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Resumo da 1º e 2º aula de Antropologia e Cultura

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Resumo da 1º e 2º aula de Antropologia e Cultura 
Professora Patrícia Lima 
 
Cultura a partir do senso comum: no âmbito do senso comum a cultura adquire 
diversos significados, como: amplo conhecimento de determinados assuntos, como 
arte, ciências, músicas e conhecimentos gerais. 
Cultura à partir da concepção sociológica: cultura é tudo aquilo que resulta da 
criação humana. São ideais, artefatos, costumes, leis, crenças morais, conhecimento 
adquirido a partir do convívio social. Só o homem possui cultura. Seja na sociedade 
simples ou complexa todos possuem sua cultura. Não existe cultura superior ou 
inferior, melhor ou pior, existem sim culturas diferentes, cada uma com sua 
importância para seu grupo de convivência. 
As funções da cultura são satisfazer as necessidades humanas, limitar 
normativamente essas necessidades, implicando na violação e imposição da vida do 
homem. 
 
Clyde Kluckhohn define cultura da seguinte forma: 
1 – Modo de vida global de um povo; 
2 – Legado social que o individuo adquire do seu grupo; 
3 – Uma forma de pensar, sentir e acreditar; 
4 – Uma abstração do comportamento; 
5 – Uma teoria elaborada pelo antropólogo sobre a forma pela qual um grupo de 
pessoas se comporte realmente; 
6 – Um celeiro de aprendizagem em comum; 
7 – Um conjunto de orientações padronizadas para problemas recorrentes; 
8 – Comportamento apreendido; 
9 – Um mecanismo para a regulamentação normativa do comportamento; 
10 - Um conjunto de técnicas para se ajustar tanto ao ambiente externo como na 
relação a outros homens. 
 
Para Clifford Geertz o conceito de cultura é semiótico. Ele cita a expressão de Weber: 
“ Que o homem é um animal amarrado as teias de significados que ele mesmo teceu.” 
 
 
Antropologia: é a ciência que tem como objeto de estudo o homem e a humanidade. 
Antropologia Social: tem como objeto de estudo as relações e os sistemas sociais 
que são próprios das diversas sociedades humanas. 
Etnografia: é um método tradicional utilizado pelos antropólogos com o intuito de 
descrever os costumes e tradições de um determinado grupo humano. 
Etnologia: é o estudo ou ciência que estuda os fatos e documentos levantados pela 
etnografia no âmbito da antropologia cultural e social. 
Descrição Densa: é um etnografia ou vice e versa, é uma multiplicidade de estruturas 
conceituais complexas. Para Geertz a descrição é parte integrante do objeto 
antropológico, pois distingue situações. A descrição densa possui características 
peculiares , pois além de ser microscópica, ela interpreta o fluxo do discurso social 
para salvar e transformas tudo o que fora duto em registros pesquisáveis, de modo 
que ele não se extingua. 
 
 
 
 
 
 
 
 
AS DIFERENTES ESCOLAS ANTROPOLÓGICAS 
 
Ao longo da sua existência, a Antropologia tem, como toda ciência, mudado seus 
paradigmas e construído formas diversas de investigação. A essas formas 
diferenciadas de investigação e análise dos fenômenos culturais dá-se o nome de 
“escola antropológica”. Constituem os principais paradigmas e escolas de 
pensamento antropológico: 
 
Evolucionismo social ( século XIX) - Seus principais paradigmas foram: a 
sistematização do conhecimento acumulado sobre os “povos primitivos” e o 
predomínio do trabalho de gabinete, a análise era feita a partir dos relatos de viajantes 
e colonizadores que chegavam às mãos dos antropólogos. Entre os temas e conceitos 
trabalhados por essa escola, destacam-se: a unidade psíquica do homem; a evolução 
das sociedades das mais “primitivas” para as mais “civilizadas”; a substituição conceito 
de raça pelo de cultura. Seus principais representantes foram: Maine (“Ancient Law” – 
1861); Herbert Spencer (“Princípios de Biologia” - 1864); E. Tylor (“A Cultura Primitiva” 
- 1871); L. Morgan (“A Sociedade Antiga” - 1877); James Frazer (“O Ramo de Ouro” - 
1890). 
 
Escola Sociológica Francesa (século XIX) – Seus principais paradigmas foram: a 
definição dos fenômenos sociais como objetos de investigação sócio-antropológica e a 
definição das regras do método sociológico. Os principais temas e conceitos 
desenvolvidos por essa escola foram: as representações coletivas; as formas 
primitivas de classificação (totemismo) e a teoria do conhecimento. O fato social total; 
a troca e a reciprocidade como fundamento da vida social (dar, receber, retribuir). 
Seus principais representantes foram: Émile Durkheim (Regras do método 
sociológico”- 1895; “Algumas formas primitivas de classificação” - c/ Marcel Mauss - 
1901; “As formas elementares da vida religiosa” – 1912); Marcel Mauss (Esboço de 
uma teoria geral da magia” - c/ Henri Hubert - 1902-1903; “Ensaio sobre a dádiva” - 
1923-1924; “Uma categoria do espírito humano: a noção de pessoa, a noção de eu”- 
1938). 
 
Funcionalismo – (século XX, anos 20) - Seus principais paradigmas foram: a criação 
de um modelo de etnografia clássica; a ênfase no trabalho de campo (observação 
participante); a sistematização do conhecimento acumulado sobre uma cultura. Os 
principais temas e conceitos desenvolvidos por essa escola foram: a cultura como 
totalidade e o interesse pelas instituições e suas funções para a manutenção da 
totalidade cultural. Entre seus representantes e suas obras de referência podemos 
citar: Bronislaw Malinowski (“Argonautas do Pacífico Ocidental” -1922); Radcliffe 
Brown (“Estrutura e função na sociedade primitiva” - 1952-; e “Sistemas Políticos 
Africanos de Parentesco e Casamento”, org. c/ Daryll Forde - 1950.; Evans-Pritchard 
(“Bruxaria, oráculos e magia entre os Azande” - 1937; “Os Nuer” - 1940); Raymond 
Firth (“Nós, os Tikopia” - 1936; “Elementos de organização social - 1951); Max 
Glukman (“Ordem e rebelião na África tribal”- 1963); Victor Turner (“Ruptura e 
continuidade em uma sociedade africana”-1957; “O processo ritual”- 1969); Edmund 
Leach - (“Sistemas políticos da Alta Birmânia” - 1954). 
 
Culturalismo Norte-Americano (século XX, anos 30) – Seus principais paradigmas 
foram: o método comparativo, a busca de leis no desenvolvimento das culturas e a 
relação entre cultura e personalidade. Os principais temas e conceitos desenvolvidos 
por essa escola foram: a ênfase na construção e identificação de padrões culturais ou 
estilos de cultura (ethos). Seus principais representantes foram: Franz Boas (Raça, 
Língua e Cultura - 1940), Margaret Mead (Sexo e temperamento em três sociedades 
primitivas - 1935), Ruth Benedict (Padrões de cultura- 1934; O Crisântemo e a espada- 
1946). 
 
Estruturalismo (século XX, anos 40) – Seus principais paradigmas foram: a busca 
das regras estruturantes das culturas presentes na mente humana; a teoria do 
parentesco; a lógica do mito e as formas primitivas de classificação. Os principais 
temas e conceitos desenvolvidos por essa escola foram: os princípios de organização 
da mente humana; o princípio da reciprocidade. Seu principal representante é Claude 
Lévi-Strauss (As estruturas elementares do parentesco- 1949; Tristes Trópicos- 1955; 
Pensamento selvagem – 1962; Antropologia estrutural – 1958. 
 
Antropologia Interpretativa (século XX, anos 60) – Seus principais paradigmas 
foram: a cultura como hierarquia de significados; a busca da descrição densa. A 
interpretação sob inspiração hermenêutica. Os principais temas e conceitos 
desenvolvidos por essa escola foram: a interpretação antropológica; a leitura da 
leitura que os nativos fazem de sua própria cultura. Seu principal representante é: 
Clifford Geertz (A interpretação das culturas – 1973; Saber local – 1983); 
 
Antropologia Pós-Moderna ou Crítica (século XX, anos 80) – Seus principais 
paradigmas foram: a preocupação com os recursos retóricos presentes no modelo 
textual das etnografias clássicas e contemporâneas; a politização da relação 
observador-observado na pesquisa antropológica; a crítica dos paradigmas teóricos e 
da autoridade etnográfica do antropólogo. Os principais temas e conceitos 
desenvolvidos por essa escola foram: a cultura como processo polissêmico; a 
etnografiacomo representação polifônica da polissemia cultural; a antropologia como 
experimentação da crítica cultural. Seus principais representantes foram: James 
Clifford e Georges Marcus (Writing culture - The poetics and politics of ethnography- 
1986); George Marcus e Michel Fischer (Anthropoly as cultural critique - 1986); Michel 
Taussig (Xamanismo, colonialismo e o homem selvagem- 1987); James Clifford (The 
predicament of culture - 1988). 
 
 
Geertez, Clifford – A Interpretação das Culturas - Uma descrição densa. 
C. Geertz (1926-2006) é o fundador da Antropologia Interpretativa, tem representando 
um divisor de águas do tema. É uma contraposição ao modelo Levi-straussiano da 
antropologia cultural, propondo uma nova teoria Antropológica 
O autor possui a ambição de falar em culturas (no plural) do ser humano. A ação 
humana é uma atividade estruturante, um efeito de superfície. Geertz busca o que 
pode ser inferido/interpretado nos relatos etnográficos. Hoje há uma grande cautela 
em se explorar o inconsciente através das ações reais como manisfestações de ações 
do consciente. 
A interpretação do que acontece, segundo o autor, não pode se distanciar daquilo que 
acontece. Para ele, o trabalho do antropólogo é realizar etnografia. A obra “Grande 
Sertão – Veredas” de Guimarães Rosa pode ser considerada um exemplo ao que 
Geertz se refere no Brasil. 
Um ser humano pode ser um enigma completo para outro ser humano. Nós não 
compreendemos o povo, ainda que dominemos seu idioma. Nós não podemos nos 
situar entre eles. Neste trecho, ele faz uma crítica a B. Malinovski. Para Geertz, falta 
interpretação à descrição etnográfica de Malinovski. 
A Antropologia Interpretativa exige grande rigor e precisão conceitual. 
O antropólogo tenta entender o que acontece, mas também está no meio do 
acontecimento. Por isso, teorias antropológicas também são temporárias, elas também 
estão no meio da travessia. 
A cultura nunca é igual, é sempre uma recriação. O ser humano expressa sua 
experiência vivida. As especificidades são complexas e possuem um caráter único. 
Generalizações devem ser feitas com critérios. Para compreender o que o ser humano 
faz, é necessário entender uma ação dentre várias outras e localizá-la, caracterizá-la. 
No estudo da cultura, a tarefa essencial da construção teórica não é codificar 
regularidades abstratas, mas tornar possíveis descrições minuciosas, não generalizar 
através dos casos, mas generalizar dentro deles. 
Geertz recupera o conceito de Max Weber, que afirma que o homem é um ser 
amarrado em teias de significados que ele mesmo teceu. A cultura é, portanto, uma 
ciência interpretativa, em busca do significado. O comportamento é uma ação 
simbólica. O fluxo do comportamento (ação social) faz com que as formas culturais se 
articulem. O significado emerge do papel que desempenham. A cultura é pública 
porque o significado o é. No estudo da cultura, os significantes não são sintomas ou 
conjunto de sintomas, mas atos simbólicos e o objetivo não é a terapia, mas a análise 
do discurso social. 
O autor esclarece que para o desenvolvimento do estudo, não é necessário se tornar 
um “nativo”, mas conversar com eles. Sob este aspecto, o objetivo da antropologia é o 
alargamento do universo do discurso humano. Compreender a cultura de um povo 
expõe a sua normalidade sem reduzir a sua particularidade. 
Os textos antropológicos são interpretações (de qualidade discutível, uma vez que 
apenas um “nativo” pode interpretar sua cultura). Antropologia é, portanto, ficção, algo 
construído, modelado. Não falsa, mas não-factual ou apenas experimentos de 
pensamentos. 
Embora a cultura possa existir no posto comercial, no forte da colina, no pastoreio de 
carneiros, a antropologia existe nos livros, nos artigos, nas conferências, na exposição 
e no museu como ocorre nos filmes. 
É necessário haver um mínimo de coerência para que sejam caracterizados os 
sistemas culturais. 
A descrição etnográfica para Geertz é, portanto, interpretativa e microscópica (os 
antropólogos não estudam as aldeias, eles estudam nas aldeias). 
Há uma série de características de interpretação cultural que tornam ainda mais difícil 
o seu desenvolvimento teórico. A primeira é a necessidade de a teoria conservar-se 
mais próxima do terreno do que parece ser o caso em ciências mais capazes de se 
abandonarem a uma abstração imaginativa. Somente pequenos vôos de raciocínio 
tendem a ser efetivos em antropologia; vôos mais longos tendem a se perder em 
sonhos ilógicos, em embrutecimentos acadêmicos com simetria formal. 
As idéias não aparecem inteiramente novas a cada estudo, são adotadas de outros 
estudos relacionados e refinadas durante o processo, aplicadas a novos problemas 
interpretativos. Se deixarem de ser úteis com referência a tais problemas, deixam 
também de ser usadas e são mais ou menos abandonadas. Se continuam a ser úteis, 
dando à luz novas compreensões, são posteriormente elaboradas e continuam a ser 
utilizadas. 
Olhar as dimensões simbólicas da ação social não é afastar-se dos dilemas 
existenciais da vida em favor de algum domínio empírico de formas não-
emocionalizadas, é mergulhar no meio delas. A vocação essencial da Antropologia 
interpretativa não é responder às nossas questões mais profundas, mas colocar à 
nossa disposição as respostas que outros deram e assim incluí-las no registro de 
consultas sobre o que o homem falou.

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