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AT 1 2 32 S U M Á R IO 3 UNIDADE 1 – Introdução 5 UNIDADE 2 – A Ciência da Informação 6 2.1 A importância da CI para os documentos e arquivos e técnicas de suporte 8 2.2 Fontes e recursos informacionais 9 2.3 As responsabilidades do profissional da Biblioteconomia e arquivística sobre a memória 11 UNIDADE 3 – Dos Documentos aos Arquivos 11 3.1 O que é um documento 11 3.2 Elementos característicos dos documentos 12 3.3 O que é um arquivo 14 3.4 Importância e finalidade dos arquivos 15 3.5 Tipos de arquivos 16 3.6 A diferença entre arquivos, bibliotecas e museus 19 UNIDADE 4 – Classificação de Documentos 19 4.1 A classificação de documentos 21 4.2 Três vertentes classificatórias 22 UNIDADE 5 – Métodos de Classificação de Documentos 23 5.1 Alfabético 24 5.2 Geográfico 24 5.3 Ideográfico 26 5.4 Numérico 27 5.5 Alfanumérico 27 5.6 Classificação Decimal de Dewey (CDD) 29 5.7 Classificação Decimal Universal (CDU) 31 5.8 Classificação facetada 32 5.9 Classificação bibliográfica de Bliss 32 5.10 As contribuições de Brown 33 5.11 Library of Congress 33 5.12 Ranganathan e as cinco leis da Biblioteconomia 40 UNIDADE 6 – Indexação e Catalogação 40 6.1 Indexação 42 6.2 Catalogação 43 6.3 Os repositórios digitais 45 REFERÊNCIAS 2 33 UNIDADE 1 – Introdução Evolutivamente, o homem, mesmo que inconsciente num primeiro estágio, procu- rou registrar e armazenar seus feitos desde a Antiguidade, que podemos exemplificar com os desenhos encontrados nas caver- nas e gradativamente veio utilizando outros meios como as tábuas de argila, os pergami- nhos, entre outros. Armazenar o conhecimento registrado em suportes informacionais, a fim de asse- gurar a guarda e a memória de sua história para as gerações futuras é algo inerente ao ser humano. Essa evolução é percebida desde as bi- bliotecas da Antiguidade, com os tabletes de argila, o papiro, o pergaminho, até che- garmos ao papel. Cada período foi marcado por características próprias, originadas, so- bretudo, pelas tecnologias disponíveis (BET- TENCOURT, 2014, p. 15). Da Biblioteca de Alexandria até as moder- nas bibliotecas do século XXI, o caminho foi longo, muitas foram as mudanças. Aqueles conceitos de “lugar de memória” e “templo do saber”, como assinala Bettencourt (2014), nortearam os princípios fundadores das bi- bliotecas nacionais, surgidas no século XVIII, como fatores de constituição da identidade nacional. Elas também estavam inseridas numa perspectiva herdeira das concepções iluministas e dos ideais da Revolução Fran- cesa. Mas não é sobre bibliotecas que quere- mos nos debruçar no momento e sim enten- der o que são documentos, arquivos, quais os tipos de classificação, como pesquisar, onde podemos chegar, o que é importante preservar, porque é importante a memória, enfim, os conceitos que permeiam a Biblio- teconomia. Esse caminho passa necessariamente por definirmos e conceituarmos arquivo, relacio- nar com a Ciência da Informação, entender o que é memória, fazer essas inter-relações. Vamos começar pela Ciência da Informa- ção, fontes e recursos informacionais, sua importância e técnicas de suporte. Uma unidade será reservada para definir documentos e seus elementos característi- cos, arquivos, sua importância e finalidade, os tipos existentes e as diferenças entre ar- quivos/bibliotecas e museus. Na próxima unidade trataremos da classi- ficação de documentos e algumas vertentes classificatórias. Métodos de classificação de documentos com ênfase nos Sistemas de Classificação Decimal de Dewey (CDD), Sistema de Classifi- cação Universal (CDU) e as cinco leis de Ran- ganathan terão momentos específicos, dada sua importância para a Biblioteconomia. Por fim, trataremos da indexação e cata- logação e dos repositórios digitais. Ressaltamos em primeiro lugar que embo- ra a escrita acadêmica tenha como premissa ser científica, baseada em normas e padrões da academia, fugiremos um pouco às regras para nos aproximarmos de vocês e para que os temas abordados cheguem de maneira clara e objetiva, mas não menos científicos. Em segundo lugar, deixamos claro que este módulo é uma compilação das ideias de vá- rios autores, incluindo aqueles que conside- 4 54 ramos clássicos, não se tratando, portanto, de uma redação original e tendo em vista o caráter didático da obra, não serão expres- sas opiniões pessoais. Ao final do módulo, além da lista de refe- rências básicas, encontram-se muitas ou- tras que foram ora utilizadas, ora somente consultadas e que podem servir para sanar lacunas que por ventura surgirem ao longo dos estudos. 4 55 UNIDADE 2 – A Ciência da Informação Não há caminho mais adequado para ini- ciarmos os estudos deste módulo do que passarmos pela Ciência da Informação que possui estreitas relações com a Biblioteco- nomia. A Ciência da Informação é aquela que in- vestiga as propriedades e o comportamen- to da informação, as forças que governam o fluxo de informação e os meios de proces- sar a informação para ótima acessibilidade e uso. O processo inclui a origem, a disse- minação, a coleta, a organização, o armaze- namento, a recuperação, a interpretação e o uso da informação. O campo está relacio- nado com Matemática, Lógica, Linguística, Psicologia, Tecnologia da Computação, Pes- quisa Operacional, Artes Gráficas, Comu- nicação, Biblioteconomia, Administração e algumas outras áreas (SHERA; CLEVELAND, 1977 apud FONSECA, 2005). Do ponto de vista paradigmático, a Ci- ência da Informação vai de um paradigma físico, em que focaliza o tratamento e a or- ganização da informação para alimentar sis- temas computacionais, para um cognitivo, em que o objetivo continua sendo focalizar o tratamento e a organização da informa- ção, porém, os processos se baseiam no pa- radigma psicológico para satisfazer os usu- ários individuais, chegando a um paradigma social, em que os processos são baseados no contexto social/ cultural, objetivando a construção da informação contextualizada (CAPURRO, 2003). Num outro viés, podemos tratar a Ciência da Informação pelo seu lado tecnológico e/ ou da informática e sua interdisciplinarida- de com a Biblioteconomia, Documentação, Arquivologia, Museologia, Jornalismo, Co- municação e Educação. Desde meados do século XX, com acen- tuado uso agora no século XXI, não há como o Bibliotecário/arquivista esquecer a pre- sença marcante das novas Tecnologias da Informação e Comunicação, que trazem os mais variados tipos de suporte documental. É uma época que exige conhecimento, com- petência, métodos e meios de produção, utilização e conservação física especiais. E estes profissionais precisam estar sempre atentos! A Ciência da Informação se dedica ao es- tudo e desenvolvimento dos fundamentos e técnicas de planejamento, construção, gestão, uso e evolução dos sistemas de descrição, catalogação, ordenação, classi- ficação, armazenamento, comunicação e recuperação dos documentos criados pelo homem para testemunhar, conservar e transmitir seu saber e seus atos, a partir de seu conteúdo, com a finalidade de garantir sua conservação em informação capaz de gerar novo conhecimento (ESTEBAN NA- VARRO; GARCIA MARCO, 1995 apud NASCI- MENTO, 2002, p. 27). Como se observa e tomando por base o pensamento de Albuquerque (2006), a verdade é que falar sobre conceito de do- cumento é tentar transitar por entre áreas que, ao longo do tempo, modificaram, am- pliaram e restringiram seu sentido, adap- tando-o e definindo-o de acordo com suas perspectivas. Particularmente para este curso, vamos seguir os caminhos da Arquivologia e Biblio- teconomia. 6 7 2.1 A importância da CI para os documentos e arquivos e técnicas de suporte Segundo Rousseau e Couture (1994), a informática, entendida como a “técnica que permite a produção e o tratamento acele- rado da informação por meio de operações eletrônicas e mecânicas”, tem hoje nos ar- quivos marcada presença. As tecnologias eletrônicas da informa- ção aumentaramque depende muito da inter- pretação do classificador. Custo das tabelas. Não é publicada em português. Necessidade de pessoal treinado e capacitado para seu uso. CDU Permitir a organização e acesso a documentos e informação pelo seu conteúdo. Infinitamente expansível e quan- do novas subdivisões são intro- duzidas, elas não precisam alte- rar o ordenamento dos números. Publicada em português. Uniformização Internacional da Informação. Simplicidade do uso das tabelas. Apenas 2 volumes. Custo das tabelas. Necessidade de pessoal treinado e capacitado para seu uso. 5.8 Classificação facetada Segundo Duarte (2010), a classificação facetada trata-se de um tipo de classificação capaz de identificar características comuns a diversas categorias de um assunto, organi- zando-o em partes denominadas de facetas. Envolve dois processos diferenciados, po- rém complementares: a análise de assunto em facetas e a síntese dos elementos cons- tituintes do mesmo, sendo, portanto, aplicá- vel a qualquer que seja área do conhecimen- to. Nos sistemas facetados, a divisão do as- sunto é realizada sempre em cadeia, na qual Fonte: Andrade; Bruna; Sales (2011, p. 40). 32 33 determinado assunto vai se dividindo sub- classes até as variações se esgotarem. Des- se modo, tal tipo de classificação contribui na construção de estruturas semânticas, a par- tir do momento em que organiza o conheci- mento por meio de mapeamento de áreas tendo como início a modelagem de uma es- trutura semântica. O termo da “análise facetada” foi introdu- zido primeiramente em discussões da clas- sificação bibliográfica na década de 1930 por Ranganathan, para denotar a técnica de separar os vários elementos de assuntos complexos com relação a um jogo de concei- tos fundamentais abstratos. É definida na literatura da área como uma técnica na qual conceitos são decompostos em classes ele- mentares, ou facetas, que formam grupos homogêneos mutuamente exclusivos (DU- ARTE, 2010). Sugere-se, caso haja interesse, leitura integral do artigo que pode ser encontra- do em www.brapci.ufpr.br/download.php?- dd0=10579 5.9 Classificação bibliográfi- ca de Bliss A classificação bibliográfica de Henry Evelyn Bliss, bibliotecário do College of City of New York, apresenta uma estrutura se- gundo o “consenso científico e educacional”, seguindo uma ordem de implicação da ideia de evolução (SOUZA, 2006). O esquema de Bliss adotou a divisão dos conhecimentos humanos conforme o con- ceito educacional da época de sua constru- ção (1940), reunindo-os em quatro grandes grupos: Filosofia, Ciência, História, Tecno- logia e Arte. O esquema de Bliss inicia pela Filosofia, revelando a sua importância no contexto científico-educacional, seguida da Ciência. Destaca a História como classe prin- cipal e termina a sequência com Tecnologia e Arte. Observa-se que Filosofia, História e Arte são consideradas grandes áreas, no mesmo nível de Ciência e Tecnologia Segundo pesquisas de Pereira et al. (2009), seu sistema foi apontado como um dos melhores desenvolvimentos de classes encontrado em classificações bibliográficas, tendo como uma de suas principais caracte- rísticas, a possibilidade de classificações al- ternativas. Em suma, a classificação de Bliss dá liber- dade ao classificador, porém, infelizmente, seu sistema não apresenta explicações nem exemplos de sua aplicação, tornando-o de difícil aprendizado. 5.10 As contribuições de Brown James Duff Brown nasceu em Edimbur- go, na Escócia, concluiu seus estudos com doze ou treze anos, após sua formação, de- dicou sua vida à leitura, particularmente, em Biblioteconomia, Música e Literatura. Trabalhou para vários editores e livrarias de bibliotecas, logo começou a trabalhar como assistente na Biblioteca Mitchaell Glasgow. Ele criou dois sistemas de classificação que não servia para coleções grandes, por serem muito rígido: “Quinn-Brown Classification” e “Adjustable Classification” (PEREIRA et al., 2009). Posteriormente, idealizou um sistema de classificação intitulado de “Subject Classi- fication” – classificação por assuntos – que teve sua primeira publicação em 1906 consi- derada, na época, um bom sistema de classi- ficação, sendo usado em muitas bibliotecas inglesas por vários anos, na qual introduziu o livre acesso às estantes (BARBOSA, 1969). 32 33 Na época ,Brown chegou a ser reconhe- cido como Dewey da Inglaterra, pois tinha energia surpreendente, mostrava-se com- prometido e interessado em todos os as- pectos da biblioteca e da Biblioteconomia, foi um dos primeiros a escrever livros sobre Biblioteconomia e o criador do único sistema de classificação do país. A partir desta posição, foi reconhecido e prestigiado no mundo das bibliotecas e da Biblioteconomia, pois no final do século XIX e no início do XX na Inglaterra, deu contri- buição muito importante para a área da Bi- blioteconomia, principalmente devido a sua classificação de assuntos que foi subsídio para evolução de outros sistemas (PEREIRA et al., 2009). 5.11 Library of Congress Criada em fins do século XIX, mais exata- mente em 24 de abril de 1800, a Library of Congress, ou Biblioteca do Congresso (Esta- dos Unidos – EUA), foi inaugurada com uma coleção de 3.000 volumes. Os livros, que an- tes eram ordenados por tamanho, em 1892, já estavam divididos em 18 classes, basea- das nas classificações de Francis Bacon, com adaptação de Diderot e d’Alembert. Em 1815, fora adquirida a coleção de Thomas Jeffer- son, constituindo assim, a nova biblioteca. Após a mudança de prédio, em 1897, os bi- bliotecários sentiram a necessidade de criar um novo sistema de classificação que com- portasse o crescente acervo. Designados por John Russel Young, então diretor da entidade, James Hanson e Char- les Martel tomaram por guia a Classificação Expansiva de Cutter, “introduzindo grandes modificações, especialmente quanto à no- tação” (PIEDADE, 1977, p.118). A partir deste planejamento em linhas gerais, cada classe foi entregue a diversos especialistas, deri- vando daí, as pequenas diferenças que ocor- rem de uma classe para outra. As classes são publicadas independente- mente umas das outras, e cada uma tem seu próprio índice, sofrendo revisões e acrésci- mos, conforme a expansão do acervo, publi- cadas quadrimestralmente no L.C. Classifi- cation: Addition and changes. Em sua estrutura, a ordem alfabética é frequentemente utilizada. Na notação, a classificação é mista, contendo letras mai- úsculas, e algarismos arábicos, de 1 a 9.999, precedidos por um ponto, chamada de nú- meros-de-Cutter, por ser semelhante as co- nhecidas Author marks, projetadas por Cut- ter. A Classificação da Library of Congress ba- seou-se em 21 classes principais, represen- tadas de A-Z, exceto pelas letras I, O, N, X e Y, deixadas para futuras expansões, sendo igualmente adotada por diversas bibliotecas dos EUA e no mundo. O sistema da Biblioteca do Congresso tem a flexibilidade para classificar qualquer tipo de material, é muito detalhado, bastante enumerativo, porém recorrente à síntese, quando aplicada suas inúmeras tabelas au- xiliares. É um esquema prático, para aqueles que acreditam em soluções simples (PEREI- RA et al., 2009). 5.12 Ranganathan e as cin- co leis da Biblioteconomia Shiyali Ramamrita Ranganathan (1892- 1972), matemático indiano que se tornou bibliotecário, foi um dos estudiosos que mais contribuiu para a teoria da Biblioteconomia no século XX, especialmente na área da clas- sificação de assunto. 34 35 Na sociedade de castas da Índia, a família de Ranganathan pertencia aos Brâmanes (topo da pirâmide, formada por sacerdotes, magos, religiosos e filósofos – as pessoas encarregadas de realizar os sacrifícios e ritu- ais sagrados). Ranganathan era extremamente religio- so, vegetariano e admirador de Gandhi. Gra- duou-se em Matemática na Universidade de Madras em 1916. Tornou-se, então, profes- sor de Matemática, exercendo essa ativida- de durante sete anos em três dasfaculdades da Universidade de Madras. Também politizado, lutava pela melhoria de condições de trabalho de sua classe e, como professor, preocupava-se com o ensi- no e a pesquisa em seu país. Iniciou uma campanha visando a melhoria das condições da biblioteca da Universidade de Madras. Assim, quando em 1924 vagou o cargo de bibliotecário desta Universidade, foi praticamente levado por seus colegas a candidatar-se ao cargo, que acabou por acar- retar uma profunda mudança em sua vida e na própria área da Biblioteconomia. Um dos requisitos do cargo era que o bi- bliotecário que assumisse deveria estudar Biblioteconomia na Grã-Bretanha. Em 1924, ingressou na Escola de Biblioteconomia na College University, em Londres para espe- cializar-se. Inicia um caminho de estudos e observações que o levou a entender o que era na verdade o complexo mundo da Biblio- teconomia, mundo que se colocava entre aquele que produzia e registrava o conheci- mento e aquele que necessitava de informa- ção/conhecimento contido nos documentos (CAMPOS, 2004). Seu sistema de Classificação de Dois Pon- tos (Colon Classification), publicado em 1933, surgiu de sua insatisfação com os sis- temas de Classificação Decimal de Dewey (CDD) e Classificação Decimal Universal (CDU). Depois de constatar que a maioria dos assuntos tratados em cinco periódicos dife- rentes era formada de assuntos compostos, Ranganathan projetou sua Classificação de Dois Pontos, também conhecida como Clas- sificação em Facetas ou Classificação Analíti- co-Sintética. Baseado nesta evidência, criou um sistema quase matemático, estruturan- do o conhecimento de maneira que os assun- tos compostos sinteticamente surgissem a partir de conceitos “elementares”. Rangana- than publicou seis edições desse sistema e faleceu em 1972, quando sua sétima versão estava para ser publicada (LIMA, 2004). As cinco leis de Ranganathan 1. Os livros são para usar. 2. A cada leitor seu livro. 3. A cada livro seu leitor. 4. Poupe o tempo do leitor. 5. A biblioteca é um organismo em crescimento. Como diz Targino (2010, p. 122), por de- trás de aparente ingenuidade, os enuncia- dos propagados por Ranganathan são, em sua essência, os precursores de quaisquer movimentos liderados por profissionais bi- bliotecários, hoje ditos da linha de frente. Em 1928, cada dia mais envolvido com as questões biblioteconômicas, e cada vez mais preocupado com os princípios que poderiam nortear as atividades do profissional da in- formação, conta Ranganathan que, em uma noite em que colocou de lado todas as outras 34 35 tarefas para concentrar-se nestas questões, encontra-se com seu antigo professor de Matemática, Edward B. Ross, a quem devia “todo o seu ser intelectual e por quem tinha grande afeição” (Satija) e expõe as suas an- gústias. Edward B. Ross, por essa relação estreita com Ranganathan, acaba por acom- panhá-lo em sua nova esfera de trabalho. Dialogando com Ranganathan em um dado momento enuncia – “Diga, livros são para serem usados, diga que isso é a sua primeira lei”. Assim, a enunciação das outras quatro leis (a cada leitor o seu livro, a cada livro o seu leitor, poupe o tempo do leitor, a biblioteca é um organismo em crescimento) foi automá- tica e a apresentação e divulgação das leis foram iniciadas naquele ano em vários cur- sos e eventos na Índia (CAMPOS, 2004). Em 1931, publica a primeira edição do livro “As Cinco Leis da Biblioteconomia”, no mes- mo ano em que, a partir de seus esforços, foi criado o primeiro Curso de Bibliotecono- mia na Índia. Atualmente, estas Cinco Leis permeiam e são consideradas como base para todas as atividades biblioteconômicas, como: seleção e aquisição; administração de bibliotecas; recuperação de informação; classificação e indexação; atendimentos aos usuários, entre ou- tros. E “como Leis Fundamentais em qualquer outra disciplina, as Cinco Leis são simples e podem, mesmo, aparecer como sendo tri- viais” (RANGANATHAN, FIVE LAWS). Mas são elas que permitem que o profissional possa compreender de uma forma mais abrangente a função de sua profissão, den- tro de um contexto social, que permite defi- nir critérios e princípios de ação que vão des- de o posicionamento ético deste profissional até a escolha de métodos e técnicas para o seu fazer diário. Campos (2004) analisa as cinco leis sem vinculá-las a uma atividade específica da Bi- blioteconomia, mas de uma visão ética, so- cial e profissional que os envolvidos devem ter como princípios de ação no exercício de sua profissão. Além desta perspectiva, ela constrói seu texto tomando por princípio o “Método Científico em Espiral” (Rangana- than, Prolegomena), no qual ele discute o processo do conhecimento como uma espiral em eterno desenvolvimento, onde uma dada ação interfere na ação subsequente e assim sucessivamente. Assim, cada lei desencade- ará a próxima lei fazendo com que ocorra um processo cíclico e dinâmico. Vejamos: 1ª LEI – Os livros são para serem usados Nesta primeira lei, Ranganathan discute questões que irão envolver a democratiza- ção da informação, pois o que faz com que a instituição biblioteca exista é o fato do ho- mem, ao desvendar o mundo, ao trocar ex- periências sobre suas descobertas e ao co- municar estas descobertas e avanços para possibilitar a transmissão de conhecimento, elabora registros, inscrições. Estes devem estar organizados, armazenados e preserva- dos para propiciar a transmissão de conheci- mento para a geração futura. Nesta medida, a biblioteca é a organização que tem por função organizar, tratar e dis- seminar as informações contidas nestes re- gistros visando sua difusão e criando meios 36 37 para a propagação do saber. Atualmente, mais do que nunca, o bibliotecário deve ser o grande dinamizador, pois deve propiciar que os livros/documentos/informações possam ser utilizados, e não para serem somente armazenados. Se até o século dezenove, o número de literatura era relativamente pe- queno – o que transformava, na maioria das vezes, o próprio produtor de conhecimento em usuário, pois o acesso ao conhecimento era possibilitado a poucos, e os bibliotecá- rios eram grandes estudiosos e por vezes produtores também de conhecimento, nos tempos atuais, com o volume cada dia maior de literatura, com esse caos documentário, e a impossibilidade de se acompanhar todas as transformações das diversas áreas de conhecimento, o bibliotecário deve desen- volver mecanismos para que as informações possam ser divulgadas, possam ser demo- cratizadas. Mas, aponta Ranganathan, que para de- mocratizar o uso da informação, é necessá- rio empreender esforços políticos visando a educação irrestrita. Nem todos podem ter acesso à informação, não porque não este- jam interessados, mas porque a desconhe- cem. Este era um fato constante na Socie- dade Indiana, onde uma grande maioria não tinha acesso ao conhecimento registrado, o que até hoje ainda é uma realidade não ape- nas naquela Sociedade, mas também para uma grande maioria de indivíduos de nossa Sociedade. Assim, todo homem tem o direito de ser um leitor em potencial, o que acaba le- vando-o ao enunciado da 2ª Lei. 2ª LEI – A cada leitor o seu livro Possibilitar que cada leitor obtenha o seu livro é, antes de tudo, afirmar que todo ho- mem deve ter acesso ao conhecimento. Ran- ganathan afirma que a educação de um povo é uma vontade política (RANGANATHAN, FIVE LAWS). Esta lei propicia a discussão do bibliote- cário como educador, apresentando as di- ferenças sociais, políticas e econômicas do mundo em geral, discutindo o papel dos paí- ses dominadores e dominados, e como esses fatores influenciarão questões que envol- vem o acesso à informação. O papel do bibliotecário é também de conscientização da importância de uma polí- tica educacional em seu país e sensibilização dos políticos e da sociedade, de uma maneira geral, da importância deste acesso à infor- mação. Na segunda lei, Ranganathan propõeque se realizem campanhas envolvendo as bibliotecas públicas e os meios de comuni- cação. Estas ações permitirão que todos in- discriminadamente possam se beneficiar do conhecimento registrado e organizado na instituição biblioteca. O importante aqui é permitir a acessibilidade à informação – na- quele momento, o livro –, a cada leitor/usuá- rio, seja ele real ou virtual. Mas, como indiano, inserido em suas tradi- ções, e como um grande observador das ne- cessidades humanas, sabia que nem todos necessitavam da mesma informação, que o princípio da diferença era o que permitia aos homens estarem em cadeias evolutivas di- versas ou em estados socioculturais diferen- tes, pois nem tudo é interesse de todos, cada indivíduo tem as suas necessidades. Na área da Biblioteconomia, é imprescindível defen- der essas diferenças. O que acaba por levá-lo a enunciar a 3ª lei. 3ª LEI – Para cada livro o 36 37 seu leitor Nesta terceira lei, Ranganathan apresen- ta o livro/documento como um veículo de comunicação/transporte que permite que um ou vários indivíduos apresentem as ob- servações, descobertas e questionamentos sobre os fenômenos e ocorrência do mundo que o(s) cerca(m). Nesta perspectiva de autoria coexistem, também, leitores diferentes. Cada pessoa, devido à sua formação, suas crenças e vi- sões de mundo, possuem necessidades di- ferentes e é necessário que o bibliotecário – como um profissional que está preocupado em fornecer a informação adequada para o usuário certo – tenha como princípio de ação a diferença, para que possa servir como um elemento facilitador entre cada usuário e o livro/documento/informação adequados. Assim, como vimos anteriormente, na segunda lei, a biblioteca deve ter um papel social, possibilitando condições de acesso à informação. Com a enunciação da terceira lei, podemos dizer que o bibliotecário deve perceber as necessidades de cada usuário, respeitar as suas diferenças individuais. Ranganathan propõe então: res- peito aos diferentes tipos de usuá- rios (diferença etária, cultural, so- cial, psicológica, educacional, entre outras), e para usuários diferentes, diferentes bibliotecas e diferentes formas de organização dos acervos. Atualmente, estas questões são apre- sentadas na literatura da área através dos conceitos de canais e linguagens diferentes para cada necessidade do usuário, ou dito de outra forma, sobre a questão do reempa- cotamento de informações. Mas ao dirigir o “olhar” para a organização dos acervos, para atender a usuários diferentes, está intrinse- camente visando também recuperar infor- mação, pois a biblioteca não é um depósito, existe um tempo de recuperação; o homem atual precisa estar informado sobre a evo- lução do conhecimento de sua área de inte- resse em menor tempo possível. O que leva Ranganathan a enunciar a 4ª lei. 4ª LEI – Poupe o tempo do leitor O bibliotecário, além de ser um dinamiza- dor, deve ser um agilizador de informação. A coleção deve ser organizada visando às pos- sibilidades de recuperação. A partir desta lei, Ranganathan discute questões ligadas à organização/recupera- ção do acervo: métodos, técnicas e instru- mentos adequados que possam atender à necessidade dos usuários, possibilitando que as informações contidas nos documen- tos possam chegar ao usuário em menor tempo possível. Vejamos os questionamentos pro- postos por Campos: Por que Ranganathan estava tão preocu- pado com o tempo do leitor? Por que a necessidade de criação de ins- trumentos adequados a populações especí- ficas de usuários? Enfim, por que a existência de todo um aparado complexo? Porque todo usuário tem o direito de aces- so à informação atualizada no seu campo de interesse, em menor tempo possível. Esta lei evidencia que, para que as atividades do 38 39 bibliotecário possam funcionar satisfatoria- mente, é necessário que este profissional de informação não se comporte como um mero repassador de informação/documento, acei- tando métodos e técnicas estabelecidos, mas criando em seu fazer diário instrumen- tos e formas de ação mais adequados ao Sis- tema de Informação no qual está inserido. Mas que se comporte como pesquisador e pensador do seu fazer, tendo a disposição e a coragem para, se for necessário, pesquisar novas técnicas, novos métodos e novos ins- trumentos que possibilitem um atendimen- to mais eficaz ao seu usuário. Para isso, é preciso desenvolver e, tam- bém quando for o caso, introduzir princípios novos para as atividades de Administração de Bibliotecas, de Seleção, de Disseminação de Informação, de Catalogação, de Serviço de Referência, de Classificação, entre outros. Ranganathan apresenta então nesta lei, uma série de discussões a respeito destas atividades, sempre incentivando o profis- sional da informação a ter a coragem de criar novas formas de organização, e de quebrar paradigmas já estabelecidos. Ele dá o exem- plo quando propõe um novo método classifi- catório para possibilitar maior hospitalidade – entrada de novos assuntos na Tabela – nos esquemas de Classificação e, consequente- mente, estar mais acessível à evolução do conhecimento e à criação de novos assun- tos, o que até então não era possível nos Esquemas vigentes. Toda esta organização é necessária porque visa a atender ao cres- cimento constante do acervo, pois a bibliote- ca não é mais uma organização estática, ela é dinâmica, o que acaba por levar Rangana- than a enunciar a 5ª lei. 5ª LEI – A biblioteca é uma organização em crescimen- to O homem através dos séculos, ao conhe- cer novas técnicas, novos instrumentos, ao desvendar a natureza, sentiu a necessida- de de comunicar as suas descobertas e para isso registrou. É principalmente na biblioteca que estão esses registros; ela é a depositária do conhecimento humano. Portanto, a bi- blioteca é uma organização em crescimento, pois a produção de conhecimento é um ato contínuo e dinâmico do ser humano. Para que a instituição Biblioteca possa acompanhar esse crescimento, fazem-se necessários bibliotecários com postura mais dinâmica e criativa, pois novos assuntos sur- gem, bem como novos usuários com caracte- rísticas diversas. Isto exige a todo momento, um repensar sobre as práticas e instrumen- tos utilizados e sobre as atividades realiza- das. Assim, se é verdade que o homem elabora registros para comunicar suas descobertas, é necessário que esses registros possam ser usados, como diz Ranganathan – os livros são para uso. E isso nos leva a um movimento contínuo, na enunciação das leis, pois uma é necessária porque as outras existem. Esse é o Método Científico apresentado por Ranga- nathan e caracterizado pelo movimento sem fim em espiral. Campos (2004) explica subjacente a to- das as leis que podemos observar o seguinte: Ranganathan nos leva a todo mo- mento a um movimento do pensar que preconiza e discute a postura do bibliotecário, como um profissio- nal que tem por função possibilitar o acesso à informação. Informação 38 39 que não deve ser encarada como uma entidade que somente carrega bits e bytes, mas como uma das pos- sibilidades do ser humano de obten- ção de conhecimento sobre o mundo que o cerca, podendo assim, iniciar o processo de transformação social, econômica, e por que não, ética. O profissional que atua nesta área deve ter bastante discernimento e visão do seu papel, que não é o de somente repassador de informação, mas de uma pessoa que deve ter a postura de um educador, que se preocupa com a qualidade da informação que repassa, de como repassa e para quem repassa, pois o conhecimento registrado em qualquer veí- culo informativo tem um papel social, que na maioria das vezes, para não afirmar sempre, pode ser transformador. Assim, quando enunciadas as Cinco Leis da Biblioteconomia, elas se restringiam ao contexto da Biblioteca. Hoje, com o desen- volvimento das atividades biblioteconômi- cas, elas podem ser perfeitamente aplicadas em todos os Serviços de Informação,que envolvem as atividades de profissionais que estão entre o produtor de conhecimento e o necessitador de informação. Atualmen- te, elas poderiam até ser aplicadas ao Setor Quaternário, setor em que o objeto dinami- zador é a informação, cuja disseminação leva em conta critérios visando a análise do poder de transformação/paralização, libertação/ manipulação, entendimento/ignorância, que acabam por exigir um repensar constan- te dos profissionais que lidam com a infor- mação quanto à sua postura ética. Uma ética que preconiza a revitalização dos valores, de novos e de velhos valores que devem ser re- pensados. Tamanha foi a importância de sua inven- ção, que estas leis são aplicadas hoje em dia em bibliotecas e centros documentais do mundo todo (CAMPOS, 2004). 40 4140 UNIDADE 6 – Indexação e Catalogação 6.1 Indexação Segundo consta nas orientações do Ar- quivo Nacional (2012), as instituições arqui- vísticas devem ter como maior finalidade “o pleno acesso à informação”. Para que se cumpra este objetivo, seu acervo deve estar organizado, ou seja, ter sido objeto de pro- cessamento técnico, que engloba atividades de recolhimento, tratamento técnico, pre- servação, divulgação, controle de acesso e uso de seu patrimônio arquivístico. Dentre as atividades que compreendem o tratamento técnico do acervo permanente, destacam-se duas essenciais à recuperação da informação: a descrição e a indexação. É por meio delas que o usuário pode fazer uso dos instrumentos de pesquisa para o acesso aos documentos (VIANA et al. 2013). A maior instituição arquivística do país, o Arquivo Nacional do Brasil, adota a des- crição multinível, ou seja, a representação dos elementos e informações contidos nos documentos, levando-se em consideração a estrutura de organização de um acervo e integrando-o em diferentes níveis e em re- lações horizontais e verticais (ARQUIVO NA- CIONAL, 2005). Mas o que vem a ser indexação? Indexação é um processo subjetivo que visa à recuperação da informação. A partir dela é possível a elaboração de índices. Nos sistemas informatizados de recuperação da informação, “uma indexação de qualidade assegura uma recuperação mais precisa” (SOUZA, 2009, p. 7). De acordo com a Associação Brasileira de Normas Técnicas (1992, p. 2), “NBR 12676: métodos para análise de documentos: de- terminação de seus assuntos e seleção de termos de indexação”, a indexação compre- ende três estágios: exame do documento e estabele- cimento do assunto de seu conteú- do; identificação dos conceitos pre- sentes no assunto; tradução desses conceitos nos termos de uma lingua- gem de indexação. Em linguagem mais simples, Ribeiro (2006) explica que a indexação é a operação que consiste em descrever e caracterizar um documento com o auxílio de representações dos conceitos contidos nesses documentos, isto é, em transcrever para linguagem do- cumental os conceitos depois de terem sido extraídos dos documentos por meio de uma análise dos mesmos. A indexação permite uma pesquisa eficaz das informações conti- das no acervo documental. A indexação conduz ao registo dos con- ceitos contidos num documento de uma forma organizada e facilmente acessível, mediante a constituição de instrumentos de pesquisa documental como índices e catá- logos alfabéticos de matérias. A informação contida num documento é representada por um conjunto de conceitos ou combinações de conceitos. A indexação processa-se em duas fa- ses: a) Reconhecimento dos conceitos que contêm informação: - apreensão do conteúdo total do do- cumento; 40 4141 - identificação dos conceitos que re- presentam esse conteúdo; - seleção dos conceitos necessários para uma pesquisa posterior. b) Representação dos conceitos em lin- guagem documental com o auxílio dos ins- trumentos de indexação: - servem ao indexador para indexar o documento; - servem ao utilizador para recuperar a informação; - contribuem para a uniformidade e consistência da indexação (RIBEIRO, 2006). Ao atribuir um descritor [isto é, um termo de indexação] a um documento, o indexador declara que tal descritor possui alto grau de relevância para o conteúdo do documento; quer dizer, ele declara que o significado do descritor está fortemente associado a um conceito incorporado ao documento, e que é adequado à área temática do documento (LANCASTER, 2004, p. 11). O mesmo autor afirma que neste proces- so, o responsável pela indexação deve estar atento a três perguntas: Do que trata o do- cumento? Por que foi incorporado ao acer- vo? Quais de seus aspectos serão de interes- se para os usuários? Segundo Rubi e Fujita (2003, p. 67), o in- dexador tem a função primordial de compre- ender a leitura ao realizar uma análise con- ceitual que represente, adequadamente, o conteúdo de um documento para que ocorra correspondência com o assunto pesquisa- do pelo usuário. No entanto, para que essa correspondência aconteça, a adoção de uma política de indexação torna-se imprescindí- vel, pois ela será norteadora de princípios e critérios que servirão de guia na tomada de decisões para otimização do serviço e racio- nalização dos processos. Essa política deve levar em conta três fa- tores: as características e objetivos da or- ganização, que determinam o serviço ofe- recido; a identificação dos usuários, para o atendimento de suas necessidades; e os recursos humanos, materiais e financeiros disponíveis na instituição, que norteiam o funcionamento do sistema de informações, suas especificidades e limitações (CARNEI- RO, 1985, p. 221 apud VIANA et al., 2013). Assim como as informações sobre su- porte, forma de escrita, espécie e gênero, o termo de indexação representa um ponto de acesso, ou seja, um “elemento de infor- mação, termo ou código que, presente em unidades de descrição, serve à pesquisa, identificação ou localização de documentos” (CONSELHO NACIONAL DE ARQUIVOS, 2006, p.17). Quando a espécie documental puder ser recuperada sem danos por outro ponto de acesso, deve-se evitá-la como termo de in- dexação. Se o arranjo documental for temá- tico, não se recomenda a atribuição de um termo de indexação igual ao título do nível hierárquico, em respeito ao princípio da não repetição de informação em descrições hie- rarquicamente relacionadas (CONSELHO NA- CIONAL DE ARQUIVOS, 2006). Sendo vários os critérios para normali- zação e referências, assim sugerimos que acessem o documento em http://www.aca- demia.edu/6036734/Manual_b%C3%A- 1sico_para_indexa%C3%A7%C3%A3o_ de_documentos_arquiv%C3%ADsticos A título de exemplo e, no caso, à polí- tica de indexação no Arquivo Nacional 42 4342 temos: a) Uso de maiúsculas: Além dos nomes próprios, as letras maiús- culas são utilizadas na primeira letra do ter- mo, seja ele principal, subdivisão ou o com- plemento: Exemplos: Babosa (Planta); Brasil – Economia. b) Adjetivos: Não devem ser utilizados como termos de indexação. c) Advérbios: Não devem ser utilizados como termos de indexação. d) Verbos: Não devem ser utilizados como termos de indexação. e) Flexão de gênero e número: Nos casos nos quais existam os dois gêne- ros, aconselha-se o uso do termo no mascu- lino. De acordo com o Instituto Português de Qualidade (1992), responsável pela “NP 4036: tesauros monolíngues: diretivas para a sua construção e desenvolvimento”, a es- colha entre singular e plural depende da no- ção que o conceito exprime. Os descritores podem ser divididos em duas categorias ge- rais: entidades concretas e abstratas. Viana et al. (2013) ponderam que as re- comendações propostas partem de uma abordagem interdisciplinar, que conjuga a Biblioteconomia e o tratamento técnico de documentos arquivísticos e destacam que: a qualidade da indexação depen- de da hospitalidade da linguagem de indexação utilizada. Esta deve admitir livremente novos termos ou mudanças na terminologia, bem como atender a novas necessidades dos usuários. Uma política de atua- lização frequenteé considerada es- sencial (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 1992, p. 4). 6.2 Catalogação Segundo Mey (1995), a origem da palavra catálogo vem do grego, kata (de acordo com, sob, em baixo ou parte) e logos (razão), de forma que catálogo significa de acordo com a razão. Para Dias (1967, p.1), “Catálogo, no seu sentido mais amplo, é uma relação de livros correspondente a uma coleção pública ou privada”, e, Mey (1995, p. 9), o define como: um canal de comunicação estruturado, que veicula mensagens contidas nos itens, e sobre os itens, de um ou vários acervos, apresentando-as sob forma codificada e or- ganizada, agrupadas por semelhanças aos usuários desse(s) acervo(s). Ou seja, em um catálogo estão impres- sas as informações necessárias para que o material de uma biblioteca seja encontrado, sem, no entanto, seguindo o raciocínio de Mey (1995), ser uma mera lista na qual estão apenas ordenados os materiais do acervo, ele é um instrumento mediador da transfe- rência da informação contida no documen- to, retirada pelo profissional para o usuário, preservando sua característica principal: de acordo com o perfil da instituição, de seus pesquisadores e dos recursos disponíveis, ter dados precisos sobre a recuperação e localização do item no acervo (ALBUQUER- QUE, 2006). O catálogo também contém informações que outras bibliotecas utilizam para manter 42 4343 uma relação de cooperatividade, necessi- tando, para tanto, de regras que possam tor- nar mais fácil o trabalho dos bibliotecários, já que um material poderá ser compartilhado por outras bibliotecas. Sendo assim, há a ne- cessidade da elaboração de códigos para que o trabalho feito nos catálogos seja sistemati- zado e universal. Segundo Dias (1967, p. 74), são os códi- gos, os instrumentos da catalogação que permitem disciplinar a complexa operação de elaborar os catálogos de uma biblioteca. A racionalização das normas de catalogar sempre foi a preocupação dominante dos bibliotecários de todos os tempos. Por sua vez, a catalogação em uma biblioteca tem a finalidade de representar um item, tornan- do visíveis suas características e levando em consideração as características do usuário e da instituição. Mey (1995, p. 05) define catalogação como: o estudo, preparação e organização de mensagens codificadas, com base em itens existentes ou passíveis de inclusão em um ou vários acervos, de forma a permitir in- terseção entre as mensagens contidas nos itens e as mensagens internas dos usuários. A catalogação consiste em não só identi- ficar, mas também dar diferentes escolhas para o pesquisador de encontrar o material necessário. A catalogação deve cumprir suas funções com as seguintes características: “integridade, clareza, precisão, lógica e con- sistência” (MEY, 1995, p.07). Essas características, para serem execu- tadas com eficiência, dependem do profis- sional responsável por realizar um serviço no qual não omita nenhum detalhe que venha prejudicar a recuperação do item documen- tário pelo usuário (ALBUQUERQUE, 2006). Para a realização da representação des- critiva de um documento não ser uma tare- fa aleatória, existem regras e códigos que devem ser seguidos para a padronização do processo de catalogação. Assim, o uso de um código que esteja em consonância com os objetivos e metas internacionais de catalo- gação se faz necessário. Na história da catalogação, a normaliza- ção da forma de se elaborar catálogos só foi dar um grande salto no século XIX, no qual, paralelamente ao crescimento do material informacional, deu-se o desenvolvimento de muitos trabalhos que tratavam de dar os pri- meiros passos rumo ao desenvolvimento de regras que normalizariam a elaboração dos catálogos e definiria o desenvolvimento da catalogação. A sistematização do catálogo de forma universal virá a resolver o proble- ma se estes deixarem de ser listas e passa- rem a ser parte essencial na busca por infor- mações quanto ao acervo de uma biblioteca, ou seja, auxiliando na consulta e na pesquisa (DIAS, 1967). 6.3 Os repositórios digitais Segundo o Instituto Brasileiro de Infor- mação em Ciência e Tecnologia (IBICT), os re- positórios digitais (RDs) são bases de dados on-line que reúnem de maneira organizada a produção científica de uma instituição ou área temática. Os RDs armazenam arqui- vos de diversos formatos. Ainda, resultam em uma série de benefícios tanto para os pesquisadores quanto às instituições ou sociedades científicas, proporcionam maior visibilidade aos resultados de pesquisas e possibilitam a preservação da memória cien- tífica de sua instituição. Os RDs podem ser institucionais ou temáticos. Os repositórios institucionais lidam com a produção científi- ca de uma determinada instituição. Os repo- 44 4544 sitórios temáticos com a produção científica de uma determinada área, sem limites insti- tucionais. Viana et al. (2005, p. 3) definem reposi- tórios digitais como “uma forma de armaze- namento de objetos digitais que tem a ca- pacidade de manter e gerenciar material por longos períodos de tempo e prover o acesso apropriado”. Os repositórios digitais, também deno- minados pela comunidade científica como e-prints, surgiram como alternativas ao tra- dicional sistema de comunicação científica (KURAMOTO, 2006). Observam-se algumas categorias de re- positórios digitais de acesso livre, como o caso do repositório digital temático que pode ser entendido como aquele que arma- zena documentos científicos por área do co- nhecimento. No Brasil há repositórios temáticos que podem ser acessados por meio do Diálogo Científico (DICI) do IBICT. Esses repositórios foram classificados a partir da tabela de áre- as do conhecimento do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológi- co (CNPq) que foi dividida em nove grandes áreas e suas subáreas (VIANA; MÁRDERO ARELLANO, 2006). Também existe o repositório digital insti- tucional que segundo Lynch (2003 apud LEI- TE; COSTA, 2006, p. 213) é um conjunto de serviços que a universidade oferece aos membros de sua comunidade, visando ao ge- renciamento e disseminação dos materiais digitais criados pela insti- tuição e pelos membros de sua co- munidade. Enfim, o uso de repositórios digitais de acesso livre seja para a comunidade acadê- mica ou não, apresenta-se como uma nova ferramenta para disseminação da comunica- ção científica nas diversas áreas do conheci- mento (PETINARI, 2008). 44 4545 REFERÊNCIAS REFERÊNCIAS BÁSICAS CONSELHO INTERNACIONAL DE ARQUI- VOS. Comitê de Boas Práticas e Normas. Grupo de Trabalho sobre Acesso. Princí- pios de acesso aos arquivos: orientação técnica para gestão de arquivos com res- trições. Tradução de Silvia Ninita de Mou- ra Estevão e Vitor Manoel Marques da Fonseca. Rio de Janeiro: Arquivo Nacional, 2014. LANCASTER, F. W. Indexação e Resu- mos: teoria e prática. Brasília: Briquet de Lemos, 2004. RONDINELLI, Rosely Curi. O documento arquivístico ante a realidade digital: uma revisão conceitual necessária. Rio de Ja- neiro: Ed. FGV, 2013. SOUZA, Vanessa Inácio. Indexação: te- oria e práticas do corpo indexador da Uni- versidade Federal do Rio Cirande do Sul. Porto Alegre, 2009. 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Anais... 52 AT UNIDADE 1 – Introdução UNIDADE 2 – A Ciência da Informação 2.1 A importância da CI para os documentos e arquivos e técnicas de suporte 2.2 Fontes e recursos informacionais 2.3 As responsabilidades do profissional da Biblioteconomia e arquivística sobre a memória UNIDADE 3 – Dos Documentos aos Arquivos 3.1 O que é um documento 3.2 Elementos característicosdos documentos 3.3 O que é um arquivo 3.4 Importância e finalidade dos arquivos 3.5 Tipos de arquivos 3.6 A diferença entre arquivos, bibliotecas e museus UNIDADE 4 – Classificação de Documentos 4.1 A classificação de documentos 4.2 Três vertentes classificatórias UNIDADE 5 – Métodos de Classificação de Documentos 5.1 Alfabético 5.2 Geográfico 5.3 Ideográfico 5.4 Numérico 5.5 Alfanumérico 5.6 Classificação Decimal de Dewey (CDD) 5.7 Classificação Decimal Universal (CDU) 5.8 Classificação facetada 5.9 Classificação bibliográfica de Bliss 5.10 As contribuições de Brown 5.11 Library of Congress 5.12 Ranganathan e as cinco leis da Biblioteconomia UNIDADE 6 – Indexação e Catalogação 6.1 Indexação 6.2 Catalogação 6.3 Os repositórios digitais REFERÊNCIASmuito a capacidade da sociedade de gerar, reunir, recuperar, exa- minar e utilizar dados com objetivos os mais variados, apresentando ainda a vantagem do acesso à informação a distância e a van- tagem de nos ajudar a eliminar dados/in- formações redundantes, supérfluas, irre- levantes (DURANTI, 1994 apud BELLOTO, 2004). Enfim, o documento em meio ‘informáti- co’ traz a possibilidade da densidade máxi- ma da informação em um mínimo de supor- te, do qual a mensagem, naturalmente, terá de passar por reconstrução legível por má- quina para ser entendida. Entretanto, den- tro da peculiaridade do documento arqui- vístico, os especialistas chamam a atenção dos bibliotecários/arquivistas para o fato de que todo o processamento que se dê à in- formação arquivística não pode se afastar dos princípios teóricos básicos da arquivísti- ca, refletindo sempre o princípio da proveni- ência e a organicidade na ordenação interna dos fundos (TALLAFIGO, 1994 apud BELLO- TO, 2004). Isto, mesmo em se admitindo a já não cen- tralização material e formal dos documen- tos, tal como se apresentavam anterior- mente na forma tradicional da organização arquivística. Nesta, campeava o suporte pa- pel, a informação formalmente padronizada e a obediência estrita e material ao princípio da proveniência. Ora, a informática vem mu- dar sensivelmente estas verdades, porque separa a informação do suporte reconhe- cível, já que este é um sistema informático. Trata-se, portanto, de documentos virtuais (CARUCCI, 1994 apud BELLOTO, 2004) e as- sim sendo compreendidos e tratados. Lembremos que são vários os meios de guarda de documentos de arquivo, dentre eles o papel, CD, disquete e a microfilma- gem, no entanto, ocorre, eventualmente, a necessidade de se alterar o suporte de de- terminados documentos, de forma a garan- tir o acesso e a preservação dos mesmos. Assim dentre as principais técnicas de atu- alização de arquivo (mudança de suporte) teremos a microfilmagem e a digitalização. Utilizando o fax ou Scanner, consegui- mos digitalizar a maioria dos documentos que precisam ser preservados em arquivo. Esta é uma maneira de ter uma cópia de se- gurança e também economia de espaço. 6 7 Segundo várias empresas que oferecem este tipo de serviço, a Digitalização de Do- cumentos é o processo de conversão de do- cumentos físicos em formato digital. Este processo dinamiza extraordinariamente o acesso e a disseminação das informações entre os funcionários e colaboradores, com a visualização instantânea das imagens de documentos. É indicado para empresas que possuem documentos que precisam ser consultados e administrados de forma rápida e organi- zada. Dentre as vantagens e benefícios da Digitalização de Documentos, teremos: facilidade de acesso e de distribuição dos documentos; redução de tempo das atividades que requerem a análise de documentos; redução de custo com recuperação e duplicação; preservação do arquivo físico; integração de dados ativos e históri- cos. Microfilmagem é uma técnica que permi- te criar uma cópia do documento em forma- to micrográfico (microfilme ou microficha), mas que exige equipamentos especiais para a leitura que são as leitoras de microfil- me ou leitoras de microfichas. Uma vantagem e justificativa para o uso da microfilmagem se refere à economia de espaço, pois o microfilme nada mais é do que uma imagem de forma reduzida, em formato de rolo com as devidas etiquetas de identificação e que pode ser guardado em gavetas específicas. Sua validade legal está na Lei nº 5433/68 e Decreto nº 1799/96, ou seja, lhe conferem o mesmo valor legal do documento original. Outra vantagem dos microfilmes é a 8 9 questão da segurança, por se tratar de um material fotográfico, além de permitir re- produções com rapidez e baixo custo, o ar- quivo microfilmado, devido ao pequeno vo- lume, permite o seu acondicionamento em caixas forte (arquivo de segurança), prote- gido de sinistros (essa cópia de segurança deverá, obrigatoriamente, estar em local separado da cópia de trabalho). Para a adoção da microfilmagem, de- ve-se considerar vários elementos, tais como, custo/benefício, vantagens e des- vantagens de sua utilização como instru- mento tecnológico para auxiliar não só na preservação dos originais, mas também na garantia da segurança do acervo e agilizar a utilização. Para que o serviço de Microgra- fia seja implantado com eficiência/eficácia, faz-se necessário antes de tudo a organi- zação arquivística dos documentos, com a utilização de catálogos (eletrônicos ou ma- nuais) para a organização destes, bem como a implantação de critérios para a avaliação e seleção do acervo (LOPES, 2004). A microfilmagem apresenta para a pre- servação dos documentos vantagens in- contestáveis, mas em relação ao acesso existem alguns problemas, que podem ser considerados graves, tais como a questão de que somente podem ser utilizados em locais onde se possua equipamento espe- cífico, sua leitura é morosa, existem dificul- dades de manuseio dos documentos e as cópias têm qualidade inferior ao original. Por esta razão é que sistemas híbridos que conjugam a Micrografia com os atuais sistemas eletrônicos para armazenamento de documentos vêm cada vez mais sendo utilizados, pois, a utilização de meios eletrô- nicos para guarda de documentos ainda não é totalmente segura (LOPES, 2004). Guarde... Informática documentária é o conjunto de aplicações da informática à documenta- ção, técnica que se refere às intervenções da informática nas diversas fases de produ- ção e utilização de documentos: produção de textos, difusão pelo editor, gestão pela biblioteca, análise e indexação para cons- tituição de bases de dados bibliográficos e para difusão seletiva, e softwares para a pesquisa nestas bases de dados (DEWEZE, 1994 apud ARAÚJO, 2003). 2.2 Fontes e recursos infor- macionais Definir fonte de informação é algo muito complexo devido a gama de tipos de mate- riais que são fontes, de todo modo, o que sabemos é que tanto as fontes quanto os recursos informacionais influenciam nosso conhecimento e aprendizado. Que a informação é um elemento impor- tantíssimo para que as atividades profissio- nais estejam incorporadas na evolução que acelera a universalidade do conhecimento, é óbvio, e tão importante quanto, é saber- mos que existem vários tipos de fontes e recursos informacionais, quais suas carac- terísticas, escopo, abrangência e uso, entre outros fatores. Existem fontes e recursos informacio- nais orais, impressos, digitais e multimídia. Cada qual apresenta sua função, diferen- cia-se pelo seu conteúdo e principalmen- te pelo público-alvo a qual é direcionado (UFSC, 2010). Segundo a página na Internet de trocas de informações e discussões em sala de aula da Universidade Federal de Santa Catarina, as fontes e recursos informacionais podem 8 9 ser primárias, secundárias e terciárias. As fontes primárias são aquelas perti- nentes ao produto de informação elabora- do pelo autor, por exemplo, artigos, livros, relatórios científicos, patentes, disserta- ções, teses. Diferencia-se de fontes secundárias que revelam a participação de um segundo au- tor, produtor como no caso das bibliogra- fias, os dicionários e as enciclopédias, as publicações ou periódicos de indexação e resumos, os artigos de revisão, catálogos, entre outros. Assim, as fontes de informação secundá- rias são aquelas que remetem a fontes de informação primária, tais como: arquivos; Bases de dados; Bibliotecas; Bibliografias; Dicionários; Editoras; Enciclopédias; Filmes e vídeos; Indicadores e Índices; Normas téc- nicas, enquanto as fontes terciárias podem ser mencionadas como as bibliografias de bibliografias, os catálogos de catálogos de bibliotecas, diretórios, entre outros. As fontes impressas evoluíram ou algu- mas já nasceram eletrônicas, e cada vez mais, torna-se difícil separar por catego- rias. Assim temos os Catálogos Públicos de Acesso em Linha(original do inglês Online Public Access Catalogues – conhecidos como OPAC) e os catálogos coletivos (do in- glês Collective Online Public Access Cata- logues – COPAC’s), ambientes de interação por computadores como videoconferências por computador e os diretórios de endere- ços URL, as bibliotecas virtuais e digitais de- vido a Internet possibilitar a convergência de mídias e simultaneidade (comunicação síncrona e assíncrona). (http://bib-ci.wiki- dot.com/start). 2.3 As responsabilidades do profissional da Biblioteco- nomia e arquivística sobre a memória Seremos breves, mas vocês terão muito tempo para refletir sobre a responsabilida- de que lhes é imputada acerca da importân- cia da memória para o ser humano. Memória é uma herança nossa do passa- do, é intencional, é quase ditatorial! Robert (1990, p. 137 apud JARDIM, 1995, p. 4) infere que os arquivos constituem a memória de uma organização qualquer que seja a sociedade, uma coletividade, uma empresa ou uma instituição, com vistas a harmonizar seu fun- cionamento e gerar seu futuro. Eles existem porque há necessidade de uma memória registrada. Nesse sentido, os bibliotecários e os ar- quivistas devem contar com o apoio de his- toriadores “para trabalharem a definição mesma de arquivos como lugar de elabora- ção e de conservação da memória coletiva”. Rousseau e Couture (1994, p. 37) tam- bém não são menos contundentes: “o ar- quivista tem o mandato de definir o que constituirá a memória de uma instituição ou de uma organização”. Isso é sério, prin- cipalmente no momento do desbaste e/ou descarte. Portanto, devemos perceber que muito além de cuidar da manutenção de um arqui- vo, colocar os documentos/livros em seus devidos lugares e respectivas ordens, para além daquela função de “guardador de pa- péis velhos”, o bibliotecário/ arquivista na 10 1110 contemporaneidade tem uma missão auda- ciosa, desafiante e nobre: fazer-se guardião e preservador da memória que de individual passa a coletiva. 10 1111 UNIDADE 3 – Dos Documentos aos Arquivos 3.1 O que é um documento De acordo com o Arquivo Nacio- nal (1995, p. 11): documento é toda informação regis- trada em um suporte material, suscetível de ser utilizada para consulta, estudo, prova e pesquisa, pois comprovam fatos, fenômenos, formas de vida e pensamen- tos do homem numa determinada época ou lugar; documentos de arquivo são todos os documentos que, produzidos e/ou recebidos por uma pessoa física ou jurí- dica, pública ou privada, no exercício de suas atividades, constituem elementos de prova ou de informação. Formam um conjunto orgânico, refletindo as ativida- des a que se vinculam, expressando os atos de seus produtores no exercício de suas funções. Para Martins (1998), um documen- to pode ser entendido como a unidade constituída pela informação (elemento referencial ou dado) e seu suporte (ma- terial, base), produzida em decorrência do cumprimento de uma atividade. Entende-se por documentos de arqui- vo, os documentos “produzidos e/ou acu- mulados organicamente no decorrer das atividades de uma pessoa, família, insti- tuição pública ou privada” (RONCAGLIO; SZVARÇA; BOJANOSKI, 2004). Os documentos são criados uns após os outros, em decorrência das necessi- dades sociais e legais da sociedade e do próprio desenvolvimento da vida pessoal ou institucional. Por essa razão, o docu- mento arquivístico contém informações de natureza administrativa ou técnica e tem como característica marcante a ori- ginalidade, ou seja, não tem importância em si mesmo, mas no conjunto de docu- mentos do qual faz parte. Um documento pode ser Simples (ofí- cio, relatório, ficha de atendimento) ou Composto (Processo) e devido às organi- zações desenvolverem diversas ativida- des de acordo com suas atribuições, os documentos acabam por refletirem es- sas atividades, uma vez que fazem parte do conjunto de seus produtos. Portanto, são variados os tipos de do- cumentos produzidos e acumulados, bem como são diferentes os formatos, as es- pécies, e os gêneros em que se apresen- tam dentro de um Arquivo, que veremos mais adiante. 3.2 Elementos característi- cos dos documentos Por mais variados que sejam, os docu- mentos costumam apresentar elementos característicos comuns: suporte, forma, formato, gênero, espécie, tipo e contex- to de produção. Para maior clareza, veja- mos algumas definições técnicas e exem- plos oferecidos por Gonçalves (1998): a) Suporte: é material sobre o qual as informações são registradas. Exemplos: fita magnética, filme de nitrato, papel. b) Forma: estágio de preparação e de transmissão de documentos. Exemplos: 12 13 original, cópia, minuta, rascunho. c) Formato: configuração física de um suporte, de acordo com a natureza e o modo como foi confeccionado. Exem- plos: caderno, cartaz, dispositivo, folha, livro, mapa, planta, rolo de filme. d) Gênero: configuração que assume um documento de acordo com o sistema de signos utilizados na comunicação de seu conteúdo. Exemplos: documentação audiovisual, documentação fonográfica, documentação iconográfica, documen- tação textual. e) Espécie: configuração que assume um documento de acordo com a disposi- ção e a natureza das informações nele contidas. Exemplos: boletim, certidão, declaração, relatório. f) Tipo: configuração que assume uma espécie documental, de acordo com a ati- vidade que a gerou. Ex.: boletim de ocor- rência, certidão de nascimento, declara- ção de bens, imposto de renda, relatórios de atividades. 3.3 O que é um arquivo De acordo com o art. 2º da lei nº 8.159/91, arquivos são: [...] conjuntos de documentos pro- duzidos e recebidos por órgãos pú- blicos, instituições de caráter público e entidades privadas, em decorrên- cia do exercício de atividades espe- cíficas, bem como por pessoa física, qualquer que seja o suporte da infor- mação ou a natureza dos documen- tos. Paes (2004) define arquivo como sen- do a acumulação ordenada dos do- cumentos, em sua maioria textuais, criados por uma instituição ou pes- soa, no curso de sua atividade, e pre- servados para a consecução de seus objetivos, visando à utilidade que poderão oferecer no futuro. Por sua vez, Prado (1992) diz que ar- quivo é “a reunião de documentos con- servados, visando à utilidade que pode- rão oferecer futuramente”, destacando que, “para ser funcional, um arquivo deve ser planejado, instalado, organizado e mantido de acordo com as necessidades inerentes aos setores” e que, “para re- alizar o trabalho de arquivamento, o ar- quivista precisa conhecer a natureza do arquivo que lhe será entregue”. Nessa linha de definições, para o Dicio- nário Brasileiro de Terminologia Arquivís- tica, a Arquivologia, também chamada de Arquivística, “é a disciplina que estuda as funções do arquivo e os princípios e téc- nicas a serem observados na produção, organização, guarda, preservação e utili- zação dos arquivos”. Os arquivos como instituição tiveram origem na antiga civilização grega. Nos séculos V e IV a.C., os atenienses guarda- vam seus documentos de valor no templo da mãe dos deuses (Metroon). O impera- dor Justiniano ordenou que se reservasse um prédio público no qual o magistrado pudesse guardar os documentos, esco- lhendo alguém que os mantivesse sob custódia. A finalidade era a de impedir a adulteração e propiciar as condições ne- cessárias para que pudessem ser encon- trados rapidamente (SCHELLENBERG, 2006). 12 13 Segundo Fraiz (1994), em sua gêne- se dos arquivos, foi somente a partir da segunda metade do século XVI que os arquivos evoluíram em função da espe- cialização de diferentes órgãos gover- namentais e administrativos para con- solidar o poder monárquico absoluto, surgindo, então, os arquivos do Estado. Entretanto, foi somente no século XVII que a noção de arquivos públicos come- çou a receber algumas implicações, pois, até então, não existia diferenciação en- tre a ideia de arquivos públicos e arqui- vos privados no sentidocontemporâneo da teoria arquivística. Ou seja, foi a partir da Revolução Fran- cesa que se reconheceu definitivamente a importância dos documentos para a so- ciedade. Esse reconhecimento resultou em três importantes realizações no cam- po arquivístico: a) Criação de uma administração na- cional e independente dos arquivos. b) Proclamação do princípio de acesso do público aos arquivos. c) Reconhecimento da responsabilida- de do Estado pela conservação dos docu- mentos de valor, do passado. Desse modo, o século XIX trouxe tam- bém a preocupação com o resgate da me- mória, influenciada pelo romantismo jun- tamente ao processo de constituição das nacionalidades. Assim, é neste século que se evidencia a criação de várias ins- tituições de memória, bibliotecas e mu- seus. No entanto, é preciso lembrar que a inclusão dos arquivos privados, inclusive dos arquivos pessoais, na definição geral de arquivos, apareceu somente no século XX e sua valorização pode ter coincidido com a constituição do indivíduo (FRAIZ, 1994). Portanto, é fato que estes arquivos privados constituem um precioso bem cultural na medida em que agregam sig- nificativo patrimônio documental e cul- tural (SVICERO, 2013). Ao longo da história, a conceituação de arquivo mudou em conformidade com as mudanças políticas e culturais que as sociedades ocidentais viveram; tanto por isso, os arquivos são um reflexo da socie- dade que o produz e o modo de interpre- tá-lo também acompanha as mudanças que ocorrem. Fatores tais como a finali- dade dos arquivos ou os suportes utiliza- dos já foram considerados como defini- dores do arquivo e, hoje, não o são mais. Menne-Haritz (1994, p. 530 apud RO- DRIGUES, 2006), por exemplo, aponta o surgimento dos documentos eletrônicos como o evento que permitiu ao arquivis- ta entender que o que o motiva a avaliar os documentos não são problemas de espaço ou custo para o armazenamento, mas, segundo a autora, é a redundância de informações. Assim, não há uma con- ceituação de arquivo que seja definitiva. Alguns autores, como Rousseau e Cou- ture (1994, p. 284), têm definido arquivo como um conjunto de informações, e não como um conjunto de documentos. Mes- mo que não haja dúvidas de que arquivo é um conjunto de informações, entende-se que o termo informação não é esclarece- dor quando se deseja conceituar arquivo. Entende-se que a informação arqui- vística não prescinde do seu suporte, mesmo que ele não seja passível de leitu- ra a olho nu. Dentre outras justificativas 14 15 para isso, tem-se que a Autenticidade da informação arquivística depende de um conjunto de referências dentre as quais estaria o suporte que contém a informa- ção (RODRIGUES, 2006). Guarde... De origem latina (archivum), em seu sentido antigo identifica o lugar de guar- da de documentos e outros títulos. É a acumulação ordenada dos docu- mentos, em sua maioria textuais, criados por uma instituição ou pessoa, no curso de sua atividade, e preservados para a consecução de seus objetivos, visando a utilidade que poderão oferecer no futu- ro. Em se tratando de ambiente escolar, seria o conjunto, rigorosamente organi- zado, de documentos e informações que comprovem, sem equívocos, a identida- de e os fatos relativos à escolaridade de cada aluno e do conjunto de alunos da instituição escolar e evidenciam, ao mes- mo tempo, os aspectos de organização e ação da escola, referentes ao processo de educação e ensino vivenciado pelos alunos, ao longo do todo o período de funcionamento da instituição (arquivo escolar). 3.4 Importância e finalidade dos arquivos A importância do arquivo para uma instituição está ligada ao aumento ex- pressivo do volume de documentos que a mesma utiliza no exercício de suas ativi- dades e a necessidade de se estabelece- rem critérios de guarda e de eliminação de documentos, quando estes já não são mais úteis para a organização. A adoção de técnicas arquivísticas adequadas per- mite não apenas a localização eficiente da informação desejada, mas também a economia de recursos para a instituição (JUSPODIVM, 2013). A principal finalidade dos arquivos é servir à administração, qualquer que seja ela, mas tem outras. Vejamos: guarda dos documentos que circu- lam na instituição, utilizando para isso técnicas que permitam um arquivamento ordenado e eficiente; garantir a preservação dos docu- mentos, utilizando formas adequadas de acondicionamento, levando em conside- ração temperatura, umidade e demais aspectos que possam danificar os mes- mos; atendimento aos pedidos de consul- ta e desarquivamento de documentos pelos diversos setores da instituição, de forma a atender rapidamente a demanda pelas informações ali depositadas. Quanto às suas funções, o arquivo é o instrumento principal para servir de con- trole à ação administrativa de qualquer empresa pública ou privada. Sua função básica é a guarda e a conservação dos documentos, visando a sua utilização fu- tura, presente e passada. Para alcançar estes objetivos, é necessário que o arquivo disponha dos seguintes requisitos: contar com pessoal qualificado e em número suficiente; estar instalado em local apropriado; dispor de instalações e materiais 14 15 adequados; utilizar sistemas racionais de arqui- vamento, fundamentados na teoria ar- quivística moderna; contar com normas de funcionamen- to; contar com dirigente qualificado, preferencial, mas não obrigatoriamente, até pela escassez dos mesmos, formado em arquivologia. No entendimento de Paes (2004): “a principal finalidade dos arquivos é servir a administração, constituindo-se, com o decorrer do tempo, em base do conhe- cimento da história”. Ela destaca ainda que a “função básica do arquivo é tornar disponível as informações contidas no acervo documental sob sua guarda”. Ob- serva-se, portanto, que o arquivamento não consiste apenas em guardar docu- mentos, mas em servir de fonte de pes- quisa para toda a administração (além de outras pessoas ou institutos a quem pos- sa interessar), sendo base para eventu- ais tomadas de decisões. Por se constituírem em instrumentos das atividades institucionais e pessoais, os documentos de arquivos são fontes primordiais de informação e prova para as conclusões relativas a estas ativida- des, sua criação, manutenção, eliminação e modificação (JUSPODIVM, 2013), disso decorrem algumas características fun- damentais, tais como a autenticidade, a naturalidade, o inter-relacionamento, a unicidade e a legalidade. São características dos arquivos: a) O arquivo possui essência funcio- nal/administrativa, constituindo-se na maioria das vezes de um único exemplar ou de um limitado número de cópias. b) Conteúdo exclusivamente formado por documentos produzidos e/ou rece- bidos por uma entidade, família, setor, repartição, pessoa, organismo ou insti- tuição. c) Tem origem no desempenho das ati- vidades que o gerou (servindo de prova). d) Possui caráter orgânico, ou seja, re- lação entre documentos de arquivo per- tencentes a um mesmo conjunto (um do- cumento possui muito mais valor quando está integrado ao conjunto a que per- tence do que quando está desagregado dele) (EDITORA JUSPODIVM, 2011). Em outro momento do curso, falare- mos dos diversos princípios relativos às áreas que estamos estudando, mas já podemos adiantar que os princípios ar- quivísticos estabelecem três caracterís- ticas intrínsecas ao arquivo que podem ser assim designadas: a singularidade do produtor do arquivo, a filiação dos docu- mentos às ações que promovem a missão definida e a dependência dos documen- tos dos seus pares (RODRIGUES, 2006, p. 107). 3.5 Tipos de arquivos Do mesmo modo que existem vários ti- pos de documentos, existem vários tipos de Arquivos, tudo depende dos objetivos e competências das entidades que os produzem. Se pensarmos no formato, espécie e gênero, teremos: a) Formato: é a configuração física de um suporte de acordo com a sua na- 16 17tureza e o modo como foi confeccionado. Exemplos: formulários, ficha, livro, ca- derno, planta, folha, cartaz, microficha, rolo, tira de microfilme, mapa. b) Espécie: é a configuração que as- sume um documento de acordo com a disposição e a natureza das informações nesse contidas. Exemplos: ata, relatório, carta, ofício, proposta, diploma, atesta- do, requerimento, organograma. c) Gênero: configuração que assume um documento de acordo com o siste- ma de signos utilizado na comunicação de seu conteúdo. Exemplos: audiovisual (filmes); fonográfico (discos, fitas); ico- nográfico (obras de arte, fotografias, negativos, slides, microformas); textual (documentos escritos de uma forma ge- ral); tridimensionais (esculturas, objetos, roupas); magnéticos/informáticos (dis- quetes, CD-ROM). d) Tipo de documento: é a confi- guração que assume um documento de acordo com a atividade que a gerou. Exemplos: ata de posse, boletim de no- tas e frequência de alunos, regimento de departamento, processo de vida funcio- nal, boletim de atendimento de urgência, prontuário médico, tabela salarial. Se pensarmos nas entidades cria- doras/mantenedoras os arquivos podem ser classificados em: públicos (federal, estadual, munici- pal); institucionais (escolas, igrejas socie- dades, clubes, associações); comerciais (empresas, corporações, companhias); e, pessoais (fotos de família, cartas, originais de trabalhos, entre outros). Arquivo especial é outro nome dado para os arquivos que guardam e organi- zam documentos cujas informações são registradas em suportes diferentes de papel, discos, filmes e fitas. Estes podem fazer parte de um arquivo mais completo. Existem aqueles que guardam docu- mentos gerados por atividades muito es- pecializadas como os Arquivos Médicos, de Imprensa, de Engenharia, Literários e que muitas vezes precisam ser organiza- dos com técnicas e com materiais espe- cíficos. São conhecidos como Arquivos Especializados (MARTINS, 1998). Os arquivos públicos e privados serão apresentados em outro momento. 3.6 A diferença entre arqui- vos, bibliotecas e museus Podemos dizer que existem três ór- gãos de documentação: um arquivo pro- priamente dito, a Biblioteca e o Museu. Enquanto no Arquivo temos uma cumulação ordenada dos documentos, em sua maioria textuais, criados por uma instituição ou pessoa, no curso de sua atividade, e preservados para a conse- cução de seus objetivos, visando à utili- dade que poderão oferecer no futuro; na Biblioteca temos conjuntos de materiais, em sua maioria impressos, dispostos or- denadamente para estudo, pesquisa e consulta; os Museus são instituições de interesse público criada com a finalidade de conservar, estudar e colocar à disposi- ção do público conjuntos de peças e obje- 16 17 tos de valor cultural (PAES, 2004). As diferenças básicas entre os mate- riais de biblioteca e de arquivo referem- -se precipuamente ao modo pelo qual se originaram e ao modo pelo qual entraram para as respectivas custódias. Os arqui- vos têm estreito vínculo com as ativida- des funcionais de um órgão do governo ou de qualquer outra entidade. Seu valor cultural pode ser considerado secundário ou acidental. O material de uma bibliote- ca visa primordialmente a fins culturais – estudo, pesquisa e consulta. Os arquivos são órgãos receptores, enquanto as bibliotecas são colecionado- res. Os materiais de biblioteca são adqui- ridos principalmente a partir de compras e doações, ao passo que os arquivos são produzidos ou recebidos por uma admi- nistração para o cumprimento de funções específicas. Jamais serão colecionadores como a biblioteca e sua qualidade própria de arquivo, só se conserva integralmente enquanto a forma e a inter-relação natu- ral forem mantidas. Uma biblioteca não deve recolher documentos oficiais, mas há controvérsias. Além disso, há significativa distinção quanto aos métodos empregados em um e outro caso. Ao apreciar o valor dos do- cumentos expedidos por um órgão oficial ou privado, o arquivista não o faz toman- do por base partes do material. Não exa- mina e conclui quanto ao valor de uma simples peça avulsa como uma carta, um relatório ou qualquer outro documento. Faz o seu julgamento em relação às de- mais peças, isto é, em relação à inteira documentação, resultante da atividade que a produziu. O bibliotecário, ao con- trário, avalia o material a ser adquirido por sua instituição como peças isoladas. Por isso, os arquivistas não podem ar- ranjar seus documentos de acordo com esquemas predeterminados de classifi- cação de assunto. O bibliotecário, no arranjo de seu mate- rial, que consiste em peças avulsas, pode empregar qualquer sistema de classifica- ção. O principal objetivo de um sistema é reunir materiais idênticos, mas o valor de determinada peça não estará neces- sariamente perdido se não for classifica- do em determinado lugar. O mesmo não ocorre no arquivo: uma vez que as peças tenham sido retiradas do seu contexto inicial, destruiu-se muito do seu valor de prova. Daí surgiu o princípio da proveni- ência, pelo qual os documentos são agru- pados pelas suas origens. O arquivista deve estabelecer uma classificação dita- da pelas circunstâncias originais de cria- ção. O princípio da proveniência resultou de experiências desastrosas ocorridas na Europa, quando se tentou o emprego de diversos esquemas de classificação. Outra diferença que pode ser destaca- da é a de os materiais de biblioteca exis- tirem via de regra em numerosos exem- plares, ao passo que os documentos de arquivos existem em um único exemplar ou em limitado número de cópias. Pode-se dizer que a Biblioteconomia trata de documentos individuais e a ar- quivística, de conjuntos de documentos (http://www.rccg.vo6.net). Vejamos no quadro abaixo um panora- ma dos problemas, métodos e desenvol- vimento das áreas específicas de Biblio- teconomia, Arquivologia e Museologia. 18 1918 Biblioteconomia Arquivologia Museologia Problema Análise da literatura científica. Comprovação da origem. Sentido histórico e estético. Método Ênfase no conteúdo/ assunto. Ênfase na autentici- dade/função. Ênfase no objeto/ informações intrínse- cas e extrínsecas. Desenvolvimento Técnico-científico. Jurídico-administra- tivo. Artístico-cultural. 18 1919 UNIDADE 4 – Classificação de Documentos Classificação, num conceito geral, é o ato de classificar; separar por semelhan- ças ou diferenças; dividir. Também po- demos dizer que é ordenar, organizar. O termo classificar também vem de reunir, agrupar coisas ou ideias semelhantes, ou seja, pertencentes à mesma classe (SOU- ZA, 2009). Classificar o conhecimento é algo tão antigo quanto o surgimento da humani- dade e significa ação ou efeito de classi- ficar. Como método foi empregado no iní- cio de seu surgimento de diversas formas na proporção em que o conhecimento se desenvolvia (ANDRADE; BRUNA; SALES, 2011). Para a Biblioteconomia, a classificação segundo Lago (2009, p.15): é o agrupamento de documen- tos semelhantes, distribuídos em classes e representados por símbo- los (números, letras, sinais gráficos) dentro de um determinado sistema de classificação, seja CDD, CDU. As- sim, os documentos de um assunto deverão estar reunidos num mesmo local. A classificação está presente em todo lugar, o ser humano classifica tudo que possui semelhança e separa tudo que possui diferença, é um processo mental habitual do homem que facilita a compre- ensão e o conhecimento (SILVA, 2012). Entende-se por classificação, o pro- cesso pelo qual se torna possível dispor de uma forma ordenada, um determina- do conjunto de elementos, de modo a fa- cilitar a sua posterior identificação, loca- lização e consulta (RIBEIRO, 2006). Por outras palavras, é um método que permite ordenar os vários elementos de um conjunto de acordo com as suas se- melhanças e diferenças, agrupando o que é semelhante e separando o que é diferente. De modo geral, os sistemas de classifi- caçõessão conjuntos artificiais de signos uniformes que permitem a comunicação entre a linguagem natural dos usuários e a unidade de informação, eles são uti- lizados para figurar o conteúdo dos do- cumentos, por isso alguns autores os definem como sistemas simbólicos insti- tuídos com intuito de facilitar a comuni- cação (ANDRADE; BRUNA; SALES, 2011). 4.1 A classificação de docu- mentos Classificar significa dividir elementos em grupos, reunir coisas, assuntos e se- res de acordo com cada característica em comum ou incomum, analisando as dife- renças e semelhanças entre os grupos. Segundo Piedade (1983, p. 16), “classifi- car é dividir em grupos ou classes, segun- do as diferenças e semelhanças”. No entendimento de Gonçalves (1998) – de maneira geral – o objetivo da classi- ficação é, basicamente, dar visibilidade às funções e às atividades do organismo produtor do arquivo, deixando claras as ligações entre os documentos. Ela infe- re que a classificação é, antes de tudo, lógica: a partir da análise do organismo 20 21 produtor de documentos de arquivo, são criadas categorias, classes genéricas, que dizem respeito às funções/ativida- des detectadas (estejam elas configu- radas ou não em estruturas específicas, como departamentos, divisões, entre outros). A classificação é geralmente traduzida em esquema no qual a hierarquia entre as classes e subclasses aparece repre- sentada espacialmente. Esse esquema é chamado “plano de classificação”. Quanto à ordenação, seu objetivo bá- sico é facilitar e agilizar a consulta aos documentos, pois, mesmo no que se re- fere a uma mesma atividade, e em re- lação a um mesmo tipo documental, os documentos atingem um volume signifi- cativo. A adoção de um ou mais critérios de ordenação para uma série documental permite evitar, em princípio, que, para a localização de um único documento, seja necessária a consulta de dezenas ou cen- tenas de outros. O procedimento técnico de classifica- ção alcança, portanto, os tipos documen- tais (identifica-os e articula-os entre si), mas considera, sobretudo, a forma e as razões que determinaram sua existência (como e por quê foram produzidos). Já a ordenação aborda os tipos documentais especialmente do ponto de vista das consultas que lhes forem feitas. Também Ribeiro (2006) fala que na classificação de documentos em arqui- vos, pode-se distinguir dois aspectos dis- tintos: 1) A classificação como ato mental; que pressupõe uma divisão intelectual e sistemática de um conjunto de documen- tos em grupos e subgrupos. 2) A disposição material e física des- ses grupos; colocando-se os documentos numa ordem previamente estabelecida e de acordo com o sistema de classificação concebido para o efeito. Na classificação, as operações de des- crição de conteúdo de um documento consistem na determinação do seu as- sunto principal e eventualmente, um ou dois assuntos secundários que se tradu- zem pelo termo mais apropriado figuran- do num dos tipos classificatórios. As linguagens classificatórias (deci- mal, CDU, e outras) são instrumentos de trabalho muito importantes e que se encontram ligados às necessidades do funcionamento dos arquivos, bibliote- cas, centros e serviços de documenta- ção. Permitem representar de maneira sintética o assunto de um documento e reagrupar as obras nas prateleiras por afinidade de conteúdo (RIBEIRO, 2006). As classificações devem envolver todo o conhecimento, pois existem diversos documentos com variados assuntos de qualquer área do conhecimento. Uma bi- blioteca, por exemplo, deve utilizar o sis- tema de classificação mais apropriado, um sistema que se atualize com os novos assuntos surgidos, afinal de contas, a bi- blioteca sempre foi e será um organismo em crescimento (SILVA, 2012). De acordo com Ranganathan, sobre o qual falaremos em detalhes mais adian- te, (2009, p. 254) “é necessário que a classificação seja abrangente, envolven- do todo o saber passado e presente”. Para Silva (2012), as classificações 20 21 têm o objetivo de identificar o assunto do documento, para que ele possa ser posto em local determinado nas estantes, jun- to com outros documentos com assuntos semelhantes. Facilitando assim, a busca do livro pelo bibliotecário e pelo usuário da biblioteca, evitando perda de tempo. É uma atividade tecnicista específica do profissional bibliotecário que se encarre- ga de classificar os acervos das bibliote- cas. 4.2 Três vertentes classifica- tórias Segundo estudos de Pereira et al. (2009), as classificações podem ser defi- nidas em três níveis: social, filosóficas e bibliográficas. A classificação social é aquela intrín- seca ao ser humano, fazendo parte de sua natureza. É algo que constitui a per- sonalidade de uma pessoa, atuando dia- riamente para a organização mental dela. Por isso, elas podem classificar apenas o que lhe interessam. A classificação filosófica é uma classi- ficação mais elaborada e sofisticada, vol- tada para a definição e hierarquização do conhecimento humano. Já a classificação bibliográfica, preocu- pa-se com a organização e a disposição física de documentos, visando com isso, a sua recuperação. Busca ordenar, para arquivar e ter acesso ao documento em estantes ou nos arquivos. “Todas as teo- rias da classificação bibliográfica buscam promover uma classificação sistemáti- ca, lógica que reflita crítica e sistemati- camente sobre os elementos de ligação que servem para a reunião de conceitos” (ARAÚJO, 2006, p.122). Grandes nomes da classificação como Brown, Bliss, Ranganathan e Dewey fo- ram de suma importância e colaboração para as classificações mais utilizadas em nossos dias, como a da Library of Con- gress, Classificação Decimal de Dewey (CDD) e a Classificação Decimal Universal (CDU). Para se acompanhar a evolução e o surgimento das novas ciências e tecno- logias, faz-se necessário uma boa classi- ficação para uma posterior indexação e finalmente uma representação à altura do assunto proposto no material classi- ficado, para que ele seja facilmente en- contrado tanto pelo profissional da in- formação como pelo usuário, e para este objetivo ser alcançado gradativamen- te Brown, Bliss, Ranganathan, Dewey, Otlet, La Fontaine e tantos outros deram a sua importante contribuição (PEREIRA et al., 2009). 22 2322 UNIDADE 5 – Métodos de Classificação de Documentos Apesar de termos explicado por diversos autores a definição, conceitos, objetivos e importância da classificação de documentos, ainda falta muito, afinal de contas, são várias as possibilidades e os métodos de classifica- ção que vieram evoluindo ao longo dos tem- pos. Sejam métodos para arquivo ou para bi- bliotecas, eles têm muito a contribuir para a organização desses espaços. Em se tratando de documentos de arqui- vo, rapidez e eficiência são duas das condi- ções para quem trabalha com eles, princi- palmente porque uma segunda ou terceira pessoa pode estar precisando desses docu- mentos, por exemplo, para contar seu tempo de serviços com vistas à aposentadoria, cor- reto?! Por isso, esses documentos precisam estar dispostos de maneira lógica e racional. A essa ação, de buscar e utilizar um docu- mento, chamamos de recuperação. As for- mas de recuperação de uma determinada informação, contida em documentos arqui- vados, é extremamente importante; quanto mais ágeis forem os recursos para encontrar o documento procurado tanto mais eficiente será considerado o sistema de recuperação adotado. Por esta razão, os documentos devem ser sistematicamente dispostos nos arquivos e de tal forma ordenados, que permitam o uso de indicadores para facilitar as buscas. Tais indicadores de localização são obtidos tanto com a utilização de letras como de número, constituindo-se nos chamados métodos de arquivamento. Um arquivo jamais deverá ter uma organi- zação pessoal; deverá ser racional e simples, perfeitamente escriturado e organizado de forma que – em qualquer época – outras pessoasque vierem a lidar com ele, imedia- tamente tenham condições de entendê-lo e manuseá-lo com rapidez (FEIJÓ, 1988). A natureza dos documentos e a estrutu- ra da organização são determinantes para a escolha do método de arquivamento. Méto- do é, por assim dizer, um plano de disposição de documentos objetivando facilitar tanto a guarda como a consulta. Os métodos de arquivamento podem ser básicos e/ou padronizados, conforme a ta- bela abaixo: BÁSICOS Alfabético Geográfico Numérico Simples Cronológico Ideográfico Alfabético Enciclopédico Dicionário Numérico Duplex Decimal Unitermo ou indexa- ção coordenada 22 2323 Também podemos dividir os métodos de arquivamento em dois grandes sistemas: di- reto e indireto. Sistema direto é aquele em que a bus- ca do documento é feita diretamente no lo- cal onde se acha guardado. Sistema indireto é aquele em que, para se localizar o documento, necessita-se antes consultar um índice ou um código. É o caso da utilização de fichários. Entre os métodos mais comumente utilizados para se organizar arquivos ou fichários temos: a) Método alfabético (organiza a partir de nomes). b) Método numérico, que se divide em: numérico simples (organiza por um número relativo ao documento), cronológico (organi- za por data) ou dígito-terminal. c) Método geográfico (pelo local de pro- dução). d) Método ideográfico (pelo assunto do documento). 5.1 Alfabético O método que utiliza um nome existente no documento para organizá-lo de forma al- fabética, utilizando-se desse mesmo nome para localizar o referido documento, quando necessário. A ordenação alfabética utiliza todas as letras do nome, a fim de diferenciar os documentos que começam com as mes- mas letras. O método alfabético é um método direto, pois não exige a adoção de índice para que o documento seja localizado. Sua busca se dá diretamente no documento. Consiste em ordenar a documentação em rigorosa ordem alfabética, ou seja, é utilizado quando o elemento principal a ser considera- do é o nome, pode ser chamado de sistema direto, pois a pesquisa é feita diretamente no arquivo por ordem alfabética, devendo ser respeitadas as regras de alfabetação. Este método é bastante rápido, direto e de fácil utilização. É importante destacar que neste método as letras K, W e Y, já deverão ser convenien- temente consideradas, pois entram na com- posição de nomes de origem estrangeira e já fazem parte oficialmente do nosso alfabeto. A posição correta que ocupam é a seguinte: ...f, j, k, l,..., t, u, v, w, x, y, z. A desvantagem do método alfabético é a alta incidência de erros de arquivamento quando o volume de documentos é muito grande, devido ao cansaço visual e à varieda- de de grafia dos nomes. a.1 Regras de Alfabetação: O arquivamento de nomes obedece a al- gumas regras, sendo estas as principais: 1- Palavra por palavra, letra por le- PADRONIZADOS Variadex Automático Soudex Mneumônico Rôneo 24 25 tra, até o final de cada palavra. Exemplo: Laurita Mendes Garcia Lurdes de Jesus Pinheiro Mércia Aparecida Campos 2- Nos nomes de pessoas físicas, con- sidera-se o último sobrenome e depois o prenome. Exemplo: Estela Rodrigues Magalhães Guilherme Souza Assis de Andrade José Carlos Valverde Magalhães Arquiva-se: Andrade, Guilherme Sousa Assis de Magalhães, Estela Rodrigues Magalhães, José Carlos Valverde 3- Sobrenomes Compostos de um substantivo e um adjetivo ou ligados por hífen não se separam. Exemplo: Eduardo Castelo Branco Gabriela Sanches Vila-Lobos Rômulo João Monte Verde Arquiva-se: Castelo Branco, Eduardo Monte Verde, Rômulo João Vila-Lobos, Gabriela Sanches 4- Os artigos e preposições, tais como a, o, de, d’, e, um, uma, não são considerados. Exemplo: Bruno Honório de Freitas Letícia Cristina d’ Andrade Arquiva-se: Andrade, Letícia Cristina d’ Freitas, Bruno Honório de 5.2 Geográfico Os documentos são classificados e agru- pados com base nas divisões geográficas/ administrativas do globo: países, regiões, províncias, distritos, cidades, vilas, aldeias, bairros, freguesias, ruas e outros critérios geográficos e de localização. Este sistema é combinado com outros sistemas classificativos, como por exemplo; o alfabético, o numérico ou o decimal, com vista a um melhor acondicionamento e loca- lização dos documentos e a sua informação. O sistema de classificação geográfica re- sulta do fato de haver necessidade de locali- zar fatos ou pessoas num espaço geográfico determinado, como por exemplo; as coleções ou séries filatélicas que normalmente são agrupadas por localidades, países, regiões e outros critérios relacionados com estes. É muito utilizado em museus etnográficos e de arte popular (RIBEIRO, 2006). É o caso, por exemplo, de uma instituição que possua diversas filiais e que, em seu ar- quivo intermediário, organize os documen- tos separando-os por cidade, quando estas pertencerem ao mesmo Estado em que está localizada a filial. Neste caso, estará sendo utilizado o método geográfico. Recomenda- -se que, em caso de organização de nomes de cidades, esta seja feita iniciando-se pela capital e, em seguida, por ordem alfabética das demais cidades (PAES, 2004). 5.3 Ideográfico A classificação ideológica, também desig- nada como ideográfica, metódica ou analíti- ca baseia-se, fundamentalmente, na divisão de assuntos, ideias, conceitos e outras divi- sões, sendo os documentos referentes a um mesmo assunto ou objeto de conhecimento, ordenados segundo um conceito chave ou 24 25 ideia de agrupamento, colocando-se a se- guir, de forma alfabética. Isto é: o método ideográfico é aquele que separa os docu- mentos por assunto e uma vez identifica- dos os assuntos, estes podem ser aplicados levando-se em consideração seus nomes ou números a eles atribuídos. Este sistema parte da análise de um as- sunto e divide-o em grupos e subgrupos com características cada vez mais particulares e restritas exigindo um certo controle e disci- plina devido à grande variedade de palavras com significados análogos. Para aplicar este sistema, é necessário elaborar um instrumento de trabalho que sirva de orientação para a classificação de assuntos nos arquivos e que se designa nor- malmente por classificador ou listagem por assuntos. O classificador deve ser elabora- do respeitando um determinado número de regras, tais como, evitar as abstrações (por abrangerem matérias demasiado vastas) e afastar a utilização de palavras com signifi- cados análogos, colocando-se na lista uma remissiva para a palavra-chave que está se utilizando. Para que o trabalho fique completo, de- ve-se submeter a listagem a uma cuidadosa avaliação pelos usuários do arquivo, de for- ma a poder introduzir os melhoramentos ne- cessários que permitam a recuperação dos documentos arquivados. Ressalte-se ser um instrumento que deve ser periodicamente revisto e atualizado, e deve refletir a estru- tura interna do organismo. As principais vantagens atribuídas a este sistema classificativo resultam do fato de se poder ter uma visão global dos assuntos que são abordados na documentação, permitir o agrupamento dos documentos de acordo com o seu conteúdo, ser extensível até ao infinito e de ser altamente flexível (RIBEIRO, 2006). Vejamos no quadro abaixo algumas possí- veis classificações pelo método ideográfico: Alfabético dicionário Alfabético enciclopédico Usando método DUPLEX OU DECIMAL Abono Compra de material Contas a pagar Contas a receber Controle de estoque Demissão de pessoal Férias Salários FINANCEIRO Contas a pagar Contas a receber MATERIAL Compra de material Controle de estoque PESSOAL Abono Demissão de pessoal Férias Salários 1- FINANCEIRO 1-1 Contas a pagar 1-2 Contas a receber 2- MATERIAL 2-1 Compra de material 2-2 Controle de estoque 3- PESSOAL 3-1 Abono 3-2 Demissão de pessoal 3-3 Férias 3-4 Salários A fim de facilitar o arquivamento, o méto- do ideográfico poderá ser utilizado a partir de códigos atribuídosa cada assunto, caso em que estarão presentes os métodos DU- PLEX ou DECIMAL. Em ambos os casos, os assuntos serão organizados em títulos ge- rais, dentro dos quais estarão presentes, de forma hierarquizada, os assuntos específi- 26 27 cos, a exemplo do método enciclopédico. A diferença básica entre os métodos duplex e o decimal reside no fato de que, enquanto o método duplex permite a criação de infinitas classes, o método decimal limita a criação das classes a 10. 5.4 Numérico O recurso numérico é um excelente indi- cador de localização de documentos arqui- vados. A numeração de matrícula nada mais é do que uma metodologia de recuperação de do- cumentos utilizados no método numérico. A numeração da matrícula permite uma utilização sequencial indefinida, ou inter- mitente, não tem regras fixas, podendo ser utilizada a forma que mais convier à organi- zação do arquivo, bastando que ao idealizar seu uso, seja definida que tipo de sequência numérica será adotada. A numeração de matrícula irá definir a respectiva posição sequencial do arquiva- mento, facilitando enormemente o encontro rápido da documentação desejada. Se pensarmos em ambiente escolar, por exemplo, lembramos, inicialmente, que uma quantidade significativa de alunos matricu- la-se anualmente nas instituições de ensino. Este método então poderá ser: a) Numérico Simples – é obedecida a or- dem de entrada no arquivo, pela numeração atribuída ao documento ou do próprio, sem preocupação com a ordem alfabética, de- vendo ter um índice alfabético remissivo. Exemplo: Amanda Florêncio dos Santos - Matrí- cula nº 00234 (PASTA 008) Bernardo Nunes Moraes - Matrícula nº 02732 (PASTA nº 091) Ruth Dias Teixeira - Matrícula nº 04569 (PASTA nº 153) b)) Numérico Cronológico – neste mé- todo deve ser levado em consideração, es- pecificamente a data e ano do documento. Exemplo: 1. Ofício nº 34 de 20/02/07 e Ofício nº 41 de 13/03/07 - Arquiva-se na Pasta de Ofícios do ano de 2007 por ordem de data. 2. Diário de Classe do ano letivo de 2003 - Arquiva-se no arquivo permanente na Pasta de Diários de Classe - 2003. 3. Pasta de Gustavo Queiroz Botelho concluinte do Ensino Fundamental em de- zembro de 1997 - Arquiva-se no arquivo permanente na Pasta de alunos concluin- tes ou que interromperam seus estudos na instituição de ensino - 1997. Segundo Ribeiro (2006), a classificação numérica utiliza a sequência natural dos nú- meros inteiros para ordenar os elementos de um conjunto de documentos. Este siste- ma de classificação é utilizado em conjunto com outros sistemas, normalmente, com o sistema alfabético, para que se possam ar- quivar ou recuperar os documentos. Esta combinação pode ser traduzida em ficheiros remissivos, ordenados alfabeticamente, ou mediante a utilização de meios informáticos que permitirão a localização dos documen- tos para posterior utilização. Embora apresente vantagens como o fato de permitir a classificação de um modo indefinido e sem interrupções; possibilitar a detecção imediata da falta de um proces- so ou documento pela ausência do número sequencial correspondente, já que se torna 26 27 mais fácil ler números do que letras e per- mitir uma arrumação dos documentos ou processos de forma rápida e expedita, tem a desvantagem de se tornar muito difícil a localização de um documento ou processo quando se lança erradamente um número. 5.5 Alfanumérico A classificação alfanumérica resulta da combinação dos sistemas de classificação alfabética e numérica. Baseia-se, na atribui- ção de um número ou conjuntos de números a uma determinada classe alfabética para posterior arquivamento e localização (RIBEI- RO, 2006). Este sistema misto permite diminuir subs- tancialmente o risco de erro no arquivamen- to dos documentos e processos, já que es- tes são localizados pelo número atribuído à classe, procurando-se a seguir, na sequência alfabética. A probabilidade de erro fica assim restringida ao espaço compreendido pela classe. Exemplo: O nº 1 corresponde à classe compreen- dida entre: Aa – Al. O nº 2 corresponde à classe compreen- dida entre: Am – Az. O nº 3 corresponde à classe compreen- dida entre: Ba – Bl. O nº 4 corresponde à classe compreen- dida entre: Bm – Bz. O nº 5 corresponde à classe compreen- dida entre: Ca – Cl. O nº 6 corresponde à classe compreen- dida entre: Cm – Cz. E assim sucessivamente... Se quisermos localizar um processo re- ferente a Costa, José Gonçalves, temos de o procurar no nº 6 (Cm - Cz) e dentro desta classe encontra-se arquivado por ordem al- fabética (RIBEIRO, 2006). 5.6 Classificação Decimal de Dewey (CDD) Do ponto de vista de finalidade, as classi- ficações CDD e CDU são classificações docu- mentárias, utilizadas para organizar docu- mentos em bibliotecas, com a finalidade de recuperar a informação (EDUVIRGES, 2011). Enquanto a CDD surgiu necessariamen- te para ser utilizada em bibliotecas, a CDU surgiu para o uso bibliográfico. Vejamos pri- meiro a CDD para em seguida discorrermos sobre a CDU. É de uma pesquisa bibliográfica realiza- da por Andrade, Bruna e Sales (2011), que teve como objetivos mostrar a usabilidade dos sistemas de classificação CDU e CDD nos centros informacionais, e sua representa- tividade na recuperação da informação que extraímos informações concisas e claras so- bre as classificações em tela: CDD e CDU. A CDD foi criada pelo bibliotecário Melvin Dewey, com base na classificação de Har- ris e foi a primeira classificação bibliográfi- ca propriamente dita, pois utiliza números arábicos. É a classificação mais utilizada no mundo, editado em várias línguas, mas suas línguas oficiais são o espanhol e o inglês. A ideia de Dewey era organizar os livros do conhecimento humano em apenas dez classes. Na sua primeira edição, ela iniciou com 42 páginas e recebeu o nome em inglês de A Classification and subjetc index for cataloging and arranging the book and pamplets of a library, e passou a se chamar 28 29 de Classificação Decimal Dewey a partir da décima sexta edição (EDUVIRGES, 2011). A Classificação Decimal de Dewey – (CDD) – ou DDC (sigla em inglês) é sem dúvida um dos mais importantes inventos da humani- dade. Ao buscarmos embasamento teórico para essa afirmação, o mais próximo que chegamos foi encontrar a Classificação dos Seres Vivos, na 32º posição no que se refere a grandes feitos da humanidade (ANDRADE; BRUNA; SALES, 2011). No entanto, para as autoras acima, parece muito simples a comprovação do raciocínio, sendo necessário apenas pensar por alguns segundos em todas as informações que são produzidas, e imaginar o que seriam de todas elas e de toda a humanidade, caso não hou- vesse um acesso rápido ao que se deseja. Sem a classificação bibliográfica perdería- mos a maior parte do nosso tempo procuran- do algo que nos valha. Diga-se de passagem, que elas não ressaltam apenas a importância da classificação de Dewey, mas de todos os sistemas de classificação bibliográficos, es- pecialmente a CDD e CDU. A classificação Decimal de Dewey foi de- senvolvida em 1876 por Melvil Dewey, atual- mente é o sistema de classificação bibliográ- fica mais utilizado em todo o mundo, desde sua criação até os dias atuais passou por vá- rias edições, sendo a de 2011 a mais atual, que corresponde a 23º edição. A 2º edição foi publicada em 1885, com o nome Decimal Classification and Relative Índex, desta vez com indicação de respon- sabilidade, mas somente na sua 16º edição, a obra passa a ser denominada de Dewey Decimal Classification (DDC), conhecida em português como Classificação Decimal de Dewey (CDD). Desde sua primeira edição até os dias atu- ais, a CDD sofreu várias alterações, tanto no que diz respeito ao aumento do número de classe, quanto à revisão das mesmas. Segundo Piedade (1983, p. 89), a ordem das classes segue um pensamento lógico: O homem começou a pensar e a procurar uma explicação para sua existência, e assim surgiu a Filoso- fia; incapazde desvendar o misté- rio, imaginou a existência de um ser supremo que o havia criado, surge a Religião; multiplicando-se o homem passa a viver em sociedade e vêm as Ciências Sociais; sente necessidade de se comunicar com os companhei- ros e cria línguas; passa então a in- vestigar os segredos da natureza e temos as Ciências Puras; de posse desse conhecimento procura deles tirar proveito aparecendo as Ciên- cias Aplicadas; e agora, já sentindo capaz de criar, dá origem às Artes e à Literatura; finalmente a História que conta tudo que passou. Dewey dividiu o conhecimento humano em 9 classes, e reservou uma classe para reunir obras relacionadas a assuntos gerais, para isso usou uma notação com números decimais. As classes principais são: 000 Generalidades. 100 Filosofia e disciplinas relacionadas. 200 Religião. 300 Ciências Sociais. 400 Línguas. 500 Ciências Puras. 600 Tecnologia (Ciências Aplicadas). 700 Artes, Recreação e Artes Cênicas. 28 29 800 Literatura (Belas Letras). 900 Geografia. Biografia. História. As classes possuem 9 subdivisões em classes menores, e cada divisão possui 9 seções. A CDD conta com tabelas auxiliares. São elas: Tabela 1 – Subdivisões standard (aplicá- veis a qualquer tabela principal). Tabela 2 – Áreas (aplicáveis a qualquer tabela principal). Tabela 3 – Subdivisões para literaturas individuais (subdivide a classe 800). Tabela 4 – Subdivisões para línguas indi- viduais (subdivide a classe 400). Tabela 5 – Grupos raciais, étnicos, nacio- nais (utilizadas somente quando o sistema determina). Tabela 6 – Línguas (utilizadas somente quando o sistema determina). Tabela 7 – Pessoas (utilizadas somente quando o sistema determina). As tabelas auxiliares, como o próprio nome sugere, permitem um maior detalhamento do assunto. O índice é parte integrante da CDD, ele está ordenado alfabeticamente, é chamado de índice relativo “porque relaciona todos os aspectos de determinados assun- tos que possam pertencer a outras classes” (BLATTMANN, 2002). 5.7 Classificação Decimal Universal (CDU) A Classificação Decimal Universal (CDU) é um mecanismo preestabelecido como ins- truções, com a finalidade de ser utilizada pelo profissional da informação no auxílio na identificação do assunto no documento, independente do suporte nas quais as infor- mações estão inseridas e conseguintes, clas- sificar o documento utilizando as regras des- critas na mesma. Conforme Souza (2010), a CDU é compreendida como uma linguagem de indexação e de recu- peração de todo o conhecimento registrado e na qual cada assunto é simbolizado por um código baseado nos números arábicos. Dessa forma, evidencia-se a necessidade de meios de padronização e direcionamento na recuperação da informação universal sob todo o conhecimento científico. Os belgas Paul Otlet e Henri La Fontaine, após várias pesquisas no intuito de criar um meio de controle e identificação bibliográ- fica, criaram o Manual Du Repertoire Biblio- graphique Universal, desenvolvida a partir da 19° edição da CDD e fora publicada em 1904 a 1907, conhecida como Classificação de Bruxelas. Somente em 1927, a segunda edição fora publicada com o título Classifica- tion Decimale Universelle em edição france- sa e, em 1933, publicaram a Edição – Padrão Internacional – descrita como Máster Refe- rence File. Em 1934 a 1948, foi publicada a 3° edição em alemão. A CDU encontra-se na língua inglesa que é a oficial, na francesa, ita- liana, portuguesa e alemã. A primeira edição média na língua portuguesa foi publicada em 1976, pelo Instituto Brasileiro de Informação e Tecnologia-IBCT, no entanto, a segunda parte, já fora publicada em 2005 (ANDRADE; BRUNA; SALES, 2011; EDUVIRGES, 2011). A responsabilidade da manutenção e ad- ministração da CDU mundialmente é a UDC Consortium e atualmente no Brasil é IBICT – membro da Federação Internacional de Documentação. A CDU quando atualizada, corrigida ou alterada, é publicada através da 30 31 Extensions and corrections to the UDC- E&C. A notação da CDU é mista, pois contém si- nais, símbolos, números decimais, sinais grá- ficos e letras, visto que, quando estabelecido o código e ordenação, é determinável a clas- sificação do documento. A CDU é compos- ta pelas tabelas principais ou sistemáticas, essa tabela comporta todo o conhecimento científico, sendo dividida em 10 classes prin- cipais de 0 a 9, e a classe 4 se encontra vaga, pois fora transferida para classe 8, em 1964. Cada classe é subdividida em 10 seções, e as mesmas são novamente desdobradas em 10 subclasses. Vejamos como são apresenta- das as 10 classes: 0. Generalidades. 1. Filosofia. 2. Religião. 3. Ciências Sociais. 4. Vaga. 5. Ciências Puras. 6. Ciências Aplicadas. 7. Artes. Recreação. Diversão. Esportes. 8. Linguística. Literatura. 9. História, Geografia. Biografias. A CDU contém as tabelas auxiliares, que permitem a construção de números com- postos, ou seja, a atribuição de um número extraído de determinada localidade para unir aos números das tabelas principais, especifi- cando a determinação do assunto do item. As tabelas auxiliares dividem-se da seguinte forma: auxiliares de relação, adição ou coorde- nação na qual o sinal é o +, liga dois ou mais assuntos consecutivos formando um núme- ro composto; extensão consecutiva, o sinal é /, a barra oblíqua liga dois ou mais assuntos seguidos e consecutivos e também locais e épocas; a relação, o sinal é: dois pontos, ideia de dependência em uma relação, limitando os assuntos ligados; colchetes ou sinal de agrupamento [ ] que indica intercalação para a alteração à or- dem de citação dos assuntos e não há altera- ção à ordem de arquivamento; dois pontos duplos ou sinal de ordena- ção indica relação fixa à ordem dos números, sem a intervenção dos termos. E há as auxiliares independentes, que são utilizadas separadamente ou em qualquer número da CDU, sendo elas as auxiliares de língua, forma, lugar, raça e tempo, em que os símbolos e suas funções respectivamente são: = indica língua, (0/09) a forma na qual o documento se apresenta, (1/9) indica lugar ou aspecto geográfico, (=...) raça” “indica da- tas, períodos, tempo cronológico em geral. E por último, as auxiliares dependentes que são utilizadas sempre ligadas a um nú- mero da CDU, a subdivisão alfabética A/Z que é utilizada em Biografias, Filosofia, Músi- ca, Pintura e Literatura; propriedade -02 em que qualifica o assunto; materiais -03 que representam materiais ou objetos de fabri- cação; pessoas -05 que aumenta a especifi- cidade do assunto; asteriscos que indica sím- bolo criado que não consta na CDU. Ainda se tem as auxiliares especiais ou analíticas, nas quais são: a analítica de ponto. 01/.09 que re- presenta atividades. Processos, instalações; e a analítica de traço representada por -1/-9 indica componentes; analítica de apóstrofo ‘0/9’ que possui a função enumerativa e in- tegrativa. Por fim, o índice alfabético com- plementa a estrutura da CDU. Existem duas ordens para a organização e 30 31 processamento técnico da formação e apli- cação do código, a ordem de citação ou ho- rizontal que os elementos são combinados para a formação do número de classificação e a ordem vertical ou intercalação que pos- sui uma ordem a seguir para o arquivamen- to dos itens nas estantes. E há presença dos seguintes símbolos: → (seta) que significa ver também e o subdividir como (ANDRADE; BRUNA; SALES, 2011). Ambas CDD e CDU possuem pontos positi- vos e negativos, conforme mostra o quadro abaixo: Sistema Aspectos positivos Aspectos negativos CDD Permitir a organização e acesso a documentos e informação pelo seu conteúdo. A inteligência da CDD está na es- colha de números decimais para suas categorias; isto permite que o sistema seja ao mesmo tempo puramente numérico e infinita- mente hierárquico. Uniformização Internacional da Informação. Possibilidade de haver classifica- ção muito abrangente, tendo em vista