente o trabalho escravo.</p><p>Supremacia absoluta para a riqueza material, privilégios políticos e sociais para os</p><p>detentores dessa riqueza, egoísmo a avidez em lugar da fraternidade e solidariedade, foi essa a</p><p>marca da sociedade implantada no século dezoito. Com o mais absoluto desprezo pelos valores</p><p>humanos fundamentais, esse tipo de sociedade criou distâncias enormes entre pobres e ricos,</p><p>estabelecendo barreiras insuperáveis para os nascidos na miséria, estabelecendo uma ordem legal</p><p>essencialmente injusta, os dominadores legalizaram as injustiças, dando o nome de "direitos" aos</p><p>seus privilégios e assim impuseram um sistema de marginalização crônica e hereditária,</p><p>pretendendo-se transferir para os excluídos a culpa por sua exclusão.</p><p>As duas guerras do século vinte, que envolveram, direta ou indiretamente, quase toda a</p><p>humanidade, espalhando morte e destruição e plantando as sementes de novas guerras inevitáveis</p><p>se não ocorrerem mudanças profundas, foram produtos desse tipo de sociedade e de sua escala</p><p>de valores. Ambições materiais sem limites, ao lado de injustiças insuportáveis, só podem levar ao</p><p>conflito e à violência e jamais produzirão a paz.</p><p>Foi a consciência dessa necessidade de mudança profunda que produziu a Declaração</p><p>Universal dos Direitos Humanos em 1948. Um dado fundamental da declaração, que é o ponto de</p><p>partida para a recuperação da consciência da dignidade e dos valores básicos da pessoa humana,</p><p>é a proclamação contida no artigo 1º: "Todos os seres humanos nascem livres e iguais em direitos</p><p>e dignidade...". Aí está, na utilização da palavra "todos", abrindo o documento e condicionando sua</p><p>leitura, compreensão e aplicação, a afirmação expressa da Universalidade dos Direitos Humanos.</p><p>18 Ética: Direitos Humanos, Educação e Trabalho</p><p>Universidade Santa Cecília - Educação a Distância</p><p>Isso tem como conseqüência que se alguma pessoa nascer em condições tais que</p><p>impliquem discriminação ou exclusão, quanto à titularidade dos direitos e à igual possibilidade de</p><p>seu uso, estará ocorrendo uma agressão aos direitos Humanos.</p><p>Educação para os Direitos Humanos: "basta" à exclusão social</p><p>Educar para os Direitos Humanos é infundir e implementar a consciência de que a pessoa</p><p>humana é o primeiro dos valores. Disso decorre o compromisso de respeito à dignidade dos seres</p><p>humanos e aos valores fundamentais que são de toda a humanidade. Sendo direitos e valores</p><p>universais nenhuma pessoa pode ser excluída desse respeito e toda exclusão social é negação do</p><p>humano.</p><p>Um ponto que deve ficar bem claro é que a educação para os Direitos Humanos é sempre,</p><p>necessariamente, preparo e estímulo para a prática. Nas últimas décadas aumentou muito o número</p><p>de instrumentos normativos de Direitos Humanos, havendo já uma quantidade considerável de</p><p>convenções, pactos, acordos, tratados e outros instrumentos de natureza jurídica a afirmação e a</p><p>proteção dos Direitos Humanos, sobretudo para a correção de situações em que tem sido habitual</p><p>a prática de ofensas graves a esses direitos.</p><p>Ao mesmo tempo, e em parte como conseqüência da evolução normativa, vem aumentando</p><p>constantemente o número de pessoas que falam e escrevem sobre Direitos Humanos. Em princípio</p><p>é bom que isso aconteça, mas existe, em primeiro lugar, o risco de se confundir o tratamento teórico</p><p>com a prática. Não basta falar em Direitos Humanos, escrever sobre eles e até fazer leis em seu</p><p>favor se isso não tiver autenticidade, se não houver a firme disposição de respeitá-los e fazê-los</p><p>respeitar.</p><p>Outro risco é a criação da ilusão de respeito, é a introdução dos Direitos Humanos na</p><p>linguagem comum como simples modismo, sem conseqüências práticas. Assim, por exemplo, hoje</p><p>ninguém diz que a mulher é inferior ao homem e que as posições de comando na sociedade devem</p><p>ser reservadas aos homens. E no entanto em muitas partes do mundo, inclusive no Brasil, as</p><p>mulheres continuam sofrendo muitas exclusões, não tendo as mesmas oportunidades pelo simples</p><p>fato de serem mulheres, independente do mérito que possam ter.</p><p>Na realidade, já houve consideráveis avanços, o que deve ser reconhecido e louvado, mas</p><p>persistem ainda muitas exclusões, que devem ser identificadas, denunciadas e combatidas sem</p><p>descanso. Existem os excluídos tradicionais, que são os herdeiros da pobreza, os marginais da</p><p>educação, os imigrantes e refugiados, entre outros.</p><p>19 Ética: Direitos Humanos, Educação e Trabalho</p><p>Universidade Santa Cecília - Educação a Distância</p><p>Em pesquisa realizada na França recentemente, verificou-se que cerca de 70% dos jovens</p><p>sem qualquer diploma e sem qualificação profissional eram mais humildes e de menor</p><p>remuneração, ou então eram filhos de desempregados ou de pessoas que nunca tiveram um</p><p>emprego fixo.</p><p>Esse é um aspecto que deve merecer especial atenção: a existência de pessoas que já</p><p>nascem excluídas e que muito provavelmente jamais poderão superar a situação de exclusão. Não</p><p>è preciso ir longe, fazer uma pesquisa aprofundada ou ser especialista em qualquer ciência para</p><p>perceber que isso acontece hoje no Brasil. Embora a Constituição afirme a igualdade de todos e</p><p>assegure a todos a mesma liberdade, só por hipocrisia alguém poderá dizer que o filho de pais ricos</p><p>tem a mesma liberdade e as mesmas oportunidades quanto ao acesso aos direitos fundamentais</p><p>que os filhos de pais pobres ou miseráveis.</p><p>Basta ter olhos para ver que um número muito grande de crianças brasileiras nasce em</p><p>situação de exclusão social. Muitas dessas crianças não ultrapassam o primeiro ano de vida e se</p><p>resistirem estarão sempre à margem da sociedade ou numa longínqua retaguarda, vítimas da fome</p><p>e da falta de cuidados de saúde, com pouca ou nenhuma possibilidade de educação, morando na</p><p>rua ou em condições extre3mamente precárias, sofrendo humilhações e agressões à sua pessoa e</p><p>completamente desprovidas de bens materiais. E, no entanto, o Brasil assinou a Declaração</p><p>Universal dos Direitos Humanos, segundo a qual "todos os seres humanos nascem livres e iguais</p><p>em dignidade e direitos".</p><p>A esses excluídos tradicionais juntam-se agora novos excluídos. São filhos malditos da</p><p>globalização, os que não são aquinhoados com a liberdade do neo-liberalismo, os que são</p><p>inexoravelmente condenados pelas leis do mercado, porque nem sequer chegam ao mercado. Na</p><p>verdade, o que se procura esconder sob esses rótulos é a última tentativa de manutenção dos</p><p>privilégios usufruídos há duzentos anos, com egoísmo e insensibilidade moral, pelos detentores de</p><p>superioridade econômico e financeira.</p><p>Em última análise, a globalização econômica, apresentada como novidade embora já exista</p><p>há</p><p>quinhentos anos com o estabelecimento de rotas marítimas e terrestres para o comércio, é um</p><p>artifício do materialismo egoísta para dificultar o avanço dos Direitos Humanos.</p><p>Sem exagerar no otimismo e sem deixar de reconhecer que ainda são muitos os obstáculos</p><p>para que as ambições materiais e a busca desenfreada de poder público e prestígio social cedam</p><p>lugar à predominância da ética e da solidariedade humana, pode-se afirmar que a humanidade</p><p>reencontrou o bom caminho.</p><p>20 Ética: Direitos Humanos, Educação e Trabalho</p><p>Universidade Santa Cecília - Educação a Distância</p><p>Através da educação para os Direitos Humanos os dominados, discriminados e excluídos</p><p>adquirem consciência dos direitos inerentes à sua condição humana e começam a lutar por eles.</p><p>Entre os dominadores alguns já perceberam que se persistirem as injustiças e as violações graves</p><p>de Direitos Humanos haverá a "guerra de todos contra todos". Se houver empenho e determinação</p><p>não estará longe a nova sociedade, livre de injustiças e exclusões sociais.</p><p>DALLARI, Dalmo de Abreu. Direitos Humanos, Exclusão Social e Educação para</p><p>o Humanismo.</p><p>http://www.dhnet.org.br/dados/livros/edh/estaduais/rs/adunisinos/dallari.h</p><p>tm <Acesso em 23/06/2022></p><p>http://www.dhnet.org.br/dados/livros/edh/estaduais/rs/adunisinos/dallari.htm</p><p>http://www.dhnet.org.br/dados/livros/edh/estaduais/rs/adunisinos/dallari.htm</p><p>21 Ética: Direitos Humanos, Educação e Trabalho</p><p>Universidade Santa Cecília - Educação a Distância</p><p>4. SOBRE A NOÇÃO DE CIDADANIA</p><p>Objetivo</p><p>Propiciar a compreensão da noção de cidadania e seu desenvolvimento na</p><p>sociedade moderna, identificado sua centralidade na construção dos direitos civis, políticos</p><p>e sociais.</p><p>Introdução</p><p>A noção de cidadania é central para que possamos dimensionar o processo de</p><p>construção de direitos presente na nossa sociedade. Tal concepção e processo foram</p><p>iniciados com a formação da sociedade moderna.</p><p>O entendimento da cidadania permite que possamos dimensionar a construção dos</p><p>direitos como um processo sócio-histórico capaz de influenciar a vida em sociedade, além</p><p>de definir aos seus indivíduos o que são deveres e o que são direitos para uma convivência</p><p>equilibrada.</p><p>Além disso, a cidadania se associa aos processos de participação da vida em</p><p>sociedade, onde os indivíduos podem expressar suas demandas sociais, exercitarem o ser</p><p>cidadãos e se apropriarem das questões presentes na sociedade.</p><p>4.1. Cidadania e suas determinações sócio-históricas</p><p>A formação da sociedade moderna corresponde a um marco do ponto de vista do</p><p>processo de civilização e do ponto de vista da vida social. Entre as transformações</p><p>ocorridas se destaca a reorganização da vida social e das formas de pertencer à sociedade.</p><p>Portanto, a partir da sociedade moderna todos os indivíduos passam a ser</p><p>considerados cidadãos, é importante destacar que com isso passam a ter direitos e deveres</p><p>para com a sociedade, o Estado e os demais cidadãos.</p><p>Tal reconhecimento significou um avanço do ponto de vista da organização social,</p><p>além disso, foi necessário para que a sociedade, no caso a europeia pudesse avançar em</p><p>seu processo civilizatório. Portanto, podemos considerar que a cidadania moderna é</p><p>22 Ética: Direitos Humanos, Educação e Trabalho</p><p>Universidade Santa Cecília - Educação a Distância</p><p>resultado do processo sócio-histórico e reflete as mudanças necessárias na busca do</p><p>desenvolvimento da vida em sociedade.</p><p>A noção de cidadania é anterior à modernidade e está associada aos processos de</p><p>lutas sociais da população em diferentes momentos da humanidade. Na Grécia antiga, a</p><p>“cidadania representava um privilégio para os homens livres, ou seja, os atenienses com</p><p>mais de 21 anos de idade, do sexo masculino; os cidadãos gregos participavam da vida</p><p>pública, das discussões que caracterizavam as questões decisivas sobre a sociedade</p><p>grega, os demais grupos sociais dessa sociedade, tais como as mulheres, os escravos e</p><p>estrangeiros eram excluídos das decisões políticas (Marcon, 2017, p.69).</p><p>Na Roma antiga, os cidadãos eram os patrícios, os direitos civis eram assegurados</p><p>a esse grupo e os direitos das gentes aos estrangeiros com o propósito de facilitar as</p><p>transações comerciais, os plebeus não tinham os direitos civis, políticos e religiosos</p><p>assegurados.</p><p>Estrutura social no Feudalismo</p><p>http://fexcidadania.blogspot.com/2017/03/de-volta-idade-media.html acesso em 17/02/2021</p><p>Na sociedade feudal, a ausência de mobilidade social e a estrutura da sociedade a</p><p>partir de estamentos permitia que as leis fossem elaboradas de forma fragmentada, sem</p><p>uma legislação comum a toda a sociedade feudal. Tal condição favorecia a rigidez da</p><p>estrutura social e a ausência do reconhecimento dos direitos aos servos que eram</p><p>considerados como uma extensão das terras situadas no feudo.</p><p>Na transição da sociedade feudal para a moderna as questões vinculadas à</p><p>liberdade, igualdade e reconhecimento de direitos se apresentavam como urgentes. À</p><p>http://fexcidadania.blogspot.com/2017/03/de-volta-idade-media.html</p><p>23 Ética: Direitos Humanos, Educação e Trabalho</p><p>Universidade Santa Cecília - Educação a Distância</p><p>medida que os burgueses aumentaram seu poder aquisitivo, reivindicavam pelo</p><p>reconhecimento dos direitos civis e políticos. Tal condição se constituiu na semente que</p><p>culminou em revoluções e na instituição de uma nova ordem social: a sociedade moderna.</p><p>4.2. As revoluções burguesas</p><p>A formação da sociedade moderna demandou um período de transição e sua</p><p>formação foi influenciada por várias determinações sócio-históricas, entre elas, as</p><p>revoluções burguesas, sendo a Revolução Industrial na Inglaterra e a Revolução Francesa</p><p>na França.</p><p>A Revolução Industrial corresponde às transformações do ponto de vista</p><p>socioeconômico da modernidade, pois significou o processo de implementação do modo</p><p>capitalista de produção com a formação das grandes indústrias, demandando o</p><p>desenvolvimento técnico-científico para respaldar tal formação e manter as industrias em</p><p>desenvolvimento e expansão do mercado de consumo e do processo de produção. Esse</p><p>processo demandou o desenvolvimento da cidade com a expansão urbano-industrial,</p><p>favorecendo a formação dos centros urbanos e a migração dos trabalhadores do campo</p><p>para o trabalho na indústria.</p><p>A implementação da produção industrial e, portanto, do modo capitalista de produção</p><p>correspondeu a um processo de transformação marcado por contradições, sendo essa uma</p><p>das características do próprio capitalismo. Desse modo, as contradições influenciaram a</p><p>condição de vida dos trabalhadores que trabalhavam inúmeras horas para terem condições</p><p>de receberem um salário que não era o suficiente para assegurar as mínimas condições de</p><p>sobrevivência na cidade em formação.</p><p>24 Ética: Direitos Humanos, Educação e Trabalho</p><p>Universidade Santa Cecília - Educação a Distância</p><p>Representação da Revolução Industrial</p><p>http://blogdopolini.blogspot.com/2014/09/revolucao-industrial-aula-de-historia.html acesso em 17/02/2021</p><p>Tal quadro foi impulsionado pela valorização das liberdades individuais que assegura</p><p>o direito à propriedade privada que contemplava o direito de acumular riquezas. Por outro</p><p>lado, a condição dos operários no final do século XVIII e início do século XIX demandou</p><p>mobilização e intensas lutas sociais que culminaram com a regulamentação dos direitos</p><p>trabalhistas; no caso os primeiros direitos sociais da sociedade moderna que foram</p><p>instituídos com o propósito de minimizar os conflitos sociais e o processo de desigualdade</p><p>social, inerente à sociedade capitalista.</p><p>Na França aconteceu a Revolução Francesa que significou um processo de</p><p>mudança do ponto de vista sociopolítico. A mola propulsora dessa revolução foi a tentativa</p><p>de resistir ao Absolutismo e sua centralização do poder</p><p>ao regente. Tal processo foi</p><p>necessário, pois a produção industrial começava a se organizar, os burgueses tinham poder</p><p>aquisitivo, mas não tinham reconhecimento política dentro da ordem feudal. Daí a</p><p>necessidade de pressionar a mudança do regime político e de toda a organização social da</p><p>sociedade que nascia.</p><p>Nesse caso, o lema dos burguesas foi: ‘Igualdade, Liberdade e Fraternidade’, o grito</p><p>sinalizava a urgência de um novo modelo político que coubesse a igualdade jurídica entre</p><p>as pessoas que viviam no mesmo pais, o cidadão.</p><p>No entanto, para que se chegasse ao reconhecimento de que todos os indivíduos</p><p>eram cidadãos, embora tivessem condições socioeconômicas diferentes seria necessário</p><p>http://blogdopolini.blogspot.com/2014/09/revolucao-industrial-aula-de-historia.html</p><p>25 Ética: Direitos Humanos, Educação e Trabalho</p><p>Universidade Santa Cecília - Educação a Distância</p><p>um Estado organizado de forma a respaldar o reconhecimento dessa igualdade civil ou</p><p>jurídica.</p><p>Representação da Revolução Francesa</p><p>https://brasilescola.uol.com.br/o-que-e/historia/o-que-e-revolucao-francesa.htm acesso 17/02/2021</p><p>Assim, a Revolução Francesa contribuiu para a formação da república como sistema</p><p>político como forma de assegurar e manter o nascente Estado Moderno que representou</p><p>um avanço do ponto de vista sociopolítico, bem como sociojurídico e culminou com a</p><p>elaboração da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão (1789), proclamando que</p><p>“os homens nascem livres e iguais em direitos”, sendo tais direitos “naturais e inalienáveis”,</p><p>devendo o Estado assegurá-los aos indivíduos através de sua organização, a separação</p><p>dos poderes (Marcon, 2017, p.85).</p><p>A noção de universalidade respaldou a organização sociojurídica, a ampliação da</p><p>concepção de direito e da noção de justiça. Nesse processo, as leis elaboradas para</p><p>organizar a vida sociojurídica deveria ser expressão da vontade geral.</p><p>4.3. Os direitos civis, políticos e sociais</p><p>Com a evolução da cidadania em etapas, tivemos também a formação e o instituição</p><p>dos diferentes direitos, os direitos civis, políticos e sociais.</p><p>Os direitos civis são também conhecidos como liberdades individuais, entre eles</p><p>destacam-se o direito de propriedade, “o direito à vida, à liberdade de expressão,</p><p>pensamento e fé, à propriedade, à igualdade perante a lei, à presunção de inocência” e, o</p><p>https://brasilescola.uol.com.br/o-que-e/historia/o-que-e-revolucao-francesa.htm</p><p>26 Ética: Direitos Humanos, Educação e Trabalho</p><p>Universidade Santa Cecília - Educação a Distância</p><p>direito de ir e vir. Os direitos civis têm o propósito de garantir a igualdade de todos perante</p><p>a lei, através da legitimação das liberdades fundamentais (Marcon, 2017, p.73).</p><p>Cena do filme Germinal</p><p>http://cineclubedelirio.blogspot.com/2010/11/das-coisas-que-podem-germinar.html acesso em 17/02/2021</p><p>Os direitos políticos correspondem à possibilidade de “participação do cidadão no</p><p>governo e no exercício do poder”, incluindo o direito ao voto e a “possibilidade de se</p><p>candidatar a cargos políticos e de participar de ou fundar partidos” políticos. Tais direitos</p><p>envolvem a ação dos indivíduos no Estado e na sociedade, ou seja, remete à participação</p><p>na vida pública de sua sociedade ou do lugar onde você reside (Marcon, 2017, p.74).</p><p>Os direitos sociais nascem do processo de mobilização social dos trabalhadores em</p><p>função de suas condições trabalhistas no momento da formação e consolidação do modo</p><p>capitalista de produção. Assim, dizem respeito aos direitos que asseguram as condições</p><p>mínimas de bem-estar social e econômico do cidadão, assegurando também os direitos</p><p>civis e políticos. São direitos sociais, o direito ao trabalho, à saúde, previdência social,</p><p>saúde, educação, à vida, maternidade, infância, entre outros.</p><p>Cabe ressaltar que esses direitos são fundamentais ao “pleno exercício de</p><p>cidadania”, estão presentes nas legislações nacionais, as Constituintes dos diferentes</p><p>países, as realizações desses direitos demandam a elaboração de políticas sociais por</p><p>parte dos Estados (Marcon, 2017, p.75).</p><p>http://cineclubedelirio.blogspot.com/2010/11/das-coisas-que-podem-germinar.html</p><p>27 Ética: Direitos Humanos, Educação e Trabalho</p><p>Universidade Santa Cecília - Educação a Distância</p><p>5. A NOÇÃO E O DEBATE SOBRE DIREITOS HUMANOS</p><p>Objetivo</p><p>Propiciar o entendimento sobre os direitos humanos, sua relação com os demais</p><p>direitos e sua importância para regular as relações sociais na vida em sociedade</p><p>Introdução</p><p>Os direitos humanos são também como os outros direitos resultado de um processo</p><p>sócio-histórico que corresponde ao esforço de regulamentar e validar a noção de dignidade</p><p>humana como marco civilizatório para assegurar o desenvolvimento das diferentes nações,</p><p>bem como de seus cidadãos.</p><p>O debate sobre os direitos humanos é relevante, pois seu reconhecimento e sua</p><p>efetivação envolvem questões presentes na sociedade do interesse de todos os cidadãos.</p><p>Além disso, o debate sobre a noção e os temas em torno dos direitos humanos permite que</p><p>se realize o processo de participação dos cidadãos onde esses podem se apropriar das</p><p>particularidades sobre a realização da dignidade humana.</p><p>A realização dos direitos humanos te uma dimensão educativa que se efetiva no</p><p>exercício de cidadania e, consequentemente, no processo de participação onde os</p><p>cidadãos podem pautar e reivindicar suas demandas.</p><p>5.1. Direitos humanos</p><p>A consolidação da sociedade moderna propiciou que caminhássemos para o que</p><p>Norberto Bobbio chama de A Era dos Direitos, pois destacou que o “problema fundamental</p><p>em relação aos direitos do homem, hoje não é tanto o de justifica-los, mas o de protegê-</p><p>los” (p.6). Tal questão alcança os direitos humanos, pois a concepção de direitos humanos</p><p>nasce vinculada ao fato de que eles seriam um direito natural do homem, mas ao mesmo</p><p>tempo, sua efetivação envolve ações afirmativas que devem estar previstas na lei dos</p><p>países que reconhecem os direitos humanos.</p><p>A questão é que os direitos humanos resultam de uma processo histórico de</p><p>civilização que tem seu marco na sociedade ocidental, abarcando países de diferentes</p><p>28 Ética: Direitos Humanos, Educação e Trabalho</p><p>Universidade Santa Cecília - Educação a Distância</p><p>continentes, mas não todos os países do mundo. Assim, foram necessários vários</p><p>acontecimentos que ocasionaram a urgência de reconhecê-los.</p><p>Nesse sentido, a identificação sobre o que são os direitos humanos envolve</p><p>diferentes perspectivas de análise. Primeiro, entende-se que são “direitos inerentes à</p><p>natureza humana”. Segundo, eles são considerados “uma construção do ser humano, que</p><p>pode ser conquistada com luta política” (p.8).</p><p>Sobre a Era dos Direitos</p><p>https://cecgp.com.br/a-era-dos-direitos-nos-70-anos-da-declaracao-universal-de-direitos-humanos-por-vital-</p><p>moreira/ acesso em 17/02/2021</p><p>Portanto, os direitos humanos envolvem concepções diferentes, entre elas a</p><p>idealista, a jurídico-positiva e a histórico-estrutural. As concepções idealistas buscam uma</p><p>fundamentação sobre os direitos humanos através de visão abstrata, ideal, “identificando</p><p>os direitos humanos a valores informados por uma ordem de princípios e condições</p><p>pretensamente inerentes à natureza humana” (Dornelles, 2013 Apud Chicarino, 2016, p.9).</p><p>Nas concepções jurídico-positivas, os direitos humanos são “direitos fundamentais</p><p>do ser humano e que surgem do Estado”, precisando estarem positivados na legislação</p><p>para que sejam reconhecidos (Dornelles, 2013 Apud Chicarino, 2016, p.9).</p><p>A concepção histórico-estrutural, os direitos humanos resultam de movimentos</p><p>históricos e refletem as conquistas de lutas sociais de um determinado grupo da sociedade.</p><p>“São marcados por contingências econômicas, políticas e ideológicas, expressando-se</p><p>através de conquistas sociais”. Assim, “os valores e princípios são</p><p>a expressão da práxis</p><p>https://cecgp.com.br/a-era-dos-direitos-nos-70-anos-da-declaracao-universal-de-direitos-humanos-por-vital-moreira/</p><p>https://cecgp.com.br/a-era-dos-direitos-nos-70-anos-da-declaracao-universal-de-direitos-humanos-por-vital-moreira/</p><p>29 Ética: Direitos Humanos, Educação e Trabalho</p><p>Universidade Santa Cecília - Educação a Distância</p><p>social e potencializam as demandas concretas por reconhecimento jurídico-formal e o</p><p>exercício pleno e material dos direitos” (Dornelles, 2013 Apud Chicarino, 2016, p.9).</p><p>A partir das concepções que tentam fundamentar os direitos humanos podemos</p><p>considerar que o reconhecimento desses direitos e sua materialidade vincula-se ao</p><p>processos históricos, circunstâncias e determinações que propiciaram experiência,</p><p>urgência de demandas sociais e acabaram impulsionando a materialidade desses direitos.</p><p>Contudo, podemos considerar que há relação entre processo histórico, mobilização e lutas</p><p>sociais e elaboração dos direitos sociais.</p><p>5.2. Evolução dos direitos humanos</p><p>As elaborações dos direitos envolveram um percurso na vida social, sendo</p><p>construídos, elaborados, aplicados ao longo do tempo. Tal percurso iniciou-se no século</p><p>XVIII com o processo de transformação social. Os direitos humanos têm como princípio a</p><p>realização da dignidade humana, ao mesmo tempo em que estabelecem limites ao poder</p><p>dos governos, pois há sempre um princípio básico a ser considerado e assegurado aos</p><p>cidadãos.</p><p>Portanto, sua efetivação envolve outros princípios, a universalidade, individualidade</p><p>e autonomia, alguns direitos humanos se configuram como direitos civis e políticos, sendo</p><p>os direitos de expressão, a religião, de não-violência. Esses direitos “reivindicam um espaço</p><p>de autonomia e liberdade frente ao Estado e a não interferência deste na vida dos cidadãos,</p><p>interferência no sentido privado ou de abuso de poder” (Chicarino, 2016, p.11).</p><p>É importante considerar que para a realização da dignidade humana se afirma pelo</p><p>reconhecimento dos direitos civis e políticos e também os sociais e culturais. Assim, os</p><p>“cidadãos começam a reivindicar do Estado proteção e garantia de direitos como acesso à</p><p>saúde, à habitação, à educação, o direito ao trabalho, à segurança social, ao lazer, etc”</p><p>(Chicarino, 2016, p.12).</p><p>30 Ética: Direitos Humanos, Educação e Trabalho</p><p>Universidade Santa Cecília - Educação a Distância</p><p>Os efeitos da 2ª Guerra Mundial: meninos no campo de concentração</p><p>https://observatorio3setor.org.br/noticias/lancamento-de-livro-discute-memoria-e-segunda-guerra-mundial/</p><p>acesso em 16/02/21</p><p>No entanto, a efetivação dos direitos humanos perpassa um acordo internacional,</p><p>seu surgimento se deu por volta de 1945, após a Segunda Guerra Mundial, embora cada</p><p>Estado que o reconheça deve realiza-lo em sua comunidade, ao mesmo tempo, ele é</p><p>regulado internacionalmente, através de um acordo que envolve países diferentes. Nesse</p><p>cenário, a ONU (Organizações das Nações Unidades) faz a mediação da comunidade</p><p>internacional, sendo uma espécie de guardiã da efetivação dos direitos humanos em cada</p><p>país que o reconhece. O genocídio dos judeus foi o acontecimento histórico que</p><p>impulsionou o papel da ONU diante da comunidade internacional, pautando a relevância e</p><p>urgência de sua efetivação nas diversas nações.</p><p>A Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948) é o documento que legitima e</p><p>protege os direitos humanos no cenário internacional, representou a afirmação do</p><p>compromisso de cada nação em efetivá-lo.</p><p>A garantia e a efetivação dos direitos humanos refletem as contradições presentes</p><p>na sociedade, bem como os processos políticos de disputa de poder entre as nações</p><p>diferentes, mantendo-se a divisão entre os países desenvolvidos e em desenvolvimento.</p><p>Além disso, nas últimas décadas as questões humanitárias de cunho global têm sido foco</p><p>de atenção da ONU.</p><p>5.3. A Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948)</p><p>Os artigos da Declaração Universal dos Direitos Humanos buscam romper com a</p><p>“violação e destruição da essência humana provocada pelo nazismo e constitui um marco</p><p>https://observatorio3setor.org.br/noticias/lancamento-de-livro-discute-memoria-e-segunda-guerra-mundial/</p><p>31 Ética: Direitos Humanos, Educação e Trabalho</p><p>Universidade Santa Cecília - Educação a Distância</p><p>universal de reconhecimento e proteção dos direitos humanos”. Tais princípios devem ser</p><p>seguidos e ensinados pelas nações aos seus cidadãos, por esse motivo os direitos</p><p>humanos devem ser estudados nas escolas (Chicarino, 2016, p.23).</p><p>Há na DUDH a indicação da preocupação com as novas gerações no propósito de</p><p>preservá-las de conflitos internacionais, “firmando as bases para uma sociedade</p><p>democrática, não por coincidência ‘dignidade, liberdade e igualdade’ são termos</p><p>significativos no presente texto”. É necessário que cada cidadão se aproprie do texto da</p><p>DUDH, pois ela foi elaborada em âmbito internacional e cada localidade, cada região tem</p><p>suas questões peculiares (Chicarino, 2016, p.23).</p><p>www.docsity.com/pt/declaracao-universal-dos-direitos-humanos-10/5140711/ acesso em 16/02/21</p><p>Por exemplo, podemos pensar que no Brasil ainda há a presença de trabalho</p><p>escravo, mais ainda, no Brasil temos a presença de crianças trabalhando nas ruas e sem</p><p>frequentar as escolas. Tal quadro se configura como uma particularidade da nossa região</p><p>ou do nosso país.</p><p>A garantia da dignidade humana envolve todos os outros direitos, civis, políticos,</p><p>sociais, econômicos e culturais, o que reforça sua relevância e complexidade.</p><p>http://www.docsity.com/pt/declaracao-universal-dos-direitos-humanos-10/5140711/</p><p>32 Ética: Direitos Humanos, Educação e Trabalho</p><p>Universidade Santa Cecília - Educação a Distância</p><p>https://brasa.org.br/declaracao-universal-dos-direitos-humanos/ acesso em 16/02/21</p><p>Assim, a realização dos direitos humanos permite que se resgate valores sociais que</p><p>fazem parte da sociedade, com o esforço de colocá-los em prática, eles envolvem a</p><p>solidariedade, paz, tolerância, as diferenças e as diversidades.</p><p>https://brasa.org.br/declaracao-universal-dos-direitos-humanos/</p><p>33 Ética: Direitos Humanos, Educação e Trabalho</p><p>Universidade Santa Cecília - Educação a Distância</p><p>6. EDUCAÇÃO PARA OS DIREITOS HUMANOS</p><p>Objetivo</p><p>Problematizar sobre a dimensão educativa em torno da apropriação dos temas e da</p><p>prática associada aos direitos humanos.</p><p>Introdução</p><p>Sabemos que os direitos humanos pressupõem debate para a sua realização, além</p><p>de envolver temáticas sensíveis e associadas à questões presentes na sociedade, o que</p><p>demanda uma preparação para todos possam identificar as próprias questões da sociedade</p><p>ligadas à problemática que envolve toda a efetivação dos direitos humanos.</p><p>Portanto, esses temas, a dignidade humana e até a normatização dos direitos</p><p>humanos devem ser debatidos na escola e em outros espaços socioeducativos. O trabalho</p><p>educativo em direitos humanos envolve profissionais de diferentes áreas, sendo importante</p><p>da formação de equipes multiprofissionais para o desenvolvimento de ações cidadãs.</p><p>Cabe ressaltar que no trabalho com direitos humanos todos aprendem: educadores,</p><p>educandos e outros profissionais ou atores sociais envolvidos no projeto ou no programa</p><p>em desenvolvimento.</p><p>6.1 Direitos humanos e direito à educação</p><p>A efetivação pelos direitos humanos passa pela incorporação dos temas diretamente</p><p>associados à dignidade humana em programas associados à política de educação, afinal</p><p>os direitos humanos pressupõem uma educação, a experimentação do debate e de práticas</p><p>que permitam que os estudantes-cidadãos se apropriem dessa temática para que eles</p><p>sejam sensíveis ao tema e tenham a disposição para orientar seus comportamentos de</p><p>forma a contemplar os princípios éticos e da dignidade humana.</p><p>O trabalho em educação com os direitos humanos</p><p>pressupõe um programa mundial</p><p>com definição de diretrizes, objetivos e princípios norteadores para o desenvolvimento das</p><p>ações necessárias para que sejam trabalhados em forma de atividades ou práticas</p><p>socioeducativas em âmbito local em articulação à diretrizes da ONU. Desse modo, no Brasil</p><p>a implementação de um projeto vinculado a um programa sugerido pela ONU demanda um</p><p>34 Ética: Direitos Humanos, Educação e Trabalho</p><p>Universidade Santa Cecília - Educação a Distância</p><p>planejamento intergovernamental e intersetorial, ou seja, envolve as três esferas de</p><p>governo: federal, estadual e municipal. A realização de um projeto intersetorial envolve</p><p>diferentes áreas, setores ou secretarias de uma gestão pública, por exemplo, um projeto de</p><p>cultura de paz pode abarcar a secretaria da educação, da assistência social, da cultura, da</p><p>habitação, entre outras.</p><p>https://www.ohchr.org acesso em 17/02/2021</p><p>O Programa Mundial para Educação em Direitos Humanos (2012) correspondeu a</p><p>um marco intergovernamental no Brasil. Podemos considerar que a educação em direitos</p><p>humanos corresponde a “práticas de atividades de capacitação e difusão de informação</p><p>orientadas para criar uma cultural universal na esfera dos direitos humanos, mediante a</p><p>transmissão de conhecimentos, o ensino de técnicas e a formação de atitudes” (Chicarino,</p><p>2016, p.25).</p><p>A educação em direitos humanos tem como propósito:</p><p> Fortalecer o respeito aos direitos humanos e às liberdades fundamentais.</p><p> Desenvolver plenamente a personalidade humana e o sentido da dignidade do ser</p><p>humano.</p><p> Promover a compreensão, a tolerância, a igualdade entre os sexos e a amizades entre</p><p>todas as nações, os povos indígenas e os grupos raciais, nacionais, étnicos, religiosos</p><p>e linguísticos.</p><p> Facilitar a participação efetiva de todas as pessoas em uma sociedade livre e</p><p>democrática, na qual impere o Estado de direitos.</p><p>https://www.ohchr.org/</p><p>35 Ética: Direitos Humanos, Educação e Trabalho</p><p>Universidade Santa Cecília - Educação a Distância</p><p> Fomentar e manter a paz.</p><p> Promover um desenvolvimento sustentável centrado nas pessoas e na justiça social</p><p>(UNESCO, 2012, Apud Chicarino, 2016, p.26).</p><p>A educação em direitos humanos envolve o conhecimento de práticas educativas,</p><p>temáticas vinculadas à noção de dignidade humana, mas também conhecimento sobre as</p><p>políticas sociais e gestão pública. Além de questões associadas à comunidade global e o</p><p>direito internacional, pois uma ação local ou regional, nesse caso, é sempre articulada com</p><p>a esfera internacional.</p><p>6.2. Os Tratados Internacionais</p><p>Os direitos humanos são elaborados em âmbito internacional no esforço de realizar</p><p>a universalização desses direitos aos cidadãos globais, seu reconhecimento deve ser</p><p>jurídico.</p><p>Nesse sentido, as declarações de direitos são elaboradas no esforço de estender os</p><p>princípios básicos que envolvem a realização da dignidade humana a todos os países</p><p>signatários, ou seja, que assinam junto à ONU o reconhecimento dos direitos humanos,</p><p>considerando que os direitos humanos buscam trabalhar com o princípio de igualdade, das</p><p>garantias daquilo que é necessário para as condições de vida dos indivíduos.</p><p>Os direitos humanos têm dimensão internacional porque superam os limites dos</p><p>diferentes Estados, envolvendo um processo de universalização e a intervenção</p><p>internacional. A intervenção ocorre “contra genocídio, tortura, discriminação, pobreza,</p><p>escravidão, tráfico de pessoas, velhas ou novas formas de terrorismo” (Chicarino, 2016,</p><p>p.30).</p><p>https://ugt.org.br/index.php/post/25291-Convencao-da-OIT-sobre-trabalho-infantil-conquista-ratificacao-universal acesso</p><p>em 17/02/2021</p><p>https://ugt.org.br/index.php/post/25291-Convencao-da-OIT-sobre-trabalho-infantil-conquista-ratificacao-universal</p><p>36 Ética: Direitos Humanos, Educação e Trabalho</p><p>Universidade Santa Cecília - Educação a Distância</p><p>A realização internacional dos direitos fortalece a dimensão da universalização e da</p><p>democracia na sociedade global e se constitui em esperança individual e coletiva, capaz de</p><p>regular processos históricos caracterizados pela disputa de poder, especialmente as</p><p>grandes guerras mundiais.</p><p>Portanto, o fato de os direitos humanos serem pautados por uma agência reguladora</p><p>e mediadora de nível internacional permite que se coloque em pauta situações de</p><p>intolerância, injustiça, às vezes de um grupo para outro grupo, ou de uma Nação para outra</p><p>Nação.</p><p>CIDADÃO, CIDADANIA E INTEGRAÇÃO SOCIAL</p><p>Dalmo de Abreu Dallari</p><p>A cidadania expressa um conjunto de direitos que dá à pessoa a possibilidade</p><p>de participar ativamente da vida e do governo de seu povo. Quem não tem</p><p>cidadania está marginalizado ou excluído da vida social e da tomada de</p><p>decisões, ficando numa posição de inferioridade dentro do grupo social. Por</p><p>extensão, a cidadania pode designar o conjunto das pessoas que gozam</p><p>daqueles direitos. Assim, por exemplo, pode-se dizer que todo brasileiro, no</p><p>exercício de sua cidadania, tem o direito de influir sobre as decisões do</p><p>governo. Mas também se pode aplicar isso ao conjunto dos brasileiros,</p><p>dizendo-se que a cidadania brasileira exige que seja respeitado seu direito de</p><p>influir nas decisões do governo. Nesse caso se entende que a exigência não é</p><p>de um cidadão mas do conjunto de cidadãos.</p><p>Na Grécia antiga, como se lê no filósofo Aristóteles (384 a.C.-322 a.C), já havia</p><p>o reconhecimento do direito de participar ativamente da vida da cidade,</p><p>tomando decisões políticas, embora esse direito ficasse restrito a um número</p><p>pequeno de pessoas. Em Roma, como anteriormente mencionado, foi feita a</p><p>classificação das pessoas para efeito de cidadania. Os estrangeiros e os</p><p>escravos estavam excluídos da cidadania, e, além disso, só uma parte dos</p><p>cidadãos romanos gozava da cidadania ativa. E só o cidadão ativo tinha o</p><p>direito de ocupar cargos públicos importantes e de participar das decisões</p><p>políticas, especialmente através do voto.</p><p>Cidadania: Participação na Vida Pública</p><p>Foi a partir da concepção romana que se adotou o conceito de cidadania, na</p><p>França do século dezoito, como foi acima exposto. E foi também a partir da</p><p>França que se introduziu nas legislações modernas a diferenciação entre</p><p>cidadania e cidadania ativa.</p><p>37 Ética: Direitos Humanos, Educação e Trabalho</p><p>Universidade Santa Cecília - Educação a Distância</p><p>A cidadania, que no século dezoito teve sentido político, ligando-se ao</p><p>princípio da igualdade de todos, passou a expressar uma situação jurídica,</p><p>indicando um conjunto de direitos e de deveres, jurídicos. Na terminologia</p><p>atual, cidadão é o indivíduo vinculado à ordem jurídica de um Estado. Essa</p><p>vinculação pode ser determinada pelo local do nascimento ou pela</p><p>descendência, bem como por outros fatores, dependendo das leis de cada</p><p>Estado. Assim, por exemplo, o Brasil consideram seus cidadãos, como regra</p><p>geral, as pessoas nascidas em território brasileiro ou que tenham mãe ou pai</p><p>brasileiro.</p><p>Essa vinculação significa que o indivíduo terá todos os direitos que a lei</p><p>assegura aos cidadãos daquele Estado, tendo também o direito de receber a</p><p>proteção de seu Estado se estiver em território estrangeiro. Desde o começo</p><p>do século dezenove foi estabelecida a idéia de que direitos específicos da</p><p>cidadania são aqueles relacionados com o governo e a vida pública. Em</p><p>primeiro lugar, o direito de votar e ser votado, mas a partir disso existem</p><p>outros direitos exclusivos dos cidadãos. Entre esses se acha o direito de ser</p><p>membro do Tribunal do Júri, além do direito de tter um cargo, emprego ou</p><p>função na Administração Pública.</p><p>A Cidadania no Brasil Atual</p><p>A constituição Brasileira de 1988 assegurou aos cidadãos brasileiros os direitos</p><p>já tradicionalmente reconhecidos, como o direito de votar para escolher</p><p>representantes do Legislativo e no Executivo e o direito de se candidatar</p>