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BREVES COMENTÁRIOS DA TEORIA TÓPICA DE HEODOR VIEHWEG

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BREVES COMENTÁRIOS DA TEORIA TÓPICA DE HEODOR VIEHWEG.
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BREVES COMENTÁRIOS DA TEORIA TÓPICA DE HEODOR VIEHWEG.
BREVES COMENTÁRIOS DA TEORIA TÓPICA DE HEODOR VIEHWEG.
 EVILAZIO RIBEIRO
 RESUMO
A teoria tópica se dedica a examinar o momento que antecede a formação da 
vontade decisória, a busca e o manejo das premissas decisórias. O que ela 
pretende mostrar é que essas premissas não são necessariamente as regras do 
sistema normativo, mas valores, opções éticas, princípios, topoi, uma lógica 
material que é muito mais presa aos fatos, aos problemas concretos, do que aos 
conceitos dogmáticos do sistema normativo. Trata da necessidade da argumentação 
racional no Direito e de substituir a lógica formal impessoal por uma lógica do 
razoável, para uma disciplina que, definitivamente, se baseia na 
intersubjetividade humana e na justiça que há de guiar toda alteridade buscado 
soluciona os problemas da convivência social.
CONSIDERAÇÕES INICIAIS
Não permite o Direito verdades absolutas, nem compactua com o dígito binário e 
indiscutível do certo ou errado. A Justiça, por sua vez, durante muitos séculos, 
configurou-se no valor expresso pela fala do juiz, não sendo necessário a este 
motivar suas sentenças. A composição do sistema jurídico era precária e o 
cidadão ignorava as possibilidades de acesso às decisões judiciais. Com a 
Revolução Francesa, proclamou-se a separação dos poderes, criaram-se os códigos, 
passando a ser exigida a motivação das sentenças pelos juízes. A partir de 
então, assumiu a segurança jurídica o cume do processo, valorizando o emprego do 
método dedutivo no raciocínio judiciário. A sentença motivada passa a 
desempenhar um papel essencial no equilíbrio jurídico e moral de cada país. Essa 
atitude, embora nascida na França do século XIII, submerge no século XIV, 
prolongando-se durante todo o Antigo Regime. Neste contexto, Montesquieu 
insistira sobre a importância de se conhecer a jurisprudência, mas não se 
importara com a ausência da motivação.
Na modernidade, o pensamento jurídico e as inúmeras correntes filosóficas que 
refletiram sobre o Direito, fincaram suas inquietações para desvendar os 
mistérios contidos na pedra de toque proveniente das antigas civilizações: a 
Justiça, ampliando este discurso para abarcar a Certeza e a Segurança Jurídica, 
assinaladas, no mundo moderno, como o fim necessário do Direito. Em realidade, 
assiste-se, há algumas décadas, uma nova forma de pensar, que, sem provocar um 
retorno absoluto ao direito natural, confere maior liberdade ao juiz, ao qual 
caberá o encargo de tratar o caso concreto de forma eqüitativa e razoável, sem 
desvincular-se dos limites estabelecidos pelo sistema jurídico do seu país.
Este trabalho é sugerido por algumas inquietações impostas pelas novas 
realidades sociais, entre estas: qual a posição intelectual do jurista ao 
aplicar o Direito aos casos concretos? Nestes momentos, quais os métodos a serem 
utilizados, na busca das soluções para os conflitos decorrentes do convívio 
humano?
Pretende-se, nestes pontos, expor as técnicas jurídicas como arte 
disponibilizada aos encantos do pesquisador para suas conquistas científicas na 
área do Direito. Especificamente, explorar-se-á a obra Tópica e Jurisprudência, 
de Theodor Viehweg, que seguiu o modelo das idéias de Edward Levi, para o qual 
as leis devem seguir um raciocínio caso a caso. Objeto deste trabalho, a obra em 
referência, editada pela primeira vez em 1953, tese de livre-docência do autor, 
na Universidade de München, afasta-se, categoricamente, do pensamento 
positivista então dominante e passa a se constituir numa das mais relevantes 
construções teóricas da atualidade. Explora-se a hipótese de que, na seara 
jurídica, nem sempre é possível formular irrebatíveis respostas para os casos 
tomados em sua particularidade. Não se constrói jurisprudência a partir de meras 
regras anexadas ao Direito Positivo de cada país, mas através de problemas 
apresentados. Em decorrência desta constatação, o juiz é avocado a valorar e 
somente a partir daí exara sua decisão.
É relevante identificar este processo do raciocínio jurídico, porque o mérito 
essencial de Viehweg não é o da construção de uma teoria, mas o de desvendar um 
campo novel, específico, onde se deflagrará, de forma indubitável, a 
investigação jurídica.
2. DESENVOLVIMENTO
2.1 Técnicas jurídicas
Conquanto Kelsen dignifique as posições do Direito e da Justiça em campos 
separados, o sentimento de Justiça é próprio da natureza humana e o Direito se 
movimenta enredado a esse clamor.
Ihering, em sua obra A Luta pelo Direito, escrita em 1891, declama ser o Direito 
uma luta, um verdadeiro esforço animado pelo espírito prático que subjaz à sua 
própria concretização: “O que tive em mente não foi a divulgação do conhecimento 
científico do direito, mas antes a promoção do estado de espírito em que este há 
de buscar sua energia vital, e que é o que conduz à atuação firme e corajosa do 
sentimento de justiça.” A luta referida por Ihering diz respeito à reposição 
dos direitos violados, conquista ímpar do ser humano através dos tempos. Para o 
autor, o positivismo jurídico, essencialmente formalista, distancia-se da 
finalidade do Direito, mas não ocorre o mesmo com o positivismo filosófico, que 
se compromete com a análise dos fenômenos naturais e sociais.
2.1.1 Dialética
Do contexto explicitado, deve-se afirmar que o jurista, para realizar seu 
ofício, manejará os argumentos, não para confundi-los ao verbalismo dos 
discursos vazios e dos achismos infundados, mas, reinterpretando e 
flexibilizando a letra da lei, numa fala progressiva a caminho do desenlace 
final: a decisão aceitável como justa. Esta arte correlaciona-se à dialeta, da 
forma proposta por Aristóteles , como arte de discorrer ou argumentar por 
problemas e contraposições.
Villey retoma o sentido etimológico original da palavra dialética, como: “[...] 
arte da discussão bem organizada.” A dialética é concebida, assim (tal como se 
verá a seguir, curiosamente, sintomaticamente, para a Tópica também), e desde 
logo, como uma arte e também como um método. Um método que não é apenas 
jurídico, pois nasceu com a filosofia, mas que assumiu no Direito um lugar 
especial, passando a ser o método especificamente jurídico.
Pode-se visualizar a dialética como um digladiar de argumentações, um entrevero 
de astúcia, onde objetos e elementos fáticos exteriorizam-se por aspectos 
contraditórios, em constante disputa. Seu desenvolvimento identifica-se com o 
princípio da unidade e luta dos contrários. Opõe-se à intransigência, à rigidez 
do pensar, sendo a mudança constante o ápice do processo, através do qual sempre 
nascerá e se desenvolverá uma nova idéia, num processo de comunicação que 
desafia a reverência das pessoas em razão da habilidade dos protagonistas. É 
filosofia da natureza, lógica do pensamento aplicada à compreensão do processo 
histórico das mudanças e dos conflitos sociais, ou método de investigação da 
realidade. Sócrates foi o primeiro articulador dessa arte que, anteriormente, 
é de sabença, recebeu o nome de maiêutica.
2.1.2 Argumentação jurídica, persuasão e tópica jurídica
Dessas constatações, a dialética ressurge modernamente sob nova roupagem, 
exigida para se alcançar verdades jurídicas atuais. Estudada, recentemente, sob 
a denominação de Teoria da Argumentação Jurídica, merece o zelo de filósofos e 
juristas, deixando de ser mera técnica verbal do raciocínio , a exemplo do que 
afirma Jolivet, mas, para proporcionar, sob a forma de lógica da persuasão, a 
capacidade para idear e manejar a linguagem falada e escrita com habilidade, 
imprescindível aos advogados. Não apenas significa transferência ou comunicação 
de um pensamento, mas abrange o poder de convencer o interlocutor, seduzindo-o, 
na conquista da adesão, como ensina
Perelman: “[...] toda a argumentação é 
pessoal; dirige-se a indivíduos em relação aos quais se esforça por obter a 
adesão, a qual é susceptível de ter uma intensidade variável.”
Longe de significar um modo de afastar-se da verdade, as técnicas de persuasão 
transmutam-se em instrumentos para se alcançar a Justiça. Não se trata apenas de 
revisitar a clássica retórica, mas de sopesar as regras lícitas de convencimento 
do interlocutor no meio judiciário. Ao advogado, cabe defender um determinado 
aspecto com clareza e vigor, de tal forma que a sua convicção se transmita a 
quem vai julgar. A esta técnica se denomina também Tópica Jurídica, à qual jus 
filósofos contemporâneos, como Theodor Viehweg e Chaim Perelman trouxeram 
notáveis contribuições.
2.2 Tópica Jurídica
Theodor Viehweg, em suas cogitações, detecta um novo estilo do jurista, a quem 
não cabe mais entender o Direito como imposição a ser aceita incontestavelmente, 
mas sim, sob a forma de construção responsável: a Tópica Jurídica. Sob sua 
visão, configura-se o Direito como um sistema aberto e não fechado, 
encontrando-se as normas jurídicas em constante mutação. Reinterpreta a noção de 
topos (sede) e vislumbra um conjunto de topoi reduzidos a normas jurídicas 
positivadas.
2.2.1 O que é um Tópico?
Aristóteles ensina que os tópicos apresentam-se como linhas de argumentação para 
discutir diversos assuntos e dedica os livros II a VII da sua obra Tópicos, 
para a descrição desses tópicos. No livro I dedica-se às idéias mais gerais 
sobre o raciocínio dialético e no livro VIII, às idéias mais específicas sobre o 
debate.
Assinala Slomkowski que, por um longo período, os Tópicos quedaram-se no 
esquecimento, renascendo o interesse por parte dos pesquisadores, somente entre 
os anos de 1900 e 1950. A partir de então, esse interesse aumentou, mormente 
após a publicação de Non-analytical Laws and Rules in Aristotle, de Bochenski, 
em 1951. Alguns anos mais tarde, em 1968, dedicou-se o Terceiro Simpósio 
Aristotélico, ao estudo dos Tópicos. Segundo o pesquisador, existem diversos 
artigos sobre os Tópicos, mas os autores se fixaram nos estudos realizados na 
década de 50, fugindo do contexto em que a obra foi criada, para utilizar 
teorias modernas sobre lógica e argumentação, o que empobrece a produção 
acadêmica neste sentido. Desta forma, conclui em sua introdução, que a situação 
remonta há quase 40 anos: “Até agora ninguém conseguiu dizer clara e 
sucintamente o que eles (os tópicos) são”.
Talvez, por tal motivo, a obra de Viehweg seja tão criticada no ponto onde não 
consegue definir precisamente elementos fundamentais do seu trabalho, como o que 
é a tópica e os tópicos. Neste sentido, Atienza o rechaça severamente, começando 
por dizer que, na sua obra: “[...] praticamente todas as noções básicas da 
tópica são extremamente imprecisas e, inclusive, equívocas.” Entende a tópica de 
Viehweg, pelo menos, de três formas diferentes: “1) uma técnica de busca de 
premissas; 2) uma teoria sobre a natureza das premissas; 3) uma teoria sobre o 
uso dessas premissas na fundamentação jurídica.”
Nesta empreitada, Larenz se une a Atienza, expondo que não se sabe o que Viehweg 
entende por tópico jurídico:
Como se trata manifestamente de coisas diversas, não se consegue depreender com 
exactidão o que é que Viehweg entende por tópico jurídico. Aparentemente, 
considera como “tópico” toda e qualquer idéia ou ponto de vista que possa 
desempenhar algum papel nas análises jurídicas, sejam estas de que espécies 
forem. Perante a possibilidade de empregos tão variados, não é de surpreender 
que cada um dos autores que usam o termo “tópico”, hoje caído em moda, lhe 
associe uma representação pessoal, o que tem de ser levado em conta na 
apreciação das opiniões expendidas.
Os tópicos ou lugares são regras ou receitas argumentacionais destinadas a 
prover instrumentos eficazes para a discussão dialética.
Aristóteles esclarece que o objetivo dos Tópicos é desenvolver um método de 
argumentação dialética, isto é, de se raciocinar a partir de opiniões geralmente 
aceitas e sem entrar em contradição. Também explica o que é o raciocínio e 
quais são os seus tipos. Sua definição é: “[...] raciocínio é um argumento em 
que, estabelecidas certas coisas, outras coisas diferentes se deduzem 
necessariamente das primeiras” , ou seja, é o encadeamento lógico de 
pensamentos.
Os juristas contemporâneos apresentam a tópica aristotélica aos princípios 
gerais do Direito, configurando os tópicos jurídicos (os lugares específicos), 
que concernem a matérias particulares e se opõem aos lugares comuns, que se 
utilizam no discurso persuasivo em geral. Trata-se, em poucas palavras, de se 
recorrer ao confronto de pontos de vista ou argumentos (topoi) com o objetivo de 
descobrir a solução correta do caso prático. Elege-se um topos e em torno deste, 
se constrói uma argumentação consistente. A partir dos resultados encontrados, 
formulam-se novos problemas, sucessivamente. Os topoi “[...] funcionam como 
fórmulas de procura no sentido retórico” , como orientações para a invenção.
Ferraz Jr. destaca este caráter próprio do raciocínio jurídico, tópico, de ser 
elaborado em função de problemas, não propriamente um método, mas um estilo. O 
topos, como forma de atuação mental intuitiva e empírica, que parte de um caso 
particular e progride em direção aos argumentos, é característico do pensamento 
jurídico dos romanos, para os quais o Direito não provém da regra, pois do 
Direito tal qual é, como experiência e realidade vivida, é que se faz a regra. 
Esta afirmação encontra-se nos dizeres do jurisconsulto Paulus: Non est regula 
ius sumatur, sed ex iure quod est, regula fiat.
Existem três momentos-chaves no processo tópico, propostos no sentido de buscar 
possíveis respostas às questões impostas pela realidade social:
a) a fase da inventio: onde ocorre a busca ou procura dos argumentos;
b) a fase da ordenatio: consiste na ordenação lógica dos argumentos encontrados. 
Perante o vazio legislativo, a ordenação é imprescindível, porque caberá ao 
intérprete criar a norma sonegada pelo legislador;
c) a fase da elocutio: momento da argumentação escrita ou oral.
A Tópica Jurídica é o arsenal de idéias e de argumentos com que, por um lado, o 
jurista organiza seu pensamento, e, por outro, prepara-se para as ermas pelejas 
de persuadir um auditório (retórica) ou derrotar um antagonista (dialética). 
Parece divulgar a existência de um Direito Justo implícito ou explícito nas 
normas jurídicas, cabendo ao julgador fazer Justiça ao caso em concreto, 
tornando justo o Direito Justo.
2.2.2 Posição histórica e metodológica da obra Tópica e Jurisprudência
A tópica de Viehweg surge num tempo em que a metodologia jurídica tradicional 
entra em crise. O período do pós-guerra é assinalado por um anseio de desprazer 
com todas as teses jurídicas que restringiam o papel do jurista prático à 
aplicação de um direito completamente modelado pelo legislador.
Segundo Larenz, a tópica surgiu como uma alternativa à jurisprudência 
positivista do século XIX, cujo método era deduzir as decisões jurídicas de 
normas e conceitos ordenados em um sistema que partia de axiomas.
Viehweg repreende a inabilidade do positivismo para tratar as questões 
controvertidas, que exigem demonstrações alheias aos rígidos e infalíveis 
critérios então expostos.
2.2.3 Caracterização da obra Tópica e Jurisprudência
A obra de Viehweg, inicialmente, alude a Vico, que, ainda no século XVIII, 
dissertou sobre os métodos científicos, designando o método antigo como 
tópico-retórico e o moderno como crítico. O método retórico considera o senso 
comum, que manipula o verossímil, rebate pontos de vista conforme os cânones da 
retórica e, maiormente, labora com uma rede de silogismos. O método científico 
moderno denomina-se cartesiano, cujo ponto de partida é um primum verum, sendo 
que todo o desenvolvimento
posterior do raciocínio se dá por meio de longas 
cadeias dedutivas. O método novo apresenta sérias desvantagens como “[...] perda 
em penetração (no objeto de estudo), estiolamento da fantasia e da memória, 
pobreza da linguagem, falta de amadurecimento do juízo, em uma palavra: 
depravação do humano.” Para que não ocorra essa minimização das potencialidades 
da razão, é preciso retomar o método retórico, reconquistando a fantasia e a 
memória e abandonando os sistemas meramente dedutivos, que podem muito bem ser 
substituídos por uma “[...] trama de pontos de vista” (ou topoi). Por tal razão, 
resgata-se a tópica aristotélica, que, por inserir-se no Organon e habitar o 
terreno do dialético, distancia-se do apodítico. Este tipo de raciocínio 
define proposições primeiras ou verdadeiras, ao passo que o pensamento dialético 
caracteriza-se não pela certeza, mas pela discutibilidade dos argumentos 
empregados.
A tópica entendida por Aristóteles, não é um episteme (costume de demonstrar a 
partir das causas necessárias e derradeiras), mas uma techne (costume de 
formular uma deliberação razoável), uma prudência. Especificamente, é um tipo 
de pensamento que se autodefine como problemático ou aporético, orientando-se, 
principalmente, para um caso concreto, uma situação da vida real.
Para Viehweg, uma aporia significa “[...] uma questão que é estimulante e 
ineludível, designa a ‘falta de um caminho’, a situação problemática que não é 
possível eliminar.” A partir de tais situações difíceis, a tópica fornece uma 
saída. Neste contexto, o trabalho do jurista deve orientar-se por uma aporia 
fundamental: a questão de saber o que é justo aqui e agora.
Ao caracterizar a tópica como uma técnica de pensamento aporético, Viehweg 
refere-se à distinção entre as modalidades sistemática e problemática de 
pensamento, ordenada por Hartmann. Nesta conjuntura, problema significa “[...] 
toda questão que aparentemente permite mais de uma resposta e que requer 
necessariamente um entendimento preliminar, de acordo com o qual toma o aspecto 
de questão que há que levar a sério e para a qual há que buscar uma resposta 
como solução.” Todo e qualquer problema só se resolve com referência a um 
sistema, entendido como um “[...] conjunto de deduções previamente dado”, a 
partir do qual se infere uma resposta. Estabelece-se, portanto, um vínculo 
entre problema e sistema, de tal forma que a diferença entre as formas 
problemática e sistemática de pensar seja tão somente uma questão de destaque.
O estilo de pensar sistemático dimana do todo. O ponto de vista não é procurado, 
pois é adotado desde o começo e a partir dele selecionam-se os problemas. Os 
teores do problema que não se harmonizam com o ponto de vista inicial são 
recusados. Decide-se não sobre a solução dos problemas, mas sobre os limites 
dentro dos quais, a solução pode se mover. Em realidade, os problemas cuja 
solução não seja dedutível do sistema quedam-se sem resposta.
2.2.4 Pensamento problemático e pensamento sistemático
Viehweg estabelece uma distinção clara entre o que vem a ser o pensamento 
problemático e o pensamento sistemático. O primeiro enfatiza uma situação 
concreta, para a qual são possíveis várias soluções, sendo necessário eleger 
uma, com alicerce em critérios estabelecidos de antemão ou a partir de novos 
referenciais, então fixados (topoi). O segundo modelo de pensar, pressupõe a 
existência de um sistema, que oferece fundamento para a solução de todos os 
problemas. Quando e se surgir um problema fora do rol do sistema aludido, este 
será meramente ignorado, uma vez que o próprio sistema tipifica o que deve ser 
considerado problema, dentro de seu âmbito de abrangência de suas normas.
Detecta-se, nesta colocação, uma cristalina distinção entre esses dois modos de 
pensar: um é pontual, casuístico; enquanto o outro é generalista, 
universalizante. Aparentemente, trata-se de perspectivas que se mostram 
conflitantes, mas Viehweg apresenta uma possibilidade de integração.
Para Viehweg, na Era Moderna, o raciocínio jurídico abraça uma visão 
sistematizante, que se sustenta em um grande equívoco, porque parte de uma idéia 
fechada de sistema e desconsidera a essencial procedência tópica dos sistemas 
normativos. O ordenamento jurídico é nada mais nada menos do que um seleto 
conjunto de topoi solidificados. Daí a falha das correntes positivistas quando 
negligenciam vínculos tópicos das normas jurídicas para enfatizar somente o 
caráter sistemático do ordenamento jurídico.
Para Viehweg, é impossível ignorar o método tópico, mesmo num contexto possível 
de criação de um sistema normativo inteiramente articulado:
[...] Supondo-se que se pudesse construir um sistema jurídico semelhante, ainda 
se colocaria o problema de saber até que ponto este sistema teria logrado 
eliminar a tópica. É evidente que esta eliminação não se dá na escolha dos 
axiomas. Pois determinar quais são os princípios objetivos que serão 
selecionados é, do ponto de vista lógico, algo claramente arbitrário. O mesmo se 
pode dizer se esta seleção é absolutamente arbitrária em qualquer sentido 
possível ou se é controlada por uma série de outras exigências que obrigam a 
adotar uma determinada conduta.
Ao se verificar historicamente a origem das instituições jurídicas, percebe-se 
sua origem e significado a partir de problemas. Neste sentido, Karl Larenz 
destaca o Direito Civil Romano:
[...] Tópicos jurídicos serão, pois argumentos utilizados na solução de 
problemas jurídicos, e que podem contar neste domínio com a concordância geral, 
o “consensus omnium”. Poderão surgir de novo sob forma muito diversa. No Direito 
Civil Romano assumiam a forma de decisões de casos, que eram abstraídas do caso 
decidido de tal modo que “podiam facilmente ser reformuladas numa regra”. Também 
a Jurisprudência do mos italicus, da baixa Idade Média, procedia “topicamente” 
[...]
Não há o que se confundir o pensamento de Viehweg com a mera e pueril 
substituição do pensamento sistemático pelo tópico, porque o que se procura é 
problematização do sistema jurídico. Pode-se, entretanto harmonizar a tópica com 
o raciocínio sistemático, quando estiver em pauta a procurar fundamentação do 
próprio sistema:
[...] O modo de buscar as premissas influi na índole das deduções e, ao 
contrário, a índole das conclusões indica a forma de buscar as premissas. No 
estudo de um determinado modo de pensar é possível, portanto, situar-se em um ou 
em outro ponto. Não obstante, parece mais adequado comprovar de que maneira o 
modo de pensar examinado cria premissas e mantém fiel a elas, pois isto lhe dá a 
sua peculiar fisionomia. As conseqüências depreendem-se por si mesmas [...]
Através da interpretação, pode-se dar novo sentido às leis vigentes no 
ordenamento, de acordo com as características específicas do problema. Contudo, 
Viehweg destaca que a ampliação ou modificação do sentido das normas jurídicas 
não é uma conseqüência inerente ao processo hermenêutico, mas que há um 
considerável potencial para o desenvolvimento de um raciocínio problemático, a 
partir do processo interpretativo, cabendo ao aplicador do direito explorar ao 
máximo tal potencialidade, através da adoção de uma postura mais ousada e 
criativa.
Salienta Viehweg, ser importante a interpretação, quando está em pauta a 
harmonização dos distintos sistemas e brada contra uma visão tradicional 
constituída a partir da existência de um sistema jurídico uno, desenvolvido a 
partir de deduções. O autor verifica uma pluralidade sistêmica, que pode ser 
contornada por meio de interpretações coerentes e aceitáveis, que autorizem uma 
padronização substancial dos conceitos jurídicos. A passagem para a efetivação 
desta tarefa passa essencialmente pela análise das peculiaridades do problema.
A tópica desponta, não somente no processo interpretativo, mas, nomeadamente, na 
enérgica aplicação do direito. Assim,
é evidente, a adoção de um pensamento 
tópico, em nada afeta a natureza sistemática do pensamento jurídico atual, mas 
apenas rompe com certo formalismo, que caracteriza o modelo de pensamento 
jurídico positivista, desenvolvido a partir do século XIX, o qual já demonstrou 
claramente a sua insuficiência. Assim, a tópica pode hoje ser considerada uma 
real alternativa metodológica para a Ciência do Direito.
2.2.5 Sentidos da Tópica no pensamento de outros autores
Cunha assinala que a Tópica Jurídica contém em si própria um conjunto por 
deveras significativo de sentidos:
a) um catálogo: um rol de tópicos, repertório, acervo de dados jurídicos, que 
podem ser de muitos e variados tipos, e com as mais diferentes funções;
b) a arte: um arte argumentativa, utilizando postulados (loci comunes, topoi...) 
tidos como elementos de persuasão das partes envolvidas;
c) um método: precisamente o método de, a partir da formação de um consenso 
entre os intervenientes na questão, fundado em princípios resultantes da 
experiência, encontrar soluções racionais para os problemas jurídicos sem 
olvidar os casos concretos. Isto é, em certo sentido, trata-se de uma 
metodologia de equidade sem ser uma pura casuística;
d) uma doutrina: uma teorização e perspectiva de organização dos lugares comuns 
(experiências e valorações) considerados adquiridos na comunidade, 
especificamente na comunidade jurídica, ou científico-congregacional do Direito;
e) posições eclécticas e posições puristas (reducionistas): há ainda quem adote 
várias ou todas das perspectivas enunciadas, e quem, mesmo no seio de cada uma, 
assuma posicionamentos muito estritos. A verdade, porém, é que a Tópica é uma e 
plural, em todas as tópicas existentes. E pode até dizer-se ser anti-tópico 
postular uma perspectiva dogmática sobre o que deva ser. Muito delimitadamente, 
a tópica.
2.3 Pontos positivos e negativos apontados pelos estudiosos
A literatura jurídica aponta alguns pontos positivos da tópica.
• A tópica é capaz de contribuir para o resgate da discussão sobre justiça a 
partir do caso concreto.
• Revela-se eficaz na história do pensamento jurídico.
A despeito dos avanços da tópica e da sua relevância para o pensamento jurídico, 
não se pode deixar de mencionar aqui algumas críticas que lhe foram dirigidas. 
Segundo Atienza: “[...] em geral, o debate foi proposto em termos não muito 
claros, devido em grande parte ao caráter esquemático e impreciso da obra 
fundadora de Viehweg.”
Com referência às imprecisões conceituais, Atienza salienta que as noções 
básicas da tópica são extremamente imprecisas e, até mesmo, equívocas. Segundo o 
autor, termos como "tópica", "problema", "lógica" e "sistema" são sempre vagos, 
imprecisos ou ambíguos. Em especial, a noção de “problema” se torna inseparável 
da definição de “impulso”, proposta por Ferraz Júnior, em sua teoria da decisão 
jurídica: “[...] pode ser entendido como uma questão conflitiva, isto é, um 
conjunto de proposições incompatíveis numa situação que exigem uma resposta.”
No que diz respeito à Justiça, comenta ainda o autor, que o modelo tópico é 
ingênuo, tendo em alvo que a jurisprudência, foco de análise do modelo 
viehwegiano, deve buscar soluções justas a partir de conceitos e proposições 
extraídos da própria justiça. Esta crítica ocorre porque o modelo tópico 
protesta pela busca incessante do ideal justo, mas não sugere meios de controle 
que permitam debater racionalmente as decisões judiciais. Chaïm Perelman, por 
sua vez, ao se apropriar do modelo em estudo, o aprimora, destacando que sua 
nova retórica esposa uma noção de justiça, mesmo que tal termo apresente-se de 
forma cristalina moldado aos ditames da lei e de forma assaz unida ao conceito 
de equidade.
Finalmente, no que concerne à discutibilidade do status da tópica como teoria de 
argumentação jurídica, afirma-se que a tópica, por si só, não é suficiente para 
explicar satisfatoriamente a argumentação jurídica, enquanto teoria discursiva, 
pois a generalidade dos topoi não permitem imersões densas na estrutura abissal 
e hierarquizada da metodologia jurídica, a ponto de oferecer uma solução 
categórica ao tema da racionalidade das decisões jurídicas. Este posicionamento 
decorre do fato de ser a tópica considerada um "estilo", um "modelo de razão 
prática". Mas, ainda que se lhe retire o caráter de uma "teoria científica", 
negar-lhe a condição de prática argumentativa é inadmissível.
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao contrário dos topoi de Aristóteles, através dos quais a ética se coloca quase 
como um sinônimo de resgate social, na Tópica de Viehweg não é esta a 
perspectiva a ser considerada pelo Direito. Ao contrário, outro é o pensamento 
oferecido por Viehweg.
As questões não se aderem a deveres de defesa ou de embasamentos teóricos, 
exigindo-se-lhes apenas um dever de explicação. Para manter o equilíbrio do 
sistema, é preciso a anuência das partes abrangidas (conciliação) e não a 
decisão unilateral ou o provimento parcial da sentença (indução).
Salienta a Tópica de Viehweg, a necessidade de exonerar as reflexões com fulcro 
em sistemas dogmáticos perenes. Urge estimular reflexões que se adaptem à 
evolução do pensamento humano quando inserido no corpo social, cabendo ao juiz 
exarar suas decisões com fulcro no valor de justiça garantido não mais pela ação 
formal de cunho abstrato, mas pela razoabilidade referente à decisão de cada 
caso concreto.
Ao dignificar o consenso das partes é possível desbravar caminhos em direção ao 
desenvolvimento de argumentação apropriada – destacado instrumento do jurista - 
na busca da decisão mais justa.
REFERÊNCIAS
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ATIENZA, Manuel. As razões do direito: teorias da argumentação jurídica. São 
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Mandruvá, Lisboa. Disponível em: <http://www.hottopos.com/mirand14/pfc.htm>. 
Acesso em: 27 abr. 2008.
FERRAZ JR., Tércio Sampaio. A ciência do direito. 2. ed. São Paulo: Atlas, 1980.
FERRAZ JR., Tercio Sampaio. Introdução ao estudo do direito: técnica, decisão, 
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evilazioribeiro
Publicado no Recanto das Letras em 12/09/2008
Código do texto: T1174266
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