Buscar

FMU - Psicologia_Institucional[1] Bleger

Prévia do material em texto

1 
Aprimoramento em Saúde Mental – CAPS “Prof Luis da Rocha Cerqueira” 
Coordenadora: Denise Lew 
Profa Miriam Aparecida Herrera Fernandes 
Agosto/2004 
 
A Psicologia Institucional 
1ª aula (05/08): A Psicologia Institucional de José Bleger 
1. A Psicologia Institucional; 
2. A estrutura e dinâmica da instituição: 
a) Indivíduo, grupo e instituição; 
b) A sociabilidade por interação e a sociabilidade sincrética; 
c) Grupo primário, estereotipado e secundário; 
d) O conflito e o grau de maturidade institucional. 
2ªaula (12/08): Psicologia Institucional (Marlene Guirado) 
1. Psicologia Institucional: A política da crise; 
2. Competência técnica é sempre abuso de poder/saber?; 
3. Clóvis, a título de exemplo; 
4. Discussão e finalização. 
Bibliografia: 
Bleger, J. Psico-Higiene e Psicologia Institucional, Porto Alegre, Editora Artes Médicas 1984. 
Bleger, J. Temas de Psicologia, São Paulo, Martins Fontes, 1984. 
Guirado, M. Psicologia Institucional, São Paulo, E.P.U. 1987. 
Guirado, M . Psicanálise e Análise do Discurso – matrizes institucionais do sujeito psíquico, São 
Paulo, Summus Editorial, 1995. 
Reis, H. A. Formação do psicólogo e trabalho em instituição, Resumo de tese pela PUC/São Paulo 
 
A Psicologia Institucional 
(texto baseado no trabalho de Hugo Augusto dos Reis: Formação do psicólogo e trabalho em 
instituição) 
 
No seu estudo a respeito da Psicologia nas Instituições, Bleger (1984) considera como 
importante três características fundamentais: a estrutura e dinâmica da Instituição; o estudo da 
Psicologia Institucional e a estratégia da Psicologia Institucional. A propósito desta apresentação 
abordarei os dois primeiros itens. 
O termo Psicologia Institucional foi criado por Bleger e segundo ele, este ramo da Psicologia 
deve recorrer ao que já foi acumulado pela Psicologia: teoria, método, técnicas. Especificamente irá 
utilizar as contribuições da Psicologia Social e da Psicanálise. 
Por Psicologia Institucional Bleger (1984) entende um campo que “abarca um conjunto de 
organismos de existência física e concreta que têm um certo grau de permanência em algum campo 
ou setor específico da atividade ou vida humana, para estudar neles todos os fenômenos humanos 
que se dão em relação com a estrutura , a dinâmica, funções e objetivos da Instituição”. Assim, dada 
uma Instituição, o psicólogo deve centrar sua atenção no cotidiano institucional, nas relações 
interpessoais que nela se tecem e no efeito nos que dela participam. 
O papel do psicólogo deve ser o de investigador das relações interpessoais, ele deve 
conhecer e buscar a compreensão das variáveis manifestas e latentes que determinam o 
comportamento humano nessas relações. O objetivo mais geral do psicólogo no campo institucional, 
segundo Bleger, é o da psico-higiene, ou seja, conseguir a partir de sua intervenção uma melhor 
organização no ambiente de trabalho e promover maior bem-estar para os integrantes da Instituição. 
Significa capacitar os que nela participam a enfrentar as situações de conflitos, promovendo o 
 

 José Bleger (1922-1972) – psiquiatra e psicanalista argentino, marxista e militante comunista 
 
 2 
desenvolvimento dinâmico do ser humano. Prevê “o ser humano na sua saúde, integração e 
plenitude” (Bleger ,1984). 
Para Bleger (1984), os vínculos humanos são portadores de ambigüidades e ambivalências, 
nem sempre explicitadas por estarem fora do alcance da consciência do sujeito. Os conflitos não 
adequadamente elaborados num ambiente de trabalho podem ocasionar grande perda de energia e 
desgaste pessoal. Requerendo a necessidade da ajuda de um profissional, cabe a este facilitar as 
relações, explicitando o que está implícito, para favorecer uma maior aprendizagem e consciência. 
 Para que o psicólogo possa enfrentar esta tarefa, alguns aspectos devem ser 
observados. A Instituição deve ser considerada enquanto totalidade, nela as partes mantêm uma 
relação de interdependência. Mesmo que o profissional no seu trabalho se ocupe de uma parte da 
Instituição, esta deve ser reconhecida como uma unidade que, por estar em relação com o todo, o 
representa. A realidade institucional deve ser compreendida e avaliada na perspectiva da totalidade. 
Bleger diferencia o psicólogo que trabalha na Instituição do psicólogo institucional. O primeiro 
atua como empregado, recebe ordens, sua função é preestabelecida pelos diretores. Já o psicólogo 
institucional deve deduzir sua tarefa a partir de um estudo diagnóstico. Para que isto seja viável o 
psicólogo deve manter, rigorosamente, o papel de consultor ou assessor, o que lhe proporcionará um 
certo grau de distância, evitando a dependência econômica e profissional e o ajudará assim a manter 
as condições básicas para um bom manejo técnico. É possível afirmar que o motivo em que a 
Instituição se fundamenta para contratar o psicólogo, deve ser considerado como um sintoma. O 
psicólogo acolherá este dado como uma primeira informação. Somente após um período de coleta de 
dados, um estudo diagnóstico permitirá uma melhor configuração da queixa inicial e a elaboração da 
proposta de trabalho. A queixa inicial apresentada pela Instituição geralmente é reelaborada, visto 
que os reais conflitos (conteúdos latentes) ainda estão implícitos no momento em que a Instituição 
busca a ajuda do profissional. 
É importante ressaltar que, para Bleger (1984), somente quando a Instituição chega a um 
certo nível de maturidade, que permite o insight de seus problemas e de sua situação conflituosa, é 
que esta percebe a possibilidade de ajuda de um profissional. A “ausência” de conflitos e problemas 
pode ser considerada geralmente um mau prognóstico, pois, para este autor, o critério de saúde de 
uma Instituição é justamente sua capacidade para explicitar os problemas e utilizar recursos para 
resolvê-los adequadamente. Quando a Instituição ainda não atingiu a percepção de suas reais 
dificuldades, cabe ao psicólogo conduzi-la a tomar consciência de seus conflitos. 
 
 Estrutura e dinâmica da Instituição 
O termo estrutura é utilizado por Bleger para apresentar a base que sustenta a sociedade, as 
organizações, as instituições, os grupos e os indivíduos. No que se refere à “estrutura psíquica” há 
uma relação de interdependência entre as instâncias acima citadas. 
Segundo o autor, muitas das teorias e categorias conceituais tendem a contrapor indivíduo e 
grupo, grupo e organização, como se fossem realidades independentes. Ao contrário, para ele “o ser 
humano antes de ser pessoa é sempre um grupo, mas não no sentido de que pertence a um grupo, e 
sim que sua personalidade é grupo” “(...) A partir desta concepção, os grupos e os sistemas sociais 
também constituem “partes das personalidades dos indivíduos e, às vezes, toda a personalidade que 
eles possuem” (1989). 
 Para Bleger (1984), a sociedade como um todo, na sua forma objetiva apresenta em sua 
estrutura uma alienação fundamental onde o que é produzido socialmente (bens de consumo, 
cultura) é distribuído de forma desigual entre seus membros. Este modelo de organização foi se 
estruturando num processo histórico, possuindo um padrão de valores e funções sociais bem 
definido. Esta estrutura, apesar de inadequada e insatisfatória por força da própria alienação, é 
ambivalente: ao mesmo tempo que “reconhece” a inadequação, não deseja mudança e resiste. Para 
tanto, a sociedade possui seus esquemas de proteção de qualquer agente que venha a perturbar a 
“ordem”. Assim, aqueles que perturbam o sistema com seus comportamentos desviantes são tratados 
como “sintomas” que devem ser erradicados, ou na melhor das hipóteses, “curados”, e para isso 
precisam ser segregados como se não tivessem relação com a sociedade como um todo. Na 
sociedade capitalista, os “grupos desviantes” são geralmente o doente, o velho, a criança em 
 3 
situação de abandono, a prostituta e o marginal, ou seja os elementos nãoprodutivos ou não 
integrados nos valores do sistema. Com o propósito de curá-los, são segregados. Este recurso 
defensivo cria e alimenta um forte circuito de alienação, um esvaziamento do ser humano que passa 
a ser marginalizado, privado dos vínculos que garantem a segurança, a gratificação e a reparação. 
Neste contexto surgem as instituições sociais como uma instância. Sua “grande missão” é a 
de curar esses indivíduos, ou “reeducá-los” para que possam ser novamente integrados na 
sociedade. A tarefa, assim como é proposta é impraticável, pois “curar” esses indivíduos supõe uma 
revisão dos esquemas alienantes que estão presentes na sociedade que os produziu. As instituições 
sociais aceitando essa “missão” mostram o caráter ingênuo e a perspectiva “onipotente” de sua 
tarefa. 
A partir do momento em que as instituições aceitam explicitamente que vão atender os 
segregados sociais, implicitamente há uma pressão por parte da sociedade para que as instituições a 
protejam da sensação de culpa que provoca o contato com o alienado. Bem como da ameaça que o 
próprio alienado apresenta em termos sociais. Estas circunstâncias tornam-na impotente frente sua 
“missão”. Em decorrência disto, a Instituição potencialmente segregará tanto quanto a sociedade. 
Esta contradição, quando não explicitada e equacionada, faz com que a falsa identidade da 
Instituição se manifeste numa indiferenciação quanto aos objetivos, que a tornam também alienada, 
obrigando-a a viver sempre sob pressão, buscando de forma quixotesca, curar o sintoma, sem atingir 
as causas. 
 Segundo Bleger (1984), se as instituições tomam consciência de sua tarefa de resgatar a 
dignidade humana dos indivíduos segregados, necessariamente sua existência, por si só, será uma 
fonte de denúncia para a sociedade que cria os alienados. Ao obter um insight dos problemas e 
conflitos que surgem nesse contexto, a Instituição deixa de manter a sua estrutura alienada, e recusa 
servir de alvo de projeção ou de depositária da personalidade sincrética da sociedade (por 
personalidade sincrética, Bleger entende a parte da personalidade indiferenciada e não organizada, 
que precisa ser controlada, para que a personalidade organizada possa subsistir). A mudança numa 
estrutura ocorre quando há consciência nos indivíduos e grupos que a integram. Existe contudo uma 
forte tendência na Instituição para manter a ordem estabelecida, impedindo o processo de 
conscientização. O meio utilizado para isso é a burocratização das instituições e, conseqüentemente, 
um contínuo empobrecimento das relações sociais por meio de estereótipos. 
 Para explicar o fenômeno social da alienação na relação do indivíduo com o grupo, e do 
grupo com a Instituição, Bleger (1989) postula alguns “princípios”: 
1) Tanto o grupo quanto o indivíduo apresentam uma estrutura básica que lhe garante uma 
identidade, uma relação adequada com a realidade, uma direção, um significado e uma lógica que 
permitem a comunicação e a sua sobrevivência e manutenção, enfim, um certo grau de organização 
que torna a existência possível. A concepção da estruturação e organização da identidade, 
conforme apresentada, supõe um processo interativo de organização da personalidade, individual e 
grupal, que envolve o inconsciente com suas forças ambivalentes. Neste processo emergem dois 
níveis de Ego, um sincrético e o outro organizado. São duas estruturas paradoxalmente mantidas 
no indivíduo ou grupo, uma organizada e a outra caótica. Porém, é necessário que haja uma certa 
imobilização da parte da personalidade que é sincrética, para que a parte organizada possa interagir 
com a realidade. Bleger denomina o meio utilizado para essa imobilização de clivagem; esta deve 
impedir que um estado entre em relação com o outro.. A imobilização do estado sincrético permite a 
organização dos aspectos mais integrados da personalidade, seja individual ou grupal, necessários 
para que a relação com a realidade possa ser mantida adequadamente. 
2) Bleger (1987) partindo desta concepção , apresenta dois níveis de sociabilidade que 
favorecem ou não a comunicação interpessoal: sociabilidade por interação e a sociabilidade 
sincrética. A primeira supõe uma personalidade organizada, estruturada no tempo e no espaço e 
com energia para enfrentar as contradições e dificuldades no contato com a realidade. Este tipo de 
personalidade tem habilidade para comunicar, possui grau de independência , no entanto se afilia e 
coopera nas relações interpessoais. Contrapondo a esse modelo, existiria, segundo o autor, uma 
segunda forma de socialização, a sincrética, que tem por característica, paradoxalmente, uma 
natureza predisposta à não relação. É sub-clínica e difícil de se detectar e caracterizar 
 4 
conceitualmente. As pessoas que ainda não alcançaram um certo grau de individualização procuram 
sua identidade no estabelecimento simbiótico de dependência e pertença através de uma identidade 
grupal. Segundo Bleger (1987): “é uma identidade muito particular e que podemos chamar de 
identidade grupal sincrética (...). Sua identidade reside na sua pertença ao grupo”. 
3) Bleger assinala três tipos de grupos ou três tipos de indivíduos que podem integrar 
diferentes grupos ou um mesmo grupo: 
a) O grupo cuja organização se dá por interação sincrética. Este grupo se caracteriza 
por forte dependência entre os membros do grupo e necessidade de estabilidade, 
onde a identidade pessoal será estabilizada por intermédio da estabilidade do 
grupo. Há necessidade de grande investimento de energia para que o grupo seja 
mantido através de regras e valores rígidos. Enquanto grupo é débil, a interação é 
superficial e apresenta dificuldades de promover mudança. 
b) Um segundo tipo de grupo é o que tem como participantes os considerados 
neuróticos ou normais. Na medida em que estes membros alcançam um nível de 
relação em que os contornos entre o eu e o tu são definidos, através do 
desenvolvimento dos aspectos mais maduros da personalidade, há uma tendência 
em mover-se para a sociabilidade de interação que configura um grupo ativo, 
motivado na direção de concretizar os seus objetivo. 
c) Um terceiro grupo corresponde àqueles que nunca tiveram uma relação simbiótica e 
que também não irão estabelecê-la no grupo. Se inserem neste grupo as 
personalidades psicopáticas, perversas. Neste caso, o grupo parece desempenhar 
um papel muito subsidiário, quase irrelevante, com grande dificuldade de 
comunicação. 
 Bleger (1987) ocupou-se do estudo com grupos para entender o papel destes nas 
instituições. Para ele o grupo é uma Instituição complexa que tende a estabilizar-se como uma 
organização com padrões fixos e próprios. Este fenômeno se fundamenta na necessidade do grupo 
de manter o controle sobre a clivagem. Neste sentido, abstrai uma lei geral para as organizações e 
instituições, ou seja, estas necessitam se manter por um sistema rígido de controle: a energia que o 
grupo deveria investir no objetivo inicialmente proposto e pelo qual o grupo foi criado, “corre sempre 
o risco de passar a um segundo plano, passando ao primeiro plano a perpetuação da organização 
como tal”. Neste caso o grupo deixa de ser processo para estabilizar-se. O que justifica a tendência 
dos grupos para se burocratizarem, evitando assim a clivagem e que tende a bloquear os níveis 
simbióticos ou sincréticos. Já o grupo que funciona com uma estrutura mais dinâmica pode romper 
com estereótipos sem que isso provoque uma desintegração do grupo. 
Outra análise feita por Bleger (1987) diz respeito à tendência à identificação do grupo com 
aquilo que ele se propõe realizar. “Toda organização tende a ter a mesma estrutura que o problema 
que deve enfrentar e para o qual ela foi criada”. No caso da Instituição criada como um instrumento 
da sociedade para resolver o problema do segregado social, ela passa a apresentar as mesmas 
características do segregado, do “doente” social. A Instituição se compromete estruturalmente comesta clivagem social alienante, quando a sociedade deposita nela uma carga que ela mesma não 
quer carregar. Sofre uma dupla pressão: por um lado tem que responder pela missão a ela confiada 
pela sociedade, por outro, está tão paralisada quanto a população marginalizada que a solicita, por se 
identificar com esta. Trata-se de um anti-processo em que a Instituição investe toda a sua energia, já 
que o nível de pressão chega a níveis stressantes. 
 Quanto aos grupos, outros aspectos podem ser reconhecidos no âmbito institucional. 
Como já foi assinalado, os grupos e as organizações tendem a assumir a organização da 
personalidade de quem deles participa. Sobre esse aspecto, Bleger (1984, p. 55) escreve: 
“O ser humano encontra nas distintas Instituições um suporte e um apoio, um elemento 
de segurança,de identidade e de inserção social ou pertença. A partir do ponto de vista 
psicológico, a Instituição forma parte de sua personalidade e na medida em que isso ocorre, 
tanto como a forma em que isso se dá, configuram distintos significados e valores da 
 5 
Instituição para os distintos indivíduos ou grupos que a ela pertencem. Quanto mais integrada 
a personalidade, menos dependente de suporte que lhe presta uma dada Instituição; quanto 
mais imatura, mais dependente é a relação com a Instituição e tanto mais difícil toda a 
mudança da mesma ou toda separação dela. Desta maneira , toda Instituição não é só um 
instrumento de organização, regulação e controle social, mas também e ao mesmo tempo é 
um instrumento de regulação e equilíbrio da personalidade e, da mesma maneira que a 
personalidade tem organizado dinamicamente suas defesas, parte destas se acham 
cristalizadas nas Instituições; nas mesmas se dão os processos de reparação tanto como os 
de defesa contra as ansiedades psicóticas ( no sentido que M. Klein dá a este termo) 
 Na concepção de Bleger, portanto, é a Instituição que media a relação do indivíduo com 
a sociedade, tornando-se um espaço concreto onde se dão as tensões e os conflitos. Por sua vez, a 
dinâmica psicológica das instituições sociais reflete a própria personalidade dos indivíduos que dela 
participam. Bleger (1984) vê nesta questão um grande problema, pois “a Instituição pode se ver 
enormemente limitada em sua capacidade em oferecer segurança, gratificação, possibilidade de 
reparação e desenvolvimento eficiente da personalidade”. Por sua vez, a estrutura alienada da 
Instituição como já foi discutido, está relacionada com a mesma estrutura alienada do sistema 
social de produção e distribuição de riqueza. 
 A estrutura psicológica que permeia a relação indivíduo-Instituição pode se tornar 
esvaziada e pobre, visto que toda Instituição tende a reter e formalizar seus membros numa 
contagiosa estereotipia. Quando, porém, adquire uma forma positiva, desta relação podem decorrer 
mudanças satisfatórias na consciência dos indivíduos que dela participam. A intervenção do 
psicólogo institucional torna-se determinante justamente para intervir na dinâmica desta relação, 
fazendo de um processo estereotipado e negativo, um processo criativo. É neste sentido que deve 
ser estudado o conceito de dinâmica relacionado à estrutura institucional. 
 A dinâmica institucional tem para Bleger (1984) um significado dialético. Neste processo 
dialético o momento do conflito deve ser reconhecido e valorizado. É a partir deste que haverá a 
promoção de um salto qualitativo na antiga estrutura. O conflito, portanto, precede às mudanças. Em 
oposição a esse conceito, o autor utiliza o termo estereótipo para designar uma estrutura anti-
processo e resistente às mudanças. 
 No campo institucional, Bleger (1984) admite que o melhor “grau de dinâmica” não é 
dado pela ausência de conflito, mas pela disponibilidade que os atores institucionais têm para 
explicitá-lo, manejá-lo de acordo com os recursos disponíveis e resolvê-los dentro do limite 
institucional. O grau em que os membros que integram a Instituição assumem e manejam os conflitos 
normalmente presentes nas suas tarefas é índice de bom ou mau prognóstico para a tarefa do 
psicólogo. 
 Bleger (1984), a partir de sua experiência e estudos, apresenta algumas características 
presentes nas estruturas grupais (intra e inter-grupal) que ocorrem no espaço institucional. Estas 
características devem ser conhecidas, pois nos ajudam a compreender o grau de dinâmica presente 
nos grupos. Devemos esclarecer que Bleger não apresenta uma divisão estática do modo de se 
estruturar e funcionar dos grupos. A categorização destes grupos tem efeito didático, pois estas 
características estão em maior ou menor quantidade em toda organização e grupo. 
a) Grupo primário. O grupo que se organiza de acordo com este modelo sofre 
grande influência do grupo familiar. Seus participantes convivem continuamente 
em situações conflituosas e fortemente emocionais. A Instituição torna-se a 
continuação de suas famílias. Os papéis desempenhados no grupo bem como 
o “status” na Instituição são confusos, ambíguos, apresentando um déficit na 
diferenciação. Conseqüentemente a identidade é pouco definida, favorecendo 
uma intensa necessidade de pertença e dependência. A comunicação é pré-
verbal. Este tipo de grupo é considerado de tarefa débil, pois a energia que 
deveria ser canalizada para atingir seus objetivos é pulverizada nos conflitos 
criados e não resolvidos dentro do grupo. A estratégia neste grupo deverá ser a 
de transformá-lo em grupo secundário. 
 6 
b) Grupo formalizado ou estereotipado. Neste tipo de grupo, tal qual nos grupos 
primários, existem ambigüidades que, no entanto, são fortemente reprimidas. 
Como reação defensiva, reativante, o grupo estereotipado torna-se 
extremamente formal. Para isso ele recorre à burocratização, à rigidez, ou seja, 
formas estereotipadas de conduta frente à tarefa. A falta de comunicação neste 
grupo compromete uma interação dinâmica e afetiva. Neste caso a estratégia é 
transcender a rigidez e criar condições para aprendizagem e elaboração das 
dificuldades encobertas pela interação estereotipada. 
c) Grupo secundário. Está classificado como o melhor em termos de dinâmica. 
Os papéis são definidos e respeitados. A comunicação é realizada 
predominantemente em nível verbal e por interação. Geralmente os conflitos são 
reconhecidos e enfrentados criativamente mediante recursos existentes no 
próprio grupo. Os objetivos propostos são compreendidos como parte do 
processo do grupo. 
 
Para Bleger a relação do indivíduo com o grupo não é estática. É conflituosa e as causas são 
tanto internas quanto presentes no meio, na sociedade. A crise entre homem e grupo gera 
desestruturas para que mudanças qualitativas sejam efetivadas. Este processo dinâmico se faz 
necessário para que haja alteração dos antigos padrões , implicando rupturas com os esquemas 
anteriores. Uma estrutura não-dinâmica, rígida, que evita confronto, torna-se anti-processo, 
estancando a aprendizagem, o desenvolvimento do ser humano, bem como da sociedade. 
 Sabemos que os motivos que levam o homem a evitar o dinamismo e o processo são 
devidos à sua dificuldade de suportar tensões, angústias e ansiedades. Isto demanda uma estrutura 
interna e externa “continente” à crise, que é vista como um momento do processo. 
Normalmente a Instituição patologiza o conflito, evitando-o. Bleger (1984), partindo de uma 
concepção dinâmica da realidade, concebe “o conflito como um elemento normal e imprescindível no 
desenvolvimento em qualquer manifestação humana: a patologia do conflito se relaciona, mais do 
que com a existência do próprio conflito, com a ausência dos recursos necessários para resolvê-los” 
. 
 Bleger (1984) define o conflito como uma manifestação de forças controvertidas em 
interjogo. Em sua forma dilemática, no entanto, o conflito encobre tensões reais que se apresentam 
sob forma de opções irreconciliáveis, deixandode estar dinamicamente em interjogo, como uma 
força tentando eliminar a outra. 
 Os grupos formais ou estereotipados, em que os dilemas estão encobertos sob uma 
suposta estabilidade, representam, na opinião de Bleger (1984), um índice de mau prognóstico ou de 
uma tarefa muito árdua que o psicólogo terá que enfrentar. Nestas situações ficam encobertas muita 
confusão e ambigüidade. Bleger alerta: “O fator mais perturbador e mais difícil de manejar não é o 
conflito e sim a ambigüidade que age como um amortizador ou des-desenhador dos conflitos (...) 
[Estes] recaem sobre objetos muito personificados individualmente ou se os tende a referir como 
estritos conflitos individuais, da mesma forma quando se tende reiteradamente a resolver um conflito 
com a segregação ou eliminação de um ou vários indivíduos”. 
 Quando uma situação dilemática for reconhecida, se faz necessário equacioná-la como 
problema, tornando assim possível uma solução. Esta solução será naturalmente geradora de novos 
problemas, formando assim um processo dialético. Nas instituições geralmente os conflitos não se 
tornam problema, mas dilemas. Opções irreconciliáveis como forças desintegradas assumem 
diversas direções, no sentido de se anularem, estagnando o desenvolvimento. 
 O grau de dinâmica na Instituição deverá ser um fator orientador do trabalho do 
psicólogo institucional. É necessário conhecer a estrutura e o funcionamento dos grupos na 
Instituição para traçar o diagnóstico e as estratégias de ação. Isto possibilitará mais um espaço para 
que a Psicologia possa desenvolver seu potencial modificador no âmbito social. 
 
 
 
 7 
Psicanálise e Análise do Discurso – Matrizes institucionais do sujeito psíquico 
Marlene Guirado (1995) 
 
A dimensão política na atuação profissional em Psicologia 
 
 Revisão da Psicologia Institucional 
 Implicação da utilização de seus conceitos e de sua prática 
 Se na Psicologia Institucional o psicólogo trabalha com as relações tal como 
representadas, imaginadas por aqueles que as fazem, este é seu objeto e âmbito de 
ação, então a única maneira de se falar num sujeito psíquico é considera-lo enquanto 
sujeito institucional. 
 Tem-se então a articulação psicologia, instituição e política (produção de saber e 
exercício de poder) 
 Competência técnica é sempre abuso de poder/saber? Em que circunstâncias a 
competência técnica e conceitual é condição da democratização do discurso? 
 A proposta de Guirado como supervisora institucional de um serviço publico municipal 
de saúde é desenvolver a dimensão política da psicologia, ou seja, mover relações de 
poder, mover o imaginário de nossa profissão. 
 Caso clínico ou situação.

Outros materiais

Materiais relacionados

Perguntas relacionadas

Materiais recentes

Perguntas Recentes