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CADERNO DE ATIVIDADES 2º ANO – E.M. 2015 79 TEXTO: 5 - Comum à questão: 24 01Antes de iniciar este livro, imaginei construí-lo pela divisão do 02trabalho. 03Dirigi-me a alguns amigos, e quase todos consentiram de boa 04vontade em contribuir para o desenvolvimento das letras nacionais. 05[...] 06O resultado foi um desastre. Quinze dias depois do nosso 07primeiro encontro, o redator do Cruzeiro apresentou-me dois capítulos 08datilografados, tão cheios de besteiras que me zanguei: 09— Vá para o inferno, Gondim. Você acanalhou o troço. Está 10pernóstico, está safado, está idiota. Há lá ninguém que fale dessa 11forma! 12Azevedo Gondim apagou o sorriso, engoliu em seco, apanhou os 13cacos da sua pequenina vaidade e replicou amuado que um artista 14não pode escrever como fala. 15— Não pode? Perguntei com assombro. E por quê? 16Azevedo Gondim respondeu que não pode porque não pode. 17— Foi assim que sempre se fez. A literatura é a literatura, seu 18Paulo. A gente discute, briga, trata de negócios naturalmente, mas 19arranjar palavras com tinta é outra coisa. Se eu fosse escrever como 20falo, ninguém me lia. Graciliano Ramos, S.Bernardo 24 - (MACK SP) Considerando que a fala de Gondim baseia-se no pressuposto de que, por tradição, a literatura brasileira esteve associada a uma linguagem acadêmica, rebuscada, de preciosismo vocabular e sintático, assinale a alternativa que, apresentando verso parnasiano, exemplifica essa tradição. a) Quando Ismália enlouqueceu,/ Pôs-se na torre a sonhar.../ Viu uma lua no céu. / Viu outra lua no mar. b) Eu canto porque o instante existe / e a minha vida está completa. / Não sou alegre nem sou triste: / sou poeta. c) Que alegre, que suave, que sonora, / Aquela fontezinha aqui murmura!/E nestes campos cheios de verdura /Que avultado o prazer tanto melhora? d) Olho-te fixamente para que permaneças em mim./ Toda esta ternura é feita de elementos opostos / Que eu concilio na síntese da poesia. e) Esta de áureos relevos trabalhada / De divas mãos, brilhante copa, um dia, / Já de aos deuses servir como cansada, / Vinda do Olimpo, a um novo deus servia. TEXTO: 6 - Comum à questão: 25 O chá, os fantasmas, os ventos encanados... 1Nasci no tempo dos ventos encanados, quando, para evitar compromissos, a “gente bem” dizia estar com enxaqueca, palavra horrível mas desculpa distinta. Ter enxaqueca não era para todos, mas só para essas senhoras que tomavam chá com o dedo mindinho espichado. Quando eu via aquilo, ficava a pensar sozinho comigo (menino, naqueles tempos, não dava opinião) por que é 5que elas não usavam, para cúmulo da elegância, um laçarote azul no dedo... Também se falava misteriosamente em “moléstias de senhoras” nos anúncios farmacêuticos que eu lia. Era decerto uma coisa privativa das senhoras, como as enxaquecas, pois as criadas, essas, não tinham tempo para isso. Mas, em compensação, me assustavam deliciosamente com histórias de assombrações. Nunca me apareceu nenhuma. 10Pelo visto, era isso: nunca consegui comunicar-me com este nem com o outro mundo. A não ser através d’ O tico-tico e da poesia de Camões, do qual até hoje me assombra este verso único: “Que o menor mal de tudo seja a morte!” Pois a verdadeira poesia sempre foi um meio de comunicação com este e com o outro mundo. MÁRIO QUINTANA Mario Quintana: poesia completa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2005.