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<p>2023</p><p>2ª Edição</p><p>Fundamentos da Vida</p><p>ProFissional</p><p>Prof.ª Fabiane Brião Vaz</p><p>Copyright © UNIASSELVI 2023</p><p>Elaboração:</p><p>Prof.ª Fabiane Brião Vaz</p><p>Revisão, Diagramação e Produção:</p><p>Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI</p><p>Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri</p><p>UNIASSELVI – Indaial.</p><p>Impresso por:</p><p>III</p><p>aPresentação</p><p>Este livro de estudos foi elaborado com o intuito de apresentar os</p><p>fundamentos da Ciência Política, sociologia e filosofia ao acadêmico. Serão</p><p>desenvolvidas ideias centrais de cada uma dessas ciências, colocando o</p><p>aluno em contato com tais matérias de tamanha importância para o bom</p><p>desenvolvimento social.</p><p>Na primeira unidade, demonstraremos os fundamentos históricos</p><p>da Ciência Política, dando início ao desenvolvimento do pensamento acerca</p><p>desta importante disciplina. Discutiremos questões que abordam desde uma</p><p>introdução básica e estruturação da ideia de pensamento político até uma</p><p>breve explanação sobre o sistema de partidos políticos que vigora no sistema</p><p>eleitoral brasileiro nos dias atuais. Também identificaremos conceitos como</p><p>“governo”, “Teoria Geral do Estado” “Constituição” e “democracia”.</p><p>Na segunda unidade, destacaremos a importância do estudo da</p><p>sociologia, os objetos e objetivos desta. Conheceremos os principais elementos</p><p>da Ciência da Sociologia, as ideias principais em destaque ao longo da história,</p><p>o contexto histórico dos pensamentos sociológicos e a ideia central de cidadania</p><p>e movimento sociais. A explicação acontecerá com a elaboração de tópicos</p><p>para que se obtenha conhecimento. Ainda, analisaremos as ideias centrais dos</p><p>principais pensadores, além do reconhecimento sobre os conceitos de ação e</p><p>relação social, cidadania, direitos humanos e movimentos sociais.</p><p>Na terceira e última unidade, destacaremos o estudo do pensamento</p><p>filosófico através da identificação dos objetos e objetivos da filosofia, a</p><p>introdução do aluno no processo de filosofar, a constatação das ideias</p><p>principais da filosofia que obtiveram destaque ao longo da história e a</p><p>percepção do contexto histórico dos pensamentos filosóficos, sobretudo na</p><p>contemporaneidade. Assim, elaboramos tópicos direcionados à compreensão</p><p>das características do pensamento filosófico e do processo de filosofar,</p><p>compreendendo o papel da filosofia no mundo moderno.</p><p>IV</p><p>Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para</p><p>você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há</p><p>novidades em nosso material.</p><p>Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é</p><p>o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um</p><p>formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura.</p><p>O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova</p><p>diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também</p><p>contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo.</p><p>Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente,</p><p>apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade</p><p>de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador.</p><p>Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para</p><p>apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto</p><p>em questão.</p><p>Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas</p><p>institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa</p><p>continuar seus estudos com um material de qualidade.</p><p>Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de</p><p>Desempenho de Estudantes – ENADE.</p><p>Bons estudos!</p><p>NOTA</p><p>V</p><p>VI</p><p>VII</p><p>UNIDADE 1 – CONCEITOS E FUNDAMENTOS DA CIÊNCIA POLÍTICA ............................. 1</p><p>TÓPICO 1 – INTRODUÇÃO E CONTEXTO HISTÓRICO DA CIÊNCIA POLÍTICA ............. 3</p><p>1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 3</p><p>2 CONCEITO DE CIÊNCIA POLÍTICA .............................................................................................. 4</p><p>3 CONTEXTO HISTÓRICO DA CIÊNCIA POLÍTICA ................................................................... 5</p><p>4 PRINCIPAIS TEORIAS POLÍTICAS ................................................................................................ 6</p><p>LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................... 12</p><p>RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................ 15</p><p>AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 16</p><p>TÓPICO 2 – CIÊNCIA POLÍTICA E TEORIA GERAL DO ESTADO .......................................... 17</p><p>1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 17</p><p>2 SOCIEDADE E ESTADO .................................................................................................................... 18</p><p>3 O ESTADO DE DIREITO .................................................................................................................... 21</p><p>LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................... 25</p><p>RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................ 28</p><p>AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 29</p><p>TÓPICO 3 – GOVERNO, CONSTITUIÇÃO E DEMOCRACIA .................................................... 31</p><p>1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 31</p><p>2 CONSTITUIÇÃO E DEMOCRACIA ................................................................................................ 31</p><p>3 O PODER CONSTITUINTE ............................................................................................................... 33</p><p>4 FORMAS E SISTEMAS DE GOVERNO .......................................................................................... 35</p><p>LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................... 37</p><p>RESUMO DO TÓPICO 3........................................................................................................................ 40</p><p>AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 41</p><p>TÓPICO 4 – PARTIDOS POLÍTICOS NO BRASIL.......................................................................... 43</p><p>1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 43</p><p>2 SISTEMA ELEITORAL ........................................................................................................................ 43</p><p>3 PARTIDOS POLÍTICOS E SISTEMAS PARTIDÁRIOS .............................................................. 45</p><p>LEITURA COMPLEMENTAR 1 ............................................................................................................ 47</p><p>LEITURA COMPLEMENTAR 2 ............................................................................................................ 48</p><p>RESUMO DO TÓPICO 4........................................................................................................................ 50</p><p>AUTOATIVIDADE .................................................................................................................................</p><p>do reino e do poder real e com suas projeções:</p><p>a segurança, a justiça, os contornos da vida. Para evocar novamente a frase de</p><p>Weber, o “monopólio do uso legítimo da violência”.</p><p>Quero retomar, embora sem alongar-me, para a observação ali feita, que</p><p>distingue em Il príncipe um “historiador pragmático” e na Republique de Bodin</p><p>um jurista sistemático, apontado no Leviathan como um filósofo com ponderável</p><p>veia metafísica e com uma visão do homem um tanto negativa.</p><p>Diria que a época era de revisões filosóficas, e que a antropologia política</p><p>de Hobbes traduziu um realismo profundo (realismo também em Maquiavel,</p><p>mas com outro sentido). Quanto a Bodin, com efeito, foi homem de preocupações</p><p>metodológicas, apto para a visão estrutural do fenômeno do Estado (mencionado</p><p>como “republica”). Interessante também o amplo estudo de Pocock (1975).</p><p>O livro de Meinecke, publicado em 1924, Die Idee der Staatsraeson in der</p><p>neueren Geschichte, marcado por um certo europocentrismo, ficou de qualquer</p><p>sorte, pela força de seu texto, como o grande chamamento ao tema.</p><p>FONTE: NOGUEIRA SALDANHA, Nelson. Notas sobre o Estado Moderno e a separação de</p><p>poderes. Duc in Altum, Recife, v. 3, n. 4, p. 193-198, jul. 2008. Disponível em: . Acesso em: 9 jul. 2018.</p><p>28</p><p>RESUMO DO TÓPICO 2</p><p>Neste tópico, você aprendeu que:</p><p>• Teoria Geral do Estado é matéria do campo jurídico, são os estudos que</p><p>aparecem cronologicamente em tempo posterior ao pensar dos cientistas</p><p>políticos. É a aplicação dos resultados obtidos na Ciência Política.</p><p>• Sociedade é um grupo de indivíduos reunidos e organizados em determinado</p><p>território geográfico e com um objetivo em comum.</p><p>• Para um agrupamento humano ser considerado sociedade, é necessário:</p><p>finalidade ou valor social, manifestações de conjunto ordenadas e poder social.</p><p>• Povo é um conjunto de indivíduos sob o mesmo regime de normas, possuidor</p><p>de direitos e deveres.</p><p>• Território é a base geográfica onde um Estado exerce seu poder coercitivo nos</p><p>seus cidadãos. É materialmente formado pela terra firme.</p><p>• Governo é o conjunto das funções necessárias à manutenção da ordem jurídica</p><p>e da administração pública.</p><p>• Soberania é o poder de se organizar juridicamente e de fazer valer, dentro do</p><p>seu território, a universalidade de suas normas.</p><p>• Confederação são estados independentes e que se juntam para fins de defesa</p><p>externa e paz interna.</p><p>• Federação: Estado formado pela união de vários Estados, que perdem a</p><p>soberania em favor do poder central da União Federal.</p><p>29</p><p>1 O Estado Moderno divide suas funções em três aspectos. As funções de</p><p>administrar o Estado e visar aos seus objetivos concretos dizem respeito à</p><p>função exercida pelo poder:</p><p>a) Estatal.</p><p>b) Judiciário.</p><p>c) Executivo.</p><p>d) Legislativo.</p><p>2 O tríplice aspecto da Teoria Geral do Estado abrange os aspectos:</p><p>a) Sociológico, Político e Jurídico.</p><p>b) Sociológico, Político e Filosófico.</p><p>c) Sociológico, Filosófico e Jurídico.</p><p>d) Político, Jurídico e Filosófico.</p><p>AUTOATIVIDADE</p><p>30</p><p>31</p><p>TÓPICO 3</p><p>GOVERNO, CONSTITUIÇÃO E DEMOCRACIA</p><p>UNIDADE 1</p><p>1 INTRODUÇÃO</p><p>Neste tópico, serão desenvolvidas apreciações sobre as ideias de governo,</p><p>Constituição e democracia. A conceituação desses adventos institucionais é de</p><p>grande importância no estudo da Ciência Política, uma vez que são parte central</p><p>para o entendimento e persecução dos objetivos.</p><p>Assim, será levantado um breve histórico sobre a criação da Constituição</p><p>em nosso país. Ainda, discutiremos as ideias do poder constituinte e as formas e</p><p>sistemas de governo previstos ao longo da história.</p><p>2 CONSTITUIÇÃO E DEMOCRACIA</p><p>Com a proclamação da Constituição da República Federativa do Brasil,</p><p>em 1988, é instituído o Estado Democrático de Direito proveniente do movimento</p><p>constitucionalista vindo no segundo pós-guerra.</p><p>A busca em estabelecer uma sociedade livre, justa e solidária, relacionando-</p><p>se com diferentes culturas, etnias e a pluralidade de ideias, procura assegurar a</p><p>presença do povo. Concebe a soberania popular como garantia geral dos direitos</p><p>fundamentais da pessoa humana. Além de um puro instrumento de governo, a</p><p>Constituição emerge como um plano de normas sociais, fundamentos de uma</p><p>sociedade. Segundo Streck e De Morais (2014, p. 81):</p><p>Não compreende somente um “estatuto jurídico e político”, mas</p><p>um “plano global normativo” da sociedade e, por isso mesmo, do</p><p>Estado brasileiro. Daí ser ela a Constituição do Brasil, e não apenas a</p><p>Constituição da República Federativa do Brasil.</p><p>Dessa forma, a gestão assegura a participação das pessoas na política</p><p>nacional e também procura todas as maneiras possíveis para garantir a</p><p>manutenção e totalidade dos direitos essenciais da pessoa humana.</p><p>32</p><p>UNIDADE 1 | CONCEITOS E FUNDAMENTOS DA CIÊNCIA POLÍTICA</p><p>Agrega-se às noções que pertencem a três formas de governo que foram</p><p>estudadas: liberal, social e democrático. Modera os poderes do Estado, propicia</p><p>atenção aos direitos individuais e sociais e recusa todo regime de governo</p><p>autoritário, estimulando a atuação dos cidadãos.</p><p>Com o desenvolvimento dos costumes, estabelecidos pela ordem jurídica e</p><p>proclamados por cada uma das novas sustentações estatais, é feita uma escala com</p><p>as “gerações de direitos”. A leitura não somente deve englobar aspectos literais.</p><p>Deve levar em consideração, também, o significado histórico, sistemático e</p><p>os motivos pelos quais ela existe. O objetivo precisa ser o de alcançar o que propôs</p><p>o legislador, de forma que não se direcione a um fim descabido ou antiquado.</p><p>Sendo assim, o poder público deve agir de forma dirigida e precaver as</p><p>necessidades ao estabelecer, de antemão, políticas que consolidam os direitos</p><p>humanos, protegendo os direitos de minorias étnicas, raciais, religiosas e sexuais.</p><p>Para que seja iniciada uma busca pela equiparação, é necessário um</p><p>aumento anterior na participação democrática, pois a desigualdade exige um</p><p>sistema não participativo para que se mantenha sua condição.</p><p>A mudança de consciência da população e a mitigação de desigualdades</p><p>sociais e econômicas culminam na igualdade necessária para manutenção de um</p><p>sistema participativo. Dessa forma, há um aumento no engajamento e é criada a</p><p>legitimação na tomada de decisões.</p><p>Além da declaração de direitos do liberalismo clássico e da garantia do</p><p>Estado social, surge a necessidade de concretização. Então, após a etapa dos</p><p>direitos individuais do Estado liberal (fase Declaratória dos Direitos) e dos</p><p>direitos sociais do Estado social (fase Garantidora dos Direitos), é chegada a fase</p><p>dos direitos fraternais. O Estado democrático de direito (fase Concretista dos</p><p>Direitos) amplia o conceito social e adota uma postura proativa.</p><p>Assim, o objetivo é tornar a sociedade um meio pelo qual as distâncias</p><p>sejam encurtadas e que haja respeito em relação a raça, cor, sexo, idioma, religião,</p><p>opinião política ou de outra natureza, origem nacional ou social, riqueza,</p><p>nascimento, ou qualquer outra condição.</p><p>Para ilustrar essa reforma social, analisamos a aplicação e interpretação</p><p>da norma jurídica em conformidade com a Constituição de 1988 e podemos</p><p>representar, resumidamente, os postulados do Princípio da Dignidade da Pessoa</p><p>Humana com o fluxograma a seguir:</p><p>TÓPICO 3 | GOVERNO, CONSTITUIÇÃO E DEMOCRACIA</p><p>33</p><p>FIGURA 2 – DIREITOS FUNDAMENTAIS</p><p>Direito Sociais Genéricos</p><p>(art.6°, CF/88 - plano do ter - Igualdade Material)</p><p>Princípio da Dignidade da Pessoa Humana</p><p>Estado Democrático de Direito Brasileiro</p><p>(art.1°, III, CF/88)</p><p>Direitos Fraternais</p><p>(art. 4°, I e IV, CF/88 - plano do respeitar - Fraternidade).</p><p>Concretização dos Direitos Individuais</p><p>(art.5°, CF/88 - plano do ser - Liberdade)</p><p>FONTE: O autor</p><p>Objetivando que o Princípio da Dignidade da Pessoa Humana seja</p><p>instaurado em nossa composição, necessitamos que tais normas tenham</p><p>eficácia social, e não basta somente o vigor das denominadas "leis dirigentes ou</p><p>programáticas".</p><p>Essa eficácia social se dá conforme comprometimento</p><p>direto de todo o</p><p>corpo social e dos juristas por meio da verificação dos ensinamentos da moral,</p><p>respeito, honestidade e fraternidade.</p><p>3 O PODER CONSTITUINTE</p><p>A Constituição é a lei fundamental de um determinado Estado, lei esta</p><p>que emana do poder soberano desse Estado. No caso dos países democráticos,</p><p>esse poder soberano é o povo. O poder constituinte é um dos cargos desse poder</p><p>de soberania, é o poder de instituir, reconstituir ou modificar a ordem jurídica</p><p>vigente no Estado. Para exercer as funções citadas, o poder soberano, o povo</p><p>utiliza representantes eleitos, denominados de Assembleia Constituinte.</p><p>A Assembleia Constituinte é caracterizada pela capacidade que a</p><p>sociedade tem de traçar os princípios pelos quais deseja nortear a vida de seus</p><p>cidadãos. Afinal, é justo que os cidadãos possam determinar os preceitos que irão</p><p>fundamentar a ordem jurídica de seu Estado. Eles possuem o poder soberano.</p><p>34</p><p>UNIDADE 1 | CONCEITOS E FUNDAMENTOS DA CIÊNCIA POLÍTICA</p><p>IMPORTANTE</p><p>O Direito caminha atrás da sociedade, que está em constante mudança. Logo,</p><p>é importante que a soberania nacional esteja sempre atenta para adequar os princípios</p><p>basilares da ordem jurídica à vida dos cidadãos.</p><p>Falamos anteriormente sobre as três funções do Estado. Então, é importante</p><p>fixar que a Assembleia Constituinte se difere das assembleias legislativas. Ocorre</p><p>que a primeira é transitória e possui poder ilimitado. Uma vez em atividade, ela</p><p>exerce o poder soberano em sua plenitude. Já as assembleias legislativas são fixas</p><p>e essenciais em sua função para a manutenção do Estado.</p><p>A Assembleia Constituinte será reunida em casos com a necessidade de</p><p>criar, restabelecer ou reformar a ordem jurídica e/ou política de determinada</p><p>sociedade civil. Como já vimos, a assembleia tem caráter transitório, ou seja,</p><p>uma vez cumprida a sua função, após promulgação e publicação de novo teor da</p><p>Constituição, a assembleia se dissolverá.</p><p>Contudo, quem são os representantes do povo na Assembleia Constituinte?</p><p>Nos Estados democráticos, como já vimos, o povo é titular do poder constituinte.</p><p>Os titulares desse poder são os cidadãos possuidores de legitimidade, que se</p><p>expressam de maneira direta ou representativa, por meio do sufrágio universal.</p><p>O poder constituinte pode ser classificado em originário ou derivado:</p><p>• Poder constituinte originário: é caracterizado por ser inicial (concebe uma nova</p><p>Constituição), ilimitado (não é limitado pela ordem jurídica anterior à formação),</p><p>autônomo (não precisa respeitar limites de direito positivo anterior) e incondicionado</p><p>(não precisa seguir formas prefixadas para manifestar suas pretensões).</p><p>A criação de uma Constituição inteiramente nova, que anulará a</p><p>Constituição anterior, instituindo uma nova ordem jurídica para a sociedade,</p><p>será sempre obra do poder constituinte originário.</p><p>• Poder constituinte derivado: é caracterizado por ser derivado (busca sua força</p><p>no poder constituinte originário), subordinado (encontra limitações em normas</p><p>tanto expressas quanto implícitas no texto constitucional anterior) e condicionado</p><p>(ao praticar sua função, deve seguir as regras da Constituição vigente).</p><p>As mudanças possíveis em uma Constituição vigente, que ampara</p><p>novas indigências da população, sem necessidade de recorrer a caminhos</p><p>revolucionários ou ao poder constituinte originário, serão sempre obra do poder</p><p>constituinte derivado. O poder constituinte derivado pode aparecer de maneira</p><p>reformadora ou decorrente.</p><p>TÓPICO 3 | GOVERNO, CONSTITUIÇÃO E DEMOCRACIA</p><p>35</p><p>Quando reformador, é exercido por órgãos de caráter representativos. No</p><p>Brasil, é o Congresso Nacional. Essa reforma só é possível para as constituições</p><p>escritas através de um processo legislativo solene. Cabe aqui fixar o Art. 60,</p><p>parágrafo 4º da Constituição Brasileira (BRASIL, 2000):</p><p>Art. 60, § 4º C.F Não será objeto de deliberação a proposta de emenda</p><p>tendente a abolir:</p><p>I - a forma federativa de Estado;</p><p>II - o voto direto, secreto, universal e periódico;</p><p>III - a separação dos Poderes;</p><p>IV - os direitos e garantias individuais.</p><p>Na sua forma decorrente, o poder constituído derivado incide na</p><p>capacidade de auto-organização que os estados membros possuem através da</p><p>autonomia política e administrativa concebida. Esse poder ocorre por meio</p><p>das constituições estaduais, sempre respeitando as regras estabelecidas na</p><p>Constituição Federal.</p><p>4 FORMAS E SISTEMAS DE GOVERNO</p><p>São formas de governo a maneira como o poder de um Estado se organiza</p><p>e exerce suas funções. As formas determinam a situação jurídica e social dos</p><p>cidadãos em relação às autoridades de seu país. Dentre as formas de governo,</p><p>vamos estudar monarquia e república.</p><p>Na monarquia, o governo é representado por apenas um indivíduo, que</p><p>ocupa o seu cargo em caráter vitalício, cargo este que está sujeito à sucessão</p><p>hereditária. O governante deve governar em prol do bem geral.</p><p>Algumas características são fundamentais para se estabelecer um</p><p>governo monárquico: vitaliciedade (o monarca governa enquanto viver),</p><p>hereditariedade (a escolha do monarca ocorre por linha sucessória) e</p><p>irresponsabilidade (o monarca governa sem necessidade de responsabilidade</p><p>política, não deve explicações ao povo).</p><p>Diferentemente da monarquia, que concentra o governo em uma única</p><p>autoridade, na República temos um governo que remete à coletividade. O</p><p>exercício da soberania e o poder pertencem ao povo. Os representantes são vários</p><p>e eleitos pelo povo para exercerem um mandato previamente fixado.</p><p>As características diferenciadoras da república também são três:</p><p>temporariedade (os mandatos das autoridades de governo possuem prazo</p><p>predeterminado), eletividade (os governantes são eleitos pelo povo, não existe</p><p>sucessão hereditária) e responsabilidade (os governantes devem explicações ao</p><p>povo). É a forma de governo brasileira.</p><p>36</p><p>UNIDADE 1 | CONCEITOS E FUNDAMENTOS DA CIÊNCIA POLÍTICA</p><p>Diferentemente das formas de governo, que dizem respeito à organização</p><p>do poder do Estado, denominamos como sistemas de governo a organização</p><p>política e social. Sistema de governo diz respeito à organização dos poderes</p><p>Executivo e Legislativo. Sobre sistemas de governo, vejamos parlamentarismo e</p><p>presidencialismo:</p><p>No parlamentarismo, existe um chefe de Estado representando sem</p><p>responsabilidade política (rei ou presidente da república) e um chefe de governo</p><p>(primeiro-ministro) que é de fato o governante do Estado.</p><p>O Parlamento, normalmente, é dividido em duas Casas (ou Câmaras),</p><p>sendo elas as chamadas Câmara Alta (membros escolhidos por via indireta, com</p><p>poderes limitados) e Câmara Baixa (membros resultantes do sufrágio universal,</p><p>exercem controle de governo).</p><p>No Brasil, o sistema de governo é o presidencialismo. Um sistema caracterizado</p><p>pela separação de poderes, fator que favorece a especialização do exercício de</p><p>governo. Nesse sistema, a administração se concentra na figura do presidente da</p><p>República, que exerce a função de Chefe de Estado e de Chefe de Governo.</p><p>TÓPICO 3 | GOVERNO, CONSTITUIÇÃO E DEMOCRACIA</p><p>37</p><p>LEITURA COMPLEMENTAR</p><p>DEMOCRACIA, CONSTITUIÇÃO E PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS:</p><p>NOTAS DE REFLEXÃO CRÍTICA NO ÂMBITO DO DIREITO</p><p>CONSTITUCIONAL BRASILEIRO</p><p>Ruy Samuel Espíndola</p><p>A teoria da constituição, basicamente, tem relacionado democracia</p><p>e constituição em duas importantes perspectivas: a primeira, colocando a</p><p>democracia como princípio legitimador da constituição; noutra, abordando a</p><p>democracia como princípio jurídico integrante da constituição, ou seja, como</p><p>princípio constitucional encartado na ordem jurídica.</p><p>Devemos avaliar, pela primeira perspectiva, se a feitura do texto</p><p>constitucional, o processo constituinte e o texto como resultado desse processo são</p><p>ou não democráticos ou se correspondem a níveis de democraticidade esperáveis</p><p>segundo as circunstâncias de cada jogo político armado pelas comunidades</p><p>organizadas em Estados.</p><p>Pela segunda, devemos compreender as consequências normativas,</p><p>teóricas e dogmáticas ao termos a democracia</p><p>como norma jurídica ordenadora da</p><p>vida do Estado, da sociedade e dos cidadãos. São questionadas as consequências</p><p>práticas da democracia como princípio constitucional, informando a</p><p>compreensão, produção e aplicação do direito positivo como princípio normativo</p><p>heterodeterminante da ordem jurídica globalmente considerada.</p><p>Exemplo de norma constitucional com tal conteúdo se deduz da cabeça</p><p>do Art. 1º de nossa Constituição da República, sendo que, ao longo do texto,</p><p>encontraremos os subprincípios e regras densificadoras do princípio democrático</p><p>(e. g., preâmbulo, arts. 1º, V; 5º, VIII; 7º, XI, última parte; 10; 11; 14; 17; 23, I; 27; 29,</p><p>I; 34, VII, letra "a"; 45; 46; 47; 58, § 1º; 77; 81; 90, II; 96, I, letra "a", primeira parte;</p><p>103; 127, caput; 206, II, III, primeira parte e VI).</p><p>Na esteira da última perspectiva, a teoria do direito público também se ocupa</p><p>com a democracia e com seus enraizamentos constitucionais. A juspublicística</p><p>se preocupa em reconhecer na democracia um princípio reconstrutor do direito</p><p>público, um princípio em torno do qual se encabeçam e se estruturam todas as</p><p>normas atinentes ao grande ramo do direito positivo. Essas perspectivas teóricas</p><p>oferecem interessantes aportes à análise de nossa lei fundamental.</p><p>Todavia, outra é a nossa perspectiva neste trabalho, pois queremos</p><p>demonstrar que, apartados da ideia de constituição e da juridicidade superior</p><p>dos princípios constitucionais, o conceito de democracia e a sua práxis são</p><p>incompletos e inseguros. Nossa tese parte da premissa de que a realizabilidade</p><p>da democracia tem como exigências necessárias a efetividade da constituição, o</p><p>respeito à constituição e o acato da força normativa de suas regras e princípios.</p><p>38</p><p>UNIDADE 1 | CONCEITOS E FUNDAMENTOS DA CIÊNCIA POLÍTICA</p><p>Assim, queremos desenvolver as seguintes questões: qual a relação</p><p>necessária entre princípios constitucionais, constituição e democracia? Qual</p><p>a possível resultante de uma problematização desses conceitos em face de</p><p>problemas colocados pela realidade institucional? E o que essas ideias têm a ver</p><p>com a proteção da cidadania e da dignidade da pessoa humana através de uma</p><p>postura que preze a força normativa da constituição?</p><p>Melhor dizendo, como a incompreensão, a irrealização desses conceitos</p><p>no plano da vida, frustrando a força normativa da constituição, podem fragilizar</p><p>a defesa dos direitos e interesses das pessoas humanas em face das realidades</p><p>arredias às normativas principiológicas e regrísticas da ordem constitucional?</p><p>A tomada de rumo implica que passemos a discorrer sobre os conceitos que</p><p>compõem o título de nosso trabalho, ou seja, analisaremos a ideia de democracia,</p><p>constituição e princípios constitucionais.</p><p>Por necessidade de bom método didático, comecemos pela ideia de</p><p>democracia - de democracia contemporânea. Dela enfatizaremos o aspecto que</p><p>mais nos interessa para os fins deste trabalho.</p><p>A ideia de democracia não é mais tomada somente como a regra da</p><p>maioria, o governo do maior número. Uma tal ideia, levada a extremos, poderia</p><p>fazer com que uma maioria circunstancial revogasse a própria regra da maioria e</p><p>colocasse o poder decisório na mão de um único homem, ou de um restritíssimo</p><p>grupo de homens.</p><p>A história é repleta de tais exemplos, sendo desnecessário aqui retomá-</p><p>los. Todavia, a proposta esdrúxula da constituinte, tão bem combatida por Paulo</p><p>Bonavides, consiste em exemplo vivo e atual do problema.</p><p>Uma concepção mais dilatada, que entende a regra da maioria como</p><p>um elemento importante do conceito de democracia, mas não preponderante,</p><p>advoga a tese de que, para um adequado conceito de democracia, é necessário</p><p>um mínimo de regras institucionalizadas, que estabeleçam quem está autorizado</p><p>a tomar decisões coletivas e com quais procedimentos.</p><p>É a ideia de democracia como um mínimo de regras do jogo político para o</p><p>exercício do poder. Essa é a concepção profligada por Norberto Bobbio. Todavia,</p><p>entende esse mesmo autor que só essa ideia ainda não é capaz de fomentar uma</p><p>tendencial convivência democrática.</p><p>Hoje se firma, no pensamento político, a ideia de que a democracia</p><p>pressupõe a crença, a convivência e os costumes sociais e políticos perspectivados</p><p>sob o apanágio e a inspiração de valores. A democracia orientada segundo</p><p>diretivas axiológicas e normativas. A democracia como um conjunto de ideias, de</p><p>ideais, de princípios (éticos, políticos e jurídicos) ordena a vida do povo e os fins</p><p>da ação pública do Estado.</p><p>TÓPICO 3 | GOVERNO, CONSTITUIÇÃO E DEMOCRACIA</p><p>39</p><p>É a democracia fundada na ideia do consenso estabelecido não só pela</p><p>confluência do número de decisores, mas também pela eleição e autovinculação</p><p>do consenso em torno do razoável.</p><p>Essa ideia do razoável fundando o consenso instituinte da democracia</p><p>contempla a ideia da democracia justa, da democracia edificada e vivida sob a</p><p>égide dos direitos humanos, cujo fundamento seria a igualdade absoluta de todos</p><p>os homens.</p><p>Assim, para este trabalho, importa afirmar que a democracia, ou o seu</p><p>aspecto que aqui mais deve grassar, é o de que ela representa uma convivência</p><p>comunitária fundada à luz dos direitos humanos e na perspectiva de assegurá-</p><p>los, com real eficácia a todos os homens em suas dignidades de pessoas humanas.</p><p>Democracia constitucional que, para a consecução desses fins, serve-se dos</p><p>princípios jurídicos assentados nas constituições, dos princípios constitucionais</p><p>integrantes da ordem jurídica.</p><p>FONTE: ESPÍNDOLA, Ruy Samuel. Democracia, constituição e princípios constitucionais: notas de</p><p>reflexão crítica no âmbito do direito constitucional brasileiro. Resenha eleitoral, Santa Catarina, v.</p><p>9, n. 2, p. 18-28, jul. 2002. Disponível em: . Acesso em: 9 jul. 2018.</p><p>40</p><p>RESUMO DO TÓPICO 3</p><p>Neste tópico, você aprendeu que:</p><p>• O poder constituinte é o poder de instituir, reconstituir ou modificar a ordem</p><p>jurídica vigente no Estado.</p><p>• A Assembleia Constituinte se caracteriza pela capacidade que a sociedade tem</p><p>de traçar os princípios pelos quais deseja nortear a vida de seus cidadãos.</p><p>• A Assembleia Constituinte se difere das assembleias legislativas.</p><p>• É forma de governo a maneira como o poder de um Estado se organiza e exerce</p><p>suas funções.</p><p>• Na monarquia, o governo é representado por apenas um indivíduo que ocupa o</p><p>seu cargo em caráter vitalício, cargo este que está sujeito à sucessão hereditária.</p><p>• Na república, temos um governo que remete à coletividade. O exercício da</p><p>soberania e o poder pertencem ao povo.</p><p>• Diferentemente das formas de governo, que dizem respeito à organização</p><p>do poder do Estado, denominamos como sistemas de governo a organização</p><p>política e social do Estado.</p><p>• No Parlamentarismo, existe um chefe de Estado representando o Estado</p><p>sem responsabilidade política (rei ou presidente da república) e um chefe de</p><p>governo (primeiro-ministro) que é de fato o governante do Estado.</p><p>• Aqui no Brasil, o sistema de governo é o Presidencialismo. Neste sistema, a</p><p>administração se concentra na figura do Presidente da República, que exerce</p><p>tanto a função de Chefe de Estado quanto de Chefe de Governo.</p><p>41</p><p>1 Elabore um fluxograma com as principais diferenças entre os sistemas e</p><p>formas de governo.</p><p>2 Ao estudar o presente tópico, podemos entender o porquê da necessidade</p><p>da democracia em um Estado regrado constitucionalmente. Explique</p><p>quais elementos foram fundamentais para o aumento no engajamento da</p><p>população em busca de um sistema democrático.</p><p>AUTOATIVIDADE</p><p>42</p><p>43</p><p>TÓPICO 4</p><p>PARTIDOS POLÍTICOS NO BRASIL</p><p>UNIDADE 1</p><p>1 INTRODUÇÃO</p><p>Neste tópico, estudaremos uma introdução básica sobre como se deu a</p><p>organização do sistema de partidos políticos e como ele se encontra estruturado</p><p>hoje em nosso país. Assim,</p><p>serão levantados conceitos importantes dentro do</p><p>sistema eleitoral, como o de voto. Ainda, também identificaremos a diferença</p><p>entre os partidos políticos e como eles se enquadram dentro dos diferentes tipos</p><p>de sistemas partidários.</p><p>2 SISTEMA ELEITORAL</p><p>O voto público está hoje completamente rejeitado. É um sistema tido</p><p>como antidemocrático, porque possibilita intimidação, corrupção, exploração</p><p>econômica e tudo que conduz à desmoralização da democracia representativa.</p><p>O voto secreto proporciona mais liberdade ao eleitor, suspende o medo de</p><p>violências, pressões, reduz as possibilidades de corrupção e permite uma apuração</p><p>confiável da verdade eleitoral, legitimando e assegurando o regime democrático.</p><p>Votar é tido como um direito, além de ser um ato de exercício da soberania</p><p>nacional. Algumas correntes doutrinárias interpretam o sufrágio como função</p><p>social. O sufrágio, como direito, deve ser universal; como função social, tende a</p><p>ser restrito e qualitativo.</p><p>É encarado como direito individual e, também, como função social. O</p><p>caráter de função social resulta da obrigatoriedade do voto. O método atual</p><p>utilizado pelo Sistema Eleitoral no Brasil é determinado pela Constituição de</p><p>1988, além de ser regulado pelo Tribunal Superior Eleitoral.</p><p>São já estipulados pela Constituição três sistemas eleitorais distintos, que</p><p>são detalhados no Código Eleitoral: eleições proporcionais para a Câmara dos</p><p>Deputados, eleições majoritárias com um ou dois eleitos para o Senado Federal e</p><p>eleições majoritárias em dois turnos para presidente e demais chefes do Executivo</p><p>nas outras esferas. Os votos distritais e proporcionais são as duas formas de</p><p>governo comumente encontradas nas democracias ocidentais modernas.</p><p>44</p><p>UNIDADE 1 | CONCEITOS E FUNDAMENTOS DA CIÊNCIA POLÍTICA</p><p>O voto distrital funciona com sistema majoritário. A representação</p><p>procura assegurar a eleição de quem obtiver a maior quantidade de votos de</p><p>representantes distritais. Não é possível votar em um candidato de outro distrito.</p><p>Vence o candidato com maioria, não importando a porcentagem. Um município é</p><p>dividido em distritos e cada partido pode lançar apenas um representante. Vence</p><p>aquele que tiver mais votos válidos.</p><p>O sistema proporcional, usado para a eleição dos cargos de deputado</p><p>federal, deputado estadual e vereador, considera os votos por legendas. O sistema</p><p>significa mais para partidos e coligações do que para os candidatos.</p><p>De acordo com o número de votos válidos, é feita uma divisão pelo</p><p>número de cadeiras e o resultado, denominado “quociente eleitoral”, indicará</p><p>quantos votos serão necessários para a ocupação da vaga. Sem o quociente, o</p><p>partido não terá direito a nenhuma cadeira.</p><p>Feita a conta, são conferidos quantos votos cada partido obteve, dividindo-</p><p>se a quantidade de votos obtidos pelo quociente. A partir do resultado, é obtido o</p><p>número de cadeiras que o partido terá direito no parlamento. Para Presidente da</p><p>República, governador e prefeito, as eleições acontecem de quatro em quatro anos.</p><p>No caso do Senado, as eleições também acontecem de quatro em quatro</p><p>anos, porém são 81 vagas (três para cada Estado e mais três para o Distrito Federal).</p><p>A cada eleição, a Casa renova, alternadamente, um terço e dois terços do total.</p><p>Quando dois senadores são eleitos para cada Estado, é utilizado o</p><p>sistema de escrutínio (apuração de votos) majoritário plurinominal. Nesse caso,</p><p>os eleitores votam nos dois candidatos de sua preferência e os dois com maior</p><p>votação são eleitos.</p><p>IMPORTANTE</p><p>A função do Poder Executivo é a de executar as leis e administrar o Estado. Já o</p><p>Poder Legislativo cuida da elaboração das leis e da fiscalização contábil e política do Poder</p><p>Executivo. Por sua vez, o Poder Judiciário aplica a lei ao caso concreto nos casos de conflito.</p><p>No Brasil, desde a Constituição de 1988, é definido que o sistema eleitoral</p><p>brasileiro para cargos de chefia do Poder Executivo funciona com o sistema</p><p>majoritário, ou seja, com maioria absoluta. Para vencer, o candidato deve ter mais</p><p>de 50% dos votos válidos, ou seja, descontados os votos em branco e os votos nulos.</p><p>TÓPICO 4 | PARTIDOS POLÍTICOS NO BRASIL</p><p>45</p><p>IMPORTANTE</p><p>Não é verdade a afirmação de que a eleição seria anulada caso existissem mais</p><p>de 50% dos votos nulos ou brancos. Esses votos não atuariam no resultado das eleições.</p><p>Caso o primeiro colocado consiga somar mais do que todos os demais</p><p>candidatos juntos, ele será eleito. Caso contrário, será necessário que seja</p><p>realizado um segundo turno, que contará apenas com os dois primeiros</p><p>colocados. Então, certamente com maioria simples de votos, um deles atingirá</p><p>mais da metade dos eleitores.</p><p>Notamos que não importa a porcentagem dos votos nulos ou em branco para</p><p>que o candidato seja eleito, uma vez que tais votos são excluídos da contagem. Nos</p><p>casos de cidades com menos de 200 mil eleitores, vence o candidato com maioria</p><p>simples, ou seja, maior número de votos válidos em apenas um turno de eleição.</p><p>3 PARTIDOS POLÍTICOS E SISTEMAS PARTIDÁRIOS</p><p>Em um sistema democrático, algumas questões podem se tornar</p><p>problemáticas se pensarmos nos anseios e vontades dos cidadãos. Cada indivíduo</p><p>possui preferências sobre seu tipo de pessoa e ideologia.</p><p>Com as diferentes ideias sobre o representante ideal para cada cidadão,</p><p>são formados grupos de indivíduos que pensam da mesma maneira e, assim,</p><p>entram em disputa com os grupos de ideais divergentes.</p><p>Denominamos de partidos políticos as alianças de cidadãos unidos por</p><p>determinada ideologia política. São agrupados de maneira organizada por meio</p><p>de instituições políticas possuidoras de personalidade jurídica de direito privado.</p><p>O sistema partidário de um Estado pode ser classificado em relação ao número de</p><p>partidos existentes dentro dele, podendo esse sistema ser:</p><p>• De partido único: existe apenas um partido no Estado. Os debates políticos</p><p>acontecem dentro do partido. O partido único segue princípios rigorosos e</p><p>inflexíveis e só existem discussões em relação aos aspectos secundários.</p><p>• Bipartidário: dois grandes partidos se alternam na governança do Estado.</p><p>Todavia, não estão excluídos da existência os partidos que permanecerem</p><p>pouco expressivos. Exemplos: Inglaterra e os Estados Unidos da América.</p><p>46</p><p>UNIDADE 1 | CONCEITOS E FUNDAMENTOS DA CIÊNCIA POLÍTICA</p><p>• Pluripartidário: vários partidos igualmente capacitados para poderem</p><p>conquistar mandatos para seus candidatos. Esse sistema aumenta a</p><p>intensidade das divergências de opiniões, resultando em uma impossibilidade</p><p>de coexistência e acarretando na criação de cada vez mais partidos. O cerne</p><p>das ideias partidárias é dividido entre o econômico, o social e o religioso. Em</p><p>relação às maneiras de atuação dos partidos, estas podem ser:</p><p>• Partidos nacionais: possuem adeptos em número abundante em todo o</p><p>território do Estado. São partidos de grande expressão nacional.</p><p>• Partidos regionais: o campo de atuação se limita a determinada região do</p><p>Estado. Tanto os líderes quanto os eleitores desses partidos se sentem agradados</p><p>com a conquista do poder político nessa determinada região.</p><p>• Partidos locais: são os de âmbito municipal. Norteiam sua atuação por</p><p>interesses locais e cobiçam a aquisição do poder político municipal.</p><p>O agrupamento em partido faz prevalecer, no Estado, a vontade social</p><p>preponderante. É importante ressaltar que os partidos políticos, algumas vezes, se</p><p>transformam em instrumentos para a conquista do poder, perdendo o real significado</p><p>do princípio de sua criação. Hoje em dia, a atuação dos seus membros, por vezes, não</p><p>se enquadra honestamente com os ideais enunciados no programa partidário.</p><p>TÓPICO 4 | PARTIDOS POLÍTICOS NO BRASIL</p><p>47</p><p>LEITURA COMPLEMENTAR 1</p><p>RESPONSABILIDADE ELEITORAL</p><p>Damiana Torres</p><p>Frederico Alvim</p><p>O Direito Eleitoral pode ser entendido como uma ciência do Direito que se</p><p>dedica ao estudo das normas e dos procedimentos que organizam e disciplinam</p><p>o funcionamento do poder de sufrágio popular, de modo que se estabeleça a</p><p>precisa equação</p><p>entre a vontade do povo e a atividade governamental.</p><p>Falar em Direito Eleitoral nos leva, automaticamente, a falar em democracia</p><p>que se baseia no povo. Há a responsabilidade da população de contribuir para a</p><p>vida política do país de forma digna e a responsabilidade dos governantes de</p><p>conduzirem o país de maneira íntegra.</p><p>A responsabilidade do ato de governar e, inclusive, de ser governado,</p><p>envolve razão, ética, honestidade, moralidade, probidade e inúmeras outras</p><p>características, as quais também integram o que se entende por responsabilidade</p><p>eleitoral que, por sua vez, envolve deveres, regras, sanções e restrições atinentes</p><p>ao Direito Eleitoral.</p><p>Ao analisar criticamente a responsabilidade eleitoral, é possível dizer que</p><p>ela se interessa muito mais pela mácula do pleito do que pela penalização dos</p><p>sujeitos que, ocasionalmente, possam violá-lo.</p><p>Por meio da responsabilidade, é possível imputar, para determinada</p><p>pessoa, um dever jurídico, cuja consequência é a sanção. Logo, responsabilidade</p><p>eleitoral é aquela que decorre de atos considerados ilícitos e sujeitos a sanções</p><p>como multa e até inelegibilidade e cassação (de registro, de diploma ou de</p><p>mandato) daquele que agiu com irresponsabilidade eleitoral.</p><p>Afinal, é possível dizer que, por meio da responsabilidade eleitoral, não</p><p>só o eleitor garante o seu direito de ser tratado com respeito, mas toda a Justiça</p><p>Eleitoral se beneficia, já que agir responsavelmente é dever de todos, sejam juízes,</p><p>cidadãos, políticos, candidatos, servidores ou partidos políticos.</p><p>Ninguém foge dos deveres de ser transparente nas ações de gestão e</p><p>prestação de contas, de participar de forma honrosa da política, de ser responsável</p><p>pelos atos praticados, de tomar decisões justas e de zelar pelo regime democrático.</p><p>FONTE: TORRES, Damiana; ALVIM, Frederico. Responsabilidade eleitoral. Brasília: TSE, 2017.</p><p>Disponível em: . Acesso em: 17 jul. 2018.</p><p>48</p><p>UNIDADE 1 | CONCEITOS E FUNDAMENTOS DA CIÊNCIA POLÍTICA</p><p>A EVOLUÇÃO HISTÓRICA DOS PARTIDOS POLÍTICOS</p><p>Frederico Alvim</p><p>O surgimento dos partidos políticos é um fenômeno social paulatino cuja</p><p>concepção pode ser identificada a partir dos séculos XVII e XVIII. Adota-se aqui</p><p>a noção de partido em sentido amplo, tal como a assumida por Georges Burdeau.</p><p>As agremiações partidárias existem desde que os homens, pela primeira vez,</p><p>concordaram a respeito de alguma finalidade com projeção social e dos meios</p><p>necessários para alcançá-la.</p><p>Por esse critério, seria possível vislumbrar o princípio do fenômeno</p><p>partidário nas atividades de tories (conservadores) e whigs (liberais) por ocasião</p><p>da Revolução Gloriosa, na Inglaterra, 1688; de federalistas e republicanos, nos</p><p>Estados Unidos pós-independência ou, ainda, de jacobinos e girondinos, no levante</p><p>revolucionário francês.</p><p>Em análise mais rigorosa, porém, o fortalecimento e a expansão da</p><p>atividade partidária somente ocorreram em meados do século XIX, quando os</p><p>grupos políticos evoluíram para a adoção de formas e estruturas mais estáveis,</p><p>definidas e profissionalizadas. Tal evolução foi impulsionada pela Revolução</p><p>Industrial, cujos reflexos produziram no operariado “o sentimento e a necessidade</p><p>de organizar-se enquanto classe, com o objetivo de combater a burguesia”.</p><p>Deriva daí a conclusão de que, até o século XIX, não existiam, propriamente,</p><p>partidos, mas apenas grupos políticos ou facções. O aparecimento dos partidos,</p><p>em noção apurada, identifica-se, portanto, com o momento em que a atuação</p><p>partidária superou o modelo de atuação ocasional e precária, parlamentar ou</p><p>eletiva. Era preciso assumir uma forma de mobilização política institucionalizada,</p><p>burocraticamente estruturada e duradoura. Segundo Farias Neto (2011, p. 178):</p><p>A princípio, os partidos foram organizações puramente eleitorais, cuja</p><p>função essencial consistia em assegurar o êxito de seus candidatos.</p><p>Nesse contexto, a eleição era o fim e o partido era o meio. Depois, o</p><p>partido desenvolveu funções próprias como organização capacitada</p><p>para a ação direta e sistemática sobre a atividade política, colocando a</p><p>eleição em serviço da propaganda partidária.</p><p>A situação hoje é inversa: as eleições é que se prestam a garantir o crescimento</p><p>das agremiações, de sorte que “o partido ficou sendo o fim, e a eleição ficou sendo o</p><p>meio”. Entretanto, durante largo período, as agremiações partidárias sobreviveram</p><p>sem que houvesse um tratamento jurídico que as regulasse.</p><p>LEITURA COMPLEMENTAR 2</p><p>TÓPICO 4 | PARTIDOS POLÍTICOS NO BRASIL</p><p>49</p><p>Eduardo Sánchez explica que, para a época, sua constituição e suas atividades</p><p>pertenciam à esfera privada. Ainda, não tinham relação alguma com as instituições</p><p>estatais. Superada tal fase, seguiu-se um estágio conturbado, caracterizado por uma</p><p>legislação de propósitos restritivos, com a imposição de condições específicas para</p><p>o funcionamento dos partidos. Existiam, em vários casos, proibições explícitas,</p><p>geralmente dirigidas às agremiações de orientação marxista.</p><p>A última etapa do evolucionismo partidário, portanto, viria com o seu</p><p>reconhecimento institucional, ocorrido após o término da Segunda Guerra</p><p>Mundial. Na visão de Karl Lowenstein, quando já não se podia ignorar por</p><p>mais tempo a importância das agremiações partidárias na vida democrática</p><p>constitucional, o tabu se rompeu, e a temática partidária afinal surgiu nos textos</p><p>das mais diversas constituições.</p><p>Hoje, os partidos políticos aparecem como elementos indispensáveis</p><p>à sobrevivência dos regimes democráticos modernos. Como pregava Darcy</p><p>Azambuja, os defeitos dos partidos são, em verdade, defeitos dos homens.</p><p>Devemos seguir corrigindo-os, para que, em marcos saudáveis, possamos mantê-</p><p>los. Apesar de suas falhas, não há como negar que os partidos políticos constituem</p><p>peças fundamentais na mecânica da democracia.</p><p>FONTE: ALVIM, Frederico. A evolução histórica dos partidos políticos. Brasília: TSE, 2017. Disponível</p><p>em: . Acesso em: 17 jul. 2018.</p><p>50</p><p>RESUMO DO TÓPICO 4</p><p>Neste tópico, você aprendeu que:</p><p>• Denominamos de partidos políticos as alianças de cidadãos unidos por</p><p>determinada ideologia política. São agrupados de maneira organizada por</p><p>meio de instituições políticas possuidoras de personalidade jurídica de direito</p><p>privado.</p><p>• O sistema partidário de um Estado pode ser classificado no que diz respeito ao</p><p>número de partidos existentes dentro dele, podendo esse sistema ser: partido</p><p>único, bipartidário ou pluripartidário.</p><p>• Em relação às maneiras de atuação dos partidos, estes podem ser: partidos</p><p>nacionais, regionais ou locais.</p><p>51</p><p>AUTOATIVIDADE</p><p>1 De que maneira podemos conceituar os denominados partidos políticos?</p><p>2 Explique o porquê de atualmente os partidos políticos estarem se tornando,</p><p>muitas vezes, meros instrumentos de poder.</p><p>52</p><p>53</p><p>UNIDADE 2</p><p>CONCEITOS E FUNDAMENTOS DA</p><p>SOCIOLOGIA</p><p>OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM</p><p>PLANO DE ESTUDOS</p><p>A partir dos estudos desta unidade, você será capaz de:</p><p>• destacar a importância do estudo da sociologia;</p><p>• identificar os objetos e objetivos da sociologia;</p><p>• introduzir os principais elementos da Ciência da Sociologia;</p><p>• constatar as ideias principais da sociologia em destaque ao longo da</p><p>história;</p><p>• perceber o contexto histórico dos pensamentos sociológicos, sobretudo na</p><p>contemporaneidade;</p><p>• caracterizar a ideia central de cidadania e movimentos sociais.</p><p>Esta unidade está dividida em cinco tópicos e, no final de cada um deles, você</p><p>encontrará atividades que o ajudarão a ampliar os conhecimentos adquiridos.</p><p>TÓPICO 1 – INTRODUÇÃO E CONTEXTO HISTÓRICO DA SOCIOLOGIA</p><p>TÓPICO 2 – ESTRUTURA DO CONHECIMENTO EM SOCIOLOGIA</p><p>TÓPICO 3 – PRINCIPAIS PENSADORES DA SOCIOLOGIA</p><p>TÓPICO 4 – CONCEITO DE AÇÃO E RELAÇÃO SOCIAL</p><p>TÓPICO 5 – CIDADANIA,</p><p>DIREITOS HUMANOS E MOVIMENTOS SOCIAIS</p><p>54</p><p>55</p><p>TÓPICO 1</p><p>INTRODUÇÃO E CONTEXTO HISTÓRICO DA SOCIOLOGIA</p><p>UNIDADE 2</p><p>1 INTRODUÇÃO</p><p>Neste tópico, você será apresentado à Ciência da Sociologia. O estudo terá</p><p>início com a elaboração do contexto histórico desta tão importante disciplina para</p><p>o bom entendimento e funcionamento da nossa sociedade.</p><p>2 CONTEXTO HISTÓRICO DA SOCIOLOGIA</p><p>O conceito de sociologia começou a ser moldado na época em que se</p><p>iniciava a Revolução Francesa, no fim do século XVIII. Esta revolução e a revolução</p><p>burguesa da Inglaterra no século XVII ajudaram a desenvolver o modelo de</p><p>produção capitalista no mundo ocidental, dando apresto ao processo liberal.</p><p>Em seguida, o capitalismo se solidificou no mundo moderno, asseverando</p><p>as suas condições de produção e reprodução. Pode-se afirmar, então, que a</p><p>sociologia teve sua origem no colo da modernidade. Ela é consequência do mundo</p><p>moderno. Ianni (1988) elucida que o mundo moderno depende da sociologia para</p><p>ser desvendado. Sem ela, o mundo seria mais confuso, incógnito, desconhecido.</p><p>A sociologia é a ciência da sociedade. Busca compreender as características</p><p>da sociedade capitalista, sistema econômico, político e social que vigora desde</p><p>sua criação em meados do século XIX. Como ciência, a sociologia nasceu durante</p><p>o percurso de criação do Estado Liberal. O capitalismo se encontrava em fase de</p><p>adequação como a nova forma de organização da sociedade.</p><p>A nova forma de organização social teve como pilar as, também novas,</p><p>relações de trabalho. Todas as novidades fizeram com que os pensadores da</p><p>época virassem olhares para o dinamismo das relações sociais. Passaram então a</p><p>criar teorias que explicassem tais dinâmicas diante de diferentes posicionamentos</p><p>políticos e sociais.</p><p>UNIDADE 2 | CONCEITOS E FUNDAMENTOS DA SOCIOLOGIA</p><p>56</p><p>A sociologia vem, desde então, procurando elucidar as composições e</p><p>procedimentos políticos, econômicos, sociais e culturais da coletividade. Está</p><p>ligada com todas as vertentes de relações sociais, procurando entender desde</p><p>os mecanismos de produção e coordenação até os mecanismos de autoridade,</p><p>controle e poder social.</p><p>Os mecanismos estão sob o olhar da sociologia, sejam eles institucionalizados</p><p>ou não, uma vez que os tipos de interações sociais citados sempre resultam em</p><p>algum grau de exploração ou igualdade, elementos que também fazem parte dos</p><p>estudos sociológicos.</p><p>No seu contexto histórico, a sociologia é apresentada como uma ciência</p><p>em construção. O fato facilita a compreensão de que a sociologia não está ilesa a</p><p>entrar em contradições, uma vez que o próprio sistema capitalista inúmeras vezes</p><p>se coloca em posições contraditórias.</p><p>É preciso lembrar que as relações interpessoais entre os membros de</p><p>uma comunidade se desenvolvem de maneiras altamente complexas, desde suas</p><p>formas de coordenação até o desempenho de seus meios de diálogo.</p><p>A sociedade globalizada, da maneira que se coloca nos dias de hoje,</p><p>adquiriu tal enredamento que se apresenta através de incontáveis facetas. Assim,</p><p>tem se tornado cada vez mais difícil estudar a Ciência da Sociologia, uma vez que</p><p>a problemática social atingiu níveis de dinamismo e complexidade inundados de</p><p>linhas tênues e paradoxos constantemente em andamento.</p><p>Tudo faz com que os estudos sociológicos se posicionem em constante</p><p>risco a conclusões simplificadas, necessitando de grande agilidade e eficiência</p><p>de seus cientistas para poderem desvendar todas as ligações da coletividade</p><p>contemporânea.</p><p>É necessário compreender as modificações sociais, culturais, ecológicas,</p><p>políticas e econômicas pelas quais o mundo está passando. As modificações</p><p>impedem que se fundamentem explicações simplificadas ou parciais.</p><p>O objetivo da Ciência da Sociologia não pode se apropriar da verdade.</p><p>Todavia, os fatores não podem ser elementos influenciadores para a intimidação</p><p>de cientistas, mas elementos desafiadores para seus estudos, com cunho</p><p>motivacional.</p><p>A sociologia não aparece com intuito de solucionar os males ou os</p><p>problemas de comunicação dos cidadãos. Ela surge como ciência e objetivando</p><p>desvendar as relações sociais, fornecendo diferentes visões sobre a sociedade. A</p><p>contribuição de seus estudos está na reflexão e compreensão sobre os caminhos</p><p>da coletividade.</p><p>TÓPICO 1 | INTRODUÇÃO E CONTEXTO HISTÓRICO DA SOCIOLOGIA</p><p>57</p><p>O objeto de trabalho de um analista social é, considerando as relações</p><p>de classe com seus interesses e lutas, expor de maneira elucidativa como se dão</p><p>e o porquê de elementos como a coordenação de um determinado Estado, os</p><p>matizes de sua sociedade civil, a concentração de poder dentro de seu território</p><p>e as modulações da exclusão social. Também deve estar atento aos fenômenos</p><p>mundiais, como a globalização, capitalismo, neoliberalismo etc.</p><p>A construção da metodologia e a elaboração de elucidações para os fatos</p><p>sociais são ocupações de um sociólogo. Dizem respeito às revelações extremamente</p><p>imprescindíveis e essenciais para a percepção crítica da vida em sociedade.</p><p>É importante que os sociólogos exponham as percepções que são</p><p>adquiridas através de um trabalho científico pela Ciência da Sociologia. Assim, a</p><p>sociedade tem melhor visibilidade e compreensão de seus próprios atos, podendo</p><p>optar por mudanças e evoluções em suas relações e formas de organização.</p><p>Assim como as distintas ciências sociais e históricas, a sociologia ambiciona</p><p>a elaboração de alternativas para novos conhecimentos da realidade social. É</p><p>através dela que os cidadãos podem repensar suas práticas sociais e políticas e,</p><p>assim, facultam modificá-las ou não.</p><p>UNIDADE 2 | CONCEITOS E FUNDAMENTOS DA SOCIOLOGIA</p><p>58</p><p>LEITURA COMPLEMENTAR</p><p>A PROIBIÇÃO DE INCESTO EM LÉVI-STRAUSS</p><p>Josefina Pimenta Lobato</p><p>A proibição do incesto é sem dúvida um fenômeno universal. Não há</p><p>sociedade alguma em que não haja uma norma que interdite o casamento entre</p><p>pessoas situadas em um determinado grau de parentesco.</p><p>As pretensas exceções à condenação unânime ao incesto e ao casamento</p><p>de irmãos nas famílias reais do Egito antigo, do Império Inca ou do Havaí não</p><p>devem ser tomadas como um indício da inexistência da noção de incesto e de</p><p>sua proibição, por exemplo, mas apenas da adoção de uma forma diversa de</p><p>classificar as relações que se enquadram na categoria.</p><p>A constatação de que as relações incestuosas têm sido consideradas, nas</p><p>mais diferentes épocas e lugares, como intrinsecamente perniciosas e condenáveis,</p><p>não significa a universalidade de sua observância. Psicanalistas, sacerdotes,</p><p>médicos e educadores sabem muito bem que as transgressões à proibição do</p><p>incesto são uma realidade bem mais frequente do que geralmente se imagina.</p><p>Em busca das razões pelas quais o incesto tem sido tão veemente e</p><p>extensivamente condenado, os cientistas sociais têm sugerido as mais diversas</p><p>explicações. A proposta de Lévi-Strauss, a de que a proibição do incesto é</p><p>universalmente imposta a fim de estabelecer a "troca de mulheres entre homens",</p><p>condição indispensável à instituição do matrimônio, da família, do parentesco</p><p>e da própria vida social, causou um grande impacto no contexto da reflexão</p><p>antropológica, além de ter uma repercussão expressiva em outras áreas do saber.</p><p>Antes de abordar as argumentações propostas por Lévi-Strauss, que são de</p><p>difícil compreensão e aceitação devido à originalidade e estranheza, farei algumas</p><p>ressalvas e críticas para duas outras explicações relativas à universalidade da</p><p>proibição do incesto, facilmente acatadas pela maior parte das pessoas.</p><p>Uma das explicações mais comuns quanto à universalidade da proibição</p><p>do incesto segue uma crença muito difundida entre nós, a de que o incesto foi</p><p>proibido a fim de proteger a espécie humana das consequências genéticas nefastas</p><p>do casamento entre parentes próximos.</p><p>A fragilidade da explicação, aparentemente sólida e inquestionável, deve-</p><p>se ao fato de ela não levar em conta um fator inegável: o de que é sobre as relações</p><p>de parentesco, e não sobre as relações de consanguinidade</p><p>que a proibição do</p><p>incesto se constitui. A prevalência dos laços de parentesco nos de consanguinidade</p><p>aparece claramente em sociedades cujo sistema de parentesco é unilinear.</p><p>TÓPICO 1 | INTRODUÇÃO E CONTEXTO HISTÓRICO DA SOCIOLOGIA</p><p>59</p><p>Com efeito, em tais sociedades, a relação tida como incestuosa atinge</p><p>certos parentes, como os primos paralelos (filhos de irmãos do mesmo sexo) que,</p><p>do ponto de vista da consanguinidade, são idênticos aos primos cruzados (filhos</p><p>de irmãos de sexo diferente).</p><p>Em tal relacionamento não há nenhuma interdição, uma vez que, de</p><p>acordo com o sistema unilinear, eles não são parentes entre si, já que cada um</p><p>deles pertence a um grupo de parentesco diferente.</p><p>Uma outra explicação se fundamenta na ideia de que haveria um horror</p><p>natural ao incesto devido a fatores genéticos ou a tendências psíquicas ligadas</p><p>“ao papel negativo dos hábitos cotidianos sobre a excitabilidade erótica”. Como</p><p>contestação, basta considerar que, se houvesse um horror natural ao incesto e à</p><p>falta de desejo de praticá-lo, não seria preciso proibi-lo, pois só se proíbe aquilo</p><p>que se deseja.</p><p>Ainda, as constantes violações da proibição são uma prova suplementar</p><p>de que não há nenhum horror instintivo ao tipo de relação. É preciso observar</p><p>também que se o incesto é interdito socialmente é porque ele ameaça, de alguma</p><p>forma, a ordem social.</p><p>Após ter demonstrado que as razões apresentadas pelos dois tipos de</p><p>explicação não se fundamentam em argumentações sólidas, Lévi-Strauss muda</p><p>totalmente a forma de abordar a questão. Por um lado, ele se recusa a enfocar a</p><p>proibição do incesto em termos biológicos ou psíquicos, pois o que realmente importa,</p><p>no seu entender, são as razões que fazem do incesto algo socialmente inconcebível:</p><p>Nada existe na irmã, na mãe, nem na filha que as desqualifique</p><p>enquanto tais. O incesto é socialmente absurdo antes de ser moralmente</p><p>condenável (LÉVI-STRAUSS, 1976, p. 526).</p><p>Por outro, ele abandona qualquer espécie de explicação substantiva ligada</p><p>à existência ou não de alguma coisa intrínseca às pessoas, cuja relação é dita</p><p>como incestuosa, que justifique a proibição do casamento entre elas. Adota uma</p><p>abordagem estruturalista, na qual o fator explicativo encontra-se não nos termos,</p><p>mas nas relações entre eles.</p><p>Sob o novo ângulo eminentemente estrutural, o que se deve levar em conta</p><p>é, antes de tudo, a posição ocupada pelas pessoas, cujo casamento é classificado</p><p>como incestuoso em um determinado sistema de parentesco.</p><p>A questão central da razão de ser da proibição do incesto consiste assim,</p><p>antes de tudo, em saber por que as pessoas, que estão na posição de pai e irmão,</p><p>não podem reivindicar como esposa aquela que está na posição de filha ou irmã.</p><p>UNIDADE 2 | CONCEITOS E FUNDAMENTOS DA SOCIOLOGIA</p><p>60</p><p>Uma primeira resposta é que o objetivo primeiro da interdição do incesto</p><p>é: imobilizar as mulheres no seio da família, a fim de que a divisão delas ou</p><p>a competição por elas seja feita no grupo e sob o controle do grupo, e não em</p><p>regime privado.</p><p>A proibição do incesto obriga-os a estabelecerem uma série de normas</p><p>através das quais se possa determinar a forma pela qual será feita a distribuição</p><p>das mulheres, que estão imobilizadas no seio do grupo familiar.</p><p>A necessidade de se regular a distribuição das mulheres e não a dos</p><p>homens decorre do fato de as mulheres, como esposas, constituírem um valor</p><p>essencial à vida do grupo “tanto do ponto de vista biológico quanto do ponto de</p><p>vista social”.</p><p>A obrigação por parte dos homens, que se situam na posição de paternidade</p><p>e de fraternidade, de darem suas filhas e irmãs em casamento a outros homens,</p><p>que estão submetidos ao mesmo tipo de situação, constitui, assim, a finalidade</p><p>última da proibição do incesto, o ponto central onde se revela a verdadeira</p><p>natureza da regra aparentemente negativa:</p><p>A proibição do incesto é menos uma regra que proíbe casar-se com a</p><p>mãe, a irmã ou a filha do que uma regra que obriga a dar a outrem a</p><p>mãe, a irmã e a filha. É a regra do dom por excelência (LÉVI-STRAUSS,</p><p>1976, p. 522).</p><p>Como ocorre com toda dádiva, a dádiva matrimonial cria naqueles que a</p><p>recebem a obrigação de retribuir e assim sucessivamente. Através da constituição do</p><p>circuito ininterrupto de dádivas recíprocas, a proibição do incesto estabelece a troca</p><p>de mulheres como base inelutável de qualquer espécie de instituição matrimonial.</p><p>FONTE: LOBATO, Josefina Pimenta. A proibição de incesto em Lévi-Strauss. Revista Oficina, Belo</p><p>Horizonte, ano 6, n. 9, p.14-20, jun. 1999.</p><p>61</p><p>RESUMO DO TÓPICO 1</p><p>Neste tópico, você aprendeu que:</p><p>• O conceito de sociologia começou a ser moldado no fim do século XVIII.</p><p>• A sociologia teve sua origem no colo da modernidade. Ela é consequência do</p><p>mundo moderno.</p><p>• A sociologia é a ciência da sociedade.</p><p>• Busca compreender as características da sociedade capitalista, sistema</p><p>econômico, político e social.</p><p>• Como ciência, a sociologia nasceu durante o percurso de criação do Estado</p><p>Liberal.</p><p>• Teve como pilar as, também novas, relações de trabalho.</p><p>• A sociologia procura elucidar as composições e procedimentos políticos,</p><p>econômicos, sociais e culturais da coletividade.</p><p>• No seu contexto histórico, a sociologia se apresenta como uma ciência em</p><p>construção.</p><p>• É necessário compreender as modificações sociais, culturais, ecológicas,</p><p>políticas e econômicas que o mundo está passando.</p><p>• O objetivo da Ciência da Sociologia não pode se apropriar da verdade.</p><p>• A sociologia surge como ciência e objetivando desvendar as relações sociais,</p><p>fornecendo diferentes visões sobre a sociedade.</p><p>• A construção da metodologia e a elaboração de elucidações para os fatos sociais</p><p>são ocupações de um sociólogo.</p><p>• Assim como as distintas ciências sociais e históricas, a sociologia ambiciona a</p><p>elaboração de alternativas para novos conhecimentos da realidade social.</p><p>62</p><p>AUTOATIVIDADE</p><p>1 Explique o que é a Ciência da Sociologia, exibindo quais são seus objetos de</p><p>estudo e seus objetivos.</p><p>2 De acordo com o que você estudou, disserte sobre a importância do olhar</p><p>sociológico dentro de uma sociedade.</p><p>63</p><p>TÓPICO 2</p><p>ESTRUTURA DO CONHECIMENTO EM SOCIOLOGIA</p><p>UNIDADE 2</p><p>1 INTRODUÇÃO</p><p>Neste tópico, você encontrará a estruturação do conhecimento na</p><p>Ciência da Sociologia. Será analisada a ideia central deste estudo, conceituando</p><p>elementos importantes para sua organização, como historicidade, senso comum</p><p>e comunidade.</p><p>2 O SENSO COMUM</p><p>Ao falarmos de sociologia, é importante observarmos os elementos</p><p>principais acerca do conceito dessa ciência social tão dinâmica. Ao pensarmos os</p><p>seus elementos separadamente, torna-se mais fácil a compreensão da estrutura</p><p>que dá base à sociologia como um todo.</p><p>O primeiro elemento a ser observado deve ser o senso comum. Cabe aqui</p><p>começarmos destacando os pontos que diferenciam um conhecimento de senso</p><p>comum de um conhecimento científico.</p><p>Quando falamos em senso comum, estamos falando em um conhecimento</p><p>fundamentado nos experimentos habituais dos cidadãos. São as certezas</p><p>cotidianas, oriundas da experiência de vida de cada um.</p><p>Determinado tipo de sabedoria se difere do conhecimento científico, uma</p><p>vez que o segundo é elaborado através de uma preparação metódica rigorosa. O</p><p>senso comum pode tanto se fundamentar em experiências individualizadas de</p><p>cada pessoa, como em experiências compartilhadas por todos ou pela maioria</p><p>dos membros de uma determinada sociedade. Para aprender a tomar banho,</p><p>usar roupas e outras práticas simples do cotidiano, ninguém precisou realizar</p><p>algum tipo de investigação científica. Bastou a experiência de vida, além das</p><p>recomendações e advertências dos mais velhos etc.</p><p>UNIDADE 2 | CONCEITOS E FUNDAMENTOS DA SOCIOLOGIA</p><p>64</p><p>Já quando falamos em conhecimentos sobre física, por exemplo, números</p><p>como a velocidade da luz, o tempo de duração que cada planeta leva para completar</p><p>a volta em torno do Sol etc., estamos lidando com conhecimentos científicos.</p><p>Ninguém aprendeu tais números apenas</p><p>vivendo a vida cotidianamente.</p><p>Pode-se afirmar que o senso comum é o modo de conhecimento extraído</p><p>de maneira não organizada, sem estudo prévio. O conhecimento científico é a</p><p>extração de experiências tentadas propositalmente e de maneira estudada, com a</p><p>finalidade de obter algum resultado determinado.</p><p>O senso comum se refere à simples noção pública, é um código cultural</p><p>hegemônico dentro da comunidade. É o código de conduta da vida coletiva e</p><p>individual para a vida naquele território. São opiniões concretas, passadas de</p><p>cidadão para cidadão em formato de sugestões, conselhos, advertências etc.</p><p>Pode-se também nomeá-lo como princípios. São princípios de</p><p>comportamento moral que acabam por se tornar normativos quando se acham</p><p>estruturados na tradição e costumes de uma sociedade em questão.</p><p>O senso comum é legitimado através da vivência das pessoas. Os cidadãos</p><p>desenvolvem práticas sociais e, por meio destas, defendem sua maneira de vida</p><p>ou, ainda, percebendo uma má vivência, propõem novas práticas sociais.</p><p>Pode-se afirmar então que, de maneira generalizada, o senso comum é um</p><p>saber sem precisão, pois é adquirido sem critérios e exercido sem exatidão. Ainda</p><p>assim, é um dos elementos para a compreensão plena dos fatos sociais.</p><p>Importante destacar que o conhecimento de senso comum também possui</p><p>um papel importante na evolução social, uma vez que é um elemento de fácil</p><p>acesso para as massas populacionais excluídas socialmente e, assim, norteia as</p><p>ações dessa parte da comunidade.</p><p>É justamente a parcela populacional mencionada que se encontra distante</p><p>do acesso ao conhecimento científico. Logo, pauta suas práticas sociais apenas no</p><p>senso comum que foi transferido por meio dos costumes de seu meio.</p><p>É possível citar muitos exemplos de situações dentro de uma comunidade</p><p>que, ao se transformarem em episódios sociais não resolvidos, não serão apenas</p><p>estudados pelos cientistas sociais, mas também vivenciados, percebidos e</p><p>compreendidos pela massa social excluída.</p><p>Como exemplo de tal tipo de fenômeno social, temos problemas como</p><p>desemprego, mortalidade infantil, marginalização, tráfico de drogas, tráfico de</p><p>armas, direitos trabalhistas, situação penitenciária, dentre inúmeros outros.</p><p>TÓPICO 2 | ESTRUTURA DO CONHECIMENTO EM SOCIOLOGIA</p><p>65</p><p>3 A HISTORICIDADE</p><p>Como já vimos, existem alguns elementos para a construção do pensamento</p><p>em sociologia, além do senso comum. Um elemento igualmente importante e</p><p>necessário para tal construção, o que chamamos de historicidade.</p><p>Para compreendermos os fenômenos estudados na Ciência da Sociologia,</p><p>é essencial a observação da historicidade dos fatos sociais a serem estudados. É</p><p>imprescindível que os cientistas sociais tenham em consideração a historicidade</p><p>do objeto de seu estudo.</p><p>Caso contrário, estarão perdendo o ponto central da ciência social e</p><p>deixando de analisar quais movimentações sociais fizeram o fato social em</p><p>questão se tornar atualmente tão relevante a ponto de chamar atenção dos</p><p>cientistas sociais para que produzissem pesquisas sobre ele. Lembremos que toda</p><p>pesquisa científica traz a necessidade de fundamentação/justificativa/relevância</p><p>para que seja elaborada.</p><p>Para que se obtenha a historicidade de determinado fato social, é</p><p>fundamental que o cientista observe as relações que existem entre os componentes</p><p>do processo de criação do fato, sua historicidade. É preciso que se descubra a</p><p>relação entre os sujeitos do fato e o todo que integra seu processo.</p><p>São partes integrantes de um processo, além dos sujeitos e o problema</p><p>detectado, o lugar e o tempo em que tal fenômeno ocorreu. Resumindo, os</p><p>fenômenos sociais são, antes de tudo, eventos históricos. São a consequência de</p><p>processos históricos.</p><p>Assim, os fatos sociais, para serem estudados como processos, precisam</p><p>ser compreendidos historicamente. É necessário que se leve em consideração</p><p>o que ocorria na determinada comunidade na época em que o fato social em</p><p>questão teve início. Importante ressaltar que quando falamos em historicidade,</p><p>estamos abrangendo também o presente. Na historicidade, temos o encontro das</p><p>questões do passado com o presente.</p><p>Ao analisarmos os históricos de um fato, desde sua criação até o momento</p><p>presente, adquirimos compreensão dos porquês de tal fato social, além de</p><p>obtermos também perspectivas para possíveis mudanças sociais necessárias.</p><p>4 COMUNIDADE</p><p>O último elemento a ser visto neste tópico é a comunidade, um componente</p><p>de imprescindível relevância para o estudo da sociologia como ciência a partir do</p><p>século XIX. A comunidade apresenta aspectos sociais diversificados ao longo da</p><p>história, sendo sempre objeto de estudo dos cientistas sociais.</p><p>UNIDADE 2 | CONCEITOS E FUNDAMENTOS DA SOCIOLOGIA</p><p>66</p><p>Em suma, podemos afirmar que a comunidade é formada por diferentes</p><p>grupos sociais que se encontram ligados por laço afetuoso. A afetividade entre</p><p>os cidadãos de uma comunidade ocorre, primeiramente, pelo fato de que se</p><p>encontram próximos fisicamente uns dos outros, dividem o mesmo território.</p><p>IMPORTANTE</p><p>Para reconhecer, através da perspectiva sociológica, uma comunidade, é</p><p>preciso então que se identifique um território geográfico com limites determinados em</p><p>sua extensão e um contato social básico entre os indivíduos ali coabitantes (este último</p><p>podendo ser caracterizado simplesmente pela proximidade física).</p><p>Ainda, a fim de reconhecimento do conceito de comunidade, é possível</p><p>identificar, respectivamente:</p><p>• Nitidez: no que se refere aos próprios limites territoriais já mencionados. As</p><p>comunidades são detentoras de espaço geográfico delimitado.</p><p>• Pequenez: a comunidade é um todo formado por vários núcleos de menores</p><p>dimensões. Aqui pode-se reconhecer um ou mais grupos formadores da</p><p>comunidade.</p><p>• Homogeneidade: no que se refere ao conjunto de atividades praticadas pela</p><p>comunidade. Percebe-se as atividades exercidas por grupos de mesma faixa</p><p>de idade, gênero, dentre outras características que comumente proporcionam</p><p>proximidade entre os cidadãos.</p><p>• Relações pessoais: por último, os grupos unidos por relações pessoais de</p><p>vínculos emocionais. São as relações de caráter afetivo emocionalmente, podem</p><p>ou não aparecer em conjunto com as relações do item anterior, homogeneidade.</p><p>Na visão de Weber (1997), comunidade só é existente quando o fundamento</p><p>do já referido laço afetivo é encontrado na ação dos indivíduos. Não é suficiente</p><p>que a ação seja nem de todos e nem de cada um dos indivíduos.</p><p>A ação destes deve ser impulsionada pelo sentimento de desenvolver um</p><p>todo, um sentimento de comunidade. Deve partir dos laços afetivos e agindo em</p><p>prol de um bem comum (não o bem de todos e nem o bem de cada um, mas o bem</p><p>para o crescimento enquanto comunidade).</p><p>Ainda, comunidade é uma definição extensa e que compreende diversos</p><p>eventos heterogêneos. Contudo, a comunidade tem como fundamento de suas</p><p>ações os laços afetivos, emotivos e habituais. A maioria das relações sociais</p><p>participa tanto da comunidade como da sociedade.</p><p>TÓPICO 2 | ESTRUTURA DO CONHECIMENTO EM SOCIOLOGIA</p><p>67</p><p>IMPORTANTE</p><p>São exemplos de comunidade: família, vizinhança, uma aldeia agropecuária</p><p>e todos os grupos ligados pelas características vistas anteriormente, não devendo ser</p><p>confundida com sociedade (conceitos que vimos na Unidade 1 deste livro).</p><p>Os indivíduos que formam uma comunidade vão ter suas ações pautadas</p><p>por vontades semelhantes. A proximidade física e a cultural fazem com que</p><p>busquem as mesmas coisas. Trabalham com fins de alcançar um bem que é</p><p>comum a todos. Os participantes de uma comunidade possuem um alto grau</p><p>de intimidade entre eles. Determinada intimidade é oriunda do contato social</p><p>primário que é exercido.</p><p>Para ficar mais fácil, fixamos que família é o exemplo principal de</p><p>comunidade: um agrupamento humano, de contato social primário, possuidores</p><p>de um grau proeminente de intimidade.</p><p>Ainda, cabe questionar como fica a questão das comunidades em um país</p><p>de território tão vasto e integrado por uma diversidade significante</p><p>de culturas e</p><p>costumes como o nosso país, Brasil.</p><p>Como exemplo de comunidades culturalmente muito diferentes no Brasil,</p><p>podemos citar as principais, sendo elas as comunidades indígenas, as populações</p><p>ribeirinhas, quilombolas, povos de terreiro e ciganos.</p><p>A partir da diversificação cultural e estrutural de comunidades, as leis</p><p>brasileiras são elaboradas para poderem abranger a todos, trazendo uma visão um</p><p>pouco diferenciada do conceito de comunidade e de acordo com sua realidade.</p><p>As comunidades primitivas brasileiras se organizam de maneira diferenciada da</p><p>sociedade geral e de acordo com os seguintes elementos:</p><p>• Formas próprias: de organização social; de uso do território tradicional; de uso</p><p>de recursos naturais.</p><p>• Reprodução cultural acontece de modo: social; ancestral; religioso; econômico.</p><p>Dentro das comunidades, os indivíduos praticam rigorosamente</p><p>as tradições, sendo elas responsáveis por qualquer método de conseguir</p><p>conhecimento.</p><p>UNIDADE 2 | CONCEITOS E FUNDAMENTOS DA SOCIOLOGIA</p><p>68</p><p>Outro questionamento válido é sobre a questão da situação das</p><p>comunidades em um mundo complexo e globalizado em que vivemos hoje. É</p><p>movimento comum entre os indivíduos a resistência ao processo de globalização.</p><p>Ocorre que as organizações comunitárias possibilitam a sensação de pertencer a</p><p>algo e a proximidade afetiva é algo que o ser humano busca naturalmente.</p><p>A identidade cultural é um sentimento importante ao ser humano. Assim,</p><p>a resistência à globalização acontece de maneira ferrenha por parte de alguns,</p><p>uma vez que determinado sistema político e econômico tem como ideia central</p><p>uma espécie de padronização cultural.</p><p>O fundamento de organização comunitária implica que, através de um</p><p>processo de concentração social, os cidadãos participem de aglomerações urbanas</p><p>em grupos protetores de seus interesses em comum. A sensação de fazer parte de</p><p>um grupo e a identificação cultural dão base para as organizações comunitárias.</p><p>O processo de globalização trouxe consigo um avanço industrial e</p><p>tecnológico que desencadeou a formação de comunidades urbanas diferenciadas.</p><p>Tribos urbanas foram elaboradas nos grandes centros, especialmente nas áreas</p><p>periféricas. Como exemplos das comunidades podemos citar os rappers, os</p><p>surfistas, os punks, dentre outros.</p><p>Ainda, outro advento da sociedade moderna é o que se distingue como</p><p>comunidades virtuais, não podendo ser enquadradas adequadamente no termo</p><p>comunidade. Tais grupos, formados exclusivamente pelo contato virtual, exercem</p><p>o processo inverso no elemento afetivo da comunidade.</p><p>As relações não acontecem por contato primário, mas virtualmente. Não</p><p>são relações que podemos chamar de pessoais. Exemplo de comunidades virtuais</p><p>são Facebook, Twitter, o antigo Orkut, dentre outros.</p><p>TÓPICO 2 | ESTRUTURA DO CONHECIMENTO EM SOCIOLOGIA</p><p>69</p><p>LEITURA COMPLEMENTAR</p><p>COMUNIDADE, GLOBALIZAÇÃO E EDUCAÇÃO: UM ENSAIO</p><p>SOBRE A DESCONVERSÃO DO SOCIAL</p><p>Pablo de Marinis</p><p>Cabe agora considerar outros processos que operam de baixo e de dentro</p><p>do espaço do estado-nacional social e que estão ligados a uma reinvenção da</p><p>comunidade, atualmente em curso. A reinvenção da comunidade dá-se por meio</p><p>de um duplo jogo, em que se observará outra vez que não se trata de pensar o</p><p>Estado como uma mera vítima passiva de fenômenos que não pode comandar.</p><p>Ainda, a globalização não é somente um processo inelutável perante o</p><p>qual os Estados têm necessariamente que se dobrar. Também nos processos de</p><p>reinvenção da comunidade podem ocorrer situações similares.</p><p>Nelas, o Estado pode, por um lado, ser um agente ativo na invenção,</p><p>constituição ou promoção de comunidades e, em outros casos, deve responder a</p><p>iniciativas e a demandas de caráter comunitário.</p><p>Em qualquer dos casos, continua sempre estando presente um esforço</p><p>de economização de meios de governo por parte do Estado, porém não só com</p><p>a finalidade de retirar-se e desobrigar-se das incumbências que até então eram</p><p>inerentes, mas para governar mais e melhor. Assim, têm lugar iniciativas de</p><p>um Estado adelgaçado, que constroem comunidades como objeto específico de</p><p>algumas políticas de governo.</p><p>O Estado estimula a prudência dos atores (O’MALLEY, 1996), convoca o</p><p>ativismo e a participação. Ainda, estimula a assunção de crescentes e diversificadas</p><p>responsabilidades por parte das comunidades na criação, definição e gestão de</p><p>seus próprios destinos e condições de existência.</p><p>Tudo ocorre sem apelar à linguagem da cidadania social que impregnou</p><p>durante décadas o discurso estatal. A interpelação acontece diretamente nas</p><p>comunidades que passam a ser concebidas como as modalidades predominantes</p><p>de agregação de sujeitos. As novas tecnologias de governo neoliberais tendem a</p><p>governar através da comunidade (ROSE, 1966).</p><p>Assim, o apelo à participação dos governados se inscreve com maiúsculas</p><p>nesses programas. Ainda, há outra direção no processo e é justamente a que</p><p>procede de baixo. Neste caso, são indivíduos, agrupamentos, famílias, “tribos”</p><p>(MAFFESOLI, 1990) que constroem suas identidades particulares, recortadas</p><p>e específicas na base de atributos mais ou menos identificáveis e vinculadas,</p><p>por exemplo, à crença religiosa, à etnia, à orientação sexual, à idade, a alguma</p><p>forma de consumo cultural, à ocupação ou à profissão, à condição de gênero, à</p><p>disparidade, à condição de sobrevivente ou de familiar de vítima de violações aos</p><p>direitos humanos, à inserção em uma localidade etc.</p><p>UNIDADE 2 | CONCEITOS E FUNDAMENTOS DA SOCIOLOGIA</p><p>70</p><p>As comunidades organizam suas ocupações vitais, manifestando uma</p><p>renovada ênfase nos contextos micromorais de suas experiências. Em síntese, o</p><p>jogo é duplo e revela importantes transformações nas práticas de governo.</p><p>O Estado já não apela, pois não mais se dirige ampla e ostensivamente ao</p><p>conjunto da sociedade, ou seja, ao conjunto de cidadãos de uma nação politicamente</p><p>regulada por ele (como aconteceu até a época do Estado de Bem-Estar), mas dirige-</p><p>se diretamente a algumas comunidades especificamente recortadas.</p><p>Promove e fortalece a participação em tarefas de governo. Do outro lado,</p><p>as comunidades se (auto) ativam para moldar seus perfis identitários e articulam</p><p>suas demandas para autoridades de diversos tipos.</p><p>Assim, novas identidades emergem, ou velhas identidades são fortemente</p><p>ressignificadas: o vizinho deste ou daquele bairro ou cidade; o consumidor de</p><p>tais ou quais bens ou serviços; o usuário de algum programa de política pública.</p><p>Mesmo quando pode continuar sendo invocada, ressente-se a histórica figura</p><p>do cidadão. Em alguns casos, cai-se ou se é arremessado, simplesmente, em</p><p>determinada comunidade, sem demasiadas opções de escolha ou resistência.</p><p>Em outros casos, a adesão à comunidade provoca operações complexas e</p><p>construtoras de identificação dos que são como todos. Quando o contexto social</p><p>mais amplo se torna crescentemente frio, distante, hostil, a comunidade converte-</p><p>se na forma mais adequada de estar chez soi, um lugar no qual nunca somos</p><p>estranhos uns para os outros (BAUMAN, 2003).</p><p>No seio das comunidades se manifesta uma espécie de reaquecimento dos</p><p>vínculos, porém de um tipo fundado no recolhimento da própria territorialidade</p><p>comunitária, sem referências a totalidades mais amplas.</p><p>Retomando os argumentos do segundo item deste trabalho, é possível</p><p>afirmar a boa saúde da comunidade. A temerosa suposição dos sociólogos clássicos,</p><p>de que a Gesellschaft pudesse terminar acabando com todos os contextos cálidos</p><p>de interação próxima, não foi verificada na realidade. A comunidade continua</p><p>gozando, de fato, de boa saúde.</p><p>Tem sentido continuar usando o termo comunidade quando se manifesta</p><p>tal diversidade empírica de comunidades realmente existentes, ou seja, quando</p><p>comunidade parece ser o nome que se pode dar para qualquer tipo de agrupamento</p><p>humano? Continua sendo utilidade recorrer ao conceito sociológico que, de</p><p>Tönnies em diante, experimentou tal reviravolta semântica? Tais perguntas não</p><p>ser��o abordadas neste</p><p>artigo, porém tratamos de sublinhar a extraordinária</p><p>persistência da comunidade (ou do desejo ou da necessidade da comunidade) no</p><p>discurso contemporâneo.</p><p>Não há praticamente nenhuma forma de ação coletiva que, em algum</p><p>momento, não recorra à fórmula de marca comunitária para recrutar novos</p><p>membros e definir seus planos de ação, desde coletivos de trabalhadores</p><p>desempregados que reivindicam assistência do Estado até vizinhos de classe</p><p>média que exigem proteção policial.</p><p>TÓPICO 2 | ESTRUTURA DO CONHECIMENTO EM SOCIOLOGIA</p><p>71</p><p>Não existe quase nenhum programa estatal que prescinda do uso de um</p><p>vocabulário ou de um jargão de marca comunitarista para a definição de seus</p><p>targets de governo, desde a prevenção comunitária do delito até a atenção à</p><p>diversidade das diferentes comunidades educativas.</p><p>Se o termo vai continuar sendo utilizado, será necessário especificar</p><p>de qual comunidade se trata. Hoje, como ontem, continua sendo inerente aos</p><p>membros de uma comunidade essa sensação de mais ou menos juntos e de avanço</p><p>(ou retrocesso) em caminhos comuns de ação.</p><p>Em qualquer caso, é preciso estabelecer precisões sobre as enormes</p><p>diferenças que podem se vislumbrar entre as velhas comunidades pré-modernas</p><p>e as da contemporaneidade, próprias de uma época decididamente pós-social.</p><p>As velhas comunidades eram de inscrição compulsiva. Ao contrário, as</p><p>novas comunidades estão marcadas por uma espécie de vontade de escolha e</p><p>têm um cheiro a liberdade, a ação proativa ou reativa diante das contingências de</p><p>um mundo cujos riscos devem ser assumidos individualmente ou no marco de</p><p>comunidades próximas.</p><p>Em segundo lugar, a temporalidade. As velhas comunidades se</p><p>enraizavam em um passado ancestral e eram consideradas, em princípio, eternas.</p><p>Contudo, as comunidades do presente se caracterizam por sua não permanência,</p><p>por sua evanescência, por serem apenas até novo aviso, até que satisfaçam as</p><p>necessidades pelas quais surgiram.</p><p>Em terceiro lugar, o território. A velha comunidade era a comunidade</p><p>do território. Muitas das comunidades atuais estão (ou são) desterritorializadas,</p><p>não requerem a copresença, podendo ser, inclusive, virtuais. Em quarto lugar,</p><p>a velha comunidade era o reino do Uno e somente se podia pertencer a ela. Em</p><p>troca, as novas comunidades são plurais: os indivíduos podem aderir a muitas</p><p>delas ao mesmo tempo, podem entrar e sair, porque assim desejam ou porque</p><p>são expulsos.</p><p>Os indivíduos desenvolvem e encenam apenas parte do que são e cada</p><p>uma das partes pressupõe uma pluralidade de requisitos normativos. Para</p><p>concluir as comparações: as velhas comunidades constituíam uma totalidade</p><p>orgânica. Aliás, tratavam-se de um todo sem maiores divisões interiores.</p><p>As novas comunidades estabelecem um arquipélago de partes sem todo,</p><p>sem borda exterior, sem continente. A sociedade, como realidade e como conceito,</p><p>parece perder a capacidade de construir esse todo.</p><p>FONTE: DE MARINIS, Pablo. Comunidade, globalização e educação: um ensaio sobre a</p><p>desconversão do social. Pro-Posições, v. 19, n. 3, p. 19-45, set. 2008. Disponível em: . Acesso em: 1 ago. 2018.</p><p>72</p><p>RESUMO DO TÓPICO 2</p><p>Neste tópico, você aprendeu que:</p><p>• Quando falamos em senso comum, estamos falando em um conhecimento</p><p>fundamentado nos experimentos habituais dos cidadãos. São as certezas</p><p>cotidianas, oriundas da experiência de vida de cada um.</p><p>• Podemos afirmar que o senso comum é o modo de conhecimento extraído de</p><p>maneira não organizada, sem estudo prévio.</p><p>• O conhecimento científico é a extração de experiências tentadas propositalmente</p><p>de maneira estudada. Ainda, tem a finalidade de obter algum resultado</p><p>determinado.</p><p>• Podemos também chamar o senso comum de princípios. São princípios de</p><p>comportamento moral que se tornam normativos quando são estruturados na</p><p>tradição e nos costumes de uma sociedade em questão.</p><p>• O senso comum é legitimado através da vivência das pessoas. Os cidadãos</p><p>desenvolvem práticas sociais e, por meio destas, defendem sua maneira de</p><p>vida. Ainda, percebendo uma má vivência, propõem novas práticas sociais.</p><p>• Para compreendermos os fenômenos estudados, é essencial a observação da</p><p>historicidade dos fatos sociais a serem estudados.</p><p>• Para que seja obtida a historicidade de determinado fato social, é fundamental</p><p>que o cientista observe as relações que existem entre os componentes do</p><p>processo de criação do fato, sua historicidade.</p><p>• São partes integrantes de um processo, além dos sujeitos e o problema</p><p>detectado, o lugar e o tempo em que tal fenômeno ocorreu.</p><p>• Comunidade é formada por diferentes grupos sociais que são ligados por laço</p><p>afetivo.</p><p>• Os indivíduos que formam uma comunidade vão ter suas ações pautadas</p><p>por vontades semelhantes. A proximidade física e a cultural fazem buscar as</p><p>mesmas coisas. Trabalham para um bem que é comum a todos.</p><p>73</p><p>• Como exemplo de comunidades culturalmente muito diferentes no Brasil,</p><p>podemos citar as principais, sendo elas as comunidades indígenas, as</p><p>populações ribeirinhas, quilombolas, povos de terreiro e ciganos.</p><p>• A sensação de fazer parte de um grupo e a identificação cultural dão base para</p><p>as organizações comunitárias.</p><p>• O processo de globalização trouxe consigo um avanço industrial e tecnológico</p><p>que desencadeou a formação de comunidades urbanas diferenciadas.</p><p>74</p><p>AUTOATIVIDADE</p><p>1 Conceitue comunidade e sociedade, destacando os principais pontos que</p><p>diferem uma da outra.</p><p>2 Explique de que maneira o fenômeno da globalização interfere nas</p><p>organizações comunitárias.</p><p>75</p><p>TÓPICO 3</p><p>PRINCIPAIS PENSADORES DA SOCIOLOGIA</p><p>UNIDADE 2</p><p>1 INTRODUÇÃO</p><p>Neste tópico, serão destacados alguns dos principais autores da sociologia</p><p>e abordaremos, de maneira básica, os pontos centrais das suas teorias. São eles:</p><p>Augusto Comte, Émile Durkheim, Max Weber e Karl Marx.</p><p>2 AUGUSTO COMTE</p><p>Isidore Auguste Marie François Xavier Comte (Montpellier, 1798-Paris,</p><p>1857) foi um filósofo francês. Ele deu origem ao termo sociologia. Comte</p><p>concentrou seu trabalho profundamente na criação de uma filosofia positiva.</p><p>O termo sociologia foi criado a partir da organização do curso de Filosofia</p><p>Positiva em 1839, no qual Comte pretendia fazer uma síntese da produção</p><p>científica, ou seja, procurar saber tudo o que havia se acumulado no que diz</p><p>respeito aos conhecimentos e métodos científicos utilizados na matemática, física</p><p>e biologia para, então, descobrir se era possível aproveitá-los na ciência social.</p><p>Considerado positivista, acreditava na supremacia científica e como ela</p><p>poderia explicar todos os fenômenos independentemente de explicações da</p><p>religião. Buscava na ciência respostas que pudessem ser usadas no preparo do</p><p>ordenamento social.</p><p>Observava a sociedade em meio ao caos e à desordem e fazia previsões</p><p>de um futuro em que a ordem científica e o meio industrial se tornassem mais</p><p>atuantes. O sistema feudal, antes firmado pela agricultura e hierarquia, se</p><p>transformara em um sistema capitalista, baseado em indústria e comércio.</p><p>O objetivo da positividade era promover um reordenamento disciplinar</p><p>da sociedade através da compreensão das novas questões sociais que foram</p><p>criadas. A partir dos estudos dos fenômenos sociais do passado, seria possível</p><p>compreender o presente e prever o futuro da sociedade.</p><p>76</p><p>UNIDADE 2 | CONCEITOS E FUNDAMENTOS DA SOCIOLOGIA</p><p>Com a inevitabilidade da implantação do sistema capitalista, imprescindível</p><p>para o desenvolvimento da sociedade, ocorreria também a obsolescência da</p><p>teologia como única forma de esclarecer o mundo. Impasses formados no processo</p><p>deveriam ser solucionados para que não se tornassem empecilhos ao progresso</p><p>cultural. Assim, Auguste Comte iniciou a sociologia, um estudo a ser continuado</p><p>com o propósito de atingir um patamar de primazia e função.</p><p>Comte não chegou a viabilizar a sua aplicação. Seu trabalho apenas iniciou</p><p>uma discussão que deveria ser continuada, a fim de que a sociologia alcançasse</p><p>um estágio de maturidade e</p><p>51</p><p>UNIDADE 2 – CONCEITOS E FUNDAMENTOS DA SOCIOLOGIA ........................................ 53</p><p>TÓPICO 1 – INTRODUÇÃO E CONTEXTO HISTÓRICO DA SOCIOLOGIA ........................ 55</p><p>1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 55</p><p>2 CONTEXTO HISTÓRICO DA SOCIOLOGIA............................................................................... 55</p><p>LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................... 58</p><p>RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................ 61</p><p>AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 62</p><p>sumário</p><p>VIII</p><p>TÓPICO 2 – ESTRUTURA DO CONHECIMENTO EM SOCIOLOGIA. ..................................63</p><p>1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................63</p><p>2 O SENSO COMUM ............................................................................................................................63</p><p>3 A HISTORICIDADE ..........................................................................................................................65</p><p>4 COMUNIDADE ..................................................................................................................................65</p><p>LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................69</p><p>RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................................72</p><p>AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................74</p><p>TÓPICO 3 – PRINCIPAIS PENSADORES DA SOCIOLOGIA....................................................75</p><p>1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................75</p><p>2 AUGUSTO COMTE ...........................................................................................................................75</p><p>3 ÉMILE DURKHEIM ...........................................................................................................................76</p><p>4 MAX WEBER .......................................................................................................................................78</p><p>5 KARL MARX .......................................................................................................................................79</p><p>LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................81</p><p>RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................85</p><p>AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................86</p><p>TÓPICO 4 – CONCEITO DE AÇÃO E RELAÇÃO SOCIAL.........................................................87</p><p>1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................87</p><p>2 DOMINAÇÃO E PODER ..................................................................................................................87</p><p>3 SOCIEDADE E INDIVÍDUO ...........................................................................................................88</p><p>4 AÇÃO E RELAÇÃO SOCIAL ...........................................................................................................88</p><p>LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................91</p><p>RESUMO DO TÓPICO 4......................................................................................................................93</p><p>AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................94</p><p>TÓPICO 5 – CIDADANIA, DIREITOS HUMANOS E MOVIMENTOS SOCIAIS ................95</p><p>1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................95</p><p>2 CIDADANIA E DIREITOS HUMANOS .......................................................................................95</p><p>3 MOVIMENTOS SOCIAIS ................................................................................................................99</p><p>LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................101</p><p>RESUMO DO TÓPICO 5......................................................................................................................104</p><p>AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................105</p><p>UNIDADE 3 – CONCEITOS E FUNDAMENTOS DA FILOSOFIA ...........................................107</p><p>TÓPICO 1 – INTRODUÇÃO E CONTEXTO HISTÓRICO DA FILOSOFIA ...........................109</p><p>1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................109</p><p>2 COMPREENSÃO DA FILOSOFIA .................................................................................................109</p><p>3 CONTEXTO HISTÓRICO ................................................................................................................111</p><p>LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................114</p><p>RESUMO DO TÓPICO 1......................................................................................................................116</p><p>AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................117</p><p>TÓPICO 2 – CARACTERÍSTICAS DO PENSAMENTO FILOSÓFICO ....................................119</p><p>1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................119</p><p>2 PENSADORES ....................................................................................................................................119</p><p>LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................124</p><p>RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................................126</p><p>AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................127</p><p>IX</p><p>TÓPICO 3 – O PROCESSO DE FILOSOFAR ...................................................................................129</p><p>1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................129</p><p>2 O CONCEITO DE FILOSOFAR .......................................................................................................129</p><p>3 IMMANUEL KANT E O PROCESSO DE FILOSOFAR .............................................................131</p><p>LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................134</p><p>RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................137</p><p>AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................138</p><p>TÓPICO 4 – A FILOSOFIA NO MUNDO MODERNO .................................................................139</p><p>aplicabilidade.</p><p>3 ÉMILE DURKHEIM</p><p>Dando sequência e buscando fazer da sociologia uma ciência de visão</p><p>positiva, aparece o sociólogo francês Émile Durkheim (1858-1917), cujo principal</p><p>objetivo foi dar à sociologia credibilidade científica.</p><p>Assim, o estudo adquiriu um caráter mais técnico, definindo como e o que</p><p>desejava alcançar. Com seus procedimentos particulares deixou, então, a posição</p><p>conceitual para atingir o patamar científico. Durkheim entendia os obstáculos</p><p>sociais da época, apesar de viver em um momento de otimismo, cercado de</p><p>inovações tecnológicas, como a eletricidade e os carros.</p><p>Criou, então, procedimentos de análise e verificação que tinham o objetivo</p><p>de capacitar o estudo. No entanto, na sociologia, não é fácil representar um</p><p>acontecimento social em ambiente controlado a fim de obter um resultado único,</p><p>como se faz em um laboratório, por exemplo. Apesar disso, determinados episódios</p><p>poderiam ser objetos de observação, como o suicídio, a família, a escola e as leis.</p><p>Sugeriu diretrizes para distinguir o tipo de fenômeno para ser assunto</p><p>da sociologia, intitulando fatos sociais, que podem ser separados por suas</p><p>características:</p><p>• Coletivo ou geral: significa que o fenômeno é comum a todos os membros de</p><p>um grupo.</p><p>• Exterior ao indivíduo: ele acontece independentemente da vontade individual.</p><p>• Coercitivo: os indivíduos são “obrigados” a seguir o comportamento</p><p>estabelecido pelo grupo.</p><p>TÓPICO 3 | PRINCIPAIS PENSADORES DA SOCIOLOGIA</p><p>77</p><p>IMPORTANTE</p><p>Vem do estudo de Durkheim o conhecido termo “consciência coletiva”, que,</p><p>de acordo com ele, é o conjunto de crenças e sentimentos comuns para a média dos</p><p>membros de uma mesma sociedade.</p><p>A humanidade está em constante evolução, o que pode ser caracterizado</p><p>pelo aumento dos papéis sociais ou funções. Acredita que existem sociedades</p><p>que se estabelecem sob o modelo de solidariedade chamado mecânica e outras</p><p>sociedades com um modelo de solidariedade orgânica.</p><p>As sociedades estabelecidas sob o modo de solidariedade mecânica seriam</p><p>aquelas nas quais existiriam poucos papéis sociais. Todos os membros viveriam</p><p>de maneira parecida e, normalmente, ligados por crenças e sentimentos comuns,</p><p>o que ele chama de consciência coletiva.</p><p>Ações próprias seriam reparadas pelos demais, como em comunidades</p><p>indígenas, em que pessoas convivem e trabalham indistintamente, unidas por</p><p>suas crenças e valores. Se uma pessoa passasse a atuar por conta própria, não</p><p>seria difícil notar e identificar prontamente quem estaria “subvertendo” o modo</p><p>de vida local.</p><p>Outros exemplos são os mutirões para colheita em regiões agrárias</p><p>para reconstrução de áreas devastadas por desastres naturais ou, até mesmo,</p><p>participação em campanhas para coleta de alimentos.</p><p>As sociedades de solidariedade orgânica, mais comuns no mundo</p><p>moderno, oferecem muitos papéis sociais, tendo em vista as inúmeras atividades</p><p>que podem existir nas cidades. Ainda mesmo com uma grande separação</p><p>e quantidade de funções, o sociólogo acreditava que todas elas deveriam</p><p>funcionar em conjunto e cooperativamente e, exatamente por esse motivo,</p><p>foram denominadas de orgânica. Diminui-se, entretanto, o grau de controle da</p><p>sociedade sobre cada pessoa.</p><p>78</p><p>UNIDADE 2 | CONCEITOS E FUNDAMENTOS DA SOCIOLOGIA</p><p>4 MAX WEBER</p><p>Maximillian Carl Emil Weber foi um proeminente sociólogo que deu início</p><p>à sua carreira em 1882. Nascido na cidade de Erfurt, Alemanha, no ano de 1864.</p><p>Foi na Faculdade de Direito da Universidade de Heidelberg que acompanhou</p><p>aulas de economia política, história e teologia. Em seguida, em 1889, tornou-se,</p><p>na Universidade de Berlim, doutor em Direito.</p><p>É tido como um dos clássicos da sociologia e buscou a possibilidade</p><p>da interpretação da sociedade partindo não dos fatos sociais já consolidados e</p><p>das suas características externas, mas sugeriu começar pelo indivíduo que nela</p><p>vive, ou melhor, pela verificação das “intenções”, “motivações”, “valores” e</p><p>“expectativas” que orientam as ações do indivíduo na sociedade.</p><p>Seus estudos recaíram nas questões teóricas e metodológicas para o</p><p>desdobramento de estudos históricos e sociológicos no que diz respeito ao</p><p>princípio da civilização ocidental e seu lugar na história. Suas mais importantes</p><p>obras são lidas até a atualidade. Dialogou com Marx e Durkheim e criou um novo</p><p>entendimento para a sociologia.</p><p>A sociologia seria capaz de criar procedimentos de investigação que</p><p>possibilitariam analisar qual conjunto de motivações, valores e expectativas</p><p>comuns estaria orientando a ação dos indivíduos envolvidos no fenômeno</p><p>que se quer compreender. Deveria ser possível realizar previsões levando em</p><p>consideração o que, na ocasião dada, seria o conjunto de valores, motivações,</p><p>intenções e expectativas compartilhados pelo grupo de foco.</p><p>IMPORTANTE</p><p>Max Weber foi um dos conselheiros da Alemanha no estabelecimento do</p><p>"Tratado de Versalhes" (1919), bem como um dos responsáveis por redigir a "Constituição de</p><p>Weimar". Inclusive, foi criador do "Artigo 48", que foi usado por Adolf Hitler para estabelecer</p><p>seus poderes ditatoriais.</p><p>A chamada Sociologia Compreensiva nos auxilia a entender o mundo</p><p>social de acordo com as ações dos indivíduos envolvidos. O indivíduo é a</p><p>unidade fundamental neste estudo, pois se manifesta levando em consideração</p><p>um sentido. Realidades como o Estado fazem apenas referências ao curso de ação</p><p>e possibilitado uma ação social de indivíduos.</p><p>Assim, em grupos ou instituições concebidos pelo pensamento cotidiano</p><p>ou pelo pensamento jurídico, as ações individuais guiam o coletivo e o coletivo</p><p>(na qualidade de uma comissão) guia as ações.</p><p>TÓPICO 3 | PRINCIPAIS PENSADORES DA SOCIOLOGIA</p><p>79</p><p>O método compreensivo é, então, a forma proposta por Weber para</p><p>a pesquisa. É uma interpretação do passado, além das suas repercussões na</p><p>sociedade contemporânea. Assim, podemos compreender a ação social da</p><p>humanidade através de conduta individual.</p><p>O método se constitui do entendimento do sentido que as ações de</p><p>um indivíduo compreendem, além da concepção superficial. Se, por exemplo,</p><p>uma pessoa dá para outra um pedaço de papel, não importa para o sociólogo.</p><p>Apenas é válido quando sabemos que a primeira pessoa deu o papel para a outra</p><p>pretendendo que assim quitasse uma dívida (dinheiro ou cheque). É uma ação</p><p>carregada de sentido.</p><p>Quando um pedaço de papel tem uma função, como a de ser uma forma</p><p>de intermediar o comércio e pagamentos, passa a ter profundas definições sociais</p><p>e pode, também, ser reconhecido por um grupo ainda maior.</p><p>O uso de métodos das ciências naturais, como a observação, comparação e</p><p>estatística, por exemplo, não pode ser suficiente para a sociologia na assimilação</p><p>de sentido das ações sociais.</p><p>A pesquisa histórica se torna importante para a observação das sociedades,</p><p>pois ela permite a análise de distinções sociais que podem ser usadas como</p><p>indícios do método compreensivo. Interpretamos o passado para contemplar</p><p>reflexos de traços dele nas sociedades contemporâneas.</p><p>5 KARL MARX</p><p>O alemão Karl Marx (1818-1883), filósofo e economista, foi um dos</p><p>responsáveis por proporcionar uma discussão crítica sobre a sociedade capitalista</p><p>que começava a ser estabelecida em sua época. Ainda, Marx conseguiu observar</p><p>os problemas sociais derivados dessa organização política e econômica.</p><p>Nas sociedades de tipo capitalista, a forma principal de conflito ocorria</p><p>entre suas duas classes sociais fundamentais: a burguesia e o proletariado. A partir</p><p>da atividade comercial, a burguesia passou a ter a posse dos meios de produção,</p><p>enriqueceu e também passou a fazer parte daqueles que controlavam o governo.</p><p>A influência serviu para que fossem criadas leis para a defesa da propriedade</p><p>privada, condição imprescindível para sua sobrevivência. Em desvantagem, a classe</p><p>dos proletários, sem os meios de produção, permanece como parte fundamental no</p><p>enriquecimento da burguesia, pois oferecia força de trabalho para as fábricas, que</p><p>eram as novas unidades de produção do mundo moderno.</p><p>O objetivo de Marx era estudar com atenção a classe desfavorecida. Tinha</p><p>a intenção de ajudar na mudança da sua condição de alienação, pois alienado é o</p><p>indivíduo que não tem controle sobre o seu próprio trabalho no que diz respeito</p><p>ao tempo e ao que é produzido.</p><p>80</p><p>UNIDADE 2 | CONCEITOS E FUNDAMENTOS DA SOCIOLOGIA</p><p>No capitalismo, o tempo do trabalhador e o produto do trabalho</p><p>pertencem à burguesia, bem como parte da riqueza que é criada através do</p><p>trabalho. O sistema capitalista tem como propósito a ampliação e a acumulação</p><p>de riquezas e dos meios de produção.</p><p>O indivíduo deveria ser capaz de transformar a sociedade e sua história, mas</p><p>nem sempre ele faz como deseja, pois as heranças da estrutura social o impedem.</p><p>Não é apenas o homem que faz a história da sociedade, mas o inverso também</p><p>acontece, com a sociedade construindo o homem em uma relação recíproca.</p><p>A sociedade está inserida em condições que determinarão até que ponto</p><p>o homem pode construir a sua história e, através da lógica, é possível crer que</p><p>a classe dominante tem maiores chances de fazer sua história como deseja, pois</p><p>tem o poder econômico e político, enquanto a classe proletária está desprovida de</p><p>meios para tal transformação.</p><p>A possibilidade para modificar a situação seria somente por intermédio</p><p>de uma revolução, pois assim a classe trabalhadora poderia assumir o controle</p><p>dos meios de produção e tomar o poder político e econômico da burguesia.</p><p>A classe trabalhadora deveria, então, se organizar politicamente com</p><p>consciência de sua condição e transformar a sociedade capitalista em socialista</p><p>por intermédio da revolução. O socialismo prega que a propriedade coletiva deve</p><p>tomar o lugar da propriedade privada.</p><p>TÓPICO 3 | PRINCIPAIS PENSADORES DA SOCIOLOGIA</p><p>81</p><p>LEITURA COMPLEMENTAR</p><p>A SOCIOLOGIA FUNCIONALISTA NOS ESTADOS</p><p>ORGANIZACIONAIS: FOCO EM DURKHEIM</p><p>Augusto Cabral</p><p>Embora homens como Sócrates, preocupado com a definição de conceitos</p><p>na busca pela essência das coisas, e Platão, com seu empenho em mostrar o caminho</p><p>a ser seguido para ir da doxa (opinião) à episteme (ciência), tenham buscado um</p><p>saber mais rigoroso, o conhecimento científico é relativamente recente.</p><p>Somente ao procurar o seu próprio caminho é que a ciência se desvincula</p><p>da filosofia e passa a determinar objetos específicos a serem apreendidos e</p><p>controlados pelo método. No lugar de uma ciência surgem, gradativamente,</p><p>ciências particulares, com campos mais ou menos delimitados de pesquisa. O</p><p>avanço ocorreu a partir do século XVII e tem a revolução galileana como um dos</p><p>seus marcos.</p><p>Ao defender a substituição do modelo ptolomaico do mundo (o</p><p>geocentrismo) pelo modelo copernicano (o heliocentrismo), Galileu provocou</p><p>uma revolução não apenas científica, mas também política e epistemológica.</p><p>Retirando a Terra do centro do universo, a nova visão quebrava hierarquias,</p><p>democratizava espaços e transformava visões de mundo.</p><p>De seu papel contemplativo, a ciência, em sintonia com o então emergente</p><p>novo modo de produção capitalista, vai se libertando da teologia para assumir</p><p>um papel ativo como técnica e tecnologia de conhecimento e dominação das</p><p>forças da natureza.</p><p>Na nova ordem burguesa, a ciência se solidifica, colocando o racionalismo</p><p>no lugar da fé e do dogmatismo; a técnica, a observação e a experimentação no</p><p>lugar da contemplação e, sobretudo, o antropocentrismo no lugar do teocentrismo</p><p>dominante na Idade Média.</p><p>Em parte, é também de Galileu a herança da "matematização" da ciência</p><p>como forma de se atingir uma linguagem rigorosa, precisa e capaz de evitar</p><p>ambiguidades. Para Galileu, o caminho científico é constituído do encontro da</p><p>matemática com a experimentação. As transformações ocorridas podem ser</p><p>resumidas em quatro aspectos básicos (ARANHA; MARTINS, 1993):</p><p>• A secularização da consciência: o abandono da dimensão religiosa do saber</p><p>medieval através da separação entre razão e fé, entre verdades científicas e</p><p>verdades reveladas.</p><p>• A descentralização do cosmos: o deslocamento não apenas do lugar da Terra</p><p>no universo, mas do lugar do homem no universo.</p><p>82</p><p>UNIDADE 2 | CONCEITOS E FUNDAMENTOS DA SOCIOLOGIA</p><p>• A geometrização do espaço: o fim da mistificação do lugar, da "sacralização"</p><p>do espaço, que se torna homogêneo, quantificável e mensurável.</p><p>• Mecanicismo: o equacionamento da natureza e do homem com a máquina e</p><p>com um conjunto de mecanismos regidos por leis, resultando na exclusão da</p><p>ciência de considerações éticas, morais e filosóficas.</p><p>O poder demonstrado pelas ciências naturais na descrição, previsão</p><p>e explicação de fenômenos resultou na convicção de que também as questões</p><p>sociais e humanas poderiam ser estudadas sob a nova ótica científica, positivista e</p><p>mecanicista. Foi então, a partir do século XVIII, que as ciências sociais começaram</p><p>a constituir um campo coeso e sistemático. Para o estudo da sociedade, era</p><p>necessário buscar a adaptação dos métodos de pesquisa do mundo natural.</p><p>Os primeiros enfoques enfatizavam a formulação e o teste de hipóteses</p><p>para explicação e predição de fenômenos e também o uso de experimentos</p><p>controlados e de técnicas estatísticas para a determinação de correlações entre</p><p>fenômenos.</p><p>Ainda bastante comum atualmente entre os cientistas sociais com</p><p>orientações e objetivos semelhantes aos dos cientistas naturais, determinado</p><p>padrão de investigação é, genericamente, conhecido como naturalismo ou</p><p>positivismo, e no campo das ciências humanas há Durkheim como um dos</p><p>maiores expoentes.</p><p>Estabelecendo a tirania da observação objetiva dos fatos, o positivismo</p><p>fixou para as ciências, inclusive as humanas, além da sociologia, critérios</p><p>metodológicos rígidos. É no rastro das amarras que Durkheim desenvolveu o seu</p><p>método sociológico.</p><p>Rejeitando interpretações inspiradas na psicologia ou na biologia, ele</p><p>concentrou seu foco de atenção, por vezes de forma exagerada, nos determinantes</p><p>socioestruturais dos problemas humanos. Como Aranha e Martins (1993, p. 188)</p><p>observam, "a preocupação em tornar o sujeito das ciências humanas um objeto</p><p>semelhante ao das ciências da natureza marcou com cores fortes a primeira</p><p>tendência metodológica”.</p><p>Embora a supremacia dos enfoques positivistas mais ortodoxos seja mais</p><p>branda na atualidade, ela continua se impondo. Em parte, por se verem presos aos</p><p>rigores do positivismo, os cientistas sociais têm lutado para poderem construir</p><p>suas explicações em um sólido alicerce de dados fatuais.</p><p>Segundo Scott (1990, p. 54), "o 'status' dos dados disponíveis deve,</p><p>portanto, submeter-se a um rigoroso exame de controle de qualidade", uma vez</p><p>que a qualidade da evidência disponível para análise constitui a base da pesquisa</p><p>científica. Ainda de acordo com Scott (1990), um conjunto de critérios relativamente</p><p>simples pode ser utilizado para avaliar a qualidade, independentemente do tipo</p><p>de evidência com que se lida:</p><p>TÓPICO 3 | PRINCIPAIS PENSADORES DA SOCIOLOGIA</p><p>83</p><p>• Autenticidade: a evidência é genuína e de origem inquestionável?</p><p>• Credibilidade: a evidência é livre de erros e distorções?</p><p>• Representatividade: a evidência é típica de sua categoria e, se não for, a</p><p>extensão de sua atipicidade é conhecida?</p><p>• Significado: a evidência é clara e compreensível?</p><p>Mais do que uma lista de tarefas a ser checada, os critérios de avaliação</p><p>são incorporados ao saber do pesquisador experiente, tendendo, portanto, a</p><p>serem utilizados de forma sutil, não rígida. Os critérios são interdependentes. A</p><p>aplicação de um pretende invocar as conclusões que derivam da aplicação dos</p><p>demais.</p><p>O significado interpretativo dos resultados apresentados pelo pesquisador</p><p>é, na verdade, um julgamento inicial e provisório que deve ser revisto na medida</p><p>em que novas descobertas o levam a reavaliar suas evidências (SCOTT, 1990). De</p><p>qualquer maneira, o cientista social deve estar atento para uma questão: facts are</p><p>not raw perceptions but are theoretically constructed observations (SCOTT, 1990).</p><p>Ao longo das últimas décadas, a palavra positivismo tem</p><p>assumido</p><p>diferentes conotações e tem sido utilizada não apenas de forma exaustiva, mas</p><p>também, por vezes, de modo inadequado. Segundo Giddens (1997, p. 167),</p><p>"'positivismo' tornou-se antes uma expressão ofensiva do que um termo técnico</p><p>de filosofia". Confirmando a constatação, Burrell e Morgan (1994) argumentam</p><p>que a palavra positivismo, mais do que um conceito descritivo útil, tornou-se um</p><p>epíteto derrogatório.</p><p>A abrangência do termo torna difícil precisar tanto suas fronteiras quanto</p><p>o seu alvo, confundindo as áreas de exclusão e inclusão. Como um guarda-</p><p>chuva, o positivismo pode, conforme argumenta Domingues (1998), recobrir o</p><p>empirismo inglês e o Iluminismo francês do início da modernidade, passando</p><p>pelo materialismo naturalista do século XIX até o empirismo lógico e a filosofia</p><p>analítica do século XX.</p><p>Embora alguns dos elementos do paradigma funcionalista remetam ao</p><p>pensamento político e social dos gregos antigos, a determinação do seu ponto de</p><p>origem é difícil. Por conveniência, a sua análise frequentemente começa com o</p><p>trabalho de Comte, genericamente visto como o pai da sociologia.</p><p>Tido como o sociólogo da unidade humana e social, o filósofo francês</p><p>Auguste Comte via o conhecimento e a sociedade como estando em um processo</p><p>evolucionário, cujo estágio "inicial" seria o teológico ou fictício; "intermediário"</p><p>sendo o metafísico ou abstrato e, o "final", o científico ou positivo.</p><p>As etapas foram formuladas em sua obra Curso de filosofia positiva (1830-42),</p><p>constituindo a chamada "Lei dos três estágios", segundo a qual o conhecimento e</p><p>a sociedade evoluem em uma direção bem definida.</p><p>84</p><p>UNIDADE 2 | CONCEITOS E FUNDAMENTOS DA SOCIOLOGIA</p><p>No primeiro estágio, os fenômenos são explicados em relação à vontade</p><p>dos deuses e às realidades transcendentes. No segundo, recorremos a conceitos</p><p>mais abstratos, referentes a processos universais, como "natureza". Ainda, no</p><p>terceiro, o conhecimento se baseia na descrição dos fenômenos e na descoberta</p><p>das leis objetivas.</p><p>A função da sociologia seria, então, compreender o necessário,</p><p>indispensável e inevitável curso da história, de forma a promover a realização</p><p>de uma nova ordem social. Para Comte, a racionalidade estava em ascendência,</p><p>fundamentando a base de uma ordem social bem regulada. O enfoque positivista</p><p>estruturaria o destino da humanidade, guiando-a para o tipo de sociedade ideal.</p><p>FONTE: CABRAL, Augusto. A Sociologia Funcionalista nos estudos organizacionais: foco em</p><p>Durkheim. EBAPE.BR, Rio de Janeiro, v. 2, n. 2, p. 1-1, jul. 2004. Disponível em: . Acesso em: 2 ago. 2018.</p><p>85</p><p>RESUMO DO TÓPICO 3</p><p>Neste tópico, você aprendeu que:</p><p>• Augusto Comte deu origem ao termo sociologia.</p><p>• Comte partia da supremacia científica e da forma como ela poderia explicar</p><p>todos os fenômenos independentemente de explicações da religião, como</p><p>normalmente era feito naquele tempo.</p><p>• Comte buscava na ciência respostas que pudessem ser usadas no preparo do</p><p>ordenamento social.</p><p>• O objetivo da positividade era promover um reordenamento disciplinar da</p><p>sociedade através da compreensão das novas questões sociais que foram</p><p>criadas.</p><p>• Auguste Comte iniciou a sociologia, um estudo a ser continuado com o</p><p>propósito de atingir um patamar de primazia e função.</p><p>• Há Émile Durkheim, cujo principal objetivo foi dar à sociologia credibilidade</p><p>científica.</p><p>• Durkheim entendia os obstáculos sociais da época, apesar de viver em um</p><p>momento de otimismo, cercado de inovações tecnológicas, como a eletricidade</p><p>e os carros.</p><p>• As sociedades estabelecidas sob o modo de solidariedade mecânica seriam</p><p>aquelas nas quais existiriam poucos papéis sociais.</p><p>• As sociedades de solidariedade orgânica, mais comuns ao mundo moderno,</p><p>oferecem muitos papéis sociais, tendo em vista as inúmeras atividades que</p><p>podem existir nas cidades.</p><p>• Weber buscou a possibilidade da interpretação da sociedade partindo não dos</p><p>fatos sociais já consolidados e das suas características externas, mas começou</p><p>pelo indivíduo que nela vive.</p><p>• Nas sociedades de tipo capitalista, a forma principal de conflito ocorria entre</p><p>suas duas classes sociais fundamentais: a burguesia e o proletariado.</p><p>• O objetivo de Marx era estudar com atenção a classe desfavorecida. Tinha a</p><p>intenção de ajudar na mudança da sua condição de alienação.</p><p>86</p><p>1 Elabore um fluxograma com os principais pensadores estudados neste</p><p>tópico e suas ideias centrais.</p><p>2 Explique como a época em que Karl Marx viveu influenciou em suas análises</p><p>sociológicas.</p><p>AUTOATIVIDADE</p><p>87</p><p>TÓPICO 4</p><p>CONCEITO DE AÇÃO E RELAÇÃO SOCIAL</p><p>UNIDADE 2</p><p>1 INTRODUÇÃO</p><p>Neste tópico, você será introduzido em pontos principais para a</p><p>compreensão dos estudos da sociologia: os conceitos de ação e relação social.</p><p>Assim, observará a organização de ideias que envolvem dominação e poder e</p><p>sociedade e indivíduo.</p><p>2 DOMINAÇÃO E PODER</p><p>É um conceito criado para que possamos entender a origem da dominação</p><p>e do poder na sociedade. Segundo Weber (2014, p. 392):</p><p>O Estado e as associações políticas que o precederam historicamente</p><p>são uma relação de DOMINAÇÃO de seres humanos sobre seres</p><p>humanos, apoiada no instrumento da violência legítima. Os</p><p>homens dominados precisam se submeter, portanto, à autoridade</p><p>continuamente reivindicada por aqueles que estão dominando no</p><p>momento.</p><p>Weber (2014) entende que a dominação tem um papel decisivo nas</p><p>relações de mando, ou seja, na definição de quem subjuga e de quem executa</p><p>o que fora decidido. O sociólogo entende que a dominação determina um caso</p><p>especial de poder. Poder, para Weber (1997, p. 10), significa “a possibilidade de</p><p>impor a própria vontade sobre a conduta alheia e dentro de uma relação social”.</p><p>A dominação é observada nas mais variadas formas. Weber (1997) aponta</p><p>dois tipos diferentes de dominação: a dominação mediante interesses, que se</p><p>manifesta especialmente em situações de monopólio (de bens econômicos, bens</p><p>culturais e poder político) e a dominação mediante a autoridade, que ocorre</p><p>quando existe poder de mando e dever de obediência. As duas formas podem se</p><p>converter ou até mesmo se combinar.</p><p>88</p><p>UNIDADE 2 | CONCEITOS E FUNDAMENTOS DA SOCIOLOGIA</p><p>A dominação e o exercício do poder necessitam encontrar, entre os</p><p>dominados, legitimidade. Assim, são determinados três tipos de dominação</p><p>legítima: legal, tradicional e carismática.</p><p>• Legal: a dominação legal é o tipo mais autêntico. Ela está representada pela</p><p>burocracia. As leis devem ser obedecidas. Mesmo quem ordena está sujeito à</p><p>lei. A dominação legal, portanto, corresponde à estrutura moderna do Estado.</p><p>• Tradicional: tem como modelo mais comum a dominação patriarcal, visto que</p><p>há um senhor que ordena e um conjunto de pessoas que o segue. As pessoas</p><p>que obedecem são classificadas de acordo com o contexto histórico, súditos,</p><p>servidores etc.</p><p>• Carismática: acontece pela devoção afetiva em relação à pessoa que domina</p><p>e seus dotes, supostamente sobrenaturais. O tipo que manda é o líder e o que</p><p>obedece é o apóstolo. A obediência acontece por suas qualidades, sem nenhuma</p><p>relação com a tradição, seja ela qual for, ou com a lei.</p><p>3 SOCIEDADE E INDIVÍDUO</p><p>A sociologia busca compreender a ação e interpretá-la. Assim, os</p><p>indivíduos decidem por uma ação específica por quais motivos?</p><p>A sociedade determinada não é algo exterior e superior aos indivíduos.</p><p>Ela se forma pelo composto de ações de indivíduos se relacionando. Para Weber</p><p>(1997), não existe oposição entre indivíduo e sociedade. As normas sociais só</p><p>se tornam concretas quando se manifestam em cada indivíduo sob a forma de</p><p>motivação. A categorização determinada por Weber considera a divisão em</p><p>relação aos fins e valores, que são compreendidos no desenvolvimento da ação.</p><p>4 AÇÃO E RELAÇÃO SOCIAL</p><p>O conceito de ação social é baseado na sociologia de Max Weber,</p><p>considerado o criador da Sociologia Compreensiva, que tem como objetivo o</p><p>estudo do sentido das ações sociais.</p><p>De acordo com Weber (1997), o conceito de ação social só existe quando</p><p>está orientado pela ação dos outros. Um indivíduo que pratica uma ação</p><p>solitariamente não está desempenhando uma ação social. Só é considerada ação</p><p>social quando uma pessoa a realiza com um motivo anteriormente determinado.</p><p>A ação social racional motivada por fins é quando a ação é especificamente</p><p>racional. Define-se um objetivo concreto e este é, então, racionalmente avaliado e</p><p>perseguido. Há a escolha das melhores condições para se realizar um fim.</p><p>TÓPICO 4 | CONCEITO DE AÇÃO E RELAÇÃO SOCIAL</p><p>89</p><p>Na ação social racional motivada por valores, o importante não é o fim ou</p><p>o resultado em si, mas o meio. É resolvido pela consciência do valor ou conduta</p><p>(ética, estética, fé religiosa, política ou de qualquer outra forma) particular do</p><p>sujeito. A atitude objetiva, prioritariamente, a manutenção da própria honra, seja</p><p>ela qual for.</p><p>A ação social afetiva é a conduta orientada por sentimentos motivadores,</p><p>estado de humor ou consciência do autor: euforia, desejo, vingança, ciúmes,</p><p>esperança, devoção, inveja, amor, medo etc. Determinada por um reflexo emocional.</p><p>Ainda, há a ação social tradicional, que é reproduzida a partir de geração</p><p>para geração e com forte apelo à tradição, hábitos e costumes. Prática associada à</p><p>tradição, sem necessitar de um fim, valor ou decorrências emocionais. Sujeita-se</p><p>apenas a condicionamentos, frutos de costumes.</p><p>FIGURA 1 – CARACTERIZAÇÃO DA AÇÃO SOCIAL</p><p>Conduta</p><p>específica</p><p>baseada</p><p>nos méritos</p><p>de valores</p><p>pessoais</p><p>Satisfação das</p><p>necessidades</p><p>criadas por</p><p>um estado</p><p>emocional</p><p>Prática</p><p>tradicional-</p><p>mente</p><p>enraizada nos</p><p>costumes</p><p>Racionalmente</p><p>avaliado e</p><p>perseguido</p><p>Hábitos e</p><p>costumes</p><p>Afeto e</p><p>condições</p><p>emocionais</p><p>Consciência,</p><p>valor e conduta</p><p>Condições para</p><p>alcançar o fim</p><p>TradicionalAfetiva</p><p>Racional</p><p>motivada por</p><p>valores</p><p>Racional</p><p>motivada por</p><p>fins</p><p>Caracterização</p><p>da ação social</p><p>FONTE: O autor</p><p>90</p><p>UNIDADE 2 | CONCEITOS E FUNDAMENTOS DA SOCIOLOGIA</p><p>As relações sociais dizem respeito a ações de diversas pessoas, dotadas de</p><p>sentidos mutuamente relacionados. Assim, a conduta é orientada para sentidos</p><p>compartilhados por todos. Diferentemente da ação social, a relação ocorre pela</p><p>atuação coletiva. Esta detém informações pertinentes que podem servir de estudo</p><p>para uma observação probabilística da forma como serão sucedidas as demais</p><p>atitudes sociais.</p><p>A relação social é, então, uma conduta de um grupo reciprocamente</p><p>orientada e que tem conteúdo significativo. Baseia-se na probabilidade de que</p><p>todos agirão socialmente de uma maneira.</p><p>Uma forma determinada de conduta social pode desenvolver, em</p><p>algum momento, um caráter de rede partilhado pelos diversos agentes em uma</p><p>sociedade qualquer.</p><p>TÓPICO 4 | CONCEITO DE AÇÃO E RELAÇÃO SOCIAL</p><p>91</p><p>LEITURA COMPLEMENTAR</p><p>AÇÃO SOCIAL E PARTICIPAÇÃO NO CONTEXTO DA CRECHE</p><p>Ângela Maria Scalabrin Coutinho</p><p>A vida pulsante das crianças não pode ficar do lado de fora da instituição,</p><p>pois é o seu espaço de vida, de relações. Ao estruturarmos propostas nas quais</p><p>as crianças vivem por inteiro o espaço e as suas possibilidades na interação com</p><p>outras crianças e com os adultos nas instituições de educação infantil, damos</p><p>grandes passos em relação aos outros referenciais no imaginário social das</p><p>crianças.</p><p>Ao documentarmos as experiências das crianças, estudá-las e torná-las</p><p>públicas, avançamos na compreensão de quem são esses atores sociais. Não</p><p>podemos manter a concepção de criança e de infância que predominava há 20</p><p>anos, pois as infâncias se renovam, as estruturas sociais que as conformam se</p><p>alteram com uma velocidade surpreendente.</p><p>A ressignificação do conceito de infância é colocada a partir da</p><p>necessidade de romper com as formas de participação decorativas, que enunciam</p><p>que a participação é constitutiva das práticas sociais. Entretanto, o que é uma</p><p>participação decorativa? É aquela na qual geralmente são empregadas formas de</p><p>envolvimento por meio da consulta, por exemplo.</p><p>O sujeito pode emitir a sua opinião desde que não fuja do que foi</p><p>perguntado, opte por uma das opções dadas e se posicione a favor ou contra</p><p>sem questionar a lógica do que é proposto. Todos os dias determinado tipo de</p><p>participação é vivenciado nas instituições de educação infantil quando damos</p><p>opções fechadas de escolha para as crianças, como: querem essa história ou a</p><p>outra? Querem desenhar ou brincar no parque?</p><p>Permitir a participação é, sobretudo, ter um espaço rico em oportunidades,</p><p>repensar os tempos a partir da observação dos seus ritmos, criar canais para</p><p>legitimação da voz das crianças e não só ouvi-las, mas possibilitar que a sua voz</p><p>tenha implicações na alteração da realidade. Se assumirmos o desafio de efetivar</p><p>o direito à participação, temos que compreender que o direito é concernente a</p><p>adultos e crianças.</p><p>A instituição de educação infantil é um espaço relativo às crianças.</p><p>Portanto, é interessante conhecer o ponto de vista das crianças sobre as coisas</p><p>da vida, pois as propostas se voltam para elas. Como indicam as Diretrizes</p><p>Curriculares Nacionais para a Educação Infantil (BRASIL, 2009), a criança é o</p><p>centro do planejamento pedagógico.</p><p>92</p><p>UNIDADE 2 | CONCEITOS E FUNDAMENTOS DA SOCIOLOGIA</p><p>Temos que criar estratégias próprias para as características desses atores.</p><p>Assim, se trabalhamos com bebês, com crianças menores de três anos, sendo que</p><p>a fala não é a principal forma de comunicação, temos que capturar os saberes,</p><p>os pensamentos e as ações das crianças utilizando instrumentos que auxiliem</p><p>o nosso olhar, tais como o vídeo, a fotografia e registro escrito. Com as crianças</p><p>maiores, essas estratégias também são importantes, mas já podemos contar, de</p><p>forma mais substancial, com a sua fala, com a sua opinião verbal.</p><p>Temos que estar atentos nas suas relações mais sutis, nas trocas de</p><p>olhares, nos combinados entre elas, nas suas escolhas quando têm liberdade para</p><p>fazê-las. Ao avançarmos, visualizamos a possibilidade de constituirmos uma</p><p>participação protagônica. De acordo com Cussiánovish (2005), o protagonismo é</p><p>uma cultura que recupera a centralidade do ser humano, sua condição societal,</p><p>sua educabilidade, sua constituição de alteridade substantiva.</p><p>O protagonismo é, sobretudo, uma conquista, é algo que admite</p><p>processos e um desenvolvimento fruto de relações sociais, de poder, de encontros</p><p>e desencontros. Poderíamos dizer que não nascemos protagonistas, mas</p><p>aprendemos a ser cotidianamente.</p><p>Alejandro Cussiánovish sugere que podemos falar de uma participação</p><p>protagônica para indicar que um critério ou parâmetro central deve ser</p><p>expressão, desenvolvimento e aprofundamento da experiência coletiva e pessoal</p><p>(CUSSIÁNOVISH, 2005).</p><p>A instituição de educação infantil é um lugar privilegiado para o exercício</p><p>da participação de modo protagônico, contudo ela é parte do processo de</p><p>globalização que devora nossas sociedades. Somos educados para cumprir as</p><p>determinações, não pensar muito sobre elas, nos acomodarmos.</p><p>Para exercitar a participação das crianças, teremos que problematizar a</p><p>condição, teorizar sobre a organização do nosso cotidiano, pensar sobre os tempos</p><p>e espaço da fala, da escuta, das relações. E o que significa falar em participação</p><p>partilhada?</p><p>Podemos definir que a professora é protagonista do seu processo de</p><p>formação e da estruturação da prática pedagógica: ela é autora das propostas que</p><p>são protagonizadas pelas crianças. Entretanto, as crianças também atuam para além</p><p>do que é proposto pelas professoras. Então, o protagonismo adulto é revelado no seu</p><p>olhar, no ouvir, na sua capacidade de acolhimento das inventividades das crianças.</p><p>O protagonismo das crianças é efetivado quando elas têm a possibilidade</p><p>de participação por via da sua escuta, observação, da estruturação de tempo,</p><p>espaço e propostas que considerem suas singularidades. Determinados princípios</p><p>e escolhas metodológicas permitem que as crianças sejam atores sociais e</p><p>vivenciem o exercício</p><p>da participação.</p><p>FONTE: COUTINHO, Ângela Maria Scalabrin. Ação social e participação no contexto da</p><p>creche. Educativa, Goiânia, v. 16, n. 2, p. 217-228, jul. 2013. Disponível em: . Acesso em: 4 ago. 2018.</p><p>93</p><p>RESUMO DO TÓPICO 4</p><p>Neste tópico, você aprendeu que:</p><p>• A dominação tem um papel decisivo nas relações de mando, ou seja, na</p><p>definição de quem subjuga e de quem executa o que fora decidido.</p><p>• Dominação e o exercício do poder necessitam encontrar, entre os dominados,</p><p>legitimidade.</p><p>• A sociologia busca compreender a ação e interpretá-la.</p><p>• Só é considerada social a ação quando uma pessoa a realiza com um motivo</p><p>anteriormente determinado.</p><p>• A ação social tradicional é reproduzida a partir de geração para geração e com</p><p>forte apelo à tradição, hábitos e costumes.</p><p>• Diferentemente da ação social, a relação ocorre pela atuação coletiva. Esta detém</p><p>informações pertinentes que podem servir de estudo para uma observação</p><p>probabilística da forma como serão sucedidas as demais atitudes sociais.</p><p>• Uma forma determinada de conduta social pode desenvolver, em algum</p><p>momento, um caráter de rede partilhado pelos diversos agentes em uma</p><p>sociedade qualquer.</p><p>94</p><p>1 Identifique de que maneira os indivíduos de uma sociedade estão ligados</p><p>aos conceitos de dominação e poder em suas ações.</p><p>2 Diferencie, em poucas palavras, ação e relação social.</p><p>AUTOATIVIDADE</p><p>95</p><p>TÓPICO 5</p><p>CIDADANIA, DIREITOS HUMANOS E MOVIMENTOS SOCIAIS</p><p>UNIDADE 2</p><p>1 INTRODUÇÃO</p><p>Para encerrar esta unidade, adentraremos em algumas questões mais</p><p>específicas e contemporâneas, como os conceitos de cidadania, direitos humanos e</p><p>movimentos sociais e como eles se encontram organizados dentro da sociedade atual.</p><p>2 CIDADANIA E DIREITOS HUMANOS</p><p>Cidadania é uma palavra oriunda de cidadão, do latim civitas. Na Roma</p><p>antiga, cidade significava uma comunidade organizada politicamente e o aglomerado</p><p>de cidadãos que nela vivia era chamado civitate. Na época, para ser considerado</p><p>cidadão, era necessário que a pessoa estivesse incorporada à vida na cidade.</p><p>A ideia de cidadania, historicamente, acompanha a noção de privilégio,</p><p>uma vez que os direitos de cidadania eram distribuídos apenas para classes e</p><p>grupos sociais específicos. A ideia foi sofrendo mudanças no decorrer do tempo,</p><p>tanto pelas alterações nos modelos econômicos, políticos ou sociais, quanto</p><p>pelas conquistas adquiridas pela parcela marginalizada da sociedade através</p><p>das pressões de demandas exigidas. Em outras palavras, podemos afirmar que</p><p>cidadão, hoje em dia, é todo indivíduo que se encontra no gozo de seus direitos</p><p>civis e políticos dentro de um Estado.</p><p>Assim, nem sempre todos tiveram o direito de desempenhar sua</p><p>cidadania. Na Grécia antiga, os homens gregos, adultos e proprietários de terras</p><p>eram vistos como capazes na decisão do rumo da cidade. Eram excluídos da</p><p>cidadania grega as mulheres, os jovens, os pobres, os estrangeiros e os escravos.</p><p>Tal fato é denominado de cidadania restrita.</p><p>96</p><p>UNIDADE 2 | CONCEITOS E FUNDAMENTOS DA SOCIOLOGIA</p><p>Na Roma antiga, existiam restrições em relação ao exercício da cidadania.</p><p>Somente aqueles que eram prestigiados com títulos de nobreza é que condensavam</p><p>direitos, tais como a propriedade de terra e o uso do poder político. Já os</p><p>chamados plebeus, classe marginalizada, necessitavam gerar distúrbio contra o</p><p>poder constituído para o acesso a alguns direitos. Existem:</p><p>• Cidadania plena: capacidade legal de responder pelos seus próprios atos</p><p>diante das autoridades públicas.</p><p>• Cidadania restrita: apenas os considerados nobres, proprietários de terra têm</p><p>acesso ao uso do poder político.</p><p>Ocorre que, na atualidade, já possuímos muitos direitos que atingem a</p><p>todos os indivíduos. Tais direitos estão garantidos desde a Constituição Federal</p><p>até leis e tratados internacionais. Contudo, ainda há um frequente e manifesto</p><p>descumprimento referente à parcela marginalizada da sociedade.</p><p>Assim, é necessário estudar e expor fatos sociais referentes à cidadania e</p><p>direitos humanos. A ideia é que cada vez mais indivíduos tenham acesso e gozo</p><p>efetivo dos direitos através da prática de suas cidadanias.</p><p>Em suma, podemos conceituar cidadania como sendo o agrupamento das</p><p>liberdades políticas, econômicas e sociais que já são respaldadas pela legislação ou</p><p>não. Quando o cidadão exerce sua cidadania, ele está tornando tais direitos efetivos.</p><p>Cabe lembrar que é de indispensável importância o zelo pelos direitos</p><p>humanos por parte de todos os cidadãos, uma vez que são direitos dirigidos</p><p>especificamente a todos nós pelo simples fato de sermos humanos. Todos</p><p>merecem o efetivo gozo de suas liberdades individuais e, para isso, é importante</p><p>que se preze, também, a individualidade das liberdades alheias.</p><p>IMPORTANTE</p><p>A Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, aprovada na assembleia</p><p>francesa, em 1789, indica no título dois tipos de direitos: os do homem e os do cidadão.</p><p>Contudo, não ficam esclarecidas as diferenças entre eles. Não existe uma significação</p><p>jurídica rígida para cada um dos termos.</p><p>Seguem alguns conceitos simplificados para o entendimento das</p><p>nomenclaturas sobre os direitos abrangidos pelos tratados e leis de direitos</p><p>humanos:</p><p>TÓPICO 5 | CIDADANIA, DIREITOS HUMANOS E MOVIMENTOS SOCIAIS</p><p>97</p><p>• Direitos do cidadão: são direitos conferidos ao cidadão tanto pela sociedade</p><p>quanto pelo Estado. Podemos encontrar desde a proteção do Estado ao</p><p>indivíduo até o direito de liberdade de ir e vir do cidadão, de participação nos</p><p>atos da vida social etc.</p><p>• Direitos de cidadania: aparecem sempre anexos aos direitos políticos. São</p><p>direitos consequências da nacionalidade do indivíduo.</p><p>• Direitos individuais: o diferencial é que sempre estarão assegurados pela</p><p>Constituição Federal. São dirigidos a todos os indivíduos e dizem respeito</p><p>à dignidade da pessoa humana. São direitos como liberdade, segurança,</p><p>propriedade etc.</p><p>• Direitos políticos: dizem respeito aos direitos de participação na governança</p><p>do país. Podem acontecer tanto de maneira direta quanto indireta. O cidadão</p><p>exerce determinado direito ao efetuar seus direitos de votar, ser votado,</p><p>desempenhar cargos e funções públicas etc.</p><p>• Direitos naturais: são inatos à natureza humana. Seguem a ideia da existência</p><p>de uma ordem natural das relações humanas. São direitos morais de sociedade.</p><p>São caracterizados pela universalidade e imutabilidade, como direito à vida e à</p><p>reprodução.</p><p>• Direito positivo: são os direitos criados pelo ser humano quando já viventes</p><p>em sociedade. São direitos coercitivos e designados pelo Estado aos cidadãos.</p><p>• Direito de propriedade: é o direito dado ao cidadão de usar, dispor e gozar</p><p>dos seus bens.</p><p>• Direito de natureza (ecológicos): é baseado nos preceitos reguladores das</p><p>relações entre o homem com o meio ambiente e as possíveis consequências que</p><p>tais relações causam.</p><p>• Autodeterminação: o cidadão pode determinar seu próprio destino, o direito de</p><p>orientar sua conduta pessoal. Pode ser relativo também a grupos sociais, povos</p><p>e nações. Escolhem seu destino político, elegendo seus próprios governantes,</p><p>por exemplo.</p><p>Cabe analisarmos um pouco a Declaração Universal dos Direitos do</p><p>Homem e do Cidadão, como já dito anteriormente, elaborada no ano de 1789,</p><p>época em que ocorria a Revolução Francesa.</p><p>Tal revolução possuía como lema central liberdade, igualdade e</p><p>fraternidade e em oposição ao antigo regime vigente, no qual os direitos dos</p><p>cidadãos constituíam uma prerrogativa de apenas algumas classes sociais</p><p>determinadas.</p><p>98</p><p>UNIDADE 2 | CONCEITOS E FUNDAMENTOS DA SOCIOLOGIA</p><p>A Declaração Universal dos Direitos do Homem e do Cidadão foi</p><p>elaborada com intuito de ser a nova Constituição Francesa. Trouxe consigo uma</p><p>máxima que até hoje é utilizada na maioria dos Estados: todos são iguais perante</p><p>a lei. Ainda, serviu de base para a concepção da Declaração Universal dos Direitos</p><p>Humanos.</p><p>Juntamente com a Revolução Francesa, a Revolução Inglesa também</p><p>foi</p><p>importante para o provimento das bases para o surgimento da cidadania dentro</p><p>das sociedades contemporâneas. As revoluções almejavam justamente direitos</p><p>individuais, liberdade e igualdade entre os cidadãos.</p><p>No século XVIII, na Inglaterra, ocorreu um crescimento significativo e</p><p>gradativo na efetivação da cidadania. Através das revoltas surgiram os direitos</p><p>civis. Posteriormente, no século XIX, os direitos políticos e, então, no século XX,</p><p>os direitos sociais. Vejamos as diferenças e o porquê da necessidade da criação de</p><p>cada um desses direitos:</p><p>• Direitos civis: pertinentes à liberdade individual e às relações de trabalho.</p><p>• Direitos políticos: trabalhadores adquirem direito de participação no exercício</p><p>do poder político.</p><p>• Direitos sociais: construção de políticas sociais universais garantindo a todos</p><p>os trabalhadores o acesso à distribuição da riqueza originária do país.</p><p>A cidadania vai além de direitos e deveres dos cidadãos. Não é apenas</p><p>possuir os direitos civis, políticos e sociais, mas ter consciência desses direitos para</p><p>poder tanto exercê-los quanto exigi-los corretamente. Para finalizar este subtópico,</p><p>vejamos sobre as ideias de liberdade e igualdade em seu contexto histórico:</p><p>• Final do século XVIII e XIX Sociedade europeia Capitalismo industrial.</p><p>• Revoltas do Proletariado: Classes sociais Burguesia e Proletariado </p><p>Desigualdades sociais.</p><p>• Início da elaboração dos direitos de cidadania: Ideias dos teóricos no final</p><p>do século XVII e XIX Ao propor a igualdade de todos perante a lei As</p><p>pessoas eram diferentes Direitos iguais para os desiguais Leis feitas por</p><p>quem dominava a sociedade.</p><p>• A relutância do status quo em efetivar os novos direitos: Igualdade total</p><p>Ameaça aos privilégios sociais da burguesia.</p><p>TÓPICO 5 | CIDADANIA, DIREITOS HUMANOS E MOVIMENTOS SOCIAIS</p><p>99</p><p>3 MOVIMENTOS SOCIAIS</p><p>É comum que vejamos diferentes organizações coletivas demandando por</p><p>meio das mais diversificadas maneiras de reivindicação, ações ou coisas. São os</p><p>chamados movimentos sociais.</p><p>Como exemplo, podemos mencionar o Movimento dos Trabalhadores</p><p>Rurais Sem Terra (MST), o Fórum Social Mundial (FSM), o movimento hippie,</p><p>movimento feminista, o movimento estudantil, o movimento dos sem-teto,</p><p>o movimento pela “Tradição, Família e Propriedade” (TFP), os movimentos</p><p>anticapitalistas, dentre outros.</p><p>É extensa e em constante crescimento a lista de movimentos sociais</p><p>existentes nos dias atuais. Os movimentos sociais são importantes, uma vez que</p><p>possuem um importante significado social e político.</p><p>É possível verificarmos diferentes atributos unânimes que transpassam por</p><p>todos eles. Um dos atributos, por exemplo, é a atuação dos movimentos. Escrevem</p><p>o desenvolvimento de sua história com intuito de mudanças significativas para o</p><p>fato social passível de demanda por mudanças.</p><p>Os indivíduos, quando se organizam de maneira coletiva e procurando</p><p>determinado objetivo em comum, acabam se tornando sujeitos históricos. Assim,</p><p>não é necessária a efetivação de certezas sobre o futuro do movimento social</p><p>em questão para que os cidadãos possam lutar por suas demandas com fins de</p><p>inclusão, transformação ou exclusão de algum direito.</p><p>Ocorre que, no modelo da nossa sociedade, as políticas públicas são</p><p>elaboradas para que possam ser modificadas dentro do nosso ordenamento</p><p>vigente. O fenômeno ocorre quando um cidadão sozinho não detém um elevado</p><p>poder de modificação social. Então, organiza-se com seus iguais para conseguir as</p><p>mudanças necessárias no ordenamento. A movimentação entre indivíduos é de</p><p>suma importância para a sociedade em que vivemos, pois conseguimos evoluir</p><p>enquanto sociedade e não ficamos estabilizados no tempo.</p><p>A Revolução Cubana é um exemplo de manifestação social que ultrapassa</p><p>a tentativa de melhora e almeja uma modificação social drástica da sociedade. A</p><p>citada revolução aparece como uma manifestação antagônica ao regime ditatorial</p><p>presente no país até então e acaba por resultar em um governo socialista.</p><p>100</p><p>UNIDADE 2 | CONCEITOS E FUNDAMENTOS DA SOCIOLOGIA</p><p>Incontáveis exemplos poderiam ser citados a fim de demonstrar o</p><p>ser humano como sujeito histórico. No Brasil, com o início da movimentação</p><p>social dos agrupamentos negros, um número significativo de prerrogativas foi</p><p>alcançado. Temos como exemplo as políticas afirmativas.</p><p>Assim, quando uma pessoa assevera frases como “a sociedade é desta</p><p>ou daquela forma” e que “não adianta tentar interferir”, ela está reportando</p><p>uma ideia que, na realidade, de maneira nua e crua, contempla os interesses</p><p>das pessoas formadoras dos grupos ou classes sociais privilegiadas nas relações</p><p>sociais já existentes.</p><p>IMPORTANTE</p><p>Os movimentos sociais estão presentes ao longo de toda História para</p><p>demonstrar exatamente o contrário: quando os cidadãos se agrupam coletivamente de</p><p>maneira organizada, muito da composição social pode ser modificada.</p><p>TÓPICO 5 | CIDADANIA, DIREITOS HUMANOS E MOVIMENTOS SOCIAIS</p><p>101</p><p>LEITURA COMPLEMENTAR</p><p>MOVIMENTOS SOCIAIS NA CONTEMPORANEIDADE</p><p>Maria da Glória Gohn</p><p>É preciso demarcar nosso entendimento sobre o que são movimentos</p><p>sociais. Nós os encaramos como ações sociais coletivas de caráter sociopolítico e</p><p>cultural que viabilizam formas distintas de a população se organizar e expressar</p><p>suas demandas (GOHN, 2008).</p><p>Na ação concreta, as formas adotam diferentes estratégias que variam</p><p>da simples denúncia, passando pela pressão direta (mobilizações, marchas,</p><p>concentrações, passeatas, distúrbios à ordem constituída, atos de desobediência</p><p>civil, negociações etc.) até as pressões indiretas.</p><p>Na atualidade, os principais movimentos sociais atuam por meio de redes</p><p>sociais, locais, regionais, nacionais e internacionais ou transnacionais e utilizam</p><p>os novos meios de comunicação e informação, como a internet. Exercitam o que</p><p>Habermas denominou de o agir comunicativo. A criação e o desenvolvimento</p><p>de novos saberes, na atualidade, são também produtos dessa comunicabilidade.</p><p>Na realidade histórica, os movimentos sempre existiram, e cremos que</p><p>sempre existirão. Representam forças sociais organizadas, aglutinam as pessoas</p><p>como campo de atividades e experimentação social, e essas atividades são fontes</p><p>geradoras de criatividade e inovações socioculturais.</p><p>Concordamos com antigas análises de Touraine. Afirmava que os</p><p>movimentos são o coração, o pulsar da sociedade. Expressam energias de</p><p>resistência ao velho que oprime ou de construção do novo que liberta. Energias</p><p>sociais antes dispersas são canalizadas e potencializadas por meio de suas práticas</p><p>em "fazeres propositivos".</p><p>Os movimentos realizam diagnósticos sobre a realidade social, constroem</p><p>propostas. Atuando em redes, constroem ações coletivas que agem como</p><p>resistência à exclusão e lutam pela inclusão social.</p><p>Tanto os movimentos sociais dos anos 1980 como os atuais têm construído</p><p>representações simbólicas afirmativas por meio de discursos e práticas. Criam</p><p>identidades para grupos antes dispersos e desorganizados, como bem acentuou</p><p>Melucci (1996). Projetam, em seus participantes, sentimentos de pertencimento</p><p>social. Aqueles que eram excluídos passam a se sentir incluídos em algum tipo de</p><p>ação de um grupo ativo.</p><p>102</p><p>UNIDADE 2 | CONCEITOS E FUNDAMENTOS DA SOCIOLOGIA</p><p>Entretanto, o que diferencia um movimento social de uma organização</p><p>não governamental? O que caracteriza um movimento social? Definições já</p><p>clássicas sobre os movimentos sociais citam como suas características básicas o</p><p>seguinte: possuem identidade, têm opositor e articulam ou se fundamentam em</p><p>um projeto de vida e de sociedade.</p><p>Historicamente, apresentam conjuntos de demandas e práticas de pressão/</p><p>mobilização; têm certa continuidade e permanência. Não são só reativos e movidos</p><p>apenas pelas necessidades (fome ou qualquer forma de opressão). Podem surgir</p><p>e se desenvolver também a partir de uma reflexão sobre sua própria experiência.</p><p>Na atualidade, apresentam um ideário civilizatório que coloca como</p><p>horizonte a construção</p><p>de uma sociedade democrática. Hoje em dia, suas ações</p><p>são pela sustentabilidade, e não apenas pelo autodesenvolvimento.</p><p>Lutam contra a exclusão, por novas culturas políticas de inclusão.</p><p>Lutam pelo reconhecimento da diversidade cultural. Questões como a diferença</p><p>e a multiculturalidade têm sido incorporadas para a construção da própria</p><p>identidade dos movimentos. Há uma ressignificação dos ideais clássicos de</p><p>igualdade, fraternidade e liberdade.</p><p>A igualdade é ressignificada com a tematização da justiça social; a</p><p>fraternidade se retraduz em solidariedade; a liberdade se associa ao princípio</p><p>da autonomia, da constituição do sujeito não individual, mas a autonomia de</p><p>inserção na sociedade, de inclusão social, de autodeterminação com soberania.</p><p>Finalmente, os movimentos sociais tematizam e redefinem a esfera</p><p>pública, realizam parcerias com outras entidades da sociedade civil e política,</p><p>têm grande poder de controle social e constroem modelos de inovações sociais.</p><p>No Brasil e em vários outros países da América Latina, no fim da década</p><p>de 1970 e parte dos anos 1980, ficaram famosos os movimentos sociais populares</p><p>articulados por grupos de oposição aos regimes militares, especialmente pelos</p><p>movimentos de base cristãos, sob a inspiração da Teologia da Libertação.</p><p>No fim dos anos 1980 e ao longo dos anos 1990, o cenário sociopolítico se</p><p>transformou de maneira radical. Inicialmente, houve declínio das manifestações</p><p>de rua, que conferiam visibilidade aos movimentos populares nas cidades. Alguns</p><p>analistas diagnosticaram que eles estavam em crise, porque haviam perdido seu</p><p>alvo e inimigo principal: os regimes militares.</p><p>Em realidade, as causas da desmobilização são várias. O fato inegável é que</p><p>os movimentos sociais dos anos 1970/1980, no Brasil, contribuíram decisivamente,</p><p>via demandas e pressões organizadas, para a conquista de vários direitos sociais,</p><p>que foram inscritos em leis na nova Constituição Federal de 1988.</p><p>TÓPICO 5 | CIDADANIA, DIREITOS HUMANOS E MOVIMENTOS SOCIAIS</p><p>103</p><p>A partir de 1990, ocorreu o surgimento de outras formas de organização</p><p>popular, mais institucionalizadas - como os Fóruns Nacionais de Luta pela</p><p>Moradia, pela Reforma Urbana, o Fórum Nacional de Participação Popular</p><p>etc. Os fóruns estabeleceram a prática de encontros nacionais em larga escala,</p><p>gerando grandes diagnósticos dos problemas sociais, assim como definindo</p><p>metas e objetivos estratégicos.</p><p>Emergiram várias iniciativas de parceria entre a sociedade civil organizada</p><p>e o poder público e impulsionadas por políticas estatais, tais como a experiência</p><p>do Orçamento Participativo, a política de Renda Mínima, Bolsa Escola etc. Todos</p><p>atuam em questões que dizem respeito à participação dos cidadãos na gestão dos</p><p>negócios públicos.</p><p>A criação de uma Central dos Movimentos Populares foi outro fato</p><p>marcante nos anos 1990, no plano organizativo. Estruturou vários movimentos</p><p>populares em nível nacional, tal como a luta pela moradia, assim como buscou</p><p>uma articulação e criou colaborações entre diferentes tipos de movimentos</p><p>sociais, populares e não populares.</p><p>Ética na Política, um movimento do início dos anos 1990, teve grande</p><p>importância histórica, porque contribuiu decisivamente para a deposição, via</p><p>processo democrático, de um presidente da República por atos de corrupção, fato</p><p>até então inédito no país. Na época, contribuiu também para o ressurgimento do</p><p>movimento dos estudantes com novo perfil de atuação, os "caras-pintadas".</p><p>À medida que as políticas neoliberais avançaram, outros movimentos</p><p>sociais foram surgindo: contra as reformas estatais, a Ação da Cidadania contra a</p><p>Fome, movimentos de desempregados, ações de aposentados ou pensionistas do</p><p>sistema previdenciário. As lutas de algumas categorias profissionais emergiram</p><p>no contexto de crescimento da economia informal. No setor de transportes</p><p>urbanos, por exemplo, apareceram os transportes alternativos ("perueiros"); no</p><p>sistema de transportes de cargas pesadas nas estradas, os "caminhoneiros".</p><p>FONTE: GOHN, Maria da Glória. Movimentos sociais na contemporaneidade. Revista Brasileira</p><p>de Educação, Rio de Janeiro, v. 16, n. 47, p. 1-1, ago. 2011. Disponível em: . Acesso em: 6 ago. 2018.</p><p>104</p><p>RESUMO DO TÓPICO 5</p><p>Neste tópico, você aprendeu que:</p><p>• A ideia de cidadania, historicamente, acompanha a noção de privilégio, uma</p><p>vez que os direitos de cidadania eram distribuídos apenas para classes e grupos</p><p>sociais específicos.</p><p>• Cidadão, hoje em dia, é todo indivíduo que se encontra no gozo de seus direitos</p><p>civis e políticos dentro de um Estado.</p><p>• Em suma, podemos conceituar cidadania como sendo o agrupamento das</p><p>liberdades políticas, econômicas e sociais que já se encontram respaldadas pela</p><p>legislação ou não.</p><p>• Os movimentos sociais são muito importantes, uma vez que possuem um</p><p>importante significado social e político.</p><p>• Os movimentos sociais escrevem o desenvolvimento de sua história e trazem</p><p>mudanças significativas para o fato social passível de demanda por mudanças.</p><p>• Movimentações grupalmente organizadas entre cidadãos com o intuito de</p><p>modificação de alguma prática social são o que chamamos de movimentos sociais.</p><p>105</p><p>1 Explique de que maneira os Direitos Humanos influenciam, direta e</p><p>indiretamente, na conquista dos direitos de cidadania.</p><p>2 Cite dois motivos pelos quais os movimentos sociais são importantes dentro</p><p>dos estudos de sociologia.</p><p>AUTOATIVIDADE</p><p>106</p><p>107</p><p>UNIDADE 3</p><p>CONCEITOS E FUNDAMENTOS DA</p><p>FILOSOFIA</p><p>OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM</p><p>PLANO DE ESTUDOS</p><p>A partir dos estudos desta unidade, você será capaz de:</p><p>• destacar a importância do estudo da filosofia;</p><p>• identificar os objetos e objetivos da filosofia;</p><p>• refletir sobre o processo de filosofar;</p><p>• constatar as ideias principais da filosofia em destaque ao longo da história;</p><p>• perceber o contexto histórico dos pensamentos filosóficos, sobretudo na</p><p>contemporaneidade.</p><p>Esta unidade está organizada em quatro tópicos. Em cada um deles, você</p><p>encontrará dicas, textos complementares, observações e atividades que darão</p><p>uma maior compreensão dos temas a serem abordados.</p><p>TÓPICO 1 – INTRODUÇÃO E CONTEXTO HISTÓRICO DA FILOSOFIA</p><p>TÓPICO 2 – CARACTERÍSTICAS DO PENSAMENTO FILOSÓFICO</p><p>TÓPICO 3 – O PROCESSO DE FILOSOFAR</p><p>TÓPICO 4 – A FILOSOFIA NO MUNDO MODERNO</p><p>108</p><p>109</p><p>TÓPICO 1</p><p>INTRODUÇÃO E CONTEXTO HISTÓRICO DA FILOSOFIA</p><p>UNIDADE 3</p><p>1 INTRODUÇÃO</p><p>Neste tópico, o aluno será direcionado para um breve conhecimento sobre</p><p>a Ciência da Filosofia. Ainda, iniciará uma análise acerca do contexto histórico no</p><p>que diz respeito à evolução do pensamento filosófico. Assim, o estudo terá início</p><p>com a elaboração do contexto histórico desta tão importante disciplina para o</p><p>bom entendimento e funcionamento da nossa sociedade.</p><p>Tudo será disponibilizado através de um lacônico olhar em aspectos</p><p>que vão desde a etimologia da palavra filosofia e seu desenvolvimento até</p><p>uma simplificada reflexão acerca da necessidade histórica da sociedade para a</p><p>elaboração do pensamento filosófico.</p><p>Por fim, será vista a importância do período socrático ou antropológico.</p><p>Foi um período que transformou a direção dos estudos da filosofia. Esta saiu da</p><p>metafísica para investigar questões humanas como a ética e a política.</p><p>2 COMPREENSÃO DA FILOSOFIA</p><p>A palavra "filosofia" deriva de philosophia, palavra de origem grega e</p><p>composta por duas outras: philo vem de philia e quer dizer companheirismo,</p><p>amizade; sophia vem de sophos, sendo sábio ou sabedoria. Philosophia, então,</p><p>significaria amizade pela sabedoria.</p><p>É atribuída ao filósofo grego Pitágoras de Samos. Na perspectiva grega, é</p><p>uma atividade que busca levar o saber para o filósofo, que, por sua vez, é quem</p><p>tem o amor pela sabedoria.</p><p>Pitágoras teria confirmado que a sabedoria plena e completa pertence aos</p><p>deuses, mas que os homens podem desejá-la ou amá-la, tornando-se filósofos.</p><p>Pode significar tanto um conjunto de conhecimentos,</p><p>como também a disposição</p><p>para uma vida feliz, pois sophos era o sábio que sabia viver e praticava o bem.</p><p>UNIDADE 3 | CONCEITOS E FUNDAMENTOS DA FILOSOFIA</p><p>110</p><p>A filosofia antiga surge com a substituição do saber mítico e possui um</p><p>conteúdo preciso ao nascer: a cosmologia. Cosmos significa mundo ordenado</p><p>e organizado, e logia, que vem da palavra logos, significa pensamento racional,</p><p>discurso racional, conhecimento.</p><p>A nova organização social e política foi fundamental para dar lugar à</p><p>racionalidade humana. As reflexões dos filósofos e as discussões que ocorriam</p><p>ocasionaram a criação da democracia.</p><p>A capacidade grega foi a causadora do progresso das diversas áreas do</p><p>conhecimento, com as artes, a literatura, a música e a própria filosofia. A filosofia</p><p>ocidental foi uma nova forma de pensar e teve seu início na Grécia antiga, mais</p><p>precisamente nas colônias gregas da Ásia Menor, que formavam uma região</p><p>chamada Jônia, na cidade de Mileto, no início do século VI a.C.</p><p>A região grega, antigamente, não era um estado com o governo</p><p>centralizado. Tratava-se de uma região que, por suas características históricas e</p><p>geográficas, acolhia povos diferentes, com costumes e crenças, unidos por uma</p><p>mesma língua. Ainda, gregos conseguiram dar origem a uma comunidade única</p><p>que impulsionou o grande salto da ciência na Idade Antiga.</p><p>A história do povo grego pode ser dividida em algumas épocas iniciadas</p><p>por sua formação. Houve a união das civilizações Cretense e Micênica no período</p><p>que ficou denominado período pré-homérico (séculos XX a XII a.C.). Termina com</p><p>a invasão dórica que, por sua vez, provocou a primeira diáspora grega, quando os</p><p>dórios ocuparam áreas litorâneas do mar Egeu na forma de pequenos núcleos rurais.</p><p>Assim, há o início do período homérico (séculos XII a VIII a.C.), dada</p><p>a relevância das obras do grande poeta Homero. Através da Ilíada e Odisseia,</p><p>podemos saber mais como foi determinado momento.</p><p>Os pequenos núcleos rurais deram origem aos genos, que, liderados por</p><p>um pater, eram formados por pessoas que consideravam ser de uma mesma</p><p>descendência. Respondiam a um líder, porém, a terra era de todos.</p><p>IMPORTANTE</p><p>Os dórios eram uma organização social da Grécia Antiga, durante o período</p><p>homérico. Eram uma espécie de clã ou grandes famílias.</p><p>TÓPICO 1 | INTRODUÇÃO E CONTEXTO HISTÓRICO DA FILOSOFIA</p><p>111</p><p>A produção de alimentos se tornou um problema devido ao grande</p><p>crescimento populacional, pois havia poucas áreas férteis. Diversos genos se</p><p>fragmentaram, aconteceram disputas pelas terras e deram início à distribuição</p><p>desigual de propriedades privadas. O momento conturbado deixou muitas</p><p>pessoas marginalizadas.</p><p>Muitos gregos tiveram que buscar terras férteis para a agricultura e, então,</p><p>navegaram para ocupar parte da região europeia banhada pelo Mar Mediterrâneo,</p><p>principalmente no sul da Península Itálica e na região da Sicília.</p><p>Ainda, na região do Mar Negro, fundando colônias em todos os territórios.</p><p>A busca de novas terras foi a segunda diáspora grega. Na época, houve a adaptação</p><p>do alfabeto fenício e o ressurgimento da escrita.</p><p>A Ilíada e a Odisseia parecem falar sobre o surgimento e a formação do</p><p>povo grego. Podem ser notados vários aspectos da cultura e as diversas formas</p><p>de relacionamento social da época. Ainda, houve grande influência das várias</p><p>gerações que tiveram o herói belo e bom, o chamado Aquiles, como um ideal de</p><p>caráter a ser perseguido.</p><p>IMPORTANTE</p><p>A Ilíada de Homero é a narrativa mais famosa dos feitos de Aquiles na Guerra</p><p>de Troia. Sua mãe havia profetizado que ele poderia escolher entre dois destinos: lutar em</p><p>Troia, de forma a alcançar a glória, ou permanecer em sua terra natal e ter uma vida sem</p><p>notoriedade.</p><p>Aquiles preferiu a glória e morreu atingido por uma flecha envenenada no calcanhar, seu</p><p>único ponto fraco. A expressão “calcanhar de Aquiles” é utilizada até hoje para indicar o</p><p>ponto fraco de alguém. Na biologia, o tendão de Aquiles (tendão de calcâneo) conecta os</p><p>músculos da panturrilha aos ossos do calcanhar. É o mais resistente e o mais suscetível do</p><p>nosso corpo.</p><p>3 CONTEXTO HISTÓRICO</p><p>Antes da filosofia, eram estudados os mitos, suas origens, desenvolvimento</p><p>e significado. Existiam várias formas para compreendermos o surgimento de</p><p>todas as coisas.</p><p>O mito surge a partir da explicação da origem e da forma das coisas, suas</p><p>funções e finalidade, os poderes do divino na natureza e os homens. Não busca</p><p>causas em relações sobrenaturais, mas em relações naturais.</p><p>UNIDADE 3 | CONCEITOS E FUNDAMENTOS DA FILOSOFIA</p><p>112</p><p>Tem o objetivo de transmitir algo sem pensar muito, de modo a colocá-</p><p>lo em dúvida. Trata de informar e dar sentido à existência de quem crê, mas</p><p>principalmente cria socialização e uma comunidade que forma o grupo. O mito é</p><p>não só alguma coisa forte, mas é exatamente a narrativa que diz o que é comum</p><p>para o grupo.</p><p>Para que o mito sobreviva, é necessário o sacrifício que ordena nossa visão</p><p>de mundo. Em várias sociedades, o sacrifício de vidas humanas mantinha as</p><p>relações com a divindade, com o objetivo de aplacar a ira do supremo. A repetição</p><p>do sacrifício dá origem ao ritual, que é o mito tornado ação. Com a repetição do</p><p>ritual, nasce a religião.</p><p>IMPORTANTE</p><p>Os hebreus, de acordo com o Velho Testamento, ofereciam como sacrifício um</p><p>bode. Outro bode, o expiatório, ouvia os pecados do povo de Israel e, posteriormente, era</p><p>solto na natureza, para levar o pecado para longe. Matar um bode para se livrar dos pecados</p><p>virou um hábito religioso e assim surgiu a expressão “bode expiatório”.</p><p>Após a segunda diáspora, começa o período arcaico (séculos VIII a VI</p><p>a.C.), com a colonização que colocou os gregos por toda a área costeira da bacia</p><p>do Mar Mediterrâneo e do Mar Negro. Assim, as trocas de mercadorias por todo</p><p>o Mediterrâneo iniciam, dando uma nova vida ao comércio. Então, aparece a</p><p>moeda como uma forma de promover os acordos comerciais.</p><p>Ocorreram a formação e o desenvolvimento das pólis, conhecidas como</p><p>cidades-estado, que foram governadas por conselhos de proprietários de terras,</p><p>dando início aos regimes oligárquicos.</p><p>No lugar mais alto de cada cidade eram erguidas as chamadas acrópoles.</p><p>Estavam acomodados os principais templos, fortificações militares e a residência</p><p>das famílias mais aristocráticas. Do outro lado, na parte baixa, a paisagem</p><p>urbana era definida pela existência do mercado e, nas suas adjacências, viviam os</p><p>comerciantes, artesãos e demais trabalhadores.</p><p>As cidades eram, afinal, grandes centros comerciais e núcleos urbanos</p><p>responsáveis pelas decisões políticas e trânsito de mercadorias. Desenvolviam</p><p>leis, justiça e estabeleciam a divindade a ser cultuada. As cidades-estado mais</p><p>importantes do período arcaico foram: Atenas, Esparta, Tebas e Corinto.</p><p>Com um número muito maior de pólis, diversas delas assumem o papel</p><p>de importantes centros comerciais e portos estratégicos para a navegação. A mais</p><p>importante atividade econômica deixou de ser a agricultura e o comércio passa a</p><p>ser a principal razão de progresso econômico.</p><p>TÓPICO 1 | INTRODUÇÃO E CONTEXTO HISTÓRICO DA FILOSOFIA</p><p>113</p><p>IMPORTANTE</p><p>No período, também houve o surgimento dos Jogos Olímpicos, que, além de</p><p>reunirem competidores de diversas partes, marcavam um momento de trégua para todos</p><p>os embates em curso.</p><p>Tal desenvolvimento econômico propiciou progressos significativos na</p><p>qualidade de vida da população. Ocorreram estabilidade política e econômica</p><p>determinantes para haver prosperidade e o nascimento da filosofia. Importantes</p><p>atividades tiveram, no momento, a oportunidade ideal para o desenvolvimento,</p><p>como as navegações, a moeda, o calendário, a escrita alfabética e a política.</p><p>Com a política, há uma ruptura no modo de perceber a organização social.</p><p>A pólis passa a ser um lugar onde as pessoas decidem o próprio destino e não</p><p>mais os deuses. O governo dos homens só foi possível porque eles eram livres</p><p>para criarem suas próprias leis a partir do debate público. A atividade política foi</p><p>essencial para que se iniciasse a manifestação da filosofia através do diálogo, do</p><p>debate e do questionamento.</p><p>O período pré-socrático representa, como o próprio nome já diz, o período</p><p>dos primeiros filósofos gregos que vieram antes de Sócrates. A filosofia foi</p><p>utilizada para explicar a origem do mundo e de tudo em sua volta. Questionava a</p><p>origem e as transformações que aconteciam com a natureza e com o ser humano</p><p>com o passar do tempo.</p><p>Destaque para o filósofo Tales de Mileto, importante pensador, filósofo</p><p>e matemático. É considerado o pioneiro da filosofia ocidental. Suas ideias</p><p>ampliaram os horizontes teóricos da astronomia, filosofia e matemática.</p><p>Perseguia respostas racionais para os fenômenos da natureza e para</p><p>as razões da existência. Acreditava que a água era a essência de tudo, sendo o</p><p>principal elemento da natureza e o princípio único que explicava todas as coisas.</p><p>O período socrático ou antropológico muda a direção do estudo da</p><p>filosofia, que sai da metafísica para investigar questões humanas como a ética e a</p><p>política. Ainda, há destaque para o desenvolvimento da democracia, que concede</p><p>o direito de igualdade ao habitante das cidades gregas, concedendo inclusive a</p><p>faculdade legal de tomar parte no governo e, se necessário, sugerir mudanças na</p><p>educação grega.</p><p>Foi um momento de grande desenvolvimento cultural e científico. O</p><p>sistema democrático era propício para o pensamento e, então, surgiram os sofistas</p><p>e o grande pensador Sócrates.</p><p>UNIDADE 3 | CONCEITOS E FUNDAMENTOS DA FILOSOFIA</p><p>114</p><p>LEITURA COMPLEMENTAR</p><p>A FILOSOFIA E SEU ENSINO: REFLEXÕES A PARTIR DA</p><p>PERSPECTIVA MERLEAU-PONTYANA SOBRE FILOSOFIA</p><p>E HISTÓRIA DA FILOSOFIA</p><p>Patrícia Del Nero Velasco</p><p>Rafael Calvalcanti Braga</p><p>As relações entre filosofia e história não são consenso. Descartes e</p><p>Nietzsche estão entre os autores que não compreendem o estudo da história</p><p>como relevante para a filosofia. Para o primeiro, estudar a história da filosofia</p><p>é se dedicar somente a uma espécie de conhecimento erudito que não possui</p><p>nenhum caráter científico. Segundo Descartes, o conhecimento verdadeiro é uno</p><p>e é apresentado ao pensador de maneira clara e distinta.</p><p>A diversidade dos sistemas filosóficos é prova de que nenhum deles possui</p><p>a verdade. Se algum possuísse, não existiriam empecilhos para que seu sistema</p><p>fosse imposto de modo inquestionável. Ter ciência de um objeto corresponde</p><p>a reconstruir este último pelo entendimento e, portanto, não significa conhecê-</p><p>lo historicamente. Deve-se, pois, rejeitar a história da filosofia como fonte de</p><p>conhecimento verdadeiro.</p><p>Nietzsche, por sua vez, sustenta que o homem passou a procurar a verdade</p><p>e a cultuá-la, apegando-se à razão, à consciência, à religião, ao instinto social e à</p><p>história. Para o autor, o intelecto serve à vida, não conduzindo para além desta.</p><p>Não há como pensar o conhecimento desvinculado da vida.</p><p>O homem histórico, nas palavras nietzschianas, olha o passado na</p><p>tentativa de entender o presente e desejar o futuro com mais intensidade. Não</p><p>se questiona se a vida precisa do serviço da história. A história não poderia ser</p><p>objeto da filosofia.</p><p>A história erudita do passado nunca foi a ocupação de um filósofo</p><p>verdadeiro, nem na Índia nem na Grécia; e um professor de filosofia, se</p><p>se ocupa com trabalhos desta espécie, tem de aceitar que se diga dele, no</p><p>melhor dos casos: é um competente filólogo, antiquário, conhecedor de</p><p>línguas, historiador – mas nunca: é um filósofo (NIETZSCHE, 1983, p. 81).</p><p>Para Nietzsche, filosofia e história da filosofia não se confundem. O estudo</p><p>da história não passa de mera erudição, não sendo tarefa filosófica.</p><p>A relevância filosófica da história da filosofia é formulada primeiramente</p><p>nas "Lições sobre a História da Filosofia", de Hegel. Cada sistema de pensamento</p><p>é visto como responsável pelo surgimento de outros sistemas e entendido como</p><p>parte de um processo evolutivo imprescindível à finalidade da filosofia.</p><p>TÓPICO 1 | INTRODUÇÃO E CONTEXTO HISTÓRICO DA FILOSOFIA</p><p>115</p><p>Os sistemas filosóficos são momentos necessários para o desenvolvimento</p><p>da própria filosofia. Esta seria, para o autor, um todo orgânico, um grande sistema</p><p>que se aprimora em suas partes e, com o tempo, atingirá seu fim.</p><p>O estudo do passado sempre dirá algo ao presente. Desde então, o</p><p>curso da história não apresenta o devir de coisas estrangeiras, mas</p><p>o devir de nossa filosofia. O estudo da história da filosofia é agora</p><p>indiscernível do estudo da filosofia. A história da filosofia é, ela</p><p>mesma, filosófica (MOURA, 1988, p. 156).</p><p>A ideia hegeliana de uma história da filosofia que não se limita à doxografia</p><p>foi desenvolvida por historiadores estruturalistas, os quais, no entanto, rejeitaram a</p><p>proposta de um devir filosófico. Buscaram, em alguma medida, conciliar o caráter</p><p>filosófico da filosofia com o pretendido caráter científico da mesma filosofia.</p><p>O estudo da história da filosofia tem interesse para a filosofia. A história,</p><p>bem compreendida, é sempre uma história sapientiae, que mostra o passado como</p><p>contemporâneo ao presente. A história da filosofia pode ser tanto ciência rigorosa</p><p>quanto disciplina filosófica e o estruturalismo pretende ser um método ao mesmo</p><p>tempo científico e filosófico (MOURA, 1988).</p><p>Manter relações não exteriores, mas essenciais, passa a ser crucial para</p><p>a filosofia se firmar como pensamento original (evitando a história stultitiae).</p><p>Contudo, se o terreno intelectual pró-hegeliano não cumpre a exigência de</p><p>cientificidade na história da filosofia, como garantir a cientificidade?</p><p>O historicismo passa a ser a fonte histórica e filosófica do estruturalismo.</p><p>Na ótica da história, há uma sucessão de doutrinas explicáveis por causas. Na</p><p>ótica do ceticismo filosófico, as filosofias são objetos da história e nenhuma tem o</p><p>privilégio de ser considerada como detentora da verdade.</p><p>Cada sistema é irredutível. Postas sob a perspectiva temporal, as doutrinas</p><p>cedem lugar para uma história preocupada com a reconstituição autêntica. Por</p><p>conseguinte, o estruturalismo pretendeu solucionar a ambiguidade fundamental</p><p>do homem moderno na escolha entre o passado conhecido como presente</p><p>(destituindo o caráter ativo do filósofo) e o passado distanciado do presente</p><p>(destituindo o apoio da história).</p><p>O filósofo reconhece a história da filosofia como ponto de apoio e é,</p><p>ao mesmo tempo, autor. O valor filosófico da história da filosofia reside na</p><p>consideração do conhecimento racional como definido pelo sistemático. O sistema</p><p>como expressão da racionalidade em geral é a garantia de uma história sapientiae.</p><p>Não se pretende, neste artigo, esgotar as posições filosóficas sobre as</p><p>relações entre filosofia e história da filosofia. Introduzido o tema, será apresentada</p><p>a perspectiva de Merleau-Ponty, a partir da qual se objetiva extrair subsídios para</p><p>fundamentar, na parte final deste texto, as relações entre a filosofia e seu ensino.</p><p>FONTE: VELASCO, Patrícia Del Nero; BRAGA, Rafael Calvalcanti. A filosofia e seu ensino: reflexões</p><p>a partir da perspectiva Merleau-Pontyana sobre filosofia e história da filosofia. Kriterion, Belo</p><p>Horizonte, v. 55, n. 130, p. 1-1, 2014. Disponível em: . Acesso em: 10 ago. 2018.</p><p>116</p><p>Neste tópico, você aprendeu que:</p><p>• A filosofia antiga surge com a substituição do saber mítico e possui um</p><p>conteúdo preciso ao nascer: é uma cosmologia.</p><p>• Antes da filosofia, eram estudados os mitos, suas origens, desenvolvimento</p><p>e significado. Existiam várias formas para compreendermos o surgimento de</p><p>todas as coisas.</p><p>• O mito surge a partir da explicação da origem e da forma das coisas, suas</p><p>funções e finalidade, os poderes do divino na natureza e os homens. Não busca</p><p>causas em relações sobrenaturais, mas em relações naturais.</p><p>• O mito tem o objetivo de transmitir algo sem pensar muito, de modo a colocá-</p><p>lo em dúvida.</p><p>• Com a política, há uma ruptura no modo de perceber a organização social.</p><p>• A pólis</p><p>passa a ser um lugar onde as pessoas decidem o próprio destino e não</p><p>mais os deuses.</p><p>• O período socrático ou antropológico muda a direção do estudo da filosofia,</p><p>que sai da metafísica para investigar questões humanas como a ética e a política.</p><p>RESUMO DO TÓPICO 1</p><p>117</p><p>1 Explique o conceito de mito com suas próprias palavras.</p><p>2 Explique qual foi a principal consequência da saída do mundo dos</p><p>conhecimentos filosóficos do mundo da metafísica.</p><p>AUTOATIVIDADE</p><p>118</p><p>119</p><p>TÓPICO 2</p><p>CARACTERÍSTICAS DO PENSAMENTO FILOSÓFICO</p><p>UNIDADE 3</p><p>1 INTRODUÇÃO</p><p>No presente tópico, o aluno será apresentado para as questões acerca do</p><p>desenvolvimento do conhecimento filosófico. Esta parte do estudo é de extrema</p><p>importância. O motivo de o conhecimento filosófico ter se desenvolvido e</p><p>evoluído possibilitou que a sociedade evoluísse também.</p><p>Encontraremos noções da importância da filosofia para o desenvolvimento</p><p>pessoal e social dos seres humanos. Isso ocorrerá ao elaborarmos uma</p><p>linha histórica da vida e obra dos três principais autores e filósofos gregos.</p><p>Acompanharemos, de maneira básica, o raciocínio lógico dos três.</p><p>Assim, visualizaremos uma linha histórica desde Sócrates, passando por</p><p>Platão e chegando, por fim, ao pensamento filosófico de Aristóteles. Entendendo</p><p>as diferentes épocas e situações, o aluno será capaz de identificar as motivações</p><p>do conhecimento filosófico, adquirindo noção sobre a importância da evolução</p><p>dessa ciência humana que até hoje se faz tão importante.</p><p>2 PENSADORES</p><p>Os sofistas defendiam uma educação cujo objetivo máximo seria a</p><p>formação de um cidadão pleno, preparado para atuar no crescimento da cidade.</p><p>Com a proposta, o jovem deveria ser preparado para a retórica, ou seja, para falar</p><p>bem, pensar e manifestar suas qualidades artísticas.</p><p>Vendiam suas habilidades de oratória para os cidadãos. Defendiam</p><p>a opinião de quem interessasse e adotavam a ideia de que a verdade nasce do</p><p>consenso entre os homens. Para Sócrates, os sofistas não eram, de fato, filósofos.</p><p>Não amavam a sabedoria e não respeitavam a verdade, pois defendiam qualquer</p><p>ideia que fosse vantajosa.</p><p>120</p><p>UNIDADE 3 | CONCEITOS E FUNDAMENTOS DA FILOSOFIA</p><p>Sócrates acreditava que os sofistas haviam falhado. Eles orientavam a</p><p>pessoa ambiciosa para o triunfo político, mas a oratória e o raciocínio perspicaz</p><p>não instruíam um homem na arte de viver. A verdade está ligada ao bem moral</p><p>do ser humano. Preocupava-se com a perfeição do caráter de cada pessoa e com</p><p>a conquista da excelência moral.</p><p>Platão revelou a figura de Sócrates como sendo uma pessoa que andava</p><p>pelas ruas e praças de Atenas, perguntando para cada um sobre ideias e valores</p><p>que os gregos acreditavam e julgavam conhecer. Ele não deixou textos ou outros</p><p>documentos.</p><p>Assim, só podemos conhecer as ideias de Sócrates através de relatos</p><p>dos seus discípulos. O filósofo reflete sobre o homem e busca entender o</p><p>funcionamento do universo dentro de uma concepção científica. Não era a favor</p><p>da democracia grega praticada em Atenas e achava que as cidades deveriam ser</p><p>governadas pelos sábios.</p><p>A filosofia socrática esteve relacionada com o autoconhecimento e</p><p>desenvolvida pelos diálogos críticos (a ironia e a maiêutica). Criou um método</p><p>de investigação do conhecimento através da maiêutica, “técnica de trazer a luz”.</p><p>Por meio de sucessivas questões, chegávamos na verdade.</p><p>A maiêutica se originou do termo grego maieutike, que quer dizer "arte</p><p>de partejar". A expressão foi usada em associação ao trabalho das parteiras,</p><p>profissão da mãe de Sócrates. O objetivo do seu método era o "parto intelectual"</p><p>dos indivíduos.</p><p>Para uma verdade ser perseguida, o homem deveria antes se analisar e</p><p>reconhecer sua própria ignorância. Sua discussão, então, parte desse princípio e busca</p><p>levar tal reconhecimento por meio da maiêutica, que era um método de investigação</p><p>interrogativo, o primeiro passo do seu método a fim de encontrar a verdade.</p><p>Com perguntas provocativas e aparentemente simples, ele utilizava a</p><p>ironia de que nada sabia para que emitissem opiniões como se fossem verdades</p><p>definitivas. Assim, questionava, fazendo o indivíduo duvidar de assuntos</p><p>que julgava conhecer e revelando que, na realidade, eram temas associados a</p><p>preconceitos ou valores sociais. Por fim, era necessário obrigá-los a confessar a</p><p>própria ignorância.</p><p>As pessoas passavam a refletir sobre a questão, abandonando conceitos</p><p>predefinidos e “parindo” novas ideias. Sócrates pensava que o conhecimento presente</p><p>no espírito humano precisava apenas da orientação do mestre para se manifestar.</p><p>Existiam verdades universais, válidas para toda a humanidade em</p><p>qualquer espaço e tempo. Contudo, para que fosse possível encontrá-las, era</p><p>preciso antes refletir sobre elas e descobrir suas razões.</p><p>TÓPICO 2 | CARACTERÍSTICAS DO PENSAMENTO FILOSÓFICO</p><p>121</p><p>Acredita-se que, no Oráculo da cidade de Delfos, o deus Apolo declarou</p><p>que Sócrates era o homem mais sábio de Atenas. Sócrates costumava dizer “Só sei</p><p>que nada sei”, frase que se tornou síntese de seu pensamento. Concluiu que era</p><p>sábio porque era o único que sabia que nada sabia.</p><p>IMPORTANTE</p><p>IMPORTANTE</p><p>Os gregos acreditavam que a Suprema Sacerdotisa, intitulada de Pítia, entrava</p><p>em estado de transe e era capaz de dar respostas e fazer previsões sobre o futuro. Pítia era,</p><p>para eles, a porta-voz do Deus Sol, Apolo. Este, através dela, supostamente transmitia as</p><p>vontades de seu pai, Zeus. Na época, as Pítias eram dotadas de enorme influência e, com o</p><p>aval do Oráculo, diversas guerras aconteceram e deixaram de acontecer.</p><p>A cicuta é um gênero de plantas muito venenosas. O veneno produzido passou</p><p>a ser conhecido como veneno de Sócrates.</p><p>Sócrates também fez vários inimigos e terminou sendo acusado de ateísmo</p><p>e corrompimento dos jovens gregos. Com objetivo de afastá-lo, foi julgado e</p><p>condenado ao exílio, mas, em sua teimosia, preferiu a morte, ingerindo cicuta.</p><p>Determinados eventos são contados por Platão em suas obras.</p><p>Platão foi discípulo de Sócrates e mestre de Aristóteles. Criador de uma</p><p>escola que ficou conhecida como Academia de Atenas, é um dos mais importantes</p><p>e conhecidos filósofos gregos, estudado até a atualidade.</p><p>Empenhava-se em transmitir uma profunda fé na razão e foi</p><p>importantíssimo para a história da filosofia, tido como responsável por termos</p><p>acesso ao pensamento de diversos filósofos da Grécia antiga.</p><p>As ideias formavam o foco do conhecimento intelectual e os sábios, portanto,</p><p>teriam a função de entender o mundo da realidade e separá-lo das aparências.</p><p>Influenciou profundamente a filosofia ocidental com seu método de diálogo, que</p><p>valorizava o debate e conversação como formas de alcançar o conhecimento.</p><p>Discorre sobre política grega, ética, atividades das cidades, cidadania e</p><p>questões sobre a imortalidade da alma. Mencionava que a sociedade ideal deve</p><p>ser dividida em três classes, separando as pessoas por sua capacidade intelectual.</p><p>122</p><p>UNIDADE 3 | CONCEITOS E FUNDAMENTOS DA FILOSOFIA</p><p>Com a primeira categoria ligada às necessidades do corpo, haveria a</p><p>produção e a distribuição de gêneros entre lavradores, artífices e comerciantes.</p><p>A segunda categoria deveria se preocupar com a defesa, representada pelos</p><p>soldados. A terceira categoria, superior e mais capacitada para se servir da razão,</p><p>é a composta pelos intelectuais, que detêm o poder político. Os governantes</p><p>deveriam ser escolhidos entre os filósofos.</p><p>Na mesma obra, divulga o mito da caverna. Fala sobre pessoas no interior</p><p>de uma caverna que estão, desde a infância, acorrentadas no pescoço e nos pés. Não</p><p>podem ver a saída, apenas sombras de pessoas que estão do lado de fora sendo</p><p>projetadas por uma fogueira, de forma que fiquem distorcidas, grandes e estranhas.</p><p>Os indivíduos acreditam que seria a única coisa que existe, pois não</p><p>entendem nada de luz e sombra. Também não fazem nenhuma ideia do que pode</p><p>haver do lado de fora da caverna.</p><p>A partir do momento em que um deles consegue se soltar das correntes,</p><p>o questionamento</p><p>1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................139</p><p>2 A FILOSOFIA MODERNA ...............................................................................................................139</p><p>3 O PAPEL DA FILOSOFIA NA CONTEMPORANEIDADE .......................................................141</p><p>LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................142</p><p>RESUMO DO TÓPICO 4......................................................................................................................145</p><p>AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................146</p><p>REFERÊNCIAS .......................................................................................................................................147</p><p>X</p><p>1</p><p>A partir dos estudos desta unidade, você será capaz de:</p><p>• destacar a importância do estudo do tema Ciência Política;</p><p>• identificar as diferenciações sobre os conceitos de Ciência, Política e</p><p>Ciência Política;</p><p>• demonstrar ao aluno o pensamento da Ciência Política e Teoria Geral do</p><p>Estado;</p><p>• constatar as ideias principais das teorias políticas em destaque ao longo da</p><p>história;</p><p>• perceber o contexto histórico dos pensamentos políticos, sobretudo na</p><p>contemporaneidade;</p><p>• caracterizar o sistema de partidos políticos adotado no Brasil.</p><p>UNIDADE 1</p><p>CONCEITOS E FUNDAMENTOS DA</p><p>CIÊNCIA POLÍTICA</p><p>OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM</p><p>PLANO DE ESTUDOS</p><p>Esta unidade está organizada em quatro tópicos. Em cada um deles, você</p><p>encontrará dicas, textos complementares, observações e atividades que darão</p><p>uma maior compreensão dos temas a serem abordados.</p><p>TÓPICO 1 – INTRODUÇÃO E CONTEXTO HISTÓRICO DA</p><p>CIÊNCIA POLÍTICA</p><p>TÓPICO 2 – CIÊNCIA POLÍTICA E TEORIA DO ESTADO</p><p>TÓPICO 3 – GOVERNO, CONSTITUIÇÃO E DEMOCRACIA</p><p>TÓPICO 4 – PARTIDOS POLÍTICOS NO BRASIL</p><p>2</p><p>3</p><p>TÓPICO 1</p><p>UNIDADE 1</p><p>INTRODUÇÃO E CONTEXTO HISTÓRICO DA CIÊNCIA</p><p>POLÍTICA</p><p>1 INTRODUÇÃO</p><p>Falar sobre política nunca foi tarefa simples. São inúmeras as teorias</p><p>políticas criadas ao longo da história que, na maioria das vezes, se divergem em</p><p>seus conteúdos. Contudo, ainda assim, todas essas teorias foram e ainda são de</p><p>grande importância para o caminhar da sociedade.</p><p>Temos, ao longo da história, diferentes pensadores que trouxeram reflexões</p><p>de organização e gestão de sociedade. Ao serem colocadas em prática, garantiram</p><p>que os seres humanos se desenvolvessem em determinado espaço geográfico,</p><p>relacionando-se pacificamente uns com os outros, para o desenvolvimento tanto</p><p>pessoal quanto grupal.</p><p>Falar e pensar sobre política são pontos essenciais. Seu estudo pode</p><p>despontar um novo mundo, traçar novos horizontes. A sociedade está em constante</p><p>evolução e conta com o crescimento pessoal dos homens e do pensamento político,</p><p>buscando a melhor vivência interpessoal entre seus membros.</p><p>Infelizmente, em nosso contexto social, o termo política tem sido visto</p><p>como algo sombrio, um condutor de negatividade. Deve-se ao atual panorama</p><p>de corrupção em que o Brasil se encontra. Assim, é importante não só falar, mas</p><p>entender a Ciência Política.</p><p>Quanto mais cidadãos entenderem do que se trata e a importância desta,</p><p>mais livre e pacífica será nossa sociedade. A política é boa desde que exercitada</p><p>com responsabilidade social.</p><p>Assim, no primeiro tópico da Unidade 1, desvendaremos os conceitos de</p><p>filósofos e cientistas políticos que mais obtiveram destaque ao longo da história.</p><p>A descoberta pode ter ocorrido por terem alcançado êxito na aplicação prática de</p><p>suas teorias ao longo do globo ou também por terem criado conceitos importantes.</p><p>UNIDADE 1 | CONCEITOS E FUNDAMENTOS DA CIÊNCIA POLÍTICA</p><p>4</p><p>DICAS</p><p>Para aprimorar conhecimentos, o Portal do Governo está disponibilizando vários</p><p>livros sobre a Ciência Política gratuitamente. São livros de Karl Marx, Friedrich Engels, Jean-</p><p>Jacques Rousseau, dentre outros filósofos mestres na arte da Filosofia Política. Disponível em:</p><p>. Acesso em: 26 jul. 2018. Basta colocar “Ciência Política”</p><p>no campo “categoria” e o site lança uma lista com 107 livros importantes sobre o tema.</p><p>2 CONCEITO DE CIÊNCIA POLÍTICA</p><p>O conceito de ciência pode ser definido como um conjunto de conhecimentos</p><p>obtidos ou produzidos, que foram acumulados ao longo da história. Temos como</p><p>exemplo as Ciências Sociais, campo que trabalha com resultados de observação.</p><p>Devemos observar as relações humanas e retirar padrões que servirão de</p><p>dados para aplicação futura de ideias de ordenamento social. Então, entendemos</p><p>que a Ciência Política é uma disciplina das Ciências Sociais.</p><p>Esses conjuntos de conhecimentos, quando elevados ao nível de ciência,</p><p>transformam-se em ideias dotadas de universalidade e objetividade. Assim,</p><p>permitem a difusão com metodologias, teorias e palavreados próprios, a fim de</p><p>que sejam compreendidos pelo maior número possível da população.</p><p>Já o termo “Política” vem do grego politikos, que significa a arte ou a ciência</p><p>de governar. Assim, tudo que é pertinente à coletividade, à gestão de sociedade,</p><p>à prática governamental ou aos modelos de Estado está relacionado à política. O</p><p>conceito política, então, pode ser definido como a arte de organizar, de gerir os</p><p>povos. É o conhecimento que está atento aos acontecimentos que dizem respeito</p><p>ao Estado.</p><p>É a política que desenvolve objetivos de desenvolvimento para que</p><p>determinados programas e ações governamentais sejam executados. Ela traça as</p><p>metas e condiciona as maneiras de efetivação da governança.</p><p>Em poucas palavras, podemos dizer que a política é um princípio</p><p>doutrinário que dá forma à estrutura constitucional de um Estado. É a ciência de</p><p>bem governar um povo, constituindo um Estado.</p><p>Para começarmos a falar sobre Ciência Política, é importante lembrar</p><p>que ela estará sempre profundamente ligada à história, ao direito, à filosofia e à</p><p>sociologia. Ciência Política é o estudo da política, das estruturas e dos processos</p><p>de governo.</p><p>Highlight</p><p>Highlight</p><p>TÓPICO 1 | INTRODUÇÃO E CONTEXTO HISTÓRICO DA CIÊNCIA POLÍTICA</p><p>5</p><p>A Ciência Política lato sensu objetiva estudar os acontecimentos das</p><p>instituições e das ideias políticas, tanto em sentido teórico através das doutrinas,</p><p>quanto em sentido prático na arte de bem governar. Sempre devemos levar em</p><p>consideração os acontecimentos sociais do passado, o quadro social do presente</p><p>e, ainda, as possibilidades das relações futuras.</p><p>De acordo com o que vimos até agora, podemos concluir que a Ciência</p><p>Política tem como objeto a sociedade política organizada, bem como, de maneira</p><p>indireta, o Estado. Ainda, contempla as outras ciências relacionadas ao homem,</p><p>como a Sociologia, História, Economia, Filosofia, Geografia, Direito e afins.</p><p>Ainda, por ora, é importante fixarmos que a Ciência Política tem como</p><p>objetivo avaliar, posicionar e expor os problemas e as instituições existentes na</p><p>sociedade contemporânea. Ainda, utiliza as Ciências Jurídicas através do Direito</p><p>Constitucional.</p><p>O princípio doutrinário da política, quando visto de maneira científica,</p><p>ou seja, como a ciência do estudo da política, dedica-se aos sistemas políticos, às</p><p>organizações e aos processos políticos.</p><p>Dentre os cernes de atenção dos cientistas políticos, podemos ressaltar</p><p>empresas subsidiárias de serviços públicos, sindicatos, igrejas e tipos de</p><p>organizações dotados de estruturas e procedimentos.</p><p>3 CONTEXTO HISTÓRICO DA CIÊNCIA POLÍTICA</p><p>O estudo da política surgiu na Grécia antiga, quando Aristóteles se dedicou</p><p>a compreender e a definir as diferentes formas de governo. Ele determinou três</p><p>maneiras de governo e suas respectivas formas degeneradas. São elas:</p><p>• Monarquia: representando o governo de um só (monarca).</p><p>• Aristocracia: representando o governo de vários (famílias).</p><p>• Democracia: representando o governo de todos (povo).</p><p>o leva para o exterior. A luz o ofusca e, a princípio, o assusta,</p><p>para depois revelar um mundo brilhante, colorido e bonito.</p><p>As sombras se revelam como uma imitação ruim do que é o verdadeiro</p><p>mundo. Com felicidade, ele volta à caverna para contar aos seus colegas o que</p><p>viu. Contudo, não consegue convencê-los e, em decorrência, matam-no.</p><p>A alegoria da caverna é, então, a representação dos seres humanos antes</p><p>do contato com a filosofia e sua ascensão em relação ao novo patamar perceptivo.</p><p>Desde a infância, o sujeito se torna prisioneiro e suas correntes são os hábitos,</p><p>preconceitos, costumes e práticas que foram adquiridas ao longo da vida.</p><p>As sombras são a forma limitada e distorcida com a qual podem enxergar</p><p>o mundo através da ignorância. A caverna é o domínio da opinião. O homem</p><p>se liberta com ajuda da filosofia para, enfim, alcançar a luz, que é a verdade do</p><p>mundo das ideias.</p><p>Platão analisa a questão através do dualismo da teoria das formas. Por</p><p>trás da realidade concreta, existe outra abstrata. Há dois mundos:</p><p>• Mundo das formas ou ideias: trazido pela alma e desde o seu nascimento um</p><p>conhecimento prévio, que possibilita a identificação do objeto. Comumente</p><p>denominado como conhecimento inato. São as ideias ou formas que residem</p><p>no mundo inteligível, fora do tempo e do espaço. É o tipo mais elevado e</p><p>fundamental de realidade. Mesmo não possuindo existência física, as formas</p><p>são substanciais e imutáveis. Os objetos do mundo regular organizam suas</p><p>estruturas conforme as ideias ou formas primordiais.</p><p>• Mundo concreto e sensível: é disponível pelos sentidos. Tudo o que</p><p>conhecemos pelo olfato, paladar, audição, visão e tato. A opinião, constituída</p><p>das percepções, tem uma “falsa consciência” de si mesma, considerando-se</p><p>correta. Tudo está mudando e sujeito ao erro.</p><p>TÓPICO 2 | CARACTERÍSTICAS DO PENSAMENTO FILOSÓFICO</p><p>123</p><p>A abordagem de que o verdadeiro conhecimento é alcançado pela razão</p><p>em vez dos sentidos é o alicerce do racionalismo. É necessário um processo mental</p><p>e lógico para que se alcance uma conclusão realista. Importante também para o</p><p>avanço da racionalização da fé cristã, principalmente através de sua influência a</p><p>partir do filósofo e teólogo Agostinho.</p><p>A diferença primordial é que os sofistas legitimam as opiniões e as</p><p>percepções sensoriais e trabalham com elas para produzir argumentos de</p><p>persuasão, enquanto Sócrates e Platão acreditam que as opiniões e as percepções</p><p>sensoriais, ou imagens das coisas, são fonte de erro que nunca atingirão a verdade</p><p>plena da realidade.</p><p>Outro grande sábio da época foi Aristóteles, nascido em uma colônia de</p><p>origem jônica, na Macedônia, Grécia. Era filho do médico do rei e teve muito contato</p><p>com ciências naturais. Desenvolveu os estudos de Platão e Sócrates. Foi para Atenas</p><p>estudar na Academia de Platão e logo se tornou seu discípulo preferido.</p><p>Desenvolveu a lógica dedutiva clássica como método para alcançar o</p><p>conhecimento científico. A sistematização e os meios devem ser desenvolvidos</p><p>para chegarmos ao conhecimento pretendido, indo sempre dos conceitos gerais</p><p>para os específicos.</p><p>O trabalho de Aristóteles é pautado como uma refutação ao seu mestre.</p><p>Poderíamos obter o conhecimento no próprio mundo em que vivemos. Platão,</p><p>por exemplo, era a favor da existência do mundo das ideias e do mundo sensível.</p><p>Após a morte de seu mestre, Aristóteles se considerava seu substituto</p><p>natural na direção da Academia, mas foi recusado e substituído por um ateniense</p><p>de origem. Decidiu, então, fundar sua própria escola, chamada Liceu, onde</p><p>recebia todo o público.</p><p>Considerado muito importante em várias áreas, Aristóteles se destacou na</p><p>lógica. Alcançou a lógica dedutiva, que estudava quais relações entre proposições</p><p>são conduzidas a conclusões válidas e quais, por outro lado, resultam em</p><p>argumentos inválidos. É um raciocínio mediado que fornece o conhecimento de</p><p>uma coisa a partir de outras coisas e sempre buscando a causa.</p><p>Na biologia, ensinou ao mundo como observar e classificar os seres vivos.</p><p>Classificou e estudou muitas espécies. Inclusive, foi o pioneiro no estudo de</p><p>peixes e os separando dos mamíferos marinhos. É considerado o fundador da</p><p>disciplina. Muitos também o veem como um grande mestre de ética, metafísica,</p><p>química, ótica, física, psicologia e retórica.</p><p>Com a morte do rei da Macedônia, Alexandre Magno, aluno de Aristóteles,</p><p>uma onda de ódio tomou conta dos atenienses e o filósofo, que era seu amigo,</p><p>teve que fugir para não ser preso. Triste com a ingratidão dos atenienses, pôs fim</p><p>em sua vida da mesma forma que Sócrates, se envenenando com cicuta.</p><p>124</p><p>UNIDADE 3 | CONCEITOS E FUNDAMENTOS DA FILOSOFIA</p><p>LEITURA COMPLEMENTAR</p><p>A NATUREZA DO FILÓSOFO</p><p>Emilia Maria Mendonça de Morais</p><p>Se, na tradição pré-socrática, a concepção de phýsis aparece tanto associada</p><p>à superação do mito e à intervenção divina quanto à afirmação de um princípio</p><p>material ou imanente ao cosmos, quando transposta para A República e à definição</p><p>do filósofo, a noção ressurgirá vinculada à psykhé.</p><p>Apesar da concepção tripartite da alma, apresentada por Sócrates no livro</p><p>IV do diálogo, a natureza do filósofo não se subordina a nada que seja orgânico</p><p>ou fisiológico.</p><p>Desprendida da materialidade, conforma-se ao pensamento e permanece</p><p>atada ao divino, cujo apelo integra verdade e justiça. Divina seria, então, a própria</p><p>filosofia: o maior benefício que os deuses concederam à raça dos mortais, segundo</p><p>o Timeu; assim como o método que a define, a dialética, fora um presente dos</p><p>deuses aos humanos, segundo o Filebo.</p><p>Falar da natureza do filósofo, por conseguinte, pressupõe abordar</p><p>a natureza da mesma filosofia. No caso de um filósofo grego antigo e, mais</p><p>particularmente, de Platão, filosofia e vida estão muito imbricadas, sobretudo se</p><p>levarmos em conta o registro do testemunho socrático.</p><p>A primeira imagem delineada do filósofo nos escritos de Platão é a do</p><p>próprio personagem Sócrates, visando sempre a uma sabedoria que se descola do</p><p>solo do prestígio público.</p><p>Desde os primeiros passos da Apologia, o personagem do filósofo chama a</p><p>atenção para a sua fala estranha nos tribunais antes mesmo de discorrer sobre a</p><p>sua vida, desvinculada das ocupações políticas e dos interesses.</p><p>Reencontramos as ressonâncias do estranhamento no Górgias e no Teeteto.</p><p>No diálogo com Polo, Sócrates relembra que provocou risos por sua inabilidade</p><p>quando fora convocado a exercer na Assembleia as funções da pritania.</p><p>No Teeteto, Sócrates retoma o tema da excentricidade dos mais sábios. Evoca</p><p>a anedota sobre Tales, tão desligado que, ao caminhar, fora incapaz de enxergar um</p><p>poço na sua frente. Indiretamente, refere-se também a si mesmo quando discorre</p><p>sobre a inaptidão prática dos filósofos, sempre provocando a chacota, ora de</p><p>incultas jovens trácias, ora dos seus mais ou menos próximos concidadãos.</p><p>Durante o seu processo, Sócrates reconhecera seus vínculos diretos com</p><p>Apolo, o deus que levou ele a fazer da filosofia um exercício aberto e público.</p><p>Desde então, o exame de si mesmo passou a ter seu lado reverso e complementar:</p><p>o exame dos pretensos sábios da pólis.</p><p>TÓPICO 2 | CARACTERÍSTICAS DO PENSAMENTO FILOSÓFICO</p><p>125</p><p>Os mesmos vínculos são reafirmados no Fédon, pois o filósofo,</p><p>identificando a filosofia, teria até mesmo composto uma melodia ao deus oracular,</p><p>o qual, rememorando o canto divinatório dos cisnes na iminência da morte, se</p><p>reconhecera consagrado.</p><p>Em paralelo ao deus explicitamente designado, evoca o signo do divino</p><p>(daimónion), seja através da voz (phoné), que guia o filósofo porquanto o retém,</p><p>seja através do Eros mediador que, a partir do desejo de um só corpo, rege a sua</p><p>progressiva ascensão do sensível até a contemplação da beleza como forma inteligível.</p><p>No Banquete, o discurso atribuído ao Alcebíades associa o próprio Sócrates</p><p>ao percurso ascético que Diotima expusera para atar o elo amoroso ao elã extático</p><p>proporcionado por Eros. No relato mítico do Fedro, o filósofo é representado</p><p>como</p><p>um humano possuído pelo divino e, no Timeu, a intelecção da qual participam os</p><p>deuses (noû dè theoús) é também atribuída a alguns poucos dentre os humanos.</p><p>O Sofista, diálogo tardio, ainda pode ser lembrado como um dos vários</p><p>exemplos de que, para Platão, em uma vida pautada pela filosofia, não se</p><p>firmariam rupturas, nem sequer distâncias intransponíveis entre a práxis e</p><p>a theoría orientada.</p><p>Reconstruindo os parâmetros teóricos da hipótese das formas inteligíveis,</p><p>o diálogo começa com o elogio do filósofo e termina com o menosprezo do próprio</p><p>sofista. Em seu prólogo, Teodoro afirma ser o Estrangeiro de Eléia um filósofo,</p><p>não um deus, mas um ser divino, como seriam todos os filósofos.</p><p>Sócrates se mostra de acordo, mas adverte que o gênero divino não é fácil</p><p>de definir. Este se reveste de múltiplas aparências entre os humanos. Embora os</p><p>filósofos enxerguem as multidões e a vida dos homens das alturas, podem ser</p><p>confundidos com políticos ou até mesmo sofistas.</p><p>Depois da longa discussão, da reconstrução da questão do ser a partir dos</p><p>gêneros supremos e da noção de alteridade ontológica, o diálogo se encerra com</p><p>a sentença que reduz a sofística para uma mera arte imitativa. Esta, ao fomentar</p><p>contradições no terreno das opiniões, apenas produz simulacros e ilusões. Seus</p><p>porta-vozes pertenceriam a uma raça apenas humana, de nenhum modo divina.</p><p>Platão aborda tanto a natureza do filósofo quanto a atividade filosófica</p><p>por proposições afirmativas, mas também por justaposições que se constroem</p><p>através de negativas.</p><p>No alvo das negações, invariavelmente, estão os sofistas e a sofística.</p><p>É assim no Protágoras, no Górgias, no Fedro, na República, no Teeteto e no</p><p>próprio Sofista. A distinção talvez mais marcante e recorrente: a vida e o pensar</p><p>do filósofo concernem ao divino e a prática dos sofistas diz respeito apenas ao</p><p>humano, ou melhor, ao mundano.</p><p>FONTE: DE MORAIS, Emilia Maria Mendonça. A natureza do filósofo. Kriterion, Belo Horizonte, v. 151,</p><p>n. 122, p. 1-1, 2010. Disponível em: . Acesso em: 11 ago. 2018.</p><p>126</p><p>Neste tópico, você aprendeu que:</p><p>• Para Sócrates, os sofistas não eram, de fato, filósofos, tendo em vista que não</p><p>amavam a sabedoria e não respeitavam a verdade, pois defendiam qualquer</p><p>ideia que fosse vantajosa.</p><p>• Sócrates reflete sobre o homem e busca entender o funcionamento do universo</p><p>dentro de uma concepção científica.</p><p>• Não era a favor da democracia grega praticada em Atenas. As cidades deveriam</p><p>ser governadas pelos sábios.</p><p>• A filosofia socrática esteve relacionada com o autoconhecimento (“conhece-te</p><p>a ti mesmo”).</p><p>• Platão foi discípulo de Sócrates e mestre de Aristóteles. Criador de uma escola</p><p>que ficou conhecida como Academia de Atenas.</p><p>• Alegava que as ideias formavam o foco do conhecimento intelectual e os sábios,</p><p>portanto, teriam a função de entender o mundo da realidade e separá-lo das</p><p>aparências.</p><p>• A alegoria da caverna é a representação dos seres humanos antes do contato</p><p>com a filosofia e sua ascensão em um novo patamar perceptivo.</p><p>• O trabalho de Aristóteles é pautado como uma refutação ao seu mestre.</p><p>Aristóteles dizia que poderíamos obter o conhecimento no próprio mundo em</p><p>que vivemos. Platão, por exemplo, era a favor da existência do mundo das</p><p>ideias e do mundo sensível.</p><p>RESUMO DO TÓPICO 2</p><p>127</p><p>AUTOATIVIDADE</p><p>1 Qual a principal diferença entre os sofistas e Sócrates?</p><p>2 Explique de que maneira a história de Sócrates influenciou na obra de seu</p><p>discípulo Platão.</p><p>128</p><p>129</p><p>TÓPICO 3</p><p>O PROCESSO DE FILOSOFAR</p><p>UNIDADE 3</p><p>1 INTRODUÇÃO</p><p>No presente tópico, o aluno será apresentado a uma questão um pouco</p><p>mais aprofundada. É dedicado ao conceito daquilo que chamamos de filosofar.</p><p>O ensinamento da filosofia traz inúmeras possibilidades. Uma das</p><p>questões importantes que pairam em torno dessas probabilidades diz respeito à</p><p>questão: o ensino deve se ocupar da compreensão da filosofia ou do entendimento</p><p>sobre o processo de filosofar?</p><p>Para desvendar essas questões, serão estudados os conhecimentos</p><p>elaborados pelo filósofo Immanuel Kant em relação ao processo de filosofar. O</p><p>filósofo se dedicou a esclarecer o desenvolvimento das estruturas de fixação e</p><p>compreensão da realidade, que proporciona ao ser humano a sensação de estar</p><p>inserido dentro do universo.</p><p>2 O CONCEITO DE FILOSOFAR</p><p>O ensinamento da filosofia traz inúmeras possibilidades. O ensino deve</p><p>se ocupar da compreensão da filosofia ou do entendimento sobre a prática do</p><p>processo de filosofar?</p><p>São imprescindíveis a tarefa de filosofar e o aprendizado sobre filosofia</p><p>para aqueles que possuem interesse na disciplina. Assim, o aprendizado de</p><p>ambos é possível através de quais procedimentos e ferramentas?</p><p>As questões levantadas manifestam uma maneira de ser pensada a</p><p>realização da filosofia. A questão central que assola os estudantes da filosofia é</p><p>justamente a questão sobre o que seria precisamente a filosofia.</p><p>UNIDADE 3 | CONCEITOS E FUNDAMENTOS DA FILOSOFIA</p><p>130</p><p>Temos então que as possíveis respostas das questões estão diretamente</p><p>ligadas à linha de pensamento filosófico, acompanhando seu longo caminho</p><p>histórico, sua construção e desenvolvimento.</p><p>Fundamentalmente, podemos afirmar que filosofar é exercitar as</p><p>interrogações, é o indagar sobre o sentido das coisas, a busca dos porquês dos</p><p>seres humanos e do planeta. A filosofia é construída e desenvolvida na dúvida. É</p><p>a busca das verdades além do que a realidade aparenta ser, além do óbvio.</p><p>Os filósofos são pessoas que estavam inquietas com a aparente realidade</p><p>das coisas. Pessoas que alcançavam um olhar diferenciado a respeito daquilo que</p><p>viam, ainda que olhassem para as mesmas coisas que os outros. Filósofos buscavam</p><p>enxergar além, obtendo a compreensão de particularidades sobre o mundo.</p><p>Através do exercício do olhar diferenciado, os filósofos buscavam</p><p>encontrar respostas que julgavam coerentes para os problemas aparentemente</p><p>sem fundamentos. Seria muito simples apenas olhar os problemas de convivência</p><p>social, reconhecê-los e seguir em frente sem questioná-los. Os filósofos dispunham</p><p>de sua energia e tempo para tentar solucionar tais problemas, começando por</p><p>entender o porquê dos conflitos acontecerem.</p><p>Assim, é imprescindível que o pensamento filosófico seja, acima de tudo,</p><p>um pensamento crítico. A filosofia deve seguir caminhos opostos aos das verdades</p><p>dogmáticas. Deve elevar o pensamento para longe das visões reducionistas sobre</p><p>o homem e o mundo.</p><p>Para fins de disciplina da filosofia, é importante que ela se ofereça como</p><p>um agrupamento de ideias organizadas e portadora de determinada rigidez</p><p>terminológica e acadêmica. Ocorre que o diferencial do conhecimento filosófico é</p><p>justamente o seu criticismo. Ele não se apega com uma única filosofia.</p><p>É permitido falarmos em filosofias e não “da filosofia”, como um único</p><p>monopólio da realidade. O conhecimento filosófico acredita na existência de</p><p>diferentes visões da realidade. São tais visões que proporcionam para a filosofia</p><p>um conhecimento fundamentado na história do pensamento.</p><p>Assim, o conhecimento filosófico é instituído através do seu específico</p><p>método de construção histórica. É o resultado metódico, organizado e rígido</p><p>de uma sequência de princípios ideológicos elaborados para a conservação,</p><p>crescimento ou modificação de concepções vigentes em algum momento da</p><p>história da filosofia.</p><p>Podemos concluir que filosofar é o ato de estar aberto para questionar,</p><p>é a busca por indagações e com o objetivo de produzir reflexões sobre ideias e</p><p>princípios que aparentavam ser imutáveis.</p><p>TÓPICO 3 | O PROCESSO DE FILOSOFAR</p><p>131</p><p>O ato de filosofar é, especialmente, pensar de modo crítico. É um</p><p>pensamento desamarrado e autônomo e que se baseia em princípios racionais</p><p>elaborados no decorrer da história do pensamento humano, expostos nos textos</p><p>da própria filosofia. Ainda, na realidade contemporânea que cerca o agente do ato</p><p>de filosofar,</p><p>pois, nas relações humanas, temos a origem das questões filosóficas.</p><p>3 IMMANUEL KANT E O PROCESSO DE FILOSOFAR</p><p>Immanuel Kant (1724–1804), filósofo alemão, é fundador da chamada</p><p>Filosofia Crítica. Kant consagrou suas ideias na história da filosofia e ao concentrar</p><p>sua carreira na determinação conceitual referente ao debate sobre a natureza do</p><p>conhecimento humano.</p><p>O filósofo se dedicou a esclarecer as maneiras de desenvolvimento das</p><p>estruturas de fixação. Ainda, há a compreensão da realidade e que proporciona a</p><p>sensação de estar inserido dentro do Universo.</p><p>Assim, Kant se tornou um dos principais expoentes da filosofia moderna.</p><p>Tratou de demandas que englobavam desde a natureza do espaço e do tempo até</p><p>as questões de moralidade humana.</p><p>O reconhecimento de Kant aconteceu, especialmente, pelo fato de que</p><p>suas ideias possibilitavam uma conexão entre a ideia do racionalismo, que tem</p><p>em Descartes seu principal expoente, e do empirismo, da maneira apresentada</p><p>por Hume. Kant conseguiu trabalhar as questões sobre a razão humana sem</p><p>deixar de considerar a importância das experiências no processo de obtenção do</p><p>conhecimento.</p><p>Após a breve apresentação, passaremos a avaliar a parte da obra de Kant</p><p>que nos concerne para o desenvolvimento de nossa noção de filosofia. O filósofo</p><p>merece lugar de destaque neste livro, pois tomou posição importante no que diz</p><p>respeito à questão do ensino da filosofia e do pensar filosófico.</p><p>Ainda que tenhamos apenas uma base principiante, a partir daqui</p><p>teremos condições de analisar as questões que se referem ao pensamento crítico,</p><p>à autonomia do pensar e aos reflexos no ensinamento da filosofia ou no filosofar.</p><p>Já sabemos que a compreensão do pensamento de determinado</p><p>sistema filosófico ocorre através da obtenção do conhecimento da história de</p><p>tal pensamento. Podemos afirmar que, quando compreendemos conceitos da</p><p>filosofia, não estamos automaticamente compreendendo como desenvolver o</p><p>processo do ato de filosofar.</p><p>Kant ficou reconhecido por sua frase “não se ensina filosofia, mas a</p><p>filosofar”. Fez com que o ensino da filosofia se voltasse não para os conceitos</p><p>filosóficos, mas para a atitude filosófica, para o raciocínio crítico.</p><p>UNIDADE 3 | CONCEITOS E FUNDAMENTOS DA FILOSOFIA</p><p>132</p><p>Contudo, como fazer para que o aluno estudioso da filosofia desenvolva</p><p>autonomia de pensamento e aprenda a filosofar? A resposta é mais difícil do que</p><p>realmente parece.</p><p>Primeiramente, cabe ao professor não restringir suas aulas a apresentações</p><p>de conteúdo já solidificado. Ao expor o conteúdo, deve instigar o diálogo consigo</p><p>mesmo por meio de indagações adequadas. Kant chama de método “erotético”.</p><p>O método erotético ocorre por meio de procedimentos de diálogo e</p><p>catequese. Ocorre que o professor deve direcionar suas perguntas para a razão do</p><p>estudante ou, ainda, meramente para a memória do último. Se o mestre pretende</p><p>questionar a razão do seu aluno, deve fazer através de um diálogo. Os dois devem</p><p>proferir questionamentos em uma espécie de troca. Cada um dirige questões e</p><p>também as recebe.</p><p>O professor deve elaborar perguntas oportunas de maneira a sugerir um</p><p>norte para a linha de raciocínio de seu estudante. Deve levantar casos e demonstrar</p><p>que está ciente de que ocorre predisposição do aluno em se sentir instigado para</p><p>seguir nos questionamentos.</p><p>Assim, o estudioso da filosofia compreende sua própria capacidade de</p><p>raciocinar, reagindo às indagações do mestre. O método de ensino filosófico proposto</p><p>por Kant, a princípio, pode ser equiparado ao método socrático da maiêutica.</p><p>No método socrático, o professor realiza a elaboração da verdade por</p><p>meio de perguntas e questionamentos oportunos. O próprio professor igualmente</p><p>amplia seu conhecimento.</p><p>O destaque deve estar voltado para a atitude filosófica. Só é possível aprender</p><p>a filosofar e, por sua vez, aprender filosofia apenas em um sentido histórico.</p><p>IMPORTANTE</p><p>No aprendizado da filosofia, o professor utiliza o método erotético para elaborar</p><p>perguntas e respostas, auxiliando os alunos a conquistarem a autonomia no ato de filosofar.</p><p>É preciso aprender a filosofar e tomar cuidado para não superestimar a</p><p>história da filosofia e não desvalorizá-la. Do ponto de vista kantiano, o método</p><p>erotético deve ser reconhecido com o intuito de ajudar o aprendiz a pensar por</p><p>si mesmo. Ainda, possui dois movimentos principais: as características do que se</p><p>entende por filosofia e o que torna alguém filósofo ou praticante da filosofia.</p><p>TÓPICO 3 | O PROCESSO DE FILOSOFAR</p><p>133</p><p>IMPORTANTE</p><p>Mesmo que a filosofia não seja ensinada, ela deve ser entendida dogmaticamente</p><p>como um conhecimento racional.</p><p>Na lógica, a filosofia faz parte dos conhecimentos racionais que se opõem</p><p>aos conhecimentos históricos. Há a existência de dois princípios: sensibilidade e</p><p>entendimento.</p><p>O entendimento concretiza a organização das reproduções elaboradoras</p><p>do conhecimento, que produzem a consciência de um ser unificado, metafísico.</p><p>Já a sensibilidade evidencia que o conhecimento é derivado do empirismo. É</p><p>diferente dos princípios do entendimento que derivam do racional.</p><p>Ao aprendermos filosofia, estamos tratando de todos os sistemas</p><p>filosóficos e, em relação à história da filosofia, da história do uso da razão. Assim,</p><p>é possível observar que o ato de filosofar acontece com o objeto da razão, ou seja,</p><p>com a história da filosofia.</p><p>UNIDADE 3 | CONCEITOS E FUNDAMENTOS DA FILOSOFIA</p><p>134</p><p>LEITURA COMPLEMENTAR</p><p>APRENDER A FILOSOFAR OU APRENDER A FILOSOFIA: KANT</p><p>OU HEGEL?</p><p>Cesar Augusto Ramos</p><p>Com efeito, o professor deve mostrar para o aluno que a forma assistemática</p><p>e meramente opinativa de fazer filosofia leva a um relativismo estéril das ideias</p><p>ou a uma presunção no conhecimento, propiciando a atitude não rigorosa e</p><p>simplista de que cada um pode produzir a sua própria filosofia.</p><p>O procedimento autoriza o professor a adotar uma postura esotérica,</p><p>enigmática, obscura e, muitas vezes, pedante? Ainda que a filosofia hegeliana</p><p>possa sugerir tal atitude, o próprio Hegel recomenda uma outra conduta</p><p>pedagógica. De uma forma mais precisa, a filosofia alcança a aptidão para ser</p><p>aprendida apenas quando ela se torna clara, comunicável e capaz de se converter</p><p>em um bem comum.</p><p>O conteúdo filosófico já trabalhado e que constitui o acervo de pensamentos</p><p>da produção filosófica deve ser aprendido pelo estudante. “O mestre o possui, ele</p><p>o pensa primeiro, os alunos pesam-no em seguida”. Cabe ao professor possuir</p><p>determinado “tesouro” e transmiti-lo aos alunos que se identificam.</p><p>Refazer o caminho de uma filosofia originariamente elaborada em nada</p><p>diminui a autonomia e a criatividade do aprendiz, pois ele está reconstruindo no</p><p>seu próprio espírito os momentos fundamentais do filosofar. Quanto ao último</p><p>aspecto, o aspecto da coercividade da educação, é preciso observar que tanto</p><p>Kant como Hegel ressaltam a ação disciplinadora do educador.</p><p>Sobre o assunto, Hegel afirma que “o direito dos pais sobre o arbítrio dos</p><p>filhos tem por finalidade mantê-los disciplinados e educá-los. O fim das punições</p><p>não é a justiça como tal, mas de natureza moral: consiste em intimidar uma</p><p>liberdade ainda prisioneira da natureza e em elevar a consciência e a vontade</p><p>deles (filhos) para a universalidade” (HEGEL, 1995, p. 174).</p><p>A obediência apenas confirma a necessidade da identificação produzida</p><p>fora da família, no âmbito da escola. Para Hegel, o caráter identificador da ação</p><p>pedagógica que a escola produz tem um papel fundamental.</p><p>A educação escolar ajuda a formar uma personalidade que se eleva</p><p>para a esfera da universalidade concreta da cidadania. A escola deve oferecer</p><p>ao educando situações pedagógicas de um reconhecimento não excludente. Ele</p><p>educa o seu espírito e está apto a integrar as instâncias éticas que representam a</p><p>sua verdadeira natureza. O trabalho e a disciplina devem prevalecer.</p><p>TÓPICO 3 | O PROCESSO DE FILOSOFAR</p><p>135</p><p>O educador deve oferecer ao educando a força fecunda do negativo,</p><p>propiciada por</p><p>relações de alteridade que, no fundo, são mecanismos de coação</p><p>legitimados pela ideia daquilo que é superior. A escola, ao efetivar o momento</p><p>dialético da negatividade educacional, se apresenta como o outro do educando.</p><p>Os conteúdos escolares e acadêmicos representam para ele a sua própria</p><p>essência “ex-posta”. É possível mediante os processos de reconhecimento, os</p><p>quais permitem a absoluta inserção do educando no seu outro segundo, sendo</p><p>um paradigma de uma intersubjetividade afirmativa e não excludente.</p><p>O método pedagógico por excelência consiste, então, em ocupar o</p><p>educando “de alguma coisa de não imediato, de estranho, de alguma coisa que</p><p>pertence à lembrança, à memória e ao pensamento” (HEGEL, 1996, p. 321).</p><p>Como exemplo do reconhecimento, Hegel sugere o estudo da cultura antiga</p><p>como instrumento pedagógico que oferece um mundo “estranho e diferente”,</p><p>uma alteridade na qual o educando deve mergulhar e ter a oportunidade de</p><p>“deixar seu próprio elemento e habitar, com Robinson, uma ilha longínqua”.</p><p>É no estudo das línguas e da cultura antiga (grego e latim) que devemos</p><p>nos “impregnar do seu ar, de suas representações, de seus costumes e, mesmo</p><p>se quisermos, de seus erros, assim como de seus preconceitos”, acostumando o</p><p>homem neste que foi o “paraíso do espírito humano”. Determinado procedimento</p><p>pedagógico de estranhamento do educando espelha a sua própria natureza.</p><p>Antecipa e prepara o próprio processo de inserção do indivíduo na vida ética</p><p>superior do Estado.</p><p>Ele reconhece pelo trabalho e pela disciplina a sua própria identidade,</p><p>superando a imediatidade (em si) da sua condição. A forma social e política da vida</p><p>ética (Sittlichkeit) constitui a verdadeira razão de ser do educando. São formas de</p><p>uma sociabilidade representada pela expressão sintética da Fenomenologia: “um</p><p>eu que é um nós e um nós que é um eu”.</p><p>A inserção do indivíduo na universalidade é propiciada pelo trabalho</p><p>da cultura (Bildung) que se perpetua como sua “segunda natureza”. O objetivo</p><p>último é a integração pacífica e voluntariosa do indivíduo como bom cidadão na</p><p>esfera da vida ética e política.</p><p>A consciência da segunda natureza é o resultado do trabalho da educação</p><p>e da cultura. Constitui a própria essência do indivíduo que ele reconhece como</p><p>sua e que está presente no aspecto objetivo da liberdade e nas instituições éticas</p><p>e políticas da Sittlichkeit.</p><p>O escopo de uma educação coerciva consiste em reconciliar o educando</p><p>com as formas de uma vida superior. O desejo do melhor não pode ser deduzido</p><p>de um ideal de perfectibilidade e muito menos estar presente na consciência e no</p><p>querer do educando.</p><p>UNIDADE 3 | CONCEITOS E FUNDAMENTOS DA FILOSOFIA</p><p>136</p><p>O princípio coator da pedagogia hegeliana faz dela, na verdade, um</p><p>procedimento conservador, no sentido de que ela está voltada para o adulto, mais</p><p>precisamente para o cidadão integrado na realidade efetiva do Estado.</p><p>A instância superior da Sitlichkeit fornece o paradigma último à educação.</p><p>A ação disciplinadora do educador antecipa as formas superiores de integração</p><p>do indivíduo na instância, mediante mecanismos pedagógicos de introjeção na</p><p>consciência e na ação do educando do propósito da boa cidadania. São mecanismos</p><p>formadores diretivos, mas nunca repressivos, e repercutirão de forma decisiva na</p><p>formação do caráter do futuro cidadão.</p><p>A alternativa hegeliana para o problema, já antecipada por Rousseau e</p><p>aprofundada por Kant, consiste em mostrar que o esquema da autorreferencialidade</p><p>comporta a obediência a um outro que deve ser o próprio sujeito e permite uma</p><p>dimensão compatível da liberdade com a coerção implícita na norma.</p><p>Se a liberdade tem o lado autorreferencial, a questão do vazio entre</p><p>a liberdade do sujeito e as normas sociais e legais não é resolvida pelo caráter</p><p>normativo no campo das ações políticas e sociais reguladas pelo direito.</p><p>Determinado caráter revela apenas uma liberdade reciprocamente</p><p>limitada pelos arbítrios. Para Hegel, obedecemos a nós mesmos e, na dimensão</p><p>ética e política abrangente da Sittlichkeit, às normas legais e políticas.</p><p>A liberdade, apesar de se apresentar na face de uma subjetividade</p><p>autorreferencial, se efetiva pela face objetiva das instâncias da vida social</p><p>mediadas pela categoria do mútuo reconhecimento. A autorreferencialidade</p><p>da norma adquire, com Hegel, um estatuto normativo social e intersubjetivo.</p><p>Esta deixa de ser endógena e cuja força objetiva não decorre simplesmente da</p><p>universalização da identidade racional de sujeitos autorreferentes.</p><p>A proposta hegeliana procura compatibilizar a liberdade na sua dupla face:</p><p>como direito da subjetividade (autorrealização) e, ao mesmo tempo, como direito</p><p>da objetividade das instituições sociais e políticas. Define, assim, a obediência</p><p>ainda na perspectiva da adesão voluntária à norma, mas mediada pela categoria</p><p>intersubjetiva do reconhecimento.</p><p>FONTE: RAMOS, Cesar Augusto. Aprender a filosofar ou aprender a filosofia: Kant ou Hegel? Trans/</p><p>Forma/Ação, São Paulo, v. 30, n. 2, p. 197-217, 2007. Disponível em: . Acesso em: 10 ago. 2018.</p><p>137</p><p>Neste tópico, você aprendeu que:</p><p>• Fundamentalmente, podemos afirmar que filosofar é exercitar as interrogações,</p><p>é o indagar sobre o sentido das coisas, a busca dos porquês dos seres humanos</p><p>e do planeta. A filosofia é construída e desenvolvida na dúvida.</p><p>• A filosofia é a busca das verdades além do que a realidade aparenta ser, além</p><p>do óbvio.</p><p>• Filósofos buscavam enxergar além, obtendo a compreensão de particularidades</p><p>sobre o mundo que os demais não alcançavam.</p><p>• Os filósofos dispunham de sua energia e de tempo para tentar solucionar os</p><p>problemas, começando por entender o porquê desses conflitos acontecerem.</p><p>• A filosofia deve seguir caminhos opostos aos das verdades dogmáticas,</p><p>procurando elevar o pensamento para longe das visões reducionistas sobre o</p><p>homem e o mundo.</p><p>• Para fins de disciplina da filosofia, é importante que ela se ofereça como</p><p>um agrupamento de ideias organizadas portador de determinada rigidez</p><p>terminológica e acadêmica.</p><p>• É permitido falarmos em filosofias e não “da filosofia” como um único</p><p>monopólio da realidade.</p><p>• O ato de filosofar é, especialmente, pensar de modo crítico. Um pensamento</p><p>desamarrado e autônomo.</p><p>• Kant conseguiu trabalhar as questões sobre a razão humana e sem deixar</p><p>de considerar a importância das experiências no processo de obtenção do</p><p>conhecimento.</p><p>• Kant ficou reconhecido por sua frase “não se ensina filosofia, mas a filosofar”.</p><p>Fez com que o ensino da filosofia se voltasse não para os conceitos filosóficos,</p><p>mas para a atitude filosófica, para o raciocínio crítico.</p><p>• O método erotético ocorre por meio de procedimentos de diálogo e catequese.</p><p>RESUMO DO TÓPICO 3</p><p>138</p><p>AUTOATIVIDADE</p><p>1 Explique quais as diferenças cruciais entre o estudo da filosofia e o processo</p><p>de filosofar.</p><p>2 Explique de que maneira Immanuel Kant obteve destaque em sua obra no</p><p>campo filosófico.</p><p>139</p><p>TÓPICO 4</p><p>A FILOSOFIA NO MUNDO MODERNO</p><p>UNIDADE 3</p><p>1 INTRODUÇÃO</p><p>Neste último tópico, o aluno será, por fim, introduzido no mundo da</p><p>filosofia moderna. Esta parte final do aprendizado deve ser reconhecida como</p><p>imprescindível para a absorção de tudo o que foi visto até o presente momento.</p><p>Devemos entender que a filosofia é uma disciplina eternamente atual.</p><p>Primeiramente, será vista a ideia central da chamada filosofia moderna e que teve</p><p>início no século XV, juntamente com o nascimento da Idade Moderna.</p><p>A partir disso, o aluno enfrentará o conceito de filosofia na</p><p>contemporaneidade. O que se compreende com certeza é que a filosofia se conserva</p><p>sendo um conhecimento acerca do entendimento da racionalidade humana. A</p><p>disciplina norteia e influencia várias outras áreas de conhecimento.</p><p>2 A FILOSOFIA MODERNA</p><p>Sentimos como se a filosofia fosse algo antigo, anterior a nós mesmos e que</p><p>ficou no passado. Devemos entender que, na verdade, a filosofia é uma disciplina</p><p>eternamente atual.</p><p>A filosofia está presente quando pensamos, agimos, enxergamos ou</p><p>sentimos. Enquanto agimos, estamos em constante análise do passado ou, ainda,</p><p>prospectando um futuro.</p><p>O principal objeto da filosofia é o ser humano. Ainda assim, especialmente</p><p>nos dias atuais, o estudo filosófico sofre preconceitos em relação à utilidade e aos</p><p>objetivos. Estes ocorrem devido ao fato de não ser uma ciência exata ou técnica,</p><p>como a maioria das demais áreas de conhecimento.</p><p>UNIDADE 3 | CONCEITOS E FUNDAMENTOS DA FILOSOFIA</p><p>140</p><p>O conhecimento filosófico tem por finalidade justamente alimentar o</p><p>pensamento, instigar uma posição questionadora nos cidadãos. O intuito é</p><p>proporcionar a vontade de conhecer a si próprio, refletir sobre seu papel dentro</p><p>do universo.</p><p>Se um indivíduo, hoje, resolve pensar filosoficamente sua vida, ele terá</p><p>que modificar sua rotina, pois os conceitos iriam ser modificados. Ocorre que o</p><p>medo do novo é natural ao homem. Somos seres de hábitos, acomodados e ficamos</p><p>acostumados com os problemas sociais e econômicos que nos cercam diariamente.</p><p>Assim, não resta ânimo para enquadrar a filosofia em nossa vida. Contudo,</p><p>é preciso resgatar o hábito de filosofar, de pensar nossas ações, questioná-las. A</p><p>filosofia expande a mente da sociedade, faz com que avance, evolua.</p><p>A filosofia moderna teve início no século XV, juntamente com o nascimento</p><p>da Idade Moderna. Essa era permanece até o século XVIII, com a chegada da</p><p>Idade Contemporânea.</p><p>Fundada nos métodos de experimento, a filosofia moderna aparece para</p><p>questionar os valores pertinentes aos seres humanos e também a relação deles</p><p>com a natureza.</p><p>O grande ponto de mudança pode ser traduzido nas figuras do</p><p>racionalismo e do empirismo. O primeiro está associado com a razão humana e o</p><p>segundo está baseado na experiência.</p><p>A nova fase da história abrange diversas descobertas científicas desde os</p><p>campos da astronomia, ciências naturais até matemática e física. Foi abrindo lugar</p><p>para o pensamento antropocêntrico, que enxerga o homem no centro do mundo.</p><p>De tal modo, o período foi caracterizado pela conflagração do pensamento</p><p>filosófico e científico. Deixou de lado as fundamentações religiosas da época</p><p>medieval e abriu passagem para novos métodos de investigação científica.</p><p>No período, a filosofia desempenhou um papel centralizador na história,</p><p>pois ofereceu uma posição mais ativa do ser humano na sociedade, como um</p><p>ser pensante e, consequentemente, um cidadão com maior liberdade de escolha.</p><p>Inúmeras modificações aconteceram no pensamento europeu da época:</p><p>• passagem do feudalismo para o capitalismo;</p><p>• surgimento da burguesia;</p><p>• formação dos estados nacionais modernos;</p><p>• absolutismo;</p><p>• mercantilismo;</p><p>• reforma protestante;</p><p>TÓPICO 4 | A FILOSOFIA NO MUNDO MODERNO</p><p>141</p><p>• grandes navegações;</p><p>• invenção da imprensa;</p><p>• descoberta do novo mundo;</p><p>• início do movimento renascentista.</p><p>Assim, as características centrais da filosofia moderna estão pautadas nos</p><p>seguintes conceitos:</p><p>• antropocentrismo e humanismo;</p><p>• cientificismo;</p><p>• valorização da natureza;</p><p>• racionalismo (razão);</p><p>• empirismo (experiências);</p><p>• liberdade e idealismo;</p><p>• renascimento e iluminismo;</p><p>• filosofia laica (não religiosa).</p><p>3 O PAPEL DA FILOSOFIA NA CONTEMPORANEIDADE</p><p>O papel da filosofia na sociedade contemporânea é um dos temas mais</p><p>discutidos por entusiastas da área. Desvendar qual a afinidade da filosofia com</p><p>o mundo contemporâneo é questão pautada por vários escritores da atualidade.</p><p>A filosofia se conserva sendo uma área de conhecimento acerca do</p><p>entendimento da racionalidade humana. A disciplina norteia e influencia várias</p><p>outras áreas de conhecimento.</p><p>Ainda, continua sendo confortante e acolhedora para aqueles que</p><p>possuem intenção de buscar autoconhecimento. A relação da filosofia com o</p><p>mundo contemporâneo ainda permanece nos seguintes termos:</p><p>• nas demandas em prol de igualdade e justiça social;</p><p>• na batalha por uma democracia praticável e de fácil acesso para todos;</p><p>• na busca constante pela verdade, por um sistema de ideias empáticas e</p><p>inclusivas, que represente a realidade sem utopias;</p><p>• nas indagações acerca de nossas origens e onde pretendemos chegar como</p><p>sociedade global. É uma temeridade estimulada pela filosofia e é um dos</p><p>pontos principais na ligação da filosofia com o mundo contemporâneo;</p><p>• nos incentivos dados para o desenvolvimento da ciência. Esta precisa de</p><p>questionamentos críticos para continuar a viver.</p><p>O que deve ser levado em consideração é o seguinte questionamento:</p><p>a filosofia deve seguir apenas como disciplina dentro do contexto acadêmico</p><p>ou deve ser colocada ao alcance de todos os cidadãos? Como fazer para que a</p><p>filosofia construa uma sociedade de indivíduos questionadores por completo e</p><p>positivando princípios de evolução social? Pense a respeito!</p><p>UNIDADE 3 | CONCEITOS E FUNDAMENTOS DA FILOSOFIA</p><p>142</p><p>LEITURA COMPLEMENTAR</p><p>O ENSINO DA FILOSOFIA NO LIMIAR DA CONTEMPORANEIDADE:</p><p>O QUE FAZ O FILÓSOFO QUANDO SEU OFÍCIO É SER</p><p>PROFESSOR DE FILOSOFIA?</p><p>Rodrigo Pelloso Gelamo</p><p>A rejeição (que poderíamos entender como uma recusa ou declínio da</p><p>filosofia), especialmente nos cursos universitários que não visam à formação</p><p>de filósofos, parece resultar de uma série de problemas que ainda não foram</p><p>resolvidos e perfazem desde propostas curriculares mal elaboradas até uma</p><p>posição que tem por objetivo a exaltação do conhecimento tecnológico.</p><p>Outro motivo pode ser o apressamento da formação atual, convertida</p><p>em mera qualificação profissional, especialmente nas instituições privadas de</p><p>ensino superior. Nestas há redução não só do tempo de formação, mas também</p><p>da qualidade e da intensidade da formação.</p><p>A quantidade de disciplinas tem sido, também, alvo da mesma política</p><p>educacional, sendo retiradas dos currículos aquelas que são consideradas menos</p><p>importantes no processo da qualificação profissional.</p><p>O que é hoje valorizado na sociedade normalizada e no espaço educacional</p><p>não é mais o desenvolvimento do pensamento, mas a transmissão de uma série</p><p>de conteúdos que, supostamente, dão condições para a integração do estudante</p><p>no quadro do progresso tecnológico e proporcionam a sua entrada no mercado</p><p>de trabalho.</p><p>Quando a filosofia participa do processo formativo, ela tem dificuldades</p><p>em encontrar seu lugar e em se reconhecer em um espaço onde é desvinculada de</p><p>si mesma. Ainda, a pouca carga horária reservada dificulta a possibilidade de um</p><p>desenvolvimento consistente do pensamento filosófico.</p><p>O tempo disponibilizado para a apreensão dos conteúdos filosóficos</p><p>e para a consolidação de um tipo de reflexão almejado pela filosofia é ínfimo.</p><p>Ao dificultar a apropriação intelectual dos conteúdos pelos alunos, a negação</p><p>de um modo de temporalidade necessário à formação do pensamento filosófico</p><p>impede a constituição de uma reflexão crítica, equivocadamente esperada sob</p><p>essas condições.</p><p>O ensino da filosofia muitas vezes se restringe a uma transmissão de</p><p>conteúdos cujo objetivo é fazer com que o aluno acumule o máximo de informações</p><p>possíveis no pouco tempo reservado.</p><p>TÓPICO 4 | A FILOSOFIA NO MUNDO MODERNO</p><p>143</p><p>Assim, aquilo que seria fundamental para a consolida��ão do processo</p><p>formativo seria algo quase impossível de acontecer e por se fundamentar, muitas</p><p>vezes, em um modo superficial de articulação entre as perspectivas dos filósofos</p><p>apresentadas pelo professor acerca de um determinado tema e os conteúdos tidos</p><p>como necessários no ensino da filosofia.</p><p>Cria-se, então, uma imagem distorcida do pensamento filosófico e do</p><p>filosofar, transmitindo ao aluno não muito mais do que “fórmulas filosóficas” que</p><p>passam a se constituir em modelos a serem aplicados na resolução de qualquer</p><p>questão. As “fórmulas filosóficas” se apresentam como modelos para pensarmos</p><p>criticamente as situações com as quais o aluno se depara.</p><p>O ensino da filosofia que se pratica nesses lugares privilegia a transmissão</p><p>do conhecimento produzido no contexto da história da filosofia. Alunos</p><p>e</p><p>professores são avaliados por aquilo que conseguiram acumular de conhecimento</p><p>a partir do seu enquadramento nos saberes estabelecidos.</p><p>A lógica do ensino encaminha a relação ensinar/aprender para uma</p><p>função: ensinar é transmitir as verdadeiras representações sobre aquilo que os</p><p>filósofos disseram e aprender é compreender aquilo que foi explicado. Ainda, é</p><p>preciso fazer uma correlação entre a explicação do professor e o que se encontra</p><p>nas obras filosóficas para, posteriormente, repetir de modo claro e distinto aquilo</p><p>que se aprendeu.</p><p>O professor de filosofia, muitas vezes pressionado pelas situações</p><p>adversas, torna-se refém da mesma lógica da explicação ao acreditar que a única</p><p>saída para se ensinar minimamente a filosofia é a transmissão, ou seja, explicar ao</p><p>aluno aquilo que conhece da filosofia. Existe implícita a crença de que aquele que</p><p>explica é o detentor dos conhecimentos filosóficos necessários.</p><p>Com determinado tipo de “ensino”, estar-se-ia privilegiando a transmissão</p><p>de um tipo de conhecimento que, pretendendo-se filosófico, é marcado por um</p><p>“saber técnico” e cujo objetivo é ensinar a reconhecer a forma e o conteúdo de um</p><p>determinado pensamento.</p><p>No ato de “aprender”, a relação entre o aluno e o texto filosófico ocorre</p><p>mediante um processo de mediação da aprendizagem que reside na explicação</p><p>apresentada pelo professor como a forma legítima de captar a verdadeira</p><p>significação das ideias que constituem o texto.</p><p>A explicação se tornou um meio de “formar filosoficamente” os alunos:</p><p>explica-se a história da filosofia, os sistemas filosóficos, o que é ser crítico em</p><p>relação a eles e ao mundo. Enfim, explica-se o que é pensar filosoficamente.</p><p>Assim, ensinar a filosofia, muitas vezes, restringe-se a uma explicação, oferecida</p><p>pelo professor, do pensamento filosófico e de sua história.</p><p>UNIDADE 3 | CONCEITOS E FUNDAMENTOS DA FILOSOFIA</p><p>144</p><p>O papel do professor de filosofia passou a ser o de um explicador do modo</p><p>como os filósofos produziram determinado pensamento, das suas filiações teóricas,</p><p>de seus vínculos com aqueles que o antecederam, dos pontos problemáticos que</p><p>pretendiam resolver e do modo como responderam aos problemas.</p><p>Segundo Rancière, a lógica da explicação foi ganhando espaço por estar</p><p>amparada pelo argumento de que os professores conscientes têm como “grande</p><p>tarefa” transmitir seus conhecimentos aos alunos. A lógica traz como objetivo</p><p>conduzir os alunos e elevá-los para a condição de conhecedores.</p><p>Assim, o professor teria como função ser o mediador entre o filósofo (texto</p><p>filosófico) e o aluno, objetivando romper a barreira que, supostamente, existe</p><p>entre aquilo que o aluno leu nos livros de filosofia e as falhas na compreensão</p><p>que ele possa ter tido em sua leitura. O papel do professor, no contexto, é garantir</p><p>que se compreenda aquilo que supostamente é necessário.</p><p>FONTE: GELAMO, Rodrigo Pelloso. O ensino da filosofia no limiar da contemporaneidade: o</p><p>que faz o filósofo quando seu ofício é ser professor de filosofia? 1. ed. São Paulo: UNESP, 2009.</p><p>Disponível em: . Acesso em:</p><p>16 ago. 2018.</p><p>145</p><p>Neste tópico, você aprendeu que:</p><p>• A filosofia está presente quando pensamos, tomamos ações, enxergamos ou</p><p>sentimos em nossas vidas.</p><p>• O principal objeto da filosofia é o ser humano.</p><p>• Nos dias atuais, o estudo filosófico sofre preconceitos em relação à utilidade e</p><p>aos objetivos.</p><p>• O conhecimento filosófico tem por finalidade alimentar o pensamento, instigar</p><p>uma posição questionadora nos cidadãos.</p><p>• É preciso resgatar o hábito de filosofar, de pensar nossas ações, questioná-las.</p><p>A filosofia expande a mente da sociedade, faz com que avance, evolua.</p><p>• O que se denomina como filosofia moderna teve início no século XV, juntamente</p><p>com o nascimento da Idade Moderna.</p><p>• Fundada nos métodos de experimento, a filosofia moderna aparece para</p><p>questionar os valores pertinentes aos seres humanos e também a relação deles</p><p>com a natureza.</p><p>• A filosofia continua sendo confortante e acolhedora para aqueles que possuem</p><p>intenção de autoconhecimento.</p><p>RESUMO DO TÓPICO 4</p><p>146</p><p>AUTOATIVIDADE</p><p>1 Cite três características da filosofia moderna e explique.</p><p>2 Qual o papel dos filósofos no mundo contemporâneo?</p><p>147</p><p>REFERÊNCIAS</p><p>ARISTÓTELES. Vida e obra. São Paulo: Editora Nova Cultural, 1996.</p><p>BOBBIO, Norberto. O futuro da democracia – uma defesa das regras do jogo. 2.</p><p>ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1986.</p><p>BOBBIO, N.; MATTEUCCI, N.; PASQUINO, G. Dicionário de política I.</p><p>Brasília: Editora UNB, 1998.</p><p>BONAVIDES, Paulo. Ciência Política. 10. ed. São Paulo: Malheiros Editores,</p><p>2000.</p><p>BRANDÃO, Lucas. A herança de Karl Marx e Friedrich Engels. 2017.</p><p>Disponível em: . Acesso em: 9 jul. 2018.</p><p>BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília: Senado,</p><p>2000.</p><p>CHAUÍ, Marilena. Convite à filosofia. 5. ed. São Paulo: Editora Ática, 1995.</p><p>______. Convite à filosofia. São Paulo: Ática, 2010.</p><p>______. Introdução à história da filosofia: dos pré-socráticos a Aristóteles. São</p><p>Paulo: Companhia das Letras, 2018.</p><p>DALARI, Dalmo de Abreu. Elementos da teoria geral do Estado. 2. ed. São</p><p>Paulo: Saraiva, 1998.</p><p>DURKHEIM, Émile. As regras do método sociológico. São Paulo: Martins</p><p>Fontes, 1995.</p><p>FILHO, Cyro de B. Rezende; NETO, Isnard de A. Câmara. A evolução do</p><p>conceito de cidadania. 2001. Disponível em . Acesso em: 5 ago. 2018.</p><p>GEERTZ, Clifford. O saber local. Petrópolis: Editora Vozes, 1998.</p><p>IANNI, Octávio. A sociologia e o mundo moderno. Campinas: IFCH, 1988.</p><p>KANT, Immanuel. Crítica da razão pura. Petrópolis, RJ: Vozes; Bragança</p><p>Paulista, SP: Editora Universitária São Francisco, 2012.</p><p>148</p><p>LA BRADBURY, Leonardo Cacau Santos. Estados liberal, social e democrático de</p><p>direito: noções, afinidades e fundamentos. Revista Jus Navigandi, ano 11, n. 1252,</p><p>2006. Disponível em: . Acesso em: 10 jul. 2018.</p><p>LISBOA, Alan Ricardo Fogliarini. Revisitando Montesquieu: uma análise</p><p>contemporânea da teoria da separação dos poderes. Âmbito Jurídico, Rio</p><p>Grande, XI, n. 52, p. 1-3, abr. 2008. Disponível em: .</p><p>Acesso em: 24 jul. 2018.</p><p>LUCKESI, C. C. Filosofia da educação. São Paulo: Cortez, 1992.</p><p>MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. A ideologia alemã: crítica da mais recente</p><p>filosofia alemã em seus representantes Feuerbach, B. Bauer e Stirner e do</p><p>socialismo alemão em seus diferentes profetas. São Paulo: Boitempo Editorial,</p><p>2015.</p><p>NETTO, José Paulo. O que é marxismo: primeiros passos. São Paulo:</p><p>Brasiliense, 2017.</p><p>NOGUEIRA SALDANHA, Nelson. Notas sobre o Estado moderno e a</p><p>separação de poderes. Revista Duc in Altum, Recife, v. 3, n. 4, p. 193-198, jul.</p><p>2008. Disponível em: . Acesso em: 9 jul. 2018.</p><p>OLIVEIRA, Pérsio Santos. Introdução à sociologia: série Brasil. 25. ed. São</p><p>Paulo: Editora Ática, 2007.</p><p>PLATÃO. A república. São Paulo: Editora Edipro, 1994.</p><p>REALE, Giovanni. História da filosofia grega e romana: Platão. São Paulo:</p><p>Edições Loyola, 2007.</p><p>REALE, Miguel. Introdução à filosofia. São Paulo: Editora Saraiva, 2017.</p><p>SÓCRATES. Vida e obra. São Paulo: Editora Nova Cultural, 1996.</p><p>STRECK, Lenio Luis; DE MORAES, José Luis Bolzan. Ciência política e teoria</p><p>do Estado. 8. ed. Porto Alegre: Livraria dos Advogados, 2014.</p><p>SUNDELD, Carlos Ari. Fundamentos de direito público. 4. ed. Ed. Malheiros:</p><p>São Paulo.</p><p>WEBER, Max. A ética protestante e o espírito do capitalismo. São Paulo, 1997.</p><p>______. Economia e sociedade – fundamentos da sociologia compreensiva. 6.</p><p>ed. Brasília: Ed. UnB, 2014.</p><p>• Tirania: a maneira degenerada/corrupta de exercer a monarquia.</p><p>• Oligarquia: a maneira degenerada/corrupta de exercer a aristocracia.</p><p>• Demagogia: a maneira degenerada/corrupta de exercer a democracia.</p><p>Desde que Aristóteles surgiu com essa denominação, a política ingressou na</p><p>pauta dos assuntos sociais importantes para o bom andamento das comunidades,</p><p>recebendo ampla atenção tanto dos homens, quanto das respectivas populações.</p><p>Aristóteles mostrou que a política está presente em todas as relações</p><p>humanas. Determinar esses seis tipos de relação governante/povo fez com que</p><p>ele ganhasse especial atenção para as análises políticas tanto de sua época quanto</p><p>posteriores ao seu tempo.</p><p>UNIDADE 1 | CONCEITOS E FUNDAMENTOS DA CIÊNCIA POLÍTICA</p><p>6</p><p>Contudo, foi só mais tarde que a Ciência Política conseguiu aglomerar</p><p>filosofia moral, filosofia política, política econômica e história em suas outras</p><p>matérias. A partir dessa aglomeração, a Ciência Política foi capaz de arranjar exames</p><p>contemporâneos e futuros sobre o Estado, administração pública e suas funções.</p><p>A Ciência Política surgiu no decorrer do século XIX. Este ficou marcado na</p><p>história como o século de aparecimento não só da Ciência Política, mas das Ciências</p><p>Humanas no geral, como a Sociologia, Antropologia e História. Foi nessa época que</p><p>surgiu algo diferente da filosofia política praticada pelos gregos antigos.</p><p>A Ciência Política apareceu como disciplina e instituição em meados do</p><p>século XIX, período em que avançou como “Ciência do Estado” principalmente</p><p>na Alemanha, Itália e França.</p><p>O termo que hoje é aplicado ao ensinamento e ao exercício da política,</p><p>além de envolver definições e exames dos aparelhos e procedimentos políticos,</p><p>foi lapidado pelo professor de História na Universidade Johns Hopkins</p><p>(EUA), Herbert Baxter Adamn, no ano de 1880.</p><p>Nota-se que a criação da Ciência Política aconteceu em um determinado</p><p>momento histórico em que o desenvolvimento científico começava a progredir no</p><p>continente europeu. Assim, a disciplina acompanhou o surgimento de todas as</p><p>demais matérias das Ciências Sociais.</p><p>Ainda, arquitetou-se nos alicerces do empirismo científico. De maneira</p><p>geral, seus diagnósticos estão fundamentados nos mesmos métodos empregados</p><p>pelas outras áreas que se empenham à pesquisa social, estando baseada em</p><p>documentos históricos, registros oficiais, produção de pesquisa por questionário,</p><p>análises estatísticas, estudos de caso e na construção de modelos.</p><p>4 PRINCIPAIS TEORIAS POLÍTICAS</p><p>Mesmo sendo uma disciplina em níveis históricos e recente, a Ciência</p><p>Política possui raízes profundas na história do conhecimento humano. Os</p><p>primeiros pensadores que cultivaram o estudo da política remontam à Grécia</p><p>antiga, como Platão e Aristóteles.</p><p>Ainda na Índia, há mais ou menos 2.500 anos, já havia a reflexão sobre a</p><p>Filosofia Política. Suas apreciações dos contextos políticos da realidade de sua época</p><p>serviram como alicerce de edificação da disciplina da maneira como a encontramos.</p><p>Avançando alguns anos, entre os séculos XIV e XVIII, diferentes</p><p>pensadores colaboraram para o campo do conhecimento político. Dentre os de</p><p>maior destaque, estão: Thomas Hobbes, John Locke, Jean-Jacques Rousseau, Karl</p><p>Marx e Friedrich Engels.</p><p>TÓPICO 1 | INTRODUÇÃO E CONTEXTO HISTÓRICO DA CIÊNCIA POLÍTICA</p><p>7</p><p>Como visto no plano de ensino desta unidade, estudaremos um pouco</p><p>sobre os principais pensamentos da Ciência Política. Assim, seguimos nos</p><p>próximos parágrafos com a exposição das ideias dos cinco autores citados no</p><p>parágrafo anterior.</p><p>Thomas Hobbes (1588–1679) teve suas ideias sobre governo e</p><p>política publicadas ao longo dos anos em que esteve em atividade. Contudo,</p><p>esses pensamentos só foram expostos de maneira terminante em sua obra</p><p>intitulada Leviatã, no ano de 1651.</p><p>Hobbes não poupou esforços para embasar sua filosofia política em cima</p><p>de uma ideia. Procurava uma tese que permitisse explicar o poder absoluto que</p><p>os soberanos detinham. Junto com Maquiavel (1469–1527), as ideias de Hobbes</p><p>fazem parte de um grupo que podemos denominar de realismo político.</p><p>O pensamento hobbesiano ficou conhecido por, de acordo com sua base</p><p>realista, possuir tendências extremistas. Hobbes parte do princípio de que todos</p><p>os seres humanos são maus por natureza.</p><p>Assim, podemos compreender que, no chamado estado de natureza, sempre</p><p>existirão conflitos entre os seres humanos que ali coabitam. Todos os indivíduos</p><p>são possuidores do chamado direito natural, sendo ele um direito que não necessita</p><p>da criação de um Estado para existir. Temos como direito natural o direito à vida.</p><p>Logo, podemos concluir que toda situação de estado de natureza será</p><p>carregada de conflitos entre os homens. Seria um cenário de guerra e cada um</p><p>dos indivíduos se encontraria em constante luta contra todos os outros.</p><p>Se eu tenho o direito à vida, então, eu preciso me alimentar para continuar</p><p>a viver. Como já vimos no estado de natureza, o Estado ainda não foi criado. Logo,</p><p>não possuo garantias de acesso aos alimentos necessários para a manutenção</p><p>da minha vida. Assim, terei que ir em busca de alimentos de alguma maneira e</p><p>fazendo o que achar necessário para defender este que é meu único direito.</p><p>Ocorre que no estado de natureza não existem regras, pois não há quem</p><p>as dite ou as regule. Assim, pouco importa se, ao conseguir um alimento, eu o</p><p>retire de outro cidadão. É essa atitude que devemos tomar, uma vez que o ser</p><p>humano, em sua visão, é ruim por natureza.</p><p>O homem livre, no estado de natureza, não se preocuparia em racionar</p><p>ou dividir o alimento encontrado e apenas o comeria, sem se preocupar com seus</p><p>semelhantes coabitantes daquele determinado espaço geográfico. Em casos mais</p><p>drásticos, ao encontrar algum outro indivíduo de posse de um alimento que julgue</p><p>necessário para sua vida, haveria agressão e, em determinadas situações, homicídio.</p><p>UNIDADE 1 | CONCEITOS E FUNDAMENTOS DA CIÊNCIA POLÍTICA</p><p>8</p><p>IMPORTANTE</p><p>No estado de natureza anterior à criação do Estado (governo, organização</p><p>política), além de não existirem regras, não existe também a figura da propriedade privada.</p><p>Não há delimitações, não há divisões, gestão, governança etc.</p><p>É justamente por essa visão “negativa” sobre a natureza do homem que</p><p>um governo absolutista e autoritário é o melhor que a sociedade pode conseguir.</p><p>Deve existir a criação de um Estado absolutista, sendo a força exercida pelo</p><p>Estado. De maneira centralizada, seria a única forma de controle desse lado</p><p>“ruim” do ser humano.</p><p>Hobbes faz parte, junto com John Locke (1632–1704) e Jean-Jacques</p><p>Rousseau (1712–1778), do trio de filósofos políticos denominados como</p><p>contratualistas. Esse nome se deve pelo fato de que esses pensadores enxergaram</p><p>a criação do Estado como um contrato social entre os indivíduos.</p><p>O contrato social corresponde ao momento em que as pessoas transferem</p><p>os seus direitos naturais ao Estado. Na ideia hobbesiana, o indivíduo passa a não</p><p>ter mais direito, uma vez que o Estado criado deve ser absolutista.</p><p>Hobbes trabalha a ideia de soberania do Estado. Essa soberania deve ser</p><p>absoluta. Se houver alguma voz concorrente à voz do Estado, estaríamos retornando</p><p>para o estado de natureza, no qual não existem regras a serem seguidas.</p><p>A única maneira de os indivíduos adquirirem algum tipo de segurança é</p><p>saindo do estado de natureza e transferindo seus direitos para que o Estado os</p><p>resguarde com garantias de ordem social. Para finalizar o pensamento hobbesiano,</p><p>vejamos os quatro objetivos da criação do Estado idealizados:</p><p>1 garantir a segurança dos homens;</p><p>2 proporcionar a liberdade social dos indivíduos;</p><p>3 harmonizar a igualdade entre os cidadãos;</p><p>4 adequar a educação pública e a propriedade material ou privada.</p><p>Dos quatro objetivos, apenas o primeiro é tido como obrigatório. A</p><p>prioridade do Estado deve ser acabar com a sensação de insegurança que o</p><p>estado de natureza proporciona. Assim, o Estado foi criado para impedir que os</p><p>indivíduos vivam marcados por sentimentos</p><p>como incerteza e medo.</p><p>Como já visto anteriormente, três pensadores formam o trio dos chamados</p><p>contratualistas: Jean-Jacques Rousseau (1712–1778), Thomas Hobbes (1588–1679) e</p><p>John Locke (1632–1704).</p><p>aqui esta a parte onde fala dos contratualistas.</p><p>aqui esta a parte dos contratualistas...</p><p>Highlight</p><p>TÓPICO 1 | INTRODUÇÃO E CONTEXTO HISTÓRICO DA CIÊNCIA POLÍTICA</p><p>9</p><p>John Locke, além de contratualista, foi considerado também como o pai</p><p>do liberalismo. Era visto como um pensador ponderado, não acreditava que o</p><p>homem era de fato um ser ruim por natureza. Os principais fundamentos do</p><p>Estado Civil, em linha cronológica, são:</p><p>1 o livre consentimento entre os indivíduos através do contrato social;</p><p>2 o livre consentimento da comunidade para formar o governo;</p><p>3 a proteção dos direitos de propriedade pelo governo;</p><p>4 o controle do Executivo pelo Legislativo;</p><p>5 o controle do governo pela sociedade.</p><p>Locke tem como principais obras dois grandes tratados sobre política,</p><p>que se tornaram clássicos na ampliação das ideias políticas da modernidade. No</p><p>primeiro, intitulado Primeiro Tratado sobre o Governo Civil, ele elabora sua crítica</p><p>à tradição de sua época, que assegurava aos reis direitos que eram tidos como</p><p>divinos.</p><p>Se pensarmos que o poder do Estado era idealizado na figura dos reis e</p><p>advém de um pacto social entre os individuas, fica clara a conclusão de Locke</p><p>para formalizar sua crítica. Afinal, o poder dos reis seria proveniente do pacto</p><p>social, e não de uma autorização sobrenatural. Na outra obra de destaque,</p><p>intitulada Segundo Tratado sobre o Governo Civil, Locke apresenta sua teoria do</p><p>Estado liberal e da propriedade privada.</p><p>No contrato social, os membros da comunidade delegam poderes para um</p><p>governante e este tem por obrigação garantir os direitos individuais já existentes</p><p>no estado natural, além de assegurar o direito à propriedade.</p><p>No estado de direito natural não existe apenas o direito à vida, mas</p><p>também o direito à liberdade e à propriedade privada. Os indivíduos criam o</p><p>Estado apenas para este assegurar os direitos já preexistentes no estado de</p><p>natureza.</p><p>Para encerrar as ideias sobre o contrato social, passemos a estudar Jean-</p><p>Jacques Rousseau (1712–1778). O autor é conhecido por sua obra chamada Do</p><p>Contrato Social, do ano de 1762.</p><p>O que diferencia Rousseau de seus colegas contratualistas é o fato de ele</p><p>defender uma visão mais positiva do ser humano. O homem é um ser bom por</p><p>natureza. Os homens sozinhos, em um estado de natureza, eram seres livres e felizes.</p><p>Os indivíduos são “bons selvagens”, são seres que vivem em harmonia</p><p>com o seu meio natural. O homem natural é o homem justo. O desequilíbrio do</p><p>homem não é originário, mas derivado e de ordem social, ou seja, o homem nasce</p><p>bom, mas a sociedade o corrompe.</p><p>UNIDADE 1 | CONCEITOS E FUNDAMENTOS DA CIÊNCIA POLÍTICA</p><p>10</p><p>Assim, a soberania após o contrato social pertence ao povo. O povo</p><p>livremente transfere o exercício de sua soberania para o Estado. Essas ideias</p><p>democráticas serviram de inspiração para os líderes da Revolução Francesa.</p><p>Na ideia hobbesiana, o homem mau por natureza sairia em busca de seu</p><p>alimento e passando por cima de tudo e de todos para consegui-lo. Nas ideias</p><p>de Rousseau, o homem livre e feliz, sozinho em seu estado de natureza, apenas</p><p>conseguiria comidas que não prejudicassem aquele ambiente.</p><p>Ocorre que esses bons selvagens enxergariam a necessidade de retirada</p><p>do alimento de alguns para poderem dar mais aos outros, por exemplo. Para</p><p>o pensador, a sociedade implanta no homem maus sentimentos, como os de</p><p>ambição, comparação etc.</p><p>IMPORTANTE</p><p>Imagine uma linha. No primeiro extremo temos o nome de Hobbes (o homem</p><p>é mau por natureza), no meio temos Locke (o equilíbrio das ideias, o homem é ponderado)</p><p>e, por último, Rousseau no outro extremo da linha (o homem é bom por natureza).</p><p>Para finalizar o presente tópico, passamos a expor, de maneira conjunta, as</p><p>ideias de Karl Marx (1818-1883) e Friedrich Engels (1820-1895). Em Trier, capital</p><p>da província alemã de Reno, no dia 5 de maio de 1818, nasce Karl Marx, apenas</p><p>dois anos antes de Friedrich Engels, que nasceu em Barmen, Alemanha, em 28 de</p><p>novembro de 1820.</p><p>Por insistência da família, Engels abandonou a escola para trabalhar.</p><p>Assim, notamos a condição de miséria dos trabalhadores fabris nos negócios</p><p>particulares. A condição despertou interesse para seguir sozinho nos estudos de</p><p>filosofia, religião, literatura e política.</p><p>Em 1842, Engels se mudou para a Inglaterra, lugar onde, na época, já se</p><p>especulava muito sobre as condições dos trabalhadores. Escreveu sobre em A</p><p>Situação das Classes Trabalhadoras na Inglaterra, publicado em 1845.</p><p>Dessa forma, adotou uma reprimenda ao sistema capitalista e estabeleceu</p><p>ligações com Karl Marx, com quem se encontrou em Paris, no ano de 1844, após</p><p>anos de correspondência. Juntos escreveram obras que se tornaram referências</p><p>para o, posteriormente denominado, socialismo materialista.</p><p>TÓPICO 1 | INTRODUÇÃO E CONTEXTO HISTÓRICO DA CIÊNCIA POLÍTICA</p><p>11</p><p>O Manifesto Comunista, de autoria de ambos, em 1848, e O Capital, de</p><p>autoria de Karl Marx, em 1867, verteram suas ideias ao desenvolvimento teórico</p><p>e prático de vários subtipos de socialismo, comunismo e alguns relacionados ao</p><p>anarquismo.</p><p>Com a morte de Karl Marx em 1883, Friedrich Engels se responsabilizou a</p><p>escrever a continuação do segundo volume de O Capital e redigir inteiramente o</p><p>terceiro. Para que seja possível entender Engels, é necessário precisar a doutrina e</p><p>a atividade de Marx no desenvolvimento do movimento operário.</p><p>Juntos anunciaram o socialismo como um estágio final do processo</p><p>antropológico e sociológico, com poderes estatais em segundo plano e beneficiando</p><p>paridade entre os indivíduos. Tudo norteado por teorias como a “mais-valia”.</p><p>Mais-valia foi o termo desenvolvido por Marx para se referir à exploração</p><p>da mão de obra dos trabalhadores. O processo de troca da mão de obra por</p><p>salário era uma maneira de exploração dos assalariados. Os empresários estavam</p><p>gerando lucro em favor da exploração do corpo e mente de outros cidadãos. É</p><p>dele a famosa ideia: “se a classe operária tudo produz, a ela tudo pertence”.</p><p>O fenômeno da mais-valia, em poucas palavras, seria a expropriação pelos</p><p>donos das fábricas do valor do trabalho de seus empregados. Para Marx e Engels,</p><p>esse tipo de injustiça seria o suficiente para inviabilizar o capitalismo, sendo o</p><p>socialismo a única maneira de respeitar todos os cidadãos.</p><p>UNIDADE 1 | CONCEITOS E FUNDAMENTOS DA CIÊNCIA POLÍTICA</p><p>12</p><p>REVISITANDO MONTESQUIEU: UMA ANÁLISE CONTEMPORÂNEA</p><p>DA TEORIA DA SEPARAÇÃO DE PODERES</p><p>Alan Ricardo Fogliarini Lisboa</p><p>A teoria da Separação dos Poderes, desenvolvida por Montesquieu,</p><p>prevê a autonomia dos Poderes como um pressuposto de validade para o</p><p>Estado Democrático. A ideia de que o poder deve ser controlado pelo próprio</p><p>poder pressupõe que as atitudes dos atores envolvidos no palco de decisões</p><p>sejam interligadas. Deve haver uma clara divisão nas competências e uma</p><p>interdependência, que garantam uma gestão compartilhada e homogênea.</p><p>Assim, as ações do Executivo, Legislativo e do Judiciário devem ser, em</p><p>tese, autônomas e complementares. O obstáculo à atuação legítima de qualquer</p><p>um dos entes deve pressupor um abuso de seu poder institucional.</p><p>Entretanto, a atual conjuntura brasileira desenha um quadro diferente. A</p><p>utilização indiscriminada de Medidas Provisórias pelo Executivo, a instalação de</p><p>CPI’s pelo Legislativo e a utilização de Ações Diretas de Inconstitucionalidade por</p><p>Omissão (ADIN) pelo Judiciário, por exemplo, apontam para uma interferência</p><p>mútua nos círculos de poder dos atores estatais.</p><p>Cabe ressaltar que nenhuma das atividades é ilegal ou inédita. Todas têm</p><p>amparo legal e são instrumentos previstos na atuação do Estado. O que desperta</p><p>interesse no momento é que a utilização delas vem crescendo nos últimos 10</p><p>anos, às vezes como forma de acelerar o processo de gestão, ou como maneira de</p><p>obstacularização</p><p>do processo decisório.</p><p>O escopo do presente trabalho é questionar não a natureza do processo, mas</p><p>seu objetivo. Afinal, a utilização demasiada desses métodos é a personificação de</p><p>uma atitude despótica de conquista do poder pelas facções ideológicas (partidos</p><p>políticos) ou uma readequação da teoria do Check and Balances como uma resposta</p><p>dos demais poderes para a concentração de força no Executivo?</p><p>Caso a primeira opção se confirme, qual o papel do Judiciário nessa</p><p>contenda, uma vez que sua natureza deve ser percebida como apolítica e, portanto,</p><p>não inscrita na relação de disputa apresentada? Cabe a ele ser o mediador do</p><p>conflito entre as demais facções notadamente políticas, consubstanciando-se tão</p><p>somente como “la bouche de la loi” ou representa-se como ator ativo no palco do</p><p>domínio do poder?</p><p>O presente trabalho pretende a questão crucial da divisão do poder no</p><p>interior do Estado. Entretanto, não guarda o intuito de exaurir a discussão, uma</p><p>vez que a relação encontrada é dinâmica e, portanto, avessa à conformação de</p><p>qualquer teoria hegemônica.</p><p>LEITURA COMPLEMENTAR</p><p>TÓPICO 1 | INTRODUÇÃO E CONTEXTO HISTÓRICO DA CIÊNCIA POLÍTICA</p><p>13</p><p>Ao iniciar essa discussão, é preciso traçar as linhas gerais sobre o que</p><p>seja e de onde venha a ideia de que o poder deve ser exercido de forma separada</p><p>e complementar. Para alguns autores, inclusive, o poder político é indivisível e</p><p>deriva do Estado e do Povo.</p><p>O que aconteceria na realidade é a especialização das funções entre entes</p><p>diversos que, conjuntamente, exercem o poder do Estado. Essa ideia, contudo, é</p><p>rechaçada por aqueles que entendem que o foco do estudo não está nem na ideia</p><p>funcionalista, nem na estruturalista (órgãos) do governo, e sim na sua capacidade</p><p>de imperium.</p><p>Ao iniciar seu trabalho sobre as leis, Montesquieu divide os três estilos</p><p>de governo em republicano, monárquico e despótico. A diferença entre eles é básica</p><p>e inscrita no próprio senso comum: na república, todo povo ou, ao menos, parte</p><p>dele, exerce diretamente o controle do Estado. A monarquia é representada por</p><p>apenas uma figura, mas regrada por leis fixas e estabelecidas. Já o déspota ignora</p><p>a instituição de normas e governa por seu próprio arbítrio.</p><p>Nessa análise inicial, o autor coloca força em um poder intermediário, de</p><p>contenção, ou “repositório de leis”, como um poder mediador entre a vontade do</p><p>governante e o povo. Tal fenômeno inclusive é o que impede a evolução de um</p><p>poder centralizado (monarquia) para um sistema despótico. Além disso, sugere a</p><p>existência de primazias ou princípios aos sistemas republicanos e monárquicos,</p><p>a virtude e a honra. São esses elementos, portanto, também freios primários do</p><p>poder constituído.</p><p>A proposta de limites ao poder de comandar e coagir o cidadão está assente</p><p>na teoria de Montesquieu, mas possui raízes mais profundas. Platão e Aristóteles,</p><p>na Grécia antiga, Tomás de Aquino e Marsílio de Pádua, na era medieval, e mais</p><p>modernamente Bodin e Locke já se ocuparam do assunto, embora o primeiro e o</p><p>último foram considerados verdadeiros precursores do aristocrata francês.</p><p>Contemporaneamente, a percepção foi trabalhada por Locke, ao desenhar</p><p>uma separação entre os poderes. Para esse autor, existiriam o Executivo,</p><p>responsável pela execução das leis, o Legislativo, expressão do povo para a</p><p>criação de tais enunciados, e ainda outros dois, Confederativo e Discricionário.</p><p>Refinando o modelo, Montesquieu afirma claramente a necessidade de</p><p>divisão dos poderes como forma de constituição do Estado Moderno: ”Há em</p><p>cada Estado três espécies de poder: o poder legislativo, o poder executivo das</p><p>coisas que dependem do direito das gentes, e o poder executivo daqueles que</p><p>dependem do direito civil”.</p><p>O autor ainda compara monarquias moderadas da Europa. Existe uma</p><p>fração do poder de governo na mão do povo (justiça) e com uma república sem</p><p>separação, como a Itália da época. Na sua concepção, o último exemplo, apesar de</p><p>dito democrático, é menos aberto do que as monarquias citadas, e o governo precisa</p><p>“de meios tão violentos quanto os dos turcos”, com “um horrível despotismo”.</p><p>UNIDADE 1 | CONCEITOS E FUNDAMENTOS DA CIÊNCIA POLÍTICA</p><p>14</p><p>Partindo dessa visão, o poder no Estado Moderno, e particularmente</p><p>no Brasil, divide-se em Legislativo (expressão máxima do poder popular, cujos</p><p>representantes efetivamente criam as leis e regras que serão dirigidas a todos);</p><p>Executivo (órgão responsável pela execução das leis e direção central da nação,</p><p>também escolhido pelo povo), e Judiciário (repositório da legislação, com função</p><p>de intérprete e guardião das normas e princípios norteadores do EDD).</p><p>Mais moderno e aprofundado, o conceito dado por Canotilho pressupõe</p><p>não apenas uma divisão horizontal, como a já definida, mas também uma</p><p>separação vertical dos poderes, como o princípio básico do federalismo e a</p><p>separação em União, Estados e Municípios.</p><p>Com efeito, a ideia de um perfeito equilíbrio entre o Poder Central e os</p><p>periféricos está assentada na base da ideia de parlamento, como afirma Bobbio:</p><p>“O nascimento e desenvolvimento das instituições parlamentares</p><p>dependem, portanto, de um delicado equilíbrio de forças entre o poder central e</p><p>os poderes periféricos. O poder central goza de uma significativa preponderância.</p><p>As instituições parlamentares vingam mal e dificilmente prosperam. Tampouco</p><p>na situação oposta [...] existem condições para a consolidação dos Parlamentos:</p><p>falta, na verdade, um estímulo que leve as várias forças do país a se unirem de</p><p>forma duradoura”.</p><p>Baseado no estudo constitucional português, o autor trabalha a estruturação</p><p>de Montesquieu em três esferas: plano funcional (legislativa, executiva e judiciária);</p><p>plano institucional: existência de três órgãos constitucionais para cada uma das</p><p>funções; plano sociocultural: articulação de cada poder com as estruturas sociais.</p><p>FONTE: LISBOA, Alan Ricardo Fogliarini. Revisitando Montesquieu: uma análise contemporânea da</p><p>teoria da separação dos poderes. Âmbito Jurídico, Rio Grande, XI, n. 52, p. 1-3, abr 2008. Disponível</p><p>em: . Acesso em: 24 jul. 2018.</p><p>15</p><p>Neste tópico, você aprendeu que:</p><p>• O conceito de política pode ser definido como a arte de organizar, de gerir</p><p>os povos. É o conhecimento que está atento aos acontecimentos que dizem</p><p>respeito ao Estado.</p><p>• A Ciência Política é uma disciplina das Ciências Sociais, fazendo parte do</p><p>conjunto de ciências que são obtidas pelo ser humano.</p><p>• A Ciência Política tem como objeto a sociedade política organizada, bem como,</p><p>de maneira indireta, o Estado.</p><p>• A Ciência Política tem como objetivo avaliar, posicionar e expor os problemas</p><p>e as instituições existentes na sociedade contemporânea.</p><p>• O estudo da política surgiu na Grécia antiga, quando Aristóteles se dedicou</p><p>a compreender e a definir as diferentes formas de governo. Há três maneiras</p><p>de governo e suas respectivas formas degeneradas. São elas, respectivamente:</p><p>monarquia, aristocracia, democracia, tirania, oligarquia, demagogia.</p><p>• O pensamento hobbesiano ficou conhecido por, de acordo com sua base</p><p>realista, possuir tendências extremistas. Todos os seres humanos são maus por</p><p>natureza.</p><p>• Nas ideias de Locke, os principais fundamentos do Estado Civil, em linha</p><p>cronológica, são: o livre consentimento entre os indivíduos para estabelecer</p><p>a sociedade através do contrato social; o livre consentimento da comunidade</p><p>para formar o governo; a proteção dos direitos de propriedade pelo governo; o</p><p>controle do Executivo pelo Legislativo e o controle do governo pela sociedade.</p><p>• Rousseau enxerga os indivíduos como “bons selvagens”, como seres que vivem</p><p>em harmonia com o seu meio natural. O homem natural é o homem justo. O</p><p>desequilíbrio do homem não é originário, mas derivado e de ordem social, ou</p><p>seja, o homem nasce bom, mas a sociedade o corrompe.</p><p>• O fenômeno da mais-valia é a expropriação pelos donos das fábricas do valor</p><p>do trabalho</p><p>de seus empregados.</p><p>RESUMO DO TÓPICO 1</p><p>16</p><p>1 Explique o que é a Ciência Política, exibindo quais são seus objetos de estudo,</p><p>seus objetivos e que meios ela utiliza para alcançá-los.</p><p>2 De acordo com o que você estudou, disserte sobre os autores contratualistas,</p><p>enfatizando os principais pontos de divergência entre eles.</p><p>AUTOATIVIDADE</p><p>17</p><p>TÓPICO 2</p><p>CIÊNCIA POLÍTICA E TEORIA GERAL DO ESTADO</p><p>UNIDADE 1</p><p>1 INTRODUÇÃO</p><p>Quando falamos sobre Ciência Política, logo temos em mente a matéria</p><p>de Teoria Geral do Estado. Essas duas matérias andam juntas e algumas pessoas</p><p>acreditam, inclusive, que tratam da mesma coisa, que seria mera distinção de</p><p>nomes. Entretanto, vamos aprender aqui o que as diferencia e a importância do</p><p>estudo de ambas.</p><p>Esses estudos andam juntos pelo simples fato de que se complementam. Como</p><p>já vimos, a Ciência Política nos traz as reflexões e ideias dos grandes pensadores. É</p><p>uma matéria do campo da sociologia que, intimamente, está ligada à filosofia.</p><p>Já a Teoria Geral do Estado é matéria do campo jurídico, são os estudos</p><p>que aparecem cronologicamente em tempo posterior ao pensar dos cientistas</p><p>políticos. É a aplicação dos resultados obtidos na Ciência Política.</p><p>No tópico de Teoria Geral do Estado, por exemplo, iremos observar</p><p>questões de modelos e formas de estados, soberania e sociedade. Esses são</p><p>elementos que só são passíveis de estudos após concluirmos que o Estado já foi</p><p>criado e aplicado de determinada maneira.</p><p>É possível conceituar Teoria Geral do Estado como a ciência que pesquisa</p><p>e exibe os princípios basilares da sociedade política (Estado), sua composição,</p><p>formas, modelos e evolução. Assim, ela conta com o que chamamos de Tríplice</p><p>Aspecto da Teoria Geral do Estado, sendo eles o sociológico, político e jurídico.</p><p>UNIDADE 1 | CONCEITOS E FUNDAMENTOS DA CIÊNCIA POLÍTICA</p><p>18</p><p>IMPORTANTE</p><p>Ciência Política = considerações, pesquisa, crítica. Teoria Geral do Estado =</p><p>resultado das considerações, aplicação.</p><p>2 SOCIEDADE E ESTADO</p><p>Passamos agora ao estudo dos elementos da Teoria Geral do Estado.</p><p>Primeiramente, falaremos sobre sociedade, que pode ser conceituada como um</p><p>grupo de indivíduos reunidos e organizados em determinado território geográfico</p><p>com um objetivo em comum.</p><p>Esse objetivo em comum a ser alcançado pela sociedade é o que</p><p>denominamos como bem comum, sendo ele um bem que ultrapassa o bem</p><p>pessoal único do indivíduo e contempla todos os cidadãos daquela sociedade.</p><p>Notamos que o bem comum não é o “bem de todos” ou o “bem geral”.</p><p>Os últimos seriam anuladores dos bens individuais. O bem comum é algo</p><p>equilibrado entre o bem pessoal do indivíduo e o bem geral da sociedade. É</p><p>quando todos os cidadãos abrem mão de alguma parte de algo pessoal em prol</p><p>do bem maior de todos.</p><p>Para melhor explicar, devemos imaginar um Estado que dispõe das</p><p>melhores escolas possíveis em espaço físico e pesquisa científica, porém anula os</p><p>direitos de liberdade de expressão de seus alunos. Assim, temos um exemplo de</p><p>bem geral. Abdicou-se totalmente de um direito individual para obtê-lo. Logo, o</p><p>bem não está em comunhão entre a sociedade e o cidadão.</p><p>Sobre a origem da sociedade, a teoria mais aceita é a da sociedade natural,</p><p>que diz que a sociedade é fruto da própria natureza humana. Ainda, além dela,</p><p>existe a teoria contratualista, que já vimos no tópico anterior, que diz que a</p><p>sociedade é simples fruto de escolha entre os seres humanos que coabitavam</p><p>determinado espaço geográfico e em determinada época. Dallari (1998) defende</p><p>que, para um agrupamento humano ser considerado sociedade, são necessários</p><p>alguns elementos:</p><p>• Finalidade social ou valor social: o homem necessita ter consciência de que</p><p>precisa viver em sociedade e buscar fixar, como objetivo da vida social, um</p><p>desígnio harmônico entre suas necessidades fundamentais e as coisas que</p><p>julgar preciosas. Significa dizer que a finalidade social objetivada pelo homem</p><p>é o bem comum.</p><p>TÓPICO 2 | CIÊNCIA POLÍTICA E TEORIA GERAL DO ESTADO</p><p>19</p><p>• Manifestações de conjunto ordenadas (ordem social e ordem jurídica): para</p><p>a persecução das finalidades buscadas pela sociedade, há a necessidade de que</p><p>os membros se despontem por meio de ação conjunta constantemente efetuada.</p><p>Para ocorrer, devemos atender a três requisitos:</p><p>• Reiteração: sabendo que a todo momento e que nos territórios aparecem</p><p>novos fatores influenciadores para ideia de bem comum, é imprescindível que</p><p>os membros da sociedade se manifestem em conjunto sempre que acharem</p><p>necessário e visando à efetivação dos objetivos da sociedade. Além disso, é</p><p>necessário que os atos cometidos de maneira isolada sejam conjugados e</p><p>integrados dentro de todo harmônico.</p><p>• Ordem: as manifestações de conjunto são reproduzidas dentro de uma ordem,</p><p>para que a sociedade possa atuar em função do bem comum. A ordem não</p><p>exclui a vontade e a liberdade das pessoas, visto que todos os membros da</p><p>sociedade participaram da criação das normas de comportamento social.</p><p>• Adequação: não se deve impedir a livre manifestação, o desenvolvimento</p><p>das tendências da época e os anseios dos cidadãos. As ações conjuntas dos</p><p>membros de uma sociedade consideram o bem comum.</p><p>• Poder social: para caracterizar poder, é importante ressaltar seus elementos:</p><p>socialidade, o poder é um fenômeno social, jamais podendo ser explicado pela</p><p>simples consideração de fatores individuais; bilateralidade, indicando que</p><p>o poder é sempre a correlação de duas ou mais vontades, havendo uma que</p><p>predomina.</p><p>Continuando os aprendizados do presente tópico, passamos a pensar o</p><p>Estado. Estado é a organização de determinada sociedade e sob governo próprio</p><p>e território determinado, com a finalidade de efetivar o bem comum. Para melhor</p><p>entender as Teorias do Estado, é importante que vejamos um breve histórico da</p><p>sua evolução:</p><p>• O Estado Oriental, Antigo ou Teocrático: ocorreu nas antigas civilizações no</p><p>Oriente ou no Mediterrâneo. A família, a religião, o Estado e a organização</p><p>econômica eram um só conjunto. Não se diferenciava o pensamento político da</p><p>religião, da moral, da filosofia ou de outras doutrinas econômicas. O Estado não</p><p>possuía subcategorias divisórias, territoriais ou de funções. Foi determinado</p><p>como Estado Teocrático devido à grande influência que a religiosidade</p><p>tinha na época. Tanto a autoridade dos governantes quanto as normas de</p><p>comportamento individuais e coletivas eram a expressão da vontade de um</p><p>poder divino.</p><p>UNIDADE 1 | CONCEITOS E FUNDAMENTOS DA CIÊNCIA POLÍTICA</p><p>20</p><p>• O Estado Grego: a característica fundamental é a cidade-estado, a polis, cujo ideal</p><p>era a autossuficiência. Existia a classe política, composta pela elite, com intensa</p><p>participação nas decisões de caráter público do Estado. Quando citado como</p><p>governo democrático, significava que uma parte restrita da população, ou seja, os</p><p>cidadãos, participava das decisões políticas. Além destes, habitavam a cidade os</p><p>Metecos (estrangeiros) e os escravos, que não participavam do poder político.</p><p>• O Estado Romano: a família era a base da organização desse Estado. Eram</p><p>dados, aos descendentes dos fundadores do Estado, privilégios especiais.</p><p>O povo, que representava uma pequena parte da população, participava</p><p>diretamente do governo, que era exercido pelo Magistrado. Com o passar do</p><p>tempo, novas categorias sociais apareceram e foram adquirindo e ampliando</p><p>direitos. Com a ideia do surgimento do Império, Roma tentou integrar os povos</p><p>conquistados e manter um sólido núcleo de poder político a fim de assegurar o</p><p>desenvolvimento da Cidade de Roma.</p><p>• O Estado Medieval: existia um poder superior exercido pelo Imperador e uma</p><p>ilimitada multiplicidade de poderes menores e sem hierarquia definida. Ainda,</p><p>várias ordens jurídicas (norma imperial, eclesiástica, monarquias inferiores,</p><p>direito comunal desenvolvido, ordenações dos feudos e as regras estabelecidas</p><p>no fim da Idade Média pelas corporações de ofício) e instabilidade social, política</p><p>e econômica, que geraram uma intensa necessidade de ordem</p><p>e autoridade.</p><p>• O Estado Moderno: a soberania, a territorialidade e o povo são as características</p><p>do Estado Moderno. Foram originadas da necessidade de unidade e da busca</p><p>de um único governo soberano dentro do território delimitado. São três os</p><p>elementos que constituem o Estado:</p><p>• Povo: corresponde à população do Estado. É o grupo de indivíduos em uma</p><p>ordem estatal determinada. Um conjunto de indivíduos sob o mesmo regime</p><p>de normas, possuidor de direitos e deveres. Distingue-se de nação, que é</p><p>uma entidade moral. São pessoas que possuem um sentimento de união por</p><p>serem de origem comum, por possuírem interesses ou ideias em comum. Esse</p><p>sentimento complexo é o que definimos como patriotismo.</p><p>• Território: é materialmente formado pela terra firme, incluindo o subsolo e</p><p>as águas internas (rios, lagos e mares internos), pelo mar territorial, pela</p><p>plataforma continental e pelo espaço aéreo.</p><p>• Governo: é o conjunto das funções necessárias para a manutenção da ordem</p><p>jurídica e da administração pública. Governo confunde-se, muitas vezes,</p><p>com soberania. Alguns autores citam, como quarto elemento constitutivo do</p><p>Estado, a soberania. Para os demais, no entanto, a soberania integra o terceiro</p><p>elemento. O governo pressupõe a soberania. Se o governo não é independente e</p><p>soberano, não existe o Estado perfeito. O Canadá, Austrália e África do Sul, por</p><p>exemplo, não são Estados perfeitos, porque seus governos são subordinados</p><p>ao governo britânico.</p><p>TÓPICO 2 | CIÊNCIA POLÍTICA E TEORIA GERAL DO ESTADO</p><p>21</p><p>As funções do Estado são todas as ações necessárias à execução do bem</p><p>comum. Função legislativa é aquela exercida pelo Poder Legislativo, que tem a</p><p>função de elaborar leis. Função executiva é exercida pelo Poder Executivo, tem</p><p>como função administrar o Estado e pretende contemplar a melhor maneira de</p><p>concluir seus objetivos (exemplos: nomeação de funcionários, criação de cargos,</p><p>execução de serviços públicos, arrecadação de impostos). Por último, a função</p><p>judiciária, que é exercida pelo Poder Judiciário e tem a função de interpretar e</p><p>aplicar a lei.</p><p>O Estado, ao longo do tempo, foi se caracterizando de diferentes formas.</p><p>Quando falamos em forma, estamos nos referindo à formação material do Estado,</p><p>sua estrutura. São as variações existentes na combinação dos três elementos</p><p>morfológicos do Estado: povo, território e governo. São formas de Estado:</p><p>• Estado simples ou unitário: existe apenas um poder soberano. O governo possui</p><p>completa jurisdição nacional e não existem divisões internas. Ex.: França.</p><p>• Estado composto: união de dois ou mais Estados, que representam duas</p><p>esferas distintas de poder governamental e que obedecem a um regime jurídico</p><p>especial. É uma pluralidade de Estados perante o direito público interno, mas</p><p>no exterior se projeta como uma unidade. São tipos importantes de Estados</p><p>Compostos:</p><p>• Confederação: Estados independentes se juntam para fins de defesa externa</p><p>e paz interna. Na união confederativa, os Estados Confederados não sofrem</p><p>qualquer restrição à soberania interna, nem perdem a personalidade jurídica</p><p>de direito público internacional. Ex.: Estados Unidos da América do Norte e</p><p>Alemanha, que são hoje federados, mostrando a tendência de as confederações</p><p>evoluírem para federação ou se dissolverem.</p><p>• Federação: Estado formado pela união de vários Estados, que perdem a</p><p>soberania em favor do poder central da União Federal, que possui soberania</p><p>e personalidade jurídica de Direito Público Internacional. Exemplo: Brasil,</p><p>Estados Unidos da América do Norte, México.</p><p>3 O ESTADO DE DIREITO</p><p>O Estado de Direito é configurado como o sistema institucional. O</p><p>governo e o indivíduo, por exemplo, devem se submeter em respeito às normas</p><p>e direitos fundamentais. Dessa forma, desenvolve-se regulado e autorizado pela</p><p>ordem jurídica a fim de oferecer mecanismos para proteger os cidadãos de ações</p><p>abusivas do Estado. O propósito é carregar em si superioridade em relação à</p><p>autoridade pública.</p><p>UNIDADE 1 | CONCEITOS E FUNDAMENTOS DA CIÊNCIA POLÍTICA</p><p>22</p><p>Apresenta-se como oposição ao uso arbitrário de poder, não só como uma</p><p>concepção tradicional de ordem jurídica, mas também como um conjunto dos</p><p>direitos fundamentais. Deve ser considerado como uma forma de limitação de</p><p>autoridade em torno das liberdades públicas, democracia e papel do Estado.</p><p>Ao contrário das monarquias absolutistas de direito divino, ditaduras</p><p>e regimes, o Estado de Direito se apresenta ora liberal, ora social e, por fim,</p><p>democrático.</p><p>IMPORTANTE</p><p>O arbítrio do Estado monárquico pode ser exemplificado pelo Rei Luiz XIV da</p><p>França, apelidado de “Rei Sol”, símbolo do poder pessoal com sua famosa frase: "O estado</p><p>sou eu” (l´État cést moi").</p><p>O Estado liberal de direito surge como a expressão jurídica da democracia</p><p>liberal após a Revolução Francesa de 1789 e encerrando o absolutismo da monarquia.</p><p>É guiado pela burguesia revolucionária, cujo lema era "Liberdade, Igualdade</p><p>e Fraternidade". Liberdade individual, igualdade jurídica e fraternidade com os</p><p>camponeses. Os capitalistas ansiavam por autonomia dos monarcas e nobres.</p><p>As principais características foram a não intervenção do Estado na</p><p>economia, validade do princípio da igualdade formal, implementação da Teoria</p><p>da Divisão dos Poderes de Montesquieu, supremacia da Constituição como</p><p>norma limitadora do poder governamental e garantia de direitos individuais</p><p>fundamentais. Foram denominados os "direitos de primeira geração". A</p><p>especialização de funções age em conjunto com o constitucionalismo, no que diz</p><p>respeito à delimitação do poder do Estado Moderno.</p><p>Com Montesquieu e seu O Espírito das Leis (1748) houve, a princípio, a</p><p>percepção de uma divisão de tarefas para melhorar o desempenho burocrático</p><p>do Estado. A ação não foi impulsionada como forma de estratégia para reduzir a</p><p>influência direta da autoridade estatal.</p><p>IMPORTANTE</p><p>O poder do Estado é uno e indivisível. A função do poder se divide em três:</p><p>legislativa, judicial e a executiva. A teoria da "Separação dos Poderes" pressupõe a separação</p><p>ou divisão das funções ou competências do Estado.</p><p>TÓPICO 2 | CIÊNCIA POLÍTICA E TEORIA GERAL DO ESTADO</p><p>23</p><p>O princípio da igualdade formal buscava a sujeição de todos perante a lei,</p><p>acabando com qualquer discriminação. Todas as leis teriam conteúdo geral.</p><p>A partir da menor intervenção do Estado na economia, surge a ideia de</p><p>“Estado mínimo”, em defesa da ordem natural e econômica. É utilizada atualmente</p><p>com o Estado neoliberal, que busca proporcionar a condução da economia aos</p><p>capitalistas em ascensão através da prática de autorregulação do mercado.</p><p>Na doutrina liberal, direitos reconhecidos fundamentais são considerados</p><p>constitucionalmente e, portanto, invioláveis. Compreendem as liberdades</p><p>clássicas, tais como liberdade, propriedade, vida e segurança, denominados</p><p>também de direitos subjetivos materiais ou substantivos. O Estado social de</p><p>direito, em face ao absenteísmo do modelo clássico do liberalismo, cria conteúdo</p><p>social com a pretensão de agregar a busca do bem-estar social ao capitalismo.</p><p>A revolução russa de 1917 ocorre devido à exploração dos trabalhadores</p><p>e cria preocupação com a possível disseminação de seus ideais e valores. Como</p><p>dispositivo de defesa, surge o Estado social. Dessa demanda, surgiu o modelo de</p><p>welfare state neocapitalista após a Segunda Guerra Mundial.</p><p>Políticos passam a aceitar o intervencionismo estatal pensando nos</p><p>desfavorecidos. A intenção é criar uma fórmula para que o bem-estar e o</p><p>desenvolvimento social passem a nortear as ações do ente público, sem haver</p><p>a renegação dos valores e conquistas do liberalismo burguês e resguardando os</p><p>valores, levando em conta as condições do presente.</p><p>Para completar o objetivo, a igualdade formal teve que ser substituída pela</p><p>igualdade material, que procurava obter desenvolvimento e justiça social. Assim,</p><p>são necessários o crescimento e a elevação do nível cultural e mudança social.</p><p>Foram ampliados os direitos subjetivos materiais, criando</p><p>os chamados</p><p>"direitos de segunda geração", compromissando o governante a proporcionar,</p><p>dentre outros, o direito a educação, saúde e trabalho, lazer e moradia. A lei passa</p><p>a ser, cada vez mais, específica e com destinação concreta, ao invés de abstrata e</p><p>de ordem geral. Dessa forma, atendendo mais a critérios circunstanciais.</p><p>A principal diferença, então, para a concepção clássica do liberalismo</p><p>é que, além dos limites, são acrescentadas obrigações positivas, mantendo o</p><p>respeito aos direitos individuais. O Estado democrático de direito surge com a</p><p>necessidade de acolher, confiavelmente, os desejos de democracia.</p><p>Como uma garantia para não compactuação com regimes incompatíveis</p><p>com a democracia, são instituídos os "direitos de terceira geração" na esfera</p><p>do respeito e conteúdo fraternal. São compreendidos por direitos coletivos,</p><p>dentre outros, o respeito ao meio ambiente, paz, autodeterminação dos povos e</p><p>moralidade administrativa.</p><p>O Estado passa a ter uma condição aprimorada do conteúdo social e de</p><p>existência, transpondo a postura de proporcionar uma vida digna e contemplando,</p><p>simbolicamente, a proteção da participação pública na ordem de implantação do</p><p>planejamento social.</p><p>UNIDADE 1 | CONCEITOS E FUNDAMENTOS DA CIÊNCIA POLÍTICA</p><p>24</p><p>Bonavides (2000) cita os "direitos de quarta geração" quando explica que</p><p>a globalização política, na esfera da normatividade jurídica, introduz os direitos</p><p>de quarta geração, que correspondem à derradeira fase de institucionalização do</p><p>Estado social.</p><p>Ao se apropriar do propósito democrático, o Estado de Direito tem como</p><p>escopo a igualdade. A lei se torna mecanismo de mudança e solidariedade das</p><p>pessoas, não mais ligada obrigatoriamente à sanção ou à promoção. A participação</p><p>social não se limita mais a formar as instituições representativas.</p><p>FIGURA 1 – MODELOS DE ESTADOS E SUA ESTRUTURAÇÃO</p><p>Estado Liberal</p><p>de Direito</p><p>ReestruturaçãoAdaptação</p><p>EducaçãoPromoçãoSanção</p><p>ComunidadeGrupoIndivíduo</p><p>Lei é a ordem geral</p><p>e abstrata; não</p><p>impedimento</p><p>Lei é instrumento</p><p>de ação concreta do</p><p>Estado</p><p>Lei é instrumento</p><p>de transformação e</p><p>solidariedade</p><p>Transformação</p><p>do status quoPrestações positivasLimitação da ação</p><p>estadual</p><p>IgualdadeQuestão SocialConteúdo jurídico</p><p>do liberalismo</p><p>Estado Democrático</p><p>de Direito</p><p>Estado Social de</p><p>Direito</p><p>Estado de DireitoEstado legal</p><p>Estado LiberalEstado Absolutista</p><p>Estado Moderno</p><p>FONTE: O autor</p><p>TÓPICO 2 | CIÊNCIA POLÍTICA E TEORIA GERAL DO ESTADO</p><p>25</p><p>LEITURA COMPLEMENTAR</p><p>NOTAS SOBRE O ESTADO MODERNO E A SEPARAÇÃO DE PODERES</p><p>Nelson Nogueira Saldanha</p><p>O Estado: stato, état, Stata, Estado, state etc. Um termo extremamente</p><p>conhecido e de trânsito livre no vocabulário do homem comum, bem como no</p><p>dos especialistas, e que entrou nesse vocabulário durante os séculos modernos,</p><p>especialmente com a alusão de Maquiavel aos stati, no início de O Príncipe.</p><p>O Estado é visto como fenômeno universal (quase um “universal da</p><p>cultura”), no sentido de estrutura de poder dominante para determinado povo.</p><p>A ideia, presente em tantos autores, segundo a qual não teria havido Estado na</p><p>Idade Média (Ocidental), é confirmada pela dispersão do poder em diversos</p><p>“centros”, submetidos afinal ao poder maior do Papado e da Igreja. Daí que certos</p><p>professores, como Hermann Heller e Ernst Forsthoft, tenham identificado a teoria</p><p>do Estado como algo referido ao Estado moderno.</p><p>Este é, de resto, um tema de interesse permanente para os estudiosos: o</p><p>Estado como ordem política e como ordem jurídica. A ordem, no Estado, como</p><p>fundamento de seu surgimento histórico e de seu conforto social e também como</p><p>organização de normas e de competências decisórias.</p><p>Uma duplicidade que pode trazer inquietação para o tratadista, e que</p><p>se apresenta ao observador como referência permanente, seja nas teocracias do</p><p>Oriente Antigo, seja nas democracias dos séculos XX e XXI (SALDANHA, 2003).</p><p>Como se sabe, um dos modos de aludir ao problema, inclusive por parte</p><p>de pensadores ou de observadores mais descomprometidos, tem sido o de</p><p>entender a divisão do poder, sua participação, como um processo jurídico, ao</p><p>menos latentemente jurídico.</p><p>Outro problema, porém, que aí permanece, é que a colocação de uma</p><p>estrutura jurídica no poder implica um poder de decisão realmente suficiente.</p><p>Divide et impera sempre foi mais estratégia política do que preceito jurídico.</p><p>Contudo, a Idade Média nos legou uma imagem clara do direito como algo</p><p>provido de validade peculiar: o jus como referência necessária para a medida dos</p><p>atos de poder. Fica dito “medida”, em verdade, aludindo a um dos sentidos de</p><p>nomos: para Schmitt, medida espacial, ligada ao “assentamento” e à “ordenação”</p><p>(SCHMITT, 1979).</p><p>O Estado Moderno herdou a ambígua imagem da conexão entre o direito</p><p>e o poder. Destarte, o dito absoluto aproveitaria, de acesso de frases romanas, do</p><p>dito lex est quod ad princeps placuit, como o Estado dito constitucional citaria salus</p><p>populí summa lex esto.</p><p>UNIDADE 1 | CONCEITOS E FUNDAMENTOS DA CIÊNCIA POLÍTICA</p><p>26</p><p>É curioso que, em relação à permanência da ligação entre o Estado e o</p><p>direito, a sucessão de fases (ou tipos históricos) daquele não corresponde às</p><p>formas históricas deste. É raro falar em um “direito liberal” e outro social, salvo</p><p>em um sentido diferente. Aliás, a discrepância já seria uma base para a tese da</p><p>identificação entre direito e Estado ser recusada.</p><p>Nos tempos ditos modernos, a história dos homens de carne e osso</p><p>está cada vez mais ligada à presença do Estado: poder, poderes, legislação,</p><p>terminologia, problemas tributários, problemas de ética política, tudo realçado</p><p>pelo olho implacável da imprensa.</p><p>Mac Ilwain considera correlatos os termos jurisdictio (de Bracton) e politicum</p><p>(de Fortescue). O paralelo, que no fundo remete à complementaridade entre o</p><p>político e o jurídico, situa o problema em termos que em verdade permanecem.</p><p>Será o caso de ser acrescentada uma referência ao excelente estudo de Hermann</p><p>Heller, contido em seus Escritos Políticos (1984).</p><p>Vale insistir sobre o paralelo entre o advento do Estado constitucional,</p><p>que é o “liberal” encarado sob prisma específico, e a formação da própria ciência</p><p>jurídica contemporânea. Ao mencionar o famoso debate Thibaut–Savigny sobre a</p><p>codificação, citamos a frase de Koshaker (em seu livro Europa und das roemischen</p><p>Rechts), conforme a qual a chamada ciência do direito seria historicamente um</p><p>produto made in Germany.</p><p>Temperemos a frase: os alemães, sobretudo com a Pandectística, criaram</p><p>uma ciência do direito e os franceses criaram outra, produto cartesiano da Escola</p><p>da Exegese. Há uma convergência do espírito do Ocidente para um modelo que</p><p>se tornaria, de certo modo, universal.</p><p>Para o referente ao socialismo, ou aos socialismos, valerá lembrar as</p><p>dificuldades doutrinárias provenientes da crença na extinção do Estado. Marx</p><p>e Engels tentaram abolir toda conotação utópica dentro da ideia do Estado</p><p>socialista, conotação retomada no século XX inclusive por Ernst Bloch com seu</p><p>“Princípio Esperança” (BLOCH, 1959).</p><p>A utopia prosseguiu, dispersa e diminuída, no meio dos debates sobre</p><p>justiça social e coisas afins. Com efeito, a força do pensamento utópico sempre foi</p><p>grande e desde a antiguidade se formulam utopias, inclusive a de Hipódramo e</p><p>a de Platão.</p><p>Com as utopias do Renascimento aquele pensamento ressurgiu vigoroso</p><p>e dentro do Romantismo (ou no período que o antecipa) as utopias se formulam</p><p>de modo muito característico e quase sempre – vale acentuar – como propostas</p><p>urbanísticas. Vale acentuar também que eram propostas as de Bentham, de Owen, de</p><p>Saint-Simon, de Fourier e outros, que previam comunidades não muito numerosas.</p><p>TÓPICO 2 | CIÊNCIA POLÍTICA E TEORIA GERAL DO ESTADO</p><p>27</p><p>Urbanismo: o arquétipo cidade, desafio e fascínio para os habitantes da</p><p>floresta e os do deserto, desde os inícios. O arquétipo cidade vinculando à imagem</p><p>do próprio Estado, muitas vezes confundindo-se no espaço com as duas coisas,</p><p>ambas se ligando à ideia milenar</p>