Prévia do material em texto
PRINCÍPIOS TRIBUTÁRIOS - REVISÃO OAB ÍNDICE 1. CONCEITOS INICIAIS .........................................................................................................3 2. FONTES ................................................................................................................................4 3. INTRODUÇÃO AOS PRINCÍPIOS ......................................................................................5 4. LEGALIDADE .......................................................................................................................6 5. EXCEÇÕES AO PRINCÍPIOS DA LEGALIDADE ..............................................................8 6. ANTERIORIDADE ..............................................................................................................10 Princípio da Anterioridade Nonagesimal ................................................................................................................... 11 7. EXCEÇÕES AO PRINCÍPIOS DA ANTERIORIDADE ......................................................12 8. IRRETROATIVIDADE ........................................................................................................13 9. ISONOMIA ..........................................................................................................................14 10. CAPACIDADE CONTRIBUTIVA .....................................................................................15 11. NÃO CONFISCO ...............................................................................................................16 12. OUTROS PRINCÍPIOS .................................................................................................... 17 Princípio da Liberdade de Tráfego ...............................................................................................................................17 Princípio da Uniformidade Geográfica ......................................................................................................................17 www.trilhante.com.br 3 1. Conceitos Iniciais Alguns conceitos de Direito Tributário são muito importantes para a compreensão de toda a matéria, inclusive quando falamos em princípios tributários. São eles: • Alíquota: é uma porcentagem que incidirá sobre a base de cálculo para o cálculo do valor do tri- buto a ser pago. Por exemplo: a alíquota do ICMS sobre os combustíveis é 18%. • Base de cálculo: é o valor sobre o qual incidirá a alíquota, podendo ser o valor do bem, do serviço, da propriedade, da renda etc., a depender do tributo. Continuando no exemplo anterior e de uma for- ma simplificada, sendo a alíquota do ICMS 18%, ela incidirá sobre o valor pago pelo usuário, o qual é R$ 5,00 por litro de combustível. Tendo o usuário comprado 10 litros, o que corresponde a R$ 50,00, esta é a base de cálculo sobre a qual incidirá o imposto. • Tributo: mais a frente, durante o curso, definiremos o conceito de tributo de forma mais específi- ca. Neste ponto, precisamos ter em mente que o tributo é um gênero, o qual engloba algumas espé- cies, dentre as quais o imposto, as contribuições sociais, as taxas etc. www.trilhante.com.br 4 2. Fontes O estudo das fontes de Direito Tributário é importante para entendermos a origem das normas jurídicas aplicáveis à matéria. Tais fontes podem ser: • Reais ou materiais: um fato jurídico que acontece na vida real e que gera a incidência do tributo (exemplo: no Imposto sobre a Transmissão Causa Mortis ou Doação – ITCMD – é a morte e a conse- quente transmissão do patrimônio do de cujus para o herdeiro que faz nascer a incidência do tributo); • Formais: são normas que disciplinem matéria de ordem tributária – por exemplo, a Constituição Federal, o Código Tributário Nacional, o Regulamento do Imposto de Renda, dentre tantas outras leis e portarias (a nível federal, estadual, municipal), Tratados Internacionais etc.; • Doutrina: é o entendimento de acadêmicos e estudiosos sobre determinados assuntos que envolvam Direito Tributário, e que pode ser utilizado no dia a dia para a aplicação e interpretação da matéria; • Jurisprudência: é o entendimento dos juízes, tribunais e até mesmo de órgãos de julgamento administrativos (a exemplo do CARF, vinculado à Receita Federal), ao julgarem casos concretos, e que podem influenciar o julgamento de outros casos semelhantes. Aqui, devemos destacar o regime dos Temas Repetitivos (no âmbito do Superior Tribunal de Justiça) e os Temas de Repercussão Geral (Su- premo Tribunal Federal): nestes casos, se um entendimento for firmado sob algum destes regimes, é de observância obrigatória por todo o Poder Judiciário. Exemplo: o STF firmou tese de repercussão geral afirmando que não incide o Imposto Sobre Serviços sobre contratos de franquia – neste caso, eventual processo que corra em primeira instância e que discuta a mesma questão, deverá observar, obrigatoriamente, o precedente judicial. www.trilhante.com.br 5 3. Introdução aos Princípios Antes de falarmos de cada um dos princípios tributários, é importante ter em mente que os princípios são fundamentos norteadores de toda a matéria, eles apontam qual a essência do Direito Tributário para o legislador, para o Poder Judiciário, para os doutrinadores e para os aplicadores do direito em geral. Isso será fundamental para que, diante de uma lacuna num caso concreto, seja feita a interpretação que mais se alinha aos fundamentos de Direito Tributário, que tenha os princípios como base para o raciocínio jurídico. Os princípios de Direito Tributário se encontram na Constituição Federal e no Código Tributário Nacional (CTN). Os princípios que estão inseridos na CF possuem força constitucional, de modo que não são somente parâmetros interpretativos, mas impõem também limites ao legislador. A importância dos princípios tributários é a orientação dos intérpretes do direito, sejam eles juízes ou administradores públicos, e ao mesmo tempo impedir que o Estado cometa excessos, limitando o poder de tributar (para que seja instituído e cobrado determinado tributo por um Município, por exemplo, será necessária a obediência a uma série de regras, não podendo o prefeito fazê-lo da maneira que bem entender). www.trilhante.com.br 6 4. Legalidade Basicamente, temos no Princípio da Legalidade a previsão de que, sem lei autorizativa, nenhum tributo pode ser criado ou cobrado. Tal lei pode ser considerada a própria Constituição Federal, a qual prevê diversos tributos e os entes federativos que possuem competência para arrecadá-los; o Código Tributário Nacional, que traz regras para cobrança de alguns tributos; ou até mesmo leis estaduais ou municipais que, dentro de sua esfera de competências, instituam tributos. Podemos tomar como exemplo um prefeito que queira cobrar dos munícipes um imposto que incida sobre a propriedade rural. Ocorre que, como prevê a CF, tal Imposto sobre a Propriedade Territorial Rural (ITR) é da competência da União, de forma que, se o prefeito decidir cobrar tal imposto sem a edição de lei, estará cometendo ilegalidade. Por outro lado, se o fizer com base em lei municipal, tal lei será inconstitucional, pois que extrapola a competência tributária do município. Outro exemplo que podemos dar é quanto ao Imposto Sobre Serviços: como previsto na CF, tal imposto realmente é de competência municipal, havendo a Lei Complementar n.º 116/03 que disciplina a matéria a nível nacional para que alguns parâmetros sejam seguidos igualmente em todos os municípios do Brasil. Para que seja feita a cobrança em um município específico, porém, é necessário que haja norma municipal disciplinando a alíquota, a forma que se dará a cobrança etc., sob pena de violação do Princípio da Legalidade. Vejamos alguns dispositivos constitucionais importantes acerca do Princípio da Legalidade: Art. 5º [...] II – ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei. Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradasao contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios: I – exigir ou aumentar tributo sem lei que o estabeleça; O art. 97 do Código Tributário Nacional traz também a necessária observância do Princípio da Legalidade: Art. 97. Somente a lei pode estabelecer: I – a instituição de tributos, ou a sua extinção; II – a majoração de tributos, ou sua redução, ressalvado o disposto nos artigos 21, 26, 39, 57 e 65; www.trilhante.com.br 7 III – a definição do fato gerador da obrigação tributária principal, ressalvado o disposto no inciso I do § 3º do artigo 52, e do seu sujeito passivo; IV – a fixação de alíquota do tributo e da sua base de cálculo, ressalvado o disposto nos artigos 21, 26, 39, 57 e 65; [...] Uma observação muito importante é que as obrigações acessórias não necessariamente precisam estar previstas em lei, podendo ser instituídas por meio de portarias ou instruções normativas, por exemplo. Explicando de uma forma simplificada, temos que o pagamento do tributo em si é a obrigação tributária principal, porém temos obrigações acessórias que devem também ser cumpridas pelo contribuinte, independentemente do dever de pagar o tributo. Alguns exemplos de obrigações acessórias são a declaração do imposto de renda, e a escrituração de livros fiscais por empresas – nestes casos, mesmo que haja isenção do tributo, ou que por algum outro motivo ele não seja devido, é necessário que o contribuinte cumpra com a obrigação acessória, podendo ser multado em caso de descumprimento. Outra observação é quanto ao art. 91, II do CTN: a atualização monetária não configura majoração de tributo, de forma que não necessariamente precisa ser feita por meio de lei. O exemplo clássico se dá quanto ao IPTU, que tem como base de cálculo o valor do imóvel. A atualização monetária para recomposição do poder de compra da moeda, a qual terá o condão de atualizar o valor venal do imóvel, obviamente fará com que o valor do imposto a ser cobrado seja maior, porém tal situação não caracteriza majoração do tributo, sendo prescindível a edição de lei para tanto. www.trilhante.com.br 8 5. Exceções ao Princípios da Legalidade A memorização dos tributos que podem ser majorados sem a necessidade de lei formal editada pelo Congresso Nacional é importante, pois cai bastante em prova. A própria Constituição Federal traz algumas exceções ao Princípio da Legalidade, senão vejamos: Art. 153. Compete à União instituir impostos sobre: I – importação de produtos estrangeiros; II – exportação, para o exterior, de produtos nacionais ou nacionalizados; [...] IV – produtos industrializados; V – operações de crédito, câmbio e seguro, ou relativas a títulos ou valores mobiliários; [...] §1º É facultado ao Poder Executivo, atendidas as condições e os limites estabelecidos em lei, alterar as alíquotas dos impostos enumerados nos incisos I, II, IV e V. Tais tributos são chamados extrafiscais, e tem repercussão econômica direta, motivo pelo qual a CF prevê que não é necessária uma discussão por meio das casas legislativas, o que exigiria tempo, para que sejam majoradas ou minoradas as alíquotas de tais impostos. Por exemplo, pode o Poder Executivo, a depender da política econômica, minorar o Imposto de Exportação e o Imposto sobre Produtos Industrializados, visando estimular a produção da indústria nacional e as exportações, inclusive oferecendo produtos com preços mais competitivos no mercado internacional, isso sem depender do envio de um projeto de lei que terá um longo trâmite e possivelmente não será aprovado pelo Congresso Nacional. Outro tributo que não necessita de lei para diminuição ou restabelecimento de alíquotas é a CIDE-combustíveis, contribuição de competência da União que, por incidir sobre os combustíveis e ter grande repercussão econômica – os combustíveis fazem parte do setor energético e também interferem no valor dos fretes – é estratégica para a formulação de políticas econômicas. A CF ainda traz, em seu art. 62, §2º, que a União pode, por meio de Medida Provisória, estabelecer ou aumentar tributos, os quais, devido ao Princípio da Anterioridade, produzirão efeitos no ano seguinte caso sejam convertidos em lei, com exceção dos vistos anteriormente no art. 153, §1º (é uma decorrência lógica, eis que estes sequer necessitam de lei para que sejam majorados ou minorados), e também impostos novos e não-cumulativos, os quais necessitam de lei em sentido formal. Vejamos: [...] §2º Medida provisória que implique instituição ou majoração de impostos, exceto os previstos nos arts. 153, I, II, IV, V, e 154, II, só produzirá efeitos no exercício financeiro seguinte se houver sido convertida em lei até o ultimo dia daquele em que foi editada. www.trilhante.com.br 9 Por último, temos que a fixação de prazo para o recolhimento de tributo pode ser feita por norma infralegal, sendo também uma exceção ao princípio da legalidade. www.trilhante.com.br 10 6. Anterioridade Basicamente, o Princípio da Anterioridade diz que um tributo não pode ser cobrado no mesmo ano da lei que o criou ou aumentou. Tal princípio vem previsto no art. 150, inciso III, alínea b da Constituição Federal: Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios: [...] III – cobrar tributos: [...] b) no mesmo exercício financeiro em que haja sido publicada a lei que os instituiu ou aumentou; Por exercício financeiro, temos que este se iguala ao ano fiscal e ao ano civil, correspondendo ao período entre 1º de janeiro e 31 de dezembro. Assim, tomemos como exemplo a hipótese de o Congresso Nacional aprovar a criação de um novo tributo, e a lei criadora deste tributo ser publicada em 20 de julho do ano de 2022. Segundo o Princípio da Anterioridade, tal tributo não poderá ser cobrado no exercício (ano) de 2022, mas somente a partir de 1º de janeiro de 2023. Tal princípio tem o condão de evitar prejuízos aos contribuintes com a tributação “surpresa”, que seria a criação de um tributo e sua cobrança já no dia seguinte. Assim, o contribuinte tem mais tempo para se planejar, se adaptar e, assim, adimplir regularmente com suas obrigações. Imaginemos uma empresa que, além do pagamento do tributo em si, tem obrigações acessórias como a escrituração de livros contábeis, emissão de notas fiscais etc.: a criação de um novo tributo, do dia para a noite, além de ser uma despesa a mais para a empresa, interferiria em todas essas obrigações acessórias, e traria grande transtorno às suas atividades. Um ponto importante para ser trazido é que, diferentemente da lei que institui ou aumenta tributo, a lei que extingue ou diminui a tributação poderá ter efeitos imediatos! Isso se dá porque, diferentemente da situação exposta acima, a extinção/minoração de tributos não traz nenhum prejuízo ao contribuinte, pelo contrário. Uma dificuldade recorrente é a diferenciação entre o Princípio da Legalidade e o Princípio da Anterioridade. A chave para não confundir é ter em mente que o Princípio da Legalidade se importa com a forma, ou seja, como foi instituído o tributo – e deve ser por meio de lei. Já o Princípio da Anterioridade se importa com a data, ou seja, o importante é quando foi instituído o tributo, para que não possa ser cobrado no mesmo exercício. www.trilhante.com.br 11 Princípio da Anterioridade Nonagesimal Com o escopo de atingir o mesmo objetivo do Princípio da Anterioridade, qual seja, impedir que o contribuinte seja pego de surpresa com a criação de um tributo, temos o Princípio da Anterioridade Nonagesimal. Vejamos o texto do art. 150, inciso III, alínea c da CF: Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios: [...] III – cobrar tributos: [...] c) antes de decorridos noventa dias da data em que haja sido publicada a lei que os instituiu ou aumentou, observado o dispostona alínea b; Tal alínea foi inserida no texto constitucional pois era recorrente a prática de, não podendo o ente federativo criar tributo e cobrá-lo no mesmo exercício financeiro, cria-lo ao fim do ano e já cobrá-lo no ano seguinte, dias depois. Imagine a situação em que o Estado de São Paulo publica lei instituidora de tributo no dia 27 de dezembro, e a partir do dia 1º de janeiro já é feita a cobrança. Obviamente, o contribuinte seria pego de surpresa, mesmo que tal situação não desrespeitasse o Princípio da Anterioridade. Assim, além de o tributo não poder ser cobrado no mesmo exercício da lei que o criou ou aumentou, entre a publicação de tal lei e a data a partir da qual o tributo pode ser efetivamente cobrado do contribuinte deve decorrer o prazo mínimo de 90 dias. Importante ter atenção com pegadinhas: o prazo colocado pela Constituição Federal é de 90 dias, e não 3 meses (Princípio da Anterioridade NONAGESIMAL)! www.trilhante.com.br 12 7. Exceções ao Princípios da Anterioridade Como exceções ao Princípio da Anterioridade Anual, temos o Imposto de Renda e a fixação das bases de cálculo do IPTU e do IPVA. Vejamos que, no caso do IPTU e do IPVA, a exceção ao Princípio da Anterioridade anual se dá somente com relação à fixação das bases de cálculo. Isso significa que, se determinado município pretende aumentar a alíquota do IPTU e o faz por meio de lei publicada em 2022, deverá aguardar até o ano de 2023 para que a nova alíquota passe a vigorar. Já se o Município institui por lei que a base de cálculo do IPTU não será mais o valor venal do imóvel, mas sim seu valor de mercado, por exemplo, tal lei pode produzir efeitos no mesmo exercício em que foi publicada, desde que respeitado o prazo mínimo de 90 dias (em decorrência da aplicação do Princípio da Anterioridade Nonagesimal). Já como exceções ao Princípio da Anterioridade Nonagesimal, temos o IPI, o ICMS-Combustíveis, as contribuições sociais e o restabelecimento de alíquotas do CIDE-Combustíveis. Temos ainda alguns tributos que são exceções aos Princípios da Anterioridade Anual e Nonagesimal, cumulativamente. Isso significa que, se criados ou majorados por lei, podem ser cobrados já a partir do dia seguinte. São eles: • Imposto Extraordinário de Guerra e Empréstimo Compulsório de Guerra; • Imposto de Importação (II); • Imposto de Exportação (IE); • Imposto sobre Operações Financeiras (IOF). Quanto ao Imposto Extraordinário de Guerra e o Empréstimo Compulsório de Guerra, a urgência da situação explica a desnecessidade de se aguardar prazo para instituição do tributo. Já em relação ao II, IE e IOF, bem como o caso do IPI (que é exceção ao Princípio da Anterioridade Nonagesimal), como já estudado, tratam-se de impostos com repercussão econômica direta, sujeitas a alterações de alíquota para que repercutam políticas de governo e que prescindem até mesmo de lei formal para que sejam majorados. Dessa forma, também não necessitam respeitar prazo mínimo para que eventual majoração produza efeitos. www.trilhante.com.br 13 8. Irretroatividade Basicamente, o que o Princípio da Irretroatividade prevê é que não se pode cobrar tributo em relação a fatos geradores anteriores à lei que o instituiu ou o aumentou. Vejamos o que prevê o texto do art. 150, inciso III, alínea a da CF: Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios: [...] III – cobrar tributos: [...] a) em relação a fatos geradores ocorridos antes do início da vigência da lei que os houver instituído ou aumentado; Vamos a um exemplo prático: suponhamos que a alíquota do ICMS hoje para determinado produto seja 15%. Uma empresa faz hoje a remessa deste produto para seu cliente, de modo que temos o fato gerador do tributo (a circulação da mercadoria). No mês seguinte, é alterada, mediante lei, a alíquota do ICMS naquele determinado Estado, a qual passa a ser de 20%. Neste caso, independentemente da data em que o imposto for pago aos cofres públicos, a alíquota será de 15%, pois era a alíquota vigente à data do fato gerador do tributo (a lei nova não pode alcançar fatos geradores passados). É importante esclarecer que o Princípio da Irretroatividade não é absoluto, de forma que a lei pode retroagir em benefício do contribuinte em situações que envolvam infrações tributárias, multas, penalidades ou temas afins, e desde que não tenha havido trânsito em julgado. Por hipótese, vamos supor que a mesma empresa do exemplo anterior foi multada por não emitir notas fiscais da forma como prevê a legislação do Estado. A empresa, não concordando com a infração, interpõe um recurso administrativo e, antes de este recurso ser julgado em todas as instâncias, é promulgada nova lei, que prevê novas regras para preenchimento da nota fiscal, de forma que a empresa não teria sido multada de acordo com a nova lei. Neste caso, a nova lei retroagirá, em benefício da empresa contribuinte. www.trilhante.com.br 14 9. Isonomia O Princípio da Isonomia vem, no Direito Tributário, em sentido semelhante ao que se apresenta em outras disciplinas, proibindo a discriminação entre pessoas em situações equivalentes. Vejamos o art. 150, II da CF: Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios: [...] II – instituir tratamento desigual entre contribuintes que se encontrem em situação equivalente, proibida qualquer distinção em razão de ocupação profissional por eles exercida, independentemente da denominação jurídica dos rendimentos, títulos ou direitos; Vejamos que a Constituição Federal traz para o Direito Tributário a igualdade material, e não formal. Temos que todos os contribuintes que estejam na mesma situação devem ser tratados igualmente, e os que estejam em situações diferentes devem ser tratados de maneira distinta, na medida de suas desigualdades. Por isso, por exemplo, temos alíquotas diferentes para o Imposto de Renda, a depender da faixa de rendimentos que a pessoa aufere anualmente. Não fere o Princípio da Isonomia cobrar mais imposto do contribuinte que tem maior renda, e menos do que possui menores rendimentos. Também temos como exemplo o Simples Nacional, o qual traz um regime de benefícios fiscais com a simplificação da tributação para micro e pequenas empresas. Neste caso, temos que estas empresas não possuem a mesma capacidade competitiva das grandes companhias, motivo pelo qual é plenamente compreensível a criação de um regime mais benéfico, visando o estímulo às atividades de empresas de pequeno porte. www.trilhante.com.br 15 10. Capacidade Contributiva O Princípio da Capacidade Contributiva traz a ideia de que a tributação deve, de certa forma, ser individualizada e condizente com a capacidade econômica daquele contribuinte, de forma que aquele que tem mais, contribui mais. Tal princípio dialoga muito bem com o Princípio da Isonomia, visto na aula anterior e, ao contrário do que se possa imaginar num primeiro momento, não há nenhum conflito entre eles. Isso, pois o Princípio da Isonomia traz a ideia de uma igualdade material, ou seja, de tratar igualmente os iguais e desigualmente os desiguais, na medida de suas desigualdades. Então, cobrar menos tributos de quem tem menor capacidade econômica nada mais é do que a promoção de uma igualdade material, em respeito ao Princípio da Isonomia. Vejamos que o Princípio da Capacidade Contributiva vem previsto no art. 145, § 1º da CF: Art. 145. [...] §1º Sempre que possível, os impostos terão caráter pessoal e serão graduados segundo a capacidade econômica do contribuinte, facultado à administração tributária, especialmente para conferir efetividade a esses objetivos, identificar, respeitados os direitos individuais e nos termos da lei, o patrimônio, os rendimentos e as atividades econômicas do contribuinte. Um ponto interessante de ser trazido é que, ainda que o texto da ConstituiçãoFederal fale em “impostos”, é pacífico na doutrina e na jurisprudência que não só estes, mas todos os tributos devem respeito ao Princípio da Capacidade Contributiva. O melhor exemplo de aplicação do princípio em estudo se dá novamente quanto ao Imposto de Renda, o qual prevê faixas diferenciadas de alíquotas a depender da renda anual do contribuinte, e até faixa de isenção para os que recebem menos. A partir da aplicação do Princípio da Capacidade Contributiva, se impede que uma carga tributária desmedida recaia sobre os contribuintes economicamente menos favorecidas. www.trilhante.com.br 16 11. Não Confisco O Princípio do Não Confisco vem no sentido de impedir que o Estado crie tributos tão altos que, na prática, impeçam as atividades pessoais e econômicas do contribuinte. O próprio nome do princípio deixa claro que a finalidade é impedir o Estado de, utilizando o subterfúgio da tributação, confiscar a renda do contribuinte. Ele vem expresso no art. 150, inciso IV da CF: Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios: [...] IV – utilizar tributo com efeito de confisco; A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal apregoa que há efeito confiscatório quando a alta carga tributária ofende a dignidade humana, a prática profissional ou a livre iniciativa. Como os limites postos pela jurisprudência são subjetivos, é necessário se fazer a interpretação à luz do caso concreto. Um ponto importante é que os tributos extrafiscais (Imposto de Importação, Imposto de Exportação, Imposto sobre Produtos Industrializados e Imposto sobre Operações Financeiras) podem ter alíquotas maiores do que o padrão comumente cobrado. Isso se dá porque tais impostos podem ser utilizados para estimular ou desestimular o consumo de determinados produtos. O exemplo clássico é a alíquota de 100% de Imposto de Importação para os cigarros: tal medida visa desestimular o consumo de um produto que faz mal à saúde da população e é, inclusive, responsável por uma elevada despesa com saúde pública. Outro ponto que deve ser lembrado é que o Princípio do Não Confisco deve ser aplicado também às multas. Exemplificando: um contribuinte não declarou Imposto de Renda e, por isso, foi multado. Além de ser devedor do tributo em si, eis que auferiu renda, deverá também pagar uma multa por não ter declarado o IR. Ocorre que essa multa, que muitas vezes é calculada utilizando-se o mesmo método do imposto (alíquota aplicada à base de cálculo – no caso ilustrado, a renda auferida), também não pode ter efeito confiscatório. www.trilhante.com.br 17 12. Outros Princípios Os princípios tributários principais já foram apresentados nas aulas anteriores. Agora, vejamos outros princípios, os quais também tem aplicabilidade no Direito Tributário pátrio. Princípio da Liberdade de Tráfego Segundo o art. 150, inciso V da Constituição Federal, a cobrança de tributo não pode estabelecer, na prática, limitações ao tráfego de pessoas ou bens. Uma discussão importante é sobre o II e o ICMS, impostos que incidem sobre a circulação de produtos, tanto em nível internacional quanto interestadual: nestes casos, se fosse cobrada uma alíquota alta, a qual efetivamente limitasse a circulação e o tráfego dos bens, estaria violado o princípio em estudo. Entretanto, não é o que ocorre na prática. É importante esclarecer ainda que o pedágio cobrado em estradas públicas, ainda que algumas vezes acabe por limitar a locomoção de pessoas, não é considerado um tributo, mas sim um preço público (tarifa), motivo pelo qual não é aplicável o Princípio da Liberdade de Tráfego. Princípio da Uniformidade Geográfica Tal princípio é aplicável apenas à União, e dispõe que ela não pode cobrar seus tributos de forma desigual a depender do Estado ou Município em que o contribuinte se encontra, ou a depender de onde ocorreu o fato gerador. Vejamos o texto do art. 151, Inciso I, da CF: Art. 151. É vedado à União: I – instituir tributo que não seja uniforme em todo o território nacional ou que implique distinção ou preferência em relação a Estado, ao Distrito Federal ou a Município, em detrimento de outro, admitida a concessão de incentivos fiscais destinados a promover o equilíbrio do desenvolvimento sócio-econômico entre as diferentes regiões do País; Exemplificando, sobre um mesmo produto que é vendido na cidade de Porto Alegre/ RS, Campinas/SP ou São Luís/MA deve ser cobrada a mesma alíquota de PIS/COFINS (contribuições sociais de competência da União). Por outro lado, a própria CF prevê a possibilidade da concessão de incentivos fiscais a determinadas regiões do país, visando o estímulo ao desenvolvimento socioeconômico. É o caso, por exemplo, da Zona Franca de Manaus, em que temos a redução do Imposto de Importação e a ausência da cobrança de IPI, o que incentiva a instalação de indústrias no local, as quais poderão importar insumos pagando menos impostos e poderão vender seus produtos industrializados sem que o IPI componha o preço do produto, oferecendo, assim, preços mais competitivos no mercado. www.trilhante.com.br 18 Importante esclarecer que o Princípio da Uniformidade Geográfica é aplicável somente no âmbito interno, ou seja, não vale para o comércio internacional. Assim, o Brasil pode ter acordos internacionais com países diferentes, em que se estipula alíquotas mais benéficas visando estimular o comércio. Por último, um ponto essencial: para Estados e Municípios, não é aplicável o princípio em estudo. Assim, por exemplo, um Estado que queira estimular a instalação de empresas em seu território, pode baixar as alíquotas de ICMS (imposto de sua competência) – é a tão discutida guerra fiscal. Por outro lado, um Estado que já tenha uma economia forte e bem estruturada, e que deseja privilegiar a arrecadação de impostos, pode ter uma alíquota de ICMS mais elevada. www.trilhante.com.br /trilhante /trilhante /trilhante Princípios Tributários - Revisão OAB http://www.facebook.com/trilhante http://www.instagram.com/trilhante http://www.facebook.com/trilhante http://instagram.com/trilhante http://www.youtube.com/trilhante