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W BA 03 92 _V 2. 0 ANÁLISE E AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS 2 João Vitor Rodrigues de Souza Londrina Editora e Distribuidora Educacional S.A. 2023 ANÁLISE E AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS 1ª edição 3 2023 Editora e Distribuidora Educacional S.A. Avenida Paris, 675 – Parque Residencial João Piza CEP: 86041-100 — Londrina — PR Homepage: https://www.cogna.com.br/ Diretora Sr. de Pós-graduação & OPM Silvia Rodrigues Cima Bizatto Conselho Acadêmico Alessandra Cristina Fahl Ana Carolina Gulelmo Staut Camila Braga de Oliveira Higa Camila Turchetti Bacan Gabiatti Giani Vendramel de Oliveira Gislaine Denisale Ferreira Henrique Salustiano Silva Mariana Gerardi Mello Nirse Ruscheinsky Breternitz Priscila Pereira Silva Coordenador Nirse Ruscheinsky Breternitz Revisor Ana Beatriz Ulhoa Cobalchini Editorial Beatriz Meloni Montefusco Carolina Yaly Márcia Regina Silva Paola Andressa Machado Leal Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)_____________________________________________________________________________ Souza, João Vitor Rodrigues de Análise e avaliação de impactos ambientais/ João Vitor Rodrigues de Souza. – Londrina: Editora e Distribuidora Educacional S.A., 2023. 33 p. ISBN 978-65-5903-493-2 1. Estudo de impacto ambiental. 2. EIA. 3. Licenças ambientais. I. Título. CDD 363.7 _____________________________________________________________________________ Raquel Torres – CRB 8/10534 S729a © 2023 por Editora e Distribuidora Educacional S.A. Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida ou transmitida de qualquer modo ou por qualquer outro meio, eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação ou qualquer outro tipo de sistema de armazenamento e transmissão de informação, sem prévia autorização, por escrito, da Editora e Distribuidora Educacional S.A. 4 SUMÁRIO Apresentação da disciplina __________________________________ 05 Introdução a Avaliação de Impacto Ambiental _______________ 06 Estudos, objetivos e etapas do AIA ___________________________ 17 Metodologias de AIA _________________________________________ 28 AIA e Licenciamento Ambiental ______________________________ 37 ANÁLISE E AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS 5 Apresentação da disciplina Olá, estudante! Bem-vindo à disciplina Análise e Avaliação de Impactos Ambientais, que trata de um tema de grande relevância no panorama global atual. Nesta apresentação, mergulharemos no cerne deste assunto, compreenderemos seu significado e exploraremos por que é um campo de estudo crucial para o seu crescimento acadêmico e profissional. Os impactos ambientais abrangem os efeitos das atividades humanas no mundo natural, incluindo ecossistemas, biodiversidade, qualidade do ar e da água e clima. Analisar e avaliar estes impactos é essencial para mitigar os danos e promover práticas sustentáveis. Independentemente da sua carreira – seja você engenheiro, arquiteto, biólogo, planejador urbano ou legislador –, o conhecimento de análise e avaliação de impacto ambiental é altamente relevante. Ele aprimora seu kit de ferramentas profissional, tornando-o mais adaptável e valioso em um mundo cada vez mais focado na sustentabilidade. Este assunto prepara você para impulsionar mudanças positivas em seu setor, contribuir para projetos ecologicamente corretos e enfrentar desafios ambientais. Concluindo, o estudo da análise e avaliação de impacto ambiental não é apenas uma atividade acadêmica: é um caminho para um futuro mais brilhante e mais sustentável. Convidamos você a explorar mais este assunto, pois tem o potencial de moldar a sua vida profissional e capacitá-lo a ser um promotor de um planeta mais saudável. 6 Introdução a Avaliação de Impacto Ambiental Autoria: João Vitor Rodrigues de Souza Leitura crítica: Ana Beatriz Ulhoa Cobalchini Objetivos • Explorar a evolução histórica da AIA e compreender o seu conceito fundamental. • Analisar os fatores que levaram à introdução da AIA no contexto brasileiro. • Examinar os mecanismos legislativos e regulatórios que regem a implementação da AIA no Brasil. 7 1. Difusão internacional Ao longo da década de 1960, a crescente consciência ecológica deu origem a grupos que começaram a pressionar os governos para resolver e prevenir problemas. A busca por meios que permitissem a incorporação de fatores ambientais na tomada de decisões resultou na formulação de políticas e de uma série de instrumentos para a sua execução. Isso conduziu a uma reorganização administrativa e uma reforma institucional, incentivos econômicos para controle da poluição e sistemas de gestão ambiental, e canais para a participação do público também foram estabelecidos (Sánchez, 2013). Este processo foi iniciado nos Estados Unidos da América depois que o Congresso aprovou o Lei de Política Ambiental Nacional (NEPA) em 1969, que entrou em vigor em 1970. Em 1973, a Comunidade Europeia instituiu o Programa Ambiental Programa de Ação, e desde então a avaliação do impacto ambiental (AIA) tem sido o principal instrumento político para prevenir danos ambientais (Sánchez, 2013). Depois de 1975, várias organizações internacionais começaram a introduzir a AIA em seus programas, uma política posteriormente adotada pelo financiamento internacional e agências por causa da pressão científica e pública dos países do primeiro mundo. Esta pressão deveu-se grande parte a um sentimento de culpa pelos países em desenvolvimento, cuja parcela dos problemas ambientais resultaram de projetos multinacionais financiados pelos países desenvolvidos (Sánchez, 2013). A posição do governo brasileiro foi contrária a essa tendência internacional. A ideologia do rápido crescimento econômico atingiu o seu apogeu durante a década de 1970. Naquela época, o governo brasileiro publicou anúncios em jornais e revistas dos países desenvolvidos, a fim de atrair indústrias poluentes para o Brasil, onde não teriam que investir em medidas antipoluição para seus equipamentos (Davis, 2016). Na Conferência Ambiental Internacional 8 em Estocolmo, em 1972, a delegação brasileira argumentou que, no cenário internacional, a preocupação com a defesa ambiental escondia os interesses imperialistas e era destinado a impedir o desenvolvimento dos países mais pobres. Ainda em 1972, apenas alguns meses após a conferência da ONU, os líderes da União Europeia declararam que o objetivo de expansão econômica deveria ser equilibrado com a necessidade de proteger o meio ambiente. No ano seguinte, o bloco econômico elaborou seu primeiro programa de ação ambiental, e desde então os países europeus têm estado na vanguarda da formulação de políticas ambientais. No caso da Alemanha, por exemplo, as atitudes do público em relação à proteção ambiental mudaram drasticamente no início da década de 1980, quando se soube que muitas florestas alemãs estavam sendo destruídas pela chuva ácida. O Partido Verde alemão, fundado em 1980, ganhou representação no Bundestag (parlamento nacional) pela primeira vez em 1983, e desde então tem feito campanha por regulamentações ambientais mais rígidas. No final do século XX, o partido se juntou a um governo de coalizão e foi responsável pelo desenvolvimento e implementação de extensas políticas ambientais da Alemanha. Como grupo, Alemanha, Holanda e Dinamarca – a chamada “trinca verde” – estabeleceram-se como líderes inovadores em direito ambiental (Simi, 2017). Durante a década de 1980, acidentes envolvendo poluição ambiental em países estimularam negociações de várias convenções ambientais internacionais. Os efeitos do acidente de 1986 na usina nuclear de Chernobyl, na Ucrânia – ainda parte da antiga União Soviética – foram especialmente significativos. Um ano depois, o Brasil também testemunhou um acidente ambiental: o caso Césio 137. 9 O acidente de contaminação radioativa ocorreu em 13 de setembro de 1987, em Goiânia – GO, após uma fonte de radioterapiaesquecida ter sido roubada de um hospital abandonado na cidade. Posteriormente, foi manuseado indevidamente por muitas pessoas, resultando em quatro mortes. Cerca de 112 mil pessoas acabaram sendo expostas à radiação, das quais 249 foram contaminadas (Rincão; Trigueiro, 2018). Durante esta década, o Brasil também se viu diante de importantes avanços na esfera de direito ambiental. Considerando a hierarquia legal, e não a ordem de promulgação, a Constituição Federal de 1988 concedeu proteção especial inédita ao meio ambiente, que foi declarada como um direito fundamental (Brasil, 1988). O Art. 225 prevê que: Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum e essencial à sadia qualidade de vida, cabendo ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações (Brasil, 1988, [s. p.]). Isso implica que todos os indivíduos têm não apenas o direito de se beneficiar de um meio ambiente equilibrado, mas também o dever de protegê-lo e mantê-lo para a posteridade. Daí resulta um direito e um dever do Estado, de proteger e preservar o meio ambiente no desenvolvimento de suas funções executivas, legislativas e judiciárias. Muitas foram as consequências para o ordenamento jurídico pátrio de atribuir ao meio ambiente a característica de direito humano fundamental, dentre as quais se destacam a aplicabilidade direta desse direito e o estabelecimento de um princípio de priorização do meio ambiente sobre os demais bens. Meio ambiente é entendido aqui em sua definição ampla como “o conjunto de condições, leis, influências e interações da física, química e biologia que permite, abriga e estimula a vida em todas as suas formas” (Brasil, 1981, [s. p.]) e é reconhecido como um bem jurídico protegido autônomo. 10 Assim, a introdução da AIA no país foi atribuída às demandas das agências financeiras internacionais, que surgiram principalmente depois que planos de desenvolvimento adversos ganharam a atenção mundial, especialmente hidrelétricas na Amazônia e a expansão da Companhia Siderúrgica Paulista, em São Paulo (Rincão; Trigueiro, 2018). Você, estudante, já conhecia essas informações, sabia desses acontecimentos históricos? 2. A AIA como ferramenta da Política de Meio Ambiente Embora houvesse alguma regulamentação para a exploração de recursos naturais no Brasil desde século XVIII, e que o estado do Rio de Janeiro apresentasse alguma regulamentação para a uso da avaliação de impacto ambiental (AIA) desde 1977 (Sánchez, 2013), o grande marco legal da proteção ambiental no país foi definido com a promulgação da Lei de Política Nacional para o Meio Ambiente em 1981 (Brasil, 1981). Com o objetivo de compartilhar a responsabilidade de gestão ambiental entre esses entes federativos, a PNMA estabeleceu um conjunto de princípios e instrumentos para a gestão ambiental no país, entre eles, o estudo de impacto ambiental e o licenciamento ambiental (Brasil, 1981). Esta política foi detalhada apenas em 1986, com a Resolução Conama n. 1 (Conama, 1986). Esta resolução estabelece a exigência de EIA para atividades consideradas de impacto significativo para o meio ambiente, apresentando uma lista de atividades sujeitas a EIA. Com base nessa lista, os órgãos ambientais fazem a triagem dos projetos que devem ser submetidos a esse rito de licenciamento. Conforme mencionado no parágrafo anterior, a Resolução Conama n. 1/1986 (Conama, 1986) estabeleceu os componentes básicos do 11 sistema brasileiro de EIA, após longas negociações entre organizações ambientais e outros setores governamentais (Rincão; Trigueiro, 2018). Logo no Art.1º, a resolução trouxe a definição de impacto ambiental, que se aplica a: Qualquer alteração das propriedades físicas, químicas e biológicas do meio ambiente, causada por qualquer forma de matéria ou energia resultante das atividades humanas que, direta ou indiretamente, afetam: I–a saúde, a segurança e o bem-estar da população; II–as atividades sociais e econômicas; III–a biota; IV–as condições estéticas e sanitárias do meio ambiente; V–a qualidade dos recursos ambientais (Conama, 1986, p. 636). Esta resolução estabelece a demanda da avaliação de impacto ambiental para atividades consideradas com impacto negativo significativo para o meio ambiente, apresentando uma lista de atividades sujeitas a um estudo de impacto ambiental (EIA). Com base nessa lista, os órgãos ambientais selecionam os projetos que devem ser submetidos a um rito de licenciamento ambiental. No artigo 2º desta resolução, as atividades modificadoras do ambiente foram definidas como normas e critérios para a elaboração de um relatório de impacto ambiental declaração, posteriormente ampliada no artigo 20 da Resolução nº 11/86 (Conama, 1986). O escopo desta resolução foi ampliado em 1987 com as Resoluções Conama n. 5/87 e n. 6/87 (Conama, 1988) para incluir atividades potencialmente prejudiciais às atividades espeleológicas nacionais e ao licenciamento de hidrelétricas e geração e transmissão de energia termelétrica. Devido a esta resolução, a AIA é um instrumento importante na política ambiental. As informações técnicas mínimas exigidas no EIA brasileiro, definidas pela Resolução n. 1/86 (Conama, 1986) são: • Um diagnóstico ambiental da área de influência do projeto, com descrição e análise completa dos recursos ambientais físicos, 12 biológicos e socioeconômicos e suas interações reais como uma caracterização da situação ambiental antes de implementação do projeto (art. 60, I). • Uma análise do projeto de impactos ambientais, bem como alternativas técnicas ou locais, com base na identificação, previsão de magnitude e interpretação da importância de prováveis impactos relevantes, descritos em termos de magnitude, temporalidade, reversibilidade e propriedades cumulativas e sinérgicas em uma análise de custo-benefício (art. 60, II). A Figura 1 ilustra esse conteúdo mínimo necessário . Figura 1 – Diretrizes mínimas presentes no EIA Fonte: elaborada pelo autor. O AIA também deve conter uma descrição das atividades mitigadoras para efeitos negativos de impactos, incluindo equipamentos de controle e sistemas para tratamento de resíduos, que são comparados em termos de eficiência. Sánchez (2013) argumenta que a viabilidade da solução vai além da mera mitigação de impactos negativos e deve incluir provisão para revertê-los, se possível. Também é obrigatório um 13 programa de monitoramento ambiental (art. 60, IV da Resolução 1/86) para impactos previamente identificados como positivos ou negativos, com impacto público e privado e responsabilidades definidas. Como documento, a declaração de impacto ambiental deve ser escrita em linguagem acessível, refletindo a avaliação de impacto ambiental, e conter pelo menos as especificações definidas na Resolução 1/86 (Conama, 1986). 3. Estrutura legal brasileira A caminhada ambiental brasileira no âmbito legal iniciou antes mesmo da Constituição Federal. Em 1973, o Brasil criou a Secretaria Especial de Meio Ambiente, por meio do Decreto Federal 73.030. Em seguida, a Lei n. 6.938 criou a Política Nacional do Meio Ambiente – PNMA (Brasil, 1981), cujo principal objetivo foi estabelecer normas que viabilizem o desenvolvimento sustentável, utilizando mecanismos e instrumentos capazes de garantir maior proteção ao meio ambiente. Além da AIA, a PNMA abrange diversas questões ambientais, incluindo definição de normas, licenciamento ambiental, áreas especiais de preservação, incentivo à produção mais limpa e zoneamento ambiental (Barsano; Barbosa, 2014). Para promover uma gestão participativa em relação à temática ambiental, a PNMA também criou o Sistema Nacional do Meio Ambiente (Sisnama), que reúne órgãos e instituições ambientais da União, dos estados, dos municípios e do Distrito Federal, e tem como objetivo primordial colocar em prática os princípios e normas que são impostas pela constituição. A Figura2 ilustra a estrutura existente no Sisnama. 14 Figura 2 – Organograma do Sisnama Fonte: adaptada de Brasil (1981). A cabeça da estrutura do Sisnama é o Conselho de Governo, o órgão máximo de assessoramento da Presidência da República para a formulação das diretrizes e políticas ambientais nacionais. Abaixo dele vem o Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), órgão que assessora o governo nacional e delibera sobre normas e padrões adequados à proteção do meio ambiente que devem ser seguidos pelos governos estaduais e municipais. Em seguida, vem o Ministério do Meio Ambiente (MMA), que planeja, coordena, fiscaliza e controla a política ambiental nacional e as diretrizes estabelecidas para o meio ambiente, exercendo a função de articulação dos diversos órgãos e entidades que compõem o Sisnama. Vinculado ao MMA está o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), que formula, coordena, supervisiona, administra, promove e faz cumprir a PNMA e a preservação e conservação dos recursos naturais. Por fim, estudante, a base da estrutura do Sisnama estão os órgãos municipais e estaduais responsáveis pela fiscalização das atividades 15 degradantes do meio ambiente e pela implementação de programas, projetos e atividades de monitoramento nocivos ao meio ambiente (Simi, 2017). 4. Perspectivas e considerações finais Até recentemente, o Brasil era reconhecido por ter uma legislação ambiental bastante avançada. O processo de licenciamento ambiental brasileiro foi legalmente estabelecido em 1986. O licenciamento ambiental é desencadeado pelo pedido de licença ambiental com autoridade da AIA. Dependendo da localização regional do empreendimento ou do seu potencial poluidor, o licenciamento poderá ser feito pelo órgão ambiental federal, estadual ou municipal, que faz a triagem com base em legislação para determinar se a licença ambiental exige ou não um estudo de impacto ambiental. Existe uma norma que define as atividades que necessariamente terão de elaborar a AIA – não há processo de escopo no Direito brasileiro. Consequentemente, a maioria dos estudos de impacto ambiental não se concentra em questões centrais e ocasionalmente muda seu foco para questões menos relevantes, muitas vezes desconsiderando o conhecimento informal da população local e sua percepção de risco. Além disso, a transparência quanto aos critérios empregados geralmente mostra que falta a avaliação da significância dos impactos, com estudos que podem desconsiderar tendenciosamente o potencial para algum dano. Originalmente, o primeiro regulamento estabelecia a independência financeira da consultoria do empresário responsável pelo pagamento das despesas os estudos ambientais. Na revisão desta norma, em 1997, 16 esta independência deixou de existir, pois a necessária transparência foi assegurada pela aplicação do processo de audiência pública. Assim, estudante, podemos concluir que o processo AIA no Brasil tem sido de grande relevância para adequação ambiental e/ou minimização dos impactos do projeto, mas ainda existem muitas fragilidades para legitimar e fortalecer este importante instrumento. Referências BARSANO, Paulo R.; BARBOSA, Rildo P. Gestão Ambiental. Londrina: Saraiva, 2017 BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Centro Gráfico do Senado Federal, 2016. BRASIL. Lei n. 6.938, de 31 de agosto de 1981. Dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente, seus fins e mecanismos de formulação e aplicação. Brasília, DF, 31 ago. 1981. CONSELHO NACIONAL DO MEIO AMBIENTE (CONAMA). Resolução n. 01, de 23 de janeiro de 1986. Dispõe sobre critérios básicos e diretrizes gerais para a Avaliação de Impacto Ambiental. Brasília, DF: Conama, 23 jan. 1986. DAVIS, Mackenzie L.; MASTEN, Susan J. Princípios de engenharia ambiental. Porto Alegre: AMGH, 2016. RINCÃO, Vinícius Pires; TRIGUEIRO, Rodrigo de Menezes. Avaliação do impacto ambiental e licenciamento. Londrina: Educacional, 2018. SÁNCHEZ, Luis Enrique. Avaliação de Impacto Ambiental: conceitos e métodos. 2. ed. São Paulo: Oficina de Textos, 2013. SIMI, Lucas Detogni. Legislação ambiental. Londrina: Educacional, 2017. 17 Estudos, objetivos e etapas do AIA Autoria: João Vitor Rodrigues de Souza Leitura crítica: Ana Beatriz Ulhoa Cobalchini Objetivos • Compreender os fundamentos dos estudos ambientais. • Analisar as etapas que envolvem a avaliação de impacto ambiental. • Analisar o papel da AIA na promoção do desenvolvimento sustentável. 18 1. Conceitos, objetivos e público-alvo da AIA O desenvolvimento de atividades e de empreendimentos está inevitavelmente associado a impactos positivos e negativos nos componentes ambientais. Embora os prováveis impactos negativos não possam ser anulados completamente, as atividades de desenvolvimento tão necessárias não podem ser impedidas (Sánchez, 2008). A avaliação de impacto ambiental (AIA) ajuda a identificar potenciais impactos ambientais de uma atividade de projeto proposta. A AIA pode ser definida como um processo que visa identificar, prever, avaliar e propor medidas mitigadoras aos efeitos biofísicos, sociais ou qualquer outro tipo relevante originado de propostas de desenvolvimento, antes que os compromissos sejam assumidos (Sánchez, 2013). Essa é uma ferramenta projetada para identificar e prever o impacto de um projeto no ambiente biogeofísico e na saúde e bem-estar do homem, interpretar e comunicar informações que tratem do impacto, analisar alternativas de local e processo e fornecer soluções para diminuir/ mitigar as consequências negativas sobre o homem e o meio ambiente. A Política Nacional de Meio Ambiente (PNMA), instituída pela Lei n. 6.938/1981, define meio ambiente como “o conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem física, química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas” (Brasil, 1981, [s. p.]). Essa definição se mostra insuficiente ao não fazer menção às interações de ordem social, as quais precisam ser levadas em conta na análise ambiental, como assevera Sánchez: Em muitas jurisdições os estudos de impacto ambiental não são, na prática, limitados às repercussões físicas e ecológicas dos projetos de desenvolvimento, mas incluem também suas consequências nos planos econômico, social e cultural. Tal entendimento faz bastante sentido 19 quando se pensa que as repercussões de um projeto podem ir além de suas consequências ecológicas (Sanchez, 2008, p.110). Segundo este autor, o impacto ambiental consiste em uma associação entre componentes temporais e espaciais, descrito como a mudança em um parâmetro ambiental em resposta a uma atividade específica, analisado em um período determinado e restrito a uma área definida, quando comparado sob as mesmas especificações ao que aconteceria com o ambiente caso a atividade não fosse iniciada. As consequências de diversos projetos, planos, programas ou políticas podem gerar efeitos negativos na qualidade ambiental, e são avaliadas por AIA. (Sánchez, 2013). A AIA representa uma ferramenta de política ambiental e um componente importante do desenvolvimento sustentável para estimar os efeitos ambientais das atividades na fase mais precoce possível. O procedimento de AIA baseia-se em ferramentas de identificação de impacto (definição do âmbito) ou de previsão de impacto (avaliação de impacto) que têm uma base comum com a avaliação de risco (AR), sendo ambas altamente interdisciplinares. Os conceitos-chave aplicados na AIA e na AR são notavelmente semelhantes e baseiam-se nos mesmos objetivos para alcançar uma gestão ambiental eficiente (Sánchez, 2013). Por outro lado, a avaliação do ciclo de vida (ACV) é uma metodologia robusta que avalia os impactos ambientais de produtos ou processos, e pode ser particularmente aplicada em AIA, comparação ambiental de processose alternativas de redução. Assim, a ACV é uma ferramenta analítica para avaliar os impactos ambientais de toda a cadeia produtiva, enquanto a AIA é um procedimento de apoio aos tomadores de decisão. 2. Estudos ambientais O instrumento previsto no Brasil para licenciamento de empreendimentos que possam ter impacto ambiental, desde 1986, 20 por decisão do Conama, é o estudo de impacto ambiental (EIA), que precede o relatório de impacto ambiental (RIMA) e que tem mesmo teor (Conama, 1986). Tendo como ponto de partida um diagnóstico socioeconômico e ambiental, o EIA/RIMA faz um prognóstico das consequências da atividade e sugere medidas para minimizar os impactos negativos e maximizar os positivos. O EIA e o RIMA são documentos complementares, razão pela qual são sempre mencionados em conjunto. Enquanto o EIA é um conjunto de laudos técnicos destinados a instruir o processo de licenciamento, o RIMA é o documento que reproduz as conclusões do EIA, porém, em linguagem acessível. O objetivo da RIMA é informar o público comum, com uma linguagem simples e acessível à sociedade. Em síntese, o documento mais importante em todo o processo que envolve a avaliação de impacto ambiental é o EIA. É sobre essa base que serão tomadas as principais decisões acerca da viabilidade ambiental de um projeto, da necessidade de medidas mitigadoras ou compensatórias, do tipo e do alcance dessas medidas. Como o processo de EIA é aberto ao público, pode ser usado como ponto de partida para negociações entre o empreendedor, o governo e outras partes interessadas (Sánchez, 2013). Nessa perspectiva, o EIA deve ser contemplado considerando uma sequência de etapas lógicas e interconectadas, em que os resultados obtidos em uma fase interferem diretamente na fase subsequente. Nesse plano de trabalho, propõe-se o desenvolvimento das atividades em uma cadeia ou sequência lógica ou orgânica, considerando as cumulatividades e sinergia existentes entre os processos (Sánchez, 2008). Resumidamente, é necessário que o EIA apresente no seu escopo (Conama, 1986): 21 • todas as alternativas tecnológicas e de localização de projeto, considerando, nesse item, a possibilidade de não execução do projeto. • a identificação e a avaliação dos impactos ambientais gerados nas fases de implantação e operação da atividade. • os limites espaciais quanto às áreas direta ou indiretamente afetadas pelos impactos, denominadas áreas de influência do projeto. • os planos e programas governamentais, propostos e em implantação, na área de influência do projeto, e sua compatibilidade. A Figura 1 sintetiza o escopo contemplado pelo EIA. Figura 1 – Fluxograma do EIA Fonte: adaptada de Sánchez (2013). ´ 22 Veja, a seguir, um breve relato de cada uma das etapas citadas na Figura 1 (Rincão; Trigueiro, 2016): • Caracterização do empreendimento: nesta etapa, são detalhadas informações acerca do projeto ou atividade proposta. Isso inclui natureza, escopo, localização, tecnologias envolvidas, capacidade produtiva e características específicas do empreendimento. • Diagnóstico ambiental e socioeconômico da área de influência: etapa em que é feita uma análise completa das condições ambientais e socioeconômicas da área afetada pelo empreendimento. Isso envolve identificar aspectos como flora, fauna, recursos hídricos, solo e clima, bem como questões sociais, econômicas e culturais da comunidade local. • Análise dos impactos ambientais: nesta etapa, os impactos potenciais do empreendimento sobre o meio ambiente são identificados, avaliados e categorizados quanto à sua magnitude, extensão, duração e reversibilidade. Isso abrange impactos em diversas áreas, como qualidade do ar, água, solo, biodiversidade, paisagem e ruído. • Medidas mitigadoras, preventivas, potencializadoras e compensatórias: são propostas estratégias para minimizar, prevenir ou compensar os impactos negativos identificados. As medidas mitigadoras visam reduzir a intensidade dos impactos; as preventivas buscam evitar impactos antes que ocorram; as potencializadoras visam fortalecer os efeitos positivos; e as compensatórias são ações para compensar danos. • Programa de acompanhamento e monitoramento dos impactos ambientais: estabelece um plano detalhado para o acompanhamento contínuo dos impactos ao longo do ciclo de vida do empreendimento. O programa inclui indicadores, métodos de coleta de dados e periodicidade das avaliações, garantindo que as medidas propostas sejam efetivas e ajustadas quando necessário. 23 O EIA é uma ferramenta vital para a tomada de decisões informadas, permitindo uma análise abrangente dos impactos ambientais de um projeto e a implementação de medidas para minimizar seus efeitos negativos, contribuindo para o desenvolvimento sustentável. Para que isso ocorra, são necessários estudos robustos para estabelecer para decisões baseadas em evidências (Rincão; Trigueiro, 2018). É necessário definir claramente a pegada do empreendimento, identificando quais áreas provavelmente serão impactadas pelo projeto (Sánchez, 2013). 3. Etapas do AIA De modo geral, um documento que contempla o EIA segue as diretrizes da AIA e envolve as seguintes etapas: sumário executivo; descrição do projeto e quadro legal e administrativo; triagem; escopo; descrição do ambiente existente; previsão e avaliação de impactos; mitigação e gestão de impactos; preparação do relatório; consulta pública e revisão; tomada de decisão; e monitoramento e execução pós-decisão (Sánchez, 2013). A Tabela 1 descreve as ações que ocorrem em cada uma delas. Tabela 1 – Descrição das principais etapas do AIA Etapa Descrição Triagem Etapa em que se avalia se a EIA é necessária, e concentra recursos em proje- tos com maior probabilidade de ter impactos significativos, aqueles cujos impac- tos são incertos e aqueles que provavelmente necessitarão de contributos da gestão ambiental. Escopo Os limites da avaliação são estabelecidos, incluindo a gama de impactos a se- rem considerados, a área geográfica a ser estudada e os componentes ambien- tais específicos. Descri- ção do ambiente existente Esta etapa envolve a recolha de informações detalhadas acerca das condições ambientais existentes na área do projeto, incluindo flora, fauna, qualidade do ar, recursos hídricos, qualidade do solo e aspectos socioeconômicos. Estes dados de base servem como referência para avaliar potenciais impactos. 24 Previsão e avalia- ção de impactos Durante esta fase, os potenciais impactos ambientais do projeto são previstos com base em características, atividades propostas e dados de base recolhidos (AIA). Os impactos são avaliados em termos de magnitude, extensão, duração e significância. A avaliação de impacto envolve uma análise detalhada dos im- pactos previstos. Mitigação e gestão de impac- tos Esta fase centra-se na proposição de medidas para mitigar ou gerir os impactos adversos identificados. As medidas de mitigação visam reduzir os efeitos nega- tivos, enquanto as medidas de melhoria procuram maximizar os impactos positi- vos. Podem ser propostas medidas compensatórias para compensar quaisquer impactos inevitáveis. Prepara- ção do relatório As conclusões da avaliação de impacto e as medidas de mitigação propostas são compiladas em relatório de AIA. Este relatório inclui uma visão abrangente do projeto, as condições iniciais, previsões de impacto, resultados de avaliação e medidas propostas para lidar com os impactos. Consulta pública e revisão O relatório da EIA e o RIMA são compartilhados com o público e as partes inte- ressadas relevantes para feedback e sugestões. Esta etapa incentiva a trans- parência e permite que preocupações e sugestões sejam incorporadas ao re- latório. As agências reguladoras também analisam o relatório para garantir sua integridade e adequação. Tomada de deci- sões As autoridades reguladoras, com base na AIA e na contribuição do público, to- mam decisões informadas relativas àaprovação, rejeição ou modificação do projeto proposto. A AIA ajuda as autoridades a tomarem decisões ambiental- mente responsáveis. Monitora- mento e execução pós-deci- são Após a aprovação do projeto, o monitoramento contínuo garante que os impac- tos previstos e as medidas de mitigação estejam alinhados com os resultados reais. As agências reguladoras impõem o cumprimento das medidas aprovadas para garantir que o projeto cumpra os padrões ambientais. Fonte: adaptada de Sánchez (2013). Em conclusão, estudante, o domínio dos estudos ambientais e das etapas meticulosas da AIA constituem pilares fundamentais na nossa jornada coletiva rumo a uma coexistência mais sustentável e harmoniosa com o nosso planeta. Pela lente de análises e previsões ambientais abrangentes, a AIA guia-nos através da intrincada interação das atividades humanas e suas consequências ecológicas. À medida que nos aprofundamos na recolha de dados de base, na previsão de impactos, na avaliação e na formulação de estratégias de mitigação, somos capacitados com o conhecimento e as ferramentas para tomar decisões conscientes que dão prioridade à proteção do nosso mundo natural. 25 Referências BRASIL. Lei n. 6.938, de 31 de agosto de 1981. Dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente, seus fins e mecanismos de formulação e aplicação. Brasília, DF, 31 ago. 1981. CONAMA. Conselho Nacional do Meio Ambiente. Resolução n. 1, de 23 de janeiro de 1986. Dispõe sobre critérios básicos e diretrizes gerais para a Avaliação de Impacto Ambiental. Brasília, DF: Conama, 23 jan. 1986. RINCÃO, V. P.; TRIGUEIRO, R. de M. Avaliação do impacto ambiental e licenciamento. Londrina: Editora e Distribuidora Educacional S.A., 2018. SÁNCHEZ, L. E. Avaliação de impacto ambiental: conceitos e métodos. São Paulo: Oficina de Textos, 2008. SÁNCHEZ, L. E. Avaliação de Impacto Ambiental: conceitos e métodos. 2. ed. São Paulo: Oficina de Textos, 2013. 26 27 28 Metodologias de AIA Autoria: João Vitor Rodrigues de Souza Leitura crítica: Ana Beatriz Ulhoa Cobalchini Objetivos • Compreender os fundamentos dos estudos ambientais. • Analisar as etapas que envolvem a avaliação de impacto ambiental. • Analisar o papel da AIA na promoção do desenvolvimento sustentável. 29 1. Conceitos, objetivos e público-alvo da AIA A avaliação de impacto ambiental (EIA) é um processo sistemático usado para avaliar as consequências potenciais das atividades humanas no meio ambiente. Neste contexto, vários conceitos-chave desempenham um papel crucial na compreensão e avaliação do impacto ambiental de projetos, políticas ou atividades. Esses conceitos incluem sensibilidade do receptor, magnitude do impacto, significância do impacto e impacto ambiental cumulativo (Sánchez, 2013). O Quadro 1 ilustra os conceitos abordados. Quadro 1 – Abordagens conceituais de sensibilidade, magnitude, significância e cumulatividade de impactos Conceito Descrição Sensibilidade do receptor Refere-se à vulnerabilidade inerente dos componentes ou re- ceptores ambientais às mudanças em seu entorno. Diferentes espécies, ecossistemas e até comunidades humanas podem apresentar vários graus de sensibilidade às mudanças am- bientais. A identificação da sensibilidade do receptor ajuda a avaliar como os diferentes componentes do ambiente podem responder a impactos específicos. Magnitude Quantifica a extensão e a escala das mudanças que uma ati- vidade ou projeto pode provocar no meio ambiente. Envolve avaliar o tamanho, a intensidade e a duração do impacto, que pode variar de pequeno e localizado a grande e generalizado. Significância Determinar a significância de um impacto envolve avaliar os seus potenciais consequências em relação aos critérios ou padrões estabelecidos. Um impacto é considerado significati- vo se exceder limites predeterminados ou se conduzir a efei- tos adversos no ambiente, na saúde pública ou no bem-estar social. Cumulatividade Avalia o resultado do efeito combinado de múltiplas atividades ou projetos ao longo do tempo. Esse acúmulo pode ser gra- dual, conduzindo a alterações ambientais mais substanciais e complexas do que os impactos individuais. A avaliação dos impactos cumulativos é essencial para compreender a susten- tabilidade a longo prazo das atividades de desenvolvimento. Fonte: elaborado pelo autor. 30 Os descritores e critérios típicos para a sensibilidade de um receptor são listados no Quadro 2, enquanto as características quanto às magnitudes são descritas no Quadro 3. Quadro 2 – Determinação da sensibilidade do receptor Sensibilidade Descrição Muito alta Importância e raridade muito elevadas, escala internacional e potencial muito limitado para substituição. Alta Alta importância e raridade, escala nacional e potencial limitado para substituição. Média Alta ou média importância e raridade, escala regional, limitado potencial de substituição. Baixa Baixa ou média importância e raridade, escala local. Negligenciável Importância e raridade muito baixas, escala local. Fonte: adaptado de Sánchez (2013). Quadro 3 – Determinação da magnitude Magnitude Descrição Maior Perda de recurso e/ou qualidade e integridade do receptor, danos graves às principais características, recursos ou elementos. Moderado Perda de recurso, mas não afetando a integridade, perda parcial e/ou danos às principais características, recursos ou elementos. Menor Alguma mudança mensurável em atributos, qualidade ou vulnerabilidade, pequena perda ou alteração de uma ou mais características-chave. Negligenciável Perda ou alteração prejudicial muito pequena a uma ou mais características ou elementos. Sem mudança Nenhuma perda ou alteração de características ou elementos, nenhum im- pacto observável em qualquer direção. Fonte: adaptado de Sánchez (2008). A atribuição da significância do impacto depende de argumentos e julgamentos e a consideração dos vários pontos de vista levantados durante o processo de consulta (Rincão; Trigueiro, 2018), como mostra o Quadro 4. 31 Quadro 4 – Determinação da significância dos impactos Significância Descrição Muito grande Apenas impactos adversos são normalmente atribuídos a este nível de signi- ficado, e representam fatores-chave na tomada de decisão do processo. São geralmente – mas não exclusivamente – associados a atividades e/ou em- preendimentos capazes de promover dano e impacto e perda de integridade. Grande Esses impactos benéficos ou adversos são considerados muito importantes. São pertinentes no processo de tomada de decisão. Moderado Esses impactos benéficos ou adversos podem ser importantes, mas prova- velmente não são fatores-chave de tomada de decisão. Os efeitos cumulati- vos de tais fatores podem influenciar a tomada de decisão se levarem a um aumento no impacto sobre um determinado recurso ou receptor. Pequeno Esses impactos benéficos ou adversos podem ser levantados como fatores locais. É improvável que sejam críticos na tomada de decisões no processo, mas são importantes para melhorar a subsequente concepção do projeto. Neutro Sem impactos ou abaixo dos níveis de percepção, dentro dos limites normais de variação ou dentro da margem de erro de previsão. Fonte: adaptado de Sánchez (2008). Dessa forma, se pudéssemos resumir todos esses conceitos, poderíamos admitir que os impactos cumulativos podem ser compreendidos como a integração da interação dos efeitos de todas as ações atuais e razoavelmente previsíveis ao longo do tempo e do espaço (Rincão; Trigueiro, 2018). 2. Estudos ambientais A avaliação de impacto ambiental (AIA) é um processo crítico que desempenha um papel fundamental no desenvolvimento sustentável e na tomada de decisões responsáveis. É uma abordagem sistemática e multidisciplinar usada para avaliar as potenciais consequências ambientais de projetos, políticas ou atividades propostas. Em uma era em que as considerações ambientais são de suma importância, as metodologias de AIA servem como ferramentas indispensáveispara a compreensão e gestão das complexas interações entre as atividades humanas e o ambiente. 32 A AIA envolve o uso de métodos qualitativos e quantitativos (Quadro 5) para fornecer suporte às autoridades para decidir com base em fatos científicos. Assim, ferramentas relacionadas ao AIA foram desenvolvidas visando métodos mais rápidos, objetivos e flexíveis, abordando a avaliação qualitativa ou quantitativa. Quadro 5 – Ferramentas utilizadas na avaliação de impacto ambiental Tipo Ferramenta Definição Quantitativa Listas de verificação para avaliação de impacto (checklists) Avaliação preliminar baseada em uma lista existente de pergun- tas que também podem ser aplicadas por especialistas não am- bientais. É considerado um método muito subjetivo. Quantitativa Avaliação de risco ambiental (ARA) O objetivo principal é identificar, analisar e avaliar os riscos que podem surgir de determinadas atividades antrópicas ou in- dustriais. O método completa o procedimento de avaliação de impacto ambiental com o volume de informações, qualidade e objetividade, sendo uma ferramenta importante para o processo decisório. Qualitativa Matriz de Leopold É um dos primeiros métodos de EIA ainda em uso, e avalia os efeitos nocivos dos projetos de desenvolvimento. Foi desenvolvido dentro dos requisitos da Agência Ambiental dos Estados Unidos em 1970. Qualitativa Método Battelle Co-lumbus É um dos métodos quantitativos destinados a avaliar os impac- tos do desenvolvimento dos recursos hídricos, planos de gestão da qualidade da água etc. A avaliação do impacto ambiental é dividida em quatro categorias: ecologia, poluição, estética e inte- resse humano. Qualitativa Matriz de escala de importância Envolve a comparação dos parâmetros considerados na avalia- ção de impacto, usando a escala de importância (leve, modera- da, forte, dominante etc.). Os parâmetros podem referir-se aos indicadores de qualidade dos componentes ambientais (ar, solo, água). A matriz de importância é desenvolvida com base na opi- nião do grupo de especialistas. Considera-se que tem subjetivi- dade mínima com resultados mais precisos e confiáveis. Qualitativa Matriz de avaliação rápida de impacto Seu principal objetivo é realizar uma série de operações para comparar diversas variáveis, e as etapas de avaliação incluídas neste método permitem estimativas qualitativas e quantitativas. Qualitativa Ad hoc (AHP) É a abordagem de tomada de decisão multicritério mais importante, que facilita a tomada de decisão qualitativa, quanti- tativa ou combinada adequada. Este método tem a capacidade de controlar e reduzir a inconsis- tência de julgamentos de especialistas. 33 Qualitativa Avaliação do ciclo de vida (ACV) Foi desenvolvido para identificar e avaliar os impactos ambien- tais gerados por produtos e serviços para todo o ciclo, do berço ao túmulo. É considerado um processo complexo, demorado e caro. Qualitativa Abordagens integra-das/índice integrado O método integrado foi desenvolvido para quantificar simulta- neamente os impactos ambientais e os riscos associados, com base nos mesmos dados de entrada utilizados no EIA e com base em um algoritmo. Em sua primeira etapa, quantifica os impactos em função da concentração medida de determinados poluentes e, em segui- da, o risco associado a cada impacto é quantificado como uma funcionalidade direta. O método foi posteriormente adaptado e aprimorado para ser aplicado em diversas situações, considerando quatro compo- nentes ambientais (águas superficiais, águas subterrâneas, ar e solo). Fonte: adaptado de Sánchez (2013) e de Rincão e Trigueiro (2018). Os métodos quantitativos ganharam mais atenção desde as primeiras aplicações do AIA; assim, com as listas de verificação, as ferramentas quantitativas mais utilizadas foram as matrizes Leopold e Ad hoc. Veja, a seguir, uma explicação de como funcionam tais metodologias. 2.1 Checklist Os chamados checklists, ou listas de verificação, são mais amplamente utilizadas nos países em desenvolvimento pelas autoridades para orientar os autores do EIA em seu pensamento. O princípio desse método é fornecer uma estrutura aos autores de AIA para que eles não esqueçam nenhum ponto importante. Checklists são boas ferramentas, mas não podem levar em consideração todos os casos particulares que podem ser atendidos durante um AIA; no entanto, geralmente são suficientes para projetos de pequena escala. Esse método pode, ainda, ser combinado com o uso de diretrizes ambientais, amplamente propostas por autoridades ou agências doadoras. Embora os métodos do tipo EIA estejam disponíveis para diferentes atividades, são fornecidas listas de verificação tanto para vários setores de atividade (indústrias, silvicultura, agricultura etc.) como para os diferentes tipos de áreas afetadas (zonas úmidas, florestas tropicais, zonas costeiras etc.). 34 2.2 Método Ad hoc O método Ad hoc indica amplas áreas de possíveis impactos, listando parâmetros (por exemplo, flora e fauna) suscetíveis de serem afetados pela atividade proposta ou qualquer desenvolvimento. Ele envolve a montagem de uma equipe de especialistas, que identificam os impactos na sua área de especialização. Neste método, cada parâmetro é considerado separadamente, e a natureza dos impactos (longo ou curto prazo, reversíveis ou irreversíveis etc.) também é levada em conta. O método Ad hoc fornece uma avaliação aproximada do impacto total, ao mesmo tempo que fornece as áreas amplas e a natureza geral dos possíveis impactos. No Ad hoc, o avaliador conta com uma abordagem intuitiva e faz uma avaliação qualitativa de base ampla, servindo como uma avaliação e ajuda na identificação de áreas importantes, como vida selvagem, espécies ameaçadas, vegetação natural, vegetação exótica, pastoreio, características sociais, drenagem natural, água subterrânea, ruído, qualidade do ar, espaço aberto, recreação, saúde e segurança, valores econômicos e equipamentos públicos. Esse método é muito simples e pode ser realizado sem qualquer treinamento e quando o período é limitado. Não envolve qualquer ponderação relativa ou qualquer relação de causa-efeito e, por isso, não é recomendado quando métodos mais científicos estão disponíveis (Sánchez, 2008). 2.3 Matriz de Leopold Há também a Matriz de Leopold, um método qualitativo de AIA desenvolvido, em 1971, por Luna Leopold e colaboradores, para a Agência Americana de Geologia (Sánchez, 2008). É usado para identificar 35 e atribuir pesos numéricos aos potenciais impactos ambientais dos projetos propostos em relação ao meio ambiente. O sistema é uma referência cruzada de matriz bidimensional, contendo as atividades vinculadas ao projeto que devem ter impacto sobre o homem e o meio ambiente versus as condições ambientais e sociais existentes que poderiam ser afetadas pelo projeto. A matriz Leopold propõe um framework – estratégias e ações que visam solucionar um tipo de problema – para todos os desenvolvedores; por um lado, é muito detalhada para projetos de papel e celulose e, por outro, não é suficientemente precisa para tais projetos. Geralmente, é mais eficiente acomodar o projeto conforme necessário e desenvolver uma matriz personalizada para ele. Um exemplo de uma possível matriz de Leopold é mostrado na Quadro 6. Quadro 6 – Matriz de Leopold adaptada para diagnóstico de impacto ambiental no Cemitério Público de Queimadas – PB Local M ag ni tu de * Du ra çã o N at ur ez a Te m po ra lid ad e Re ve rs ib ili da de Fo rm a Im po rt ân ci a do im pa ct o Te m po rá rio Pe rm an en te Po siti vo N eg ati vo Cu rt o pr az o M éd io p ra zo Lo ng o pr az o Re ve rs ív el Irr ev er sív el Di re to In di re to Solo e geologia 7 X X X X X X Esgoto sanitário 3 X X X X X X Águas superficiais 8 X X X X X Agrotóxicos 4 X X X X X X Qualidade do ar 4 X X X X X X Metais pesados 2 X X X X X Fauna 6 X X X X X X Flora 9 X X X X X XPaisagem urbana 5 X X X X X Paisagem natural 10 X X X X X 36 Atividades econô- micas 8 X X X X X X X * Legenda: Magnitude do Impacto: 1 – 3: Pouco Importante; 3 – 6: Médio Importante; 7 – 10: Muito Importante. Fonte: adaptada de Albuquerque, Cerqueira e Albuquerque (2016). Uma das falhas fundamentais desse método é a falta de critérios ou métodos padronizados para atribuir valores de magnitude e significância que podem levar a julgamentos subjetivos. Na mesma linha, o método também foi identificado como sem a capacidade de facilitar qualquer grau de envolvimento público, principalmente em função dos julgamentos de valor subjetivos do usuário. O tamanho da matriz também foi criticado, por ser muito detalhada para alguns projetos e, ao mesmo tempo, muito imprecisa para outros (Sánchez, 2008). As metodologias utilizadas para avaliação de impacto ambiental são diversas e adaptáveis, permitindo que as AIA sejam adaptadas às características únicas de cada projeto ou política. O seu objetivo coletivo é fornecer aos tomadores de decisão uma compreensão abrangente das potenciais consequências ambientais e ajudar a orientar o desenvolvimento de soluções sustentáveis que minimizem os impactos negativos e promovam uma gestão ambiental responsável. Referências ALBUQUERQUE, H. N.; CERQUEIRA, J. S.; ALBUQUERQUE, I. S. S. Impactos ambientais no cemitério público de Queimadas-PB, Brasil. Revista Espacios, v. 38, n. 37, 2017. RINCÃO, V. P.; TRIGUEIRO, R. de M. Avaliação do impacto ambiental e licenciamento. Londrina: Editora e Distribuidora Educacional S.A., 2018. SÁNCHEZ, L. E. Avaliação de impacto ambiental: conceitos e métodos. São Paulo: Oficina de Textos, 2008. SÁNCHEZ, L. E. Avaliação de Impacto Ambiental: conceitos e métodos. 2. ed. São Paulo: Oficina de Textos, 2013. 37 AIA e Licenciamento Ambiental Autoria: João Vitor Rodrigues de Souza Leitura crítica: Ana Beatriz Ulhoa Cobalchini Objetivos • Identificar e analisar a legislação aplicável para o processo de licenciamento ambiental. • Apresentar os instrumentos legais para avaliação de impactos e licenciamento ambiental. • Desenvolver as competências necessárias para a realização de pedido de licenciamento ambiental, assim como entender a necessidade do ato de licenciar. 38 1. Introdução ao Licenciamento Ambiental O licenciamento ambiental pode ser compreendido como um procedimento pelo qual o poder público, representado por órgãos ambientais, autoriza e acompanha a implantação e a operação de atividades ou empreendimentos que utilizam recursos naturais ou que sejam efetivas ou potencialmente poluidoras. Em termos legais, o entendimento é expresso pela Resolução do Conselho Nacional do Meio Ambiente – Conama n. 237/1997 (Conama, 1997): Procedimento administrativo pelo qual o órgão ambiental competente licencia a localização, instalação, ampliação e a operação de empreendimentos e atividades utilizadoras de recursos ambientais, consideradas efetiva ou potencialmente poluidoras ou daquelas que, sob qualquer forma, possam causar degradação ambiental, considerando as disposições legais e regulamentares e as normas técnicas aplicáveis ao caso (Conama, 1997, p. 1). Embora o licenciamento ambiental seja previsto desde a Política Nacional de Meio Ambiente (Brasil, 1981), a sua aplicação como instrumento de política ambiental foi sendo aprimorada ao longo do tempo, e foi introduzido na legislação ambiental de estados e municípios. Como nem todas as atividades estão sujeitas ao licenciamento ambiental, a forma textual por meio da qual essa obrigatoriedade é tratada na legislação gerou certa controversa. Algumas redações trazem a expressão “atividades”, enquanto outras falam em “estabelecimentos”, e assim por diante. Cabe à legislação ambiental do local onde está implantado o empreendimento ou onde se desenvolve a atividade estabelecer quais delas estão sujeitas ao licenciamento ambiental. A Resolução Conama n. 237/97 trouxe em seu Anexo I essas atividades a título de exemplificação 39 e, como as deliberações do referido conselho tem alcance em todo o território nacional, tornou-se a referência para as legislações ambientais estaduais e municipais que vieram em seguida (Conama, 1997). Por vezes, há também o entendimento de que os órgãos ambientais não podem dispensar do licenciamento ambiental os itens incluídos no Anexo I da Resolução Conama n. 237, não havendo, portanto, margem para discricionariedade administrativa (Sánchez, 2013). 2. Etapas do Licenciamento Ambiental As licenças ambientais são estabelecidas pelo Decreto n. 99.274/1990, em seu artigo 19, e detalhadas na Resolução Conama n. 237 (Conama, 1997), e são denominadas como: licença prévia (LP), licença de instalação (LI) e licença de operação (LO). Para obter a LP de um empreendimento, o empreendedor deve procurar o órgão ambiental competente ainda na fase preliminar de planejamento do projeto. Inicialmente, o órgão ambiental definirá, com a participação do empreendedor, os documentos, projetos e estudos ambientais necessários para dar início ao processo de licenciamento (Davis, 2016). Em seguida, o empreendedor contratará a elaboração dos estudos ambientais, que deverão contemplar todos os requisitos determinados pelo órgão licenciador na primeira reunião. Concluída a análise, o órgão licenciador emitirá parecer técnico conclusivo e estabelecerá as medidas mitigadoras que deverão ser consideradas na implantação do projeto. O cumprimento destas medidas é condição para obtenção da segunda licença (licença de instalação). A respeito da LP, é importante ressaltar, ainda, que (Davis, 2016): 40 • Somente será concedida nos casos em que o empreendimento tenha viabilidade ambiental, verificada pelo estudo de impacto ambiental (EIA). • Uma vez emitida, a LP aprova a localização e o desenho do empreendimento, estabelecendo os requisitos básicos e condições a serem atendidas nas próximas fases de sua implantação. • O prazo de validade poderá ser prorrogado até o máximo de cinco anos, caso tenha sofrido atrasos, a pedido do titular da licença. • Não autoriza o início de quaisquer obras destinadas à implantação do empreendimento. A solicitação da LI deve ser dirigida ao mesmo órgão ambiental que emitiu a LP. Ao solicitar a licença de instalação, o empreendedor deverá verificar o cumprimento das condições estabelecidas na licença anterior; apresentar os planos, programas e projetos ambientais, cronogramas detalhados e sua implementação; e fornecer um detalhamento das partes da engenharia de projetos que se relacionam com questões ambientais. Os planos, programas e projetos ambientais serão analisados pelo órgão ambiental responsável e, se necessário, por órgãos ambientais de outras esferas de governo (Sánchez, 2013). Após essa análise, é elaborado parecer pericial com posicionamento favorável ou contrário à concessão da licença de instalação. A LI (Conama, 1997): • Autoriza a instalação/construção do empreendimento, de acordo com as especificações contidas nos programas e projetos aprovados pela licença anterior. • Aprova a pré-operação, visando à obtenção de dados e elementos de desempenho necessários para subsidiar a concessão da LO. • O prazo de validade poderá ser prorrogado até o máximo de 6 (seis) anos, desde que comprovada a manutenção do projeto 41 original e das condições ambientais existentes à época de sua concessão. • Não autoriza o início das atividades. Finalmente, para a obtenção da LO, o empreendedor deverá comprovar ao mesmo órgão ambiental que concedeu a licença anterior que: implementou todos os programas ambientais que deveriam ter sido executados durante a vigência da LI; implementou o cronograma físico e financeiro do projeto de compensação ambiental; cumpriu todas as condições estabelecidas na concessão da LI. A LO autoriza a operação do empreendimento, após verificação do efetivo cumprimento das licenças anteriores, com base em laudos de vistoria,relatórios pré-operação, relatórios de auditoria ambiental, dados de monitoramento ou qualquer meio técnico de verificação do porte e eficiência das medidas de controle e mitigação ambiental implementado. O prazo de validade desta licença é de no mínimo quatro anos e no máximo 10 anos (Conama, 1997). 3. Modalidades de Licenças Muito embora tenhamos visto que o procedimento padrão do licenciamento ambiental é a obtenção das licenças separadamente, conforme a fase da implantação do projeto, a Resolução Conama n. 237 (Conama, 1997) abre a possibilidade de licenças diferentes em função da característica do empreendimento, obra, serviço etc. No art. 12, o texto faz a seguinte menção (Conama, 1997): Art. 12–O órgão ambiental competente definirá, se necessário, procedimentos específicos para as licenças ambientais, observadas a natureza, características e peculiaridades da atividade ou empreendimento e, ainda, a compatibilização do processo de licenciamento com as etapas de planejamento, implantação e operação (Conama, 1997, p. 2). 42 Assim, a legislação ambiental do ente federativo definirá os padrões e as modalidades de licenciamento que possam ser executados pelos empreendimentos. Ainda que cada unidade federativa tenha tal autonomia estabelecida por lei e, por consequência, gere modalidades distintas, é comum se deparar com as seguintes nomenclaturas comuns entre eles: • Licenciamento trifásico e/ou concomitante: modalidade de licenciamento que, conforme a legislação regional, possibilita a obtenção de mais de uma licença de forma simultânea, isto é, licença prévia + licença de instalação, ou licença de instalação + licença de operação. • Licenciamento ambiental corretivo: esta modalidade é prevista, em suma, para ocasiões em que a atividade e/ou empreendimento já se encontra em fase de operação, mas não tem licença ambiental para tal. • Licenciamento ambiental simplificado: modalidade de licenciamento comumente empregado nos Estados para atividade ou obra caracterizada como de pequeno porte e/ou que tenha baixo potencial poluidor/degradador. Os empreendimentos que serão obrigados a obter licença ambiental serão elencados na legislação ambiental local, seguindo a lista de referência presente no Anexo I da Resolução n. 237 (Conama, 1997) – o que significa que atividades que não façam parte desta listagem não precisam de licença ambiental. Entretanto, em certas ocasiões, o empreendedor necessita de um documento que ateste que sua atividade é dispensada do licenciamento ambiental, para poder apresentá-lo em processos licitatórios, obtenção de crédito, fiscalizações e auditorias etc. O órgão ambiental poderá, então, emitir outro documento, comumente denominado Declaração de Dispensa de Licenciamento Ambiental. 43 Cabe ressaltar ainda que a instalação, construção, reforma ou operação em qualquer parte do território nacional de atividades, obras ou serviços potencialmente poluidores, sem licença ou autorização dos órgãos ambientais competentes, incorre em pena de prisão e/ou multa na Lei Federal n. 9.605, de 12 de fevereiro de 1998, que discorre sobre sanções penais e administrativas derivadas de condutas e atividades lesivas ao meio ambiente (Brasil, 1998). 4. Estudos, Planos e Programas ambientais Estudos, planos e programas ambientais são comumente citados como o mesmo tipo de documento, e com a mesma finalidade. Porém, torna- se fundamental distingui-los quanto ao momento em que podem ser solicitados, bem como quanto à função básica diante da proteção dos recursos naturais. Um estudo ambiental é um documento de orientação para medir e atingir a conformidade com os requisitos de proteção e mitigação ambiental de um projeto, que normalmente são requisitos para autorizações/aprovações de projetos. Os documentos contidos no estudo ambiental podem ser apresentados no estágio de planejamento e aprovação do projeto para informar às agências reguladoras que o proponente concordou em seguir estratégias de gerenciamento para evitar e mitigar os impactos ambientais durante as obras do projeto (Sánchez, 2013). De forma geral, o estudo ambiental é requisitado pelo órgão ambiental como uma etapa necessária à obtenção da licença prévia (LP). Nesta categoria, estão, entre outros: • Estudo de impacto ambiental (EIA). • Relatório de impacto ambiental (RIMA). • Relatório ambiental simplificado. 44 • Estudo ambiental preliminar. • Relatório ambiental preliminar. Para a elaboração do estudo, é comum que o órgão ambiental emita um termo de referência (TR), que servirá como roteiro básico para nortear o trabalho a ser executado (Sánchez, 2013). Por outro lado, os programas ou planos ambientais são documentos que trazem um conjunto de medidas a serem adotadas visando à minimização e/ou mitigação dos impactos ambientais relacionados a atividade/empreendimentos (Sánchez, 2013). Em suma, os programas ou planos ambientais consistem em um conjunto de diretrizes destinados a: garantir que os proponentes assumam a responsabilidade primária pela implementação dos compromissos ambientais; formar uma base para decisões estatutárias a respeito da possibilidade de uma proposta prosseguir; e determinar a base para o gerenciamento e monitoramento ambiental contínuo, caso o desenvolvimento prossiga (Davis, 2016). A execução do programa é a aplicação prática do que foi planejado previamente. Geralmente, tal execução é realizada de forma concomitante à atividade licenciada, podendo ser posterior, de acordo com a situação. Neste contexto, são exemplos de programas/planos ambientais: • Plano Básico Ambiental (PBA). • Plano de Controle Ambiental (PCA). • Plano de Gerenciamento de Resíduos (PGRS). • Plano de Monitoramento Ambiental. • Plano de Recuperação de Áreas Degradadas (PRAD). • Programa de Compensação Ambiental. 45 • Programa de Educação Ambiental (PEA). Com base na constatação da avaliação de impacto, os planos e programas são elaborados para minimizar os impactos adversos e enumerar várias etapas a serem tomadas para a melhoria do ambiente (Davis, 2016). Os planos e programas auxiliam na formulação, implementação e monitoramento de parâmetros ambientais durante e comissionamento do projeto, e são ferramentas que visam garantir um ambiente seguro e limpo. Um projeto pode ter identificado medidas de mitigação adequadas, mas sem um plano de manejo para executá-lo, os resultados desejados podem não ser obtidos. O plano de gestão prevê a implementação adequada de medidas de mitigação para reduzir os impactos adversos decorrentes das atividades do projeto (Davis, 2016). Referências BRASIL. Lei n. 6.938, de 31 de agosto de 1981. Dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente, seus fins e mecanismos de formulação e aplicação, e dá outras providências. Brasília, DF: Presidência da República, 1981. Disponível em: www. planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l6938.htm. Acesso em: 12 nov. 2022. BRASIL. Lei Federal N. 9.605, de 12 de fevereiro de 1998. Dispõe sobre as sanções penais e administrativas derivadas de condutas e atividades lesivas ao meio ambiente, e dá outras providências. Brasília, DF: Presidência da República, 1998. Disponível em http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9605.htm. Acesso em: 17 set. 2023. CONAMA. Conselho Nacional do Meio Ambiente. Resolução n. 237, de 19 de dezembro de 1997. Dispõe sobre conceitos, sujeição, e procedimento para obtenção de licenciamento ambiental, e dá outras providências. Disponível em: https://conama.mma.gov.br/?option=com_sisconama&task=arquivo. download&id=237. Acesso em: 18 set. 2023. DAVIS, M. L. Princípios de engenharia ambiental. Porto Alegre: AMGH, 2016. SÁNCHEZ, L. E. Avaliação de Impacto Ambiental: conceitos e métodos. 2. ed. São Paulo: Oficina de Textos, 2013. https://conama.mma.gov.br/?option=com_sisconama&task=arquivo.download&id=237 https://conama.mma.gov.br/?option=com_sisconama&task=arquivo.download&id=237 46 Sumário Apresentação da disciplina ObjetivosObjetivos Objetivos Objetivos