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<p>MARCELO DE PAIVA ABREU DIONÍSIO DIAS CARNEIRO GUSTAVO H. B. FRANCO</p><p>WINSTON FRISTCH LUIZ ARANHA CORRÊA DO LAGO EDUARDO MARCO</p><p>MODIANO LUIZ ORENSTEIN DEMÓSTHENES MADUREIRA DE PINHO NETO ANDRÉ</p><p>LARA RESENDE ANTÔNIO CLÁUDIO SOCHACZEWSKI SÉRGIO BESSERMAN VIANNA</p><p>MARCELO DE PAIVA ABREU (ORGANIZADOR)</p><p>A ORDEM DOA ORDEM DO</p><p>PROGRESSOPROGRESSO</p><p>CEM ANOS DE POLÍTICA</p><p>ECONÔMICA REPUBLICANA</p><p>1889-1989</p><p>RESUMO</p><p>BERNARDO LANZA QUEIRÓZ BRUNO CARAZZA DOS SANTOS CARLA AGUIAR</p><p>GUSTAVO DE BRITTO ROCHA GUSTAVO C. PATRÍCIO HUMBERTO CARLOS FARIA</p><p>TEIXEIRA JANETE DUARTE MARIA FERNANDA DIAMANTE BASQUES MATHEUS</p><p>ALBERGARIA DE MAGALHÃES PATRÍCIA ALVARENGA</p><p>BRUNO CARAZZA GUSTAVO BRITTO MATHEUS ALBERGARIA</p><p>(ORGANIZADORES)</p><p>SUMÁRIO</p><p>Capítulo 1- A Primeira Década Republicana............................................................................................3</p><p>Capítulo 2 - Apogeu e Crise na Primeira República: 1900-1930..............................................................6</p><p>Capítulo 3 - Crise, Crescimento e Modernização Autoritária, 1930-45....................................................9</p><p>Capitulo 4 - Política Econômica Externa e Industrialização: 1946-1951................................................11</p><p>Capítulo 5 – Duas Tentativas de Estabilização: 1951-1954....................................................................13</p><p>Capítulo 6 - O Interregno Café Filho: 1954-55.......................................................................................17</p><p>Capítulo 7– Democracia com Desenvolvimento – 1956-61....................................................................20</p><p>Capítulo 8 - Inflação, Estagnação e Ruptura: 1961-1964........................................................................23</p><p>Capítulo 9 - Estabilização e Reforma: 1964 / 1967 ................................................................................28</p><p>Capítulo 10 - A Retomada do Crescimento e as Distorções do “Milagre”: 1967-1973...........................32</p><p>Capítulo 11 - Crise e Esperança: 1974-1980...........................................................................................37</p><p>Capítulo 12 – Ajuste Externo e Desequilíbrio Interno: 1980-1984.........................................................43</p><p>Capítulo 13 - “A ópera dos três cruzados: 1985-1989”...........................................................................48</p><p>2</p><p>CAPÍTULO 1- A PRIMEIRA DÉCADA REPUBLICANA</p><p>Gustavo H. B. Franco</p><p>(Gustavo C. Patrício)</p><p>1. Introdução</p><p>A primeira década do regime republicano foi das mais difíceis para a política econômica. Tais</p><p>dificuldades devem-se ao fato de que ai observam-se os momentos cruciais de importantes transformações</p><p>"estruturais" na economia do país, destacadamente a súbita disseminação do trabalho assalariado no campo e o</p><p>reordenamento da inserção do país na economia internacional.</p><p>A década de 90 seria memorável em seus debates em torno da orientação a ser dada a política</p><p>macroeconômica. A República teria como seu primeiro ministro da Fazenda um campeão papelista de indiscutível</p><p>talento, Rui Barbosa. Uma depreciação cambial em 1891 inauguraria um período de hesitações e de progressiva</p><p>deterioração das contas externas, recebendo em contra partida, uma reação conservador avassaladora, a partir de</p><p>meados da década, e em 1898, o país lavaria um plano conservador de saneamento monetário e fiscal as suas</p><p>últimas conseqüências. Os anos 90 conhecem, portanto, ambos os extremos do espectro doutrinário.</p><p>2. O Brasil e a Economia Internacional</p><p>O crescente envolvimento do Brasil com a economia internacional constitui um traço fundamental, da</p><p>história econômica do país nos últimos anos do século XIX. O valor das exportações per capita, contudo, não</p><p>chega a definir o Brasil como uma economia especialmente "aberta". Além disso, a participação brasileira sobre o</p><p>comércio mundial é ainda, muito pequena, inferior a 1% em 1913.</p><p>A participação brasileira no tocante ao investimento internacional é bem mais substancial. O montante do</p><p>estoque de capital estrangeiro no Brasil em 1913, incluindo-se ai investimentos inglese, franceses, alemães e</p><p>norte-americanos, diretos e de carteira representa cerca de 30% do total para a América Latina e 5,4% do total</p><p>mundial.</p><p>Ao longo dos anos 90 a convivência do país com os mercados financeiros internacionais se enriquece</p><p>sobremaneira. A conta capital passa a ter importância crescente no contexto das contas externas do país, tornando-</p><p>se um mecanismo através do qual a instabilidade da receita comercial poderia ser compensada, e que também</p><p>permitia a manutenção de níveis de absorção maiores do que seria possível na ausência de capitais externos, em</p><p>contra partida, argumenta-se comumente que é exatamente, na articulação perversa entre movimentos de capital e</p><p>as contas comerciais que se devem procurar as raízes da instabilidade macroeconômica a que esteve sujeita a</p><p>economia brasileira em sua fase caracteristicamente, primário-exportadora.</p><p>Este é, na verdade, um debate que extravasa a historiografia brasileira. Os mesmos mecanismos que</p><p>asseguram estabilidade macroeconômica nos países centrais implicam instabilidade nos países da chamada</p><p>periferia. A evidência disponível no que tange aos países centrais não é definitiva, mas parece apontar na direção</p><p>de um comportamento contracíclico em se tratando de saídas de capital, e pró-cíclico no que respeita aos termos</p><p>de troca. Para o Brasil em particular, convém observar que, tomando o período 1870-1900, como um todo, a</p><p>correlação entre movimentos de capital e termos de troca não revela nenhum padrão dominante.</p><p>A relação entre movimentos de capital e a evolução da capacidade para importar melhor informa sobre a</p><p>influência daquele sobre o estado das contas externas do país e consequentemente, sobre as flutuações da taxa de</p><p>câmbio. Em dois períodos onde as entradas de capital são reduzidas, 1876-1883 e ao longo dos anos 90, de fato se</p><p>observaram dificuldades cambiais. A depreciação cambial assume dimensões de crise em 1891, em função disso,</p><p>observa-se uma significativa desvalorização real da taxa de câmbio, o que certamente teve papel importante em</p><p>reduzir o déficit em conta corrente. Esta forma de ajustamento fornece talvez um dos melhores exemplos</p><p>disponíveis do que se convencionou chamar, segundo análise pioneira de Furtado, de "socialização das perdas".</p><p>No tocante à crise de 1891 a interpretação tradicional atribui o colapso cambial a expansão monetária</p><p>provocada em última instância, pelas reformas no sistema monetário introduzidas por Rui Barbosa em 1890, o que</p><p>também se aplica a crise que nos levou a moratória de 1898. É comum o viés no sentido de se explicar as</p><p>flutuações cambiais nos anos 90 através das variações no preço do café. Vários estudos não são conclusivos,</p><p>gerando dúvidas sobre interpretações simplistas da relação entre taxa de câmbio, a moeda e aos termos de troca.</p><p>3. Trabalho Assalariado e a Política Monetária</p><p>O aumento da importância relativa do setor assalariado representou uma mudança qualitativa na</p><p>organização econômica do país. Esta transição teve grande impacto monetário, com elevado grau de monetização</p><p>e demanda por moeda na economia pela atividade agrícola, por exemplo.</p><p>O sistema bancário, àquela época, era bastante concentrado na capital e seu incipiente desenvolvimento o</p><p>tornava vulnerável às variações sazonais na procura por crédito e nos seus depósitos. Uma baixa propensão do</p><p>3</p><p>público para reter moeda sob forma de depósitos bancários impunha uma limitação estrutural à capacidade dos</p><p>bancos de expandir seus empréstimos, ou créditos.</p><p>Uma preocupante sucessão de crises na década de 1880, com crescente gravidade à medida que se</p><p>aproximava o ano da Abolição, resultou em tornar inoportuna a política monetária deflacionista.</p><p>Neste contexto, surgiu o primeiro grande projeto de reforma monetária, apresentado ao Senado em 1887.</p><p>Contrapunham-se idéias sobre</p><p>monetária creditícia. Esse período também é marcado pela ampliação do crédito ao setor produtivo, especialmente</p><p>a agricultura.</p><p>18</p><p>Política Fiscal – Gudin considerava o processo inflacionário como fruto da expansão monetária (já</p><p>combatida pelo programa contracionista descrito acima) e dos déficits públicos. Para combater esse segundo</p><p>ponto, Gudin pretendia ampliar a arrecadação mediante a elevação da carga tributária, e reduzir as despesas.</p><p>Devido às dificuldades de aprovar no Congresso uma medida impopular, Gudin só conseguiu uma redução da</p><p>dotação de verbas para os ministérios, reduzindo a participação do governo na formação bruta do capital.</p><p>19</p><p>CAPÍTULO 7– DEMOCRACIA COM DESENVOLVIMENTO – 1956-61</p><p>Luiz Oreinstein e Antônio Cláudio Sochaczewski</p><p>(Bruno Carazza)</p><p>O Brasil encontrava-se em meados da década de 1950 num dilema que envolvia a necessidade de levar</p><p>adiante o processo desenvolvimentista de substituição de importações e a queda no saldo disponível das divisas</p><p>internacionais. A diminuição das receitas de exportação e o aumento das importações – que determinavam o</p><p>desajuste externo – contrastava com a necessidade de aumentar a entrada de bens de capital e matérias-primas</p><p>para incentivar o crescimento industrial. A única solução viável para esse problema de Balanço de Pagamentos</p><p>(BP) seria a entrada líquida de capitais autônomos, a fim de manter alta a taxa de investimento e não afetar o fluxo</p><p>de importações. Para tanto o governo JK tomou como uma das medidas iniciais de seu governo a criação de um</p><p>arcabouço institucional para estimular a entrada de capital, mesmo que isso se desse a custo de maiores pressões</p><p>no BP.</p><p>O governo levou adiante ainda uma reforma cambial (1957), reduzindo as taxas múltiplas (de 5 para 2, a</p><p>geral e a especial, que tornava certas importações mais caras), impondo tarifas ad-valorem e desvinculando</p><p>recursos obtidos com os leilões cambiais (permitindo assim maior flexibilidade de gastos do setor público). De um</p><p>modo geral essa reforma buscou compatibilizar a contradição entre prover a importação a baixo custo de</p><p>equipamentos e matérias-primas e estimular a produção interna.</p><p>Essa determinação em levar adiante com maior fôlego o processo de desenvolvimento era evidente desde</p><p>a posse do governo. Além dessas medidas de reforma cambial e estímulo à entrada de capitais, o governo JK já no</p><p>início de 1956 criou o Conselho de Desenvolvimento, encarregado de elaborar o que no final do ano foi lançado</p><p>como Plano de Metas, que resumia os objetivos de atuação das esferas pública e privada no estímulo ao</p><p>crescimento econômico.</p><p>O Plano de Metas baseou-se nos diagnósticos elaborados por programas como o CEPAL-BNDE (1953),</p><p>e da Comissão Mista Brasil Estados Unidos (CMBEU, segundo governo Vargas), que definiam áreas-chave de</p><p>investimento e os pontos de gargalo da economia brasileira. O plano trabalhava com um espaço de tempo de 5</p><p>anos e definia o campo de atuação do Estado em investimentos em áreas básicas e de infra-estrutura e no estímulo</p><p>aos investimentos privados. Contemplava-se cinco áreas principais: energia, transporte, alimentação, indústria de</p><p>base e educação, além da construção de Brasília (que não estava orçada no Plano). Do total de recursos</p><p>necessários para tanto, 71,3% se concentrariam nos setores de energia e transporte (quase que totalmente arcados</p><p>pelo setor público), 22,3% na indústria de base (envolvendo o setor privado, financiado por entidades públicas) e</p><p>apenas 6,4% para os setores de alimentação e educação. O desembolso ficaria em 50% a cargo do setor público,</p><p>35% viria da esfera particular e 15% de agências internacionais que financiariam programas tanto públicos quanto</p><p>privados.</p><p>Lessa (1981) define quatro pontos básicos para o Plano de Metas:</p><p>1. Tratamento especial para o capital estrangeiro</p><p>2. Financiamento dos gastos públicos e privados via expansão dos meios de pagamento e</p><p>do crédito – provocando forte pressão inflacionária.</p><p>3. Ampliação da participação do setor público na formação bruta de capital.</p><p>4. Estímulo à iniciativa privada – através de reserva de mercado para a produção nacional</p><p>(lei do similar nacional), câmbio preferencial para a importação de bens de capital para setores</p><p>especiais (automobilística e naval, por exemplo) e crédito com carência e juros subsidiados do</p><p>BNDE e do Banco do Brasil.</p><p>O governo previa para os anos seguintes um déficit decrescente do BP, alcançando o equilíbrio em 1961.</p><p>Estabelecia-se uma meta inflacionária de 13,5% ao ano e déficits orçamentários de 2,2% do PIB por parte do setor</p><p>governamental – o que parece incompatível, uma vez que a única forma de se financiar esse déficit seria a emissão</p><p>de moeda, o que desencadearia uma série de pressões inflacionárias.</p><p>No final do período pode-se constatar que a maioria das metas específicas do Plano de Metas alcançaram</p><p>altas taxas de realização (referentes a expansão da malha rodoviária, energia, produção industrial, etc.). O PIB</p><p>cresceu à taxa média anual de 8,2% (o PIB per capita cresceu 5,1%) e a inflação média, porém, ficou em 22,6% ao</p><p>ano – ambas superiores ao objetivo, só que a primeira com efeito positivo e a segunda, negativo. O período</p><p>apresentou ainda fortes déficits no BP, resultado da queda dos preços do café e da estagnação de outros</p><p>componentes da pauta de exportação de 1958 a 60.</p><p>Pode-se delinear como impactos do Plano de Metas a preocupação com os pontos de estrangulamento da</p><p>infra-estrutura e a modernização e ampliação do parque industrial, ainda que às custas do aprofundamento das</p><p>desigualdades sociais e regionais. As principais dificuldades enfrentadas no período foram a ausência de definição</p><p>dos mecanismos de financiamento das metas (como por exemplo a elevação da carga fiscal, dado a pouca</p><p>expressividade do sistema financeiro nacional), a resistência do empresariado frente a medidas de controle</p><p>20</p><p>inflacionário e a atitude dúbia da política monetária, ao tentar tornar compatíveis metas antagônicas como</p><p>crescimento, estabilidade, altos lucros e baixo custo de vida.</p><p>O papel do setor público</p><p>Além da tendência verificada desde o início dos anos 50 de atribuir ao setor público a solução para os</p><p>problemas de infra-estrutura que dificultassem a industrialização, a partir da segunda metade da década delega-se</p><p>também ao Estado o provimento de insumos básicos. O governo controlava nesse período as três maiores</p><p>siderúrgicas do país (CSN, Cosipa e Usiminas), detinha o monopólio da produção e refino do petróleo (Petrobrás),</p><p>produção e exportação do minério de ferro (CVRD), participação crescente no setor energético (CHESF, Furnas),</p><p>importância fundamental nos transportes (através da RFFSA, Lloyd Brasileiro, DNER e DER) e ainda o controle</p><p>sobre o crédito (Banco do Brasil) e a comercialização do café, cacau, borracha, açúcar, etc. através dos vários</p><p>institutos.</p><p>O governo contou como suas principais fontes de recursos no período o imposto sobre o consumo,</p><p>imposto de renda e o saldo de ágios e bonificações do imposto de importações. A participação da receita do</p><p>governo no PIB, que permaneceu entre 19 e 20% até 1957, chegou a 23.2% no auge do Plano de Metas.</p><p>No entanto o governo ampliou o peso de seus gastos de 19% do PIB em 1952 para 23,7% em 1961,</p><p>colocando em risco a capacidade de poupança do setor público. Os investimentos do setor público concentraram-</p><p>se no setor industrial (química e mineração, mais transportes e comunicações a partir de 1958, com a formação da</p><p>RFFSA). Ao exercer uma demanda autônoma de investimentos, o Estado exerceu posição central para a</p><p>sustentação do ciclo econômico, principalmente para o setor de bens de capital.</p><p>Políticas fiscal e monetária</p><p>Durante o governo JK as políticas monetária e fiscal ficaram para segundo plano, ficando vinculadas ao</p><p>processo de industrialização.</p><p>No campo monetário a política econômica era gerenciada pela Sumoc, Banco do Brasil e pelo próprio</p><p>Tesouro. Cabia à Sumoc a política cambial, a fixação das taxas de redesconto e compulsórios, a fiscalização do</p><p>capital estrangeiro e dos bancos comerciais e as operações de open market. O Tesouro emitia papel-moeda e</p><p>amortizava-o através da Caixa de Amortização. As funções do Banco do Brasil, no entanto, eram as mais</p><p>contraditórias.</p><p>Ao Banco do Brasil estava delegada a operação da carteira de redescontos (para crédito seletivo e de</p><p>liquidez) e da caixa de mobilização bancária (emprestador de última escolha), operava ainda a carteira de câmbio</p><p>e de comércio exterior (Cacex) – implementando decisões da Sumoc. O Banco do Brasil recebia ainda a</p><p>arrecadação tributária e efetivava os pagamentos da união (banco do Tesouro), sendo responsável ainda pelo</p><p>serviço de compensação de cheques e o depósito das reservas voluntárias dos bancos comerciais.</p><p>A ambigüidade das funções do Banco do Brasil residia no choque entre seus papéis de banco comercial e</p><p>autoridade monetária (não existindo limites rígidos à emissão de papel-moeda) e por outro lado de depositário das</p><p>reservas dos bancos comerciais e ele mesmo sendo um banco comercial (não havendo limite para suas operações</p><p>ativas). Durante o período JK a cobertura do déficit de caixa governamental se fez quase que exclusivamente</p><p>através de empréstimos do Banco do Brasil ao Tesouro. Como o BB exercia funções de banco central e banco</p><p>comercial, qualquer crédito contra ele tornava-se base monetária (e não moeda escritural secundária). Logo, a</p><p>cobertura dos déficits do Tesouro com crédito em conta corrente no Banco do Brasil representava expansão</p><p>primária dos meios de pagamento.</p><p>Além dessa controversa atuação do Banco do Brasil, o governo encontrava dificuldades na utilização dos</p><p>instrumentos tradicionais de política monetária para restringir a expansão do crédito: i) as operações de open</p><p>market eram praticamente inexistentes, pois não havia um montante suficiente de letras do Tesouro em circulação,</p><p>ii) as autoridades relutavam em utilizar o depósito compulsório, uma vez que esse meio seria lento e de grande</p><p>impacto, iii) o redesconto também foi pouco utilizado. As autoridades monetárias contaram então com dois</p><p>instrumentos heterodoxos: a manipulação dos empréstimos das diversas carteiras do BB e a compra e venda de</p><p>divisas de câmbio – as chamadas PVCs (Promessas de Venda de Câmbio).</p><p>Dessa forma a eliminação do déficit do Tesouro só poderia se dar através do aumento da receita tributária</p><p>(que se fazia desinteressante para o Congresso), lançamento de títulos da dívida pública (havia no entanto</p><p>restrições com relação ao patamar de sua taxa de juros) e a compressão de despesas – afetando diretamente o</p><p>investimento, pois o funcionalismo público era bastante forte. Como a inflação havia saltado de 7% (57) para</p><p>24,3% (58), Lucas Lopes assumiu o Ministério da Fazenda encaminhando ao Congresso o Programa de</p><p>Estabilização Monetária. Seus principais objetivos: num primeiro momento, reduzir o ritmo da inflação mediante</p><p>distribuição de renda e orientação de investimentos e preços; posteriormente, limitar a expansão dos meios de</p><p>pagamento, com vistas à estabilização. Associado ao conservadorismo e às políticas ortodoxas do FMI em plena</p><p>euforia do “50 anos em 5”, o plano sofreu um rápido desgaste junto à classe política e à opinião pública. O</p><p>resultado foi a queda de Lucas Lopes e Roberto Campos (então presidente do BNDE) e o rompimento do governo</p><p>com o FMI.</p><p>21</p><p>ÍNDICE CRONOLÓGICO</p><p>Agosto de 1957: Nova reforma do sistema cambial, com o objetivo de simplificar o sistema de taxas</p><p>múltiplas e introduzir um mecanismo de proteção específica por produtos da mesma categoria.</p><p>27 de outubro de 1958: É encaminhado ao Congresso o Programa de Estabilização Monetária do ministro</p><p>Lucas Lopes.</p><p>Janeiro de 1959: Liberação das exportações de manufaturados pelo mercado livre (Instrução 167 da</p><p>Sumoc)</p><p>Abril de 1959: Liberação dos fretes (Instrução 181)</p><p>Dezembro de 1959: Transferiu todas as exportações para esse mercado, com a exceção de café, cacau,</p><p>óleo mineral cru e mamona (Instrução 192).</p><p>Meados de 1959: Lucas Lopes é substituído no Ministério da Fazenda por Sebastião Paes de Almeida</p><p>(então Presidente do Banco do Brasil), Roberto Campos dá lugar a Lúcio Meira no BNDE e o governo brasileiro</p><p>rompe com o FMI.</p><p>Política cambial: Reforma implementada em agosto de 1955, introduzindo apenas duas taxas de câmbio:</p><p>a Geral (matérias-primas, equipamentos e bens sem suprimento nacional) e a Especial (bens de consumo e outros</p><p>com similar nacional). Um dos objetivos dessa reforma foi estimular o processo de substituição para o setor de</p><p>bens de capital (que, em conseqüência, cresceu a uma taxa de 26,4% ao ano entre 1955 e 1960).</p><p>Plano de Metas: Previsão e Resultados (1957-61)</p><p>Previsão Realizad</p><p>o</p><p>%</p><p>Energia elétrica (1.000 kw) 2.000 1.650 82</p><p>Carvão (1.000 ton) 1.000 230 23</p><p>Petróleo-produção (1.000 barris/dia) 96 75 76</p><p>Petróleo-refino (1.000 barris/dia) 200 52 26</p><p>Ferrovias (1.000 km) 3 1 32</p><p>Rodovias-construção (1.000 km) 13 17 138</p><p>Rodovias-pavimentação (1.000 km) 5 - -</p><p>Aço (1.000 ton) 1.100 650 60</p><p>Cimento (1.000 ton) 1.400 870 62</p><p>Carros e caminhões (1.000 unid) 170 133 78</p><p>Nacionalização (carros) (%) 90 75 -</p><p>Nacionalização (caminhões) (%) 95 74 -</p><p>Fonte: Banco do Brasil, Relatório e Anuário Estatístico. Apud (Orenstein & Sochaczewski, 1997)</p><p>Política monetária: A cobertura do déficit de caixa do governo se fez quase que exclusivamente através</p><p>de empréstimos do Banco do Brasil ao Tesouro. Desta forma, a cobertura dos déficits por meio de crédito em</p><p>conta corrente no Banco do Brasil implicou permanente expansão primária dos meios de pagamento. Dada a</p><p>reação negativa do Programa de Estabilização Monetária (PEM), optou-se pela continuação do projeto</p><p>desenvolvimentista sem políticas de controle monetário. A partir daí as tentativas de estabilização de preços</p><p>restringiram-se a frustrados “Planos de Contenção” da despesa orçamentária.</p><p>Política fiscal: Além das despesas de custeio, o item mais importante de gasto do governo referia-se aos</p><p>subsídios às empresas de transporte de propriedade do governo federal. Elas receberam subvenções do governo</p><p>federal da ordem de 12 a 13% da sua receita em 1955-60. O governo mostrou-se incapaz de conter os gastos</p><p>correntes, principalmente com a folha de pagamentos (dada a força política do funcionalismo público.</p><p>22</p><p>CAPÍTULO 8 - INFLAÇÃO, ESTAGNAÇÃO E RUPTURA: 1961-1964</p><p>Marcelo de Paiva Abreu</p><p>(Matheus Albergaria de Magalhães)</p><p>1.A Tentativa Ortodoxa sob Quadros</p><p>Jânio Quadros assumiu a presidência do país no dia 31 de janeiro de 1961, com sua vitória sendo</p><p>conseqüência de uma coalizão momentânea entre o voto conservador e setores populares da sociedade,</p><p>sensibilizados pelo apelo populista de suas propostas. O novo presidente denunciou então, as dificuldades</p><p>econômicas herdadas de seu antecessor, que eram basicamente as seguintes: aceleração inflacionária, indisciplina</p><p>fiscal e deterioração do balanço de pagamentos.</p><p>Neste cenário, dominava uma visão conservadora na formulação e implementação da política econômica.</p><p>Em março de 1961, o governo realizou uma importante reforma no regime cambial vigente, a partir da Instrução</p><p>204 da Superintendência da Moeda e do Crédito (SUMOC), onde procurava atingir dois objetivos básicos: a)</p><p>desvalorizar a taxa de câmbio; e b) unificar o mercado cambial. Os motivos primordiais para que tal reforma fosse</p><p>feita relacionam-se a dificuldades do balanço de pagamentos e a preocupações com a inflação. Para tanto, foram</p><p>tomadas as seguintes medidas:</p><p>i)a categoria geral do regime cambial vigente anteriormente foi transferida para o mercado dito livre;</p><p>ii)o “câmbio de custo” aplicável a importações preferenciais (trigo, petróleo, etc.) foi</p><p>desvalorizado em</p><p>100%.</p><p>iii)o sistema antes vigente, de diferir a entrega de cambiais aos importadores, foi substituído pelo sistema</p><p>das Letras de Importação. (Neste sistema, os importadores, ao comprarem divisas para realizar suas importações,</p><p>eram obrigados a realizar simultaneamente, uma operação colateral, onde deveriam depositar o valor em cruzeiros</p><p>correspondente à importação no Banco do Brasil durante 150 dias. Em troca, receberiam as Letras de Importação).</p><p>Adicionalmente, foram editadas novas instruções da SUMOC que, além de extinguirem o câmbio de</p><p>custo, determinavam a retenção de US$ 22 por saca de café exportada e que as exportações seriam realizadas à</p><p>taxa do mercado livre.</p><p>Ao longo dos meses de maio e junho de 1961, o governo teve sucesso nas negociações com credores</p><p>norte-americanos e europeus, conseguindo novos empréstimos e um significativo reescalonamento da dívida</p><p>externa que venceria entre 1961 e 1965 (ou seja, conseguiu adiar o pagamento de parte da dívida referente a esse</p><p>período). Apesar disto, no que diz respeito à política externa, o governo assumiu uma posição singular,</p><p>distanciando-se da posição norte-americana de isolar Cuba, bem como procurando reatar relações com a União</p><p>Soviética e apoiar a descolonização da África. (É a chamada “política externa independente”).</p><p>No dia 25 de agosto de 1961, Jânio Quadros renunciou ao poder, o que acabou por resultar no colapso de</p><p>seu programa de estabilização. Devido à curta duração de seu mandato, passa a ser bastante difícil realizar uma</p><p>avaliação criteriosa dos resultados de suas políticas econômicas, uma vez que a crise política de agosto a setembro</p><p>de 1961 teve como conseqüência o descontrole monetário, fiscal e creditício.</p><p>2. O Impasse Parlamentarista</p><p>Com a renúncia de Jânio Quadros, foi instaurado no país o regime parlamentarista, devido ao veto militar</p><p>à posse do Vice-Presidente (tal como estabelecia a constituição), com tal regime durando de setembro de 1961 a</p><p>janeiro de 1963. O primeiro gabinete parlamentarista foi formado sob a presidência do então deputado Tancredo</p><p>Neves, tendo o banqueiro Walter Moreira Salles como Ministro da Fazenda.</p><p>O programa de governo apresentado durante esse período era muito genérico, onde apesar de ter a baixa</p><p>taxa de crescimento da economia como principal problema a ser resolvido, estabelecia diversos objetivos que</p><p>admitia não serem todos compatíveis entre si. Para tanto, o governo propunha-se a elevar a taxa de poupança (via</p><p>uma reforma fiscal) e realizar a contenção do déficit de custeio das empresas públicas, bem como estabeleceria</p><p>prioridades e corrigiria desperdícios para melhorar a composição dos investimentos, e introduziria técnicas de</p><p>planejamento. No caso, eram contemplados três níveis de planejamento: o Plano Perspectiva (20 anos), o Plano</p><p>Qüinqüenal e o Plano de Emergência.</p><p>No que diz respeito às políticas monetária, bancária e financeira, o governo estabeleceu medias de</p><p>emergência e de reforma institucional. Em relação à área monetária, o governo demonstrou enorme preocupação</p><p>com a expansão monetária, impondo controles quantitativos de crédito até o final de 1961, e estabelecendo</p><p>mecanismos de depósito compulsório sobre depósitos à vista dos bancos privados (já que houvera um certo</p><p>volume de expansão monetária durante a crise política). Quanto a reformas institucionais, foi feita menção à</p><p>criação do Banco Central e do Banco Rural, bem como foi feita uma reforma da legislação bancária vigente. Em</p><p>relação à política financeira pública, o governo propunha-se a aplicar o Plano de Economia de gastos aprovado</p><p>por Quadros e a financiar o déficit programado de 1962 de forma não-inflacionária (ou seja, sem emitir moeda</p><p>23</p><p>para cobrir tal déficit). Em termos das reformas, a reforma vista como básica era a da área fiscal. Já em relação à</p><p>política cambial, o programa defendia a adoção de uma taxa de câmbio única, fixada em um nível “realista”.</p><p>Contraditoriamente, enfatizava ao mesmo tempo, a necessidade de manter o controle quantitativo de importações</p><p>não-essenciais. Nessa época, o novo presidente, João Goulart (que tomou posse em 07/09/1961) comprometeu-se</p><p>ainda com a realização da reforma agrária.</p><p>Neste período, as relações Brasil-EUA acabaram por sofrer um certo desgaste devido a modificações na</p><p>legislação econômica brasileira, que acabavam por prejudicar a remessa de lucros de capital estrangeiro, bem</p><p>como cancelavam certas concessões feitas a companhias norte-americanas. A “política externa independente”</p><p>inaugurada por Jânio Quadros teve continuidade com João Goulart.</p><p>De qualquer forma, mesmo com a renúncia de Jânio Quadros, os resultados econômicos de 1961 foram</p><p>bastante razoáveis. A inflação manteve-se estável em torno de 30%, o PIB cresceu 8,6%, o balanço de pagamentos</p><p>foi beneficiado pela recuperação das exportações e a renegociação da dívida externa. A formação bruta de capital</p><p>fixo (um importante indicador do nível de investimento do país), no entanto, reduziu-se de 15,7% do PIB em 1960</p><p>para 13,1% em 1961, seu menor valor desde 1949.</p><p>Estes bons resultados, no entanto, não duraram muito. Em maio de 1962, o déficit de caixa do governo</p><p>aumentou significativamente devido ao aumento das despesas públicas e o aumento da taxa de expansão da oferta</p><p>monetária. (A principal pressão sobre os gastos públicos provinha do déficit das empresas do governo no setor de</p><p>transportes).</p><p>No final de maio de 1962, ocorreu uma crise política interna ao governo que acabou por culminar na</p><p>renúncia coletiva do gabinete Tancredo Neves. O nome indicado para sucedê-lo foi o de Santiago Dantas, mas que</p><p>acabou não vingando, devido a certa resistência política do Congresso. Após algum tempo, foi aprovado o nome</p><p>de Brochado da Rocha.</p><p>O programa político de Brochado da Rocha abordava diversos temas, desde a reforma agrária até a</p><p>energia nuclear. Suas propostas revelavam-se, no entanto, bastante vagas, o que dificultava sua aceitação no</p><p>Congresso. Seu programa econômico pretendia estabilizar a inflação em torno de 60% em 1962 e reduzi-la para</p><p>30% em 1963. Seu gabinete procurou obter poderes especiais para legislar sobre diversos temas, inclusive as</p><p>reformas de base, bem como na antecipação da data de realização do plebiscito acerca da permanência do sistema</p><p>parlamentarista de governo. A maior parte dessas propostas acabou sendo recusada no Congresso, o que levou à</p><p>renúncia do gabinete Brochado da Rocha em setembro de 1962. A proposta relativa à antecipação do plebiscito,</p><p>no entanto, foi aceita, com sua realização sendo marcada para o dia 06 de janeiro de 1963. Durante esse período</p><p>de transição, o gabinete foi chefiado por Hermes Lima. Apesar de haver um programa de transição que incluía um</p><p>plano de controle da inflação, este acabou sendo comprometido pela concessão do 13º salário aos trabalhadores</p><p>urbanos.</p><p>As relações com os EUA continuaram a desgastar-se no período, com o Brasil finalmente concordando</p><p>com o bloqueio a Cuba (apesar de ser contra a intervenção armada naquele país).</p><p>As conseqüências de tamanha instabilidade política acabaram sendo refletidas a nível econômico no</p><p>segundo semestre de 1962. O governo perdeu o controle de suas contas no final do ano, a expansão dos meios de</p><p>pagamento aumentou enormemente, a inflação aumentou e a taxa de crescimento PIB reduziu-se para 6,6% (tal</p><p>taxa havia sido de 8,6% em 1961).</p><p>3.O Plano Trienal e seu Fracasso</p><p>Em fins de dezembro de 1962 foi apresentado o Plano Trienal de Desenvolvimento Econômico e Social,</p><p>elaborado sob a coordenação de Celso Furtado. Em janeiro de 1963, as condições políticas mostravam-se um tanto</p><p>favoráveis à colocação em prática do Plano, uma vez que houve a vitória do regime presidencialista no plebiscito.</p><p>Apesar de ser um plano elaborado por economista ligado à tradição estruturalista cepalina (Celso Furtado), o</p><p>Plano Trienal caracterizava-se por um diagnóstico bastante ortodoxo</p><p>da inflação no país, enfatizando o excesso de</p><p>demanda via gasto público como a causa mais importante. As medidas propostas eram semelhantes às de outros</p><p>programas de estabilização antes adotados: correção de preços defasados, redução do déficit público e controle da</p><p>expansão do crédito ao setor privado. Havia ainda as metas de 25% de taxa de inflação para 1963 (10% em 1965)</p><p>e 7% para o crescimento anual do produto. Logo após o anúncio do Plano houve um salto no índice de preços</p><p>industriais por atacado, o que se deveria, conforme sugerido por Sochaczewski (1980) a expectativas de imposição</p><p>de controle de preços. No início de 1963 ocorreram cortes nos gastos públicos, limites à expansão do crédito</p><p>privado, desvalorização cambial, e aumento do depósito compulsório.</p><p>Setores de esquerda criticaram duramente o Plano, denunciando o caráter recessivo da política econômica</p><p>e a submissão dos interesses nacionais aos EUA.</p><p>O ano de 1963 foi, portanto, um ano recessivo. Há, no entanto, uma certa divergência quanto à</p><p>interpretação das causas de tal recessão. Parece ser difícil fazer uma análise de curto prazo do programa de ajuste</p><p>devido à indisponibilidade de dados de boa qualidade. Em relação aos dados anuais, têm-se discrepâncias</p><p>gritantes: a taxa de crescimento do PIB caiu de 6,6% em 1962 para 0,6% em 1963 (o mais baixo nível desde a 2ª</p><p>Guerra). A restrição de liqüidez imposta pelo governo afetou o desempenho dos gêneros industriais que</p><p>24</p><p>dependiam do crédito (em especial, os produtores de bens de consumo durável (Wells 1977)). Os dados relativos</p><p>ao investimento parecem ambíguos, já que dados da Fundação Getúlio Vargas indicam um crescimento da FBKF</p><p>(de 13,1% em 1961 para 15,5% em 1962 e 17% em 1963); ao passo que dados desagregados apontam para uma</p><p>pronunciada queda do nível real de investimento. Ao traçarem a relação causal entre o programa de estabilização</p><p>do Plano Trienal e a recessão que veio em seguida, há quem enfatize a perda de dinamismo do processo de</p><p>substituição de importações, com aumento da relação capital/produto e flutuações de investimento associadas à</p><p>instalação de plantas com escalas de produção muito além do tamanho de mercados, durante o Plano de Metas.</p><p>Outras interpretações enfatizam uma possível incompatibilidade entre a demanda associada a perfis específicos de</p><p>distribuição de renda e a oferta de certos gêneros industriais (Tavares 1972, 1975; Furtado 1968). Existem ainda,</p><p>interpretações tidas como de difícil comprovação, como aquelas que associam a recessão à aceleração</p><p>inflacionária ou deterioração do quadro político (Simonsen 1963) ou a importância de restrições externas (Leff</p><p>1968).</p><p>4. A Agonia da Terceira República</p><p>Em junho de 1963, tornou-se explícita a polarização da disputa pelo poder entre massas urbanas</p><p>mobilizadas pelo populismo e antigas estruturas de poder. Ocorre uma fragmentação de recursos políticos,</p><p>havendo intensa rotatividade na equipe governamental. Gradativamente, vai sendo formada uma coligação</p><p>parlamentar em defesa do status quo (Santos 1986). As forças armadas também se voltam contra o Presidente,</p><p>após a rebelião de sargentos da Marinha e Aeronáutica contra a decisão do Supremo Tribunal Federal de manter a</p><p>anulação da eleição de sargentos um ano antes. Neste período, ocorre o descontrole das contas públicas, bem</p><p>como rápida expansão da oferta monetária e deterioração do balanço de pagamentos.</p><p>A fragmentação política vigente fez com que forças conservadoras passassem a realizar manifestações</p><p>que mobilizaram maciçamente a classe média, explicitando o isolamento político do Presidente e a debilidade de</p><p>seu apoio político e militar.</p><p>No dia 31 de março de 1964 iniciou-se uma rebelião militar apoiada pelo empresariado, a classe média e</p><p>a maioria parlamentar, pondo fim à Terceira República, sendo rompida então a legalidade constitucional.</p><p>ÍNDICE CRONOLÓGICO</p><p>31 de Janeiro de 1961 – Jânio Quadros assume a Presidência da República amparado pela mais</p><p>significativa votação popular que registra a história das eleições presidenciais brasileiras.</p><p>Março de 1961 – Governo realiza importante reforma do regime cambial vigente através da Instrução</p><p>204 da SUMOC, tendo como objetivo a desvalorização da taxa de câmbio e a unificação do mercado cambial.</p><p>25 de Agosto de 1961 – Renúncia de Jânio Quadros. É adotado então, o sistema parlamentarista de</p><p>governo. No meio tempo, Pascoal Ranieri Mazilli assume o poder, ficando de 25/08/1961 a 07/09/1961.</p><p>07 de Setembro de 1961 – João Goulart, o “Jango” assume a Presidência da República.</p><p>Maio de 1962 – Ocorre a renúncia coletiva do 1º gabinete parlamentarista, sob a presidência do então</p><p>deputado Tancredo Neves. Após um certo impasse, o Congresso aprova o nome de Brochado da Rocha para o</p><p>cargo de 1º Ministro.</p><p>Dezembro de 1962 – É apresentado o Plano Trienal de Desenvolvimento Econômico e Social, elaborado</p><p>sob a coordenação de Celso Furtado.</p><p>06 de Janeiro de 1963 – Após ter sua realização antecipada, ocorre o plebiscito para a votação a respeito</p><p>do sistema de governo vigente. Ocorre uma vitória maciça dos defensores do regime presidencialista.</p><p>Junho de 1963 – O presidente Goulart promove uma reforma ministerial, substituindo ministros</p><p>responsáveis pelo fracasso do Programa de Estabilização (o Plano Trienal).</p><p>Outubro de 1963 – Goulart envia mensagem ao Congresso pedindo aprovação do estado de sítio como</p><p>reação às declarações de Carlos Lacerda, governador da Guanabara. O pedido, no entanto, é retirado mais tarde.</p><p>Dezembro de 1963/Março de 1964 – O governo demonstra apresentar grande fragilidade política, o que</p><p>acaba por levar a manifestações das forças conservadoras que mobilizam maciçamente a classe média.</p><p>25</p><p>31 de Março de 1964 – Inicia-se a rebelião militar, com amplo apoio do empresariado, da classe média e</p><p>respaldo da maioria parlamentar, pondo fim à Terceira República.</p><p>POLÍTICAS:</p><p>i)Monetária/Creditícia: Durante a curta duração do mandato de Jânio Quadros (31/01/1961 a</p><p>25/08/1961), houve um certo descontrole monetário (no entanto, exatamente devido a essa curta duração, é difícil</p><p>fazer uma análise criteriosa da política econômica do período). Durante a vigência do 1º gabinete parlamentarista</p><p>comandado por Tancredo Neves, foram adotadas medidas de emergência que incluíam controles quantitativos de</p><p>crédito bem como o estabelecimento de mecanismos de depósito compulsório sobre os depósitos à vista dos</p><p>bancos privados, tudo isto visando manter a oferta monetária constante em termos reais. No 2º semestre de 1962,</p><p>devido à instabilidade política vigente no país, a expansão dos meios de pagamento descontrolou-se, indo de 4%</p><p>a.m. a 13% a.m. em dezembro daquele ano. A inflação conseqüentemente aumentou. Com a instauração do Plano</p><p>Trienal, em fins de 1962, tinha-se como parte de seu receituário, a correção de preços defasados e o controle da</p><p>expansão do crédito ao setor privado. Do mesmo modo, houve um aumento do depósito compulsório de 24% para</p><p>28% dos depósitos à vista. Tais medidas acabariam por revelar-se mais tarde, como causadoras de uma grande</p><p>recessão, uma vez que impuseram uma tremenda restrição de liqüidez a gêneros industriais produtores de bens de</p><p>consumo durável que dependiam do crédito (Wells 1977). Após isto, a oferta monetária foi mantida sob razoável</p><p>controle até os primeiros meses de 1963, quando passou a expandir-se rapidamente, gerando taxas de inflação</p><p>semelhantes (e até mesmo superiores) às geradas no passado.</p><p>ii)Fiscal: Ao longo do período 1961/1964, o governo preocupou-se bastante com o equilíbrio do balanço</p><p>de pagamentos. Como citado antes, com a renúncia de Jânio Quadros (e a crise política daí decorrente) houve um</p><p>descontrole fiscal. Com o gabinete parlamentarista de Tancredo Neves, o governo procuraria alcançar os objetivos</p><p>de seu programa através de uma elevação da taxa de poupança, via uma reforma</p><p>fiscal e contenção do déficit de</p><p>custeio das empresas públicas. Procuraria assim, obter uma melhor programação dos investimentos públicos, e</p><p>uma reforma fiscal que estimulasse o aumento da formação bruta de capital fixo e melhorasse a tributação</p><p>indireta. Com o fim do gabinete Tancredo Neves e início da gestão Brochado da Rocha, este novo Primeiro-</p><p>Ministro tentou obter poderes especiais junto ao Congresso para legislar sobre diversos temas, inclusive a reforma</p><p>tributária. A maior parte dessas reivindicações, no entanto, foi negada (o que levou à renúncia de Rocha). No 2º</p><p>semestre de 1962, o controle das contas do governo (que havia sido retomado em alguma medida por Rocha) foi</p><p>perdido no final do ano. Com o Plano Trienal, no fim de 1962, tinha-se como um de seus principais objetivos, a</p><p>redução do déficit público, o que esperava-se atingir através de um plano de economia e deferimentos de despesas.</p><p>Houve efetivamente um corte nos gastos públicos (juntamente com a já citada restrição do crédito ao setor</p><p>privado). Com a instabilidade política de 1963, o balanço de pagamentos deteriora-se de forma considerável, a</p><p>despeito da recuperação das exportações, em vista da contração das entradas autônomas de capital.</p><p>iii)Cambial: Logo após Jânio Quadros assumir a presidência, em janeiro de 1961, foi instaurada, em</p><p>março do mesmo ano, a Instrução 204, cujos objetivos básicos eram a desvalorização da taxa de câmbio e a</p><p>unificação do mercado cambial. A categoria geral do regime cambial antes vigente foi transferida para o mercado</p><p>livre; o “câmbio de custo” aplicável a importações preferenciais foi desvalorizado em 100% (mais tarde esse</p><p>câmbio foi extinto, sendo transferido para o mercado livre). O sistema anteriormente vigente, de diferir a entrega</p><p>de cambiais aos importadores, foi substituído pelo chamado “sistema das Letras de Importação”, através do qual</p><p>os importadores, ao comprarem suas divisas eram obrigados a realizar uma operação colateral, depositando no</p><p>Banco do Brasil por 150 dias o valor em cruzeiros correspondente à importação e recebendo Letras de Importação</p><p>em troca. Com o primeiro gabinete parlamentarista (Tancredo Neves), de 1961, pretendia-se a adoção de uma</p><p>política cambial baseada em uma taxa única e “realista”. Logo após a saída de Quadros, em 1961, foi possível</p><p>manter algum controle sobre as importações, graças ao aumento do requerimento para compra compulsória das</p><p>Letras de Importação. Uma política semelhante foi adotada em relação a remessas financeiras. No entanto, ambas</p><p>as políticas vieram a ser temporariamente revertidas no começo de 1962. Durante a instabilidade política do 2º</p><p>semestre de 1962, apesar de haver problemas em relação às políticas fiscal e monetária, não há evidência de</p><p>graves distorções da política cambial. (Na verdade, tentou-se torná-la mais transparente no período). Com o Plano</p><p>Trienal, o câmbio foi desvalorizado em cerca de 30%. Apesar disto, o governo reintroduziu o subsídio a</p><p>importações de alguns bens, como o trigo e derivados do petróleo. Em 1963, após o fracasso do Plano Trienal, a</p><p>política cambial passa a refletir a deterioração da confiança no governo, aumentando significativamente os</p><p>requisitos de depósitos prévios relativos a importações. A taxa cambial relevante para a remuneração de</p><p>exportações, por sua vez, foi reajustada muito abaixo do valor requerido para manter constante em cruzeiros a</p><p>remuneração real dos exportadores.</p><p>iv)Contexto Internacional no período 1961/1964: No início desse período (maio/junho de 1961), o</p><p>governo obteve sucesso quanto à negociação da dívida externa junto a credores internacionais. Ainda em 1961, no</p><p>26</p><p>entanto, as relações com os EUA especificamente, deterioraram-se devido a alterações na legislação econômica</p><p>brasileira que prejudicavam interesses americanos. Esta situação era agravada pela “política externa</p><p>independente” adotada pelo Brasil, que não se alinhava com algumas proposições do governo norte-americano,</p><p>principalmente aquelas relacionadas a Cuba. Em 1962, as relações com os EUA continuaram a deteriorar-se</p><p>devido às mudanças de legislação e à política externa independente já citadas. Ainda assim, o Brasil acabou</p><p>aprovando o bloqueio à Cuba, cedendo a pressões políticas norte-americanas.</p><p>27</p><p>CAPÍTULO 9 - ESTABILIZAÇÃO E REFORMA: 1964 / 1967</p><p>André Lara Resende</p><p>(Patrícia Silva Alvarenga)</p><p>O PAEG (Plano de Ação Econômica do Governo), foi um plano de estabilização econômica elaborado</p><p>pelo Ministério do Planejamento e Coordenação Econômica (Campos no Ministério do Planejamento e Bulhões</p><p>no Ministério da Fazenda) posto em prática em 1963.</p><p>O plano visava conter progressivamente a inflação entre 64 e 65 (gerando efeitos já em 66); acelerar o</p><p>desenvolvimento econômico (interrompido em 62/63); atenuar diferenças setoriais e regionais; aliviar tensões</p><p>criadas pelos desequilíbrios sociais; política de investimentos para proporcionar oportunidades de empregos e</p><p>corrigir déficit do balanço de pagamentos.</p><p>INSTRUMENTOS DE AÇÃO</p><p>POLÍTICA FINANCEIRA</p><p>Política de redução do déficit público diminuindo a pressão inflacionária e fortalecendo a capacidade de</p><p>poupança nacional através do disciplinamento do consumo e das transferências do setor público e na melhoria da</p><p>contenção da despesa.</p><p>Política tributária para aumentar a arrecadação e combater a inflação, estimulando a poupança ,</p><p>melhorando a orientação dos investimentos privados e atenuando as desigualdades econômicas regionais e</p><p>setoriais.</p><p>Política monetária de acordo com os objetivos de estabilização, evitando redução do nível de atividade e</p><p>a redução da capacidade de poupança das empresas.</p><p>Política bancária fortalecendo o sistema creditício, ajustando-o às necessidades de combate a inflação e</p><p>de estímulo ao desenvolvimento. Aumento do redesconto, compulsório e operações de open market (vendas de</p><p>títulos públicos).</p><p>Políticas de investimentos públicos para fortalecer a infra-estrutura econômica e social, e criar as</p><p>economias externas necessárias ao desenvolvimento das inversões e atenuar desequilíbrios regionais e setoriais.</p><p>Procurou-se ativar a bolsa de valores e foram criados bancos de investimento para se estimular a</p><p>poupança privada. Criou-se o Banco Nacional de Habitação sendo um agente de captação da poupança privada</p><p>forçada. Em um primeiro momento, esses fundos foram utilizados para absorver os títulos da dívida pública,</p><p>financiando o déficit público. A instituição da correção monetária (um mecanismo de indexação) permitiu a</p><p>captação da poupança privada voluntária e a reativação do sistema financeiro</p><p>POLÍTICA ECONÔMICA INTERNACIONAL</p><p>Política cambial e de comércio exterior para diversificar as fontes de suprimento e incentivar as</p><p>exportações.</p><p>Política de consolidação da dívida externa e de restauração do crédito do país no exterior de modo que</p><p>aliviasse pressões de curto prazo sobre o balanço de pagamentos.</p><p>Política de estímulos ao ingresso de capitais estrangeiros e de ativa cooperação técnica e financeira com</p><p>agências internacionais de modo que acelerasse o desenvolvimento econômico.</p><p>POLÍTICA DE PRODUTIVIDADE SOCIAL</p><p>Política salarial assegurando a participação dos trabalhadores nos benefícios do desenvolvimento</p><p>econômico, sendo compatível com a política de combate a inflação, do lado da procura e do custos, e que</p><p>protegesse a capacidade de poupança do país (conseqüência do combate a inflação). Além da política salarial o</p><p>PAEG compreendia também política agrária, habitacional e educacional.</p><p>O crescimento programado para os anos de 65 e 66 era de 6% aa. O combate à inflação estava sempre</p><p>qualificado no sentido de não ameaçar o crescimento econômico.</p><p>As três causas da inflação, segundo o PAEG , são: déficit público, expansão de crédito às empresas e os</p><p>aumentos institucionais de salários em proporção</p><p>superior à do aumento da produtividade. Assim as causas</p><p>citadas acima induzem um aumento dos meios de pagamentos, propagando a inflação no sistema econômico.</p><p>Como soluções do processo inflacionário o plano propõe contenção do déficit público, (através de cortes</p><p>de despesas desnecessárias e racionalização do sistema tributário), crescimento dos salários reais proporcional ao</p><p>aumento da produtividade, restrição de crédito das empresas para conter a inflação de procura.</p><p>POLÍTICA SALARIAL DO PAEG</p><p>28</p><p>Dadas as metas de política monetária e crescimento real do produto propostas pelo plano, as taxas de</p><p>inflação correspondentes deveriam ser de 25% em 1965 e 10% em 1966.</p><p>Enquanto o plano trienal sugeria reajustes salariais moderados, o PAEG tinha uma política salarial bem</p><p>definida, baseando-se em:</p><p>manter a participação dos assalariados no produto nacional</p><p>impedir reajustamentos salariais desordenados que causam inflação</p><p>corrigir as distorções salariais, no Serviço Público Federal , nas Autarquias, e nas Sociedades de</p><p>Economia Mista</p><p>As negociações diretas entre trabalhadores e empregadores foram substituídas por uma fórmula de</p><p>reajuste salarial estabelecida pelo governo:</p><p>deveria ser estabelecido o salário médio real dos últimos 24 meses anteriores as mês do reajustamento</p><p>sobre este salário real médio , deveria incidir a taxa de produtividade, acrescentando a metade da inflação</p><p>programada pelo governo para o ano seguinte (resíduo inflacionário)</p><p>criação da data base de reajuste salarial</p><p>Como a previsão do resíduo inflacionário , ou seja, da inflação para o ano seguinte, que entrava na</p><p>fórmula de reajuste salarial, era a previsão oficial que era inferior à inflação efetiva ocorrida, o salário mínimo real</p><p>médio era reduzido. Em junho de 68 a fórmula de reajuste foi alterada da seguinte maneira: se o resíduo</p><p>inflacionário tivesse sido subestimado nos últimos 12 meses, o salário real deste período seria computado não pelo</p><p>seu nível efetivo mas pelo que teria prevalecido se o resíduo inflacionário tivesse sido corretamente estimado, ou</p><p>seja, o salário médio real ficava menos defasado com relação a alta de preços. A lei de 1974 finaliza a queda do</p><p>salário real médio.</p><p>O índice de salário mínimo real médio sofreu uma queda de sete pontos percentuais em 65 quando foi</p><p>introduzida a fórmula de reajuste salarial, e em 66 foi novamente reduzida em sete pontos. Nos próximos anos, os</p><p>índices continuam a cair com um ritmo menor.</p><p>EFICÁCIA DAS POLÍTICAS MONETÁRIA E FISCAL</p><p>Das políticas desinflacionárias do PAEG (contenção déficit público, política salarial e creditícia), a mais</p><p>eficaz quanto aos objetivos do plano foi a política de contenção do déficit público. Aumentaram-se os impostos</p><p>diretos e indiretos e o déficit como proporção do PIB foi reduzido gradativamente . O financiamento do déficit foi</p><p>alterado a partir de 1964, passando de emissões de moeda (empréstimos junto ao BACEN) para o financiamento</p><p>através de vendas de títulos da dívida pública, pois a criação da ORTN e correção monetária tornam os títulos</p><p>públicos atrativos (empréstimos junto ao público) .</p><p>Quanto às políticas monetária e de crédito, não foram atingidas as metas . A expansão monetária de 64 e</p><p>65 chegou a 83,5% sendo que a meta era de 30% . A causa da expansão dos meios de pagamentos está</p><p>relacionada com a incapacidade da política monetária de contrabalançar o superávit do balanço de pagamentos.</p><p>Este superávit externo deve-se ao ingresso de empréstimos estrangeiros, redução das importações, (devido à queda</p><p>do crescimento) e aumento das exportações. Em 1966 a política monetária foi restritiva e a expansão dos meios</p><p>de pagamentos foi apenas de 35,4% no período.</p><p>A inibição do crédito foi menor que o aperto monetário pela ação do Banco do Brasil. Os empréstimos</p><p>totais ao setor privado caíram e os empréstimos do Banco do Brasil ao setor privado expandiram-se.</p><p>IMPACTO DAS POLÍTICAS MONETÁRIA, CREDITÍCIA E FISCAL SOBRE PRODUÇÃO E</p><p>PREÇOS</p><p>Durante todo o ano de 1964 o nível de preços permaneceu elevado. Este fato ocorreu devido ao aumento</p><p>das tarifas dos serviços públicos; liberação dos aluguéis congelados; elevação dos salários dos servidores</p><p>públicos; foi a chamada inflação corretiva. Cronologia: o aperto da moeda e do crédito em 63 paralisa a atividade</p><p>industrial, enquanto os preços se aceleram. A política monetária foi mais folgada em 64 do que no ano anterior,</p><p>mas os índices de liquidez continuaram negativos. Este alívio relativo da liquidez permitiu pequeno alívio na</p><p>produção industrial.</p><p>Em 1965 houve uma queda na tendência inflacionária sendo que os produtos agrícolas apresentaram</p><p>queda no 1º trimestre e os preços industriais no 2º trimestre. Neste ano a política fiscal restritiva associada a um</p><p>aperto de crédito faz com que a atividade industrial entre em colapso. Em contrapartida a agricultura tem um</p><p>excelente ano e cresce 13,8% neste período. Com a política salarial do PAEG , os preços industriais apresentam os</p><p>primeiros sinais de quebra de tendência.</p><p>29</p><p>O ano de 1966 apresenta um crescimento industrial devido ao crédito fácil do ano anterior e à capacidade</p><p>ociosa acumulada em três anos de estagnação. A agricultura tem um mau desempenho sofrendo uma queda na</p><p>produção de 3,2%. A política salarial volta a reduzir o salário e a inflação diminui. Outro fator do desempenho da</p><p>indústria neste ano , foi a alteração da política monetária e creditícia. Apesar da redução de emissão monetária</p><p>(devido a mudança do financiamento do déficit público), a ação do Banco do Brasil , expandindo os seus</p><p>empréstimos, evitou que a política monetária restritiva atingisse o crédito ao setor privado.</p><p>Em 1967 Delfim Netto substitui Campos no comando da economia e se afasta da ortodoxia e abandona o</p><p>objetivo de acabar com a inflação. A partir daí a moeda e o crédito são expandidos de forma liberal,</p><p>proporcionando uma recuperação da produção industrial. A agricultura recupera-se obtendo um crescimento de</p><p>5,7% ao ano. A política salarial continua reduzindo o salário e a inflação no período apresenta um queda.</p><p>O ano seguinte, 1968, marca o fim da fase de estabilização. Moeda e crédito continuam se expandindo e a</p><p>inflação sofre mais um pequeno declínio.</p><p>CUSTOS DA ESTABILIZAÇÃO</p><p>No período do PAEG, criou-se um hiato entre o produto observado e o produto potencial.</p><p>O caráter regressivo das políticas do plano fica evidenciado pelo número de concordatas e falências por</p><p>ramo de atividade do período. Os setores mais atingidos foram vestuário, alimentos e construção civil. Os dois</p><p>primeiros são setores de estruturas menos oligopolizadas, onde predominam pequenas e médias empresas. A</p><p>indústria de construção civil foi vítima da política fiscal que reduziu as despesas com obras públicas. Como o</p><p>setor de construção civil emprega grande parte de mão de obra não qualificada, pode-se perceber o caráter</p><p>regressivo do PAEG.</p><p>O PAEG E A TEORIA ORTODOXA</p><p>A teoria ortodoxa relaciona a causa de inflação com a excessiva expansão monetária, devido ao</p><p>financiamento do déficit público (o tesouro nacional vende títulos ao BACEN transferindo a este o direito de</p><p>emitir moeda).</p><p>A ortodoxia aponta políticas monetária e creditícia restritivas para enxugar o excesso de moeda no</p><p>mercado. Também seria necessário política fiscal restritiva , que reduz o déficit público e reformula a estrutura de</p><p>gastos do governo considerada ineficiente e causadores de distorções da economia. Quanto ao balanço de</p><p>pagamentos, sugere o câmbio “realista” (flexível, pois a intervenção do governo mantinha a taxa de câmbio</p><p>sobrevalorizada prejudicando exportações) e redução da proteção tarifária à indústria ineficiente. A ortodoxia</p><p>acredita que o mercado de trabalho é o último a se ajustar às políticas restritivas mencionadas acima. Isto acontece</p><p>por</p><p>causa do poder de mercado dos sindicatos e da rigidez das expectativas que mantêm os salários reais acima do</p><p>nível compatível com o equilíbrio não inflacionário.</p><p>PAEG não foi, de certa forma, ortodoxo, pois se preocupou com a manutenção das taxas de crescimento</p><p>e, portanto, com alguma inflação, combatida gradualmente. O diagnóstico da inflação aponta para a</p><p>incompatibilidade entre as parcelas reivindicadas pelo governo, pelas empresas para investimento e pelos</p><p>trabalhadores para consumo como causa da inflação (a expansão monetária seria um agente de propagação da</p><p>inflação dado esta inconsistência da esfera distributiva na economia). O reconhecimento de que existem pressões</p><p>reais na economia que são inflacionárias que podem ser resolvidas pela contenção da taxa de expansão dos meios</p><p>de pagamentos fica explícito na política creditícia do plano.</p><p>A política econômica do PAEG não se restringiu às soluções dadas pela ortodoxia. Procurou-se ativar a</p><p>bolsa de valores e foram criados bancos de investimento para se estimular a poupança privada. Criou-se o Banco</p><p>Nacional de Habitação sendo um agente de captação da poupança privada forçada. Em um primeiro momento,</p><p>esses fundos foram utilizados para absorver os títulos da dívida pública, financiando o déficit público. A</p><p>instituição da correção monetária (um mecanismo de indexação) permitiu a captação da poupança privada</p><p>voluntária e a reativação do sistema financeiro. Outra área de ação da política econômica foi o setor externo.</p><p>Criaram-se e reformularam-se instituições públicas ligadas ao comércio exterior; instituíram-se estímulos fiscais</p><p>às exportações que culminaram com a indexação da taxa de câmbio (em 68) com o nome de mini desvalorização,</p><p>na tentativa de manter a paridade do poder de compra entre a moeda doméstica e o dólar.</p><p>O principal ponto de combate a inflação no PAEG foi a política salarial compatível com a teoria</p><p>ortodoxa. O processo desinflacionário do PAEG substituiu a negociação salarial por uma fórmula oficial de</p><p>reajuste, ou seja, usou o poder de repressão sobre a sociedade e principalmente sobre os sindicatos, para se chegar</p><p>ao objetivo da ortodoxia: solucionar o impasse distributivo através da redução da parcela salarial. Neste ponto o</p><p>plano de estabilização de 1964 se afasta um pouco da ortodoxia, pois o estado intervém diretamente sobre o</p><p>impasse distributivo. A ortodoxia utiliza da restrição de liquidez, deixando ao mercado o encargo de selecionar os</p><p>mais fracos. As políticas monetárias e fiscais restritivas, na realidade, são regressivas, ou seja, seus custos recaem</p><p>sobre os desempregados e sobre as pequenas e médias empresas incapazes de ter acesso ao crédito racionado. A</p><p>possibilidade de obter empréstimos externos em moeda estrangeira, deu às empresas estrangeiras e às grandes</p><p>empresas estatais acesso a uma linha de crédito vedada às pequenas e médias empresas nacionais.</p><p>30</p><p>ÍNDICE CRONOLÓGICO</p><p>1964 – A forma de financiamento do déficit público é alterada (com o objetivo de conter a inflação), passando de</p><p>emissão monetária para vendas de títulos da dívida pública junto ao público.</p><p>1965 – Foi implementada a fórmula de ajuste salarial do plano, sendo proposta da seguinte maneira: sobre o</p><p>cálculo do salário mínimo real médio dos últimos 12 meses incidia o aumento da produtividade mais metade da</p><p>inflação prevista para próximo ano.</p><p>1967 - Delfim Netto assume o Ministério do Planejamento e abandona o objetivo de conter a inflação, expandindo</p><p>o crédito e melhorando a produção industrial.</p><p>1968 – Fim da fase de estabilização. Moeda e crédito se expandem e a inflação sofre um pequeno declínio.</p><p>Política fiscal – restritiva com aumento de impostos diretos e indiretos e contenção de gastos.</p><p>Política monetária – restritiva em 63, expansionista em 64 e 65; restritiva em 66 e expansionista a partir de 67.</p><p>Política creditícia – restritiva até 66 (com exceção de 65) e expansionista a partir de 67.</p><p>Política cambial – política de estímulos às exportações. Política de mini desvalorizações a partir de 68 para</p><p>manter a paridade do poder de compra entre a moeda doméstica e o dólar.</p><p>Política salarial – redução progressiva do salário mínimo real médio durante o plano, em decorrência da fórmula</p><p>de ajuste salarial.</p><p>31</p><p>CAPÍTULO 10 - A RETOMADA DO CRESCIMENTO E AS DISTORÇÕES DO “MILAGRE”: 1967-1973</p><p>Luiz Aranha Corrêa do Lago</p><p>(Bernardo Lanza Queiroz)</p><p>1- Novo diagnóstico dos problemas brasileiros</p><p>• Em 1964 o governo havia identificado a inflação como problema básico da economia brasileira.</p><p>• a inflação era de demanda, sancionada pela excessiva expansão monetária.</p><p>• entre 1964-66 governo implanta medidas duras na área fiscal e monetária.</p><p>• Em 1967 a herança é uma grande recessão, mas as diversas mudanças ocorridas no período</p><p>anterior tiveram impacto positivo em diversas áreas da economia.</p><p>• O novo governo que assumia tem como objetivos: o crescimento econômico, redução do papel</p><p>do setor público e incentivo ao papel do setor privado e expansão do comércio exterior.</p><p>• A inflação de demanda já parecia controlada, dessa forma governo centraria suas ações na</p><p>inflação de custos.</p><p>• As diretrizes da política econômica eram: i) crescimento econômico e ii) contenção da inflação.</p><p>• Projeto em duas etapas: 1) utilizar a capacidade instalada existente e 2) expandir a quantidade e</p><p>melhorar a qualidade da capacidade produtiva.</p><p>• Concentração do investimento público em: infra-estrutura, siderurgia, mineração, habitação,</p><p>saúde, educação e agricultura.</p><p>• Em resumo, a política econômica do governo era: i) maior estímulo a demanda (política</p><p>monetária, creditícia e fiscal mais flexível); ii) incentivo ao sistema financeiro da habitação; iii) política de</p><p>incentivo as exportações e entrada de investimentos diretos estrangeiros; iv) programa de incentivos e subsídios</p><p>para promover regiões e setores; v) BNDE como financiador dos investimentos; vi) manutenção da política</p><p>salarial anterior.</p><p>3- Crescimento econômico, Formação de Capital e Inflação</p><p>• Expansão da Economia</p><p>• crescimento acelerado do PIB: taxa média anual de 11,2%</p><p>• crescimento industrial mais significativo (cerca de 14% ao ano); setor primário cresceu cerca de</p><p>4,5% ao ano e o terciário cerca de 11,1% ao ano.</p><p>• Governo adotou políticas especificas para favorecer a evolução dos diversos setores.</p><p>• Agricultura: crédito a taxas subsidiadas e acelerado processo de mecanização.</p><p>• Indústria: começa crescimento com base na capacidade ociosa existente, incremento de</p><p>investimentos públicos e privados, aquecimento da demanda interna.</p><p>• Construção Civil: obras de infra-estrutura do governo, demanda do setor habitacional.</p><p>• investimentos do governo em infra-estrutura contribuíram para a consolidação do setor de bens</p><p>de capital.</p><p>• aceleração da produção de bens de consumo (principalmente duráveis) devido a: i) processo de</p><p>concentração da renda pessoal; ii) forte expansão do crédito ao consumidor (financiamentos, controle dos</p><p>juros e consórcios)</p><p>• aproveitando-se da reforma do sistema financeiro de 1996 há uma grande expansão do sistema</p><p>no período.</p><p>• Evolução da taxa de investimento, política industrial e papel da estatais</p><p>• Entre 1968-70 a Formação Bruta de Capital chega a 18,9% do PIB, entre 71 e 73 atinge 20,5%.</p><p>• Processo de formação do capital influenciada pela política industrial iniciada em 1964. Em</p><p>resumo, concessão indiscriminada de incentivos.</p><p>• CDI, BNDE e FINAME: papel importante na recuperação da demanda interna e no crescimento</p><p>do setor de bens de capital.</p><p>• crescimento da participação das empresas privadas e familiares e empresas públicas.</p><p>• importância da política de investimentos do governo como fator impulsionador do crescimento</p><p>global da economia e em particular para a indústria de bens de capital.</p><p>• investimentos estatais crescem 20% ao ano entre 1967-73.</p><p>• papel pró-cíclico das empresas</p><p>públicas.</p><p>• Trajetória da inflação e a política de controle de preços</p><p>• ganhos no combate à inflação deixaram de ser tão expressivos.</p><p>• governo admitia um certo nível de inflação.</p><p>• Entretanto, governo controlava todos os reajustes de preços. Estes eram baseados na variação</p><p>dos custos.</p><p>32</p><p>• aceleração da inflação associado ao nível de atividade da economia e com as políticas</p><p>expansionistas do governo.</p><p>4- Política Monetária e Creditícia e Desenvolvimento do sistema financeiro</p><p>• Expansão dos meios de pagamento e da base monetária e diversificação dos haveres</p><p>financeiros</p><p>• A partir de 1967 ocorreu uma significativa expansão da oferta de moeda e crédito.</p><p>• em termos reais, os aumentos reais de oferta de moeda e de crescimento médio real dos meios de</p><p>pagamentos se mantiveram em linha com o crescimento do PIB real.</p><p>• Principais fatores de expansão e contração da oferta monetária: i) 1967: relaxamento da política</p><p>fiscal, necessidade de financiar o déficit da União, aumento do redesconto e outros empréstimos. ii) 1968:</p><p>repete-se a pressão do financiamento do déficit de caixa pelas autoridades monetárias e a expansão foi de</p><p>40% e iii) 1969 e anos seguintes: déficit de caixa passa a ser financiado integralmente pela colocação de</p><p>títulos junto ao público, que se tornaria fator permanente de contração dos meios de pagamento e o aumento</p><p>das reservas cambiais que tem efeitos expansionistas.</p><p>• entre 1967-73 há um processo de substituição dos depósitos a vista por haveres não-monetários.</p><p>Aumento da participação de títulos da dívida pública.</p><p>• Além disso, a existência de correção monetária e de investimentos financeiros pós-fixados</p><p>embutindo uma expectativa de inflação levaram a uma mudança no comportamento dos poupadores no</p><p>sentido do redirecionamento de suas aplicações.</p><p>• Política Monetária</p><p>• Em 1964 o redesconto passa a ser regulamentado pela CMN e BACEN.</p><p>• assim tornou-se possível ao BACEN contar com um instrumento que permitia injetar recursos</p><p>no sistema bancário e influenciar a taxa de juros.</p><p>• até 1973 a política de redesconto foi flexível.</p><p>• Entre 1967-73 a política de redesconto passa a ter como objetivo o controle quantitativo do</p><p>crédito.</p><p>• além disso, assume grande importância a política de mercado aberto.</p><p>• ORTNs: visava substituir a emissão de moeda no financiamento do setor público.</p><p>• e assim, regularizar a liquidez da economia.</p><p>• Política de Juros e o processo de concentração bancária</p><p>• Em 1967, o governo acreditava que os custos financeiros eram muito elevados e que as taxas de</p><p>juros eram elemento de custo das empresas e precisavam ser reduzidos.</p><p>• A política de juros da nova administração era: i) controle direto das taxas de juros; ii) incentivos</p><p>aos bancos comerciais para redução das taxas de juros; iii) eliminação das deficiências do setor bancário e iv)</p><p>aproveitamento das escalas (concentração e obstáculos a abertura desordenada de agências).</p><p>• governo claramente não permite a formação das taxas de juros pelo livre jogo do mercado.</p><p>• taxas de juros para setores prioritários fixadas em valores nominais.</p><p>• governo foi fixando tetos mais baixos de juros para segurar uma possível tendência de</p><p>crescimento dos juros reais.</p><p>• durante todo o período 1967-73 não foi permitida a fixação de taxas de mercado para captação e</p><p>aplicação.</p><p>• nova administração via com bons olhos a redução do número de bancos e a consolidação do</p><p>sistema de bancos comerciais.</p><p>• Diretriz do Governo de 1967: listava medidas favoráveis a fusão e incorporações bancárias;</p><p>vantagens fiscais para tais processos; benefícios para a formação de conglomerados financeiros.</p><p>• Entre 66 e 73, 190 bancos foram absorvidos por outros.</p><p>• processo de concentração bancária parece ter decorrido das medidas de política econômica</p><p>adotadas, inclusive a política de teto de juros e às restrições a entrada de bancos estrangeiros e outros no</p><p>mercado.</p><p>• resultado foi uma concentração expressiva da captação e das aplicações em um número reduzido</p><p>de conglomerados financeiros.</p><p>• As principais fontes de oferta de crédito e a política creditícia do governo</p><p>• i) conter as necessidades de financiamento do setor público e ii) assegurar a oferta de crédito</p><p>adequada ao setor privado</p><p>• oferta de crédito total expandia-se rapidamente após 1967</p><p>• empréstimos do sistema monetário cresceram a taxa média de 23,5% ao ano entre 67-73.</p><p>• a participação do sistema monetário no fornecimento de crédito foi se reduzindo devido a</p><p>importância concedida pelo governo ao crédito consumidor e a área de habitação e a criação dos bancos de</p><p>investimento (aumento da participação do sistema não-monetários)</p><p>33</p><p>• dessa forma, o controle do crédito não podia se limitar via base monetária ou política de</p><p>redesconto.</p><p>• nova organização do sistema financeiro não alcançou resultados almejados, créditos de longo</p><p>prazo permaneceram sendo fornecidos por agências públicas e bancos oficiais.</p><p>• crédito de curto e médio prazos supridos por bancos comerciais e o Banco do Brasil</p><p>• Entre 67-73 o governo durante alguns anos dosou a taxa de expansão monetária mas garantiu</p><p>uma elevada taxa de expansão do crédito total.</p><p>• O setor agropecuário mereceu atenção especial do governo via política de juros subsidiados.</p><p>Este era um dos componentes do déficit do governo.</p><p>• Apesar disso, o crédito rural cresceu a taxas reais inferiores as taxas de expansão do crédito total</p><p>do sistema financeiro.</p><p>• o crédito se expandiu a taxa muito superior a dos meios de pagamentos e da base monetária.</p><p>• Mercado acionário como fonte alternativa de financiamento</p><p>• Decreto Lei-157: criou fundos fiscais de investimentos com propósito de financiar capital de</p><p>giro de Cias. Abertas, desenvolver o mercado de capitais e educar o investidor individual.</p><p>• mecanismo iria canalizar volumosos recursos para a bolsa de valores e seria reforçado pelo</p><p>crescimento econômico.</p><p>4- Política fiscal, os estados e municípios, a política regional, as estatais e o papel do governo</p><p>na economia</p><p>• Governo beneficiou-se das reformas tributária e administrativa implementadas pelo governo</p><p>anterior e tenta aumentar a eficiência da máquina administrativa.</p><p>• Em 1972, governo cria mais um imposto: IOF (Imposto sobre Operações Financeiras).</p><p>• No período há uma redução da despesa com pessoal a nível federal: de 32% em 63-64 para 18%</p><p>em 71.</p><p>• Apesar disto, grande parte da receita do governo era vinculada. Pr exemplo, os Fundos de</p><p>Participação de Estados e Municípios.</p><p>• A renúncia fiscal (perda de arrecadação) era elevada devido aos incentivos dados pelo governo</p><p>para promover o crescimento econômico de regiões e/ou setores.</p><p>• Até 1968, o déficit do governo era financiado pelas autoridades monetárias, ou seja, emissão de</p><p>moeda. A partir de 1969, passa a ser amplamente coberto pela colocação líquida de títulos da dívida pública</p><p>federal (ORTNs e LTNs), o que permitiu realizar uma política monetária mais eficaz.</p><p>• A redução do déficit do tesouro e a geração de um superávit do governo em 1973, refletem, sem</p><p>dúvida, um saneamento das contas do governo, consolidando os esforços empreendidos de 1964 a 1966.</p><p>• Havia existência de poupança em conta-corrente do governo suficiente para financiar o</p><p>investimento da administração pública.</p><p>• A carga tributária apresentou tendência ascendente no período, sobe de 22,4% do PIB entre 65-</p><p>69 para 24,7% em 1970-73 (carga bruta). Entretanto, há uma forte política de incentivos, os subsídios sobem</p><p>de 7,1% nos anos 60 para 8,1% nos 70, resultando uma carga líquida de 16,8% entre 65-69 e uma de 17,2%</p><p>entre 70-73.</p><p>• Por outro lado, dados do IBGE, mais recentes, mostram uma carga tributária bruta de cerca de</p><p>26% do PIB entre70 e 73, com a carga líquida oscilando de 16,8% a 17,2% do PIB no período.</p><p>• Entre 70-73, observou-se uma redução das despesas correntes do governo, com queda na</p><p>participação de salários e encargos de</p><p>8,3% em 1970 para 7,4% em 1973.</p><p>• Em resumo, o período 1967-73 pode ser caracterizado como: i) Aumentou a arrecadação líquida</p><p>do governo; b) diminuição de importantes contas do lado da despesa e iii) geração de poupança em conta</p><p>corrente suficiente para financiar investimentos.</p><p>• Finanças Estaduais e Municipais</p><p>• Sub-esferas do governo estavam subordinadas a orientação do governo federal.</p><p>• Carta de 1967: permite a intervenção da área federal em assuntos financeiros dos estados e</p><p>municípios</p><p>• Foi delegada ao BACEN a responsabilidade e controle sobre a emissão de papéis estaduais.</p><p>• Em 1968, com o AI-5 foi reduzida a parcela do Fundo de Participação dos Estados e</p><p>Municípios.</p><p>• A característica básica do período 67-73 foi a centralização das decisões de alocação de recursos</p><p>no governo federal.</p><p>• Assim, depois de 1968 observou-se uma redução do desequilíbrio existente nas contas do Estado</p><p>e do Distrito Federal.</p><p>• O aperfeiçoamento do ICM representou importante fonte de recursos para os estados.</p><p>34</p><p>• a política regional do período não foi baseada no livre-jogo do mercado: mas o governo entrava</p><p>regulando e consertando as falhas das empresas privadas.</p><p>• Havia uma política nacional de desenvolvimento integrado executada por órgãos de presença</p><p>nacional como o BNDE, DNER, Embratel, SUDEPE e órgãos de presença regional como a SUDENE.</p><p>• A ênfase do governo era: i) obras públicas e oferta de recursos para investimentos e ii)</p><p>direcionamento dos investimentos privados diretos.</p><p>• Um dos objetivos da política regional do governo era o desenvolvimento do Nordeste através de</p><p>incentivos fiscais e obras de infra-estrutura. Além disso, planejou-se a abertura da Amazônia que terminou</p><p>revelando-se um fracasso.</p><p>• Crescimento das Estatais e descentralização</p><p>• governo central permitiu a proliferação de empresas estatais federais e estaduais entre 67-73.</p><p>• As causas desta proliferação foram:</p><p>• i) decreto-lei número 200 de 1967: dava oportunidade para criação de diversas subsidiárias de</p><p>empresas estatais existentes.</p><p>• ii) criação de holdings setoriais para centralizar a coordenação e administração das empresas.</p><p>• iii) administração das empresas teria se tornado mais eficiente, gerando excedentes para a</p><p>expansão natural das empresas.</p><p>• iv) empresas estatais centraram sua atuação no desenvolvimento de áreas onde a iniciativa</p><p>privada não se arriscava ou não tinha condições de operar.</p><p>• Apesar deste crescimento do papel do setor público o emprego nele crescia menos do que a</p><p>média de crescimento do emprego nacional.</p><p>• As fontes de financiamento das empresas públicas eram:</p><p>• i) significativos recursos internos, grau de autofinanciamento era de 45%;</p><p>• ii) receitas vinculadas do tesouro eram de 12,3%.</p><p>• iii) subscrição de ações: 1,8% do total.</p><p>• iv) 25,2 % de empréstimos sendo 8,3% do BNDE e 16,9% de fontes externas aproveitando a alta</p><p>liquidez internacional.</p><p>• Participação do Estado na Economia</p><p>• emprega 8,5% da PEA em 1973.</p><p>• representa metade (50%) dos investimentos totais.</p><p>• intervenção na economia via políticas monetária, fiscal e creditícia.</p><p>• estado-empresário: supri insumos e serviços básicos a economia.</p><p>• o setor público tem participação de 20% na atividade econômica.</p><p>• elevação da carga tributária: melhoria da eficiência administrativa, aproveitou-se das reformas</p><p>realizadas no período anterior e beneficiada pelo acelerado crescimento econômico.</p><p>• forte centralismo da economia.</p><p>• supria crédito e demandava bens: influi ativamente na economia.</p><p>4- Setor Externo na Economia</p><p>• importantes mudanças no setor externo, associada a medidas de política econômica (cambial e</p><p>incentivos as exportações).</p><p>• Entre 1967 e 1973 observou-se: a) aumento das exportações, b) diversificação da pauta de</p><p>exportação com incremento de manufaturados, c) aumento da importação de bens de capital, d) maior</p><p>diversificação de parceiros comerciais.</p><p>• Os objetivos da área externa eram: i) aumento da competitividade; ii) maior diversificação da</p><p>pauta; iii) ampliação dos mercados externos e iv) manter suprimento adequado de matérias-primas para</p><p>garantir crescimento da economia.</p><p>• A política de exportações era baseada em: i) medidas fiscais e creditícias diretas; ii) política</p><p>cambial mais flexível; iii) medidas indiretas (desburocratização e melhoria de infra-estrutura de</p><p>comunicação e transportes)</p><p>• há uma política de incentivo para atração de investimentos diretos estrangeiros visando aumento</p><p>da capacidade produtiva. Dentre estas pode-se destacar: i) isenção de Imp. Importação e IPI até 1/3 do valor</p><p>líquido exportado; ii) não sujeição a lei do similar nacional; iii) possibilidade de transferência de benefícios</p><p>fiscais; iv) permissão para transferência de créditos fiscais e v) abatimento do lucro tributável.</p><p>• no período as exportações (FOB) crescem 24,6% ao ano.</p><p>• A balança comercial apresentou os seguintes resultados: foi positiva entre 1967-70; negativa</p><p>entre 71 e 72 e voltou a se equilibrar em 1973.</p><p>• mesmo com todas estas medidas, o coeficiente de abertura da economia brasileira continuou</p><p>baixo em termos mundiais.</p><p>• Endividamento externo e acumulação de reservas</p><p>35</p><p>• aumento da dívida externa bruta entre 67-73 a taxa anual de 19,3% ao ano.</p><p>• aumento da dívida líquida de 9,6% ao ano => resulta numa expressiva acumulação de reservas.</p><p>• aumento da participação de empréstimos privados externos em detrimento aos órgãos oficiais.</p><p>(atinge cerca de 64% em 1973)</p><p>• Aumento dos investimentos estrangeiros</p><p>• dirigido basicamente ao setor industrial</p><p>• saltam de US$ 57 milhões entre 64-66 para US$ 267 milhões entre 67-73 (na média)</p><p>• distribuição do investimento direto estrangeiro: 77% na indústria de transformação; 4,2% nos</p><p>serviços industriais; 1,7% no setor mineral; 3,5% em bancos e cia. De investimento e 0,7% na agropecuária.</p><p>• mais importante: grande taxa de reinvestimento => aumento da capacidade produtiva e realizar</p><p>aquisições.</p><p>• os investimentos estrangeiros tem papel relevante na expansão da exportação de manufaturas e</p><p>nos desenvolvimento de novas atividades.</p><p>• Fatores de relevância para ampliação dos Investimentos Estrangeiros: i) nova política cambial</p><p>(governo adota as mini-desvalorizações); ii) política de incentivo às exportações; iii) retomada do</p><p>crescimento econômico; iv) programas conhecidos de investimentos públicos e política industrial favorável</p><p>e v) maior estabilidade política do país.</p><p>4- Política Salarial, distribuição de renda e emprego</p><p>• herdou política salarial restritiva do governo anterior.</p><p>• redução do campo de negociações salariais.</p><p>• redução do poder de barganha dos trabalhadores.</p><p>• legislação trabalhista restritiva.</p><p>• entre 67-73 há uma estagnação do salário mínimo real apesar do forte crescimento da economia</p><p>e da produtividade do trabalho.</p><p>• Distribuição da renda e nível do emprego</p><p>• Distribuição Setorial da Renda: queda da participação da agropecuária; forte incremento da</p><p>indústria.</p><p>• concentração da renda nas classes mais altas: 5% dos ricos concentravam 34,1% da renda</p><p>nacional, enquanto 50% mais pobres 17,4% da renda.</p><p>• entre 60 e 70 há uma grande deterioração da distribuição da renda: GINI salta de 0,497 em 1960</p><p>para 0,562 em 1970.</p><p>• por outro lado, devido ao crescimento da atividade econômica houve uma crescimento</p><p>significativo do pessoal ocupado.</p><p>• 8- Considerações Finais</p><p>• objetivo básico do governo Costa e Silva foi o desenvolvimento econômico e social e a</p><p>contenção da inflação.</p><p>• o PIB cresceu a uma taxa média de 10,2% ao ano entre 1967 e 1973</p><p>• o produto per capita cresceu a taxa média de 7,2% ao ano.</p><p>• dados da PNAD de 1968 a 1973 indicam um crescimento das pessoas ocupadas à média de 4,3%</p><p>ao ano.</p><p>• todas as metas estabelecidas pelo governo foram alcançadas.</p><p>• a inflação permaneceu boa parte do período contida, mas em 1973 já apresentava sinais de</p><p>aceleração.</p><p>• Balanço de Pagamentos:</p><p>ampliação das importações de bens de capital e matérias-primas</p><p>industriais de 7 a 9% ao ano.</p><p>• as exportações cresceram a taxa elevada mas não impediu o aumento do endividamento bem</p><p>além das necessidades reais do país em termos de reservas reais.</p><p>• inflação e dívida externa: problemas potencialmente crescentes.</p><p>• característica da política econômica: extremamente autoritária. Governo federal reduziu Fundo</p><p>de Participação, controlava emissão de títulos estaduais e controlava as relações trabalhistas.</p><p>• os trabalhadores não se beneficiaram do crescimento da renda real do país de forma proporcional</p><p>a sua evolução.</p><p>36</p><p>CAPÍTULO 11 - CRISE E ESPERANÇA: 1974-1980</p><p>Dionísio Dias Carneiro</p><p>(Gustavo de Britto Rocha)</p><p>1. Introdução</p><p>O ano de 1973 foi um ano de muitos acontecimentos importantes no cenário internacional. A economia</p><p>mundial vinha apresentando altas taxas de crescimento (em torno de 7%) e as pressões sobre a demanda, fruto dos</p><p>grandes gastos dos EUA com a guerra do Vietnã era acompanhada por pressões por aumentos salariais e à</p><p>desvalorização do dólar em 1971. Havia grande disponibilidade de divisas para empréstimos, especialmente</p><p>devido ao aumento dos mecanismos financeiros e à formação do Euromarket. Nos países desenvolvidos os efeitos</p><p>da instabilidade do dólar e da escalada da inflação se faziam sentir. As economias emergentes, onde a integração</p><p>com o comércio internacional havia se acentuado fortemente desde 1966, observava-se em geral altas taxas de</p><p>crescimento do produto e da indústria. Em um clima de crescimento generalizado, a inflação crescente era vista</p><p>como sendo fruto da defesa das taxas de câmbio fixas e como sendo o preço a pagar pelas altas taxas de</p><p>crescimento.</p><p>Contudo, os fatos mais marcantes desse ano podem ser considerados o fracasso da reforma do sistema</p><p>monetário internacional e o primeiro choque do petróleo, em que, frente ao aumento da demanda, os países da</p><p>OPEP quadruplicaram seus preços, causando a transferência de 2% da renda mundial para si.</p><p>Na economia brasileira, a crise internacional não parecia causar espanto sobre os formuladores da política</p><p>econômica, e a economia crescia a taxas duas vezes maiores a sua média histórica. A crise do petróleo atingiu a</p><p>economia brasileira em meio a uma sucessão presidencial, com um novo governo que representava uma corrente</p><p>contrária ao governo que saía.</p><p>As sérias limitações externas impostas à economia brasileira encerraram o período do milagre, que foi</p><p>acompanhado por inquietações sociais contra a ditadura.</p><p>2. Condicionantes Externos e Internos da Política Econômica</p><p>Os grandes desequilíbrios internos e externos que marcaram o período se refletiram de maneira marcante</p><p>na orientação da política econômica do governo Geisel. Frente à sua proposta de distensão (abertura) política, a</p><p>dualidade da política econômica já pode ser verificada na composição do novo Ministério. Na fazenda Delfin</p><p>Netto deu lugar a Simonsen, que mostrou desde o início, a preocupação de ajustar a economia à crise e combater a</p><p>inflação. No Planejamento assumiu João Paulo Velloso, com a preocupação de retomar as taxas de crescimento do</p><p>período anterior.</p><p>A política econômica adotada sugeria que as autoridades não deram a atenção merecida à crise</p><p>internacional, e a economia sofreu uma forte desaceleração em 1974. Contudo não se pode atribuir os rumos da</p><p>política apenas aos erros de avaliação da equipe econômica, sendo que os condicionantes dessa podem ser</p><p>atribuídos em um maior grau a fatores internos. A distensão política tinha uma fraca base de sustentação militar</p><p>nos primeiros anos, e poderia se enfraquecer ainda mais se o desempenho da economia apresentasse um grande</p><p>contraste com o governo Médici. Dessa forma a implementação de um plano de ajuste econômico com</p><p>características recessivas logo no início do governo não teria apoio do Presidente, mesmo que essa fosse a opinião</p><p>da equipe econômica. Dessa forma, o discurso contracionista de Simonsen parece Ter origem muito mais no</p><p>descontrole monetário legado pelo governo anterior do que propriamente na constatação da necessidade de uma</p><p>desaceleração da economia frente aos desequilíbrios do BP (Balaço de Pagamentos). Essa posição dual imposta</p><p>pelas condições internas encontraram apoio no fato de que a abundância de liquidez internacional permitia o</p><p>financiamento dos déficits em conta corrente via endividamento. Juntamente com a existência de diversos</p><p>mecanismos de indexação, essa facilidade de financiamento provocou uma certa tolerância à inflação, conduzindo</p><p>a política econômica ao caminho “menos doloroso”.</p><p>3. Opções para o Ajuste de Curto Prazo e as causas do Fracasso</p><p>Parece haver consenso em torno da afirmação de que a dimensão do choque do petróleo não foi percebida</p><p>de imediato no Brasil, o que implicou em uma desvalorização das exportações brasileiras frente às importações,</p><p>de maneira que uma quantidade maior de exportações teria que ser feita para importar a mesma quantidade de</p><p>produtos. Diante disso, o governo possuía duas alternativas para fazer frente ao desequilíbrio de preços relativos.</p><p>A primeira consistia em uma desvalorização imediata do câmbio, alterando rapidamente os preços relativos,</p><p>adotando paralelamente medidas de contenção da demanda, impedindo que o superaquecimento proveniente do</p><p>período do milagre se traduzisse em um choque inflacionário. Essa alternativa implicaria inevitavelmente em uma</p><p>37</p><p>recessão, com o risco dessa se prolongar além do necessário. A Segunda opção seria optar por um ajuste de preços</p><p>relativos mais gradual, utilizando a abundância de recursos externos para financiar os déficits. Dessa forma o</p><p>governo ganharia tempo para ajustar a oferta ao crescimento mais rápido. Nesse caso, a opção por não incorrer em</p><p>recessão implica em se aceitar taxas de inflação mais elevadas. Os erros de avaliação da crise e a visão</p><p>“curtoprazista” da economia conduziram à segunda alternativa, causando sérias implicações de médio e longo</p><p>prazo sobre a economia brasileira</p><p>A política de curto prazo do governo Geisel foi marcada por quatro decisões importantes. A primeira foi</p><p>a remoção dos mecanismos artificiais de controle de preços herdados do governo Médici, o que provocou um</p><p>descontrole inflacionário. Após um período inicial de “inflação corretiva”, o governo reformulou os mecanismos</p><p>de controle de preços agrícolas e industriais. A Segunda medida foi a oficialização de uma fórmula para a</p><p>correção monetária, visando proporcionar maior clareza às regras de indexação. A política monetária foi ficou</p><p>restrita ao controle de liquidez real, uma vez que o governo descartou o uso dos preços relativos. Com as taxas de</p><p>juros sob controle a oferta monetária se torna essencialmente endógena, sendo determinada pelas reservas</p><p>internacionais e pelos empréstimos do BACEN. A visão simplista do governo acerca da política monetária fica aí</p><p>explicitada, uma vez que esse se restringiu ao controle da liquidez. Esse fato fica ainda mais evidente na terceira</p><p>medida tomada pelo governo, que foi a intervenção no banco Halles, o quarto maior banco comercial brasileiro. A</p><p>crise bancária desencadeada por essa intervenção fez com que o Banco Central aumentasse o financiamento aos</p><p>bancos através do redesconto, com o intuito de minimizar os efeitos da crise. Como resultado, no ano de 1974</p><p>houve expansão da base monetária, mesmo com a perda de reservas provocada pelo desequilíbrio na BC (Balança</p><p>Comercial). Apesar do governo ter conseguido diminuir a liquidez real da economia há dúvidas a respeito do grau</p><p>de aperto da política monetária nesse ano. Para agravar o descontrole inflacionário, soma-se às medidas anteriores</p><p>o fato de o governo ter reavaliado a política de reajuste do salário mínimo, pressionado pelas críticas a respeito do</p><p>caráter de arrocho da antiga correção, que teria piorado</p><p>expandir e contrair a moeda. Em 1889, só o que a reforma de 87 tinha</p><p>alcançado fora restabelecer a adesão ao padrão ouro à paridade de 1846, o que tornou possível ao Império propor</p><p>a "emissão conversível".</p><p>4. Política Econômica nos anos 1890</p><p>O retorno do país ao padrão ouro far-se-ia em função de uma situação cambial extremamente favorável: a</p><p>taxa de cambio atingiria a paridade de 1846 em outubro de 1888, sem que isto estivesse associado a nenhum</p><p>esforço deflacionista.</p><p>Neste mesmo ano é incorporado o Banco Nacional do Brasil (BNB) com faculdade emissora e</p><p>responsável pela "emissão conversível". Sem sucesso, em fins de 1889 a necessidade de novas emissões já era</p><p>exaltada em tons dramáticos.</p><p>Rui Barbosa, o primeiro ministro da Fazenda de República foi por certo, um dos mais controvertidos. É</p><p>objeto de irrestrita admiração, mas atribuem-lhe a responsabilidade suprema da inundação de papel-moeda, que</p><p>quase fez naufragar o país com os desastres que nos levaram à moratória de 1898.</p><p>Sua principal medida de política econômica foi a lei bancária de 17 de janeiro de 1890, que estabelecia</p><p>emissão bancárias a serem feitas sobre um lastro constituído por títulos da dívida pública. Três regiões bancárias</p><p>seriam formadas, a central pelo BEUB, Banco dos Estados Unidos do Brasil.</p><p>Tal tentativa de se regionalizar a emissão bancária não seria bem sucedida. Algumas alterações, que</p><p>descaracterizaram o decreto de 17 de janeiro foram feitas para atender a demanda "reprimida" de numerário.</p><p>Dados pela Abolição, a entrada no país de mais de 200 mil imigrantes, o grande impulso no nível de atividade e o</p><p>estado favorável das contas externas, o papel-moeda emitido em setembro de 1890 já havia crescido 40% em</p><p>relação a 17 de janeiro.</p><p>A especulação bursátil preocupa o governo que promove a fusão do BNB e do BB no Banco da</p><p>República dos Estados Unidos do Brasil (BREUB), com o propósito de constituir uma espécie de banco central;</p><p>um grande banco de depósitos e descontos com poderes para regular o volume de crédito, através de emissão e</p><p>mercado de câmbio.</p><p>No início de 1891, Rui Barbosa é sucedido pelo conselheiro Alencar Araripe e em seguida pelo barão de</p><p>Lucena. Uma queda inusitada da taxa de câmbio neste ano é atribuída às omissões e hesitações destes dois, aliadas</p><p>a influências "exógenas" tais como: o colapso da casa Baring Brothers em Londres e a moratória da Argentina.</p><p>Empréstimos junto aos Rothschild tornam-se inviáveis e pouco pôde ser tentado a título de política cambial em</p><p>1891.</p><p>Acarretou-se a isto, a dissolução do Congresso e a ascensão de Floriano Peixoto em novembro. Seu</p><p>ministro da Fazenda, Rodrigues Alves, proporia um plano deflacionista em 1892, sem sucesso no Congresso.</p><p>Serzedelo Correia - um industrialista de certa projeção - o substitui, então.</p><p>Pouco ou nada resultaria da tentativa de Serzedelo - através do BRB, Banco da República do Brasil,</p><p>fusão do BREUB com o BB - de "sanear a praça". A especulação na bolsa contaminara muito profundamente a</p><p>carteira o próprio BRB. Ao mesmo tempo, a crise cambial aprofundava-se alimentada pela deterioração da</p><p>situação política que tornava claro o estado de paralisia decisória em que se debatia o governo.</p><p>O déficit orçamentário cresceria de forma significativa após a crise de 18891. Diante deste quadro a</p><p>reação do novo governo que se instalou em fins de 1894 - tendo Prudente de Morais na Presidência da República e</p><p>Rodrigues Alves, mais uma vez, na Fazenda - foi a de procurar insistentemente junto aos Rothschild prover-se de</p><p>recursos para financiar suas despesas no exterior.</p><p>Durante 1895 negociou-se um grande empréstimo em bases traduzidas nestas palavras dos próprios</p><p>banqueiros: "acreditamos que o que o Brasil quer é um ou dois anos de tempo para respirar a fim de permitir a um</p><p>governo sábio e conservador colocar as finanças do país em ordem, em caráter permanente."</p><p>Nenhuma melhora na situação cambial se observaria ao longo de 1896 e 1897, sendo o empréstimo de</p><p>1895 - não tão grande assim - rapidamente consumido. O enfraquecimento dos preços de café, reflexo dos plantios</p><p>do começo da década, debilitou ainda mais as contas externas do país.</p><p>As negociações continuaram e por fim, um plano de refinanciamento de pagamentos é finalmente</p><p>acordado entre o governo brasileiro e a casa Rothschild, através do qual seria emitido o chamado funding loan. O</p><p>plano tratava-se de rolar compromissos externos do governo, vale dizer, o serviço da dívida pública externa e</p><p>algumas garantias de juros, em troca de severas medidas de saneamento fiscal e monetário.</p><p>A política econômica do ministro Joaquim Murtinho – que, na verdade, constitui-se na execução do</p><p>funding scheme - estava fundada sobre concepção bastante rudimentares quanto a natureza do ajustamento</p><p>necessário para solucionar as dificuldades de pagamentos do país. Tratava-se de uma seleção natural entre os</p><p>diversos lavradores sem crédito. A redução do papel-moeda em circulação é, portanto, a pedra de toque do</p><p>4</p><p>programa. A conseqüência mais imediata dessa política seria a avalanche de falências bancárias ocorridas em</p><p>1900, uma torrente que tragou o próprio BRB.</p><p>O programa conseguiria uma apreciação cambial distante da pretendida e ainda fora favorecida pela</p><p>extraordinária recuperação das exportações em 1899, para a qual a borracha contribuiu significativamente.</p><p>Finalmente, novamente, não é claro a priori em que medida a apreciação cambial se devia a contração</p><p>monetária ou a fatores exógenos associados ao balanço de pagamentos. Além disso, observa-se uma revitalização</p><p>das entradas de capital a partir da adoção do programa conservador. Um curioso fenômeno que se observa ao</p><p>longo dos anos 90 e viria a se repetir muitas vezes nos anos seguintes, é o fato de crises (ou melhorias) cambiais</p><p>serem geradas de forma espúria pelo "mau (ou bom) comportamento" das políticas monetárias e fiscais, não em</p><p>função dos efeitos diretos destas, mas em função da percepção dos banqueiros internacionais tinham sobre estas</p><p>políticas, pois esta percepção via de regra, era fundamental para determinar a magnitude dos fluxos de capital</p><p>direcionados para o Brasil.</p><p>ÍNDICE CRONOLÓGICO</p><p>1887 - primeiro grande projeto de reforma monetária;</p><p>junho de 1889 - surgimento do BNB, como fusão entre Banco Internacional e Banque de Paris et des</p><p>Pays Bas, pivô da fase da "emissão conversível", frustrada ainda em 1889;</p><p>17 de janeiro de 1890 - lei bancária de Rui Barbosa, que já descaracterizada foi responsável pelas</p><p>críticas a pessoa de seu idealizador;</p><p>1890 - surgimento do BEUB, banco de emissão da região central de Rui Barbosa;</p><p>início de 1891 - Rui Barbosa deixa a Fazenda, substituído por Alencar Araripe;</p><p>1891 - ascensão de Floriano Peixoto, ano de grande depressão cambial;</p><p>1892 - primeira proposta de Rodrigues Alves de clara tendência deflacionista, sem respaldo no</p><p>Congresso;</p><p>7 de dezembro de 1892 - fusão do BREUB e BB, decorrente das propostas de Serzedelo Correia;</p><p>1893 - Revolta da Armada, em meio a qual a especulação da bolsa teria seu desfecho;</p><p>Fevereiro de 1898 - moratória, que duraria até o ano de 1900;</p><p>1898 - plano conservador de saneamento monetário e fiscal;</p><p>1899 - recuperação das exportações, principalmente borracha, colaborando com melhoria no balanço de</p><p>pagamentos;</p><p>1900 - avalanche de falências bancárias, consequência mais imediata do funding scheme.</p><p>Políticas:</p><p>i) Monetária: expansionista a partir de 17 de janeiro de 1890, com Rui Barbosa, passando a</p><p>conservadora a partir de Prudente de Morais, até meados da década seguinte;</p><p>ii) Fiscal e cambial: em geral acompanharam a política monetária, no período.</p><p>5</p><p>CAPÍTULO 2 - APOGEU E CRISE NA PRIMEIRA REPÚBLICA: 1900-1930</p><p>Winston Fritsch</p><p>(Bruno Carazza)</p><p>1. Introdução</p><p>• Apogeu, tensões e ruptura da inserção da economia brasileira na Pax Britannica.</p><p>• Período caracterizado por uma “sucessão de crises</p><p>a distribuição de renda. Dessa forma o governo adiciona à</p><p>formula anterior de recomposição salarial com base nos 12 meses anteriores um mecanismo de correção caso a</p><p>inflação tenha sido subestimada. Na política creditícia o BACEN e o BB (Baco do Brasil) se transformaram em</p><p>banco de fomento, expandindo o crédito a vários programas, fato que atuava em direção oposta tentativa de</p><p>estabilizar a economia.</p><p>Como conseqüência, o ritmo do crescimento caiu, reflexo da queda da atividade econômica. Esse</p><p>desaquecimento se somou à crescente crise financeira , o que forçava o governo a tomar uma decisão quanto ao</p><p>rumo da política econômica: estabilizar a economia ou priorizar o crescimento. A decisão do governo em direção</p><p>ao crescimento veio com o resultado das eleições parlamentares, que teve como resultado a vitória da oposição</p><p>(MDB), que intensificou seus protestos contra o governo. A derrota do governo se refletiu imediatamente sobre a</p><p>política de contenção da demanda no ano de 1975, que foi relaxada, assim como a monetária, ficando apenas a</p><p>política fiscal com características verdadeiramente restritivas.</p><p>No ano de 1975, três fatos marcaram a economia. O primeiro consistiu no agravamento da crise</p><p>financeira, o que mostrava a incapacidade do governo em reduzir a inflação e o caráter duvidoso da política</p><p>monetária, mesmo com a liquidez real em queda. Logo no início do ano, houve uma perda de US$ 500 mi, o que</p><p>significava uma contração monetária, que poderia intensificar a recessão. Em contrapartida, o governo adota um</p><p>mecanismo compensatório que prevê, em caso dos meios de pagamento caírem a baio do nível previsto, a adoção</p><p>de redesconto invertido, com o governo emprestando fundos aos bancos comerciais. Várias instituições</p><p>financeiras adotaram mecanismos de especulação com letras de câmbio e certificados de depósitos, vendendo-os</p><p>com uma carta de garantia de recompra no futuro. A redução da taxa de correção monetária que se seguiu</p><p>provocou a instabilização de várias instituições, forçando o governo a socorrê-las com emissão monetária. Se</p><p>havia dúvidas quanto ao contracionismo monetário em 74, havia certeza de expansão em 75. O segundo fato</p><p>marcante foi a ocorrência, paralelamente ao desajuste interno, do desequilíbrio nas contas externas forçando o</p><p>aumento da dívida externa bruta de US$ 12mi para US$ 21mi nos primeiros dois anos do governo Geisel. O</p><p>terceiro fato foi a aprovação do II PND, que consolidou a posição do governo pela tentativa de um ajuste</p><p>estrutural com o objetivo de retomada do crescimento, utilizando financiamento externo e com alguma tolerância</p><p>às taxas elevadas de inflação, configurando a dominância da SEPLAN sobre o Ministério da Fazenda.</p><p>O descontrole observado no ano de 1975 faz com que, já no início de 1976 o governo buscasse de</p><p>maneira mais efetiva o controle monetário. Para isso o governo atuou explicitamente no sentido de conter os</p><p>empréstimos do BB, o que permitiu uma mudança efetiva na orientação da política monetária. Apesar da</p><p>economia ter se recuperado (crescimento de 9,8% em 76 contra 4,6% em 75), a possibilidade de recessão ainda</p><p>impedia a adoção de medidas efetivas de controle da demanda.</p><p>Em 1977 o governo promove uma política monetária mais restritiva, com desaceleração dos meios de</p><p>pagamento e empréstimos, além da instituição de uma taxa de juros real positiva (o que não ocorria desde 71).</p><p>Contudo, à medida que se aproximava o final do mandato de Geisel, a oposição interna aumentava, diminuindo o</p><p>espaço político da tentativa de redução inflacionária.</p><p>Em 1978, se consolida a candidatura do general Figueiredo, e o governo passa a priorizar a acumulação</p><p>de reservas e a continuidade da distensão política. Contudo as contas públicas voltam a piorar no final do ano com</p><p>quebra da safra, provocada pela forte seca que assolou o centro sul, que obrigou a importação de mais de US$ 1 bi</p><p>em alimentos.</p><p>38</p><p>Em 1979, assume a presidência o general Figueiredo, e Simonsen é deslocado para a SEPLAN,</p><p>assumindo Karlos Riscbiter no Ministério da Fazenda. A prioridade da SEPLAN passou a ser o controle fiscal,</p><p>através do corte de investimentos públicos, com vistas a melhorar o BP e reduzir o endividamento externo.</p><p>Contudo no final do ano os conflitos de política voltaram a se evidenciar, no momento em que Delfin Netto, no</p><p>Ministério da Fazenda, consegue aprovar a correção dos preços mínimos para a safra a uma taxa 30% superior à</p><p>inflação. A política monetária restritiva dessa forma só dura té agosto. A partir desse mês até 1980, o governo</p><p>decide novamente ignorar a crise externa, que se agrava com o segundo choque do petróleo. A política adotada se</p><p>baseia no controle dos juros, indexação salarial, desvalorização cambial. Ao mesmo tempo o governo não</p><p>consegue convencer os seus credores a financiar essa política heterodoxa, o que faz com que as reservas se</p><p>esgotem rapidamente, o que se soma à explosão do consumo na deterioração do BP.</p><p>4. A Natureza do Ajuste de Longo Prazo: o Crescimento com Endividamento</p><p>Crescimento com Dívida</p><p>Entre 74 e 79 a dívida externa aumenta em US$ 20 bi e os juros de US$ 500 mi no governo Geisel, para</p><p>4,3 bi no primeiro ano do governo Figueiredo. O crescimento do endividamento se deve essencialmente à natureza</p><p>do ajustamento de longo prazo, ou seja, às premissas do II PND. Seus formuladores partiram do pressuposto de</p><p>que o país poderia sustentar taxas de crescimento de 10% a.a. entre 74-77. Assim, as bases do programa</p><p>consistiam em: (i) dar ênfase às indústrias básicas (bens de K, e eletrônica pesada), substituindo importações; (ii)</p><p>reforçar a política de energia, aumentando os investimentos em prospecção de petróleo, e aumento de 60% no</p><p>fornecimento de energia elétrica.</p><p>Foi feita a opção por não se utilizar a política cambial para redirecionar a demanda, dando preferência à</p><p>utilização da política comercial para conter as importações. Essa opção reduziu efetivamente o coeficiente</p><p>importado durante o período, reduzindo as importações como proporção do PIB de 12% em 74 para 7,25% em 78.</p><p>Na tentativa de promover o crescimento à taxa de 10% o governo só consegue 7%, com as projeções de</p><p>endividamento rapidamente extrapoladas, pois o relativo sucesso conseguido da BC não pode fazer frente ao</p><p>crescimento rápido do déficit em CC (Conta Corrente).</p><p>Na composição do produto, a indústria seguiu como setor líder, com destaque para as indústrias de</p><p>transformação e construção.</p><p>Política Industrial</p><p>A base da política industrial do Governo Geisel foi a substituição de importações de bens de capital e</p><p>insumos básicos para a indústria, além da promoção do aumento da produção de petróleo. Para isso o governo fez</p><p>uso de vários instrumentos, como subsídios, crédito de IPI e depreciação acelerada de equipamentos nacionais e</p><p>política de preços, que foram implementados pelo BNDE, Conselho de Política Aduaneira, CACEX e Conselho</p><p>Interministerial de Preços.</p><p>A tentativa de retorno à política de substituição de importações recebeu muitas críticas, especialmente no</p><p>sentido de que o governo estaria superestimando o mercado interno para tais bens. Contudo a análise da eficácia</p><p>dessa estratégia sugere que os objetivos gerais de reestruturação da oferta foram alcançados, mesmo que fora do</p><p>cronograma. A substituição logrou êxito em internalizar os gastos as despesas com investimento, reduzindo a</p><p>participação das importações de bens de K no total das despesas com máquinas e equipamentos de 25,6% em 72</p><p>para 9% em 82. Em parte o sucesso da política de substituição de importações nesse período se deve ao fato de</p><p>que paralelamente a ela o governo manteve a política de promoção de exportações, que cresceram durante o</p><p>período.</p><p>Contudo a manutenção da política de estímulos fiscais, creditício e cambiais teve custos pesados sobre a</p><p>deterioração</p><p>financeira do Estado ao longo da década de 70, resultando na fadiga dos instrumentos de ação do</p><p>governo sobre a economia na década de 80.</p><p>5. Resultados e Conseqüências</p><p>No início do governo Figueiredo houve a tentativa de ajustar os programas de investimento do II PND</p><p>com as restrições de refinanciamento da dívida externa, de forma que durante um curto período ocorreu um</p><p>esforço positivo na contenção do déficit público. Ao longo do período Simonsen tentou convencer seus colegas de</p><p>gabinete e o Presidente da República da ameaça inflacionária representada por esses gastos, contudo a estrutura de</p><p>repressão a preços, de incentivos fiscais, utilização das estatais como instrumento de captação de empréstimos</p><p>externos, subsídios não seria desmontada de forma fácil.</p><p>Nesse quadro os conflitos políticos internos desempenharam um papel fundamental na opção por “dar</p><p>prioridade ao crescimento”. A decisão de não utilização da política cambial significou a opção pela intervenção</p><p>direta na economia (incentivos fiscais e creditícios) no processo de reorientação da oferta. Essa opção significou a</p><p>deterioração mais rápida das receita públicas, sem a contrapartida de um aumento de arrecadação.</p><p>39</p><p>Nesse período, os erros de avaliação mais graves foram aqueles relacionados ao tempo de mudança de</p><p>oferta, comportamento da taxa de juros e do comércio internacional. Ajustes maiores na economia frente a esses</p><p>fatores, bem como a menor ênfase em programas desastrosos (como o nuclear) teriam permitido um maior</p><p>equilíbrio nas contas públicas para o novo governo que assumiria.</p><p>Outro problema no período foi a mudança no perfil da dívida externa, que é progressivamente estatizada,</p><p>passando de 45% correspondente ao setor privado em 74, para 22% em 1980, o que implicaria, em meados da</p><p>década de 80, na incapacidade de financiamento do setor público. A principal crítica a esse movimento ataca o</p><p>fato de não ter ocorrido paralelamente um aumento da renda disponível do setor público. Pelo contrário, entre 73 e</p><p>83 a renda disponível cai de 16,8% para 8,67% do PIB.</p><p>Fica claro o caráter precário da articulação da política econômica após o primeiro choque do petróleo.</p><p>Essa falta de articulação deixou como legado para os anos 80 sérias dificuldades para o setor público, entre elas a</p><p>necessidade de promover um aumento na arrecadação tributária que interrompesse o processo inadequado de</p><p>financiamento.</p><p>40</p><p>ÍNDICE CRONOLÓGICO</p><p>1974-78</p><p>Presidente: General Ernesto Geisel</p><p>Ministro do Planejamento: João Paulo Velloso</p><p>Ministro da Fazenda: Mário Henrique Simonsen</p><p>Casa Civil: General Golbery do Couto e Silva</p><p>1973</p><p>Preços do petróleo são quadruplicados pelos membros da OPEP</p><p>1974</p><p>- Simonsen assume o Ministério da Fazenda, substituindo Delfin;</p><p>- Remoção dos controles de preços;</p><p>- Oficialização de uma fórmula de correção monetária;</p><p>- Mudança na fórmula de reajuste salarial, reduzindo as perdas em</p><p>caso de subestimação da inflação;</p><p>- MDB vence as eleições parlamentares, aumentando a força da oposição</p><p>- BACEN intervém no quarto maior banco comercial</p><p>1975</p><p>- Aprovação do II PND</p><p>1976</p><p>- Aprovação da Resolução 389 que liberou o controle das taxas de juros dos bancos comerciais</p><p>1978</p><p>- O general Figueiredo se consolida como principal candidato à sucessão presidencial</p><p>1979-80</p><p>Presidente: General João Batista Figueiredo</p><p>Ministro do Planejamento: : Mário Henrique Simonsen</p><p>Ministério da Fazenda: Karlos Riscbiter</p><p>Ministério da Agricultura: Delfin Netto</p><p>1979</p><p>- Segundo choque do petróleo e explosão da taxa de juros dos EUA</p><p>- Governo retoma uma política econômica mais heterodoxa</p><p>Política Monetária</p><p>1974: Ao contrário do discurso da equipe econômica, foi expansionista devido à expansão dos créditos concedidos</p><p>pelo Banco do Brasil</p><p>1975: Expansionista devido ao socorro do governo aos bancos comerciais</p><p>1976: Contracionista, marcando uma reversão da tendência desde o milagre</p><p>1977: Restritiva, com a fixação da taxa de juros básica positiva em termos reais, o que não acontecia desde 71</p><p>1978: expansionista, ignorando a crise mundial,</p><p>Política Fiscal</p><p>1974: Política fiscal ainda expansionista, apesar da tentativa de contenção</p><p>1975: Levemente contracionista</p><p>1976: Levemente contracionista</p><p>1977: Contracionista</p><p>1978: expansionista, devido à importação de alimentos decorrente da seca</p><p>1979: expansionista, concessão de subsídios e incentivos fiscais</p><p>Política Creditícia</p><p>1974: expansionista</p><p>1975: expansionista</p><p>1976: restritiva, devido à resolução 389</p><p>1977: restritiva</p><p>1978: restritiva</p><p>1979: expansionista</p><p>41</p><p>1980: expansionista</p><p>42</p><p>CAPÍTULO 12 – AJUSTE EXTERNO E DESEQUILÍBRIO INTERNO: 1980-1984</p><p>Dionísio Dias Carneiro e Eduardo Modiano</p><p>(Maria Fernanda Diamante Basques)</p><p>O Brasil sofreu um ajuste da oferta doméstica, afetada pelo forte aumento dos preços do petróleo e da</p><p>elevação das taxas de juros internacionais no final da década de 70. Por isso, foi um processo longo e bastante</p><p>custoso, iniciado em meados de 1980, quando também notava-se uma escassez de financiamento externo para</p><p>enfrentar os desequilíbrios das contas externas. A comunidade internacional perdia cada vez mais a confiança nas</p><p>políticas expansionistas brasileiras adotadas a partir de 1979, com a posse do ministro Delfim Netto, gerando</p><p>ainda mais dificuldades na contratação de empréstimos externos. Como resultado, o déficit em CC (conta</p><p>corrente) atingiu U$ 2,8 bilhões e as reservas cambiais caíram drasticamente. Assim, entre o final de 1980 e o ano</p><p>de 1984, a política macroeconômica foi determinada pela possibilidade de financiamento externo ao país.</p><p>Em 1980 cai a margem de manobra da política econômica do governo conseguida no ano anterior. São</p><p>anunciados cortes nos gastos públicos. Em contraposição, no entanto, é lançado também o III PND, no qual uma</p><p>das prioridades é a continuidade dos incentivos governamentais à substituição das importações de petróleo através</p><p>de investimentos e às exportações em geral, além de dar prosseguimento aos programas de alternativas de energia</p><p>e substituição de importações em insumos básicos.</p><p>As tentativas de combate à inflação adotadas em 1979 se viram fracassadas. A confiança na economia, no</p><p>curto prazo, se perde. O governo dá demonstrações de ortodoxia para acabar com a inflação, controlando a</p><p>demanda através de política monetária tradicional e queda no crescimento do crédito. No entanto, encontrou a</p><p>resistência de uma economia indexada. As preocupações com a dimensão da base monetária e o aumento da taxa</p><p>de juros para impedir a tomada de empréstimos externos privados fez com que o financiamento do setor público</p><p>atingisse volumosas emissões de títulos. O período caracteriza-se por uma complexa transição no início do</p><p>governo Figueiredo e termina com explosão de desequilíbrios internos que coincidiu com o fim do governo</p><p>militar.</p><p>A política macroeconômica de 1981-82 direcionava-se para a redução da necessidade de divisas</p><p>estrangeiras, através do controle da absorção interna. Estimulava-se a queda da demanda de modo que as</p><p>exportações tornassem mais atraentes e as importações fossem reduzidas — o que, no entanto, depende do grau de</p><p>recessão. Era preciso reorientar as despesas. Não eram possíveis substanciais desvalorizações reais na taxa de</p><p>câmbio como estímulo às exportações pois o país ainda valia-se da frustrada experiência de desvalorização de</p><p>1979 e enfrentava a limitação da recessão mundial. Assim, a reorientação dependeria dos investimentos do</p><p>governo e da disponibilidade de financiamento de agências governamentais, como o BNDE.</p><p>A política restritiva de outubro de 1980 se deu através de contenção salarial, controle dos gastos do</p><p>governo, aumento da arrecadação, da taxa de juros, contração da liquidez real e um tratamento especial a ser dado</p><p>às exportações, energia, agricultura e pequenas empresas. Caem as correções cambial e monetária pré fixadas. As</p><p>correções passam a ser pelo diferencial entre taxas de inflação</p><p>interna e externa (cambial) e pelo INPC do IBGE</p><p>(monetária). É modificada a política salarial, com perda maior para as faixas salariais mais altas.</p><p>A política fiscal centrou-se no controle das despesas, através da limitação do crescimento nominal do</p><p>investimento das estatais em 66%, centralização da administração dos recursos orçamentários e maior controle das</p><p>diversas contas governamentais. Aumenta a tributação pela correção do imposto de renda em 55% (abaixo do</p><p>nível da inflação), aumento do IOF para operações de câmbio para importações (de 15 para 25%) e criação de IOF</p><p>(15%) para importações da Zona Franca de Manaus. Atuando ao contrário, foi restabelecido o incentivo fiscal do</p><p>crédito-prêmio para exportação de manufaturados. Houve liberação de taxa de juros para empréstimos dos bancos</p><p>comerciais (a exceção de crédito agrícola e para exportação) e implantação de teto de 50% para expansão nominal</p><p>de empréstimos ao setor privado e dos meios de pagamento e base monetária. No primeiro trimestre de 1981 os</p><p>limites são ainda mais restritivos. A agricultura e as pequenas empresas, no entanto, recebem aumento da oferta de</p><p>crédito rural e para financiamento de capital de giro.</p><p>Os efeitos dessas políticas restritivas sobre a inflação foi quase nulo. A rigidez inflacionária de 1981</p><p>reforçaria a tese inercialista. Os índices de preços aceleraram até o pico de 120% em meados de 1981, caindo para</p><p>100% ao final desse ano. Essa queda foi parcialmente devido ao choque agrícola, decorrente de aumento da safra</p><p>para produtos de abastecimento internos e queda do preço dos produtos exportáveis.</p><p>Em 1981, apesar de uma deterioração nos termos de troca graças a um incremento de 19% no preço do</p><p>petróleo, verificou-se uma reversão da BC (balança comercial) para um superávit de U$ 1,2 bilhões. As</p><p>exportações aumentaram, enquanto caiu o coeficiente importador. No entanto, a elevação das taxas de juros</p><p>internacionais determinou aumento do pagamento de juros da dívida, que atingia 40% da receita com exportações.</p><p>A captação externa aumenta e, com isso, crescem as dívidas de médio e longo prazos, mas permite um aumento</p><p>nas reservas de U$ 600 milhões.</p><p>Em 1981, verifica-se uma queda de 10% no produto industrial e queda real do PIB brasileiro. Questiona-</p><p>se a funcionalidade da recessão provocada enquanto o capital estrangeiro torna-se escasso. Foi demonstrado que a</p><p>recessão fora iniciada no primeiro semestre daquele ano, portanto, não decorrente do aperto monetário de 1979.</p><p>43</p><p>Talvez tenha sido devido aos limites à concessão de crédito e às mudanças na política salarial, resultantes em</p><p>queda da demanda por bens duráveis. O governo não recorreu ao FMI para ajuda financeira, argumentando temer</p><p>às exigências e diminuição da liberdade de se conduzir a política econômica. Porém, a razão pode ter sido a não</p><p>demonstração de fraqueza pela ditadura militar, o que acarretou em um alto custo ao governo.</p><p>O ano de 1982 apresenta uma queda considerável das exportações e importações brasileiras. A primeira</p><p>foi decorrente da forte recessão mundial, enquanto a segunda foi conseguida graças à substituição de importações</p><p>de bens intermediários e à queda da demanda por bens de capital, induzida pela recessão. No entanto, sobem os</p><p>pagamentos de juros da dívida externa, o que leva à independência do déficit em CC da absorção interna. Esse</p><p>fato, juntamente com o pedido de moratória pelo México em agosto, levam a uma restrição ao crescimento</p><p>econômico.</p><p>Assim, em setembro de 1982, iniciam-se as conversas com o FMI na tentativa de se atrair recursos de</p><p>agências multilaterais. A tentativa foi fracassada. Nas eleições desse ano, o governo tentava convencer o país de</p><p>que não valia a pena recorrer ao fundo, afinal o déficit em CC atingia U$ 16,3 bilhões. Porém, a incerteza, as</p><p>condições internas e o ajustamento frustrado determinaram a derrota governista. O financiamento do balanço de</p><p>pagamentos para o fim de 1982 e 1983 foi uma operação de emergência acordada com o FMI e credores</p><p>internacionais, evitando suspensão de pagamento por falta de divisas. O “Programa para o Setor Externo em</p><p>1983” era um compromisso formal de austeridade de forma a gerar um superávit de U$ 6 bilhões em 1983 e base</p><p>para um acordo com o FMI. Em 20 de novembro de 1983, foi anunciada oficialmente a submissão de um</p><p>programa ao fundo. O maior desafio dos negociadores dos empréstimos foi a submissão das políticas</p><p>macroeconômicas e comerciais. O ano fechou com um crescimento de apenas 1,1% do PIB, queda da produção</p><p>agrícola, estagnação do produto industrial. A taxa inflacionária não se alterou.</p><p>Em 6 de janeiro de 1983 foi submetida ao FMI a primeira carta de intenções (seriam sete em dois anos).</p><p>O Brasil, porém, apresentou muitas dificuldades na adaptação às exigências pois era uma economia em</p><p>desenvolvimento, altamente indexada e tinha no setor público o principal investidor ou financiador. Mesmo assim,</p><p>as metas eram: déficit em CC até o limite de U$6,9 bilhões, portanto, as exportações deveriam crescer em 12% e</p><p>as importações cair em U$2,5 bilhões (saldo de U$6 bilhões). A inflação anual deveria atingir 78%, através da</p><p>contração de gastos públicos. Desvalorização do câmbio real de forma gradual e redução drástica nos gastos das</p><p>estatais para que as restrições afetassem menos o setor privado.</p><p>Os resultados desfavoráveis da BC nos dois primeiros meses de 1983, aliados a dificuldades prática de se</p><p>implantar o gradualismo na correção cambial determinaram uma maxidesvalorização de 30% em março. Uma</p><p>segunda carta de intenções é levada ao fundo, contento um novo pacote de medidas, como estímulo às exportações</p><p>e facilidades para substituição de importações. Houve desindexação salarial parcial como forma de evitar a</p><p>neutralização da maxidesvalorização, porém não totalmente aprovada pelo congresso — resultou em perda de</p><p>15% no poder de compra dos salários.</p><p>Quase todas as metas traçadas para 83, relacionadas com as contas externas, foram alcançadas. Esse</p><p>resultado deve-se a um conjunto de fatores: recessão interna; queda do salário real; desvalorização cambial; queda</p><p>dos preços do petróleo e da taxa de juros internacional, alem da recuperação dos EUA. A BC, assim como o saldo</p><p>em CC, superou as expectativas, mas os pagamentos de juros atrasaram. A entrada de capitais prevista não se</p><p>materializou. Contribuiu para o excepcional desempenho comercial a entrada em operação dos projetos iniciados</p><p>após 1975, reduzindo definitivamente o coeficiente importado. A queda das importações contaram também com a</p><p>baixa produção doméstica e o efeito renda. As negociações com o FMI, no entanto, permaneciam complexas no</p><p>tocante a metas internas (controle da inflação), principalmente após os choques desfavoráveis da</p><p>maxidesvalorização e elevação dos preços agrícolas — venda de produtos não disponíveis e agravados pelo</p><p>impacto da maxidesvalorização sobre os insumos importados e transporte, além do controle das importações,</p><p>modificações no crédito rural e quebra de safras. A expansão das culturas de exportação determinaram o</p><p>crescimento de 1,7% da agricultura.</p><p>A inflação projetada para o ano foi desacreditada. A indexação do serviço da dívida tornava impossível</p><p>uma redução das necessidades nominais de financiamento do setor público. O FMI suspende desembolso de</p><p>recursos pelo fracasso brasileiro em reduzir os déficits nominais. Iniciaram-se negociações com o fundo na</p><p>tentativa de adaptação das medidas ao caso brasileiro, prejudicado pois a variável fiscal utilizada era</p><p>extremamente sensível à inflação. A quarta carta ao fundo inclui novo critério de desempenho fiscal, retirando as</p><p>parcelas referentes às correções do estoque da dívida das necessidades nominais de financiamento do setor público</p><p>— o déficit cai de 6,2% do PIB em 1982 para 3% em 1983. As finanças públicas sofrem</p><p>cortes significativos e a</p><p>taxa de investimento cai dos 20% vigentes até 1982 para 14,3% do PIB em 1983.</p><p>As incertezas quanto aos frutos das negociações com o FMI, aliadas ao nível negativo das reservas</p><p>cambiais, instauram um aumento da demanda por ativos cotados em dólar. Um severo controle do câmbio e os</p><p>títulos indexados à variação cambial impediram uma fuga maciça de capitais. No auge da especulação, em meados</p><p>de 1983, as diferenças entre o dólar oficial e paralelo chegava a 100%. A queda desse diferencial ocorre logo em</p><p>seguida com a melhoria gradual da BC, menor rigor das regras do fundo e perdas significativas das carteiras em</p><p>dólar dos intermediários financeiros domésticos. No primeiro trimestre de 1984, com a confiança na política</p><p>cambial e o fim da especulação, o governo socorre o sistema financeiro fragilizado pelos ataques à moeda.</p><p>44</p><p>O ano de 1983 representou a maior recessão enfrentada pelo setor industrial. O produção industrial caiu</p><p>5,2% e atingiu todas as categorias de uso. A queda mais acentuada foi a de bens de capital (queda acumulada de</p><p>55% entre 81 e 83), acompanhando a queda na taxa de investimento. O melhor desempenho dos bens</p><p>intermediários relativamente à recessão de 1981 deveu-se à expansão de suas exportações. O emprego industrial</p><p>contraiu 7,5% e os setores mais atingidos foram aqueles considerados dinâmicos como material elétrico e</p><p>comunicações, mecânica e química. Houve uma recuperação moderada ao final do ano graças ao aumento</p><p>vigoroso da demanda por exportações. Acompanhando a industria, o PIB cai 2,8% em termos reais e a renda per</p><p>capita a preços constantes declina 11% entre o pico de 1980 e 1983. Os segmentos mais conservadores da</p><p>sociedade pediam o sucateamento do complexo industrial. O grande impulso da demanda por exportações</p><p>determina uma recuperação industrial vigorosa no primeiro semestre de 1984.</p><p>Em 1984, pela primeira vez desde 1979, a restrição externa mostrou sinais de relaxamento,</p><p>principalmente graças à recuperação dos EUA, elevando as exportações brasileiras em 40% no primeiro semestre.</p><p>A exportação de manufaturados responderam bem ao reaquecimento do comércio internacional, que também</p><p>estimulou a demanda geral. A atividade industrial apresentou recuperação. A economia brasileira não cumpriu</p><p>diversos critérios de desempenho em decorrência da interrupção da entrada de recursos externos por vários</p><p>meses, por interrupção do acordo com o fundo, e demora em se obter financiamento externo adicional para 1983.</p><p>Assim, foi possível um espaço para negociação de metas domésticas mais flexíveis através da quinta carta de</p><p>intenções (que vigorou pelo prazo recorde de seis meses). Porém, essa carta incorporava uma expectativa de</p><p>inflação equivalente à metade daquela verificada no ano de 1983, sendo necessária a solicitação de uma sexta</p><p>carta, para alteração desses tetos.</p><p>Segundo o IBGE, a produção industrial cresceu 7% em 1984. A indústria de transformação cresceu 6,1%,</p><p>enquanto a extrativa mineral, 27,3%. Esse alto desempenho da indústria extrativa mineral decorreu, basicamente,</p><p>da expansão da produção nacional de petróleo. Essa, aliada à queda nos preços internacionais do produto, permitiu</p><p>uma redução nas despesas de importações da ordem de U$4 bilhões no período. A indústria de transformação teve</p><p>o seu crescimento proporcionado pela elevação das vendas externas e ao setor agrícola. O incremento da demanda</p><p>ocorreu graças à recomposição da renda rural, devido à expansão da agricultura de exportação e a preços relativos</p><p>mais favoráveis. A renda rural se propagou para a renda urbana, também impulsionada pelos reajustes salariais</p><p>acima das taxas prescritas. O consumo foi, ainda, impulsionado pela exacerbação das expectativas inflacionárias</p><p>em função da própria demanda de recomposição salarial; do boom do mercado financeiro; da política monetária</p><p>frouxa; dos reajustes das tarifas públicas. O alto consumo ajudou na disseminação da recuperação dos setores</p><p>industriais — quase todos os setores exibiram taxas positivas de crescimento em 1984.</p><p>Apesar da recuperação econômica, a categoria de bens de consumo duráveis ainda apresentou queda no</p><p>ano (7,5%), enquanto os bens de consumo não duráveis observaram um pequeno crescimento, decorrente da</p><p>recomposição salarial. Já os bens de capital, representaram a maior alta (14,8%), após três anos de quedas, devido</p><p>à demanda agrícola e de produtos para exportação. O PIB, impulsionado pela retomada industrial, cresceu 5,7%</p><p>em termos reais, interrompendo o processo de encolhimento da renda per capita observado desde 1981 — com</p><p>contribuição da recuperação das lavouras. Porém, o processo inflacionário não se alterou. A insensibilidade das</p><p>taxas de inflação ao aumento da oferta agrícola era apenas mais um sintoma da alta indexação da economia.</p><p>A inflação em 1984 acumulou 223,8%, refletindo razoável estabilidade em relação ao ano anterior. Os</p><p>índices de preços alternativos, altamente divergentes em 1983, apresentaram uma convergência em relação ao</p><p>índice oficial. O caráter inercial do processo inflacionário e a relativa invariância ao nível de atividade eram</p><p>reforçados pela estabilidade das inflações mensais. Observaram o aparecimento de sugestões de políticas</p><p>econômicas visando estabilização. A tese da “Moeda Indexada” de Arida e Resende (1985) pretendia atingir a</p><p>desindexação através da indexação plena da economia com a circulação paralela de uma moeda com paridade fixa</p><p>com a ORTN. Já a tese do “Choque Heterodoxo” propunha a eliminação imediata e total de todas as formas de</p><p>indexação e congelamento temporário de preços, salários e taxa de câmbio — posteriormente incorporou novo</p><p>padrão monetário. Em ambos os casos, pressupunham resolvidos os conflitos distributivos através do controle da</p><p>inflação e requeriam aceitação pacífica de um padrão distributivo pré-determinado. Vale notar que essas propostas</p><p>surgem juntamente com a defesa do ‘pacto social’ por Tancredo Neves, candidato da oposição à presidência da</p><p>república.</p><p>No último trimestre de 1984, a inflação apresentou uma aceleração devido às expectativas negativas</p><p>quanto às safras agrícolas, efeitos sobre custos dos reajustes salariais e a recuperação das margens de lucro,</p><p>favorecida pelo aumento da demanda. Assim, o governo viu-se forçado a adiar reajustes de alguns preços-chaves</p><p>da economia, provocando uma inflação artificialmente baixa nos dois primeiros meses de 1985. Em março,</p><p>primeiro mês da Nova República, a taxa foi por demais sobrecarregada.</p><p>No BP, o aumento das exportações e nova queda das importações geraram um superávit de U$13,1</p><p>bilhões em 1984, superando, pela primeira vez, em U$3 bilhões a conta líquida de juros acordada com o FMI. O</p><p>saldo em CC estava praticamente equilibrado e as reservas foram incrementadas. O crescimento da dívida externa</p><p>líquida foi bem mais moderados que nos anos anteriores. Esse bom resultado comprovou algumas teses acerca do</p><p>ajustamento externo: (i) importância do comportamento da demanda por exportações para um ajustamento não</p><p>recessivo; (ii) os custos envolvidos na reversão do endividamento externo explosivo em condições normais de</p><p>comércio internacional: encolhimento da capacidade produtiva e transferência ao exterior de 4% do PIB; (iii)</p><p>45</p><p>estratégia de longo prazo determinou o crescimento substancial do PIB em 1984, com queda do coeficiente de</p><p>importação e aumento do de exportação. O país parecia crescer, apesar da crise da dívida. As novas perspectivas</p><p>de crescimento da economia brasileira modificaram o padrão de negociações com o FMI. A sétima carta de</p><p>intenções buscava uma estratégia de acordo para o reescalonamento das amortizações, como o México.</p><p>A partir de 1985 tornam-se mais difíceis os acordos com o FMI. O apoio interno era questionável pois</p><p>não eram demandados recursos externos para financiamento do BP.</p><p>Mas os credores consideravam fundamental o</p><p>monitoramento do fundo para reescalonamento da dívida. O ponto vulnerável desse impasse era, evidentemente, a</p><p>taxa inflacionária de 250% ao ano. A estabilização esbarrava na necessidade de manter os projetos de</p><p>investimentos de longo prazo. Os conflitos distributivos de renda eram continuamente agravados e a transferência</p><p>de perdas ao governo levou as finanças públicas a um estado tal de desordem que atingiu até as empresas estatais</p><p>de forma profunda.</p><p>Ajustamento externo da economia foi bem sucedido no sentido de geração de vultuosos superávits</p><p>comerciais e reequilíbrio da CC. Porém, fora muito limitado. O plano trienal do FMI promoveu um ajustamento</p><p>recessivo, sem consideração ao papel da recessão internacional na redução das exportações e sem atenção dirigida</p><p>ao papel da indexação na economia. Os desequilíbrios internos e a inflação foram tratados com tolerância ou</p><p>complacência passiva. Todas essas condições aumentaram ainda mais o custo do processo de ajustamento e as</p><p>políticas econômicas adotadas contribuíram para aumentar os conflitos internos e agravar os efeitos inflacionários.</p><p>ÍNDICE CRONOLÓGICO</p><p>Presidente: João Baptista Figueiredo</p><p>Ministro da Fazenda: Ernane Galvêas Ministro do Planejamento: Antônio Delfim Netto</p><p>* 1980 - políticas restritivas. Lançamento do III PND. Política macroeconômica ditadas pela</p><p>disponibilidade de financiamento externo. Déficit comercial de U$2.8 bilhões.</p><p>* 1981 - primeira queda real do PIB brasileiro no pós-guerra. Política macro orientada para redução das</p><p>necessidades de divisas estrangeiras. Inflação de 120% no meio do ano e 100% no final. Superávit de U$1.2</p><p>bilhões. Pagamento de juros da dívida comprometeu 40% da receita com exportações. Queda de 10% no produto</p><p>industrial.</p><p>* 1982 - frustração do ajuste externo e início dos acordos com o FMI. Recessão mundial. Novas</p><p>restrições com a moratória do México. Falta de progresso nas condições internas. Derrota do governo nas eleições</p><p>gerais. Lançado o “Programa para o Setor Externo em 1983”.</p><p>* 1983 - sucesso do ajuste externo. Desequilíbrios internos. Negociações difíceis com o FMI.</p><p>Dificuldades de adaptação ao receituário do FMI — era uma economia em desenvolvimento altamente indexada e</p><p>com forte participação do governo no setor produtivo. 20/11/83 – anúncio oficial de submissão de programas ao</p><p>FMI. Estagnação da economia e da taxa de inflação. Recessão interna, desvalorização cambial, queda do salário</p><p>real, queda dos preços do petróleo e das taxas de juros internacionais, recuperação da economia norte americana</p><p>levaram ao cumprimento de quase todas as metas externas. Superávit comercial de U$ 6,5 bilhões, déficit em CC</p><p>de U$ 6,2 bilhões, mas atrasos de pagamentos de juros por falta de capitais no país. Entrada em operação de vários</p><p>projetos iniciados em 1975 e queda permanente do coeficiente importador. Déficit público cai para 3% do PIB.</p><p>Tentativas de especulação contra o cruzeiro. Melhora gradual da BC.</p><p>* 1984 - relaxamento da restrição externa. Recuperação da economia através da atividade industrial.</p><p>Tentativa de definição de metas menos restritivas com o FMI. Recomposição das rendas rural e urbana. Superávit</p><p>comercial acumulado em U$ 13,1 bilhões. Saldo em CC equilibrado. Reservas incrementadas. Sugestões de</p><p>política monetária: teses da “Moeda Indexada” e “Choque Heterodoxo”. Tancredo Neves e o discurso sobre ‘pacto</p><p>social’.</p><p>Política Monetária: 1981: elevação das taxas de juros internas e contração da liquidez real. Abolição da</p><p>pré-fixação da correção monetária. Correção pelo INPC. Liberação das taxas de juros dos empréstimos dos</p><p>bancos. Limitação da expansão dos meios de pagamento e da base monetária em 50%. 1982: compromisso formal</p><p>de austeridade para o ano seguinte. Submissão de políticas ao crivo do FMI. 1984: política monetária frouxa.</p><p>Política Fiscal: 1981: controle dos gastos do governo. Aumento da arrecadação. Limitação do</p><p>investimento das estatais, centralização da administração dos recursos orçamentários, controle maior dos saldos</p><p>das contas do governo. Elevação da carga tributária: IR, IOF e IOF para a Zona Franca de Manaus. Restabelecido</p><p>o incentivo fiscal do crédito-prêmio. Submissão de políticas ao crivo do FMI. 1983: taxa de inflação pré-</p><p>determinada, com cortes nos gastos do governo e redução drástica nos gastos das estatais. Impossibilidade de</p><p>46</p><p>redução das necessidades nominais de empréstimos do setor público pela alta indexação. 1984: Reajustes de</p><p>tarifas públicas. Não cumprimento de metas das necessidades nominais de financiamento do setor público.</p><p>Política Cambial/Comercial: 1981: abolição da pré-fixação da correção cambial. Correção pelo</p><p>diferencial inflacionário. Queda do coeficiente de importação. Submissão de políticas ao crivo do FMI. 1983: Teto</p><p>de U$ 6,9 bilhões para o déficit em CC, requerendo superávit comercial de U$ 6 bilhões, aumento de 12% nas</p><p>exportações e corte de U$ 2,5 bilhões. Desvalorizações graduais, 1% acima da inflação. 21/02/83 –</p><p>maxidesvalorização de 30%. Correção cambial até o final do ano não poderia ultrapassar a inflação. Severo</p><p>controle do câmbio para impedir prosseguimento da especulação.</p><p>Política Creditícia: 1981: manutenção das taxas de juros para o crédito à agricultura e linhas especiais</p><p>de crédito para exportações. Restrição do crédito ao consumidor. 1983: novos programas de crédito na carta ao</p><p>FMI, na tentativa de se estimular exportações e facilitar substituição de importações.</p><p>Políticas diversas: 1981: contenção salarial, com perda maior para as faixas mais altas. Tratamento</p><p>especial às atividades de exportação, energia, agricultura e pequenas empresas. 1983: desindexação parcial dos</p><p>salários. 1984: reajustes salariais acima das taxas prescritas. Controles de preços.</p><p>47</p><p>CAPÍTULO 13 - “A ÓPERA DOS TRÊS CRUZADOS: 1985-1989”</p><p>Eduardo Modiano</p><p>(Janete Duarte)</p><p>Durante a 2ª metade da década de 80, a política econômica brasileira concentrou-se no combate à</p><p>inflação: os planos de estabilização ortodoxa, adotados no período de 1981-84, promoveram o ajustamento</p><p>externo da economia, mas não conseguiram evitar a escalada inflacionária. Portanto, fazia-se necessário priorizar</p><p>a desindexação da economia, o que produziria uma queda mais rápida da inflação do que a contração da demanda</p><p>agregada, com custos menores em termos de recessão e desemprego.</p><p>Este capítulo analisa as diversas políticas de combate à inflação adotadas no período 1985-89: estas</p><p>variam de acordo com o tema, da ortodoxia à heterodoxia, e segundo o ritmo, do gradualismo ao choque.</p><p>A Nova República instalou-se em março de 1985 e o novo governo deu início à gestão da política</p><p>econômica com anúncio apenas de medidas de austeridade fiscal e monetária.</p><p>Um congelamento de preços foi determinado pelo ministro da Fazenda, Francisco Dorneles, para o mês</p><p>de abril3. Além disso, visando amortecer a aceleração da inflação, as fórmulas de cálculo da correção monetária e</p><p>das desvalorizações cambiais foram modificadas, estendendo a “memória” do processo inflacionário de um para</p><p>três meses.</p><p>O mês de junho marcou o início de descompressão dos controles sobre os preços privados e de</p><p>descongelamento dos preços públicos.</p><p>A recomposição dos preços apenas começava quando a economia sofreu um violento choque de oferta</p><p>agrícola, com os preços dos gêneros alimentícios no atacado aumentando, “puxando” para cima a inflação. O</p><p>fracasso do pacote antiinflacionário marcou, com a substituição do ministro da fazenda, o final da 1ª fase da</p><p>política econômica da Nova República.</p><p>O novo ministro, Dílson Funaro, anuncia uma meta antiinflacionária mais modesta: estabilização à taxa</p><p>de 10% ao mês e, as correções monetárias e cambial voltariam a ser norteadas pela inflação do próprio mês em</p><p>curso.</p><p>A nova política econômica daria menor ênfase ao controle da base monetária - objeto permanente de</p><p>preocupação da equipe anterior -, e assim, a taxa de juros real, que subira vertiginosamente durante o período de</p><p>abril a julho de 85, declinaria como resultado de uma política monetária menos restritiva, tornando-se mais</p><p>compatível com a recuperação econômica.</p><p>A mudança da fórmula de correção e a conseqüente redução da memória inflacionária, sugeriam que a</p><p>economia estava caminhando na direção da indexação plena, e neste caminho, preços, taxa de câmbio e ativos</p><p>financeiros tornavam-se crescentemente atrelados à variações mensais da ORT. No entanto, não havia uma regra</p><p>clara e amplamente aceita para a indexação dos salários.</p><p>A inflação reprimida, aliada a um novo choque de oferta agrícola, levou o Índice Geral de Preços (IGP-</p><p>DI) da FGV a registrar elevação de 15% em novembro/85. A desindexação seguiu, então, um caminho alternativo:</p><p>o índice que media oficialmente a inflação deixou de ser o IGP-DI da FGV e passou a ser o índice de Preços ao</p><p>Consumidor Amplo (IPCA) do IBGE - este último registrava uma taxa de inflação de apenas de 11,1% em</p><p>nov./85. A principal vantagem do IPCA sobre os outros índices seria sua menor sensibilidade a choques de oferta</p><p>agrícola e cambial, o que ajudaria a amortecer o aumento previsto das taxas de inflação para os meses</p><p>subsequentes, ainda em função da estiagem nas lavouras. Este ganho teria que compensar o fato dos preços ao</p><p>consumidor serem mais difíceis de controlar do que os preços por atacado, que representavam 60% do IGP-DI.</p><p>Não havia dúvidas que, com a indexação generalizada da economia, a taxa de inflação tenderia</p><p>rapidamente para o novo patamar de 400% a 500% a.a.. Nestas condições, o governo não seria capaz de manter os</p><p>registros salariais na freqüência semestral, o que poderia resultar em outra pressão de custos, colocando a</p><p>economia na rota da hiperinflação.</p><p>Assim, o fracasso do gradualismo em produzir sequer a estabilidade das taxas mensais de inflação,</p><p>encerra a 2ª fase da política econômica da Nova República.</p><p>O programa brasileiro de estabilização de 28 de fevereiro de 1986 promoveu uma reforma monetária que</p><p>estabeleceu o “Cruzado” (Cz$) como padrão monetário nacional. A taxa de conversão foi fixada em mil cruzeiros</p><p>por cruzado.</p><p>Os salários foram convertidos em cruzados, tomando como base o poder de compra médio dos últimos 6</p><p>meses, mas não foram congelados, ao contrário dos preços ( com exceção das tarifas industriais de energia</p><p>elétrica), que foram congelados por tempo indeterminado, sem qualquer compensação pela inflação passada, nem</p><p>tampouco pela perda futura.</p><p>O Plano Cruzado deslocou a base do IPCA para 28 de fevereiro de 1986. O novo índice, denominado</p><p>Índice de Preços ao Consumidor (IPC), manteria as mesmas ponderações do IPCA4.</p><p>3 O governo decidiu, posteriormente, estender a duração do congelamento de preços.</p><p>4 O deslocamento de base se justificava, já que, com preços medidos como médias diárias</p><p>ou semanais, o IPCA registraria uma inflação positiva no 1º mês do congelamento</p><p>(março/86), ainda que os preços permanecessem estáveis ao longo do mês.</p><p>48</p><p>A taxa de câmbio foi fixada em cruzados no nível vigente em 27 de fevereiro de 1986 : a cômoda posição</p><p>externa da economia brasileira e a recente desvalorização do dólar americano, ao qual o cruzeiro estava atrelado,</p><p>em relação às moedas européias e ao iene japonês, não sugeriram a necessidade de uma maxidesvalorização</p><p>compensatória ou defensiva do cruzado.</p><p>O Plano Cruzado não estabeleceu regras ou metas para as políticas monetária ou fiscal. O objetivo</p><p>implícito da política monetária durante os primeiros meses do Plano era acomodar o incremento na demanda de</p><p>moeda que resultaria de uma mudança de carteira em favor da moeda estável, `a medida em que este movimento</p><p>era percebido como não inflacionário.</p><p>Com respeito à política fiscal, o governo havia anunciado em dezembro de 1985, um pacote fiscal que</p><p>tinha como objetivo eliminar as necessidades de financiamento do setor público. Entretanto, os ganhos projetados</p><p>de receita, que dependiam da continuidade do processo inflacionário - “imposto inflacionário”- não se</p><p>materializariam com a queda das taxas de inflação.</p><p>A análise dos resultados do Plano Cruzado pode ser dividida em 3 períodos: março a junho de 1986, que</p><p>é caracterizado por uma queda substancial da inflação e também pelos primeiros indícios da existência de excesso</p><p>de demanda na economia; julho a outubro de 1986, identificado pela total imobilidade do governo ante o</p><p>agravamento da escassez de produtos e à deterioração das contas externas e, novembro/86 a junho/87, o fracasso</p><p>do Plano Cruzado, com o retorno das altas taxas de inflação.</p><p>No 1º período de análise, o aumento de poder de compra dos salários, a despoupança voluntária causada</p><p>pela ilusão monetária, o declínio do recolhimento do imposto de renda para pessoas físicas, a redução das taxas de</p><p>juros nominais, o consumo reprimido durante os anos de recessão e o congelamento de alguns preços em níveis</p><p>defasados em relação a seus custos, detonaram conjuntamente uma explosão do consumo. Concomitantemente, o</p><p>governo foi tomando consciência da magnitude do desequilíbrio fiscal. Assim, ou decretava-se o fim do</p><p>congelamento de preços ou desacelerava o crescimento do produto através de um rápido e severo corte na</p><p>demanda agregada. Mas, como tanto a inflação quanto a recessão tinham custos políticos, o governo acaba</p><p>optando por um modesto ajuste fiscal: entra em cena o “Cruzadinho”.</p><p>O “Cruzadinho” foi anunciado n dia 24 de julho/86: tratava-se de um tímido pacote fiscal para</p><p>desaquecer o consumo. Envolvia basicamente a criação de um sistema de empréstimos compulsórios : novos</p><p>impostos indiretos na aquisição de gasolina e automóveis que seriam restituídos após 3 anos, e ainda a criação de</p><p>impostos não-restituíveis sobre a compra de moedas estrangeiras para viagem e passagens aéreas internacionais.</p><p>Como era de se esperar, o “Cruzadinho” teve pouca eficácia na contenção do consumo, ao contrário, a</p><p>expectativa do descongelamento deu um novo impulso à demanda.</p><p>Uma semana após a vitória maciça do partido do governo (PMDB) nas eleições, o “Cruzado II” - 3º</p><p>período de análise - foi anunciado. Tratava-se de um “pacote fiscal” que objetivava aumentar a arrecadação do</p><p>governo através de alguns preços públicos5 e do aumento de impostos indiretos6.</p><p>O “Cruzado II” determinava que os aumentos de preços dos automóveis, cigarros e bebidas deveriam ser</p><p>expurgados do IPC, visando retardar o 1º disparo do “gatilho salarial”. A reação da população, com o apoio de</p><p>alguns novos governadores e congressistas, forçou o governo a recuar na proposta de expurgo. O governo apenas</p><p>substituiu as ponderações do IPC que eram originadas do IPCA, pelas ponderações do INPC, que atribuía menores</p><p>pesos aos preços majorados pelo “Cruzado II”. Na mesma ocasião, foi regulamentada a escala móvel dos salários:</p><p>os reajustes acionados pelo “gatilho” ficariam limitados a 20%, com o resíduo inflacionário sendo carregado para</p><p>o gatilho seguinte.</p><p>A taxa de inflação atingiu 16,8% em janeiro, significando que o 1º reajuste salarial de 20% reporia pouco</p><p>mais do que a perda de poder incorrida durante o próprio mês. Contando com a retração da demanda para</p><p>amortecer a aceleração inflacionária, o governo cedeu às pressões pela liberalização dos preços, suspendendo</p><p>abruptamente quase todos os controles em fevereiro de 1987.</p><p>As vendas caíram em conseqüência da queda do salário real, da elevação das taxas de juros e do aumento</p><p>da incerteza e, do lado da oferta, foram impostos novos limites às importações de matérias-primas essenciais e</p><p>produtos intermediários, devido à escassez de reservas cambiais.</p><p>Em abril de 1987, com a taxa de inflação</p><p>ultrapassando o patamar de 20% ao mês, o ministro Dílson</p><p>Funaro deixou o cargo.</p><p>O novo ministro, Bresser Pereira, iniciou sua gestão anunciando uma meta para taxa de crescimento do</p><p>PIB de 3,5% e demonstrou disposição de voltar a dialogar com o FMI (pois em fevereiro/87 o governo decidiu</p><p>suspender por tempo indeterminado os pagamentos da dívida externa).</p><p>O Plano Bresser de 12 de junho/87 foi apresentado à população como um programa de estabilização</p><p>híbrido, contendo elementos tanto ortodoxos quanto heterodoxos para o combate à inflação. O novo programa não</p><p>tinha como meta a “inflação zero”, nem tampouco tencionava eliminar a indexação da economia. Pretendia apenas</p><p>promover um choque deflacionário com a supressão da escala móvel salarial e sustentar as taxas de inflação mais</p><p>baixas com redução do déficit público.</p><p>Os salários foram congelados por um prazo máximo de 3 meses, nos níveis prevalecentes em 12 de junho</p><p>de 1987.</p><p>5 Gasolina, energia elétrica, telefone e tarifas postais.</p><p>6 Automóveis, cigarros e bebidas.</p><p>49</p><p>O Plano Bresser instituía também uma nova base de indexação salarial para vigorar após o congelamento:</p><p>a Unidade de Referência de Preços (URP)7.</p><p>Os preços também foram congelados pelo prazo máximo de 3 meses, porém, antes foram anunciados</p><p>diversos aumentos para os preços públicos e administrados8 e, a exemplo do Plano Cruzado, a base do IPC foi</p><p>deslocada para o início da vigência do congelamento: 15 de junho de 1987.</p><p>A taxa de câmbio não foi congelada e, quanto a adoção de políticas monetária e fiscal, o governo</p><p>praticaria taxas de juros reais positivas, a curto prazo, com o intuito de inibir a especulação com estoques e, no</p><p>que tange à política fiscal, seriam adotadas medidas que visassem reduzir o déficit público em 1987.</p><p>A evolução da política econômica, após o lançamento do 2º programa de estabilização, pode ser</p><p>subdividida em dois períodos: julho a dezembro/87, inclui as fases de congelamento e flexibilização do Plano</p><p>Bresser, configurando o sucesso inicial e o posterior fracasso; e janeiro a dezembro/88, que é caracterizado por um</p><p>renascimento da ortodoxia e por uma retomada do gradualismo no combate à inflação.</p><p>No 1º período, a perda de poder aquisitivo dos salários e a prática de taxas de juros reais positivas durante</p><p>a fase do congelamento tiveram reflexos negativos nas vendas e no ritmo de produção industrial. Assim, em</p><p>contraste com o Plano Cruzado, a inflação do congelamento não podia ser atribuída a pressões de demanda e sim</p><p>de um conflito distributivo de rendas no setor privado e entre os setores privado e público9.</p><p>As pressões inflacionárias levaram o governo, já em agosto, a reduzir o leque dos preços controlados e a</p><p>permitir alguns reajustes de preços. Essas medidas abalaram ainda a credibilidade do programa em duas frentes: o</p><p>congelamento e a URP.</p><p>Com a inflação oficial no patamar de 14% em dezembro, sob uma onda de rumores de um iminente novo</p><p>congelamento, e diante do desgaste provocado pelas resistências a sua proposta de uma reforma tributária</p><p>progressista, o ministro Bresser Pereira pediu demissão.</p><p>Quanto ao 2º período, também conhecido como a política do “Feijão -com -arroz”, marca a gestão do</p><p>novo ministro da Fazenda, Mailson da Nóbrega, que rejeita a alternativa do “choque heterodoxo” e anuncia metas</p><p>mais modestas10.</p><p>O sucesso da política do “Feijão -com -arroz” consistiu em evitar, a curto prazo, uma explosão</p><p>inflacionária, embora se configurasse o retorno da taxa de inflação ao patamar anterior ao lançamento do Plano</p><p>Bresser.</p><p>Em outubro de 1988 foi promulgada a nova Constituição Brasileira, que transferiu para o Congresso uma</p><p>parcela da responsabilidade pela condução da política econômica.</p><p>De acordo com o governo, as dificuldades para a execução de um ajuste fiscal no âmbito de um programa</p><p>de estabilização foram agravadas pela Nova Constituição, uma vez que 92% da receita da União estaria</p><p>comprometida com as transferências a estados e municípios, pessoal, encargos da dívida e outras vinculações.</p><p>Em novembro de 1988 foi assinado um acordo inédito entre governo, empresários e trabalhadores,</p><p>estabelecendo uma espécie de redutor, através da pré-fixação dos reajustes de preços: nascia o “pacto social”, cujo</p><p>principal mérito consistiu em conter, temporariamente, a ameaça da hiperinflação.</p><p>Em janeiro de 1989, o governo lança mão de mais um programa de estabilização: o Plano Verão!</p><p>O Plano Verão de 14 de janeiro de 1989 promoveu uma nova reforma monetária, instituindo o Cruzado</p><p>Novo (NCz$) - correspondendo a mil cruzados _ como a nova unidade básica do sistema monetário. Foi</p><p>anunciado também como um plano híbrido: do lado ortodoxo, o Plano pretendia promover uma contração da</p><p>demanda agregada a curto prazo11 e, do lado heterodoxo, extinguir todos os mecanismos de realimentação da</p><p>inflação, promovendo inclusive o fim da URP salarial.</p><p>Os preços foram congelados por tempo indeterminado; porém, na véspera do anúncio do congelamento,</p><p>foram autorizados aumentos para os preços públicos e administrados. Além de recompor eventuais defasagens em</p><p>relação aos custos de produção, o alinhamento dos preços, a exemplo do Plano Bresser, deveria gerar uma</p><p>margem de folga para suportar o congelamento.</p><p>A cotação do dólar norte-americano foi fixada em NCz$ 1 : acreditava-se que a relação unitária entre o</p><p>cruzado novo e o dólar teria um efeito psicológico positivo, na medida em que fosse percebida como um indicador</p><p>7 De acordo com o novo esquema, a cada 3 meses seriam pré-fixados os percentuais de</p><p>reajuste para os 3 meses subsequentes, com base na taxa de inflação média (geométrica)</p><p>dos 3 meses precedentes. Ampliava-se, porém, com a pré-fixação dos reajustes a cada 3</p><p>meses, a defasagem entre a observação da taxa de inflação e seu repasse aos salários.</p><p>8 É importante frisar que a falta de um realinhamento de preços públicos e administrados</p><p>na véspera do congelamento fora apontada como uma das falhas do Plano Cruzado.</p><p>9 A flexibilidade do novo congelamento permitiu que os aumentos de preços decretados na</p><p>véspera do Plano Bresser fossem repassados aos outros preços da economia, gerando</p><p>inflação e neutralizando parcialmente a transferência de renda para o setor público.</p><p>10 Estabilização da inflação em 15% ao mês e redução gradual do déficit público.</p><p>11 Anunciando a prática de taxas de juros reais elevadas para inibir a especulação com</p><p>estoques e moeda estrangeira e também promovendo cortes nas despesas públicas.</p><p>50</p><p>da disposição efetiva do governo em combater a inflação doméstica e, assim, sustentar a nova paridade a médio</p><p>prazo12.</p><p>O ajuste fiscal proposto pelo governo junto com o Plano Verão deveria atuar em 4 frentes: redução das</p><p>despesas de custeio através de uma ampla reforma administrativa; redução das despesas de pessoal através da</p><p>demissão de funcionários públicos; redução do setor produtivo estatal através de um amplo programa de</p><p>privatização; rigidez na programação e execução financeira do Tesouro através de limitações à emissão de títulos</p><p>da dívida pública.</p><p>No que tange à política monetária, seriam utilizados 3 instrumentos básicos: aumento da taxa de juros</p><p>real de curto prazo de tal forma a inibir movimentos especulativos; controle do crédito ao setor privado através de</p><p>limitações de crédito, alteração do limite dos cheques especiais, redução dos prazos de financiamento e do</p><p>pagamento de cartões de crédito; e redução das pressões das operações com moeda estrangeira através da</p><p>suspensão dos leilões mensais de conversão da dívida externa em capital de risco.</p><p>Como na prática a política fiscal não fora efetivada, o governo se viu obrigado a manter as taxas de juros</p><p>excessivamente elevadas por um período mais longo do que previsto, agravando o desequilíbrio fiscal e tendo um</p><p>efeito perverso sobre o consumo: os ganhos proporcionados pelas elevadas</p><p>taxas de juros reais aumentaram a</p><p>renda disponível, impulsionando o consumo; assim, a recessão que o Plano Verão admitia provocar, não se</p><p>materializou.</p><p>Em relação aos salários, após o fracasso das negociações com empresários e trabalhadores, o governo</p><p>determinou, em fins de abril, uma reposição salarial que não satisfez a classe trabalhadora, intensificando, dessa</p><p>forma, o movimento grevista.</p><p>Em fins de abril, o governo deu os primeiros passos na reindexação da economia: criou-se o BTN (Bônus</p><p>do Tesouro Nacional) que só poderia ser utilizado em novos contratos, com prazo mínimo de 90 dias, e</p><p>estabeleceu as regras do descongelamento, onde após a 1ª revisão dos preços, os reajustes só poderiam ocorrer em</p><p>intervalos de 90 dias.</p><p>A transposição para o caso brasileiro do fracasso do Plano Primavera argentino, e da conseqüente entrada</p><p>da economia argentina numa trajetória hiperinflacionária, alimentou as especulações acerca do fracasso do Plano</p><p>Verão e de suas conseqüências econômicas, políticas e sociais. Na tentativa de conter a especulação, o governo</p><p>promoveu uma minidesvalorização do Cruzado Novo de 4,5% e definiu novas regras para a correção cambial:</p><p>equiparação à variação mensal do IGP-DI da FGV através de até 6 minidesvalorizações mensais sem data</p><p>marcada.</p><p>Passados apenas 5 meses desde o lançamento do Plano Verão, pode-se afirmar que seu principal mérito</p><p>residiu na interrupção de uma rota hiperinflacionária. No entanto, o descongelamento de preços no contexto de</p><p>taxas de juros decrescentes, as defasagens apontadas para os preços públicos e administrados, as indefinições</p><p>ainda existentes quanto à reindexação da economia, a precariedade do ajuste fiscal e uma expansão monetária nos</p><p>últimos 12 meses da ordem de 1000% a.a., traçam cenários inquietantes para a inflação a curto prazo, colocando</p><p>em discussão a necessidade de um novo programa de estabilização diante da proximidade das eleições</p><p>presidenciais de 15/11/1989.</p><p>Conclusão</p><p>Os Planos Cruzado, Bresser e Verão não produziram mais do que um represamento temporário da</p><p>inflação, uma vez que: i) não foram solucionados quaisquer dos conflitos distributivos de renda ou atacados os</p><p>desequilíbrios estruturais da economia, que poderiam ser considerados focos de pressão inflacionária a médio</p><p>prazo; ii) o desequilíbrio das contas do governo se agravou; iii) a política monetária foi predominantemente</p><p>acomodatícia; iv) o setor empresarial passou a se defender com maior presteza e eficácia de quaisquer defasagens</p><p>dos preços em relação aos custos; e v) os trabalhadores manifestaram com veemência crescente sua insatisfação</p><p>quanto ao poder de compra dos salários. Assim, restou apenas ao governo promover desindexações e, em seguida,</p><p>administrar as inevitáveis acelerações da inflação.</p><p>A desaceleração do crescimento na década de 80 foi comandada pela indústria - cujo produto real cresceu</p><p>apenas 1,8% a.a. entre 1980 e 1988 -, não abrindo espaço para a retomada da taxa histórica de crescimento, uma</p><p>vez que os desequilíbrios tanto externos quanto internos da economia não foram equacionados de forma</p><p>definitiva. Por este motivo, a década de 80 poder ser caracterizada como uma “década perdida”.</p><p>Um dos principais empecilhos para a retomada de uma taxa de investimento que garantisse um</p><p>crescimento auto-sustentado do produto da ordem de 6% a.a. decorre da insuficiência de poupança para seu</p><p>financiamento. A poupança externa virtualmente desapareceu a partir de 1984; a poupança nacional também caiu</p><p>devido à redução da poupança pública que se tornou negativa a partir de 1982. A carga tributária líquida do</p><p>governo caiu de 15% do PIB (década de 70), para 10% (1ª metade da década de 80) e para menos de 10% a partir</p><p>de 1985. A recuperação do investimento passa assim, necessariamente, por uma recomposição da carga tributária</p><p>líquida e, consequentemente, da poupança do governo.</p><p>12 A taxa de câmbio permaneceria fixa por tempo indeterminado.</p><p>51</p><p>A baixa taxa média de crescimento na economia brasileira no período 1985-89, aliada a termos de trocas</p><p>mais favoráveis e por um crescimento mais acentuado do comércio mundial, elevaram os superávits comerciais,</p><p>verificando em 1988 uma redução do estoque da dívida externa, o que tende a se repetir nos anos posteriores, sob</p><p>hipótese de crescimento moderado do produto. Ironicamente, a falta de uma solução para os desequilíbrios</p><p>internos, herdados do início dos anos 80, ao não permitir uma retomada vigorosa do crescimento econômico,</p><p>reforçou e prolongou o ajuste recessivo do desequilíbrio externo, que caracterizou a política econômica da 1ª</p><p>metade da década.</p><p>ÍNDICE CRONOLÓGICO:</p><p>• março/85: instala-se a “Nova República” e o ministro da Fazenda, Francisco Dorneles, anuncia o</p><p>1º pacote antiinflacionário do governo;</p><p>• junho/85: início do processo de descompressão dos controles sobre os preços privados e de</p><p>descongelamento dos preços públicos;</p><p>• agosto/85 :- violento choque de oferta agrícola, pressionando os preços dos gêneros</p><p>alimentícios;</p><p>-toma posse o novo ministro da Fazenda : Dílson Funaro;</p><p>• setembro/85: novo pacote antiinflacionário;</p><p>• novembro/85: novo indexador da economia: IPCA (IBGE), em substituição ao IGP-DI (FGV);</p><p>• dezembro/85: o governo anuncia um “pacote fiscal”;</p><p>• fevereiro/86: no dia 28 de fevereiro de 1986 instala-se o “Plano Cruzado”;</p><p>• março a junho/86: período caracterizado por uma queda substancial da inflação e também pelos</p><p>primeiros indícios da existência de excesso da demanda na economia;</p><p>• julho/86: o governo anuncia, em 24/07/86, o “Cruzadinho”;</p><p>• novembro/86: o governo anuncia o “Cruzado II” (que vai até junho/87);</p><p>• fevereiro/87: no dia 20/02/87, o governo decreta a moratória;</p><p>• abril/87: Dílson Funaro deixa o cargo e Bresser Pereira inicia a sua gestão;</p><p>• junho/87: “Plano Bresser” é apresentado à população no dia 12/96/87;</p><p>• julho a dezembro/87: fase de congelamento e flexibilidade do Plano Bresser;</p><p>• julho/87: o governo anuncia seu “Plano de controle Macroeconômico”;</p><p>• dezembro/87: Bresser Pereira pede demissão;</p><p>• janeiro/88: -o novo ministro, Mailson da Nóbrega, anuncia a nova política econômica, conhecida</p><p>como “Feijão-com-arroz”;</p><p>• -suspensão da moratória dos juros da dívida externa;</p><p>• outubro/88: promulgada a Nova Constituição Brasileira;</p><p>• novembro/88: assinado o “pacto social”;</p><p>• janeiro/89: anunciado o Plano Verão, em 14/01/89, que institui o Cruzado Novo como a nova</p><p>unidade básica do sistema monetário brasileiro;</p><p>• março/89: greve geral;</p><p>• abril/89: criado o BTN, sucedâneo da extinta OTN.</p><p>POLÍTICAS ECONÔMICAS:</p><p>• PLANO CRUZADO: o Plano Cruzado não estabeleceu metas para as políticas monetária e fiscal</p><p>para complementar o programa de estabilização: foram políticas inteiramente acomodatícias;</p><p>• PLANO BRESSER: políticas monetária e fiscal ativas (ver resumo);</p><p>• PLANO VERÃO: no que tange à política fiscal, esta deveria atuar em 4 frentes: redução das</p><p>despesas de custeio, redução das despesas de pessoal redução do setor produtivo estatal e rigidez na programação</p><p>e execução financeira do Tesouro; e, em relação à política monetária: seriam utilizados 3 instrumentos básicos:</p><p>aumento da taxa de juros real de CP, controle do crédito ao setor privado e redução das pressões das operações</p><p>com moeda estrangeira.</p><p>52</p><p>Índice Cronológico</p><p>A Era do Ouro, 1900-1913</p><p>O Impacto da Grande Guerra, 1914-18</p><p>O Boom e a Recessão do Pós-Guerra, 1919-22</p><p>Recuperação, Desequilíbrio Externo e Ajuste Recessivo, 1922-26</p><p>O Boom e a Depressão após o Retorno ao Padrão Ouro, 1927-30</p><p>Índice Cronológico</p><p>PERÍODO DE 1951-1952</p><p>PERÍODO DE 1953-1954</p><p>Índice Cronológico</p><p>Índice Cronológico</p><p>Índice Cronológico</p><p>Marcelo de Paiva Abreu</p><p>Índice Cronológico</p><p>Índice Cronológico</p><p>Índice Cronológico</p><p>Política Monetária</p><p>Política Fiscal</p><p>Política Creditícia</p><p>Índice Cronológico</p><p>Conclusão</p><p>ÍNDICE CRONOLÓGICO:</p><p>econômicas esgarçam o tecido político além de sua</p><p>possibilidade de resistência”.</p><p>• No fim da Primeira República temos o início de uma dupla transição: 1) mudança de uma economia primário-</p><p>exportadora baseada no café, com regimes cambial e comercial relativamente livres, para uma economia</p><p>“voltada para dentro” e com severos controles sobre o comércio exterior e 2) de uma plutocracia paulista para</p><p>algo mais difuso em termos de distribuição regional e social dos favores do Estado (Era Vargas).</p><p>2. Política Econômica na Primeira República</p><p>a) A Tendência ao desequilíbrio externo e o quadro institucional</p><p>• O problema da política econômica durante a Primeira República estava em isolar a economia dos</p><p>desequilíbrios provocados pelas bruscas alterações na posição externa brasileira.</p><p>• A economia primário-exportadora brasileira estava sujeita a 2 tipos de choques exógenos: i) flutuações</p><p>abruptas da oferta de café (quebras de safra, superprodução) e ii) flutuações da demanda nos países centrais e</p><p>bruscas descontinuidades do fluxo de capital do centro para a periferia.</p><p>b) Ciclos e Crises da Primeira República</p><p>A Era do Ouro, 1900-1913</p><p>• Ciclo de crescimento entre o ajuste recessivo da virado do século e a desaceleração que precede a Primeira</p><p>Guerra.</p><p>• Melhora da posição externa no Governo Rodrigues Alves (1902/06), com o crescimento das exportações de</p><p>borracha e o início do boom de investimentos europeus na periferia. O controle monetário imposto pelas</p><p>negociações da dívida com grupos internacionais e o crescimento da receita líquida de divisas forçaram uma</p><p>substancial apreciação cambial.</p><p>• Interesses do setor produtivo levaram à criação de um mecanismo automático de padrão ouro – a Caixa de</p><p>Conversão, em 1906 – que possuía o poder de emitir notas plenamente conversíveis em ouro, a uma taxa fixa</p><p>de câmbio.</p><p>• Agravamento do desequilíbrio no mercado mundial do café e uma breve mas grave crise financeira</p><p>internacional fizeram com que o governo federal temesse um colapso dos preços do café que, somado à queda</p><p>dos influxos de capital, comprometeria a posição externa. O governo acabou então por avalizar, junto a seus</p><p>banqueiros de Londres, um empréstimo que permitisse financiar os estoques de café a longo prazo e garantir a</p><p>estabilidade de preços no curto prazo.</p><p>• Com a normalização dos mercados internacionais e o retorno do afluxo de capital, além da ajuda da</p><p>recuperação dos preços da borracha, o país entrou numa fase de crescimento acelerado até 1913.</p><p>• Estágios iniciais desse crescimento: súbita melhora no Balanço de Pagamentos, que causou grande expansão</p><p>monetária via influxos de ouro na Caixa de Conversão. Essa posição era extremamente frágil, pois uma</p><p>retração da entrada de capital e das exportações não é acompanhada automaticamente pela queda na demanda</p><p>de importados.</p><p>• Em 1912 passou a haver uma situação de deterioração do BP e dificuldades de levantar novos empréstimos.</p><p>Esse cenário toma dimensão de crise em 1913, devido à reversão da posição do BP e a uma forte retração da</p><p>liquidez decorrente das operações do padrão-ouro.</p><p>O Impacto da Grande Guerra, 1914-18</p><p>• A guerra teve efeito imediato sobre o fluxo de pagamentos externos, a receita tributária e a indústria do café.</p><p>• Governo fechou a Caixa de Conversão e autorizou uma grande emissão de notas inconversíveis, que serviram</p><p>para aliviar por um tempo a crise de liquidez e atender a despesas do governo.</p><p>• Negociação de um funding loan em 1914, que aliviou o BP.</p><p>• O principal impacto da guerra para o comércio exterior brasileiro foi a estagnação das importações, que</p><p>afetaram o equilíbrio fiscal do governo (uma vez que as tarifas de importação constituíam um importante</p><p>meio de receitas governamentais).</p><p>• Como a guerra persistia, o governo viu-se forçado a tomar medidas mais radicais para ajustar a economia com</p><p>vistas a equilibrar as finanças do setor público (com a ampliação de produtos sujeitos ao imposto de consumo</p><p>e a manutenção das despesas a níveis baixos) e também para reverter o substancial aperto de liquidez (com a</p><p>autorização de uma nova emissão de notas do Tesouro e títulos federais de longo prazo).</p><p>6</p><p>• A queda dos salários reais em função do aumento do preço dos alimentos levou à primeira onda de greves</p><p>operárias da História do Brasil.</p><p>• Enquanto isso, no início de 1918, cresciam as preocupações com a fragilidade da posição externa e da</p><p>indústria do café com o prolongamento da guerra. No entanto, com o fim do conflito, e uma forte geada que</p><p>elevou os preços internacionais do café, o Brasil emergia da guerra sem problemas de excesso de oferta de</p><p>café e com equilíbrio externo.</p><p>O Boom e a Recessão do Pós-Guerra, 1919-22</p><p>• Período influenciado pelo rápido e violento movimento de auge e recessão das economias aliadas.</p><p>• Aumento dos preços das commodities levou a um aumento explosivo das exportações das exportações</p><p>brasileiras.</p><p>• Houve também uma rápida recuperação das importações vinculada à significativa demanda reprimida durante</p><p>a guerra e a apreciação do mil-réis.</p><p>• No entanto, a adoção de políticas monetárias restritivas nos países centrais precipitou o início de uma forte</p><p>recessão, refletida no colapso dos preços dos produtos primários. O resultado imediato foi a reversão da</p><p>balança comercial em 1920, seguida de recessão e depreciação cambial.</p><p>• Governo procurou adotar as seguintes medidas diante desses fatos: i) diminuir a velocidade e magnitude da</p><p>desvalorização cambial (dada a posição financeira do governo, com grandes despesas expressas em moeda</p><p>estrangeira) e ii) emitir um pequeno lote de títulos e criar a Carteira de Redesconto do Banco do Brasil,</p><p>cedendo a pressões do setor cafeeiro demandando maior liquidez e estabilidade.</p><p>• As dificuldades do governo em financiar seu crescente desequilíbrio fiscal (em meados de 1921) tinha</p><p>consequências na viabilidade de um esquema de proteção do café – que foi remediado com um crédito de</p><p>curto prazo junto a bancos comerciais ingleses.</p><p>• Esse severo desequilíbrio fiscal decorrente do pós-guerra foi financiado por uma expansão da base monetária,</p><p>aumentando a pressão da inflação. Ao lado da necessidade de liquidar as dívidas de curto prazo, houve</p><p>motivação para a adoção de uma política fiscal recessiva.</p><p>Recuperação, Desequilíbrio Externo e Ajuste Recessivo, 1922-26</p><p>• Fim do governo Epitácio Pessoa (1992) é marcado pelo preço do café em ascensão, reversão de tendência de</p><p>queda das exportações e do déficit da balança e retomada da produção industrial.</p><p>• Por outro lado, seu sucessor, Artur Bernardes, herdava um BP vulnerável e crônica crise fiscal. Suas metas</p><p>eram: i) transformar o Banco do Brasil em banco central, retirando os poderes de emissão do Tesouro, ii)</p><p>fortalecer a posição externa, com a institucionalização de um novo e ousado programa de defesa dos preços</p><p>do café (controle de oferta passou a ser feito através de retenção compulsória da safra em “armazéns</p><p>reguladores”, e não mais pela compra e estocagem do excedente pelo governo) e iii) reduzir drasticamente o</p><p>déficit público.</p><p>• Dificuldades com a safra de café (excesso de oferta) tornou necessária a emissão de títulos por parte do Banco</p><p>do Brasil, acelerando a depreciação cambial. A saída encontrada para evitar uma crise cambial – que tinha</p><p>impactos negativos sobre o déficit público – e diminuir o ritmo das emissões seria um empréstimo a ser</p><p>conseguido junto a banqueiros ingleses, com o objetivo de saldar parte da dívida do Tesouro para com o</p><p>Banco do Brasil. Devido a imposições do governo britânico contra empréstimos externos, o dinheiro não</p><p>saiu.</p><p>• Para complicar a situação, as revoltas militares de 1924 trouxeram consigo despesas imprevistas e a</p><p>interrupção das transações bancárias em São Paulo, levando a uma nova explosão de emissões: maiores</p><p>pressões inflacionárias.</p><p>• Havia então a necessidade de elaboração</p><p>de um programa rígido de ajuste externo e interno, que envolveu a</p><p>transferência da responsabilidade do programa de valorização do café para o Estado de São Paulo (1924) e o</p><p>aumento das taxas de redesconto com vistas a reduzir a base monetária (início de 1925), além da continuidade</p><p>do esforço para equilibrar o orçamento.</p><p>• Os efeitos dessa política foram recessão, queda do crescimento e do investimento industrial, apreciação</p><p>cambial e queda da inflação.</p><p>O Boom e a Depressão após o Retorno ao Padrão Ouro, 1927-30</p><p>• O novo presidente Washington Luís promoveu uma mudança radical das políticas monetária e cambial.</p><p>7</p><p>• Atingiu-se uma recuperação econômica graças a uma política monetária mais expansionista por parte do</p><p>governo e uma situação externa também favorável – em decorrência da valorização dos preços do café e</p><p>investimento e financiamentos externos.</p><p>• Ao adotar uma nova política restritiva de crédito em 1929, vinculada ao retorno do padrão ouro (1927-30), a</p><p>economia caminhou para um período de severa recessão. Essa situação foi agravada por uma safra recorde de</p><p>café e a restrição do financiamento externo. Com a grande depressão, os preços do café caíram</p><p>vertiginosamente, decretando o “golpe de misericórdia” no equilíbrio do BP.</p><p>8</p><p>CAPÍTULO 3 - CRISE, CRESCIMENTO E MODERNIZAÇÃO AUTORITÁRIA, 1930-45</p><p>Marcelo de Paiva Abreu</p><p>(Bruno Carazza)</p><p>1. Superação da Crise e a Política Econômica do Governo Provisório (1930-34)</p><p>• Em decorrência da Crise de 1929, os preços das exportações caíram (sem aumento do quantum exportado) e</p><p>interrompeu-se o influxo de capital: deterioração do câmbio e queda das reservas.</p><p>• Adotou-se uma política cambial restritiva em 1930-31, com moratória do pagamento de dívidas em moeda</p><p>estrangeira.</p><p>• Mil-réis sofreu uma desvalorização de 55% entre 1930-31, prejudicando a economia cafeeira (pois a demanda</p><p>internacional do café é praticamente inelástica em relação ao preço; com a desvalorização, o café fica mais</p><p>barato no exterior, mas a receita cambial cai).</p><p>• Indústria foi protegida, graças ao controle das importações e a queda generalizada dos preços das</p><p>commodities. Dívidas públicas cresceram tendo em vista a crise cambial.</p><p>• A dívida externa brasileira distribuía-se principalmente entre dois credores: Reino Unido (num montante de</p><p>US$ 600 milhões, com investimentos em queda e concentrados em setores tradicionais) e Estados Unidos</p><p>(US$ 200 milhões, com investimentos que quadruplicaram de 1914 a 1930, concentrados em atividades</p><p>comerciais e indústria de transformação). Essa composição gerou interesses divergentes entre os credores:</p><p>enquanto os britânicos queriam maximizar os pagamentos atrasados e os americanos preferiam manter sua</p><p>posição de influência comercial no Brasil.</p><p>• A crise cambial brasileira e a recessão internacional afetaram os investimentos no país, principalmente os</p><p>provenientes da Europa (a participação americana cresceu nesse período).</p><p>• Enquanto Vargas parecia “encarnar o ‘Estado de Compromisso’, tratando de acomodar os interesses</p><p>conflitantes do café e da indústria”, sua atuação tendeu a favorecer principalmente a indústria.</p><p>• A crise cambial, com a deterioração dos termos de troca, colaborou para que a recuperação da atividade pós-</p><p>recessão se desse de forma mais rápida.</p><p>• No entanto o governo federal, através do Conselho (depois Departamento) Nacional do Café, efetuou uma</p><p>significativa compra e posterior destruição dos estoques de café, buscando reduzir o descompasso entre seu</p><p>nível e a capacidade de absorção do mercado mundial.</p><p>• O governo ampliou ainda outra política de redução da oferta de café, logo após a Revolução</p><p>Constitucionalista (1932), com a destruição de mais de 70 milhões de sacas foram destruídas entre 1931 e</p><p>1943.</p><p>• A desvalorização cambial e o controle de importações reorientaram a demanda para produtos nacionais,</p><p>levando a uma reversão do saldo do BP (via balança comercial).</p><p>• A política econômica do Governo Provisório pode ser considerada pré-keynesiana devido à intenção de</p><p>acomodar um choque fiscal (recessão internacional) através de um aumento no déficit público.</p><p>• Abandono do padrão-ouro em 1930: fim da pressão sobre a base monetária (mecanismo: a partir de um</p><p>choque externo há uma pressão para desvalorizar a moeda, caem as reservas, Banco do Brasil vende US$ e</p><p>compra mil-réis, com isso reduz-se a oferta monetária).</p><p>• A produção nacional caiu 9%, entre 1928 e 30, permaneceu estagnada em 1931-31 e cresceu a uma média de</p><p>10% ao ano entre 1932 e 1939.</p><p>• A participação das importações na oferta total caiu de 45% em 1928 para 25% (1931) e 20% (1939).</p><p>2. Boom Econômico e Interregno Democrático, 1934-37</p><p>• Período marcado pela pressão americana para o Brasil liberar um regime de câmbio especial para os EUA.</p><p>• Entre 1936 e 1937 as reservas acumularam-se, como resultado da ampliação das exportações, enquanto as</p><p>importações permaneceram constantes. Essa folga cambial levou a um relaxamento dos controles de</p><p>importação e a liberação das remessas de lucros, gerando um descoberto de 6 milhões de libras esterlinas no</p><p>final de 1937.</p><p>• Apesar das dificuldades no BP, a economia crescia a 6,5% ao ano entre 1934 e 37, graças ao encarecimento</p><p>das importações e a adoção de políticas fiscal, cafeeira e monetária expansionistas.</p><p>• Agricultura cresceu a 2% ao ano, entre 1934-37, enquanto a indústria teve uma média de 11% ao ano (com</p><p>crescimento mais elevado de setores não-tradicionais: borracha, papel, cimento, metalurgia, química e têxtil).</p><p>• Acordo comercial com os EUA (1935): O Brasil concedeu reduções tarifárias para produtos americanos</p><p>(duráveis de consumo), enquanto os EUA mantiveram as principais exportações brasileiras livres de tributos</p><p>(o que teve pouco impacto sobre a indústria nacional).</p><p>• Aproximação do Brasil com a Alemanha: Aumento das exportações de café e algodão e deslocamento de</p><p>importações tradicionalmente britânicas (carvão, material elétrico, Folha-de-flandres, etc.) para a Alemanha.</p><p>Com isso as importações americanas também ganharam participação.</p><p>9</p><p>• Política externa de “comércio de compensação”: Vargas conseguia apoio dos Estados que exportavam para a</p><p>Alemanha (Nordeste e Rio Grande do Sul).</p><p>• Participação alemã no comércio brasileiro passou, entre 1928 e 1938, de 12% para 25%, em detrimento dos</p><p>EUA (27 para 23), Reino Unido (22 para 10) e França (6 para 3). Substituição drástica de produtos britânicos</p><p>por alemães.</p><p>3. Estado Novo e Economia de Guerra, 1937-45</p><p>• Centralização do poder, com criação de agências governamentais com objetivos reguladores na área</p><p>econômica.</p><p>• Estado transitou da arena normativa para a provisão de bens e serviços.</p><p>• 1937: Escassez de divisas (elevação das importações, investimentos públicos, pagamento de serviços da</p><p>dívida), governo foi levado a desvalorizar a moeda doméstica.</p><p>• Controles cambial e de importações foram os principais instrumentos de política comercial no período.</p><p>• O comércio de compensação foi gradativamente sufocado à medida que se tornava perigoso acumular</p><p>reservas em marcos, tendo em vista a possibilidade de guerra.</p><p>• Com a Segunda Guerra, até 1941 o país teve dificuldades com o BP (queda dos mercados de exportação). A</p><p>partir de 1941 a situação se reverte com a recuperação e ampliação das exportações (suprindo economias em</p><p>guerra) e com a estagnação das importações: expansão dos saldos na balança comercial.</p><p>• Efeitos contraditórios na indústria: estímulo à produção e exportação, mas com dificuldades de obtenção de</p><p>insumos e bens de capital.</p><p>• O PIB teve um efeito menor em razão do fraco desempenho da agricultura.</p><p>• 1942 representa um ponto de inflexão na economia brasileira: crescimento industrial acelerado, país passa a</p><p>acumular reservas cambiais (reduzidas desde os anos 20), entrada de capital americano, políticas fiscal,</p><p>monetária e creditícia</p><p>expansionistas a partir de 1942.</p><p>• Política monetária: moderada (fins de 1938 até fins de 1939) e expansionista a partir de 1940 – reforma</p><p>monetária de 1942 (aumento de liquidez na economia) e expansão do crédito, com crescimento inflacionário.</p><p>• Acordos com os EUA para suprimento de matérias-primas e bens primários, em contrapartida haveria a</p><p>manutenção dos preços desses produtos.</p><p>• CSN: governo brasileiro viu-se obrigado a participar diretamente do projeto tendo em vista o desinteresse dos</p><p>grandes produtores norte-americanos de aço.</p><p>10</p><p>CAPITULO 4 - POLÍTICA ECONÔMICA EXTERNA E INDUSTRIALIZAÇÃO: 1946-1951</p><p>Sérgio Besserman Vianna</p><p>(Humberto Carlos Faria Teixeira)</p><p>O cenário econômico internacional no período pós-guerra (1946-1951) foi marcado pela assinatura do</p><p>tratado de Bretton Woods que previa a implementação de mudanças substanciais na organização da economia</p><p>mundial. No bojo do acordo, destacam-se propostas visando: o restabelecimento do padrão-ouro divisas nos</p><p>mercados cambiais, constituindo o dólar a moeda internacional de reserva, a transição para a livre convertibilidade</p><p>das moedas e a criação do GATT (Acordo Geral de Tarifas e Comércio) com o propósito de reduzir as barreiras</p><p>ao livre comércio entre os países. O Fundo Monetário Internacional (FMI), criado com o objetivo de zelar pelos</p><p>acordos de Bretton Woods e efetuar empréstimos aos países com dificuldades no balanço de pagamentos e o</p><p>Banco Mundial também datam dessa época.</p><p>Os acordos internacionais do período apresentavam, portanto, um caráter eminentemente liberal. A</p><p>política econômica adotada no Brasil no período 1946-1951 seguiu, em primeira instância, os preceitos liberais.</p><p>VIANNA (1988) argumenta, entretanto, que o país não diagnosticou de forma precisa o ritmo e o próprio</p><p>movimento nos mercados internacionais da época. A interpretação equivocada do governo Dutra expressa-se em</p><p>três pontos: a idéia de que o pais encontrava-se em situação confortável em termos de reservas cambiais, a</p><p>suposição de que uma política liberal de câmbio seria capaz de atrair expressivo fluxo de capitais externos ao país</p><p>e a aposta nos Estados Unidos como grande credor do país em contrapartida a colaboração brasileira durante a</p><p>segunda guerra mundial.</p><p>Em linhas gerais, a política econômica adotada então privilegiou o combate à inflação, expressa na</p><p>adoção de políticas monetária e fiscal contracionistas (notadamente até 1949). No que se refere à balança</p><p>comercial, nota-se que o Brasil apresentava um desempenho favorável com os países de moeda de baixa</p><p>conversibilidade (moedas fracas) e desfavorável com os países de moeda forte (de elevada conversibilidade). No</p><p>período pós-guerra, verifica-se ainda uma redução das exportações de matérias-primas e manufaturados</p><p>brasileiros. Estas que representavam 20% da pauta de exportações em 1945, reduzem-se para 7,5% em 1946 e</p><p>atingem a marca de 1% em 1952. VIANNA (1988) atribui este processo à recuperação econômica dos países</p><p>envolvidos na guerra marcado pelo retorno de antigos fornecedores ao mercado internacional. As importações,</p><p>por sua vez, eram pressionadas pela dependência da produção nacional em bens de capital (equipamentos)</p><p>estrangeiros. O elevado acréscimo dos preços desses bens (os preços dos equipamentos sobem 47% em 1947 em</p><p>relação ao ano anterior) supera o aumento dos preços das exportações (que sobem apenas 15% no mesmo</p><p>período), prejudicando o desempenho da balança comercial brasileira.</p><p>Percebida então a modesta entrada de capitais externos no país, um desempenho mais favorável na</p><p>balança comercial seria alcançado por intermédio de medidas de controles cambiais e uma política de</p><p>contingenciamento de importações.1 A vigência de uma taxa de câmbio sobrevalorizada, conjuntamente com as</p><p>medidas de restrição às importações e controles cambiais (mencionadas acima) produziram três efeitos: (a) efeito</p><p>subsídio, beneficiando a importação de bens de capital e insumos básicos para suprimento da produção nacional;</p><p>(b) efeito protecionista, através das restrições às importações de bens substitutos ou concorrentes aos produzidos</p><p>nacionalmente e (c) efeito lucratividade, decorrente da taxa de câmbio sobrevalorizada que, ao alterar a</p><p>rentabilidade relativa entre a produção exportada e aquela alocada para o mercado doméstico, beneficiou a</p><p>produção voltada para o mercado nacional. Neste contexto, torna-se evidente o estímulo das medidas supracitadas</p><p>em favor de um processo de substituição de importações.</p><p>O período é marcado ainda, conforme mencionado acima, pela adoção de uma política econômica</p><p>ortodoxa, enfatizando o combate à inflação através de políticas fiscais e monetária contracionistas. Deve-se</p><p>ressaltar, entretanto, que a política de crédito foi, em grande medida, expansionista dada a política de concessão de</p><p>crédito efetuada pelo Banco Brasil. A política de crédito adotada visava facilitar investimentos nacionais no</p><p>processo de substituição de importações. A política de crédito, portanto, operava em contramão à estratégia de se</p><p>adotar uma política monetária e fiscal mais restritiva no início do período. Vale mencionar também que</p><p>cogitava-se na época a adoção de uma reforma tributária como forma de ajustar as finanças públicas. O projeto de</p><p>reforma tributária, no entanto, não encontrou respaldo político suficiente, sendo abandonado em 1947.</p><p>O período caracteriza-se ainda pela obtenção de maior autonomia administrativa por parte de estados e</p><p>municípios concedido pela Constituição de 1946. A maior autonomia relativa adquirida pelos estados e</p><p>municípios em relação à União comprometeu os esforços desta (a União) no sentido de promover o ajuste fiscal,</p><p>prejudicando assim as finanças públicas.</p><p>1 Institui-se então o regime de câmbio por cooperação, segundo o qual os bancos atuantes</p><p>no mercado cambial vinham-se obrigados a vender 30% de suas compras no mercado livre</p><p>ao Banco do Brasil à taxa de câmbio oficial. O contingenciamento de importações, por sua</p><p>vez, era feito através da concessão de licenças de importação.</p><p>11</p><p>Quanto ao processo inflacionário, verifica-se um crescimento dos índices de inflação a partir de 1949.</p><p>VIANNA (1988) ressalta os componentes estruturais desse repique inflacionário: (a) pressão de demanda advinda</p><p>do processo de urbanização e industrialização sobre a produção agrícola, alternando os preços relativos da</p><p>economia em benefício deste setor, refletindo-se em aumento generalizado de preços; (b) tendência inflacionária</p><p>subjacente ao aumento dos preços das exportações e (c) a existência de baixa capacidade ociosa na economia,</p><p>reduzindo a possibilidade de choques de demanda serem absorvidos integralmente através de aumento da</p><p>produção, ou seja, expansão da oferta agregada.</p><p>ÍNDICE CRONOLÓGICO</p><p>1944: Conferência de Bretton Woods</p><p>1947: Proclamação da Doutrina Truman nos EUA, destacando-se a elaboração do Plano Marshall como</p><p>instrumento de auxílio às economias européias arruinadas com a guerra</p><p>1947-48: Fim do mercado livre de câmbio e a adoção de um política de contingenciamento de</p><p>importações no Brasil entre meados de 1947 e início de 1948.</p><p>1948: Constituição da Comissão Técnica Mista Brasil - Estados Unidos, mais conhecida como Missão</p><p>Abbink, que preconizava que o desenvolvimento brasileiro deveria centrar-se em três pontos: “a reorientação dos</p><p>capitais formados internamente, o aumento médio da produtividade e o afluxo de capitais</p><p>estrangeiros.”(VIANNA, 1988:117).</p><p>1949: Afastamento do ministro da Fazenda Correa e Castro em meados de 1949, indicando a passagem</p><p>de uma política econômica contracionista, tipicamente ortodoxa, em direção a uma maior flexibilidade nas metas</p><p>monetárias e fiscais. Sob sua gestão na Fazenda,</p><p>os investimentos públicos e a emissão de moeda foram</p><p>reduzidos a praticamente zero em 1947. O crédito real à indústria cresceu 38%, 19%, 28% e 5% nos anos de</p><p>1947, 1948, 1949 e 1950, respectivamente.</p><p>1949: Adoção do Plano Salte, considerada “a única iniciativa de intervenção planejada do Estado para o</p><p>desenvolvimento econômico” (VIANNA, 1988:116). Previa investimentos públicos nos setores de saúde,</p><p>alimentação, transporte e energia para os anos de 1949 e 1953.</p><p>1950: Surge a União Européia de Pagamentos (UEP), existente até 1958, que conjuntamente com a</p><p>desvalorização da libra esterlina em 1949, indicam uma transição lenta em direção às trocas multilaterais e à</p><p>conversibilidade geral das moedas.</p><p>Política cambial: O câmbio foi mantido grosso modo à paridade de 1939, de</p><p>18,5 Cr$/US$, sendo instituído o mercado livre, com a abolição das restrições a pagamentos existentes</p><p>desde os anos 30. Considerando-se que a inflação brasileira no período foi o dobro da verificada nos EUA, torna-</p><p>se evidente a sobrevalorização cambial. Por outro lado, as importações de bens considerados necessários à</p><p>economia usufruíam de acesso à taxas de câmbio mais favoráveis, caracterizando uma desvalorização implícita da</p><p>moeda. As importações eram restringidas pela concessão de licenças de importação. Nota-se, entretanto, uma</p><p>liberalização na concessão das licenças de importação a partir de meados de 1950 com a alta do preço do café</p><p>(aumentando a capacidade importadora da economia) no mercado internacional e dada o elevado nível de</p><p>contingenciamento já alcançado nas importações.</p><p>12</p><p>CAPÍTULO 5 – DUAS TENTATIVAS DE ESTABILIZAÇÃO: 1951-1954</p><p>Sérgio Besserman Vianna</p><p>(Carla Aguilar)</p><p>A conjuntura encontrada pelo governo Vargas pode ser resumida, no setor interno, pela retomada do</p><p>processo inflacionário e pela recorrência do desequilíbrio financeiro do setor público e, no setor externo, pela</p><p>expectativa favorável devido a elevação do café e a mudança do governo dos Estados Unidos em relação ao</p><p>financiamento dos programas de desenvolvimento do Brasil.</p><p>È tendo em vista este cenário que o governo traçou sua política econômica apoiada em um projeto de</p><p>governo bem definido que tinha por objetivo dividir o governo em duas fases. A primeira (1951-1952) constituiria</p><p>na estabilização da economia utilizando-se como pilar as políticas fiscais e monetárias. A Segunda (1953-1954)</p><p>seria para os empreendimentos e realizações tendo como pilar seria a Comissão Mista Brasil - Estados Unidos</p><p>(CMBEU), constituída em 19502.</p><p>O CMBEU era importante, pois os financiamentos fornecidos pelo Banco Mundial e pelo Eximbank é</p><p>que assegurariam a estrangulamentos em setores básicos da economia (energia, portos, etc.) que propiciariam uma</p><p>ampliação do fluxo de capital dirigido para o Brasil. Tal afluxo de capital permitiria a fase das realizações e</p><p>empreendimentos concomitantemente com uma política econômica austera e ortodoxa.</p><p>PERÍODO DE 1951-1952</p><p>Tendo em vista o quadro externo descrito acima, a política de comércio exterior apoiou-se em uma taxa</p><p>de câmbio fixa e sobrevalorizada e um regime de concessão de licença para importar (esta última política</p><p>modificou-se ao longo do tempo, pois foi extremamente relaxada nos primeiros 7 meses de governo). A</p><p>liberalização na política de concessão deveu-se aos seguintes fatores: persistência da pressão inflacionária interna</p><p>e de aguda propensão a importar; precário abastecimento interno por produtos importados, perspectivas</p><p>decrescentes de escassez internacional de matérias-primas e equipamento importável em função dos programas</p><p>armamentistas; perspectivas favoráveis da evolução das exportações dos principais produtos e posição cambial</p><p>temporariamente favorável.</p><p>Essa extensa liberalização na política de concessão impactou violentamente as reservas em moedas</p><p>conversíveis que reduziram de US$162 milhões para US$43 milhões de março para julho de 1951. Diante disto,</p><p>em 1º de agosto de 1951 o Conselho da Superintendência da Moeda e do Crédito (Sumoc) define instruções para</p><p>que a CEXIM reintroduza um regime mais severo de licenciamento. Apesar disso, os licenciamentos continuaram</p><p>elevados até dezembro deste mesmo ano resultando na necessidade de uma nova restrição no princípio de 1952.</p><p>Como as licenças que eram concedidas possuíam vida útil de 6 meses a 1 ano tal medida necessitou de um prazo</p><p>extenso para refletir nas estatísticas de importação.</p><p>A balança comercial apresentou um pequeno superávit em 1951. Já, em 1952, a balança comercial foi</p><p>deficitária e, além disto, houve o esgotamento das reservas internacionais e o acúmulo de atrasados comerciais.</p><p>Tal situação ocorreu, principalmente, devido a uma não alteração no quadro das importações (uma vez que havia</p><p>uma defasagem na adoção da política de restrição e o seu efeito e somando-se a isso foi necessária a compra de</p><p>trigo nos EUA por causa da seca na Argentina) e a uma redução das exportações em 20% se comparado com</p><p>1951. Esta queda deveu-se aos efeitos da sobrevalorização do cruzeiro e das pressões inflacionárias internas bem</p><p>como à crise enfrentada pela indústria têxtil mundial que levou a uma paralisação das vendas de algodão segundo</p><p>produto mais importante da pauta de exportações brasileira.</p><p>Pelos motivos apresentados acima e o baixo influxo de capital estrangeiro que não ajudou a diminuir tais</p><p>dificuldades houve em 1952 uma crise cambial que resultou na fratura de uma das pernas que deveria sustentar o</p><p>projeto do governo Vargas.</p><p>A política econômica teve como objetivos nesta primeira fase: comprimir as despesas governamentais,</p><p>aumentar na medida do possível a arrecadação, adotar políticas monetária e creditícia contracionistas. Os três</p><p>primeiros objetivos foram alcançados.</p><p>As despesas governamentais foram reduzidas tanto que o investimento público decresceu cerca de 3% em</p><p>termos reais. As receitas governamentais aumentaram devido à inflação, ao crescimento real da economia, à</p><p>melhoria da eficiência do sistema arrecadador e ao extraordinário crescimento das importações. Houve em 1951</p><p>um superávit global da União e Estados que não acontecia desde 1926. Em 1952 a política fiscal foi mantida</p><p>fazendo com que o superávit da União fosse quase o mesmo do ano anterior, no entanto, não foi possível o mesmo</p><p>desempenho para os estados e municípios.</p><p>A política monetária foi conduzida ortodoxamente assim como a política fiscal. A exceção foi a política</p><p>creditícia que se moveu em direção contrária, pois o presidente do Banco do Brasil (Ricardo Jafet) tinha posição</p><p>distinta da ortodoxa. Sendo assim, as reduções das necessidades de empréstimos do Banco do Brasil ao Tesouro</p><p>Nacional foram compensadas com a expansão do crédito às atividade econômicas. Os fatores que avalizaram tal</p><p>2 O projeto sustentava-se em 2 pernas: o saneamento econômico-financeiro e o afluxo de capitais, devido a isso o governo</p><p>Vargas foi comparável aos governos Campos Sales e Rodrigues Alves.</p><p>13</p><p>expansão foi em 1951 a recuperação de parte das disponibilidades antes imobilizadas em empréstimos ao setor</p><p>público e em 1952 soma-se a este primeiro a expansão do aporte de recursos adicionais devido ao aumento nos</p><p>depósitos correspondentes aos débitos em divisas dos importadores em função do acúmulo de atrasados</p><p>comerciais.</p><p>Houve um aumento do PIB em 4,9% em 1951 e 7,3% em 1952. O aumento das importações, nesse</p><p>período, afetou positivamente o setor de serviços que apresentou maior crescimento e negativamente a produção</p><p>industrial que apresentou as menores taxas anuais de crescimento. A estagnação do café e a queda da produção de</p><p>algodão e cacau fizeram com que a agricultura apresentasse pequeno crescimento em 1951, mas em 1952 o</p><p>crescimento da exportação de produtos agrícolas aumentou 17% provocando uma recuperação neste setor.</p><p>Este período (1951-1952) foi marcado pela elevação das taxas de investimento</p><p>e o aumento da</p><p>participação do setor privado no investimento global em detrimento dos investimentos do setor público. As fontes</p><p>de financiamento para esse investimento foram a liberalização das importações e a política creditícia.</p><p>PERÍODO DE 1953-1954</p><p>A segunda fase do governo (empreendimento e realizações) deveria começar em 1953 baseada na</p><p>estabilização e no acordo CMBEU. No entanto, a primeira não foi alcançada pelos fatores apresentados no item</p><p>anterior e a segunda também não devido ao fim da Comissão Mista Brasil Estados Unidos. Sendo assim os dois</p><p>pilares do governo Vargas ruíram no primeiro semestre de 1953. Tais acontecimentos associados à uma</p><p>mobilização social reinvidicadora e à uma reacomodação política derivada das eleições municipais de 1953</p><p>levaram o governo a abandonar o projeto inicial e sustentar o propósito de estabilização econômica.</p><p>O encerramento da CMBEU ocorreu devido aos seguintes fatores: (i) a vitória de Eisenhower para</p><p>presidente dos EUA fazendo com que a orientação da política norte-americana prioritária para a América Latina</p><p>passasse a ser o combate ao comunismo e, além disso, sob o argumento de que precisaria manter gastos não</p><p>financiaria mais os projetos que a comissão mista elaborasse. O apoio deste governo ao Banco Mundial em</p><p>conflito com o Eximbank também prejudicou o Brasil, pois o primeiro era a favor de empréstimos de longo prazo</p><p>do Eximbank para o desenvolvimento da América Latina apenas quando não pudesse fazê-lo. As razões para isso</p><p>era que queria controlar mais as políticas econômicas dos países demandantes de crédito. (ii) deterioração da</p><p>situação cambial brasileira ao longo de 1952 resultando no acúmulo de vultosos atrasos comercias levando o</p><p>Banco Mundial a mudar de postura para com o Brasil, passando a interferir na política econômica do governo.</p><p>O primeiro semestre de 1953 foi marcado pela promulgação da Lei 1807(Lei do Mercado Livre) e pelo</p><p>empréstimo de US$300 milhões de dólares junto ao Eximbank. A Lei do Mercado Livre tinha como objetivo</p><p>aumentar as exportações de gravosos sem prejudicar a receita proveniente do café e do cacau; e reduzir a</p><p>propensão a importar. Para tal adotou cinco taxas de câmbio do lado da oferta e duas do lado da demanda. As</p><p>taxas para exportação eram: a taxa oficial aplicada a 85% das exportações (limitadas ao café, algodão e cacau), as</p><p>três taxas de câmbio flutuante (misturavam 15,30 e 50% da taxa oficial e a taxa de mercado livre) aplicada às</p><p>demais exportações e, por último, a taxa de mercado livre que era aplicada às transações financeiras (com algumas</p><p>exceções). As taxas estabelecidas para demanda eram: a taxa oficial utilizada para transações essências (2/3 das</p><p>importações totais) e remessas financeiras do governo de entidades pública e semi-públicas; e a taxa de mercado</p><p>livre para o restante das importações e remessas.</p><p>A assinatura do acordo de empréstimo conseguida em 30 de abril de 1953 pelo governo brasileiro</p><p>ocorreu devido a pressões de exportadores e investidores norte-americanos no Brasil, que tendo em vista a Lei</p><p>1807, desejavam evitar a concorrência entre a procura de dólares para remessas de rendimentos e aquela voltada</p><p>para a obtenção de divisas com o objetivo de pagamento de atrasados. Esse empréstimo foi concedido nas</p><p>seguintes condições: deveria ser integralizado em três anos, com pagamentos mensais a partir de 30 de setembro</p><p>1953. A taxa de juros adotada foi de 3,5% a.a., e o Brasil comprometia-se a liquidar os restantes dos atrasados</p><p>comerciais não, cobertos pelo empréstimo, com os EUA até 31 de Julho do ano corrente.</p><p>O principal objetivo da Lei 1807 (aumentar o desempenho das exportações) não foi alcançado, pelo</p><p>contrário, as exportações tiveram seu valor reduzido em 11% no primeiro semestre de 1953. Isto ocorreu porque</p><p>as exportações de gravosos não responderam bem à política de desvalorização com que foram beneficiadas e os</p><p>exportadores passaram a reter os embarques com o objetivo de pressionar o governo. Esta evolução pouco</p><p>favorável das exportações fez que os atrasados comerciais aumentassem, levando o Eximbank a suspender o</p><p>desembolso da segunda parcela do empréstimo conseguido em abril. Para agravar a situação interna do país os</p><p>meios de pagamento elevaram-se de Cr$7 bilhões contra menos de Cr$1 bilhão no mesmo período de 1952, isso</p><p>ocorreu devido ao aumento dos gastos do governo com a seca no Nordeste bem como o financiamento aos</p><p>produtos dessa região e ao socorro a bancos de estado. Tais acontecimentos levaram a uma impressão de perda do</p><p>controle das autoridades econômicas.</p><p>Paralelamente a essa situação o governo enfrentava dificuldades no plano social, pois em 23 de março de</p><p>1953 eclodiu a greve dos trabalhadores em São Paulo o que sinalizava um enfraquecimento das bases de</p><p>sustentação desse governo. Com o objetivo de fortalecer a coesão do governo, Vargas fez uma reforma ministerial</p><p>na qual o ministro da Fazenda Horácio Lafer foi substituído por Osvaldo Aranha e quem passou a ocupar a pasta</p><p>do Ministérios do Trabalho foi João Goulart</p><p>14</p><p>Ao assumir o ministério, Aranha tomou como primeiras medidas a homogeneização do benefício dado às</p><p>exportações; introduziu o sistema de pauta mínima e cobrou a liberação da 2ª parcela do empréstimo junto</p><p>Eximbank. A primeira medida foi estabelecida reduzindo as cinco taxas de câmbio existentes em apenas três, uma</p><p>taxa oficial, uma de mercado livre e uma terceira, flexível, resultante da mistura (em 50%) das duas primeiras. A</p><p>segunda foi através da permissão para que exportadores de determinados produtos (café, cacau, etc.) negociassem</p><p>no mercado livre as divisas excedentes a cota mínima fixada para cada um deles. A terceira, foi apresentar junto</p><p>aos financiadores como condição para renegociação a liberação da 2ª parcela do acordo de empréstimo. Tais</p><p>medidas alcançaram seus objetivos, a exportação de café respondeu positivamente aumentando 56% e 81% em</p><p>agosto e setembro, respectivamente, em relação a julho de 1953 e o empréstimo foi liberado. A política de</p><p>Osvaldo Aranha consistia numa nova tentativa de estabilização, mantendo-se a visão ortodoxa, no entanto,</p><p>privilegiando o ajuste cambial. A primeira reforma implementada por este ministro foi a instrução 70 da Sumoc</p><p>baixada, em 9 de outubro de 1953.</p><p>A instrução 70 da Sumoc restabeleceu o monopólio cambial do Banco do Brasil e substituiu o controle</p><p>quantitativo das importações pelo sistema de leilões. Neste sistema as importações foram divididas em 5</p><p>categorias de acordo com o critério de essencialidade, a três primeiras categorias absorviam aproximadamente</p><p>80% das importações. As taxas sobre a importação passaram a ser três, uma taxa oficial sem sobretaxa (válida</p><p>para importações especiais como trigo e papel imprensa), uma taxa oficial com sobretaxa fixa (para importações</p><p>dos governos, autarquias e sociedade de economia mista) e, por último, uma taxa oficial acrescida de sobretaxa</p><p>variável (segundo lances feitos em bolsa) para as demais importações. Com relação às exportações, as taxas</p><p>mistas foram substituídas por bonificações de Cr$5/US$ para o café e Cr$10/US$ para as demais exportações.</p><p>Os primeiros resultados da instrução 70 foram positivos, houve superávit entre as exportações (FOB) e</p><p>importações (CIF), e o governo aumentou significativamente suas receitas com a cobrança de ágios sobre as</p><p>importações.</p><p>Apesar da elevada receita a União apresentou déficit público, em 1953, devido aos gastos do governo na</p><p>seca do Nordeste, ao aumento das despesas nas obras públicas, a um abono elevado concedido ao funcionalismo</p><p>civil da União, ao pagamento de atrasados comerciais feito pelo Banco do Brasil aos credores com recursos</p><p>próprios e ao empréstimo concedido pelo Banco do Brasil ao tesouro paulista. A política creditícia, neste ano,</p><p>foi</p><p>afetada pelo déficit público, a sua tendência foi invertida em relação aos dois anos anteriores e a sua composição</p><p>foi modificada, os empréstimos do Banco do Brasil foram mais direcionados ao Tesouro Nacional e menos às</p><p>atividades econômicas. A política monetária também foi expansionista.</p><p>A inflação neste ano aumentou se comparada com a do ano de 1952, isso seria explicado pelas</p><p>desvalorizações cambiais resultantes da instrução 70 que pressionaram os custos das empresas conduzindo-as a</p><p>reagir através do aumento de preços. O crescimento do PIB foi bem inferior ao dos anos anteriores, apesar do</p><p>crescimento da indústria em 9,3%. O baixo crescimento do PIB foi devido ao baixo rendimento apresentado na</p><p>agricultura (seca que aconteceu no país) e à estagnação do setor serviços (esta devido a diminuição das</p><p>importações e redução das atividades comerciais). Os investimentos privados foram reduzidos neste ano, devido</p><p>principalmente às restrições feitas às importações, os investimentos do governo não cresceram em termos reais</p><p>mantendo-se constante como proporção do PIB.</p><p>As maiores dificuldades enfrentadas por Aranha na implementação do seu plano de estabilização em</p><p>1954 foram o aumento do salário mínimo de 100% e a crise enfrentada pelo café. Estes dois fatores</p><p>comprometeram profundamente o plano em meados de 1954. O aumento do salário mínimo teve como objetivo</p><p>melhorar a imagem do governo junto aos trabalhadores uma vez que Vargas estava interessado nas eleições de</p><p>outubro de 1954. A crise do café deveu-se primeiro, a uma geada que afetou uma das mais importantes áreas de</p><p>produção brasileira levando à redução das exportações, e segundo devido ao boicote americano ao consumo de</p><p>café que fez com que reduzissem sua compras ao mínimo.</p><p>O governo com objetivo de aumentar a receita cambial expediu, em junho de 1954, um decreto</p><p>determinando preço mínimo elevado para o café. Tal política fez com que o governo americano, em protesto,</p><p>deslocasse suas compras para outros países produtores de café. No entanto, não se pode imputar a este decreto a</p><p>redução das exportações, pois estas já vinham caindo antes de sua implementação e, além disso, devido a pressão</p><p>dos cafeicultores e exportadores de café essa medida durou apenas 45 dias.</p><p>Osvaldo Aranha baixou a instrução 99 da Sumoc em 14 de agosto de 1954, esta resolução não modificou</p><p>a cotação mínima em cruzeiros estabelecida para a exportação de café, mas alterou o sistema de bonificações</p><p>estabelecido pela instrução 70. Os exportadores passariam a receber Cr$5/US$ ou Cr$10/US$ sobre 80% das</p><p>cambiais negociadas independente do produto, sobre os 20% restantes seria abonada a diferença entre a taxa</p><p>oficial e a média das taxas de compra no mercado livre, para cada moeda, no dia útil imediatamente anterior ao do</p><p>fechamento de câmbio.</p><p>A política creditícia adotada por Aranha nesse período foi expansionista, não por uma mudança em sua</p><p>visão ortodoxa, mas pela necessidade de atender às demandas imediatas dos estados bem como às pressões das</p><p>indústrias para compensar as perdas devido ao aumento do salário e à instrução 70 da Sumoc (no ponto que se</p><p>refere a defasagem entre o momento da licitação e a obtenção da licença para importar).</p><p>O descontentamento com Vargas estava presente em todas as classes, desde trabalhadores até capitalista,</p><p>ele não conseguiu contentar o amplo espectro da sociedade sem nenhuma mudança estrutural e sem o apoio da</p><p>15</p><p>sociedade civil organizada. O governo Vargas estava isolado politicamente e ficou vulnerável ao golpe que o</p><p>depôs em 1954.</p><p>ÍNDICE CRONOLÓGICO</p><p>Julho de 1951-início da atividades da Comissão Mista Brasil Estados Unidos.</p><p>1º de agosto de 1951-o Conselho da Superintendência da Moeda e do Crédito (Sumoc) define instruções</p><p>para que a CESIM reintroduza um regime mais severo de licenciamento das importações. Apesar dessas</p><p>instruções o licenciamento até dezembro do mesmo ano foram elevadas, sendo necessárias novas medidas de</p><p>controle no início de 1952.</p><p>Janeiro de 1953-promulgação da Lei 1807 (Lei de Mercado Livre) que concedia ampla liberdade de</p><p>movimentos pelo câmbio livre ao capital estrangeiro no Brasil e tinha por objetivo elevar as exportações. Estas ao</p><p>contrário ao invés de aumentar diminuíram e tal fato levou à modificação desta lei posteriormente.</p><p>30 de fevereiro(?) abril de 1953-assinatura do acordo de empréstimo de US$300 milhões de dólares</p><p>junto ao Eximbank, que seria liberada em parcelas. A primeira parcela foi entregue, mas devido ao não pagamento</p><p>dos atrasados comerciais pelo Brasil junto aos EUA a segunda parcela foi adiada até a entrada do novo ministro da</p><p>fazenda Osvaldo Aranha.</p><p>23 de março de 1953-greve dos trabalhadores paulistas que chegou a paralisar 300 mil operários.</p><p>Abril de 1953-liberação da primeira parcela do empréstimo concedido pelo Eximbank.</p><p>15 de Junho de 1953-Horácio Lafer deixa o ministério e é substituído por Osvaldo Aranha, esta</p><p>mudança está inserida na reforma ministerial feita por Vargas.</p><p>9 de outubro de 1953-instituída a instrução 70 da Sumoc que introduziu importantes mudanças no</p><p>sistema cambial. Obteve êxito nos primeiros resultados, conseguindo elevar as exportações e manter as</p><p>importações no nível dos trimestres anteriores além de elevar a receita do governo.</p><p>1º de maio de 1954-aumento do salário mínimo em 100%, quando na realidade para recompor os salários</p><p>era necessário apenas um aumento de 53%. Vargas tomou esta decisão imbuído pelos interesses eleitorais.</p><p>Junho de 1954-decreto fixando um elevado preço mínimo para o café com o objetivo de maximizar a</p><p>receita cambial, devido a crise enfrentada por este produto no mercado interno e externo. Vigorou por apenas 45</p><p>dias.</p><p>14 de agosto de 1954-baixada a instrução 99 da Sumoc que alterou o sistema de bonificação instituído</p><p>pela instrução 70 para as exportações. Esta veio como resposta às dificuldades enfrentadas pelo café no mercado</p><p>externo.</p><p>Políticas:</p><p>Política Monetária: restritiva até início de 1953 passando a partir de então a ser expansionista por</p><p>problemas conjunturais da economia.</p><p>Política Fiscal: restritiva até 1952 tornando-se expansionista a partir de 1953.</p><p>Política Creditícia: expansionista até saída de Jafet , foi restritiva até 1954 voltando a ser expansionista</p><p>em 1954.</p><p>16</p><p>CAPÍTULO 6 - O INTERREGNO CAFÉ FILHO: 1954-55</p><p>Demosthenes Madureira de Pinho Neto</p><p>(Bruno Carazza)</p><p>O período compreendido entre o suicídio de Vargas e a posse de Juscelino Kubitschek costuma ser</p><p>colocado em segundo plano na historiografia brasileira, dadas suas características de transição. Durante os poucos</p><p>meses de duração, podemos delinear duas fases bastante distintas de política econômica: as administrações Gudin</p><p>e Whitaker.</p><p>Tendo em vista o período de instabilidade que se seguiu ao Governo Vargas, Café Filho buscou sustentar</p><p>seu governo em bases bastante heterogêneas, embora o caráter ortodoxo das figuras ligadas à UDN e ao</p><p>movimento antigetulista prevalecesse. Para a pasta da Fazenda foi indicado o nome de Eugênio Gudin, economista</p><p>respeitável e de grande prestígio junto a comunidade financeira internacional – uma das virtudes que mais pesou</p><p>na sua escolha. Gudin poderia ser considerado um severo crítico das propostas desenvolvimentistas e adepto a</p><p>políticas ortodoxas, atribuindo o processo inflacionário ao déficit público e à expansão creditícia.</p><p>Gudin assumiu ao Ministério da Fazenda num momento de grave crise cambial, decorrente do colapso</p><p>dos preços e das quantidades exportadas de café. Mesmo com uma desvalorização de 27% da moeda nacional no</p><p>final do governo Vargas (ago/54), houve um grave impacto sobre as receitas de exportação, uma vez que a</p><p>elasticidade da demanda internacional do café era baixa no curto prazo. Outro problema que complicava a</p><p>situação externa do Brasil era o acúmulo dos atrasados comerciais</p><p>e a necessidade de renegociar as dívidas</p><p>brasileiras junto aos credores internacionais. Acontece que o governo americano, sob gestão de Eisenhower,</p><p>mostrava-se intransigente com os países em desenvolvimento, tendo inclusive manifestado que o problema do</p><p>financiamento da dívida da América Latina deveria ser resolvido por fluxos de capitais privados e não por auxílio</p><p>econômico do governo americano.</p><p>Destarte o fracasso de sua negociação com o governo americano em Washington, Gudin conseguiu</p><p>levantar US$ 200 milhões junto a um consórcio de 19 bancos privados americanos, o que aliviava a situação</p><p>cambial até que medidas mais profundas surtissem efeito junto ao Balanço de Pagamentos. Neste sentido, Gudin</p><p>mostra-se disposto a remover os obstáculos ao livre fluxo de capital estrangeiro para o país, expresso na Instrução</p><p>113 da Sumoc – liberalização da entrada de capital, voltada para o saneamento econômico e o financiamento</p><p>doméstico.</p><p>O programa de estabilização de Gudin sustenta-se em dois pilares: austeridade fiscal e contração</p><p>monetário-creditícia. Sua política monetária valeu-se de diversas instruções da Sumoc, que envolveram a elevação</p><p>dos juros e das taxas de redesconto (Inst. 105 e 106). A Inst. 108 determinou um aumento significativo dos</p><p>compulsórios, agora recolhidos junto à Sumoc, buscando uma eficácia maior de sua função redutora, uma vez que</p><p>os compulsórios eram recolhidos anteriormente ao Banco do Brasil (que também era um banco comercial). Essa</p><p>instrução estabeleceu ainda um limite para os empréstimos das carteiras do Banco do Brasil, inclusive junto a</p><p>entidades públicas e ao Tesouro. Podemos definir suas políticas monetária e creditícia como fortemente</p><p>contracionistas.</p><p>Ao contrário do lado monetário, Gudin não obteve muito sucesso com a política fiscal. Gudin objetivava</p><p>reduzir as despesas governamentais e ampliar a receita, mas não foi muito feliz em suas metas, uma vez que sua</p><p>modificação mostrou-se inviável devido às dificuldades de aprovação de uma elevação da carga tributária no</p><p>Congresso e o comprometimento do Orçamento da União. Seu único êxito consistiu na redução de verbas para</p><p>alguns ministérios, resultando numa queda do investimento público.</p><p>De um modo geral, as medidas adotadas por Gudin levaram a uma crise de liquidez, queda na formação</p><p>bruta de capital fixo e nos investimentos em bens de capital (tendo em vista o esfriamento da atividade nesse</p><p>período). As razões para a substituição de Gudin residem no descontentamento do setor cafeeiro com as medidas</p><p>adotadas, sintetizadas naquilo que a oposição chamou de “confisco cambial”. Como o setor cafeeiro representava</p><p>uma importante base política, sua pressão resultou no pedido de demissão de Eugênio Gudin em 4 de abril de</p><p>1955.</p><p>Para aplacar a fúria da cafeicultura paulista, Café Filho escolheu José Maria Whitaker para o ministério</p><p>da Fazenda, ex-ministro de Vargas durante o governo provisório. Na gestão Whitaker podemos verificar uma</p><p>inflexão na política econômica, dado que “a inflação parecia preocupá-lo apenas enquanto exercício de retórica”.</p><p>Em maio de 1955, ainda em conseqüência das medidas contracionistas da política monetária de Gudin,</p><p>aflora uma crise bancária decorrente da falta de liquidez do setor financeiro. Whitaker baixa então a Instrução 116</p><p>da Sumoc, que nada mais faz do que refogar as instruções 106 e 108 tomadas pelo seu antecessor. Whitaker</p><p>definia-se como seguidor da real bills doctrine, acreditando que as emissões destinadas aos setores produtivos não</p><p>eram inflacionárias. Como resultado dessa visão, ampliaram-se as concessão de crédito ao setor privado e ao</p><p>investimento público.</p><p>Whitaker decretou ainda o fim “temporário” da intervenção brasileira no mercado do café, baseado na</p><p>tese de que a queda decorrente dos preços do café beneficiaria o Brasil ao eliminar do mercado os produtores</p><p>marginais e menos eficientes.</p><p>17</p><p>Durante a gestão Whitaker o país recebeu a visita de uma missão do FMI, cujo resultado foi o chamado</p><p>“Relatório Bernstein”, que apresentava como alternativas para a reforma cambial no Brasil i) a desvalorização e</p><p>unificação do câmbio, mantendo os leilões cambiais para importação e ii) o abandono do regime de taxas fixas,</p><p>com a instituição de um mercado livre.</p><p>A reforma realmente elaborada estipulava um regime cambial unificado por meio de taxas flutuantes,</p><p>mantendo um regime diferenciado para o café. No entanto, esse projeto foi sepultado pelo Congresso, tendo em</p><p>vista as eleições presidenciais.</p><p>ÍNDICE CRONOLÓGICO</p><p>setembro de 1954: Gudin embarca para Washington (reunião anual do FMI). Consegue US$ 80 milhões</p><p>de empréstimo da instituição e acerta outro de US$ 200 milhões com um consórcio de bancos privados.</p><p>Outubro de 1954: Instituídas as seguintes Instruções da Sumoc: 105 (fixava os juros pagos aos depósitos</p><p>a vista e a prazo em 3% e 7% ao ano), 106 (elevava a taxa de redesconto das promissórias de 6 para 10% e das</p><p>duplicatas de 6 para 8%) e 108 (aumentos dos compulsórios sobre depósitos a vista de 4 para 14% e a prazo de 3</p><p>para 7%). Tornava-se explícita a orientação contracionista do governo.</p><p>Novembro de 1954: Instrução 109 da Sumoc: fixou-se a bonificação para a venda de café no mercado</p><p>internacional (a política vigente anteriormente estabelecia que essas bonificações flutuariam conforme o mercado)</p><p>Janeiro de 1955: Instrução 112 da Sumoc: Governo eleva as bonificações para os demais produtos de</p><p>exportação (incluindo algodão e cacau)</p><p>27 de janeiro de 1955: É publicada a Instrução 113 da Sumoc, que concede significativos instrumentos</p><p>para a entrada de capitais externos no país.</p><p>Fevereiro de 1955: Dada a insatisfação da cafeicultura diante daquilo que chamou-se de “Confisco</p><p>cambial”, o governo volta atrás e equipara a bonificação do café com a das demais mercadorias (Instrução 114 da</p><p>Sumoc).</p><p>4 de abril de 1955: Gudin deixa o governo em virtude da pressão da cafeicultura paulista. Assume o</p><p>ministério em seu lugar o banqueiro paulista José Maria Whitaker.</p><p>Abril de 1955: Whitaker suspende temporariamente a compra de café, insatisfeito com a prática</p><p>intervencionista do governo brasileiro na sustentação dos preços mínimos do café, que acabava privilegiando os</p><p>concorrentes do produto nacional.</p><p>Maio de 1955: Através da Instrução 116 da Sumoc Whitaker revoga as Instruções 106 e 108 assinadas</p><p>por Gudin. Os compulsórios e redescontos voltaram aos níveis anteriores.</p><p>Agosto de 1955: Forte geada força o governo a adotar uma desvalorização gradual do câmbio-café.</p><p>Setembro de 1955: Reforma cambial. Unificação do câmbio através de taxas flutuantes, com um regime</p><p>diferenciado para o café (a fim de eliminar os efeitos do “confisco cambial”).</p><p>Contexto internacional – O período é marcado pela indisposição do governo Eisenhower em financiar o</p><p>endividamento dos países latino-americanos. Essa decisão apenas reforça uma tendência já verificada, em</p><p>diferentes intensidades, durante todo o pós-guerra, como atesta o fim prematuro da Comissão Mista Brasil -</p><p>Estados Unidos (CMBEU) já no governo Vargas. O país viu-se então forçado a negociar, na gestão Gudin,</p><p>empréstimos junto ao setor financeiro privado internacional, criando ainda mecanismos para atrair a entrada de</p><p>capital (Instrução 113 da Sumoc). No ministério de Whitaker o governo estabeleceu contatos com o FMI a fim de</p><p>implementar uma reforma cambial.</p><p>Política Monetária – Fortemente contracionista durante o ministério Gudin. O ministro implementou</p><p>medidas que aumentavam os juros, compulsórios e redescontos (Instruções 105,106 e 108 da Sumoc). Esse</p><p>período é considerado como um dos mais efetivos na condução de uma política de cunho restritivo-ortodoxo já</p><p>implementadas no país, resultando numa significativa crise de liquidez. Já na gestão Whitaker essa política de</p><p>estabilização é seriamente afetada pelas medidas que revogaram as instruções que implementavam uma política</p>

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