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Maurice Hauriou - Principe de Droit Publique - Capitulo 1

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PRINCIPIOS DE DIREITO PUBLICO 
CAPÍTULO PRIMEIRO 
O PONTO DE VISTA DA ORDEM E DO EQUILÍBRIO 
Sumário. — 
I. O ponto de vista da ordem na ciência do direito público; necessidade de a ele retornar, mas 
também de modernizá-lo; falha da doutrina alemã de 'direitos de dominação do estado"; a 
ordem dos movimentos do conjunto; a estabilidade das instituições sociais, concebida como 
um movimento lento e uniforme de transformação dos conjuntos sociais, que é obtida pelos 
equilíbrios. 
II. Os equilíbrios sociais; importância do equilíbrio de poder na política; equilíbrio de interesses 
na economia política; os equilíbrios são primeiramente fatores de estabilidade e, em 
seguida, fatores da organização social. 
III. Equilíbrios jurídicos, sua importância; o sistema do direito é um sistema de equilíbrios; justiça 
distributiva e justiça comutativa; equilíbrios jurídicos perseguem uma síntese social total e 
especial que é realizada objetivamente no fenômeno da paz; a paz através do direito; por 
um lado, o direito quer equilibrar toda a sociedade e todos os homens vistos como sistemas 
de direitos, por outro lado, em cada um dos direitos se realiza um equilíbrio de três 
elementos : interesse, o poder de decisão e a função; a técnica jurídica em si contém 
equilíbrios fundamentais. 
IV. A teoria do equilíbrio não é um ecletismo doutrinário, mas um processo de síntese prática, 
ela remete àquela da ordem, existe uma coordenação de forças em equilíbrio imposta pela 
vida; os equilíbrios se produzem dentro de um sistema social em movimento, uma força 
domina as outras e estas cingem-se a moderá-la; a autoridade social e a soberania; a 
dominação do direito social ou do direito individualista. 
V. O equilíbrio externo das sociedades com o mundo físico; a questão de acidentes, riscos e do 
acaso; seguro social contra acidentes; primeiramente, a responsabilidade individual para o 
risco, após, para a culpa; o uso do acaso pela vida social. 
I 
I -Existem dois pontos de vista no direito, o da ordem nas instituições e o das relações jurídicas 
entre os homens. 
Um não se reduz ao outro, pois as relações jurídicas entre os homens não tem por objeto direto 
a organização, nem mesmo a modificação de instituições existentes; elas tem por objeto direto um 
simples comércio destinado à satisfação das necessidades da vida. 
Os antigos autores de direito público se colocavam sob o ponto de vista da ordem jurídica; é 
suficiente para se convencer disto, reportar-se ao Tratado de Direito Público, de nosso Domat, e de reler 
o seu prefácio e de analisar o seu índice temático1. 
 
1 La préoccupation de l’ordre juridique, s'affirme dans quantité de passages du Traité de droit public, mais particulièrement dans la 
préface. D’abord dans l’énoncé du plan de l'ouvrage : « Le premier livre comprendra les matières qui «regardent le gouvernement 
et la police générale d'un État et ce qui en compose l’ordre ; le second sera des fonctions des pêrsonnes préposées à maintenir cet 
ordre : officiers de justice et autres qui participent aux fonctions publiques ; le troisième contiendra les manières de réprimer et 
punir ceux qui troublent cet ordre, etc...». Ainsi, tout est fondé sur la notion de l’ordre. — Plus loin : «On peut ajouter que, comme 
le droit public regarde l'ordre général de la société des hommes et que dans le traité des lois on a fait un plan de cette société..., et 
que ce plan contient un grand nombre de principes essentiels à l’ordre de cette société et de tout ce qui doit former cet ordre... Le 
lecteur n'emploiera pas inutilement son temps à la lecture de ce traité.» — Le postulat de l’ordre ne domine donc pas seulement 
Para ele e para a massa dos jurisconsultos cujas crenças gerais ele representa, existia uma 
ordem de coisas, e o direito era a « conformidade com a ordem ». Mas, de um lado, a ordem de coisas 
referida era uma ordem pré-estabelecida, de base teológica, cuja noção não se encontra mais em 
harmonia com as ideias modernas; e de outro lado, os antigos autores não possuíam o método rigoroso 
que nós atualmente praticamos, eles descreviam, mais que classificavam, eles não procuravam extrair 
princípios jurídicos para, na sequência, derivar-lhes aplicações. Um momento é chegado onde suas obras 
parecem confusas e mesmo onde elas parecem conter grande material não classificável hoje como 
jurídico, pois elas não se encontram ligadas a uma mesma síntese. Esta opinião formou-se em larga 
medida por decorrência das comparações estabelecidas com as obras de direito privado. 
O direito privado e sobretudo o direito civil foram organizados metodicamente a partir do 
século XVII na França e na Alemanha sobre a ideia fundacional das relações jurídicas; a partir desta ideia, 
o direito civil, que até então havia se limitado a seguir as tradições do direito romano, encontrou um 
princípio de classificação, a personalidade jurídica. A teoria da personalidade jurídica, com os seus 
anexos, a teoria do patrimônio e da responsabilidade, é o regulador por excelência das relações jurídicas 
Ela repousa sobre certo pressuposto de que cada um exerce o seu próprio direito por sua própria decisão 
e por sua própria responsabilidade. Em todas estas determinações do próprio direito, ela encontra um 
princípio seguro e cômodo de discriminação e classificação das hipóteses; ao mesmo tempo, ela satisfaz 
à necessidade, das mais prementes nas relações jurídicas da vida privada, que é de repartir os riscos e 
de regrar as responsabilidades. Não pode ser dito que a ideia fundamental de personalidade jurídica 
responde indefinidamente a todas as exigências do direito privado. Após alguns anos, os sinais de 
insuficiência se manifestam, mas não há dúvidas que durante os séculos XVIII e XX, tanto entre os 
civilistas franceses, quanto entre os pandectistas alemães, ela tenha ocupado constantemente o 
primeiro plano da cena jurídica. 
Foi nestas circunstâncias, que por volta de 1865, um jurisconsulto alemão, que seus 
compatriotas chamam de « venerável Gerber », constatando e deplorando a confusão na qual se 
encontrava ainda a ciência do direito público, propôs-se a organizá-la sob um enfoque moderno nela 
introduzindo um princípio único de classificação. Este princípio, ele não o foi buscar longe, ele pegou o 
que ele tinha nas mãos, que reinava no direito privado, a teoria da personalidade jurídica. O Estado passa 
a ser, segundo uma definição que se tornou imediatamente clássica «o sujeito dos direitos de dominação 
sobre os homens livres », a significar, o ser moral que pode exercer sobre os homens livres direitos de 
dominação, concebidos como relações de dominação de um lado, e de sujeição de outro. A escola dita 
da Herrschaft (Dominação) foi fundada sobre a dupla base da personalidade jurídica e da relação jurídica. 
Seu primeiro cuidado foi lançar para fora do direito público, como não sendo matérias de índole jurídica, 
todas as questões não relacionadas ao exercício do direito próprio do Estado por sua vontade própria. 
Laband, que é um dos defensores mais célebres desta doutrina, declara que os fins e as funções do 
Estado estão fora do direito e não interessam aos jurisconsultos2. Jellinek, não menos célebre, faz suas 
as palavras de Hegel, que reputa geniais: « O nascimento, a vida e a morte dos Estados importam apenas 
à História. A ela apenas cabe julgá-los, e suas leis não são certamente as dos juristas », tal é a conclusão 
de sua Doutrina Geral do Estado. Ao ler esta obra, magistral pela ciência que ela revela, ficamos confusos 
diante da estreiteza de seu ponto de vista. Assim, seria necessário admitir que as leis da vida do Estado 
não são jurídicas, isto é, que um Estado não tem uma disciplina de vida, ou que se ele possui uma, ela 
não é jurídica. 
Aberração singular que prova a tirania de um ponto de vista mal escolhido. 
Gerber, na verdade, foi vítima de um erro de óptica. Partindo da ideia de que o ponto 
de vista das relações jurídicas é dominante no direitoprivado, ele concluiu que ele também 
devesse ser dominante no direito público. Ele se enganou, e um certo número de sinais 
 
dans le droit public, mais aussi dans les lois civiles. On rapetisse les idées de nos anciens auteurs quand on les catalogue, dans 
l'histoire du droit public, sous la rubrique de «régime de la police, Polizeistaat », et qu’on oppose ce prétendu régime de la police 
au régime de droit ou Rechtsstaat qui serait celui de l’État moderne (cf. Otto Mayer, Le droit administratif allemand, édit. franç., t. 
1, pp. 42 et suiv.). Des oppositions de ce genre sont artificielles. Quand Domat concevait le droit public comme la conformité à 
l’ordre, il ne s’agissait pas seulement de l'ordre public au sens de la police, mais de l’ordre des institutions. Or, si le régime d’État 
moderne a dégagé un nouvel élément juridique qui est la loi, il n'est pas dit que la loi elle-même ne soit pas un moyen d’exprimer 
l'ordre des institutions, auquel cas on ne sortirait point de la donnée de l’ordre. 
2 Op. cit , 1, p. 117. 
 
deveriam tê-lo advertido de seu fracasso: 
1º O direito público separou-se lentamente do direito privado; se ele deste separou-
se, é sem dúvida porque ele é diferente, e como a separação teve início já há alguns séculos e 
vai sempre se acentuando, é de se crer que ela não se apoia somente sobre nuances de 
detalhes, mas sobre diferenças radicais, e, por exemplo, sobre diferenças de pontos de vista; 
2º O que faz com que tenha a teoria da personalidade jurídica e das relações jurídicas, 
no âmbito do direito privado, interesse prático é que ela é organizadora das responsabilidades 
pecuniárias e que a repartição destas responsabilidades é o grande tema nas relações da vida 
privada; mas não se percebe que as responsabilidades pecuniárias ocupem um lugar de relevo 
no direito público; isto ocorre no direito administrativo, mas o direito administrativo não é todo 
o direito público. 
3º Por fim, a quantidade de coisas que a doutrina da Herrschaft empurra para fora do 
direito público, o modo limitado como ela o concebe deveria ter sido suficiente para abrir-lhes 
os olhos; que as funções e a força orgânica das instituições não tenham uma grande importância 
na vida privada, isto é bem possível, ainda que tal afirmação comece já a ser contestada; mas 
na vida pública, quem poderia, então, se desinteressar pelas funções de estado, ou pela força 
orgânica das instituições públicas ? E se tais matérias são preponderantes na vida pública, como 
não estariam elas dentro do direito público? A personalidade jurídica do Estado interessa ao 
fisco e aos administradores, mas o direito público não é destinado apenas aos procuradores da 
fazenda, nem mesmo é destinado unicamente aos administradores, ele é destinado ao cidadão, 
aos eleitores, aos futuros legisladores. Estes últimos tem a necessidade de saber quais são as 
bases fundamentais e as funções do Estado, e qual a disciplina jurídica de sua vida, e, ainda 
mais, qual o modo de exercer os direitos do Estado. 
II —Começa-se aqui a perceber as insuficiências da doutrina da Herrschaft, e de seus 
perigos. Ela sofreu ataques violentos3; entretanto, ela resiste e se mantém, porque nós não a 
substituímos, e é sempre verdadeira a afirmação de que destrói-se apenas o que se substitui. 
Ela não foi substituída porque não se soube extrair um princípio de classificação que pudesse 
substituir, no direito público, à teoria da personalidade jurídica, nem um elemento da técnica 
que pudesse substituir aquele das relações jurídicas. 
Este princípio de classificação e este elemento especial da técnicas, nós iremos nos 
esforçar para determiná-los, mas não se tratar de procurar algo de novo. Este foi o erro de M. 
Duguit, que tanto fez para combater a doutrina alemã da Herrschaft e cuja construção, baseada 
na solidariedade social, não teve grande aceitação4. Não há necessidade de algo novo, mas 
somente de algo velho-novo. É necessário retomar os ensinamento de nossos antigos mestres 
sobre a ordem jurídica, mas esforçando-se para adequá-las. O direito é como a literatura, os 
temas clássicos são eternos, somente, de tempos em tempos, não parecem mais adaptados aos 
contemporâneos, e convém renová-los sob uma forma distinta. 
 
 
 
 
No ideário moderno, não mais concebemos uma ordem pré-estabelecida em matéria 
de estrutura social; queremos crer que há uma direção determinada que seria para as 
sociedades o progresso; há um ideal social e uma ordem das coisas que se formam nas 
consciências, e que por elas atinge-se o mundo dos imponderáveis, mas esta ordem não é pré-
estabelecida, ela se cria, ou pelo menos queremos considerá-la apenas na medida em que cria. 
 
3 Cf. Duguit, L’État, le droit objectif et la loi positive, 1901, pp. 229 et suiv. 
4 Voy. la critique do cette construction, infrà, à la fin du chapitre. 
 
Aceitamos na prática que as sociedades, sempre ao perseguir este ideal, vez que elas 
não o realizam jamais completamente, marcham rumam ao novo e em parte ao desconhecido. 
O que sabemos de mais claro, é que elas andam, a dizer, elas se transformam pelos 
movimentos do conjunto. A migração dos povos cessou, em seu sentido geográfico, os indo-
europeus não mais se debatem rumo ao oeste, mas o movimento exterior se converteu em um 
movimento interior e se perpetua nas transformações do estado social. É este movimento de 
transformações sociais que é importante observar e a propósito do qual é necessário reconstruir 
a noção de ordem, porque é um movimento do todo, e independentemente da direção do 
movimento da tropa, é bom que esta tropa marche em ordem. A tropa em ordem de marcha, o 
agmen, este é o conceito a que somos reduzidos, e este conceito, por mais modesto que seja, 
apresenta ainda utilidades evidentes: 
1º A ordem na tropa em marcha previne contra os perigos da caminhada, ela evita as 
surpresas, as emboscadas, os acidentes, as catástrofes; um povo que possui o sentimento de 
ordem evolutiva evita os riscos das revoluções, os saltos bruscos no desconhecido que elas 
provocam, as reações, que quase fatalmente as seguem, aprende-se a marchar regularmente, 
para ir de forma segura; 
2º A ordem na marcha permite ir mais longe e marchar um tempo maior, quem deseja 
viajar longe administra com zelo sua montaria; os povos, assim como os indivíduos, possuem 
apenas uma certa dose de energia, de amor pelo novo, e de vontade para realizar este novo; se 
esta provisão de energia não é administrada, após um tempo de progresso rápido, rápido 
demais, a necessidade de repouso a qualquer preço se faz sentir, um período de torpor é 
temido. 
3º A ordem na marcha de uma tropa permite apenas os movimentos do conjunto; ela 
impede os abandonos dos retardatários, os deslocamentos provocados pela impaciência e pelo 
ardor de uns, e pela lentidão e resistência de outros; ela torna possível a organização de funções. 
4º A Ordem na marcha permite escolher a direção, informar-se, refletir, e não ir 
completamente de forma aventuresca. 
5° Por fim, a ordem na marcha não é uma ordem qualquer, ela obedece a necessidades. 
Primeiramente, é necessário um chefe para manter a coesão da tropa, para prover as funções 
e decidir a direção. A necessidade do chefe, que não parece evidente em um estado de coisas 
imóvel, se impõe, ao contrário, com a marcha em movimento, toda caravana possui seu guia, 
toda embarcação o seu piloto. A autoridade do chefe, ou do governo, qualquer que seja, 
encontra-se em um certo equilíbrio com a obediência mais ou menos voluntária da tropa. Após, 
há regras, para a marcha dos exércitos a experiência dos séculos desenvolveu toda uma 
estratégia. 
Há também uma estratégia nos movimentos de transformação social, ora se avança, 
ora se para, estabelece-se um acampamento para um tempo mais ou menos longo, após parte-
se. 
Esta ordem na tropa social em marcha é o que chamamos de estabilidade. Por certo, 
nós não somos exigentes sobre a estabilidade denossas instituições, nós não temos mais a 
ilusão que de ela represente uma situação de imobilismo, nós estamos mais advertidos e somos 
mais realistas, sabemos que nada é imóvel e que tudo se transforma; nos basta que as 
transformações sejam lentas e uniformes; esta lentidão e esta uniformidade nos permitem de 
gozar sem sobressaltos do momento presente e mesmo de fazer cálculos de curto prazo que 
caracterizam a vida moderna, a significar que tal sorte de estabilidade possui uma estreita 
relação com a liberdade, tal qual a compreendemos. Analisada praticamente, a liberdade 
humana é uma liberdade de empreendimento; ela não se separa da ação e de uma ação que 
possui a necessidade de se desenvolver com vistas a um certo resultado; um empreendimento 
não pode nem antever seu resultado, nem se desenvolver, se o meio é por demais instável, toda 
previsão se faz impossível, e se todo ímpeto cessa. É um fato da experiência que os regimes 
políticos instáveis desencorajam os empreendimentos e tornam, na prática, inúteis todas as 
 
liberdades. 
Assim, a ordem e a estabilidade formam com a liberdade um casal necessário, mas esta 
mesma correlação nos remete à ideia de que a ordem não pode ser imutável; qualquer que seja 
o objeto imediato das atividades humanas, se elas são livres, elas criação criaram o novo, elas 
terão por resultado, próximo ou distante, modificar o estado das coisas do momento. A 
liberdade prática é tomada entre dois limites: é-lhe necessário ordem e estabilidade, mas não 
de forma desmesurada, um movimento é necessário, lento e uniforme. 
III – A ordem na marca das transformações sociais equivale, portanto a uma 
estabilidade das instituições compatível com a liberdade, e se traduz pela noção de movimento 
uniforme. Mas esta não nos fornece ainda o princípio de classificação para o direito público. A 
partir de quais sinais estruturais reconheceremos que uma sociedade política está organizada 
para evoluir em um movimento ordenado e uniforme. 
Na tropa em marcha, uma certa formação nos indica a existência de uma ordem 
estratégica; há a vanguarda, o grosso da tropa, a retaguarda, os guardas de flanco, os batedores; 
o grosso da tropa, quando em formação de batalha, possui uma centro e alas, esquerda e 
direita; entre todos estes elementos há uma ligação e um equilíbrio; a preocupação constante 
do chefe é manter, malgrado os acidentes do percurso, este equilíbrio de forças de forma a 
poder fazer frente ao perigo, venha de onde ele vier, através de simples pivoteamento, ou a 
mudar com agilidade a sua direção. De certa forma, a marcha do batalhão é mais lenta, mas ela 
é mais segura e se faz com todo o conjunto. Assim, uma formação ordenada, fundada no 
equilíbrio, este é o detalhe estrutural que nos aflige; 
A esta ordem de equilíbrio vem juntar-se a ordem hierárquica. Se esta tropa é bem 
conduzida, seu comando seguramente é bem organizado, e o seu chefe a possui nas mãos, pois 
sua autoridade, que é preponderante, se encontra equilibrada pela autonomia necessária de 
seus oficiais, e pela obediência voluntária de seus homens. Aqui ainda, nesta hierarquia, há uma 
formação ordenada fundada no equilíbrio. 
Encontraremos este mesmo detalhe estrutural nas sociedades cujo estado social se 
transforma? Nós a veremos avançar rem formação equilibrada rumo ao eterno desconhecido 
do amanhã? Basta abrir os olhos para se ter a resposta, a particularidade do regime de estado 
é estar em equilíbrio. Era a opinião dos antigos. Após Mommsen, na concepção geral do mundo 
latino-helênico, o Estado, a respublica ou a πολιτεία, se opunham às instituições bárbaras pelo 
caráter regrado de seu governo5. O caráter regrado é o do equilíbrio pela moderação no poder, 
é o τό μέσον de Aristóteles, e o quod decet de Cícero, mas aquela primeira forma de equilíbrio 
não tarda a engendrar outras formais mais externas. Para moderar o poder, é necessário criar 
vários poderes, separá-los e equilibrá-los uns por força dos outros. Utiliza-se, assim, as forças 
de resistência que sempre florescem em um meio social quando um movimento nele se 
desenha. Assim, o princípio do equilíbrio se explicita nas organizações e, com Montesquieu, ele 
se torna a base do direito constitucional dos Estados modernos, por este duplo axioma: não há 
liberdade política sem constituição e não há constituição sem separação dos poderes. 
A constituição dos Estados é a ordem introduzida em sua organização, a separação dos 
poderes é o equilíbrio. Como não há constituição sem separação dos poderes, disto se conclui 
que definitivamente não há ordem nos Estados se não há equilíbrio entre os poderes e isto 
remete a ordem ao equilíbrio. Se Monstequieu explicitamente não formulou esta sequência de 
arrazoados, ela não é menos implicada por força de sua obra, tanto que ele começou por laicizar 
a noção de ordem, a identificando com a « natureza das coisas », tornada por ele móvel, isto é, 
concebida em função do movimento : « estas três potências », diz ele, ao falar dos três poderes, 
« deveriam formar um repouso ou uma inação, mas como, pelo movimento necessário das 
coisas, eles são forçados a prosseguir, eles serão forçados a prosseguir em harmonia6». 
No capítulo seguinte, nós veremos que a ordem obtida pelo equilíbrio dos poderes, 
 
5 Mommsen, Le droit public romain, t. I, 2e édit., trad. franç., liv. I, p. 252. 
6 Eod., liv. XI, ch. vi, de la Constitution d'Angleterre. 
 
desencadeia a criação de « situações jurídica », então estaremos em posse de todas as bases do 
direito público. A ordem realizada nas transformações sociais, graças aos equilíbrios, será seu 
princípio e seu objeto essencial, ao mesmo tempo que seu elemento técnico próprio, serão as 
criações de situações jurídicas. 
A perspectiva da personalidade jurídica do Estado, que conserva ainda um interesse 
capital, será preservada, mas as alamedas preparatórios do direito público serão na direção dos 
equilíbrios fundamentais que permitem ao regime de Estado evoluir em um movimento lento e 
uniforme, conciliando ordem e liberdade, combinando as resistências conservadoras e as 
tendências de progresso e realizando assim situações jurídicas suficientemente duráveis. 
Não é suficiente enunciar proposições desta importância e torná-las verossímeis por 
simples comparações, é necessário de estabelecê-las por provas diretas. Um princípio de 
classificação e de organização em matéria jurídica possui valor apenas pela quantidade de coisas 
em que ele consegue explicar e coordenar; iremos demonstrar as conexões pelas quais os 
princípios de equilíbrio se ligam seja ao conjunto dos fatos sociais, seja ao sistema jurídico. 
II 
1. — Os equilíbrios sociais são inúmeros nas sociedades políticas modernas. Primeiro 
percebemos o equilíbrio entre as forças nacionais e as forças estrangeiras; ele é fundado tanto 
na equivalência de forças próprias de cada país quanto em sistemas de alianças que atuam 
como contrapeso. Limites territoriais marcam o ponto onde se estabelece o compromisso; aqui 
uma das forças antagonistas diz para a outra: você não irá além. - Em segundo lugar, as forças 
do governo no interior de um país, encontram-se equilibradas pela força de reação do corpo 
eleitoral; o governo central equilibra-se com os governos locais descentralizados; dentro das 
engrenagens do governo o equilíbrio pode ser criado, como nos dos governos parlamentares, 
com a separação de um órgão executivo e de um órgão legislativo, repartição de poderes entre 
eles , equilíbrio; a separação da Câmara dos Deputados e do Senado , repartição de poderes 
entre eles , equilíbrio. - E de outros equilíbrios mais fundamentais, embora negligenciados pelo 
direito constitucional, entre as forças políticas e as forças econômicas, entre as autoridades 
civis e militares, entre a vida pública e a vida privada, entre a propriedade pública e propriedade 
privada, entre a atividade da administração pública e empresas privadas, etc. 
Esses equilíbrios sociais sãopara criar um movimento uniforme e lento, para garantir 
a permanência do grupo, para economizar sua vida, ao ritmá-la, como no compasso de um 
pêndulo. A este respeito, os equilíbrios do regime parlamentar são notáveis. Depois de uma 
eleição geral, e chegada ao Parlamento uma maioria impulsionada por uma certa força de 
vontade, dispondo de uma certa quantidade de poder, em quem o país depositou algum 
crédito, trata-se agora de não deixar que esta maioria dissipe de uma só vez toda a sua energia 
e utilize todo seu crédito em um ‘fogo de palha’ legislativo. Por isto irão se estender o 
procedimento parlamentar, múltiplas leituras das propostas legislativas, a obrigação do voto 
idêntico por casas, o jogo das interpelações, as intrigas dos corredores, a luta da minoria contra 
a maioria; todas estas forças de resistência que se equilibram retardarão tão bem o voto das 
leis que os anos passarão em debates, que serão estéreis do ponto de vista legislativo, mas que 
terão permitido à assembleia durar até a expiração de seu mandato. Estes debates, estas 
negociações, estas barganhas irão economizar a sua vida; geralmente a assembleia será usada 
ao final de seus quatro anos, ela precisará se reabastecer no banho eleitoral, mas sem o ritmo 
e o compasso de todos estes equilíbrios parlamentares, ela teria se esgotado ao final de seis 
meses. 
O equilíbrio é tão necessário à longa duração dos organismos políticos que mesmo nos 
mais rudimentares é possível encontrá-lo. Não há governo de horda ou tribo, por mais baixo 
que ele seja na escala política, que não comporte um contrapeso, e é justamente este 
contrapeso que lhe permite durar. O líder tribal negro que corta ele mesmo as cabeças de seus 
súditos possui ao seu lado um feiticeiro; desde que os chefes se cercaram de companheiros 
íntimos, de familiares, de comensais, eles se embaraçam em rivalidades pela disputa de seus 
 
favores; se lhe falta um ministro, imediatamente ele pode contar com outro. 
Quando a constituição da monarquia francesa começou a evoluir de forma tão 
diferente daquela da monarquia inglesa, a partir do século XIV, e que, de semifeudal, torna-se 
absoluta, ante à ausência dos Estados gerais, que não conseguem criar um equilíbrio, não 
vemos então se organizar esta extraordinária resistência política dos Parlamentos Judiciais, 
fundada sob o pretexto da necessidade de registro das ordenações, mas cuja verdadeira causa 
não seria a ausência de um contrapeso? 
E quando, no século XVIII, a monarquia tornou-se incapaz de suportar o controle dos 
parlamentos e quebrar sua resistência, como rapidamente foi levada à sua queda e, por assim 
dizer, ao esgotamento de suas forças! 
É a necessidade de perdurar na estabilidade e de diminuir a velocidade da marcha que 
fez com que se criassem equilíbrios sociais destinados a economizar o poder e a não deixar 
escapá-lo, salvo gota a gota; mas esta economia do poder teve para os indivíduos um aspecto 
bem interessante, que foi chamado de moderação do poder. Assim economizado e destilado o 
poder mostra-se menos opressivo. Em períodos tardios da civilização, muito embora tenham 
sido os equilíbrios políticos criados com reflexão, eles o foram deliberadamente para moderar 
o poder e por conseguinte para garantir a liberdade. Tal é a preocupação de Montesquieu 
quando ele descreve a constituição da Inglaterra e sua separação dos poderes. Mas é bom saber 
que se a moderação do poder e a garantia da liberdade foram o fim refletido dos homens 
quando eles estabeleceram o equilíbrio social, a necessidade de assegurar a duração foi seu 
móbil instintivo. 
De resto, a criação dos equilíbrios do regime de Estado é observável apenas nas 
sociedades políticas abertas a mudanças, pois ela é visivelmente um remédio procurado para 
o fluxo muito rápido de novidades. Nem todas as sociedades humanas são igualmente 
suscetíveis de mudança, isto é, igualmente vívidas ou igualmente progressivas. Bagehot notou 
que, mesmo entre os povos aptos às mudanças, há períodos de imobilidade relativa e outros, 
ao contrário, de transformações rápidas7. É nas épocas de ruptura com os costumes antigos, 
nas épocas de crise e de renovação, que os equilíbrios de um regime de Estado aparecem para 
reconstruir a estabilidade faltante e, através dela, um sentimento de duração. 
De outra banda, se em excesso, os equilíbrios do regime de Estado podem contribuir 
para uma obstrução aos períodos de mudança; sem jamais alcançá-la completamente, eles 
tendem à imobilidade pelo excesso de regulamentação da vida social, eles esgotam a faculdade 
de transformação que é a vida mesma do sistema e, na tentativa de prolongar sua duração, 
eles se arriscam a dar-lhe um fim. 
Assim, a busca pela estabilidade cinge-se, ela mesma, em uma busca pela justa 
medida. Há sociedades são tão pouco vívidas, tão sufocadas pelo torpor do costume, que a 
necessidade de equilíbrio nelas não se faz quase sentir. Quando as transformações sociais são 
colocadas em movimento, os equilíbrios são criados para diminuir a velocidade do movimento; 
eles se organizam espontaneamente utilizando-se das resistências que todo movimento 
ocasiona em torno de si no meio onde ele se desenvolve; os equilíbrios não são nada além de 
resistências equilibradas. Mas se eles, por sua vez, exageram, o movimento para. A sociedade 
que primitivamente não possuía uma história, que, em seguida, teve uma história muito agitada 
e depois uma história mais regrada, corre o risco de retornar a um torpor próximo daquele de 
seu início. Com a diferença que a imobilidade do início era uma espécie de infância cheia de 
promessas e de potencialidades, ao passo que a imobilidade do fim da vida é uma velhice; 
porque a duração dos povos, como a dos indivíduos é um movimento irreversível, a velocidade 
do movimento pode ser reduzida, mas sua direção e sua conclusão inevitáveis não podem ser 
alteradas8. 
 
7 Bagehôt, Lois scientifiques du développement des nations. 
8 Les idées qui précèdent présentent une certaine analogie avec celles que M. Bergson a exposées dans son livre récent 
L'Évolution créatrice, Paris, 1907. Je suis d'autant plus à l’aise pour examiner le rapprochement qui doit être opéré entre 
 
II — Os equilíbrios não asseguram somente a duração e o movimento uniforme dos 
sistemas sociais no interior dos quais eles se criam, eles lhe condicionam também a 
organização. Eles não são apenas fatores de duração, eles são fatores de organização, e aqui 
é talvez o aspecto mais interessante do assunto. 
Chamamos de organização de um sistema uma separação dos agentes combinada com 
uma diferenciação de suas funções. Um sistema é organizado quando os agentes separados 
assumem funções diferenciadas relativas à vida do sistema. De ordinário, nós remetemos o 
fenômeno da organização ao da divisão do trabalho e a divisão do trabalho, ela mesma, à lei do 
menor esforço, mas parece que teria de se promover a revisão desta explicação para se fazer 
espaço para a criação dos equilíbrios. Faltaria distinguir no fenômeno da organização social 
duas fases, a da separação dos agentes e a da diferenciação das funções e se a segunda fase 
está sob a égide da divisão do trabalho e da lei do menor esforço, a primeira, ao contrário, está 
sob o império da tendência a se equilibrarem as forças e os poderes. Em outros termos, os 
 
les deux conceptions qu’elles procèdent de deux lignes de développement indépendantes, mes études actuelles sur le 
régime d'État n’étant que le prolongement des études sociales dont j’ai publié des fragments, en 1806, sous le nom de 
La Science sociale traditionnelle, et, en 1899, sous le nom de Leçons sur le mouvement social. 
 
Voici, d'ailleurs, si je sais bien l'exprimer, en quoi nos deux positions se rapprochent et en quoi elles se séparent. D'après 
M. Bergson, il y aurait dans la nature un élan vital qui se caractériserait par une création continuelle de nouveau et qui, 
par là, créerait la durée dans son mouvementirréversible. Il convient, en effet, d'observer que la notion de temps ou de 
durée est irréversible : la durée va du passé à l’avenir, elle a une direction dont elle ne peut pas changer, le temps est 
un fleuve qui coule et ne peut remonter vers sa source. Cette direction est vers le nouveau, créer toujours du nouveau 
est le propre du temps et aussi le propre de la vie. Là-dessus je suis d’accord avec lui. Je suis encore d'accord avec lui 
lorsqu’il remarque que, dans l'esprit de l'homme, l’intuition et l’instinct sont dans le sens de la vie plus qui l'intelligence, 
qui est d’allure trop géométrique. Le recours à l’instinct el à l'intuition est même ce que j’avais essayé d’organiser sous 
le nom de recours à la tradition sociale ou à la révélation sociale dans ma Science sociale traditionnelle ; je n’ai pas besoin 
de dire que c'était sans aucune prétention philosophique. 
 
Voici maintenant ce que l’observation directe du régime d’Élat me paraît révéler d'un peu différent. Je ne dis pas que ce 
soit contradictoire, mais seulement que c’est différent : 1° Ce qui paraît préoccuper les hommes dans le régime d'État, 
ce n’est pas seulement d’assurer la vie des systèmes sociaux en tant qu elle consisterait en une création continuelle de 
nouveautés, c'est aussi et surtout de ralentir et de régulariser ce mouvement d'écoulement des nouveautés de façon à 
procurer le sentiment de la stabilité qui est un bien indispensable pour la vie sociale. Dès lors, on est en droit de se 
demander si la notion de temps ou de durée peut, en effet, se séparer d’une certaine notion de stabilité sans laquelle la 
durée s’écoulerait tellement vite qu’elle s’évanouirait et ne constituerait plus pour la vie sociale un bien suffisant. Sans 
cette correction, la doctrine de M. Bergson risque de s’achever logiquement dans celles du «mobilisme » pur présentée 
par M. Chide (Le mobilisme moderne, Paris, Alcan, 1908). En tout cas, ce que le droit appelle des biens (bona quod beant), 
les choses, les objets de propriété, ne se constituent que grâce à la stabilité du milieu social. En d’autres termes, la 
création du nouveau paraît correspondre admirablement à ce qu’il y a d’irréversible dans le temps, mais elle ne paraît 
pas aussi explicative de ce qu’il y a en lui de durable et de stable. — 2° Il est remarquable que la stabilité soit obtenue 
dans le régime d'État par des équilibres de forces qui sont une utilisation des résistances que l'élan social rencontre sur 
sa route dans son milieu, utilisation qui est en partie réfléchie et intelligente, mais qui est encore bien plus intuitive et 
instinctive. Cela tendrait à faire croire que la notion de temps et les relations qu’elle soutient avec la vie sont plus 
complexes qu’il ne paraît à M. Bergson. Il y aurait à expliquer comment il se fait que la vie instinctive et intuitive ait 
besoin, non seulement de l’écoulement du temps, mais de sa stabilité relative. Je me garderai bien de poser le problème 
en ses termes philosophiques, ce qui n’est pas mon affaire, je me borne à le signaler dans les faits. 
La notion de la stabilité par le mouvement uniforme des transformations sociales peut d'une certaine façon être 
attribuée à Auguste Comte auquel il faut toujours remonter. Non seulement il distingue le statique et le dynamique, 
mais il sait bien qu’il faut combiner les deux idées et qu’il ne saurait y avoir de stabilité qu’à l’intérieur du mouvement; 
dans un passage fort intéressant il dit que : si le mouvement qui entraîne les systèmes sociaux, n’obéissait pas à des lois, 
les lois statiques elles-mêmes disparaîtraient, ce qui est impossible (Cours de philosophie positive, 5e édit. 1892, IV, 299-
301; Cf. Alengry, Essai sur la sociologie dans Auguste Comte, 1899, p. 156). En revanche, je ne croîs pas qu’on puisse lui 
attribuer la donnée des équilibres. Sans doute il insiste sur le dualisme du pouvoir spirituel et du pouvoir temporel qu’il 
considère comme une séparation et un équilibre (Considérât, sur le pouvoir spirituel, op. 1826, Syst. polit., IVe 
appendice). Mais dans son système général il assure l’ordre par la hiérarchie et par l’ascendant de la science sociale 
plutôt que par des équilibres de pouvoir (Cours de. philosophie posit., VI, pp. 556, 559). 
 
Je saisis l’occasion d’avertir que la création d’équilibres de forces en vue d’obtenir la stabilité ou l'écoulement lent et 
uniforme de l'énergie propre d’un système n’est pas particulière aux systèmes sociaux. On l’observerait aussi bien en 
psychologie positive à propos de la synthèse mentale, qui est toute faite d’équilibres (Cf. Georges Dwelshauvers, La 
Synthèse mentale, Paris, Alcan, 1908) ; on l’observerait aussi en biologie, car les organismes vivants sont d'admirables 
systèmes équilibrés. Si je ne crois pas utile d’user de ces analogies, c’est qu’il est superflu de renforcer le plus par le 
moins. C’est en matière sociale que le phénomène de l’organisation des équilibres est le plus apparent et que sa véritable 
raison d’étre se révèle le mieux. Ce sont la psychologie et la biologie qui auront à invoquer les exemples tirés de la 
matière sociale. 
 
órgãos sociais não se separam porque suas funções tendem a diferenciar-se, mas eles se 
separam para limitar os poderes, e começam por equilibrar as suas forças. É apenas após que, 
separados pelo equilíbrio de poderes, os agentes se inclinam rumo a funções sociais 
diferenciadas, menos talvez, como tenha observado M. Durkheim, para atenuar os esforços do 
trabalho do que para diminuir as rivalidades de poder, ao escolher modos de atividade 
diferentes. 
Esta importante observação merece ser verificada separadamente na organização 
política e na organização econômica: 
a) Em organizações políticas, a separação de órgãos governamentais aparece 
essencialmente como uma separação de poderes e como um equilíbrio de forças, a 
diferenciação de funções é secundária. De fato, em uma evolução política que se produz de 
forma espontânea, e não consideramos que, neste caso, o fenômeno comporte duas fases: em 
uma primeira, os poderes se separam por se equilibrar; em uma segunda, os poderes separados 
terminam, após um tempo mais ou menos longo, por se especializar em funções diferencias. Se 
não há uma organização verdadeira a menos que a diferenciação de suas funções já tenha 
ocorrido, é no mínimo interessante saber que ela só acontece após a separação e um equilíbrio 
de poderes, e que, assim, o equilíbrio de poderes é o caminho que conduz à organização 
política. De outra, mesmo que a diferenciação das funções já tenha ocorrido, de fato, para s 
órgãos políticos, o equilíbrio dos poderes ainda remanesce como a questão principal. 
A segmentação dos poderes políticos em vista do equilíbrio, sem qualquer ideia prévia 
de diferenciação das funções, aparece notadamente na instituição da dualidade de 
magistraturas similares. Note-se que estes magistrados similares são já órgãos, mas estes 
órgãos não os diferenciamos e nos limitamos a separá-los. Esta separação é principalmente para 
reduzir e moderar, e apenas subsidiariamente será ela a base sobre a qual se operará a 
diferenciação. 
Outros exemplos: substituição pelos patrícios romanos de um rei único por dois 
cônsules, com poderes iguais (par majestas), com o intuito de se promover um equilíbrio 
político e de moderação do poder. Outros exemplos: edis, censores, pretores9. 
A dualidade de magistraturas é ela própria apenas um caso particular de colegialidade, 
que é a tradição nas constituições republicanas. Tão logo um Conselho tenha sido colocado à 
frente do governo, no interior do Conselho, ou de seu Diretório, cujos membros são igualmente 
magistrados, cria-se um equilíbrio, seja porque cada um dos membros do Conselho litiga pelo 
seu interesse, seja porque se desenha uma maioria e uma minoria que se opõem uma a outra, 
apenas sobre a base deste equilíbrio criado é que aparecem as especializações de funções que 
nós observamos nas instituições atuais. 
Das constituições antigas, a dualidade de magistraturae a colegialidade passaram para 
as constituições modernas. A colegialidade, com as deliberações que ela acarreta, pode ser 
encontrada em nossas assembleias legislativas e administrativas, e assim também no Conselho 
de Ministros. A dualidade de magistratura similares pode ser encontrada na dualidade de 
câmaras legislativas (Senado e Câmara dos deputados). 
O direito constitucional conhece uma outra separação dos poderes, na qual, desde 
o início, os órgãos são diferenciados por suas funções; é ela própria a mais célebre a do 
poder executivo, legislativo e judiciário. Primeiro, esta diferenciação é recente; depois, é 
notável que, malgrado a diferenciação real de funções, esta organização continua a ser 
chamada separação dos poderes, e que cada um dos órgãos diferenciados, ao invés de ser 
chamado apenas de órgão, continua a ser chamado de poder. Diz-se poder legislativo, 
poder executivo e poder judiciário, e não órgão executivo, órgão legislativo e órgão 
judiciário. A razão de ser do direito constitucional é que estes poderes separados possuem 
entre eles, na verdade, tanto relações de poder, quanto relações de funções, e que, ao 
executar a sua função, cada um deles luta não somente por sua independência, mas pela 
 
9 Sur cette matière, voy. dans le Droit public romain de Mommsen, t. I, l’admirable étude sur la magistrature. 
 
soberania, isto é, pelo poder supremo. E assim, o direito constitucional está 
constantemente à procura de um duplo ideal, um equilíbrio entre as funções, mas também 
um equilíbrio entre os poderes.10 
Esta esfera de poder que subsiste em torno das regras constitucionais é a explicação 
de um fenômeno bem conhecido na história do direito público, a saber, que as constituições 
estabelecidas de forma científica demais ou radical demais, sobre a base das diferenciações de 
função, se mostraram sempre impróprias à vida. Se o órgão legislativo não pode fazer 
absolutamente nada além de elaborar leis, e se o órgão executivo nada pode fazer além de 
executá-las, a constituição não funcionará de forma alguma, ou bem um dos órgãos absorverá 
o outro, pois, para salvaguardar a autonomia de sua própria vida, cada um destes órgãos tem 
a necessidade de formas diversas de poder; tem a necessidade tanto de editar regras quanto 
de participar na sua execução. É por isto que o órgão executivo possui a necessidade de poder 
regulamentar e também da jurisdição administrativa; e por isso também que o órgão legislativo 
possui o poder de intervir na aplicação da lei pelo jogo das interpelações e das influências 
parlamentares11. 
Para a reflexão, o processo histórico que conduz os órgãos à diferenciação de funções, 
passando pela separação dos poderes, parece bastante explicável. Antes de se especializar em 
funções, é necessário que os órgãos afirmem a sua individualidade própria e é necessário que 
eles continuem a afirmá-la mesmo quando eles tenham assumido funções diferenciadas; ora 
uma individualidade não se afirma praticamente que pelo exercício do poder ao seu redor, e 
por consequência, por uma esfera de poder. Tanto em órgãos coletivos como no exercício de 
sua individualidade, os homens não começaram por se especializar em suas funções 
econômicas ao longo dos séculos, eles afirmaram a sua individualidade nas batalhas. A era das 
guerras, que Spencer colocava antes da era das indústrias, na história da humanidade, é lá o 
período de exercício do poder para o poder. Os homens começaram por lá, e não há nada de 
surpreendente que os órgãos coletivos comecem por lá também. Num primeiro momento, as 
organizações de poder lutam uma contra as outras e se equilibram, e apenas mais tarde, elas 
se diferenciam. 
― Corolários aplicáveis à política a partir das observações precedentes: 
A política deve ser definida como a ciência e a arte do equilíbrio do poder. Ela tem 
por objeto o equilíbrio de poder em suas relações com a estabilidade e o funcionamento do 
governo, com a manutenção e o desenvolvimento de unidade nacional. A duração do governo, 
a manutenção da unidade nacional são os objetivos que propõe o homem político, os meios 
que ele emprega são os equilíbrios de poder, e como os meios utilizados em uma arte qualquer 
são o objeto essencial da ciência relativa a esta arte, segue-se que os equilíbrios de poder são 
o objeto essencial da ciência política. A ciência política quase não é ensinada em sua substância 
real, que é a ciência do governo. Ela não é ensinada porque não se soube extrair 
convenientemente seu verdadeiro objeto. A máxima maquiavélica "dividir e conquistar" 
 
10 Nous reprendrons cette question au chapitre X consacré aus équilibres constitutionnels. 
11 Dans la série des chapitres où Montesquieu aborde la séparation des pouvoirs il se préoccupe principalement de la 
modération du pouvoir et de ta liberté. 
Livre XI : «Des lois qui forment la liberté politique dans son rapport avec la constitution». 
Chapitre iv « Pour qu’on ne puisse abuser du pouvoir il faut que, par la disposition, des choses, le pouvoir arrête le pouvoir 
». 
Tout le long chapitre vi, consacré à ia constitution d’Angleterre, est animé par la préoccupation de l’équilibre des 
pouvoirs. «Voici donc la constitution fondamentale du gouvernement dont nous parlons. Le Corps législatif y étant 
composé de deux parties : l’une enchaînera l’autre par sa faculté mutuelle d’empêcher. Toutes les deux seront liées par 
la puissance exécutrice, qui le sera elle-même par la législative. — Ces trois puissances devraient former un repos ou 
une inaction. Mais comme par le mouvement nécessaire des choses elles sont contraintes d’aller, elles seront forcées 
d’aller de concert». L’histoire montre d'ailleurs que les pouvoirs constitutionnels, aujourd'hui différenciés, ont été 
autrefois des pouvoirs similaires. Si l’on remonte dans l’histoire du régime parlementaire anglais jusqu’au treizième 
siècle, on arrive à un organe unique, la curia regis ou le magnum concilium, qui, à un moment donné, s’est coupé en 
deux morceaux très semblables dont l’un est devenu le Parlement ou du moins la Chambre des lords, tandis que l'autre 
restait le Conseil du roi et devait évoluer vers le Conseil des ministres. — Cf. Esmein, Éléments de droit constitutionnel, 
1re partie : «La liberté moderne» ; titre Ier : «institutions et principes fournis par le droit de l’Angleterre», passin; 
spécialement, p. 77 et 120, 3e édit. 
 
exprime ainda o essencial. Esta proposição parece escandalosa e brutal, porque ela remete a 
preocupações rasteiras de sucesso imediato e a qualquer preço. Mas esta máxima pode ser 
enobrecida e transfigurada se nós unimos a divisão e a separação de forças com a ideia de 
equilíbrio, se observamos que o estadista deve dividir apenas para equilibrar e também que 
dividindo e equilibrando os poderes, não somente ele faz durar seu governo, mas ele organiza 
o Estado 
Nesta perspectiva, a política aparece como a força organizadora. 
E este é mesmo o critério de uma boa política e ruim: a boa política, ao dividir forças, 
usa-as para criar organizações sociais; a má política divide forças, mas sem as utilizar, ao 
contrário, busca neutralizá-las e destruí-las, e, portanto, não cria uma organização social. Esta 
última divide e conquista no sentido egoísta e baixo da máxima, mas pode-se e deve-se dividir 
para criar. 
Se ciência política não se ordenou ainda teoricamente de acordo com essas ideias 
diretrizes, por outro lado, a prática as tem sempre seguido. Nenhum governo jamais durou, 
sem que praticasse um jogo alternado de interesses entre os partidos. Os homens que chegam 
ao poder, até mesmo os mais intransigentes, muito rapidamente se suavizam e logo se 
acostumam a contar, por vezes, com a esquerda, por vezes, com a direita, por vezes, com os 
agricultores, por vezes, com os industriais, por vezes como os produtores de açúcar, por vezes 
com os viticultores. E não é só nos governos parlamentares, mas em todos, mesmo onde não 
há partidos políticosorganizados, há a camarilha da corte, os Colbert e Louvois, que para se 
manterem nos favores de Louis XIV, logo aprendem a andar na corda bamba. 
O regime do Estado, tomado em seu conjunto, e observando-se que ele se encontra 
envolvido com forças sociais que não lhe são muito favoráveis, sempre seguiu, para se 
perpetuar, a política de divisão dessas forças. Veremos também que ele é essencialmente um 
regime de separação: ele separou as forças políticas das forças econômicas, ele separou o 
poder civil do militar e da autoridade religiosa, ele separou os poderes governamentais, etc. 
Via de regra, apenas depois de ter dividido as forças, ele se esforça para as utilizar, para as 
coordenar, e para criar com elas os equilíbrios12. 
Os problemas da política constitucional são inerentemente problemas de equilíbrio, 
e sente-se um pouco de decepção ao vê-los sendo tratados sob outros pontos de vista, por 
exemplo, sob o ângulo da teoria abstrata da soberania ou do sistema representativo. 
Uma questão como essa da organização do poder executivo e seu papel em face do 
poder legislativo não deve ser tratada do ponto de vista da execução abstrata da lei, mas do 
ponto de vista dos equilíbrios de poder e registramos com prazer que ela tinha sido assim 
colocada pelo Sr. J. Barthélémy em seu excelente livro, Rôle du pouvoir exécutif dans les 
républiques modernes13. 
 
Finalmente, não há na política apenas problemas específicos, há um problema geral 
de orientação. O ponto de vista dos equilíbrios ainda fornece aqui informações valiosas, ele 
ensina sobre a direção do movimento. A história nos ensina que as sociedades que vivem sob 
um regime de Estado marcham mais ou menos rapidamente, mas com um movimento 
irreversível, da aristocracia para a democracia, passam, portanto, da desigualdade social a um 
regime igualitário. O conceito dos equilíbrios fornece uma simples explicação deste fenômeno, 
desde que combinados com outros dados, o de que um sistema social começa com uma certa 
quantidade de energia fornecida geralmente pela raça e pelos recursos económicos do país, 
 
12 Je n'ai parlé que de la politique nationale ; mais la politique internationale est visiblement dominée, au moins depuis 
la fin du xvme siècle, par le souci de l’équilibre européen. Cf. Donnadieu, Essai sur ta théorie de l'équilibre, Paris, 1900 ; 
compte rendu de M. Politis dans la Revue de droit international public, 1901, p. 84 ; Delpech, Les procédés de l'équilibre 
international (Bulletin de la Société Gratry, 1908) ; Pillet, Recherches sur les droits fondamentaux des États, Paris, 1899 ; 
Tardieu, La France et ses alliances, la lutte pour l'équilibre, Paris, 1909. 
13 Paris, Giard et Brière, 1907. Introduction et conclusion. 
 
energias que dificilmente serão aumentadas posteriormente e serão apenas repartidas. 
A primeira distribuição de poderes operada em uma sociedade com laços frouxos, na 
qual os equilíbrios não são ainda muitos, onde talvez uma raça conquistadora subjugou uma 
raça vencida, é forçosamente desigual, e, assim, estabelece-se uma aristocracia. Então, a 
medida que a sociedade se consolida e aumenta, a tendência ao equilíbrio dos poderes ganha 
força; e a tendência ao equilíbrio dos poderes, não se deve dissimular, é a tendência à 
igualdade. As ideias igualitárias se constituem e passam para os fatos. A aristocracia é dissolvida 
para abrir caminho para a classe média, e esta, por sua vez, conflui para uma democracia que 
gradualmente admite a igualdade de poder para as camadas mais baixas da população. 
Esta é, para a política, a direção do movimento, e a orientação é à esquerda; não se 
pode alterar a direção da corrente, assim como não se pode fazer refluir as águas de um rio, 
apenas uma sábia política pode e deve abrandar o movimento, economizá-lo o máximo 
possível, usá-lo para criar instituições que são freios ou amortecedores. Porque? Porque a 
igualdade absoluta dos poderes é um limite e que esse limite, uma vez atingido, irá marcar o 
fim da instituição política; porque a energia própria do sistema social se esgotará, sendo 
totalmente distribuída entre todos os indivíduos, e porque o individualismo excessivo trará a 
dissolução do sistema. 
b) A fim de observar corretamente o papel dos equilíbrios na organização econômica, 
é necessário concentrar a observação sobre a empresa de produção que é o verdadeiro agente 
económico concreto. Em seguida, percebe-se que a diferenciação funcional das empresas de 
produção é precedida e acompanhada por um fenômeno de separação, que é, sob certo 
aspecto, uma forma particular de separação e equilíbrio de poderes e interesses. 
Em primeiro lugar, o empreendimento econômico é possível apenas se fundado em 
uma autonomia pré-existentes, que se traduz juridicamente pela posse dos meios de produção 
e produtos. Esta autonomia, com base na propriedade individual, cria, para cada empresa, uma 
esfera própria de influência e separa os empreendimentos uns dos outros. 
Em seguida, cada empreendimento econômico tem a ambição de criar uma clientela, 
um volume de negócios, de aumentar constantemente este volume de negócios e expandir seus 
lucros, todos estes, novos elementos que irão fortalecer a sua própria esfera de influência. 
Desta ambição do poder econômico nasce a concorrência. A competição mostra-se um 
fenômeno impossível de ser encartado no quadro da explicação da organização económica, se 
o fazemos com base exclusivamente na divisão de trabalho; a concorrência é estranha à divisão 
de trabalho, é uma luta de interesses e poderes e não uma luta de funções. São sobretudo as 
empresas similares que competem. No entanto, a competição sozinha pode explicar a 
organização, para se limitar, ela caminha para os acordos, para os cartéis, para os trusts que são 
equilíbrios criados entre potências industriais e comerciais. É verdade que destes acordos, 
seguindo-os, surgirão algumas vezes especializações funcionais, especialmente entre os trustes; 
a divisão de trabalho irá aparecer como a maneira de conciliar as várias ambições, alterando as 
atividades. Das várias fábricas de papel que formaram um truste, uma se especializará em polpa 
de madeira, outra em papel de palha, uma terceira em papel de chiffon. 
Assim, a divisão do trabalho, com ou sem acordo prévio, parece ocorrer, na indústria e 
no comércio, mais em razão da preocupação em se evitar a concorrência do que em razão do 
menor esforço no trabalho. A especialização é precedida e condicionada pela luta de interesses 
e poderes e, muitas vezes por equilíbrios. 
 
Como o estudo da organização económica é o verdadeiro objeto da economia 
política, se é verdade que o equilíbrio de interesses e poderes económicos são o 
principal agente dessa organização, eles devem, portanto, também se tornar o 
principal objetivo da ciência. Sem dúvida, os economistas já sentiram a importância 
do princípio do equilíbrio, mas eles não ainda não o colocaram em seu verdadeiro 
lugar, que é o primeiro; Ele deve ser incluído na definição de economia política, que 
 
se tornaria a ciência do equilíbrio na produção e na distribuição da riqueza tendo -se 
em conta a organização económica da sociedade 14. 
Basta passar rem revista os problemas económicos mais importantes para 
perceber que tudo depende de questões de equilíbrio. Vimos que a concorrência 
guarda os interesses e os poderes que procuram se equilibrar ; os problemas da 
organização do trabalho, salário, capital, guardam também questões de equilíbrio 
entre os fatores de produção, ou seja, entre as funções. Mas é especialmente o 
equilíbrio de interesses que é o grande problema da política de economia, e podemos 
dizer que a crença na tendência natural de equilíbrio de interesses objetivamente é 
seu postulado. 
O problema do valor é um problema de equilíbrio entre os interesses, uma 
vez que que o valor das coisas se resume à igualdades da utilidade final. O fenômeno 
de troca e todos seus derivados são baseados no equilíbrio deinteresses, a circulação 
de moeda, os bancos de emissão, o câmbio, comércio livre ou proteção, todos esses 
fenômenos, todas estas instituições, todos estes sistemas, fundam -se no equilíbrio 
entre valores, entre utilidades, entre interesses 15. 
Seja para explicar o jogo da lei da oferta e da procura, ou seja, os fenômenos 
de oscilação que se produzem em um mercado em torno da definição de preços. O 
raciocínio vai assumir que essas oscilações ocorrem em torno de um ponto de 
equilíbrio. Se as ofertas de bens são muitas e as solicitações são r aras, o preço das 
mercadorias irá cair para um ponto extremo, onde o preço vai se recuperar, porque 
o baixo valor vai atrair novos compradores e novas aplicações. Se, pelo contrário, 
existem muitos pedidos de mercadorias, e estas são em pequenas quantidade s, o 
preço das mercadorias subirá até outro ponto extremo, onde estes preços elevados 
irão determinar um afluxo de novos produtos no mercado ; o preço justo é o 
intermediário entre estes dois extremos, ele marca o ponto onde a oferta e a procura 
estão substancialmente em equilíbrio. 
Por fim, o problema da distribuição da riqueza, claramente só pode ser 
resolvido por combinações de equilíbrio entre a iniciativa individual e a intervenção 
do estado, entre a propriedade individual e o comum. Sistemas absolutos não tem 
qualquer chance de se realizarem completamente, não mais o individualismo que o 
coletivismo, pela boa razão que eles são a s forças opostas irredutíveis, em que uma 
bem podem dominar a outra, mas não podem se destruir completamente. 
III 
O ponto de vista do equilíbrio não tem menos importância no sistema jurídico 
do que nas diversas práticas da vida social. A justiça, para quem a balança é de um 
simbolismo profundo, desperta imediatamente no espírito ideias de equilíbrio. A 
justiça distributiva é prontamente igualitária, a justiça comutativa visa apenas a 
equivalência dos benefícios trocados ou a compensação pelos danos causados. 
O primeiro processo do direito, quando interposto entre os homens para 
resolver conflitos, consist iu em equilibrar as pretensões das partes e decidir entre 
 
14 On peut observer que la notion de l’équilibre figure implicitement dans celle des «rapports des hommes» que l’on 
tend à introduire dans la définition de l'économie politique, mais l’allusion est trop lointaine. 
15 La question de la monnaie-signe ou de la monnaie-marchandise n’est évidemment pas susceptible d’une solution 
absolue dans un sens ou dans l’autre, la monnaie est à la fois une marchandise et un signe, et il y a un rapport d'équilibre 
entre le degré où elle est un signe et celui où elle est une marchandise. 
La question de l’étalon monétaire (monométallisme ou bimétallisme), au dire des bimétallistes, recèle aussi un 
équilibre à établir entre deux métaux. 
La question du libre-échange et de la protection ne peut visiblement être solutionnée que par un équilibre pratique 
entre les deux tendances, équilibre lié à beaucoup d’autres, dont les uns sont politiques, les autres économiques, les 
uns nationaux, les autres internationaux, etc., etc., et qui se traduit par la politique des traités de commerce. 
 
elas por meio de arbitragem 16. Mais tarde, quando o árbitro tornou-se um juiz, 
aplicando à resolução do litígio uma regra de direito, esta regra de direito em si é o 
produto de um equilíbrio entre muitos elementos sociais. O equilíbrio é, portanto, a 
finalidade da lei, mas qual equilíbrio? A política equilibra sobretudo os poderes a 
economia política sobretudo os interesses, quais elementos sociais o direito 
equilibra? Nós já fizemos pressentir, que ele vá de uma certa maneira equilibrar tudo. 
A síntese que persegue o direito é a ordem completa da conduta social dos homens ; 
ela é total ao ser especial, por isso mesmo o é para a conduta, mas para qualquer 
conduta. Este caráter de ser especial e total ela a realiza de três manei ras: 
Primeiro, o direito persegue na sociedade a realização da paz. A paz é uma 
síntese total da sociedade, e não no sentido de que ela não seria suscetível de 
gradações, uma vez que, ao contrário, pode haver mais ou menos paz, mas no sentido 
de que ou bem todos os elementos sociais envolvidos participam da paz, ou bem esta 
pode ser rompida em razão de um elemento qualquer. A paz é uma síntese especial 
da sociedade no sentido de que lá se funda no sentimento do direito. A propósito da 
paz internacional, os pacifistas de hoje já estão acostumados a defender a paz por 
meio do direito, mas isto não é uma novidade; a verdadeira paz, aquela que não é 
uma trégua temporária, que é consentida e não imposta pela força, essa paz, nacional 
ou internacional, sempre foi uma paz através do direito. Devemos colocar um axioma 
de que a sociedade não tolera a injustiça, ou pelo menos que há uma certa dose de 
injustiça que ela não tolera sem revolta e sem romper a paz pelo conflito. O fenômeno 
concreto da paz social está ligado à realização da síntese jurídica. 
Em segundo lugar, o direito tende a equilibrar uns com os outros sistemas 
sintéticos dos direitos, os indivíduos e a própria sociedade tornam -se para ele 
sistemas de direitos. Por um lado, esta é uma síntese especial, por que é uma maneira 
especial de pensar o homem ou a sociedade, ao vê -los sob o aspecto dos sistemas de 
direitos Por outro lado, esta síntese é total, pois é toda a sociedade, todos os homens 
e todas as situações que são assim reunidos nestes sistemas de dire itos. 
Notadamente, no sistema dos direitos sociais, o direito enxerga toda a sociedade na 
complexidade de suas relações políticas, económicas, intelectuais, religiosas, 
mundanas, e é necessário que todos estas manifestações diversas se ajustem. Da 
mesma forma, nos sistemas de direitos individuais, ele enxerga todo e qualquer 
homem, não apenas o homo politicus, ou o homo economicus, ou o homo religiosus, mas 
sim o homo universalis. Trata-se aqui de equilibrar uns com os outros estes mundos 
individualistas e o mundo social. A preocupação da totalidade da síntese é tal que ele 
fornece ao sistema jurídico um procedimento de justificação de direitos. 
O que o indivíduo reclama como um direito, é uma vantagem particular que 
ele considera essencial para sua própria síntese ou a do seu património, e a prova 
disso é que, por uma decisão fundamentada, ele irá envolver toda a sua pessoa e todo 
o seu patrimônio para tentar realizar o direito. Ele irá arriscar o todo para obter 
apenas uma parte. Nações ou povos jogaram o seu destino em condições análogas 
para realizar um de seus direitos. O risco total corrido é o fundamento do direito para 
se fazer justiça ou se obter justiça. 
Enfim, a síntese jurídica é total e também especial, ainda que de forma 
diferente. Após ter reduzido por análise todas as forças que movem a sociedade, 
tanto em matéria política quanto econômica, o sistema jurídico analisa os próprios 
direitos, quer quanto aos interesses, poderes ou funções e ele não se limita, como 
na política, a equilibrar os poderes com os poderes, ou, como na economia política, 
os interesses com os interesses, sua originalidade é equilibrar, no interior de cada 
direito, em uma proporção definida, os interesses, poderes e funções. 
 
16 La nature et le rôle de l’arbitrage conçu comme créant du droit par cela, seul qu'il équilibre les prétentions des 
parties ont été bien mis en lumière par M. Gaston Richard dans sa thèse de doctorat ès-lettres sur L'Origine de l’idée 
de droit, Paris, 1892. 
 
Em nosso desenvolvimento, vamos começar por estudar o caráter sintético 
dos direitos; daqui, chegaremos aos dois conjuntos sintéticos que o direito procura 
organizar, a sociedade e o indivíduo. Finalmente, estudaremos a técnica do sistema 
jurídico. 
- Todo direito é uma síntese de três elementos combinados em proporções 
variáveis, onde nenhuma delas nunca está completamente ausente: o interesse, o 
poder e a função, não há direito sem interesse, nãohá direito sem poder de decisão, 
não há direito se o poder exercido para satisfazer um interesse não cumpre ao 
mesmo tempo uma função social; o sistema jurídico mantém vigorosamente este 
postulado triplo: 
(a) não há direito sem interesse, o direito é basicamente um interesse ao 
qual veio se juntar outros elementos; não diremos como Ihering que direitos "são 
apenas interesses juridicamente protegidos", esta definição é uma simplificação 
demasiado grande das coisas, mas seria um exagero, no sentido oposto, negar o 
elemento de interesse sob o pretexto de que há outros no direito. Os interesses são 
vontades práticas dos homens que tem por propósito satisfazer as suas 
necessidades; eles estão submetidos a lei do propósito, eles não são causados 
mecanicamente pelas necessidades, são meios de atender às necessidades que já 
foram selecionadas pelos humanos. Se, em um distri to, há problemas na venda de 
produtos agrícolas porque o tráfego é difícil, há uma necessidade de canais de 
comunicação; mas esta necessidade pode ser atendida em muitos aspectos, pela 
construção de uma estrada por um trem eléctrico ou por uma estrada de ferro. 
O sistema jurídico inscreveu a necessidade de interesse no direito no 
frontispício do procedimento através desta máxima: "não há nenhuma ação sem 
interesse ». No entanto, a ação, sendo a sanção normal da lei, equivale dizer: sem 
interesse não há direito. 
Existem direitos, ou quando menos poderes tratados como direitos, nos quais 
o elemento de interesse permanece fortemente dissociado dos outros elementos, 
nós encontramos esta espécie especialmente no direito administrativo. Os poderes, 
graças aos quais a administração central estatui, quer sobre os assuntos dos governos 
locais, quer sobre aqueles dos administrados, por meio da autoridade, são 
dissociados dos correlatos interesses; os interesses são afetos aos administrados, a 
competência para decidir à administração. Um bom exemplo é o interesse da 
comunidade na execução do orçamento. Por certo o interesse não é do prefeito, mas 
sim dos administrados. Não podemos, apenas por um artifício, referir ao prefeito o 
interesse do município pela aprovação do seu orçamento. Este artifício existe na 
teoria da representação. Se admitirmos que o prefeito representa os interesses do 
município, então, na sua pessoa, opera a combinação dos interesses do município e 
da competência da administração central. É como o direito civil aborda a dificuldade 
encontrada na tutela dos menores e, além disso, em todos os casos de administração 
legal da fortuna de terceiros; o tutor ou administrador legal tem a competência para 
tomar a decisão, o interesse em que delibera são o do menor, o da mulher casada ou 
o do interdito 17. 
b) Não há direito sem poder de decisão; um interesse que não pode ser alcançado por 
decisão própria, por seu próprio risco, não é um direito, é apenas um simples interesse. No 
direito privado, esta situação aparece raramente, porque entende-se em nosso direito civil 
contemporâneo, que algum ao próprio direito já se encontra anexo o poder de decisão 
correspondente (exceto no que se refere aos incapazes); nas, no direito administrativo, aqui de 
novo, é um melhor campo de observação para capturar a dissociação dos elementos. Se os 
administradores têm os poderes ou habilidades, em princípio, os cidadãos têm apenas 
 
17 Au reste, bien que dans le langage on parle du mandat électoral, on sait que le régime représentatif répugne à la 
donnée du mandat juridique, lequel serait impératif ; le représentant élu agit en vertu d‘un pouvoir propre, 
l'administrateur également. 
 
interesses; um é a consequência do outro, a ideia fundamental da administração pública, sendo 
que ele gera, sob em virtude de seu poder próprio de decisão, os interesses gerais dos 
administrados 
Nós relatamos o exemplo do interesse da população de um distrito na construção de 
uma ferrovia; este interesse encontra um órgão no Conselho distrital que expressa os seus 
desejos; mas não se pode dizer que o distrito tem o direito de criar uma ferrovia, porque o 
Conselho não tem o poder de decidir a criação. Em um país centralizado, constata-se a todo o 
instante que os governos locais têm interesses que não são verdadeiramente direitos, porque 
eles não têm poderes de decisão necessários para alcançá-los por seu próprio risco. Quando o 
poder de decisão é concedido às autoridades locais para a satisfação de interesses locais, há 
descentralização e, ao mesmo tempo, a criação de direitos departamentais ou direitos 
comunais. E é por isso que a descentralização administrativa é um regime mais jurídico do que 
o sistema de centralização, porque tende a aproximar uns dos outros, interesses e 
competências, para fazer deles direitos, ao passo que a centralização, tende a dissociar 
interesses e competências, tornado os direitos mais rarefeitos. 
c) finalmente, não há direito se, atrás dos interesses satisfeitos, ou atrás do 
poder exercido, não existe uma função social preenchida ou se , pelo contrário, ele 
preenche uma função antissocial. Em tais casos, o sistema jurídico anula os atos 
realizados ou mesmo ele impinge uma sanção. Este é o caso dos crimes ou delitos dos 
atos administrativos, contaminados com abuso de autoridade, atos da vida civil 
contaminados pelo abuso de direito ou anulados por uma causa ilícita ou ausência de 
causa hábil, porque a causa, elemento sobre o qual se tem muito discutido, é 
realmente distinto do objeto convenção ou do objeto da obrigação, no sentido de que 
ele busca especialmente a função social que atenda tal ou qual categoria de 
operações jurídicas18. 
― Nesta síntese prática de interesse, poder e função que chamamos direito, a 
proporção dos três elementos varia para cada espécie direito; o equilíbrio é estabelecido em 
posições muito diferentes e isto em relação ao estado geral da sociedade, ou com a importância 
que apresenta cada um dos direitos, tanto para o indivíduo quanto para a comunidade. 
Exemplos do autor nos parágrafos subsequentes: nas funções públicas; nos direitos 
cívicos; nos direitos privados. 
II — Tendo reduzido os direitos, que são eles próprios sínteses práticas do 
interesse, poder e função, toda trama de relacionamentos e situações sociais, o 
sistema jurídico coloca um em face do outros dois grandes sistemas de direitos, o 
indivíduo, por um lado, a sociedade por outro. Ele quer realizar a ambos plenamente; 
ele dividiu entre estes dois todos os direitos e todos os poderes; existe o direito da 
sociedade por um lado, e o direito do indivíduo, por outro. Por esta separação 
fundamental, ele cria o antagonismo e o equilíbrio. 
Sociedade e indivíduo são dois elementos também irredutíveis um ao outro, visto que 
não se concebe o homem fora do estado da sociedade e menos ainda uma sociedade humana 
sem indivíduos humanos; estes dois, elementos findaram por reconhecer a existência direitos 
oponíveis, um em face do outro. O fundamento dos direitos da sociedade humana está em seu 
poder para fazer justiça, combinada com a sua função de garantia e segurança. O fundamento 
dos direitos do indivíduo contra a sociedade, é o sacrifício que ele fez de seu poder autônomo 
de fazer a justiça pelas próprias mãos, e se desincumbir de sua própria proteção, na fé na 
 
18 Sur l’abus du droit, voy. Appert, Sirey, 1901, 2, 217 et la note ; Charmont, Rev. trim. dr. civ., 1902, p. 113 ; id., Rev. crit. 
exam. doctrin., 1905, p. 325; Saleilles, Bull. soc., et. législ., 1905, p. 325; Desserteaux, Rev. trim. dr. civ., 1906, p. 119; 
Cézar-Bru et Morin, La responsabilité, la faute, le risque, l’abus du droit (Annales des Facultés d’Aix, juin 1908); Josserand, 
Dalloz, 1906, 2, 105, note; eod., 1908, 2, 73; Planiol, Du fondement de la responsabilité (Rev.crit., 1905, p. 277; 1906, p. 
80); Traité de droit'civil, t. II, nos 870 et suiv. 
Sur la notion de cause, voy. Artur, Paris, 1878; Brissaud, Bordeaux, 1879; Timbal, Toulouse, 1832;Seferiadès, Paris, 1897; 
Gauly, Essai d'une définition de la cause (Rev. crit., 1836, p. 44) ; Bartin, Des conditions illicites et impossibles, 1887 ; 
Girard-Ribaud, Justification de la théorie de la cause admise en jurisprudence (Revue générale du Droit, 1905, p. 47). 
 
instituição social, de que este sacrifício é a prova. Assim, o indivíduo deve declinar de sua 
competência para a justiça privada, de sua ação direta, e por compensação, adquirir os direitos 
sociais. É um pouco a hipótese do contrato social, com a diferença que não há aqui um 
fenômeno contratual entre os homens, mas um fenômeno de fé individual; com esta outra 
diferença, que o abandono da justiça privada, ou da ação direta, pelo indivíduo, não se produz 
de uma vez, mas de uma forma sucessiva e que, além disso, não é total. 
Não apenas o sistema jurídico equilibra, um pelo outro, a sociedade e o indivíduo, mas 
ele os usa para a sua própria organização. Elabora-se, assim, um direito social e um direito 
individualista. O direito social se constitui sobretudo na instituição política sob a dupla forma 
disciplinar e estatutária; o direito individualista se constitui sobretudo no uso do comércio 
jurídico. 
a) Uma primeira observação é que o direito individualista tem melhor o sentimento de 
interesse, enquanto o direito social tem melhor o sentimento das funções; ambos possuem 
igualmente o sentimento de poder. 
Não é que os indivíduos não têm o sentimento de funções que devem ser preenchidas, 
ou de que eles próprios devem preencher, mas não há dúvida que esta preocupação é para eles 
secundária. Os indivíduos tem principalmente a preocupação de adquirir, de buscar benefícios, 
e a função para preencher apresenta-se sob a forma de uma obrigação sobre a qual eles são 
sempre poucos ciosos. 
O direito social tem um melhor sentimento de funções. O que há de função 
social em todos os direitos é fortemente sentida por ele. Não há nada de 
surpreendente. As funções são necessárias para com o todo social; no entanto, os 
governantes, por sua localização, estão na melhor posição para capturar esse 
relacionamento, e passá-lo para o direito social. 
b) o direito social e o direito individualista, em sua ação combinada para a 
organização do sistema jurídico, são guiados pelo critério infalível da paz ou, 
inversamente, da violação de paz, de que temos já falado, mas que é importante 
retornar. Sabemos que a paz apresenta este caráter essencial de se confundir, de um 
lado, com o estado da sociedade e, de outro, com o estado de direito. O estado de 
paz se confunde com o estado da sociedade, porque a sociedade, na medida em que 
é afetada por lutas internas, deixa de ser uma sociedade mas um mistura anárquica 
de indivíduos; a sociedade existe apenas em função da paz, e a paz, ela própria, existe 
somente em razão do equilíbrio de direitos. 
Considerar tão somente a paz interior de uma instituição política, e tomadas 
as coisas historicamente, a paz mais urgente a se estabelecer é a entre indivíduos, ou 
pelo menos entre indivíduos poderosos: trata-se de pôr fim às guerras privadas, à 
vingança privada, às querelas privadas; o processo foi substituir as lutas armadas pela 
luta judicial, a sorte no combate pelo acaso e as chances no processo. Aqui, além da 
restrição da autoridade social emergente, a sociedade usou a paixão do homem pelo 
jogo e simplesmente substituiu um jogo de azar por outro. Depois de séculos de 
esforços persistentes, este primeiro grau da paz é obtido, os indivíduos renunciam a 
fazer a justiça por si mesmos e, em caso de ofensa, dirigem-se à justiça social. É uma 
paz puramente física, em que a sociedade é ainda mal organizada, mas pelo menos 
não está ameaçada a dissolver-se em lutas intestinas. 
Mas quando se prova os benefícios da paz, ela é desejada cada vez mais de e 
forma mais profunda. Guerras particulares quebram a paz ; existem outras ações que, 
sem romper a paz, a perturbam: banditismo, furto, tumultos, tudo isto deve ser 
reprimido; a autoridade social disto se incumbe através de uma polí cia. 
Então, é rudimentar de se esperar que se a paz foi turbada, e se há para isto 
remédio, seria melhor prever com antecedência as causas dos distúrbios, apontá -los, 
avisar as pessoas que eles devem abster -se de tal ou tais atos. Com este pensamento 
 
de previsão aparece a regra jurídica pré-estabelecida, a ordem de polícia, o 
regulamento. 
Na regulamentação, ou, se prefere, no estabelecimento da regra jurídica, funcionará, 
de forma regular, um acordo entre a autoridade social e os indivíduos, e, por consequência, vai 
se poder estabelecer um equilíbrio entre o direito social e os direitos individuais. Este acordo e 
este equilíbrio será devido a uma forma particular da regra, lei, que emana, tanto do governo 
quanto do povo. 
A autoridade social pode, por si só, promulgar regulamentos, mas seus decretos correm 
o risco de não serem obedecidos e o governo perder força para os impor; É mais inteligente ser 
a regra aceita antecipadamente pelas próprias pessoas, para que serão obrigado a obedecê-la. 
Esta necessidade prática ou esta habilidade prática reside na ideia da lei. Pela lei as pessoas se 
comprometem, diz Mommsen, e de fato, na votação da lei romana, o magistrado consulta as 
pessoas reunidas, perguntando-lhe se elas concordam com a proposta de lei e as pessoas 
respondem uti rogas, se a aceitam; se não a aceitam, respondem antiquo, ou seja, preferimos 
permanecer no antigo estado de coisas. Mommsen acredita que a ideia da lei, que é o voto da 
assembleia, se impôs quando tratou-se de introduzir novidades importantes e também primeiro 
para atos específicos, adrogatio, testamento calatis comitiis provocatio ad populum. A lei 
moderna não mudou de caráter, ela sempre postula o consentimento do povo, e é por isso que 
ela é dita obrigatória, ao passo que as regras disciplinares, promulgadas unicamente pela 
autoridade governamental são via de regra desafiadas e exequíveis através da coercitio. 
Indivíduos renunciaram ao direito de fazer justiça por si mesmos com a condição de 
obter a justiça por meio da sociedade. A negação da justiça ou a injustiça liberta-os do seu dever. 
Muito antes da declaração dos direitos humanos de 24 de junho de 1793 ter proclamado nos 
seus artigos 33 e 35, o direito de resistir a opressão e o direito de insurreição "como o mais 
sagrado dos direitos e o mais indispensável dos deveres", os teólogos da idade média já tinham 
ensinado a mesma doutrina. Deve haver apenas duas condições: a primeira que a resistência ou 
insurreição não venha de poucos indivíduos mas tome um caráter nacional; segundo, que a 
injustiça do governo seja evidente e flagrante. Até que isso seja demonstrado claramente, o 
governo dispõe do benefício da dúvida, e a seu favor milita uma presunção provisoriamente, 
deve-se lhe obedecer, porque ele cumpre a função essencial de garantir a paz. É só no caso em 
que não há qualquer desculpa para as injustiças cometidas que a insurreição é legítima19. 
Mas as insurgências contra o governo, as frondes ou ligas, mesmo legítimas, tem o mais 
graves dos inconvenientes; sem dúvida, elas são para restaurar a paz social; Entretanto, elas a 
turbam, e mais, ameaçam causar a perpetuidade da desordem. Assim como a vida social tinha 
encontrado uma alternativa para as guerras privadas entre indivíduos poderosos, da mesma 
forma ela encontrou uma para a guerra contra o governo; ela concebeu uma saída para o 
descontentamento crescente. Esta saída é alteração do governo organizada metodicamente 
pelo próprio mecanismo de constitucional: mudança de Ministério, a mudança de maioria 
eleitoral nas Câmaras, a possibilidade de revisar a Constituição; e aqui, a sociedade, que não é 
muito variada em seus processos e que, além disso, seria errado mudá-los uma vez que eles são 
bem sucedidos, ainda usado a paixão pelo jogo. Toda a máquina política então depende de 
mudanças de governo estabelecidas pelas as eleições; para os eleitores, as eleições são

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