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<p>Colocação Pronominal</p><p>GR0121 - (Enem)</p><p>A colocação pronominal é a posição que os pronomes</p><p>pessoais oblíquos átonos ocupam na frase em relação ao</p><p>verbo a que se referem. São pronomes oblíquos átonos:</p><p>me, te, se, o, os, a, as, lhe, lhes, nos e vos. Esses</p><p>pronomes podem assumir três posições na oração em</p><p>relação ao verbo. Próclise, quando o pronome é colocado</p><p>antes do verbo, devido a par�culas atra�vas, como o</p><p>pronome rela�vo. Ênclise, quando o pronome é colocado</p><p>depois do verbo, o que acontece quando este es�ver no</p><p>impera�vo afirma�vo ou no infini�vo impessoal regido</p><p>da preposição “a” ou quando o verbo es�ver no</p><p>gerúndio. Mesóclise, usada quando o verbo es�ver</p><p>flexionado no futuro do presente ou no futuro do</p><p>pretérito.</p><p>A mesóclise é um �po de colocação pronominal raro no</p><p>uso coloquial da língua portuguesa. No entanto, ainda é</p><p>encontrada em contextos mais formais, como se observa</p><p>em:</p><p>a) Não lhe negou que era um improviso.</p><p>b) Faz muito tempo que lhe falei essas coisas.</p><p>c) Nunca um homem se achou em mais apertado lance.</p><p>d) Referia-se à D. Evarista ou tê-la-ia encontrado em</p><p>algum outro autor?</p><p>e) Acabou de chegar dizendo-lhe que precisava retornar</p><p>ao serviço imediatamente.</p><p>GR0269 - (Unesp)</p><p>Cons�tuem exemplos de linguagem formal e de</p><p>linguagem coloquial, respec�vamente, as seguintes falas:</p><p>a) “Ah, estou morrendo de pena...” e “Ainda vou</p><p>trabalhar a noite inteira no Iraque, meu rapaz.”</p><p>b) “Me adianta essa, vai...” e “É cedo para mim.”</p><p>c) “O importante é trabalhar com o que a gente gosta.” e</p><p>“Posso lhe dar um emprego bem melhor...”</p><p>d) “É cedo para mim.” e “Posso lhe dar um emprego bem</p><p>melhor...”</p><p>e) “Posso lhe dar um emprego bem melhor...” e “Me</p><p>adianta essa, vai...”</p><p>GR0542 - (Esc. Naval)</p><p>Laivos de memória</p><p>“... e quando �verem chegado, vitoriosamente,</p><p>ao fim dessa primeira etapa,</p><p>mais ainda se convencerão de que</p><p>1@professorferretto @prof_ferretto</p><p>abraçaram uma carreira di�cil,</p><p>árdua, cheia de sacri�cios,</p><p>mas ú�l, nobre e, sobretudo bela.”</p><p>(NOSSA VOGA, Escola Naval, Ilha de Villegagnon, 1964)</p><p>Há quase 50 anos, experimentei um misto de</p><p>angús�a, tristeza e ansiedade que meu jovem coração de</p><p>adolescente soube suportar com bravura.</p><p>Naquela ocasião, despedia-me dos amigos de</p><p>infância e da família e deixava para trás bucólica</p><p>cidadezinha da região serrana fluminense. A mo�vação</p><p>que me levava a abandonar gentes e coisas tão caras era,</p><p>naquele momento, suficientemente forte para respaldar</p><p>a decisão tomada de dar novos rumos à minha vida. Meu</p><p>mundo de então se tornara pequeno demais para as</p><p>minhas aspirações. Meus desejos e sonhos projetavam</p><p>horizontes que iam muito além das montanhas que</p><p>circundam minha terra natal.</p><p>Como resis�r à sedução e ao fascínio que a vida no</p><p>mar desperta nos corações dos jovens? Havia, portanto,</p><p>uma convicção: aquelas despedidas, ainda que dolorosas</p><p>– e despedidas são sempre dolorosas – não seriam</p><p>certamente em vão. Não �nha dúvidas de que os sonhos</p><p>que acalentavam meu coração pouco a pouco iriam se</p><p>converter em realidade.</p><p>(...)</p><p>Inúmeros foram também os portos e cidades</p><p>visitadas, não só no Brasil como no exterior, o que</p><p>sempre nos proporciona ines�máveis e valiosos</p><p>conhecimentos, principalmente graças ao contato com</p><p>povos diferentes e até mesmo de culturas exó�cas e</p><p>hábitos às vezes totalmente diversos dos nossos, como os</p><p>ribeirinhos amazonenses ou os criadores de serpentes da</p><p>an�ga Taprobana, ex-Ceilão e hoje Sri Lanka.</p><p>Como foi fascinante e delicioso navegar por todos</p><p>esses cantos. Cada novo mar percorrido, cada nova</p><p>enseada, estreito ou porto visitado �nha sempre um</p><p>gosto especial de descoberta... Sim, pois, como dizia</p><p>Câmara Cascudo, “o mar não guarda os ves�gios das</p><p>quilhas que o atravessam. Cada marinheiro tem a ilusão</p><p>cordial do descobrimento”.</p><p>(CÉSAR, CMG (RM1) William Carmo. Laivos de memória.</p><p>In: Revista de Villegagnon, Ano IV, nº 4, 2009. p. 42-50.</p><p>Texto adaptado)</p><p>Assinale a opção em que o uso da ênclise se dá pelo</p><p>mesmo mo�vo observado em: “Naquela ocasião,</p><p>despedia-me dos amigos de infância e da família (...)” (2º</p><p>parágrafo)</p><p>a) Os Aspirantes sen�am-se orgulhosos de suas</p><p>conquistas acadêmicas.</p><p>b) Aqui, instalaram-se comodamente os atletas</p><p>brasileiros, durante os Jogos Olímpicos.</p><p>c) A mãe da jovem Aspirante �nha-lhe observado a</p><p>importância da escolha profissional.</p><p>d) Relatou-nos, com detalhes, as aventuras e desventuras</p><p>de sua úl�ma viagem de barco.</p><p>e) Os alunos não estavam gostando do livro, mas</p><p>con�nuavam a lê-lo.</p><p>GR0386 - (Enem)</p><p>Papos</p><p>– Me disseram...</p><p>– Disseram-me.</p><p>– Hein?</p><p>– O correto é “disseram-me”. Não “me disseram”.</p><p>– Eu falo como quero. E te digo mais... Ou é “digo-te”?</p><p>– O quê?</p><p>– Digo-te que você...</p><p>– O “te” e o “você” não combinam.</p><p>– Lhe digo?</p><p>– Também não. O que você ia me dizer?</p><p>– Que você está sendo grosseiro, pedante e chato. [...]</p><p>– Dispenso as suas correções. Vê se esquece-me. Falo</p><p>como bem entender. Mais uma correção e eu...</p><p>– O quê?</p><p>– O mato.</p><p>– Que mato?</p><p>– Mato-o. Mato-lhe. Mato você. Matar-lhe-ei-te. Ouviu</p><p>bem? Pois esqueça-o e para-te. Pronome no lugar certo é</p><p>eli�smo!</p><p>– Se você prefere falar errado...</p><p>– Falo como todo mundo fala. O importante é me</p><p>entenderem. Ou entenderem-me?</p><p>VERISSIMO, L. F. Comédias para se ler na escola. Rio de</p><p>Janeiro: Obje�va, 2001 (adaptado).</p><p>Nesse texto, o uso da norma-padrão defendido por um</p><p>dos personagens torna-se inadequado em razão do(a)</p><p>a) falta de compreensão causada pelo choque entre</p><p>gerações.</p><p>b) contexto de comunicação em que a conversa se dá.</p><p>c) grau de polidez dis�nto entre os interlocutores.</p><p>d) diferença de escolaridade entre os falantes.</p><p>e) nível social dos par�cipantes da situação.</p><p>GR0402 - (Unesp)</p><p>Leia a crônica “Seu ‘Afredo’”, de Vinicius de Moraes</p><p>(1913-1980).</p><p>2@professorferretto @prof_ferretto</p><p>Seu Afredo (ele sempre subtraía o “l” do nome, ao</p><p>se apresentar com uma ligeira curvatura: “Afredo Paiva,</p><p>um seu criado...”) tornou-se inesquecível à minha</p><p>infância porque tratava-se muito mais de um linguista</p><p>que de um encerador. Como encerador, não ia muito lá</p><p>das pernas. Lembro-me que, sempre depois de seu</p><p>trabalho, minha mãe ficava passeando pela sala com uma</p><p>flanelinha debaixo de cada pé, para melhorar o lustro.</p><p>Mas, como linguista, cultor do vernáculo1 e aplicador de</p><p>su�lezas grama�cais, seu Afredo estava sozinho.</p><p>Tratava-se de um mulato quarentão,</p><p>ultrarrespeitador, mas em quem a preocupação</p><p>linguís�ca perturbava às vezes a colocação pronominal.</p><p>Um dia, numa fila de ônibus, minha mãe ficou</p><p>ligeiramente ressabiada2 quando seu Afredo,</p><p>casualmente de passagem, parou junto a ela e</p><p>perguntou-lhe à queima-roupa, na segunda do singular:</p><p>– Onde vais assim tão elegante?</p><p>Nós lhe dávamos uma bruta corda. Ele falava horas a</p><p>fio, no ritmo do trabalho, fazendo os mais deliciosos</p><p>pedan�smos que já me foi dado ouvir. Uma vez, minha</p><p>mãe, em meio à lide3 caseira, queixou-se do fa�gante</p><p>ramerrão4 do trabalho domés�co. Seu Afredo virou-se</p><p>para ela e disse:</p><p>– Dona Lídia, o que a senhora precisa fazer é ir a um</p><p>médico e tomar a sua quilometragem. Diz que é muito</p><p>bão.</p><p>De outra feita, minha �a Graziela, recém-chegada de</p><p>fora, cantarolava ao piano enquanto seu Afredo,</p><p>acocorado perto dela, esfregava cera no soalho. Seu</p><p>Afredo nunca �nha visto minha �a mais gorda. Pois bem:</p><p>chegou-se a ela e perguntou-lhe:</p><p>– Cantas?</p><p>Minha �a, meio surpresa, respondeu com um riso</p><p>amarelo:</p><p>– É, canto às vezes, de brincadeira...</p><p>Mas, um tanto formalizada, foi queixar-se a minha</p><p>mãe, que lhe explicou o temperamento do nosso</p><p>encerador:</p><p>– Não, ele é assim mesmo. Isso não é falta de</p><p>respeito, não. É excesso de... gramá�ca.</p><p>Conta ela que seu Afredo, mal viu minha �a sair,</p><p>chegou-se a ela com ar disfarçado e falou:</p><p>– Olhe aqui, dona Lídia, não leve a mal, mas essa</p><p>menina, sua irmã, se ela pensa que pode cantar no rádio</p><p>com essa voz, ‘tá redondamente enganada. Nem em</p><p>programa de calouro!</p><p>E, a seguir, ponderou:</p><p>– Agora, piano é diferente. Pianista ela é!</p><p>E acrescentou:</p><p>– Eximinista pianista!</p><p>(Para uma menina com uma flor, 2009.)</p><p>1 vernáculo: a língua própria de um país; língua nacional.</p><p>2 ressabiado: desconfiado.</p><p>3 lide: trabalho penoso, labuta.</p><p>4 ramerrão: ro�na.</p><p>Observa-se no texto um desvio quanto às normas</p><p>grama�cais referentes à colocação pronominal em:</p><p>a) “Lembro-me que, sempre depois de seu trabalho,</p><p>minha mãe ficava passeando pela sala com uma</p><p>flanelinha debaixo de cada pé, para melhorar o lustro.”</p><p>(1º parágrafo)</p><p>b) “Seu Afredo [...] tornou-se inesquecível à minha</p><p>infância porque tratava-se muito mais de um linguista</p><p>que de um encerador.” (1º parágrafo)</p><p>c) “Tratava-se de um mulato quarentão,</p><p>ultrarrespeitador, mas em quem a preocupação</p><p>linguís�ca perturbava às vezes a colocação</p><p>pronominal.” (2º parágrafo)</p><p>d) “[...] seu Afredo, casualmente de passagem, parou</p><p>junto a ela e perguntou-lhe à queima-roupa, na</p><p>segunda do singular [...].” (2º parágrafo)</p><p>e) “Seu Afredo virou-se para ela e disse: [...].” (4º</p><p>parágrafo)</p><p>GR0125 - (Eear)</p><p>Em qual alterna�va o pronome oblíquo átono está</p><p>corretamente colocado?</p><p>a) Me indicaram ao cargo, mas não sou o melhor</p><p>candidato.</p><p>b) Nós havíamos indicado-lhe vários candidatos</p><p>merecedores do cargo.</p><p>c) Não lhe dariam o cargo se não fosse competente para</p><p>exercer tal função.</p><p>d) Em tratando-se de eficiência, ele deu provas</p><p>suficientes para merecer o cargo.</p><p>GR0122 - (Fgvsp)</p><p>O sertanejo, assoberbado de reveses, dobra-se,</p><p>afinal.</p><p>Passa, certo dia, à sua porta, a primeira turma de</p><p>“re�rantes”. Vê-a, assombrado, atravessar o terreiro,</p><p>miseranda, desaparecendo adiante numa nuvem de</p><p>poeira, na curva do caminho... No outro dia, outra. E</p><p>outras. É o sertão que se esvazia.</p><p>Não resiste mais. Amatula-se num daqueles</p><p>bandos, que lá se vão caminho em fora, debruando de</p><p>ossadas as veredas, e lá se vai ele no êxodo penosíssimo</p><p>para a costa, para as serras distantes, para quaisquer</p><p>lugares onde o não mate o elemento primordial da vida.</p><p>A�nge-os. Salva-se.</p><p>Passam-se meses. Acaba-se o flagelo. Ei-lo de</p><p>volta. Vence-o saudade do sertão. Remigra. E torna feliz,</p><p>revigorado, cantando; esquecido de infortúnios,</p><p>3@professorferretto @prof_ferretto</p><p>buscando as mesmas horas passageiras da ventura</p><p>perdidiça e instável, os mesmos dias longos de transes e</p><p>provações demoradas.</p><p>(Euclides da Cunha. Os Sertões)</p><p>Assinale a alterna�va que atende à norma-padrão de</p><p>colocação pronominal.</p><p>a) Vai-se o sertanejo no êxodo para a costa, para as</p><p>serras distantes – esvazia-se o sertão, ainda que a</p><p>saudade acompanhe o re�rante.</p><p>b) Quando acaba-se o flagelo, é como se todos os</p><p>problemas fossem esquecidos, e tudo se</p><p>reestabelecesse como antes.</p><p>c) Por fim, o sertanejo se dobra e, depois de tantos</p><p>re�rantes à sua porta, rapidamente amatula-se em um</p><p>daqueles bandos.</p><p>d) Ainda que o flagelo tenha ameaçado-o, o sertanejo</p><p>volta ao sertão, movido pela saudade por estar meses</p><p>longe de sua casa.</p><p>e) Se vê, com assombro, a primeira turma de re�rantes</p><p>atravessar o terreiro, e depois outras seguem-se nos</p><p>dias posteriores.</p><p>GR0126 - (Fuvest)</p><p>U�lize o conteúdo a seguir para responder à questão.</p><p>No enunciado “Mesmo porque onde colocam, ninguém</p><p>�ra.”, os complementos dos verbos “colocam” e “�ra”</p><p>não são expressos lexicalmente. Se expressos por</p><p>pronomes e seguindo a norma padrão da língua</p><p>portuguesa, o resultado seria:</p><p>a) “... onde colocam-no, ninguém o �ra.”</p><p>b) “... onde o colocam, ninguém �ra-o.”</p><p>c) “... onde lhe colocam, ninguém lhe �ra.”</p><p>d) “... onde o colocam, ninguém o �ra.”</p><p>e) “... onde colocam-lhe, ninguém �ra-lhe.”</p><p>GR0543 - (Esc. Naval)</p><p>Minha amiga me pergunta: por que você fala</p><p>sempre nas coisas que acontecem a primeira vez e,</p><p>sobretudo, as comparar com a primeira vez que você viu</p><p>o mar? Me lembro dessa cena: um adolescente chegando</p><p>ao Rio e o irmão lhe prevenindo: “Amanhã vou te</p><p>apresentar o mar.” Isto soava assim: amanhã vou te levar</p><p>ao outro lado do mundo, amanhã te ofereço a Lua.</p><p>Amanhã você já não será o mesmo homem.</p><p>E a cena con�nuou: resguardado pelo irmão mais</p><p>velho, que se assentou no banco do calçadão, o</p><p>adolescente, ousado e indefeso, caminha na areia para o</p><p>primeiro encontro com o mar. Ele não pisava na areia. Era</p><p>um oásis a caminhar. Ele não estava mais em Minas, mas</p><p>andava num campo de tulipas na Holanda. O mar a</p><p>primeira vez não é um rito que deixe um homem impune.</p><p>Algo nele vai-se aprofundar.</p><p>E o irmão lá atrás, respeitoso, era a sen�nela, o</p><p>sacerdote que deixa o iniciante no limiar do sagrado,</p><p>sabendo que dali para a frente o outro terá que, sozinho,</p><p>enfrentar o dragão. E o dragão lá vinha soltando pelas</p><p>narinas as ondas verdes de verão. E o pequeno cavaleiro,</p><p>destemido e in�midado, tomou de uma espada ou</p><p>pedaço de pau qualquer para enfrentar a hidra que</p><p>ondeava mil cabeças, e convertendo a arma em caneta</p><p>ou lápis começou a escrever na areia um texto que não</p><p>terminará jamais. Que é assim o ato de escrever: mais</p><p>que um modo de se postar diante do mar, é uma forma</p><p>de domar as vagas do presente convertendo-o num</p><p>cristal passado.</p><p>Não, não enchi a garrafinha de água salgada para</p><p>mostrar aos vizinhos �midos re�dos nas montanhas, e fiz</p><p>mal, porque muitos morreram sem jamais terem visto o</p><p>mar que eu lhes trazia. Mas levei as conchas, é verdade,</p><p>que na mesa interior marulhavam lembranças de um</p><p>luminoso encontro de amor com o mar.</p><p>Certa vez, adolescente ainda nas montanhas, li urna</p><p>crônica onde um leitor de Goiás pedia à cronista que lhe</p><p>explicasse, enfim, o que era o mar. Fiquei perplexo. Não</p><p>sabia que o mar fosse algo que se explicasse. Nem me</p><p>lembro da descrição. Me lembro apenas da pergunta.</p><p>Evidentemente eu não estava pronto para a resposta. A</p><p>resposta era o mar. E o mar eu conheci, quando pela</p><p>primeira vez aprendi que a vida não é a arte de</p><p>responder, mas a possibilidade de perguntar.</p><p>Os cariocas vão achar estranho, mas eu devo lhes</p><p>revelar: o carioca, com esse modo natural de ir à praia,</p><p>desvaloriza o mar. Ele vai ao mar com a sem-cerimônia</p><p>4@professorferretto @prof_ferretto</p><p>que o mineiro vai ao quintal. E o mar é mais que horta e</p><p>quintal. É quando atrás do verde-azul do instante o</p><p>desejo se alucina num cardume de flores no jardim. O</p><p>mar é isso: é quando os vagalhões da noite se</p><p>arrebentam na aurora do sim.</p><p>Ver o mar a primeira vez, lhes digo, é quando</p><p>Guimarães Rosa pela vez primeira, por nós, viu o sertão.</p><p>Ver o mar a primeira vez é quase abrir o primeiro</p><p>consultório, fazer a primeira operação. Ver o mar a</p><p>primeira vez é comprar pela primeira vez uma casa nas</p><p>montanhas: que surpresas ondearão entre a lareira e a</p><p>mesa de vinhos e queijos!</p><p>O mar é o mestre da primeira vez e não para de</p><p>ondear suas lições. Nenhuma onda é a mesma onda.</p><p>Nenhum peixe o mesmo peixe. Nenhuma tarde a mesma</p><p>tarde. O mar é um morrer sucessivo e um viver</p><p>permanente. Ele se desfolha em ondas e não para de</p><p>brotar. A contemplá-lo ao mesmo tempo sou jovem e</p><p>envelheço.</p><p>O mar é recomeço.</p><p>(SANT’ANNA, Affonso Romano de. O mar, a primeira vez.</p><p>In:_____. Fizemos bem em resis�r: crônicas selecionadas.</p><p>Rio de Janeiro: Rocco,1994, p.50-52. Texto adaptado)</p><p>Em que opção o verbo destacado permite apenas o uso</p><p>da próclise, de acordo com a norma-padrão?</p><p>a) “Me lembro dessa cena: um adolescente [...].” (1º</p><p>parágrafo).</p><p>b) “[...], que se assentou no banco do calçadão, [...].” (2º</p><p>parágrafo).</p><p>c) “[...], mas eu devo lhes revelar: [...].” (6º parágrafo).</p><p>d) “Ver o mar a primeira vez, lhes digo, [...].” (7º</p><p>parágrafo).</p><p>e) “Ele se desfolha em ondas e não para de brotar.” (8º</p><p>parágrafo).</p><p>GR0128 - (Fgvsp)</p><p>U�lize o conteúdo a seguir para responder à questão.</p><p>Pela tarde apareceu o Capitão Vitorino. Vinha</p><p>numa burra velha, de chapéu de palha muito alvo, com a</p><p>fita verde-amarela na lapela do paletó. O mestre José</p><p>Amaro estava sentado na tenda, sem trabalhar. E quando</p><p>viu o compadre alegrou-se. Agora as visitas de Vitorino</p><p>faziam-lhe bem. Desde aquele dia em que vira o</p><p>compadre sair com a filha para o Recife, fazendo tudo</p><p>com tão boa vontade, que Vitorino não lhe era mais o</p><p>homem infeliz, o pobre bobo, o sem-vergonha, o</p><p>vagabundo que tanto lhe desagradava. Vitorino apeou-se</p><p>para falar do ataque ao Pilar. Não era amigo de Quinca</p><p>Napoleão, achava que aquele bicho vivia de roubar o</p><p>povo, mas</p><p>não aprovava o que o capitão fizera com a D.</p><p>Inês.</p><p>— Meu compadre, uma mulher como a D. Inês é</p><p>para ser respeitada.</p><p>— E o capitão desrespeitou a velha, compadre?</p><p>— Eu não estava lá. Mas me disseram que botou</p><p>o rifle em cima dela, para fazer medo, para ver se D. Inês</p><p>lhe dava a chave do cofre. Ela não deu. José Medeiros,</p><p>que é homem, borrou-se todo quando lhe entrou um</p><p>cangaceiro no estabelecimento.</p><p>Me disseram que o safado chorava como bezerro</p><p>desmamado. Este cachorro anda agora com o fogo da</p><p>força da polícia fazendo o diabo com o povo.</p><p>(José Lins do Rego, Fogo Morto)</p><p>A colocação do pronome está adequada à situação</p><p>comunica�va da narra�va literária, mas está em</p><p>desacordo com a norma-padrão, na seguinte passagem</p><p>do texto:</p><p>a) E quando viu o compadre alegrou-se.</p><p>b) Agora as visitas de Vitorino faziam-lhe bem.</p><p>c) ... Vitorino não lhe era mais o homem infeliz, o pobre</p><p>bobo...</p><p>d) ... para ver se D. Inês lhe dava a chave do cofre.</p><p>e) Me disseram que o safado chorava como bezerro</p><p>desmamado.</p><p>GR0130 - (Efomm)</p><p>O médico e o monstro</p><p>Paulo Mendes Campos</p><p>Avental branco, pincenê vermelho, bigodes azuis,</p><p>ei-lo, grave, aplicando sobre o peito descoberto duma</p><p>criancinha um estetoscópio, e depois a injeção que a</p><p>enfermeira lhe passa.</p><p>O avental na verdade é uma camisa de homem</p><p>adulto a bater-lhe pelos joelhos; os bigodes foram</p><p>pintados por sua irmã, a enfermeira; a criancinha é uma</p><p>boneca de olhos cerúleos, mas já meio careca, que</p><p>atende pelo nome de Rosinha; os instrumentos para</p><p>exame e cirurgia saem duma caixinha de brinquedos.</p><p>Ela, seis anos e meio; o doutor tem cinco.</p><p>Enquanto trabalham, a enfermeira presta informações:</p><p>— Esta menina é boba mesmo, não gosta de</p><p>injeção, nem de vitamina, mas a irmãzinha dela adora.</p><p>O médico segura o microscópio, focaliza-o dentro</p><p>da boca de Rosinha, pede uma colher, manda a paciente</p><p>dizer aaá. Rosinha diz aaá pelos lábios da enfermeira. O</p><p>médico apanha o pincenê, que escorreu de seu nariz,</p><p>rabisca uma receita, enquanto a enfermeira con�nua:</p><p>— O senhor pode dar injeção que eu faço ela</p><p>tomar de qualquer jeito, porque é claro que se ela não</p><p>quiser, né, vai ficar muito magrinha que até o vento</p><p>carrega.</p><p>O médico, no entanto, prefere enrolar uma gaze</p><p>em torno do pescoço da boneca, diagnos�cando:</p><p>5@professorferretto @prof_ferretto</p><p>— Mordida de leão.</p><p>— Mordida de leão? — pergunta, desapontada, a</p><p>enfermeira, para logo aceitar este faz de conta dentro do</p><p>outro faz de conta; eu já disse tanto, meu Deus, para essa</p><p>garota não ir na floresta brincar com Chapeuzinho</p><p>Vermelho...</p><p>Novos clientes desfilam pela clínica: uma baiana</p><p>de acarajé, um urso muito resfriado, porque só gostava</p><p>de neve, um cachorro atropelado por lotação, outras</p><p>bonecas de vários tamanhos, um Papai Noel, uma bola</p><p>de borracha e até mesmo o pai e a mãe do médico e da</p><p>enfermeira.</p><p>De repente, o médico diz que está com sede e</p><p>corre para a cozinha, apertando o pincenê contra o rosto.</p><p>A mãe se aproveita disso para dar um beijo violento no</p><p>seu amor de filho e também para preparar-lhe um</p><p>copázio de vitaminas: tomate, cenoura, maçã, banana,</p><p>limão, laranja e aveia. O famoso pediatra, com um esgar</p><p>colérico, recusa a formidável droga.</p><p>— Tem de tomar, senão quem acaba no médico é</p><p>você mesmo, doutor.</p><p>Ele implora em vão por uma bebida mais inócua.</p><p>O copo é levado com energia aos seus lábios, a</p><p>beberagem é provada com uma careta. Em seguida,</p><p>propõe um trato:</p><p>— Só se você depois me der um sorvete.</p><p>A terrível mistura é sorvida com dificuldade e</p><p>repugnância, seus olhos se alteram nas órbitas, um</p><p>engasgo devolve o res�nho. A operação durou um quarto</p><p>de hora. A mãe recolhe o copo vazio com a alegria da</p><p>vitória e aplica no menino uma palmadinha carinhosa,</p><p>revidada com a ameaça dum chute. Já estamos a essa</p><p>altura, como não podia deixar de ser, presenciado a</p><p>metamorfose do médico em monstro.</p><p>Ao passar zunindo pela sala, o pincenê e o</p><p>avental são a�rados sobre o tapete com um gesto</p><p>desabrido. Do an�go médico resta um lindo bigode azul.</p><p>De máscara preta e espada, Mr. Hyde penetra no quarto,</p><p>onde a doce enfermeira con�nua a brincar, e desfaz com</p><p>uma espadeirada todo o consultório: microscópio,</p><p>estetoscópio, remédios, seringa, termômetro, tesoura,</p><p>gaze, esparadrapo, bonecas, tudo se derrama pelo chão.</p><p>A enfermeira dá um grito de horror e começa a chorar</p><p>nervosamente. O monstro, exultante, espeta-lhe a</p><p>espada na barriga e brada:</p><p>— Eu sou o Demônio do Deserto!</p><p>Ainda sob o efeito das vitaminas, preso na</p><p>solidão escura do mal, desatento a qualquer autoridade</p><p>materna ou paterna, com o diabo no corpo, o monstro</p><p>vai espalhando o terror a seu redor: é a televisão ligada</p><p>ao máximo, é o divã massacrado sob os seus pés, é um</p><p>cometa indo �nir no ouvido da cozinheira, um vaso</p><p>quebrado, uma cor�na que se despenca, um grito, um</p><p>uivo, um rugido animal, é o doce derramado, a torneira</p><p>inundando o banheiro, a revista nova dilacerada, é,</p><p>enfim, o flagelo à solta no sexto andar dum apartamento</p><p>carioca.</p><p>Subitamente, o monstro se acalma. Suado e</p><p>ofegante, senta-se sobre os joelhos do pai, pedindo com</p><p>doçura que conte uma história ou lhe compre um</p><p>carneirinho de verdade.</p><p>E a paz e a ternura de novo abrem suas asas num</p><p>lar ameaçado pelas forças do mal.</p><p>OBS.: O texto foi adaptado às regras no Novo Acordo</p><p>Ortográfico.</p><p>Paulo Mendes Campos. O médico e o monstro. In:</p><p>Fernando Sabino e outros. Crônicas 2. 19. ed. São Paulo:</p><p>Á�ca, 2003. p. 20-22.</p><p>É possível o deslocamento do pronome átono na opção:</p><p>a) (...) e depois a injeção que a enfermeira lhe passa.</p><p>b) (...) gaze, esparadrapo, bonecas, tudo se derrama pelo</p><p>chão.</p><p>c) O médico segura o microscópio, focaliza-o dentro da</p><p>boca (...).</p><p>d) Suado e ofegante, senta-se sobre os joelhos do pai,</p><p>pedindo (...).</p><p>e) A mãe se aproveita disso para dar um beijo violento</p><p>(...).</p><p>GR0127 - (Fgvsp)</p><p>U�lize o conteúdo a seguir para responder à questão.</p><p>O velho Lima</p><p>O velho Lima, que era empregado — empregado</p><p>an�go — numa das nossas repar�ções públicas, e morava</p><p>no Engenho de Dentro, caiu de cama, seriamente</p><p>enfermo, no dia 14 de novembro de 1889, isto é, na</p><p>véspera da Proclamação da República dos Estados Unidos</p><p>do Brasil.</p><p>O doente não considerou a molés�a coisa de</p><p>cuidado, e tanto assim foi que não quis médico.</p><p>Entretanto, o velho Lima esteve de molho oito dias.</p><p>O nosso homem �nha o hábito de não ler jornais</p><p>e, como em casa nada lhe dissessem (porque nada</p><p>sabiam), ele ignorava completamente que o Império se</p><p>transformara em República.</p><p>No dia 23, restabelecido e pronto para outra,</p><p>comprou um bilhete, segundo o seu costume, e tomou</p><p>lugar no trem, ao lado do comendador Vidal, que o</p><p>recebeu com estas palavras:</p><p>— Bom dia, cidadão.</p><p>O velho Lima estranhou o cidadão, mas de si</p><p>para si pensou que o comendador dissera aquilo como</p><p>poderia ter dito ilustre, e não deu maior importância ao</p><p>cumprimento, limitando-se a responder:</p><p>— Bom dia, comendador.</p><p>— Qual comendador! Chama-me Vidal! Já não há</p><p>mais comendadores!</p><p>6@professorferretto @prof_ferretto</p><p>— Ora essa! Então por quê?</p><p>— A República deu cabo de todas as comendas!</p><p>Acabaram-se!</p><p>O velho Lima encarou o comendador e calou-se,</p><p>receoso de não ter compreendido a pilhéria.</p><p>Ao entrar na sua seção, o velho Lima sentou-se e</p><p>viu que �nham �rado da parede uma velha litografia</p><p>representando D. Pedro de Alcântara. Como na ocasião</p><p>passasse um con�nuo, perguntou-lhe:</p><p>— Por que �raram da parede o retrato de Sua</p><p>Majestade?</p><p>O con�nuo respondeu num tom lentamente</p><p>desdenhoso:</p><p>— Ora, cidadão, que fazia ali a figura do Pedro</p><p>Banana?</p><p>— Pedro Banana! — repe�u raivoso o velho</p><p>Lima.</p><p>— Não dou três anos para que isso seja</p><p>República!</p><p>(Arthur Azevedo. Seleção de contos, 2014)</p><p>Assinale a alterna�va em que a passagem está reescrita,</p><p>de acordo os sen�dos do original e com a norma-padrão</p><p>de emprego e colocação de pronomes.</p><p>a) O nosso homem �nha o hábito de não ler jornais e,</p><p>como em casa nada lhe dissessem... (3° parágrafo) = O</p><p>nosso homem desconhecia o hábito de não ler jornais</p><p>e, como em casa nada falou-se a ele...</p><p>b) ... ele ignorava completamente que o Império se</p><p>transformara</p><p>em República. (3° parágrafo) = ... ele</p><p>ignorava completamente que o Império �nha</p><p>transformado-se em República.</p><p>c) ... e tomou lugar no trem, ao lado do comendador</p><p>Vidal, que o recebeu com estas palavras... (4°</p><p>parágrafo) = ... e tomou lugar no trem, ao lado do</p><p>comendador Vidal, que acolheu-lhe com estas</p><p>palavras...</p><p>d) O velho Lima estranhou o cidadão, mas de si para si</p><p>pensou que o comendador dissera aquilo como</p><p>poderia ter dito ilustre... (6° parágrafo) = Espantou-se</p><p>o velho Lima com o cidadão, mas pensou com seus</p><p>botões que lhe dissera aquilo o comendador como</p><p>poderia ter dito ilustre...</p><p>e) — Qual comendador! Chama-me Vidal! Já não há mais</p><p>comendadores! (8° parágrafo) = — Qual comendador!</p><p>Me chama de Vidal! Agora não tem-se mais</p><p>comendadores!</p><p>GR0123 - (Uems)</p><p>Infinito Par�cular</p><p>1 - Eis o melhor e o pior de mim</p><p>O meu termômetro, o meu quilate</p><p>Vem, cara, me retrate</p><p>Não é impossível</p><p>5 - Eu não sou di�cil de ler</p><p>Faça sua parte</p><p>Eu sou daqui e não sou de Marte</p><p>Vem, cara, me repara</p><p>Não vê, tá na cara, sou porta-bandeira de mim</p><p>10 - Só não se perca ao entrar</p><p>No meu infinito par�cular</p><p>Em alguns instantes</p><p>Sou pequenina e também gigante</p><p>Vem, cara, se declara</p><p>15 - O mundo é portá�l</p><p>Pra quem não tem nada a esconder</p><p>Olha minha cara</p><p>É só mistério, não tem segredo</p><p>Vem cá, não tenha medo</p><p>20 - A água é potável</p><p>Daqui você pode beber</p><p>Só não se perca ao entrar</p><p>No meu infinito par�cular</p><p>Assinale a alterna�va em que ocorrem simultaneamente</p><p>uma colocação pronominal e um vocábulo inaceitáveis do</p><p>ponto de vista do padrão grama�cal culto:</p><p>a) Eis o melhor e o pior de mim.</p><p>b) Faça sua parte.</p><p>c) Só não se perca ao entrar.</p><p>d) Eu sou daqui e não sou de Marte.</p><p>e) Vem, cara, me retrate.</p><p>GR0131 - (Fgvsp)</p><p>Sua excelência</p><p>[O ministro] vinha absorvido e tangido por uma</p><p>chusma de sen�mentos a�nentes a si mesmo que quase</p><p>lhe falavam a um tempo na consciência: orgulho, força,</p><p>valor, sa�sfação própria etc. etc.</p><p>Não havia um nega�vo, não havia nele uma</p><p>dúvida; todo ele estava embriagado de certeza de seu</p><p>valor intrínseco, das suas qualidades extraordinárias e</p><p>excepcionais de condutor dos povos. A respeitosa a�tude</p><p>de todos e a deferência universal que o cercavam,</p><p>reafirmadas tão eloquentemente naquele banquete,</p><p>eram nada mais, nada menos que o sinal da convicção</p><p>dos povos de ser ele o resumo do país, vendo nele o</p><p>solucionador das suas dificuldades presentes e o agente</p><p>eficaz do seu futuro e constante progresso.</p><p>Na sua ação repousavam as pequenas</p><p>esperanças dos humildes e as desmarcadas ambições dos</p><p>ricos.</p><p>Era tal o seu inebriamento que chegou a</p><p>esquecer as coisas feias do seu o�cio... Ele se julgava, e</p><p>só o que lhe parecia grande entrava nesse julgamento.</p><p>7@professorferretto @prof_ferretto</p><p>As obscuras determinações das coisas,</p><p>acertadamente, haviam-no erguido até ali, e mais alto</p><p>levá-lo-iam, visto que, só ele, ele só e unicamente, seria</p><p>capaz de fazer o país chegar ao des�no que os</p><p>antecedentes dele impunham.</p><p>(Lima Barreto. Os bruzundangas. Porto Alegre: L&PM,</p><p>1998, pp. 15-6)</p><p>Assinale a alterna�va em que a nova posição dos</p><p>pronomes átonos, na frase reescrita, está de acordo com</p><p>a norma-padrão do português escrito.</p><p>a) A respeitosa a�tude de todos e a deferência universal</p><p>que cercavam-no.</p><p>b) As obscuras determinações das coisas acertadamente</p><p>o haviam erguido até ali.</p><p>c) Ele julgava-se e só o que parecia-lhe grande entrava</p><p>nesse julgamento.</p><p>d) ... uma chusma de sen�mentos a�nentes a si mesmo</p><p>que quase falavam-lhe.</p><p>e) As obscuras determinações das coisas,</p><p>acertadamente, mais alto levariam-no.</p><p>GR0133 - (Epcar)</p><p>O ídolo</p><p>Em um belo dia, a deusa dos ventos beija o pé do</p><p>homem, o maltratado, desprezado pé, e, desse beijo,</p><p>nasce o ídolo do futebol. Nasce em berço de palha e</p><p>barraco de lata e vem ao mundo abraçado a uma bola.</p><p>Desde que aprende a andar, sabe jogar. Quando</p><p>criança, alegra os descampados e os baldios, joga e joga e</p><p>joga nos ermos dos subúrbios até que a noite cai e</p><p>ninguém mais consegue ver a bola, e, quando jovem, voa</p><p>e faz voar nos estádios. Suas artes de malabarista</p><p>convocam mul�dões, domingo após domingo, de vitória</p><p>em vitória, de ovação em ovação.</p><p>A bola o procura, o reconhece, precisa dele. No</p><p>peito de seu pé, ela descansa e se embala. Ele lhe dá</p><p>brilho e a faz falar, e neste diálogo entre os dois, milhões</p><p>de mudos conversam. Os Zé Ninguém, os condenados a</p><p>serem para sempre ninguém, podem sen�r-se alguém</p><p>por um momento, por obra e graça desses passes</p><p>devolvidos num toque, essas fintas que desenham os zês</p><p>na grama, esses golaços de calcanhar ou de bicicleta:</p><p>quando ele joga o �me tem doze jogadores.</p><p>– Doze? Tem quinze! Vinte!</p><p>A bola ri, radiante, no ar. Ele a amortece, a</p><p>adormece, diz galanteios, dança com ela, e vendo essas</p><p>coisas nunca vistas, seus adoradores sentem piedade por</p><p>seus netos ainda não nascidos, que não estão vendo o</p><p>que acontece.</p><p>Mas o ídolo é ídolo apenas por um momento,</p><p>humana eternidade, coisa de nada; e quando chega a</p><p>hora do azar para o pé de ouro, a estrela conclui sua</p><p>viagem do resplendor à escuridão. Esse corpo está com</p><p>mais remendos que roupa de palhaço, o acrobata virou</p><p>paralí�co, o ar�sta é uma besta:</p><p>– Com a ferradura, não!</p><p>A fonte da felicidade pública se transforma no</p><p>para-raios do rancor público:</p><p>– Múmia!</p><p>Às vezes, o ídolo não cai inteiro. E, às vezes,</p><p>quando se quebra, a mul�dão o devora aos pedaços.</p><p>(Eduardo Galeano. Futebol, ao sol e à sombra.)</p><p>Leia o trecho abaixo.</p><p>“Os Zé Ninguém, os condenados a serem para sempre</p><p>ninguém, podem sen�r-se alguém por um momento, por</p><p>obra e graça desses passes devolvidos num toque, essas</p><p>fintas que desenham os zês na grama...” (9)</p><p>De acordo com a análise morfossintá�ca dos termos</p><p>destacados abaixo, pode-se concluir que está INCORRETA</p><p>a afirma�va:</p><p>a) Em Zé Ninguém, há uma derivação imprópria, já que</p><p>foi u�lizado um pronome indefinido como substan�vo</p><p>próprio.</p><p>b) Em “A fonte da felicidade pública se transforma no</p><p>para-raios do rancor público”, (7), a expressão</p><p>destacada qualifica o sujeito.</p><p>c) O substan�vo destacado em “...esses golaços de</p><p>calcanhar ou de bicicleta...” foi formado a par�r de</p><p>sufixação.</p><p>d) Caso antes da locução “... podem sen�r-se alguém...”,</p><p>houvesse uma palavra nega�va, o pronome se teria</p><p>que, obrigatoriamente, vir antes do verbo poder.</p><p>GR0134 - (Efomm)</p><p>A úl�ma crônica</p><p>A caminho de casa, entro num botequim da</p><p>Gávea para tomar um café junto ao balcão. Na realidade</p><p>estou adiando o momento de escrever. A perspec�va me</p><p>assusta. Gostaria de estar inspirado, de coroar com êxito</p><p>mais um ano nesta busca do pitoresco ou do irrisório no</p><p>co�diano de cada um. Eu pretendia apenas recolher da</p><p>vida diária algo de seu disperso conteúdo humano, fruto</p><p>da convivência, que a faz mais digna de ser vivida. Visava</p><p>ao circunstancial, ao episódico. Nesta perseguição do</p><p>acidental, quer num flagrante de esquina, quer nas</p><p>palavras de uma criança ou num acidente domés�co,</p><p>torno-me simples espectador e perco a noção do</p><p>essencial. Sem mais nada contar, curvo a cabeça e tomo</p><p>meu café, enquanto o verso do poeta se repete na</p><p>lembrança: “assim eu quereria o meu úl�mo poema”.</p><p>Não sou poeta e estou sem assunto. Lanço então um</p><p>úl�mo olhar fora de mim, onde vivem os assuntos que</p><p>merecem uma crônica.</p><p>8@professorferretto @prof_ferretto</p><p>Ao fundo do botequim um casal de pretos acaba</p><p>de sentar-se, numa das úl�mas mesas de mármore ao</p><p>longo da parede de espelhos. A compostura da</p><p>humildade, na contenção de gestos e palavras, deixa-se</p><p>acentuar pela presença de uma negrinha de seus três</p><p>anos, laço na cabeça, toda arrumadinha no ves�do</p><p>pobre, que se instalou também à mesa: mal ousa</p><p>balançar as perninhas curtas ou correr os olhos grandes</p><p>de curiosidade ao redor. Três seres esquivos que</p><p>compõem em torno à mesa a ins�tuição tradicional da</p><p>família, célula da sociedade. Vejo, porém, que se</p><p>preparam para algo mais que matar a fome.</p><p>Passo a observá-los. O pai, depois de contar o</p><p>dinheiro que discretamente re�rou do bolso, aborda o</p><p>garçom, inclinando- se para trás na cadeira, e aponta no</p><p>balcão um pedaço de bolo sob a redoma. A mãe limita-se</p><p>a ficar olhando</p><p>imóvel, vagamente ansiosa, como se</p><p>aguardasse a aprovação do garçom. Este ouve,</p><p>concentrado, o pedido do homem e depois se afasta para</p><p>atendê-lo. A mulher suspira, olhando para os lados, a</p><p>reassegurar-se da naturalidade de sua presença ali. Ao</p><p>meu lado o garçom encaminha a ordem do freguês. O</p><p>homem atrás do balcão apanha a porção do bolo com a</p><p>mão, larga-o no pra�nho — um bolo simples, amarelo-</p><p>escuro, apenas uma pequena fa�a triangular.</p><p>A negrinha, con�da na sua expecta�va, olha a</p><p>garrafa de Coca-Cola e o pra�nho que o garçom deixou à</p><p>sua frente. Por que não começa a comer? Vejo que os</p><p>três, pai, mãe e filha, obedecem em torno à mesa a um</p><p>discreto ritual. A mãe remexe na bolsa de plás�co preto e</p><p>brilhante, re�ra qualquer coisa. O pai se mune de uma</p><p>caixa de fósforos, e espera. A filha aguarda também,</p><p>atenta como um animalzinho. Ninguém mais os observa</p><p>além de mim.</p><p>São três velinhas brancas, minúsculas, que a mãe</p><p>espeta caprichosamente na fa�a do bolo. E enquanto ela</p><p>serve a Coca-Cola, o pai risca o fósforo e acende as velas.</p><p>Como a um gesto ensaiado, a menininha repousa o</p><p>queixo no mármore e sopra com força, apagando as</p><p>chamas. Imediatamente põe-se a bater palmas, muito</p><p>compenetrada, cantando num balbucio, a que os pais se</p><p>juntam, discretos: “parabéns pra você, parabéns pra</p><p>você. . .“ Depois a mãe recolhe as velas, torna a guardá-</p><p>las na bolsa. A negrinha agarra finalmente o bolo com as</p><p>duas mãos sôfregas e põe-se a comê-lo. A mulher está</p><p>olhando para ela com ternura — ajeita-lhe a fi�nha no</p><p>cabelo crespo, limpa o farelo de bolo que lhe cai ao colo,</p><p>O pai corre os olhos pelo botequim, sa�sfeito, como a se</p><p>convencer in�mamente do sucesso da celebração. De</p><p>súbito, dá comigo a observá-lo, nossos olhos se</p><p>encontram, ele se perturba, constrangido — vacila,</p><p>ameaça abaixar a cabeça, mas acaba sustentando o olhar</p><p>e enfim se abre num sorriso.</p><p>Assim eu quereria a minha úl�ma crônica: que</p><p>fosse pura como esse sorriso.</p><p>SABINO, Fernando. A companheira de viagem. Rio de</p><p>Janeiro: Record, 1972.</p><p>Considerando-se a colocação pronominal, assinale a</p><p>opção que apresenta a possibilidade de deslocamento do</p><p>pronome átono.</p><p>a) “O homem atrás do balcão apanha a porção de bolo</p><p>com a mão, larga-o no pra�nho (...)”.</p><p>b) “O pai se mune de uma caixa de fósforos (...)”.</p><p>c) “(...) Quer nas palavras de uma criança ou num</p><p>acidente domés�co, torno-me simples espectador</p><p>(...)”.</p><p>d) “Vejo, porém, que se preparam para algo mais (...)”.</p><p>e) “Ninguém os observa além de mim”.</p><p>GR0392 - (Fuvest)</p><p>O OPERÁRIO NO MAR</p><p>Na rua passa um operário. Como vai firme! Não tem</p><p>blusa. No conto, no drama, no discurso polí�co, a dor do</p><p>operário está na blusa azul, de pano grosso, nas mãos</p><p>grossas, nos pés enormes, nos desconfortos enormes.</p><p>Esse é um homem comum, apenas mais escuro que os</p><p>outros, e com uma significação estranha no corpo, que</p><p>carrega desígnios e segredos. Para onde vai ele, pisando</p><p>assim tão firme? Não sei. A fábrica ficou lá atrás. Adiante</p><p>é só o campo, com algumas árvores, o grande anúncio de</p><p>gasolina americana e os fios, os fios, os fios. O operário</p><p>não lhe sobra tempo de perceber que eles levam e</p><p>trazem mensagens, que contam da Rússia, do Araguaia,</p><p>dos Estados Unidos. Não ouve, na Câmara dos</p><p>Deputados, o líder oposicionista vociferando. Caminha no</p><p>campo e apenas repara que ali corre água, que mais</p><p>adiante faz calor. Para onde vai o operário? Teria</p><p>vergonha de chamá-lo meu irmão. Ele sabe que não é,</p><p>nunca foi meu irmão, que não nos entenderemos nunca.</p><p>E me despreza... Ou talvez seja eu próprio que me</p><p>despreze a seus olhos. Tenho vergonha e vontade de</p><p>encará-lo: uma fascinação quase me obriga a pular a</p><p>janela, a cair em frente dele, sustar-lhe a marcha, pelo</p><p>menos implorar-lhe que suste a marcha. Agora está</p><p>caminhando no mar. Eu pensava que isso fosse privilégio</p><p>e alguns santos e de navios. Mas não há nenhuma</p><p>san�dade no operário, e não vejo rodas nem hélices no</p><p>seu corpo, aparentemente banal. Sinto que o mar se</p><p>acovardou e deixou-o passar. Onde estão nossos</p><p>exércitos que não impediram o milagre? Mas agora vejo</p><p>que o operário está cansado e que se molhou, não muito,</p><p>mas se molhou, e peixes escorrem de suas mãos. Vejo-o</p><p>que se volta e me dirige um sorriso úmido. A palidez e</p><p>confusão do seu rosto são a própria tarde que se</p><p>decompõe. Daqui a um minuto será noite e estaremos</p><p>irremediavelmente separados pelas circunstâncias</p><p>atmosféricas, eu em terra firme, ele no meio do mar.</p><p>9@professorferretto @prof_ferretto</p><p>Único e precário agente de ligação entre nós, seu sorriso</p><p>cada vez mais frio atravessa as grandes massas líquidas,</p><p>choca-se contra as formações salinas, as fortalezas da</p><p>costa, as medusas, atravessa tudo e vem beijar-me o</p><p>rosto, trazer-me uma</p><p>esperança de compreensão. Sim, quem sabe se um dia o</p><p>compreenderei?</p><p>(Carlos Drummond de Andrade, Sen�mento do Mundo.)</p><p>Dentre estas propostas de subs�tuição para diferentes</p><p>trechos do texto, a única que NÃO está correta do ponto</p><p>de vista da norma-padrão é:</p><p>a) “Para onde vai ele, (…)?” = Aonde vai ele, (…)?</p><p>b) “O operário não lhe sobra tempo de perceber” = Ao</p><p>operário não lhe sobra tempo de perceber.</p><p>c) “Teria vergonha de chamá-lo meu irmão” = Teria</p><p>vergonha de chamá-lo de meu irmão.</p><p>d) “Tenho vergonha e vontade de encará-lo” = Tenho</p><p>vergonha e vontade de o encarar.</p><p>e) “Quem sabe se um dia o compreenderei” = quem sabe</p><p>um dia compreenderei-o.</p><p>GR0124 - (Unesp)</p><p>Para responder à questão, leia a crônica “Seu ‘Afredo’”,</p><p>de Vinicius de Moraes (1913-1980), publicada</p><p>originalmente em setembro de 1953.</p><p>Seu Afredo (ele sempre subtraía o “l” do nome, ao se</p><p>apresentar com uma ligeira curvatura: “Afredo Paiva, um</p><p>seu criado...”) tornou-se inesquecível à minha infância</p><p>porque tratava-se muito mais de um linguista que de um</p><p>encerador. Como encerador, não ia muito lá das pernas.</p><p>Lembro-me que, sempre depois de seu trabalho, minha</p><p>mãe ficava passeando pela sala com uma flanelinha</p><p>debaixo de cada pé, para melhorar o lustro. Mas, como</p><p>linguista, cultor do vernáculo¹ e aplicador de su�lezas</p><p>grama�cais, seu Afredo estava sozinho.</p><p>Tratava-se de um mulato quarentão, ultrarrespeitador,</p><p>mas em quem a preocupação linguís�ca perturbava às</p><p>vezes a colocação pronominal. Um dia, numa fila de</p><p>ônibus, minha mãe ficou ligeiramente ressabiada2</p><p>quando seu Afredo, casualmente de passagem, parou</p><p>junto a ela e perguntou-lhe à queima-roupa, na segunda</p><p>do singular:</p><p>– Onde vais assim tão elegante?</p><p>Nós lhe dávamos uma bruta corda. Ele falava horas a</p><p>fio, no ritmo do trabalho, fazendo os mais deliciosos</p><p>pedan�smos que já me foi dado ouvir. Uma vez, minha</p><p>mãe, em meio à lide3 caseira, queixou-se do fa�gante</p><p>ramerrão4 do trabalho domés�co. Seu Afredo virou-se</p><p>para ela e disse:</p><p>– Dona Lídia, o que a senhora precisa fazer é ir a um</p><p>médico e tomar a sua quilometragem. Diz que é muito</p><p>bão.</p><p>De outra feita, minha �a Graziela, recém-chegada de</p><p>fora, cantarolava ao piano enquanto seu Afredo,</p><p>acocorado perto dela, esfregava cera no soalho. Seu</p><p>Afredo nunca �nha visto minha �a mais gorda. Pois bem:</p><p>chegou-se a ela e perguntou-lhe:</p><p>– Cantas? Minha �a, meio surpresa, respondeu com</p><p>um riso amarelo:</p><p>– É, canto às vezes, de brincadeira...</p><p>Mas, um tanto formalizada, foi queixar-se a minha</p><p>mãe, que lhe explicou o temperamento do nosso</p><p>encerador:</p><p>– Não, ele é assim mesmo. Isso não é falta de</p><p>respeito, não. É excesso de... gramá�ca.</p><p>Conta ela que seu Afredo, mal viu minha �a sair,</p><p>chegou-se a ela com ar disfarçado e falou:</p><p>– Olhe aqui, dona Lídia, não leve a mal, mas essa</p><p>menina, sua irmã, se ela pensa que pode cantar no rádio</p><p>com essa voz, ‘tá redondamente enganada. Nem em</p><p>programa de calouro!</p><p>E, a seguir, ponderou:</p><p>– Agora, piano é diferente. Pianista ela é!</p><p>E acrescentou:</p><p>– Eximinista pianista!</p><p>(Para uma menina com uma flor, 2009.)</p><p>1 vernáculo: a língua própria de um país; língua nacional.</p><p>2 ressabiado: desconfiado.</p><p>3 lide: trabalho penoso, labuta.</p><p>4 ramerrão: ro�na.</p><p>Observa-se no texto um desvio quanto às normas</p><p>grama�cais referentes à colocação</p><p>pronominal em:</p><p>a) “Lembro-me que, sempre depois de seu trabalho,</p><p>minha mãe ficava passeando pela sala com uma</p><p>flanelinha debaixo de cada pé, para melhorar o lustro.”</p><p>(1º parágrafo)</p><p>b) “Seu Afredo [...] tornou-se inesquecível à minha</p><p>infância porque tratava-se muito mais de um linguista</p><p>que de um encerador.” (1º parágrafo)</p><p>c) “Tratava-se de um mulato quarentão,</p><p>ultrarrespeitador, mas em quem a preocupação</p><p>linguís�ca perturbava às vezes a colocação</p><p>pronominal.” (2º parágrafo)</p><p>d) “[...] seu Afredo, casualmente de passagem, parou</p><p>junto a ela e perguntou-lhe à queima-roupa, na</p><p>segunda do singular [...].” (2º parágrafo)</p><p>e) “Seu Afredo virou-se para ela e disse: [...].” (4º</p><p>parágrafo)</p><p>GR0129 - (Efomm)</p><p>Um quarto de rapaz</p><p>Elsie Lessa</p><p>10@professorferretto @prof_ferretto</p><p>Abro as venezianas na alegria do sol desta</p><p>manhã e só não ponho a mão na cabeça porque, afinal</p><p>das contas, o correr dos anos nos dá uma certa filosofia.</p><p>Essa rapaziada parece que é mesmo toda assim.</p><p>Quem sai para uma prova de matemá�ca não há</p><p>mesmo de ter deixado a cama feita, tanto mais quando</p><p>ficou lendo Carlos Drummond de Andrade até às tantas,</p><p>como prova este Poesia até agora, rubro de vergonha de</p><p>ter sido largado no chão junto a este cinzeiro</p><p>transbordante e às meias azuis de náilon. E dizer que</p><p>desde que esse menino nasceu tento provar-lhe que já</p><p>não estamos — hélas! — no tempo da escravidão e que</p><p>somos nós mesmos, brancos, pretos ou amarelos,</p><p>intelectuais ou estudantes em provas, que devemos</p><p>encaminhar ao des�no conveniente as roupas da</p><p>véspera. Qual, ele não se convence. Também uma manta</p><p>escocesa, de suaves lãs macias, que a mãe da gente</p><p>trouxe embaixo do braço da Inglaterra até aqui, para que</p><p>nos aqueça nas noites de inverno, não devia ser largada</p><p>no chão, nem mesmo na companhia de um livro de</p><p>versos. E quem é que está ligando para tudo isso?</p><p>Ó mocidade inquieta, só mesmo o que está em</p><p>ordem dentro deste quarto são os montes de discos. E</p><p>estes livros, meu Deus? Como é que gente que gosta de</p><p>ler pode deixar os próprios livros numa bagunça dessas?</p><p>Coitado do Pablo Neruda, olha onde foi parar! E o Dom</p><p>Quixote de la Mancha, Virgem San�ssima! Há três</p><p>gerações que os antepassados desse menino não fazem</p><p>outra coisa senão escrever livros, e ele os trata assim!</p><p>— Livro é pra ler! Não é para enfeitar estante!</p><p>— Está certo! Que não enfeite, mas também não</p><p>precisam ser empurrados desse jeito, lá para o fundo,</p><p>com esse monte de revistas de jazz em cima! E custava,</p><p>criatura, custava você pendurar essas calças nesse</p><p>guarda-roupa que é para você, sozinho, que é provido de</p><p>cabides, que não têm outro des�no senão abrigar as suas</p><p>calças?</p><p>— Mania de ordem é complexo de culpa, já te</p><p>avisei! Meu quarto está ó�mo, está formidável. E não</p><p>gosto que mexa, hein, senão depois não acho as minhas</p><p>coisas!</p><p>E pensar que esse menino um dia casa e vai levar</p><p>essas noções de arrumação para a infeliz da esposa, e</p><p>que juízo, que juízo vai fazer essa moça de mim, meu</p><p>Deus do céu! Há bem uns quinze anos que esse problema</p><p>me atormenta, tenho trocado confidências com amigas e</p><p>há várias opiniões a respeito. Umas acham que um dia dá</p><p>um estalo de Padre Vieira na cabeça desses moleques e</p><p>passam a pendurar a roupa, �rar pó de livro, desamarrar</p><p>o sapato antes de �rar do pé.</p><p>Pode ser. Deus permita! Mas que agonia,</p><p>enquanto isso não acontece.</p><p>Dizer que peregrinei por an�quários para</p><p>descobrir nobres jacarandás, de boa es�rpe, que o</p><p>rodeassem em todas as suas horas, que lhe infundissem</p><p>o gosto das coisas belas. Qual! Pendurei a balada do</p><p>“If” (^1) em cima de todos esses discos de jazz, e sobre a</p><p>vitrola, já nem sei por quê, esse belo retrato de</p><p>Napoleão, em esmalte, vindo das margens do Sena! E ele</p><p>está se importando? O violão está sem cordas, e em cima</p><p>do meu retrato, radioso retrato da minha juventude, ele</p><p>já pôs o Billy Ecks�ne, a Sarah Vaughan, a Ava Gardner de</p><p>biquíni e duas namoradas ora descartadas! E não �ra um,</p><p>antes de colocar o outro! Vai empurrando por cima e já a</p><p>moldura estoura com essa variedade de predileções! São</p><p>Sebas�ão, na sua peanha dourada, está de olhos</p><p>erguidos para o alto e, felizmente, não vê a desordem</p><p>que anda cá por baixo.</p><p>Vejo eu, olho em roda para saber por onde</p><p>começar. Custava ele despejar esses cinzeiros? Onde já se</p><p>viu fumar na cama e fazer furos nos meus lençóis? E, em</p><p>tempos de provas, é hora de ficar folheando livros de</p><p>versos, até tarde da noite, desse jeito? O caderno de</p><p>�sica está assim de poesias e letras de fox e caricaturas</p><p>de colegas, não sei também se de algum professor! E</p><p>para que seis caixas de fósforo em cima dessa vitrola? E</p><p>onde já se viu misturar na mesma mesa esse nunca assaz</p><p>manuseado Manuel Bandeira, e El son entero, de Nicolás</p><p>Guillén, e os poemas de Mário de Andrade, e os Pássaros</p><p>Perdidos de Tagore, e Fernando Pessoa, e esse pocket</p><p>book policial? Quer ler Graham Greene, e fazer versos, e</p><p>fumar feito um desesperado, e não perder praia no</p><p>Arpoador, nem broto na vizinhança, nem filme na</p><p>semana e passar nas provas. E em que mundo isso é</p><p>possível?</p><p>Guardo os chinelos, que ficam sempre</p><p>emborcados. Já lhe disse que isso é atraso de vida. E ele</p><p>morre de rir. E ponho as cobertas em cima da cama. E</p><p>abro as janelas, para sair esse cheiro de fumo. E deixo só</p><p>uma caixa de fósforos. Mas não faço mais nada, porque</p><p>abri um caderno, de letra muito ruim, até a metade com</p><p>os seus versos.</p><p>(^1)Poema célebre do escritor indiano Rudyard Kipling</p><p>(18651936), Prêmio Nobel de Literatura de 1907.</p><p>OBS.: O texto foi adaptado às regras do novo acordo</p><p>ortográfico.</p><p>Assinale a opção em que, quanto à sintaxe de colocação</p><p>dos pronomes átonos, é INDIFERENTE a sua posição no</p><p>período.</p><p>a) (...) Afinal das contas, o correr dos anos nos dá uma</p><p>certa filosofia.</p><p>b) Já lhe disse que isso é atraso de vida.</p><p>c) Qual, ele não se convence.</p><p>d) Mania de ordem é complexo de culpa, já te avisei!</p><p>e) (...) Da Inglaterra até aqui, para que nos aqueça nas</p><p>noites de inverno (...)</p><p>GR0120 - (Pucmg)</p><p>11@professorferretto @prof_ferretto</p><p>A importância do ato de ler</p><p>Con�nuando neste esforço de “re-ler”</p><p>momentos fundamentais de experiências de minha</p><p>infância, de minha adolescência, de minha mocidade, em</p><p>que a compreensão crí�ca da importância do ato de ler</p><p>se veio em mim cons�tuindo através de sua prá�ca,</p><p>retomo o tempo em que, como aluno do chamado curso</p><p>ginasial, me experimentei na percepção crí�ca dos textos</p><p>que lia em classe, com a colaboração, até hoje recordada,</p><p>do meu então professor de língua portuguesa. Não eram,</p><p>porém, aqueles momentos puros exercícios de que</p><p>resultasse um simples dar-nos conta de uma página</p><p>escrita diante de nós que devesse ser cadenciada,</p><p>mecânica e enfadonhamente “soletrada” e realmente</p><p>lida. Não eram aqueles momentos “lições de leitura”, no</p><p>sen�do tradicional desta expressão. Eram momentos em</p><p>que os textos se ofereciam à nossa inquieta procura,</p><p>incluindo a do então jovem professor José Pessoa.</p><p>Algum tempo depois, como professor também</p><p>de português, nos meus vinte anos, vivi intensamente a</p><p>importância de ler e de escrever, no fundo</p><p>indicotomizáveis, com os alunos das primeiras séries do</p><p>então chamado curso ginasial. A regência verbal, a</p><p>sintaxe de concordância, o problema da crase, o</p><p>sincli�smo pronominal, nada disso era reduzido por mim</p><p>a tabletes de conhecimentos que devessem ser engolidos</p><p>pelos estudantes. Tudo isso, pelo contrário, era proposto</p><p>à curiosidade dos alunos de maneira dinâmica e viva, no</p><p>corpo mesmo de textos, ora de autores que</p><p>estudávamos, ora deles próprios, como objetos a serem</p><p>desvelados e não como algo parado, cujo perfil eu</p><p>descrevesse. Os alunos não �nham que memorizar</p><p>mecanicamente a descrição do objeto, mas apreender a</p><p>sua significação profunda. Só apreendendo-a seriam</p><p>capazes de saber, por isso, de memorizá-la, de fixá-la. A</p><p>memorização mecânica da descrição do elo não se</p><p>cons�tui em conhecimento do objeto. Por isso, é que a</p><p>leitura de um texto, tomado como pura descrição de um</p><p>objeto é feita no sen�do de memorizá-la, nem é real</p><p>leitura, nem dela portanto resulta o conhecimento do</p><p>objeto de que o</p><p>texto fala.</p><p>Creio que muito de nossa insistência, enquanto</p><p>professoras e professores, em que os estudantes “leiam”,</p><p>num semestre, um sem-número de capítulos de livros,</p><p>reside na compreensão errônea que às vezes temos do</p><p>ato de ler. Em minha andarilhagem pelo mundo, não</p><p>foram poucas as vezes em que jovens estudantes me</p><p>falaram de sua luta às voltas com extensas bibliografias a</p><p>serem muito mais “devoradas" do que realmente lidas ou</p><p>estudadas. [...]</p><p>A insistência na quan�dade de leituras sem o</p><p>devido adentramento nos textos a serem</p><p>compreendidos, e não mecanicamente memorizados,</p><p>revela uma visão mágica da palavra escrita. Visão que</p><p>urge ser superada. A mesma, ainda que encarnada desde</p><p>outro ângulo, que se encontra, por exemplo, em quem</p><p>escreve, quando iden�fica a possível qualidade de seu</p><p>trabalho, ou não, com a quan�dade de páginas escritas.</p><p>No entanto, um dos documentos filosóficos mais</p><p>importantes de que dispomos, As teses sobre Feuerbach,</p><p>de Marx, tem apenas duas páginas e meia.</p><p>Parece importante, contudo, para evitar uma</p><p>compreensão errônea do que estou afirmando, sublinhar</p><p>que a minha crí�ca à magicização da palavra não</p><p>significa, de maneira alguma, uma posição pouco</p><p>responsável de minha parte com relação à necessidade</p><p>que temos, educadores e educandos, de ler, sempre e</p><p>seriamente, os clássicos neste ou naquele campo do</p><p>saber, de nos adentrarmos nos textos, de criar uma</p><p>disciplina intelectual, sem a qual inviabilizamos a nossa</p><p>prá�ca enquanto professores e estudantes.</p><p>Paulo Freire</p><p>Atente para o excerto dado:</p><p>Só apreendendo-a seriam capazes de saber, por</p><p>isso, de memorizá-la, de fixá-la. A memorização mecânica</p><p>da descrição do elo não se cons�tui em conhecimento do</p><p>objeto. Por isso, é que a leitura de um texto, tomado</p><p>como pura descrição de um objeto é feita no sen�do de</p><p>memorizá-la, nem é real leitura, nem dela portanto</p><p>resulta o conhecimento do objeto de que o texto fala.</p><p>Se observarmos as prescrições da gramá�ca norma�va, é</p><p>CORRETO afirmar:</p><p>a) Em “não se cons�tui” há uma faculta�vidade na</p><p>colocação pronominal – estaria igualmente correta a</p><p>forma “não cons�tui-se”.</p><p>b) Em “objeto de que o texto fala”, o item lexical “que” é</p><p>um pronome demonstra�vo e retoma,</p><p>anaforicamente, o sintagma “o objeto”.</p><p>c) Em “por isso, de memorizá-la” há um desvio, pois a</p><p>preposição “de” atrai o oblíquo e demanda próclise –</p><p>deveria ser “de a memorizar”.</p><p>d) Em “Só apreendendo-a” deveria haver próclise, pois o</p><p>advérbio (palavra que denota exclusão) atrai o</p><p>oblíquo.</p><p>GR0132 - (Fuvest)</p><p>Há uma língua sendo gestada no Brasil que não</p><p>se pretende correta, autên�ca ou mesmo eficiente. É</p><p>apenas novidadeira - ”trendy" ou ”fashion", como ela</p><p>própria se definiria.</p><p>Nessa nova língua, não se diz mais que tal ou</p><p>qual coisa é an�ga, vinda do passado. Diz-se que é</p><p>”vintage" - embora “vintage” (ao pé da letra, “vindima”)</p><p>se aplique, em inglês, ao que pertence a uma dada safra,</p><p>ao que vem auten�camente de uma época. Mas é</p><p>sempre assim, não? Por leveza ou ligeireza dos usuários,</p><p>certas palavras, ao serem transplantadas à força de uma</p><p>12@professorferretto @prof_ferretto</p><p>língua para outra, podem ter o seu sen�do original</p><p>alterado.</p><p>Daí que, na nova língua que se pra�ca aqui, e</p><p>mais ainda no mundo da moda, algo corriqueiro, vulgar,</p><p>normal, que não se afasta dos padrões estabelecidos, é</p><p>agora chamado de “mainstream”. Em inglês,</p><p>“mainstream" é o curso d’água ou corrente principal e se</p><p>refere a um rio, mas pode se aplicar também a um es�lo</p><p>dominante na literatura, na música, no cinema. Entre</p><p>nós, meio que vem subs�tuir o que, até há pouco,</p><p>costumava se chamar de - como era mesmo? - ”básico".</p><p>A secretária de um médico acaba de me</p><p>telefonar marcando um “apontamento” para a semana.</p><p>Isso era algo que, no passado, dizíamos de farra: “Vou te</p><p>dar um anel para marcar um apontamento”. Quis rir, mas</p><p>me con�ve a tempo. A moça estava falando a sério.</p><p>(Ruy Castro, Folha de S.Paulo, 09/10/2010. Adaptado)</p><p>O trecho em que a opção pela próclise tornou-se</p><p>obrigatória a despeito do tempo do verbo com que o</p><p>pronome se ar�cula, é:</p><p>a) “como ela própria se definiria”. (L. 3 e 4)</p><p>b) “Diz-se que é ‘vintage’”. (L. 6)</p><p>c) “costumava se chamar”. (L. 22)</p><p>d) “Vou te dar um anel”. (L. 26 e 27)</p><p>e) “mas me con�ve a tempo”. (L. 27 e 28)</p><p>GR0608 - (Enem PPL)</p><p>Proclamação do amor an�gramá�ca</p><p>“Dá-me um beijo”, ela me disse,</p><p>E eu nunca mais voltei lá.</p><p>Quem fala “dá-me” não ama,</p><p>Quem ama fala “me dá”</p><p>“Dá-me um beijo” é que é correto,</p><p>É linguagem de doutor,</p><p>Mas “me dá” tem mais afeto,</p><p>Beijo me-dado é melhor.</p><p>A gramá�ca foi feita</p><p>Por um velho professor,</p><p>Por isso é tão má receita</p><p>Pra dizer coisas de amor.</p><p>O mestre pune com zero</p><p>Quem não diz “amo-te”. Aposto</p><p>Que em casa ele é mais sincero</p><p>E diz pra mulher: “te gosto”</p><p>Delírio dos olhos meus,</p><p>Estás ficando an�pá�ca.</p><p>Pelo diabo ou por deus</p><p>Manda às favas a gramá�ca.</p><p>Fala, meu cheiro de rosa,</p><p>Do jeito que estou pedindo:</p><p>“Hoje estou menas formosa,</p><p>Com licença, vou se indo”.</p><p>Comete miles de erros,</p><p>Mistura tu com você,</p><p>E eu proclamarei aos berros:</p><p>“Vós és o meu bem querer”.</p><p>LAGO,</p><p>M.</p><p>Disponível</p><p>em:</p><p>www.mariolago.com.br.</p><p>Acesso</p><p>em:</p><p>30</p><p>out.</p><p>2021.</p><p>Nesse poema, o eu lírico defende o uso de algumas</p><p>estruturas consideradas inadequadas na norma-padrão</p><p>da língua. Esse uso, exemplificado por “me dá” e “te</p><p>gosto”, é legi�mado</p><p>a) pelo contexto de situação discu�do ao longo do</p><p>poema.</p><p>b) pelas caracterís�cas enuncia�vas requeridas pelo</p><p>gênero poema.</p><p>c) pela interlocução construída entre o eu lírico e os</p><p>leitores do poema.</p><p>d) pela mobilização da função poé�ca da linguagem na</p><p>composição do texto.</p><p>e) pelo reconhecimento do valor social da variedade de</p><p>pres�gio em textos escritos.</p><p>GR0615 - (Uff)</p><p>TEXTO I</p><p>Trechos da carta de Pero Vaz de Caminha</p><p>Muitos deles ou quase a maior parte dos que</p><p>andavam ali traziam aqueles bicos de osso nos beiços (7).</p><p>E alguns, que andavam sem eles, �nham os beiços</p><p>furados (12) e nos buracos uns espelhos de pau, que</p><p>pareciam espelhos de borracha (8); outros traziam três</p><p>daqueles bicos, a saber, um no meio e os dois nos cabos</p><p>(13). Aí andavam outros, quartejados de cores, a saber,</p><p>metade deles da sua própria cor, e metade de �ntura</p><p>preta, a modos de azulada; e outros quartejados de</p><p>escaques. Ali andavam entre eles três ou quatro moças,</p><p>bem moças e bem gen�s, com cabelos muito pretos,</p><p>compridos pelas espáduas, e suas vergonhas tão altas,</p><p>tão cerradinhas e tão limpas das cabeleiras que, de as</p><p>muito bem olharmos, não �nhamos nenhuma vergonha.</p><p>Esta terra, Senhor, me parece que da ponta que mais</p><p>contra o sul vimos (2) até a outra ponta que contra o</p><p>norte vem (3), de que nós deste porto houvemos vista,</p><p>será tamanha que haverá nela bem vinte ou vinte e cinco</p><p>léguas por costa (4). Tem, ao longo do mar, nalgumas</p><p>partes, grandes barreiras (6), delas vermelhas, delas</p><p>13@professorferretto @prof_ferretto</p><p>brancas; e a terra por cima toda chã e muito cheia de</p><p>grandes arvoredos (5). De ponta a ponta, é toda praia</p><p>parma, muito chã e muito formosa.</p><p>Pelo sertão nos pareceu, vista do mar, muito grande</p><p>(1), porque, a estender olhos, não podíamos ver senão</p><p>terra com arvoredos, que nos parecia muito longa (9).</p><p>Nela, até agora, não pudemos saber que haja ouro, nem</p><p>prata, nem coisa alguma de metal ou ferro; nem lho</p><p>vimos (10). Porém a terra em si é de muito bons ares,</p><p>assim frios e temperados, como os de Entre Douro e</p><p>Minho (14), porque neste tempo de agora os achávamos</p><p>como os de lá (15).</p><p>Águas são muitas; infindas. E em tal maneira é</p><p>graciosa que, querendo-a aproveitar, dar-se-á nela tudo,</p><p>por bem das águas que tem (11).</p><p>Carta de Pero Vaz de Caminha in: PEREIRA, Paulo Roberto</p><p>(org.) Os três únicos testemunhos do descobrimento do</p><p>Brasil. Rio de Janeiro: Lacerda, 1999, p. 39-40.</p><p>Vocabulário:</p><p>1 “espelhos de pau, que pareciam espelhos de borracha”:</p><p>associação de imagem com a tampa de um vasilhame de</p><p>couro, para transportar água ou vinho, que recebia o</p><p>nome de “espelho” por ser feita de madeira polida.</p><p>2 “�ntura preta, a modos de azulada”: é uma �ntura feita</p><p>com o sumo do fruto jenipapo.</p><p>3 “escaques”: quadrados</p><p>de cores alternadas como os do</p><p>tabuleiro de xadrez.</p><p>4 “parma”: lisa como a palma da mão.</p><p>5 “chã”: terreno plano, planície.</p><p>Assinale a opção em que a reformulação da frase abaixo</p><p>apresenta um emprego de pronome não compa�vel com</p><p>o uso formal da língua: “E em tal maneira é graciosa que,</p><p>querendo-a aproveitar, dar-se-á nela tudo, por bem das</p><p>águas que tem.” (11)</p><p>a) E em tal maneira é graciosa que, se a quisermos</p><p>aproveitar, dar-se-á nela tudo por causa das águas que</p><p>tem.</p><p>b) E em tal maneira é graciosa que, querendo aproveitá-</p><p>la, dar-se-á nela tudo, por bem das águas que tem.</p><p>c) E em tal maneira é graciosa que, querendo-a</p><p>aproveitar, tudo nela se dará, por causa das águas que</p><p>tem.</p><p>d) E em tal maneira é graciosa que, ao querer-se</p><p>aproveitá-la, tudo se dará nela, por bem das águas</p><p>que tem.</p><p>e) E em tal maneira é graciosa que, querendo aproveitar</p><p>ela, tudo dar-se-á por bem das águas que tem.</p><p>14@professorferretto @prof_ferretto</p>

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