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Valorização da água no meio urbano

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VALORIZAÇÃO DA ÁGUA NO MEIO URBANO: UM DESAFIO POSSÍVEL 
 
 
Marcus Aurélio Soares Cruz1, Paulo Roberto Araújo2, 
Sidnei Gusmão Agra3, Vladimir Caramori Borges de Souza4, Walter Collischonn4 
 
 
Resumo - O crescimento desordenado da urbanização nas cidades tem provocado o aumento na 
freqüência e intensidade das cheias, por conta da impermeabilização do solo e da canalização do 
escoamento. Isto se justifica pela concepção dos profissionais da área de que a melhor solução para 
a drenagem dos centros urbanos é afastar, o mais rápido possível, o escoamento do seu local de 
geração. Esta abordagem apenas provoca o deslocamento dos alagamentos de um ponto para outro. 
Em países desenvolvidos a abordagem adotada é a solução na fonte, ou seja, reduzir as vazões 
ampliadas devido à urbanização onde são geradas, com medidas de contenção/redução dos volumes 
escoados. No Brasil se verifica a dominação da antiga concepção de transferência dos problemas de 
drenagem, com obras mais caras, pouco eficientes e sem integração ambiental. A adaptação das 
técnicas não-convencionais será possível no Brasil? Que dificuldades econômicas, sociais e 
culturais o poder público enfrentaria com esta mudança de paradigma? Será possível despertar no 
povo brasileiro uma cultura de valorização da água no meio urbano? Este artigo se propõe a 
contribuir no sentido de caracterizar as técnicas não-convencionais de controle do escoamento 
urbano e discutir questões relacionadas com essa mudança de concepção nos projetos de drenagem. 
 
 
1 Departamento de Esgotos Pluviais - Prefeitura Municipal de Porto Alegre 
Rua Gen. Lima e Silva 972, Cidade Baixa, CEP 90050-102 Porto Alegre - RS 
Tel: 51 3227 2611 R244 fax : 51 3218 0021 e-mail: marcus@dep.prefpoa.com.br 
2 Departamento Autônomo de Estradas e Rodagens - Setor de Hidrologia e Drenagem - CEPN 
Avenida Borges de Medeiros 1555 - Centro - CEP 90110-150 Porto Alegre - RS 
Tel: 51 3210 5158 fax : 51 3210 5159 e-mail: prarau@ig.com.br 
3 Departamento de Recursos Hídricos - Secretaria Estadual do Meio Ambiente do Rio Grande do Sul 
Rua Carlos Chagas 55 - Sala 1109, Centro , CEP 90030-020 Porto Alegre - RS 
 Tel: 51 3226 1503 fax : 51 3225 9659 e-mail: sidneiagra@bol.com.br 
4 Instituto de Pesquisas Hidráulicas - Universidade Federal do Rio Grande do Sul 
Av. Bento Gonçalves 9500, Agronomia, CP 15029 CEP 91501-970 Porto Alegre - RS 
Tel: 51 3316 6327 fax : 51 3316 6565 e-mail: caramori@if.ufrgs.br / cllschnn@vortex.ufrgs.br 
 
Abstract - The disorganized development of urban environment implies in a growth of floods 
intensity and frequency, because the soil impermeabilization and streams canalization. The 
preponderant concept among engineers and planners is to turn out stormwater as faster is possible; 
but this approach just transfers floods to downstream. In old countries, this problem is treated with 
another approach: the source approach. This method consists in to reduce rate runoff with 
detentions and/or infiltration structures. In Brazil this concept is still in the beginning, and the 
spatial transference of floods dominate the projects, with very expensive, inefficient solutions and 
without environmental integration. Has this "new" concept the possibility of an efficient application 
in Brazil? What social, economic and cultural difficulties should the municipality find with this 
paradigm alteration? Is the valorization of water resource in urban environment possible to the 
Brazilian people? This work has the objective to provide elements of no-conventional urban 
drainage control design and to discuss these questions about changes in the planners and engineers 
thinking. 
 
 
Palavras-Chave - Impactos da urbanização; Drenagem urbana; Controle na fonte 
 
 
INTRODUÇÃO 
 
 A evolução do ser humano o levou, naturalmente, a uma busca cada vez maior por conforto e 
bem estar, o que motivou o surgimento de crescentes inovações tecnológicas em diversos setores da 
sociedade, dentre estes o da habitação e locomoção, que auxiliados por novos materiais, mais 
duráveis e resistentes, possibilitaram concepções cada vez mais arrojadas nas técnicas construtivas. 
As regiões com aglomerações humanas tornaram-se assim áreas de concentração dessas 
tecnologias, criando o chamado ambiente urbanizado, que se por um lado permite melhores 
condições de vida à comunidade, por outro tem grande impacto nos processos naturais da região em 
que se estabelece. 
 O ambiente urbano tornou-se atrativo para indivíduos de outras regiões não providas de tais 
recursos, gerando migrações de regiões rurais para as cidades. A ausência de um gerenciamento 
adequado por parte do poder público provoca uma ocupação desordenada e um inchaço 
populacional, pois face à carência de espaços estes indivíduos tendem a ocupar áreas "livres", como 
as margens de córregos e encostas de morros que representam regiões de alto grau de insalubridade 
e influência direta no escoamento urbano. 
 A constatação do fenômeno de crescimento urbano verifica-se pelos seguintes números : No 
ano de 1990, mais de 75% de toda a população sul-americana estava vivendo em áreas urbanas, o 
mais alto grau de urbanização em qualquer região do mundo. O desenvolvimento das metrópoles é 
também intenso, pois em 1990 existiam 276 cidades no mundo com populações de um milhão de 
habitantes ou mais, sendo que a maioria (42%) no continente asiático, e com um terço da população 
sul-americana habitando em grandes cidades (Urban, 2000). 
 No Brasil, observou-se celeridade do crescimento urbano principalmente após a década de 60, 
o que levou a surgimento de favelas e áreas sem nenhuma infra-estrutura, dada a escassez de 
recursos e investimentos; hoje tem-se taxas próximas a 80% (Popclock, 2001), provocando inchaço 
populacional e deficiências diversas do serviço público urbano. 
 A preocupação da maioria dos planejadores urbanos com o provimento de infra-estrutura à 
população geralmente se dá apenas quando as conseqüências desta ocupação já tem proporções 
elevadas, com a ocorrência de enchentes, falhas no abastecimento urbano e poluição crítica dos 
mananciais. 
 O crescimento de um ambiente urbanizado implica em alterações na cobertura e configuração 
do solo natural, pois pressupõe a delimitação de unidades de ocupação com implantação de 
diferentes estruturas de conforto, como casas, prédios, calçadas e ruas pavimentadas. Esse 
desenvolvimento urbano, com a impermeabilização de grandes áreas, modifica a ocorrência natural 
do ciclo hidrológico, através de alterações nas quantidades de água envolvidas nos processos 
constituintes do ciclo. 
 A impermeabilização de um ambiente antes rural direciona maior parcela de água pluvial a 
um escoamento superficial, dada a redução da interceptação, infiltração e evaporação, além de 
provocar uma aceleração do movimento da água dentro da bacia, por reduzir o amortecimento e 
canalizar o escoamento. Como resultado, tem-se mais volume de água em menor tempo, levando a 
ocorrência de cheias com magnitudes variáveis (Lindsey,1990). Os danos causados por estas 
ocorrências podem variar bastante, indo desde transtornos ao trânsito até perdas humanas. 
 A qualidade dos corpos d’água em meios urbanizados também é alterada, visto que a maioria 
dos dejetos da cidade é direcionada para estes (Hall,1986); a produção de sedimentos é intensificada 
por obras realizadas no meio urbano acelerando o processo de assoreamento dos leitos dos rios; 
grande quantidade de lixo sólido passa a ser produzida, e dada a deficiência da maioria dos sistemas 
de coleta, aliada à falta de educação ambiental da maioria da população, uma grande parte é acaba 
chegando aos mananciais. 
 As alterações quantitativas e qualitativas da água no meio urbano estão interligadas, visto que 
a produção de lixo é responsável pela obstrução de boa parte das “bocas de lobo” e de galeriasdo 
sistema coletor pluvial das cidades durante as tormentas, ampliando os efeitos das enchentes 
localizadas e a ocorrência de doenças entre os atingidos pelas cheias. 
 A atuação da sociedade em resposta a estas conseqüências tem se dado, geralmente através 
de obras que atuam no efeito, e que na maioria das vezes tornam-se ineficientes dada a variabilidade 
das respostas destas áreas de acordo com a evolução do ambiente urbano (Genz,1994). Outro 
aspecto inerente às soluções hoje implementadas é a sua capacidade de transferência do problema 
para regiões a jusante, como se percebe na construção de grandes canais. 
 Em países com maior tempo de convivência com estes problemas, como França, Austrália, 
Japão e Estados Unidos, as técnicas empregadas passaram a visar o controle do escoamento na 
fonte, buscando reduzir as vazões que são ampliadas pelo processo de ocupação do solo através de 
técnicas de contenção e redução do escoamento superficial. Dentre estas técnicas predomina o uso 
de reservatórios de detenção e retenção, trincheiras de infiltração, pavimentos permeáveis e semi-
permeáveis e planos de infiltração. 
 No Brasil verifica-se ainda o predomínio das técnicas ultrapassadas de transferência dos 
impactos da drenagem urbana, apresentando apenas em algumas cidades, como Porto Alegre, São 
Paulo e outras, um início de mudança de conceitos sobre o controle do escoamento urbano. 
 
SISTEMAS DE DRENAGEM URBANA 
 
 Na tentativa de minimizar os efeitos da urbanização no ciclo hidrológico, a engenharia lança 
mão do planejamento dos sistemas de drenagem urbana e de medidas de controle, que podem atuar 
em diversas escalas espaciais. 
 Os sistemas de drenagem convencionais são constituídos por estruturas de controle e 
condução do escoamento, buscando a coleta das águas pluviais geradas no meio urbano e a sua 
condução a um emissário final. Botelho(1998) menciona que esta concepção de sistema de 
drenagem pluvial é baseada na máxima: "pegar e largar rápido!". 
 O controle na fonte aparece como uma alternativa para a solução dos problemas de drenagem 
sem a sua transferência de um ponto a outro da bacia, pois promove a redução e a retenção do 
escoamento, desonerando os sistemas tradicionais existentes e evitando a sua ampliação. 
 
Técnicas retrógradas de abordagem da drenagem urbana 
 
 Durante muito tempo a drenagem urbana se restringiu à aplicação de medidas higienistas, 
tratando o escoamento pluvial como problema de saúde pública que deveria ser retirado da cidade o 
mais rápido possível, conduzindo as águas "nocivas" para um corpo d'água receptor (Silveira, 
2000). Este tipo de abordagem do problema da drenagem urbana foi ao longo do tempo sendo 
abandonada pelos países desenvolvidos, movidos pelo desenvolvimento de uma consciência 
ambientalista, que promove a manutenção dos corpos hídricos em seu estado natural, buscando a 
minimização dos impactos quantitativos e qualitativos. Nos países do Terceiro Mundo, como o 
Brasil, o sentimento higienista ainda predomina em engenheiros e planejadores, por conta de uma 
ausência de conscientização ambiental, e de percepção da esgotabilidade, no mínimo qualitativa, 
dos recursos hídricos. 
 As técnicas de projeto usuais se referem a canalização direta do escoamento gerado pelas 
superfícies urbanas, seja através de canais abertos ou subterrâneos, direcionando o escoamento de 
forma acelerada a um receptor final, em geral um curso d'água próximo. 
 Estes sistemas se caracterizam pela existência de pontos de captação ao longo das ruas, unidos 
por uma rede de microdrenagem, formando malhas que convergem para uma rede maior, chegando 
ao receptor sem nenhuma forma de tratamento intermediário. 
 Nas bacias se verifica geralmente uma ocupação no sentido de jusante para montante, 
partindo das regiões mais baixas e planas para as encostas dos morros. Esta ocupação das regiões 
baixas provoca a aceleração do escoamento, o aumento do volume escoado e o crescimento dos 
picos de vazão da área, com a redução dos tempos de resposta e maior freqüência de alagamentos. 
Para solucionar estes problemas promove-se a ampliação da capacidade de condução do 
escoamento dos corpos receptores, através da sua retificação e canalização. O crescimento urbano 
solicita cada vez mais áreas para ocupação, obrigando a população a utilizar as áreas de maior 
declividade, repetindo o processo de ampliação das vazões de forma mais acentuada e provocando 
novamente os alagamentos nas regiões de jusante, uma vez que as obras anteriormente executadas 
não previam a ocupação de tais áreas. A solução agora apontada é novamente a ampliação da 
capacidade condutora da macrodrenagem existente, com custos exorbitantes. A figura 1 mostra o 
processo descrito. Este processo gera um ciclo vicioso, pois sempre haverá contribuição ampliada 
de regiões de montante, exigindo novas obras de aumento da capacidade do sistema. 
 
 
Figura 1 - Evolução do sistema de drenagem nas práticas convencionais (Fonte: Tucci, 1995) 
 
 Quando a abordagem aos problemas de drenagem é realizada de forma isolada, sem o 
pensamento integrado do sistema e a visão da bacia hidrográfica como um todo, a única solução 
aplicável é a canalização dos arroios, a retificação de corpos d'água, construção de galerias, sempre 
buscando a máxima eficiência dos condutos. A atuação deste tipo de solução provoca aumentos de 
até seis vezes na vazão máxima de pré-urbanização (Tucci, 1995). 
 Esta filosofia de desenvolvimento do sistema de drenagem, que considera apenas a eficiência 
hidráulica do sistema (sem pensar em aspectos ambientais, estéticos, de convívio da comunidade 
com os corpos d'água), em conjunto com um sistema de coleta e tratamento de lixos e esgotos 
domésticos ineficientes, provoca a degradação da qualidade da água no meio urbano e os corpos 
d'água se tornam grandes canais de escoamento de lixo e esgoto. 
 A partir desta degradação dos corpos d'água, e com a justificativa de aproveitar o máximo do 
espaço possível, faz-se o fechamento das galerias, escondendo-se os corpos d'água e aproveitando-
se o espaço para a construção das chamadas avenidas sanitárias. 
 Este tipo de desenvolvimento do sistema de drenagem é feito tanto pelo poder público, de 
forma oficial, quanto pelo desenvolvimento "natural" da chamada cidade não-oficial (favelas, 
loteamentos clandestinos). Na Figura 2 pode-se perceber estes dois aspectos do desenvolvimento da 
drenagem: (a) desenvolvimento "natural", na cidade não-oficial, com máxima ocupação do espaço e 
(b) canalização de corpo d'água por parte do poder público, oficializando a ocupação deste espaço e 
criando avenidas sanitárias. 
 O desenvolvimento do sistema convencional ocorreu a partir do fim do século XVIII e hoje 
apresenta muitas limitações, provocando a degradação gradual do corpos d'água e solicitando 
investimentos cada vez mais vultosos, havendo a necessidade da sociedade questionar a 
continuidade da sua utilização e difusão. 
 
Técnicas compensatórias de drenagem urbana 
 
 As chamadas soluções alternativas, também ditas compensatórias ou novas tecnologias, têm 
uma concepção bastante diferente. Seu desenvolvimento é feito através da observação do 
comportamento natural da bacia, procurando recuperar funções perdidas durante a urbanização ou 
compensar os efeitos da urbanização sobre os processos componentes do ciclo hidrológico, ou seja, 
precipitação, interceptação, infiltração, evapotranspiração e geração do escoamento superficial. 
Neste sentido, cada alteração provocada no meio natural deve significar uma compensação para os 
efeitos gerados (Figura 3). 
 
Figura 2 (a) - Evolução "natural" do sistema de drenagem na cidade não-oficial 
(Arroio Moinho - Porto Alegre-RS) 
 
 
⇒ 
 
Figura 2 (b) - Canalização de corpos d'água por parte do poder público, oficializando a ocupação de 
suas margens – Córrego Pirajá - Belém - PA. (Fonte: PRODEPA,2001) 
 
 
Figura 3 - Medida compensatória para o efeito da urbanização (Fonte: Bettess, 1996) 
 
As técnicas alternativas têm por base uma adaptação de técnicas bastante antigas, algumas 
vezes destinadas prioritariamente à alimentação de água potável. Lagos destinados à retenção 
(ancestrais das bacias de retenção) foram construídos no rio Nilo (Lago Moeris) por volta do ano 
3000 a.C. Estes lagos permitiam a prevenção contra cheias, a manutenção de vazões em períodos de 
estiagem, assim como forneciam água para irrigação. Na Índia se encontravam, na mesma época, 
poços de pedra que permitiam o acúmulo das águas pluviais que serviriam de reserva para os 
períodos de seca. Mais tarde esta técnica seria reutilizada na Índia, em seguida em Bizâncio, onde 
os poços seriam recobertos de pedra (Alfakih, 1991, apud Chocat, 1997). 
Estas técnicas não são, portanto, "inovadoras" pelo fato de que elas são novas ou modernas, 
mas sim pelo fato de que elas se opõem ao princípio do "tudo na rede". O "renascimento" destas 
técnicas está ligado aos impactos decorrentes do desenvolvimento histórico das redes convencionais 
de drenagem, às quais elas são alternativas (Chocat, 1997). 
 Para a utilização de tais métodos, faz-se necessário um planejamento integrado do sistema, 
sendo a bacia hidrográfica como um todo a base de atuação. Neste sentido, busca-se a valorização 
da água no meio urbano, a sua integração paisagística com o espaço e a participação da comunidade 
na concepção e gestão. 
 A partir do momento em que a comunidade toma conhecimento da presença da água no meio 
urbano, o trabalho de recuperação e preservação dos corpos d'água, e sua consequente utilização 
pela população se torna mais simples. 
 Neste sentido, estas técnicas procuram a boa integração com o espaço urbano, criando 
ambientes agradáveis onde a presença da água é fundamental. Passa-se da filosofia de drenagem de 
"o mais rápido e o mais longe possível", adotada pelas soluções higienistas do início do século, para 
uma filosofia de "o mais lento possível, valorizando a água no meio urbano". 
 Na utilização deste tipo de solução, é fundamental a participação de toda a comunidade, desde 
o processo de decisão da solução que será empregada até a gestão da mesma. 
 
CENÁRIOS DA DRENAGEM URBANA NO BRASIL E NO MUNDO 
 
 O problema da drenagem urbana no Brasil tornou-se crítico. Nos últimos anos, os eventos de 
alagamentos no meio urbano têm se tornado cada vez mais freqüentes e intensos. Os transtornos e 
prejuízos gerados por estas inundações são cada vez maiores, com danos à veículos, casas, 
estabelecimentos comerciais e industriais e até mesmo perdas humanas (Figura 4). 
 As conseqüências das enchentes urbanas são visíveis e amplamente divulgadas pela imprensa, 
tanto falada, como escrita e televisiva, como exemplos pode-se citar os problemas que sempre 
ocorrem com as pancadas de verão em cidades como Belo Horizonte, Maceió, Porto Alegre, Rio de 
Janeiro e São Paulo e também no interior dos estados. Nem sempre estas cheias são conseqüências 
diretas da urbanização, mas boa parte delas se deve, ou pelo menos se agravamento, à crescente 
urbanização destas regiões. 
 Em Maceió, o Distrito Industrial Luiz Cavalcante, localizado no Tabuleiro dos Martins, é 
constantemente palco de enchentes que prejudicam a população local e paralisam as indústrias ali 
presentes, trazendo grandes prejuízos à carente economia alagoana (Agra e Silva Jr, 1999). 
 A perda de vidas humanas, diferentemente dos danos materiais, não podem ser 
monetariamente mensurada, constituindo-se assim no maior dos problemas decorrentes das 
enchentes. O Jornal Zero Hora de Porto Alegre, do dia 10/02/2000, informou que no início daquele 
ano morreram 20 pessoas vítimas de enchentes em Minas Gerais. O Jornal Gazeta de Alagoas 
noticiou que, em Maceió, devido as chuvas ocorridas em julho de 2000, a cidade teve de entrar em 
estado de emergência (Figura 4). No Estado foram mais de 100 mil desabrigados e alguns mortos e 
desaparecidos levados pelas águas. Rapidamente a água tomou conta de garagens subterrâneas em 
alguns bairros da cidade e várias encostas deslizaram. Em Pernambuco no mesmo período foram 22 
vítimas, 70 mil desabrigados e 30 municípios atingidos, inclusive Recife, capital do Estado 
(Temporal, 2000; Chuvas, 2000; Nordeste, 2000). 
 As tentativas de resolver este problema através do aumento da capacidade de condutos, 
canalização e retificação de corpos d'água, têm se mostrado ineficientes e com custos cada vez mais 
elevados e proibitivos para uma sociedade carente de recursos como a brasileira. 
 Algum esforço tem sido feito no sentido de tornar as soluções de drenagem mais adaptadas, 
como pode ser visto em Porto Alegre (Figura 5), São Paulo (Figura 6), Belo Horizonte. No entanto, 
estas soluções ainda estão sendo utilizadas apenas como bacias de detenção, para amortecimento de 
cheias de grandes sub-bacias urbanas e nem sempre elas são bem integradas com o espaço urbano 
e/ou com outros usos. Nenhum ou pouco trabalho tem sido feito no sentido de utilização de medidas 
de controle na fonte, utilização de medidas de infiltração ou coisas do gênero. 
 A utilização indiscriminada de bacias de detenção no meio urbano pode gerar um efeito de 
coincidência de picos, quando nenhuma medida para controlar também os volumes escoados 
(medidas de infiltração) é tomada. Assim, novas soluções como controle na fonte e uso de 
dispositivos de infiltração devem ser pensados. 
 Vários países têm desenvolvido, sistematicamente, dispositivos de infiltração e/ou 
amortecimento, seja na parcela ou em pequenos loteamentos, com resultados bastante promissores, 
tanto do ponto de vista técnico quanto urbanístico/paisagístico e de convivência com a população. 
Algumas destas soluções são apresentadas nas figuras que se seguem (figuras 7 a 10). Diferentes 
combinações ou arranjos podem ser feitos com a utilização de soluções compensatórias, 
respeitando-se os aspectos paisagísticos e urbanísticos, e de convívio da comunidade com o espaço 
destinado à drenagem das águas pluviais. 
 
 
Figura 4 – Inundações em algumas cidades brasileiras 
 
 
 
(a) – Ipanema 
 
(b) – Av. Polônia 
Figura 5 - Bacia de detenção em Porto Alegre-RS 
 
 
(a) – sem integração com o espaço urbano 
 
(b) com tentativa de integração com outros usos 
Figura 6 - Bacias de detenção em São Paulo 
 
 
 
(a) Karlsruhe – Alemanha (Chocat, 1997) 
 
(b) Colorado – EUA (Maksimovic, 2000) 
Figura 7 - Pavimento permeável em estacionamento 
 
 
(a) Bordeaux – França (Chocat,1997) 
 
(b) Colorado – EUA (Maksimovic, 2000) 
Figura 8 - Bacias de detenção 
 
 
Figura 9 - Dois tipos de valas de infiltração em bairro residencial: Bordeaux-França (Chocat,1997) 
 
 
 
(a) - Bacia de detenção 
 
(b) - trincheira de infiltração 
Figura 10 – Estruturas de (a) e (b) em área comercial: Lyon-França 
 
 Uma medida muito simples e que pode dar uma contribuição razoável, é a desconexão da 
fonte de geração do escoamento superficial com a rede de drenagem pluvial, fazendo com que a 
água escoe por gramados ou superfícies relativamente rugosas e promovendo um amortecimento 
nos hidrogramas, bem como o aumento do tempo de concentração. 
 No Brasil, algumas pesquisas têm sido desenvolvidas no sentido de aumentar o conhecimento 
sobre o funcionamento de dispositivos alternativos, tais como microreservatório de detenção no lote 
(Cruz, 1998 e Agra, 2001), pavimentos permeáveis (Araújo, 1999) e trincheiras de infiltração 
(Goldenfum e Souza, 2001) (Figura 11). No entanto, estas pesquisas devem ser ampliadas e a 
utilização destes dispositivos deve ser estimulada, de forma a promover uma drenagem pluvial 
eficiente, em todos os sentidos (eficiência hidráulica, ambiental, urbanística, convivência do 
usuário). 
 
(a) Microreservatório de 
detenção 
 
(b) Pavimento permeável 
 
(c) Trincheira de infiltração 
Figura11 - Alguns dispositivos alternativos pesquisados no IPH-UFRGS 
 
CONCLUSÃO 
 
 A utilização de medidas compensatórias de drenagem é hoje uma necessidade, em função dos 
limites apresentados pelas soluções clássicas (rápida condução das águas para fora do meio urbano) 
e do seu alto custo de implantação e manutenção. 
 Na tentativa de criar sistemas mais duráveis e sustentáveis, as medidas compensatórias se 
apresentam como excelentes alternativas, mas para sua correta implementação faz-se necessária a 
participação de equipes multidisciplinares (comunidade, engenheiros, planejadores, urbanistas e 
todos os outros agentes deste sistema). 
 O grande desafio é, portanto, o de resolver os problemas de inundações urbanas, mas criando, 
ao mesmo tempo, espaços integrados, bem adaptados, criando condições para o aumento da 
qualidade de vida da população. É fundamental que os indivíduos tomem consciência da presença 
da água no meio urbano, para que, a partir daí, passem a trabalhar também na concepção e gestão 
destes sistemas. 
 No sentido de aumentar o conhecimento sobre o funcionamento destas novas soluções, faz-se 
necessário o investimento em novos trabalhos de pesquisas (de concepção, modelagem, 
experimentação). A adaptação de soluções já empregadas em países mais desenvolvidos e a criação 
de soluções totalmente integradas à realidade brasileira é fundamental. 
 
AGRADECIMENTOS 
Os projetos experimentais e dissertações de mestrado que despertaram para a importância da 
utilização destas estruturas contaram com o apoio e financiamento da CAPES, CNPq, PRONEX-
FINEP, RECOPE/REHIDRO. 
 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 
 
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Tabuleiro dos Martins – Maceió/AL. In: SIMPÓSIO BRASILEIRO DE RECURSOS 
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