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Serial Killers: Um Fenômeno Antigo e Contemporâneo

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Introdução
Existe uma idéia equivocada em que as pessoas pensam que o aparecimento de “serial killers” é um fenômeno genuinamente contemporâneo, um sintoma de algo horrível fabricado na nossa sociedade moderna. Este fenômeno, ao lado do “assassinos em massa”, causam um intenso fascínio no público em geral e ocupa um grande espaço nos meios de comunicação, como observamos no recente caso ocorrido na capital dos EUA, Washington DC, em 2002, com o assassinato de 24 pessoas, vítimas de um atirador de elite que as executava com um tiro de longo alcance vindos do porta- mala de seu carro(Vide biografia de J. Allen Muhammad).
Já de longa data acompanhamos os casos de Serial Killers – que recebeu a tradução em nossa língua de: “Assassino em Série”. Esses assassinos sempre existiram no mundo, com algumas referências históricas bem documentadas, e sempre despertando muito interesse da sociedade que o rodeia.
Claro que eles não foram sempre chamados de serial killers, que é uma definição relativamente moderna para esta prática reiterada de assassinatos com o mesmo modo de atuação(“modus operandi”) por um mesmo assassino. Já foram chamados de “assassinos demoníacos”, “ demônio em forma humana” ou “monstro sedento de sangue”, dentre outros.
O mais famoso deles no passado – Jack o estripador(Jack – the Ripper), que foi o pseudônimo dado a um assassino em série não-identificado que agiu no miserável distrito de Whitechapel em Londres na segunda metade de 1888. O nome foi tirado de uma carta, enviada à Agência Central de Notícias de Londres por alguém que se dizia o criminoso.
Um assassino em série, como explicado anteriormente, é também conhecido pelo nome em inglês serial killers. Esse tipo de criminoso de perfil psicopatológico, comete crimes com uma certa freqüência, geralmente seguindo um modus operandi e às vezes deixando uma "assinatura" na sua obra macabra, como por exemplo coleta da pele das vítimas, pedações de ossos, etc(como no caso de Ed Gein).
Um fato curioso que acompanha esse fenômeno é que nos Estados Unidos, com menos de 5% da população mundial, já produziu perto de 74% de todos os casos conhecidos de serial killers desde 1980.
Dentre estes assassinos muitos dos que foram capturados pareciam cidadãos respeitados perante a sociedade. Eram atraentes, bem sucedidos, membros ativos da comunidade, com um comportamento comum, até que seus crimes foram descobertos. Apesar desta atitude aparenteente normal, geralmente os serial killers demonstram três comportamentos durante a infância, conhecidos como a tríade MacDonald e que se tornou um forte indicativo deste assassino, que são:
• Urinar na cama(na noite de sono);
• causar incêndios;
• e praticar crueldade com animais.
Os serial killers, diferentemente de outros assassinos, preferem matar com as mãos ou através de outros métodos que não as armas de fogo, geralmente com utilização de métodos de tortura e agonia das vítimas.
Uma boa definição de assassinato serial foi publicada pelo Instituto Nacional de Justiça em 1988: “Uma série de dois ou mais assassinatos cometidos como eventos separados, normalmente, mas nem sempre, por um infrator atuando isolado. Os crimes podem ocorrer durante um período de tempo que varia desde horas até anos. Quase sempre o motivo é psicológico, e o comportamento do infrator e a evidência física observada nas cenas dos crimes refletiram nuances sádicas e sexuais”
Existem basicamente dois tipos de serial killers: os do "tipo organizado", sujeitos que normalmente exibem inteligência normal ou acima desta média e que conseguem se inserir bem na sociedade. São muito mais difíceis de serem pegos, visto que planejam seus crimes, não costumam deixar provas e podem ter uma vida aparentemente normal com esposa, filhos, amigos e emprego, muitas vezes de alto nível, podem chegar mesmo a concluir nível superior.
Já os do "tipo desorganizados", são impulsivos, não planejam seus atos, costumam usar objetos que encontram no local do crime e muitas vezes os deixam para trás deixando muitas provas.
O perfil, o estudo de comportamento, bem como diversos exemplos de serial killers serão detalhados no corpo deste trabalho.
De toda sorte, busca-se como principal objetivo deste estudo tentar fornecer um perfil preciso sobre o Serial Killer confrontando este com o Assassino em Massa. Deve-se deixar bem claro que este trabalho não visa esgotar o tema, longe disso, servirá apenas para realçar os contornos superficiais destas pessoas, com ênfase em quem são, o que fazem e ainda, tentar explicar os motivos que fazem a gênese deste fenômeno cada vez mais comum em todas as sociedades.
 Definições
Desde que o termo “serial killer” foi inventado para descrever “um tipo específico de criminoso” algumas confusões surgiram em torno deste termo, sendo que os especialista no assunto nunca chegaram a um acordo, o que levou alguns autores a criar suas próprias definições.
Sendo assim, vamos iniciar nosso estudo pela definição oficial do Bureau de Investigação Federal dos EUA(FBI): “Três ou mais assassinatos em eventos separados ou em locais diversos com um período razoável entre estes homicídios”.
O manual de classificação de crimes de 1992 do FBI especifica que são necessários três elementos para caracterizar um serial killers:
1. Quantidade de Mortes – No mínimo três;
2. Local Diverso – Os assassinatos devem ocorrer em locais diferentes;
3. Tempo – um intervalo entre as mortes que pode ser de algumas horas até vários anos(“colling-off period”).
As duas últimas características servem para diferenciar o serial killer do assassino em massa(“mass murder”), que é aquele suicida, em um ataque de fúria, que massacra um grupo de pessoas, uma por uma, no seu trabalho, escola ou qualquer outro meio que ele faça parte e que se encontre inserido, sentindo-se profundamente decepcionado ou frustrado, na maioria das vezes pode se sentir perseguido. Ele massacra este grupo geralmente com explosivos ou com uma arma de fogo e depois comete o suicídio.
Em uma análise superficial desta definição do FBI encontramos um problema. Este conceito é por demais vasto e vai se aplicar a dezenas de tipos de homicidas que não são serial killers, como por exemplo, pode-se citar o conhecido fora da lei William “Billy the kid” Bonney, famoso no faroeste americano por ter matado 21 homens antes de completar 21 anos de idade. Este tipo de assassino se encaixaria no conceito de serial killers do FBI, mesmo não o sendo.
Um Triste exemplo Brasileiro
O caso de Mateus da Costa Meira, 24 anos, assemelha-se ao dos atiradores que infernizam o cotidiano das pessoas nos Estados Unidos. Ficou conhecido aqui no Brasil como “o atirador do shopping”.
Ele era um ex-estudante universitário da área de Medicina. A alcunha vem do fato de ter disparado uma metralhadora portátil contra pessoas da platéia de uma sala de cinema de um shopping center na cidade de São Paulo.
Segundo testemunhas oculares da ação, na noite de 3 de novembro de 1999, dentro da sala 5 do cinema do Morumbi Shopping, zona sul da capital paulista, Mateus teria levantado de seu lugar, ido ao banheiro - onde teria dado um tiro no espelho com sua submetralhadora Cobray M-11 - e depois ficado de frente para a platéia, sacando novamente a arma e iniciando os disparos. Dessa tragédia resultaram 3 mortes, 4 pessoas feridas e mais 15 em pânico. Tal tragédia rendeu a Mateus o apelido que carrega até hoje. O filme exibido no momento dos disparos era Clube da Luta.
Preso em flagrante, acabou condenado a mais de 120 anos de prisão em regime fechado. Seus advogados alegaram que Mateus era semi-imputável, ou seja, possuía consciência parcial de seus atos. Depois de várias apelações judiciais, Mateus foi condenado aos formais 30 anos máximos previstos pela Justiça brasileira. Os advogados de defesa tentaram, em vão, alegar insanidade mental de seu cliente e argumentar que Mateus havia sido influenciado pelo jogo Duke Nukem 3D, no qual há uma cena de tiroteio dentro de um cinema.
No dia 8 de maio de 2009, Mateus tentou matar seu colega de cela na PenitenciáriaLemos Brito na cidade de Salvador e foi autuado por tentativa de homicídio.
Um dos maiores estudiosos dos loucos que matam, o professor de psiquiatria e criminologia do Medical College of Wisconsin, George Palermo, enxerga um ponto comum na ação dos desajustados assassinos – o método. "A raiva que eles nutrem contra a sociedade fica armazenada durante anos. Esse tipo de ação pode até parecer impulsiva, mas, na verdade, é o clímax de algo planejado com paciência e determinação”.
O psiquiatra já analisou dezenas de casos como o do Mateus, ocorrido no Morumbi Shopping, em São Paulo.
O paciente mais famoso de Palermo foi Jeffrey Dahmer – citado na primeira parte deste trabalho, o americano que estocava partes dos corpos de suas vítimas no freezer e as devorava aos poucos. "O assassino em massa atribui seu sofrimento aos outros e, por isso, matar para ele é simples, é como dar o troco", explica Palermo.
Um psiquiatra com o treino de Palermo não teria muitas dúvidas de que cedo ou tarde Mateus poderia tornar-se um perigo para a sociedade.
 
O perfil de Mateus
Ele tinha um relacionamento frio e distante com os pais. Era irritado, depressivo, autoritário, paranóico e, sobretudo, inteiramente solitário.
Mateus nunca teve uma namorada ou amigos nos lugares que freqüentou. Obviamente nem todas as pessoas com o perfil descrito acima se tornam criminosas, mas todos os assassinos em massa estudados por especialistas têm aquelas características.
Somem-se a elas o uso de drogas pesadas e o acesso a armas de fogo e obtém-se, com boa dose de certeza, um criminoso. “Embora os pais o tratassem com carinho, ele os olhava com indiferença”, atestou o psiquiatra José Cássio do Nascimento Pitta, que acompanhava o rapaz havia pouco mais de um mês.
Nos Estados Unidos, onde temos um quadro estatístico mais preciso, 80% dos assassinos em massa cometem suicídio no local da tragédia.
O restante(20%), exatamente como Mateus, quando não se matam se rendem docilmente à polícia. Apresentam-se apáticos e não entendem a indignação dos parentes das vítimas.
O perfil sociológico de Mateus casa com a maioria dos outros assassinos em massa, que são, em geral, homens, de 25 a 40 anos (Mateus tem 24). Um dado que o aproxima ainda mais do perfil dos assassinos americanos já esquadrinhado por especialistas é o uso de drogas – em especial a cocaína.
Apesar de não ser a responsável direta por explosões de violência, ela potencializa quadros psicóticos semelhantes ao de Mateus. "Uma hipótese razoável é que ele tenha um transtorno de personalidade esquizóide, distúrbio bastante conhecido", diz o psiquiatra forense José Geraldo Taborda, da Associação Mundial de Psiquiatria e que estudou o caso do rapaz.
Portadores desse transtorno são pessoas introvertidas, que as outras acham estranhas e que, como característica básica, não desenvolveram a habilidade mínima de se comunicar com os outros. Sob o efeito da droga, essas pessoas são como vulcões prontos para entrar em erupção.
Foi justamente a droga que levou Mateus ao consultório de um psiquiatra em setembro. A mãe ficou preocupada ao saber que o filho espatifara o carro, um Chrysler Neon. Ele voltava de um torneio esportivo para estudantes de medicina em Barra Bonita, no interior paulista. No evento, ao qual compareceu apenas como espectador, consumiu álcool e cocaína. Quando soube do episódio, a mãe de Mateus ligou para o psiquiatra pela primeira vez. Ele se convenceu da gravidade do problema do rapaz. Prescreveu um antipsicótico e recomendou que seus passos fossem vigiados 24 horas. Mateus abandonou o medicamento por sete dias seguidos. Foi vigiado por apenas alguns dias. Nesse quadro de ausência do remédio e de relaxamento da vigília favoreceu o reaparecimento dos sintomas psíquicos que conduziram ao ato violento.
Na opinião do psiquiatra forense Talvane Marins de Moraes, da Associação Brasileira de Psiquiatria, a agressividade tem vida própria na personalidade das pessoas. A droga seria apenas a porta pela qual ela escaparia. O uso continuado ou em combinação com o álcool pode desencadear o chamado delírio paranóico: um distúrbio da percepção no qual a pessoa ouve vozes e vê coisas imaginárias. Mateus obedeceu a um longo ritual de preparação para a hora H. Deixou seu apartamento, hospedou-se num hotel, negociou a compra da submetralhadora e, preocupado em manter a boa aparência no momento em que faria os disparos, levou o ferro de passar roupa ao quarto. Alisou pacientemente a camiseta. Psiquiatras não vêem incompatibilidade entre a loucura e a premeditação de um crime. "O psicótico vai se retraindo, o delírio vai crescendo, as idéias vão se sucedendo", relata o psiquiatra José Alberto Del Porto, da Universidade Federal de São Paulo.
De qualquer forma, este episódio serviu para demonstrar que o assassino em massa encontra-se em qualquer lugar, inclusive no Brasil e que este tipo de assassino não é “mérito” apenas dos americanos.

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