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<p>L</p><p>Esse tal de</p><p>orgasmo</p><p>Uma jovem mulher em</p><p>busca do prazer</p><p>Mara Altman</p><p>Tradução de AnA LuizA Lopes</p><p>Sumário</p><p>pARTE i</p><p>Cadê a chave do meu cli-Taurus?....................................................... 11</p><p>Bagagem .............................................................................................. 19</p><p>Letras maiúsculas ................................................................................ 24</p><p>Orgasmos não correspondidos........................................................... 28</p><p>O botão e a rosa .................................................................................. 31</p><p>Retrato de uma inorgástica quando sexualmente inapta .................. 34</p><p>Não dá para trazer o orgasmo de fora ............................................... 39</p><p>Fada madrinha da masturbação ......................................................... 50</p><p>programada, desprogramada e programada de novo ....................... 59</p><p>Asas de morcego .................................................................................. 65</p><p>Um ano em Bangcoc faz uma inorgástica esquecer que tem</p><p>perereca .......................................................................................... 69</p><p>Viciada em respiração ......................................................................... 81</p><p>Fantasma ............................................................................................. 85</p><p>O monge que entende de pererecas ................................................... 87</p><p>Faixa preta ........................................................................................... 91</p><p>Se abrir um bar, eles vêm .................................................................... 94</p><p>De olhos vendados .............................................................................. 97</p><p>Janelas ................................................................................................ 101</p><p>Às vezes odeio meu cérebro .............................................................. 106</p><p>Venho por meio desta processar-me por difamação ...................... 110</p><p>Arca de Noé ....................................................................................... 115</p><p>Notas de pé de página ....................................................................... 122</p><p>O Gasmo ............................................................................................ 128</p><p>A poetisa da boceta exige desculpas ................................................. 132</p><p>O encantador de bocetas .................................................................. 137</p><p>O verbo não é uma palavra............................................................... 146</p><p>Xota aqui, xota ali, xota lá e acolá .................................................... 151</p><p>pARTE ii</p><p>Foi-se o tempo em que a evolução era genial .................................. 159</p><p>Amarela ............................................................................................. 163</p><p>A coisa verde que, na verdade, é roxa e que também pode ser a</p><p>chave ............................................................................................ 166</p><p>Brincadeira de casinha ...................................................................... 171</p><p>Boceta exemplar ................................................................................ 173</p><p>Toma lá dá cá .................................................................................... 178</p><p>Sucrilhos ............................................................................................ 184</p><p>Fodidos em sentidos opostos ........................................................... 190</p><p>Fruto .................................................................................................. 193</p><p>Abandonada pelo clitóris do país (e pela sarça ardente) ................ 197</p><p>Tum tum tum ................................................................................... 203</p><p>Ela sabe muito sobre o orgasmo feminino ...................................... 205</p><p>pARTE iii</p><p>Atarantada ......................................................................................... 215</p><p>Sei que estamos no meio, mas este é só o começo .......................... 223</p><p>Genéricos ........................................................................................... 229</p><p>Acampamento do Orgasmo ............................................................. 233</p><p>pARTE iV</p><p>O caso dos memorandos perdidos ................................................... 245</p><p>Quando o descomplicado fica complicado ..................................... 248</p><p>Afluentes ............................................................................................ 252</p><p>O encantador de bocetas faz sua segunda aparição ........................ 255</p><p>iNTERVALO OBRiGATóRiO pARA MASTURBAçãO</p><p>O sexo sentido ................................................................................... 267</p><p>Gonorreia espiritual .......................................................................... 270</p><p>Eu tô feliz, porra! .............................................................................. 286</p><p>Não pare. Não, pare. ......................................................................... 289</p><p>O menino de sete anos ...................................................................... 292</p><p>Meu sensível coração de pedra ......................................................... 295</p><p>O mundo das cintas penianas .......................................................... 297</p><p>Atacável? ............................................................................................ 302</p><p>OD e aos amigos ............................................................................... 305</p><p>Caspa na barba .................................................................................. 316</p><p>Hank conhece Earl ............................................................................ 320</p><p>O encantador de bocetas gostaria que todas as mulheres pro-</p><p>vassem seu bolo de chocolate ..................................................... 325</p><p>Dignifico o sagrado som ................................................................... 333</p><p>Bom.................................................................................................... 338</p><p>Revelação ........................................................................................... 343</p><p>Agradecimentos ................................................................................ 349</p><p>Parte I</p><p>| 11</p><p>Cadê a chave do meu cli-taurus?</p><p>Liguei para o dr. Barry Komisaruk. “Você nunca teve um orgas-</p><p>mo!?” isso foi o que ele disse ao saber que meu aparelho orgástico –</p><p>minha “área de lazer” – não funcionava. Talvez notando o desespero</p><p>na minha voz, o neurocientista de Nova Jersey ficou de vir a Nova</p><p>York para conversarmos. Mas antes de desligar começou a tomar</p><p>notas. “Qual a sua idade? Quantos irmãos você tem? Já tentou...”</p><p>O dr. Komisaruk acabara de publicar o livro The Science</p><p>of Orgasm com outros dois autores e parecia saber tudo sobre o</p><p>assunto. Tinha esperanças de que ele pudesse me ajudar, já que</p><p>nada do que eu tentara até então havia dado certo. A verdade é</p><p>que uma parte fundamental, porém bastante contraproducente,</p><p>do meu problema estava ligada ao fato de que “tentar” não incluía</p><p>masturbação.</p><p>Sobre isso falarei mais adiante.</p><p>Veja bem, tenho 26 e nenhum orgasmo para contar história.</p><p>Até os três gatos – Buddy, Sika e Lucy – que andam para lá e para</p><p>cá pelo meu apartamento no Brooklyn não me deixam esquecer</p><p>esse fato. Eles vomitam pelos, se lambem, arranham tudo e se es-</p><p>fregam na minha frente, o que me faz pensar em como os huma-</p><p>nos, especialmente eu, nos distanciamos tanto do instintivo. Meus</p><p>instintos parecem danificados; atrofiaram-se porque não os exer-</p><p>cito regularmente. Quero me esfregar na almofada do sofá e ainda</p><p>me felicitar por isso “vai lá, garota” –, mas não sou capaz de tocar</p><p>minha virilha, que dirá me esfregar na almofada. Estou padecendo</p><p>de um caso de inibição,</p><p>que pode estar associado a um certo grau</p><p>de ceticismo amoroso.</p><p>Consultei as estatísticas: 43 por cento das mulheres afirmam</p><p>ter algum tipo de disfunção sexual; logo, eu não deveria ficar tão</p><p>chocada. No entanto, quanto mais penso no problema, mais ele</p><p>me angustia. Quando falei da minha situação a uma amiga, ela por</p><p>12 | EssE tal dE orgasmo – PartE I</p><p>pouco não caiu de joelhos na calçada e rezou por mim – um feito</p><p>particularmente impressionante dada sua natureza ateia.</p><p>O dr. Komisaruk marcou nosso encontro em um restauran-</p><p>te indiano na Bleecker Street, no Village. Sugeri um etíope, mas ele</p><p>contou que, da última vez que comeu esse tipo de comida, se con-</p><p>fundiu e usou o pão folha para enxugar o suor da testa. Supôs que</p><p>fosse uma toalha. isso deixou-o com uma sensação desagradável</p><p>na pele, que não desejava reviver. Nem os neurocientistas podem</p><p>ser inteligentes em todas as áreas.</p><p>Não é que eu não tenha feito sexo; eu fiz, com seis homens.</p><p>(Na verdade, digamos que foram cinco e meio, mas deixo para falar</p><p>mais sobre isso depois.) Bom, de volta aos orgasmos, ou melhor,</p><p>à falta deles. Não, eu não tive um orgasmo. Um orgasmo comigo</p><p>mesma parece tão impossível quanto com qualquer um dos meus</p><p>cinco homens e meio. Quero mudar isso. Fui capaz de viajar pelo</p><p>mundo – morei na Espanha, na Índia, na Tailândia e no peru e per-</p><p>di muitos relacionamentos pelo caminho –, mas nunca me aventu-</p><p>rei pelo interior do meu corpo. Sendo assim, a jornada que decidi</p><p>empreender – a que me levou a ligar para o dr. Komisaruk – con-</p><p>sistirá em sair da minha zona de conforto, expandir meus limites</p><p>e dar um fim ao meu jeito pudico de ser. Bom, isso foi o que disse</p><p>a mim mesma, mas até agora a coisa está se mostrando mais difícil</p><p>do que eu imaginava.</p><p>Meu projeto não teve um início promissor. Há algumas se-</p><p>manas, marquei consulta com uma sexóloga chamada Melinda.</p><p>Ao entrar no seu consultório, estava extremamente ansiosa. Suava</p><p>como se tivesse atravessado uma floresta – poças d’água se forma-</p><p>vam sob meus braços, assim como pequenos redemoinhos sobre</p><p>meu lábio superior.</p><p>Melinda me disse que ficasse à vontade no seu sofá florido,</p><p>que era totalmente inadequado. Caso me sentasse na borda, meus</p><p>pés balançavam; se me apoiasse no encosto, minhas pernas ficavam</p><p>esticadas como as de uma criancinha numa camionete. Melinda não</p><p>podia falar sobre sexo comigo enquanto estivesse sentada daquele</p><p>jeito. A sensação seria de algo quase pedófilo. Decidi pelas pernas</p><p>cruzadas em posição de ioga e tentei ficar zen.</p><p>Cadê a ChavE do mEu ClI-taurus? | 13</p><p>Ela lembrava a Bette Midler, porém mais inchada. imagine</p><p>a Bette Midler com cabelos mais compridos e metida num unifor-</p><p>me de futebol americano. Agora, imagine que, em vez de deslizar</p><p>num palco cantando sobre amor, ela está à sua frente incitando</p><p>você a cantar sobre seus entraves sexuais. “Nunca tive um orgas-</p><p>mo”, desabafei.</p><p>Comecei a detalhar minhas teorias – talvez estivesse me re-</p><p>belando contra meus pais, um casal de hippies que ama o sexo; tal-</p><p>vez estivesse me definindo por comparação com a minha melhor</p><p>amiga, que respira orgasmos; talvez meu problema fosse causado</p><p>pelo muçulmano que namorei na Índia, um cara que não sabia</p><p>nem o que era punheta –, mas ela me cortou e começou a discorrer</p><p>sobre o que acontece com o corpo quando nos excitamos.</p><p>“A genitália se enche de sangue... lateja.”</p><p>“Espere aí”, exclamei. “Dá para voltar um pouquinho?” Senti</p><p>como se estivesse no nível três e ela tivesse pulado direto para o dez.</p><p>“Vá pra casa e estimule o seu clitóris”, continuou.</p><p>CLI-tóris? É assim que se fala? Eu tenho dito cli-Taurus, como se</p><p>fosse um modelo de Ford sedan que precisa ser acionado por uma chave</p><p>especial antes que eu possa levá-lo para dar uma volta pela cidade.</p><p>Racionalmente, eu sabia que bastava enfiar nas minhas par-</p><p>tes baixas um desses vibradores em formato de coelho de que todo</p><p>mundo fala e acabar logo com aquilo. Mas eu não via a questão</p><p>como um problema meramente físico. Queria entender por que,</p><p>apesar dos inúmeros vibradores que ganhara ao longo da vida, eu</p><p>ainda não havia tentado usá-los.</p><p>para mudar de assunto, disse a ela que estava pensando em</p><p>escrever um livro sobre o processo. Até aquele momento, estive ra</p><p>tão envolvida com o trabalho, tão obcecada em fazer algo importan-</p><p>te na vida, que era totalmente possível minha vagina ter sumido sem</p><p>que eu notasse. A única maneira de levar aquilo a sério seria fazer</p><p>do orgasmo o foco do meu trabalho, tornar aquela odisseia parte do</p><p>meu cotidiano de escritora e jornalista.</p><p>“péssima ideia”, declarou a sexóloga.</p><p>Segundo ela, escrever sobre o orgasmo seria a pior atividade</p><p>para alguém que desejasse experimentá-lo.</p><p>14 | EssE tal dE orgasmo – PartE I</p><p>“Você não pode pensar sobre o orgasmo”, afirmou. “Quan-</p><p>to mais ponderar sobre o orgasmo, mais improvável se tornará. É</p><p>preciso relaxar.”</p><p>Em outras palavras, ela continuava a cantar seu mantra:</p><p>Deixe de drama e estimule o seu clitóris!</p><p>Sem arredar pé, Melinda reiterou sua posição. “Sou muito</p><p>direta”, declarou. “Existe algum lugar reservado na sua casa onde</p><p>você fique à vontade para se tocar?”</p><p>Joguei um travesseiro entre as pernas, protegendo meus</p><p>paí ses baixos, e encolhi os ombros. “Meu quarto tem porta. É isso</p><p>que você quer dizer?”</p><p>Nosso tempo acabou. Quando fui ao banheiro, não havia</p><p>vestígio algum de orgasmo, apenas um sabonete velho e um bastão</p><p>de desodorante ressecado. Confiar naquela sexóloga seria como</p><p>confiar numa cabeleireira com um penteado estilo Ênio, da Vila</p><p>Sésamo. Enquanto me acompanhava até a porta, ela disse que ado-</p><p>raria trabalhar comigo novamente, mas foi enfática ao me acon-</p><p>selhar a não escrever: “Você nunca terá um orgasmo se pensar</p><p>demais nisso”.</p><p>Fui incapaz de levar a sério o conselho, não sei ao certo por</p><p>quê. Talvez fosse a foto do Vaticano emoldurada no consultório.</p><p>Ela parecia o Antigasmo.</p><p>Do Antigasmo, fui para o Google. Encontrei um site inte-</p><p>ressante chamado Vulva University, com base em São Francisco.</p><p>Dorrie Lane, a diretora, me contou que estava treinando a nova</p><p>geração de vulvalucionárias. Evoquei a imagem da icônica camise-</p><p>ta vermelha com a silhueta de Che Guevara substituída por um so-</p><p>litário monte púbico de boina. Eu queria ser uma vulvalucionária.</p><p>Tornar-se vulvalucionária parecia ser um pré-requisito para uma</p><p>garota como eu, que desejava gozar. Dorrie afirmou que isso não</p><p>era problema, bastava ter uma vulva.</p><p>“Mesmo que a vagina seja defeituosa?”, perguntei.</p><p>Antes de mais nada, ela repreendeu meu vocabulário geni-</p><p>tal. Dorrie explicou que a palavra “vagina” se refere apenas ao ca-</p><p>nal interno e só enfatiza o caráter penetrável da genitália femini na,</p><p>ao passo que “vulva” engloba a parafernália toda, inclusive o clitóris.</p>

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