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cadernodidatico3 pdf AULA DIA 14-05

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<p>LETRAS/PORTUGUÊS</p><p>1 período</p><p>CADERNO</p><p>DIDÁTICO III</p><p>UAB</p><p>UNIVERSIDADE</p><p>ABERTA DO BRASIL</p><p>Ministro da Educação</p><p>Fernando Haddad</p><p>Secretário de Educação a Distância</p><p>Carlos Eduardo Bielschowsky</p><p>Coordenador Geral da Universidade Aberta do Brasil</p><p>Celso José da Costa</p><p>Governador do Estado de Minas Gerais</p><p>Aécio Neves da Cunha</p><p>Vice-Governador do Estado de Minas Gerais</p><p>Antônio Augusto Junho Anastasia</p><p>Secretário de Estado de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior</p><p>Alberto Duque Portugal</p><p>Reitor da Universidade Estadual de Montes Claros - Unimontes</p><p>Paulo César Gonçalves de Almeida</p><p>Vice-Reitor da Unimontes</p><p>João dos Reis Canela</p><p>Pró-Reitora de Ensino</p><p>Maria Ivete Soares de Almeida</p><p>Coordenadora da UAB/Unimontes</p><p>Fábia Magali Santos Vieira</p><p>Coordenadora Adjunta da UAB/Unimontes</p><p>Ramony Maria da Silva Reis Oliveira</p><p>Diretor do Centro de Ciências Humanas - CCH</p><p>Mércio Coelho Antunes</p><p>Chefe do Departamento de Comunicação e Letras</p><p>Mariléia de Souza</p><p>Coordenadora do Curso de Letras/Português a Distância</p><p>Ana Cristina Santos Peixoto</p><p>Copyright ©: Universidade Estadual de Montes Claros</p><p>UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MONTES CLAROS - UNIMONTES</p><p>Dados Internacionais de Catalogação na Publicação - CIP.</p><p>Catalogação: Biblioteca Central Professor Antônio Jorge.</p><p>2008</p><p>Proibida a reprodução total ou parcial.</p><p>Os infratores serão processados na forma da lei.</p><p>EDITORA UNIMONTES</p><p>Campus Universitário Professor Darcy Ribeiro</p><p>s/nº - Vila Mauricéia - Montes Claros (MG)</p><p>Caixa Postal: 126 - CEP: 39041-089</p><p>REITOR</p><p>Paulo César Gonçalves de Almeida</p><p>VICE-REITOR</p><p>João dos Reis Canela</p><p>DIRETOR DE DOCUMENTAÇÃO E INFORMAÇÕES</p><p>Giulliano Vieira Mota</p><p>DIRETOR DA IMPRENSA UNIVERSITÁRIA</p><p>Humberto Veloso Reis</p><p>CONSELHO EDITORIAL</p><p>Maria Cleonice Souto de Freitas</p><p>Reivaldo Canela (in memoriam)</p><p>Rosivaldo Antônio Gonçalves</p><p>Sílvio Fernando Guimarães de Carvalho</p><p>Wanderlino Arruda</p><p>IMPRESSÃO, MONTAGEM E ACABAMENTO</p><p>Gráfica e Editora Sigma Ltda.</p><p>PROJETO GRÁFICO E CAPA</p><p>Alcino Franco de Moura Júnior</p><p>Andréia Santos Dias</p><p>EDITORAÇÃO</p><p>Andréia Santos Dias</p><p>Alcino Franco de Moura Júnior</p><p>Débora Tôrres Corrêa Lafetá de Almeida</p><p>Diego Wander Pereira Nobre</p><p>Fernando Antunes Gontijo</p><p>Marcele Cristiane Antunes Lopes</p><p>Sânzio Mendonça Henriques</p><p>Wendell Brito Mineiro</p><p>REVISÃO</p><p>Alcino Franco de Moura Júnior</p><p>Danielle F. Souza</p><p>Fábia Magali Santos Vieira</p><p>Ivanise Melo de Sousa</p><p>José França Neto</p><p>Karen Tôrres Corrêa Lafetá de Almeida</p><p>Telma Borges Silva</p><p>Wane Elayne Eulálio dos Anjos</p><p>Wanessa Pereira Fróes Quadros</p><p>Ramony Maria da Silva Reis Oliveira</p><p>1º PERÍODO</p><p>INTRODUÇÃO</p><p>À LEITURA</p><p>AUTORES</p><p>João de Deus</p><p>Mestrando em Estudos Língüísticos pelo Instituto de Letras e Lingüísticas –</p><p>ILEEL, da Universidade Federal de Uberlândia – UFU e graduado em</p><p>Letras/Português pela Universidade Estadual de Montes Claros –</p><p>Unimontes.</p><p>Maria de Lourdes Guimarães de Carvalho</p><p>Mestre em Letras: Estudos Lingüísticos pela Universidade Federal de Minas</p><p>Gerais - UFMG, graduada em Letras pelas Faculdades Santo Tomás de</p><p>Aquino de Uberaba e em Pedagogia pela Universidade Estadual de Montes</p><p>Claros – Unimontes. Atualmente é professora do Departamento de</p><p>Estágios e Práticas Escolares da Unimontes.</p><p>COLABORADORA</p><p>Ana Caroline Barreto Neves</p><p>Pós-graduanda em Letras: Português e Literatura pelo Instituto Signorelli</p><p>de Gestão Educacional e graduada em Letras pela Universidade Federal de</p><p>Minas Gerais - UFMG. Atualmente é professora das Faculdade Integradas</p><p>Pitágoras de Montes Claros- FIPMoc.</p><p>SUMÁRIO</p><p>DA DISCIPLINA</p><p>Apresentação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 333</p><p>Unidade I: Linguagem e língua. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 336</p><p>1.1 Panorama sobre a Ciência da Linguagem . . . . . . . . . . . . . . . 336</p><p>1.2 Linguagem . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 337</p><p>1.3 Língua . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 338</p><p>1.4 Fala . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 339</p><p>1.5 Aspectos Referentes à Linguagem e à Língua . . . . . . . . . . . . 340</p><p>1.6 Referências. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 348</p><p>Unidade II: Reflexões em torno da leitura . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 349</p><p>2.1 História de um Conceito . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 349</p><p>2.2 História da uma Prática de Leitura. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 357</p><p>2.3 Referências. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 359</p><p>2.4 Vídeos sugeridos para debate . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 359</p><p>Unidade III: Texto e textualidade. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 362</p><p>3.1 Conceito de texto . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 362</p><p>3.2 Textualidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 365</p><p>3.3 Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 384</p><p>Unidade IV: O conhecimento prévio na leitura . . . . . . . . . . . . . . . . . 385</p><p>4.1 Conhecimento prévio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 385</p><p>4.2 Conhecimento prévio na leitura . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 386</p><p>4.3 Referências. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 392</p><p>Unidade V: Linguagem e leitura . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 393</p><p>5.1 As Possibilidades de leitura de um texto . . . . . . . . . . . . . . 393</p><p>5.2 Denotação e Conotação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 398</p><p>5.3 As figuras de linguagem – metáfora e metonímia . . . . . . . 401</p><p>5.4 Funções da linguagem. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 405</p><p>5.5 Variação linguística . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 410</p><p>5.6 Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 415</p><p>Unidade VI: Estratégias de leitura . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 417</p><p>6.1 Pensando as estratégias de leitura . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 418</p><p>6.2 Algumas estratégias de leitura . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 420</p><p>6.3 Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 429</p><p>Resumo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 431</p><p>Referências básica, complementar e suplementar . . . . . . . . . . . . . . . . 433</p><p>Atividades de Aprendizagem - AA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 439</p><p>APRESENTAÇÃO</p><p>333</p><p>Prezado(a) Acadêmico(a),</p><p>Os professores conteudistas, responsáveis pela disciplina</p><p>Introdução à Leitura, felicitam-no por ter conquistado a chance de fazer</p><p>um curso superior. Saiba que essa é uma oportunidade que, embora direito</p><p>de todos, ainda é reservada àqueles que se esforçam e que fazem por</p><p>merecer.</p><p>Sabemos que muitos conhecimentos referentes à disciplina já</p><p>foram elaborados por você, ao longo de sua vida, entretanto, esperamos</p><p>contribuir no sentido de possibilitar o contato com ferramentas linguísticas,</p><p>discursivas e enunciativas, que oportunizarão a ressignificação dos seus</p><p>conhecimentos e a aquisição de significados outros, num processo de</p><p>metacognição (reflexão sobre o próprio saber).</p><p>Informamos que figura como meta do curso, proporcionar, por</p><p>m e i o d e s t e m a t e r i a l , n o v a s</p><p>oportunidades de auto-aprendizagem,</p><p>para a apropriação de conhecimentos</p><p>e de culturas necessárias à inserção e</p><p>ao trânsito social, o que certamente</p><p>fará diferença em seu processo de</p><p>profissionalização.</p><p>Sendo assim, seja bem vindo à</p><p>disciplina Introdução à Leitura. Tudo foi</p><p>cuidadosamente planejado, para que</p><p>você tire o máximo de proveito e se</p><p>torne um leitor eficiente, preparando-</p><p>se também para fazer com que seus</p><p>alunos o sejam.</p><p>Informações sobre a disciplina</p><p>Introdução à Leitura será ministrada no Curso de Letras-Português</p><p>com uma carga horária</p><p>dialogamos.</p><p>Cada palavra tem seu sentido individual, entretanto, quando elas</p><p>se relacionam, montam um outro sentido. O mesmo raciocínio vale para as</p><p>frases, os parágrafos e até os textos. Cada um desses elementos tem um</p><p>sentido individual e um tipo de relacionamento com os demais.</p><p>Ex: Boião de leite</p><p>S a b e n d o - s e q u e</p><p>“boião” é vaso bojudo de boca</p><p>larga usado para acondicionar</p><p>alimentos, isolada de um</p><p>contexto maior a expressão</p><p>“boião de leite” significa vasilha</p><p>de boca larga contendo leite.</p><p>Neste contexto mais</p><p>ampliado:</p><p>Pode ser entendido que</p><p>”boião” ainda é a vasilha</p><p>contendo leite. Ela é carregada e</p><p>vai derramando pingos de leite</p><p>pelo caminho.</p><p>Entretanto, inserida</p><p>num contexto maior como o todo</p><p>do poema de Cassiano Ricardo,</p><p>requer uma outra interpretação:</p><p>Acrescido do título “Lua</p><p>cheia” bem como dos demais</p><p>versos, a expressão “Boião de</p><p>leite” e as demais expressões</p><p>assumem novos sentidos:</p><p>?“boião de leite” significa lua cheia;</p><p>?“pingos brancos” significa estrelas e</p><p>?“caminho”, possivelmente, significa a rota da lua.</p><p>Você deve ter percebido que contexto é aqui entendido como</p><p>uma unidade linguística maior formada por unidades linguísticas</p><p>menores. No exemplo acima o verso encaixa-se na estrofe e esta</p><p>constitui o poema.</p><p>Outra ocorrência é o caso da frase encaixar-se no contexto do</p><p>parágrafo, o parágrafo encaixar-se no contexto do capítulo e o capítulo</p><p>encaixar-se no contexto de uma obra.</p><p>O contexto pode, também, ser situacional. Nesse caso nem</p><p>sempre está explicitado linguisticamente, mas implícito nos elementos da</p><p>situação de comunicação em que o texto é produzido. Uma mesma</p><p>363</p><p>Letras/Português Caderno Didático - 1º Período</p><p>Boião de leite</p><p>E que, embora levado</p><p>muito devagarinho,</p><p>vai derramando pingos brancos</p><p>Pelo caminho</p><p>(RICARDO, Cassiano. Poesias completas.</p><p>Rio de janeiro: José Olímpio, 1957. p. 135).</p><p>Lua Cheia</p><p>Boião de leite</p><p>que a noite leva</p><p>com mãos de treva,</p><p>pra não sei quem beber.</p><p>E que, embora levado</p><p>muito devagarinho,</p><p>vai derramando pingos brancos</p><p>Pelo caminho.</p><p>(RICARDO, Cassiano. Poesias completas. Rio de janeiro:</p><p>José Olímpio, 1957. p. 135).</p><p>364</p><p>Introdução à Leitura UAB/Unimontes</p><p>notícia, publicada em canais diferentes, permite diferentes compreensões.</p><p>Vamos ler o texto:</p><p>Reflita:</p><p>Caso você encontrasse esse texto em um blog pessoal no qual o</p><p>autor, ou autores, publicam seus textos fictícios, qual o significado que essa</p><p>história teria?</p><p>E se ele foi publicado em um blog que reproduz notícias e</p><p>reportagens de Revistas e Jornais de circulação nacional, qual sentido o</p><p>texto assumiria nesse caso?</p><p>Como esclarecimento, o texto foi publicado no “Blog Notícia”</p><p>(http://www.blognoticia.blogger.com.br/) e é uma reprodução do artigo</p><p>LIANA E FELIPE</p><p>Liana e Felipe eram jovens, bonitos, carinhosos.</p><p>Enfrentavam a vida com disposição, alimentavam seus sonhos</p><p>com esperança.</p><p>Eram "do bem", amavam-se e, por isso, como todos os jovens</p><p>apaixonados como eles, precisavam muito estar juntos e sós.</p><p>Talvez por conta da embriaguez própria da paixão, não</p><p>suspeitaram do perigo.</p><p>Talvez por causa daquela necessidade de estar juntos e sós, de</p><p>esquecer do mundo "lá fora", de se isolar para que uma suposta</p><p>plenitude do amor fosse possível, deixaram de lado conselhos,</p><p>cuidados, precauções.</p><p>E encontraram Champinha no meio do caminho.</p><p>Ao contrário dos dois, Champinha é um adolescente "do mal".</p><p>Facínora, cruel, violento. Pelo que tudo indica, não tem limites no</p><p>seu instinto destruidor.</p><p>(...)</p><p>Tão parecidos e tão diferentes, vítimas e algoz.</p><p>Será que foi a imprudência dos dois que os levou até Champinha,</p><p>como querem alguns, ou esse encontro poderia ter ocorrido e</p><p>também redundado em tragédia num farol de trânsito, numa</p><p>esquina escura, na saída de uma "balada"?</p><p>Impossível saber.</p><p>(...) (adaptado)</p><p>E</p><p>A</p><p>B G</p><p>GLOSSÁRIO</p><p>F</p><p>C</p><p>Blog: substantivo</p><p>masculino.</p><p>1.Inform. Na Web, serviço</p><p>que permite ao internauta</p><p>criar e manter uma página</p><p>em que as informações são</p><p>apresentadas em ordem</p><p>cronológica reversa (as</p><p>mais recentes aparecem</p><p>primeiro), tendo cada</p><p>publicação sua data e hora</p><p>de inserção, e tb. um</p><p>espaço onde outros</p><p>internautas podem incluir</p><p>comentários associados.</p><p>[Inicialmente foi us. como</p><p>diário, mas com a</p><p>popularização tornou-se tb.</p><p>um meio para divulgação</p><p>de idéias, etc.]</p><p>Fonte:</p><p>http://revistaescola.abril.co</p><p>m.br/edicoes/0206/aberto/p</p><p>alavras_novas.doc</p><p>365</p><p>Letras/Português Caderno Didático - 1º Período</p><p>escrito por Luiz Caversan para a Folha Online.</p><p>3.2 TEXTUALIDADE</p><p>Após concluir que num texto as frases não têm significado</p><p>autônomo, pois o sentido delas é dado pela correlação que elas mantêm</p><p>com o todo, e às vezes com a própria situação de produção, pode-se</p><p>concluir que o texto é um tecido, tem uma tessitura, o que Costa Val (1999)</p><p>denomina de textualidade.</p><p>Textualidade é, assim, o conjunto de características que fazem</p><p>com que um texto seja considerado como tal, e não como um amontoado</p><p>de palavras e frases. Segundo Beaugrande e Dressler (1983), são sete os</p><p>fatores responsáveis pela textualidade de qualquer discurso:</p><p>1- Fatores semântico/formal - que se relacionam com o material</p><p>conceitual e linguístico do texto. São eles:</p><p>?Coerência</p><p>?Coesão</p><p>2 Fatores pragmáticos – que têm a ver com os fatores práticos</p><p>envovidos no processo sociocomunicativo. São eles:</p><p>?intencionalidade,</p><p>?aceitabilidade,</p><p>?situacionabilidade,</p><p>?informatividade,</p><p>?intertextualidade.</p><p>Vejamos cada um separadamente</p><p>3.2.1 Fatores semântico/formal de textualidade</p><p>?Coerência</p><p>É muito comum ouvir as pessoas dizerem que não apresentam</p><p>dificuldades em se expressar através da fala e que os problemas surgem no</p><p>momento em que é preciso produzir um texto escrito. Essa dificuldade</p><p>normalmente advém da falta de habilidade para organizar as idéias de</p><p>forma coerente e coesa.</p><p>A coerência textual é a correspondência entre as idéias do texto de</p><p>forma lógica. É o instrumento que o autor usa para conseguir</p><p>encaixar/relacionar as partes do texto e dar um sentido completo a ele.</p><p>Dessa forma, a coerência é o fator responsável por transformar o texto em</p><p>um todo compreensível aos olhos do leitor. Caso estas relações sejam feitas</p><p>da maneira correta, obtemos uma mensagem, um conteúdo semântico</p><p>compreensível.</p><p>O estudo dos fatores de</p><p>textualidade irá facilitar sua</p><p>compreensão dos</p><p>problemas que interferem</p><p>na escrita e, assim, em</p><p>interface com a disciplina</p><p>Introdução à Leitura,</p><p>contribuirá para que você</p><p>se torne, além de um</p><p>competente leitor, um</p><p>eficiente produtor de textos.</p><p>DICAS</p><p>ATIVIDADES</p><p>Antes de continuar a</p><p>leitura, faça uma predição</p><p>sobre o que vem a ser cada</p><p>uma desses fatores. Tente</p><p>primeiramente acionar seus</p><p>conhecimentos prévios e</p><p>depois lance mão de um</p><p>dicionário. Anote suas</p><p>conclusões para</p><p>posteriormente à leitura,</p><p>ver o quais conhecimentos</p><p>você adquiriu.</p><p>ATIVIDADES</p><p>Estudando com seus</p><p>colegas, ou mesmo</p><p>conversando com seus</p><p>familiares, defenda a</p><p>afirmativa: “Para fazer uma</p><p>boa leitura deve-se sempre</p><p>levar em conta o contexto</p><p>em que a passagem está</p><p>inserida”.</p><p>366</p><p>Introdução à Leitura UAB/Unimontes</p><p>Para que a coerência ocorra, as idéias devem se completar de</p><p>forma lógica. Uma deve ser a continuação da outra. Caso não ocorra uma</p><p>concatenação de idéias entre as frases, elas acabarão por se</p><p>contradizerem ou por quebrarem uma linha de raciocínio. Quando isso</p><p>acontece, dizemos que houve um quebra de coerência textual.</p><p>Sobre a coerência Costa Val afirma:</p><p>...a coerência de um texto deriva de sua lógica interna,</p><p>resultante dos significados que sua rede de conceitos e</p><p>relações põe em jogo, mas também da compatibilidade</p><p>entre essa rede conceitual __ o mundo textual __ e o</p><p>conhecimento de mundo de quem processa o discurso.</p><p>(COSTA VAL, 1993.p.6).</p><p>Assim, quando falamos ou escrevemos sem coerência, o</p><p>entendimento é comprometido, e imediatamente alguém pode afirmar</p><p>que o texto está incoerente ou dizer</p><p>que não estamos falando ou</p><p>escrevendo “coisa com coisa”.</p><p>Da mesma forma, quando lemos um texto incoerente, não</p><p>produzimos o sentido necessário à sua compreensão, requisito essencial</p><p>para que de fato ocorra a leitura.</p><p>Ex. a) A incoerência ocorre na argumentação do personagem pelo</p><p>fato dele afirmar, na primeira tirinha, que vai aproveitar o sol pra se</p><p>bronzear: “Quero ficar morenaço! Da cor do pecado! Negão mesmo!</p><p>Black! Preto!”. Entretanto, na última tirinha, ele se revela preconceituoso e</p><p>discriminador em relação ao garçom negro que o atendeu. Logo, é</p><p>Fonte: http://bp1.blogger.com/_8qZsNgLXDPY/RfCa7Bt3IzIReflita. O que está</p><p>incoerente na fala de um</p><p>dos personagens dessa</p><p>historinha?</p><p>E na placa do posto de</p><p>combustíveis?</p><p>Após responder prossiga a</p><p>leitura e verifique se você</p><p>acertou.</p><p>ATIVIDADES</p><p>Figura 21</p><p>367</p><p>Letras/Português Caderno Didático - 1º Período</p><p>incoerente querer se tornar “preto” e</p><p>discriminar um afro-descendente.</p><p>b) É incoerente dizer que um</p><p>estabelecimento está “aberto todos os</p><p>dias” se há um descanso semanal às terças-</p><p>feiras.</p><p>Assim, pode-se afirmar que:</p><p>?A coerência é o resultado da não contradição entre as partes do</p><p>texto e do texto com relação ao mundo</p><p>?Normalmente a falta de coerência em um texto é facilmente</p><p>detectada por um falante da língua, mas não é tão simples notá-la quando</p><p>é você quem escreve.</p><p>Marcuschi (1983) afirma que uma justaposição de eventos e</p><p>situações em um texto pode ativar operações que estabelecem as relações</p><p>de coerência:</p><p>Chinelos, vaso, descarga. Pia, sabonete. Água. Escova,</p><p>creme dental, água, espuma, creme de barbear, pincel, espuma,</p><p>gilete, água, cortina, sabonete, água fria, água quente, toalha.</p><p>Creme para cabelo, pente. Cueca, camisa, abotoaduras, calça,</p><p>meias, sapatos, gravata, paletó. Carteira, níqueis, documentos,</p><p>caneta, chaves, lenço, relógio, maço de cigarros, caixa de</p><p>fósforos. Jornal. Mesa, cadeiras, xícara e pires, prato, bule,</p><p>talheres, guardanapo. Quadros. Pasta, carro. Cigarro, fósforo.</p><p>Mesa e poltrona, cadeira, cinzeiro, papéis, telefone, agenda, copo</p><p>com lápis, canetas, bloco de notas, espátula, pastas, caixas de</p><p>entrada, de saída, vaso com plantas, quadros, papéis, cigarro,</p><p>fósforo. Bandeja, xícara pequena. Cigarro e fósforo. Papéis,</p><p>telefone, relatórios, cartas, notas, vales, cheques, memorandos,</p><p>bilhetes, telefone, papéis. Relógio. Mesa, cavalete, cinzeiros,</p><p>cadeiras, esboços de anúncios, fotos, cigarro, fósforo, bloco de</p><p>papel, caneta, projetor de filmes, xícara, cartaz, lápis, cigarro,</p><p>fósforo, quadro-negro, giz, papel. Mictório, pia, água. Táxi. Mesa,</p><p>toalha, cadeiras, copos, pratos, talheres, garrafa, guardanapo,</p><p>xícara. Maço de cigarros, caixa de fósforos. Escova de dentes,</p><p>pasta, água. Mesa e poltrona, papéis, telefone, revista, copo de</p><p>papel, cigarro, fósforo, telefone interno, externo, papéis, prova de</p><p>anúncio, caneta e papel, relógio, papel, pasta, cigarro, fósforo,</p><p>papel e caneta, telefone, caneta e papel, telefone, papéis, folheto,</p><p>xícara, jornal, cigarro, fósforo, papel e caneta. Carro. Maço de</p><p>cigarros, caixa de fósforos. Paletó, gravata. Poltrona, copo,</p><p>revista. Quadros. Mesa, cadeiras, pratos, talheres, copos,</p><p>guardanapos. Xícaras. Cigarro e fósforo. Poltrona, livro. Cigarro e</p><p>fósforo. Televisor, poltrona. Cigarro e fósforo. Abotoaduras,</p><p>camisa, sapatos, meias, calça, cueca, pijama, chinelos. Vaso,</p><p>descarga, pia, água, escova, creme dental, espuma, água.</p><p>Chinelos. Coberta, cama, travesseiro.</p><p>Fonte: http://juliom.paginas.sapo.pt/surprise.jpg</p><p>Figura 22</p><p>Cassiano Ricardo</p><p>368</p><p>Essa lista de palavras consegue realizar uma intenção</p><p>comunicativa se quem a recebe, de modo cooperativo, determinar-lhe o</p><p>sentido. O texto chama-se “Circuito Fechado” é de autoria de Cassiano</p><p>Ricardo. Apesar da ausência das ligações sintáticas (coesivas), quem lê a</p><p>sequência linguística pode perceber uma unidade de sentido (coerente)</p><p>qual seja: o dia-a-dia, a rotina, o quotidiano de um homem.</p><p>Principais fatores de coerência</p><p>Um texto será incoerente se seu produtor não conseguir adequá-lo</p><p>a outros fatores tais como: intenção comunicativa, objetivos, destinatário,</p><p>regras sócio-culturais, outros elementos da situação, uso dos recursos</p><p>linguísticos... . Koch e Travaglia (1990) afirmam que “(...) a coerência não</p><p>é nem característica do texto, nem dos usuários do mesmo, mas está no</p><p>processo que coloca texto e usuários em relação numa situação”. Grifos</p><p>dos autores.</p><p>Diversos são os fatores que concorrem para a percepção da</p><p>coerência em um texto. Segundo Koch e Travaglia (1999), eles podem ser</p><p>podem ser das mais diversas ordens: linguísticos, discursivos, culturais e</p><p>interacionais.</p><p>a) Linguísticos</p><p>Os elementos linguísticos funcionam como pistas para ativação</p><p>dos conhecimentos armazenados na memória do leitor. Teoricamente, o</p><p>mal uso de elementos linguísticos em um texto cria incoerência e o receptor</p><p>pode não conseguir estabelecer o seu sentido.</p><p>b) Conhecimento de mundo</p><p>O conhecimento de mundo ou enciclopédico é aquele que se</p><p>encontra armazenado na memória de cada indivíduo. Diz respeito aos</p><p>fatos do mundo, sócio-culturalmente adquirido através da experiência, da</p><p>vivência das diferentes situações, das viagens, leituras, dos programas de</p><p>TV, etc. Eles desempenham um papel importante no estabelecimento da</p><p>coerência. Quando nos defrontamos com um texto que fala de coisas que</p><p>desconhecemos, não conseguiremos estabelecer o seu sentido.</p><p>Os conhecimentos que vamos armazenando à medida que vamos</p><p>estabelecendo contatos com o mundo, vão sendo armazenados em nossa</p><p>memória em blocos denominados modelos cognitivos. Os modelos</p><p>cognitivos são assim culturalmente determinados e aprendidos através de</p><p>nossa vivência em dada sociedade. Koch e Travaglia (1999), citam alguns</p><p>exemplos de modelos cognitivos:</p><p>ATIVIDADES</p><p>Elabore o seu texto</p><p>utilizando a maioria das</p><p>palavras, mantendo a</p><p>coerência de idéias</p><p>apresentadas por elas. Use</p><p>sua criatividade.</p><p>Possivelmente você obterá</p><p>um texto narrativo / uma</p><p>história.</p><p>Introdução à Leitura UAB/Unimontes</p><p>369</p><p>Letras/Português Caderno Didático - 1º Período</p><p>?Os frames</p><p>Conjunto de conhecimentos armazenados na memória debaixo</p><p>de certo “rótulo”. Vejam que para o rótulo carnaval, imediatamente temos</p><p>confete, serpentina, desfile, escola de samba, fantasia, baile, mulatas.</p><p>Apesar de não haver qualquer ordenação lógica entre esses</p><p>conhecimentos, eles vêm á tona quando acionados.</p><p>?Esquemas</p><p>É o conjunto de conhecimentos armazenados em sequência</p><p>temporal ou causal. As palavras da leitura afloram o esquema que, posto</p><p>em funcionamento, permite o entendimento/sentido do texto. Ex:</p><p>Conhecimentos de como pôr um eletrodoméstico em funcionamento, a</p><p>rotina de um dia na vida de um cidadão.</p><p>?Planos</p><p>Conjunto de conhecimentos armazenados em nossa memória e</p><p>que têm a ver com o modo de agir para atingir determinado objetivo; por</p><p>exemplo, como vencer uma partida de xadrez.</p><p>?Scripts</p><p>ATIVIDADES</p><p>elabore frames para: Natal,</p><p>Férias e Casamento.</p><p>ATIVIDADES</p><p>Descreva a sua rotina</p><p>diária a partir do momento</p><p>em que você se levanta.</p><p>Note que você, via de</p><p>regra, não pára para</p><p>pensar em determinadas</p><p>ações, elas já fazem parte</p><p>do seu repertório de</p><p>conhecimentos</p><p>armazenados e vão sendo</p><p>acionadas.</p><p>ATIVIDADES</p><p>descreva o caminho que</p><p>você percorre para chegar</p><p>à sua escola ao à casa de</p><p>um parente.</p><p>Figura 23</p><p>370</p><p>Introdução à Leitura UAB/Unimontes</p><p>Conjunto de conhecimentos sobre modos estereotipados de agir.</p><p>Aparecem na forma de termos ou expressões que aparentam incoerência</p><p>mas, por serem fórmulas prontas, utilizadas em situações pré-</p><p>determinadas, a falta de coesão é apenas aparente. Em termos de</p><p>linguagem, ilustram os scripts, por exemplo, os rituais religiosos (batismo,</p><p>casamento, missa), as fórmulas de cortesia, as práxis jurídicas, etc.</p><p>?superestruturas ou esquemas textuais</p><p>À medida que vamos entrando em contato com os diversos tipos</p><p>de textos, e que</p><p>fazemos comparações entre eles, vamos construindo um</p><p>conjunto de conhecimentos sobre essa diversidade. A esse conjunto de</p><p>conhecimentos é que Koch e Travaglia (1999), denominam</p><p>superestruturas ou esquemas textuais.</p><p>c) Conhecimento partilhado</p><p>Mesmo que seja praticamente impossível assimilar</p><p>conhecimentos de uma mesma forma, no caso de produtor e receptor de</p><p>textos, é preciso que uma parcela dos conhecimentos adquiridos</p><p>previamente e armazenados na memória seja comum a ambos.</p><p>Sobre conhecimento partilhado, Koch e Travaglia (1990.p. 64),</p><p>afirmam: “os elementos textuais que remetem ao conhecimento</p><p>partilhado entre os interlocutores constituem a informação “velha” ou</p><p>dada, ao passo que tudo aquilo que for introduzido a partir dela constituirá</p><p>a informação nova trazida pelo texto”.</p><p>Disso decorre que, para que um texto seja coerente é necessário</p><p>que haja um equilíbrio entre informação dada e informação nova. A</p><p>necessidade desse equilíbrio é porque se em um texto todas as informações</p><p>são novas, ele se torna inteligível para o receptor que não o processará</p><p>cognitivamente. Por outro lado, se o texto contém apenas informações</p><p>dadas, será considerado redundante e não preencherá o propósito</p><p>comunicativo.</p><p>Para Koch e Travaglia (1990.p. 64), são consideradas</p><p>informações dadas, aquelas que:</p><p>a)constituem o co-texto, isto é, são recuperáveis a partir do próprio</p><p>texto;</p><p>b)aquelas que fazem parte do contexto situacional, isto é, da</p><p>situação em que se realiza o ato de comunicação;</p><p>c)aquelas que são de conhecimento geral em dada cultura;</p><p>d)as que remetem ao conhecimento comum do produtor e do</p><p>receptor.</p><p>Ao utilizarmos os nossos conhecimentos de mundo na leitura de</p><p>371</p><p>Letras/Português Caderno Didático - 1º Período</p><p>um texto, realizamos o que Koch e Travaglia (1990.p.65), chamam de</p><p>inferência.</p><p>Os autores afirmam:</p><p>Sobre a coerência textual, Koch e Travaglia (1997), afirmam que:</p><p>Texto incoerente é aquele em que o receptor (leitor ou</p><p>ouvinte) não consegue descobrir qualquer continuidade de</p><p>sentido, seja pela discrepância entre os conhecimentos</p><p>ativados, seja pela inadequação entre esses conhecimentos</p><p>e o seu universo cognitivo. Texto coerente é o que “faz</p><p>sentido” para seus usuários, o que torna necessária a</p><p>incorporação de elementos cognitivos e pragmáticos ao</p><p>estudo da coerência textual. KOCH E TRAVAGLIA. 1997.</p><p>p.32).</p><p>Van Dijk e Kintsh (1983) apud Koch e Travaglia (1997), fazem</p><p>referência a diversos tipos de coerência: semântica, sintática, estilística e</p><p>coerência pragmática.</p><p>a) Coerência Semântica</p><p>?Local: diz respeito à relação entre significados dos elementos</p><p>das frases em sequência em um texto.</p><p>?Macroestrutura semântica: relação entre os significados dos</p><p>elementos do texto como um todo.</p><p>b) Coerência sintática</p><p>Relativa aos meios sintáticos para expressar a coerência</p><p>semântica. Dá-se no nível da estrutura superficial do texto e por meio das</p><p>pistas linguísticas. (Ex: uso dos pronomes e sons definidos).</p><p>c) Coerência estilística</p><p>Referente ao estilo ou registro definido pelo autor para escrever</p><p>seu texto. Ele pode optar por escolha lexical, comprimento e complexidade</p><p>das frases conforme seu gosto/estilo.</p><p>d) Coerência pragmática</p><p>Sendo o discurso uma sequência de atos de fala condicionalmente</p><p>relacionados, a coerência pragmática tem a ver como os atos de fala</p><p>relacionados ao contexto situacional de uso. Para que a coerência seja</p><p>estabelecida, o leitor precisa contar com elementos exteriores ao texto.</p><p>Sendo assim, um texto pode se tornar incoerente pela dificuldade do leitor</p><p>Quase todos os textos que lemos ou ouvimos exigem que</p><p>façamos uma série de inferências para podermos</p><p>compreendê-los integralmente. Se assim não fosse [...]. Na</p><p>verdade, todo texto assemelha-se a um iceberg – o que fica</p><p>à tona, isto é, o que é explicitado no texto é apenas uma</p><p>pequena parte daquilo que fica submerso, ou seja,</p><p>implicitado. Compete, portanto, ao receptor ser capaz de</p><p>atingir os diversos níveis de implícito, se quiser alcançar</p><p>uma compreensão mais profunda do texto que ouve ou lê.</p><p>372</p><p>Introdução à Leitura UAB/Unimontes</p><p>em situar o assunto em seu conheci-</p><p>mento e também por não conseguir</p><p>inseri-lo em uma situação. A coerên-</p><p>cia pragmática está, portanto, no</p><p>nível mais profundo, o da compreen-</p><p>são do processo de produção.</p><p>Pragmaticamente, princípi-</p><p>os conversacionais, como os postula-</p><p>dos por Grice (1975), podem afetar o</p><p>estabelecimento da coerência. Para</p><p>o autor, o princípio básico que rege a</p><p>comunicação humana é o princípio</p><p>da cooperação. Os leitores/ouvintes sempre se assumem mutuamente</p><p>cooperativos, isso significa que, ao lerem, acreditam no fato de que as</p><p>ocorrências linguísticas devem ter sido feitas para serem coerentes.</p><p>Do princípio da cooperação decorrem quatro máximas:</p><p>a) Máxima da quantidade: ofereça as informações necessárias.</p><p>Nem mais nem menos.</p><p>b) Máxima da qualidade: diga apenas aquilo que acredita ser</p><p>verdadeiro, para o que há evidências adequadas.</p><p>c) Máxima da relação: seja relevante, pertinente.</p><p>d) Máxima do modo: seja o mais claro possível.</p><p>As dificuldades de organização das idéias, na leitura de um texto,</p><p>não se resumem à coerência. É certo que ela facilita bastante esse</p><p>processo, mas não é suficiente para resolver todos os problemas. A coesão</p><p>é outro fator que contribui para a compreensão dos textos. É o que veremos</p><p>a seguir.</p><p>?Coesão</p><p>É comum dizer que a coesão é a manifestação linguística da</p><p>coerência. Costa Val (1999) afirma:</p><p>a) a coesão advém da maneira como os conceitos e relações</p><p>subjacentes são expressos na superfície textual;</p><p>b) a coesão é responsável pela unidade formal do texto e é</p><p>construída por meio de mecanismos gramaticais e lexicais.</p><p>Halliday e Hassan (apud Koch, 1993) definem coesão como um</p><p>conceito semântico referente às relações de significados que existem</p><p>dentro de um texto. Para eles a coesão se divide em:</p><p>?Coesão Gramatical – expressa parcialmente através da</p><p>gramática - os pronomes anafóricos, os artigos, a elipse, a concordância, a</p><p>correlação entre os tempos verbais, as conjunções etc.</p><p>?Coesão Lexical – expressa parcialmente através do vocabulário</p><p>- reiteração, substituição e associação.</p><p>Quais são os elementos</p><p>exteriores ao texto que são</p><p>exigidos para que essa</p><p>ilustraçção seja entendida?</p><p>Pensando na história</p><p>política recente do Brasil,</p><p>explique como o humor é</p><p>construído nesses diálogos.</p><p>ATIVIDADES</p><p>Figura 24</p><p>Leia a crônica abaixo de Rubem Braga .</p><p>373</p><p>Letras/Português Caderno Didático - 1º Período</p><p>Crônica: deriva do Latim</p><p>chronica, que significava,</p><p>no início da era cristã, o</p><p>relato de acontecimentos</p><p>em ordem cronológica. Era,</p><p>portanto, um breve registro</p><p>de eventos.</p><p>No século XIX, com o</p><p>desenvolvimento da</p><p>imprensa, a crônica passou</p><p>a fazer parte dos jornais.</p><p>Esses textos comentavam,</p><p>de forma crítica,</p><p>acontecimentos que</p><p>haviam ocorrido durante a</p><p>semana. Tinham, portanto,</p><p>um sentido histórico e</p><p>serviam, assim como outros</p><p>textos do jornal, para</p><p>informar o leitor.</p><p>Essa prática foi trazida para</p><p>o Brasil na segunda</p><p>metade do século XIX e</p><p>era muito parecida com os</p><p>textos publicados nos</p><p>jornais franceses. José de</p><p>Alencar foi um dos</p><p>escritores brasileiros a</p><p>produzir esse tipo de texto</p><p>nesse período .</p><p>Com o passar do tempo, a</p><p>crônica brasileira foi,</p><p>gradualmente,</p><p>distanciando-se daquela</p><p>crônica com sentido</p><p>documentário originada na</p><p>França. Ela passou a ter</p><p>um caráter mais literário,</p><p>fazendo uso de linguagem</p><p>mais leve e envolvendo</p><p>poesia, lirismo e fantasia.</p><p>E</p><p>A</p><p>B G</p><p>GLOSSÁRIO</p><p>F</p><p>C</p><p>Meu Ideal Seria Escrever...</p><p>Rubem Braga</p><p>Meu ideal seria escrever uma história tão engraçada que aquela</p><p>moça que está doente naquela casa cinzenta quando lesse minha</p><p>história no jornal risse, risse tanto que chegasse a chorar e dissesse --</p><p>"ai meu Deus, que história mais engraçada!". E então a contasse para</p><p>a cozinheira e telefonasse</p><p>para duas ou três amigas para contar a</p><p>história; e todos a quem ela contasse rissem muito e ficassem</p><p>alegremente espantados de vê-la tão alegre. Ah, que minha história</p><p>fosse como um raio de sol, irresistivelmente louro, quente, vivo, em</p><p>sua vida de moça reclusa, enlutada, doente. Que ela mesma ficasse</p><p>admirada ouvindo o próprio riso, e depois repetisse para si própria --</p><p>"mas essa história é mesmo muito engraçada!".</p><p>Que um casal que estivesse em casa mal-humorado, o marido</p><p>bastante aborrecido com a mulher, a mulher bastante irritada com o</p><p>marido, que esse casal também fosse atingido pela minha história. O</p><p>marido a leria e começaria a rir, o que aumentaria a irritação da</p><p>mulher. Mas depois que esta, apesar de sua má vontade, tomasse</p><p>conhecimento da história, ela também risse muito, e ficassem os dois</p><p>rindo sem poder olhar um para o outro sem rir mais; e que um,</p><p>ouvindo aquele riso do outro, se lembrasse do alegre tempo de</p><p>namoro, e reencontrassem os dois a alegria perdida de estarem</p><p>juntos.</p><p>Que nas cadeias, nos hospitais, em todas as salas de espera a minha</p><p>história chegasse -- e tão fascinante de graça, tão irresistível, tão</p><p>colorida e tão pura que todos limpassem seu coração com lágrimas</p><p>de alegria; que o comissário do distrito, depois de ler minha história,</p><p>mandasse soltar aqueles bêbados e também aquelas pobres</p><p>mulheres colhidas na calçada e lhes dissesse -- "por favor, se</p><p>comportem, que diabo! Eu não gosto de prender ninguém!" . E que</p><p>assim todos tratassem melhor seus empregados, seus dependentes e</p><p>seus semelhantes em alegre e espontânea homenagem à minha</p><p>história.</p><p>E que ela aos poucos se espalhasse pelo mundo e fosse contada de</p><p>mil maneiras, e fosse atribuída a um persa, na Nigéria, a um</p><p>australiano, em Dublin, a um japonês, em Chicago -- mas que em</p><p>todas as línguas ela guardasse a sua frescura, a sua pureza, o seu</p><p>encanto surpreendente; e que no fundo de uma aldeia da China, um</p><p>chinês muito pobre, muito sábio e muito velho dissesse: "Nunca ouvi</p><p>uma história assim tão engraçada e tão boa em toda a minha vida;</p><p>valeu a pena ter vivido até hoje para ouvi-la; essa história não pode ter</p><p>sido inventada por nenhum homem, foi com certeza algum anjo</p><p>tagarela que a contou aos ouvidos de um santo que dormia, e que ele</p><p>pensou que já estivesse morto; sim, deve ser uma história do céu que</p><p>se filtrou por acaso até nosso conhecimento; é divina".</p><p>E quando todos me perguntassem -- "mas de onde é que você tirou</p><p>essa história?" -- eu responderia que ela não é minha, que eu a ouvi</p><p>374</p><p>Introdução à Leitura UAB/Unimontes</p><p>Diversos escritores</p><p>brasileiros de renome</p><p>escreveram crônicas:</p><p>Machado de Assis, João do</p><p>Rio, Rubem Braga, Rachel</p><p>de Queiroz, Fernando</p><p>Sabino, Carlos Drummond</p><p>de Andrade, Henrique</p><p>Pongetti, Paulo Mendes</p><p>Campos, Alcântara</p><p>Machado etc.</p><p>Ainda hoje há diversos</p><p>escritores que desenvolvem</p><p>esse gênero, publicando</p><p>textos em jornais, revistas e</p><p>sites.</p><p>Fonte:</p><p>http://www.tvcultura.com.br</p><p>/aloescola/literatura/cronica</p><p>s/origem.htm</p><p>DICAS</p><p>Rubem Braga (1913-1990)</p><p>foi cronista, poeta, repórter,</p><p>tradutor e crítico de artes</p><p>plásticas.</p><p>Escreveu grandes obras</p><p>como: Casa do Braga, O</p><p>Conde e o Passarinho e</p><p>Três Primitivos .</p><p>Tornou-se conhecido do</p><p>grande público ao escrever</p><p>crônicas em jornais de</p><p>grande circulação.</p><p>por acaso na rua, de um desconhecido que a contava a outro</p><p>desconhecido, e que por sinal começara a contar assim: "Ontem</p><p>ouvi um sujeito contar uma história...".</p><p>E eu esconderia completamente a humilde verdade: que eu inventei</p><p>toda a minha história em um só segundo, quando pensei na tristeza</p><p>daquela moça que está doente, que sempre está doente e sempre</p><p>está de luto e sozinha naquela pequena casa cinzenta de meu</p><p>bairro.</p><p>(BRAGA: 1967)</p><p>Halliday e Hassan (1976), em “Cohesion in English”, obra clássica</p><p>sobre o assunto, apresentam o conceito de coesão textual como uma</p><p>concepção semântica que se refere às relações de sentido existentes no</p><p>interior do texto e que o definem como texto. Embora tratada como relação</p><p>semântica, os autores afirmam que ela ocorre através do sistema léxico-</p><p>gramatical. A coesão é, para esses autores, uma relação semântica entre</p><p>um elemento no texto e um outro elemento que é crucial para sua</p><p>interpretação.</p><p>Koch (1993) afirma:</p><p>É possível afirmar, a partir da citação, que a coesão não é</p><p>condição imprescindível para o estabelecimento da textualidade em um</p><p>texto.</p><p>Observe o texto abaixo:</p><p>Se é verdade que a coesão não constitui condição</p><p>necessária nem suficiente para que um texto seja um texto,</p><p>não é menos verdade, também, que o uso de elementos</p><p>coesivos dá ao texto maior legibilidade, explicitando os</p><p>tipos de relações estabelecidas entre os elementos</p><p>linguísticos que o compõem.</p><p>Canção do Exílio Simplificada</p><p>lá?</p><p>ah!</p><p>sabiá ...</p><p>papá ...</p><p>maná ...</p><p>sinhá ...</p><p>cá?</p><p>Bah!</p><p>José Paulo Paes</p><p>Fonte: acd.ufrj.br/~pead/tema07/coerenciaecoesao.html</p><p>Figura 25</p><p>PARA REFLETIR</p><p>375</p><p>Letras/Português Caderno Didático - 1º Período</p><p>A partir da Canção do Exílio, de Gonçalves Dias, muitas outras</p><p>foram escritas, algumas no mesmo tom da primeira, como a de Casimiro</p><p>de Abreu, outras num sentido mais satírico, como a de Murilo Mendes. E</p><p>esta, de José Paulo Paes, que apresenta no título a palavra facilitada, serve</p><p>para mostrar como um texto pode ser coerente, mesmo que lhe faltem elos</p><p>coesivos que deveriam ligar as orações. Na primeira estrofe, o sentido dos</p><p>termos colocados em sequência transmite a idéia de que em outra terra</p><p>tudo é muito bom. Lá existem pássaros, alimentos, mulheres, tudo em</p><p>abundância, esta subentendida nas reticências ao final de cada linha. A</p><p>segunda e última estrofe, composta apenas de dois versos, exprime toda a</p><p>decepção do poeta com a terra indicada pelo advérbio cá. A interjeição</p><p>final - bah - traduz todo o desapontamento do narrador com esta outra</p><p>terra. A coerência, a unidade de sentido, é percebida pela ordem como</p><p>foram arranjadas as idéias, cada uma delas sumariamente contida numa</p><p>única palavra. O que à primeira vista se apresenta como uma lista de</p><p>palavras aparentemente sem sentido, pois não existe entre elas nenhum</p><p>elo sintático, acaba por se revelar um texto coerente, em que autor fala de</p><p>sua terra.</p><p>Canção do exílio</p><p>Minha terra tem palmeiras,</p><p>Onde canta o Sabiá;</p><p>As aves, que aqui gorjeiam,</p><p>Não gorjeiam como lá.</p><p>Nosso céu tem mais estrelas,</p><p>Nossas várzeas têm mais flores,</p><p>Nossos bosques têm mais vida,</p><p>Nossa vida mais amores.</p><p>Em cismar, sozinho, à noite,</p><p>Mais prazer eu encontro lá;</p><p>Minha terra tem palmeiras,</p><p>Onde canta o Sabiá.</p><p>Minha terra tem primores,</p><p>Que tais não encontro eu cá;</p><p>Em cismar –sozinho, à noite–</p><p>Mais prazer eu encontro lá;</p><p>Minha terra tem palmeiras,</p><p>Onde canta o Sabiá.</p><p>Não permita Deus que eu morra,</p><p>Sem que eu volte para lá;</p><p>Sem que desfrute os primores</p><p>Que não encontro por cá;</p><p>Sem qu'inda aviste as palmeiras,</p><p>Onde canta o Sabiá.</p><p>(DIAS, Gonçalves: 1969)</p><p>Canção do exílio</p><p>Minha terra tem macieiras da</p><p>Califórnia</p><p>onde cantam gaturamos de</p><p>Veneza.</p><p>Os poetas da minha terra</p><p>são pretos que vivem em torres</p><p>de ametista,</p><p>os sargentos do exército são</p><p>monistas, cubistas,</p><p>os filósofos são polacos</p><p>vendendo a prestações.</p><p>A gente não pode dormir</p><p>com os oradores e os</p><p>pernilongos.</p><p>Os sururus em família têm por</p><p>testemunha a Gioconda.</p><p>Eu morro sufocado</p><p>em terra estrangeira.</p><p>Nossas flores são mais bonitas</p><p>nossas frutas mais gostosas</p><p>mas custam cem mil réis a</p><p>dúzia.</p><p>Ai quem me dera chupar uma</p><p>carambola de verdade</p><p>e ouvir um sabiá con certidão</p><p>de idade!</p><p>(MENDES, Murilo: 1994)</p><p>DICAS</p><p>Você pode ler a poesia de</p><p>Cassimiro de Abreu nesse</p><p>site:</p><p>http://www.revista.agulha.n</p><p>om.br/casi.html#cancao</p><p>376</p><p>É possível, também, a ocorrência de enunciados que muito</p><p>embora apresentem sequenciamento coesivo, não cheguem a constituir</p><p>texto por faltar a textualidade a ser estabelecida pela coerência.</p><p>Ex.:</p><p>O enunciado é incoerente. Há uma contradição ou falta de lógica</p><p>entre as idéias, muito</p><p>embora haja coesão marcada pelos mecanismos</p><p>gramaticais.</p><p>3.2.2 Fatores pragmáticos da textualidade</p><p>Os cinco fatores pragmáticos da textualidade são noções</p><p>centradas nos usuários, têm a ver com a atividade de comunicação textual</p><p>em geral, por parte tanto do produtor quanto do recebedor.</p><p>a) Intencionalidade</p><p>A intencionalidade revela o esforço feito pelo produtor para</p><p>estabelecer um discurso coerente e coeso a fim de cumprir o seu objetivo</p><p>comunicativo em função do receptor. Dessa forma, a intenção pode ser</p><p>informar, impressionar, alarmar, convencer, pedir, defender, etc. A praxe</p><p>acaba por estabelecer que, numa dada circunstância, tendo-se em mente</p><p>determinada intenção ilocucional, deve-se compor o texto dessa ou</p><p>daquela maneira.</p><p>Ex: Observe a propaganda. O texto</p><p>faz referência ao dia dos namorados e sugere</p><p>que embrulhe o “passarinho” para presente</p><p>numa cueca Zorba. A expressão do passarinho</p><p>mostra que ele está se sentindo muito bem</p><p>dentro das cuecas Zorba e ele foi desenhado</p><p>com uma expressão facial que sugere uma</p><p>mistura de ingenuidade e travessura. Quem</p><p>deve se sentir bem é o homem que usa as</p><p>cuecas, representado na figura do passarinho.</p><p>Embaixo, há a frase “20 modelos para agradar</p><p>todo tipo de passarinho”. Portanto, o objetivo</p><p>comunicativo desse anúncio é convencer o leitor de que as cuecas Zorba</p><p>são ideais para dar de presente ou usar no dia dos namorados.</p><p>b) Aceitabilidade</p><p>A aceitabilidade é inerente ao receptor, que analisa e avalia o grau</p><p>de coerência, coesão, utilidade e relevância do texto capaz de levá-lo a</p><p>alargar os seus conhecimentos ou de aceitar a intenção do produtor. Para</p><p>“Agora há pouco descobri que foram meus pais os</p><p>remetentes da carta e o que me lembra que a vida para ser</p><p>vivida intensamente precisa estar coerente com a razão</p><p>humana.” (ROCCO: 1981).</p><p>Fonte: http://www.sciarts.org.br/</p><p>textos/txtcom_analzorba.asp</p><p>Figura 26</p><p>Introdução à Leitura UAB/Unimontes</p><p>377</p><p>Letras/Português Caderno Didático - 1º Período</p><p>tal, ele utiliza as pistas fornecidas pelo produtor, seu conhecimento de</p><p>mundo, da situação, etc.</p><p>Segundo Beaugrande & Dressler (1981), apud Costa Val (2004), a</p><p>intencionalidade e a aceitabilidade são definidas como concernentes às</p><p>atitudes, objetivos e expectativas do produtor e do recebedor/leitor,</p><p>respectivamente.</p><p>Para os autores, produzir um texto que seja considerado coeso e</p><p>coerente pelo leitor pode ser uma maneira de atingir os objetivos</p><p>comunicativos desejados, e colaborar na construção da coesão e da</p><p>coerência do texto do outro pode ser uma maneira de se engajar no projeto</p><p>comunicativo dele. Nesse processo de mão dupla, o produtor conta com a</p><p>tolerância e o trabalho de inferência do recebedor na construção do</p><p>sentido do texto.</p><p>Por outro lado, o recebedor, supondo coerência no texto e se</p><p>dispondo a contribuir para construí-la, se orienta por conhecimentos</p><p>prévios e partilhados, que são estabelecidos social e culturalmente, sobre</p><p>os tipos de texto, as ações e metas possíveis em determinados contextos e</p><p>situações.</p><p>c) Situacionalidade</p><p>A situacionalidade é responsável pela adequação e relevância do</p><p>texto ao contexto em que ele ocorre. Ela pode ocorrer não só da situação</p><p>para o texto, que é a interferência da situação comunicativa no processo de</p><p>produção/recepção, mas também do texto para a situação, que são os</p><p>reflexos do texto sobre a situação comunicativa.</p><p>A situacionalidade exerce um relevante papel na construção da</p><p>coerência, visto que, uma seqüência linguística considerada incoerente em</p><p>uma situação pode ser coerente em outra. Configura-se de elementos</p><p>contextuais que favorecem a comunicação: espaço geográfico, o tempo,</p><p>as relações existentes entre os interlocutores, o grau de conhecimento, etc.</p><p>A adequação do texto à situação sociocomunicativa e ao contexto</p><p>pode definir o sentido do discurso e, normalmente, orientar tanto a</p><p>produção, quanto a recepção, afirmam Beaugrande e Dressler (1983)</p><p>apud Costa Val (2004).</p><p>As placas de trânsito, por exemplo, precisam</p><p>dar uma informação rápida e eficiente. Nesse contexto</p><p>o objetivo comunicativo não seria atingido caso a</p><p>informação fosse por meio de um extenso texto escrito.</p><p>A placa acima quer dizer “Junções Sucessivas</p><p>Contrárias 1ª à Esquerda”. Imagina se no lugar da</p><p>imagem viesse essa inscrição?</p><p>d) Informatividade.</p><p>A informatividade não é entendida como uma característica do</p><p>Figura 27</p><p>texto em si, mas é avaliada em função das expectativas e conhecimentos</p><p>dos usuários.</p><p>A informatividade responde pela suficiência de dados no texto, ou</p><p>seja, para ter informatividade, o texto tem que apresentar todas as</p><p>informações necessárias, para que seja compreendido com o sentido que o</p><p>produtor pretende. Responde pelo grau de previsibilidade nas ocorrências</p><p>no plano conceitual e no formal.</p><p>A presença de apenas informação esperada / prevista em um texto</p><p>faz com que ele tenha um baixo grau de informatividade, pois o que é</p><p>informado torna-se óbvio para o leitor, não atingindo, assim, nenhum</p><p>propósito comunicativo. Se, por outro lado, ele contiver apenas</p><p>informação inesperada, poderá parecer incoerente para o receptor,</p><p>dificultando-lhe a compreensão.</p><p>Para Beaugrande & Dressler (1983) apud Costa Val (2004),</p><p>informatividade tem a ver com grau de novidade e previsibilidade: quanto</p><p>mais previsível, menos informativo será o texto para determinado usuário,</p><p>porque acrescentará pouco às informações que o recebedor já tinha antes</p><p>de processá-lo. E vale também o inverso: quanto mais cheio de novidades,</p><p>mais informativo. Um determinado texto.</p><p>Isso quer dizer que os leitores tendem a rejeitar tanto os textos que</p><p>têm, para eles, informatividade alta demais, porque são muito difíceis (ou</p><p>impossíveis) de serem entendidos, quanto aqueles que lhes parecem</p><p>óbvios, porque pouco lhes acrescentam.</p><p>Os autores afirmam que um grau mediano de informatividade</p><p>seria o mais confortável, porque permitiria ao recebedor apoiar-se no</p><p>conhecido para processar o novo.</p><p>Por outro lado, para os autores, funcionaria melhor um texto que</p><p>alternasse passagens de baixa informatividade com passagens de alta</p><p>informatividade, porque, no processamento desse texto, o recebedor teria</p><p>que agir no sentido de alçar ou rebaixar informações, levando-as ao nível</p><p>mediano, para integrá-las no sentido que está produzindo para o texto, e</p><p>esse trabalho o manteria envolvido com o texto, interessado no texto.</p><p>Conclui-se, pois, que a informatividade não é pensada como</p><p>característica absoluta nem inerente ao texto em si, mas como um fator a</p><p>ser considerado em função dos usuários e da situação em que o texto</p><p>ocorre.</p><p>e) Intertextualidade.</p><p>Costa Val (2004) afirma que a intertextualidade mostra a</p><p>interdependência dos textos entre si, tendo em vista que um texto só faz</p><p>sentido quando é entendido em relação a outro texto. Segundo a autora,</p><p>“um discurso vem ao mundo numa inocente solitude, mas constrói-se</p><p>através de um já-dito em relação ao qual ele toma posição”. Ou seja,</p><p>alguns textos só fazem sentido quando postos em relação a outros textos,</p><p>que funcionam como seu contexto. Desta forma, avaliar a</p><p>378</p><p>Introdução à Leitura UAB/Unimontes</p><p>379</p><p>Letras/Português Caderno Didático - 1º Período</p><p>intertextualidade pode significar analisar a presença dessa fala subliminar,</p><p>de todos e de ninguém, nos textos estudados.</p><p>Como diz Koch, essa “(inevitável) presença do outro naquilo que</p><p>dizemos ou escrevemos”, ou seja, a intertextualidade, é um recurso</p><p>argumentativo que pode estar explícito ou implícito, mas que certamente</p><p>requer a ativação do texto-fonte na mente do leitor no intuito de orientar a</p><p>compreensão daquilo que se lê.</p><p>Normalmente é possível destacar oito tipos de intertextualidade:</p><p>?Epígrafe: constitui uma escrita introdutória a outra.</p><p>Normalmente aparece nas páginas opcionais de projetos, dissertações,</p><p>teses, livros, artigos</p><p>e em outros trabalhos acadêmicos.</p><p>?Citação: é uma transcrição do texto alheio, geralmente</p><p>marcada por aspas.</p><p>?Paráfrase: é a reprodução do texto do outro com a palavra do</p><p>autor. Ela não se confunde com o plágio, pois o autor deixa claro sua</p><p>intenção e a fonte.</p><p>?Pastiche: O pastiche é uma recorrência a um gênero pode ser</p><p>plágio, por isso tem sentido pejorativo. No classicismo era prática comum a</p><p>ocorrência de pastiche o que não consistia desprestígio ou violação de</p><p>direitos uma vez que a questão da originalidade e da autenticidade nas</p><p>artes nasceu com o Romantismo, cuja concepção artística era que a obra</p><p>expressasse a subjetividade do autor. O pastiche insiste na norma a ponto</p><p>de esvaziá-la, como acontece com o dramalhão, que leva o gênero drama</p><p>às últimas consequências.</p><p>?Tradução: implica em recriação de um texto.</p><p>?Referência/alusão: Machado de Assis é mestre nesse tipo de</p><p>intertextualidade. Ele foi um escritor que visualizou o valor desse artifício no</p><p>romance bem antes do Modernismo. No romance Dom Casmurro, ele cita</p><p>Otelo, personagem de Shakespeare, para que o leitor analise o drama de</p><p>Bentinho.</p><p>?Paródia: é uma forma de apropriação do texto alheio em o</p><p>autor, no lugar de endossar o modelo retomado, rompe com ele, sutil ou</p><p>abertamente. Ela perverte o texto anterior, visando à ironia ou à crítica.</p><p>Vimos que todo texto, seja ele literário ou não, é oriundo de outro,</p><p>seja direta ou indiretamente. Qualquer texto que faz referência a um</p><p>assunto abordado em outros textos é exemplo de intertextualidade.</p><p>Como diz Koch (2004:145), a “(inevitável) presença do outro</p><p>naquilo que dizemos ou escrevemos”, ou seja, a intertextualidade é um</p><p>recurso argumentativo que pode estar explícito ou implícito, mas que</p><p>certamente requer a ativação do texto-fonte na mente do leitor no intuito</p><p>Ilustrando a intertextualidade</p><p>E</p><p>A</p><p>B G</p><p>GLOSSÁRIO</p><p>F</p><p>C</p><p>Epígrafe: (do grego epi =</p><p>em posição</p><p>superior + graphé =</p><p>escrita) constitui uma</p><p>escrita introdutória de</p><p>outra.</p><p>Todas as unidades do nosso</p><p>Caderno são introduzidas</p><p>por uma epígrafe.</p><p>DICAS</p><p>você terá oportunidade de</p><p>estudar as diferentes</p><p>formas de fazer citação na</p><p>disciplina Metodologia</p><p>Científica no 2º período do</p><p>Curso. Aguarde!!</p><p>DICAS</p><p>Maiores detalhes sobre</p><p>Classicismo e Romantismo</p><p>você terá oportunidade de</p><p>estudar na disciplina</p><p>Literatura em períodos</p><p>subseqüentes do Curso.</p><p>380</p><p>Introdução à Leitura UAB/Unimontes</p><p>de orientar a compreensão daquilo que se lê.</p><p>Nos exemplos a seguir, percebe-se, claramente, que um dos</p><p>objetivos dos produtores desses textos é que o leitor/ouvinte seja capaz de</p><p>reconhecer a presença do intertexto pela ativação do texto-fonte em sua</p><p>memória discursiva. Assim, a construção dos sentidos estará parcialmente</p><p>garantida pelo reconhecimento do texto-fonte que deu origem ao novo</p><p>texto.</p><p>No primeiro exemplo, um dos</p><p>objetivos de Maurício de Sousa é mostrar</p><p>o “grande dilema existencial” que a</p><p>comilona personagem Magali vive: comer</p><p>ou não comer, eis a questão! A capa do</p><p>gibi remete o leitor, imediatamente, ao</p><p>texto-fonte: Hamlet, de W. Shakespeare:</p><p>“To be or not to be, that's the question!”,</p><p>ou seja, “Ser ou não ser, eis a questão!”.</p><p>No segundo exemplo, o</p><p>quadrinho de Fernando Gonsales –</p><p>Níquel Náusea – retoma a fábula “A</p><p>cigarra e a formiga”, por meio de uma</p><p>paródia. O leitor necessita reconhecer o texto original para compreender a</p><p>tirinha e perceber o humor.</p><p>No terceiro exemplo, o anúncio</p><p>publ ici tár io ut i l iza a expressão</p><p>idiomática “ter o rei na barriga”,</p><p>sugerindo que a mulher gestante ofereça</p><p>ao seu bebê, a quem ela considera a</p><p>pessoa mais importante (“rei”), produtos</p><p>da marca e qualidade Lillo.</p><p>É importante ressaltar a</p><p>diversidade de gêneros textuais</p><p>presentes nos exemplos em análise: HQ,</p><p>capa de gibi, anúncio publicitário,</p><p>fábula, dito popular e teatro clássico.</p><p>Isso comprova que os textos veiculados</p><p>Fonte: http://www.faccar.com.br/desletras/hist/</p><p>2005_g/2005/textos/005.html</p><p>Figura 28</p><p>Fonte: http://www.faccar.com.br/desletras/hist/2005_g/2005/textos/005.html</p><p>Figura 29</p><p>Fonte: http://www.faccar.com.br/</p><p>desletras/hist/2005_g/2005/textos/005.html</p><p>Figura 30</p><p>381</p><p>Letras/Português Caderno Didático - 1º Período</p><p>socialmente requerem do leitor conhecimentos anteriores e que</p><p>interajamos por meio de diversos gêneros discursivos.</p><p>Vejamos um exemplo de intertextualidade presente na pintura,</p><p>mais precisamente as várias versões da famosa pintura de Leonardo da</p><p>Vinci, Mona Lisa. Note a original, primeira à esquerda e as demais, em que</p><p>outros autores fizeram intertextualidade por meio da paródia.</p><p>Um outro exemplo de paródia pode ser observado no poema</p><p>de Carlos Drummond de Andrade “No Meio do Caminho”, parodiado do</p><p>soneto “Nel Mezzo del Camin”, de Olavo Bilac que, por sua vez, remete ao</p><p>primeiro verso da Divina Comédia, de Dante Alighiere: "Nel mezzo del</p><p>camin de nostra vita".</p><p>Drummond parodiou o título e imitou o esquema retórico do</p><p>soneto de Bilac, ou seja, em vez de parodiar o significado, promoveu uma</p><p>paródia na forma: empenhou-se na imitação irônica da estrutura,</p><p>reproduzindo apenas o quiasmo (repetição invertida) do texto.</p><p>Figura 31: Mona</p><p>Lisa, Leonardo</p><p>da Vinci. Óleo</p><p>sobre tela, 1503</p><p>Figura 32: Mona</p><p>Lisa, de Marcel</p><p>Duchamp, 1919.</p><p>Figura 33:Mona</p><p>Lisa, Fernando</p><p>Botero, 1978</p><p>Figura 34: Mona</p><p>Lisa, propaganda</p><p>publicitária</p><p>FONTE: Wikipédia, a enciclopédia livre - http://pt.wikipedia.org/.</p><p>No Meio do Caminho</p><p>Carlos Drummond de Andrade</p><p>No meio do caminho tinha uma pedra</p><p>tinha uma pedra no meio do caminho</p><p>tinha uma pedra</p><p>no meio do caminho tinha uma pedra.</p><p>Nunca me esquecerei desse acontecimento</p><p>na vida de minhas retinas tão fatigadas.</p><p>Nunca me esquecerei que no meio do caminho</p><p>tinha uma pedra</p><p>tinha uma pedra no meio do caminho</p><p>no meio do caminho tinha uma pedra.</p><p>Fonte: http://www.portrasdasletras.com.br/</p><p>382</p><p>Introdução à Leitura UAB/Unimontes</p><p>A tradução de um texto literário implica em recriação, por isso, ela</p><p>está no campo da intertextualidade. No artigo Intertextualidade: um rio</p><p>com discurso, o professor Hélio Consolaro, trabalha o seguinte poema de</p><p>Edgar A. Poe:</p><p>Agora, vamos ler o mesmo poema traduzido por dois escritores da</p><p>língua portuguesa.</p><p>Nel Mezzo del Camin</p><p>Olavo Bilac</p><p>Cheguei. Chegaste. Vinhas fatigada</p><p>E triste, e triste e fatigado eu vinha.</p><p>Tinhas a alma de sonhos povoada,</p><p>E a alma de sonhos povoada eu tinha...</p><p>E paramos de súbito na estrada</p><p>Da vida: longos anos, presa à minha</p><p>A tua mão, a vista deslumbrada</p><p>Tive da luz que teu olhar continha.</p><p>Hoje, segues de novo... Na partida</p><p>Nem o pranto os teus olhos umedece,</p><p>Nem te comove a dor da despedida.</p><p>E eu, solitário, volto a face, e tremo,</p><p>Vendo o teu vulto que desaparece</p><p>Na extrema curva do caminho extremo.</p><p>Once upon a midnight dreary, while I ponde-red</p><p>weak ande weary</p><p>Over many a quaint and curious volume of for-got-</p><p>tem lore, while i modded, neraly napping, su-ddenly</p><p>there came a tapping,</p><p>As of some one gently rapping, rapping at may</p><p>chamber door</p><p>Only this and nothing more.</p><p>(Edgar A. Poe)</p><p>Numa meia-noite agreste, quando eu lia, lento e triste,</p><p>Vagos curiosos tomos de ciências ancestrais,</p><p>E já quase adormecia, ouvi o que parecia</p><p>O som de alguém que batia levemente a meus umbrais</p><p>Uma visita' eu me disse, 'está batendo a meus umbrais</p><p>E só isto, e nada mais.</p><p>Numa meia-noite agreste, quando eu lia, lento e triste,</p><p>Vagos curiosos tomos de ciências ancestrais,</p><p>E já quase adormecia, ouvi o que parecia</p><p>O som de alguém que batia levemente a meus umbrais</p><p>Uma visita' eu me disse, 'está batendo a meus umbrais</p><p>E só isto, e nada mais.</p><p>Tradução de Fernando Pessoa</p><p>383</p><p>Letras/Português Caderno Didático - 1º Período</p><p>Hélio Consolaro explica que “O poema é o mesmo, mas Machado</p><p>de Assis traduziu do francês para o português, enquanto Fernando Pessoa</p><p>partiu direto do inglês, por isso as traduções ficaram bem diferentes,</p><p>embora a essência dele continue</p><p>nos dois textos traduzidos”.</p><p>Quanto à paráfrase, um bom exemplo é o poema “Oração” de</p><p>Jorge de Lima. Observe que o autor retoma explicitamente a oração Ave</p><p>Maria e mantém-se fiel a ela, justapõe a figura de Maria à da sua mãe,</p><p>refere-se à hora do ângelus.</p><p>Em certo dia, à hora, à hora</p><p>Da meia-noite que apavora,</p><p>Eu caindo de sono e exausto de fadiga,</p><p>Ao pé de muita lauda antiga,</p><p>De uma velha doutrina, agora morta</p><p>Ia pensando, quando ouvi à porta</p><p>Do meu quarto um soar devagarinho</p><p>E disse estas palavras tais:</p><p>'É alguém que me bate à porta de mansinho:</p><p>Há de ser isso e nada mais'.</p><p>Tradução de Machado de Assis</p><p>Oração</p><p>Jorge de Lima</p><p>“- Ave Maria cheia de graças...”</p><p>A tarde era tão bela, a vida era tão pura,</p><p>as mãos de minha mãe eram tão doces,</p><p>havia, lá no azul, um crepúsculo de ouro... lá longe...</p><p>“- Cheia de graça, o Senhor é convosco, bendita!”</p><p>Bendita!</p><p>Os outros meninos, minha irmã, meus irmãos</p><p>menores,</p><p>meus brinquedos, a casaria branca de</p><p>minha terra, a burrinha do vigário</p><p>pastando</p><p>junto à capela... lá longe...</p><p>Ave cheia de graça</p><p>- ...”bendita sois entre as mulheres, bendito é o</p><p>fruto do vosso ventre...”</p><p>E as mãos do sono sobre os meus olhos,</p><p>e as mãos de minha mãe sobre o meu sonho,</p><p>e as estampas de meu catecismo</p><p>para o meu sonho de ave!</p><p>E isto tudo tão longe... tão longe...</p><p>Fonte: http://www.portrasdasletras.com.br</p><p>Ainda neste período você</p><p>estudará intertextualidade</p><p>na disciplina Introdução à</p><p>Teoria da literatura.</p><p>Aproveite bem as noções</p><p>aqui estudadas para fazer a</p><p>interdisciplinaridade. Vale</p><p>dizer que: “Na Literatura,</p><p>a intertextualidade é uma</p><p>constante, porque cada</p><p>estilo de época se opõe ao</p><p>anterior e retoma parte da</p><p>estética passada.</p><p>Exemplos: o Classicismo</p><p>retomou a Antigüidade</p><p>Clássica, assim fez também</p><p>o Arcadismo e o</p><p>Parnasianismo. O Realismo</p><p>combatia os excessos do</p><p>Romantismo, já este</p><p>contrariava o formalismo</p><p>dos clássicos”. Hélio</p><p>Consolaro.</p><p>http://www.portrasdasletras.</p><p>com.br</p><p>DICAS</p><p>384</p><p>Introdução à Leitura UAB/Unimontes</p><p>REFERÊNCIAS</p><p>BRAGA, Rubem. A traição das elegantes. Rio de Janeiro: Editora Sabiá,</p><p>1967.</p><p>COSTA VAL, Maria da Graça. Redação e textualidade. 2. ed. São Paulo:</p><p>Martins Fontes, 2004.</p><p>COSTA VAL, Maria da Graça. Redação e textualidade. São Paulo: Martins</p><p>Fontes, 1999.</p><p>DIAS, Gonçalves. Poesia. São Paulo: Agir, 1969. Coleção Nossos Clássicos.</p><p>HALLIDAY, M. A.; McINTOSH, A. & STREVENS, P. Cohesion in English.</p><p>London: Longman, 1976.</p><p>KOCH, Ingedore Grunfeld Villaça; TRAVAGLIA, Luiz Carlos. Texto e</p><p>coerência. 5. ed. São Paulo: Cortez, 1997.</p><p>KOCH, Ingedore Villaça. A coerência textual. 6. ed. São Paulo: Contexto,</p><p>1993. Coleção Repensando a Língua Portuguesa.</p><p>MARCUSCHI, Luiz Antonio. Linguística do Texto: o que é, como se. faz.</p><p>Recife: Universidade Federal de Pernambuco, 1983.</p><p>MENDES, Murilo. Poesia completa e prosa. (Org.) Luciana Stegagno</p><p>Picchio. RJ: Nova Aguilar, 1994.</p><p>RICARDO, Cassiano. Poesias completas. Rio de Janeiro: José Olímpio,</p><p>1957.</p><p>ROCCO, Maria Thereza Fraga. Crise na linguagem: a redação no</p><p>vestibular. São Paulo: Mestre</p><p>FIORIN, José Luiz; SAVIOLI, Francisco Platão. Lições de texto: leitura e</p><p>redação. 4 ed. São Paulo: Ática, 2004.</p><p>FIORIN, José Luiz; SAVIOLI, Francisco Platão. Para entender o texto:</p><p>leitura e redação. 11. ed. São Paulo: Ática, 1995.</p><p>http://acd.ufrj.br/~pead/tema07/coerenciaecoesao.html, consultado em</p><p>out/2008.</p><p>http://revistaescola.abril.com.br/edicoes/0206/aberto/palavras_novas.doc</p><p>, consultado em out/2008.</p><p>http://www.blognoticia.blogger.com.br, consultado em out/2008.</p><p>http://www.portrasdasletras.com.br/, consultado em out/2008.</p><p>http://www.revista.agulha.nom.br/casi.html#cancao, consultado em</p><p>out/2008.</p><p>http://www.tvcultura.com.br/aloescola/literatura/cronicas/origem.htm,</p><p>consultado em out/2008.</p><p>4UNIDADE 4</p><p>O CONHECIMENTO PRÉVIO NA LEITURA</p><p>Um leitor mais experiente percebe as</p><p>palavras globalmente e advinha muitas</p><p>outras, guiado pelo seu conhecimento</p><p>prévio e por suas</p><p>hipóteses de leitura.</p><p>Luiziana Rezende</p><p>Parabéns!</p><p>Grandes desafios já foram vencidos. Vamos ampliar nossos</p><p>conhecimentos? Seja bem vindo à unidade IV.</p><p>Apresentação da unidade</p><p>Considerando que uma boa leitura requer do leitor a utilização de</p><p>conhecimentos adquiridos ao longo da vida. Conhecimentos esses que se</p><p>interagem proporcionando a compreensão do texto e não somente a sua</p><p>decodificação, nessa unidade enfatizamos a importância do</p><p>conhecimento prévio para a compreensão dos textos que lemos. São</p><p>abordados os conhecimentos linguísticos, o conhecimento textual e o</p><p>conhecimento de mundo de uma forma explicativa e ilustrada para facilitar</p><p>o entendimento.</p><p>Sucesso!</p><p>Objetivos</p><p>?Reconhecer a multiplicidade de processos cognitivos que</p><p>constituem a atividade em que o leitor se engaja para construir o sentido de</p><p>um texto escrito.</p><p>?Aprimorar a própria capacidade de leitura para facilitar as</p><p>ações na sociedade essencialmente escrita em que vivemos.</p><p>?Adquirir subsídios para tornar-se um eficiente formador de</p><p>leitores, preparando-se para uma educação de qualidade.</p><p>?Demonstrar competência para a ativação de conhecimentos</p><p>prévios na leitura de textos.</p><p>4.1 CONHECIMENTO PRÉVIO</p><p>Koch e Travaglia (1997), ao se referirem à coerência, afirmam que</p><p>uma multiplicidade de fatores (linguísticos, discursivos, cognitivos culturais</p><p>e interacionais) concorrem para sua construção. Correspondente a essa</p><p>afirmação, Kleiman (1989) quando diz que a leitura é um processo</p><p>385</p><p>interativo, pois resulta da interação de diversos níveis de conhecimentos,</p><p>denomina o conjunto de conhecimentos que os sujeitos adquirem ao longo</p><p>de suas vidas e que desempenham papel importante na compreensão do</p><p>texto de conhecimento prévio, afirmando que ele pode ser linguístico</p><p>textual e de mundo.</p><p>Sem o conhecimento de mundo sobre contos de fadas, não</p><p>conseguiríamos fazer uma boa leitura da tirinha. Ela nos remete ao fato de</p><p>que as bruxas podem transformar alguém em sapo, ao mesmo tempo em</p><p>que nos faz pensar que somente as princesas são capazes de transformar</p><p>um sapo em príncipe. Ou seja, a partir desse conhecimento de mundo em</p><p>relação aos contos de fadas, podemos inferir que a namorada do</p><p>personagem pode ser uma bruxa por tê-lo transformado em sapo ou por</p><p>não ter conseguido transformá-lo em príncipe.</p><p>4.2 CONHECIMENTO PRÉVIO E LEITURA</p><p>Já vimos que a leitura não pode ser concebida única e</p><p>exclusivamente como um processo de decodificação, pois a decodificação,</p><p>não é o suficiente para que a compreensão se concretize.</p><p>Scott (1983), afirma:</p><p>A leitura não é a habilidade de decodificar palavras, mas</p><p>sim de se extrair o significado, o implícito e explícito do texto</p><p>escrito. É um processo seletivo e ao mesmo tempo, um jogo</p><p>de adivinhação psico-linguístico que envolve uma interação</p><p>entre pensamento e linguagem.</p><p>Neste sentido, autor e leitor se interagem mediados pelo</p><p>texto,atribuindo-lhe significados.</p><p>Koch afirma:</p><p>A atividade de interpretação do texto deve sempre fundar-</p><p>se na suposição de que o produtor tem determinadas</p><p>intenções e de que uma compreensão adequada exige,</p><p>justamente, a captação dessas intenções por parte de quem</p><p>lê: é preciso compreender-se o querer dizer como um querer</p><p>fazer. (KOCH, 2002 - 160).</p><p>ATIVIDADES</p><p>Antes de seguir a leitura do</p><p>texto, pare e leia</p><p>atentamente a tirinha.</p><p>Quais conhecimentos</p><p>prévios ela exige do leitor</p><p>para que seja entendida?</p><p>Figura 35</p><p>386</p><p>Introdução à Leitura UAB/Unimontes</p><p>Dizemos então, que a leitura é um processo cognitivo que</p><p>depende da participação do leitor, que atua dotado de sua própria</p><p>“bagagem” cultural, participando também da construção do significado.</p><p>Nessa relação, o leitor torna-se participante da interação</p><p>comunicativa que ocorre porque a leitura não se configura como um</p><p>processo passivo. Por exigir descoberta e re-criação, a leitura coloca-se</p><p>como</p><p>produção e sempre supõe trabalho do sujeito-leitor que, além de</p><p>partilhar e (re)criar referenciais de mundo, transforma-se num produtor,</p><p>em virtude da perspicácia da compreensão e de sua consciência crítica.</p><p>Sendo assim, o processo de leitura pressupõe a elaboração de</p><p>hipóteses (previsões a respeito do texto) e o leitor observa os recursos</p><p>visuais, gráficos e sonoros (título, ilustração, gráfico, silhueta, tipo de letra</p><p>etc.), levanta uma série de hipóteses e começa a testá-las.</p><p>Para Kleiman,</p><p>(...) leitura implica uma atividade de procura pelo leitor, no</p><p>seu passado de lembranças e conhecimentos, daqueles</p><p>que são relevantes à compreensão de um texto, que</p><p>fornece pistas e sugere caminhos, mas que certamente não</p><p>explicita tudo o que seria possível explicitar. (KLEIMAN,</p><p>1989:27),</p><p>4.2.1 Conhecimentos linguísticos</p><p>Os conhecimentos linguísticos são os conhecimentos referentes à</p><p>língua e que servem como pistas para ativação dos conhecimentos</p><p>armazenados na memória. Koch e Travaglia (1999), afirmam que eles</p><p>constituem o ponto de partida para a elaboração de inferências, ajudam a</p><p>captar a orientação argumentativa dos enunciados. Segundo os autores:</p><p>O conhecimento linguístico é o conhecimento de uso da língua</p><p>nativa que cada indivíduo tem. Se falamos melhor o português do que</p><p>outra língua, leremos melhor em português do que em outra língua.</p><p>Tendo em vista essas considerações sobre conhecimento prévio</p><p>e leitura, vejamos cada tipo de conhecimento.</p><p>A ordem de apresentação desses elementos, o modo como</p><p>se inter-relacionam para veicular sentidos, as marcas</p><p>usadas para esse fim, as “famílias” de significação a que as</p><p>palavras pertencem, os recursos que permitem retomar</p><p>coisas já ditas e/ou apontar para elementos que serão</p><p>apresentados posteriormente, enfim, todo o contexto</p><p>linguístico o ou - co-texto – vai contribuir de maneira ativa</p><p>na construção da coerência.(KOCH E TRAVAGLIA.1999.</p><p>p. 59).</p><p>Diz a lenda que Rui Barbosa, um dia, ao chegar a casa,</p><p>ouviu um barulho estranho vindo do seu quintal. Chegando lá,</p><p>constatou haver um ladrão tentando levar seus patos de criação.</p><p>Aproximou-se vagarosamente do indivíduo e,</p><p>387</p><p>Letras/Português Caderno Didático - 1º Período</p><p>Fica evidente que o ladrão não entendeu nada do que foi dito.</p><p>4.2.2 Conhecimento textual</p><p>O conhecimento textual diz respeito ao conhecimento dos diversos</p><p>tipos de textos existentes e ao conhecimento de suas estruturas e formas de</p><p>discurso, bem como de seus usos.</p><p>É o conhecimento textual que permite identificar a estrutura do texto</p><p>cujo discurso pode ser classificado, por exemplo, em narrativo, descritivo e</p><p>argumentativo. De acordo com essas marcas formais, o leitor se dispõe a</p><p>ler ou não o texto.</p><p>Assim, muitas vezes os objetivos do leitor são determinados pelos tipos</p><p>formais de textos. Costuma-se dizer que saber ler somente um tipo e/ou</p><p>gênero textual, não é um saber ler eficiente. Além de reconhecer as marcas</p><p>que diferenciam um texto de outro, o leitor precisar saber ler qualquer tipo</p><p>de texto.</p><p>Ex:</p><p>Leia o texto novamente e</p><p>reescreva-o de maneira que</p><p>você acredita que o ladrão</p><p>entenderia o que o escritor</p><p>teria dito.</p><p>ATIVIDADES</p><p>ATIVIDADES</p><p>Leia os dois textos e reflita:</p><p>Qual a temática?</p><p>Em que eles se parecem?</p><p>Quais são as diferenças</p><p>entre eles?</p><p>Em qual situação</p><p>comunicacional cada um</p><p>deles pode ser usado?</p><p>surpreendendo-o ao tentar pular o muro com seus amados patos,</p><p>disse-lhe:</p><p>___Oh, bucéfalo anácrono! Não o interpelo pelo valor</p><p>intrínseco dos bípedes palmípedes, mas sim pelo ato vil e</p><p>sorrateiro de profanares o recôndito de minha habitação, levando</p><p>meus ovíparos à sorrelfa e à socapa. Se fazes isso por necessidade,</p><p>transijo; mas se é para zombares da minha elevada prosopopéia</p><p>de cidadão digno e honrado, dar-te-ei com minha bengala</p><p>fosfórica bem no alto da tua sinagoga, e o farei com tal ímpeto</p><p>que te reduzirei à qüinquagésima potência que o vulgo denomina</p><p>nada.</p><p>E o ladrão confuso disse:</p><p>___Doutor, eu levo ou deixo os patos?</p><p>(Damião, R. T.; Henriques, a. 2000).</p><p>Decidi escrever-te uma carta de amor com as lágrimas</p><p>que por ti derramo, com o coração que se desfaz aos</p><p>poucos quando meus olhos dos teus sentem falta.</p><p>Amor meu coração já não consegue esconder nem</p><p>sequer expressar o que sente por ti, aos poucos tua</p><p>amizade cresceu, sorriu, venceu e em meu peito</p><p>assentou como um colibri que pousa numa flor em</p><p>busca do néctar.</p><p>Fonte: http://www.luso-poemas.net/modules/news/article.php?storyid=23101</p><p>388</p><p>Introdução à Leitura UAB/Unimontes</p><p>389</p><p>AME LOGO</p><p>Aqui estou ainda que ferido a sua espera</p><p>De abertos braços, coração rasgado,</p><p>Com um amor louco para ser dado,</p><p>Com força capaz de transpor esta era.</p><p>Encontrará no meu ninho anjo e fera.</p><p>Um homem, um amigo, namorado...</p><p>Quem sabe aquele mesmo outro amado...</p><p>Que está nos seus sonhos, oh minha bela!</p><p>“Não” a conheço ainda, mas já a quero forte.</p><p>Venha rápido como um vento do norte</p><p>E de mim se aposse, minha senhora.</p><p>Não me deixe esperar mais, é você mesma</p><p>Que será meu amor, você que me queira.</p><p>Ame logo, meu brilho, minha aurora...!</p><p>Márcio Adriano Moraes</p><p>4.2.3 Conhecimento de mundo</p><p>O conhecimento de mundo, também conhecido como</p><p>enciclopédico, trata-se do embasamento cultural, dos conhecimentos que</p><p>cada um vai acumulando no cotidiano, nas experiências, vivências e</p><p>aprendizagens.</p><p>Kleiman (1989) observa que "a leitura implica numa atividade de</p><p>procura do leitor, no seu passado de lembranças e conhecimentos e sugere</p><p>caminhos, mas que certamente não explicita tudo o que seria possível</p><p>explicitar". Assim, o que orienta o leitor, então, não é mais o sentido do</p><p>texto, mas a direção e a elaboração do seu pensamento e a sua imagem do</p><p>mundo estruturada através de esquemas na memória que determinam</p><p>suas expectativas sobre a ordem natural das coisas.</p><p>Para realizar uma leitura eficiente, o leitor precisa compartilhar</p><p>das informações que o autor empregou e aliar a própria visão de mundo à</p><p>Letras/Português Caderno Didático - 1º Período</p><p>390</p><p>realidade transmitida pelo texto. A cada leitura realizada, mais</p><p>conhecimento prévio o leitor armazena, o que favorece a construção de</p><p>sentidos dos textos.</p><p>Koch e Travaglia (1999), afirmam que o conhecimento de mundo</p><p>é adquirido à medida que vivemos, tomando contato com o mundo que</p><p>nos cerca e experienciando fatos diversificados e que eles vão sendo</p><p>armazenados na memória em blocos (conjuntos de conhecimentos)</p><p>denominados modelos cognitivos. Os autores citam cinco tipos de modelos</p><p>cognitivos:</p><p>?os frames: blocos de conhecimentos armazenados sem</p><p>ordenação: Ex: Para o frame restaurante (garçon, refeição, talheres,</p><p>jantar...);</p><p>?os esquemas: blocos de conhecimentos armazenados em</p><p>seqüência causal ou temporal.</p><p>?os planos: bloco de conhecimentos sobre como agir para</p><p>atingir determinado objetivo;</p><p>?os scripts: bloco de conhecimentos pré-determinados por</p><p>exemplo rituais religiosos, formas de cortesia ou práxis jurídicas.</p><p>?as superestruturas ou esquemas textuais: blocos de</p><p>conhecimentos referentes a tipos de textos.</p><p>Figura 36</p><p>Introdução à Leitura UAB/Unimontes</p><p>391</p><p>4.2.4 Conhecimento partilhado</p><p>Um aspecto relevante no modo de interagir com um texto é o</p><p>conhecimento partilhado entre autor (texto) e leitor. Para realizar uma</p><p>leitura eficiente, o leitor precisa compartilhar das informações que o autor</p><p>empregou e aliar a própria visão de mundo à realidade transmitida pelo</p><p>texto.</p><p>Sendo assim, mesmo que seja praticamente impossível assimilar</p><p>conhecimentos de uma mesma forma, no caso de produtor e receptor de</p><p>textos, é preciso que uma parcela dos conhecimentos adquiridos</p><p>previamente e armazenados na memória seja comum a ambos. Sobre</p><p>conhecimento partilhado, Koch e Travaglia (1990.p. 64), afirmam: “os</p><p>elementos textuais que remetem ao conhecimento partilhado entre os</p><p>interlocutores constituem a informação “velha” ou dada, ao passo que</p><p>tudo aquilo que for introduzido a partir dela constituirá</p><p>a informação nova</p><p>trazida pelo texto”.</p><p>Disso decorre que, para que um texto seja coerente é necessário</p><p>que haja um equilíbrio entre informação dada e informação nova. A</p><p>necessidade desse equilíbrio é porque se em um texto todas as informações</p><p>são novas, ele se torna inteligível para o receptor que não o processará</p><p>cognitivamente. Por outro lado, se o texto contém apenas informações</p><p>dadas, será considerado redundante e não preencherá o propósito</p><p>comunicativo.</p><p>Para Koch e Travaglia (1990.p. 64), são consideradas</p><p>informações dadas, aquelas que:</p><p>?aquelas que fazem parte do contexto situacional, isto é, da</p><p>situação em que se realiza o ato de comunicação;</p><p>?aquelas que são de conhecimento geral em dada cultura;</p><p>?as que remetem ao conhecimento comum do produtor e do</p><p>receptor.</p><p>Inferências</p><p>Ao utilizarmos os nossos conhecimentos de mundo na leitura de</p><p>um texto, realizamos o que Koch e Travaglia (1990.p.65), chamam de</p><p>inferência.</p><p>Os autores afirmam:</p><p>?constituem o co-texto, isto é, são recuperáveis a partir do</p><p>próprio texto;</p><p>Quase todos os textos que lemos ou ouvimos exigem que</p><p>façamos uma série de inferências para podermos</p><p>compreendê-los integralmente. Se assim não fosse [...]. Na</p><p>verdade, todo texto assemelha-se a um iceberg – o que fica</p><p>à tona, isto é, o que é explicitado no texto é apenas uma</p><p>pequena parte daquilo que fica submerso, ou seja,</p><p>implicitado. Compete, portanto, ao receptor ser capaz de</p><p>atingir os diversos níveis de implícito, se quiser alcançar</p><p>uma compreensão mais profunda do texto que ouve ou lê.</p><p>(KOCH E TRAVAGLIA, 1990, p.65)</p><p>Letras/Português Caderno Didático - 1º Período</p><p>REFERÊNCIAS</p><p>KLEIMAN, Ângela. Texto e leitor: aspectos cognitivos da leitura. Campinas:</p><p>Ática, 1989.</p><p>DAMIÃO, R. T.; HENRIQUES, A. Curso de português jurídico. São Paulo:</p><p>Atlas, 2000.</p><p>KOCH, Ingedore Grunfeld Villaça; TRAVAGLIA, Luiz Carlos. Texto e</p><p>coerência. 5. ed. São Paulo: Cortez, 1997.</p><p>KOCH, Ingedore Villaça. A coerência textual. 6. ed. São Paulo: Contexto,</p><p>1993. Coleção Repensando a Língua Portuguesa.</p><p>MORAES, Márcio Adriano. Ame logo. O Norte. Montes Claros, 06 set.</p><p>2008.</p><p>SCOTT, Michael. Lendo nas entrelinhas. Cadernos PUC, nº. 16,</p><p>1983.p.101-24.</p><p>http://www.luso-poemas.net/modules/news/article.php?storyid=23101,</p><p>consultado em out/2008.</p><p>392</p><p>Introdução à Leitura UAB/Unimontes</p><p>393</p><p>5UNIDADE 5</p><p>LINGUAGEM E LEITURA</p><p>Apresentação da unidade</p><p>Como já vimos até aqui, é possível afirmar que um texto apresenta</p><p>várias possibilidades de leitura, entretanto, certamente não é qualquer</p><p>possibilidade. Certas interpretações se tornarão inaceitáveis se não forem</p><p>observadas a coerência e a coesão entre os seus vários elementos,</p><p>garantidas especialmente pelos fatores de textualidade. Nessa unidade,</p><p>serão tecidos comentários sobre as variadas possibilidades de Leitura de</p><p>um Texto. Como recursos auxiliares a uma boa leitura, são apresentadas</p><p>noções teóricas e atividades práticas referentes à denotação e conotação,</p><p>sobre figuras de linguagem, metáfora e metonímia, funções da linguagem</p><p>e sobre variação linguística.</p><p>Objetivos</p><p>?entender a variação linguística como característica da não</p><p>uniformidade das línguas e como decorrente de fatores tais como o tempo,</p><p>o espaço, o nível cultural e a situação em que um indivíduo se manifesta</p><p>verbalmente;</p><p>?entender o caráter polissêmico das palavras da Língua</p><p>Portuguesa; e</p><p>?destacar a importância do conhecimento de peculiaridades</p><p>inerentes à língua para a boa a leitura de textos.</p><p>5.1 AS POSSIBILIDADES DE LEITURA DE UM TEXTO</p><p>Vamos ler a seguinte adaptação de uma Fábula de Esopo:</p><p>A tartaruga e a lebre</p><p>?exercitar a habilidade de perceber os sentidos denotativo e</p><p>conotativo no processo de leitura;</p><p>Arte: Rogério Doki / UOL Fonte: http://criancas.uol.com.br/historias/fabulas/noflash/lebre.jhtm</p><p>394</p><p>Introdução à Leitura UAB/Unimontes</p><p>O primeiro ponto que devemos questionar quando lemos uma</p><p>fábula é: trata-se de uma história de animais ou de gente? Estudamos na</p><p>escola, e lemos em textos e livros, que as fábulas são narrativas alegóricas,</p><p>em prosa ou verso, cujos personagens são geralmente animais ou coisas.</p><p>Sua peculiaridade reside fundamentalmente na apresentação direta das</p><p>virtudes e defeitos do caráter humano, ilustrados pelo comportamento</p><p>antropomórfico dos animais. Logo, a resposta para a pergunta inicial seria:</p><p>trata-se de uma história de homens. Mas como os estudiosos inferiram tais</p><p>apontamentos? Ao analisar a estruturas dessas histórias, eles concluíram</p><p>que nos textos das fábulas há uma reiteração de traços semânticos, de</p><p>elementos que compõem o significado das palavras e que nos obriga a ler o</p><p>texto de uma determinada maneira.</p><p>Na fábula A tartaruga e a lebre, temos como personagens os dois</p><p>animais do título, que poderia nos fazer pensar que se trata de um texto</p><p>Figura 37</p><p>395</p><p>Letras/Português Caderno Didático - 1º Período</p><p>sobre animais. No entanto, a eles são atribuídas atitudes próprias dos seres</p><p>humanos (dizer, desafiar, aceitar, vencer, responder, aplaudir), qualidades e</p><p>estados exclusivos dos homens (se gabar, mostrar desprezo, persistência,</p><p>comemoração), formas de tratamento utilizadas nas interações</p><p>interpessoais (ninguém, eu, você). Tais recorrências ao traço semântico</p><p>humano desencadeiam um novo plano de leitura. Se à primeira vista o</p><p>plano de leitura é história de animais, à medida que elementos com o traço</p><p>humano aparecem e se repetem, não se pode mais tomar o texto como</p><p>uma narrativa de bichos. Esses elementos impulsionam a um outro plano</p><p>de leitura: uma história de homens. Nesse novo plano, a lebre é o homem</p><p>que se gaba de suas habilidades ou posses, subestima os que ele considera</p><p>inferiores e acredita que ter uma habilidade ou bens basta para se</p><p>conseguir êxito. E a tartaruga representa as pessoas que mesmo não tendo</p><p>grandes habilidades ou recursos, são persistentes e perseverantes e, por</p><p>isso, logram êxito em suas atividades.</p><p>A reiteração de traços semânticos é que estabelece quais leituras</p><p>devem ou podem ser feitas de um texto. Portanto, a leitura não tem origem</p><p>na intenção do leitor em interpretar o texto, mas está inscrita no texto e</p><p>pode ser visualizada, como uma possibilidade. Mas talvez seja cabível o</p><p>questionamento: então um texto não pode aceitar múltiplas leituras? Esse</p><p>é um fator relevante. Sim, o texto pode admitir várias interpretações, mas</p><p>não todas ou qualquer uma. São inaceitáveis as leituras que não estiverem</p><p>de acordo com os traços de significado recorrentes ao longo do texto.</p><p>Há textos que possibilitam mais de uma leitura, nos quais as</p><p>mesmas figuras têm mais de uma interpretação segundo o plano de leitura</p><p>em que forem analisados. As anedotas, as frases maliciosas, de duplo</p><p>sentido, os textos humorísticos jogam com dois planos de leitura. Neles, lê-</p><p>se o que pertence a um plano em outro. Veja, por exemplo:</p><p>Releia a fábula e responda:</p><p>qual leitura possível de se</p><p>fazer não estaria coerente</p><p>com a reiteração dos traços</p><p>semânticos do texto?</p><p>ATIVIDADES</p><p>A LUVA E A CALCINHA</p><p>Um jovem estudante, ao passar em</p><p>uma loja em São Paulo, resolveu comprar</p><p>um belo par de luvas para enviar a sua jovem</p><p>namorada, ainda virgem, de família</p><p>tradicional mineira, a quem muito</p><p>respeitava.</p><p>Na pressa de embrulhar, a moça da loja cometeu um</p><p>'pequeno' engano, trocando as luvas por uma CALCINHA! O</p><p>jovem, não notando a troca, enviou o presente via SEDEX junto</p><p>com a seguinte carta:</p><p>São Paulo, 30 de maio de 2005.</p><p>Querida ,</p><p>Sabendo que dia 12 próximo é o Dia dos Namorados,</p><p>396</p><p>Introdução à Leitura UAB/Unimontes</p><p>resolvi te mandar este presentinho.</p><p>Embora eu saiba que você não costuma usar (pelo</p><p>menos eu nunca te vi usando uma), acho que vai gostar da cor</p><p>e do modelo, pois a moça da loja experimentou e, pelo que vi,</p><p>ficou ótima.</p><p>Apesar de um pouco larga na frente, ela disse que é</p><p>melhor assim do que muito apertada, pois a mão entra com</p><p>mais facilidade e os dedos podem se</p><p>movimentar à vontade.</p><p>Depois de usá-la, é bom virar do avesso e colocar um</p><p>pouco de talco para evitar aquele odor desagradável.</p><p>Espero que goste, pois vai cobrir aquilo que breve irei</p><p>pedir ao teu pai, além de proteger o local em que colocarei</p><p>aquilo que você tanto sonha.</p><p>Um beijo (no lugar onde você irá usar o meu presente).</p><p>PS: Não espere eu retornar para estreá-la. Quero que</p><p>todos os meus amigos vejam você com ela. E depois esfregue</p><p>na cara daquelas suas amigas invejosas, pois eu nunca vi</p><p>nenhuma delas usando nada igual.</p><p>Fonte: http://fwd.urlcurta.com/a-luva-e-a-calcinha/</p><p>Observe que, nesse texto, várias expressões serão inferidas em</p><p>dois sentidos diferentes. Quando o jovem escreve na carta “você não</p><p>costuma usar”, “a moça da loja experimentou”, “um pouco larga na</p><p>frente”, “é bom virar ao avesso” etc., ele se refere ao presente que</p><p>escolheu: uma luva. Entretanto, a namorada, quando receber o presente,</p><p>entenderá que esses mesmos termos se referem à calcinha. Os dois planos</p><p>de leitura estão bem evidentes: no primeiro plano o sentido é construído</p><p>com a idéia de que o presente comprado pelo noivo foi uma luva.</p><p>Entretanto, como a vendedora trocou o presente por uma calcinha, o plano</p><p>de leitura que a namorada fará será de que as construções foram feitas</p><p>relativas à calcinha.</p><p>Um caso bem particular, são os textos, poemas e músicas</p><p>compostos durante o período de Ditadura Militar no Brasil. Para burlar a</p><p>censura, os autores produziram textos que, aparentemente, falam de um</p><p>tema, mas que trazem consigo elementos de protesto contra a situação</p><p>política do país. Leia a música abaixo:</p><p>Cálice</p><p>Gilberto Gil/Chico Buarque – 1973</p><p>Pai, afasta de mim esse cálice</p><p>Pai, afasta de mim esse cálice</p><p>Pai, afasta de mim esse cálice</p><p>De vinho tinto de sangue</p><p>Fonte: http://www.chicobuarque.com.br/letras/calice_73.htm</p><p>397</p><p>Letras/Português Caderno Didático - 1º Período</p><p>Como beber dessa bebida amarga</p><p>Tragar a dor, engolir a labuta</p><p>Mesmo calada a boca, resta o peito</p><p>Silêncio na cidade não se escuta</p><p>De que me vale ser filho da santa</p><p>Melhor seria ser filho da outra</p><p>Outra realidade menos morta</p><p>Tanta mentira, tanta força bruta</p><p>Como é difícil acordar calado</p><p>Se na calada da noite eu me dano</p><p>Quero lançar um grito desumano</p><p>Que é uma maneira de ser escutado</p><p>Esse silêncio todo me atordoa</p><p>Atordoado eu permaneço atento</p><p>Na arquibancada pra a qualquer momento</p><p>Ver emergir o monstro da lagoa</p><p>De muito gorda a porca já não anda</p><p>De muito usada a faca já não corta</p><p>Como é difícil, pai, abrir a porta</p><p>Essa palavra presa na garganta</p><p>Esse pileque homérico no mundo</p><p>De que adianta ter boa vontade</p><p>Mesmo calado o peito, resta a cuca</p><p>Dos bêbados do centro da cidade</p><p>Talvez o mundo não seja pequeno</p><p>Nem seja a vida um fato consumado</p><p>Quero inventar o meu próprio pecado</p><p>Quero morrer do meu próprio veneno</p><p>Quero perder de vez tua cabeça</p><p>Minha cabeça perder teu juízo</p><p>Quero cheirar fumaça de óleo diesel</p><p>Me embriagar até que alguém me esqueça</p><p>Cálice foi escrita em 1969 por Chico Buarque e Gilberto Gil,</p><p>quando ambos estavam exilados. É um claro exemplo das tentativas de</p><p>diversos artistas e intelectuais de burlar a intensa censura cultural que se</p><p>estendeu durante o período da Ditadura Militar no Brasil.</p><p>O título já carrega consigo uma tentativa de camuflar a real</p><p>mensagem. No decorrer da música o autor apresenta cálice em sua forma</p><p>literal, como um recipiente usado – principalmente – para se beber vinho,</p><p>delineando o plano de sentido do texto como uma prece de lamentação.</p><p>Com uma leitura mais cuidadosa pode-se perceber que, na verdade, a</p><p>palavra possui a mesma sonoridade de “Cale-se”, do verbo calar, que</p><p>estaria se referindo a censura presente no período ditatorial, e que</p><p>desencadeia um outro plano de leitura: o do protesto. Portanto, no verso</p><p>“Pai, afasta de mim esse cálice [cale-se]”, o autor está, na verdade,</p><p>398</p><p>Introdução à Leitura UAB/Unimontes</p><p>bradando sua indignação pelo fato de que, na Ditadura houve a tentativa</p><p>que calar os que falavam a verdade ou os que tentaram expressar sua</p><p>opinião.</p><p>Um texto pode ter várias leituras e também jogar com leituras</p><p>distintas para criar o efeito desejado. Entretanto, o leitor não pode atribuir-</p><p>lhe o sentido que bem entender. “O leitor cauteloso abandona</p><p>interpretações que não estejam apoiadas no textos e em suas</p><p>recorrências” (Platão & Fiorin: 2004).</p><p>5.2 DENOTAÇÃO E CONOTAÇÃO</p><p>Estes dois conceitos são muito fáceis de entender se nos</p><p>lembrarmos que duas partes distintas, mas interdependentes, constituem o</p><p>signo linguístico: o significante ou plano da expressão - uma parte</p><p>perceptível, constituída de letras e sons - e o significado ou plano do</p><p>conteúdo - a parte inteligível, o conceito. Por isso, numa palavra que</p><p>ouvimos, percebemos um conjunto de letras e sons (o significante), que nos</p><p>faz lembrar de um conceito (o significado).</p><p>A denotação é justamente o resultado da união existente entre o</p><p>significante e o significado, ou entre o plano da expressão e o plano do</p><p>conteúdo.</p><p>A conotação resulta do acréscimo de outros significados paralelos</p><p>ao significado de base da palavra, isto é, um outro plano de conteúdo pode</p><p>ser combinado ao plano da expressão. Este outro plano de conteúdo</p><p>reveste-se de impressões, valores afetivos e sociais, negativos ou positivos,</p><p>reações psíquicas que um signo evoca. Assim sendo, o sentido conotativo</p><p>difere de uma cultura para outra, de uma classe social para outra, de uma</p><p>época a outra. Por exemplo, as palavras professor, instrutor e docente</p><p>denotam praticamente a mesma coisa, mas têm conteúdos conotativos</p><p>diversos, principalmente se pensarmos no prestígio que cada uma delas</p><p>evoca.</p><p>A palavra tem valor referencial ou denotativo quando é tomada no</p><p>seu sentido usual ou literal, isto é, naquele que lhe atribuem os dicionários;</p><p>seu sentido é objetivo, explícito, constante. Ela designa ou denota</p><p>determinado objeto, referindo-se à realidade palpável.</p><p>Além do sentido referencial, literal, cada palavra remete a</p><p>inúmeros outros sentidos, virtuais, conotativos, que são apenas sugeridos,</p><p>evocando outras idéias associadas, de ordem abstrata, subjetiva.</p><p>Denotação é a significação objetiva da palavra; é a palavra em</p><p>"estado de dicionário"</p><p>399</p><p>Letras/Português Caderno Didático - 1º Período</p><p>DENOTAÇÃO CONOTAÇÃO</p><p>Palavra com significação</p><p>restrita</p><p>Palavra com significação</p><p>ampla</p><p>Palavra com sentido comum</p><p>do dicionário</p><p>Palavra cujos sentidos</p><p>extrapolam o sentido comum</p><p>Palavra usada de modo</p><p>automatizado</p><p>Palavra usada de modo</p><p>criativo</p><p>Linguagem comum Linguagem rica e expressiva</p><p>O quadro abaixo sintetiza as diferenças fundamentais entre</p><p>denotação e conotação:</p><p>Portanto, a denotação é a função representativa da linguagem</p><p>mais próxima do real, isto é, a parte da significação da palavra que mais se</p><p>aproxima de seu sentido próprio, e a conotação pode ser vista como as</p><p>possibilidades da palavra de funcionar como exteriorização psíquica, ou</p><p>seja, os muitos sentidos de uma palavra. Sendo assim, pode-se dizer, que a</p><p>significação total de uma palavra comporta a denotação e a conotação, o</p><p>que dá à palavra um caráter polissêmico.</p><p>Conotação é a significação subjetiva da palavra; ocorre quando a</p><p>palavra evoca outras realidades por associações que ela provoca</p><p>DOIS RIOS</p><p>(Samuel Rosa, Lô Borges e Nando Reis)</p><p>O céu está no chão</p><p>O céu que cai do alto</p><p>É o claro, é a</p><p>escuridão</p><p>O céu que toca o</p><p>chão</p><p>E o céu que vai no</p><p>alto</p><p>Dois lados deram as mãos</p><p>Como eu fiz também</p><p>Só pra poder conhecer</p><p>O que a voz da vida vem dizer</p><p>Que os braços sentem</p><p>E os olhos vêem</p><p>Fonte: http://letras.terra.com.br/skank/71463/</p><p>Fonte: www.agenciapreview.com</p><p>Figura 38</p><p>Quadro 3</p><p>400</p><p>Introdução à Leitura UAB/Unimontes</p><p>Que os lábios sejam</p><p>Dois rios inteiros</p><p>Sem direção</p><p>O sol é o pé e a mão</p><p>O sol é a mãe e o pai</p><p>Dissolve a escuridão</p><p>O sol se põe se vai</p><p>E após se pôr</p><p>O sol renasce no Japão</p><p>Como eu vi também</p><p>Só pra poder entender</p><p>de 90 horas. É uma disciplina relevante para a</p><p>formação acadêmica bem como para a vida cotidiana, pois vivemos em</p><p>um mundo imerso em códigos, em signos, em sentidos e em significados</p><p>que precisam ser analisados, para que possam revelar as mensagens por</p><p>eles veiculadas. Os conteúdos de Introdução à Leitura são assim</p><p>considerados essenciais à vida em sociedade.</p><p>Fonte: http://acertodecontas.blog.br</p><p>Figura 1</p><p>334</p><p>Apresentação UAB/Unimontes</p><p>É uma disciplina que está estreitamente vinculada com todas as</p><p>disciplinas do curso, em especial com as demais disciplinas do período e</p><p>em particular com Introdução à Escrita, tendo em vista que o aprendizado</p><p>de uma implica, necessariamente, o desenvolvimento da aprendizagem da</p><p>outra.</p><p>A formação de leitores ativos, criativos e, sobretudo, críticos</p><p>emerge como prioridade e como um grande desafio do Curso.</p><p>Por constituir-se em relevante instrumento no processo de</p><p>produção do conhecimento e por possibilitar o contato do leitor com</p><p>diferentes formas de vivenciar e de compreender o mundo, a leitura deverá</p><p>aqui ser compreendida em seu sentido lato, e, sobretudo, em seu caráter</p><p>plural e dialógico.</p><p>Ementa: Linguagem, língua e fala. A linguagem como ciência.</p><p>Linguagem verbal e não verbal. Leitura como processo histórico e</p><p>produtivo.Texto e textualidade: fatores de textualidade. O conhecimento</p><p>prévio na leitura. As possibilidades de leitura de um texto: aspectos</p><p>determinantes. Estratégias de leitura.</p><p>Geral:</p><p>?Desenvolver habilidades e competências de leitura necessárias</p><p>à constituição de sujeitos de discurso capazes de se posicionarem do ponto</p><p>de vista filosófico, político, social, cultural, ético e estético, frente aos</p><p>discursos que circulam na sociedade.</p><p>?Proporcionar o processo de ensino-aprendizagem referente</p><p>aos elementos linguísticos, discursivos e enunciativos que compõem a</p><p>estruturação de diferentes gêneros e tipos textuais, tomando como ponto</p><p>de partida a teoria da leitura como perspectiva de abordagem.</p><p>Específicos:</p><p>?Reconhecer os diversos registros verbais ou não-verbais</p><p>presentes na materialização do propósito do autor nos diferentes Tipos e</p><p>Gêneros Textuais.</p><p>?Operar com proficiência no processo de predição textual.</p><p>?Compreender que no processo de leitura é importante priorizar</p><p>o sentido em detrimento da forma para perceber o jogo de poder que se</p><p>manifesta na linguagem e pela linguagem.</p><p>?Entender os mecanismos de produção de sentidos no processo</p><p>de leitura de diferentes tipos e gêneros textuais.</p><p>?Aprimorar a capacidade de leitura de diferentes textos e de</p><p>diferentes suportes de materialização da linguagem.</p><p>?Compreender a língua como fenômeno cultural, histórico,</p><p>Objetivos</p><p>335</p><p>Letras/Português Caderno Didático - 1º Período</p><p>social, variável em registro, heterogêneo e sensível aos contextos de uso,</p><p>posicionando-se criticamente contra preconceitos linguísticos.</p><p>Para o alcance desses objetivos a disciplina Introdução à Leitura</p><p>está organizada em cinco unidades:</p><p>Unidade I - Linguagem e língua</p><p>Unidade II - Reflexões em torno da leitura</p><p>Unidade III - Texto e textualidade</p><p>Unidade IV - O conhecimento prévio na leitura</p><p>Unidade V - Linguagem e leitura</p><p>Unidade VI - Estratégias de leitura</p><p>Cada uma das unidades está organizada de forma a facilitar os</p><p>seus estudos.</p><p>Inicialmente apresentamos o nome da unidade, seguido de uma</p><p>epígrafe, na forma de texto ou gravura. Leia com atenção essa epígrafe e</p><p>veja que ela faz referência implícita ou explicitamente ao conteúdo da</p><p>unidade. A seguir, uma APRESENTAÇÃO da unidade com especial ênfase</p><p>para seus OBJETIVOS. Atente-se a esses objetivos e desenvolva os estudos</p><p>com vistas a alcançá-los. Na seqüência, segue-se o desenvolvimento do</p><p>conteúdo, subdividido em tópicos, de forma ilustrada, em linguagem clara</p><p>e acessível.</p><p>Alguns termos que possam dificultar a sua compreensão estão</p><p>explicitados ao lado do texto na forma de GLOSSÁRIO. Você pode também</p><p>recorrer a um dicionário caso seja necessário. Paralelamente, foram</p><p>inseridas ATIVIDADES a serem realizadas antes ou após a discussão do</p><p>conteúdo. Algumas delas estão no próprio Caderno, outras pressupõem</p><p>pesquisa no ambiente virtual e/ou encontro com os colegas. Elas podem</p><p>ser feitas individualmente ou em grupos e há algumas para as quais</p><p>sugerimos inclusive o envolvimento de seus familiares. O importante é que</p><p>você não deixe de fazê-las, pois elas ora funcionam como levantamento do</p><p>seu conhecimento prévio, ora como auto-avaliação para confirmação do</p><p>seu entendimento e consequente alcance dos objetivos.</p><p>As sugestões e dicas para estudos e para pesquisas</p><p>complementares estão localizadas junto aos textos. Elas são oportunidades</p><p>para você se tornar um aprendiz autônomo, qualidade que hoje se faz cada</p><p>vez mais necessária em todas as áreas.</p><p>Ao final da disciplina você encontrará um breve RESUMO com os</p><p>pontos principais abordados e as REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.</p><p>Lembre-se de que a realização das atividades avaliativas é</p><p>obrigatória.</p><p>Sucesso.</p><p>Apresentação da unidade</p><p>Com a finalidade de que você entenda a importância de conhecer</p><p>como se estruturam, se organizam e funcionam os aspectos que se referem</p><p>à linguagem, propomos a você um vôo transverso a esse mundo que nos</p><p>fascina e nos seduz, pois linguagem e aspectos da vida dialogam,</p><p>produzindo espaços que solicitam reflexões especiais. Em suma, a nossa</p><p>perspectiva é de compartilhar a ótica do poder da linguagem e do</p><p>conhecimento sobre ela. Para tal, necessário se faz estabelecer o estatuto</p><p>que o termo linguagem adquiriu com Saussure a partir da distinção entre</p><p>língua e linguagem.</p><p>Cumpre ressaltar que será necessário traçar um breve panorama</p><p>das diversas perspectivas que constituem e que organizam a ciência da</p><p>linguagem, percebendo o valor histórico que cada perspectiva possui. Após</p><p>conceber a apresentação das formas de construção de um conhecimento</p><p>sobre a linguagem que emergiram ao longo do século dezenove e que</p><p>permitiram o surgimento da linguística moderna, cabe, depois, focalizar a</p><p>distinção entre linguagem e língua.</p><p>Objetivos:</p><p>?compreender que a linguagem e a língua são constitutivas de</p><p>nossa identidade como seres humanos e como seres socioculturais;</p><p>?explicitar o lugar da língua e da linguagem na vida humana;</p><p>?compreender o sentido do ensino de língua portuguesa; e</p><p>?compreender o motivo pelo qual a linguagem se inscreve como</p><p>sistema mediador de todos os discursos.</p><p>1.1 PANORAMA SOBRE A CIÊNCIA DA LINGUAGEM</p><p>A preocupação com os fenômenos da linguagem data de um</p><p>período de mais de dois mil anos de pesquisas relacionadas à reflexão do</p><p>comportamento lingüístico de importantes civilizações antigas.</p><p>Recorrendo-se ao século V a. c, na Antiguidade grega, percebemos que os</p><p>anseios socioculturais dessa civilização constituíam fator determinante que</p><p>1UNIDADE 1</p><p>LINGUAGEM E LÍNGUA</p><p>E</p><p>A</p><p>B G</p><p>GLOSSÁRIO</p><p>F</p><p>C</p><p>Lógica: Conjunto de</p><p>estudos tendentes a</p><p>expressar em linguagens</p><p>matemáticas as estruturas</p><p>e operações do</p><p>pensamento.</p><p>Epistemologia: Conjunto de</p><p>conhecimentos que tem por</p><p>objeto o conhecimento</p><p>científico, visando a</p><p>explicar os seus</p><p>condicionamentos (sejam</p><p>eles técnicos, históricos ou</p><p>sociais, sejam lógicos,</p><p>matemáticos ou</p><p>lingüísticos), sistematizar as</p><p>suas relações, esclarecer os</p><p>seus vínculos e avaliar os</p><p>seus resultados e</p><p>aplicações.</p><p>Metafísica: Parte da</p><p>Filosofia que estuda o ser</p><p>como ser.</p><p>Gosto de sentir a minha língua roçar a língua de Luís de Camões</p><p>Gosto de ser e de estar</p><p>E quero me dedicar a criar confusões de prosódias</p><p>E uma profusão de paródias que encurtem dores</p><p>E furtem cores como camaleões.</p><p>(Caetano Veloso)</p><p>336</p><p>337</p><p>Letras/Português Caderno Didático - 1º Período</p><p>moldava o estudo da língua com finalidades práticas.</p><p>Os helenos justificaram e fundamentaram as categorias</p><p>gramaticais a partir das categorias da lógica, da Epistemologia e da</p><p>Metafísica, cujo objetivo era demonstrar que a estrutura da</p><p>Na voz da vida ouvi dizer</p><p>Que os braços sentem</p><p>E os olhos vêem</p><p>E os lábios beijam</p><p>Dois rios inteiros</p><p>Sem direção</p><p>E o meu lugar é esse</p><p>Ao lado seu, meu corpo inteiro</p><p>Dou o meu lugar pois o seu lugar</p><p>É o meu amor primeiro</p><p>Como o dia e a noite, as quatro estações</p><p>Observe, nas duas primeiras estrofes, as colocações utilizando a palavra</p><p>céu:</p><p>O céu está no chão</p><p>O céu que cai do alto</p><p>O céu que toca o chão</p><p>Nesses versos, percebe-se o</p><p>caráter conotativo da palavra</p><p>céu, que ganha novas</p><p>possibilidades diferentes das</p><p>que lhe são atribuídas num</p><p>dicionário.</p><p>É o claro, é a</p><p>escuridão</p><p>E o céu que vai no alto</p><p>Já aqui, nota-se que a palavra</p><p>céu assume características</p><p>inerentes ao seu significado</p><p>próximo do real,</p><p>caracterizando a denotação.</p><p>Quadro 4</p><p>401</p><p>Letras/Português Caderno Didático - 1º Período</p><p>Agora vamos analisar o uso da palavra sol nos seguintes versos:</p><p>5.3 AS FIGURAS DE LINGUAGEM – METÁFORA E METONÍMIA</p><p>Como já foi dito, toda e qualquer palavra é polissêmica e, além de</p><p>seu sentido denotativo, pode apresentar-se com um de seus sentidos</p><p>conotativos, constituindo uma figura de linguagem.</p><p>A linguagem figurada dá-se a partir da metáfora ou da</p><p>metonímia. A metonímia se fundamenta numa relação totalmente</p><p>subjetiva, que se dá a partir de uma apreensão, já que consiste no emprego</p><p>de um termo por outro, dada a relação de semelhança ou a possibilidade</p><p>de associação entre eles, numa relação entre a significação denotativa e a</p><p>figurada.</p><p>As relações objetivas no emprego da metonímia podem ser de</p><p>muitos outros tipos: entre a parte e o todo (também denominada</p><p>“sinédoque”); entre o produto e a matéria; entre o agente e o resultado;</p><p>entre o autor e a obra; entre o conteúdo e o continente; entre o abstrato e o</p><p>concreto; etc. No exemplo abaixo, Caetano Veloso constrói as metonímias</p><p>desse trecho da letra da música a partir da associação antitética:</p><p>ATIVIDADES</p><p>Procure ouvir a música Dois</p><p>Rios, em cd, na internet ou</p><p>peça à radio da sua cidade</p><p>para toca-la.</p><p>Agora que você já</p><p>percebeu que a letra foi</p><p>composta como um jogo</p><p>de conotação e denotação,</p><p>escreva um texto</p><p>explicitando quais os novos</p><p>significados que foram</p><p>atribuídos aos diversos</p><p>termos conotativos que</p><p>permeiam o texto.</p><p>O sol é o pé e a mão</p><p>O sol é a mãe e o pai</p><p>Se buscarmos a definição de</p><p>sol no dicionário, não</p><p>encontraremos nenhuma</p><p>alusão ao fato de poder</p><p>significar pé, mão, mãe ou</p><p>pai. Portanto, temos nesses</p><p>versos um sentido conotativo.</p><p>Dissolve a escuridão</p><p>O sol se põe se vai</p><p>E após se pôr</p><p>O sol renasce no Japão</p><p>Nesses versos, entretanto, a</p><p>palavras sol</p><p>assume</p><p>características do significado</p><p>real, caracterizando a</p><p>denotação.</p><p>Quadro 5</p><p>(...)</p><p>Onde queres o ato, eu sou o espírito;</p><p>E onde queres ternura, eu sou tesão!</p><p>Onde queres o livre, decassílabo;</p><p>E onde buscas o anjo, eu sou mulher!</p><p>Onde queres prazer, sou o que dói;</p><p>E onde queres tortura, mansidão!</p><p>Onde queres o lar, revolução;</p><p>E onde queres bandido, eu sou o herói!</p><p>(...) Caetano Veloso</p><p>Fonte: http://letras.terra.com.br/caetano-veloso/44758/</p><p>Procure a letra da música</p><p>por completo na Internet.</p><p>Você pode visitar o sítio do</p><p>cantor/compositor:</p><p>http://www.caetanoveloso.c</p><p>om.br</p><p>Se possível, ouça-a em cd</p><p>ou mesmo pela internet.</p><p>Agora faça uma lista de</p><p>todas as metonímias</p><p>encontradas ao longo da</p><p>letra explicitando quais</p><p>foram as relações objetivas</p><p>no emprego de cada</p><p>metonímia.</p><p>ATIVIDADES</p><p>Já a metáfora consiste na substituição de uma expressão por</p><p>outra, cuja tonalidade afetiva se torna mais acentuada em virtude da sua</p><p>transferência para um âmbito de significação que não lhe é particular.</p><p>Como nessa música de Adriana Calcanhotto, onde o sujeito afirma ser</p><p>várias coisas que não são inerentes á sua condição de humano:</p><p>Daí, ser a metáfora utilizada na linguagem e, essencial e mormente, na</p><p>poesia.</p><p>Essa importância da metáfora como força criadora da linguagem</p><p>humana tem sido reconhecida desde Aristóteles. Encontramo-na como um</p><p>artifício expressivo na poesia, como uma fonte de polissemia e sinonímia,</p><p>como elemento enriquecedor de vocabulário e em tantas outras situações,</p><p>na linguagem em geral.</p><p>A metáfora é princípio básico de muitas outras figuras de</p><p>linguagem, isto é, ela está sempre presente em todas as figuras de</p><p>linguagem.</p><p>Alguns exemplos de metáforas especializadas ou figuras de</p><p>pensamento:</p><p>1. Antítese: É a figura que estabelece a oposição entre palavras ou</p><p>idéias.</p><p>A metáfora é um elemento de grande qualidade estilística e tem a</p><p>função expressiva por excelência de colocar em destaque certos aspectos</p><p>que o termo que seria próprio não seria capaz de expressar por si mesmo.</p><p>402</p><p>Introdução à Leitura UAB/Unimontes</p><p>ATIVIDADES</p><p>Visite o sítio da Adriana</p><p>Calcanhotto</p><p>(http://www.adrianacalcanh</p><p>otto.com.br). Vá na seção</p><p>Canções. Leia a letra da</p><p>música A Fábrica do</p><p>Poema. Leia novamente,</p><p>com mais atenção e</p><p>destaque todas as</p><p>metáforas existentes na</p><p>letra.</p><p>(...)</p><p>eu sou o sol da sua noite em claro, um rádio</p><p>eu sou pelo avesso sua pele, o seu casaco</p><p>se você vai sair</p><p>o seu asfalto</p><p>se você vai sair</p><p>eu chovo</p><p>sobre o seu cabelo</p><p>pelo seu itinerário</p><p>sou eu o seu paradeiro</p><p>em uns versos que eu escrevo</p><p>Adriana Calcanhotto</p><p>Fonte: http://www.adrianacalcanhotto.com.br/sec_</p><p>musicas_letra.php?id=63</p><p>(...)</p><p>Me ame até correr, cair,</p><p>Se machucar, rolar pelo chão</p><p>(...)</p><p>Pedro Morais</p><p>Fonte: http://letras.terra.com.br/pedro-morais</p><p>2. Gradação: É a figura na qual se estabelece um aumento</p><p>(Clímax) ou uma diminuição (Anticlímax) gradual.</p><p>3. Eufemismo: É a figura através da qual a realidade é suavizada</p><p>com o uso de uma palavra ou expressão agradável.</p><p>4. Ironia ou Antífrase: É a figura cujo modo de exprimir-se consiste</p><p>em dizer o contrário daquilo que se pensa ou sente ou vice-versa, com</p><p>intenção depreciativa e sarcástica.</p><p>5 Paradoxo: É a figura em que se chocam idéias antagônicas</p><p>403</p><p>Letras/Português Caderno Didático - 1º Período</p><p>Se acaso me quiseres</p><p>Sou dessas mulheres</p><p>Que só dizem sim (= prostitutas)</p><p>Chico Buarque</p><p>Fonte: http://www.chicobuarque.com.br</p><p>/construcao/mestre.asp?pg</p><p>(...)</p><p>O mundo é uma flor e é o espinho</p><p>Viver é ser na multidão sozinho</p><p>Um passo para frente é outro abandonado</p><p>No mundo uma ilusão de cada lado</p><p>(...)</p><p>Pedro Morais</p><p>Fonte: http://letras.terra.com.br/pedro-morais/789109/</p><p>Mirem-se no exemplo daquelas mulheres de Atenas</p><p>Geram pros seus maridos os novos filhos de Atenas</p><p>Elas não têm gosto ou vontade</p><p>Nem defeito nem qualidade</p><p>Têm medo apenas</p><p>Não têm sonhos, só têm presságios</p><p>O seu homem, mares, naufrágios</p><p>Lindas sirenas</p><p>Chico Buarque</p><p>http://www.chicobuarque.com.br/construcao/mestre.asp?pg=mulheres</p><p>Amor é um fogo que arde sem se ver,</p><p>É ferida que dói, e não se sente;</p><p>É um contentamento descontente,</p><p>É dor que desatina sem doer.</p><p>Luís de Camões</p><p>Fonte: http://www.fisica.ufpb.br/~romero/port/ga_lvc.htm#Amo</p><p>6 Hipérbole: É a figura que engrandece ou diminui de maneira</p><p>exagerada a verdade das coisas; exagero de linguagem.</p><p>7. Prosopopéia, Personificação ou Animismo: É a figura pela qual</p><p>se dá vida ou características humanas a coisas e animais.</p><p>Alguns exemplos de metáforas especializadas ou figuras de</p><p>palavras:</p><p>1. Símile ou Comparação: Quando há comparação de coisas</p><p>semelhantes. Há sempre o conectivo do tipo “como”.</p><p>2. Símbolo: Quando um ser concreto assume, por convenção, o</p><p>valor de um ser abstrato.</p><p>Olho em volta de mim. Todos possuem</p><p>Um afecto, um sorriso ou um abraço. (= alguém)</p><p>Só para mim as ânsias se diluem</p><p>E não possuo mesmo quando enlaço.</p><p>Mario de Sá Carneiro</p><p>Fonte: http://users.isr.ist.utl.pt/~cfb/VdS/v261.txt</p><p>Branco como a cor da Paz ao se encontrar</p><p>Rubro como o rosto fica junto a rosa mais querida</p><p>É negra toda tristeza se há despedida na Avenida</p><p>É negra toda tristeza desta vida</p><p>Cartola e Dalmo castelo</p><p>Fonte: http://letras.terra.com.br/cartola/806106/</p><p>404</p><p>Introdução à Leitura UAB/Unimontes</p><p>Se PARADOXO é a figura</p><p>em que se chocam idéias</p><p>antagônicas, qual seria</p><p>então a diferença entre</p><p>PARADOXO e ANTÍTESE,</p><p>já que antítese é definida</p><p>como a figura que</p><p>estabelece a oposição entre</p><p>palavras ou idéias?</p><p>A diferença é simples: As</p><p>oposições presentes na</p><p>antítese são conciliáveis, ou</p><p>seja, elas podem coexistir</p><p>(existirem juntas). Já as</p><p>oposições presentes no</p><p>paradoxo são inconciliáveis,</p><p>ou seja, NÃO podem</p><p>coexistir!</p><p>Como exemplo retomemos</p><p>a música De cada lado, de</p><p>Pedro Morais, usada como</p><p>exemplo na ANTÍTESE.</p><p>“O mundo é uma flor e é o</p><p>espinho</p><p>Viver é ser na multidão</p><p>sozinho”</p><p>No primeiro verso, temos</p><p>uma antítese, já que o</p><p>mundo, na opinião do</p><p>compositor, pode ser tanto</p><p>uma flor (no sentido de ser</p><p>belo e agradável) quanto</p><p>um espinho (algo que pode</p><p>machucar).</p><p>Já no segundo verso temos</p><p>“ser na multidão sozinho”.</p><p>Como alguém que está no</p><p>meio da multidão está</p><p>sozinho? São idéias</p><p>inconsiliáveis, que não</p><p>coexistem, portanto</p><p>PARADOXO.</p><p>PARA REFLETIR</p><p>Bem te quis, bem te quis</p><p>e ainda quero muito mais</p><p>Maior que a imensidão da paz</p><p>e bem maior que o sol</p><p>Paulinho Pedra Azul</p><p>Fonte: http://letras.terra.com.br/paulinho-pedra-azul/1190960/</p><p>Na ilha deserta o sol desmaia</p><p>Do alto do morro vê-se o mar</p><p>Papagaio discute com jandaia</p><p>Se o homem foi feito pra voar</p><p>Antônio Carlos Jobim</p><p>Fonte: http://www2.uol.com.br/tomjobim/ml_boto.htm</p><p>3. Sinestesia: É a relação subjetiva entre percepções de sentidos</p><p>diferentes.</p><p>4. Perífrase: Quando é utilizado um grupo de palavras em</p><p>substituição a uma única palavra.</p><p>5. Catacrese: É a figura na qual se verifica o uso de um</p><p>determinado termo por falta de termo próprio; é uma metáfora desgastada</p><p>que, por ser trivial, deixa de ser metáfora. Estabelece comparação às</p><p>situações em que são atribuídas, qualidades de seres vivos, a seres</p><p>inanimados.</p><p>Para melhor compreensão das funções de linguagem, torna-se</p><p>necessário relacioná-las com os elementos da comunicação.</p><p>5.4 FUNÇÕES DA LINGUAGEM</p><p>405</p><p>Letras/Português Caderno Didático - 1º Período</p><p>Seus olhos tão negros, tão belos, tão puros,</p><p>Têm meiga expressão,</p><p>Mais doce que a brisa, - mais doce que o nauta</p><p>De noite cantando, - mais doce que a frauta</p><p>Quebrando a solidão</p><p>.</p><p>Gonçalves Dias</p><p>Fonte: http://www.casadobruxo.</p><p>com.br/poesia/g/seusolhos.htm</p><p>Gosto de sentir a minha língua</p><p>roçar a língua de Luís de Camões (= Português)</p><p>Gosto de ser e de estar</p><p>E quero me dedicar a criar confusões de prosódia</p><p>E uma profusão de paródias</p><p>Que encurtem dores</p><p>E furtem cores como camaleões</p><p>Caetano Veloso</p><p>Fonte: http://letras.terra.com.br/caetano-veloso/44738/</p><p>Minha morena venha pra cá, pra dançar xote</p><p>Se deite em meu cangote e pode cochilar</p><p>Tú és mulher pra homem nenhum</p><p>Botar defeito, por isso satisfeito contigo vou dançar</p><p>Vem cá cintura fina, cintura de pilão</p><p>Cintura de menina vem cá meu coração</p><p>Luiz Gonzaga e Zé Dantas</p><p>Fonte: http://letras.terra.com.br/jose-roberto/950367/</p><p>Entender a função da linguagem de determinado texto, contribui</p><p>no processo de construção de significado durante a leitura. Vamos</p><p>entender como tais funções são exercidas dentro de textos.</p><p>Função emotiva (ou expressiva): Centralizada no emissor,</p><p>revelando sua opinião, sua emoção. Nela prevalecem a 1ª pessoa do</p><p>singular, interjeições e exclamações. É a linguagem das biografias,</p><p>memórias, poesias líricas e cartas de amor.</p><p>No ano de meus noventa anos quis me dar</p><p>de presente uma noite de amor louco com</p><p>uma adolescente virgem. Lembrei de Rosa</p><p>Cabarcas, a dona de uma casa clandestina</p><p>que costumava avisar aos seus bons clientes</p><p>quando tinha alguma novidade disponível.</p><p>Nunca sucumbi a essa nem a nenhuma de</p><p>suas muitas tentações obscenas, mas ela</p><p>não acreditava na pureza de meus</p><p>princípios. Também a moral é uma questão</p><p>de tempo, dizia com um sorriso maligno,</p><p>você vai ver. Era um pouco mais nova que</p><p>eu, e não sabia dela fazia tantos anos que podia muito bem estar</p><p>morta. Mas no primeiro toque reconheci a voz no telefone e disparei</p><p>sem preâmbulos:</p><p>— É hoje.</p><p>Ela suspirou: Ai, meu sábio triste, você desaparece vinte anos e</p><p>volta só para pedir o impossível. Recobrou em seguida o domínio de</p><p>sua arte e me ofereceu meia dúzia de opções deleitáveis, mas com</p><p>um senão: eram todas usadas. Insisti que não, que tinha de ser</p><p>donzela e para aquela noite. Ela perguntou alarmada: Mas o que é</p><p>Figura 39</p><p>406</p><p>Elementos da comunicação Funções da Linguagem</p><p>Emissor: emite, codifica a mensagem Função emotiva (ou expressiva)</p><p>Receptor: recebe, decodifica a</p><p>mensagem</p><p>Função referencial (ou</p><p>denotativa)</p><p>Mensagem: conteúdo transmitido</p><p>pelo emissor</p><p>Função apelativa (ou conativa)</p><p>Código:</p><p>conjunto de signos usado na</p><p>transmissão e recepção da</p><p>mensagem</p><p>Função fática</p><p>Referente:</p><p>contexto relacionado a</p><p>emissor e receptor</p><p>Função poética</p><p>Canal:</p><p>meio pelo qual circula a</p><p>mensagem</p><p>Função metalinguística</p><p>Obs.: as atitudes e reações dos comunicantes são também referentes e</p><p>exercem influência sobre a comunicação</p><p>Quadro 6</p><p>Introdução à Leitura UAB/Unimontes</p><p>407</p><p>Letras/Português Caderno Didático - 1º Período</p><p>Função referencial (ou denotativa): Centralizada no referente,</p><p>quando o emissor procura oferecer informações da realidade. Objetiva,</p><p>direta, denotativa, prevalecendo a 3ª pessoa do singular. Linguagem</p><p>usada nas notícias de jornal e livros científicos.</p><p>que você está querendo provar a si mesmo? Nada, respondi,</p><p>machucado onde mais doía, sei muito bem o que posso e o que não</p><p>posso. Ela disse impassível que os sábios sabem de tudo, mas não</p><p>tudo: Virgens sobrando neste mundo só os do seu signo, dos nascidos</p><p>em agosto. Por que não encomendou com mais tempo? A inspiração</p><p>não avisa, respondi. Mas talvez espere, disse ela, sempre mais</p><p>sabichona que qualquer homem, e me pediu nem que fossem dois dias</p><p>para revirar o mercado a fundo. Eu repliquei a sério que numa questão</p><p>dessas, e na minha idade, cada hora é um ano. Então não tem jeito,</p><p>disse ela sem o menor fiapo de dúvida, mas não importa, assim é mais</p><p>emocionante, merda, deixa que eu telefono em uma hora.</p><p>Gabriel Garcia Márquez</p><p>Trecho do livro Memória de minhas putas tristes</p><p>Fonte: http://revistaepoca.globo.com/Epoca/0,6993,EPT991765-</p><p>Brasil encerra com chave de ouro</p><p>m e l h o r p a r t i c i p a ç ã o n a s</p><p>Paraolimpíadas</p><p>PEQUIM (AFP) — Com duas</p><p>medalhas, uma de ouro e uma de</p><p>prata, no último dia de competições</p><p>dos Jogos Paraolímpicos de Pequim,</p><p>a delegação do Brasil encerrou sua</p><p>participação na nona colocação no</p><p>quadro de medalhas e garantiu o</p><p>melhor desempenho do país em uma</p><p>edição de Paraolimpíadas, com 47 pódios.</p><p>Nesta quarta-feira, a seleção brasileira de futebol de cinco (para</p><p>deficientes visuais) venceu a final contra a China por 2-1, de virada, e</p><p>garantiu o 16º ouro do país em Pequim.</p><p>Além disso, na maratona da classe T46 (para atletas amputados ou</p><p>com má formação congênita), Tito Sena ficou com a prata, com o</p><p>tempo de 2:30.49, atrás do mexicano Mario Santillan (2:27.04, novo</p><p>recorde mundial).</p><p>Dessa maneira, o Brasil encerrou os Jogos Paraolímpicos de Pequim</p><p>com 16 medalhas de ouro, 14 de prata e 17 de bronze, entre os 10</p><p>melhores do quadro de medalhas e superando o desempenho de</p><p>Atenas-2004, onde o país chegou 14 vezes ao lugar mais alto do</p><p>pódio.</p><p>Assim como nos Jogos Olímpicos, a China liderou com folga o quadro</p><p>de medalhas das Paraolimpíadas, com 211 pódios (89 ouros, 70</p><p>pratas e 52 bronzes).</p><p>Fonte:</p><p>http://afp.google.com/article/ALeqM5jnusBxcwvK8RctMUTsfG5kTSV5jw</p><p>Figura 40</p><p>408</p><p>Introdução à Leitura UAB/Unimontes</p><p>Função apelativa (ou conativa): Centraliza-se no receptor; o</p><p>emissor procura influenciar o comportamento do receptor. Como o emissor</p><p>se dirige ao receptor, é comum o uso de “tu” e “você”, ou o nome da</p><p>pessoa, além dos vocativos e imperativos. Usada nos discursos, sermões e</p><p>propagandas que se dirigem diretamente ao consumidor.</p><p>Função fática: Centralizada no canal, tendo como objetivo</p><p>prolongar ou não o contato com o receptor, ou testar a eficiência do canal.</p><p>Linguagem das falas telefônicas, saudações e</p><p>similares.</p><p>“Dizei-me, pregadores (aqueles com</p><p>quem eu falo indignos verdadeiramente</p><p>de tão sagrado nome), dizei-me: esses</p><p>assuntos inúteis que tantas vezes</p><p>levantais, essas empresas ao vosso</p><p>parecer agudas que prosseguis, achaste-</p><p>las alguma vez nos Profetas do</p><p>Testamento Velho, ou nos Apóstolos e</p><p>Evangelistas do Testamento Novo, ou no</p><p>autor de ambos os Testamentos, Cristo?</p><p>É certo que não, porque desde a primeira</p><p>palavra do Génesis até à última do</p><p>Apocalipse, não há tal coisa em todas as</p><p>Escrituras. Pois se nas Escrituras não há o que dizeis e o que</p><p>pregais, como cuidais que pregais a palavra de Deus? Mais:</p><p>nesses lugares, nesses textos que alegais para prova do que dizeis,</p><p>é esse o sentido em que Deus os disse? É esse o sentido em que os</p><p>entendem os padres da Igreja? É esse o sentido da mesma</p><p>gramática das palavras? Não, por certo; porque muitas vezes as</p><p>tomais pelo que toam e não pelo que significam, e talvez nem pelo</p><p>que toam. Pois se não é esse o sentido das palavras de Deus,</p><p>segue-se que não são palavras de Deus. E se não são palavras de</p><p>Deus, que nos queixamos que não façam fruto as pregações?</p><p>Basta que havemos de trazer as palavras de Deus a que digam o</p><p>que nós queremos, e não havemos de querer dizer o que elas</p><p>dizem?! E então ver cabecear o auditório a estas coisas, quando</p><p>devíamos de dar com a cabeça pelas paredes de as ouvir!</p><p>Verdadeiramente não sei de que mais me espante, se dos nossos</p><p>conceitos, se dos vossos aplausos? Oh, que bem levantou o</p><p>pregador! Assim é; mas que levantou? Um falso testemunho ao</p><p>texto, outro falso testemunho ao santo, outro ao entendimento e</p><p>ao sentido de ambos. Então que se converta o mundo com falsos</p><p>testemunhos da palavra de Deus? Se a alguém parecer</p><p>demasiada a censura, ouça-me. “</p><p>Trecho do Sermão da Sexagésima, Padre Antônio Vieira</p><p>Fonte: http://letras.terra.com.br/adriana-calcanhoto/75160/</p><p>Figura 41</p><p>409</p><p>Letras/Português Caderno Didático - 1º Período</p><p>Função poética: Centralizada na mensagem, revelando recursos</p><p>imaginativos criados pelo emissor. Afetiva, sugestiva, conotativa, ela é</p><p>metafórica. Valorizam-se as palavras, suas combinações. É a linguagem</p><p>figurada apresentada em obras literárias, letras de música, em algumas</p><p>propagandas etc.</p><p>Chatear e encher</p><p>Um amigo meu me ensina a</p><p>diferença entre “chatear“ e</p><p>“encher“.</p><p>Chatear é assim:</p><p>Você telefona para um escritório</p><p>qualquer na cidade.</p><p>- Alô! Quer me chamar, por</p><p>favor, o Valdemar?</p><p>- Aqui não tem nenhum Valdemar.</p><p>Daí a alguns minutos você liga de novo:</p><p>- O Valdemar, por obséquio.</p><p>- Cavalheiro, aqui não trabalha nenhum Valdemar.</p><p>- Mas não é do número tal?</p><p>- É, mas aqui não trabalha nenhum Valdemar.</p><p>Mais cinco minutos, você liga o mesmo número:</p><p>- Por favor, o Valdemar já chegou?</p><p>- Vê se te manca, palhaço. Já não lhe disse que o diabo desse</p><p>Valdemar nunca trabalhou aqui?</p><p>- Mas ele mesmo me disse que trabalhava aí.</p><p>- Não chateia.</p><p>Daí a dez minutos, liga de novo.</p><p>- Escute uma coisa! O Valdemar não deixou pelo menos um recado?</p><p>O outro desta vez esquece a presença da datilógrafa e diz coisas</p><p>impublicáveis.</p><p>Até aqui é chatear. Para encher, espere passar mais dez minutos,</p><p>faça nova ligação:</p><p>- Alô! Quem fala? Quem fala aqui é o Valdemar. Alguém telefonou</p><p>para mim?</p><p>(CAMPOS: 1983)</p><p>Figura 42</p><p>Remix Século XX</p><p>Composição: Adriana Calcanhoto / Wally Salomão</p><p>Armar um tabuleiro de palavras-souvenirs.</p><p>Apanhe e leve algumas palavras como</p><p>souvenirs.</p><p>Faça você mesmo seu micro tabuleiro</p><p>enquanto jogo lingüístico.</p><p>Babilaque, pop, chinfra, tropicália, parangolé, beatnick, vietcong,</p><p>bolchevique, technicolor, biquini, pagode, axé, mambo,</p><p>rádio,cibernética;</p><p>Figura 43</p><p>410</p><p>Introdução à Leitura UAB/Unimontes</p><p>Função metalinguística: Centralizada no código, usando a</p><p>linguagem para falar dela mesma. A poesia que fala da poesia, da sua</p><p>função e do poeta, um texto que comenta outro texto. Principalmente os</p><p>dicionários são repositórios de metalinguagem.</p><p>Obs.: Em um mesmo texto podem aparecer várias funções da</p><p>linguagem. O importante é saber qual a função predominante no texto,</p><p>para então defini-lo.</p><p>5.5 VARIAÇÃO LINGUÍSTICA</p><p>A língua não é usada de modo homogêneo por todos os seus</p><p>falantes. O uso de uma língua varia de época para época, de região para</p><p>região, de classe social para classe social, e assim por diante. Nem</p><p>individualmente podemos afirmar que o uso seja uniforme. Dependendo</p><p>da situação, uma mesma pessoa pode usar diferentes variedades de uma</p><p>Celular, automóvel, buceta, favela, lisérgico, maconha, ninfeta,</p><p>megafone, microfone, clone, sonar, sputinik, dada;</p><p>Sagarana, estéreo, subdesenvolvimento, existencialismo, fórmica,</p><p>arroba, antiquarios, motossera, mega sena;</p><p>Cubofuturismo, biopirataria, dodecafônico, polifônico,</p><p>Naviloca, polivox, polivox, polivox, polivox...</p><p>Fonte: http://letras.terra.com.br/adriana-calcanhoto/75160/</p><p>Oficina irritada</p><p>Carlos Drummond de Andrade</p><p>Eu quero compor um soneto duro</p><p>como poeta algum ousara escrever.</p><p>Eu quero pintar um soneto escuro,</p><p>seco, abafado, difícil de ler.</p><p>Quero que meu soneto, no futuro,</p><p>não desperte em ninguém nenhum prazer.</p><p>E que, no seu maligno ar imaturo,</p><p>ao mesmo tempo saiba ser, não ser.</p><p>Esse meu verbo antipático e impuro</p><p>há de pungir, há de fazer sofrer,</p><p>tendão de Vênus sob o pedicuro.</p><p>Ninguém o lembrará: tiro no muro,</p><p>cão mijando no caos, enquanto Arcturo,</p><p>claro enigma, se deixa surpreender.</p><p>(DRUMMOND: 2004)</p><p>411</p><p>Letras/Português Caderno Didático - 1º Período</p><p>só forma da língua.</p><p>Ao trabalhar com o conceito de variação linguística, estamos</p><p>pretendendo demonstrar:</p><p>Que a língua portuguesa, como todas as línguas do mundo,</p><p>?Que a variação linguística manifesta-se em todos os níveis de</p><p>funcionamento da linguagem ;</p><p>?Que a variação da língua se dá em função do emissor e em</p><p>função do receptor ;</p><p>?Que diversos fatores, como região, faixa etária, classe social e</p><p>profissão, são responsáveis pela variação da língua;</p><p>?Que não há hierarquia entre os usos variados da língua, assim</p><p>como não há uso linguisticamente melhor que outro. Em uma mesma</p><p>comunidade linguística, portanto, coexistem usos diferentes, não existindo</p><p>um padrão de linguagem que possa ser considerado superior. O que</p><p>determina a escolha de tal ou tal variedade é a situação concreta de</p><p>comunicação.</p><p>?Que a possibilidade de variação da língua expressa a variedade</p><p>cultural existente em qualquer grupo. Basta observar, por exemplo, no</p><p>Brasil, que, dependendo do tipo de colonização a que uma determinada</p><p>região foi exposta, os reflexos dessa colonização aí estarão presentes de</p><p>maneira indiscutível.</p><p>É importante observar que o processo de variação ocorre em todos</p><p>os níveis de funcionamento da linguagem, sendo mais perceptível na</p><p>pronúncia e no vocabulário. Esse fenômeno da variação se torna mais</p><p>complexo porque os níveis não se apresentam de maneira estanque, eles</p><p>se superpõem.</p><p>?</p><p>não se apresenta de maneira uniforme em todo o território brasileiro;</p><p>"Nenhuma língua permanece a mesma em todo o seu</p><p>domínio e, ainda num só local, apresenta um sem-número</p><p>de diferenciações.(...) Mas essas variedades de ordem</p><p>geográfica, de ordem social e até individual, pois cada um</p><p>procura utilizar o sistema idiomático da forma que melhor</p><p>lhe exprime o gosto e o pensamento, não prejudicam a</p><p>unidade superior da língua, nem a consciência que têm os</p><p>que a falam diversamente de se servirem de um mesmo</p><p>instrumento de comunicação, de manifestação e de</p><p>emoção." (Celso Cunha, em Uma política do idioma)</p><p>Níveis de variação linguística</p><p>Figura 44</p><p>412</p><p>Introdução à Leitura UAB/Unimontes</p><p>Nível fonológico: por exemplo, o l final de sílaba é pronunciado</p><p>como consoante pelos gaúchos, enquanto em quase todo o restante do</p><p>Brasil é vocalizado, ou seja, pronunciado como um u; o r caipira; o s chiado</p><p>do carioca.</p><p>Nível morfo-sintático: muitas vezes, por analogia, por exemplo,</p><p>algumas pessoas conjugam</p><p>verbos irregulares como se</p><p>fossem regulares: "manteu" em</p><p>vez de "manteve", "ansio" em vez</p><p>de "anseio"; certos segmentos</p><p>soc ia i s não r ea l i zam a</p><p>concordância entre sujeito e</p><p>verbo, o que ocorre com mais</p><p>frequência se o sujeito está</p><p>posposto ao verbo. Há ainda, variedade em termos de regência: "eu lhe vi"</p><p>ao invés de "eu o vi".</p><p>Nível vocabular: algumas palavras são empregadas em um</p><p>sentido específico de acordo com a localidade. Exemplos: em Portugal diz-</p><p>se "miúdo", ao passo que no Brasil usa-se "moleque", "garoto", "menino",</p><p>"guri"; as gírias são, tipicamente, um processo de variação vocabular.</p><p>É PROIBIDO</p><p>AMARRALO</p><p>O CAVALO NESTE</p><p>LOCALO</p><p>Figura 45</p><p>Estava o Gaudério em sua estância trabalhando quando olhou para</p><p>o relógio e exclamou assustado:</p><p>__A las frescas! Tô mais atrasado que tartaruga em desfile de lebre!</p><p>O fandango começa daqui a pouco, tchê!</p><p>Apressadíssimo, o gaúcho correu para a casa e no caminho falou</p><p>pro guri que trabalhava na fazenda:</p><p>__Guri, encilha ligeiro um animal pra mim que eu tô louco de</p><p>atrasado pro baile!</p><p>E o menino fez o que o Gaudério mandou. O gaúcho montou e se</p><p>mandou correndo para chegar em tempo no baile. No caminho</p><p>resolveu pegar um atalho que, diziam, tinha assombração. Ele nem</p><p>quis saber.</p><p>De repente, no meio do mato, surgiu o diabo, o capeta em pessoa.</p><p>O Gaudério, mais branco que lenço de padre, disse:</p><p>__Coisa ruim! Por favor não me mate, tchê!</p><p>__Calma, gaúcho - respondeu o tristonho - Pelo contrário, vou te</p><p>conceder três pedidos. Peça o que quiser.</p><p>__Ah, é assim? Pois então eu quero um rosto de galã de cinema, que</p><p>a minha guaiaca fique cheia de dinheiro e quero um órgão sexual</p><p>igual ao deste animal que estou montando.!</p><p>__Pode ir pro baile - disse o demo - vou te atender os desejos.</p><p>E o Gaudério chegou no fandango, atiçado. Foi pro banheiro conferir</p><p>o resultado dos pedidos. Primeiro olhou no espelho e tava com o</p><p>Tipos de variação linguística</p><p>Travaglia (1996), discutindo questões relativas ao ensino da</p><p>gramática no primeiro e segundo graus, apresenta, com base em Halliday,</p><p>McIntosh e Strevens (1974), um quadro bastante claro sobre as</p><p>possibilidades de variação linguística, chamando a atenção para o fato de</p><p>que, apesar de reconhecer a existência dessas variedades, a escola</p><p>continua a privilegiar apenas a norma culta, em detrimento das outras,</p><p>inclusive daquela que o educando já conhece anteriormente.</p><p>Existem dois tipos de variedades linguísticas: os dialetos</p><p>(variedades que ocorrem em função das pessoas que utilizam a língua, ou</p><p>seja, os emissores); os registros (variedades que ocorrem em função do uso</p><p>que se faz da língua, as quais dependem do receptor, da mensagem e da</p><p>situação).</p><p>Cada pessoa traz em si uma série de características que se</p><p>traduzem no seu modo de se expressar: a região onde nasceu, o meio</p><p>social em que foi criada e/ou em que vive, a profissão que exerce, a sua</p><p>faixa etária, o seu nível de escolaridade.</p><p>Variação Dialetal: variação regional, variação social, variação</p><p>etária e variação profissional.</p><p>?A região onde nasceu (variação regional) - aipim, mandioca,</p><p>macaxeira (para designar a mesma raiz); tu e você (alternância do</p><p>pronome de tratamento e da forma verbal que o acompanha); vogais</p><p>pretônicas abertas em algumas regiões do Nordeste; o s chiado carioca e o</p><p>s sibilado mineiro;</p><p>?O meio social em que foi criada e/ou em que vive; o nível de</p><p>escolaridade (no caso brasileiro, essas variações estão normalmente inter-</p><p>relacionadas (variação social): substituição do l por r (crube, pranta,</p><p>prástico); eliminação do d no gerúndio (correndo/correno); troca do a pelo</p><p>o (saltar do ônibus/soltar do ônibus);</p><p>?A profissão que exerce (variação profissional): linguagem</p><p>médica (ter um infarto / fazer um infarto); jargão policial ( elemento /</p><p>pessoa; viatura / camburão);</p><p>?A faixa etária (variação etária): irado, sinistro (termos usados</p><p>pelos jovens para elogiar, com conotação positiva, e pelos mais velhos, com</p><p>conotação negativa).</p><p>413</p><p>Letras/Português Caderno Didático - 1º Período</p><p>rosto do Tom Cruise. Depois abriu a guaiaca e era dinheiro que não</p><p>cabia mais.</p><p>Finalmente baixou a calça pra conferir o terceiro pedido:</p><p>-Guri de merda! Me encilhou uma égua!</p><p>Fonte: http://coqueteldosolon.blogspot.com/</p><p>Pelos exemplos apresentados, podemos concluir que há dialetos</p><p>de dimensão territorial, social/profissional, de idade, de sexo, histórica.</p><p>Nem todos os autores apresentam a mesma divisão para estas variedades,</p><p>sobretudo porque elas se superpõem, e seus limites não são bem definidos.</p><p>Cada pessoa traz em si uma série de características que se</p><p>traduzem no seu modo de se expressar: a região onde nasceu, o meio</p><p>social em que foi criada e/ou em que vive, a profissão que exerce, a sua</p><p>faixa etária, o seu nível de escolaridade.</p><p>Variação de Registro: grau de formalismo, modalidade de uso,</p><p>sintonia: esse tipo de variedade que as línguas podem apresentar diz</p><p>respeito ao uso que se faz da língua em função da situação em que o</p><p>usuário e o interlocutor estão envolvidos.</p><p>Para se fazer entender, qualquer pessoa precisa estar em sintonia</p><p>com o seu interlocutor e, isto é, facilmente observável na maneira como</p><p>nos dirigimos, por exemplo, a uma criança, a um colega de trabalho, a</p><p>uma autoridade. Escolhemos palavras, modos de dizer, para cada uma</p><p>dessas situações. Tentar adaptar a própria linguagem à do interlocutor já é</p><p>realizar um ato de comunicação. Pode-se dizer que o nível da linguagem</p><p>deve se adaptar à situação.</p><p>As variações de registro podem ser de três tipos: grau de</p><p>formalismo, modalidade e sintonia. Cada tipo não aparece isolado, eles</p><p>se correlacionam.</p><p>414</p><p>Introdução à Leitura UAB/Unimontes</p><p>Um político que estava em plena campanha, chegou a uma</p><p>cidadezinha, subiu em um caixote e começou seu discurso:</p><p>_____Compatriotas, companheiros, amigos! Encontramo-nos aqui</p><p>convocados, reunidos ou ajuntados para debater, tratar ou discutir um</p><p>tópico, tema ou assunto o qual é transcendente, importante ou de vida</p><p>ou morte. O tópico, tema ou assunto que hoje nos convoca, reúne ou</p><p>ajunta, é minha postulação, aspiração ou candidatura à Prefeitura</p><p>deste Município.</p><p>De repente, uma pessoa do público pergunta:</p><p>_____Escuta aqui, porque o senhor utiliza sempre três palavras para</p><p>dizer a mesma coisa?</p><p>_____Ah, responde o candidato, pois veja meu senhor: A primeira</p><p>palavra é para pessoas com nível cultural muito alto como os poetas,</p><p>escritores, filósofos, etc. A segunda é para pessoas com um nível</p><p>cultural médio como o senhor e a maioria dos que estão aqui. E a</p><p>terceira palavra é para pessoas que têm um nível cultural muito baixo,</p><p>pelo chão, digamos, como aquele bêbado ali jogado na esquina.</p><p>De imediato, o bêbado se levanta cambaleando e responde:</p><p>_____Senhor postulante, aspirante ou candidato. (hic). O fato,</p><p>circunstância ou razão de que me encontre em um estado etílico,</p><p>415</p><p>Letras/Português Caderno Didático - 1º Período</p><p>ANDRADE, Carlos Drummond de. Poesia Completa. Rio de Janeiro: Nova</p><p>Aguilar, 2004.</p><p>CAMPOS, Paulo Mendes. Chatear e encher. In: Para gostar de ler. vol. 2.</p><p>São Paulo, Ática, 1983. p. 35.</p><p>FIORIN, José Luiz; SAVIOLI, Francisco Platão. Lições de texto: leitura e</p><p>redação. 4 ed. São Paulo: Ática, 2004.</p><p>HALLIDAY, M. A . ; McINTOSH, A . & STREVENS, P. As ciências lingüísticas</p><p>e o ensino de línguas. Petrópolis: Vozes, 1974.</p><p>TRAVAGLIA, L. C. Gramática e interação. São Paulo: Cortez, 1996.</p><p>http://afp.google.com/article/ALeqM5jnusBxcwvK8RctMUTsfG5kTSV5jw,</p><p>consultado em out/2008.</p><p>http://coqueteldosolon.blogspot.com/, consultado em out/2008.</p><p>http://foruns.ptgate.pt, consultado em out/2008.</p><p>http://fwd.urlcurta.com/a-luva-e-a-calcinha, consultado em out/2008.</p><p>http://letras.terra.com.br/adriana-calcanhoto/75160/, consultado em</p><p>out/2008.</p><p>http://letras.terra.com.br/caetano-veloso/44738/, consultado em</p><p>out/2008.</p><p>http://letras.terra.com.br/cartola/806106/, consultado em out/2008.</p><p>http://letras.terra.com.br/jose-roberto/950367/, consultado em out/2008.</p><p>http://letras.terra.com.br/paulinho-pedra-azul/1190960/,</p><p>consultado em</p><p>out/2008.</p><p>bêbado ou mamado... (hic) não implica, significa, ou quer dizer que</p><p>meu nível cultural seja ínfimo, baixo ou ralé mesmo... (hic). E com todo</p><p>o respeito, estima ou carinho que o senhor merece... (hic), pode ir</p><p>agrupando, reunindo ou ajuntando... (hic), seus pertences, coisas ou</p><p>bagulhos... (hic) e encaminhar-se, dirigir-se ou ir-se diretinho à sua</p><p>genitora, mãe biológica ou “puta” que o pariu.</p><p>Fonte: http://foruns.ptgate.pt</p><p>REFERÊNCIAS</p><p>416</p><p>Introdução à Leitura UAB/Unimontes</p><p>http://letras.terra.com.br/pedro-morais, consultado em out/2008.</p><p>http://letras.terra.com.br/skank/71463/, consultado em out/2008.</p><p>http://revistaepoca.globo.com/Epoca/0,6993,EPT991765-1655,00.html,</p><p>consultado em out/2008.</p><p>http://users.isr.ist.utl.pt/~cfb/VdS/v261.txt, consultado em out/2008.</p><p>http://www.adrianacalcanhotto.com.br, consultado em out/2008.</p><p>http://www.caetanoveloso.com.br, consultado em out/2008.</p><p>http://www.casadobruxo.com.br/poesia/g/seusolhos.htm, consultado em</p><p>out/2008.</p><p>http://www.chicobuarque.com.br, consultado em out/2008.</p><p>http://www.chicobuarque.com.br/letras/calice_73.htm, consultado em</p><p>out/2008.</p><p>http://www.fisica.ufpb.br/~romero/port/ga_lvc.htm#Amo, consultado em</p><p>out/2008.</p><p>http://www2.uol.com.br/tomjobim/ml_boto.htm, consultado em out/2008.</p><p>417</p><p>6UNIDADE 6</p><p>ESTRATÉGICAS DE LEITURA</p><p>Parabéns! Você chegou à última unidade da disciplina Introdução</p><p>à leitura. Se você seguiu todas as recomendações, certamente já é um</p><p>leitor bem mais eficiente.</p><p>Apresentação da unidade</p><p>Você percebeu que a todo o momento estamos produzindo e</p><p>recebendo diferentes textos para situações também diferentes?</p><p>Ora realizamos deduções com base nos elementos explícitos e</p><p>implícitos ora posicionamos crítica e coerentemente diante de um</p><p>determinado texto. Somos uma sociedade em que interagimos por meio de</p><p>textos. Por isso, dizemos que estamos inseridos em uma sociedade letrada,</p><p>na qual temos domínios da linguagem que nos auxilia no processo de</p><p>tentativa de comunicação entre os homens. Assim, as estratégicas de</p><p>leitura têm um relevante papel a exercer no processo de contato entre o</p><p>texto e o leitor, tomando como ponto de referência os domínios da</p><p>linguagem.</p><p>Levando em conta esta proposta de trabalho é muito importante que,</p><p>ao longo desta unidade, você realize todas as dicas de atividade, pois elas</p><p>têm como finalidade possibilitar outras impressões sobre a teoria que não</p><p>estão contempladas aqui.</p><p>Para pensarmos um pouco sobre os atos de ler e de</p><p>compreender, efetivados pelo leitor, esta unidade tem como objetivo:</p><p>Articular os conhecimentos sobre a Linguagem, a Língua, a</p><p>atividade de leitura, o texto e seus fatores com a abordagem das questões</p><p>referentes às estratégias de leitura específicas de cada Gênero e Tipo</p><p>textual, sob a perspectiva das competências/habilidades.</p><p>Desenvolver estratégias de leitura para textos dados.</p><p>Para iniciar esta unidade, reflita sobre as indagações:</p><p>a) Quais leituras você já fez hoje? Para responder relembre todas</p><p>as suas atividades desde que se levantou até agora. Se você foi à rua,</p><p>lembre-se das placas que leu, dos anúncios publicitários, propagandas etc.</p><p>b) Você leu todos os textos da mesma forma?</p><p>c) Que tipos de texto você já produziu hoje/ Lembre-se dos orais,</p><p>escritos...</p><p>Objetivos</p><p>?</p><p>?</p><p>ATIVIDADES</p><p>Tente mapear os diferentes</p><p>gêneros textuais que</p><p>chegam até você e os</p><p>gêneros textuais que</p><p>partem de você para</p><p>outros, associando a</p><p>finalidade e o modo de</p><p>materialização de cada um.</p><p>Quais os gêneros textuais</p><p>mais freqüentes utilizados</p><p>por você? E quais os</p><p>domínios da linguagem</p><p>mobilizados pelos gêneros</p><p>textuais utilizados por você?</p><p>6.1 PENSANDO AS ESTRATÉGIAS DE LEITURA</p><p>Ao afirmarmos que a leitura é uma atividade ativa, criativa e</p><p>produtiva, estamos levando em conta que ela é:</p><p>a) Ativa: devido ao fato de o leitor participar do processo de</p><p>significação que inclui a consideração de conhecimentos prévios e</p><p>partilhados, de múltiplos semióticos, como a imagem e, ainda, a moldura</p><p>comunicativa na qual está inserido (o contexto de produção, os sujeitos</p><p>envolvidos na ação de linguagem, as intenções comunicativas);</p><p>b) Criativa: pois se leva em conta a capacidade de inferências</p><p>lexicais, de estratégias sócio-cognitivas que permitem depreender o</p><p>sentido global do texto sem ter, necessariamente, que conhecer o</p><p>significado de todas as palavras;</p><p>c) Produtiva: uma vez que a atividade de leitura é exigência para a</p><p>inserção no mundo, isto é, ser capaz de ler o mundo nas e/ou por trás das</p><p>diversas mensagens textuais.</p><p>Ao realizar a atividade do mapeamento dos gêneros textuais que</p><p>são utilizados e recebidos por você ao longo do dia-a-dia (Unidade I), você</p><p>deve ter percebido a maneira como processamos, criticamos, constatamos</p><p>e avaliamos as diversas informações que nos são apresentadas,</p><p>produzindo sentidos para o que lemos. Dito de outra maneira, agimos</p><p>estrategicamente, tendo a possibilidade de dirigir e de auto-regular nosso</p><p>próprio ato de ler e de compreender.</p><p>O autor Gilvan Ribeiro (2002), ao escrever o Boletim Pedagógico</p><p>de Língua Portuguesa, destaca que a produtividade da leitura busca cobrir</p><p>um leque variado de possibilidades da ação de linguagem, não se fixando</p><p>em um tipo específico de texto. Assim, para ele, o que se pretende é ver a</p><p>capacidade de o leitor se locomover entre textos que, ora cruzam imagem e</p><p>palavra, ora privilegiam a imagem, ora estão centrados na palavra.</p><p>Tomemos como exemplo, o poema abaixo, em que a forma e a disposição</p><p>das palavras retratam o sentido delas.</p><p>A leitura tem o papel de possibilitar de viabilização do acesso aos</p><p>bens culturais existentes, tanto do ponto de vista psicológico quanto</p><p>sociológico, e seu aprendizado pretende, em geral, a adaptação do</p><p>418</p><p>Introdução à Leitura UAB/Unimontes</p><p>ATIVIDADES</p><p>Qual sua impressão ao</p><p>visualizar este poema? O</p><p>que te chamou mais</p><p>atenção?</p><p>Figura 46</p><p>419</p><p>Letras/Português Caderno Didático - 1º Período</p><p>indivíduo ao meio ambiente, que muitas vezes não é o seu, conforme expõe</p><p>Martins:</p><p>A leitura se manifesta como um pacto interativo, pois há uma</p><p>importância significativa do leitor no ato da leitura. Esse pacto é firmado à</p><p>revelia do autor. Assim, para DE CERTEAU (citado por CHATIER, 1984), o</p><p>leitor desenvolve uma coerente relação no pacto, uma vez que, concentra</p><p>em si o elemento de interdependência e de poder no jogo das predições,</p><p>bem como das inferências fomentadas na leitura. Assim, no poema Trem</p><p>de Ferro, de Manuel Bandeira, notaremos que as “sinalizações” do texto</p><p>(leitura pausada) nos autorizam afirmar que, ao produzir o poema, Manuel</p><p>Bandeira tentou retratar a imitação dos sons do trem de ferro.</p><p>Ao abordarmos as questões relativas às estratégicas de leitura,</p><p>utilizaremos para exemplificação o texto O Retorno do Patinho Feio,</p><p>explorado pelas autoras Ingedore Villaça Koch e Vanda Maria Elias, no</p><p>livro Ler e compreender – os sentidos do texto.</p><p>Se o conceito de leitura está geralmente restrito à</p><p>decifração da escrita, sua aprendizagem, no entanto, liga-</p><p>se por tradição ao processo de formação global do</p><p>indivíduo, à sua capacitação para o convívio e atuações</p><p>políticas, social, econômica e cultural. (MARTINS, 1982, p.</p><p>22).</p><p>PARA REFLETIR</p><p>Ao ler o texto de Manuel</p><p>Bandeira, percebemos que</p><p>a disposição do poema e</p><p>que as palavras utilizadas</p><p>por ele nos levam a</p><p>representar o som</p><p>produzido pelo trem. Quais</p><p>as palavras que favorecem</p><p>a reprodução do som?</p><p>TREM DE FERRO Foge, povo Pra matar minha</p><p>Passa ponte sede</p><p>Café com pão Passa poste Oô...</p><p>Café com pão Passa pasto Vou mimbora vou</p><p>Café com pão Passa boi mimbora</p><p>Passa boiada</p><p>Virge Maria que foi Passa galho Não gosto daqui</p><p>isso maquinista? Da ingazeira Nasci no sertão</p><p>Debruçada Sou de Ouricuri</p><p>Agora sim No riacho Oô...</p><p>Café com pão Que vontade</p><p>Agora sim De cantar! Vou depressa</p><p>Voa, fumaça Vou correndo</p><p>Corre, cerca Oô... Vou na toda</p><p>Ai seu foguista Quando</p><p>me Que só levo</p><p>Bota fogo prendero Pouca gente</p><p>Na fornalha No canaviá Pouca gente</p><p>Que eu preciso Cada pé de cana Pouca gente...</p><p>Muita força Era um oficiá</p><p>Muita força Oô...</p><p>Muita força Menina bonita</p><p>Oô... Do vestido verde</p><p>Foge, bicho Me dá tua boca ATIVIDADES</p><p>Em uma folha, anote as</p><p>impressões de cada fase</p><p>das estratégicas de leitura,</p><p>ao ler os textos aqui</p><p>indicados.</p><p>420</p><p>Introdução à Leitura UAB/Unimontes</p><p>6.2 ALGUMAS ESTRATÉGIAS DE LEITURA</p><p>a) Seleção: ao ler o texto, a mente do leitor seleciona o que lhe</p><p>interessa, pois nem tudo o que está escrito é igualmente útil. Escolhemos</p><p>alguns aspectos, chamados relevantes, e ignoramos outros, irrelevantes</p><p>para o entendimento do texto.</p><p>a) Predição/Antecipação: no processo de interação com o texto, é</p><p>necessário que o leitor reporte não só ao co-texto (pistas textuais), mas</p><p>também ao contexto (pistas extratextuais, a situação de interação</p><p>imediata, o entorno sociopolítico-cultural), para que haja a construção das</p><p>hipóteses investigativas na superfície textual. Nesse sentido, durante a</p><p>leitura, comprovamos se as antecipações estavam corretas ou não, sendo</p><p>preciso o retorno e a reanálise do que foi lido.</p><p>b) Inferência: são os complementos informacionais que o leitor</p><p>fornece ao texto a partir dos conhecimentos prévios: de mundo, linguístico</p><p>e textual.</p><p>c) Auto-regulagem: é uma atividade permanente do leitor.</p><p>Consiste em fazer a mediação entre o que ele supõe (seleção, antecipação</p><p>e inferência) e as respostas que vai obtendo através do texto. Trata-se de</p><p>avaliar as antecipações e as inferências, confirmando-as ou antecipando-</p><p>as com a finalidade de garantir a compreensão.</p><p>d) Autocorreção: quando as expectativas levantadas pela</p><p>estratégia não são confirmadas, há um momento de dúvida. O leitor,</p><p>portanto, repensa a hipótese, anteriormente, levantada e constrói outras,</p><p>retomando as partes do texto para fazer as devidas correções.</p><p>As autoras simularam a maneira de como nós, leitores, nos</p><p>embasamos nas estratégias de leitura, para executar o trabalho de</p><p>construção de sentido. Para tanto, elas recorreram ao miniconto, cujo</p><p>título é O Retorno do Patinho Feio, de Marcelo Coelho, publicado na</p><p>Folhinha da Folha de São Paulo.</p><p>Ao depararmos com o título do miniconto, afirmam Koch e Elias,</p><p>com a palavra retorno e a sua significação – regresso, volta –, logo,</p><p>pensamos nas narrativas infantis, rememorando em nossos</p><p>conhecimentos prévios a história do patinho feio com o qual o texto de</p><p>Marcelo Coelho tece um diálogo de perto.</p><p>Assim, o nosso primeiro contato com o texto, tomando como</p><p>ponto de partida as hipóteses motivadas pelo título, nos gera uma</p><p>“curiosidade” textual em saber quais os aspectos comuns e diferentes entre</p><p>o texto O Retorno do Patinho Feio e o texto Patinho Feio.</p><p>Prosseguindo a nossa atividade de leitura e de produção de</p><p>sentido, notamos que, o trecho a seguir, apresenta-nos uma personagem</p><p>(Será a principal? Pelo fato de ser mencionada no título e de aparecer em</p><p>posição de destaque no início da história, inferimos que se trata da</p><p>personagem principal):</p><p>ATIVIDADES</p><p>Anote as hipóteses</p><p>levantadas por você. Será</p><p>que elas serão confirmadas</p><p>ao longo da leitura do texto</p><p>O Retorno do Patinho Feio?</p><p>421</p><p>Letras/Português Caderno Didático - 1º Período</p><p>Koch e Elias (2006, p. 14) destacaram que “nossos olhos de</p><p>leitores atentos apontam para uma oposição marcante no trecho em torno</p><p>dos nomes Alfonso x Patinho Feio, à qual subjazem outras oposições:</p><p>presente x passado; riqueza x pobreza”.</p><p>No quadro abaixo, elas traçaram um paralelo de destaque:</p><p>A partir da relevante caracterização de Alfonso, expressada pelas</p><p>adjetivações que se referem à personagem e à sua moradia, em paralelo</p><p>com a ausência de adjetivações da mesma natureza da de Alfonso,</p><p>quando o Patinho era identificado como feio, percebemos que essas</p><p>informações nos estimulam à formulação de novas antecipações.</p><p>No trecho acima, a expressão – um dia – introduz uma situação-</p><p>problema, que são particulares do gênero textual conto. Ainda segundo</p><p>Koch e Elias, nossa interação com o texto exige também outras hipóteses</p><p>sobre o passado de Alfonso (Onde morava? Como era esse lugar?) e sobre</p><p>as prováveis ações do “mais belo cisne do lago Príncipe das Astúrias”,</p><p>motivadas pelo sentimento de saudade expresso no enunciado: Um dia,</p><p>ele sentiu saudades da mãe, dos irmãos e dos amiguinhos da escola.</p><p>Portanto, qual será a decisão de Alfonso? Voltará ao lugar de</p><p>origem? Reencontrará a mãe, os irmãos e amiguinhos de escola?</p><p>Continuando a leitura será possível verificar e confirmar (ou não)</p><p>nossas hipóteses:</p><p>O que você antecipou? Você disse que ele voltaria? Então, se disse</p><p>que Alfonso voltaria à sua origem, acertou. No segundo trecho, é possível</p><p>Alfonso era o mais belo cisne do lago príncipe de Astúrias.</p><p>Todos os dias, ele contempla sua imagem refletida nas águas daquele</p><p>chiquérrimo e exclusivo condomínio para aves milionárias. Mas</p><p>Alfonso não se esquecia de sua origem humilde.</p><p>__Pensar que, não faz muito tempo, eu era conhecido como</p><p>o Patinho Feio... Um dia, ele sentiu saudades da mãe, dos irmãos e</p><p>dos amiguinhos da escola.</p><p>Alfonso Patinho Feio</p><p>O mais belo cisne O Patinho Feio</p><p>Lago Príncipe de Astúrias ?</p><p>Chiquérrimo e exclusivo condomínio para</p><p>aves milionárias</p><p>?</p><p>Quadro 7</p><p>Voou até a lagoa do Quaquenhá. O pequeno e barrento local</p><p>de sua infância.</p><p>A pata Quitéria conversava com as amigas chocando sua</p><p>quadragésima ninhada. Alfonso abriu suas largas asas brancas.</p><p>__Mamãe! Mamãe! Você se lembra de mim?</p><p>Quitéria levantou-se muito espantada.</p><p>__Se-se-senhor cisne... quanta honra... mas creio que o senhor se</p><p>confunde...</p><p>__Mamãe...?</p><p>__Como poderia eu ser mãe de tão belo e nobre animal?</p><p>Não adiantou explicar. Dona Quitéria balançava a cabeça.</p><p>__Esse cisne é mesmo lindo... mas doido de pedra, coitado...</p><p>Alfonso foi então procurar a Bianca. Uma patinha linda do pré-</p><p>primário. Que vivia chamando Alfonso de feio.</p><p>__Lembra de mim, Bianca? Gostaria de me namorar agora? He, he, he.</p><p>422</p><p>Introdução à Leitura UAB/Unimontes</p><p>obter outras informações que nos auxiliam na caracterização entre Alfonso</p><p>x Patinho Feio. As informações adicionais complementaram o conteúdo do</p><p>primeiro trecho da história, sendo destacadas, por Koch e Elias, no quadro</p><p>por meio do negrito:</p><p>No final do trecho, a pergunta: - Mamãe! Mamãe! Você se lembra</p><p>de mim?, cuja resposta ainda não sabemos exige novamente outras</p><p>hipóteses. A resposta da mãe de Alfonso será positiva ou negativa? Vamos</p><p>verificar nossas hipóteses na continuidade da nossa interação com o texto.</p><p>Vamos ler:</p><p>A atividade de leitura provoca em nós sentimentos, ansiedades,</p><p>pois ela nos envolve em uma atmosfera de emoções. O que sentirá Alfonso</p><p>ao perceber que a pata Quitéria se esqueceu? Após o efeito do</p><p>esquecimento na trama da história, o que poderá acontecer? O que fará o</p><p>pobre Alfonso? Koch e Elias destacaram como hipótese número um:</p><p>Voltará Alfonso para o seu luxuoso condomínio? Hipótese número dois:</p><p>Persistirá no seu intento de ser reconhecido e novamente aceito na</p><p>comunidade? E quais hipóteses você antecipou, levando em conta seus</p><p>conhecimentos e sua criatividade? Iremos verificar (ou não) as duas</p><p>hipóteses antecipadas pelas autoras? Para isso, segue mais um trecho da</p><p>história:</p><p>Cumpre notar que constantemente estamos acionando hipóteses</p><p>para os diversos aspectos do texto, a cada pergunta, hipóteses são</p><p>acionadas, a cada trecho que lemos utilizamos de forma interativa as</p><p>Alfonso Patinho Feio</p><p>O mais belo cisne O Patinho Feio</p><p>Lago Príncipe de Astúrias Lagoa do Quaquenhá</p><p>Chiquérrimo e exclusivo condomínio para</p><p>aves milionárias</p><p>O pequeno e barrento</p><p>local de sua infância</p><p>Quadro 8</p><p>423</p><p>Letras/Português Caderno Didático - 1º Período</p><p>estratégias de leitura. Agora, qual será a resposta de Bianca?</p><p>Qual será a</p><p>reação à de Alfonso? Estamos torcendo para que sim ou para que não?</p><p>Veja a resposta da Bianca:</p><p>Até agora, percebemos que a situação não está nada boa para</p><p>Alfonso. A pata Quitéria e a patinha Bianca deram a ele respostas</p><p>negativas. O que acontecerá com Alfonso? O que ele poderá fazer?</p><p>Você ficou surpreso com essa atitude de Alfonso? Ou já estava</p><p>prevista em suas hipóteses? E agora, o bruxo resolverá o problema do</p><p>Alfonso? Ou insistimos na hipótese de que nenhuma tentativa dará certo,</p><p>devendo Alfonso retornar ao seu luxuoso condomínio e esquecer de vez seu</p><p>passado humilde? Terá a história um final (in)feliz? Vamos ler, então:</p><p>Por fim, conseguimos ler o texto O Retorno do Patinho Feio,</p><p>fragmentado e articulado conforme simulação das autoras Koch e Elias.</p><p>Leia o texto sem nenhuma interrupção:</p><p>__Deus me livre! Está louco? Uma pata namorando um cisne!</p><p>Aberração da natureza...</p><p>Alfonso respirou fundo. Nada mais fazia sentido por ali.</p><p>Resolveu procurar um famoso bruxo da região.</p><p>Com alguns passes mágicos, o feiticeiro e astrólogo Omar Rhekko</p><p>resolveu o problema. Em poucos dias, Alfonso transformou-se num</p><p>pato adulto. Gorducho e bastante sem graça. Dona Quitéria capricha</p><p>fazendo lasanhas para ele.</p><p>__Cuidado para não engordar demais, filhinho.</p><p>Bianca faz um cafuné na cabeça de Alfonso.</p><p>O Retorno do Patinho Feio</p><p>Alfonso era o mais belo cisne do lago príncipe de Astúrias.</p><p>Todos os dias, ele contempla sua imagem refletida nas águas daquele</p><p>chiquérrimo e exclusivo condomínio para aves milionárias. Mas</p><p>Alfonso não se esquecia de sua origem humilde.</p><p>Pensar que, não faz muito tempo, eu era conhecido como o</p><p>Patinho Feio... Um dia, ele sentiu saudades da mãe, dos irmãos e dos</p><p>amiguinhos da escola. Voou até a lagoa do Quaquenhá. O pequeno e</p><p>barrento local de sua infância.</p><p>A pata Quitéria conversava com as amigas chocando sua</p><p>quadragésima ninhada. Alfonso abriu suas largas asas brancas.</p><p>__Mamãe! Mamãe! Você se lembra de mim?</p><p>Quitéria levantou-se muito espantada.</p><p>__Se-se-senhor cisne... quanta honra... mas creio que o</p><p>424</p><p>Introdução à Leitura UAB/Unimontes</p><p>Para Koch e Elias (2006, p. 18),</p><p>Portanto, aplique as estratégias de leitura no texto Menino cheio</p><p>de coisas, de Fernando Bonassi, tendo por base a maneira como fizemos</p><p>juntos ao ler o texto O Retorno do Patinho.</p><p>Na atividade de leitores ativos, estabelecemos relações</p><p>entre nossos conhecimentos anteriormente constituídos e</p><p>as novas informações contidas no texto, fazemos</p><p>inferências, comparações, formulamos perguntas</p><p>relacionadas com o seu conteúdo.</p><p>senhor se confunde...</p><p>__Mamãe...?</p><p>__Como poderia eu ser mãe de tão belo e nobre animal?</p><p>Não adiantou explicar. Dona Quitéria balançava a cabeça.</p><p>__Esse cisne é mesmo lindo... mas doido de pedra, coitado...</p><p>Alfonso foi então procurar a Bianca. Uma patinha linda do</p><p>pré-primário. Que vivia chamando Alfonso de feio.</p><p>__Lembra de mim, Bianca? Gostaria de me namorar agora?</p><p>He, he, he.</p><p>__Deus me livre! Está louco? Uma pata namorando um</p><p>cisne! Aberração da natureza...</p><p>Alfonso respirou fundo. Nada mais fazia sentido por ali.</p><p>Resolveu procurar um famoso bruxo da região. Com alguns passes</p><p>mágicos, o feiticeiro e astrólogo Omar Rhekko resolveu o problema.</p><p>Em poucos dias, Alfonso transformou-se num pato adulto. Gorducho</p><p>e bastante sem graça. Dona Quitéria capricha fazendo lasanhas para</p><p>ele.</p><p>__Cuidado para não engordar demais, filhinho.</p><p>Bianca faz um cafuné na cabeça de Alfonso.</p><p>__Gordo... pescoçudo... bicudo... Mas sabe que eu acho</p><p>você uma gracinha?</p><p>Viveram felizes para sempre.</p><p>Fonte: COELHO, Marcelo. O Retorno do Patinho Feio. Folha de São Paulo.</p><p>19. mar. Folhinha, p. 8.</p><p>Menino cheio de coisa</p><p>Vejam só: aos nove anos e três meses de idade, Serginho está deitado</p><p>embaixo das cobertas com uma calça de veludo de duzentos e vinte</p><p>reais, camiseta de quarenta e cinco reais, tênis que pisca quando</p><p>encosta no solo, óculos de sol com lentes amarelas, taco de beisebol,</p><p>jaqueta de nálion lilás, boné da Nike, bola de futebol de campo</p><p>tamanho oficial, dois times de futebol de botão, CD dos Tribalistas,</p><p>joystick, Gameboy, uma caixa de bombom de cereja ao licor, dois</p><p>sacos de jujuba, um quebra-cabeça de mil e quinhentas peças, um</p><p>modelo em escala “F” cento e dezessete (desmontado), chocolate</p><p>pra uma semana, três pacotes de batatinha frita (novidade, com</p><p>orégano), dois litros de refrigerante com copo de canudinho</p><p>combinando, quatro segmentos retos e quatro curvos de pista de</p><p>autorama, dois trenzinhos (um de pilha e um de corda), controle</p><p>DICAS</p><p>O contexto lingüístico do</p><p>texto Menino cheio de</p><p>coisa nos orienta na</p><p>construção da imagem do</p><p>menino. Porém, a leitura do</p><p>texto demandará a</p><p>(re)ativação de outros</p><p>conhecimentos que temos</p><p>armazenados em nossa</p><p>memória. Qual o propósito</p><p>do autor do texto? Como</p><p>você aplicou as estratégias</p><p>de leitura? Qual a</p><p>estratégia que, para você,</p><p>foi mais relevante?</p><p>Você notou que, ao interagirmos com os textos, trazemos</p><p>conosco uma série de informações cognitivas que já é, por si só, o contexto.</p><p>Por isso, ao lermos o texto Menino cheio de coisa, o autor Fernando</p><p>Bonassi espera de seu leitor a avaliação da informação que consta no</p><p>texto. Na atividade de leitura, o autor do texto, o meio de veiculação do</p><p>texto, o gênero textual, o título, a distribuição e a configuração de</p><p>informações são aspectos que devem ser levados em conta no momento</p><p>do processamento do sentido de um dado texto.</p><p>A fim de exemplificar o que afirmamos, vamos ler o texto a seguir,</p><p>prestando atenção na maneira como a mãe de Anabela contextualizou a</p><p>fala de sua filha sobre o casamento:</p><p>425</p><p>Letras/Português Caderno Didático - 1º Período</p><p>remoto, duas raquetes de pingue-pongue, duas canetas do Mickey e</p><p>nem adianta seu pai, do outro lado da porta trancada pelo menino</p><p>emburrado, dizer que sua mãe já volta.</p><p>Fonte: BONASSI, Fernando. Folha de São Paulo, 12 mar. 2005. Folhinha.</p><p>Conversa de mãe e filha</p><p>__Manhê, eu vou me casar.</p><p>__Ah! O que foi? Agora não, Anabela. Não está vendo que</p><p>eu estou no telefone?</p><p>__Por favor, por favoooooor, me faz um lindo vestido de</p><p>noiva, urgente?</p><p>__Pois é, Carol. A Tati disse que comprava e no final mudou</p><p>de idéia. Foi tudo culpa da ...</p><p>__Mãe, presta atenção! O noivo já foi escolhido e a mãe dele</p><p>já está fazendo a roupa. Com gravata e tudo!</p><p>__Só um minutinho, Carol. Vestido de ... casar?! O que é isso,</p><p>menina, você só tem dez anos? Alô, Carol?</p><p>__Me ouve, mãe! Os meus amigos também já foram</p><p>convidados! E todos já confirmaram presença.</p><p>__Carol, tenho de desligar. Você está louca, Anabela? Vou já</p><p>telefonar para seu pai.</p><p>__Boa! Diz para ele que depois vai ter a maior festança. Ele</p><p>precisa providenciar pipoca, bolo de aipim, pé-de-moleque, canjica,</p><p>curau, milho na brasa, guaraná, quentão e, se puder, churrasco no</p><p>espeto e cuscuz. E diz para ele não se esquecer: quero fogueira e</p><p>muito rojão pra soltar na hora do: “Sim, eu aceito”. Mãe? Mãe?</p><p>Manhêê!!!</p><p>Caiu pra trás!</p><p>Vinte minutos depois.</p><p>__Acorda, mãe...</p><p>Desculpa, eu me enganei, a escola vai providenciar os comes e bebes.</p><p>O papai não vai ter que pagar nada, mãe, acoooooorda. Ô vida! Que</p><p>noiva sofre eu já sabia. Mas até noiva de quadrilha.</p><p>PARA REFLETIR</p><p>Koch e Elias (2006, p. 66)</p><p>afirmam que “o contexto</p><p>permite preencher as</p><p>lacunas do texto, isto é,</p><p>estabelecer os “elos</p><p>faltantes”, por meio de</p><p>'inferências-pontes'”.</p><p>Reflita e mostre nos textos</p><p>Menino cheio de coisa e</p><p>Conversa entre mãe e filha</p><p>a afirmação das autoras.</p><p>426</p><p>Introdução à Leitura UAB/Unimontes</p><p>Notamos na leitura do texto Conversa de mãe e filha duas</p><p>contextualizações acerca do casamento: a contextualização da mãe</p><p>referente a um casamento socialmente construído e a contextualização da</p><p>filha concernente a um casamento construído socialmente pela festa</p><p>junina. Assim, iniciamos a leitura do texto, levando em conta o contexto</p><p>pressuposto pela mãe. Porém, quando lemos os seguintes trechos:</p><p>compreendemos</p><p>o contexto a que a filha fazia referência. A</p><p>distinção entre a perspectiva de ambos os casamentos só é possível, pelo</p><p>fato de “nosso conhecimento de mundo nos dizer que esses componentes</p><p>são comuns a uma festa junina e não a um enlace matrimonial tradicional”</p><p>(KOCH e ELIAS, 2006, p. 63).</p><p>Nesta unidade, você percebeu como os aspectos da linguagem e</p><p>da língua funcionam como ferramentas para a produção de sentidos.</p><p>Nessa medida, acionar as estratégias de leitura exige nossa competência</p><p>em saber a composição, o conteúdo, o estilo, o propósito comunicacional e</p><p>o modo de veiculação de um dado gênero textual. Desse modo, chegou o</p><p>momento de articularmos os conhecimentos que construímos juntos</p><p>respeitantes à linguagem não-verbal e verbal. Para isso, selecionamos o</p><p>texto O mistério do velho casarão, de Alberto Filho, para que você aplique</p><p>as noções aqui trabalhadas nesta disciplina sobre a leitura..</p><p>Ele precisa providenciar pipoca, bolo de aipim, pé-de-moleque,</p><p>canjica, curau, milho na brasa, guaraná, quentão e, se puder,</p><p>churrasco no espeto e cuscuz.</p><p>E diz para ele não se esquecer: quero fogueira e muito rojão pra soltar</p><p>na hora do: “Sim, eu aceito”.</p><p>DICAS</p><p>Você percebeu que, ao</p><p>iniciar a leitura do texto</p><p>Conversa de mãe e filha,</p><p>estávamos situados no</p><p>contexto do dizer da</p><p>personagem-mãe; depois,</p><p>migramos de contexto,</p><p>tendo em vista as pistas do</p><p>próprio texto, situando</p><p>nossa leitura no contexto</p><p>da personagem-filha. Nos</p><p>acontecimentos do dia-a-</p><p>dia, é notória a troca de</p><p>contextos entre os</p><p>interlocutores. Por isso,</p><p>observe em quais</p><p>acontecimentos de seu dia-</p><p>a-dia essa troca acontece</p><p>com mais freqüência.</p><p>Quais os sentidos</p><p>produzidos ou, até mesmo,</p><p>quais os sentidos outros</p><p>que emergem da troca dos</p><p>contextos? Não se esqueça</p><p>de registrar as observações.</p><p>ATIVIDADES</p><p>Explicite qual a</p><p>composição, conteúdo,</p><p>estilo, propósito</p><p>comunicacional e o modo</p><p>de veiculação do texto.</p><p>Se necessário, vá até</p><p>a fonte para entender</p><p>melhor o contexto.</p><p>Fonte:</p><p>http://sitededicas.uol.com.b</p><p>r/ct9_p1.htm</p><p>427</p><p>Letras/Português Caderno Didático - 1º Período</p><p>428</p><p>Introdução à Leitura UAB/Unimontes</p><p>Figura 47</p><p>REFERÊNCIAS</p><p>BANDEIRA, Manuel. Poesias Completas. Rio de Janeiro: Nova Aguilar,</p><p>1940.</p><p>BONASSI, Fernando. Folha de São Paulo, 12 mar. 2005. Folhinha.</p><p>CHATIER, Roger, A ordem dos livros: leitores, autores e biblioteca entre os</p><p>séculos XIV e XVII, Trad. Mary de Priori, Brasília: Editora da UNB, 1984.</p><p>KOCH, Ingedore Villaça, ELIAS, Vanda Maria. Ler e compreender: os</p><p>sentidos do texto. São Paulo: Contexto, 2006.</p><p>MARTINS, Maria Helena. O que é Leitura? 7. ed. São Paulo: Brasiliense,</p><p>1982.</p><p>RIBEIRO, Gilvan P. Boletim Pedagógico de Língua Portuguesa. Juiz de Fora:</p><p>Caed, 2002.</p><p>http://sitededicas.uol.com.br/ct9_p1.htm, consultado em out/2008.</p><p>429</p><p>Letras/Português Caderno Didático - 1º Período</p><p>Prezado acadêmico (a)</p><p>Esperamos que ao proporcionar o processo de ensino-</p><p>aprendizagem referente aos elementos linguísticos, discursivos e</p><p>enunciativos que compõem a estruturação de diferentes gêneros e tipos</p><p>textuais, tenhamos contribuído de modo significativo para o</p><p>desenvolvimento das habilidades e competências de leitura necessárias à</p><p>constituição de sujeitos capazes de se posicionarem do ponto de vista</p><p>filosófico, político, social, cultural, ético e estético, frente aos discursos que</p><p>circulam na sociedade.</p><p>O caminho para o alcance dessa finalidade teve início na Unidade</p><p>I quando, traçando um panorama sobre a ciência da linguagem,</p><p>propusemos o estudo de aspectos referentes à linguagem, língua e fala e</p><p>linguagem verbal e não-verbal. Esperamos que você tenha compreendido</p><p>que a linguagem e a língua são constitutivas de nossa identidade como</p><p>seres humanos e como seres socioculturais, motivo pelo qual a linguagem</p><p>se inscreve como sistema mediador de todos os discursos. Daí, a</p><p>importância do ensino de língua portuguesa.</p><p>Já na Unidade II, você teve oportunidade de refletir sobre a história</p><p>do conceito de leitura, e de sua prática social, e perceber que ela veio, ao</p><p>longo dos tempos, evoluindo em sua forma de apresentação. De uma</p><p>prática antes proibida por seu sentido emancipador de idéias e de ideais,</p><p>passou a ser uma prática democrática e socializante. Objetivamos</p><p>também, nas abordagens dessa Unidade, que você tenha desenvolvido</p><p>habilidades de percepção, observação, análise, comparação e síntese de</p><p>mecanismos estruturais na organização das idéias que articulam o textual</p><p>e entendido os mecanismos de produção de sentidos no processo de leitura</p><p>de diferentes tipos e gêneros textuais.</p><p>Na Unidade III, discutimos os princípios constitutivos do texto e os</p><p>fatores envolvidos em sua produção e recepção. Esperamos que tenha</p><p>ficado claro para você o que é texto e textualidade, quais as características</p><p>que fazem com que um texto seja entendido como tal e não como um</p><p>amontoado de frases. É importante ainda, que você tenha conseguido</p><p>distinguir os fatores semântico-formais e os fatores pragmáticos de</p><p>textualidade, tornando-se assim, um melhor leitor de tipos e gêneros de</p><p>textos que circulam em nossa sociedade.</p><p>Você consegue reconhecer a multiplicidade de processos</p><p>RESUMO</p><p>431</p><p>cognitivos que constituem a atividade em que o leitor se engaja para</p><p>construir o sentido de um texto escrito? Esse foi um dos temas abordados</p><p>na Unidade IV, que objetivou, ainda, que você aprimorasse sua própria</p><p>capacidade de leitura para facilitar as ações na sociedade essencialmente</p><p>escrita em que vivemos e adquirisse subsídios para tornar-se um eficiente</p><p>formador de leitores, preparando-se para uma educação de qualidade.</p><p>Esperamos, também, que agora você demonstre competência para a</p><p>ativação de conhecimentos prévios na leitura de textos.</p><p>Outras aptidões que esperamos que você tenha desenvolvido, e</p><p>que são os objetivos da Unidade V, foram: o exercício da habilidade de</p><p>perceber os sentidos denotativo e conotativo no processo de leitura; o</p><p>entendimento da variação linguística como característica da não</p><p>uniformidade das línguas e como decorrente de fatores tais como o tempo,</p><p>o espaço, o nível cultural e a situação em que um indivíduo se manifesta</p><p>verbalmente; e a comprrensão do caráter polissêmico das palavras da</p><p>Língua Portuguesa.</p><p>Por fim, na Unidade VI, oferecemos instrumentação teórica e</p><p>prática para que você seja capaz de articular eficientemente os</p><p>conhecimentos sobre a Linguagem, a Língua, a atividade de leitura, o texto</p><p>e seus fatores, com a abordagem das questões referentes às estratégias de</p><p>leitura específicas de cada Gênero e Tipo textual, sob a perspectiva das</p><p>competências/habilidades.</p><p>Acreditamos que o professor de Língua Portuguesa, deve ser</p><p>conhecedor de teorias sobre leitura que tomam o leitor como sujeito ativo</p><p>na construção de significados; sobre as estratégias para compreensão do</p><p>texto lido; sobre a importância da ativação do conhecimento prévio; da</p><p>leitura como produção de significados e sentidos tornando-se co-autor do</p><p>texto; entre muitas outras teorias que possam interagir com sua prática. E,</p><p>ainda, o professor tendo uma concepção interacionista da linguagem,</p><p>compreenderá a importância da interlocução, do diálogo, de tomar o texto</p><p>como lugar de interação dos sujeitos, para que assim possa conduzir um</p><p>ensino inovador no sentido de poder ensinar ao aluno a ter objetivos de</p><p>leitura. Sendo assim, esperamos que essa disciplina seja apenas o início de</p><p>uma longa jornada de estudos teóricos e, principalmente, de leitura.</p><p>Afinal, esperamos que você se apaixone pela leitura. Quando isso</p><p>acontecer, você verá que ela é sempre muito fiel. Dorme com você, acorda</p><p>com você e te acompanha o dia inteirinho, onde quer que você vá ou</p><p>esteja. Leia tudo que lhe aparecer pela frente. Os grandes textos,os textos</p><p>médios e os pequenos textos. A linguagem verbal, não-verbal, os gestos, as</p><p>atitudes. Leia você, seus familiares, seus colegas. Lembre-se</p><p>“o corpo fala”</p><p>e ler é um “vício” muito gostoso.</p><p>Um grande abraço.</p><p>432</p><p>Introdução à Leitura UAB/Unimontes</p><p>BÁSICA</p><p>COSTA VAL, Maria da Graça. Redação e textualidade. 2. ed. São Paulo:</p><p>Martins Fontes, 2004.</p><p>FIORIN, José Luiz; SAVIOLI, Francisco Platão. Lições de texto: leitura e</p><p>redação. 4 ed. São Paulo: Ática, 2004.</p><p>KLEIMAN, Ângela.Leitura: ensino e pesquisa. 4. ed. Campinas: Pontes,</p><p>2000.</p><p>COMPLEMENTAR</p><p>KOCH, Ingedore Grunfeld Villaça; TRAVAGLIA, Luiz Carlos. Texto e</p><p>coerência. 5. ed. São Paulo: Cortez, 1997.</p><p>PAULINO, Graça et al. Tipos de textos, modos de leitura. Belo Horizonte:</p><p>Formato editorial, 2001. (Educador em Formação).</p><p>TRAVAGLIA, L. C. Gramática e interação. São Paulo: Cortez, 1996.</p><p>ANDRADE, Carlos Drummond de. Contos plausíveis. Rio de Janeiro: J.</p><p>Olímpio, 1985.</p><p>ANDRADE, Carlos Drummond de. Discurso de Primavera & Algumas</p><p>Sombras. Rio de Janeiro: José Olympio, 1977.</p><p>ANDRADE, Carlos Drummond de. Poesia Completa. Rio de Janeiro: Nova</p><p>Aguilar, 2004.</p><p>ALVES, Clair. A arte de falar bem. Rio de Janeiro: Vozes, 2005.</p><p>BANDEIRA, Manuel. Poesias Completas. Rio de Janeiro: Nova Aguilar,</p><p>1940.</p><p>BONASSI, Fernando. Folha de São Paulo, 12 mar. 2005. Folhinha.</p><p>BRAGA, Rubem. A traição das elegantes. Rio de Janeiro: Editora Sabiá,</p><p>1967.</p><p>SUPLEMENTAR</p><p>REFERÊNCIAS</p><p>433</p><p>CAMPOS, Paulo Mendes. Chatear e encher. In: Para gostar de ler. vol. 2.</p><p>São Paulo, Ática, 1983. p. 35.</p><p>CAVALCANTE, Berenice; STARLING, Heloisa e EISENBERG, José</p><p>Eisenberg (Org). Decantando a República: inventário histórico e político da</p><p>canção popular moderna brasileira. Rio de Janeiro: Perseu Abramo/Nova</p><p>Fronteira, 2004.</p><p>CHARTIER, Roger. A Aventura do Livro: do leitor ao navegador. Trad. por</p><p>Reginaldo de Moraes. São Paulo: Unesp, 1998.</p><p>COSTA VAL, Maria da Graça. Redação e textualidade. 2. ed. São Paulo:</p><p>Martins Fontes, 2004.</p><p>COSTA VAL, Maria da Graça. Redação e textualidade. São Paulo: Martins</p><p>Fontes, 1994.</p><p>DAMIÃO, R. T.; HENRIQUES, A. Curso de português jurídico. São Paulo:</p><p>Atlas, 2000.</p><p>DE CERTEAU, Michel. In: CHATIER, Roger, A ordem dos livros: leitores,</p><p>autores e biblioteca entre os séculos XIV e XVII, Trad. Mary de Priori,</p><p>Brasília: Editora da UNB, 1984.</p><p>DESCARTES, René. Discurso do método. São Paulo: Nova Cultural, 1996</p><p>DIAS, Gonçalves. Poesia. São Paulo: Agir, 1969. Coleção Nossos Clássicos.</p><p>ECO, Umberto. O Nome da Rosa, Lisboa: Difel, 2004.</p><p>FIORIN, José Luiz; SAVIOLI, Francisco Platão. Lições de texto: leitura e</p><p>redação. 4 ed. São Paulo: Ática, 2004.</p><p>FIORIN, José Luiz; SAVIOLI, Francisco Platão. Para entender o texto:</p><p>leitura e redação. 11. ed. São Paulo: Ática, 1995.</p><p>HALLIDAY, M. A . ; McINTOSH, A . & STREVENS, P. As ciências lingüísticas</p><p>e o ensino de línguas. Petrópolis: Vozes, 1974.</p><p>HALLIDAY, M. A.; McINTOSH, A. & STREVENS, P. Cohesion in English.</p><p>London: Longman, 1976.</p><p>HECKLER, Evaldo, BACK, Sebad. Curso de Lingüística. São Paulo:</p><p>Parábola Editorial, 2002.</p><p>INDURSKI, Freda. Reflexões sobre a linguagem: de Bakhtin à análise do</p><p>discurso. Línguas einstrumentos lingüísticos, N. 4/5, p. 69-88. Campinas:</p><p>Pontes, 2000</p><p>KLEIMAN, Ângela. Texto e leitor: aspectos cognitivos da leitura. Campinas:</p><p>Ática, 1989.</p><p>434</p><p>Introdução à Leitura UAB/Unimontes</p><p>KLEIMAN, Ângela. Texto e leitor: aspectos cognitivos da leitura. 4. ed.</p><p>Campinas: Ática, 1995.</p><p>KLEIMAN, Ângela.Leitura: ensino e pesquisa. 4. ed. Campinas: Pontes,</p><p>2000.</p><p>KOCH, Ingedore Villaça, ELIAS, Vanda Maria. Ler e compreender: os</p><p>sentidos do texto. São Paulo: Contexto, 2006.</p><p>KOCH, Ingedore Villaça. A coerência textual. 6. ed. São Paulo: Contexto,</p><p>1993. Coleção Repensando a Língua Portuguesa.</p><p>LAJOLO, Marisa. Do mundo da leitura para a leitura do mundo. São Paulo,</p><p>Ática, 1993.</p><p>LYONS, John. Introdução à Lingüística Teórica. São Paulo: Editora</p><p>Nacional, 1979.</p><p>MARCUSCHI, Luiz Antonio. Linguística do Texto: o que é, como se. faz.</p><p>Recife: Universidade Federal de Pernambuco, 1983.</p><p>MARCUSHI, Luiz Antônio. Gêneros Textuais: definição e funcionalidade.</p><p>In: DIONÍSIO, Ângela Paiva et al. (Org.). Gêneros textuais e ensino. Rio de</p><p>Janeiro: Lucena, 2002.</p><p>MARTINS, Maria Helena. O que é Leitura? 7. ed. São Paulo: Brasiliense,</p><p>1982.</p><p>MARTINS, Robert. Para Entender a Lingüística: epistemologia elementar</p><p>de uma disciplina. São Paulo: Parábola Editorial, 2003.</p><p>MENDES, Murilo. Poesia completa e prosa. (Org.) Luciana Stegagno</p><p>Picchio. RJ: Nova Aguilar, 1994.</p><p>MORAES, Márcio Adriano. Ame logo. O Norte. Montes Claros, 06 set.</p><p>2008.</p><p>MORAES, Vinicius de. Antologia Poética. Rio de Janeiro: Editora do Autor,</p><p>1960.</p><p>MOURA, Franscisco, FARACO, Carlos. Linguagem Nova. São</p><p>Paulo:Ática,p.78,2004.</p><p>RIBEIRO, Gilvan P. Boletim Pedagógico de Língua Portuguesa. Juiz de Fora:</p><p>Caed, 2002.</p><p>RICARDO, Cassiano. Poesias completas. Rio de Janeiro: José Olímpio,</p><p>1957.</p><p>ROCCO, Maria Thereza Fraga. Crise na linguagem: a redação no</p><p>vestibular. São Paulo: Mestre Jou, 1981.</p><p>435</p><p>Letras/Português Caderno Didático - 1º Período</p><p>RODRIGUES, Neidson. Por uma nova escola: o transitório e o permanente</p><p>na educação. São Paulo: Cortez, 1993.</p><p>SANTAELLA, Lucia. O que é semiótica. Brasília: Brasiliense, 1983.</p><p>SAUSSURE, Ferdinand de. Curso de Lingüística Geral. São Paulo: Cultrix,</p><p>1994.</p><p>SCOTT, Michael. Lendo nas entrelinhas. Cadernos PUC, nº. 16,</p><p>1983.p.101-24</p><p>TRAVAGLIA, Luiz Carlos. Ensino de Gramática numa perspectiva textual</p><p>interativa. In: O ensino de língua portuguesa para o 2º grau. Uberlândia:</p><p>Edufu, 1996a. (Projeto VITAE – SEEMG – UFU).</p><p>VANOYE, Francis. Usos da linguagem: problemas e técnicas de produção</p><p>oral e escrita. São Paulo: Martins Fontes, 1982.</p><p>http://www1.folha.uol.com.br/folha/educacao/ult305u321371.shtml,</p><p>consultado em out/2008.</p><p>http:/ /www.adorocinema.com/f i lmes/nome-da-rosa/nome-da-</p><p>rosa.htm#Sinopse, consultado em out/2008.</p><p>http://www.chicobuarque.com.br/letras/construc_71.htm,</p><p>consultado em out/2008.</p><p>http://www.chicobuarque.com.br/letras/notas/n_construc.htm,</p><p>consultado em out/2008.</p><p>www.lutherthemovie.com, consultado em out/2008</p><p>http://www.releituras.com/viniciusm_bio.asp, consultado em out/2008.</p><p>http://www.viniciusdemoraes.com.br/poesia/sec_poesia_view.php?,</p><p>consultado em out/2008.</p><p>www.tarsiladoamaral.com.br, consultado em out/2008.</p><p>http://www.ziraldo.com/conversa/home.htm, consultado em out/2008.</p><p>http://acd.ufrj.br/~pead/tema07/coerenciaecoesao.html, consultado em</p><p>out/2008.</p><p>http://revistaescola.abril.com.br/edicoes/0206/aberto/palavras_novas.doc</p><p>, consultado em out/2008.</p><p>http://www.blognoticia.blogger.com.br, consultado em out/2008.</p><p>http://www.portrasdasletras.com.br/, consultado em out/2008.</p><p>436</p><p>Introdução à Leitura UAB/Unimontes</p><p>http://www.revista.agulha.nom.br/casi.html#cancao, consultado em</p><p>out/2008.</p><p>http://www.tvcultura.com.br/aloescola/literatura/cronicas/origem.htm,</p><p>consultado em out/2008.</p><p>http://www.luso-poemas.net/modules/news/article.php?storyid=23101,</p><p>consultado em out/2008.</p><p>http://afp.google.com/article/ALeqM5jnusBxcwvK8RctMUTsfG5kTSV5jw,</p><p>consultado em out/2008.</p><p>http://coqueteldosolon.blogspot.com/, consultado em out/2008.</p><p>http://foruns.ptgate.pt, consultado em out/2008.</p><p>http://fwd.urlcurta.com/a-luva-e-a-calcinha, consultado em out/2008.</p><p>http://letras.terra.com.br/adriana-calcanhoto/75160/, consultado em</p><p>out/2008.</p><p>http://letras.terra.com.br/caetano-veloso/44738/, consultado em</p><p>out/2008.</p><p>http://letras.terra.com.br/cartola/806106/, consultado em out/2008.</p><p>http://letras.terra.com.br/jose-roberto/950367/, consultado em out/2008.</p><p>http://letras.terra.com.br/paulinho-pedra-azul/1190960/, consultado em</p><p>out/2008.</p><p>http://letras.terra.com.br/pedro-morais, consultado em out/2008.</p><p>http://letras.terra.com.br/skank/71463/, consultado em out/2008.</p><p>http://revistaepoca.globo.com/Epoca/0,6993,EPT991765-1655,00.html,</p><p>consultado em out/2008.</p><p>http://users.isr.ist.utl.pt/~cfb/VdS/v261.txt, consultado em out/2008.</p><p>http://www.adrianacalcanhotto.com.br, consultado em out/2008.</p><p>http://www.caetanoveloso.com.br,</p><p>consultado em out/2008.</p><p>http://www.casadobruxo.com.br/poesia/g/seusolhos.htm, consultado em</p><p>out/2008.</p><p>http://www.chicobuarque.com.br, consultado em out/2008.</p><p>http://www.chicobuarque.com.br/letras/calice_73.htm, consultado em</p><p>out/2008.</p><p>http://www.fisica.ufpb.br/~romero/port/ga_lvc.htm#Amo, consultado em</p><p>out/2008.</p><p>http://www2.uol.com.br/tomjobim/ml_boto.htm, consultado em out/2008.</p><p>http://sitededicas.uol.com.br/ct9_p1.htm, consultado em out/2008.</p><p>437</p><p>Letras/Português Caderno Didático - 1º Período</p><p>ATIVIDADES DE</p><p>APRENDIZAGEM</p><p>- AA</p><p>QUESTÃO 01</p><p>Sobre língua e linguagem, marque F para a afirmativa falsa e V para as</p><p>afirmativas verdadeiras:</p><p>A) ( ) O termo linguagem pode ser entendido como a faculdade</p><p>mental que distingue os humanos de outras espécies animais e possibilita</p><p>os modos específicos de pensamento, conhecimento e interação com os</p><p>semelhantes.</p><p>B) ( ) O termo língua pode ser entendido como forma de realização da</p><p>linguagem; como sistema lingüístico necessário ao seu exercício na</p><p>interlocução ou como instrumento do qual a linguagem se utiliza na</p><p>comunicação.</p><p>C) ( ) Para que haja a construção de sentidos da parte do receptor é</p><p>preciso dispor de algumas competências e habilidades lingüístico-</p><p>discursivas como forma de “apropriar” da mensagem alheia.</p><p>D) ( ) Para Saussure língua é a parte social da linguagem que, em</p><p>forma de sistema, engloba várias possibilidades de sons existentes em uma</p><p>comunidade.</p><p>E) ( ) A língua se caracteriza como ato exterior ao indivíduo que, de</p><p>acordo com os lingüistas, evolui de geração em geração.</p><p>F) ( ) É possível afirmar que no interior de uma mesma língua não</p><p>ocorrem variações.</p><p>QUESTÃO 02</p><p>Observe a obra 'Operários' de 1933 óleo/tela 150 X 205 cm, de uma das</p><p>maiores pintoras Brasileiras, Tarsila do Amaral.</p><p>Fonte: http://pessoal.educacional.com.br/up/4380001</p><p>439</p><p>Figura 48: “Operários”, .Tarsila do Amaral</p><p>Marque a única alternativa incorreta.</p><p>A linguagem não verbal da pintura permite ao leitor afirmar que:</p><p>A) As pessoas retratadas aparentam tristeza/descontentamento.</p><p>B) É uma pintura de época e retrata um momento histórico.</p><p>C) A imagem ao fundo pode ser lida como sendo uma fábrica.</p><p>D) Há pessoas de várias etnias.</p><p>E) O quadro tem pouco a dizer por falta da linguagem verbal.</p><p>QUESTÃO 03</p><p>De acordo com os PCN's, (1997: 23 ; 24), a linguagem é produto</p><p>cultural e histórico, é constituída e utilizada de acordo com o povo que a</p><p>utiliza em seus diversos contextos. É considerada como a capacidade</p><p>humana de articular significados coletivos e compartilhá-los em ocasiões</p><p>ou situações arbitrárias de representações que variam de acordo com as</p><p>necessidades e experiências da vida em sociedade, procurando sempre</p><p>manter um de seus fins, que é a produção de sentido.</p><p>Tendo em vista essa afirmação e os conhecimentos adquiridos na</p><p>Unidade I, elabore um parágrafo comentando as diversas possibilidades</p><p>de variação da linguagem.</p><p>______________________________________________________________</p><p>______________________________________________________________</p><p>______________________________________________________________</p><p>______________________________________________________________</p><p>______________________________________________________________</p><p>_____________________________________________________________</p><p>QUESTÃO 04</p><p>Leia o horóscopo:</p><p>TOURO De 21/4 a 20/5</p><p>Não deixe o nervosismo tomar conta de você. Relaxe.</p><p>Procure observar a beleza que existe em seu caminho.</p><p>Desfrute dos doces momentos em sua intensidade. Assim</p><p>conseguirá eliminar as tensões do dia-a-dia e ser feliz. Os</p><p>astros indicam chances de sucesso profissional. Cuide para</p><p>que nenhuma oportunidade escape, pois isso lhe dará maior confiança e</p><p>firmeza nas decisões difíceis.</p><p>CONTIGO! 28/9/2006</p><p>440</p><p>Introdução à Leitura UAB/Unimontes</p><p>Associe a segunda coluna de acordo com primeira de modo a obter uma</p><p>correspondência correta entre os termos da primeira e suas identificações</p><p>expressas na Segunda.</p><p>1 - Linguagem verbal ( ) 28/9/2006.</p><p>2 - Linguagem não verbal ( ) Os astros indicam chances</p><p>de sucesso profissional.3 - Linguagem verbal e não</p><p>verbal ( ) Procure observar a beleza</p><p>que existe em seu caminho.</p><p>( ) Cuide para que nenhuma</p><p>oportunidade escape, pois isso</p><p>lhe dará maior confiança e</p><p>firmeza nas decisões difíceis.</p><p>( ) CONTIGO! 28/9/2006</p><p>441</p><p>Letras/Português Caderno Didático - 1º Período</p><p>1º PERÍODO</p><p>INTRODUÇÃO À</p><p>TEORIA DA LITERATURA</p><p>AUTORES</p><p>Ilca Vieira de Oliveira</p><p>Departamento de</p><p>Comunicação e Letras da Universidade Estadual de Montes Claros -</p><p>Unimontes.</p><p>Anelito de Oliveira</p><p>Doutor em Literatura Brasileira pela Universidade de São Paulo - USP.</p><p>Atualmente é professor do Departamento de Comunicação e Letras da</p><p>Universidade Estadual de Montes Claros - Unimontes.</p><p>Elcio Lucas de Oliveira</p><p>Doutor em Estudos Comparados de Literaturas de Língua Portuguesa pela</p><p>Universidade de São Paulo - USP. Atualmente é professor do Departamento</p><p>de Comunicação e Letras da Universidade Estadual de Montes Claros -</p><p>Unimontes.</p><p>Doutorado em Literatura Comparada pela Universidade Federal de Minas</p><p>Gerais - UFMG. Atualmente é professora do</p><p>SUMÁRIO</p><p>DA DISCIPLINA</p><p>Apresentação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 447</p><p>Resumo. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 497</p><p>Referências básica, complementar e suplementar. . . . . . . . . . . . . . 499</p><p>Atividades de Aprendizagem - AA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 503</p><p>Unidade I: Discurso literário e discurso não literário . . . . . . . . . . . . 449</p><p>1.1 Reflexões iniciais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 449</p><p>1.2 O amor como tema. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 454</p><p>1.3 O texto literário e a prática do professor . . . . . . . . . . . . . . . 463</p><p>1.4 Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 464</p><p>Unidade II: A especificidade do discurso literário . . . . . . . . . . . . . . 465</p><p>2.1 Ficção e realidade. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 465</p><p>2.2 O conceito de literatura . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 466</p><p>2.3 A literatura e a obra literária. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 467</p><p>2.4 Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 469</p><p>Unidade III: As correntes críticas: diferentes perspectivas de leitura do</p><p>texto literário. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 471</p><p>3.1 As correntes teóricas do século XIX . . . . . . . . . . . . . . . . . . 472</p><p>3.2 As correntes teóricas do século XX. . . . . . . . . . . . . . . . . . . 473</p><p>3.3 A estética da recepção: o texto, o autor e o leitor . . . . . . . . . 476</p><p>3.3 O crítico e seu papel . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 477</p><p>3.4 Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 479</p><p>3.5 Vídeos sugeridos para debate . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 479</p><p>Unidade IV: Intertextualidade: conceitos básicos . . . . . . . . . . 481</p><p>4.1 A inter textual idade em outras ar tes: le i turas e</p><p>interpretações. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 483</p><p>4.2 Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 185</p><p>4.5 Vídeos sugeridos para debate . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 485</p><p>Unidade V: A narrativa: a fixação das formas e suas mutações . . . . 486</p><p>5.1 A narrativa em poesia: estudo do poema épico . . . . . . . . . . 486</p><p>5.2 A narrativa em prosa: o romance, o conto, a novela e a</p><p>crônica. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 488</p><p>5.3 Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 495</p><p>APRESENTAÇÃO</p><p>447</p><p>“Chega mais perto e contempla as palavras.</p><p>Cada uma tem mil</p><p>língua é um</p><p>produto da razão (...) (LYONS, 1979, p. 17-18).</p><p>Para os gregos, a linguagem era uma ferramenta para entender a</p><p>realidade; por isso eles definiram as partes do discurso em uma perspectiva</p><p>universal e necessária.</p><p>Segundo Evaldo Heckler e Sebad Back (1988, p. 62), os estudos</p><p>linguísticos dos gregos limitaram-se ao aspecto lógico e filosófico da</p><p>linguagem. Tais estudos não permearam o campo de outras línguas, visto</p><p>que, até aquele momento, não existia uma perspectiva contrastiva de</p><p>outras línguas com a língua grega. O que existia era um cotejo da</p><p>linguagem com o pensamento visando à decifração da realidade.</p><p>Nessa perspectiva, os estudos linguísticos pré-saussurianos eram</p><p>realizados sob uma ótica das inter-relações metafísico-enigmáticas, pois</p><p>esses estudos estabeleciam fundamental relação com a realidade, a</p><p>verdade e o pensamento. Cabe destacar que, nesse período, ainda não</p><p>havia uma distinção clara nem sistemática dos termos “linguagem”,</p><p>“semiologia”, e “língua”.</p><p>Saussure postulou a distinção entre o que seria objeto de estudo</p><p>da semiologia (estudo das linguagens) e o que seria objeto da Linguística</p><p>(estudo da Língua). Portanto, a Linguística seria um aspecto da semiologia.</p><p>1.2 LINGUAGEM</p><p>O termo linguagem deve ser entendido como a faculdade mental</p><p>que distingue os humanos de outras espécies animais e possibilita os</p><p>modos específicos de pensamento, conhecimento e interação com os</p><p>semelhantes. É, portanto, uma capacidade específica da espécie humana</p><p>e o que lhe faculta comunicar por meio de um sistema de signos (ou</p><p>língua).</p><p>Na perspectiva discursiva, a linguagem não é vista apenas como</p><p>instrumento de comunicação, de transmissão de informação ou como</p><p>suporte do pensamento; linguagem é interação, um modo de ação social.</p><p>Nesse sentido, é lugar de conflito, de confronto ideológico em que a</p><p>significação se apresenta em toda a sua complexidade. Estudar a</p><p>linguagem é abarcá-la nessa complexidade, é apreender o seu</p><p>funcionamento que envolve não só mecanismos linguísticos, mas também</p><p>“extralinguísticos”. (BRANDÃO, 2004, p. 108-109).</p><p>Vanoye (1982) afirma:</p><p>A linguagem, segundo definição de Émile Banveniste, é um</p><p>sistema de signos socializado. ”Socializado” remete</p><p>claramente à função de comunicação da linguagem. A</p><p>expressão “sistema de signos” é empregada para definir a</p><p>DICAS</p><p>Os estudos que foram</p><p>realizados até o Século XIX</p><p>são denominados de</p><p>estudos pré-saussurianos,</p><p>sendo-os destacados em</p><p>três fases: filosófica,</p><p>filológica e histórico-</p><p>comparatista. Para outras</p><p>informações pertinentes a</p><p>essa breve</p><p>problematização, acesse o</p><p>sítio eletrônico</p><p>www.cienciaeconhecimento</p><p>.com/pdf/vol001_LetA1 e,</p><p>depois, faça uma tabela</p><p>em que constem as</p><p>contribuições de cada fase</p><p>para os estudos da</p><p>linguagem. Em seguida,</p><p>compare suas impressões</p><p>teóricas com a do colega.</p><p>linguagem como um conjunto cujos elementos se</p><p>determinam em suas inter-relações, ou seja, um conjunto</p><p>no qual nada significa por si, mas tudo significa em função</p><p>de outros elementos. Em outras palavras, o sentido de um</p><p>termo, bem como o de um enunciado, é função do contexto</p><p>em que ele ocorre.</p><p>1.3 LÍNGUA</p><p>Nessa perspectiva, língua é, então, entendida como forma de</p><p>realização da linguagem; como sistema linguístico necessário ao seu</p><p>exercício na interlocução ou como instrumento do qual a linguagem se</p><p>utiliza na comunicação.</p><p>De acordo com Vanoye (1982), “as línguas são casos particulares</p><p>de um fenômeno geral, a linguagem...”. Cada língua merece um estudo</p><p>particular sobre suas especificidades tais como estruturação fônica,</p><p>sintática, entre outras.</p><p>Na definição de Saussure (linguista genebrino), língua é a parte</p><p>social da linguagem que, em forma de sistema, engloba todas as</p><p>possibilidades de sons existentes em uma comunidade. Partindo desse</p><p>princípio, a língua se caracteriza como ato exterior ao indivíduo. De acordo</p><p>com os linguistas, a língua evolui de geração em geração.</p><p>Apesar de ser um sistema de signos específicos aos membros de</p><p>uma mesma comunidade (por exemplo: língua portuguesa, língua</p><p>inglesa), no interior de uma mesma língua ocorrem variações.</p><p>Foi possível constatar que a língua é um sistema de símbolos pelo</p><p>qual a linguagem se realiza. Mas a linguagem se encontra relacionada a</p><p>outros sistemas simbólicos (sinais marítimos, Morse) e torna-se, assim,</p><p>objeto da semiologia ou semiótica, que deve estudar “a vida dos signos no</p><p>seio da vida social”. Vemos, portanto, que o termo linguagem tem uma</p><p>conotação bem mais abrangente do que língua.</p><p>O exemplo abaixo ilustra casos particulares de duas línguas</p><p>distintas, a saber, Português e Inglês:</p><p>338</p><p>Introdução à Leitura UAB/Unimontes</p><p>Semiótica: O primeiro</p><p>pensamento que temos é</p><p>“seria uma quase-ótica?”,</p><p>“uma ótica pela metade?”.</p><p>Não, não é. Para Lúcia</p><p>Santaella, semiótica "é a</p><p>ciência que tem por objeto</p><p>de investigação todas as</p><p>linguagens possíveis"</p><p>(1983:15). Sua principal</p><p>utilidade é possibilitar a</p><p>descrição e análise da</p><p>dimensão representativa</p><p>(estruturação sígnica) de</p><p>objetos, processos ou</p><p>fenômenos em categorias</p><p>ou classes organizadas.</p><p>O objeto de análise da</p><p>teoria semiótica pode ser</p><p>uma imagem, um ritual ou</p><p>uma música. O que implica</p><p>dizer que há uma forte</p><p>diferença com os objetos</p><p>do campo da lingüística,</p><p>pois ela se preocupa com</p><p>os aspectos formais de uma</p><p>determinada língua.</p><p>E</p><p>A</p><p>B G</p><p>GLOSSÁRIO</p><p>F</p><p>C</p><p>339</p><p>Dentro de uma mesma língua temos diversas modalidades: língua</p><p>familiar; língua técnica, língua erudita, língua popular, língua própria a</p><p>certas classes sociais, a certos subgrupos, em que se enquadram os</p><p>diferentes tipos de gíria etc. Entre as variações geográficas temos os</p><p>dialetos (como as variações específicas das diversas regiões do Brasil:</p><p>nordeste, sul, o dialeto caipira, o “carioquês”, paulista etc.). dialetos (como</p><p>as variações específicas das diversas regiões do Brasil: nordeste, sul, o</p><p>dialeto caipira, o “carioquês”, paulista etc.).</p><p>A fala, por sua vez, é um fenômeno físico e concreto que pode ser</p><p>analisado seja diretamente, com ajuda dos órgãos sensoriais, seja graças a</p><p>métodos e instrumentos análogos aos utilizados pelas ciências físicas. Em</p><p>nós, ouvintes, a fala é, com efeito, um fenômeno fonético; a articulação da</p><p>1.4 FALA</p><p>Fonte: pankas_abelhinha.blogs.sapo.pt</p><p>Figura 3</p><p>Figura 2</p><p>Letras/Português Caderno Didático - 1º Período</p><p>11</p><p>voz dá origem a um segmento fonético audível, imediatamente, a título de</p><p>pura sensação. Esse fenômeno implica o aparelho fonador e a produção</p><p>dos sons da fala.</p><p>O importante é entender que o mundo da linguagem nos</p><p>proporciona relevantes mecanismos de percepção da realidade, seja por</p><p>meio das cores, das gravuras, dos sons e das palavras (em forma de frase,</p><p>de texto, de discurso) e que a todo o momento, somos tocados de alguma</p><p>forma, por meio dessas modalidades, para estabelecermos sentidos às</p><p>diferentes mensagens que chegam até nós. E, para que haja a construção</p><p>de sentidos da parte do receptor (de quem recebe a mensagem), é preciso</p><p>dispor de algumas competências e habilidades linguístico-discursivas</p><p>como forma de “apropriar” da mensagem alheia.</p><p>1.5 ASPECTOS RELATIVOS À LINGUAGEM E À LÍNGUA</p><p>Saussure, no século XIX, postulou a idéia da “língua como</p><p>sistema autônomo”, em que a língua passou a ser vista como um sistema</p><p>de estrutura de caráter formal, a langue, conforme descobertas formais</p><p>dos comparatistas (“gramática histórico-comparativa”). Assim, Saussure</p><p>estabeleceu que enquanto a Linguística é o estudo científico da linguagem</p><p>humana, a Semiologia preocupa-se não apenas com a linguagem</p><p>humana e verbal, mas também com a dos animais e de todo e qualquer</p><p>sistema de comunicação, seja ele natural e convencional.</p><p>1.5.1 Linguagem verbal e não verbal</p><p>Quando no processo comunicacional o homem utiliza-se da</p><p>palavra, seja por meio da linguagem oral ou escrita, dizemos que ele está</p><p>utilizando uma linguagem verbal, pois</p><p>faces secretas sob a face neutra</p><p>e te pergunta, sem interesse pela resposta,</p><p>pobre ou terrível, que lhe deres: Trouxeste a chave?”</p><p>(Carlos Drummond de Andrade, 2002, p. 118).</p><p>A Literatura? Mas o que é a literatura? Para que serve a literatura?</p><p>Como estudá-la? E como ensiná-la? Estas são perguntas que você fará ao</p><p>longo do estudo desta disciplina. Com certeza são perguntas que não</p><p>pretendemos responder imediatamente. Como aluno, em processo de</p><p>aprendizagem, essas dúvidas aparecerão, pois você vai querer uma</p><p>“chave” para abrir todas as portas e obter uma resposta para todas as</p><p>questões. No entanto, não temos uma resposta definitiva para essas</p><p>perguntas num primeiro momento, pois levantaremos várias reflexões</p><p>teóricas sobre a literatura até chegarmos às noções básicas para esse</p><p>conceito.</p><p>Portanto, as reflexões teóricas realizadas no decorrer dessa</p><p>disciplina não pretendem dar respostas para todas as indagações que o</p><p>nosso objeto de estudo suscita, em nosso caso o texto literário. A teoria não</p><p>tem a pretensão de dar os conceitos para que você organize e entenda os</p><p>fenômenos que o preocupa. Ela poderá, contudo, conduzi-lo a vários</p><p>“questionamentos” e a levá-lo “desfazer postulados” que, muitas vezes,</p><p>foram apresentados como verdades.</p><p>A partir da ementa da disciplina, tomaremos como ponto de</p><p>partida o estudo do texto literário tendo como base conceitos sobre o</p><p>discurso literário e o não literário, levando em conta as conceituações</p><p>teóricas sobre ficção e realidade, a especificidade da palavra literária e o</p><p>conceito de literatura. Depois de discutirmos os métodos, os conceitos e os</p><p>propósitos da teoria da literatura, estudaremos as correntes críticas com</p><p>suas diferentes concepções de análise do texto literário e as noções de</p><p>intertextualidades. Por fim, o nosso estudo privilegiará a estética da</p><p>recepção: a dinâmica escritor-obra-contexto-leitor na produção do texto e</p><p>a narrativa: ponto de vista, personagens, enredo, tempo espaço.</p><p>A disciplina tem como objetivos:</p><p>- Estudar o texto literário com base em subsídios teóricos e críticos,</p><p>adotando uma postura crítica e reflexiva;</p><p>- Fornecer uma abordagem do texto privilegiando suas relações</p><p>448</p><p>Apresentação UAB/Unimontes</p><p>com o autor, o leitor e o contexto de produção;</p><p>- Analisar textos literários e a emissão de juízos de valor sobre</p><p>obras literárias e autores.</p><p>- Estudar a linguagem literária levando em conta os elementos</p><p>extrínsecos e intrínsecos do texto;</p><p>- Estudar o texto literário identificando as possíveis relações de</p><p>intertextualidade entre os textos;</p><p>- Discutir o conceito de literatura a partir de reflexões teóricas</p><p>sobre o discurso literário e o não literário;</p><p>- Desenvolver no aluno a capacidade de ler e de interpretar um</p><p>texto narrativo, observando as diferenças existentes entre o conto, o</p><p>romance, a novela, a epopéia e a crônica.</p><p>Alunos do curso de Letras, esta disciplina é muito importante para</p><p>a sua formação teórica, crítica, interpretativa e reflexiva, pois ela</p><p>apresentará instrumentos teóricos e metodológicos que poderão auxiliá-</p><p>los, ao longo de todo o curso, no estudo da literatura.</p><p>Esta disciplina tem cinco unidades e cada unidade está dividida</p><p>em subunidades.</p><p>Unidade 1: Discurso literário e discurso não literário</p><p>1.1 Reflexões iniciais</p><p>1.2 O amor como tema</p><p>1.3 O texto literário e a prática do professor</p><p>Unidade 2: A especificidade do discurso literário</p><p>2.1 Ficção e realidade</p><p>2.2 O conceito de literatura</p><p>2.3 A literatura e a obra literária</p><p>Unidade 3: As correntes críticas: diferentes perspectivas de</p><p>leitura do texto literário</p><p>3.1 As correntes teóricas do século XIX</p><p>3.2 As correntes teóricas do século XX</p><p>3.3 A estética da recepção: o texto, o autor e o leitor</p><p>3.3 O crítico e seu papel</p><p>Unidade 4: Intertextualidade: conceitos básicos</p><p>4.1 A intertextualidade em outras artes: leituras e interpretações</p><p>Unidade 5: A narrativa: a fixação das formas e suas mutações</p><p>5.1 A narrativa em poesia: estudo do poema épico</p><p>5.2 A narrativa em prosa: o romance, o conto, a novela e a crônica</p><p>449</p><p>1UNIDADE 1</p><p>DISCURSO LITERÁRIO E DISCURSO NÃO LITERÁRIO</p><p>DICAS</p><p>Esta primeira unidade de nossa disciplina tem como objetivo</p><p>problematizar o discurso literário e o discurso não literário. Para que você</p><p>possa compreender o que é um discurso literário é fundamental</p><p>apresentarmos o conceito de literatura. A partir dele estabeleceremos as</p><p>diferenças entre o discurso literário e o discurso não literário. Para facilitar a</p><p>compreensão dos conceitos teóricos, que utilizaremos no decorrer de</p><p>nossa discussão, usaremos exemplos de textos literários de textos e não</p><p>literários.</p><p>1.1 REFLEXÕES INICIAIS</p><p>Você, certamente, já ouviu médicos, advogados, engenheiros e</p><p>outros profissionais dizendo “isso não existe na literatura” ou “isso está</p><p>previsto na nossa literatura” ou mesmo “de acordo com nossa literatura”.</p><p>Certamente, você também já deve ter ouvido pessoas falando em</p><p>“literatura de Machado de Assis” ou “literatura brasileira”, “literatura</p><p>inglesa”, etc. Essas pessoas estão falando da mesma coisa? Não. Por que</p><p>usam a mesma palavra, então? O que é literatura para um médico? O que</p><p>é literatura para um escritor? E o que é um escritor?</p><p>Muitas perguntas. E é perguntando mesmo que a gente se</p><p>entende. Vamos responder a todas pausadamente:</p><p>Primeira: O uso da palavra “literatura” por profissionais de várias</p><p>áreas é um dos sinais da complexidade relativa à definição do que vem a</p><p>ser literatura. Inúmeros autores discutiram e continuam a discutir o que é</p><p>literatura. Em sentido amplo, literatura é tudo que se escreve sobre</p><p>qualquer assunto e de qualquer forma. Em sentido restrito, literatura é uma</p><p>expressão artística.</p><p>Segunda: Para um médico, literatura é tudo aquilo que se escreve</p><p>sobre sua área, sobre as doenças e os tratamentos adequados, aquilo que</p><p>está no seu manual de prática médica. Da mesma forma, para um</p><p>advogado, um engenheiro e outros profissionais, literatura é tudo que se</p><p>escreve sobre suas respectivas áreas. O que está previsto na literatura de</p><p>cada área tem valor e é respeitado por seus profissionais.</p><p>Terceira: Para um escritor, literatura é um tipo de produção textual</p><p>que se distingue por não ter uma finalidade prática, uma utilidade</p><p>específica na vida das pessoas. A literatura, nesse caso, é um objeto</p><p>estético, ou seja, algo marcado pela vontade de revelar a beleza de coisas,</p><p>situações, imagens, seres, etc. O texto literário é o texto regido pelo</p><p>princípio da beleza, que não tem como proposta resolver quaisquer</p><p>problemas pessoais ou coletivos.</p><p>Quarta: A palavra escritor se aplica, geralmente, àquele que se</p><p>Leia o texto “A literatura”,</p><p>primeiro capítulo do livro O</p><p>demônio da teoria:</p><p>literatura e senso comum,</p><p>de Antoine Compagnon. Vá</p><p>ao Ambiente de</p><p>Aprendizagem e discuta</p><p>com seu Professor e</p><p>colegas.</p><p>450</p><p>Introdução à Teoria da Literatura UAB/Unimontes</p><p>dedica a escrever textos considerados de arte literária: poesia, crônica,</p><p>conto, novela, romance, drama e comédia. Também é comum hoje em dia</p><p>chamar de escritores aqueles que escrevem textos de crítica literária,</p><p>ensaios sobre temas diversos e roteiros cinematográficos, etc. Alguns</p><p>preferem se referir ao escritor de poesia apenas como “poeta”, bem como</p><p>preferem se referir aos escritores de romance, contos e novelas como</p><p>“prosadores” ou “ficcionistas”.</p><p>a) Chegando mais perto</p><p>Ao passar em revista a problemática da definição de literatura,</p><p>Antoine COMPAGNON (1999) destaca o ponto de vista irônico de um dos</p><p>mais importantes teóricos do século XX, o francês Roland Barthes: “A</p><p>literatura é aquilo que se ensina”. De fato, nas aulas de literatura de um</p><p>curso de Letras não ensinamos nada sobre o vírus da dengue, sobre código</p><p>penal, nem sobre projeto estrutural. Ensinamos sobre poéticas e autores.</p><p>Começamos, no caso da literatura brasileira, pelas primeiras</p><p>manifestações literárias, avançamos pelo Barroco e chegamos</p><p>até a</p><p>contemporaneidade. Abordamos, para esclarecer esses estilos, autores</p><p>como José de Anchieta, Gregório de Matos, Cláudio Manoel da Costa,</p><p>Machado de Assis, Cruz e Sousa, Carlos Drummond de Andrade,</p><p>Guimarães Rosa, Clarice Lispector e Augusto de Campos.</p><p>Com base nos textos desses autores, procuramos mostrar, cada</p><p>professor do seu jeito, que literatura, para a área de Letras, é um discurso</p><p>diferente. E, para compreendê-la, é preciso compreender o quê, no final</p><p>das contas, faz essa diferença.</p><p>Não podemos avançar sem antes compreender o quê é discurso e</p><p>por que chamamos literatura de discurso. Claro: poderíamos dizer que a</p><p>literatura é um texto diferente, é uma escrita diferente, é uma linguagem</p><p>diferente etc. Por que dizemos que a literatura é um discurso diferente?</p><p>Bem, discurso é um conceito mais utilizado atualmente em</p><p>função, sobretudo, do prestígio adquirido nas três últimas décadas do</p><p>século XX, no Brasil, pela obra do filósofo e crítico literário russo Mikhail</p><p>Bakhtin (1895/1975).</p><p>Tal como aparece na obra desse autor, o conceito de discurso é</p><p>mais abrangente que os demais utilizados para compreender a literatura.</p><p>Mais abrangente, por exemplo, que o conceito de estilo, através do qual a</p><p>Estilística, uma das principais correntes críticas da modernidade, restringia</p><p>o sentido da literatura à linguagem verbal. Num dos vários ensaios em que</p><p>teoriza sobre a literatura como discurso, afirma Bakhtin:</p><p>A forma e o conteúdo estão unidos no discurso, entendido</p><p>como fenômeno social – social em todas as esferas da sua</p><p>existência e em todos os seus momentos – desde a imagem</p><p>sonora até os estratos semânticos mais abstratos.</p><p>(BAKHTIN, 1993, p. 71).</p><p>Pontos de vista como esse estimularam e continuam estimulando</p><p>uma compreensão inovadora da literatura, através da qual se supera a</p><p>C</p><p>A</p><p>B</p><p>F</p><p>EG</p><p>GLOSSÁRIO</p><p>Literatura: derivado do</p><p>radical littera – letra caráter</p><p>alfabético – significa saber</p><p>relativo à arte de escrever e</p><p>ler, gramática, instrução,</p><p>erudição.</p><p>C</p><p>A</p><p>B</p><p>F</p><p>EG</p><p>GLOSSÁRIO</p><p>Enunciado: o que um texto</p><p>efetivamente diz, aquilo</p><p>que corresponde apenas ao</p><p>seu campo dizível, sua</p><p>superfície; Enunciação: o</p><p>processo de dizer em que</p><p>está envolvido todo texto,</p><p>aquilo que constitui suas</p><p>motivações contextuais e</p><p>que não se expõe à</p><p>superfície do texto.</p><p>451</p><p>visão dicotomizante que opunha forma e conteúdo e reduzia a</p><p>problemática do sentido apenas ao enunciado. Como discurso, a literatura</p><p>é um amálgama de enunciado e enunciação.</p><p>b) No cerne da questão</p><p>Faça uma leitura atenta do conto “Um apólogo”, de Machado</p><p>de Assis, que apresentamos a seguir.</p><p>Pesquisar, em dicionários</p><p>de Filosofia, o que é</p><p>“Logos” e suas diversas</p><p>acepções ao longo da</p><p>história ocidental.</p><p>DICAS UM APÓLOGO</p><p>Era uma vez uma agulha, que disse a um novelo de linha:</p><p>─ Por que está com esse ar, toda cheia de si, toda enrolada, para</p><p>fingir que vale alguma cousa neste mundo?</p><p>─ Deixa-me, senhora.</p><p>─ Que a deixe? Que a deixe, por quê? Porque lhe digo que está</p><p>com um ar insuportável? Repito que sim, e falarei sempre que me</p><p>der na cabeça.</p><p>─ Que cabeça, senhora? A senhora não é alfinete, é agulha.</p><p>Agulha não tem cabeça. Que lhe importa o meu ar? Cada qual</p><p>tem o ar que Deus lhe deu. Importe-se com a sua vida e deixe a</p><p>dos outros.</p><p>─ Mas você é orgulhosa.</p><p>─ Decerto que sou.</p><p>─ Mas por quê?</p><p>─ É boa! Porque coso. Então os vestidos e enfeites de nossa ama,</p><p>quem é que os cose, senão eu?</p><p>─ Você? Esta agora é melhor. Você é que os cose? Você ignora que</p><p>quem os cose sou eu, e muito eu?</p><p>─ Você fura o pano, nada mais; eu é que coso, prendo um pedaço</p><p>ao outro, dou afeição aos babados...</p><p>─ Sim, mas que vale isso? Eu é que furo o pano, vou adiante</p><p>puxando por você, que vem atrás, obedecendo ao que eu faço e</p><p>mando...</p><p>Letras/Português Caderno Didático - 1º Período</p><p>452</p><p>Introdução à Teoria da Literatura UAB/Unimontes</p><p>─ Também os batedores vão adiante do imperador.</p><p>─ Você imperador?</p><p>─ Não digo isso. Mas a verdade é que você faz um papel</p><p>subalterno, indo adiante; vai só mostrando o caminho, vai fazendo</p><p>o trabalho obscuro e ínfimo. Eu é que prendo, ligo, ajunto...</p><p>Estavam nisto, quando a costureira chegou à casa da baronesa.</p><p>Não sei se disse que isto se passava em casa de uma baronesa,</p><p>que tinha a modista ao pé de si, para não andar atrás dela.</p><p>Chegou a costureira, pegou o pano, pegou da agulha, pegou da</p><p>linha, enfiou a linha na agulha, e entrou a coser. Uma e outra iam</p><p>andando orgulhosas, pelo pano adiante, que era a melhor das</p><p>sedas, entre os dedos da costureira, ágeis como os galgos de</p><p>Diana ─ para dar a isto uma cor poética. E dizia a agulha:</p><p>─ Então, senhora linha, ainda teima no que dizia há pouco? Não</p><p>repara que esta distinta costureira só se importa comigo; eu é que</p><p>vou aqui entre os dedos dela, unidinha a eles, furando abaixo e</p><p>acima...</p><p>A linha não respondia nada; ia andando. Buraco aberto pela</p><p>agulha era logo enchido por ela, silenciosa e ativa, como quem</p><p>sabe o que faz, e não está para ouvir palavras loucas. A agulha,</p><p>vendo que ela não lhe dava resposta, calou-se também, e foi</p><p>andando. E era tudo silêncio na saleta de costura; não se ouvia</p><p>mais que o plic-plic-plic-plic da agulha no pano. Caindo o sol, a</p><p>costureira dobrou a costura, para o dia seguinte; continuou ainda</p><p>nesse e no outro, até que no quarto acabou a obra, e ficou</p><p>esperando o baile.</p><p>Veio a noite do baile, e a baronesa vestiu-se. A costureira, que a</p><p>ajudou a vestir-se, levava a agulha espetada no corpinho, para dar</p><p>algum ponto necessário. E enquanto compunha o vestido da bela</p><p>dama, e puxava a um lado ou outro, arregaçava daqui ou dali,</p><p>alisando abotoando, acolchetando, a linha, para mofar da</p><p>agulha, perguntou-lhe:</p><p>─ Ora agora, diga-me quem é que vai ao baile, no corpo da</p><p>baronesa, fazendo parte do vestido e da elegância? Quem é que</p><p>vai dançar com ministros e diplomatas, enquanto você volta para a</p><p>caixinha da costureira, antes de ir para o balaio das mucamas?</p><p>Vamos, diga lá.</p><p>Parece que a agulha não disse nada; mas um alfinete, de cabeça</p><p>grande e não menor experiência, murmurou à pobre agulha: ─</p><p>Anda, aprende, tola. Cansas-te em abrir caminho para ela e ela é</p><p>que vai gozar da vida, enquanto aí ficas na caixinha de costura.</p><p>453</p><p>Letras/Português Caderno Didático - 1º Período</p><p>O conto “Um apólogo”, de Machado de Assis, é um exemplo de</p><p>discurso literário. O que você viu ali não é uma situação comum,</p><p>corriqueira, que vemos por toda parte. Uma agulha conversando com um</p><p>novelo! Você, certamente, nunca testemunhou uma cena dessas. Ou já?</p><p>Nós poderíamos, diante desse conto, simplesmente concluir que</p><p>discurso literário é aquele que se caracteriza por uma situação absurda.</p><p>Mas não é só isso. Aliás, é bom dizer logo que, em se tratando de literatura,</p><p>é preciso sempre ir devagar.</p><p>Sim, o absurdo é um elemento importante do discurso literário.</p><p>Mas trata-se de um elemento conteudístico, que está ligado ao conteúdo, e</p><p>o discurso literário, como acabamos de saber, não é uma questão apenas</p><p>de conteúdo, mas também de forma. É um discurso diferente – também –</p><p>por isso.</p><p>Do ponto de vista formal, o conto de Machado se configura como</p><p>um apólogo, um tipo de narrativa em que os personagens são seres</p><p>irracionais ou coisas inanimadas. O apólogo traz sempre uma lição de</p><p>moral. O que o “professor de melancolia” disse?</p><p>O narrador cria uma situação para que, no final das contas, um ser</p><p>“normal”, racional, possa dizer que tem “servido de agulha a muita linha</p><p>ordinária!” O narrador se vale, portanto, de uma estratégia para viabilizar</p><p>uma “lição de moral”.</p><p>O primeiro aspecto a considerar, então, é que o discurso literário</p><p>contém uma estratégia, que denuncia o fato de se tratar de uma</p><p>construção. Estratégia narrativa, no caso d´“Um apólogo”. Em nome</p><p>dessa estratégia, funcionam os demais aspectos do texto: ponto de vista,</p><p>personagens, enredo, etc.</p><p>Estudaremos mais adiante</p><p>cada um desses aspectos. Atenhamo-</p><p>nos, por enquanto, apenas àquilo que mais chama a nossa atenção: a</p><p>questão lógica. Aparentemente, o texto não tem lógica: uma relação entre</p><p>seres inanimados. A lógica aparece mesmo no desfecho do conto.</p><p>Toda a narrativa é um “trampolim” para o “professor de</p><p>melancolia” emitir sua lição de moral. Graças à narrativa, essa lição nos</p><p>chega, ao final do texto, recheada de lógica, de razão. Concordamos com</p><p>ela. A razão é, de fato, um discurso, a manifestação do “logos”, palavra</p><p>que, entre os gregos, significava justamente um discurso racional.</p><p>Faze como eu, que não abro caminho para ninguém. Onde me</p><p>espetam fico.</p><p>Contei esta história a um professor de melancolia, que me disse,</p><p>abanando a cabeça: ─ Também eu tenho servido de agulha a</p><p>muita linha ordinária! (ASSIS, 1995, p. 134-136).</p><p>454</p><p>Introdução à Teoria da Literatura UAB/Unimontes</p><p>c) De volta ao começo</p><p>Voltemos ao começo. Desta nossa unidade e da configuração do</p><p>discurso literário na literatura brasileira. Você não discorda, nem nós, que é</p><p>fácil reconhecer o discurso literário em Machado de Assis e outros famosos</p><p>autores da literatura brasileira.</p><p>Voltemos ao começo. Desta nossa unidade e da configuração do</p><p>discurso literário na literatura brasileira. Você não discorda, nem nós,</p><p>que é fácil reconhecer o discurso literário em Machado de Assis e outros</p><p>famosos autores da literatura brasileira.</p><p>Mas, pensemos bem: se chegarmos a uma aula de Teoria da</p><p>Literatura e apenas exibirmos “Um apólogo” como amostra de discurso</p><p>literário, os alunos ficarão apenas com um “resumo da ópera”, isto é, com</p><p>uma visão bastante sintética. O que queremos, contudo, é chegar a uma</p><p>visão mais completa.</p><p>1.2 O AMOR COMO TEMA</p><p>Nesta subunidade, estudaremos um soneto de Luís Vaz de</p><p>Camões. A partir desse poema discutiremos o tema do amor e os</p><p>elementos que definem o discurso literário.</p><p>Este é um dos mais famosos sonetos do poeta português Luís Vaz</p><p>de Camões. Tem por tema o amor. Detalhe temático importante, uma</p><p>Transforma-se o amador na coisa amada,</p><p>por virtude do muito imaginar;</p><p>não tenho logo mais que desejar,</p><p>pois em mim tenho a parte desejada.</p><p>Se nela está minha alma transformada,</p><p>que mais deseja o corpo de alcançar?</p><p>Em si somente pode descansar,</p><p>pois consigo tal alma está liada.</p><p>Mas esta linda e pura semidéia</p><p>que como um acidente em seu sujeito,</p><p>assim com a alma minha se conforma,</p><p>está no pensamento como idéia;</p><p>e o vivo e puro amor de que sou feito,</p><p>como a matéria simples, busca a forma.</p><p>(CAMÕES, 2001, p. 34).</p><p>455</p><p>Letras/Português Caderno Didático - 1º Período</p><p>“pista” para compreendermos o que é literatura. Não é todo dia que</p><p>alguém decide falar de amor, principalmente em público.</p><p>A maioria das pessoas prefere falar de amor dentro de casa,</p><p>dentro do carro, num quarto de motel, num banquinho de praça à meia</p><p>luz, enfim, a sós.</p><p>Amor sempre foi e continua sendo um tema íntimo, um tabu, num</p><p>certo sentido, reservado aos amantes, não é mesmo? É fácil discordar.</p><p>Ora, todo mundo fala de amor hoje em dia, pessoas se beijam</p><p>pelas ruas, as novelas televisivas, filmes picantes, etc., etc. Tudo isso</p><p>significa que amor, de todo tipo, é permitido atualmente, que está tudo</p><p>liberado.</p><p>Amor era um tabu, então, apenas na época de Camões. Assim, o</p><p>soneto tem valor apenas para aquela época, o século XVI? Não. Quando</p><p>chega a este ponto, a opinião sobre o conteúdo do soneto se torna</p><p>problemática. Vejamos por quê. Apresentaremos nos próximos pontos,</p><p>algumas reflexões esclarecedoras sobre o discurso literário e, logo em</p><p>seguida, estabeleceremos diferenças entre o discurso literário e o filosófico.</p><p>a) A intenção do discurso</p><p>Em primeiro lugar, o soneto não é apenas o que ele diz, mas</p><p>também como ele diz e, ainda, o que ele não diz. O soneto é um discurso. E</p><p>um discurso é sempre uma “resposta” a outros discursos, com os quais</p><p>dialoga numa determinada época. Os discursos “conversam” entre si.</p><p>O que um discurso afirma é, exatamente, aquilo que outros</p><p>discursos negam. Não é assim numa conversa? Alguém – um emissor – diz</p><p>algo, que pode ser uma afirmação, uma interrogação ou uma</p><p>exclamação. Outro alguém – um receptor – responde algo, que pode ser</p><p>uma confirmação ou uma negação do que foi dito.</p><p>Ninguém diz nada por acaso. Ninguém fala “c´as paredes”. Pelo</p><p>menos no bom uso das faculdades mentais. Tudo que se diz – a mensagem</p><p>– é marcado por uma intenção. Ou seja: quando dizemos algo, queremos</p><p>atingir um determinado objetivo.</p><p>A literatura é marcada por uma intenção diferente da encontrada</p><p>nos demais discursos. O objetivo que ela quer atingir, portanto, é outro.</p><p>Mas que intenção é essa?</p><p>b) Sensação de prazer</p><p>A literatura tem a intenção proporcionar prazer ao leitor. Esta não</p><p>é sua única intenção, mas é a intenção primordial; digamos assim, a que</p><p>vem em primeiro lugar.</p><p>O poema de Camões, por exemplo, quando foi escrito, pode não</p><p>ter provocado nos leitores de sua época o mesmo efeito que nos causa</p><p>hoje. No entanto, o leitor atual também pode sentir prazer ao ler esse</p><p>soneto escrito há cinco séculos.</p><p>456</p><p>Introdução à Teoria da Literatura UAB/Unimontes</p><p>A sensação de prazer e o sentimento de bem-estar são situações</p><p>subjetivas, que não podemos visualizar claramente, pois se ligam ao</p><p>mundo interior do sujeito.</p><p>Por isso mesmo, o que dá prazer a alguns, pode não dar prazer a</p><p>outros, o que faz algumas pessoas se sentirem bem, pode não fazer a</p><p>outras.</p><p>Alguns leitores sentem prazer em ler poesia, outros sentem prazer</p><p>em ler romance e há também aqueles que sentem prazer apenas em ler</p><p>notícias, relatórios científicos, receita de culinária, etc., etc.</p><p>Como o poeta decide, então, aquilo que vai dar prazer ao leitor?</p><p>Na verdade, o poeta, ou o produtor de texto literário em geral, não sabe. E</p><p>isso não chega a se tornar um problema para o poeta porque, para o seu</p><p>trabalho, a intenção é que conta mais.</p><p>Assim, a intenção de dar prazer conta mais do que questões como</p><p>o que é o prazer, o que é o bem-estar, o que provoca as duas situações nas</p><p>pessoas.</p><p>A literatura é um discurso diferente porque está interessada na</p><p>“aesthesis”, naquilo que está no fundo da sensação de prazer. A intenção</p><p>primordial da literatura é estética.</p><p>O soneto de Camões celebra essa intenção estética da literatura.</p><p>Uma celebração à maneira da poesia, que é um discurso diferente dentro</p><p>da literatura. Isso mesmo: a literatura é um discurso diferente; a poesia é</p><p>um discurso diferente dentro desse discurso. Há outros discursos diferentes</p><p>na literatura. Falaremos a respeito deles mais adiante.</p><p>Por enquanto, pensemos apenas na intenção da literatura em</p><p>geral, exemplificada pelo soneto de Camões, “pai” da nossa expressão</p><p>literária em língua portuguesa.</p><p>c) Tema e forma</p><p>O amor constitui o tema do soneto, mas a razão constitui a sua</p><p>forma. Estamos no Classicismo, na época em que a racionalidade era</p><p>considerada fundamental. E racionalidade era sinônimo de equilíbrio. Esse</p><p>equilíbrio se traduz na utilização, pelo poeta, da forma soneto.</p><p>O soneto é uma das formas clássicas de composição poética,</p><p>praticada em todas as épocas pela maioria dos poetas, nas literaturas mais</p><p>divulgadas do Ocidente (francesa, inglesa, italiana, espanhola alemã,</p><p>portuguesa, etc.). Até na atualidade o soneto é praticado.</p><p>Essa composição poética consiste em 14 versos, distribuídos em quatro</p><p>estrofes, sendo duas de quatro versos e duas de três versos. Estrofe é o</p><p>nome que se dá a cada conjunto de versos. Estrofe de quatro versos é</p><p>chamada de quarteto, enquanto estrofe de três versos é chamada de</p><p>terceto.</p><p>Do tempo de Camões até início do século XX, o soneto era</p><p>realizado, normalmente, com extremo rigor formal. Esse rigor se</p><p>457</p><p>Letras/Português Caderno Didático - 1º Período</p><p>caracterizava, sobretudo, pela uniformização dos versos em termos fônicos</p><p>e sintáticos.</p><p>O que é isso? Versos com um mesmo ritmo e com uma mesma</p><p>métrica.</p><p>Isorrítmicos e isométricos, portanto.</p><p>Ficou ainda mais complicado? Vamos por partes. “Iso” quer dizer</p><p>igual: versos com um ritmo e uma métrica iguais, então.</p><p>Ritmo, em poesia, é alternância das sílabas métricas no tempo.</p><p>Neste caso, no tempo da pronúncia, enquanto estamos pronunciando</p><p>cada verso.</p><p>Repitamos o primeiro verso do soneto vagarosamente:</p><p>Trans for ma -seoa ma dor na coi saa ma da</p><p>Sentimos uma delicada diferenciação a se processar à medida</p><p>que nossa pronúncia vai-se efetivando. Algumas sílabas se distanciam,</p><p>alongam-se e se destacam, enquanto outras se comprimem, escondem-</p><p>se:</p><p>Trans for ma -seoa ma dor na coi saa ma da</p><p>Sintaticamente, ou seja, no que diz respeito à ordem das palavras,</p><p>o verso fica assim na nossa mente. Mas, fonicamente, no que diz respeito</p><p>aos sons das palavras, este mesmo verso fica assim:</p><p>Trans for ma -seoa ma DOR na coi saa MA da</p><p>Ou seja: algumas sílabas soando mais alto que as outras. À</p><p>medida que se alongam e se comprimem, essas sílabas expõem a primazia</p><p>do som, do aspecto fônico, em detrimento da grafia, das letras. Sentimos o</p><p>ritmo. E sentimos, no fundo, algo mais que isso: sentimos uma</p><p>determinada organização rítmica, uma ritmação construída por um poeta.</p><p>Sentimos a métrica.</p><p>d) A métrica</p><p>Métrica, em poesia, é a organização das sílabas de acordo com</p><p>uma convenção literária, não gramatical, com vistas a obter um efeito</p><p>estético, algo capaz de dar mais prazer durante a leitura.</p><p>Uma sílaba métrica não é, necessariamente, uma sílaba</p><p>gramatical. A escansão, como se determina o processo de medir os versos,</p><p>baseia-se no ritmo, no aspecto sonoro, portanto. Do ponto de vista</p><p>sintático, o verso de Camões:</p><p>“Transforma-se o amador na coisa amada”</p><p>Tem 14 sílabas, ficando assim dividido:</p><p>Trans | for | ma | se | o | a | ma | dor | na | coi | sa | a | ma | da</p><p>458</p><p>Introdução à Teoria da Literatura UAB/Unimontes</p><p>Do ponto de vista métrico, não só esse verso, mas todos os demais</p><p>do soneto têm 10 sílabas. Para senti-las, basta pronunciar o texto em voz</p><p>alta e ficar com os ouvidos “ligados”.</p><p>Contam-se apenas as tônicas, as que se ressaltam. A última – “da”</p><p>– não conta, por ser átona. As sílabas tônicas são as sílabas fortes, ou</p><p>acentuadas. As sílabas átonas são as fracas. A contagem deve ser feita</p><p>considerando a sílaba tônica da última palavra do verso. Com 10 sílabas</p><p>em cada verso, o soneto é uma composição decassilábica, formada por</p><p>versos decassílabos.</p><p>De acordo com seu número de sílaba, cada verso é denominado:</p><p>?Monossílabo, com 01 sílaba;</p><p>?Díssilabo, com 02 sílabas;</p><p>?Trissílabo, com 03 sílabas;</p><p>?Tetrassílabo, com 04 sílabas;</p><p>?Pentassílabo, com 05 sílabas;</p><p>?Hexassílabo, com 06 sílabas;</p><p>Heptassílabo, com 07 sílabas;</p><p>?Octossílabo, com 08 sílabas;</p><p>?Eneassílabo, com 09 sílabas;</p><p>?Decassílabo, com 10 sílabas;</p><p>?Endecassílabo, com 11 sílabas; e</p><p>?Alexandrino, com 12 sílabas.</p><p>e) O ritmo e a rima</p><p>Para que um poema tenha ritmo, não é necessário que seja</p><p>metrificado. Todo poema tem ritmo, independente de suas sílabas serem</p><p>ou não metrificadas.</p><p>O ritmo pode decorrer da métrica, ou seja, do tipo de verso</p><p>escolhido pelo poeta. Ele pode resultar ainda de uma série</p><p>de efeitos sonoros ou jogo de repetições. O poema reúne o</p><p>conjunto de recursos que o poeta escolhe e organiza dentro</p><p>de seu texto. Cada combinação de recursos resulta em novo</p><p>efeito. Por isso, cada poema cria um novo ritmo.</p><p>(GOLDSTEIN, 2002, p. 12).</p><p>Independente também de ter rima, outro componente formal</p><p>importante no tempo de Camões, e que continua a ser importante nos dias</p><p>de hoje, todo verso tem ritmo.</p><p>??</p><p>Transforma-se o amador na coisa amada,</p><p>Por virtude do muito imaginar;</p><p>Não tenho logo mais que desejar,</p><p>Pois em mim tenho a parte desejada.</p><p>459</p><p>Letras/Português Caderno Didático - 1º Período</p><p>O que é a rima? Vejamos como se desenvolve a primeira estrofe do</p><p>soneto:</p><p>O primeiro e o último versos terminam em “-ada”, enquanto o</p><p>terceiro e o quarto terminam em “-ar”. Temos aqui, portanto, uma</p><p>repetição de sons semelhantes. É a rima.</p><p>Há muitos tipos de rima: interna, externa, consoante, toante,</p><p>cruzada, emparelhada, interpolada, misturada, aguda, grave, esdrúxula,</p><p>rica e pobre. No caso dessa estrofe do soneto de Camões, as rimas são:</p><p>1. Externas (sons semelhantes no final dos versos);</p><p>2. Consoantes (vogais e consoantes semelhantes);</p><p>3. Emparelhadas e interpoladas (esquema ABBA: a rimas A são</p><p>interpoladas, as B são emparelhadas);</p><p>4. Agudas e graves (Agudas: formadas por palavras agudas ou</p><p>oxítonas – imaginar/desejar; Graves: formadas por palavras graves ou</p><p>paroxítonas – amada/desejada);</p><p>5. Pobres (pelo critério gramatical: formadas por palavras de uma</p><p>mesma classe gramatical: amada/desejada (adjetivo), imaginar/desejar</p><p>(verbo); pelo critério fônico: formadas por sons que se igualam a partir da</p><p>vogal tônica: amada/desejada - “a” (tônica), imaginar/desejar – “a”</p><p>(tônica)).</p><p>f) Pensando o Ritmo</p><p>Percebemos a rima. Percebemos a métrica. E percebemos, agora,</p><p>que ambos contribuem para a configuração do ritmo do soneto, bem como</p><p>das demais composições poéticas.</p><p>Desde o início do século XX, com o estabelecimento do</p><p>Modernismo em literatura, o ritmo passou a ser considerado um dos</p><p>principais elementos da expressão poética, uma das maiores referências</p><p>de poeticidade.</p><p>Tornou-se, então, objeto de muita polêmica fomentada por poetas</p><p>e teóricos da literatura. A razão dessa polêmica está em duas questões:</p><p>?a visão genérica, “metafórica”, de ritmo, que entende o</p><p>ritmo como tudo que alterna;</p><p>? e a associação de ritmo a métrica.</p><p>Com o intuito de apresentar uma abordagem científica do</p><p>problema, Ossip Brik (1971, p. 131-139), um dos principais nomes da</p><p>corrente crítica conhecida como Formalismo Russo, escreveu, no período</p><p>que vai de 1920 a 1927, um ensaio intitulado “Ritmo e sintaxe”.</p><p>Vamos ler a seguir alguns trechos desse texto de O. Brik para</p><p>voltarmos com outros olhos ao soneto de Camões?</p><p>460</p><p>Introdução à Teoria da Literatura UAB/Unimontes</p><p>Trecho 1:</p><p>“Geralmente, chama-se ritmo a toda a alternância regular; e não nos</p><p>interessa a natureza do que o alterna. O ritmo musical é a alternância dos sons</p><p>no tempo. O ritmo poético é a alternância das sílabas no tempo. O ritmo</p><p>coreográfico, a alternância dos movimentos no tempo”.</p><p>Trecho 2:</p><p>“Apoderamo-nos até mesmo de domínios vizinhos: falamos da</p><p>alternância rítmica dos botões sobre o colete, da alternância rítmica do dia e da</p><p>noite, do inverno e do verão”.</p><p>Trecho 3:</p><p>“Esse emprego imagético, artístico, não seria perigoso se se isolasse nos</p><p>domínios da arte. Mas, seguidamente, tentamos construir sobre essa imagem</p><p>poética a teoria científica do ritmo. Tentamos, por exemplo, provar que o ritmo</p><p>das obras artísticas (verso, música, dança) nada mais é do que uma</p><p>conseqüência do ritmo natural: o ritmo das palpitações do coração, o ritmo do</p><p>movimento das pernas durante a caminhada. Fazemos aqui a transferência de</p><p>uma metáfora para a terminologia cientifica”.</p><p>Trecho 4:</p><p>“O ritmo como termo científico significa uma apresentação particular</p><p>dos processos motores. É uma apresentação convencional que nada tem a ver</p><p>com a alternância natural nos movimentos astronômicos, biológicos,</p><p>mecânicos, etc. O ritmo é um movimento apresentado de uma maneira</p><p>particular”.</p><p>Trecho 5:</p><p>“Devemos distinguir rigorosamente o movimento e o resultado do</p><p>movimento. Se uma pessoa salta sobre um terreno lamacento de um pântano e</p><p>nele deixa suas pegadas, a sucessão dessa busca em vão ser regular, não é um</p><p>ritmo. Os saltos têm freqüentemente um ritmo, mas os traços que eles deixam no</p><p>solo não são mais que dados que servem para julgá-los. Falando</p><p>cientificamente, não podemos dizer que a disposição das pegadas constitui um</p><p>ritmo.</p><p>O poema imprimido num livro também não oferece senão traços do</p><p>movimento. Somente o discurso poético e não o seu resultado gráfico pode ser</p><p>apresentado como um ritmo”.</p><p>Trecho 6:</p><p>“Essa diferenciação de noção tem importância não somente</p><p>acadêmica, mas também, e sobretudo, prática. Até agora, todas as tentativas</p><p>para encontrar as leis do ritmo não tratavam do movimento apresentado sob uma</p><p>forma rítmica, mas das combinações de traços deixados por esse movimento”.</p><p>461</p><p>Letras/Português Caderno Didático - 1º Período</p><p>Trecho 7:</p><p>“Os estudiosos do ritmo poético perdiam-se no verso, dividindo-o</p><p>em sílabas, medindo-o e tratando de encontrar as leis do ritmo nessa</p><p>análise. De fato, todas essas medidas e sílabas existem não por si mesmas,</p><p>mas como resultado de um certo movimento ritmico. Não podem dar</p><p>senão indicações sobre esse movimento rítmico do qual resultam.</p><p>O movimento rítmico é anterior ao verso. Não podemos</p><p>compreender o ritmo a partir da linha do verso; ao contrário, compreender-</p><p>se-á o verso a partir do movimento rítmico”.</p><p>Vemos, através desses sete trechos, que o ritmo não é uma</p><p>questão simples. Mas não é essa constatação que nos surpreende. Já</p><p>suspeitávamos. Há algo mais surpreendente.</p><p>O que nos surpreende é, em primeiro lugar, o significado que o</p><p>autor atribui ao ritmo, conforme aparece no trecho 4. O significado</p><p>científico de ritmo. O ritmo não é qualquer movimento, mas sim um</p><p>movimento apresentado de maneira particular.</p><p>Então, cientificamente falando, o ritmo, na poesia, não é qualquer</p><p>movimento. Não é o movimento que encontramos na superfície do texto.</p><p>Em segundo lugar, o que nos surpreende é a definição de ritmo como</p><p>sendo algo anterior aos versos, às palavras que formam o poema. O ritmo é</p><p>o discurso poético. Os versos são resultados do movimento rítmico.</p><p>Podemos dizer, assim, que o ritmo ocupa uma função causal na poesia, é</p><p>responsável por determinados efeitos.</p><p>Então, são essas questões que fazem com que o soneto de</p><p>Camões seja um discurso diferente, um discurso literário? Não só essas.</p><p>Essas são questões básicas, que se colocam no centro da problemática da</p><p>forma. Há as questões que caracterizam a problemática do conteúdo.</p><p>Juntas, essas questões constituem a problemática da poesia ao longo dos</p><p>tempos, levada às últimas conseqüências na modernidade.</p><p>Detenhamo-nos um pouco agora na problemática do conteúdo</p><p>no soneto de Camões. O que se coloca em questão é a relação entre sujeito</p><p>e objeto, segundo um parâmetro neoplatônico. De acordo com esse</p><p>parâmetro, baseado na filosofia do grego Platão, havia dois mundos: um</p><p>das idéias – ideal – e outro das coisas – real. O mundo das idéias teria</p><p>primazia sobre o das coisas, que seria um mundo desfigurado.</p><p>Distante quase vinte séculos de Platão, que viveu no século V antes</p><p>de Cristo, Camões segue a moda do seu tempo, que era a de praticar uma</p><p>poesia idealista. Assim, no plano ideal é possível o sujeito se transformar no</p><p>seu objeto de desejo por um esforço mental, pelo “muito imaginar”.</p><p>O sujeito (o amador) é alma, uma dimensão ideal, com o que se</p><p>explica sua possibilidade de transformação. Não um limite físico, real. O</p><p>objeto do desejo (a coisa amada) também é alma, uma dimensão</p><p>igualmente ideal, o que acentua a pertinência da transformação.</p><p>Uma alma se satisfaz com outra alma, de tal forma que o corpo,</p><p>que é regido pela alma, não tem mais o que desejar, deve dar-se também</p><p>462</p><p>Introdução à Teoria da Literatura UAB/Unimontes</p><p>por satisfeito.</p><p>Compreensível, em termos de sistema de pensamento platônico.</p><p>Todavia, Camões é poeta, e essa sua condição acaba por desestabilizar</p><p>esse mesmo sistema, como vemos nos tercetos.</p><p>O que se diz, nos quartetos, não é algo completo, muito menos</p><p>perfeito, é uma “semidéia”, ainda insuficiente enquanto “idéia”.</p><p>Como tal, essa “semidéia” constitui, efetivamente, um “acidente”</p><p>no sujeito que a cultiva, ou seja, naquele que está pensando. A “semidéia”</p><p>é aquilo que ainda não está suficientemente organizado como idéia, que</p><p>carece de fundamentação.</p><p>Os adjetivos “linda” e “pura”, com que essa “semidéia” é</p><p>caracterizada, evidenciam a contradição que marca o discurso poético.</p><p>Sendo “linda” e “pura”, a “semidéia”, que consiste na conversão anímica</p><p>(de alma) de sujeito em objeto, é e não é, ao mesmo tempo, uma idéia, no</p><p>sentido forte, platônico.</p><p>É idéia no pensamento, ou seja, no mundo ideal, e não é idéia no</p><p>mundo das coisas, na vida comum. Vivente, o poeta habita o mundo das</p><p>coisas, onde o amor, o sentimento, o distingue. Também. Razão (idéia) e</p><p>Emoção (amor) constituem o poeta como duas faces de uma mesma</p><p>“moeda”, o que explica a contradição do seu discurso.</p><p>De um lado, alma; de outro, matéria. De um lado, Platão; de</p><p>outro, Camões. De um lado, filosofia; de outro, poesia. Fundamentos</p><p>diferentes, épocas diferentes, autores diferentes e discursos diferentes.</p><p>O soneto nos mostra de maneira clara, no plano do conteúdo,</p><p>como se processa a diferença da literatura em relação a um discurso mais</p><p>próximo, que é a filosofia.</p><p>Trata-se de uma delicada diferença, em termos de conteúdo.</p><p>Difícil, por isso mesmo, de se perceber. Percebe-se mais facilmente essa</p><p>diferença em termos de forma: na filosofia, a prosa; na poesia, o verso.</p><p>Vejamos como Agatão, o poeta que aparece no diálogo “O</p><p>Banquete”, de Platão, fala do amor:</p><p>Digo eu então que de todos os deuses, que são felizes, é o</p><p>Amor, se é lícito dizê-lo sem incorrer em vingança, o mais</p><p>feliz, porque é o mais belo deles e o melhor. Ora, ele é o</p><p>mais belo por ser tal como se segue. Primeiramente, é o</p><p>mais jovem dos deuses, ó Fedro. E uma grande prova do</p><p>que digo ele próprio fornece, quando em fuga foge da</p><p>velhice, que é rápida evidentemente, e que em todo caso,</p><p>mais rápida do que devia, para nós se encaminha. De sua</p><p>natureza Amor a odeia e nem de longe se lhe aproxima.</p><p>Com os jovens ele está sempre em seu convívio e ao seu</p><p>lado; está certo, com efeito, o antigo ditado, que o</p><p>semelhante sempre do semelhante se aproxima. (PLATÃO,</p><p>1991, p. 27).</p><p>É óbvia a diferença entre esse discurso e o de Camões no que diz</p><p>respeito à forma, naturalmente. Aqui, prosa; lá, verso. Todavia, em relação</p><p>ao conteúdo, não é tão óbvia essa diferença, ainda que pareça. Trata-se de</p><p>463</p><p>Letras/Português Caderno Didático - 1º Período</p><p>dois discursos que exploram, essencialmente, um mesmo tema: o amor.</p><p>Não podemos esquecer que o discurso não é apenas o que se diz, mas</p><p>como se diz e também o que não se diz.</p><p>Há uma proximidade entre Agatão e Camões no que diz respeito</p><p>ao tema, ao que se diz: o amor. Também vemos uma proximidade no que</p><p>diz respeito ao que não dizem: não negam o amor, por exemplo. Como os</p><p>dois dizem, por outro lado, é o traço mais diferente. Agatão procura</p><p>explicar o que é o amor. Camões enuncia um efeito do amor.</p><p>A questão do filósofo é a causa. A questão do poeta é o efeito.</p><p>Para elucidar a causa, o filósofo argumenta. Para demarcar o efeito, o</p><p>poeta expressa. A poesia consiste na expressão. A filosofia consiste na</p><p>argumentação.</p><p>Mas, à medida que argumenta, o filósofo também expressa, não?</p><p>Expressa, claro, no sentido de que comunica. Todavia, a expressão, no</p><p>caso da poesia, significa um fim. A expressão é uma finalidade da poesia.</p><p>Por isso é que, ao analisar um poema, procuramos entender seus</p><p>elementos expressivos.</p><p>A musicalidade, que é efeito do ritmo, é um desses elementos.</p><p>Outro é a plasticidade, que se alcança através de imagens. Ao ler um</p><p>poema, ouvimos e vemos coisas inusitadas, que nem pensávamos que</p><p>existissem. Ouvimos e vemos. A poesia desperta nossos sentidos: o</p><p>auditivo, o visivo. E nisso reside também uma das grandes diferenças do</p><p>discurso poético em relação ao discurso filosófico.</p><p>1.3 O TEXTO LITERÁRIO E A PRÁTICA DO PROFESSOR</p><p>Nesta subunidade, apresentaremos uma breve reflexão sobre o</p><p>discurso literário e a prática do professor na sala de aula. Caro aluno, não</p><p>basta apresentarmos a diferença entre o discurso literário e o discurso não</p><p>literário; é preciso que você tenha fundamentos teóricos e metodológicos</p><p>para realizar a leitura e a interpretação</p><p>de um texto literário. Para isso, é</p><p>importante que você saiba as diferenças básicas entre a composição de</p><p>cada texto, podendo discutir isso com os seus colegas. O texto literário é</p><p>diferente de outros tipos de textos, tais como: os informativos, os</p><p>opinativos, os didáticos, etc. O discurso literário poderá ser encontrado na</p><p>poesia e na prosa como foi apresentado nas subunidades: 1.1. Reflexões</p><p>iniciais e 1.2. O Amor como tema.</p><p>Para se ler um texto é preciso observar o contexto de sua</p><p>produção, circulação e recepção. Não se pode ler um poema como se lê</p><p>uma crônica ou a reportagem de um jornal, pois os textos apresentam</p><p>diferenças em sua constituição que podem ser visívéis na forma, na</p><p>linguagem e no conteúdo.</p><p>O conto “Um apólogo”, de Machado de Assis, estudado</p><p>anteriormente na subunidade 1.1. Reflexões Iniciais, foi escrito num</p><p>DICAS</p><p>Assista ao Filme:</p><p>“Narradores de Javé”, de</p><p>Eliane Caffé. Vá ao</p><p>Ambiente de Aprendizagem</p><p>e discuta com o seu</p><p>Professor.</p><p>464</p><p>Introdução à Teoria da Literatura UAB/Unimontes</p><p>determinado momento, lido e recebido por uma comunidade de leitores do</p><p>século XIX, e continua sendo lido por nós, leitores do século XXI, que</p><p>continuamos a atribuir-lhe sentido.</p><p>A chave para abrir a porta correta da leitura de qualquer texto, o</p><p>leitor poderá encontrar a partir da interpretação que envolve a recepção do</p><p>texto. O repertório do leitor é importante no processo de significação do</p><p>texto literário. O leitor também deve estar aberto à sedução que todo texto</p><p>literário oferece através de sua forma, estrutura e linguagem.</p><p>Muitas vezes o leitor encontra dificuldades para ler e interpretar o</p><p>discurso literário, exatamente porque ele não consegue estabelecer as</p><p>diferenças básicas entre tipos de discurso e textos lidos. Diante disso, é</p><p>preciso procurar meios de despertar em nossos alunos o gosto pela leitura</p><p>do texto literário. Mas, para neles despertar esse prazer, você, como futuro</p><p>professor de literatura, deverá, antes de tudo, ampliar seu próprio</p><p>repertório de leituras.</p><p>AGUIAR e SILVA, Vitor Manuel. Teoria da literatura. 4. ed. Coimbra:</p><p>Almedina, 1982.</p><p>ASSIS, Machado de. Várias histórias. Rio de Janeiro; Belo Horizonte:</p><p>Garnier, 1995.</p><p>BAKHTIN, Mikhail. Questões de literatura e de estética (a teoria do</p><p>romance). 3. ed. São Paulo: Hucitec/Editora da UNESP, 1993.</p><p>BRIK, Ossip. Ritmo e sintaxe. In: Eikhembaum et alli. Teoria da Literatura:</p><p>Formalistas Russos. Porto Alegre: Globo, 1971.</p><p>CAMÕES, Luís Vaz de. Sonetos. São Paulo: Martim Claret, 2001.</p><p>COMPANGON, Antoine. O demônio da teoria: literatura e senso comum.</p><p>Belo Horizonte: Ed. UFMG, 1999.</p><p>GOLDSTEIN, Norma. Versos, sons, ritmos. 13. ed. São Paulo: Ática,</p><p>2002.</p><p>PLATÃO. Banquete. Trad. José Cavalcante de Souza. 5. ed. São Paulo:</p><p>Editora Nova Cultural, 1991.</p><p>DICAS</p><p>Leia o cap. 2: “O Sistema</p><p>Semiótico Literário” do</p><p>Manual de Teoria Literária,</p><p>de Vitor Manuel Aguiar e</p><p>Silva, p. 41-171. A leitura</p><p>desse capítulo será</p><p>fundamental, porque você</p><p>encontrará vários conceitos</p><p>que te levarão a</p><p>compreender melhor as</p><p>diferenças entre o discurso</p><p>literário e o discurso não</p><p>literário.</p><p>REFERÊNCIAS</p><p>465</p><p>2UNIDADE 2</p><p>A ESPECIFICIDADE DO DISCURSO LITERÁRIO</p><p>Esta unidade tem como objetivo discutir a especificidade do</p><p>discurso literário como um fenômeno de origem cultural, que se manifesta</p><p>através de criação do poeta e/ou escritor. Também daremos continuidade a</p><p>algumas reflexões que realizadas anteriormente, na unidade 1: O discurso</p><p>literário e o discurso não literário.</p><p>O literário é uma das manifestações culturais, mas nem sempre</p><p>toda manifestação cultural é literária. Diante disso, faz-se necessário saber</p><p>que o literário é sempre ficção, mas nem sempre um texto ficcional é</p><p>literário.</p><p>Para direcionar a nossa reflexão sobre a especificidade do discurso</p><p>literário, buscaremos nesta unidade o aprofundamento de alguns</p><p>questionamentos já feitos anteriormente: afinal de contas o que é o</p><p>literário? O que caracteriza o texto como literário? Por que alguns textos</p><p>são considerados literários em alguns momentos e em outros não? Por que</p><p>um texto é ficcional, mas não é literário? Que relação existe entre o texto</p><p>literário e o contexto histórico-cultural?</p><p>2.1 FICÇÃO E REALIDADE</p><p>Na presente subunidade, trataremos dos conceitos de ficção e de</p><p>realidade. A literatura se realiza com palavras e o artista, quando cria ou</p><p>inventa, deve respeitar os limites da existência; poderá recorrer a formas e</p><p>entes que de fato existem e recombinar tais formas e entes de modo que</p><p>crie o inexistente. Dizer que uma agulha pode conversar com o novelo é</p><p>algo absurdo, conforme exposto pelo conto “Um apólogo”, de Machado</p><p>de Assis, texto reproduzido integralmente na unidade 1: O Discurso</p><p>Literário e o Discurso não Literário. A agulha e o novelo passam a ter</p><p>existência exclusivamente verbal.</p><p>O poema “Autopsicografia”, de Fernando Pessoa, pode nos</p><p>ajudar a compreender melhor o que é “ficção” e “realidade”.</p><p>Apresentamos o poema abaixo:</p><p>C</p><p>A</p><p>B</p><p>F</p><p>EG</p><p>GLOSSÁRIO</p><p>“Ficção: é derivado do</p><p>latim fingere, que tem os</p><p>sentidos mais diversos de</p><p>compor, imaginar, até a</p><p>fábula mentirosa, o</p><p>fingimento”.</p><p>(HAMBURGER, 1986, p.</p><p>C</p><p>A</p><p>B</p><p>F</p><p>EG</p><p>GLOSSÁRIO</p><p>“Fingere: vem do latim e</p><p>AUTOPSICOGRAFIA</p><p>O poeta é um fingidor.</p><p>Finge tão completamente</p><p>Que chega a fingir que é dor</p><p>A dor que deveras sente.</p><p>466</p><p>Introdução à Teoria da Literatura UAB/Unimontes</p><p>O poema de Fernando Pessoa se chama “Autopsicografia”; define</p><p>o poeta como um “fingidor”. O poeta como fingidor não pode ser visto</p><p>como um mentiroso, mas como um “criador” ou “inventor”.</p><p>O poeta ou escritor é quem “formata” ou “modela” a “palavra”; é</p><p>aquele que dá forma à realidade ficcional ou poética. A partir do conto</p><p>“Um apólogo”, de Machado de Assis, e do soneto “Transforma-se o</p><p>amador na coisa amada”, de Camões, já estudados na unidade1: O</p><p>Discurso Literário e o Discurso não Literário, você pôde observar que, ao</p><p>analisarmos a “forma” e o “conteúdo” desses dois textos, procuramos</p><p>demonstrar que ambos apresentam alguns elementos que os caracterizam</p><p>como discurso literário.</p><p>Cabe aqui ressaltarmos que, mesmo que o texto apresente a</p><p>forma que poderá defini-lo como literário, por exemplo conto e poema</p><p>(gênero e estilo), a forma ficcional não se define pelos gêneros e pelos</p><p>estilos. Definir o ficcional a partir da forma não basta para a literatura.</p><p>O texto literário precisa da forma para existir, e mais ainda do</p><p>“imaginar”. O poeta/escritor é aquele que dá forma às palavras através do</p><p>seu processo de “criação” e “imaginação”; a partir do real, ele cria um</p><p>mundo imaginário e/ou ficcional.</p><p>2.2 O CONCEITO DE LITERATURA</p><p>Nesta subunidade, traremos algumas reflexões do teórico Antoine</p><p>Compagnon sobre o conceito de literatura. Em seu estudo O demônio da</p><p>teoria: literatura e o senso comum, Compagnon levanta várias questões</p><p>sobre a literatura e o literário; em busca de uma definição satisfatória para</p><p>a literatura, chega mesmo a defini-la em seu sentido amplo como:</p><p>literatura é tudo o que é impresso (ou mesmo manuscrito),</p><p>são todos os livros que a biblioteca contém (incluindo-se aí</p><p>o que se chama literatura oral, doravante consignada). Essa</p><p>acepção corresponde à noção clássica de “belas-letras” as</p><p>quais compreendiam tudo o que a retórica e a poética</p><p>podiam produzir, não somente a ficção, mas também a</p><p>história, a filosofia e a ciência, e, ainda, toda a eloqüência.</p><p>(COMPAGNON, 1999, p. 31).</p><p>C</p><p>A</p><p>B</p><p>F</p><p>EG</p><p>GLOSSÁRIO</p><p>“O nome literatura é,</p><p>certamente, novo (data do</p><p>início do século XIX;</p><p>anteriormente, a literatura,</p><p>conforme a etimologia,</p><p>eram as inscrições, a</p><p>escritura, a erudição, ou o</p><p>conhecimento das letras”.</p><p>(COMPAGNON, 1999, p.</p><p>30).</p><p>E os que lêem o que escreve,</p><p>Na dor lida sentem bem,</p><p>Não as duas que ele teve,</p><p>Mas só a que eles não têem.</p><p>E assim nas calhas de roda</p><p>Gira, a entreter a razão,</p><p>Esse comboio de corda</p><p>Que se</p><p>chama o coração.</p><p>(PESSOA, s/d, p. 104).</p><p>467</p><p>Letras/Português Caderno Didático - 1º Período</p><p>E no sentido restrito, Antoine Compagnon nos apresenta o</p><p>seguinte conceito:</p><p>a literatura (fronteira entre o literário e o não literário) varia</p><p>consideravelmente segundo as épocas e as culturas.</p><p>Separada ou extraída das belas-letras, a literatura</p><p>ocidental, na acepção moderna, aparece no século XIX,</p><p>com o declínio do tradicional sistema de gêneros poéticos,</p><p>perpetuados desde Aristóteles. (COMPAGNON, 1999, p.</p><p>32).</p><p>O teórico francês ainda expõe um sentido moderno para o termo,</p><p>e afirma que:</p><p>O sentido moderno de literatura (romance, teatro e poesia)</p><p>é inseparável do romantismo, isto é, da afirmação da</p><p>relatividade histórica e geográfica do bom gosto, em</p><p>oposição à doutrina clássica da eternidade e da</p><p>universalidade do cânone estético. Restrita à prosa</p><p>romanesca e dramática, e à poesia lírica, a literatura é</p><p>concebida, além disso, em suas relações com a nação e</p><p>com a sua história. A literatura, ou melhor, as literaturas</p><p>são, antes de tudo, nacionais. (COMPAGNON, 1999, p.</p><p>32).</p><p>O termo literatura, usado para designar bibliografia ou texto</p><p>escrito, denomina também certo tipo de obras que teriam algo em comum</p><p>com as que são aceitas como literárias, apresentando caráter estritamente</p><p>estético e ficcional.</p><p>Considerar como literatura poemas, dramas e romances porque</p><p>os mesmos foram escritos por grandes escritores ou pelo fato de</p><p>pertencerem uma determinada nação deve ser questionado pelos</p><p>estudiosos da literatura.</p><p>2.3 A LITERATURA E A OBRA LITERÁRIA</p><p>Nesta subunidade, será explorada a relação direta entre as obras</p><p>e a literatura, afinal, quando surge o conceito de literário? Roland Barthes,</p><p>ao estudar a retórica antiga, atribui a Górgias de Leontium (483-374 a.C.)</p><p>a primazia de “ter submetido a prosa ao código retórico, propagando-a</p><p>como discurso erudito, objeto estético, 'linguagem soberana', antepassado</p><p>da 'literatura'” (BARTHES, 1975, p. 152). Para Barthes, é na Idade Média</p><p>que ocorre a “fusão da retórica com a poética”, já que então os poetas são</p><p>grandes retóricos e as artes retóricas são artes poéticas: “Esta fusão é</p><p>capital, pois está na origem da idéia de literatura” (BARTHES, 1975, p.</p><p>155-6).</p><p>As citações acima oferecem pretexto para a indagação: o que nos</p><p>leva a considerar determinado texto como literário? Iúri Tyniánov (1973)</p><p>ilustra essa questão ao nos lembrar que “uma carta para um amigo de</p><p>Derjavine é um fato da vida social; na época de Karamzine e de Pushkin, a</p><p>mesma carta amigável é um fato literário.” (TYNIANOV, 1973, p.109).</p><p>468</p><p>Introdução à Teoria da Literatura UAB/Unimontes</p><p>Para esse formalista russo, a questão surge devido às diferentes funções</p><p>que o texto assume em variadas épocas e de suas correlações com aquilo</p><p>que está então definido como série literária ou mesmo como série extra-</p><p>literária, também variável de acordo com seu tempo. Portanto, as</p><p>controvérsias aludidas por Tynianov derivam das diferentes delimitações</p><p>com as quais cercamos o campo do literário. Já Eikhenbaum (1973)</p><p>destaca as modificações que esse conceito veio a sofrer com o surgimento</p><p>de novos gêneros:</p><p>A partir dos meados do século XVIII e sobretudo no século</p><p>XIX, o romance toma uma outra característica. A cultura</p><p>livresca desenvolve as formas literárias de estudos, de</p><p>artigos, de narração de viagem, de lembranças, etc. A</p><p>forma epistolar permite as descrições detalhadas da vida</p><p>mental, da paisagem observada, dos personagens, etc. [ ] A</p><p>forma literária de notas e lembranças dá livre curso às</p><p>descrições ainda mais detalhadas dos usos, da natureza,</p><p>dos costumes, etc. (EIKHENBAUM, 1973, p.159).</p><p>Mas é ainda o mesmo Tynianov quem faz a necessária separação</p><p>sistêmica entre obra e série, ao concluir que “a obra literária constitui-se</p><p>num sistema e que a literatura igualmente se constitui em outro”</p><p>(TYNIANOV, 1973, p.107). Assim, o leitor poderá provisoriamente concluir</p><p>que a questão levantada não se resolve pela definição da extensão do</p><p>campo da literatura, mas sim através do conhecimento da especificidade</p><p>que qualifica um texto como literário ou não. Esse problema surge tão logo</p><p>reconhecemos que mesmo um texto pretensamente concebido como</p><p>artístico (romance, poema, etc.) pode se revelar bem pouco literário no</p><p>decorrer de sua leitura.</p><p>Ao comentar Das Literarische Kunstwerk, de Roman Ingarden,</p><p>Anatol Rosenfeld (1976, p.17) nota que, na análise das obras literárias, o</p><p>diferencial surge nas “zonas onde podem encontrar-se os valores</p><p>estéticos”. Aqui deparamo-nos com um modificador importante: segundo</p><p>Rosenfeld, embora a intenção fundamental de Ingarden seja a de fazer</p><p>“uma 'anatomia essencial' das 'belas-letras' e mesmo das obras literárias no</p><p>sentido mais amplo”, este filósofo não deixa de manter como ponto de</p><p>referência para a análise das obras o “horizonte estético” (ROSENFELD,</p><p>1976, p.17).</p><p>Essa constatação nos faz retornar ao texto de Roland Barthes</p><p>anteriormente citado, no qual se chega à conclusão de que a prosa pôde</p><p>fazer-se literatura (e a retórica teoria da arte literária) somente após a</p><p>elevação daquela à categoria de “objeto estético”. Está claro que Barthes</p><p>não quis generalizar, no sentido de que toda e qualquer obra em prosa</p><p>tenha valor estético. A constatação que faz é que, embora inicialmente</p><p>apreendida na oralidade como “decorativa”, a prosa auferiu um brilho</p><p>suplementar ao ser construída a partir da techne (técnica) argumentativa</p><p>da retórica, que pressupunha o desenvolvimento de habilidades</p><p>específicas para sua melhor execução (BARTHES, 1975, p. 152), ou seja,</p><p>determinadas obras passaram a se distinguir das demais devido a esse</p><p>469</p><p>Letras/Português Caderno Didático - 1º Período</p><p>acréscimo de valor.</p><p>A articulação acima alinhavada nos possibilita concluir que é</p><p>justamente pela avaliação estética de um determinado texto que</p><p>chegamos ao seu valor literário; o que se confirma, num sentido mais</p><p>amplo, nas seguintes palavras de Luigi Pareyson (1993):</p><p>Se não há obra que, embora não explicitamente artística,</p><p>não seja forma, o próprio ato com que se aprecia e avalia</p><p>como obra faz com que ela seja avaliada e apreciada</p><p>como forma: a avaliação estética coincide com a</p><p>apreciação específica sem porém identificar-se com ela.</p><p>Considerar o valor prático e especulativo de uma obra</p><p>moral ou de pensamento significa também considerar o</p><p>valor estético, porque significa reconhecer que só com um</p><p>esforço de invenção e produção foi possível chegar a</p><p>realizar a obra, i. é, só como forma ela é e pode ser obra, e</p><p>precisamente obra moral e de pensamento. (PAREYSON,</p><p>1993, p. 22-3).</p><p>Como você pode perceber, a literatura como objeto de estudo</p><p>suscita uma série de reflexões; esse assunto apresenta muita discussão e,</p><p>apesar disso, não encontramos uma resposta definitiva, pois não há</p><p>conteúdos exclusivos da literatura, muito menos avesso ao seu domínio.</p><p>Diante disso, o que podemos afirmar é que, em algumas épocas,</p><p>os textos literários privilegiaram certos temas e uma determinada maneira</p><p>de representá-los. Por exemplo, no século XV, é muito recorrente o tema</p><p>do amor ligado ao idealismo platônico e aos mitos greco-latinos, que</p><p>apresentamos através do estudo do poema de Camões, na primeira</p><p>unidade. Se o conteúdo é uma escolha de determinada época e autor, não</p><p>pode ser o único critério utilizado para estabelecer as diferenças entre um</p><p>texto literário e não literário. Querer dizer que o literário é ficção e o não</p><p>literário realidade pode ser um problema, pois o texto literário pode</p><p>interpretar determinada realidade, mas faz isso de maneira indireta.</p><p>Na terceira unidade, “As Correntes Críticas: Diferentes</p><p>Perspectivas de Leitura do Texto Literário”, será feita uma reflexão</p><p>importante sobre as diferentes abordagens teóricas e metodológicas</p><p>utilizadas pelos críticos para ler, interpretar e analisar um texto literário.</p><p>Você</p><p>poderá observar que esses teóricos definirão seu objeto e estudo e</p><p>método do texto literário a partir de um conceito de literatura. E o conceito</p><p>de literatura será retomado desde a Poética de Aristóteles, e a República</p><p>de Platão; desde a Antiguidade até a contemporaneidade.</p><p>DICAS</p><p>Caro aluno, a leitura da</p><p>Poética, de Aristóteles, e</p><p>dos capítulos V e X da</p><p>República, de Platão (veja</p><p>referência na bibliografia</p><p>complementar do curso), o</p><p>ajudarão a compreender os</p><p>primeiros conceitos</p><p>expostos pelos dois filósofos</p><p>sobre literatura,</p><p>representação mimética,</p><p>ficção e realidade. Outro</p><p>texto que será muito</p><p>importante é o capítulo “A</p><p>cicatriz de Ulisses”, de</p><p>Mimesis, de Auerbach.</p><p>Nesse texto, você</p><p>encontrará uma reflexão</p><p>sobre o processo de</p><p>representação na ficção</p><p>literária.</p><p>REFERÊNCIAS</p><p>AGUIAR e SILVA, Vitor Manuel. Teoria da literatura. 4. ed. Coimbra:</p><p>Almedina, 1982.</p><p>BARTHES, Roland. “A retórica antiga”. In : COHEN, Jean et alii (Orgs.).</p><p>Pesquisas de Retórica. Faltou o tradutor. Petrópolis, Vozes, 1975.</p><p>470</p><p>Introdução à Teoria da Literatura UAB/Unimontes</p><p>CASTRO, Manuel Antônio de. O acontecer poético: a história literária. 2.</p><p>ed. Rio de Janeiro: Antares, 1982.</p><p>COMPANGON, Antoine. O demônio da teoria: literatura e senso comum.</p><p>Faltou o tradutor. Belo Horizonte: Ed. UFMG, 1999.</p><p>EIKENBAUM, B. Sobre a teoria da prosa. In: TOLEDO, Dionísio de Oliveira</p><p>(Org.). Teoria da literatura: formalistas russos. Org., apresentação e</p><p>apêndice. Porto Alegre: Editora Globo, 1973, p. 157-158.</p><p>HAMBURGER, Kate. A lógica da criação literária. 2. ed. São Paulo:</p><p>Perspectiva, 1986.</p><p>PAREYSON, Luigi. Estética: Teoria da formatividade. Trad. Ephraim</p><p>Ferreira Alves. Petrópolis: Vozes, 1993.</p><p>PESSOA, Fernando. O eu profundo e os outros eus: seleção poética. Rio</p><p>de Janeiro: Nova Fronteira, [s.d.].</p><p>ROSENFELD, Anatol. Estrutura e problemas da obra literária.São Paulo:</p><p>Perspectiva, 1976.</p><p>TYNIANOV, J. “Da Evolução Literária”. In: TOLEDO, Dionísio de Oliveira</p><p>(Org.). Teoria da literatura: formalistas russos. Org., apresentação e</p><p>apêndice. Porto Alegre: Editora Globo, 1973.</p><p>471</p><p>3UNIDADE 3</p><p>AS CORRENTES CRÍTICAS</p><p>C</p><p>A</p><p>B</p><p>F</p><p>EGGLOSSÁRIO</p><p>Interdisciplinar: comum a</p><p>duas ou mais disciplinas ou</p><p>ramos do conhecimento.</p><p>C</p><p>A</p><p>B</p><p>F</p><p>EGGLOSSÁRIO</p><p>Método: vem do grego</p><p>Méthodos, de meta - e</p><p>hodós, estrutura-se a idéia</p><p>de caminho para e por</p><p>onde.</p><p>C</p><p>A</p><p>B</p><p>F</p><p>EGGLOSSÁRIO</p><p>Crítica: A palavra crítica</p><p>vem do grego Krinein, cuja</p><p>acepção primeira é</p><p>“separar para distinguir”.</p><p>A presente unidade tem como objetivo discutir as diferentes</p><p>concepções críticas. Como sabemos, o texto literário não pode ser</p><p>estudado sem que o crítico se sustente teoricamente. É necessário ressaltar</p><p>ainda que o texto literário traz em si, explícita ou implicitamente, uma</p><p>teoria.</p><p>A teoria da literatura, disciplina que nos fornece elementos para a</p><p>análise do texto literário, deve estar aberta às multiplas dimensões de seu</p><p>objeto de estudo, por isso tem um caráter interdisciplinar. O diálogo que</p><p>essa disciplina estabelece com outras disciplinas, tais como: a história, a</p><p>geografia, a sociologia, a lingüística, a antropologia e a psicanálise é</p><p>importante para a construção de preceitos teóricos da teoria da literatura.</p><p>A teoria da literatura, a partir do momento que apresenta os</p><p>instrumentos de análise do seu objeto de estudo, explicita o método que</p><p>deverá utilizar em seu processo investigativo. Para que o poema, o</p><p>romance, o conto, a epopéia, etc. sejam lidos, analisados e interpretados é</p><p>preciso que o crítico defina as linhas de sua abordagem da obra literária.</p><p>Assim, para “separar ou distinguir” um texto de outro é preciso que o</p><p>método seja definido pelo crítico.</p><p>O método utilizado pelo crítico pode ser a partir de uma atitude</p><p>normativa ou descritiva. Roberto Acízelo de Souza afirma que “a atitude</p><p>normativa diz o que a literatura deve ser e como deve ser julgada; a atitude</p><p>descritiva diz o que ela é e que explicações prováveis lhe são apropriadas.”</p><p>(SOUZA, 2007, p.15).</p><p>O autor esclarece ainda que não se deve pensar “que todas as</p><p>construções teóricas surgidas correspondem puramente ao tipo</p><p>normativo ou tipo descritivo” (SOUZA, 2007, p.15), pois as teorias não se</p><p>reduzem a modelos esquemáticos. Mas podemos estabelecer um quadro</p><p>histórico para facilitar a compreensão do que seria o modelo normativo e o</p><p>descritivo. Sobre o modelo normativo e o descritivo podemos apresentar o</p><p>seguinte resumo:</p><p>a) Na época Clássica Grega, com Platão e Aristóteles (V – IV a.C.)</p><p>tem-se modelos normativos, mas predominava uma investigação</p><p>interpretativa mais aberta.</p><p>b) Na Antiguidade, depois da época Clássica, o modelo teórico</p><p>normativo se impõe tanto na Grécia quanto em Roma.</p><p>c) O normativismo continua sendo utilizado pelos teóricos, na</p><p>Idade Média, principalmente com o auxílio da retórica e o aparecimento da</p><p>arte e da técnica de compor versos dos poetas ligados à poesia lírica, que se</p><p>originou na Corte da Provença e se desenvolveu do século XI ao XIII.</p><p>d) No fim do século XVI até o século XVIII, com a descoberta da</p><p>Poética de Aristóteles, os teóricos adotarão uma postura normativa, apesar</p><p>472</p><p>Introdução à Teoria da Literatura UAB/Unimontes</p><p>de o texto de Aristóteles apresentar um modelo de investigação mais</p><p>aberto. Nesse período, a Poética influenciou diversos tratados e modelos</p><p>de composição poética que tinham um tom normativo e deveriam ser</p><p>seguidos pelos poetas.</p><p>e) No século XIX, o Romantismo colocorá um fim nos preceitos e</p><p>normas dos tratadistas clássicos. Os escritores românticos têm como fio</p><p>condutor a liberdade de criação e de expressão. Com isso, a reflexão sobre</p><p>literatura se afasta do normativismo, orientando-se para atitudes mais</p><p>especulativas, daí o surgimento de vários movimentos teóricos.</p><p>Apresentaremos na próxima subunidade as teorias que se</p><p>consolidaram no século XIX e que direcionaram a sistematização, a</p><p>investigação e a avaliação da crítica literária.</p><p>3.1 AS CORRENTES TÉORICAS DO SÉCULO XIX</p><p>Na presente subunidade, trataremos das correntes teóricas do</p><p>século XIX. No Oitocentos, com a superação da poética e da retórica,</p><p>surgem alguns modelos de estudo da obra literária com uma postura mais</p><p>voltada para os elementos extratextuais.</p><p>O estudos críticos passam a levar em conta a vida do autor, os</p><p>fatores que dão origem à obra e as interpretações do leitor.</p><p>Apresentaremos, a seguir, modelos de leituras da obra de acordo com</p><p>algumas correntes teóricas da época.</p><p>a) Crítica Biográfica</p><p>A crítica biográfica se desenvolveu nas primeiras décadas do</p><p>século XIX e tem como principal crítico Sainte-Beuve (1804-1868) que</p><p>utiliza o método biográfico para estudar a obra literária. O método</p><p>biográfico usa o processo de descrição e procura explicar os elementos da</p><p>obra através da vida do autor. Dessa forma, o crítico considera os</p><p>elementos extratextuais para analisar o texto literário.</p><p>b) Crítica Determinista</p><p>Esta corrente crítica teve como sustentação a teoria do</p><p>Positivismo de Augusto Comte. O crítico da literatura procurou aplicar à</p><p>literatura os métodos das ciências naturais: da biologia, da física e da</p><p>química.</p><p>O estudo do texto literário passou a levar em conta os elementos</p><p>externos a ele, identificados com a vida do homem e o meio no qual o texto</p><p>teve origem, centrando nos fatores políticos, econônicos, sociológicos,</p><p>ideológicos tidos como determinantes da organização dos textos.</p><p>Hippolyte Taine (1828-1893) se destacou nessa tendência, principalmente</p><p>como precursor da sociologia da literatura. Para Taine, o meio, a raça e o</p><p>momento são fatores que determinam a criação literária.</p><p>473</p><p>Letras/Português Caderno Didático - 1º Período</p><p>c) A crítica Impressionista</p><p>A crítica impressionista é uma corrente oposta à postura científica</p><p>e objetiva do determinismo. Essa tendência centrava seu estudo na</p><p>subjetividade do leitor. Para ler o texto literário, o crítico não</p><p>precisava de</p><p>instrumentos metodológicos, pois poderia agir livremente. Um dos</p><p>principais representantes franceses dessa tendência foi Anatole France.</p><p>3.2 AS CORRENTES TEÓRICAS NO SÉCULO XX</p><p>Nesta subunidade, serão abordados as correntes teóricas e os</p><p>movimentos poéticos no século XX, os quais trazem novos métodos de</p><p>leitura, interpretação e crítica do texto literário. No início do século 20 tem-</p><p>se o Formalismo Russo e o New Criticism, correntes teóricas que abolem as</p><p>tendências do século XIX, responsáveis por uma leitura historicista,</p><p>psicológica e biográfica da literatura.</p><p>Os teóricos acreditavam que o método utilizado pelas correntes</p><p>críticas do século XIX não apresentavam um teor científico, pois as leituras</p><p>das obras consideravam os elementos extratextuais. Apresentaremos a</p><p>seguir as escolas e movimentos teóricos que se desevolveram desde o início</p><p>do século XX até a atualidade.</p><p>a) O Formalismo Russo</p><p>É uma corrente teórica que surge com os formalistas russos,</p><p>que apresentaram um novo método de estudo do texto literário,</p><p>salientando que o crítico deveria se preocupar com a literariedade da</p><p>literatura. A tendência formalista privilegia a linguagem do texto, dessa</p><p>forma sua análise crítica está baseada em princípios lingüísticos.</p><p>Para estudar a obra literária os críticos se voltam para os</p><p>elementos internos ao texto, se opondo à definição da literatura como</p><p>documento, representação do real ou expressão do autor. Os teóricos</p><p>Roman Jakobson, Boris Eichenbaum e Victor Chklovsky orientaram os</p><p>estudos literários para as questões relacionadas à forma e à técnica. Assim,</p><p>os formalistas russos utilizam um método de análise do texto baseado nos</p><p>princípios de literariedade.</p><p>b) O New Criticism</p><p>O New criticism marca um momento importante da crítica literária</p><p>no mundo e surgiu nos Estados Unidos a partir dos anos 20 do século</p><p>passado. Esse momento propõe romper com a crítica baseada no critério</p><p>subjetivo, desenvolvida através da corrente Impressionista e da crítica de</p><p>jornal (comentários) e institui a crítica “científica” ou metodológica e</p><p>epistemológica. A nova crítica tem como método de análise do texto</p><p>literário o significado do próprio texto, e não de um contexto histórico,</p><p>biográfico (autor do texto) e leituras interpretativas feitas pelos leitores.</p><p>PARA REFLETIR</p><p>Para os formalistas o que</p><p>caracteriza uma obra</p><p>literária? Qual o método de</p><p>leitura utilizado pelos</p><p>teóricos formalistas?</p><p>474</p><p>O crítico deveria ler o texto literário como um “cientista”,</p><p>assumindo uma postura objetiva, jamais demonstrando qualquer tipo de</p><p>envolvimento com o objeto de análise. O crítico não deve se preocupar com</p><p>a intenção do autor, pois a “obra é o próprio testemunho do autor”</p><p>(SOARES, 1985, p.102) e nem com as origens e o efeito que uma obra</p><p>produz em seus leitores.</p><p>c) A Fenomenologia</p><p>A fenomenologia surge com os estudos teóricos de Edmund</p><p>Husserl (1859-1938) no início do século XX. A teoria da fenomenológica</p><p>de Husserl, posteriormente à fenomenologia de Heidegger, apresenta uma</p><p>postura antifilológica. Para Antoine Compagnon, o pensamento de</p><p>Schleiermacher representa:</p><p>a posição filológica (ou antiteórica) mais sólida,</p><p>determinando rigorosamente a significação de uma obra</p><p>pelas condições às quais ela respondeu em sua origem, e</p><p>sua compreensão pela reconstrução de sua produção</p><p>original. Segundo esse princípio, a história pode, e deve,</p><p>reconstituir o contexto original; a reconstrução da intenção</p><p>do autor é a condição necessária e suficiente de</p><p>determinação do sentido da obra. (COMPAGNON, 1999,</p><p>p.60).</p><p>A fenomenologia busca evitar o problema da separação sujeito</p><p>objeto, ocorre a “substituição do cogito cartesiano, enquanto consciência</p><p>reflexiva, presença a si e disponibilidade ao outro, pela intencionalidade,</p><p>como ato de consciência que é sempre consciência de alguma coisa,</p><p>compromete a empatia do intérprete que era a hipótese do círculo</p><p>hermenêutico.” (COMPAGNON, 1999, p. 62).</p><p>Para a fenomenologia não existe a prioridade de verificar a</p><p>“primeira recepção” da obra e do “querer-dizer” do autor. O texto não deve</p><p>ser estudado a partir de uma posição filológica; pois o significado do texto</p><p>ultrapassa os limites de sua origem histórica.</p><p>É preciso esclarecer que o sentido do texto não pode ser reduzido</p><p>ao sentido que ele tem para o seu autor (intenção do autor) e seus</p><p>contemporâneos (primeira recepção), mas deve ainda acrescentar a</p><p>história de sua crítica por todos os leitores de todas as idades, sua recepção</p><p>no passado e no presente.</p><p>O leitor passa a ser peça fundamental na interpretação de uma</p><p>obra literária, pois é aquele capaz de ler um texto e apresentar sentidos</p><p>para ele de acordo com sua formação de leitor. Nesse processo de leitura e</p><p>interpretação de um texto, o leitor vai preenchendo os vazios deixados pelo</p><p>texto (Wolfgang Iser e Stanley Fish).</p><p>Já a “estética da recepção” (Hans Robert Jauss) é uma outra</p><p>versão da fenomenologia orientada para o leitor. Na subunidade: “A</p><p>estética da recepção: o texto, o autor e o leitor”, deste caderno,</p><p>estudaremos a teoria da recepção e discutiremos os conceitos postulados</p><p>pelos teóricos, observando principalmente os seguintes aspectos: o</p><p>DICAS</p><p>Assista aos filmes:</p><p>“Sociedade dos poetas</p><p>mortos” e “Finding</p><p>Forrester (Encontrando</p><p>Forrester)”. Vá ao</p><p>Ambiente de Aprendizagem</p><p>e discuta com seu Professor</p><p>e colegas os dois filmes.</p><p>Introdução à Teoria da Literatura UAB/Unimontes</p><p>Letras/Português Caderno Didático - 1º Período</p><p>processo de recepção do texto ao longo da história literária e o papel do</p><p>leitor no processo de interpretação da obra.</p><p>d) O Estruturalismo</p><p>O estruturalismo se originou em oposição à fenomenologia: ao</p><p>invés de discutir a experiência, a meta era identificar as estruturas</p><p>subjacentes ao texto (as estruturas da linguagem, da psique, da</p><p>sociedade). O estruturalismo traz herança do movimento formalista e se</p><p>configura nos anos 50-60 na França.</p><p>Os pesquisadores foram influenciados pela teoria da linguagem</p><p>de Ferdinand de Saussure e desenvolveram pesquisas diversas sobre a</p><p>análise do texto literário. O texto literário passa a ser estudado como</p><p>estrutura verbal; as leis foram buscadas na lingüística e, a partir delas, os</p><p>teóricos criaram modelos de análise da narrativa. Os trabalhos dos teórico</p><p>Roland Barthes e Tzvetan Todorov se destacaram no estudo das estruturas</p><p>narrativas.</p><p>É importante ressaltar que o estruturalismo se desenvolveu</p><p>primeiro nos estudos da antropologia, com Claude Lévis-Strauss e depois</p><p>nos estudos literários e culturais (Roman Jakobson, Roland Barthes, Gérard</p><p>Genette), na psicanálise (Jacques Lacan), na história intelectual (Michel</p><p>Foucault) na teoria marxista (Louis Althusser). As teorias desses</p><p>pensadores franceses foram importadas e colocadas em prática na</p><p>Inglaterra, nos Estados Unidos, no Brasil e em vários países no final das</p><p>décadas 60 e 70.</p><p>e) O Pós-estruturalismo</p><p>Posteriormente ao estruturalismo, os teóricos Roland Barthes,</p><p>Michel Foucault e Lacan foram identificados como pós-estruturalistas, ou</p><p>seja, eles tinham ido além do estruturalismo. O que é relevante dizer é que</p><p>esses pensadores reconheceram “a impossibilidade de descrever um</p><p>sistema significativo coerente e completo, já que os sistemas estão sempre</p><p>mudando”. (CULLER, 1999, p.121). Isto quer dizer que a análise do texto</p><p>literário feita a partir da estrutura verbal não dava conta de estudar o texto</p><p>literário, por isso rompe com a noção de totalidade do sujeito.</p><p>O pós-estruturalismo é usado para se referir aos discursos teóricos</p><p>nos quais há uma “crítica das noções de conhecimento objetivo e de um</p><p>sujeito capaz de conhecer”. As teorias feministas, as teorias psicanalíticas,</p><p>os marxismos e historicismos contemporâneos participam do pós-</p><p>estruturalismo. O pós-estruturalismo também serviu para nomear a</p><p>descontrução e os trabalhos de Jacques Derrida, que ganhou destaque</p><p>com a crítica da noção de estrutura.</p><p>475</p><p>PARA REFLETIR</p><p>: Qual deve ser a atitude do</p><p>crítico diante de um texto?</p><p>Que tipos de crítica existem</p><p>na atualidade?</p><p>476</p><p>Introdução à Teoria da Literatura UAB/Unimontes</p><p>3.3 A ESTÉTICA DA RECEPÇÃO: O TEXTO, O AUTOR E O LEITOR</p><p>Nesta subunidade, trataremos da teoria da recepção. Agora, o</p><p>nosso propósito é identificar os conceitos definidores dessa teoria, o que</p><p>faremos mediante o estudo dos seguintes tópicos: o texto e o contexto</p><p>de produção, o autor, o leitor e a sua formação e o processo de</p><p>recepção do texto. A teoria da estética da recepção tem como principais</p><p>representantes Hans Robert Jauss e Wolfgang Iser. Os dois teóricos</p><p>foram influenciados pela Fenomenologia de Husserl, pela estética de</p><p>Roman Ingarden e pela hermenêutica de Gadamer.</p><p>Na aula inaugural na Universidade de Constança, na Alemanha,</p><p>em 1967, o teórico Hans Robert Jauss expôs a conferência História da</p><p>literatura como provocação à teoria literária. Essa conferência foi</p><p>considerada depois como manifesto da estética da recepção, e “é</p><p>conhecida como 'Provocação' e começa pela recusa rigorosa dos métodos</p><p>de ensino de história da literatura, considerados tradicionais e, por isso,</p><p>desinteressantes.” (ZILBERMAN, 1989, p.9).</p><p>O que a análise do teórico Jauss propunha era denunciar</p><p>“a fossilização da história da literatura, cuja metodologia</p><p>estava presa a padrões herdados do idealismo ou do</p><p>positivismo do século XIX. Somente pela superação dessas</p><p>orientações seria possível promover uma nova teoria da</p><p>literatura, fundada no 'inesgotável reconhecimento da</p><p>historicidade'”. (ZILBERMAN, 1989, p.9).</p><p>As linhas metodológicas que orientaram os estudos literários dos</p><p>pensadores contemporâneos de Jauss, apesar de apresentarem</p><p>divergências entre si, tinham em comum o fato de a historia não ser</p><p>considerada no momento de análise do texto literário.</p><p>No texto “A estética da recepção: colocações gerais”, de Hans</p><p>Robert Jauss, que se encontra no livro A literatura e o leitor: textos de</p><p>estética da recepção, de Luiz Costa Lima (1979), Jauss nos apresenta a</p><p>teoria da recepção com o seguinte comentário:</p><p>Via então a oportunidade de uma nova teoria da literatura,</p><p>exatamente não no ultrapasse da história, mas sim na</p><p>compreensão ainda não esgotada da historicidade</p><p>característica da arte e diferenciadora de sua</p><p>compreensão. Urgia renovar os estudos literários e superar</p><p>os impasses da história positivista, os impasses da</p><p>interpretação, que apenas servia a si mesma ou a uma</p><p>metafísica da “écriture”, e os impasses da literatura</p><p>comparada, que tomava a comparação como um fim em</p><p>si. (JAUSS, 1979, p. 47).</p><p>Diante disso, Jauss repudia os estudos imanentistas do texto e</p><p>propõe uma teoria que desloca o eixo de análise do texto para a análise da</p><p>experiência do leitor ou da “sociedade de leitores” de um determinado</p><p>momento histórico, pois para Jauss, o leitor é peça fundamental na</p><p>atualização da obra.</p><p>PARA REFLETIR</p><p>Caro aluno, você pode</p><p>assistir outra vez ao filme</p><p>“Finding Forrester</p><p>(Encontrando Forrester)”,</p><p>sugerido na subunidade “As</p><p>Correntes Teóricas do</p><p>Século XX”, porque ele</p><p>também traz alguns pontos</p><p>sobre a recepção de uma</p><p>obra literária por parte de</p><p>um leitor ou de uma</p><p>comunidade de leitores.</p><p>477</p><p>Letras/Português Caderno Didático - 1º Período</p><p>No texto “A interação do texto com o leitor”, Wolfang Iser afirma</p><p>que o leitor diante dos vazios do texto, isto é, dos espaços abertos para as</p><p>múltiplas possibilidades de comunicação, encontrará “pontos de</p><p>indeterminação”, como é designado por Ingarden, ou a “consciência</p><p>imaginativa do leitor”.</p><p>O leitor como uma entidade que interage com o texto,</p><p>preenchendo suas lacunas é apresentado por Iser como um “leitor ideal”,</p><p>pois o texto literário é um universo controlado pela “estrutura objetiva” que</p><p>pede ao leitor para obedecer às suas instruções. Assim, o “leitor ideal”</p><p>propõe um modelo de leitura para o leitor real. Iser comenta que a</p><p>interação fracassa exatamente quando:</p><p>as projeções mútuas dos participantes não sofrem</p><p>mudança alguma ou quando as projeções do leitor se</p><p>impõem independentemente do texto. O fracasso significa</p><p>o preenchimento do vazio exclusivamente com as próprias</p><p>projeções. (ISER, 1979, p.88).</p><p>Iser enfatiza que o leitor, diante do texto ficcional, deverá se</p><p>comportar como um “viajante”, que a todo instante se pergunta se a</p><p>formação de sentido que está fazendo é adequada, pois o leitor deverá</p><p>testar o seu horizonte de expectativa, ou seja, por à prova sua capacidade</p><p>de preencher os pontos de indeterminação, porque o texto nunca se</p><p>apresenta todo ao leitor. Assim como o “viajante”, o leitor, ao perceber um</p><p>aspecto do texto, relaciona a parte que leu com o restante e tem uma</p><p>noção do todo.</p><p>3.4 O CRÍTICO E SEU PAPEL</p><p>Para iniciar a presente subunidade, apresentaremos como texto</p><p>motivador de nossa reflexão o seguinte comentário de Machado de Assis</p><p>sobre a crítica. Para o mais importante escritor e crítico da literatura</p><p>brasileira no século XIX,</p><p>Exercer a crítica, afigura-se a alguns que é uma fácil tarefa, como</p><p>a outros parece igualmente fácil a tarefa de legislador; mas para a</p><p>representação literária, como para a representação política, é preciso ter</p><p>alguma coisa mais que um simples desejo de falar à multidão. Infelizmente</p><p>é a opinião contrária que domina, e a crítica, desamparada pelos</p><p>esclarecidos, é exercida pelos incompetentes. (ASSIS, 1984, p. 87).</p><p>O fragmento de texto acima, retirado do texto “Ideal do crítico”,</p><p>de Machado de Assis, nos conduz a refletir sobre o papel do crítico diante</p><p>do seu objeto de estudo: o texto literário. Para atuar como crítico o</p><p>estudioso da literatura deve se sustentar teoricamente, pois a tarefa não é</p><p>fácil, como diz Machado, exatamente porque o crítico deve ter</p><p>competência para dar sua opinão sobre obras e autores.</p><p>O ato de criticar um determinado texto não pode ser visto como</p><p>depreciativo, pois muitas vezes achamos que a opinião explicitada por um</p><p>crítico sobre determinada obra é um julgamento negativo. Apesar De a</p><p>DICAS</p><p>.Leia o capítulo “Helena:</p><p>um caso de leitura”, do</p><p>livro Estética da recepção e</p><p>história da literatura, de</p><p>Regina Zilberman, p. 74-</p><p>98. Vá ao Ambiente de</p><p>Aprendizagem e discuta</p><p>com seu professor.</p><p>DICAS</p><p>.Faça uma pesquisa na</p><p>Revista Veja e selecione</p><p>uma matéria que apresente</p><p>um estudo crítico sobre um</p><p>texto literário; avalie a</p><p>linguagem adotada pelo</p><p>crítico e a visão que ele</p><p>apresenta sobre o objeto de</p><p>estudo por ele selecionado.</p><p>DICAS</p><p>Introdução à Teoria da Literatura UAB/Unimontes</p><p>478</p><p>disciplina ter um caráter científico, o crítico, ao atuar, não deve visar a</p><p>exatidão, pois o modelo de leitura de um texto é uma forma de interpretar o</p><p>texto, ou seja, é um caminho que será tomado por um crítico em seu</p><p>momento de estudo do texto. E não significa que a interpretação feita por</p><p>esse crítico seja única e verdadeira, pois existem outras possibilidades de</p><p>leitura e interpretação do texto.</p><p>Mas o crítico não pode cair no erro e achar que qualquer leitura</p><p>interpretativa que ele faça de um texto é pertinente, pois a liberdade</p><p>concedida ao interprete tem limites. O teórico Umberto Eco, em seu texto</p><p>“A poética da obra aberta”, discute essa liberdade de interpretação que o</p><p>leitor tem diante do texto, apontando os limites que são concedidos pelo</p><p>próprio texto. Assim escreve Umberto Eco sobre a abertura da obra:</p><p>o leitor do texto sabe que cada frase, cada figura se abre</p><p>para a multiformidade de significados que ele deverá</p><p>descobrir; inclusive, conforme seu estado de ânimo, ele</p><p>escolherá a chave de leitura que julgar exemplar, e usará a</p><p>obra na significação desejada (fazendo-a reviver, de certo</p><p>modo, diversa de como possivelmente ela se lhe</p><p>apresentara numa leitura anterior). Mas nesse caso</p><p>“abertura” não significa absolutamente “indefinição” da</p><p>comunicação, “infinitas”</p><p>o código usado é a palavra.</p><p>Pode-se dizer que a linguagem verbal é a forma de comunicação</p><p>mais presente em nosso cotidiano. Mediante a palavra, falada ou escrita,</p><p>expomos aos outros as nossas idéias e pensamentos, comunicando-nos</p><p>por meio desse código imprescindível em nossas vidas. Esse código se faz</p><p>presente quando falamos com alguém, quando lemos, quando</p><p>escrevemos e em diversas outras formas de comunicação.</p><p>Observe, por exemplo, o “Soneto de Fidelidade” de Vinícius de</p><p>Morais como um soberbo exemplo de linguagem verbal, através de</p><p>palavras.</p><p>Texto: é uma rede de</p><p>determinações. É</p><p>manifestadamente uma</p><p>totalidade onde cada</p><p>elemento mantém com os</p><p>outros relações de</p><p>interdependências. Estes</p><p>elementos e grupos de</p><p>elementos seguem-se em</p><p>ordem coerente e</p><p>consistente, cada segmento</p><p>textual contribuindo para a</p><p>inteligibilidade daquele que</p><p>segue. Este último, por sua</p><p>vez, depois, vem esclarecer</p><p>retrospectivamente o</p><p>precedente. (WEINRICH,</p><p>citado por INDURSKY,</p><p>2006, p. 45)</p><p>Discurso: é o efeito de</p><p>sentido entre interlocutores</p><p>socialmente constituídos.</p><p>(PÊCHEUX, citado por</p><p>INDURSKY, 2006, p. 70)</p><p>E</p><p>A</p><p>B G</p><p>GLOSSÁRIO</p><p>F</p><p>C</p><p>E</p><p>A</p><p>B G</p><p>GLOSSÁRIO</p><p>F</p><p>C</p><p>Frase: é uma unidade</p><p>lingüística abstrata,</p><p>puramente teórica, um</p><p>conjunto de palavras</p><p>combinadas segundo as</p><p>regras da sintaxe, conjunto</p><p>este tomado fora de</p><p>qualquer situação de</p><p>discurso; o que produz um</p><p>locutor. (DUCROT, citado</p><p>por INDURSKY, 2006, p.</p><p>53)</p><p>E</p><p>A</p><p>B G</p><p>GLOSSÁRIO</p><p>F</p><p>C</p><p>Soneto de Fidelidade</p><p>De tudo, ao meu amor serei atento</p><p>Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto</p><p>Que mesmo em face do maior encanto</p><p>Dele se encante mais meu pensamento</p><p>340</p><p>Introdução à Leitura UAB/Unimontes</p><p>É fácil percebermos que a linguagem verbal está presente em</p><p>nosso dia-a-dia, nas mais variadas formas: propagandas; reportagens,</p><p>jornais, revistas, obras literárias e científicas na comunicação interpessoal;</p><p>nos discursos etc.).</p><p>Agora, analise as imagens:</p><p>A comunicação pode-se ainda se dar por meio da linguagem</p><p>mista. É o uso simultâneo da linguagem verbal e da linguagem não-verbal,</p><p>usando palavras escritas e figuras ao mesmo tempo.</p><p>Observe, por exemplo a ilustração:</p><p>Como você percebeu, todas as imagens podem ser facilmente</p><p>decodificadas. Você notou que em nenhuma delas existe a presença da</p><p>palavra? O que está presente é outro tipo de código. Apesar de haver</p><p>ausência da palavra, nós temos uma linguagem, pois podemos decifrar as</p><p>mensagens a partir das imagens.</p><p>Dessa forma, podemos afirmar que o tipo de linguagem, cujo</p><p>código não é a palavra, denomina-se linguagem não-verbal. Nesse caso,</p><p>são usados outros códigos como por exemplo: o desenho, a dança, os</p><p>sons, os gestos, a expressão fisionômica, as cores etc.</p><p>341</p><p>Letras/Português Caderno Didático - 1º Período</p><p>E</p><p>A</p><p>B G</p><p>GLOSSÁRIO</p><p>F</p><p>C</p><p>Poeta brasileiro: contribuiu</p><p>com seus versos para dar</p><p>um sentido elevado e</p><p>criativo à música popular</p><p>brasileira.</p><p>Conheça mais sobre a vida</p><p>e a obra de Vinícius no site</p><p>http://www.releituras.com/vi</p><p>niciusm_bio.asp</p><p>ATIVIDADES</p><p>Reflita e responda</p><p>1-Com quem você já se</p><p>comunicou hoje?</p><p>2-Qual foi a linguagem que</p><p>você utilizou para</p><p>estabelecer essa</p><p>comunicação? Você</p><p>concorda que o caderno de</p><p>Introdução à Leitura ilustra</p><p>uma forma de linguagem</p><p>verbal?</p><p>Figura 4</p><p>11</p><p>Quero vivê-lo em cada vão momento</p><p>E em seu louvor hei de espalhar meu canto</p><p>E rir meu riso e derramar meu pranto</p><p>Ao seu pesar ou seu contentamento</p><p>E assim quando mais tarde me procure</p><p>Quem sabe a morte, angústia de quem vive</p><p>Quem sabe a solidão, fim de quem ama</p><p>Eu possa lhe dizer do amor (que tive):</p><p>Que não seja imortal, posto que é chama</p><p>Mas que seja infinito enquanto dure</p><p>Vinícius de Moraes http://www.viniciusdemoraes.com.br</p><p>/poesia/sec_poesia_view.php?</p><p>342</p><p>Introdução à Leitura UAB/Unimontes</p><p>E</p><p>A</p><p>B G</p><p>GLOSSÁRIO</p><p>F</p><p>C</p><p>Abaporu: palavra criada</p><p>por Tarsila, significa</p><p>“homem antropófago”, em</p><p>tupi-guarani (aba : homem;</p><p>puru : que come carne</p><p>humana). Com essa</p><p>célebre tela, Tarsila do</p><p>Amaral deu impulso ao</p><p>Movimento Antropofágico e</p><p>propiciou o momento mais</p><p>criativo e original do</p><p>Modernismo Brasileiro no</p><p>âmbito das artes plásticas.</p><p>Além de apresentar alguns</p><p>traços surrealistas e</p><p>evidenciar a preocupação</p><p>de Tarsila com a estilização</p><p>do desenho, a obra traz</p><p>fortes características</p><p>brasileiras, como as cores</p><p>da bandeira nacional</p><p>(verde, amarelo e azul). O</p><p>pé grande da figura</p><p>representa a intensa</p><p>ligação do homem com a</p><p>terra.</p><p>Em períodos subseqüentes</p><p>do seu curso você</p><p>certamente estudará a</p><p>famosa pintora Tarsila do</p><p>Amaral. Se ficar com muita</p><p>curiosidade, faça um passei</p><p>pela obra da autora no site</p><p>oficial Tarsila do Amaral</p><p>(www.tarsiladoamaral.com.</p><p>br)</p><p>PARA REFLETIR</p><p>ATIVIDADES</p><p>O que você pode inferir,</p><p>sabendo-se que é uma</p><p>obra do Modernismo</p><p>Brasileiro?</p><p>Assim, é necessário observar que os textos com os quais nos</p><p>deparamos nas nossas atividades de leitura nem sempre estão codificados</p><p>apenas na linguagem verbal. É importante, então, sabermos ler a</p><p>linguagem de um modo geral, seja verbal ou não-verbal.</p><p>O Quadro “Abaporu”, pintura de Tarsila do Amaral é um exemplo</p><p>de linguagem não-verbal</p><p>dentro da pintura. O</p><p>quadro tem muito a dizer,</p><p>entretanto, nada está</p><p>escrito em palavras.</p><p>Agora que você</p><p>já sabe a distinção dos</p><p>d i f e r e n t e s c a m p o s</p><p>disciplinares que lidam</p><p>com a linguagem verbal e</p><p>com a linguagem não-</p><p>verbal, e estabelecida a</p><p>diferença entre elas, é</p><p>possível afirmar que o</p><p>movimento estratégico</p><p>entre a forma e o</p><p>significado, a adoção dos</p><p>artifícios da língua e das</p><p>diferentes linguagens, auxiliam a idéia de que:</p><p>Para diferentes modos de materialização dos sentidos devemos</p><p>lançar mão de diferentes competências/habilidades no ato de</p><p>compreender e de ler.</p><p>Figura 6</p><p>Fonte: http://visaouniversitaria.files.wordpress.com</p><p>Figura 5</p><p>Fonte: http://museuvirtualsemanaartemoderna.arteblog.com.br/9586/ABAPORU-</p><p>Assim é que, ao ler uma bula de remédio, ao escrever uma carta,</p><p>ao ler uma charge ou uma história em quadrinhos temos de nos valer de</p><p>habilidades comunicativas específicas, requeridas pelos diferentes gêneros</p><p>textuais.</p><p>Segundo Marchuschi (2002, p. 22), os termos tipo textual e</p><p>gênero textual diferenciam-se uma vez que este pauta-se, basicamente, na</p><p>utilidade da língua como instrumento comunicativo, ou seja, a língua é um</p><p>veículo de representações, concepções, valores socioculturais e de</p><p>instrumento de intervenção social; já aquele leva em consideração a</p><p>língua, numa perspectiva formal e estrutural – de natureza linguística.</p><p>Observe, abaixo no Quadro I, a breve definição, por meio de um paralelo,</p><p>estabelecido pelo autor:</p><p>Assim, se da parte do autor há uma mobilização na língua, a fim</p><p>de veicular seu propósito, podemos destacar que da parte do leitor há a</p><p>necessidade também da mobilização não só de conhecimentos do código</p><p>linguístico, mas também conhecimentos referentes à experiência do</p><p>evento comunicativo que ele insere. Nessa perspectiva, o texto é abordado</p><p>como lugar de interação, em que dialogicamente autor/leitor, via texto, se</p><p>constituem.</p><p>Leia a tirinha e responda:</p><p>343</p><p>Letras/Português Caderno Didático - 1º Período</p><p>Tipos Textuais Gêneros Textuais</p><p>1</p><p>Construtos teóricos definidos por</p><p>propriedades linguísticas intrínsecas.</p><p>Realizações linguísticas concretas definidas</p><p>por propriedades sócio-comunicativas.</p><p>2</p><p>Constituem sequências lingüísticas ou</p><p>seqüências de enunciados e não são textos</p><p>empíricos.</p><p>Constituem textos empiricamente realizados</p><p>cumprindo funções em situações</p><p>comunicativas.</p><p>3</p><p>Sua nomeação abrange um conjunto</p><p>limitado de categorias teóricas</p><p>determinadas por aspectos lexicais,</p><p>sintáticos, relações lógicas, tempo verbais.</p><p>Sua nomeação abrange um conjunto aberto e</p><p>praticamente ilimitado de designações</p><p>concretas determinadas pelo canal, estilo,</p><p>conteúdo, composições e função.</p><p>4 Designações teóricas dos tipos: narração,</p><p>argumentação, descrição, injunção</p><p>possibilidades da forma,</p><p>liberdade de fruição; há somente um feixe de resultados</p><p>fruitivos rigidadamente prefixados e condicionados, de</p><p>maneira que a reação interpretativa do leitor não escape</p><p>jamais ao controle do autor. (ECO, 2001, p. 43).</p><p>Cabe esclarecer que a obra apresenta uma “abertura”, dando ao</p><p>leitor certa liberdade de interpretação, mas traz em si “controle”, pois nem</p><p>todas as leituras são pertinentes.</p><p>Na concepção de Umberto Eco, a obra literária pode ser</p><p>interpretada de diferentes maneiras, sem perder sua configuração original.</p><p>O leitor de um texto literário atua como o intérprete de uma composição</p><p>musical, isto quer dizer que a obra apresenta um sistema de significados</p><p>que está aberto a múltiplas interpretações, no entanto apresenta limites</p><p>que não permitem qualquer tipo de “experiência subjetiva”.</p><p>O leitor deve ficar atento em relação a alguns elementos que</p><p>podem auxiliá-lo na interpretação de uma obra, observar o momento em</p><p>que a obra foi escrita, levando em conta também alguns fatores que são</p><p>importantes, tais como: a recepção da obra, a comunidade de leitores, a</p><p>linguagem da obra, os elementos intratextuais e extratextuais. É preciso</p><p>que o leitor saiba o lugar de onde o crítico fala, e para quem ele fala. É</p><p>fundamental ter em mente isso. O crítico, para emitir uma opinião sobre</p><p>uma obra e um autor, deve ter consciência desse ato.</p><p>DICAS</p><p>Vá ao ambiente de</p><p>aprendizagem e discuta</p><p>com seu professor e</p><p>colegas os conceitos</p><p>propostos por Umberto Eco</p><p>sobre a “abertura” e o</p><p>“fechamento” da obra.</p><p>Como se processa a</p><p>liberdade de leitura de um</p><p>texto? E como se</p><p>caracteriza essa liberdade</p><p>interpretativa?</p><p>PARA REFLETIR</p><p>O Crítico não deve achar</p><p>que sua via de acesso ao</p><p>texto é única, pois existem</p><p>outros estudos que são tão</p><p>importantes quanto o feito</p><p>por ele.</p><p>Leia o capítulo: “A</p><p>periodização literária”, de</p><p>Teoria da literatura, de</p><p>Victor Manual Aguiar e</p><p>Silva e discuta com seu</p><p>professor no ambiente de</p><p>aprendizagem. O estudo</p><p>desse capítulo será muito</p><p>importante, pois te ajudará</p><p>a compreender melhor os</p><p>períodos literários e a</p><p>metologia utilizada pelos</p><p>historiadores para definir</p><p>esses períodos literários.</p><p>479</p><p>Letras/Português Caderno Didático - 1º Período</p><p>REFERÊNCIAS</p><p>AGUIAR e SILVA, Vitor Manuel. Teoria da literatura. 4. ed. Coimbra:</p><p>Almedina, 1982.</p><p>ASSIS, Machado de. Ideal do crítico. In: Crônicas – crítica – poesia –</p><p>teatro. Org, Introdução, revisão de texto e notas de Massaud Moisés. São</p><p>Paulo: Cultrix, 1984.</p><p>COMPANGON, Antoine. O demônio da teoria: literatura e senso</p><p>comum.Belo Horizonte: Ed. UFMG, 1999.</p><p>CULLER, Jonathan. Teoria literária: uma introdução. Trad. Sandra</p><p>Vasconcelos. São Paulo: Beca Produções Culturais, 1999.</p><p>ECO, Umberto. Obra aberta. 8. ed. São Paulo: Perspectiva: 2001.</p><p>FONSECA, Rubem. Romance negro, Feliz Ano Novo e outros contos. Rio</p><p>de Janeiro: Ediouro, 1996.</p><p>LIMA, Luiz Costa. A literatura e o leitor: textos da estética da recepção.</p><p>Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1979.</p><p>PERRONE-MOISÉS, Leyla. Inútil Poesia: e outros ensaios breves. São</p><p>Paulo: Companhia das Letras, 2000.</p><p>PERRONE-MOISÉS, Leyla. Texto, crítica, escritura. 3. ed. São Paulo:</p><p>Companhia das Letras, 2005.</p><p>PERRONE-MOISÉS, Leyla. Altas literaturas: escolha e valor na obra</p><p>crítica de escritores modernos. São Paulo: Companhia das Letras, 1998.</p><p>SOARES, Angélica Maria Santos. A crítica. In: SAMUEL, Rogel (Org.).</p><p>Manual de teoria literária. Petrópolis: Vozes, 1985.</p><p>SOUZA, Roberto Acízelo de. Teoria da literatura. 10. ed. São Paulo: Ática,</p><p>2007.</p><p>ZILBERMAN, Regina. Estética da recepção e história da literatura. São</p><p>Paulo: Ática, 1989.</p><p>Você pode assistir ao programa “Entrelinhas” da TV Gerais. Esse programa</p><p>apresenta estudos sobre obras literárias e entrevistas com importantes</p><p>críticos literários. Nas edições do programa você encontrará estudos sobre</p><p>a literatura brasileira e outras literaturas. Assistir ao programa será</p><p>importante para sua formação crítica, pois você poderá obter informações</p><p>importantes sobre estudos de textos literários e a forma como os textos são</p><p>abordados.</p><p>DICAS</p><p>.A leitura do capítulo</p><p>teórico: “A poética da obra</p><p>aberta”, do livro Obra</p><p>aberta, de Umberto Eco, é</p><p>importante para você</p><p>compreender o significado</p><p>do processo de leitura e</p><p>interpretação de uma obra</p><p>literária. O texto “Que fim</p><p>levou a crítica?” de Leyla</p><p>Perrone-Moisés, do livro:</p><p>Inútil Poesia: e outros</p><p>ensaios breves também te</p><p>ajudará a compreender o</p><p>tipo de crítica que temos na</p><p>atualidade e o papel que o</p><p>crítico exerce no meio</p><p>literário. O conto</p><p>“Romance Negro”, de</p><p>Rubem Fonseca.</p><p>VÍDEOS SUGERIDOS PARA DEBATE</p><p>480</p><p>Introdução à Teoria da Literatura UAB/Unimontes</p><p>Os filmes: “Sociedade dos poetas mortos” e “Finding Forrester</p><p>(Encontrando Forrester)” discutem formas de se ler um texto literário. Em</p><p>“Sociedade dos poetas mortos”, o professor repudia a análise de uma obra</p><p>que abordasse somente os elementos internos, considerados como a</p><p>linguagem e a literariedade e procura valorizar uma leitura que tomasse</p><p>como importante as impressões do leitor. O filme “Encontrando Forester”</p><p>traz uma série de reflexões sobre a crítica que se faz sobre uma obra, o que</p><p>o autor pensa sobre os leitores e as leituras de sua obra, a recepção da obra</p><p>e o lugar que um autor ocupa na literatura de um país, questões sobre</p><p>fonte, influência e originalidade (reescrita e plágio).</p><p>481</p><p>4UNIDADE 4</p><p>A INTERTEXTUALIDADE: CONCEITOS BÁSICOS</p><p>C</p><p>A</p><p>B</p><p>F</p><p>EG</p><p>GLOSSÁRIO</p><p>Intertextualidade: é a</p><p>superposição de um texto a</p><p>outro. Na elaboração de</p><p>um texto literário, é a</p><p>absorção e transformação</p><p>de uma multiplicidade de</p><p>outros textos.</p><p>C</p><p>A</p><p>B</p><p>F</p><p>EG</p><p>GLOSSÁRIO</p><p>Dialogismo: vem do grego</p><p>dialogismós e significa a</p><p>arte do diálogo.</p><p>Nesta unidade estudaremos a intertextualidade com base nos</p><p>conceitos fundamentais da teoria do dialogismo. Tem-se como objetivo: a)</p><p>o estudo do texto literário com base nos pressupostos teóricos de Julia</p><p>Kristeva, Mikhail Bakhtin e Laurent Jenny; b) conduzir o aluno a identificar</p><p>os elementos intertextuais que foram recuperados por um texto no</p><p>momento da reescrita; c) estudar o texto com a concepção de que a</p><p>“palavra literária” se constitui através do diálogo entre diversas escrituras:</p><p>a do escritor, do destinatário (ou personagem), do contexto histórico e</p><p>cultural em que o o texto foi produzido e o momento de leitura.</p><p>A teoria da intertextualidade foi concebida recentemente por Julia</p><p>Kristeva a partir das reflexões e proposições apresentadas em Problemas</p><p>da poética de Dostoiévisk, de Mikhail Bakhtin, teórico que construiu sua</p><p>teoria com base na obra do escritor Fiódor M. Dostoiévski. Para essa</p><p>integrante da crítica francesa, “todo texto se constrói como um mosaíco de</p><p>citações, todo o texto é absorção e transformação de um outro texto”</p><p>(KRISTEVA, 1967, p. 72), ou seja, todo texto absorve e transforma uma</p><p>multiplicidade de outros textos.</p><p>A prática da intertextualidade e sua constatação é antiga como a</p><p>própria produção dos textos, pois a relação existente entre textos da</p><p>mesma natureza ou de naturezas diferentes e entre o texto e o contexto</p><p>sempre existiu desde a antigüidade. Na Odisséia, de Homero, texto da</p><p>Antigüidade Grega, já encontramos o uso do processo intertextual, isso</p><p>acontece exatamente porque o autor insere e desenvolve em seu texto</p><p>épico mitos e narrativas presentes nas sociedades primitivas.</p><p>Diante de tudo que já foi escrito o leitor poderá perguntar: será que</p><p>existe algo original? O conceito de intertextualidade apresentado por Julia</p><p>Kristeva contribuiu de forma significativa para que os estudos sobre fonte e</p><p>influência fossem renovados. Se a velha concepção de influência</p><p>apresentava o processo intertextual como uma dívida de um texto em</p><p>relação a outro texto, a teoria da intertextualidade reconfigura tais</p><p>conceitos, como Laurent Jenny em seu ensaio “A estratégia da</p><p>forma”</p><p>esclarece, pois a intertextualidade</p><p>tomada em sentido estrito não deixa se prender com a</p><p>crítica das fontes: a intertextualidade designa não uma</p><p>soma confusa e misteriosa de influências, mas o trabalho</p><p>de transformação e assimilação de vários textos, operando</p><p>por um texto centralizador, que detém o comando do</p><p>sentido. (JENNY, 1979, p.14).</p><p>Assim, o que era tido como uma relação de dependência passa a</p><p>ser entendido como um processo natural e contínuo de reescrita do texto.</p><p>O autor resgata um texto anterior, apropriando-se dele de alguma forma</p><p>(por exemplo, reescrevê-lo de maneira passiva ou destruí-lo). Isso nos leva</p><p>a perguntar: qual foi o motivo que conduziu o autor a recuperar o texto</p><p>PARA REFLETIR</p><p>O que é um texto original?</p><p>Existe texto original? O que</p><p>demarca a originalidade de</p><p>um texto?</p><p>482</p><p>Introdução à Teoria da Literatura UAB/Unimontes</p><p>anterior em seu processo de criação? E como se processa o diálgo entre o</p><p>texto e outros contextos?</p><p>As formas como ocorrem os procedimentos intertextuais são</p><p>diversas, existem intertextualidades explícitas como: a citação, o plágio e a</p><p>simples alusão ou reminiscência. Mas também existe a intertextualidade</p><p>implícita, mais difìcil de ser percebida pelo leitor, pois requer desse leitor um</p><p>horizonte de leituras bem mais amplo.</p><p>Muitas vezes o leitor não compreende a citação de um texto ou de</p><p>uma referência sobre um determinado contexto ou fato histórico em um</p><p>texto, exatamente porque é preciso ter conhecimento da obra citada ou do</p><p>contexto para entender o diálogo estabelecido pelo autor do texto.</p><p>Apresentaremos um fragmento do capítulo 5 do romance O grande</p><p>Mentecapto, de Fernando Sabino. Observe como se processa a</p><p>intertextualidade entre textos e contextos a partir da narrativa a seguir:</p><p>Tentasse eu descrever com precisão histórica todos os</p><p>lances das manobras, e me sentiria perdido como Fabrice</p><p>del Dongo na batalha de Waterloo. Muito trabalho já me</p><p>custou recolher depoimentos de veteranos de guerra e</p><p>antigos moradores dos locais onde se travaram as batalhas,</p><p>que me permitissem reconstituir a participação de</p><p>Viramundo naquela gerra incruenta e sem quartel, que se</p><p>não chegou a manchar de sangue o solo de Minas, marcou</p><p>indelevelmente a sua história com o ferrete do heroísmo e</p><p>da glória, graças à bravura do nosso mentecapto. Quisera,</p><p>para poder narrar as cenas épicas por ele vividas no campo</p><p>de luta, o gênio de um Tostoi, que, com muito menos,</p><p>recriou em páginas imortais as façanhas de Pedro Besukov</p><p>na batalha de Borodino! (SABINO, 2008, p.121).</p><p>Ao examinar o fragmento desse romance escrito na segunda</p><p>metade do século XX, o leitor observará que o escritor Fernando Sabino</p><p>estabelece um diálogo com textos e contextos da segunda metade do</p><p>século XIX. Para compreender o motivo das citações explícitas, expostas</p><p>pelo texto de Sabino, e por qual motivos esses textos e contextos são</p><p>recuperados é preciso ter em mente que o escritor atualiza, renova e</p><p>reinventa o texto anterior.</p><p>Ocorre uma tranposição de sentidos dos textos e contextos do</p><p>século XIX para um novo texto e contexto dessa narrativa no século XX. O</p><p>narrador questiona a sua capacidade de relatar os fatos históricos e os atos</p><p>heróicos do seu personagem, Mentecapto; demonstra também como se</p><p>sente diante de narrativas de grandes escritores do século XIX, como</p><p>Tostoi.</p><p>No texto de Fernando Sabino encontramos um diálogo</p><p>intertextual com outas literaturas e outros contextos históricos. A narrativa</p><p>traz em seu tecido as leituras realizadas pelo escritor. O que ficou são</p><p>fragmentos dessas leituras absorvidas através da memória. Com a</p><p>capacidade criativa e inventiva, o escritor Fernando Sabino cria o seu texto</p><p>a partir de outros textos.</p><p>DICAS</p><p>.Leia o texto “Texto,</p><p>Intertextualidade e</p><p>Intertexto”, Vitor Manuel de</p><p>Aguiar e Silva. Vá ao</p><p>Ambiente de Aprendizagem</p><p>e discuta com seu Professor</p><p>os seguintes conceitos:</p><p>Intertextualidade, discurso</p><p>dialógico e originalidade.</p><p>PARA REFLETIR</p><p>As Bachianas, de Villa</p><p>Lobos, retomam as peças</p><p>de J. Sebastian Bach. Você</p><p>pode ouvi-las e tentar</p><p>perceber o que o</p><p>compositor brasileiro</p><p>conseguiu “recuperar” e</p><p>“transformar” a partir das</p><p>obras de Bach.</p><p>483</p><p>Letras/Português Caderno Didático - 1º Período</p><p>4.1 A INTERTEXTUALIDADE EM OUTRAS ARTES</p><p>Para identificar a intextextualidade em textos é preciso levar em</p><p>conta a extensão de leituras que o leitor já possui, pois quanto mais lemos,</p><p>mais fácil será percebermos a presença de uns textos em outros e maior</p><p>será a compreensão da leitura. Muitas vezes o sentido da obra está no</p><p>diálogo que existe entre o novo texto e o texto anterior.</p><p>O leitor conseguirá perceber em um determinado texto uma série</p><p>de fragmentos de outros textos que, certamente, foram lidos, assimilados e</p><p>transformados pelo autor no momento da reescrita. Laurent Jenny adverte</p><p>que as “transformações intertextuais comportam sempre uma</p><p>modificação de conteúdo.” (JENNY, 1979, p. 31). Por isso, é importante</p><p>ressaltar que em outras modalidades artísticas, na pintura e na música, por</p><p>exemplo, podemos encontrar a mesma relação emtre obras.</p><p>Apresentaremos a seguir duas telas, uma de Leonardo da Vinci e outra de</p><p>Marcel Duchamp. Observe como a segunda retoma a primeira e a</p><p>reelabora:</p><p>Tela I Tela II</p><p>Existem músicas, filmes e novelas que são compostos a partir de</p><p>textos literários (contos, romances e poemas). A música “Monte Castelo”,</p><p>de Renato Russo, estabelece um diálogo com o poema “O amor é fogo que</p><p>arde sem se ver”, de Camões, e com fragmentos da Bíblia. O filme “O</p><p>Vestido”, de Paulo Thiago, apresenta uma leitura do poema “O Caso do</p><p>vestido”, de Carlos Drummond de Andrade. Outro filme importante é</p><p>“Outras histórias”, de Pedro Bial, em que ocorre também uma releitura de</p><p>contos do livro Primeiras histórias, de Guimarães Rosa.</p><p>Figura 1: La Gioconda (Mona Lisa)</p><p>Leonardo da Vinci (1503-06)</p><p>Fonte: arte.laguia2000.com</p><p>Figura 2: L.H.O.O.Q. - Marcel</p><p>Duchamp - 1919</p><p>Fonte: www.exibart.com</p><p>484</p><p>Introdução à Teoria da Literatura UAB/Unimontes</p><p>Caro aluno, você encontrará vários filmes que apresentam</p><p>releituras de obras literárias; diante disso, é preciso ter clareza que, quase</p><p>sempre, os filmes e as novelas criadas a partir dos textos literários se</p><p>distanciam dos textos originais, pois os cineastas ou autores de telenovelas</p><p>fazem sua leitura da obra original e produzem um “novo” texto destinado a</p><p>um outro tipo de público, muitas vezes distante culturalmente e</p><p>historicamente do público ao qual a obra foi destinada primeiramente.</p><p>A passagem de um sistema de significantes a outro é um trabalho</p><p>intertextual nomeado como “verbalização” por Laurent Jenny; também</p><p>pode ser encontrado constantemente em nossos escritores. O poeta Carlos</p><p>Drummond de Andrade na série “Arte em exposição”, do livro Farewell</p><p>(1996), conseguiu escrever trinta e três poemas a partir de telas de</p><p>importantes pintores. Em pequenas composições apresenta uma síntese</p><p>de cada tela para o seu leitor. Tem-se, assim, um processo intertextual no</p><p>trabalho realizado pelo poeta mineiro. Veja a seguir como no poema “O</p><p>grito” Drummond faz uma leitura da tela de Munch:</p><p>Texto I</p><p>Texto II</p><p>DICAS</p><p>Você pode ler todos os</p><p>poemas da série “Arte em</p><p>exposição”, do livro</p><p>Farewell, de Carlos</p><p>Drummond. Após a leitura</p><p>dos poemas faça uma</p><p>pesquisa sobre todas as</p><p>telas, em sites da internet,</p><p>e vá ao Ambiente de</p><p>Aprendizagem e discuta</p><p>com seu professor e</p><p>colegas.</p><p>DICAS</p><p>.Vá ao Ambiente de</p><p>Aprendizagem e discuta</p><p>com seu professor o poma</p><p>de Drummond e a tela de</p><p>Munch.</p><p>Fonte: interimbelgrado.blogspot.com</p><p>Figura O Grito. Edvard MUNCH (1893)</p><p>O GRITO</p><p>(Munch)</p><p>A natureza grita, apavorante.</p><p>Doem os ouvidos, dói o quadro.</p><p>(ANDRADE, 2002, p.1400).</p><p>485</p><p>Letras/Português Caderno Didático - 1º Período</p><p>VÍDEOS SUGERIDOS PARA DEBATE</p><p>ANDRADE, Carlos Drummond de. Poesia Completa. Rio de Janeiro:</p><p>Nova Aguilar, 2002.</p><p>AGUIAR e SILVA, Vitor Manuel. Teoria da literatura. 4. ed. Coimbra:</p><p>Almedina, 1982.</p><p>ASSIS, José Maria Machado de. Missa do galo: variações sobre o mesmo</p><p>tema. Rio de Janeiro: José Olympio, 2008.</p><p>BAKHTIN, Mikhail. Problemas da poética de Dostoievski. Tradução de</p><p>Paulo Bezerra. 2. ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1997.</p><p>FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo Aurélio Século XXI: o</p><p>dicionário da língua portuguesa. 3. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira,</p><p>1999.</p><p>JENNY, Laurent. A estratégia da forma. In: Intertextualidades. “Poétique”:</p><p>revista de teoria e análise literárias. Trad. Clara Crabbé Rocha. Coimbra,</p><p>Almedina, 1979. n. 27.</p><p>KRISTEVA, Júlia. A palavra, o diálogo e o romance. In: Semiótica do</p><p>romance. Lisboa: Arcádia, 1967.</p><p>MENDES, Nancy Maria. Intertextualidades: noções básicas. In:</p><p>PAULINO, Graça; WALTY, Ivete. Teoria da Literatura na Escola. Belo</p><p>Horizonte: Editora Lê, 1994.</p><p>PERRONE-MOISÉS, Leyla. Inútil Poesia: e outros ensaios breves. São</p><p>Paulo: Companhia das Letras, 2000.</p><p>PERRONE-MOISÉS, Leyla. Texto, crítica, escritura. 3. ed. São Paulo:</p><p>Companhia das Letras, 2005.</p><p>SABINO, Fernando. O grande Mentecapto. 71. ed. Rio de Janeiro:</p><p>Record, 2008.</p><p>Assista aos filmes: “O Vestido”, de Paulo Thiago, “Outras</p><p>histórias”, de Pedro Bial, “Dom” (baseado no romance Dom Casmurro, de</p><p>Machado de Assis) e “A cartomante” que também é baseado no conto “A</p><p>cartomante”, de Machado.</p><p>REFERÊNCIAS</p><p>DICAS</p><p>Leitura dos contos “Missa</p><p>do Galo”, de Machado de</p><p>Assis, e “Missa do galo”, de</p><p>Lygia Fagundes Telles. O</p><p>texto de Lygia está no livro</p><p>Missa do galo: variações</p><p>sobre o mesmo tema – vide</p><p>ASSIS (2008) nas</p><p>referências – que traz</p><p>outras releituras do mesmo</p><p>conto de Machado,</p><p>efetuadas por outros</p><p>autores. Vale a pena lê-los</p><p>também, observando o que</p><p>cada escritor repetiu e</p><p>inovou no momento em</p><p>que faz uma releitura de</p><p>um texto escrito no século</p><p>XIX. Outras sugestões de</p><p>leituras de contos,</p><p>romances e poemas: “O</p><p>espelho”, de Machado de</p><p>Assis, e “O espelho”, de</p><p>Guimarães Rosa. O</p><p>romance Dom Casmurro,</p><p>de Machado de Assis, e</p><p>Amor de Capitu, de</p><p>Fernando Sabino. Esaú e</p><p>Jacó, de Machado de Assis,</p><p>e Dois irmãos, de Milton</p><p>Hatoum. Essas leituras</p><p>sugeridas poderão ampliar</p><p>seu horizonte, contribuindo</p><p>para sua formação</p><p>acadêmica.</p><p>486</p><p>Introdução à Teoria da Literatura UAB/Unimontes5UNIDADE 5</p><p>A NARRATIVA: A FIXAÇÃO DAS FORMAS E SUAS MUTAÇÕES</p><p>Nesta última unidade de nossa disciplina estudaremos a narrativa</p><p>literária. Nosso objetivo neste módulo é discutir os tipos de narrativas, tais</p><p>como: a epopéia, o romance, o conto, a novela e a crônica. Para o estudo</p><p>da narrativa é preciso levar em conta os conceitos de gênero, por isso, em</p><p>nosso estudo, trataremos também da conceituação do gênero narrativo e</p><p>das suas transformações ao longo da história literária.</p><p>5.1 A NARRATIVA EM POESIA: ESTUDO DO POEMA ÉPICO</p><p>Nesta subunidade, trataremos do poema épico. Estamos</p><p>acostumados a relacionar o gênero narrativo aos textos em prosa, porém,</p><p>em seus primórdios, por volta dos séculos IX e VIII a.C., é na forma poética</p><p>que a narrativa surge no corpo dos poemas épicos homéricos Ilíada e</p><p>Odisséia, primorosos entrelaces de relatos míticos, lendas, rituais de</p><p>fertilidade e contos populares, aventuras exemplares das paixões, amores</p><p>e lutas pelo poder entre deuses, titãs, semideuses, ciclopes, demônios e</p><p>seres humanos elevados à glória por meio de feitos heróicos.</p><p>O poema épico tem raízes no mytho, forma antiga de</p><p>narrativa originada nas tradições rituais sacra e popular de</p><p>determinado grupo ou povo ágrafo, que confiava a guarda</p><p>de seu passado à Memória (Mnemosyne), individual e</p><p>coletiva, histórias difundidas através de inspiradas palavras</p><p>cantadas (Musas) pelos poetas anônimos, que percorriam</p><p>o mundo então conhecido à volta do mar mediterrâneo.</p><p>Nesta comunidade agrícola e pastoril anterior à</p><p>constituição da pólis e a adoção do alfabeto, o aedo (i.e., o</p><p>poeta-cantor) representa o máximo poder da tecnologia de</p><p>comunicação. Toda a visão de mundo e consciência de sua</p><p>própria história (sagrada e/ou exemplar) é, para este grupo</p><p>social, conservada e transmitida pelo canto do poeta.</p><p>(TORRANO, 1995, p. 16).</p><p>Terá sido Homero um desses poetas mendicantes, que, cego,</p><p>viveu entre os séculos IX e VIII a.C.? Não se sabe ao certo. Como querem</p><p>alguns estudiosos, Homero talvez sequer tenha realmente existido. Mas</p><p>Aristóteles tecera elogios a ele: “Homero, merecedor de louvores por</p><p>tantos outros títulos, é, ainda, o único poeta que não ignora o que deve</p><p>fazer em seu próprio nome. O poeta deve falar em seu nome o menos</p><p>possível, pois não é nesse sentido que é um imitador.” (ARISTÓTELES,</p><p>1995, p. 47).</p><p>Aqui nos interessa destacar é o que quase todos os estudos</p><p>confirmam: na formação arcaica da poesia épica grega convergiram</p><p>diversos cantos até então submersos na memória e no imaginário daquelas</p><p>gentes, transmitidos por aquele que detinha um efetivo poder, o poeta. Ele,</p><p>com seu canto, ultrapassava todas as distâncias espaciais e temporais,</p><p>chegando inclusive a superar o poder dos basileîs (reis e nobres locais).</p><p>487</p><p>Essa extrema importância que se confere ao poeta e à poesia</p><p>repousa em parte no fato de o poeta ser, dentro das perspectivas de</p><p>uma cultura oral, um cultor da Memória (no sentido religioso e no da</p><p>eficiência prática), e em parte no imenso poder que os povos ágrafos</p><p>sentem na força da palavra e que a adoção do alfabeto solapou até</p><p>quase destruir. (TORRANO, 1995, p. 17).</p><p>Apesar da densa sedimentação lentamente depositada no fundo que se</p><p>convencionou chamar tradição, é certo que as narrativas orais sofreram</p><p>necessária reelaboração no processo de sua cristalização na forma escrita, o que</p><p>resultou na transposição dos mitos primitivos em mitos literários. (cf. BRUNEL,</p><p>1998, p. 730-5). Também para Sérgio Motta, “a síntese épica possibilitou a união</p><p>da esfera da existência à esfera da arte” (MOTTA, 2008, p. 29).</p><p>Na Poética, Aristóteles afirma que a epopéia, o poema trágico, a</p><p>comédia e o ditirambo diferem entre si, pois “imitam ou por meios diferentes, ou</p><p>objetos diferentes, ou de maneira diferente e não a mesma.” (ARISTÓTELES,</p><p>1995, p. 19). Assim, embora busque estabelecer as diferenças entre estas</p><p>modalidades, Aristóteles associa todas elas à imitação, dado que imitar “é natural</p><p>ao homem desde a infância” e “todos [os homens] têm prazer em imitar”</p><p>(ARISTÓTELES, 1995, p. 21-2).</p><p>Este é, portanto, um dos principais atributos da arte poética, que difere</p><p>da atividade do historiador, já que “a obra do poeta não consiste em contar o que</p><p>aconteceu, mas sim coisas quais podiam acontecer, possíveis no ponto de vista da</p><p>verossimilhança ou da necessidade”. (ARISTÓTELES, 1995, p. 28).</p><p>Há, no entanto, distinção entre as imitações realizadas nas diferentes</p><p>espécies da poesia. A imitação efetuada por personagens em ação é própria do</p><p>drama (tragédia e comédia), e, conforme assinala Platão no livro III d'A República</p><p>(1999, p. 86), na epopéia ocorre tanto imitação quanto “narração pelo próprio</p><p>poeta”.</p><p>Segundo Gérard Genette, há três distintas acepções para o termo</p><p>narrativa:</p><p>?“designa o enunciado narrativo, o discurso oral ou escrito que</p><p>assume a relação de um acontecimento ou de uma série de acontecimentos”;</p><p>?“designa a sucessão de acontecimentos, reais ou fictícios, que</p><p>constituem o objecto desse discurso e as suas diversas relações de</p><p>encadeamento, de oposição, de repetição, etc.”; e</p><p>?“designa, ainda, um acontecimento: já não, todavia, aquele que se</p><p>conta, mas aquele que consiste em que alguém conte alguma coisa: o acto de</p><p>narrar tomado em si mesmo.” (GENNETE, 1979, p. 23-4).</p><p>No primeiro sentido destacado por Genette, o mais famoso poema épico</p><p>da língua portuguesa, Os lusíadas, é um adequado exemplo, já que</p><p>consiste num</p><p>discurso escrito que se propõe a narrar a viagem de Vasco da Gama às Índias, ou</p><p>seja, fazer o relato de “uma série de acontecimentos”.</p><p>Letras/Português Caderno Didático - 1º Período</p><p>A própria sucessão dos acontecimentos que a partir dessa primeira</p><p>estância vem encadeada por Camões exemplifica a segunda acepção de</p><p>narrativa segundo Genette.</p><p>Para o terceiro tipo de narrativa acima aludido, é exemplar a</p><p>estância 3 do Canto III d'Os lusíadas, quando Vasco da Gama, atendendo</p><p>à solicitação do rei de Melinde, passa a narrar a história e os feitos de</p><p>Portugal, ou seja, “consiste em que alguém conte alguma coisa: o acto de</p><p>narrar tomado em si mesmo”.</p><p>5.2 A NARRATIVA EM PROSA: O ROMANCE, O CONTO, A NOVELA</p><p>E A CRÔNICA</p><p>Na presente subunidade, faremos a exposição de características</p><p>diferenciais entre o romance, o conto, a novela e a crônica. Nestes tempos</p><p>ditos pós-modernos, é evidente que a consideração do hibridismo não se</p><p>restringe ao estudo das identidades culturais, penetra decisivamente em</p><p>As armas e os barões assinalados,</p><p>Que, da occidental praia lusitana,</p><p>Por mares nunca de antes navegados,</p><p>Passaram ainda além da Taprobana,</p><p>Em perigos e guerras esforçados</p><p>Mais do que prometia a força humana,</p><p>E entre gente remota edificaram</p><p>Novo reino, que tanto sublimaram;</p><p>(CAMÕES, 1999, p. 79).</p><p>488</p><p>Introdução à Teoria da Literatura UAB/Unimontes</p><p>Promptos estavam todos escuitando</p><p>O que o sublime Gama contaria;</p><p>Quando, despois de um pouco estar</p><p>cuidando,</p><p>Alevantando o rosto, assi dizia:</p><p>- Mandas-me, ó rei, que conte</p><p>declarando</p><p>De minha gente a grão genealogia,</p><p>Não me mandas contar estranha</p><p>história,</p><p>Mas mandas-me louvar dos meus a</p><p>glória.</p><p>(CAMÕES, 1999, p. 94).</p><p>DICAS</p><p>.ler n'Os lusíadas (Canto III,</p><p>estâncias 118 a 135) o</p><p>episódio de Inês de Castro,</p><p>aquela “que depois de ser</p><p>morta foi rainha”, e</p><p>identificar as acepções</p><p>narrativas que nesse</p><p>conjunto de estâncias</p><p>aparecem.</p><p>489</p><p>Letras/Português Caderno Didático - 1º Período</p><p>outros campos das contraditórias relações sociais e culturais do iniciante</p><p>século XXI. No âmbito dos estudos dos gêneros literários, o caráter híbrido</p><p>destes foi identificado já pelos românticos. Victor Hugo, no seu famoso</p><p>prefácio para a obra Cromwell, “[...] condena a regra da unidade de tom e</p><p>a pureza dos gêneros literários em nome da própria vida, de que a arte deve</p><p>ser a expressão” (AGUIAR E SILVA, 1976, p. 216).</p><p>Assim, embora conscientes de que o estabelecimento de</p><p>diferenciações entre os gêneros literários seja deveras complicado e, no</p><p>mais das vezes, inadequado, será necessário aqui neste nosso estudo</p><p>minimamente apresentar as partimentações da narrativa em prosa nas</p><p>formas de romance, conto, novela e crônica. É o que intentaremos fazer</p><p>nas subunidades a seguir.</p><p>a) O Romance: a Forma e suas Transformações</p><p>Vitor Manuel de Aguiar e Silva, na abertura do capítulo 10 de sua</p><p>teoria da literatura, por inteiro dedicado ao gênero de maior relevância no</p><p>atual sistema literário, assim diz: “Na evolução das formas literárias,</p><p>durante os últimos três séculos, avulta como fenômeno de capital</p><p>magnitude o desenvolvimento e a crescente importância do romance”. E</p><p>acrescenta ao final do mesmo parágrafo: “O romancista, de autor pouco</p><p>considerado na república das Letras, transformou-se num escritor</p><p>prestigiado em extremo, dispondo de um público vastíssimo e exercendo</p><p>uma poderosa influência nos seus leitores”. (AGUIAR E SILVA, 1982, p.</p><p>639).</p><p>Forma literária moderna, antes de ganhar significado literário, na</p><p>Idade Média o vocábulo romance designava “língua vulgar, a língua</p><p>românica que, embora resultado de uma transformação do latim, se</p><p>apresentava já bem diferente em relação a este idioma” (AGUIAR E SILVA,</p><p>1982, p. 640). Posteriormente, composições em versos de cunho narrativo</p><p>em língua vulgar iriam receber a mesma denominação.</p><p>Embora Aguiar e Silva afirme que “o romance não tem</p><p>verdadeiras raízes greco-latinas”, outros autores entendem diferente. Para</p><p>Massaud Moisés (2000, p. 159), “como decorrência, a epopéia,</p><p>considerada, na linha da tradição aristotélica, a mais elevada expressão de</p><p>arte, cede lugar a uma forma burguesa: o romance” (AGUIAR E SILVA,</p><p>1982, p. 640). E Sergio Motta afirma:</p><p>A ficção grega entra [...] como formadora de um padrão</p><p>narrativo idealizante, enquadrada no formato da estória</p><p>romanesca, cujo elo embrionário se forjou, ainda num</p><p>período não literário, durante a passagem do mito à lenda e</p><p>conto popular, propagando-se a partir do período literário</p><p>da narrativa em prosa grega, em duas grandes</p><p>ramificações medievais: a forma secular das histórias de</p><p>cavalaria e paladinismo e a forma religiosa das lendas dos</p><p>santos. Por ser idealizante, e, portanto, assentada sobre um</p><p>modelo de personagem marcada por uma determinação e</p><p>integridade indestrutíveis na busca do seu ideal [o herói], a</p><p>490</p><p>Introdução à Teoria da Literatura UAB/Unimontes</p><p>ficção grega funcionará como fonte paradigmática, por</p><p>representar a consolidação da narrativa ficcional em prosa,</p><p>no Ocidente, e expressar as bases matriciais de um padrão</p><p>romântico de narrativa –busca, fatores reaproveitados,</p><p>depois, pela forma emergente do romance. (MOTTA,</p><p>2006, p.109).</p><p>Com o advento do Dom Quixote (1605), de Miguel de Cervantes,</p><p>o modelo idealizado do herói conhecerá sua mais famosa paródia, mescla</p><p>de ironia e sátira em inversão picaresca, que cede passagem ao tipo do</p><p>anti-herói já esboçado em Vida de Lazarillo de Tormes (1554), de autor</p><p>anônimo, e Vida de Guzmán de Alfarache (1559-1604), de Mateo</p><p>Alemán. A importância dessa personagem é realçada na citação a seguir:</p><p>O pícaro, pela sua origem, pela sua natureza e pelo seu</p><p>comportamento, é um anti-herói, um eversor dos mitos</p><p>heróicos e épicos, que anuncia uma nova época e uma</p><p>nova mentalidade – época e mentalidade refractárias à</p><p>representação artística operada através da epopéia ou da</p><p>tragédia. Através de sua rebeldia, do seu conflito radical</p><p>com a sociedade, o pícaro afirma-se como um indivíduo</p><p>que tem consciência da legitimidade da sua oposição ao</p><p>mundo e que ousa considerar, em desafio aos cânones</p><p>dominantes, a sua vida mesquinha e reles como digna de</p><p>ser narrada. Ora o romance moderno é indissociável desta</p><p>confrontação do indivíduo, bem consciente do carácter</p><p>legítimo da sua autonomia, com o mundo que o rodeia</p><p>(AGUIAR E SILVA, 1982, p. 645).</p><p>A partir de então ampliar-se-iam as “possibilidades combinatórias</p><p>numa gama de associações com a forma romance” (MOTTA, 2006,</p><p>p.109). No entanto, a predominância da estética clássica até o século</p><p>XVIII refutará com desprezo o desprestigiado romance, de carater</p><p>fabuloso e inverossímil, literatura ao gosto das mulheres e dos ignorantes.</p><p>Dessas suas características primárias, o romance irá aos poucos se</p><p>transformando, e, mais que somente contar uma história, passará a</p><p>observar e analisar as paixões e sentimentos humanos em suas</p><p>manifestações exteriores e psicológicas, satirizar a sociedade e a política,</p><p>ou mesmo prestar-se a elucubrações filosóficas.</p><p>O avanço social da burguesia e o crescimento do público leitor</p><p>combinaram muito bem com o novo momento dessa narrativa, que resulta</p><p>no incremento da atividade editorial, que facilita a entrada de novos</p><p>autores e obras no mercado dos livros, nem sempre de bom gosto ou</p><p>qualidade. Surge também a publicação seriada dos romances em</p><p>folhetins. O abandono das rígidas regras da antiguidade clássica facilita a</p><p>hibridização dos gêneros, e a sensibilidade um tanto quanto melancólica e</p><p>desiludida do homem europeu no início do século XIX busca escape no</p><p>exótico, no terror, no tétrico e no melodrama.</p><p>Em meados do século XIX, Gustave Flaubert eleva a lapidação</p><p>narrativa a um grau dificilmente alcançado, com o desvelamento dos</p><p>processos mentais, labirínticos e íntimos de sua famosa personagem</p><p>madame Bovary, no confronto com a dura realidade. Os tempos já</p><p>491</p><p>Letras/Português Caderno Didático - 1º Período</p><p>anunciam o fim do Romantismo, substituído pelo Realismo e Naturalismo</p><p>na segunda metade do século XIX, que trariam para dentro da literatura os</p><p>estudos científicos dos condicionamentos e determinismos morais,</p><p>biológicos e sociais. (cf. AGUIAR E SILVA, 1982, p. 646-652). Nas</p><p>décadas finais do século XIX, o romance já havia se consolidado como</p><p>principal gênero narrativo das artes literárias.</p><p>Especificar e descrever os diversos aspectos característicos do</p><p>gênero romance seria material para um longo estudo. Na Teoria da</p><p>Literatura de Aguiar e Silva, que consta da bibliografia básica, há um</p><p>desenvolvimento bastante alentado iniciado pela apresentação da</p><p>classificação tipológica do romance, no qual se destacam: romance de</p><p>ação ou de acontecimento, romance de personagem e romance de</p><p>espaço. Em seguida, Aguiar e Silva estuda a personagem no romance: “a</p><p>personagem constitui um elemento indispensável da narrativa romanesca.</p><p>Sem personagem, ou pelo menos sem agente, como observa Roland</p><p>Barthes, não existe verdadeiramente narrativa”, e comenta, na seqüência,</p><p>que, “dentre as personagens possíveis de um romance, há uma que se</p><p>particulariza pelo seu estatuto e pelas suas funções no processo narrativo e</p><p>na estruturação do texto – o narrador.” (AGUIAR E SILVA, 1982, p. 652-</p><p>665).</p><p>O narratário, a personagem como protagonista ou herói e o</p><p>retrato da personagem são ainda outros tópicos abordados antes de</p><p>apresentar a teoria de E. M. Foster quanto às personagens “planas” e</p><p>“redondas”:</p><p>As personagens desenhadas [ou planas] são definidas</p><p>linearmente apenas por um traço, por um elemento</p><p>característico básico que as acompanha durante o texto.</p><p>Esta espécie de personagem tende frequentemente para a</p><p>caricatura e apresenta muitas vezes uma natureza cómica</p><p>ou humorística.[...]</p><p>As personagens modeladas [ou redondas], pelo contrário,</p><p>oferecem uma complexidade muito acentuada e o</p><p>romancista tem de lhes consagrar uma atenção vigilante,</p><p>esforçando-se por caracterizá-las sob diversos aspectos. Ao</p><p>traço recorrente próprio das personagens planas,</p><p>corresponde a multiplicidade de traços peculiares das</p><p>personagens redondas.(AGUIAR E SILVA, 1982, p. 677-</p><p>678).</p><p>Sempre a estudar o romance no capítulo 10, Vitor Manuel de</p><p>Aguiar e Silva apresenta também o conceito de diegese e discurso</p><p>narrativo: “Se entendemos por diegese o significado do texto narrativo</p><p>literário, torna-se óbvio que a diegese de um romance abrange</p><p>personagens, eventos, objectos, um contexto temporal e um contexto</p><p>espacial” (AGUIAR E SILVA, 1982, p. 687). A seguir, empreende o estudo</p><p>da sintaxe da diegese, na qual nos é dado a conhecer os conceitos para</p><p>romance fechado e romance aberto. Consciente de que “no texto do</p><p>romance, parte importante da informação sobre as personagens, os</p><p>objectos, o espaço e o tempo em que decorrem os eventos, é construída e</p><p>492</p><p>Introdução à Teoria da Literatura UAB/Unimontes</p><p>transmitida por descrições”, Aguiar e Silva afirma: “com efeito, a descrição</p><p>é um elemento textual privilegiado de que o narrador dispõe para produzir</p><p>o 'efeito de real' a que se refere Barthes” (AGUIAR E SILVA, 1982, p. 710).</p><p>O tempo no romance também merece estudo: “A diegese, como</p><p>sucessão de eventos, comportando um 'antes', um 'agora' e um 'depois', é</p><p>inconcebível fora do fluxo do tempo”. A voz do narrador então é trazida a</p><p>destaque e recebe classificação para cada tipo de narrador:</p><p>heterodiegético, homodiegético, autodiegético, extradiegético e</p><p>intradiegético. Assim também ocorre com a focalização, ponto de vista ou</p><p>foco narrativo, que “compreende as relações que o narrador mantém com</p><p>o universo diegético e também com o leitor (implícito, ideal e empírico)”. E</p><p>na sequência são especificados os tipos de focos narrativos em relação à</p><p>diegese do texto. (AGUIAR E SILVA, 1982, p.713-754)</p><p>Portanto, o plano de estudo do romance apresentado por Aguiar e</p><p>Silva merece atenção especial dos estudantes de Letras, já que os</p><p>conceitos estudados por ele em sua obra Teoria literária servirão como</p><p>importantes ferramentas teóricas para a abordagem crítica de todas as</p><p>outras modalidades narrativas.</p><p>b) O Conto</p><p>Em entrevista a Ernesto Bermejo, Julio Cortázar compara o conto</p><p>a uma esfera: “É uma coisa que tem um ciclo perfeito e implacável. Uma</p><p>coisa que começa e termina tão satisfatoriamente como uma esfera:</p><p>nenhuma molécula pode estar fora de seus limites precisos” (BERMEJO,</p><p>2002, 28).</p><p>Como vimos na unidade 5.1 – A Narrativa em Poesia: Estudo do</p><p>Poema Épico, as lendas e contos populares estão mesmo nas raízes da</p><p>narrativa épica, ligando-se, portanto, direta ou indiretamente aos mitos e</p><p>ritos sacros e de fertilidade. Apesar de algumas teorias buscarem explicar a</p><p>gênese do conto numa só tradição, como queria os irmãos Wilhelm e Jacob</p><p>Grimm, que a vinculam à corrente indo-européia, a teoria mais aceita hoje</p><p>em dia é a de que a narrativa curta está na formação de quase todas as</p><p>tradições culturais do Ocidente e do Oriente. (MOISÉS, 2000, p. 32).</p><p>Com inconteste presença na formação literária, desde os</p><p>primórdios imemoriais, a estrutura do conto se apresentou menos</p><p>rebuscada, mais aberta e com maior mobilidade, tendente assim a uma</p><p>maior simplicidade, o que o diferenciava da grande arte literária e o ligava</p><p>mais ao folclore, às histórias exemplares e às lendas populares. Essa</p><p>situação perdurou até fins da Idade Média, quando paulatinamente o</p><p>conto vai assumindo papel importante no âmbito do Império Carolíngio,</p><p>mais precisamente nos relatos denominados canções de gesta, anônimas</p><p>narrativas, inicialmente de tradição oral, mas que vão aos poucos</p><p>consolidando em textos escritos as aventuras das cortes do rei Arthur e do</p><p>período Carolíngio. Chanson de Roland (Canção de Rolando), de 1100, é</p><p>um dos textos mais conhecidos.</p><p>GLOSSÁRIO</p><p>Canção de gesta: cantada,</p><p>“a canção de gesta ocupa-</p><p>se da empresa ou das</p><p>façanhas de um herói que</p><p>personifica uma acção</p><p>colectiva, enraizada na</p><p>memória de uma</p><p>comunidade” (AGUIAR E</p><p>SILVA, 1982, p. 640-1).</p><p>DICAS</p><p>.Assista ao Filme “Lancelot:</p><p>o primeiro cavaleiro”, de</p><p>Jerry Zucker. Vá ao</p><p>Ambiente de Aprendizagem</p><p>e discuta com seus colegas.</p><p>C</p><p>A</p><p>B</p><p>F</p><p>EG</p><p>493</p><p>Letras/Português Caderno Didático - 1º Período</p><p>Com o avanço da era Moderna, diversos escritores adotaram</p><p>seriamente a narrativa curta. Principalmente a partir dos séculos XVIII e</p><p>XIX, o conto passa a ser um dos gêneros mais cultuados, embora sem o</p><p>alcance da presença e influência do romance.</p><p>Cortazar considera o conto um gênero quase indefinível, mais</p><p>próximo da poesia que do romance. Nas suas palavras, “(...) esse gênero</p><p>de tão difícil definição, tão esquivo nos seus múltiplos e antagônicos</p><p>aspectos, e, em última análise, tão secreto e voltado para si mesmo,</p><p>caracol da linguagem, irmão misterioso da poesia em outra dimensão do</p><p>tempo literário”. (PACIORNIK, 2001, p. 8).</p><p>Massaud Moisés, adepto da normatização modelar dos gêneros,</p><p>afirma que o conto é “uma unidade unívoca, univalente: constitui uma</p><p>unidade dramática, uma célula dramática, visto gravitar ao redor de um só</p><p>conflito, um só drama, uma só ação”. (MOISÉS, 2000, p. 40). No bojo</p><p>dessa unidade, segue-se também a unidade de espaço, de tempo e de</p><p>tom: “os componentes da narrativa obedecem a uma estruturação</p><p>harmoniosa, com o mesmo e único escopo, o de provocar no leitor uma só</p><p>impressão, seja de pavor, piedade, ódio, simpatia, ternura, indiferença,</p><p>etc., seja o seu contrário”. (MOISÉS, 2000, p. 44-5).</p><p>Reagindo às tentativas de diferenciação dos gêneros, Victor</p><p>Hugo, no seu famoso prefácio para Cromwell, “[...] condena a regra da</p><p>unidade de tom e a pureza dos gêneros literários em nome da própria vida,</p><p>de que a arte deve ser a expressão” (AGUIAR E SILVA, 1976, p. 216).</p><p>Para exemplificarmos o que foi até aqui apresentado, tomemos</p><p>primeiramente a estrutura de narrativa bastante</p><p>curta do texto reproduzido</p><p>integralmente em unidade anterior deste nosso caderno, o conto “Um</p><p>Apólogo”, de Machado de Assis. Verificaremos ali como rapidamente o</p><p>autor institui um centro de interesse para a narrativa, o diálogo entre a</p><p>agulha e a linha, e, com poucas linhas mais fecha o apólogo sem que falte</p><p>nenhuma informação para a conclusão total da idéia trazida à baila pelo</p><p>texto.</p><p>c) A novela</p><p>Embora da Antigüidade Clássica alguns textos possam ser</p><p>tomados como arquétipos do gênero novela, somente na Idade Média foi</p><p>possível confirmar o surgimento do novo gênero com a profusão de textos</p><p>das canções de gesta e das novelas de cavalaria. Parece ser com a obra</p><p>Decameron, ou Decamerão, de Giovanni Boccaccio (1313-1375), que</p><p>efetivamente se estabelece o arcabouço desse gênero literário. “A novela</p><p>alcançou grande esplendor na literatura italiana do século XIV e XVI,</p><p>adquirindo importância em obras como as anônimas Cent Nouvelles</p><p>nouvelles e o Heptaméron de Margarida de Navarra”. (AGUIAR E SILVA,</p><p>1982, p. 643).</p><p>Enquanto o caráter inverossímel das fábulas e aventuras</p><p>picarescas ainda dominavam a maioria das narrativas em prosa, a novela</p><p>DICAS</p><p>.eia outra vez o conto “Um</p><p>apólogo”. Vá ao Ambiente</p><p>de Aprendizagem e discuta</p><p>com seu professor: o tipo</p><p>de narrador, o ponto de</p><p>vista, os personagens.</p><p>DICAS</p><p>.Ler A metamorfose, de</p><p>Franz Kafka, e elaborar as</p><p>justificativas que confirmam</p><p>esse texto como novela ou</p><p>conto.</p><p>494</p><p>Introdução à Teoria da Literatura UAB/Unimontes</p><p>tendeu mais ao real e transformou-se num “[...] género intermediário que,</p><p>do ponto de vista técnico, pode ser justamente considerado a ponte que</p><p>conduz ao romance moderno”. (AGUIAR E SILVA, 1982, p. 649). Nos</p><p>séculos XVIII e XIX, com o movimento romântico, a novela ganharia</p><p>proeminência e muitos adeptos.</p><p>A necessidade de distingui-la do romance e do conto fez com que</p><p>se buscasse apontar as suas particularidades, porém, dizer simplesmente</p><p>que é uma narrativa ficcional curta não a diferencia do conto, que</p><p>também o é. Assim, para “melhor” definí-la, há a tendência em considerá-</p><p>la uma narrativa de extensão mediana, entre o conto e o romance. É</p><p>evidente que também essa “definição” não resolve o problema, apenas o</p><p>mascara, ao transferir as espeficidades do gênero para o seu número de</p><p>páginas, fora do qual determinado texto não mais seria novela, conto ou</p><p>romance. Já vimos que esse tipo de determinante não é adequado devido</p><p>ao hibridismo dos gêneros.</p><p>No intuito de apontar outras espeficidades desse gênero,</p><p>Massaud Móisés assinala que, ao contrário do que ocorre com o conto, a</p><p>novela apresenta “pluralidade dramática”, ou seja, muitas células de</p><p>ação. Porém, embora cada um dos conflitos introduzidos apresente</p><p>“começo, meio e fim”, ressalva que estes não são inteiramente</p><p>autônomos, pois há intercâmbio entre eles, “num entrelaçamento que</p><p>não pode fragmentar-se” sem que abale toda a estrutura da narrativa</p><p>(MOISÉS, 2000, p. 113-4).</p><p>A essa pluralidade de células dramáticas, “segue-se outra,</p><p>igualmente distinta: a sucessividade”, porém o escritor da novela busca</p><p>manter sem desenlace, pelo menos provisoriamente, as ações</p><p>apresentadas sucessivamente. “É raro que esvazie o recheio dramático</p><p>duma célula antes de prosseguir, pois frustraria a curiosidade do leitor”</p><p>(MOISÉS, 2000, p. 114).</p><p>Quanto ao tempo, é curioso observarmos as seguintes</p><p>afirmativas de Massaud Moisés: “O tempo da novela é o histórico,</p><p>assinalado pelo relógio ou pelo calendário, ou pelas convenções sociais”.</p><p>Quanto à noção de espaço, “inextricavelmente ligada à de tempo,</p><p>acompanha-lhe de perto o desenvolvimento dentro da novela. Como esta</p><p>se organiza em torno de episódios sucessivos, cria-se um dinamismo</p><p>acelerado semelhante à pressa no cinema mudo.” Mais adiante afirmará</p><p>ser o seu ritmo “acelerado, precipitado”. (MOISÉS, 2000, p. 116-7). Fica</p><p>claro nesses trechos a predisposição do teórico para delimitar o gênero,</p><p>embora consciente do risco de criar um estereótipo.</p><p>d) A Crônica</p><p>Originário do “grego chronikós, relativo a tempo (chrónos), pelo</p><p>latim chronica, o vocábulo “crônica” designava, no início da era cristã,</p><p>uma lista ou relação de acontecimentos ordenados segundo a marcha do</p><p>tempo, isto é, em seqüência cronológica”. (MOISÉS, 2001, p. 101).</p><p>DICAS</p><p>faça pesquisa nos jornais</p><p>diários (Estado de Minas, O</p><p>Globo, Hoje em Dia, Folha</p><p>de São Paulo, etc.) e</p><p>identifique pelo menos três</p><p>cronistas atuantes,</p><p>diferenciando-os entre</p><p>cronistas sociais e cronistas</p><p>literários. Leia e analise</p><p>uma crônica literária e leve</p><p>as questões sucitadas no</p><p>texto escolhido para</p><p>discussão no Ambiente de</p><p>Aprendizagem.</p><p>495</p><p>Letras/Português Caderno Didático - 1º Período</p><p>A crônica situa-se entre a história e os anais, já que historicamente</p><p>cumpriu a função de dar conhecimento dos eventos sem a preocupação de</p><p>interpretá-los ou buscar as suas causas. Na Idade Média, aproxima-se da</p><p>historiografia. Com o surgimento da imprensa, aos poucos a crônica passa</p><p>a ter uma presença cada vez mais relevante no dia-a-dia das cidades, papel</p><p>que ainda hoje ocupa, vindo mesmo a se configurar como gênero literário</p><p>a partir do século XIX.</p><p>Há que se diferenciar a crônica literária da crônica social.</p><p>Enquanto esta última se ocupa de simplesmente noticiar os eventos no</p><p>cotidiano de determinado grupo ou estrato social, a crônica literária vai</p><p>além do fato, muitas das vezes ficcionalmente criado pelo cronista, no</p><p>intuito de desentranhar, do evento que destaca, algo que transcenda o</p><p>cotidiano banal das pessoas e apresentá-lo exemplarmente para a reflexão</p><p>de seus leitores. Porém, mais do que uma função exemplar, a crônica</p><p>literária tem finalidade estética, ou seja, busca principalmente oferecer</p><p>uma experiência artística.</p><p>A elocução na crônica é efetuada quase sempre em primeira</p><p>pessoa, sendo que o narrador, como se espera nesse gênero, é quase</p><p>sempre o próprio autor empírico, ou um seu pseudônimo. É que a crônica</p><p>exige essa cumplicidade entre quem assina o texto e aquilo que é narrado</p><p>A crônica no Brasil foi muito cultuada desde o século XIX. Temos</p><p>vários escritores que se destacaram como crônistas, desde Machado de</p><p>Assis e João do Rio a Rubem Braga, Carlos Drummond de Andrade,</p><p>Alcione Araújo, Fernando Veríssimo e Moacyr Scliar, entre tantos outros.</p><p>ARISTÓTELES. “Poética”. In: Aristóteles, Horácio, Longino. A poética</p><p>clássica. Trad. direta do grego e do latim por Jaime Bruna. 6. ed. São</p><p>Paulo: Cultrix, 1995.</p><p>BENJAMIN, Walter. O Narrador. Observações sobre a obra de Nikolai</p><p>Leskow. In: Os Pensadores. São Paulo: Victor Civita, 1980. p.57-74.</p><p>BERMEJO, Ernesto Gonzalez. Conversas com Cortázar. São Paulo: Jorge</p><p>Zahar, 2002.</p><p>BRUNEL, Pierre. Dicionário de mitos literários. Tradução Carlos Sussekind</p><p>et all. 2. ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 1998.</p><p>CAMÕES, Luís de. Os lusíadas. Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército,</p><p>1999.</p><p>GENETTE, Gerard. Discurso da narrativa. Trad. Fernando C. Martins.</p><p>Lisboa: Arcádia, 1979.</p><p>MOISES, Massaud. A criação literária: prosa I. 17. ed. São Paulo: Cultrix,</p><p>2000.</p><p>REFERÊNCIAS</p><p>496</p><p>MOISES, Massaud. A criação literária: prosa II. 17. ed. São Paulo: Cultrix,</p><p>2001.</p><p>MOTTA, Sérgio Vicente. O engenho da narrativa e sua árvore</p><p>genealógica: das origens a Graciliano Ramos e Guimarães Rosa. São</p><p>Paulo: Unesp, 2006.</p><p>PACIORNIK, Celso M. “Nota introdutória”. In: Vários. América. Trad.</p><p>Celso M. Paciornik. São Paulo: Iluminuras, 2001.</p><p>PLATÃO. A República. Trad. Enrico Corvisieri. São Paulo: Nova Cultural,</p><p>1999.</p><p>TORRANO, Jaa. “O Mundo como Função de Musas”. In: HESÍODO.</p><p>Teogonia: a origem dos deuses. Trad. Jaa Torrano. São Paulo: Iluminuras,</p><p>1995.</p><p>Introdução à Teoria da Literatura UAB/Unimontes</p><p>497</p><p>RESUMO</p><p>Caro aluno, é importante que você estude alguns conceitos que</p><p>são básicos na primeira unidade. Por exemplo, você deverá observar</p><p>aspectos que são fundamentais em um discurso literário</p><p>e não literário,</p><p>estabelecer as diferenças entre um texto literário e não literário, levando</p><p>em conta tipos de textos (forma e conteúdo). Na segunda unidade, que</p><p>discute a especificidade do discurso literário, é preciso saber o que é</p><p>literatura, como a literatura se distingue de outros tipos de discurso e</p><p>distinguir o caráter ficcional e não ficcional de um texto. Na quarta</p><p>unidade, você não pode deixar de observar as diferenças básicas entre as</p><p>correntes teóricas, quais as metodologias e teorias que foram utilizadas</p><p>pelos críticos e teóricos para lerem, interpretarem e analisarem uma obra</p><p>literária em diferentes momentos de nossa historiografia. A quarta</p><p>Unidade, que trata do processo intertextual, será muito útil ao longo de sua</p><p>formação de leitor, principalmente porque ela apresenta os conceitos sobre</p><p>o diálogo intertextual que se processa entre obras e autores, você precisa</p><p>ter domínio desses conceitos para saber a diferença entre uma</p><p>intertextualidade explícita e implícita, o trabalho de citação e a relação que</p><p>uma obra estabelece com outras obras e autores. Na quinta unidade, e</p><p>última, que discute a narrativa literária, será necessário que você domine</p><p>os conceitos básicos sobre o gênero narrativo, principalmente em se</p><p>tratando de forma, tipos de narradores, o ponto de vista, o espaço e o</p><p>tempo. É necessário que você consiga estabelecer as diferenças que</p><p>existem entre o romance, o conto, a novela, a epopéia e a crônica.</p><p>499</p><p>REFERÊNCIAS</p><p>BÁSICA</p><p>AUERBACH, Erich. Mimesis. 2. ed. São Paulo: Perspectiva, 1976.</p><p>AGUIAR e SILVA, Vitor Manuel. Teoria da literatura. 4. ed. Coimbra:</p><p>Almedina, 1982.</p><p>LIMA, Luiz Costa. A literatura e o leitor: textos de estética da recepção.</p><p>Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1979.</p><p>COMPLEMENTAR</p><p>ARISTÓTELES, HORÁCIO, LONGINO. A poética clássica. Trad. Jaime</p><p>Bruna. São Paulo: Cultrix/Edusp, 1997.</p><p>ASSIS, Machado de. Ideal do crítico. In: Crônicas – crítica – poesia – teatro.</p><p>Org. Massaud Moisés. São Paulo: Cultrix, 1984.</p><p>BAKHTIN, Mikhail. Problemas da poética de Dostoievski. Trad. Paulo</p><p>Bezerra. 2. ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1997.</p><p>BAKHTIN, Mikhail. Questões de literatura e de estética (a teoria do</p><p>romance). 3. ed. São Paulo: Hucitec/Editora da UNESP, 1993.</p><p>BARTHES, Roland. O prazer do texto. 3. ed. São Paulo: Perspectiva, 2002.</p><p>BARTHES, Roland. “A retórica antiga”. In: COHEN, Jean (Org.) et alii.</p><p>Pesquisas de Retórica. Petrópolis, Vozes, 1975.</p><p>BENJAMIN, Walter. O Narrador. Observações sobre a obra de Nikolai</p><p>Leskow. In: Os Pensadores. São Paulo: Victor Civita, 1980, p. 57-74.</p><p>BERMEJO, Ernesto Gonzalez. Conversas com Cortázar. São Paulo: Jorge</p><p>Zahar, 2002.</p><p>BRUNEL, Pierre. Dicionário de mitos literários. Trad. Carlos Sussekind. 2.</p><p>ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 1998.</p><p>BRIK, Ossip. Ritmo e sintaxe. In: EIKHEMBAUM et alii. Teoria da</p><p>Literatura: Formalistas Russos. Porto Alegre: Globo, 1971.</p><p>CAMÕES, Luís de. Os Lusíadas. Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército,</p><p>1999.</p><p>500</p><p>Introdução à Teoria da Literatura UAB/Unimontes</p><p>CANDIDO, Antonio. A personagem de ficção. 10. ed. São Paulo:</p><p>Perspectiva, 2004.</p><p>CANDIDO, Antonio. Na sala de aula. São Paulo: Ática, 1989.</p><p>CASTRO, Manuel Antônio de. O acontecer poético: a história literária. 2.</p><p>ed. Rio de Janeiro: Antares, 1982.</p><p>COMPANGON, Antoine. O demônio da teoria: literatura e senso comum.</p><p>Belo Horizonte: Ed. UFMG, 1999.</p><p>BERMEJO, Ernesto Gonzalez. Conversas com Cortázar. São Paulo: Jorge</p><p>Zahar, 2002.</p><p>CULLER, Jonathan. Teoria literária: uma introdução. Trad. Sandra</p><p>Vasconcelos. São Paulo: Beca Produções Culturais, 1999.</p><p>ECO, Umberto. Obra aberta. 8. ed. . São Paulo: Perspectiva: 2001.</p><p>EIKENBAUM, B. Sobre a teoria da prosa. In: TOLEDO, Dionísio de Oliveira</p><p>(Org.). Teoria da literatura: formalistas russos. Porto Alegre: Editora Globo,</p><p>1973. p. 157-158.</p><p>FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo Aurélio Século XXI: o</p><p>dicionário da língua portuguesa. 3. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira,</p><p>1999.</p><p>FONSECA, Rubem. Romance negro, Feliz Ano Novo e outros contos. Rio</p><p>de Janeiro: Ediouro, 1996.</p><p>GENETTE, Gerard. Discurso da narrativa. trad. Fernando C. Martins.</p><p>Lisboa: Arcádia, 1979.</p><p>HAMBURGER, Kate. A lógica da criação literária. 2. Ed. Faltou tradutor.</p><p>São Paulo: Perspectiva, 1986.</p><p>JENNY, Laurent. A estratégia da forma. In: Intertextualidades. Poétique:</p><p>revista de teoria e análise literárias. Trad. Clara Crabbé Rocha. Coimbra,</p><p>Almedina, 1979. n. 27.</p><p>KRISTEVA, JÚlia. A palavra, o diálogo e o romance. In: Semiótica do</p><p>romance. Lisboa: Arcádia, 1967.</p><p>LIMA, Luiz Costa (Org.). Teoria da literatura em suas fontes. Rio de</p><p>Janeiro: Francisco Alves, 1983. Vols. 1, 2.</p><p>MENDES, Nancy Maria. Intertextualidades: noções básicas. In: PAULINO,</p><p>Graça; WALTY, Ivete. Teoria da Literatura na Escola. Belo Horizonte:</p><p>Editora Lê, 1994.</p><p>MOISES, Massaud. A criação literária: prosa I. 17. ed. São Paulo: Cultrix,</p><p>2000.</p><p>501</p><p>Letras/Português Caderno Didático - 1º Período</p><p>MOISES, Massaud. A criação literária: prosa II. 17. ed. São Paulo: Cultrix,</p><p>2001.</p><p>MOTTA, Sérgio Vicente. O engenho da narrativa e sua árvore</p><p>genealógica: das origens a Graciliano Ramos e Guimarães Rosa. São</p><p>Paulo: Unesp, 2006.</p><p>PACIORNIK, Celso M. “Nota introdutória”. In: Vários. América. Trad.</p><p>Celso M. Paciornik. São Paulo: Iluminuras, 2001.</p><p>PAREYSON, Luigi. Estética: Teoria da formatividade. Trad. Ephraim</p><p>Ferreira Alves. Petrópolis: Vozes, 1993.</p><p>PERRONE-MOISÉS, Leyla. Altas literaturas: escolha e valor na obra</p><p>crítica de escritores modernos. São Paulo: Companhia das Letras, 1998.</p><p>PERRONE-MOISÉS, Leyla. Inútil Poesia: e outros ensaios breves. São</p><p>Paulo: Companhia das Letras, 2000.</p><p>PERRONE-MOISÉS, Leyla. Texto, crítica, escritura. 3. ed. São Paulo:</p><p>Companhia das Letras, 2005.</p><p>PLATÃO. A República. Trad. Enrico Corvisieri. São Paulo: Nova Cultural,</p><p>1999.</p><p>PLATÃO. Banquete. 5. ed. Trad. José Cavalcante de Souza. São Paulo:</p><p>Editora Nova Cultural. 1991.</p><p>ROSENFELD, Anatol. Estrutura e problemas da obra literária. São Paulo:</p><p>Perspectiva, 1976.</p><p>SABINO, Fernando. O grande Mentecapto. 71. ed. Rio de Janeiro:</p><p>Record, 2008.</p><p>SAMUEL, Rogel (Org.). Manual de teoria literária. Petrópolis: Vozes,</p><p>1985.</p><p>SOUZA, Roberto Acízelo de. Teoria da literatura. 10. ed. São Paulo: Ática,</p><p>2007.</p><p>SOUZA, Roberto Acízelo de. Teoria da literatura. In: JOBIM, José Luís</p><p>(Org.) Palavra da crítica: tendências e conceitos no estudo da literatura.</p><p>Rio de Janeiro: Imago, 1992.</p><p>TORRANO, Jaa. “O Mundo como Função de Musas”. In: HESÍODO.</p><p>Teogonia: a origem dos deuses. Trad. Jaa Torrano. São Paulo: Iluminuras,</p><p>1995.</p><p>TYNIANOV, J. Da Evolução Literária. In: TOLEDO, Dionísio de Oliveira</p><p>(Org.). Teoria da literatura: formalistas russos. Porto Alegre: Editora Globo,</p><p>1973.</p><p>502</p><p>Introdução à Teoria da Literatura UAB/Unimontes</p><p>WELLEK. René., WARREN, Austin. A teoria da literatura. Coimbra:</p><p>Europa América/Biblioteca Universitária, [s.d.].</p><p>ZILBERMAN, Regina. Estética da recepção e história da literatura. São</p><p>Paulo: Ática, 1989.</p><p>SUPLEMENTAR</p><p>ANDRADE, Carlos Drummond de. Poesia Completa. Rio de Janeiro: Nova</p><p>Aguilar, 2002.</p><p>ASSIS, Machado de. Várias histórias. Rio de Janeiro; Belo Horizonte:</p><p>Garnier, 1995.</p><p>ASSIS, Machado de. Missa do galo: variações sobre o mesmo tema. Rio</p><p>de Janeiro: José Olympio, 2008.</p><p>CAMÕES, Luís Vaz de. Sonetos. São Paulo: Martim Claret, 2001.</p><p>COLASANTI, Marina. Um espinho de marfim e outras histórias. Porto</p><p>Alegre: L&PM, 1999.</p><p>DIAS, Gonçalves. Gonçalves Dias. 14. ed. Rio de Janeiro: Agir, 1996.</p><p>LAPORTE, Sílvia. Por trás do olhar de ressaca. Estado de Minas, Caderno</p><p>Feminino & Masculino, Belo Horizonte, domingo, 20 julho 2008, p. 2.</p><p>MEIRELES, Cecília. Romanceiro da Inconfidência. Rio de Janeiro: Nova</p><p>Fronteira, 1989.</p><p>MENDES, Murilo. Poemas (1925-1929). In: Poesia completa e prosa. Rio</p><p>de Janeiro: Nova Aguilar, 1995.</p><p>PESSOA, Fernando. O eu profundo e os outros eus: seleção poética. Rio</p><p>de Janeiro: Nova Fronteira,</p><p>[s.d.].</p><p>PRADO, Adélia. Com licença poética. In: MORICONI, Ítalo. Os cem</p><p>melhores poemas brasileiros do século. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001.</p><p>503</p><p>ATIVIDADES DE</p><p>APRENDIZAGEM</p><p>- AA</p><p>Unidade 1: O Discurso Literário e o Discurso Não literário.</p><p>Leia os textos abaixo e responda às questões 1 e 2.</p><p>Texto I</p><p>Texto II</p><p>Questão 1: Com base nos textos expostos, demonstre a diferença entre</p><p>o discurso literário e o não literário.</p><p>______________________________________________________________</p><p>______________________________________________________________</p><p>______________________________________________________________</p><p>______________________________________________________________</p><p>Para sentir seu leve peso</p><p>Guardava o rouxinol numa caixinha. Tudo o que queria era andar</p><p>com o rouxinol empoleirado no dedo. Mas, se abrisse a caixinha,</p><p>ah! Certamente fugiria.</p><p>Então amorosamente cortou o dedo.</p><p>E, através de uma mínima fresta, o enfiou na caixinha.</p><p>(In: COLASANTI, Marina. Um espinho de Marfim e outras</p><p>histórias. Porto Alegre: L&PM Pocket, 1999, p.13).</p><p>Por trás do olhar de ressaca</p><p>“De Machado de Assis muito já foi dito, e ao longo deste ano, que</p><p>marca o centenário de sua morte, em 29 de setembro de 1908,</p><p>mais ainda se vai falar. Não apenas sobre ele e seu talento como</p><p>escritor, mas também sobre a mais enigmática e discutida</p><p>personagem feminina da literatura brasileira. Prova disso é o livro</p><p>Quem é Capitu?, que acaba de ser lançado pela Nova Fronteira”.</p><p>(LAPORTE, 2008, p. 2).</p><p>504</p><p>Introdução à Teoria da Literatura UAB/Unimontes</p><p>Questão 2: Explique por que o texto I é um texto literário e o texto II não o é.</p><p>Questão 3: No último parágrafo do conto “Um apólogo”, de Machado de</p><p>Assis, ocorre o seguinte comentário: “Também eu tenho servido de agulha</p><p>a muita linha ordinária”. Considerando este fragmento, discuta: a) os</p><p>traços comuns que existem entre a agulha e o professor de melancolia; b) o</p><p>processo metafórico exposto pela narrativa.</p><p>Unidade 2: A Especificidade do Discurso Literário</p><p>Questão 1: O conto “Um apólogo”, de Machado de Assis, apresenta</p><p>alguns elementos que o caracterizam como literário, apresente dois</p><p>elementos que explicitam essa literariedade.</p><p>Questão 2: A partir do seguinte comentário: “a literatura (fronteira entre</p><p>o literário e o não literário) varia consideravelmente segundo as épocas</p><p>e as culturas”, de Antoine Compagnon, discuta: a) o conceito de</p><p>literatura no sentido amplo e restrito; b) os teóricos chegaram a uma</p><p>definição satisfatória sobre o que é o literário? Por quê?</p><p>______________________________________________________________</p><p>______________________________________________________________</p><p>______________________________________________________________</p><p>______________________________________________________________</p><p>______________________________________________________________</p><p>______________________________________________________________</p><p>______________________________________________________________</p><p>______________________________________________________________</p><p>______________________________________________________________</p><p>______________________________________________________________</p><p>______________________________________________________________</p><p>______________________________________________________________</p><p>______________________________________________________________</p><p>______________________________________________________________</p><p>______________________________________________________________</p><p>______________________________________________________________</p><p>Questão 3: Leia o texto que segue:</p><p>Terceiro Diedro</p><p>Girou a chave, abriu a porta. E em vertigem procurou a segurança</p><p>da maçaneta. A sala estava de cabeça para baixo. Entre estuques, o</p><p>lustre florescia erguendo pingentes. As cortinas subiam em direção</p><p>ao tapete. Mesa cadeiras poltronas penduravam-se, tombantes as</p><p>505</p><p>Considerando o conto “Terceiro Diedro”, de Marina Colasanti,</p><p>redija um texto argumentativo em que você discuta os seguintes pontos:</p><p>a) o conceito de “realidade” e “ficcionalidade”; b) o texto literário como</p><p>um “objeto” de prazer, que “seduz o leitor” com o seu conteúdo</p><p>“imaginário”, c) o autor como um “fingidor”.</p><p>Unidade 3: As correntes críticas</p><p>A seguir, apresentaremos uma lira de Marília de Dirceu, de Tomás</p><p>Antônio Gonzaga, que foi escrita no século XVIII (Arcadismo) e um poema</p><p>do Romanceiro da Inconfidência (1953), de Cecília Meireles, poeta do</p><p>Modernismo brasileiro.</p><p>Texto I:</p><p>Lira XXXIV, parte 2, de Marília de Dirceu, de Tomás Antônio Gonzaga:</p><p>franjas do sofá. E o flamboyant do quadro lançava no verde céu sua</p><p>copa de raízes.</p><p>Temeu entrar. Mas, não tendo outra casa que fosse sua, deu um</p><p>passo e fechou a porta. Devagar, a descoberta em cada pé,</p><p>começou a subir pela parede.</p><p>(In: COLASANTI, Marina. Um espinho de Marfim e outras</p><p>Vou-me, ó Bela, deitar na dura cama,</p><p>De quem nem sequer sou o pobre dono;</p><p>Estende sobre mim Morfeu as asas,</p><p>E vem ligeiro o sono.</p><p>Os sonhos, que rodeiam a tarimba,</p><p>Mil cousas vão pintar na minha idéia;</p><p>Não pintam cadafalsos, não, não pintam</p><p>Nenhuma imagem feia.</p><p>Pintam que estou bordando um teu vestido;</p><p>Quer um menino com asas, cego e loiro,</p><p>Me enfia nas agulhas o delgado,</p><p>O brando fio de ouro.</p><p>Pintam que entrando vou na grande Igreja:</p><p>Pintam que as mãos nos damos, e aqui vejo</p><p>Subir-te à branca face a cor mimosa,</p><p>A viva cor do pejo.</p><p>Letras/Português Caderno Didático - 1º Período</p><p>506</p><p>Introdução à Teoria da Literatura UAB/Unimontes</p><p>Pintam que nos conduz doirada sege</p><p>À nossa habitação; que mil amores</p><p>Desfolham sobre o leito as moles folhas</p><p>Das mais cheirosas flores.</p><p>Pintam que dessa terra nos partimos;</p><p>Que os amigos, saudosos e suspensos,</p><p>Apertam, nos inchados, roxos olhos</p><p>Os já molhados lenços.</p><p>Pintam que os mares sulco da Bahia,</p><p>Onde passei a flor da minha idade.</p><p>Que descubro as palmeiras, e em dois bairros</p><p>Partida a grã Cidade.</p><p>Pintam leve escaler, e que na prancha</p><p>O braço já te of´reço, reverente;</p><p>Que te aponta c´o dedo, mal te avista,</p><p>Amontoada gente.</p><p>Aqui, alerta, grita o mau soldado;</p><p>E o outro, alerta estou, lhe diz, gritando.</p><p>Acordo com a bulha, então conheço</p><p>Que estava aqui sonhando.</p><p>Se o meu crime não fosse só de amores,</p><p>A ver-me delinqüente, réu de morte,</p><p>Não sonhara, Marília, só contigo,</p><p>Sonhara de outra sorte.</p><p>(Gonzaga, p. 172- 174).</p><p>507</p><p>Letras/Português Caderno Didático - 1º Período</p><p>Texto II</p><p>“Romance LXX ou Lenço do exílio”, do Romanceiro da Inconfidência, de</p><p>Cecília Meireles:</p><p>Hei de bordar-vos um lenço</p><p>em lembranças destas Minas;</p><p>ramo de saudade, imenso...</p><p>lágrimas bem pequeninas.</p><p>(Aí se ouvísseis o que penso!)</p><p>Ai, se ouvísseis o que digo,</p><p>E entre estas quatro paredes...</p><p>Mas o tempo é vosso, amigo,</p><p>que não ouvis nem me vedes.</p><p>(Minha dor é só comigo.)</p><p>E esta casa é grande e fria,</p><p>com toda a sua nobreza.</p><p>Ai, que outra coisa seria,</p><p>se preso estais, ver-me presa.</p><p>(Porém tudo é covardia.)</p><p>Sei que ireis por esses mares.</p><p>Sonharei vosso degredo,</p><p>sem sair destes lugares,</p><p>por fraqueza, pejo, medo.</p><p>(e imposições familiares)</p><p>Hei de bordar tristemente</p><p>um lenço, com que recordo...</p><p>A dor de vos ter ausente</p><p>muda-se na flor que bordo.</p><p>(Flor de angustiosa semente.)</p><p>(Meireles, 1989, p. 230, 231).</p><p>508</p><p>Introdução à Teoria da Literatura UAB/Unimontes</p><p>Questão 1: A poeta Cecília Meireles, como “leitora” dos poemas de Tomás</p><p>Antônio Gonzaga, “preenche” alguns “vazios” do texto do outro, explique</p><p>como se processa a interação do texto com o leitor e a recepção da obra</p><p>Marília de Dirceu, por Cecília Meireles. Cite dois elementos que foram</p><p>recuperados do texto de Gonzaga por Cecília Meireles.</p><p>Questão 2:</p><p>Faça uma pesquisa nos cadernos que possuem resenhas e estudos críticos</p><p>sobre texto literários dos Jornais Estado de Minas, Folha de São Paulo e O</p><p>Globo. Selecione uma resenha da pesquisa feita em um dos jornais e redija</p><p>um texto em que você</p><p>discuta o método utilizado pelo crítico ao fazer a</p><p>análise do texto literário.</p><p>Questão 3: Com base nos estudos teóricos sobre as correntes críticas,</p><p>apresente as diferenças entre os pressupostos teóricos apresentados pela</p><p>Estética da Recepção e pelo New Criticism para analisarem o texto literário.</p><p>Unidade 4: A intertextualidade: Conceitos Básicos</p><p>Questão 1: Leia os textos abaixo:</p><p>Texto I</p><p>______________________________________________________________</p><p>______________________________________________________________</p><p>______________________________________________________________</p><p>______________________________________________________________</p><p>______________________________________________________________</p><p>______________________________________________________________</p><p>______________________________________________________________</p><p>______________________________________________________________</p><p>______________________________________________________________</p><p>______________________________________________________________</p><p>______________________________________________________________</p><p>______________________________________________________________</p><p>Poema de Sete Faces</p><p>Quando nasci, um anjo torto</p><p>desses que vivem na sombra</p><p>disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida.</p><p>As casas espiam os homens</p><p>que correm atrás de mulheres.</p><p>A tarde talvez fosse azul,</p><p>não houvesse tantos desejos.</p><p>Texto II</p><p>509</p><p>Letras/Português Caderno Didático - 1º Período</p><p>O bonde passa cheio de pernas:</p><p>pernas brancas pretas amarelas.</p><p>Para que tanta perna, meu Deus,</p><p>pergunta meu coração.</p><p>Porém meus olhos</p><p>não perguntam nada.</p><p>O homem atrás do bigode</p><p>é sério, simples e forte.</p><p>Quase não conversa.</p><p>Tem poucos, raros amigos</p><p>o homem atrás dos óculos e do bigode.</p><p>Meu Deus, por que me abandonaste</p><p>se sabias que eu não era Deus</p><p>se sabias que eu sou fraco.</p><p>Mundo mundo vasto mundo,</p><p>se eu me chamasse Raimundo</p><p>seria uma rima, não seria uma</p><p>solução.</p><p>Mundo mundo vasto mundo,</p><p>mais vasto é meu coração.</p><p>Eu não devia te dizer</p><p>mas essa lua</p><p>mas esse conhaque</p><p>botam a gente comovido como o</p><p>diabo.</p><p>(ANDRADE, 2002, p. 05).</p><p>Com Licença Poética</p><p>Quando nasci um anjo esbelto,</p><p>desses que tocam trombeta, anunciou:</p><p>vai carregar bandeira.</p><p>Cargo muito pesado pra mulher,</p><p>sem precisar mentir.</p><p>510</p><p>Introdução à Teoria da Literatura UAB/Unimontes</p><p>Com base nos conceitos da intertextualidade, faça uma análise</p><p>interpretativa dos poemas “Poema de sete faces”, de Carlos Drummond de</p><p>Andrade, e “Com Licença Poética”, de Adélia Prado e responda às</p><p>questões a seguir: a) cite três aspectos do texto “Com licença poética”, que</p><p>demonstram que a poeta estabeleceu um diálogo com o texto de</p><p>Drummond; c) a leitura que Adélia faz do texto de Drummond se processa</p><p>de maneira irônica? Por quê?</p><p>Questão 2: Faça uma análise dos contos: “O espelho”, de Machado de</p><p>Assis, e “O espelho”, de Guimarães Rosa, e redija um texto em que você</p><p>discuta o processo intertextual presente no texto escrito por Guimarães</p><p>Rosa. (texto com 5 linhas)</p><p>______________________________________________________________</p><p>______________________________________________________________</p><p>______________________________________________________________</p><p>______________________________________________________________</p><p>______________________________________________________________</p><p>______________________________________________________________</p><p>______________________________________________________________</p><p>______________________________________________________________</p><p>______________________________________________________________</p><p>______________________________________________________________</p><p>______________________________________________________________</p><p>______________________________________________________________</p><p>Não sou tão feia que não possa casar,</p><p>acho o Rio de Janeiro uma beleza e</p><p>ora sim, ora não, creio em parto sem dor.</p><p>Mas o que sinto escrevo. Cumpro a sina.</p><p>Inauguro linhagens, fundo reinos</p><p>– dor não é amargura.</p><p>Minha tristeza não tem pedigree,</p><p>já a minha vontade de alegria,</p><p>sua raiz vai ao meu mil avô.</p><p>Vai ser coxo na vida é maldição pra homem.</p><p>Mulher é desdobrável. Eu sou.</p><p>(PRADO, 2001, p. 247).</p><p>511</p><p>Letras/Português Caderno Didático - 1º Período</p><p>Questão 3: Leia o texto a seguir:</p><p>Texto I</p><p>Considerando o poema “Tiradentes”, de Carlos Drummond de Andrade,</p><p>cite os elementos que demonstram que o poeta estabeleceu um diálogo</p><p>com a história de Minas Gerais, em especial com a Inconfidência Mineira e</p><p>com as artes plásticas.</p><p>Unidade 5: A narrativa: a fixação das formas e suas mutações</p><p>Questão 1: Por que é pertinente dizermos que a estética clássica até o</p><p>século XVIII refutou o gênero romance?</p><p>Questão 2: As novelas de cavalaria e canções de gesta são fundamentais</p><p>para a concretização dos gêneros narrativos modernos. Quais</p><p>características você pode destacar para confirmar a afirmativa acima?</p><p>Questão 3: Na tentativa de diferenciar conto e novela, Massaud Moisés</p><p>utiliza a unidade célula dramática como um parâmetro válido de</p><p>abordagem dos gêneros. Considerando o argumento de Moisés, quais as</p><p>principais diferenças entre os dois gêneros acima citados no tocante a esse</p><p>conceito?</p><p>______________________________________________________________</p><p>______________________________________________________________</p><p>______________________________________________________________</p><p>______________________________________________________________</p><p>______________________________________________________________</p><p>______________________________________________________________</p><p>______________________________________________________________</p><p>______________________________________________________________</p><p>______________________________________________________________</p><p>______________________________________________________</p><p>______________________________________________________________</p><p>______________________________________________________________</p><p>______________________________________________________________</p><p>TIRADENTES (Portinari)</p><p>Fez-se a burocrática justiça.</p><p>O trono dorme invencível vingado.</p><p>Postas de carne o sonhador</p><p>referem o caminho das minas.</p><p>(ANDRADE, 2002, p.1.401).</p><p>capa 3 com apresentação</p><p>7 Introdução à Leitura</p><p>Página 1</p><p>Página 2</p><p>Página 3</p><p>Página 4</p><p>Página 5</p><p>Página 6</p><p>Página 7</p><p>Página 8</p><p>Página 9</p><p>Página 10</p><p>Página 11</p><p>Página 12</p><p>Página 13</p><p>Página 14</p><p>Página 15</p><p>Página 16</p><p>Página 17</p><p>Página 18</p><p>Página 19</p><p>Página 20</p><p>Página 21</p><p>Página 22</p><p>Página 23</p><p>Página 24</p><p>Página 25</p><p>Página 26</p><p>Página 27</p><p>Página 28</p><p>Página 29</p><p>Página 30</p><p>Página 31</p><p>Página 32</p><p>Página 33</p><p>Página 34</p><p>Página 35</p><p>Página 36</p><p>Página 37</p><p>Página 38</p><p>Página 39</p><p>Página 40</p><p>Página 41</p><p>Página 42</p><p>Página 43</p><p>Página 44</p><p>Página 45</p><p>Página 46</p><p>Página 47</p><p>Página 48</p><p>Página 49</p><p>Página 50</p><p>Página 51</p><p>Página 52</p><p>Página 53</p><p>Página 54</p><p>Página 55</p><p>Página 56</p><p>Página 57</p><p>Página 58</p><p>Página 59</p><p>Página 60</p><p>Página 61</p><p>Página 62</p><p>Página 63</p><p>Página 64</p><p>Página 65</p><p>Página 66</p><p>Página 67</p><p>Página 68</p><p>Página 69</p><p>Página 70</p><p>Página 71</p><p>Página 72</p><p>Página 73</p><p>Página 74</p><p>Página 75</p><p>Página 76</p><p>Página 77</p><p>Página 78</p><p>Página 79</p><p>Página 80</p><p>Página 81</p><p>Página 82</p><p>Página 83</p><p>Página 84</p><p>Página 85</p><p>Página 86</p><p>Página 87</p><p>Página 88</p><p>Página 89</p><p>Página 90</p><p>Página 91</p><p>Página 92</p><p>Página 93</p><p>Página 94</p><p>Página 95</p><p>Página 96</p><p>Página 97</p><p>Página 98</p><p>Página 99</p><p>Página 100</p><p>Página 101</p><p>Página 102</p><p>Página 103</p><p>Página 104</p><p>Página 105</p><p>Página 106</p><p>Página 107</p><p>Página 108</p><p>Página 109</p><p>Página 110</p><p>Página 111</p><p>Página 112</p><p>Página 113</p><p>Página 114</p><p>8 Introdução à Teoria da Literatura</p><p>1: 123</p><p>Página 2</p><p>Página 3</p><p>Página 4</p><p>5: 127</p><p>Página 6</p><p>Página 7</p><p>Página 8</p><p>Página 9</p><p>Página 10</p><p>Página 11</p><p>Página 12</p><p>Página 13</p><p>Página 14</p><p>Página 15</p><p>Página 16</p><p>Página 17</p><p>Página 18</p><p>Página 19</p><p>Página 20</p><p>Página 21</p><p>Página 22</p><p>Página 23</p><p>Página 24</p><p>Página 25</p><p>Página 26</p><p>Página 27</p><p>Página 28</p><p>Página 29</p><p>Página 30</p><p>Página 31</p><p>Página 32</p><p>Página 33</p><p>Página 34</p><p>Página 35</p><p>Página 36</p><p>Página 37</p><p>Página 38</p><p>Página 39</p><p>Página 40</p><p>Página 41</p><p>Página 42</p><p>Página</p><p>43</p><p>Página 44</p><p>Página 45</p><p>Página 46</p><p>Página 47</p><p>Página 48</p><p>Página 49</p><p>Página 50</p><p>Página 51</p><p>Página 52</p><p>Página 53</p><p>Página 54</p><p>Página 55</p><p>Página 56</p><p>Página 57</p><p>Página 58</p><p>Página 59</p><p>Página 60</p><p>Página 61</p><p>Página 62</p><p>Página 63</p><p>Página 64</p><p>Página 65</p><p>Página 66</p><p>Página 67</p><p>Página 68</p><p>Página 69</p><p>Página 70</p><p>pagina branco A4</p><p>Página 1</p><p>contra capa do 1 periodo</p><p>e</p><p>exposição.</p><p>Exemplos de gêneros: telefonema, sermão,</p><p>carta comercial, carta pessoal, romance,</p><p>bilhete, aula expositiva, bula de remédio,</p><p>bate-papo virtual, resenha, piada, etc.</p><p>Quadro 1: relação entre tipo e gênero textual.</p><p>ATIVIDADES</p><p>Vá ao ambiente de</p><p>aprendizagem, acesse o</p><p>fórum de discussão que</p><p>estabelece a</p><p>problematização referente</p><p>à diferença entre Tipo de</p><p>texto e Gêneros Textuais.</p><p>Escreva sua percepção</p><p>acerca do assunto,</p><p>tomando como ponto de</p><p>referência os</p><p>encaminhamentos teóricos</p><p>dados aqui. Faça um</p><p>quadro comparativo, em</p><p>que conste o paralelo entre</p><p>as especificidades sobre os</p><p>Tipos textuais e os Gêneros</p><p>textuais.</p><p>(MOURA, Franscisco, FARACO, Carlos. Linguagem Nova. São Paulo:Ática,p.78,2004.)</p><p>Figura 7</p><p>344</p><p>Introdução à Leitura UAB/Unimontes</p><p>ATIVIDADES</p><p>Redija um parágrafo, em</p><p>que haja o estabelecimento</p><p>da temática abordada na</p><p>tirinha. Para chegar à sua</p><p>compreensão de quais</p><p>aspectos da tirinha você</p><p>teve de levar em</p><p>consideração para construir</p><p>seu sentido? A linguagem</p><p>verbal e a linguagem não-</p><p>verbal requerem o mesmo</p><p>tratamento de análise?</p><p>?Que aspectos verbais o autor utilizou?</p><p>?Quais aspectos não-verbais explicitam os fatos?</p><p>Você deve ter percebido que, a fim de compreender o propósito do</p><p>autor desse gênero textual, recorremos aos aspectos verbais, pois há um</p><p>código linguístico escrito: a notícia do telejornal sobre sequestros à luz do</p><p>dia. Recorremos também a aspectos não-verbais como a placa de</p><p>identificação, a vitrine com vários aparelhos de televisão empilhados, o que</p><p>nos leva a perceber que o grupo de telespectadores está em frente a uma</p><p>loja.</p><p>Outro elemento importante, que auxilia na compreensão global</p><p>do sentido, é a fisionomia dos dois grupos: os sequestradores e os</p><p>telespectadores. Estes estão preocupados, apreensivos com o sequestro</p><p>que está sendo veiculado pela mídia, enquanto os sequestradores agem</p><p>despreocupadamente. Na verdade, toda essa leitura realizada foi possível,</p><p>pois faz parte dos conhecimentos prévios do leitor: como é uma loja, como</p><p>são as pessoas agressivas, apreensivas e até mesmo como é realizado um</p><p>sequestro.</p><p>Fica claro que o plano composicional de determinados gêneros</p><p>textuais exige a habilidade de identificação de conteúdos não-verbais.</p><p>Agora leia a placa:</p><p>?O que ela informa a você?</p><p>Neste gênero textual, placa, notamos a expressividade de</p><p>percepção possibilitada pela linguagem não-verbal. De imediato, notamos</p><p>que é uma placa, tendo em vista o formato das dimensões espaciais, os</p><p>serviços prestados pelo posto, elencados por meio dos símbolos. Aqui</p><p>também você percebe o uso relevante da linguagem não-verbal e nota que</p><p>a relação entre a linguagem verbal e não-verbal não é de transposição de</p><p>um código para o outro.</p><p>Pode-se dizer que a linguagem não-verbal não é um decalque da</p><p>linguagem verbal, pois, tendo em vista as especificidades de cada código,</p><p>notamos um “bloqueio” na relação de transparência entre eles.</p><p>DICAS</p><p>Estudiosos afirmam que</p><p>cerca de dois terços da</p><p>comunicação humana é</p><p>não verbal. Transmitida por</p><p>meio de gestos de mão,</p><p>expressões faciais ou outras</p><p>formas de linguagem.</p><p>Sobre esse assunto leia</p><p>ALVES, Clair. A arte de</p><p>falar bem. Rio de janeiro:</p><p>Vozes, 2005.</p><p>Figura 8</p><p>Fonte: www.logofix.com.br/placas.htm</p><p>345</p><p>Letras/Português Caderno Didático - 1º Período</p><p>Folheie jornais, revistas,</p><p>livros didáticos, etc. e</p><p>observe a recorrente</p><p>presença de charges e /ou</p><p>tirinhas.</p><p>Responda; Você concorda</p><p>que esses gêneros devem</p><p>ser explorados na sala de</p><p>aula para que nossos</p><p>alunos aprendam a lê-los.</p><p>Além do sentido</p><p>humorístico, o que mais</p><p>esses textos informam?</p><p>ATIVIDADES</p><p>Levando em conta o marco teórico postulado por Travaglia (1996,</p><p>p. 110) de que:</p><p>“[...] o que o indivíduo faz ao usar a língua não é tão</p><p>somente traduzir e exteriorizar um pensamento, ou</p><p>transmitir informações a outrem, mas sim realizar ações,</p><p>agir, atuar sobre o interlocutor (ouvinte/leitor)”,</p><p>ressaltamos que a língua figura como um lugar de interação humana</p><p>através da produção de efeitos de sentido entre interlocutores, em uma</p><p>dada situação de comunicação, sendo pertinente a um contexto sócio-</p><p>histórico e ideológico. Nesse sentido, dominar com proficiência os</p><p>aspectos da língua (tomados aqui como o código linguístico) e, sobretudo,</p><p>aplicá-los com destreza textual aos momentos de construção de sentido é</p><p>fator determinante para o pleno êxito da comunicação.</p><p>O gênero textual charge vem sendo bastante explorado pelos</p><p>meios de comunicação virtual e pela imprensa escrita, e, claro está, que a</p><p>aceitação do público parece ser a principal causa da charge estar se</p><p>evidenciando em diversas formas de suporte. A consequência natural é que</p><p>o estudo desse tipo de gênero textual tem requerido uma maior dedicação</p><p>no cenário dos estudos da linguagem.</p><p>Para o leitor assíduo desse gênero é relativamente fácil perceber o</p><p>uso recorrente da produtividade semântica fomentada pelos aspectos</p><p>formais e funcionais do texto que têm como objetivo o desejo de garantir</p><p>o(s) efeito(s) de sentido</p><p>pretendido(s). Como</p><p>neste exemplo:</p><p>Na leitura dessa</p><p>charge e tomando como</p><p>ponto de partida o nível</p><p>linguístico, entendemos o</p><p>enunciado “os zeróis”,</p><p>quando levamos em</p><p>conta que:</p><p>?H á u m</p><p>trocadi lho entre as</p><p>e s t r u t u r a s s ê m i o -</p><p>nar rat ivas “zero” e</p><p>“heróis”.</p><p>?A s</p><p>personagens da charge</p><p>representam uma família</p><p>tipicamente brasileira</p><p>que não possui trabalho,</p><p>o que implica o fato de</p><p>que, provavelmente, eles</p><p>não possuem recursos</p><p>p a r a m a n t e r u m a</p><p>Figura 9</p><p>Fonte: Notas de Aula da disciplina Língua Portuguesa Semântica. 22/5/2007</p><p>346</p><p>Introdução à Leitura UAB/Unimontes</p><p>E</p><p>A</p><p>B G</p><p>GLOSSÁRIO</p><p>F</p><p>C</p><p>Sobredita: dita acima.</p><p>DICAS</p><p>Visite o site:</p><p>http://www.ziraldo.com/con</p><p>versa/home.htm e conheça</p><p>mais sobre a vida e a obra</p><p>desse notável mineiro.</p><p>alimentação de forma digna e saudável, três vezes ao dia, sem precisar de</p><p>ajuda externa.</p><p>?O Governo Federal criou o Ministério Extraordinário de</p><p>Segurança Alimentar – MESA, agora incorporado ao Ministério do</p><p>Desenvolvimento Social e Combate à Fome para gerenciar o Programa</p><p>Fome Zero, em 2004.</p><p>?O logotipo do Superman, marca registrada de uma</p><p>personagem das Histórias em Quadrinhos, figura como uma</p><p>intertextualidade explícita.</p><p>?O autor da charge é Ziraldo. Criador de personagens famosos,</p><p>como o menino Maluquinho. Tal chargista é, atualmente, um dos mais</p><p>conhecidos e aclamados escritores infantis do Brasil.</p><p>Assim, a compreensão da charge sobredita ocorre de modo</p><p>satisfatório, quando o leitor ativa esses conhecimentos na sua interação</p><p>com o texto. Como vemos novamente, se, do lado do autor, foi mobilizado</p><p>um conjunto de conhecimentos para a produção do texto, espera-se, da</p><p>parte do leitor, que considere esses conhecimentos (de língua, de gênero</p><p>textual e de mundo) no processo de leitura e de construção de sentido.</p><p>Podemos dizer que os conhecimentos selecionados pelo autor na e para a</p><p>constituição do texto “criam” um leitor-modelo.</p><p>Segundo Neidson Rodrigues (1993), não há apreensão e/ou</p><p>explicação da realidade quando se dispõe de um instrumento simbólico</p><p>precário. A língua é instrumento de compreensão e, como tal, de domínio</p><p>da realidade. Não há como falar da realidade, seja ela histórica,</p><p>geográfica, política ou cultural sem que o falante domine este instrumental</p><p>de conhecimento, interpretação e compreensão do mundo que é a língua.</p><p>Vejamos o que nos ensinam Descartes. Para ele, o homem se</p><p>diferencia do animal e das máquinas exatamente pela sua capacidade de</p><p>linguagem. O homem se torna animal social e, portanto, político, pela</p><p>linguagem e por meio da linguagem. A capacidade de articulação do</p><p>discurso possibilita ao homem o domínio da realidade e a recriação dessa</p><p>mesma realidade. Através da linguagem, o homem entra em contato com</p><p>o mundo, pois a consciência deste é gerada pela linguagem (DESCARTES,</p><p>1996).</p><p>Comumente, deparamos com textos sem nenhum encadeamento</p><p>lógico, com idéias tautológicas (repetidas), sem pertinência semântica e</p><p>com inúmeros outros problemas que interferem no entendimento do</p><p>pensamento do emissor.</p><p>Como exemplo citamos o texto de um vestibulando da UFMG,</p><p>extraído do livro “Redação e Textualidade” (1994), de Maria da Graça</p><p>Costa Val. Leia-o observando a falta de manutenção temática e a</p><p>desarticulação semântica que o caracterizam:</p><p>A partir da leitura do texto em questão, é possível inferir que ele</p><p>apresenta inúmeros problemas gramaticais, a saber:</p><p>?O título e a primeira frase lançam uma idéia que não foi mais</p><p>retomada explicitamente na redação;</p><p>?Não é imediata a compreensão de que o desemprego [...], a</p><p>educação e a falta de carinho sejam responsáveis, respectivamente, pela</p><p>criminalidade e pela revolta e agressividade das pessoas correspondente à</p><p>demonstração de que o homem é fruto do meio;</p><p>?Não há continuidade coesiva (de relação entre as partes do</p><p>texto), visto que a expressão tanta violência remete a um antecedente que</p><p>não está expresso no texto;</p><p>?A partir das passagens do texto: “... desemprego é a principal</p><p>causa de tanta violência” e “... mais emprego implica menos violência...”,</p><p>percebemos que ambas as passagens dizem a mesma coisa;</p><p>?Problemas referentes à argumentação e à imprevisibilidade;</p><p>Sendo assim, o texto torna-se ininteligível, já que não podemos, a</p><p>partir dele, entender qual é a idéia do autor.</p><p>Tendo em vista os aspectos materiais que auxiliam a compreensão</p><p>do gênero textual tirinha e placa, tais como o tamanho das letras, as</p><p>tonalidades das cores, e os aspectos linguísticos que auxiliam na</p><p>construção de uma redação, você percebeu que a interação autor-texto-</p><p>347</p><p>Letras/Português Caderno Didático - 1º Período</p><p>O homem como fruto do meio</p><p>O homem é produto do meio social em que vive. Somos todos iguais e</p><p>não nascemos com o destino traçado para fazer o bem e o mau.</p><p>O desemprego pode ser considerado a principal causa de tanta</p><p>violência. A falta de condições do indivíduo em alimentar a si próprio e</p><p>sua família.</p><p>Portanto é coerente dizer, mais emprego, menos criminalidade. Um</p><p>emprego com salários, que no mínimo suprisse o que é considerado</p><p>de primeira necessidade, porque os subempregos, esses, não</p><p>resolvem o problema.</p><p>Trabalho não seria a solução, mas teria que ser a primeira providência</p><p>a ser tomada.</p><p>Existem vários outros fatores que influenciam no problema como, por</p><p>exemplo, a educação, a falta de carinho, essas crianças</p><p>simplesmente nascem, como que por acaso, e são jogadas no</p><p>mundo, tornando-se assim pessoas revoltadas e agressivas.</p><p>A solução é alongo prazo, é cuidando das crianças, mostrando a elas</p><p>a escala de valores que deve ser seguida.</p><p>E isso vai depender de uma conscientização de todos nós.</p><p>leitor pressupõe, na produção de sentidos, a importância da consideração</p><p>das “sinalizações” textuais que apontam para os aspectos relativos à</p><p>linguagem (toda e qualquer linguagem) e os aspectos relativos à língua</p><p>(fatores linguísticos que compõem a materialidade linguística).</p><p>A justificativa para se dominar tais aspectos se prende ao fato de</p><p>considerar importante, ao produzir uma mensagem escrita e/ou falada, o</p><p>entendimento acerca de como agir em situações particulares e de como</p><p>realizar tarefa específicas determinadas socioculturalemente.</p><p>A compreensão textual, na atividade de leitura, toma várias</p><p>trajetórias, que são orientadas pelo conjunto de microestruturas,</p><p>constituído dos elementos da superfície textual, e pelo conjunto de</p><p>macroestruturas – conteúdo global, que subjaz à superfície do texto, os</p><p>quais configuram o percurso gerativo de sentido de determinado texto.</p><p>O gênero textual carta com</p><p>o avanço das tecnologias</p><p>de comunicação passou a</p><p>ser substituído pelo e-mail.</p><p>Sabemos que o suporte em</p><p>que são materializados</p><p>ambos os gêneros são</p><p>diferentes. Tente apontar as</p><p>propriedades sócio-</p><p>comunicativas exigidas por</p><p>eles. No que se refere às</p><p>linguagens utilizadas em</p><p>ambos, o que há de</p><p>semelhança e de</p><p>diferença?</p><p>ATIVIDADES</p><p>REFERÊNCIAS</p><p>ALVES, Clair. A arte de falar bem. Rio de Janeiro: Vozes, 2005.</p><p>COSTA VAL, Maria da Graça. Redação e textualidade. São Paulo: Martins</p><p>Fontes, 1994.</p><p>DESCARTES, René. Discurso do método. São Paulo: Nova Cultural, 1996.</p><p>HECKLER, Evaldo, BACK, Sebad. Curso de Lingüística. São Paulo:</p><p>Parábola Editorial, 2002.</p><p>INDURSKI, Freda. Reflexões sobre a linguagem: de Bakhtin à análise do</p><p>discurso. Línguas einstrumentos lingüísticos, N. 4/5, p. 69-88. Campinas:</p><p>Pontes, 2000</p><p>LYONS, John. Introdução à Lingüística Teórica. São Paulo: Editora</p><p>Nacional, 1979.</p><p>MARCUSHI, Luiz Antônio. Gêneros Textuais: definição e funcionalidade.</p><p>In: DIONÍSIO, Ângela Paiva et al. (Org.). Gêneros textuais e ensino. Rio de</p><p>Janeiro: Lucena, 2002.</p><p>RODRIGUES, Neidson. Por uma nova escola: o transitório e o permanente</p><p>na educação. São Paulo: Cortez, 1993.</p><p>TRAVAGLIA, Luiz Carlos. Ensino de Gramática numa perspectiva textual</p><p>interativa. In: O ensino de língua portuguesa para o 2º grau. Uberlândia:</p><p>Edufu, 1996a. (Projeto VITAE – SEEMG – UFU).</p><p>TRAVAGLIA, L. C. Gramática e interação. São Paulo: Cortez, 1996.</p><p>VANOYE, Francis. Usos da linguagem: problemas e técnicas de produção</p><p>oral e escrita. São Paulo: Martins Fontes, 1982.</p><p>http://www.releituras.com/viniciusm_bio.asp, consultado em out/2008.</p><p>http://www.viniciusdemoraes.com.br/poesia/sec_poesia_view.php?,</p><p>consultado em out/2008.</p><p>www.tarsiladoamaral.com.br, consultado em out/2008.</p><p>http://www.ziraldo.com/conversa/home.htm, consultado em out/2008.</p><p>348</p><p>Introdução à Leitura UAB/Unimontes</p><p>2UNIDADE 2</p><p>REFLEXÕES EM TORNO DA LEITURA</p><p>A leitura de um bom livro é um diálogo incessante:</p><p>o livro fala e a alma responde.</p><p>André Maurois</p><p>Agora que já conversamos sobre os conceitos de Linguagem e</p><p>Língua, podemos avançar um pouco mais nos estudos de Introdução à</p><p>Leitura e refletirmos, juntos, sobre as questões que circundam a prática da</p><p>Leitura.</p><p>Apresentação da unidade</p><p>A unidade II foi organizada de modo a permitir que você faça uma</p><p>reflexão sobre a leitura fazendo um “passeio” por sua história e por sua</p><p>prática e, ao mesmo tempo, conhecendo aspectos altamente relevantes</p><p>para se tornar um leitor eficiente.</p><p>Objetivos:</p><p>?Refletir sobre a história do conceito de leitura e de sua prática.</p><p>?Desenvolver habilidades de percepção, observação, análise,</p><p>comparação e síntese de mecanismos estruturais na organização das</p><p>idéias que articulam o textual.</p><p>?Entender os mecanismos de produção de sentidos no processo</p><p>de leitura de diferentes tipos e gêneros textuais.</p><p>2.1 PENSANDO A LEITURA</p><p>Pe n s a r a l e i t u r a</p><p>pressupõe retomar a história do</p><p>seu conceito e refletir sobre a</p><p>sua prática. Paulino et al (2001)</p><p>aborda a história do conceito</p><p>de leitura afirmando: “Numa</p><p>p r i m e i r a i n s t â n c i a , l e r</p><p>significava contar, enumerar as</p><p>l e t r a s ; numa s egunda ,</p><p>significava colher e, por último,</p><p>roubar”.</p><p>É possível retratar essa</p><p>afirmação no quadro que se</p><p>segue:</p><p>Fonte: http://cache01.stormap.sapo.pt/fotostore01/fotos//ae/</p><p>49/23/40619_0000zgqh.jpg</p><p>Figura 10</p><p>PARA REFLETIR</p><p>Qual o seu conceito de</p><p>leitura? Qual o espaço da</p><p>leitura em sua vida? E o</p><p>espaço da leitura na vida</p><p>do sujeito leitor na</p><p>ilustração?</p><p>Reflita sobre o seu</p><p>posicionamento de leitor.</p><p>Responda: em qual das</p><p>instâncias você já se</p><p>posiciona como leitor?</p><p>Se você respondeu que na</p><p>maioria das leituras que</p><p>você faz, você rouba o</p><p>sentido, torna-se co-autor</p><p>do texto, você já está em</p><p>um estágio bem avançado.</p><p>349</p><p>L</p><p>E</p><p>R</p><p>Contar,</p><p>enumerar</p><p>as letras</p><p>Soletração.</p><p>Repetição de fonemas,</p><p>agrupamento de fonemas em</p><p>sílabas, palavras e frases</p><p>Ato primeiro da</p><p>leitura</p><p>Estágio da</p><p>alfabetização</p><p>Colher</p><p>(verbo)</p><p>O leitor apenas apodera-se do</p><p>que já está pronto.</p><p>O sentido é determinado pelo</p><p>autor.</p><p>Autor é o dono absoluto do</p><p>texto.</p><p>Interpretação.</p><p>Localização do</p><p>tema,</p><p>da mensagem.</p><p>Roubar</p><p>(verbo)</p><p>Acrescentamento de sentidos a</p><p>partir de sinais presentes nos</p><p>textos.</p><p>O leitor é um co-autor.</p><p>Relativização dos poderes do</p><p>autor.</p><p>Compreensão</p><p>Co-autoria</p><p>Sobre a instância de leitura denominada roubar, Paulino et al</p><p>(2001) afirma:</p><p>Observe o exemplo a seguir:</p><p>Reflita sobre a citação de De Certeau:</p><p>Bem longe de serem escritores, fundadores de um lugar</p><p>“Não se rouba algo com conhecimento e autorização do</p><p>proprietário, logo essa leitura do texto vai se construir à</p><p>revelia do autor, ou melhor, vai acrescentar ao texto outros</p><p>sentidos , a partir de sinas que nele estão presentes, mesmo</p><p>que o autor não tivesse consciência disso”.</p><p>Numa classe de alfabetização, a frase “Eu gosto de marmelada</p><p>fresquinha”, poderia ser soletrada e copiada pelas crianças,</p><p>apenas para desenvolver a oralidade e a escrita, num processo de</p><p>decodificação. Ficaria no ato primeiro da leitura no estágio da</p><p>alfabetização.</p><p>Ela pode, contudo, ser lida em seu sentido literal e significar que</p><p>gosto do doce de marmelo (fruta) recém feito. Interpretação.</p><p>Leitura colheita, para localização do tema, da mensagem, de</p><p>acordo com o autor.</p><p>Entretanto, sabendo-se que a palavra marmelada pode conotar</p><p>“negócio desonesto”, “mamata”, fora de um contexto maior a</p><p>frase pode ser lida com a compreensão de que sou partidário de</p><p>negócios desonestos. Ocorre a co-parceria, autor/leitor e surge</p><p>um novo sentido.</p><p>Quadro 2</p><p>350</p><p>Introdução à Leitura UAB/Unimontes</p><p>próprio, herdeiros dos lavradores de antanho – mas, sobre o</p><p>solo da linguagem, cavadores de poços e construtores de</p><p>casas - os leitores são viajantes; eles circulam sobre as</p><p>terras de outrem, caçam, furtivamente, como nômades</p><p>através dos campos que não escreveram, arrebatam os</p><p>bens do Egito para com eles se regalar. (DE CERTAU, 1994.</p><p>p. 11).</p><p>Essas considerações nos permitem dizer que as palavras, muito</p><p>embora não tenham um sentido fixo, carregam significações que</p><p>permitem ao leitor, passar por diversas e sucessivas sondagens.</p><p>A capacidade de transgressão dos sentidos do texto, propostos</p><p>pelo autor, irá revelar a eficiência e o poder do leitor. Há que se levar em</p><p>conta, segundo Paulino et al (2001), que a questão da leitura passa,</p><p>necessária e simultaneamente, por:</p><p>a) uma teoria do conhecimento</p><p>Para fazer uma boa leitura, o leitor deve ter consciência de que o</p><p>autor não é o dono absoluto do texto e o leitor apenas um subordinado. O</p><p>leitor é também produtor de sentidos, co-autor do texto. Por isso, ler é um</p><p>ato produtivo pois o texto é recriado, reconstruído pelo leitor, nem sempre</p><p>como o autor desejava. No momento da leitura o leitor está em trabalho</p><p>intelectual tanto no plano social quanto no plano individual.</p><p>b) uma psicologia/psicanálise</p><p>Estados e disposições psíquicas conscientes ou inconscientes do</p><p>leitor determinam o ato de ler ou nele interferem. “O ato de ler é motivado</p><p>por um desejo e, ao mesmo tempo atravessado pelo inconsciente”, diz</p><p>Paulino et al (2001).</p><p>c) uma sociologia</p><p>O leitor deve entender que a leitura da palavra escrita tem um</p><p>papel importante na história da vida dos seres humanos. É por intermédio</p><p>DICAS</p><p>De Certau (1994), por</p><p>meio de linguagem</p><p>metafórica, compara o</p><p>leitor a um viajante. Analise</p><p>esse conceito e ilustre-o</p><p>criativamente.</p><p>Fonte: www.arionauro.com.br</p><p>Figura 11</p><p>351</p><p>Letras/Português Caderno Didático - 1º Período</p><p>352</p><p>Introdução à Leitura UAB/Unimontes</p><p>dela que os sujeitos se constituem pelo processo de interlocução, que</p><p>falam, escrevem, lêem e se fazem presentes no mundo. Assim, autor e</p><p>leitor pertencem a grupos sociais com seus valores e poderes, limitações e</p><p>expectativas. E experimentando, desenvolvendo e conferindo as suas</p><p>habilidades de leitor o ser humano passa a agir eficientemente como tal na</p><p>sociedade em que vive.</p><p>d) uma pedagogia</p><p>A leitura se desenvolve num processo de ensino aprendizagem</p><p>que faz parte não só da escola, mas também da vida do cidadão num</p><p>constante processo de troca. É na escola, contudo, que a leitura da palavra</p><p>escrita ocorre com maior frequência e de forma diversificada, abrangendo</p><p>vários níveis do conhecimento e exteriorização das emoções e da</p><p>criatividade. É preciso “ensinar a ler” e não “mandar ler”.</p><p>e) uma teoria da comunicação</p><p>Para cumprir funções determinadas, a leitura requer do leitor a</p><p>responsabilidade pela formação de sentidos e envolve, portanto,</p><p>elementos da comunicação:</p><p>?Emissor: o que emite, que codifica a mensagem; Aquele que</p><p>diz algo a alguém;</p><p>?Receptor: o que recebe, decodifica a mensagem; Aquele com</p><p>quem o emissor se comunica.</p><p>?Mensagem: o conjunto de informações transmitidas do</p><p>emissor para o receptor;</p><p>?Código: a combinação ou o conjunto de sinais utilizados na</p><p>transmissão e recepção de uma mensagem. A comunicação só se</p><p>concretizará, se o receptor souber decodificar a mensagem;</p><p>?Referente: o assunto ou situação a que a mensagem se refere,</p><p>também chamado de contexto;</p><p>?Canal de Comunicação: meio pelo qual a mensagem é</p><p>transmitida, ou circula: TV, rádio, jornal, revista, cordas vocais, ar, etc.</p><p>Figura 12</p><p>353</p><p>Letras/Português Caderno Didático - 1º Período</p><p>PARA REFLETIR</p><p>O poema de Carlos</p><p>Drummond ilustra a</p><p>presença dos elementos da</p><p>comunicação. Leia-o e</p><p>identifique-os.</p><p>EMISSOR</p><p>REFERENTE</p><p>CÓDIGO</p><p>CANAL DE COMUNICAÇÃO</p><p>MENSAGEM</p><p>RECEPTO</p><p>R</p><p>Figura 13</p><p>Diálogo de todo dia</p><p>Carlos Drummond de Andrade</p><p>__ Alô, quem fala?</p><p>__ Ninguém. Quem fala é você que está perguntando quem fala.</p><p>__ Mas eu preciso saber com quem estou falando.</p><p>__ E eu preciso saber antes a quem estou respondendo.</p><p>__ Assim não dá. Me faz o obséquio de dizer quem fala?</p><p>__ Todo mundo fala, meu amigo, desde que não seja mudo.</p><p>__ Isso eu sei, não precisava me dizer como novidade. Eu queria</p><p>saber é quem está no aparelho.</p><p>__ Ah, sim. No aparelho não está ninguém.</p><p>__ Como não está, se você está me respondendo?</p><p>__ Eu estou fora do aparelho. Dentro do aparelho não cabe</p><p>ninguém.</p><p>__ Engraçadinho. Então, então quem está ao aparelho?</p><p>__ Agora melhorou. Estou eu, para servi-lo.</p><p>__ Não parece. Se fosse para me servir, já teria dito quem está</p><p>falando.</p><p>__ Bem, nós dois estamos falando. Eu de cá, você de lá. E um não</p><p>conhece o outro.</p><p>__ Se eu conhecesse não estava perguntando.</p><p>__ Você é muito perguntador. Note que eu não lhe perguntei nada.</p><p>__ Nem tinha que perguntar. Pois se foi eu que telefonei.</p><p>__ Não perguntei nem vou perguntar. Não estou interessado em</p><p>conhecer outras pessoas.</p><p>__ Mas podia estar interessado pelo menos em responder a quem</p><p>telefonou.</p><p>__ Estou respondendo.</p><p>__ Pela última vez, cavalheiro, e em nome de Deus: quem fala?</p><p>__ Pela última vez, e em nome da segurança, por que eu sou</p><p>obrigado a dar esta informação a um desconhecido?</p><p>__ Bolas!</p><p>__ Bolas, digo eu. Bolas e carambolas. Por acaso você não pode</p><p>dizer com quem deseja falar, para eu responder se essa pessoa está</p><p>ou não está aqui, mora ou não mora neste endereço? Vamos, diga</p><p>de uma vez por todas: com quem deseja falar?</p><p>Silêncio.</p><p>__ Desculpe, a confusão é tanta que eu nem sei mais. Esqueci.</p><p>Tchau.</p><p>ANDRADE. Carlos Drummond de. Contos plausíveis. Rio de Janeiro: J. Olímpio, 1985. p. 68</p><p>354</p><p>Introdução à Leitura UAB/Unimontes</p><p>É pela sala de aula que a mudança deve mesmo começar, afirma</p><p>o embaixador Lauro Moreira, representante brasileiro na CPLP</p><p>(Comunidade de Países de Língua Portuguesa). "Não tenho</p><p>dúvida de que, quando a nova ortografia chegar às escolas, toda</p><p>a sociedade se adequará. Levará um tempo para que as pessoas</p><p>se acostumem com a nova grafia, como ocorreu com a reforma</p><p>ortográfica de 1971, mas ela entrará em vigor aos poucos.”</p><p>Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/folha/educacao/ult305u321371.shtml. 20/08/2007.</p><p>Brasil se prepara para reforma ortográfica</p><p>f) uma análise do discurso</p><p>Paulino et al (2001) afirma que a organização interna do texto,</p><p>sua relação com outros textos, suas</p><p>dimensões político-econômicas são</p><p>elementos essenciais no ato de ler. Pode-se afirmar que o sentido de uma</p><p>palavra não existe em si mesmo. Ele é determinado pelas posições</p><p>ideológicas colocadas em jogo no processo histórico no qual as palavras</p><p>são produzidas. Uma mesma palavra, em diferentes contextos e/ou ditas</p><p>por pessoas diferentes, assume sentidos diferentes.</p><p>g) uma teoria literária</p><p>O prazer da experiência criativa com o texto precisa ser preservado</p><p>como um bem cultural. É a experiência com o momento de fruição do texto</p><p>sem intenções práticas imediatas.</p><p>Por meio da leitura literária também é possível compreender o</p><p>texto como lugar de manifestação de ideologias e reconhecer os discursos</p><p>ou mitos fundadores da brasilidade, as manifestações culturais e artísticas.</p><p>Figura 14</p><p>355</p><p>Letras/Português Caderno Didático - 1º Período</p><p>Os textos literários permitem, ainda, o conhecimento de formas</p><p>representativas da vida social e política de diferentes contextos históricos e</p><p>posicionamentos críticos.</p><p>DICAS</p><p>Leia a música</p><p>“Construção” de Chico</p><p>Buarque de Holanda. Se</p><p>possível, ouça essa música</p><p>na voz do cantor.</p><p>Tente fazer uma interface</p><p>com a disciplina Filosofia</p><p>da Educação, e responder:</p><p>Qual era a ideologia</p><p>política vivenciada no Brasil</p><p>na década de 70?</p><p>O que os artistas e</p><p>intelectuais da época</p><p>defendiam?</p><p>Construção</p><p>Chico Buarque/1971</p><p>Amou daquela vez como se fosse a última</p><p>Beijou sua mulher como se fosse a última</p><p>E cada filho seu como se fosse o único</p><p>E atravessou a rua com seu passo tímido</p><p>Subiu a construção como se fosse máquina</p><p>Ergueu no patamar quatro paredes sólidas</p><p>Tijolo com tijolo num desenho mágico</p><p>Seus olhos embotados de cimento e lágrima</p><p>Sentou pra descansar como se fosse sábado</p><p>Comeu feijão com arroz como se fosse um príncipe</p><p>Bebeu e soluçou como se fosse um náufrago</p><p>Dançou e gargalhou como se ouvisse música</p><p>E tropeçou no céu como se fosse um bêbado</p><p>E flutuou no ar como se fosse um pássaro</p><p>E se acabou no chão feito um pacote flácido</p><p>Agonizou no meio do passeio público</p><p>Morreu na contramão atrapalhando o tráfego</p><p>Amou daquela vez como se fosse o último</p><p>Beijou sua mulher como se fosse a única</p><p>E cada filho como se fosse o pródigo</p><p>E atravessou a rua com seu passo bêbado</p><p>Subiu a construção como se fosse sólido</p><p>Ergueu no patamar quatro paredes mágicas</p><p>Tijolo com tijolo num desenho lógico</p><p>Seus olhos embotados de cimento e tráfego</p><p>Sentou pra descansar como se fosse um príncipe</p><p>Comeu feijão com arroz como se fosse o máximo</p><p>Bebeu e soluçou como se fosse máquina</p><p>Dançou e gargalhou como se fosse o próximo</p><p>E tropeçou no céu como se ouvisse música</p><p>E flutuou no ar como se fosse sábado</p><p>E se acabou no chão feito um pacote tímido</p><p>Agonizou no meio do passeio náufrago</p><p>Morreu na contramão atrapalhando o público</p><p>Amou daquela vez como se fosse máquina</p><p>Beijou sua mulher como se fosse lógico</p><p>Ergueu no patamar quatro paredes flácidas</p><p>Sentou pra descansar como se fosse um pássaro</p><p>E flutuou no ar como se fosse um príncipe</p><p>E se acabou no chão feito um pacote bêbado</p><p>Morreu na contra-mão atrapalhando o Sábado</p><p>Fonte: http://www.chicobuarque.com.br/letras/construc_71.htm</p><p>356</p><p>A teoria afirma que a leitura literária pressupõe:</p><p>?possibilidades de manifestações ideológicas;</p><p>?presença de discursos ou mitos constituintes da brasilidade; e</p><p>?representação de manifestações culturais e artísticas.</p><p>Com base nesses itens, observe o que o autor, Chico Buarque,</p><p>comenta a respeito do processo de construção do texto:</p><p>?o prazer da experiência criativa com o texto sem intenções</p><p>práticas imediatas;</p><p>CHICO: Não passava de experiência formal, jogo de tijolos. Não</p><p>tinha nada a ver com o problema dos operários - evidente, aliás,</p><p>sempre que você abre a janela.</p><p>STATUS: Portanto, não havia nenhuma intenção na música.</p><p>CHICO: Exatamente. Na hora em que componho não há intenção -</p><p>só emoção. Em Construção, a emoção estava no jogo de palavras</p><p>(todas proparoxítonas). Agora, se você coloca um ser humano</p><p>dentro de um jogo de palavras, como se fosse... um tijolo - acaba</p><p>mexendo com a emoção das pessoas.</p><p>STATUS: Então não se liga com intenção?</p><p>CHICO: Tudo é ligado. Mas há diferença entre fazer a coisa com</p><p>intenção ou - no meu caso - fazer sem a preocupação do</p><p>significado. Se eu vivesse numa torre de marfim, isolado, talvez</p><p>saísse um jogo de palavras com algo etéreo no meio, a Patagônia,</p><p>talvez, que não tem nada a ver com nada. Em resumo, eu não</p><p>colocaria na letra um ser humano. Mas eu não vivo isolado. Gosto</p><p>de entrar no botequim, jogar sinuca, ouvir conversa de rua, ir a</p><p>futebol. Tudo entra na cabeça em tumulto e sai em silêncio. Porém,</p><p>resultado de uma vivência não solitária, que contrabalança o jogo</p><p>mental e garante o pé no chão. A vivência dá a carga oposta à</p><p>solidão, e vem da solidariedade - é o conteúdo social. “Mas trata-se</p><p>de uma coisa intuitiva, não intencional: faz parte da minha</p><p>formação que compreende - igual aos outros de minha geração -</p><p>jogar bola e brigar na rua, ler histórias em quadrinhos, colar, aos seis</p><p>anos, cartazes a favor do Brigadeiro, por causa dos meus pais,</p><p>contrários ao Estado Novo".</p><p>© Status, 1973 entrevista a Judith Patarra</p><p>Fonte: http://www.chicobuarque.com.br/letras/notas/n_construc.htm</p><p>Introdução à Leitura UAB/Unimontes</p><p>357</p><p>Letras/Português Caderno Didático - 1º Período</p><p>2.2 HISTÓRIA DA PRÁTICA DE LEITURA</p><p>Sabe-se que nem</p><p>sempre foi possível ter acesso</p><p>às leituras. Na Idade Média</p><p>os livros eram manuscritos</p><p>reproduzidos e ilustrados</p><p>pelos monges copistas no</p><p>interior dos mosteiros.</p><p>Escritos em latim e versando</p><p>sobre os conceitos e crenças</p><p>da cultura clássica, eram</p><p>obras de acesso e domínio</p><p>restritos aos religiosos.</p><p>Acreditava-se que a leitura tinha poder subversivo, representava risco para</p><p>o poder da Igreja e, por isso, precisava ser controlada.</p><p>Umberto Eco (2004) mostra em “O Nome da Rosa” que os livros,</p><p>serviam como objetos de estímulo à reflexão e contestação do saber oficial</p><p>nas mãos dos monges.</p><p>Sugerimos que</p><p>nesse instante você vá a</p><p>uma locadora e alugue o</p><p>filme “O Nome da Rosa”.</p><p>(Ver sinopse ao final da</p><p>Unidade). Convide seus</p><p>colegas, faça pipoca,</p><p>sente-se confortavelmente</p><p>e o assista.</p><p>Nele, um monge</p><p>franciscano é encarregado</p><p>de investigar uma série de</p><p>estranhas mortes que</p><p>passam a ocorrer em um mosteiro, em plena Idade Média.</p><p>Para ilustrar essa unidade você pode assistir também o filme</p><p>“Lutero”. Ele retrata o momento da Reforma Religiosa em que Lutero,</p><p>depois de ter distribuído a Bíblia, traduzindo-a para o alemão, percebe que</p><p>ela suscita interpretações, principalmente políticas e socialmente</p><p>perigosas, a ponto de desencadearem uma guerra (Ver sinopse ao final da</p><p>Unidade).</p><p>O livro impresso foi primeiramente conhecido e divulgado pelos</p><p>chineses desde o século VIII. No Ocidente foi produzido e popularizado por</p><p>volta de 1450, com a criação da imprensa de tipos móveis, por Gutemberg.</p><p>Com o passar dos tempos, técnicas revolucionárias de impressão</p><p>modificaram não só a as estruturas dos textos, mas também seus suportes</p><p>e funções.</p><p>Fonte :http://josiasdesouza.folha.blog.uol.com.br/arch</p><p>2007-10-28_2007-11-03.html</p><p>Figura 15</p><p>Você concorda que na</p><p>década de 70, quando a</p><p>repressão e a censura se</p><p>acirravam, Chico Buarque</p><p>revelou senso crítico e</p><p>preocupação com a busca</p><p>pelo acesso mais íntimo ao</p><p>cotidiano, a fim de</p><p>compreender o dia-a-dia</p><p>daqueles que considerava</p><p>como excluídos do sistema?</p><p>Você concorda também</p><p>que em “Construção” ele</p><p>relata a difícil vida de um</p><p>operário, que se “deixar de</p><p>existir” não fará qualquer</p><p>falta à sociedade?</p><p>Ilustre, com passagens do</p><p>texto o que lhe permite</p><p>essas leituras.</p><p>PARA REFLETIR</p><p>Prezado Acadêmico!</p><p>Atenção!</p><p>Parada Obrigatória!</p><p>Figura 16</p><p>358</p><p>Introdução à Leitura UAB/Unimontes</p><p>Os livros passaram a ser objetos cujos conteúdos comandam, se</p><p>não a imposição de um sentido ao texto que carrega, ao menos os usos de</p><p>que podem ser investidos e as apropriações às quais são</p><p>suscetíveis. Pode-</p><p>se concluir, que suportes diferentes geram práticas de leituras também</p><p>diferentes.</p><p>A constante multiplicação dos textos e suportes se faz</p><p>acompanhar por mudanças no estilo e nas práticas de leitura. Afirma</p><p>Chartier (1998), que essas mudanças estão relacionadas:</p><p>?Surge o padrão culto, erudito, civilizado da leitura silenciosa</p><p>que é a leitura dos olhos, no lugar da leitura oral por meio do movimento de</p><p>manducação mandibular.</p><p>?A leitura armazenada em</p><p>rolos, que impedia que o leitor</p><p>comparasse as diversas partes do texto</p><p>dá lugar ao in-fólio que permitia a</p><p>comparação de trechos localizados em</p><p>páginas distintas.</p><p>?O in-fólio (livro em que cada</p><p>folha é dobrada em apenas duas),</p><p>suporte mais comum até o século XVII,</p><p>por ser muito grande e ter que</p><p>permanecer aberto sobre uma mesa,</p><p>restringia a leitura aos gabinetes, deu lugar</p><p>ao códex (placa escavada na qual os</p><p>romanos escreviam) e que permitiu uma</p><p>maior liberdade da leitura, sem que a</p><p>mesma tivesse que se dar em um espaço</p><p>fechado.</p><p>?No século XVIII passa-se a ter</p><p>também a leitura de prazer, e não apenas de</p><p>estudo. É a época em que proliferam</p><p>pinturas que mostram o ideal romântico do</p><p>leitor lânguido, lascivo, deitado em</p><p>cavernas ou semicoberto por lençóis. A leitura libertina associada ao risco</p><p>da libertinagem.</p><p>?Surge a função do autor, do editor e, consequentemente, as</p><p>primeiras leis de direito autoral.</p><p>?No lugar de um leitor “intensivo”, que memorizava através de</p><p>constantes releituras os textos que dispunha, surge o leitor “extensivo” que</p><p>consome impressos numerosos e diversos.ATIVIDADES</p><p>PARA REFLETIR</p><p>Vai ser possível</p><p>perceber que as páginas do</p><p>2º Volume da Poética de</p><p>Aristóteles estavam</p><p>envenenadas.</p><p>Reflita: “Em verdade, as</p><p>páginas envenenadas são a</p><p>metáfora do veneno que o</p><p>livro poderia representar, já</p><p>que a reflexão possibilitada</p><p>a partir da leitura poderia</p><p>matar a fé e a ordem</p><p>estabelecidas”. Faça suas</p><p>anotações sobre a</p><p>afirmação.</p><p>Figura 17</p><p>Figura 18</p><p>DICAS</p><p>Partes do Codex Sinaiticus,</p><p>de 1.600 anos de idade, e</p><p>que inclui o primeiro Novo</p><p>Testamento completo do</p><p>mundo.</p><p>Fonte:</p><p>http://monomito.files.wordp</p><p>ress.com/2007/05/manuscri</p><p>to02.jpg</p><p>359</p><p>Letras/Português Caderno Didático - 1º Período</p><p>REFERÊNCIAS</p><p>ANDRADE, Carlos Drummond de. Contos plausíveis. Rio de Janeiro: J.</p><p>Olímpio, 1985.</p><p>CHARTIER, Roger. A Aventura do Livro: do leitor ao navegador. Trad. por</p><p>Reginaldo de Moraes. São Paulo: Unesp, 1998.</p><p>DE CERTEAU, Michel. In: CHATIER, Roger, A ordem dos livros: leitores,</p><p>autores e biblioteca entre os séculos XIV e XVII, Trad. Mary de Priori,</p><p>Brasília: Editora da UNB, 1984.</p><p>ECO, Umberto. O Nome da Rosa, Lisboa: Difel, 2004.</p><p>PAULINO, Graça et al. Tipos de textos, modos de leitura. Belo Horizonte:</p><p>Formato editorial, 2001. (Educador em Formação).</p><p>http://www1.folha.uol.com.br/folha/educacao/ult305u321371.shtml,</p><p>consultado em out/2008.</p><p>http:/ /www.adorocinema.com/f i lmes/nome-da-rosa/nome-da-</p><p>rosa.htm#Sinopse, consultado em out/2008.</p><p>http://www.chicobuarque.com.br/letras/construc_71.htm,</p><p>consultado em out/2008.</p><p>http://www.chicobuarque.com.br/letras/notas/n_construc.htm,</p><p>consultado em out/2008.</p><p>www.lutherthemovie.com, consultado em out/2008.</p><p>VÍDEOS SUGERIDOS PARA DEBATE</p><p>http://www.portalvmmnet.kit.net</p><p>Figura 19</p><p>360</p><p>Introdução à Leitura UAB/Unimontes</p><p>O Nome da Rosa.</p><p>Em 1327 William de Baskerville (Sean Connery), um monge</p><p>franciscano, e Adso von Melk (Christian Slater), um noviço que o</p><p>acompanha, chegam a um remoto mosteiro no norte da Itália. William de</p><p>Baskerville pretende participar de um conclave para decidir se a Igreja deve</p><p>doar parte de suas riquezas, mas a atenção é desviada por vários</p><p>assassinatos que acontecem no mosteiro. William de Baskerville começa a</p><p>investigar o caso, que se mostra bastante intrigando, além dos mais</p><p>religiosos acreditarem que é obra do Demônio. William de Baskerville não</p><p>partilha desta opinião, mas antes que ele conclua as investigações</p><p>Bernardo Gui (F. Murray Abraham), o Grão-Inquisidor, chega no local e</p><p>está pronto para torturar qualquer suspeito de heresia que tenha cometido</p><p>assassinatos em nome do Diabo. Considerando que ele não gosta de</p><p>Baskerville, ele é inclinado a colocá-lo no topo da lista dos que são</p><p>diabolicamente influenciados. Esta batalha, junto com uma guerra</p><p>ideológica entre franciscanos e dominicanos, é travada enquanto o motivo</p><p>dos assassinatos é lentamente solucionado. Uma das críticas é de que ele</p><p>relata fatos do passado que ainda estão presentes em nosso dia-a-dia,</p><p>como luxúria, disputa e abuso do poder, não somente na igreja como em</p><p>outros órgãos.</p><p>Ficha Técnica:</p><p>Título Original: Der Name Der Rose</p><p>Gênero: Suspense</p><p>Tempo de Duração: 130 minutos</p><p>Ano de Lançamento (Alemanha): 1986</p><p>Direção: Jean-Jacques Annaud</p><p>Baseado em livro de Humberto Eco</p><p>http:/ /www.adorocinema.com/f i lmes/nome-da-rosa/nome-da-</p><p>rosa.htm#Sinopse.</p><p>Lutero</p><p>Após quase ser atingido por um raio, Martim Lutero (Joseph</p><p>Fiennes) acredita ter recebido um chamado. Ele se junta ao monastério,</p><p>mas logo fica atormentado com as práticas adotadas pela Igreja Católica</p><p>na época. Após pregar em uma igreja suas 95 teses, Lutero passa a ser</p><p>perseguido. Pressionado para que se redima publicamente, Lutero se</p><p>recusa a negar suas teses e desafia a Igreja Católica a provar que elas</p><p>estejam erradas e contradigam o que prega a Bíblia. Excomungado, Lutero</p><p>foge e inicia sua batalha para mostrar que seus ideais estão corretos e que</p><p>eles permitem o acesso de todas as pessoas a Deus.</p><p>361</p><p>Letras/Português Caderno Didático - 1º Período</p><p>Ficha Técnica</p><p>Título Original: Luther</p><p>Gênero: Drama</p><p>Tempo de Duração: 112 minutos</p><p>Ano de Lançamento (Alemanha / EUA): 2003</p><p>Site Oficial: www.lutherthemovie.com</p><p>Fonte: http://www.portalvmmnet.kit.net</p><p>Figura 20</p><p>362</p><p>3UNIDADE 3</p><p>TEXTO E TEXTUALIDADE</p><p>Se você chegou até aqui é porque terminou com sucesso as</p><p>unidades I e II. Parabéns! Agora você dará mais um passo importante.</p><p>Vamos estudar a unidade III?</p><p>Apresentação da unidade</p><p>Apresentamos a unidade III da disciplina Introdução à leitura.</p><p>Nela discutiremos noções dos princípios constitutivos do texto e os fatores</p><p>envolvidos em sua produção e recepção. É um estudo situado dentro da</p><p>Linguística Textual e relevante para desenvolver as habilidades de um bom</p><p>leitor e produtor de textos.</p><p>Objetivos:</p><p>?Estudar o que é texto e textualidade.</p><p>?Entender quais são as características de um texto que fazem</p><p>com que ele seja texto e não um amontoado de frases.</p><p>?Ler textos identificando os fatores de textualidade.</p><p>3.1 O CONCEITO DE TEXTO</p><p>Sabe-se que no processo comunicacional, seja oral ou escrito, o</p><p>que as pessoas têm a dizer umas às outras elas não dizem por meio de</p><p>palavras ou frases isoladas, mas por meio de textos. O conceito de texto</p><p>surge assim como sinônimo de discurso e, de acordo com Costa Val</p><p>(1999), é “ocorrência linguística falada ou escrita, de qualquer extensão,</p><p>dotada de unidade sociocomunicativa, semântica e formal”.</p><p>É possível afirmar que em um texto o significado das frases não é</p><p>autônomo, isso implica que não é possível isolar uma frase do texto e</p><p>atribuir-lhe um significado qualquer pois o significado pode ser distinto,</p><p>dependendo do seu contexto de inserção. Platão e Fiorin (1995) afirmam</p><p>que:</p><p>...para entender qualquer passagem de um</p><p>texto, é necessário confrontá-la com as demais</p><p>partes que o compõem sob pena de dar-lhe um</p><p>significado oposto ao que ela de fato tem.</p><p>E</p><p>A</p><p>B G</p><p>GLOSSÁRIO</p><p>F</p><p>C</p><p>Corrente da Lingüística</p><p>moderna: surgida na</p><p>década de 1960, na</p><p>Europa, onde ganhou</p><p>projeção a partir dos anos</p><p>70. Teve inicialmente por</p><p>preocupação descrever os</p><p>fenômenos sintático-</p><p>semânticos ocorrentes</p><p>entre enunciados ou</p><p>seqüências de enunciados.</p><p>Você verá com maiores</p><p>detalhes dentro da</p><p>disciplina Lingüística.</p><p>Aguarde!</p><p>Escolhe teu diálogo e tua melhor palavra ou teu melhor silêncio Mesmo</p><p>no silêncio e com o silêncio</p>

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