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cams-10-dicionario_de_sinonimos_da_lingua_portuguesa-para_internet-páginas-36

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<p>Dicionário de S inônimos da Língua Portuguesa � 273</p><p>em si um caráter familiar que torna o seu</p><p>emprego impróprio do estilo elevado. Ela</p><p>não é senão um rodeio de palavras e de ex-</p><p>pressões desenvolvidas que se emprega em</p><p>vez da expressão simples e natural, quer</p><p>por ignorância ou olvido momentâneo do</p><p>termo adequado, quer para facilitar a com-</p><p>preensão do que se diz. Quem, no decurso</p><p>da conversação, não se recorda imediata-</p><p>mente da expressão mais breve e adequada,</p><p>do termo próprio para exprimir a sua ideia,</p><p>faz uso de um circunlóquio, ou – o que é o</p><p>mesmo – de uma circunlocução. Também para</p><p>não ferir certas suscetibilidades, para não</p><p>ofender com certos termos menos decen-</p><p>tes, ou mesmo para não nos exprimirmos</p><p>em termos triviais, fazemos frequente uso</p><p>de circunlocuções. A perífrase (do grego peri</p><p>“em torno”, e phrasein “falar”)38 é essencial-</p><p>mente oratória e poética, e por isso mesmo</p><p>não convém ao estilo familiar. É uma figura</p><p>de retórica com que se substitui a expres-</p><p>são simples de uma ideia por uma descrição</p><p>ou expressão mais desenvolvida, porém só</p><p>com o fim de dar ao discurso mais energia,</p><p>mais nobreza, ou mais amenidade. Resulta</p><p>do diferente caráter dos dois vocábulos uma</p><p>diferença puramente convencional; porque,</p><p>como vimos, a etimologia de ambos é a</p><p>mesma (loqui sendo o equivalente latino, do</p><p>grego phrasein, e circum o equivalente de peri)</p><p>– resulta que a circunlocução pertence à</p><p>linguagem comum, e tem mais relação com</p><p>o fundo, ou com as ideias, que com a forma</p><p>ou com as palavras; e que a perífrase, pró-</p><p>pria da linguagem seleta, é termo de retóri-</p><p>ca, e tem por isso mesmo mais relação com</p><p>a forma ou expressão do que com o fundo</p><p>ou com as ideias”. – De circunlocução e</p><p>circunlóquio diz o referido autor: “Muito</p><p>frequentemente ouvimos dizer: – Não ande</p><p>com circunlóquios (ou – Deixe-se de circunló-</p><p>quios...); mas nunca se ouve: – Não ande com</p><p>circunlocuções. Depende isto de circunlocução</p><p>designar particularmente o modo de dizer,</p><p>e circunlóquio o próprio dito. Assim, dir-</p><p>se-á muito bem: – “À força de circunlocuções</p><p>enredou-me o sr. com os seus circunlóquios”.</p><p>504</p><p>CIÚME, zelo, inveja; ciumento, cioso, ze-</p><p>loso, invejoso. – De ciúme e inveja escreve</p><p>S. Luiz com muita eloquência: “Inveja é um</p><p>sentimento penoso, causado pelo bem, que</p><p>outrem possui. – Ciúme é um sentimento</p><p>penoso causado pela pretensão que outrem</p><p>tem, ou receamos que tenha, de possuir um</p><p>bem, que julgamos nosso ou que aspiramos</p><p>venha a ser nosso exclusivamente. A inveja</p><p>é mais geral que o ciúme. Aflige-se do bem</p><p>alheio, ainda que não possa pretendê-lo, nem</p><p>aspirar a ele, nem daí lhe venha mal algum.</p><p>O ciúme é mais limitado na sua extensão, e</p><p>somente domina aqueles que pretendem, ou</p><p>podem pretender, a posse do mesmo objeto.</p><p>A inveja é um sentimento baixo, abjecto; é o</p><p>tormento das almas vis: tudo o que pode ser-</p><p>vir de alguma utilidade ou vantagem aos ou-</p><p>tros a irrita, como se o bem alheio fosse mal</p><p>seu. O ciúme tem uma origem mais nobre:</p><p>nasce do orgulho, isto é, da ideia vantajosa,</p><p>que cada um tem da superioridade do seu</p><p>merecimento; e olha como inimigo o com-</p><p>petidor, que lhe disputa essa superioridade.</p><p>A inveja rói e consome em segredo o cora-</p><p>ção que a nutre: envergonha-se (às vezes) da</p><p>sua própria baixeza, e não ousa aparecer em</p><p>público a cara descoberta. O ciúme, como</p><p>é menos vil, não teme manifestar-se de um</p><p>modo sensível e público: rompe muitas vezes</p><p>com ímpeto, e os seus efeitos são mais es-</p><p>trondosos, e talvez mais funestos”. – Zelo é</p><p>“o fino e minucioso cuidado, o vivo interes-</p><p>se, a desvelada afeição que se tem pelo objeto</p><p>que nos é caro, do qual não nos esquecemos</p><p>38 � Circunlocução é formada do latim circum, “em</p><p>roda”, e loqui, “falar”.</p><p>274 � Rocha Pombo</p><p>um instante”. No plural é que esta palavra se</p><p>confunde com ciúme, e até diz mais do que</p><p>simples ciúme, pois que designa particular-</p><p>mente ciúmes amorosos. O ciúme supõe o</p><p>amor; os zelos só sugerem a ideia de desejo</p><p>sensual. O bruto tem zelos; não – ciúme pro-</p><p>priamente. O ciúme pode conciliar-se com a</p><p>mais alta nobreza de sentimentos, e coexistir</p><p>com uma legítima afeição. Os zelos revelam</p><p>sempre que é o ardor voluptuoso o seu único</p><p>móvel. Em regra, só entre amantes há zelos; o</p><p>zelo é perfeitamente legítimo entre casados.</p><p>O zelo não exclui a ideia da confiança que</p><p>se tem na pessoa pela qual se zela; enquanto</p><p>que só se tem zelos quando se vê em perigo</p><p>a posse, ou em dúvida a fidelidade da pessoa</p><p>amada. – Entre zeloso e cioso não há mais</p><p>que a diferença notada entre zelo e ciúme.</p><p>Um homem digno é zeloso da sua família, ou</p><p>pelo nome dos seus; e é cioso da sua honra,</p><p>dos seus créditos. – Zeloso, porque sugere</p><p>ideia de cuidado, atenção, interesse, como</p><p>vimos, difere em muitos casos de cioso mais</p><p>que simplesmente pela maior intensidade</p><p>com que este último designa a qualidade de</p><p>zelar ou de ter um nobre ciúme. Dizemos: –</p><p>F. é zeloso do seu cargo, ou da sua tarefa (e não</p><p>– cioso); – O rei, pouco zeloso do seu ofício</p><p>(não – pouco cioso), mas muito cioso do seu</p><p>poder (não – zeloso). – Entre cioso e ciumen-</p><p>to há, antes de tudo, uma distinção de or-</p><p>dem gramatical: ciumento é um vocábulo de</p><p>predicação implícita ou própria; cioso parece</p><p>que não diz coisa alguma lógica senão quan-</p><p>do completado. Ninguém dirá: “F. é um ho-</p><p>mem cioso”. E se houver quem diga isso, é cla-</p><p>ro que só ficaremos sabendo, quando muito,</p><p>metade do que F. é. Mas ficará sabendo tudo</p><p>de F. a pessoa a quem dissermos: “F. é um</p><p>homem ciumento”. Conclui-se, pois, que cio-</p><p>so quer dizer – “que tem zelo ou ciúme de...”;</p><p>e que ciumento significa – “que é cheio de</p><p>ciúme, capaz de enciumar-se facilmente; que</p><p>tem um como vício de dar-se a ciúmes”.</p><p>505</p><p>CÍVEL, civil. – Em jurisprudência, cível</p><p>dizemos em oposição a crime (criminal); e</p><p>civil ao que é contrário a militar ou eclesiás-</p><p>tico. Em causas cíveis debatem-se interesses,</p><p>não se investigam crimes. Nos tribunais civis</p><p>não são julgados os que têm foro militar ou</p><p>eclesiástico (Bruns.).</p><p>506</p><p>CIVIL, cívico. – Muito judiciosamente,</p><p>destes dois vocábulos, diz Jacob Bensa-</p><p>bat: “– Civil diz respeito ao cidadão con-</p><p>siderado como membro da família ou da</p><p>sociedade humana. – Cívico diz respeito</p><p>ao cidadão considerado sob o ponto de</p><p>vista da organização política ou adminis-</p><p>trativa do Estado. Os direitos civis são os</p><p>que se exercem como homem, tais como</p><p>os direitos de adquirir a propriedade, de</p><p>aliená-la, cedê-la, testar, herdar, casar, etc.</p><p>Os direitos cívicos são os que se exercem</p><p>como cidadão ativo, tais como os direitos</p><p>de servir o Estado, de exercer empregos</p><p>públicos, de ser jurado, etc. Certas penas</p><p>trazem consigo a privação dos direitos cívi-</p><p>cos sem excluir, no entanto, os direitos civis.</p><p>Chamam-se virtudes civis as virtudes do</p><p>homem em relação com os outros homens;</p><p>por exemplo: as virtudes de um bom pai</p><p>de família, a probidade nos negócios, etc.</p><p>Entende-se por virtudes cívicas, as virtudes</p><p>do cidadão nas suas relações com a pátria,</p><p>com o governo do Estado, com a lei, órgão</p><p>do poder político. A coragem do militar é</p><p>uma virtude cívica; o magistrado que expõe</p><p>a sua vida pelo respeito da lei dá prova de</p><p>coragem cívica. As leis civis são as que re-</p><p>gulam as relações dos cidadãos entre si, e</p><p>não com o Estado”. Leis políticas são as</p><p>que regulam as relações do cidadão com o</p><p>Estado; e mesmo entre os cidadãos o exer-</p><p>cício dos direitos inerentes à sua qualidade</p><p>de cidadãos ativos.</p><p>Dicionário de S inônimos da Língua Portuguesa � 275</p><p>507</p><p>CIVILIZAÇÃO, cultura, polícia; instrução,</p><p>ilustração. – “Onde há leis, governo corre-</p><p>to, administração de justiça, e quanto pode</p><p>constituir a ordem civil de um povo, há ci-</p><p>vilização. Ali onde se ama o saber; onde se</p><p>desenvolve cada vez mais a educação literá-</p><p>ria e científica; onde há propensão para as</p><p>letras e artes, e se protege e se premia aos</p><p>que sobressaem no cultivo da inteligência,</p><p>há cultura. A civilização depende mormen-</p><p>te do regímen político e da autoridade; a</p><p>cultura reside na</p><p>índole do povo, e nos seus</p><p>costumes. Há nações que têm muita civiliza-</p><p>ção e pouca ou nenhuma cultura. O que não</p><p>pode haver é cultura sem civilização”. (Bruns.)</p><p>– Polícia é propriamente o modo como, nos</p><p>costumes, na regularidade da ordem, nas re-</p><p>lações da vida ordinária, se manifesta uma</p><p>civilização. – Os dois vocábulos últimos</p><p>aqui se incluem porque figuram no grupo</p><p>em que Roq. trata de civilização. Deles diz</p><p>o sinonimista que a diferença que se lhes</p><p>nota “consiste em que instrução se refere a</p><p>uma ideia motriz; a ilustração é seu efeito</p><p>imediato; e a civilização é o resultado das</p><p>duas. O homem é naturalmente ignorante;</p><p>necessita instruir-se para sair desse estado.</p><p>Uma vez instruído adquiriu ilustração; e uma</p><p>vez ilustrado contribui para a civilização, que</p><p>não é outra coisa mais que a soma de ins-</p><p>trução e de ilustração aplicada às necessidades</p><p>sociais”.</p><p>508</p><p>CIVISMO, patriotismo; cívico, patrióti-</p><p>co. – Civismo (do latim civis “cidadão”) é</p><p>“o entusiasmo com que o cidadão cumpre</p><p>devotadamente os seus deveres e exerce os</p><p>seus direitos de membro de uma sociedade</p><p>política”. Ardor cívico, sentimentos cívicos</p><p>são aqueles de que se dá provas nas funções</p><p>de cidadão. – Patriotismo é o ardente amor</p><p>que se consagra à pátria. Todo indivíduo</p><p>pode ter sentimentos patrióticos, isto é, pode</p><p>amar o país onde nasceu ou onde vive; mas</p><p>só o cidadão (isto é – o que tem as quali-</p><p>dades de membro ativo de uma sociedade</p><p>política) pode ter civismo.</p><p>509</p><p>CLARÃO, claridade, luz, lume, luar, bri-</p><p>lho, fulgor, esplendor, lampejo. – Clarão</p><p>é “uma forte e ampla, mas, em regra, súbita</p><p>claridade”. – Claridade é “o efeito de uma</p><p>luz viva que permite ver bem distintamente</p><p>um certo espaço, ou os corpos pelo seu vo-</p><p>lume, a sua forma, ou a sua cor”. Segundo</p><p>Lafaye, entre luz e luar, claridade, brilho,</p><p>esplendor há uma diferença considerável. A</p><p>luz é uma coisa, não sabemos que substân-</p><p>cia interposta entre o nosso órgão visual e</p><p>aquilo que se lhe apresenta; enquanto que</p><p>luar, claridade, brilho e esplendor desig-</p><p>nam o efeito ou a qualidade desse agente</p><p>ou desse princípio natural. É assim que</p><p>dizemos bem, por exemplo – andar, des-</p><p>cobrir isto ou aquilo ao clarão ou à claridade</p><p>de uma luz; e, de todas as palavras deste</p><p>artigo, luz é o único que se emprega bem</p><p>para significar um objeto material que es-</p><p>palha luz; como, por exemplo, uma vela,</p><p>uma lâmpada... A luz é, como a treva, al-</p><p>guma coisa de concreto; claridade, clarão,</p><p>brilho e esplendor indicam, ao contrário,</p><p>como obscuridade, alguma coisa de abstra-</p><p>to. “Nós esperávamos a luz e não achamos</p><p>senão trevas; esperávamos a claridade e mar-</p><p>chamos na obscuridade (ou no escuro)”</p><p>(Pasc.). Deus separou a luz das trevas; desde</p><p>então vê-se suceder à obscuridade da noi-</p><p>te o luar do crepúsculo, a claridade do dia, o</p><p>brilho do sol no zênite, e os homens podem</p><p>admirar o esplendor do firmamento. Todavia,</p><p>toma-se também luz no sentido abstrato</p><p>de seus sinônimos: e neste caso distingue-</p><p>se esse sentido por sua generalidade. – Luz</p><p>tem isto de próprio: exprime a ideia comum</p><p>276 � Rocha Pombo</p><p>sem nenhum acessório particular; e é, por</p><p>isso, a palavra que melhor convém para de-</p><p>finir os outros sinônimos do grupo. O luar</p><p>é uma luz fraca; a claridade, uma luz mode-</p><p>rada; o clarão, uma luz vasta e instantânea,</p><p>ou pouco duradoura; o brilho é uma luz</p><p>viva; o esplendor, uma luz muito grande. O</p><p>luar é uma luz fraca, sombria, um começo</p><p>de claridade, um raio. “Começa-se a ver um</p><p>vago luar do lado do oriente”. Acad. “Há</p><p>falsos luares, vãos luares, luares enganosos, que</p><p>se tomam por verdadeira luz”. Id... A cla-</p><p>ridade é uma luz moderada39, doce, pura,</p><p>suficiente, com auxílio da qual se vê claro, de</p><p>maneira nítida e distinta, e não imperfeita-</p><p>mente e confusamente como quando se não</p><p>tem mais que um simples luar. “É este véu</p><p>que lhes não deixa ver a lua que os cerca de</p><p>todos os lados e se lhes mostra em toda sua</p><p>claridade”. – Bourd. – O brilho é uma luz</p><p>forte, viva, brilhante, algumas vezes capaz</p><p>de deslumbrar e quase insuportável. “Os</p><p>olhos ofuscados de um brilho tão vivo”. Boss.</p><p>“Na Lapônia não se pode suportar o brilho</p><p>da neve”. Regn. – O esplendor é a maior</p><p>luz de todas, tanto pelo que respeita à ple-</p><p>nitude e à extensão (circunstância estranha</p><p>à ideia de brilho) como pelo que se refere à</p><p>intensidade: o que faz com que o esplendor</p><p>sobreleve ao mesmo brilho. A expressão –</p><p>brilho do sol – faz conceber este astro como</p><p>lançando dardos de luz; mas, dizemos – o</p><p>esplendor do sol – quando queremos dar uma</p><p>grande ideia do espaço imenso que ele en-</p><p>che da sua luz. – Os vocábulos luz e lume,</p><p>se fôssemos atender apenas à etimologia40,</p><p>afigurar-se-nos-iam sinônimos perfeitos.</p><p>Dizemos com a mesma força: – a luz, ou o</p><p>lume da razão. – Seria, no entanto, necessário</p><p>admitir alguma diferença entre eles. – Lume</p><p>é o nome que em português cabe a uma luz</p><p>fraca, suave, doce; a um fogo pouco vivo, a</p><p>uma chama serena. De uma pessoa que espi-</p><p>ra diremos que perde o derradeiro lume dos</p><p>olhos. De uma lareira que se extingue sub-</p><p>siste sempre, por certo tempo, algum lume. –</p><p>Fulgor é luz vivíssima; é brilho que alucina</p><p>e quase que se diria fulminante. – Dizemos</p><p>– o fulgor do raio, – e também – o fulgor de</p><p>uma lâmpada – para dar ideia da intensida-</p><p>de da sua luz. – Lampejo será ligeiro fulgor,</p><p>fulguração instantânea. Dizemos – ainda</p><p>lhe pude sentir os últimos lampejos da razão</p><p>divina – referindo-nos a uma criatura que</p><p>enlouqueceu.</p><p>510</p><p>CLAREZA, claridade; perspicuidade. –</p><p>Dos dois primeiros diz S. Luiz: “Clareza</p><p>emprega-se no sentido figurado e moral;</p><p>claridade, mais ordinariamente no sentido</p><p>físico e próprio. Assim dizemos v. g. – a</p><p>claridade do sol, da luz, do dia, etc.; e – a</p><p>clareza do entendimento, do discurso, das ex-</p><p>pressões; a clareza do sangue, da família, etc.”</p><p>– Comparando clareza e perspicuidade,</p><p>escreve o mesmo autor: “Ambos estes vocá-</p><p>bulos exprimem uma qualidade essencial do</p><p>bom discurso, ou seja escrito, ou pronun-</p><p>ciado; mas clareza parece que se refere mais</p><p>particularmente às ideias, e perspicuidade</p><p>às expressões. A clareza requer precisão,</p><p>exata dedução, e boa ordem nas ideias. A</p><p>perspicuidade requer termos próprios e de</p><p>significação bem determinada, construção</p><p>regular, ligação conveniente. Tem clareza o</p><p>discurso, quando mostra a verdade em toda</p><p>a sua luz. Tem perspicuidade o estilo, quando</p><p>através (digamos assim) dos vocábulos se vê</p><p>perfeitamente o pensamento de quem fala</p><p>ou escreve”.</p><p>39 � Ou mais ou menos viva. Dizemos – “intensa</p><p>claridade”, e não – luar intenso, nem – vivo luar.</p><p>40 � O latim lux deu-nos o nosso luz; o latim lumen,</p><p>segundo Sar., derivado de lux, deu ao francês o seu</p><p>lumière. Encontram-se, portanto, as duas formas na</p><p>mesma raiz grega luk, sugestiva de claridade, brilho,</p><p>visão.</p><p>Dicionário de S inônimos da Língua Portuguesa � 277</p><p>511</p><p>CLARO, diáfano, transparente, translúci-</p><p>do, perspícuo. – Claro é, no sentido pró-</p><p>prio, o que deixa ver os objetos como eles</p><p>são. Dizemos – manhã clara; e até – luar</p><p>muito claro (para sugerir a ideia de que a</p><p>luz da lua está excepcionalmente viva). –</p><p>Diáfano é mais vizinho de translúcido</p><p>que de transparente. Segundo a origem</p><p>grega (diá “através”, e phaino “deixo ver”)</p><p>diz – que deixa passar alguma luz; que não</p><p>é opaco. Uma folha de papel comum, uma</p><p>tela fina são corpos diáfanos ou translúcidos,</p><p>mas não – transparentes; pois este vocábulo</p><p>indica que a translucidez ou diafaneidade</p><p>é tão completa que através do corpo trans-</p><p>parente podem ver-se os objetos. “Um vidro</p><p>despolido” – exemplifica muito bem Roq.</p><p>– “é diáfano (ou translúcido) e não transparente.</p><p>A diafaneidade dos corpos, diz Newton,</p><p>resulta, não da quantidade e reta direção</p><p>dos poros, senão da igual densidade de</p><p>todas as suas partes. Sua transparência é</p><p>efeito, ou da mesma causa, ou da falta de</p><p>aderência e de conexidade de suas entre-</p><p>abertas partes”. – Perspícuo só se aplica</p><p>no sentido moral, equivalendo ao que, em</p><p>sentido físico, é diáfano e muito claro.</p><p>Um</p><p>estilo é perspícuo se deixa entender facilmen-</p><p>te o que se nos diz.</p><p>512</p><p>CLASSE, categoria, jerarquia (ou hierar-</p><p>quia), camada, grupo. – Classe é “a divi-</p><p>são em que se acomodam diversos grupos</p><p>ou categorias”. – Grupo é “o conjunto de</p><p>indivíduos ou de coisas que entram numa</p><p>classe”. – Categoria é “a gradação existen-</p><p>te entre coisas ou pessoas da mesma clas-</p><p>se”. – Jerarquia é “o grau de posição ou</p><p>de autoridade entre pessoas de uma classe”.</p><p>– Camada é o nome que se dá comumente à</p><p>classe quando se trata de categorias sociais.</p><p>A última camada da população; as camadas</p><p>populares. Entraram na igreja sacerdotes</p><p>de várias jerarquias. Vimos ali representadas</p><p>todas as classes sociais. Cada categoria de fun-</p><p>cionários entrava por grupos.</p><p>513</p><p>CLASSE, ordem, família, gênero, espécie,</p><p>sorte, grupo, variedade, secção, ramo, sé-</p><p>rie, divisão, tipo. – De acordo com Bourg.</p><p>e Berg., trata Bruns. dos cinco primeiros</p><p>vocábulos deste grupo assim: “Todos es-</p><p>tes vocábulos designam um conjunto de</p><p>coisas, que, conquanto diferentes, têm</p><p>entre si caracteres comuns. Na linguagem</p><p>técnica das ciências naturais representam,</p><p>na ordem em que estão dispostos, o agru-</p><p>pamento em ordem descendente, pois a</p><p>classificação natural ou artificial dos ani-</p><p>mais como das plantas considera a classe</p><p>dividida em ordens; a ordem em famílias;</p><p>a família em gêneros; e o gênero em es-</p><p>pécies, estando cada espécie formada de</p><p>indivíduos iguais. Na linguagem corrente</p><p>representam estas palavras ideias análogas</p><p>às que a tecnologia lhes atribui. – Espécie</p><p>(do latim species “aparência, forma”) diz-se</p><p>da categoria de indivíduos que têm a mes-</p><p>ma aparência ou forma, o mesmo aspeto,</p><p>e que se distinguem dos restantes por um</p><p>caráter específico que só a eles é comum.</p><p>O que é da mesma espécie, quer ente quer</p><p>objeto, assemelha-se pela forma, e pela</p><p>disposição geral dos caracteres constituti-</p><p>vos, com tudo quanto compreende essa es-</p><p>pécie, se bem cada indivíduo ou cada objeto</p><p>difira dos congêneres nas particularidades</p><p>individuais e variáveis que o constituem,</p><p>sem que essa diferença, no entanto, alte-</p><p>re a constituição comum, que até se pode</p><p>dizer íntima na espécie. A espécie humana com-</p><p>preende todos os seres que possuem os ca-</p><p>racteres naturais que formam o indivíduo</p><p>– homem. Do mesmo modo, distinguimos</p><p>imediatamente entre muitas árvores, mui-</p><p>278 � Rocha Pombo</p><p>tos frutos, muitas flores, muitos animais,</p><p>etc., aqueles ou aquelas que, pela sua or-</p><p>ganização natural e pelo próprio aspeto,</p><p>se assemelham de modo a constituírem</p><p>uma mesma espécie. – Gênero (do latim</p><p>genus ‘raça’) é, como espécie, uma divisão</p><p>natural que compreende todos os seres ou</p><p>objetos da mesma raça e da mesma origem,</p><p>mas que têm entre si relações que não são</p><p>tão íntimas, tão singulares, como as que se</p><p>notam entre os indivíduos da mesma espécie.</p><p>Devemos notar, e este ponto é essencialís-</p><p>simo, que os vocábulos espécie e gênero</p><p>se confundem frequentemente, porque um</p><p>gênero pode tornar-se espécie relativamente a</p><p>um gênero superior; e vice-versa, uma espécie</p><p>pode tornar-se gênero com relação a uma</p><p>espécie inferior. Na aplicação destes vocábu-</p><p>los, porém, deve conservar-se a cada um</p><p>o seu sentido particular; por exemplo: à</p><p>humanidade chamaremos – espécie humana</p><p>– quando nela se considerem as qualida-</p><p>des que são comuns a todos os homens;</p><p>e – gênero humano, quando se considere o</p><p>conjunto dos homens como constituindo</p><p>uma mesma raça e possuindo uma mesma</p><p>essência. À espécie humana pertence cada</p><p>homem, cada indivíduo; ao gênero huma-</p><p>no pertencem todos os grupos de homens</p><p>que, pela cor da pele, pela configuração do</p><p>crânio, por outra qualquer particularida-</p><p>de, se assemelham entre si o bastante para</p><p>constituírem grupo distinto. Dizer que es-</p><p>tes ou aqueles seres ou objetos são do mes-</p><p>mo gênero é muito mais extenso, mas muito</p><p>menos pormenorizado (e preciso) do que</p><p>dizê-los da mesma espécie. – Família, apenas</p><p>na classificação teórica das ciências, tem</p><p>sinonímia com os outros vocábulos deste</p><p>grupo: é o vocábulo com que se designa</p><p>um agrupamento de gêneros que têm um</p><p>caráter comum. Assim, na família europeia,</p><p>distinta, entre outros carateres, pelo cará-</p><p>ter da cor, cabem os gêneros neolatino, ger-</p><p>mânico, eslavo, etc., do primeiro dos quais</p><p>os portugueses formam uma das espécies41.</p><p>– Resta-nos comparar os vocábulos ordem</p><p>e classe, que designam agrupamentos con-</p><p>vencionais, não naturais. Diferençam-se</p><p>estes dois termos em ser a ordem comple-</p><p>xa, e a classe não. Na ordem entram gra-</p><p>dações; na classe tudo é igual, ou reputa-se</p><p>como igual. Assim, na ordem social cabem</p><p>a classe alta, a classe média e a classe baixa;</p><p>entre uma e outra destas classes existem</p><p>as diferenças chamadas sociais; em cada</p><p>classe, porém, os indivíduos representam-se</p><p>iguais. Nas ordens de cavalaria há diferen-</p><p>tes classes: cavaleiros, oficiais, cruzes, grã-</p><p>-cruzes; nas ordens eclesiásticas há as classes</p><p>de presbítero, diácono, subdiácono, hostiá-</p><p>rio, leitor, exorcista e acólito. Muitas vezes</p><p>vemos confundir os vocábulos ordem e</p><p>classe; a clareza exige, porém, que não se</p><p>denomine classe o agrupamento complexo,</p><p>nem se dê o nome de ordem ao incomple-</p><p>xo”. – Sorte, que Bourg. e Berg. incluem</p><p>no grupo (e que vem do latim sors “acaso”)</p><p>“difere profundamente dos vocábulos aci-</p><p>ma: nada tem de preciso e de científico, e</p><p>apenas marca uma reunião de objetos ou</p><p>41 � Aqui parece que não há uma satisfatória pre-</p><p>cisão de termos. Dizer – gênero humano, e – gênero la-</p><p>tino ou neolatino denota pelo menos uma confusão</p><p>de palavras cujo valor anda esquecido, ou está por</p><p>fixar. Não há, aliás, quem não prefira dizer – família,</p><p>ou – grupo latino (e mesmo – raça latina) a dizer –</p><p>gênero latino. É certo que se não sabe se com mais</p><p>propriedade que a da forma – gênero latino; pois tam-</p><p>bém dizemos – família indo-europeia, para designar</p><p>uma das grandes divisões da espécie humana; e dize-</p><p>mos ainda – família humana, quando o nosso intuito</p><p>é acrescentar à noção de gênero a sugestão dos laços</p><p>morais que prendem todas as raças, ou todos os ho-</p><p>mens. – Segundo Privat-Deschanel et Focillon (Dic-</p><p>tionnaire général des sciences), classificação, na tecnologia</p><p>da história natural, é “a ordenação regular na qual as</p><p>espécies mais semelhantes estão reunidas em gêneros;</p><p>os gêneros em famílias; as famílias em ordens; as ordens</p><p>em classes; as classes em ramos e em tipos”.</p><p>Dicionário de S inônimos da Língua Portuguesa � 279</p><p>de pessoas, formada segundo relações va-</p><p>gas e indeterminadas, e como por acaso.</p><p>Quando se diz – espécies de flores, – gêneros</p><p>de árvores – sugere-se a ideia dos carateres</p><p>particulares que distinguem essas flores,</p><p>essas árvores; mas essa ideia torna-se vaga</p><p>e indecisa, quando se diz – estas sortes de</p><p>flores, – estas sortes de árvores. – Animais</p><p>de toda espécie – são animais pertencentes a</p><p>todas as categorias que formam espécies, e a</p><p>expressão é inteiramente precisa; – animais</p><p>de toda sorte – não apresenta ao espírito</p><p>nada de exato, de determinado, e significa</p><p>– muitos animais, sem exprimir uma dis-</p><p>tinção categórica”. – Grupo é termo ain-</p><p>da muito mais vago do que sorte, e nem</p><p>mesmo encerra muitas vezes ideia alguma</p><p>de classificação, mas apenas de distribui-</p><p>ção ou disposição; pois pode dar-se que</p><p>um grande número de grupos se formem de</p><p>coisas ou de pessoas iguais ou da mesma</p><p>classe. – Variedade é “uma subdivisão da</p><p>mesma família ou da mesma espécie”. O</p><p>francês, o italiano, o espanhol são variedades</p><p>da família latina. – Secção é “subdivisão</p><p>do mesmo gênero ou da mesma classe”; e</p><p>– como a variedade – é fundada em dife-</p><p>renças muito ligeiras. – Ramo é só apli-</p><p>cável tratando-se de história natural: de-</p><p>signa “a família em relação ao tronco de</p><p>que provém”. A família latina é um ramo</p><p>da raça indo-europeia. – Série é “grupo</p><p>de coisas fazendo parte de um conjunto</p><p>ou sucessão de grupos semelhantes ou ten-</p><p>do entre si uma certa relação ou analogia”.</p><p>Significa também esse conjunto ou suces-</p><p>são de coisas semelhantes ou pelo</p><p>menos</p><p>não fundamentalmente distintas. “A vida</p><p>daquele homem tem sido uma série contí-</p><p>nua de sofrimentos”. “Vimos na secção dos</p><p>ofídios uma série curiosíssima”. Série, por-</p><p>tanto, dá mais ideia de ordem, disposição</p><p>propriamente que de classificação. “Figu-</p><p>ram naquele quadro babélico todas as sé-</p><p>ries do reino animal”. – Divisão muito se</p><p>aproxima de secção: é apenas mais extenso</p><p>ou complexo, pois designa “cada uma das</p><p>grandes porções distintas que formam um</p><p>todo”. – Tipo é propriamente “o indiví-</p><p>duo ou a coisa que possui as qualidades ou</p><p>os carateres próprios e distintivos de uma</p><p>classe”. É por isso esta palavra empregada</p><p>comumente como significando a própria</p><p>classe, ou sorte.</p><p>514</p><p>CLASSIFICAR, ordenar, coordenar, arran-</p><p>jar; dispor, distribuir, separar. – Há de</p><p>comum entre estes verbos a ideia de dispor</p><p>segundo um certo critério. – Classificar é</p><p>“dispor algumas coisas ou pessoas por clas-</p><p>ses, ou indicar a classe a que pertence uma</p><p>certa pessoa ou coisa”. – Ordenar é “dis-</p><p>por algumas ou muitas coisas por grupos de</p><p>classes, ou por ordens.” Se estas ordens, na</p><p>disposição que se faz, obedecem a uma cer-</p><p>ta relação de dependência, dizemos que as</p><p>coisas se coordenam. – Arranjar é “dar uma</p><p>disposição conveniente a coisas que estavam</p><p>em desordem ou confusão.” – Dispor, dis-</p><p>tribuir, separar sugerem de comum a ideia</p><p>de pôr em seu lugar ou no lugar próprio</p><p>cada coisa de muitas que se tem de separar,</p><p>distribuir ou dispor. Quem separa desliga coisas</p><p>que estavam unidas ou juntas, e as agrupa</p><p>em porções. Quem distribui põe cada coisa</p><p>ou pessoa, entre muitas pessoas ou coisas,</p><p>no lugar próprio, e agrupando-as segundo</p><p>uns dados carateres, ou sob um certo cri-</p><p>tério. Por isso pode este verbo muitas vezes</p><p>confundir-se com o verbo classificar. – Aque-</p><p>le que dispõe não faz mais do que arranjar de</p><p>um certo modo.</p><p>515</p><p>CLÁUSULA, frase, sentença, oração, pro-</p><p>posição, período, trecho. – Segundo Roq.</p><p>– “pela palavra cláusula (derivada do verbo</p><p>280 � Rocha Pombo</p><p>latino claudere ‘cerrar’) entende-se uma reu-</p><p>nião de palavras que apresenta um pensa-</p><p>mento completo, ou que forma, como cos-</p><p>tuma dizer-se, sentido perfeito... – Senten-</p><p>ça é a cláusula que contém um pensamento</p><p>sentencioso, isto é, uma reflexão ou observação</p><p>profunda, filosófica ou moral. – Frase não</p><p>designa precisamente a cláusula inteira, se-</p><p>não as expressões particulares de que ela</p><p>consta, e assinaladamente aquelas em que se</p><p>encontra algum idiotismo da língua, ou en-</p><p>tão o que chamam estilo da língua; e é neste</p><p>sentido que disse Vieira, falando da His-</p><p>tória de S. Domingos: ‘A linguagem, tanto</p><p>nas palavras, como na frase, é puramente da</p><p>língua em que professou e escreveu’. – Pe-</p><p>ríodo, em termos de arte, não significa in-</p><p>distintamente cláusula, senão a cláusula que</p><p>está composta de certo modo particular, e</p><p>consta de diferentes membros, e se chama</p><p>cláusula periódica”. – Oração poderia confun-</p><p>dir-se com cláusula; pois designa também a</p><p>expressão completa de um pensamento. Em</p><p>linguagem gramatical, no entanto, oração</p><p>é mais do que simples cláusula; pois esta</p><p>pode ser apenas um completivo de oração.</p><p>– É muito subtil a diferença que se pode</p><p>notar entre oração e proposição, sendo cer-</p><p>to que o comum dos gramáticos não fazem</p><p>entre essas duas palavras distinção alguma.</p><p>Em oração parece que se sugere melhor a</p><p>ideia das diversas partes que compõem o</p><p>enunciado; em proposição, a ideia do modo</p><p>como estão dispostas essas partes. É mais</p><p>comum dizer-se: o verbo, o sujeito da oração;</p><p>uma proposição intrincada, uma proposição ab-</p><p>surda. – Trecho é “um conjunto de períodos,</p><p>completando uma certa ordem de ideias”.</p><p>516</p><p>CLEMÊNCIA, misericórdia, piedade, com-</p><p>paixão, caridade, dó, pena, miseração, co-</p><p>miseração, indulgência, inocência, benig-</p><p>nidade, bondade, tolerância, humanidade.</p><p>– Todas estas palavras designam virtudes,</p><p>ou sentimentos, ou emoções que se mani-</p><p>festam por uma caridosa simpatia, mesmo</p><p>por uma solicitude carinhosa com os que</p><p>sofrem, com os que erraram ou comete-</p><p>ram faltas. – Clemência é a piedade que se</p><p>tem com os que merecem castigo e pedem</p><p>perdão: é a virtude dos soberanos, dos que</p><p>podem perdoar em razão da autoridade, ou</p><p>das funções que exercem. Não se diz que</p><p>um indivíduo qualquer foi clemente, ou deu</p><p>provas de clemência perdoando uma ofensa. A</p><p>própria autoridade que anistia não se pode</p><p>dizer que usa de clemência. Exerce, sim, esta</p><p>virtude, não só o príncipe em cujo coração</p><p>achou graça o condenado, mas também o</p><p>general vencedor que poupa os inimigos</p><p>quando podia sacrificá-los. Menos rigoro-</p><p>samente considerada, no entanto, a clemên-</p><p>cia é o sentimento de moderação, de benig-</p><p>nidade que se tem com o culpado: é o dó</p><p>que se sente por aquele que deve ser punido,</p><p>e que nos leva a deixar de puni-lo esquecen-</p><p>do muitas vezes a justiça. – Misericórdia</p><p>poderia definir-se como sendo uma virtude</p><p>divina; pois verdadeiramente só Deus é que</p><p>é misericordioso. É a virtude que consiste</p><p>numa compaixão infinita pela desgraça,</p><p>num grande dó pelo sofrimento, e que leva</p><p>a alma misericordiosa, não só a perdoar,</p><p>mas a socorrer o desgraçado livrando-o da</p><p>desgraça. Por isso dizemos: real, imperial</p><p>clemência; e – misericórdia divina. Mas, ainda,</p><p>como clemência, vulgarmente misericórdia</p><p>designa o profundo sentimento de pieda-</p><p>de que nos induz a ser caritativos com os</p><p>que precisam do nosso socorro. Tem-se</p><p>misericórdia com os que sofrem e procura-se</p><p>minorar-lhe os sofrimentos. – Piedade é</p><p>“nome que melhor assenta ao sentimento</p><p>que no coração humano corresponde ao</p><p>que em Deus é misericórdia”. Não há pie-</p><p>dade sem desejo, sem vontade eficaz de livrar</p><p>o nosso semelhante do mal que está sofren-</p>

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