Aula 06 SocOrg DURKHEIM divisao do trabalho social

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DURKHEIM: 
A DIVISÃO DO TRABALHO SOCIAL
Sociologia Organizacional 2012.2
Curso de Ciências Contábeis - UNEB –Campus XIX 
Profa. Clara Lourido
Material didático em elaboração 
Não citar sem permissão da autora
DUALIDADE DOS FATOS MORAIS
Vimos que as três características para um fato ser considerado social (e não individual: psicológico ou biológico) são:
Generalidade: comportamento realizado por uma quantidade considerável de indivíduos
Exterioridade: tem existência própria, independente de suas manifestações individuais (ex. modos de agir estabelecidos, que existem antes de os indivíduos decidirem agir)
Coerção: os indivíduos são obrigados a agir de modos determinados. Essa coerção pode ser posterior ao ato (penalidade) ou anterior (ex. educação ou “socialização”... moral)
DUALIDADE DOS FATOS MORAIS
“...ao mesmo tempo que as instituições se impõem a nós, aderimos a elas; elas comandam e nós as queremos; elas nos constrangem, e nós encontramos vantagem em seu funcionamento e no próprio constrangimento. (...) Talvez não existam práticas coletivas que deixem de exercer sobre nós esta ação dupla, a qual, além do mais, não é contraditória senão na aparência.” (DURKHEIM, As regras do método sociológico)
DUALIDADE DOS FATOS MORAIS
Levar uma vida moral, conviver com outros, não é somente imposto: também é prazeroso compartilhar a vida com nossos semelhantes.
Para que a vida possa ser compartilhada, também devem existir normas de convivência.
Essas normas são estabelecidas em base a valores comuns.
Valores comuns não são eternos, mudam no tempo. A vida em comum reforça os valores e os faz perdurar. Ao mesmo tempo, o compartilhamento desses valores favorece a vida em comum.
COESÃO, SOLIDARIEDADE E DOIS TIPOS DE CONSCIÊNCIA
O que faz com que a sociedade perdure como uma unidade, que os indivíduos continuem vivendo uns com os outros e não de modo isolado?
Durkheim chamou os laços que mantém coesa, unida, uma sociedade de “solidariedade social”.
A solidariedade social se constitui:
Por razões morfológicas (organização dos vínculos sociais, dimensão da sociedade, “densidade dinâmica”) que permitem maior ou menor contato entre todos os membros de uma sociedade
Pelas representações (ideias, valores) compartilhados pelos indivíduos ou “consciência coletiva”
DOIS TIPOS DE CONSCIÊNCIA
Os seres humanos somos indivíduos “duplos”: há em nós duas tendências contrapostas: uma que tende ao convívio social, outra, íntima e que tende a perseguir nossos próprios interesses individuais.
Essas tendências se materializam em dois tipos de consciência: 
Consciência individual
Consciência coletiva
CONSCIÊNCIA COLETIVA
A consciência comum ou coletiva corresponde ao “conjunto das crenças e dos sentimentos comuns à média dos membros de uma mesma sociedade [que] forma um sistema determinado que tem vida própria” (DURKHEIM, A divisão do trabalho social)
OBS: a média não é a totalidade dos membros da sociedade. Alguns indivíduos “fogem à média”
Ex.: Na média dos cidadãos brasileiros a religiosidade faz parte da sua vida. Existe uma minoria que não tem religião; existe outra minoria para quem a religiosidade é o aspecto principal da sua vida (padres, pastores, mães de santo, etc.)
CONSCIÊNCIA COLETIVA
Em toda sociedade há diferentes graus de tolerância com comportamentos que se afastam da média: somente alguns são considerados crime e punidos juridicamente.
Ex. Num convento, deixar de rezar várias vezes ao dia pode consistir numa falta gravissima, enquanto na sociedade em geral esse comportamento não é nem regulamentado.
Para Durkheim, existe crime em todas as sociedades, mas os tipos de comportamento que são considerados crime variam de uma sociedade a outra e de uma época histórica a outra.
CONSCIÊNCIA COLETIVA X INDIVIDUAL
A consciência coletiva tem diferentes graus de extensão e penetração nas consciências individuais em diferentes sociedades.
É nas sociedades de pequena escala onde a consciência coletiva tem maior extensão (abrange praticamente a todos os indivíduos) e maior penetração (atinge quase todos os aspectos da consciência, deixando menos espaço para a consciência individual) 
		Ex: numa cidade pequena do interior, é mais difícil fugir dos padrões de comportamento estabelecidos, até nos aspectos mais íntimos da vida.
OBS: A “sociedade primitiva” era, para Durkheim, antes de mais nada, uma sociedade, e não indivíduos isolados que depois se agruparam. (Durkheim é crítico da visão utilitarista – individualista (Ex. Herbert Spencer) que afirmava que a sociedade é um produto dos indivíduos e suas relações.)
INDIVÍDUO E SOCIEDADE
Para Durkheim, é na modernidade que o indivíduo ganha maior liberdade de ação e pensamento. Ele afirma que o indivíduo é um produto da modernidade.
Modernidade implica:
O cidadão como ator principal da cena política (Revolução Francesa)
Industrialização: especialização da produção
Urbanização e aumento das comunicações (“densidade dinâmica”)
INDIVÍDUO E SOCIEDADE
“Quanto mais o meio social se amplia, menos o desenvolvimento das divergências privadas é contido. Mas, entre as divergências, existem aquelas que são específicas de cada indivíduo, de cada membro da família, elas mesmas tornam-se sempre mais numerosas e mais importantes à medida que o campo das relações sociais se torna mais vasto. Ali, então, onde elas encontram uma resistência débil, é inevitável que elas se provenham de fora, se acentuem, se consolidem, e como elas são o âmago da personalidade individual, esta vai necessariamente se desenvolver. Cada qual, com o passar do tempo, assume mais sua fisionomia própria, sua maneira pessoal de sentir e pensar.” (DURKHEIM, Revue Philosophique de la France et l’Étranger, p. 8. cit. em QUINTANEIRO 2002).
CONSCIENCIA E COESÃO SOCIAL
Compartilhar valores, ideias, regras, aproxima os indivíduos, favorece a coesão social.
Essa aproximação é por semelhança, típica de sociedades de pequena escala, com baixo número de membros e pouca especialização do trabalho: quase todos os indivíduos fazem e pensam as mesmas coisas.
Nelas, o tipo médio abrange quase a totalidade dos membros.
Durkheim chamou esse tipo de solidariedade por semelhança de SOLIDARIEDADE MECÂNICA
CONSCIENCIA E COESÃO SOCIAL
O que acontece com a consciência coletiva nas sociedades modernas?
As sociedades modernas se caracterizam por:
Industrialização e especialização: divisão do trabalho
Urbanização e aumento das comunicações (“densidade moral e dinâmica”): vida nas cidades, fragilização dos vínculos tradicionais, alta mobilidade.
Democracia (o cidadão-indivíduo no centro da cena política)
Laicização (liberdade de pensamento) / diversidade de correntes de pensamento religioso
SOLIDARIEDADE SOCIAL
O que é? laços que unem os indivíduos entre si e ao próprio grupo.
Nas sociedades modernas, os indivíduos afastam-se das suas relações tradicionais (ex. família, paróquia) e entram em contato de modo individual com pessoas de diferentes origens e profissões.
OS DOIS TIPOS DE SOLIDARIEDADE
SOLIDARIEDADEMECÂNICA
SOLIDARIEDADE ORGÂNICA
Sociedadesde pequena escala (horda, clã -“segmentares”)
Sociedades de grande escala
tradição
modernidade
SEMELHANÇA entreos indivíduos
DIFERENCIAÇÃO entreindivíduos
Poucaou nula divisão do trabalho
(pouca especialização de tarefas)
Divisão do trabalho acentuada
(especialização)
ORGANIZAÇÃOdos diferentes setores:INTERDEPENDÊNCIA BASEADA NA ESPECIALIZAÇÃO DE TAREFAS
SOLIDARIEDADE ORGÂNICA
A solidariedade orgânica é derivada da divisão do trabalho: a sociedade vira um “sistema de funções diferentes e especiais”
A função que cada indivíduo desempenha é o que marca seu lugar na sociedade
Interdependência dos indivíduos, que cumprem funções diferentes (ex. arquiteto precisa de contador, caixa de supermercado precisa de creche, agricultor precisa de caminhoneiro, etc.)
SOLIDARIEDADE ORGÂNICA
Durkheim usa a metáfora do corpo: a sociedade é como um conjunto de órgãos, em que cada um deve cumprir sua função específica, mas esse conjunto é um sistema: para o sistema funcionar, cada órgão deve cumprir sua função corretamente; de outro modo, o sistema se vê prejudicado como um todo.
As funções específicas (grupos profissionais) possuem moralidades específicas
MORALIDADE 
NA SOCIEDADE MODERNA
“Moral (...) é tudo o que é fonte de solidariedade, tudo o que força o indivíduo a contar com seu próximo, a regular seus movimentos com base em outra coisa que não os impulsos de seu egoísmo, e a moralidade é tanto mais sólida quanto mais numerosos e fortes são estes laços.” (DURKHEIM, A divisão do trabalho social)
SOCIEDADE MODERNA E ANOMIA
As relações sociais e econômicas preindustriais eram regulamentadas pela tradição e o costume (Ex. as corporações de ofícios) 
O progresso econômico acelerado se dá sem regulação: é a ANOMIA (falta de normas)
A intensa MOBILIDADE SOCIAL nas sociedades modernas também contribui, nos indivíduos, para a anomia: falta o convívio duradouro que desenvolve uma moralidade comum.
ANOMIA x CONFLITO SOCIAL
Para Marx, o conflito social deriva da distribuição injusta da riqueza das sociedades.
Para Durkheim, a especialização (divisão do trabalho) é inevitável e faz parte do progresso das sociedades. 
Mas, desregulada, liberou o egoísmo individualista de uns e submeteu outros a trabalhar como uma máquina ou a desenvolver tarefas em desarmonia com suas aptidões individuais.