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340 Pedro Calmon impos1çao do meio, o seu municipio de Itaquí), jamais seria um crente dos dogmas de Castilhos. Junto a Getúlio, completavam-se. Só um clima de eleições honestas diluiria os rancôres que duravam cem anos (1). Esse govêrno, ansioso por alijar o pêso de vindictas e represalías, enveredou surpreendentemente pela experiencia da paz: e deu aos adversarias, desconfiados, a idéia de que mesmo sem guerra, a golpes eleitorais, conquistariam o poder. Disto resultou que Assis Brasil (chefe dos libertadôres) se afastou do grupo revolucionário (encabeçado, no exílio, por Luiz Carlos Prestes), com quem até aí confabulára para agitar novamente a provincia e o país: e nos acam pamentos maragatos a velha flâmula vermelha foi sutil mente su bstituida pela nova bandeira eleitoralista (2): candidaturas, em vez de cavalgatas. . . Se era possível conciliar o Rio Grande com a renuncia à violencia, facil seria uní-lo em torno de um nome rio-grandense levado à presidencia da república. Pensavam com simplicidade: fracassára até então uma candidatura gaúcha porque a divisão interna, cortando o Estado em zonas separadas, não a tornaria nunca a expressão dele todo - com a sua força. Só se um fato mágico (e o nome gaúcho à presi dencia seria esse acontecimento mirífico) empolgasse de subito as multidões, arrastando-as, convencendo-as ... Candidato gaúcho. Tudo sucedeu como previam. Antonio Carlos dirigiu e marcou o jogo. Cabia-lhe a herança presidencial. No esplendor da carreira cívica esmaltada de astúcia e inteli gencia, a que não faltava o brilho heraldico do apelido (Andrada), aspirava legitimamente ao govêrno com os (l) " ... Pelo Rio Grande unido e reconciliado, depois de quasl um seculo de divergencias profundas", João Neves, discurso de 5 de ,\gQs\o de 1929, Jornada Liberal, l, 7, Porto Alegre 1932. (2) MAUlUCIO DB LACERDA, Segunda república, p. 98. d) A Revolução de Trinta difundiu o trabalhismo tanto pelas cidades quanto pelo campo, gerando emprego a muitas pessoas que, antes, dedicavam- -se ao banditismo social. O fim de grupos como o de Lampião era uma questão de tempo, mesmo que ele tenha sido morto pela polícia no fim da década de 1930. 93 - (UERN) “Ilmo sr. Francisco de Souza – Aspiro boa saúde com a exma. família, tendo eu frequentado uma fazenda sua, deliberei saudando-o em uma cartinha, pedir um cobrezinho. Basta dois contos de réis. Eu reconheço que o sr. não se sacrifica com isto e eu ficarei bem agradecido e não terei razão de lhe odiar nem também a gente de Virgulino terá esta razão. Sem mais, do seu criado, obrigado. Hortêncio, vulgo Arvoredo, rapaz do bando de Virgulino Ferreira, vulgo Lampião.” (Publicado no Jornal A Tarde, 20/01/1931, Coletânea de Documentos Históricos para o 1º grau, São Paulo; SE/CENP, 1980.p.51, in.: Rodrigues, 1999.) Apesar do palavreado gentil, o sentido real da carta está ligado ao próprio significado do Cangaço, movimento social do início da República Brasileira, ou seja, a) o sentido de um movimento de cunho social que visava apenas combater as oligarquias e as discrepâncias sociais. b) uma espécie de “banditismo social”, que agia basicamente por interesses próprios, com violência extrema e sem uma ideologia determinada. c) um movimento essencialmente comprometido com uma determinada classe social, a saber, a classe oligár- quica, que muitas vezes utilizou-se de seus serviços para garantir a ordem. d) de um movimento que demonstrou um viés socialista, já que os cangaceiros estabeleciam alianças com os tenentistas comandados por Luis Carlos Prestes, o “cavaleiro da esperança”. 94 - (UECE) Em 1904, a Revolta da Vacina, ocorrida na cidade do Rio de Janeiro, então capital federal, deu-se num momento decisivo de transformações da sociedade brasileira. Acerca desse movimento, analise as assertivas abaixo. I. Seu pretexto imediato foi a campanha de vacinação em massa contra a varíola, desencadeada por decisão da própria presidência da república, num momento em que uma onda de insatisfação popular varria o Rio de Janeiro. II. O governo esbravejava contra métodos de execução da aplicação da vacina que eram truculentos, os soros e os aplicadores pouco confiáveis, e os funcionários, enfermeiros e fiscais encarregados da campanha manifestavam atitudes pouco recomendáveis, mas a vacina era absolutamente necessária. III. O combate foi intenso. Aproveitando-se das reformas então em curso para a abertura de avenidas, os populares se armaram de pedras, paus, ferros, instrumentos e ferramentas contundentes, e os utilizaram como material bélico contra a polícia. Está correto o que se afirma somente em a) II. b) I e II. c) II e III. d) I e III. 95 - (Unievangélica GO) Observe a imagem. Disponível em: . Acesso em: 01 out. 2013. http://www.google.com.br/search?gs_rn=27&gs_ri=psyab Sobre a capoeira no Brasil, verifica-se que a) a população afrobrasileira praticava a dança da capoeira nos festejos religiosos organizados pela igreja católica. b) até o ano de 1930, a prática da capoeira não era bem vista no Brasil, pois o esporte era considerado violento e subversivo e a polícia tinha ordens de prender os capoeiristas. c) a capoeira chegou ao Brasil em 1937, quando o governo Getúlio Vargas a transformou em esporte nacional. d) os africanos que vieram para o Brasil trouxeram seus hábitos culturais, mas a violência e a repressão dos colonizadores brasileiros obrigaram os escravos a modificarem suas formas de defesa que uniam luta e dança. 96 - (ENEM) Charge capa da revista “O Malho”, de 1904. Disponível em: http://1.bp.blogspot.com. A imagem representa as manifestações nas ruas da cidade do Rio de Janeiro, na primeira década do século XX, que integraram a Revolta da Vacina. Considerando o contexto político-social da época, essa revolta revela a) a insatisfação da população com os benefícios de uma modernização urbana autoritária. b) a consciência da população pobre sobre a necessidade de vacinação para a erradicação das epidemias. http://1.bp.blogspot.com/ c) a garantia do processo democrático instaurado com a República, através da defesa da liberdade de expressão da população. d) o planejamento do governo republicano na área de saúde, que abrangia a população em geral. e) o apoio ao governo republicano pela atitude de vacinar toda a população em vez de privilegiar a elite. 97 - (CEFET MG) O que houve em Canudos e continua a acontecer hoje, no campo e nas grandes cidades brasileiras, foi o choque do Brasil oficial e mais claro contra o Brasil real e mais escuro. Ao Brasil oficial e mais claro, pertenciam algumas das melhores figuras da elite política do tempo de Euclides da Cunha (1866-1909): civis e políticos, como Prudente de Morais, ou militares, como o general Machado Bittencourt. Bem intencionados, mas cegos, honestos, mas equivocados, estavam convencidos de que o Brasil real de Antonio Conselheiro era um país inimigo que era necessário invadir e destruir. SUASSUNA, Ariano. Canudos e o exército. Folha de São Paulo, São Paulo, 30 nov. 1999. Primeiro Caderno, p. 2. Sobre a Revolta de Canudos, é correto afirmar que a) colocou em confronto a elite mestiça e o povo negro. b) acirrou a disputa existente entre federalistas e liberais. c) decorreu de um conflito social insolúvel até os dias atuais. d) produziu a oposição do governo republicano aos jovens abolicionistas. e) resultou da insatisfação dos sertanejos com a instauração de um Estado católico. 98 - (ESCS DF) Entre outras manifestações de força e de rebeldia, dois acontecimentos impactantes marcaram as décadas iniciais da República brasileira, tendo por epicentroo Rio de Janeiro, a capital que entrava em processo de modernização urbana. Em ambos os movimentos, ainda que por motivos diferentes, a inviolabilidade dos corpos era a motivação fundamental que impelia a ação dos revoltosos. Essas ações ficaram conhecidas como Historia do Brasil 341 titulos de presidente de Minas, de leader no Congresso da reação bernardista, de expoente, agora, da resistencia liberal ao personalismo do Catete. Porque a São Paulo não se seguiria Minas, que lhe antecedera, na alternativa de Wencesláo e Rodrigues Alves, de Bernardes e Wash ington? Sentiu, decepcionado, que assim não pensava Washington; e assumiu a atitude ameaçadôra, de chefe natural da resistencia, com uma fórmula ambígua: "façamos a revolução, antes que o povo a faça" (1). Por um momento dependeu da palavra do presidente o temporal suspenso: amainaria, com a indicação do presidente mineiro para seu sucessor. Não quiz. Preferiu Júlio Prestes - insistindo na tentativa frustrada de Rodrigues Alves com Bernardino, de Afonso Pena com Campista: a continuidade, na mesma área geográfica. O falecimento súbito de Carlos de Campos estava no principio dessa crise. Para substituí-lo na presidencia de São Paulo, pre terindo embora correligionarios mais antigos, indicou Washington o seu "leader", Júlio Prestes (2); e o fez seu candidato a presidente da república. Assumira Prestes o governo paulista em 14 de Julho de 27; em Junho de 28 já Antonio Carlos, desenganadamente, procurava articular-se "contra a imposição do Catete" (ou antes, a sua adivinhada preferencia), com Pernambuco e a Paraíba. Para o véto precisava da terceira força, o Rio Grande. Mandou que o seu secretario do interior (Francisco Campos) lhe oferecesse a candidatura por intermedio do "leader" da bancada, João Neves (8). (l ) Discurso de Antonio Carlos na convenção de 20 de Setembro de 1929, ao lançar o nome de Getúlio Vargas: "conclllar os cidadãos com o poder"... (Aliança Liberal, documentos da campanha presidencial, p. 12, Rio I98u) . (2) ANTONIO CARLOS, prefacio à Jornada Liberal, de J. Neves, 1, XIV. (8) PAUL FRISCHAUER, Presidente Vargas, p. 281. Pouco antes, Ignorando as intenções de Minas, escrevera Getúlio a Washington que permanecia fechado a qualquer manifestação sobre o problema, carta de 10 de Maio de 20, Leonidas do Ama ral, Os pródromos da campanha presidencial, p. 15, S. Paulo 1929. 342 Pedro Calmon Desta conversa preliminar no Hotel Gloria resultou a Aliança Liberal. Consultado por Getúlio, Borges o autorizou a aceitar, mediante condições prudentes (1). Rebelava-se a politica nacional! Washington recebeu com este tom, de rebeldia ingrata, a comunicação, e lhe deu a indireta resposta pela voz de dezessete Estados, que se manifestaram por Júlio Prestes (2). Transmitndo aos presidentes do Rio Grande e de Minas a decisão majoratária, foi duro na linguagem: "na sua quasi totalidade, sem desconhecer ou negar os meritos de v. ex., em inteira solidariedade com o presidente da Republica indicam e aceitam outro nome, igualmente digno, igualmente colaborador do governo atual, o Dr. Júlio Prestes ... " Cabia ao estadista mineiro (treplicou Getúlio) manter ou não o seu nome; e, de imediato, Antonio Carlos (1 de Agosto), pondo reparos a atitude intransigente de s. ex., declarou definitiva a liga de Minas, Rio Grande e a Paraíba, com Getúlio Vargas-João Pessôa. Contrapunha-se a Júlio Prestes-Vital Soares (3). Quatro dias depois explodia na Camara a revolta politica, pressagiando (e prometendo) a das armas. Aliança liberal. Diferente das outras dissenções, a que se apresentava, o povo enchendo as galerias e conscios os partidos de que jogavam a grande cartada, tinha a qualidade de ser a (1) Carta de Getúlio a Washington, 11 de Julho, in op. cit., p. 17. Comunicação de Antonio Carlos, 20 de Julho, falando ainda em possível conciliação, ibid., p. 21. (2) Vd. Telegrama de Estacio Coimbra a Manuel Vilaboim, "leader" da maioria, citado por JoÃo NEVES, A Jornada Liberal, I, 49. (S) Governador da Bahia. Vital Soares (advogado e humanista, esplrito de escól) póde Incluir-se entre os homens modestos, que jamais pensaram em disputar póstos dominantes. Saiu candidato a vice-presi dente por imposição da bancada baiana (dirigida por Simões Filho), que pleiteava para o seu Estado este mandato, com a alegação de que já o tivera Pernambuco, com Estaclo Coimbra, no penultlmo quatriênlo. Historia do Brasil 343 síntese de um decênio de violencias verbais, com a respon sabilidade, inesperada, de um Estado com as tradições guerreiras do Rio Grande. A oração inaugural de João Neves - que facilmente se assenhoreou do espírito popu lar com a frase reluzente e bravia - é o documento dessa exaltação. Depois de historiar as circunstancias em que se formára a luta, exprobrando ao presidente não ter con sultado os dezessete Estados sobre o nome gaúcho, lan çado por Minas, para deles obter autoritariamente a con cordancia com o nome paulista, ousou falar na hipo tese... do "prélio terrível das armas" (1). Ameaçava com a revolução, bradaram os antago nistas; e durante muito tempo se lhe comentou a hipér bole, de pontas de lanças e patas de cavalos (2), atirada provocantemente à maioria ... Não era de admirar. A oposição assumira o caracter impetuoso de uma revolta; unira acolá federalistas e republicanos; temia as habituais represalias do poder central; convocava os inconformados; e o primeiro ponto do seu programa devia ser a anistia, tornando-se com isto a esperança dos revolucionarias de 22 e de 24. Não podia acabar com a derrota das urnas segundo a contagem maliciosa das comissões do Congresso; nem se dissolveria antes, a menos que a timidez do governo procurasse depressa uma com posição. Crise generaliza,da. Mas o governo, longe de ser tímido, era vigoroso. Imbuira-se da idéia de que transigir seria desmoralizar-se; e com a firmeza da sua decisão de 1922, quando se de- (1) Á Jornada liberal, 1, 29. (2) Discurso de João Neves, 13 de Novembro de 29, ibid., I, 242, atribuindo a Vilaboim ter adaptado aos interesses da maioria a frase, que aludia às fronteiras que o Rio Grande traçara no passado com a pata de seus cavalos e a lança de seus heróis •••