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<p>Contextualização histórica da</p><p>modernidade artística</p><p>Você vai entender como ocorreu a modernidade artística e a ruptura com a tradição, e as novas práticas</p><p>arquitetônicas, artísticas e culturais entre os séculos XIX e XX. Além disso, vai compreender os efeitos da</p><p>Grande Guerra nas artes visuais, a participação dos artistas nas trincheiras e o sistema da arte na</p><p>modernidade.</p><p>Profa. Adriana Sanajotti Nakamuta</p><p>1. Itens iniciais</p><p>Propósito</p><p>Entender as mudanças e os papéis da arte na modernidade, influenciadas pela Revolução Industrial, pela</p><p>Primeira Guerra Mundial e por regimes totalitários como nazismo, fascismo e comunismo, é essencial para o</p><p>desenvolvimento de uma visão crítica sobre a história e a sociedade, enriquecendo seu conhecimento cultural</p><p>e histórico.</p><p>Objetivos</p><p>Identificar a produção artística na modernidade no final do século XVIII e nas primeiras décadas do</p><p>século XX.</p><p>Identificar os efeitos da Primeira Guerra Mundial na produção plástico-visual.</p><p>Reconhecer os impactos do nazismo, fascismo e comunismo na arte.</p><p>Introdução</p><p>Em um período relativamente extenso, como foi o marcado pela Revolução Industrial, mais especificamente</p><p>entre 1760 e 1840, compreender a produção artística em toda sua extensão de práticas, técnicas e repertórios</p><p>é, sem dúvida, uma tarefa desafiadora. Isso se deve a grandiosidade cronológica – marcada ainda por</p><p>inúmeros outros eventos importantes e fatos isolados –, mas também pelas dimensões geográficas e</p><p>peculiaridades – tendo em vista seu início na Inglaterra e, posteriormente, extensivo a toda Europa ocidental e</p><p>aos Estados Unidos.</p><p>Não há dúvida de que inúmeros foram os impactos da Revolução Industrial na arte e no campo cultural, como</p><p>veremos a partir de agora. A transição do processo artesanal para a produção em larga escala pelos novos</p><p>maquinários, o crescimento urbano com o êxodo rural, a produção de novos bens de consumo e o forte</p><p>crescimento econômico em países capitalistas impactaram o campo cultural-artístico por diferentes formas,</p><p>cujas consequências (benéficas) técnicas e plástico-visuais são vistas até os dias atuais.</p><p>•</p><p>•</p><p>•</p><p>A pintura Abertura da Ferrovia Stockton e Darlington</p><p>em 1825, por John Dobbin.</p><p>1. A produção artística entre o século XVIII e XX</p><p>Impactos da Revolução Industrial na arte</p><p>Descubra neste vídeo o impacto da Revolução Industrial no campo da arte. Para isso, você verá a análise de</p><p>duas obras: Ferro e carvão, por William Bell Scott e Segunda classe, por Tarsila do Amaral.</p><p>Conteúdo interativo</p><p>Acesse a versão digital para assistir ao vídeo.</p><p>Embora não seja possível indicar com exatidão a data de seu surgimento (Geralmente, considera-se que a</p><p>Revolução Industrial começou por volta de 1760.), a chamada Revolução Industrial eclodiu inicialmente na</p><p>Inglaterra, durante o século XVIII, quando a convergência de condições políticas favoráveis, de recursos</p><p>naturais disponíveis e de fatores sociais específicos impulsionaram o desenvolvimento das atividades</p><p>comerciais do país.</p><p>Surgiram as primeiras máquinas movidas por energia</p><p>artificial, substituindo o trabalho do homem. As aldeias</p><p>inglesas se transformaram em cidades populosas com as</p><p>primeiras chaminés das fábricas; surgiram as primeiras</p><p>estradas amplas, os trilhos de ferro para rápidas</p><p>locomotivas, bem como os navios a vapor carregados de</p><p>matérias-primas e mercadorias.</p><p>As transformações desencadeadas a partir de então</p><p>modificaram de forma brusca a vida das sociedades</p><p>humanas, dando forma e vigor à sociedade industrial que</p><p>conhecemos. Elas marcam a etapa decisiva de transição de</p><p>um esquema pré-capitalista para um estado em que as</p><p>características fundamentais do capitalismo se impõem. São elas:</p><p>O progresso técnico continuado.</p><p>Capitais mobilizados para o lucro.</p><p>A separação mais clara entre uma burguesia, possuidora dos bens de produção, e o proletariado, que</p><p>vende no mercado sua força de trabalho.</p><p>A organização do trabalho produtivo foi drasticamente alterada, ou seja, a produção de manufaturas familiares</p><p>e que atendiam a pequenos mercados foi substituída pela fábrica. Com as novas máquinas a vapor, a</p><p>produção passou a ser em larga escala, empregando centenas de trabalhadores.</p><p>Da Inglaterra, essas transformações se estenderam, de forma e em ritmo desiguais, para os países da Europa</p><p>continental e outras poucas áreas de além-mar, revolucionando, no espaço de poucas gerações, a natureza</p><p>da história dos homens e as relações entre eles.</p><p>•</p><p>•</p><p>•</p><p>A pintura A Laminação de Ferro, por Adolph Von</p><p>Menzel.</p><p>Em 1850, teve lugar a chamada Segunda</p><p>Revolução Industrial, que foi uma aceleração</p><p>das transformações em curso, impulsionadas</p><p>pelo aparecimento de diversas inovações</p><p>técnicas, como o aperfeiçoamento da indústria</p><p>química; o surgimento de novas fontes de</p><p>energia motriz (eletricidade); os processos de</p><p>transformação do ferro em aço. No final do</p><p>século XIX, o desenvolvimento industrial</p><p>alcança um estágio jamais imaginado.</p><p>Período de grande prosperidade econômica, de</p><p>fé inabalável na ciência, na técnica e no</p><p>progresso da civilização, tais valores se</p><p>tornaram de grande aceitação e disseminação</p><p>no âmbito da sociedade burguesa. A tecnologia possibilitava a produção em massa de mercadorias e</p><p>benfeitorias que geravam conforto aos seus compradores.</p><p>Um excelente exemplo para compreender os impactos desse momento na produção artística, especialmente</p><p>na pintura, está em Ferro e Carvão, obra produzida pelo artista escocês William Bell Scott (1811-1890). Um dos</p><p>primeiros artistas a descrever detalhadamente em suas obras os processos da Revolução Industrial.</p><p>Há ainda outros elementos que nos indicam os impactos dessas transformações, como a presença dos navios</p><p>a vapor, as pontes – grandes obras de engenharia –, inúmeras pessoas pelas ruas e, ainda, a presença de uma</p><p>criança no canto inferior esquerdo no ambiente de trabalho com dois elementos de destaque: o peão e a</p><p>marmita. Cena dos novos tempos, dos novos hábitos e de espaços de convívio, especialmente dos processos</p><p>de trabalho.</p><p>Segundo J. Guinsburg (2013), o romantismo e o realismo, movimentos artísticos importantes desse período,</p><p>são fruto de dois grandes acontecimentos na história da humanidade, ou seja, a Revolução Francesa e suas</p><p>derivações, e a Revolução Industrial. As duas revoluções provocaram e geraram novos processos,</p><p>desencadeando forças que resultaram na formação da sociedade moderna, moldando em grande parte os</p><p>seus ideais (sociais).</p><p>As artes receberam os novos elementos gerados no contexto das revoluções, incorporando-os em</p><p>suas várias formas de expressão, já anteriormente preparados com a revolução intelectual dos</p><p>séculos XVII e XVIII.</p><p>São as diversas e emblemáticas “formas de expressão” que veremos nas construções pictóricas do extenso</p><p>período que compreende os impactos e efeitos da Revolução Industrial.</p><p>O Vagão da Terceira Classe, obra do artista francês Honoré Daumier (1808-1879), realizada entre 1863 e 1865,</p><p>é um importante exemplo para compreensão da chamada “ruptura” da tradição na pintura.</p><p>Embora os parâmetros técnicos e, por vezes, as inspirações estejam presentes – como o pintor Daumier que</p><p>se dedicou aos estudos das obras de mestres como Peter Paul Rubens (1577-1640) e Ticiano Vecellio (c.</p><p>1473/1490-1576) –, o que muda na arte com os efeitos da Revolução Industrial e dos impactos na sociedade à</p><p>época é o repertório e a forma de apresentação. Toda a carga narrativa está na visualidade dos corpos, na</p><p>expressão dos rostos, na atitude do artista para além das questões de estilo – fator de peso até o século XVIII.</p><p>O que vemos (as marcações em amarelo e vermelho sinalizam essa construção visual em primeiro e segundo</p><p>planos) é a apresentação de uma cena que se tornará comum. Vagões de trem – objeto de deslocamento de</p><p>massa – com pessoas/trabalhadores cansados; um espaço pictórico que também sinaliza a divisão de classes,</p><p>os novos tempos e as novas realidades. A carga expressiva do cansaço e das condições socioeconômicas</p><p>está posta nos rostos, nas vestimentas, na posição dos corpos e até mesmo no pequeno</p><p>de São Paulo, MASP, entre outros, para compreender a</p><p>formação de acervos e coleções de arte pelo mundo, em especial os de pintura e escultura sobre a</p><p>modernidade artística entre os séculos XVIII e XX.</p><p>Assista ao filme Olympia (1938, Alemanha), dirigido por Leni Riefenstahl, uma famosa cineasta alemã. É uma</p><p>narrativa necessária, não perca!</p><p>Referências</p><p>GUINSBURG, J. O romantismo. São Paulo: Perspectiva, 2013.</p><p>GOMBRICH, E. H. A história da arte. Rio de Janeiro: LTC, 2012.</p><p>HOBSBAWN, E. J. A Era dos Extremos: o breve século XX (1914-1991). São Paulo: Companhia das Letras, 1996.</p><p>HOBSBAWN, E. J. A Era do Capital (1848-1875). Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2012.</p><p>HUCHET, S. A história da arte, disciplina luminosa. Revista da Universidade Federal de Minas Gerais, v. 21, n.</p><p>1.2, 7 abr. 2014.</p><p>LURKER, M. Dicionário de Simbologia. São Paulo: Martins Fontes, 1997.</p><p>MARABINI, J. Berlim nos tempos de Hitler. Coleção Vida Cotidiana. São Paulo: Companhia das Letras, 1987.</p><p>MESTRES DA PINTURA. Courbet. São Paulo: Abril, 1978.</p><p>PALHARES, T. Percursos críticos. In: Arte brasileira na Pinacoteca de São Paulo: do século XIX aos anos de</p><p>1940. São Paulo: Cosac Naify / Imprensa Nacional / Pinacoteca, 2009.</p><p>PELEGRINI, S. C. A. Revista Patrimônio & Memória. São Paulo, Unesp, v. 9, n. 2, p. 17-42, jul.-dez., 2013.</p><p>REMARQUE, E. M. Nada de novo no front. Porto Alegre: L&PM, 2011.</p><p>RIBEIRO JÚNIOR, J. O que é nazismo. Coleção Primeiros Passos. São Paulo: Brasiliense, 1986.</p><p>RICHARD, L. A República de Weimar. Coleção Vida Cotidiana. São Paulo: Companhia das Letras, 1988.</p><p>ROSENFELD, A. História da literatura e do teatro alemães. São Paulo: Perspectiva, 1993.</p><p>STRICKLAND, C. Arte comentada: da pré-história ao pós-moderno. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2014.</p><p>Contextualização histórica da modernidade artística</p><p>1. Itens iniciais</p><p>Propósito</p><p>Objetivos</p><p>Introdução</p><p>1. A produção artística entre o século XVIII e XX</p><p>Impactos da Revolução Industrial na arte</p><p>Conteúdo interativo</p><p>Art Déco, Art Nouveau e as novas tecnologias</p><p>Conteúdo interativo</p><p>Estação Central do Brasil, no Rio de Janeiro.</p><p>Conjunto urbano preservado na cidade de Goiânia, no estado de Goiás.</p><p>13 minutos</p><p>24 segundos</p><p>3 segundos</p><p>Nicolas-Antoine Taunay (1755-1830)</p><p>Debret (1768-1848)</p><p>Grandjean de Montigny (1776-1850)</p><p>Verificando o aprendizado</p><p>2. A Primeira Guerra Mundial na arte</p><p>A euforia que precede a dor: Belle Époque</p><p>Conteúdo interativo</p><p>Gradil Art Déco</p><p>Gradil Art Nouveau</p><p>A arte e a guerra</p><p>Conteúdo interativo</p><p>A arte em tempos de guerra</p><p>The Menin Road, de Paul Nask</p><p>Spring in the Trenches, de Paul Nash</p><p>Modernidade na arte</p><p>Conteúdo interativo</p><p>Verificando o aprendizado</p><p>3. Nazi-fascismo e comunismo na arte</p><p>A ascensão do nazi-fascismo e comunismo e seus impactos na arte</p><p>Conteúdo interativo</p><p>O Gabinete do Dr. Caligari</p><p>Nosferatu, de F.W. Murnau</p><p>A arte na cultura nazista</p><p>Conteúdo interativo</p><p>Ajude-nos a vencer!</p><p>Arno Breker</p><p>Arno Breker e Albert Speer</p><p>Nenúfares</p><p>Arianos</p><p>Semitas</p><p>A Revolução Russa e a arte</p><p>Conteúdo interativo</p><p>Verificando o aprendizado</p><p>4. Conclusão</p><p>Considerações finais</p><p>Podcast</p><p>Conteúdo interativo</p><p>Explore +</p><p>Referências</p><p>espaço onde se</p><p>encontra um número grande de pessoas.</p><p>A tomada de consciência do papel da arte e da sua estreita relação com a sociedade será muito explorada,</p><p>mas isso não impedirá a continuidade das pinturas de gênero histórico e as grandes encomendas religiosas. O</p><p>que teremos a partir de então – que será ainda mais questionado com as vanguardas artísticas – é a chegada</p><p>de novos temas e de uma arte com espaço para cenas e indivíduos não representados ou não</p><p>representativos:</p><p>Pessoas que viajavam na terceira classe.</p><p>Camponeses.</p><p>Trabalhadores do campo e da cidade.</p><p>Mulheres e crianças.</p><p>No século XX, período em que as vanguardas artísticas estavam em voga na Europa, o Brasil vivia o</p><p>modernismo. A pintora paulista Tarsila do Amaral (1886-1973) se dedicou a termas sociais em suas obras, à</p><p>semelhança dos propósitos de Daumier, no século anterior. Tarsila pintou a obra Segunda Classe, em 1933, um</p><p>óleo sobre tela, exposta na mostra Tarsila Popular, em 2019, no Museu de Arte de São Paulo Assis</p><p>Chateaubriand.</p><p>•</p><p>•</p><p>•</p><p>•</p><p>Segunda Classe, por Tarsila do Amaral.</p><p>A comparação entre as obras de Honoré Daumier e de Tarsila do Amaral evidencia a importância da temática,</p><p>pois, para além das diferenças nas escolhas pictóricas de cada artista e da distância cronológica que separa</p><p>as obras – a primeira datada de 1863, e a segunda, de 1933 –, o que está em questão é o repertório visual, a</p><p>importância do tema, que passa a fazer parte das pinturas dos séculos XIX e XX, estritamente ligadas às</p><p>novas perspectivas sociais e econômicas observadas por esses e tantos outros artistas. Repare!</p><p>O Vagão da Terceira Classe, por Honoré Daumier.</p><p>Segunda Classe, por Tarsila do Amaral.</p><p>Segunda Classe, centrada em uma família que desembarca de um trem, foi uma cena real presenciada por</p><p>Tarsila, transformada mais tarde em uma pintura cujo peso expressivo de tristeza e simplicidade está no rosto</p><p>e na postura dessa família, bem como nas vestes e nos pés descalços.</p><p>Há também a representação de símbolos emblemáticos para o período. Uma delas é o caso da pintura sobre</p><p>madeira, um autorretrato da pintora russa Tamara de Lempicka (nascida Maria Górska) intitulado Autorretrato</p><p>(Tamara no Bugatti verde), um ótimo exemplo para a compreensão desse impacto no campo pictórico, mais</p><p>especificamente na construção de outras narrativas visuais para além do repertório amplamente conhecido</p><p>dentro da tradição de pintura até o século XVIII.</p><p>Autorretrato (Tamara no Bugatti verde), por Tamara de Lempicka.</p><p>Sobre essa obra, Santos et al. (2007) descrevem que, no decorrer dos últimos 25 anos, esse quadro ficou</p><p>famoso e tem sido muito reproduzido. Não é um retrato no sentido de representar a aparência de uma mulher</p><p>específica. É improvável que, a partir dessa imagem altamente estilizada, alguém fosse capaz de reconhecer a</p><p>pintora na rua. Trata-se, antes, de um momento e de um tipo de mulher que surgiu naquela época.</p><p>Por meio do sacrifício de toda uma geração de homens, a Primeira Guerra Mundial provavelmente foi o evento</p><p>histórico que mais colaborou para o progresso e a emancipação das mulheres. Na agitada década de 1920, o</p><p>automóvel era o símbolo máximo da emancipação feminina, para as mulheres que podiam dar-se a esse luxo.</p><p>O relato de Tamara de Lempicka sobre como ela pegou a bela Rafaela no Bois de Bologne e a levou a seu</p><p>ateliê é um exemplo de como o automóvel podia ser usado como auxílio para independência sexual.</p><p>Art Déco, Art Nouveau e as novas tecnologias</p><p>Assista ao vídeo e conheça os estilos Art Déco e Art Nouveau, além das novas tecnologias, para entender</p><p>como a chegada dessas inovações trouxe mudanças significativas na cultura e nas artes.</p><p>Conteúdo interativo</p><p>Acesse a versão digital para assistir ao vídeo.</p><p>Tamara de Lempicka, nascida em Varsóvia em 1898, foi uma importante pintora do estilo conhecido como Art</p><p>Déco, que teve impacto nas artes visuais – decorativas e gráficas –, na arquitetura e no design. O nome dado</p><p>Ilustração de Georges Barbier de um vestido de Paquin</p><p>(1914).</p><p>a esse estilo tem origem na abreviação de artes decorativas da Exposição Internacional de Artes Decorativas</p><p>e Industriais Modernas realizada em 1925, em Paris.</p><p>Combinado aos movimentos e estilos modernistas já em voga, o Art Déco foi marcado por exuberância, luxo e</p><p>requinte associados à expectativa que havia sobre o progresso social e tecnológico já implantado com a</p><p>Revolução Industrial.</p><p>No padrão decorativo desse estilo, vemos uma</p><p>predominância de linhas retas ou circulares estilizadas,</p><p>formas geométricas e design abstrato; entre os motivos</p><p>mais explorados estão os animais e as formas femininas;</p><p>esse estilo clean e puro Art Déco dirige-se ao moderno e às</p><p>vanguardas do começo do século XX.</p><p>Art Déco e Art Nouveau foram dois estilos presentes no</p><p>entresséculos XIX-XX, especialmente na arquitetura, frutos</p><p>da implementação de processos e produtos decorrentes da</p><p>Revolução Industrial, tais como ferro, cimento, vidro, entre</p><p>outros elementos que alcançaram produção e qualidade em</p><p>larga escala.</p><p>Confira alguns bons exemplos no Brasil!</p><p>Estação Central do Brasil, no Rio de</p><p>Janeiro.</p><p>Conjunto urbano preservado na cidade</p><p>de Goiânia, no estado de Goiás.</p><p>As novas tecnologias provocaram mudanças substanciais na esfera da cultura e das artes, resultando em</p><p>profundas consequências para a prática artística. Se, desde seus primórdios, a arte esteve intimamente</p><p>relacionada com a técnica, a ponto de os povos antigos não fazerem distinção entre o artesão e o artista, as</p><p>imensas inovações tecnológicas rapidamente se fizeram sentir no âmbito da produção artística.</p><p>A influência das descobertas tecnológicas tornou-se mais expressiva na arte de fins do século XIX e início do</p><p>século XX. Com o surgimento de novas possibilidades, surgiram novos suportes para os artistas, ampliando</p><p>tanto o mercado quanto o sistema da arte.</p><p>Sistema da arte</p><p>No ensaio A obra de arte na era da sua reprodutibilidade técnica, o crítico cultural, filósofo e sociólogo</p><p>Walter Benjamin (1892-1940) apresenta uma reflexão sobre os efeitos da reprodutibilidade técnica na</p><p>arte.</p><p>Podemos citar o exemplo do crescimento da imprensa e da edição, com o surgimento de novas prensas que,</p><p>com poucas modificações, permaneciam quase idênticas às dos tempos de Johannes Gutenberg. Veja a</p><p>seguinte prensa de tipos móveis!</p><p>Prensa de tipos móveis de 1811 em exposição em Munique, na Alemanha.</p><p>Em 1795, Stanhope criou a prensa de ferro e, em 1811, König inventou a prensa rotativa que, com a energia e o</p><p>vapor, substituiu a força humana: a tiragem tecnicamente possível de 150 folhas (retroverso) passou para mil</p><p>folhas por hora.</p><p>No ramo editorial, aparecem também mudanças significativas. Em Paris, o número de livrarias triplica entre</p><p>1815 e 1845, crescimento superior ao da própria população da cidade. A impressão de livros alcança tiragens</p><p>até então inéditas e, com a disseminação dos jornais e periódicos, o mercado de livros e impressos atinge</p><p>grandes proporções. Surgem também nesse período os chamados romances folhetins, que deliciam os</p><p>leitores com suas aventuras e reviravoltas, publicados de forma parcial e sequenciada.</p><p>Em 1839, surge o daguerreótipo, aparelho fotográfico inventado por Louis Daguerre (1787-1851), físico e pintor</p><p>francês, que fixava as imagens obtidas na câmara escura em uma folha de prata sobre uma placa de cobre. A</p><p>descoberta causa uma verdadeira inflexão na produção de imagem.</p><p>Câmara de daguerreótipo.</p><p>O daguerreótipo possuía, no entanto, vários inconvenientes. Era pesado – cerca de 50 kg –, custava caro –</p><p>entre 300 e 400 francos –, a placa, sensibilizada pelo vapor, tinha de ser preparada na hora, e o tempo de</p><p>exposição do objeto fotografado girava em torno de meia hora. Havia ainda outra limitação: ele não fornecia</p><p>cópias.</p><p>Entre 1839 e 1841, uma série de aperfeiçoamentos técnicos é realizada, diminuindo o peso do aparelho, seu</p><p>preço, melhorando o aproveitamento ótico das lentes. A descoberta de novas substâncias aceleradoras torna</p><p>as placas mais sensíveis à luz, reduzindo o tempo de exposição</p><p>(embora sem ainda atingir a instantaneidade).</p><p>Acompanhe!</p><p>1840</p><p>13 minutos</p><p>1842</p><p>24 segundos</p><p>1855</p><p>3 segundos</p><p>Esse progresso incentiva a criação de ateliês, que, desde 1841, começam a proliferar em Paris. Em 1842, são</p><p>produzidos na cidade cerca de 1800 retratos que, embora ainda artesanais, já nos dão a dimensão de um</p><p>quadro pré-industrial que se anunciava.</p><p>O mercado ainda se transformaria radicalmente com o surgimento da fotografia. A sua invenção, por Henry</p><p>Fox Talbot (1800-1877), na Inglaterra, possibilitava a produção de cópias, além de fornecê-las em papel, não</p><p>em placas, barateando o procedimento e tornando o transporte mais fácil.</p><p>Carlos X distribuindo os prêmios no Salão de 1824, por</p><p>François Joseph Heim.</p><p>A incorporação de novas tecnologias na produção de imagens contribuiu para essa transformação no modo</p><p>de conceber a produção artística. A divisão social do trabalho tornou as atividades manuais de produção cada</p><p>vez mais simples e desprovidas de qualquer significado criativo e, consequentemente, desvalorizadas.</p><p>A automação só fez aumentar a dicotomia entre criar e fazer, e a progressiva transposição do</p><p>estético do gesto para a ideia criativa.</p><p>Embora tenham sido recebidos com desconfiança e pessimismo pelos artistas plásticos, a fotografia e, anos</p><p>depois, o cinema não representaram uma ameaça à pintura, que passou a conviver e dividir com as novas</p><p>linguagens o interesse do público. As diversas formas de manifestação artística da atualidade convivem,</p><p>influenciam-se e se referem mutuamente.</p><p>No final do século XIX, outros inventos propiciaram novas formas de olhar o mundo – o telescópio, o</p><p>microscópio – e trouxeram para a arte novos temas e outros pontos de vista. O surgimento de máquinas e</p><p>dispositivos que tinham por função principal a gravação, reprodução e transmissão de sons e imagens, como</p><p>o telefone, o telégrafo, o gramofone, a máquina fotográfica, o rádio e o cinema, também influenciaram</p><p>diretamente a produção artística.</p><p>Se a produção foi radicalmente transformada em seus mais consagrados princípios, o que se dirá da</p><p>capacidade de reprodução que as novas tecnologias abriram à atividade artística? A possibilidade de, a partir</p><p>de uma obra, obter milhares de cópias iguais feria um dos valores tradicionais da arte desde o Renascimento –</p><p>a importância atribuída ao original. As novas tecnologias trouxeram consigo a reprodutibilidade infinita da</p><p>imagem.</p><p>Assim como a pintura, a fotografia também tem marcas fortes ligadas à construção social do indivíduo e à</p><p>imagem eternizada. Isso é evidente nos retratos de personalidades, eventos históricos importantes, cenas do</p><p>cotidiano, entre outros registros desde sua descoberta.</p><p>A profissionalização do ensino de arte e a</p><p>constituição disciplinar da história da arte</p><p>também farão parte do campo artístico,</p><p>ampliando os propósitos centrados nas eras da</p><p>razão e da máquina, ou seja, os séculos XVIII e</p><p>XIX foram um período áureo das academias –</p><p>filosóficas, científicas e literárias – com intenso</p><p>apoio do Estado às instituições de ensino</p><p>artístico.</p><p>No Brasil, por exemplo, em 1816, recebemos a</p><p>Missão Artística Francesa – fruto da</p><p>revalorização das instituições artísticas na</p><p>França – e, em 1826, foi formalizado o ensino</p><p>de arte por meio da criação da Academia</p><p>Imperial de Belas Artes (AIBA), com nomes e artistas de grande relevância nessa empreitada. Confira!</p><p>Nicolas-Antoine Taunay (1755-1830)</p><p>Entrada da baía e da cidade do Rio a partir do</p><p>terraço do Convento de Santo Antônio por</p><p>Taunay.</p><p>Debret (1768-1848)</p><p>O projeto original da Academia Imperial, por</p><p>Jean-Baptiste Debret.</p><p>Grandjean de Montigny (1776-1850)</p><p>Projeto original da Biblioteca Imperial por</p><p>Grandjean de Montigny.</p><p>Já no campo da história da arte, o movimento científico relativo ao campo da estética e das ciências da arte</p><p>moderna iniciou-se na Alemanha, em meados do século XVIII, sendo que a constituição desse campo de</p><p>conhecimento foi determinada por duas correntes.</p><p>Deve-se ainda ao trabalho do filósofo prussiano Immanuel Kant (1724-1804), que proporcionou a base da</p><p>formação do campo da estética, seguidamente pelo aprofundamento feito pelo filósofo alemão Georg Wilhelm</p><p>Friedrich Hegel (1770-1831).</p><p>A invenção do cinematógrafo, no final do século XIX, provocou outra revolução, que avançou pelo século XX. O</p><p>aparelho permitia registrar imagens em movimento e projetá-las sobre uma tela. As primeiras realizações dos</p><p>irmãos Lumière causaram espanto e sucesso imediato.</p><p>É provável que eles não soubessem que estavam inventando um meio de expressão importante. Como</p><p>qualquer nova arte, que ao começar se inspira em artes e conhecimentos anteriores, os filmes do início do</p><p>século XX imitavam os espetáculos teatrais. A câmera ficava de frente para os acontecimentos, imóvel, e os</p><p>Corrente histórica</p><p>Representada principalmente pelas</p><p>contribuições do historiador da arte e</p><p>arqueólogo alemão Johann Joachim</p><p>Winckelmann (1717-1768).</p><p>Corrente teórica</p><p>Representada pelo filósofo e crítico de</p><p>arte também alemão Gotthold</p><p>Ephraim Lessing (1729-1781).</p><p>espectadores ficavam sentados em poltronas, como para assistir a uma peça. Aos poucos, o cinema se</p><p>transformou e assumiu uma linguagem particular que, por sua vez, influenciaria as outras artes.</p><p>Verificando o aprendizado</p><p>Questão 1</p><p>Marque a alternativa correta a partir da análise das afirmativas listadas:</p><p>I. Art Déco e Art Nouveau foram dois estilos que se fizeram presentes no entresséculos XIX-XX, especialmente</p><p>na arquitetura, frutos da implementação de processos e produtos decorrentes da Revolução Industrial.</p><p>II. Ferro e Carvão é uma obra produzida pelo artista escocês William Bell Scott, que foi um dos primeiros</p><p>artistas a descrever detalhadamente em suas obras os processos da Revolução Industrial.</p><p>III. Considerado como o “Michelangelo da caricatura”, Honoré Daumier (1808-1879) transmitiu em suas obras o</p><p>romantismo da Revolução Industrial.</p><p>IV. A Segunda Revolução Industrial foi um período de grande prosperidade econômica, de fé inabalável na</p><p>ciência, na técnica e no progresso da civilização.</p><p>V. Apesar da importância da classe operária para a expansão da produção industrial do período, poucas são</p><p>as produções artísticas que a retratam.</p><p>Assinale a alternativa correta:</p><p>A</p><p>V-V-F-V-F</p><p>B</p><p>V-F-F-V-F</p><p>C</p><p>V-V-V-F-F</p><p>D</p><p>F-F-V-F-F</p><p>E</p><p>V-V-F-V-V</p><p>A alternativa A está correta.</p><p>Considerado o "Michelangelo da caricatura", Honoré Daumier (1808-1879) transmitiu, em suas obras, seu</p><p>olhar crítico às injustiças e desigualdades sociais provocadas pela industrialização. Muitos artistas da</p><p>época buscaram representar a classe operária, fosse exaltando sua força produtiva, fosse representando</p><p>sua desigualdade perante a elite burguesa.</p><p>Questão 2</p><p>A incorporação de novas tecnologias, assim como a divisão social do trabalho, trouxe para o campo das artes</p><p>um aprofundamento da dicotomia entre criar e fazer. A fotografia, o cinematógrafo, o telescópio, o</p><p>microscópio, entre outras tecnologias contribuíram com o repensar da produção artística e impulsionaram</p><p>novos movimentos de vanguarda. Ao mesmo tempo, podemos considerar que a reprodutibilidade técnica da</p><p>arte trouxe um dilema para a importância atribuída aos originais. Tal dilema ocorre porque</p><p>A</p><p>as novas tecnologias melhoram a qualidade de reprodução, tornando as obras originais obsoletas.</p><p>B</p><p>perde-se a unicidade do objeto artístico original e, por consequência, seu “valor de culto”.</p><p>C</p><p>desde a destruição causada pelas guerras mundiais, a arte passou a dar maior ênfase à produção em escala.</p><p>D</p><p>os movimentos de vanguarda passaram a produzir obras efêmeras, irreprodutíveis.</p><p>E</p><p>ganha-se unicidade do objeto artístico original e, por consequência, aumenta seu valor de culto.</p><p>A alternativa B está correta.</p><p>Uma concepção importante sobre os debates do papel da arte é que as obras de arte tinham uma função</p><p>ritual e, por isso, um "valor de culto", ligado essencialmente à unicidade. Mas, com a entrada do processo</p><p>industrial na produção artística e o advento da reprodutibilidade técnica, ocorreu a emancipação</p><p>das obras</p><p>de arte da sua função ritualística. E, por conseguinte, o "valor de culto" deu lugar ao "valor de exposição".</p><p>A Torre Eiffel durante a Exposição Universal de 1889.</p><p>2. A Primeira Guerra Mundial na arte</p><p>A euforia que precede a dor: Belle Époque</p><p>Neste vídeo, conheça a Belle Époque como um fenômeno social e de transformação, e entenda os elementos</p><p>que a caracterizaram e permitiram seu surgimento.</p><p>Conteúdo interativo</p><p>Acesse a versão digital para assistir ao vídeo.</p><p>A França tornou-se o mundo! A frase faz uma referência ao significado da Belle Époque francesa. Seus</p><p>movimentos e suas transformações se disseminaram pelo mundo de forma intensa. Os fenômenos de troca e</p><p>comunicações foram absolutamente gigantescos entre o fim do século XIX e o início do século XX. Os</p><p>principais fatores foram o telégrafo e a possibilidade de viagens cada vez mais velozes entre a Europa e o</p><p>resto do mundo, o que fazia as modas circularem.</p><p>Outro fenômeno eram os eventos mundiais. Os mais</p><p>famosos eram as feiras de ciência e tecnologia, nas quais</p><p>foram lançados produtos muito conhecidos, como o</p><p>telefone, a luz elétrica e as tecnologias de aço, que</p><p>mudaram o mundo e a arte.</p><p>A Torre Eiffel, por exemplo, é fruto de um evento mundial –</p><p>aliás muito contestado, pois destoava completamente da</p><p>arquitetura de Paris. Outros eventos ganharam notoriedade,</p><p>como os Jogos Olímpicos e as feiras e galerias de arte que</p><p>se multiplicam no mundo.</p><p>A nova arquitetura destacava-se pelas imponentes</p><p>estruturas de aço, utilizando ferro fundido como forma de</p><p>arte em gradis, parapeitos e portas. Conheça os dois tipos</p><p>predominantes de gradis!</p><p>Gradil Art Déco</p><p>Grandes estruturas de gradis retorcidos, fortes,</p><p>com lanças, arcos, maças.</p><p>Gradil Art Nouveau</p><p>Grandes estruturas de gradis repletos de folhas</p><p>e flores.</p><p>Essa herança surge de um período em que a arquitetura mundial começou a ser influenciada pelos modelos</p><p>franceses entre o final do século XIX e o início do século XX.</p><p>Cartaz de propaganda da água-de-colônia Granado.</p><p>Art Déco e Art Nouveau são estilos decorativos, manifestados principalmente em formas arquitetônicas, mas</p><p>não só. O estilo Art Déco é marcado pela força da nova era, é pesado, robusto e visa afirmar solidez. O estilo</p><p>Nouveau – não é exatamente sucessório, mas se consolida depois – tem a mesma estrutura técnica, mas o</p><p>reforço do estilo, do detalhamento, de como a arte se estabelece com esses novos materiais. Ambos são</p><p>filhos da Revolução Industrial e se consolidam nos espaços do Estado-nação.</p><p>As Revoluções Industriais e o Estado-nação</p><p>disseminam o capital e o estilo de vida urbano,</p><p>que passam a ressaltar a arte como uma</p><p>iconografia burguesa, simbólica e poderosa. O</p><p>estilo de vida burguês se baseia nessas</p><p>tradições francesas. Cresce de forma intensa a</p><p>vida em cafés, bares, cinema, entre outros.</p><p>Começamos a falar das propagandas em que a</p><p>arte também aparece de forma vívida, gerando</p><p>identidades de marca.</p><p>Para uma elite burguesa importante, o mundo</p><p>vivia seu auge e as tecnologias tornavam o</p><p>mundo cada vez melhor. Ainda que bolsões de</p><p>miséria e pobres operários existissem, eles</p><p>podiam almejar atingir e reproduzir aquele</p><p>estilo. Parecia o certo, parecia o mais perfeito dos mundos. As grandes nações disputavam, afirmavam-se,</p><p>viam-se como inatingíveis, mas a roda girou.</p><p>A arte ganhou contornos burgueses. Vale o quanto o “mercado” diz que vale. Pela primeira vez, são</p><p>compradas e vendidas por fortunas, fazem parte dos interesses dos países. A arqueologia mundial multiplica e</p><p>se concentra, e os grandiosos museus europeus se afirmam como uma força singular (Louvre, British Museum,</p><p>Prado, Orsay, entre muitos outros). A arte é o espaço de encontro, debatida em ciclos intelectuais, tão ícone</p><p>da burguesia quanto ter efetivamente capital, ou andar com as roupas da moda de Paris.</p><p>A arte e a guerra</p><p>Vamos analisar neste vídeo o contexto da guerra e seus impactos na arte, além de responder à pergunta:</p><p>quais são as características da arte em tempos de guerra? Para isso, analisaremos a obra Gás, de John Singer.</p><p>Conteúdo interativo</p><p>Acesse a versão digital para assistir ao vídeo.</p><p>A eclosão da Primeira Guerra Mundial, em 28 de julho de 1914, e suas consequências marcam não apenas os</p><p>principais acontecimentos geopolíticos que abalaram a Europa até meados do século XX, como também são</p><p>fundamentais para a compreensão do impacto desse cenário na produção artística que já estava evidenciada</p><p>com as novas tendências proporcionadas pela arte moderna. Não seria exagero afirmar que a experiência da</p><p>guerra, especialmente das trincheiras, integrou-se profundamente na linguagem e no imaginário dos artistas</p><p>europeus que dela participaram ou que cresceram à sua sombra, como veremos adiante.</p><p>Representação do assassinato do arquiduque Francisco</p><p>Fernando da Áustria-Hungria.</p><p>As razões para o surgimento do conflito derivam de uma</p><p>combinação de fatores, principalmente rivalidades</p><p>econômicas e comerciais, questões nacionalistas e</p><p>interesses geopolíticos envolvendo as principais potências</p><p>europeias. O estopim foi o assassinato do arquiduque do</p><p>Império Austro-Húngaro, Francisco Ferdinando, e sua</p><p>esposa, Sofia, em Sarajevo, Bósnia, em junho de 1914.</p><p>Nas próximas imagens, vemos uma fotografia pouco antes</p><p>do atentado e o carro utilizado, conservado no Museu de</p><p>História Militar, em Viena, Áustria, com a marca desse</p><p>acontecimento fatal.</p><p>Ferdinando e Sofia saindo da Camara Municipal de Saravejo, pouco antes do</p><p>atentado que os levou à morte.</p><p>Carro usado por Ferdinando e Sofia no dia do atentado com a marca do projétil que</p><p>matou Sofia.</p><p>A partir daí ocorreu uma escalada de acontecimentos que levam à formação de blocos militares (os Aliados e</p><p>as Potências Centrais) e o conflito armado nas linhas de trincheira da região fronteiriça que dividia a França e</p><p>a Alemanha e em outras partes do mundo.</p><p>Tanque Mark I, 1916, usado durante a Primeira Guerra</p><p>Mundial.</p><p>Nos combates, foi usado o que havia de mais</p><p>avançado em termos de poderio bélico:</p><p>canhões, metralhadoras, lança-chamas,</p><p>substâncias tóxicas, tanques de guerra e</p><p>aviões. O desenvolvimento da indústria bélica</p><p>foi impulsionado no decorrer da Primeira Guerra</p><p>Mundial, como a produção de carros de</p><p>combate, mais conhecido como “tanque de</p><p>guerra”.</p><p>A arte em tempos de guerra</p><p>Ao contrário da expectativa inicial, que previa</p><p>um confronto rápido entre as potências</p><p>envolvidas – alguns juravam que até o Natal de</p><p>1914 a paz seria selada –, a Primeira Guerra Mundial se prolongou por quatro anos, deixando um saldo de</p><p>milhões de mortos e prejuízos bilionários. Nenhuma guerra, até então, havia provocado tamanha destruição e</p><p>ceifado tantas vidas em tão curto espaço de tempo.</p><p>A promessa de um confronto rápido e capaz de proporcionar um novo tempo levou muitos jovens artistas a se</p><p>alistarem voluntariamente para fazer parte dos exércitos. Houve ainda aqueles que foram contratados pelos</p><p>militares para registrar os combates e as vitórias.</p><p>Dos jovens entusiastas, voluntariamente dedicados à Primeira Guerra Mundial, em 1915, destaca-se Umberto</p><p>Boccioni (1882-1916), um dos mais célebres artistas futuristas italianos. Na obra Cargo dos Lanceiros, de</p><p>1915, o artista retrata toda a ação do combate promovendo essa “sensação” com o uso de linhas diagonais</p><p>(uma espécie de lança) e dos soldados com essas formas sólidas em cinza e preto, em forma de cilindro,</p><p>elipse, círculos. Veja!</p><p>Formas únicas de continuidade no espaço, de Umberto</p><p>Boccioni.</p><p>Apesar do empenho de Boccioni – na arte e na guerra –, a vida lhe reservou um fim trágico. Em 1916, durante</p><p>exercícios militares, seu cavalo se assustou com um caminhão, provocando a queda do artista e sua morte</p><p>devido a uma fratura no crânio.</p><p>Formas únicas de continuidade no espaço, escultura de</p><p>1913, é uma das principais obras do artista. Nessa peça,</p><p>vemos a dissolução da forma figurativa tradicionalmente</p><p>perceptível na escultura. Apesar de seus aspectos</p><p>abstratos, podemos reconhecer uma estrutura que lembra</p><p>um corpo em movimento. A obra combina três dimensões</p><p>físicas com uma quarta dimensão,</p><p>traduzida na força</p><p>“invisível” que ela sugere e proporciona.</p><p>A peça original, em gesso, encontra-se no Brasil, no Museu</p><p>de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo</p><p>(MAC-USP). Há também fundições em bronze, posteriores à</p><p>peça original, que se encontram em vários museus</p><p>internacionais e também no MAC-USP.</p><p>Entre civis e militares, um número expressivo de escritores</p><p>também tomou parte do conflito. Se não foram convocados, alistaram-se voluntariamente, entusiasmados</p><p>com a pregação nacionalista que antecedeu o conflito ou movidos pelo fervor juvenil com as glórias militares.</p><p>Alguns sobreviveram às trincheiras, como o compositor e pianista francês Joseph-Maurice Ravel (1875-1937),</p><p>o violonista austríaco Fritz Kreisler (1875-1962) e o pianista Paul Wittgenstein (1887-1961) – que voltou para</p><p>casa com o braço direito amputado.</p><p>Outros não tiveram a mesma sorte, como Boccioni, e morreram no campo de batalha. Dentre eles, os pintores</p><p>alemães de orientação expressionista August Macke (1887-1914) e Franz Marc (1880-1916) e os poetas</p><p>Edward Thomas (1878-1917) e Isaac Rosenberg (1890-1918). Também passaram pelo campo de batalha o</p><p>pintor francês Georges Braque (1882-1963) e o crítico e escritor Guillaume Apollinaire (1880-1918). Ambos</p><p>foram gravemente feridos, mas resistiram: Braque ficou temporariamente cego, recuperando a visão e</p><p>retomando a profissão anos depois; Apollinaire acabou morrendo logo depois, vitimado pela gripe espanhola</p><p>que se alastrou pela Europa a partir de janeiro de 1918.</p><p>Em pouco tempo, artistas e escritores se deram conta dos horrores provocados pela guerra e do absurdo em</p><p>que estavam engajados. Ainda nas trincheiras, confrontados pela carnificina que se espalhava ao redor, alguns</p><p>escritores se insurgiram contra o absurdo que ocorria. Isso também começou a ser visto nas pinturas, um</p><p>retrato real do que acontecia, censurado posteriormente em muitas exposições.</p><p>John Singer Sargent (1856-1925), artista italiano filho de emigrantes americanos, pintou, em 1919, a obra Gás</p><p>– uma encomenda –, com referência às consequências provocadas pelo gás mostarda durante a Primeira</p><p>Guerra Mundial, especialmente com a perda de visão de muitos soldados.</p><p>Em uma disposição de cortejo, como um cortejo fúnebre (marcações em azul), os soldados estão deitados,</p><p>enfileirados e amontoados (marcação em vermelho), à espera de um socorro médico. Os olhos vendados</p><p>sinalizam as consequências do gás. Observe também que a tela é predominantemente pintada com</p><p>tonalidades de amarelo-mostarda (sob os efeitos do gás) e verde-militar (para identificar os soldados). No</p><p>céu, aviões minúsculos apontam que as operações militares continuam, apesar de todo dano que elas vêm</p><p>causando. Aí estão as dores das tropas, as consequências da guerra, as armas químicas e tecnológicas. Em</p><p>um cortejo fúnebre, Singer utilizou sua bagagem de aquarelista e excelente pintor para camadas pictóricas de</p><p>dor, luta, tristeza e melancolia.</p><p>Passada a euforia dos primeiros meses com a Guerra e o inalcançável sonho depositado na expectativa de um</p><p>novo tempo, o que mais veremos será uma pintura da realidade, dos fatos ocorridos. Mesmo com a bagagem</p><p>dos “ismos” – futurismo, cubismo, expressionismo –, cada artista trará para o espaço pictórico toda a dor</p><p>causada pela Guerra.</p><p>A fonte, de Marcel Duchamp, 1917</p><p>As obras The Menin Road e Spring in the Trenches ( A Estrada Menin e Soldados na Trincheira ) são dois</p><p>importantes exemplares de Paul Nash, pintor militar oficial do governo britânico. Vejamos!</p><p>The Menin Road, de Paul Nask</p><p>Há um cenário de destruição, de “terra arrasada” pintado. Os troncos das</p><p>árvores destruídas são como cruzes em um cemitério, a fumaça e as</p><p>luzes sinalizam os bombardeios.</p><p>Spring in the Trenches, de Paul Nash</p><p>Há os soldados nas trincheiras, espaço para o ataque e defesa, em</p><p>observação e descanso, com as expressões marcando o cansaço</p><p>imposto. Ao redor, uma natureza destruída, a terra revirada, poucos</p><p>galhos com folhas e um cenário de campo de batalha.</p><p>Em 1929, surgia um retrato poderoso do cotidiano da guerra de grande sucesso editorial: o romance Nada de</p><p>novo no front, do escritor alemão Erich Maria Remarque (1898-1970) – que participou de combates e se feriu</p><p>várias vezes. A partir do relato de um soldado raso alemão, Paul Bäumer, o livro questionou até que ponto a</p><p>pátria poderia dispor de seus cidadãos a fim de colocar em prática decisões elaboradas por lideranças</p><p>políticas no conforto de seus gabinetes.</p><p>As descrições dos mais intensos sofrimentos, como a fome, o frio, o medo e a morte formam um panorama do</p><p>que realmente foi o primeiro maior conflito do século XX, diferentemente da visão oficial. O embrutecimento</p><p>do ser, a impossibilidade de perspectiva quanto ao futuro e a noção da falta de sentido dos conflitos são o</p><p>mote desse romance.</p><p>Enquanto o mundo assistia, estupefato, a escalada de um conflito que multiplicava mortes e prejuízos, um</p><p>grupo de jovens escritores, capitaneados pelo romeno Tristan Tzara (1896-1963), fundava em 1916, na Suíça,</p><p>o Dadaísmo, um dos mais radicais movimentos de vanguarda, por sua ênfase na destruição das formas e dos</p><p>valores tradicionais.</p><p>Em Zurique, no Cabaret Voltaire, criado em 1916 por Hugo</p><p>Ball (1886-1927), reunia-se um grupo de cinco refugiados –</p><p>o próprio Ball e Richard Huelsembeck (1892-1974), alemães;</p><p>Hans Arp (1886-1966), alsaciano; Marcel Janco (1895-1984)</p><p>e Tristan Tzara, romenos – aos quais, posteriormente, se</p><p>uniriam o francês Francis Picabia (1879-1953) e o chileno</p><p>Vicente Huidobro (1893-1948).</p><p>Naquele pequeno teatro de variedades</p><p>promoviam happenings inovadores, sempre para um público</p><p>reduzido. Diziam-se discípulos de Rimbaud, liam poemas de</p><p>Apollinaire e Max Jacob, recitavam os expressionistas e</p><p>discutiam os futuristas.</p><p>As palavras de ordem do Dadaísmo eram a antiarte, a</p><p>destruição, o ser contrário, o repúdio ao bom senso e o caráter de improviso atribuído à arte dadaísta, sempre</p><p>lúdica e reaproveitando materiais que, deslocados de seu contexto original, mudam de função e efeito.</p><p>É fruto desse movimento a utilização de objetos do cotidiano para inserção no contexto artístico, como a obra</p><p>A fonte, de 1917, do francês Marcel Duchamp e a irreverência artística, como na obra do alemão Max Ernst,</p><p>Édipo Rei, de 1922. Duchamp foi o criador do termo ready-made, cujo objetivo era inserir um objeto do</p><p>cotidiano (comum) de um circuito ou sistema da arte, elevando-o à categoria de arte.</p><p>Modernidade na arte</p><p>Compreenda neste vídeo as características da modernidade da arte, que é formada pela modificação e pelas</p><p>dinâmicas do contexto entre o fim do século XIX e o início do século XX, mas é consolidada após os impactos</p><p>das guerras e dos grandes conflitos.</p><p>Conteúdo interativo</p><p>Acesse a versão digital para assistir ao vídeo.</p><p>A ascensão dos regimes totalitários na Alemanha e Rússia provocou uma mudança radical na direção das</p><p>tendências artísticas na Europa, que pode ser entendida a partir da compreensão do surgimento do nazismo,</p><p>do fascismo, do comunismo e dos impactos desses regimes no campo cultural.</p><p>Vamos resolver uma confusão histórica. A modernidade em história e em arte não se referem ao mesmo</p><p>momento. Vamos compreender!</p><p>Na história, a modernidade rompeu com o período medieval. Na arte, a modernidade surgiu da consolidação</p><p>da arte burguesa, comercial e “pública”, quebrando com as tradições artísticas dos séculos anteriores.</p><p>A arte do capital, arte burguesa, passa a ter outros vieses, outros compromissos e outras visões. A</p><p>arte passa a ser vista como uma manifestação da diversidade, que corrobora e renega, e os artistas</p><p>discutem a estilística a partir de diversos pontos de vista.</p><p>A arte moderna é formada pela modificação e pelas dinâmicas do contexto entre o fim do século XIX e o início</p><p>do século XX, mas é consolidada após os impactos das guerras e dos grandes conflitos. Então, se foi</p><p>temperada pelas mudanças que relatamos, assume efetivamente sua nova face a partir dos impactos</p><p>poderosos gerados pelas Guerras Mundiais.</p><p>Em sequência, você conhecerá a arte modificada,</p><p>transformada, a fundamentação da arte moderna</p><p>temperada diante da propaganda, do cinema, das novas manifestações artísticas e sociais que passam a fazer</p><p>parte do mundo.</p><p>Verificando o aprendizado</p><p>Questão 1</p><p>A Belle Époque (Bela Época, em francês) foi o período de cultura cosmopolita que abrangeu o final do século</p><p>XIX e início do século XX e caracterizou-se, sobretudo, pelo otimismo gerado pela modernização tecnológica</p><p>derivada da Segunda Revolução Industrial (1850-1945). Assinale, dentre as alternativas a seguir, aquela que</p><p>corresponde ao estilo artístico muito apreciado durante esse período:</p><p>A</p><p>Romantismo</p><p>B</p><p>Expressionismo</p><p>Na história</p><p>O moderno é exatamente aquilo que vem</p><p>ao fim da Idade Média, o sentido é ser o</p><p>novo, aquilo que rompe.</p><p>Na arte</p><p>A modernidade ocorre na transição</p><p>entre as velhas técnicas e os novos</p><p>objetos, no fim do século XIX e nos</p><p>primeiros anos do século XX.</p><p>C</p><p>Gótico</p><p>D</p><p>Art Nouveau</p><p>E</p><p>Impressionismo</p><p>A alternativa D está correta.</p><p>Art Nouveau é um estilo decorativo da época e sua relação com a Segunda Revolução Industrial se dá,</p><p>sobretudo, pelo uso de novos materiais, tais como o ferro e o vidro. Caracteriza-se formalmente pelo uso</p><p>de formas orgânicas (flores, folhagens, animais), linhas curvas e assimetria.</p><p>Questão 2</p><p>A atmosfera de decadência e destruição vivida e deixada pelos conflitos da Primeira Guerra Mundial</p><p>(1914-1918) inspirou a criação da arte como negação, como um engajamento que, de alguma forma,</p><p>desprezava o ideal de arte anterior, burguesa, um movimento artístico de reação negativa aos horrores e à</p><p>insensatez da guerra. Assinale a alternativa que corresponde ao movimento artístico mencionado:</p><p>A</p><p>Cubismo</p><p>B</p><p>Dadaísmo</p><p>C</p><p>Impressionismo</p><p>D</p><p>Expressionismo</p><p>E</p><p>Romantismo</p><p>A alternativa B está correta.</p><p>O dadaísmo foi um movimento artístico formado em Zurique, durante a Primeira Guerra Mundial. As</p><p>produções artísticas desse movimento buscavam desafiar a racionalidade, a lógica, no intuito de romper</p><p>com os valores tradicionais que levaram a sociedade europeia a dar início e prolongar a guerra mundial.</p><p>Propunha a "antiarte" – através da espontaneidade, do humor, e também da irracionalidade na produção –</p><p>para provocar, chocar e indignar a sociedade da época em relação à sua própria condição de habilitadora</p><p>da destruição em massa.</p><p>3. Nazi-fascismo e comunismo na arte</p><p>A ascensão do nazi-fascismo e comunismo e seus</p><p>impactos na arte</p><p>Compreenda neste vídeo como o surgimento do nazi-fascismo e do comunismo impactaram a arte.</p><p>Conteúdo interativo</p><p>Acesse a versão digital para assistir ao vídeo.</p><p>O regime nazista esteve em vigor na Alemanha entre 1933, ano da ascensão de Adolf Hitler ao poder, e 1945,</p><p>ano da derrota da Alemanha na Segunda Guerra Mundial e da consequente queda do governo após a morte</p><p>de Hitler (1889-1945). Em 1918, a Alemanha havia saído derrotada da Primeira Guerra Mundial, e os</p><p>vencedores impuseram ao país, como condição de negociação da paz, a implantação de um governo</p><p>democrático.</p><p>Segunda Guerra Mundial</p><p>Conflito entre nações europeias que envolveu muitas de suas colônias e ex-colônias, além de</p><p>participação indireta de muitos países. Os derrotados desse conflito têm como punição, após o Tratado</p><p>de Versalhes, pagar pesadas dívidas como forma de ressarcir o prejuízo dos vencedores, o que gera</p><p>para Alemanha uma enorme dívida e um forte ressentimento quanto ao resultado da guerra.</p><p>Nesse contexto, vale a pena observar os efeitos da Grande Guerra na arte. Junto a esse sentimento de</p><p>derrota nota-se, no campo da arte, uma produção ligada aos sentimentos de religiosidade, como é o caso da</p><p>Capela Memorial Sandham, que fica na Inglaterra e foi pintada em 1920 pelo artista britânico Stanley Spencer</p><p>(1891-1959).</p><p>A encomenda foi feita por Mary e Louis Behrend para abrigar um memorial ao irmão dela, o tenente Henry</p><p>Willoughby Sandham, que morreu na Primeira Guerra Mundial. As pinturas feitas a partir da própria experiência</p><p>de Spencer na guerra tinham o objetivo de homenagear os mortos esquecidos que não foram lembrados em</p><p>nenhum memorial oficial. Destaca-se ainda que a capela é dominada pela cena da Ressurreição atrás do altar,</p><p>na qual soldados mortos carregam as cruzes de madeira brancas que marcam seus túmulos para Cristo.</p><p>Repare!</p><p>A ressurreição dos soldados, por Stanley Spencer.</p><p>Detalhe da obra A ressurreição dos soldados, presente na Capela Memorial</p><p>Sandham.</p><p>Vale ainda destacar que tivemos ao longo da história da arte importantes exemplares de pintura em espaços</p><p>como esse, ou seja, capelas encomendadas a grandes artistas. Um exemplo crucial é a Capela Arena (Capella</p><p>degli Scrovegni), que conta com afrescos executados por Giotto com tema da vida da Virgem, celebrando o</p><p>seu papel na salvação da humanidade. Dentre os temas que estão na Capela Arena, temos o Juízo Final –</p><p>muito representado na pintura histórica e religiosa – e a Ressurreição. Veja alguns exemplos.</p><p>Juízo Final, por Giotto di Bondone, que adorna a Capela Arena, em Pádua, na Itália.</p><p>Imagem da Ressurreição na Capela Arena, em Pádua, na Itália.</p><p>Voltando aos aspectos políticos desse período, podemos afirmar que a República foi então proclamada e a</p><p>rendição assinada em 11 de novembro de 1918. O acordo de paz, contudo, não se restringia apenas ao tipo de</p><p>regime que deveria vigorar na Alemanha. Pelos termos do Tratado de Versalhes, além da Alemanha ser</p><p>responsabilizada do ponto de vista moral e financeiro, no plano territorial ela perdia suas colônias (Togo,</p><p>A Constituição de Weimar em formato de livreto.</p><p>Camarões e sudoeste africano) e cerca de um oitavo de seu território, que compreendia a disputada região da</p><p>Alsácia-Lorena, conquistada em 1871.</p><p>Houve ainda a concessão para exploração de minas de carvão – fonte básica de energia – para a França por</p><p>um período de quinze anos. Outras cláusulas estabeleciam o seguinte:</p><p>A desmilitarização da margem esquerda do Reno e de uma parte a leste desse rio.</p><p>A abolição do serviço militar obrigatório.</p><p>A limitação do exército e da marinha.</p><p>A redução de armamentos e a possibilidade de julgamento que levaria à extradição dos considerados</p><p>responsáveis pelo conflito, desde o imperador Guilherme II até os oficiais mais modestos.</p><p>O montante da indenização foi decidido posteriormente. A Alemanha propusera 50 bilhões de marcos-ouro, e</p><p>os aliados exigiram 132 bilhões. A França, especialmente, exigiu o pagamento de pesadas indenizações e isso</p><p>trouxe enormes dificuldades financeiras para os alemães, que responsabilizaram o governo pela situação.</p><p>Entre 1918 e 1933, a Alemanha tornou-se uma República.</p><p>A revolução que determinou a queda do Kaiser (imperador,</p><p>em alemão), em novembro de 1918, levou ao poder uma</p><p>coalização de socialistas, centristas e democratas.</p><p>Em 1919, os líderes desses partidos redigiram a</p><p>Constituição de Weimar, de caráter progressista e</p><p>democrático, contra a qual se insurgiu a extrema direita</p><p>nacionalista, favorável a um governo autoritário.</p><p>Durante sua existência, a chamada República de Weimar</p><p>assistiu a uma intensa efervescência artística. São inúmeras</p><p>as contribuições nos campos da literatura, pintura, teatro,</p><p>arquitetura, música e cinema. Apesar da grave crise econômica, social e política, pode-se afirmar que, durante</p><p>a República de Weimar, a sociedade alemã foi palco de intensa criatividade cultural e artística, totalmente</p><p>reprimida com a ascensão do nazismo.</p><p>Entre os movimentos de vanguarda surgidos durante a República de Weimar, destaca-se o Expressionismo,</p><p>que propunha novas maneiras de perceber e expressar a realidade, destacando a preponderância do eu sobre</p><p>a realidade. Confira alguns pintores que difundiram novas formas de percepção e expressão da realidade!</p><p>•</p><p>•</p><p>•</p><p>•</p><p>Fuga, de Wassily Kandinsky, 1914.</p><p>Senecio, de Paul Klee, 1922.</p><p>Prédio da escola de arquitetura Bauhaus Dessau.</p><p>Véu de Verônica, por Oskar Kokoschka, 1911.</p><p>Outro exemplo de cunho institucional é a Bauhaus, escola de arquitetura fundada na Alemanha, em 1919, por</p><p>Walter Gropius (1883-1969), que teve entre seus professores Paul Klee,</p><p>Wassily Kandinsky, Mies van der Rohe</p><p>(1886-1969). Na década de 1920, tornou-se o centro da produção do moderno desenho industrial, adaptando</p><p>a forma dos objetos às novas técnicas de produção. Foi fechada pelos nazistas em 1933, quando seus</p><p>professores começaram a se espalhar pelo mundo, divulgando os preceitos ali elaborados.</p><p>As correntes artísticas de esquerda surgidas na</p><p>Alemanha nesse período seguiram outra</p><p>direção, tendo como meta o engajamento</p><p>político. Procuravam representar a cultura</p><p>proletária por meio do cinema, do teatro, da</p><p>música.</p><p>Faziam propaganda da revolução socialista</p><p>tentando atrair as massas.</p><p>Esses movimentos denunciavam a opressão</p><p>cotidiana, o terror, o militarismo, a exaltação da</p><p>guerra. O teatro e a poesia de Bertold Brecht</p><p>(1898-1956) expressam isso de maneira nítida.</p><p>A produção cinematográfica ocorrida durante</p><p>os catorze anos da República de Weimar foi inestimável para a consolidação e expansão da sétima arte. Entre</p><p>os alemães, o cinema tornou-se o divertimento de massas por excelência. Nesse período, surgiram grandes</p><p>obras-primas do cinema mundial, assim como diretores e atores de enorme destaque, entre outros:</p><p>Fritz Lang (1890-1976)</p><p>F.W. Murnau (1888-1931)</p><p>Georg Wilhelm Pabst (1885-1967)</p><p>Marlene Dietrich (1901-1992)</p><p>Peter Lorre (1904-1964)</p><p>•</p><p>•</p><p>•</p><p>•</p><p>•</p><p>Influenciados pela estética expressionista, os filmes mudos alemães exploravam, em tramas cheias de ação e</p><p>reviravoltas, o lado sombrio da natureza humana, o interior dos seres, seus sonhos, fantasias, angústias, o</p><p>subconsciente, o aspecto sensitivo-subjetivo, considerados mais importantes que a realidade objetiva.</p><p>Conheça, a seguir, dois marcos do cinema expressionista alemão.</p><p>O Gabinete do Dr. Caligari</p><p>Impressiona por sua estética inovadora, seus</p><p>cenários retorcidos, a iluminação promove um</p><p>jogo de sombras constante, e um enredo que</p><p>gira em torno da história de um médico que</p><p>manipula um sonâmbulo e o induz a um crime.</p><p>Nosferatu, de F.W. Murnau</p><p>Adapta para ao cinema uma versão livremente</p><p>inspirada na obra Drácula (1897), de Bram</p><p>Stocker, com cenários sombrios, iluminação</p><p>oblíqua e personagens sinistros, atrelados ao</p><p>desejo e à sensualidade, que ainda provocam</p><p>nos espectadores a sensação de temor e</p><p>suspense.</p><p>Adaptações de lendas e de obras literárias nacionais de grande valor também ganharam destaque nesse</p><p>período. Em 1926, Murnau filma a tragédia Fausto, encenada em 1829 e de autoria de Johann Wolfgang von</p><p>Goethe, um dos pilares da literatura alemã. Fritz Lang, por sua parte, adapta para as telas Os Nibelungos</p><p>(1924), o mais famoso poema épico da literatura alemã, escrito em 1200.</p><p>A partir de 1933, com a ascensão do nazismo ao poder, toda essa efervescência chegaria ao fim. O Partido</p><p>Nacional-Socialista, surgido na Baviera, contava entre seus membros com Adolf Hitler, que rapidamente se</p><p>transformou no principal líder da nova agremiação. O programa partidário era baseado nos seguintes pontos:</p><p>Fortalecimento do Estado</p><p>Engrandecimento da Alemanha</p><p>Intensificação do antissemitismo</p><p>Nacionalização dos trustes</p><p>Em abril de 1920, Hitler decidiu alterar o nome do partido (que vinha crescendo desde que ele assumira sua</p><p>liderança) para Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores Alemães (NSDAP). A denominação socialista foi</p><p>dada para atrair operários e fazer frente aos grupos socialistas e comunistas; seus membros, na verdade,</p><p>combatiam a bandeira da esquerda. Em meados de 1921, a agremiação já contava com 3.300 membros; no</p><p>final de 1922, estava com 20 mil.</p><p>Ao longo da década de 1920, impulsionado pela crise econômica e pelo clima de humilhação e injustiça</p><p>provocados pelas sanções oriundas do Tratado de Versalhes, o pequeno partido cresce à medida que a crise</p><p>se aprofunda, o que favorece os nazistas, canalizando o desespero e o descontentamento do povo alemão.</p><p>A votação no partido evolui com o descontentamento até que, em 1933, os nazistas se tornam o partido mais</p><p>forte do parlamento. Devido ao intenso apoio popular aos nazistas, Hitler foi convidado pelo presidente Paul</p><p>von Hindenburg a ocupar o cargo de chanceler. A ascensão dos nazistas ao poder, em janeiro de 1933, foi por</p><p>eles chamada de a “revolução legal”.</p><p>A arte na cultura nazista</p><p>•</p><p>•</p><p>•</p><p>•</p><p>Neste vídeo, vamos explorar a arte na cultura nazista, suas características e seus usos. Para isso, iremos</p><p>analisar os pôsteres do filme Olímpia – Festival das Nações e Festival da Beleza.</p><p>Conteúdo interativo</p><p>Acesse a versão digital para assistir ao vídeo.</p><p>As artes desempenhavam um papel de destaque no projeto cultural nazista. Considerando a estética anterior</p><p>expressão de uma sociedade decadente – a arte moderna –, os nazistas planejaram destruí-la, substituindo-a</p><p>por uma que representasse a “nova idade de ouro da cultura alemã”. A partir de 1933, com a ascensão de</p><p>Hitler ao poder, ele empenhou-se em redirecionar a produção artística de acordo com os ideais, o estilo de</p><p>vida e a renovação ideológica em curso. Incentivadas e controladas pelo regime, as produções artísticas</p><p>deveriam expressar a “alma ariana” e desempenhar função pedagógica na formação do novo homem alemão.</p><p>Na Alemanha, os artistas que aderiram ao regime tinham uma concepção passadista de arte e se esmeravam</p><p>em copiar modelos gregos. Acreditavam que o belo deveria encarnar o espírito da comunidade racial e das</p><p>tradições populares. Os estilos acadêmicos, neoclássico e romântico eram os mais bem aceitos porque se</p><p>inspiravam em temas caros ao regime: batalhas, heróis, cenas ou figuras mitológicas e lendárias que serviam</p><p>como modelos de bravura.</p><p>Veja alguns exemplos da participação e produção dos artistas nazistas, dentro dos propósitos que citamos.</p><p>Ajude-nos a vencer!</p><p>Pôster de Fritz Erler.</p><p>Arno Breker</p><p>Escultor nazista.</p><p>Arno Breker e Albert Speer</p><p>Escultor nazista e o Ministro do Armamento do Reich.</p><p>Nenúfares</p><p>Do pintor nazista Ludwig Dettmann.</p><p>Em 1937, por toda a Alemanha foram realizadas exposições de arte. Em 19 de julho desse ano, inaugurava-se</p><p>em Munique a exposição oficial de “arte degenerada”, como eram chamadas as obras não vinculadas ao</p><p>regime (e atribuídas a comunistas, marginais, negros e judeus), um dia depois da inauguração da primeira</p><p>grande exposição de arte alemã, valorizada pelos nazistas. O público deveria fazer o contraponto entre as</p><p>duas.</p><p>Joseph Goebbels, Ministro da Propaganda da Alemanha em visita à exposição “Arte</p><p>Degenerada”, em 1938.</p><p>Exposição de arte nazista em Salzburg, em 1938.</p><p>Os artistas nacionalistas participaram da grande exposição de arte alemã, organizada paralelamente à</p><p>exposição da arte degenerada para gerar contraste. As exposições de arte, sólida tradição alemã, eram</p><p>realizadas anualmente. Durante o nazismo aconteceram oito, e o Estado tornou-se promotor desses eventos:</p><p>no papel de mecenas, Hitler comprou grande número de obras para decorar edifícios e locais públicos.</p><p>Os critérios de seleção das obras para essas exposições eram: ser popular, retratar o heroísmo e enaltecer os</p><p>ideais nórdicos de beleza e pureza da raça. Os temas privilegiados contemplavam imagens de trabalhador,</p><p>soldado, agricultor, da família e do líder. Em 1937, foi criada, em Munique, a Casa de Arte Alemã, um templo</p><p>nos moldes greco-latinos, especialmente para expor a “verdadeira arte alemã”. Ela serviu de modelo para a</p><p>criação de outras.</p><p>Na Alemanha, os artistas que aderiram ao regime tinham uma concepção passadista de arte e se esmeravam</p><p>em copiar modelos gregos. Acreditavam que o belo deveria encarnar o espírito da comunidade racial e das</p><p>tradições populares. Todos os esforços foram feitos para a popularização e massificação da arte. Foram</p><p>produzidos cerca de 2 mil filmes, milhares de romances, centenas de poemas, exposições de pintura,</p><p>monumentos, estátuas, esculturas, afrescos.</p><p>Em vez de considerar, de acordo com certos representantes das vanguardas, que o papel da arte é levantar</p><p>questões, os nazistas acreditavam que ela deveria afastar a angústia existencial. Por isso, em vez de supor</p><p>que o artista deveria usar a forma para expor uma ideia, concebia-se</p><p>a arte como expressão da beleza e</p><p>harmonia porque seu objetivo era decorar, enfeitar, elevar o espírito e incentivar os valores da raça ariana.</p><p>Hitler, Goebbels e outros assistindo a uma projeção na</p><p>UFA.</p><p>Os músicos judeus foram proibidos de se apresentar, e os contemporâneos não eram apreciados.</p><p>Arnold Schönberg (1874-1951), o principal representante de uma nova corrente, foi expulso do país.</p><p>Os nazistas preferiam as obras clássicas. Beethoven (1770-1827) era respeitado pela composição de</p><p>uma obra forte e vigorosa. Alguns grandes compositores chegaram a apoiar o regime, como Richard</p><p>Strauss (1864-1949), que se tornou presidente da Câmara de Música.</p><p>Richard Wagner (1813-1883) foi festejado no 3º Reich e considerado precursor e iniciador de novos tempos.</p><p>Hitler o tomava como modelo e se identificava com ele, não só pelas composições musicais nas quais</p><p>glorificava o passado mitológico e heroico da Alemanha, mas também por suas ideias nacionalistas e</p><p>antissemitas.</p><p>O compositor se valia de mitos nórdicos e germânicos em suas obras. Os dramas líricos wagnerianos</p><p>apresentavam sua concepção de vida marcada pelo pessimismo. Mas o artista superou sua descrença na</p><p>humanidade apelando para a imaginação heroica regeneradora do universo. A luta do Bem contra o Mal está</p><p>representada em suas criações artísticas.</p><p>O mundo glorioso criado por Wagner, no século XIX, foi povoado por Arianos e Semitas.</p><p>Arianos</p><p>Designava um pseudopovo originado na</p><p>Renânia.</p><p>Semitas</p><p>Os descendentes de Sem, os que vêm do</p><p>Oriente, como outro povo, inferior ao primeiro.</p><p>Para o músico, os judeus mantinham sob sua dominação uma sociedade degenerada, principalmente em</p><p>relação à arte. Propunha que o mais urgente era a emancipação da opressão judaica. O judaísmo para ele</p><p>representava a má consciência da civilização moderna.</p><p>O cinema foi o setor que recebeu mais atenção e</p><p>investimentos do regime nazista. Desde o início de sua</p><p>carreira política, Adolf Hitler considerava o cinema, por suas</p><p>próprias características, o instrumento ideal para influenciar</p><p>as massas: o apelo emocional subjetivo, a possibilidade de</p><p>ilustrar a ideologia do regime, a contínua e uniforme</p><p>repetição de uma mensagem.</p><p>Como exemplo do enorme interesse de Hitler e Goebbels</p><p>pelo cinema, cabe destacar que a Câmara de Cinema foi</p><p>fundada no dia 14 de julho de 1933, antes de todos os</p><p>outros departamentos da Câmara de Cultura do Reich,</p><p>ficando sob o controle direto do Ministério da Propaganda.</p><p>Mesmo antes de chegar ao poder, o movimento nazista valeu-se do cinema como arma de propaganda</p><p>política. Isso se deve, principalmente, à enorme possibilidade que o cinema sonoro abriu para a reprodução</p><p>em massa dos discursos dos líderes e da divulgação das mensagens político-ideológicas dos partidos.</p><p>Durante os doze anos de regime nazista, estima-se que tenham sido produzidos cerca de 1350</p><p>longas-metragens, que buscaram, de várias formas, enaltecer o nazismo, estimulando a grande</p><p>maioria da sociedade alemã a participar da experiência nazista, além de colocar a Alemanha em</p><p>segundo lugar na produção cinematográfica mundial, depois de Hollywood.</p><p>O regime buscou produzir seu autorretrato no grandioso documentário O Triunfo da Vontade (1935), dirigido</p><p>pela ex-bailarina e cineasta Leni Riefenstahl, sobre o VI Congresso do Partido Nazista em Nuremberg,</p><p>realizado em 1934. Encomendado diretamente por Hitler, esse documentário épico e mistificador fez uso de</p><p>uma profusão de recursos para garantir os efeitos da imagem cinematográfica e talvez conquistar o posto da</p><p>propaganda mais impressionante de todos os tempos.</p><p>Pôster do filme O Triunfo da Vontade.</p><p>O filme demonstra com perfeição o domínio da técnica, desde os engenhosos ângulos visuais e uma</p><p>composição de cena grandiosa, até o ritmo determinado de sua montagem, tudo convergindo para impor uma</p><p>falsa estética à propaganda política partidária.</p><p>A concepção de política como espetáculo foi novamente trabalhada por Riefenstahl em Olímpia (1938), um</p><p>longo documentário dividido em duas partes – Festival das Nações e Festival da Beleza – sobre os Jogos</p><p>Olímpicos realizados em Berlim.</p><p>Pôster do filme Olímpia – Festival das Nações.</p><p>Pôster do filme O judeu eterno.</p><p>Pôster do filme Olímpia – Festival da Beleza.</p><p>Mais que um simples documentário da Olimpíada de 1936, trata-se de um hino de exaltação à Alemanha</p><p>nazista, mediante a glorificação da força física, da saúde e da beleza racial, miticamente retratadas.</p><p>No começo da década de 1940, eram produzidos tanto</p><p>filmes que exaltavam a superioridade da raça ariana como</p><p>filmes que enfatizavam a inferioridade de outras etnias. Os</p><p>primeiros seres mostrados como inferiores pelo cinema</p><p>nazista foram certamente os judeus.</p><p>Todas as representações cinematográficas de judeus</p><p>colocavam o espectador diante de personagens feios,</p><p>maldosos, demoníacos e animalescos. Filmes antissemitas</p><p>como Os Rothschilds (1940), Judeu Süss (1940) e o</p><p>documentário O judeu eterno (1940) tinham como objetivo</p><p>incitar o ódio e o desprezo aos membros dessa etnia,</p><p>ressaltando assim a necessidade de deportá-los e</p><p>exterminá-los.</p><p>Membros de Mir iskusstva, de Boris Kustodiev</p><p>(1916-1920).</p><p>Para a arquitetura também foi reservado um lugar especial. Hitler, arquiteto e pintor frustrado, considerava-a a</p><p>mãe das artes pelo seu poder de interferência na vida das pessoas. As obras produzidas no período se</p><p>caracterizavam pela monumentalidade. Acreditava-se que as grandes construções suscitariam adesão por</p><p>despertarem orgulho e entusiasmo nacionalista. Inspiravam-se nas ruínas das civilizações greco-romanas e</p><p>eram decoradas com esculturas que representavam atletas, soldados, figuras mitológicas. Buscavam</p><p>expressar a harmonia do corpo, as virtudes másculas e a virilidade. Tanto essa arte quanto a arquitetura eram</p><p>superdimensionadas, seus elementos criados fora da escala humana faziam parte dos projetos de Hitler.</p><p>A Revolução Russa e a arte</p><p>Compreenda neste vídeo o impacto da Revolução Russa na arte e as características que ela assumiu.</p><p>Conteúdo interativo</p><p>Acesse a versão digital para assistir ao vídeo.</p><p>A Revolução Russa, de 1917, que aboliu o regime czarista e estabeleceu no poder o socialismo, abriu caminho</p><p>para uma extraordinária atmosfera de inquietude e renovação nos campos social, político e cultural. Nas artes</p><p>visuais, na literatura e no cinema, jovens artistas manifestam uma tendência acentuada em direção a novos</p><p>procedimentos estéticos e ao descontentamento em relação à linguagem convencional e passadista. Essa</p><p>renovação foi acompanhada, ao mesmo tempo, pela exigência de um retorno às origens, às fontes primeiras</p><p>da cultura russa e da negação de valores considerados ultrapassados.</p><p>Antes mesmo da Revolução Russa, também conhecida como Revolução de Outubro, os artistas visuais na</p><p>Rússia czarista já estavam completamente imersos nos paradigmas estéticos modernos. O simbolismo e o</p><p>decadentismo produziram em solo russo, no campo da poética e do pensamento filosófico, proposições e</p><p>experiências estéticas de impacto decisivo na cultura russa, desempenhando um papel determinante para o</p><p>surgimento de tendências e correntes estéticas que conformariam, poucos anos depois, um amplo movimento</p><p>que se convencionou chamar de Vanguardas Russas.</p><p>Sob o impulso do grupo Mir iskusstva (O mundo</p><p>da arte), que passa a veicular, no início do</p><p>século XX, por meio de uma revista de mesmo</p><p>nome, dirigida por Serguéi Diáguilev (1872-</p><p>1929), são divulgadas as novas tendências</p><p>artísticas europeias, como o impressionismo, o</p><p>cubismo francês e ainda o expressionismo</p><p>alemão. O ímpeto da Revolução projetou um</p><p>florescimento artístico espantoso entre 1918 e</p><p>1923 e ainda depois. Os anos da Nova Política</p><p>Econômica (NEP), entre 1922 e 1928, também</p><p>favoreceram a liberdade das artes, a</p><p>experimentação e a excentricidade.</p><p>No campo das artes plásticas, as correntes</p><p>russas da pintura de vanguarda, opondo-se a</p><p>seus predecessores realista-positivistas (os</p><p>assim chamados artistas “ambulantes”, em</p><p>russo, peredvíjniki) e contrárias também aos simbolistas, considerados apocalípticos</p><p>e místicos, vão encontrar</p><p>em sua pesquisa formal uma inspiração criativa em perfeita sintonia com os aspectos da nova civilização</p><p>urbana. A derrocada do velho mundo, com o final da Primeira Guerra Mundial, reclama ao artista outras</p><p>soluções e uma nova visão do real.</p><p>As vanguardas russas abrigavam diferentes correntes, que iam desde o nadismo ou niilismo até o futurismo, o</p><p>expressionismo e o cubismo. Uma de suas mais importantes manifestações se deu com o surgimento do</p><p>movimento cubo-futurista, que articulava as propostas do futurismo italiano às do cubismo francês. Dentre</p><p>seus princípios estéticos fundamentais, destacam-se a pesquisa formal.</p><p>Exemplo recente da apresentação da produção artística desse período foi a exposição realizada pelo Museu</p><p>Reina Sofia, em Madri, no ano de 2018. Sob o título de Dadá Russo, a mostra foi dedicada à apresentação de</p><p>obras desde seus primeiros artistas e experimentos até os diálogos e as influências possíveis na arte da</p><p>contemporaneidade, como nas obras da artista americana Dorothea Tanning. Dentre os bons resultados de</p><p>pesquisa para a mostra, vemos a apresentação das obras Escondidas, como as pinturas de Ivan Kudriashov,</p><p>de 1919, Retrato de mulher e Composição não objetiva.</p><p>Composição não objetiva, de Ivan Kudriashov, em 1919.</p><p>Retrato de mulher, de Ivan Kudriashov, em 1919.</p><p>Em paralelo à pintura, as artes gráficas também assumem uma posição de destaque após a Revolução de</p><p>1917. Os cartazes ornavam a cidade, celebrando festividades políticas, como o aniversário de Revolução de</p><p>Outubro, e propagando o ideário da nova realidade advinda da instauração do socialismo. O esmero da</p><p>produção gráfica, repleta de inventividade estética no uso de cores e formas geométricas, transformava os</p><p>panfletos políticos em peças artísticas de grande valor.</p><p>No cinema, surgem diretores e obras-primas que marcariam a história do cinema mundial. Dentre os grandes</p><p>cineastas soviéticos, destacam-se os nomes de Dziga Vertov (1896-1954), Vsevolod Pudovkin (1893-1953) e</p><p>Serguei Eisenstein (1898-1948). Todos eles desenvolveram ideias importantes sobre a montagem.</p><p>Pôster do filme O Encouraçado Potemkin.</p><p>Desenhista de talento e grande conhecedor de pintura,</p><p>Eisenstein dava grande atenção à composição das imagens.</p><p>Em O Encouraçado Potemkin (1905), ele narra a história de</p><p>um levante de marinheiros no ano de 1905. Por meio de</p><p>montagens que criavam efeitos emocionais e de sentido, ele</p><p>descreve as causas que provocaram a rebelião, assim como</p><p>os antagonismos de classe entre os marujos e seus oficiais.</p><p>A sequência do fuzilamento na escadaria de Odessa tornou-</p><p>se um clássico do cinema, alternando planos e tomadas da</p><p>multidão sucumbindo aos tiros das autoridades e da reação</p><p>das pessoas diante da injusta ação repressiva.</p><p>No final da década de 1920, com a ascensão de Josef Stalin</p><p>(1878-1953) ao poder e o endurecimento do regime, as</p><p>vanguardas foram combatidas e finalmente sufocadas pela</p><p>perseguição política. Ocorre um gradativo esvaziamento</p><p>dos ideais revolucionários em todos os setores da vida russa. O rico período de experimentalismo nas artes se</p><p>dissolve junto com as utopias das vanguardas, que passaram a ser criticadas, então, como correntes de</p><p>orientação estética burguesa. O realismo socialista, representado de maneira emblemática nas pinturas de</p><p>Alexander Gerasimov e Isaak Brodsky, nas quais Stalin se torna o centro ao redor do qual gira a vida política</p><p>na União Soviética, encerra a produtividade inventiva das duas primeiras décadas do século passado naquele</p><p>país.</p><p>Verificando o aprendizado</p><p>Questão 1</p><p>A ascensão dos regimes totalitários na Alemanha e Rússia provocou uma mudança radical na direção das</p><p>tendências artísticas correntes na Europa do início do século XX. Com essas mudanças políticas, a</p><p>efervescência e a experimentação artística desses países foram suprimidas</p><p>A</p><p>pela produção em torno da temática religiosa de tradição judaico-cristã.</p><p>B</p><p>pela produção artística industrial de fácil reprodução.</p><p>C</p><p>pelo nacionalismo e pela revalorização da arte gótica.</p><p>D</p><p>pela política cultural de Estado.</p><p>E</p><p>pela política cultural.</p><p>A alternativa D está correta.</p><p>A ascensão dos regimes totalitários manifestou-se na Alemanha e Rússia através das políticas culturais de</p><p>Estado, que buscavam, a partir da centralização e da prescrição das linguagens artísticas, contribuir com a</p><p>propaganda desses regimes. Na Alemanha, essa política caracterizou-se pela revalorização dos estilos</p><p>acadêmico, neoclássico e romântico. Na Rússia, o realismo socialista foi o estilo artístico adotado pela</p><p>propaganda totalitária e traduziu-se na produção de obras em torno da política stalinista.</p><p>Questão 2</p><p>A Bauhaus, escola de arquitetura fundada na Alemanha, em 1919, por Walter Gropius, tornou-se o centro de</p><p>produção do moderno desenho industrial, adaptando a forma dos objetos às novas técnicas de produção. Foi</p><p>fechada pelos nazistas em 1933, quando seus professores começaram a se espalhar pelo mundo, divulgando</p><p>os preceitos ali elaborados. Analise as assertivas:</p><p>I- A Bauhaus buscava a funcionalidade em detrimento da estética.</p><p>II- Foi influenciada pelo construtivismo russo e buscava a junção da arte e do artesanato.</p><p>III- Foi precursora do modernismo e buscava a estética em detrimento da funcionalidade.</p><p>Marque a alternativa correta.</p><p>A</p><p>I e II estão corretas.</p><p>B</p><p>II e III estão corretas.</p><p>C</p><p>Somente I está correta.</p><p>D</p><p>Somente II está correta.</p><p>E</p><p>Somente III está correta.</p><p>A alternativa B está correta.</p><p>A Bauhaus é considerada precursora do modernismo. Foi influenciada pelo construtivismo russo e buscava</p><p>a junção da arte e do artesanato para a produção de designs industriais que fossem funcionais e, ao</p><p>mesmo tempo, esteticamente chamativos.</p><p>4. Conclusão</p><p>Considerações finais</p><p>Como vimos, a Revolução Industrial foi um ponto importante e de impulso para inúmeras transformações</p><p>vistas no campo artístico-cultural. Ela, sem dúvida, foi a grande responsável pela arte da vanguarda; já havia</p><p>uma tomada de consciência da sociedade e o desenvolvimento tecnológico a favor da construção de</p><p>narrativas visuais estritamente ligadas a essa nova realidade.</p><p>Sob os efeitos e impactos da Primeira Guerra Mundial, muitos artistas jovens se envolveram nas batalhas. No</p><p>entanto, pouco tempo depois, encontraram-se em meio à tristeza, dor e uma compreensão profunda da cruel</p><p>realidade imposta pelos combates. A arte desse período se tornou um triste retrato da guerra.</p><p>Com o sentimento de derrota e desejo de reconstrução de uma nação forte, vimos a ascensão de regimes</p><p>totalitários na Alemanha, como o nazista e, tristemente, a perseguição a todos os mecanismos de liberdade de</p><p>expressão, como o caso das artes visuais. Por isso, a arte moderna e seus artistas foram perseguidos e</p><p>considerados produtores de uma arte degenerada.</p><p>Podcast</p><p>Ouça e entenda mais detalhadamente a modernidade artística sob os pontos de vista histórico, social,</p><p>econômico e político.</p><p>Conteúdo interativo</p><p>Acesse a versão digital para ouvir o áudio.</p><p>Explore +</p><p>O livro da arte, publicado pela editora Martins Fontes, em 1999, é uma importante fonte de informação sobre a</p><p>biografia de pintores e ilustração das obras. Vale a leitura!</p><p>A obra de Alberto Manguel, publicada pela editora Companhia das Letras, em 2001, sob o título Lendo</p><p>imagens, é uma boa referência para compreensão de pinturas a partir das seguintes abordagens: ausência,</p><p>enigma, testemunho, compreensão, pesadelo, reflexo, violência, subversão, filosofia, memória e teatro.</p><p>Vale a pena procurar o estudo técnico que foi o realizado pelo Gabinete de Restaurações do Museu do Prado</p><p>sobre a obra La nevada o el invierno, de Francisco de Goya.</p><p>Também aproveite as redes sociais e páginas oficiais de museus internacionais, tais como o Museu do Louvre</p><p>e Museu D’Orsay, ambos em Paris, França; o Museu do Prado, em Madri, Espanha; o Museu Metropolitan de</p><p>Nova Iorque, nos Estados Unidos; a Galeria Nacional, em Londres, Reino Unido. E no Brasil, temos a</p><p>Pinacoteca do Estado de São Paulo e o Museu de Arte</p>