Prévia do material em texto
<p>1</p><p>1</p><p>LAUDO</p><p>PERICIAL</p><p>Retirada de areia</p><p>no NUPPA</p><p>UFPB</p><p>Universidade Federal da Paraíba</p><p>Centro de Ciências Exatas e da Natureza</p><p>Departamento de Geociências</p><p>Laboratório de Geografia Aplicada</p><p>João Pessoa, novembro de 2004</p><p>2</p><p>2</p><p>Paulo Roberto de Oliveira Rosa</p><p>Equipe Técnica e Estudantes do curso de Geografia na</p><p>Disciplina</p><p>Geografia Aplicada à Perícia Ambiental</p><p>Conrad Rodrigues Rosa,</p><p>José da Cunha Barbosa,</p><p>Maria Odete Teixeira do Nascimento,</p><p>Maria José Vicente de Barros e</p><p>Mônica Maria Ferreira Teles</p><p>Pablo Rodrigues Rosa</p><p>3</p><p>3</p><p>ÍNDICE</p><p>1 - DESIGNAÇÃO PARA A REALIZAÇÃO DA PERÍCIA 03</p><p>2 - Preâmbulo 04</p><p>3 - Histórico 05</p><p>4 - Do objetivo pericial 06</p><p>5 - Dos exames 07</p><p>DA DESCRIÇÃO DO LOCAL 07</p><p>5 1 -Laudo de Exame Pericial cuja intervenção ambiental prejudica a saúde, a</p><p>segurança e o bem-estar da população</p><p>09</p><p>5 2 -Laudo de Exame Pericial demonstrando que a intervenção cria condições</p><p>adversas às atividades sociais e econômicas</p><p>10</p><p>5 3 -Laudo de Exame Pericial verifica que a intervenção afeta desfavoravelmente a</p><p>biota</p><p>11</p><p>5 4 -Laudo de Exame Pericial verifica que a intervenção afeta as condições estéticas</p><p>ou sanitárias do meio ambiente</p><p>12</p><p>5 5 -Laudo de Exame Pericial verifica que a intervenção lança matérias ou energia em</p><p>desacordo com os padrões ambientais estabelecido</p><p>13</p><p>6 - Das considerações técnico-periciais ou discussão legal 14</p><p>Dos vestígios materiais 14</p><p>Do corpo legal que normatiza a relação sociedade natureza 16</p><p>7 - Da dinâmica do evento 19</p><p>8 - Das respostas aos quesitos 20</p><p>9 - Conclusão 22</p><p>10 - DAS DISPOSIÇÕES FINAIS 23</p><p>11 - Croquis e desenhos</p><p>12 - Levantamento fotográfico</p><p>4</p><p>4</p><p>1 - DESIGNAÇÃO PARA A REALIZAÇÃO DA PERÍCIA</p><p>A APAN – Associação Paraibana dos Amigos da Natureza recorreu de maneira informal à</p><p>direção do CCEN – Centro de Ciências Exatas e da Natureza, no caso o professor</p><p>Umbelino de Freitas Neto para que pudesse tomar providências no sentido de convocar um</p><p>perito para elaborar um laudo pericial no caso da extração de areia no NUPPA – Núcleo de</p><p>Pesquisas e Processamento de Alimentos dentro do território da UFPB. Esse tipo de</p><p>averiguação quando recorre a UFPB, normalmente é o CCEN o Centro que se incumbe</p><p>dessa atividade. Assim sendo, o diretor do CCEN convocou-me verbalmente, tanto como</p><p>professor lotado no departamento de Geociências da Universidade Federal da Paraíba –</p><p>Campus I, bem como perito, posto que já fora designado diversas vezes pelo Ministério</p><p>Público da Capital e outras instâncias de foro jurídico para esse tipo de serviço pericial.</p><p>2 - Preâmbulo</p><p>O NUPPA que é um núcleo externo a área Campus I, porém ligado administrativamente ao</p><p>Centro de Tecnologia da UFPB – Campus I, localiza-se adjacente à zona industrial do</p><p>bairro Mangabeira na cidade de João Pessoa – PB como pode ser visto na Foto 1 e como</p><p>consta no Plano Diretor desta cidade.</p><p>Por motivos ainda não conhecidos uma empresa de capital privado obteve direitos sobre a</p><p>extração do minério de classe II, ou seja, areia, segundo depoimentos de funcionários da</p><p>empresa obteve todas as licenças necessárias para a operação. Não cabe neste laudo</p><p>observar os trâmites legais que a empresa detentora da licença de extração, nem o motivo</p><p>pelo qual a Instituição UFPB permitiu essa atividade em seu território. No entanto, verifica-</p><p>se que o empreendimento está situado no vale do rio Cabelo, sendo esta uma Zona Especial</p><p>de Preservação como consta no Plano Diretor do Município de João Pessoa – PB.</p><p>5</p><p>5</p><p>3 - Histórico</p><p>A Perícia sobre a atividade mineradora no território pertencente à UFPB e sob a</p><p>administração do NUPPA foi requerida pela APAN com sede nesta capital.</p><p>A APAN solicitou um laudo que documentasse a atividade minerária de extração de areia</p><p>sob a alegação desta área ser de preservação, porém está sendo degradada nos itens a</p><p>seguir: vegetação de tabuleiro e preservação de vertente.</p><p>Eu, professor Paulo Roberto de Oliveira Rosa, lotado no departamento de Geociências da</p><p>Universidade Federal da Paraíba – Campus I, já tendo atuado anteriormente como perito,</p><p>designado diversas vezes pelo Ministério Público da Capital e em outras instâncias de foro</p><p>jurídico para emissão de laudos relativos às atividades empreendedoras que possam estar</p><p>atuando em dissonância com o sistema ambiental, acatei à solicitação da direção do CCEN</p><p>para emitir o referido laudo pericial. No entanto, atuando como professor e ministrando</p><p>uma disciplina cuja temática se refere à perícia ambiental (Geografia Aplicada à Perícia</p><p>com ênfase Ambiental), incluí a atividade pericial nas atividades dessa disciplina. Assim</p><p>sendo, distribuí com os seis estudantes nela matriculados, Conrad R. Rosa, José da C.</p><p>Barbosa, Maria Odete T. do Nascimento, Maria José V. de Barros, Pablo Rodrigues Rosa e</p><p>Mônica Maria F. Teles a tarefa de investigar a denúncia, considerando os seguintes</p><p>questionamentos levantados pela APAN.</p><p>1. Houve agressão ao meio ambiente?</p><p>2. Em caso positivo, quais foram essas agressões?</p><p>3. Qual a extensão dos danos causados, caso tenham sido os mesmos</p><p>constatados?</p><p>4. Qual a solução ou soluções para resolver o problema?</p><p>6</p><p>6</p><p>4 - Do objetivo pericial</p><p>Verificar se a atividade minerária na área do NUPPA está afetando o sistema ambiental.</p><p>Identificar as evidências deixadas pela atividade minerária, que estão causando a</p><p>degradação ambiental, provocando assim um dano.</p><p>5 - Dos exames</p><p>DA DESCRIÇÃO DO LOCAL</p><p>A área onde foi executado este laudo pericial localiza-se no interior do território do NUPPA</p><p>situado na porção Sudeste da cidade de João Pessoa rumo ao acesso à estrada da praia da</p><p>Penha, próximo ao distrito industrial do bairro de Mangabeira, estando inserido na bacia</p><p>hidrográfica do rio Cabelo (Figura 1). Na condição de órgão do Centro de Tecnologia da</p><p>Universidade Federal da Paraíba, o NUPPA que realiza processamento e pesquisa na área</p><p>de alimentos, assim, dentro dos seus limites territoriais encontra-se muitas espécies de</p><p>frutíferas. A jazida mineral está situada no interior da área do órgão, entre as coordenadas</p><p>planas (UTM) 0299198/9207682, na vertente esquerda do riacho Cabelo, afluente</p><p>intermitente do Rio de mesmo nome.</p><p>A área onde o NUPPA está situado compreende o topo e a vertente esquerda do Rio</p><p>Cabelo, constando ainda em seu território um afluente desse rio (Figura 2), que deságua já</p><p>fora do território do núcleo. Além das árvores frutíferas que incluem cajueiros, mangabeiras</p><p>entre outras, existem porções da vegetação nativa (Mata Atlântica) que se constituem da</p><p>Floresta Estacional Semidecidual e da Savana, também denominada vegetação de tabuleiro</p><p>(Fotos 1a e 1b). Essas tipologias revestem pacotes de areia quartzosas dos tabuleiros do</p><p>Pliopleistoceno do Grupo Barreiras delineando a fisiografia local, que mostra seu desenho</p><p>em três importantes unidades do relevo: topo, vertente e fundo do vale. Essas três unidades</p><p>podem ser visualizadas na figura 3, apresentando um perfil transversal que se inicia no</p><p>7</p><p>7</p><p>local da mineração, cortando o vale do riacho, local das instalações prediais do núcleo e</p><p>vertente e vale do Rio Cabelo.</p><p>Devido à proximidade com o Oceano Atlântico, a área recebeu nos últimos anos uma</p><p>precipitação em torno de 1700mm1 anuais (Figura 4) e devido a essa carga de umidade</p><p>oriunda dos ventos Alísios de Sudeste, o desgaste intempérico se dá, sobretudo, nas</p><p>vertentes orientadas para o sudeste, que são as vertentes esquerdas do Rio Cabelo e de seus</p><p>afluentes localizados em sua totalidade nesse mesmo lado.</p><p>O local onde está ocorrendo a atividade minerária de retirada de areia encontra-se</p><p>exatamente</p><p>na vertente esquerda do primeiro afluente do Rio Cabelo, entre as coordenadas</p><p>0299198/9207682 e possuía um pacote arenoso bastante denso de aproximadamente 6</p><p>metros de profundidade, o qual já foi removido quase que em sua totalidade (Fotos 2a e</p><p>2b), tendo em vista a atividade já ter duração aproximada de um ano, funcionando de</p><p>segunda à sexta-feira das 6h00 as 17h00, conforme informações orais obtidas por</p><p>funcionários.</p><p>O areeiro em atividade ocupa uma área de extensão aproximada, entre 1.8ha. O corte do</p><p>pacote de sedimento que está sendo retirado atinge em média de 5m a 7m de altura.</p><p>1 Média dos últimos 14 anos, podendo oscilar para mais, tendo em vista que nos anos de 1998 e</p><p>1999 faltaram dados de alguns meses.</p><p>8</p><p>8</p><p>5 1 - Exame Pericial cuja intervenção ambiental prejudica a saúde, a segurança e</p><p>o bem-estar da população</p><p>Próximo às instalações prediais do Distrito Industrial do Bairro de Mangabeira (Foto 2b)</p><p>existe uma área não construída e aparentemente abandonada2 a algum tempo, de onde foi</p><p>retirada areia, também tendo em vista seu substrato ser semelhante ao que se localiza</p><p>abaixo da camada de areia no local de extração (Fotos 3a e 3b). Foram observados ainda</p><p>sinais de erosão através de pequenas ravinas presentes nessa área desnuda, bem como</p><p>tentativas de contenção da erosão nas proximidades dos prédios, onde foram colocados</p><p>pneus no intuito de evitar o carreamento de material com as enxurradas decorrentes das</p><p>fortes chuvas (Foto 4a).</p><p>5 2 - Exame Pericial demonstrando que a intervenção cria condições adversas às</p><p>atividades sociais e econômicas</p><p>O vale do riacho tributário do rio Cabelo já possui uma de suas vertentes danificadas pela</p><p>retirada do material arenoso, por isso há presença dos processos morfogenéticos fortes,</p><p>onde apresenta um nível de erosão acentuada nitidamente notado através de suas margens</p><p>que estão cedendo material, comprometendo inclusive as árvores e arbustos que estão</p><p>próximos a elas (Fotos 4b e 4c).</p><p>2 Entenda-se por abandonada como uma área que sofreu uma interferência humana, mas que essa</p><p>interferência cessou e a área não estão mais sofrendo a pressão que havia tido anteriormente.</p><p>9</p><p>9</p><p>5 3 - Exame Pericial verifica que a intervenção afeta desfavoravelmente a biota</p><p>As adjacências do local onde está ocorrendo a retirada de areia possui uma fisionomia bem</p><p>diversificada, sobretudo com relação à ocupação do solo, tendo em vista possuir ao seu</p><p>redor elementos naturais nas porções Norte, Sul e Leste. Essas partes são ocupadas por</p><p>vegetação natural, tendo inclusive presença de formação arbustiva (vegetação de tabuleiro)</p><p>e formação arbórea com o desflorestamento para a garimpagem, assim o lugar se torna uma</p><p>lacuna na cadeia sistêmica de troca de matéria e energia.</p><p>5 4 - Exame Pericial verifica que a intervenção afeta as condições estéticas ou</p><p>sanitárias do meio ambiente</p><p>A fisionomia da paisagem ficou totalmente alterada, como a retirada intensiva da cobertura</p><p>de solo arenoso que desfigurou o ambiente, pois o que era uma cobertura vegetal sobre o</p><p>solo franco (areia / argila / silte) está agora com uma enorme escavação. A paisagem, ainda</p><p>com a tentativa de replantio de vegetais não será a mesma, pois a cobertura de solo retirada</p><p>não será mais recomposta. Nesse caso a estética, como resultado da paisagem local, sendo</p><p>oriunda da organização espontânea dos elementos naturais, está totalmente alterada e</p><p>desfigurada.</p><p>5 5 - Exame Pericial verifica que a intervenção lança matéria ou energia em</p><p>desacordo com os padrões ambientais estabelecidos</p><p>A presença constante de veículos pesados, ou seja, caminhões basculantes com até três</p><p>eixos cuja carga chega a mais de 21m3 de areia circulam diariamente pelo local fazendo um</p><p>batimento efetivo no assoalho do ambiente. Caminhões esses que em muitos casos,</p><p>conforme o depoimento de um usuário do lugar, transportam a carga para a cidade do</p><p>Recife. A circulação desses veículos normalmente se dá quando o dia começa a raiar,</p><p>entorno das 4 e meia da manhã (verificação in loco).</p><p>6 - Das considerações técnico-periciais ou discussão legal</p><p>10</p><p>10</p><p>Os exames no campo foram efetuados com aparelhagem de GPS na mensuração da área;</p><p>usando-se fotografias terrestres (horizontais) e aéreas (obliquas e verticais) para registro da</p><p>paisagem e aplicação de técnicas de geoprocessamento.</p><p>Em laboratório foi delimitada a bacia hidrográfica do rio Cabelo a partir de carta</p><p>topográfica da SUDENE na escala de 1:25000. Observando a carta, verificou-se que o rio</p><p>possui três tributários, todos na vertente esquerda. O primeiro tributário no qual a atividade</p><p>está localizada, foi interrompido por um aterro de uma estrada que dá acesso ao NUPPA. A</p><p>interrupção já é bem antiga (pois já estava presente em 1978), verificada através de</p><p>Ortofoto em escala 1:2000 desse mesmo ano, permitem traçar o perfil longitudinal do Rio</p><p>Cabelo (Figura 5), bem como o perfil transversal incluindo, além do rio Cabelo, o primeiro</p><p>afluente tendo em vista sua proximidade imediata com a área-objeto dessa perícia, como</p><p>pode ser visualizada na figura 3.</p><p>Dos vestígios materiais</p><p>Os vestígios da retirada de materiais são nítidos, pois se nota perfeitamente a ausência da</p><p>cobertura vegetal sendo que no local estão galhos, raízes e troncos de árvores. Os troncos,</p><p>por exemplo, apesar de cortados mediam aproximadamente 1m de extensão por 1,70 de</p><p>espessura (fotos 5). Na vertente esquerda de um dos afluentes do rio Cabelo há um grande</p><p>buraco como testemunho de que daquela área foi retirada uma grande quantidade de areia</p><p>(foto 6) verifica-se que a presença de caminhão transportando a areia (foto 7) e de um trator</p><p>fazendo o desflorestamento, há também a presença do reflorestamento, onde a vegetação</p><p>nativa está sendo substituída por cultura de caju.</p><p>Tomando como base as correlações entre os elementos naturais, nota-se a ausência de um</p><p>elemento que determine o bom funcionamento do outro, o que poderá ocasionar um efeito</p><p>em cadeia. O material encontrado abaixo do pacote arenoso constitui-se do solo</p><p>denominado de Fragipan3 (Foto 8), possuindo um elevado grau de impermeabilidade, tendo</p><p>3 Horizonte subsuperficial de textura franca, raramente arenosa...apresenta muito baixo conteúdo de matéria</p><p>orgânica suprajacente, aparente cimentação ao se tornar seco e consistência dura a muito dura. Lúcio S.Vieira.</p><p>Manual da Ciência do Solo, 1975.</p><p>11</p><p>11</p><p>em vista que o percentual de argila existente não permite que a água percole livremente</p><p>pelos poros. Assim, a probabilidade de aceleração do processo morfogenético é maior,</p><p>tendo em vista que a água não irá infiltrar, pois escoando pela superfície em forma de</p><p>torrente oriunda das enxurradas.</p><p>A ausência da vegetação contribui significativamente para o processo erosivo, posto que o</p><p>solo passa a não possuir camada de serrapilheira que ajuda na amortização das gotas de</p><p>chuva, bem como de sua capacidade de absorção.</p><p>Considerando que a microbacia é área de captação de água da chuva, que ao cair sob a</p><p>superfície infiltra-se no solo até que este esteja encharcado, quando passa a convergir para</p><p>os canais de escoamento superficial, vai alimentar o canal principal que continua fluindo a</p><p>água (Foto 9).</p><p>Do corpo legal que normatiza a relação sociedade natureza</p><p>Resolução nº001 do CONAMA de 23/01/86 o impacto ambiental consiste em qualquer</p><p>alteração das propriedades físicas, químicas e biológicas do meio ambiente, causada por</p><p>qualquer forma de matéria ou energia resultante das atividades humanas, etc</p><p>Constituição Federal através de seu Artigo 225, §4º;</p><p>Lei nº4771 de 15 de setembro de 1965, Artigo 2º, letras a e g, Artigo 3º, letra a;</p><p>Lei 7805 de 18 de</p><p>julho de 1989, Artigo 9º, item VI,</p><p>Lei 6938 de 31 de agosto de 1981, Artigo 4º, itens I e VI.</p><p>Os conjuntos de leis que regem a convivência social com a manutenção do equilíbrio dos</p><p>sistemas naturais foram se desenvolvendo e aperfeiçoando gradativamente, principalmente</p><p>12</p><p>12</p><p>após a tomada de consciência da finitude dos recursos da natureza.</p><p>Tomando-se a Teoria de Sistemas como modelo central para a elaboração deste laudo vê-</p><p>se, nesta ótica, que o ambiente é composto pelos conjuntos naturais Climático, Hídrico e</p><p>Topográfico que, como resultado dessas intercessões tem-se o meio biótico, ou seja, a vida</p><p>em suas diversas formas, inclusive a sociocultural! Nesse sentido considerou-se a categoria</p><p>região como um conceito geográfico eficiente para o delineamento da área estudada. São</p><p>duas as justificativas para o uso deste conceito: primeiro, por seu caráter arbitrário, torna-</p><p>se possível delinear a forma de uma região a partir de um juízo mental ou da escolha de um</p><p>ou de parte de seus elementos (BROEK, 1976). Segundo, por admitir na sua configuração</p><p>espacial um caráter flexível de sua forma, ou seja, no estabelecimento de uma região não há</p><p>como estabelecer limites precisos, sendo pois, é unicamente possível, delinear seus limiares</p><p>através da diferenciação de componentes vizinhos mais imediatos. Esta segunda</p><p>justificativa é compatível à teoria adotada, pois favorece ao estudo dos processos dinâmicos</p><p>e interdependentes dos elementos que compõem o meio estudado.</p><p>A região delineada para ser levada em consideração neste laudo constituiu-se da bacia</p><p>hidrográfica do rio Cabelo. A Lei Nº 6.308, de 02 de julho de 1996, que institui a Política</p><p>Estadual de Recursos Hídricos, no seu Art. 2º, § 3º, considera a bacia hidrográfica como</p><p>unidade básica de planejamento e gerenciamento dos Recursos Hídricos.</p><p>Os Recursos Hídricos são destacados aqui através do Decreto Nº 24.643, de 10 de julho de</p><p>1934, que decreta o Código das Águas, no seu Art. 6º que afirma que “são públicas e</p><p>dominicais todas as águas situadas em terrenos que também o sejam, quando as</p><p>mesmas não forem de domínio público de uso comum, ou não forem comuns”.</p><p>No caso específico deste laudo passa-se a considerar que a desembocadura do rio Cabelo</p><p>caracteriza-se como bem público dominical no que diz o Art. 2º do mesmo Decreto: “São</p><p>públicos dominicais os terrenos de marinha...” e dentro do que preceitua a Lei Nº 6.938 de</p><p>31 de agosto de 1981, que dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente, nos seus</p><p>objetivos que, dentre outros, visa “à preservação e restauração dos recursos ambientais</p><p>com vistas à sua utilização racional e disponibilidade permanente, concorrendo para a</p><p>manutenção do equilíbrio ecológico propício à vida”.</p><p>13</p><p>13</p><p>Neste caso da exploração de jazida do mineral areia em área que constituem vertentes de</p><p>canais de alimentação de rios, faz com que o rio deixe de exercer as funções que lhe são</p><p>próprias, o lazer e os provimentos essenciais da sociedade e passe a não suprir mais uma de</p><p>suas importantes funções, que é a de proporcionar bem-estar social. Portanto, considera-se</p><p>como poluição o resultado dessa atividade mineradora porque de acordo com a Lei Nº</p><p>6.938, anteriormente citada, a poluição é um estado resultante de atividades que</p><p>“prejudiquem a saúde, a segurança e o bem-estar da população” e “criem condições</p><p>adversas às atividades sociais e econômicas”. No caso, a retirada da vegetação e do solo</p><p>da área de vertente de canal de escoamento pertencente à bacia hidrográfica do rio Cabelo,</p><p>que se configura como a jazida localizada nos domínios do NUPPA, proporciona a</p><p>diminuição da alimentação da matéria fluvial que se infiltra lenta e progressivamente com a</p><p>ajuda da vegetação ciliar que retém a umidade do solo.</p><p>7 - Da dinâmica do evento</p><p>O evento de extração de areia que ocorre no NUPPA a mais de onze meses (informação</p><p>oral emitida pelo encarregado da empresa responsável pelo garimpo) está retirando a</p><p>cobertura edáfica que sustenta a população vegetal do cerrado. A retirada da vegetação e</p><p>também da camada de areia, que é propriamente a jazida, está proporcionando processos</p><p>erosivos ao ambiente danificando o mesmo de forma irreversível.</p><p>8 - Das respostas aos quesitos</p><p>01) Há legalidade da atividade minerária no NUPPA?</p><p>Em relação a este quesito não foi possível verificar a legalidade das licenças, pois em visita</p><p>a órgão competente, funcionários não informaram sobre a situação legal da empresa</p><p>responsável e nem pela mineração.</p><p>02) Houve agressão ao ambiente?</p><p>14</p><p>14</p><p>Considerando que agressão segundo o Dicionário Aurélio refere-se à “conduta</p><p>caracterizada por intuito destrutivo”, onde o caráter destrutivo, neste caso, se dá pelo fato</p><p>desta atividade minerária esgotar um recurso irrecuperável, causar impacto e dano ao</p><p>ambiente. De acordo com o Código Civil Brasileiro em seu Art. 159, o dano é o resultado</p><p>de toda ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, que violar o direito ou</p><p>causar prejuízo a outrem. No caso, a violação de direito se dá quando da quebra do</p><p>equilíbrio ambiental, especificamente da bacia do Rio Cabelo, que ocasiona dano ao que</p><p>preceitua a já citada Lei Nº 6.938 de 31 de agosto de 1981, bem como o que dispõe o</p><p>Código das Águas, no seu Art. 6º. A partir desses enunciados no caso da atividade em</p><p>questão, houve agressão ao ambiente,</p><p>03) Em caso positivo, quais foram essas agressões?</p><p>1 - eliminação do pacote do solo arenoso existente no local;</p><p>2 – exposição do fragipan, dificultando regeneração vegetal;</p><p>3 - eliminação da vegetação espontânea que se encontrava na área e</p><p>4 – desmonte de vertente esquerda do Riacho Cabelo</p><p>04) Qual a extensão dos danos causados?</p><p>Num sistema natural em que inevitavelmente os elementos estão sempre inter-relacionados</p><p>apresentando muitas ou infinitas variáveis, pode-se considerar os danos e sua extensão em</p><p>uma escala macro. Mas, no caso do laudo aqui apresentado delineamos uma região que foi</p><p>a bacia hidrográfica que abriga o rio Cabelo, para que seja possível definir-se mais</p><p>especificamente a amplitude espacial que irá ser considerada e, desta forma, cercarmos</p><p>mais os elementos a serem considerados em escala mais próxima à micro, ou a área em que</p><p>está ocorrendo o evento. Desta forma, referente à problemática deste laudo, a extensão dos</p><p>danos se dá até os limiares da bacia hidrográfica do rio Cabelo, pois sua nascente já se</p><p>encontra comprometida pela urbanização s no bairro Mangabeira, próximo ao</p><p>15</p><p>15</p><p>hospital Maternidade.</p><p>05) Qual a solução ou soluções para resolver o problema?</p><p>Considerando que a agressão está sendo ainda causada, a primeira medida é</p><p>paralisar imediatamente. No entanto no lugar em que já foi causada a agressão danosa, a</p><p>única forma de minimizar o impacto será uma medida de compensação, tendo em vista que</p><p>a vegetação já foi retirada e a areia também. Por analogia da área vizinha, onde já faz</p><p>algum tempo que a mesma foi abandonada e continua praticamente desnuda, tendo o</p><p>mesmo substrato, conforme ilustra as Fotos 3a, 3b, 4b e 8, será muito demorada uma</p><p>recomposição vegetal na área devastada através dos estágios de sucessão, tendo em vista</p><p>que o banco de sementes foi levado juntamente com a areia e o substrato atual, como já</p><p>salientado, ser de difícil recomposição. Entretanto, a vegetação poderá ser recomposta se</p><p>forem tomadas algumas medidas para acelerar o processo. Neste aspecto, o NUPPA poderá</p><p>recompor a área com espécies da vegetação nativa, contudo não deverá realiza-lo com</p><p>apenas uma espécie, como foi observado no local, tendo em vista que a vegetação</p><p>suprimida consistia de uma comunidade e não de uma população, a qual por ser composta</p><p>de uma única espécie, as exigências constituem-se pelos mesmos elementos, alimentando,</p><p>dessa forma, uma competição intraespecífica4, o que acaba</p><p>por enfraquecer cada vez mais o</p><p>sistema natural.</p><p>Com relação ao pacote arenoso, sabe-se que é de origem quaternária e não poderá se</p><p>recompor.</p><p>9 - Conclusão</p><p>Fazendo uma interpretação em perspectiva, pode-se afirmar que a fisiografia e a fisionomia</p><p>da paisagem foi totalmente alterada. O corpo em evidência, que é a paisagem estruturada de</p><p>forma sistêmica e abrigada pela bacia hidrográfica do rio Cabelo, no entanto, a paisagem</p><p>natural é a aparência, cuja estética é a harmonia existente entre os elementos e os conjuntos</p><p>pertencentes àquela situação, qualquer intervenção causa uma perturbação impactante nessa</p><p>4 Competição intraespecífica é àquela que ocorre entre dois ou mais indivíduos da mesma espécie.</p><p>16</p><p>16</p><p>harmonia, logo, a estética é alterada.</p><p>A mineração em destaque na extração de areia, recurso não renovável, é, por sua própria</p><p>natureza, uma atividade que agride o meio ambiente, causando normalmente irreparáveis</p><p>danos à paisagem. Por ser o setor produtivo de areia caracterizado por um planejamento</p><p>simplificador dos processos de lavra e beneficiamento, essas características levam a uma</p><p>exploração quase sempre depredadora, que, por sua vez, provoca baixa na qualidade de</p><p>vida, numa perspectiva social-política e econômica.</p><p>Neste sentido apesar de haver a constatação, a legalidade e cumprimento dos trâmites</p><p>burocráticos não garantem que a prática mineradora respeite o sistema ambiental. Assim a</p><p>atuação do poder público em deter esse processo de extração minerária no local poderá</p><p>minimizar as agressões já sofridas até então impedindo que mais áreas sejam atingidas,</p><p>principalmente as áreas vizinhas.</p><p>17</p><p>17</p><p>10 - DAS DISPOSIÇÕES FINAIS</p><p>É notório perceber que a intervenção minerária causou poluição e conseqüentemente dano</p><p>ao meio ambiente na bacia do rio Cabelo, infringindo o Plano Diretor da cidade de João</p><p>Pessoa – PB, que concedeu àquela bacia o título de zona especial de preservação natural.</p><p>Cabe como intervenção para a qualidade do meio ambiente uma revisão sobre a extração e</p><p>é possível que seja necessário a paralisação imediata da extração, pois só assim será</p><p>impedido o avanço degradatório na vertente esquerda do rio Cabelo.</p><p>18</p><p>18</p><p>11 - Croquis e desenhos</p><p>Figura 1 – Croquis da bacia do rio Cabelo e localização da</p><p>área em tela</p><p>19</p><p>19</p><p>Figura 2 – Demonstrativo da bacia hidrográfica do rio Cabelo e overlay temporal da área em questão.</p><p>20</p><p>20</p><p>Figura 3 – Ortofotocarta demonstrando o perfil transversal do vale do rio Cabelo e a área em que está</p><p>sendo feita a garimpagem.</p><p>21</p><p>21</p><p>Precipitação de João Pessoa nos últimos anos</p><p>0</p><p>500</p><p>1000</p><p>1500</p><p>2000</p><p>2500</p><p>3000</p><p>1990* 1991* 1992* 1993* 1994* 1995* 1996* 1997* 1998* 1999* 2000* 2001* 2002* 2003*</p><p>P</p><p>re</p><p>c</p><p>ip</p><p>it</p><p>a</p><p>ç</p><p>ã</p><p>o</p><p>(</p><p>m</p><p>m</p><p>)</p><p>Figura 4: Gráfico da precipitação anual de João Pessoa nos últimos 10 anos.</p><p>22</p><p>22</p><p>Figura 5: Perfil longitudinal do rio Cabelo.</p><p>23</p><p>23</p><p>12 - Levantamento fotográfico</p><p>Foto 1 – Vista aérea da área em voga</p><p>Foto Conrad Rosa tratada por Mônica.</p><p>Data: 13/11/2004</p><p>Jazida</p><p>Afluente do Rio Cabelo</p><p>Rio do Cabelo</p><p>NUPPA</p><p>Área adjacente</p><p>24</p><p>24</p><p>Foto 1a – Vegetação semi decidual. Foto:</p><p>Data: 13/11/2004</p><p>Foto 1b – Vegetação de tabuleiro – Cerrado.</p><p>Foto: Data: 13/11/2004</p><p>Foto 2a - Medição da altura da jazida. Foto:</p><p>Data: 02/11/2004</p><p>Foto 2b - Área da jazida ao lado do distrito</p><p>industrial. Foto Conrad Rosa.Data: 13/11/2004</p><p>Foto 3 a - Área abandonada com erosão. Foto:</p><p>Data: 02/11/2004</p><p>Foto 3 b - Detalhe do substrato abaixo do</p><p>pacote arenoso. Foto: Data: 02/11/2004</p><p>4 metros</p><p>1,70m</p><p>25</p><p>25</p><p>Foto 4 a - Tentativa de contenção da erosão em</p><p>área próxima. Foto:</p><p>Data 02/11/2004</p><p>Foto 4b - Erosão com forte processo de</p><p>ravinamentos no solo na vertente. Foto Maria</p><p>Barros - Data:02/11/2004</p><p>Foto 4c – Erosão na borda da margem do riacho.</p><p>Foto Maria Barros</p><p>Data:02/11/2004</p><p>Foto 5 – Evidências do desflorestamento</p><p>Foto:</p><p>Data:02/11/2004</p><p>26</p><p>26</p><p>Foto 6 – O saldo negativo em relação a garimpagem: caminhões e retro-escavadeira</p><p>Foto:</p><p>Data:02/11/2004</p><p>27</p><p>27</p><p>Foto 8– Substrato denominado de fragipan</p><p>Foto:</p><p>Data:02/11/2004</p><p>Foto 9 – Reflorestamento populacional, apenas uma espécie.</p><p>Foto:</p><p>Data:02/11/2004</p>