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UNIDADE 2 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
RESPONSABILIZAÇÕES 
POR ATOS, OMISSÕES E 
AÇÕES ADMINISTRATIVAS 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
ÍNDICE 
 
TÓPICOS PÁGINA 
 
1. 
 
INFRAÇÕES POLÍTICO-ADMINISTRATIVA DO PREFEITO 
 
4 
1.1 Contexto histórico do decreto-lei 201/67 4 
1.2 Considerações sobre a doutrina 4 
1.3 Mudança jurisprudencial 4 
1.4 A situação atual 5 
1.5 Tipos infracionais: Os 10 tipos de infração político-administrativa 5 
1.6 O processo de cassação e legislação aplicável, a analogia e os princípios gerais 
de direito 
10 
1.7 O devido processo legal: a ampla defesa e o contraditório 11 
1.8 Desvio de poder ou desvio de finalidade: vícios de vontade evícios formais. 
A intervenção judicial 
11 
1.9 Julgamento câmara – imutabilidade da decisão de mérito 11 
1.10 Consequências legais e inelegibilidade 12 
2. INFRAÇÕES POLÍTICO-ADMINISTRASTIVA DE VEREADOR 13 
2.1 Por falta de ética do parlamentar 13 
2.2 O processo de cassação e legislação aplicável. a analogia e os princípios gerais 
de direito. (2) o devido processo legal: a ampla defesa, e o contraditório. (3) 
desvio de poder ou desvio de finalidade: vícios de vontade e vícios formais. a 
intervenção judicial 
15 
2.3 Consequências legais e inelegibilidade 15 
2.4 Tipos de penas 15 
3. VIAS DE RESPONSABILIZAÇÃO 16 
3.1 Penas a que os responsáveis estão sujeitos 16 
3.2 No processo administrativo junto ao respectivo tribunal de contas 16 
3.3 Em ação civil pública (ou ação popular) 17 
3.4 Em processo penal 18 
 
 
3.5 Em processo disciplinar (funcional) onde esteja vinculado 18 
3.6 Em processo disciplinar (profissional), pelo respectivo órgão de classe 19 
3.7 Afastamentos temporários ou definitivo 20 
3.8 Outras responsabilizações na área cível 20 
4. RESPONSABILIZAÇÃO ADMINISTRATIVA DOS SERVIDORES PÚBLICOS 21 
4.1 O dever de representar 23 
5. SINDICÂNCIA ADMINISTRATIVA 24 
5.1 Sindicância inquérito (procedimento) 24 
5.2 Sindicância acusatória (processo) 25 
6. DA RESPONSABILIZAÇÃO DE TERCEIROS 27 
6.1 Responsabilização de terceiros, pessoas físicas 27 
6.2 Responsabilização de terceiros, pessoas jurídicas 27 
6.3 Lei nº 12.846/13 28 
6.4 Responsabilidade objetiva 28 
6.5 Sujeitos ativos e passivos 29 
7. AS SANÇÕES 31 
7.1 Programa de compliance 31 
7.2 Do acordo de leniência 32 
8. DO RESSARCIMENTO AO ERÁRIO 35 
8.1 Responsabilidade civil 35 
8.2 Da ação regressiva 35 
8.3 Independência e comunicabilidade das esferas de responsabilidades 36 
 REFERÊNCIAS 37 
4 
 
 
 
 1. INFRAÇÕES POLÍTICO-ADMINISTRATIVA DO PREFEITO 
 
1.1 CONTEXTO HISTÓRICO DO DECRETO-LEI 201/67 
O Decreto-Lei nº 201/67, cujo projeto é de autoria do Mestre Hely Lopes Meirelles,surgiu em 
plena ditadura militar, baixado pelo Presidente Castelo Branco. 
Considerado draconiano, teve pouca ou nenhuma aplicação antes da CF/88, no entanto, vige até 
hoje, com pequenas alterações. 
O Decreto-Lei 201/67 voltou a ser assunto de estudo e utilizado, acompanhado de muita 
polêmica. Seus poucos artigos mais tratam da definição dos crimes e infrações do que propriamente da parte 
processual, o que é motivo de muitos equívocos e interpretações. 
 
1.2 CONSIDERAÇÕES SOBRE A DOUTRINA 
Com a CF/88, a doutrina passou a considerar se o referido diploma foi, ou não, recepcionado pela 
CF/88 já que os municípios passaram a condição de entes federados, dotados de autonomia para se auto 
organizarem através das Leis Orgânicas. 
Considerado “resquício da ditadura”, os doutrinadores entenderam que o Decreto-Lei 201/67 
permanecia integro apenas na parte que trata dos crimes de responsabilidade dos prefeitos, já que as 
Câmaras não podem legislar sobre o assunto. 
Assim, os art. 4º, 5º, 7º e 8º estariam derrogados, já que seria competência das Câmaras legislar 
sobre o assunto conforme o próprio autor do Projeto, Prof. Hely Lopes Meirelles. 
Até hoje a doutrina dominante segue nessa linha. 
 
 
1.3 MUDANÇA JURISPRUDENCIAL 
Os Tribunais acompanharam a doutrina, mas foram se afastando, no sentido deque a CF/88 
recepcionou o Decreto-Lei 201/67 por inteiro, uma vez que as Câmaras nãopoderiam criar tipos infracionais 
livremente, sob risco de cada Câmara criar tipos diferentes.O principal defensor dessa ideia é o eminente 
jurista mineiro José Nilo de Castro, que foi aceita pelos tribunais pátrios, inclusive pelo Supremo Tribunal 
Federal (STF). 
5 
 
 
 
1.4 A SITUAÇÃO ATUAL 
Atualmente a questão é pacífica e, os tribunais entendem que o Decreto-Lei nº 201/67 foi 
recepcionado integralmente pela Constituição Federal/88. 
Quanto á aplicação dele no procedimento adotado nas Câmaras Municipais, o tema gerou muita 
controvérsia, e a nova interpretação Judicial vem apontando pela inaplicabilidade da legislação local. 
É que a atual jurisprudência da Corte Maior aponta que, tanto a tipíficação referente aos crimes 
de responsabilidade e infrações político-administrativas, quanto seu processamento e julgamento, são 
matérias de competência privativa da União Federal, por força do artigo 22, inciso I, e artigo 85, parágrafo 
único, da Carta Federal, conforme entendimento do Supremo Tribunal Federal na edição da Súmula 
Vinculante nº 46, de 2015, que assim expressa: 
“A definição dos crimes de responsabilidade e o estabelecimento das respectivas 
normas de processo e julgamento são de competência legislativa privativa da 
União” 
 
Portanto, o Poder Legislativo não poderá utilizar normativa local para julgar politicamente, mas 
sim, aplicar o Decreto-Lei nº 201/67 nos municípios. E de mesma forma, dispensa a legislação própria pelo 
Dsitrito Federal e Estados, obrigando-se-lhes à aplicação primária da Lei n 1.079/50. 
Todavia, cabe informar que, em caso de imprevisão de procedimento no Decreto-Lei 201/67, é 
possível no ponto concreto e específico, aplicar supletivamente dispositivos da Lei Orgânica Municipal, 
Regimento Interno, Código de Processo Civil, Código de Processo Penal e até outros atos legais. 
Por certo que essa excepcionalidade, deverá ser assunto de profundo e detalhado estudo 
técnico-jurídico. 
 
1.5 TIPOS INFRACIONAIS: OS 10 TIPOS DE INFRAÇÃO POLÍTICO-ADMINISTRATIVAS 
Recomenda-se o maior critério e objetividade para efeito de definir os tipos infracionais. 
Tratando-se de infração basta, em regra, sua caracterizada incidência. 
Todavia, o judiciário, no exame da questão, tem indagado do móvel, da real intenção que leva o 
prefeito a descumprir os preceitos em questão. 
É que o rigor do Decreto- Lei nº 201/67 deve ser mitigado pela prudência dos Legislativos 
Municipais, evitando que a lei sirva a propósitos ilegítimos e perseguição política. 
6 
 
 
 
O cuidado se impõe, na medida em que as infrações são bastante genéricas e exigem, para sua 
comprovação, ato inequívoco. A incidência em qualquer dos tipos, requerque o ato do prefeito tenha o claro 
e inequívoco propósito de descumprir a lei. Até porque,alguns tipos já são definidos na Lei de Improbidade 
Administrativa, na Lei 10.028/2000 e no Código Penal. Daí que a denúncia e seu recebimento pela Câmara 
Municipal devem revestir-se dos critérios de razoabilidade, sob a ótica da Constituição Federal/88, porquanto 
os tipos são bastante subjetivos. 
Nesse sentido, destacamos decisão do Tribunal de Justiça de Minas Gerais, no sentido de que a 
denúncia apta a instauração de processo de cassação de mandado do prefeito, deve descrever 
minuciosamente a condita considerada típica, com indicação de provas, exigindo, ainda que a conduta 
devem ser grave e apresentar-se incompatível coma continuidade do mandato do prefeito. 
EMENTA: MANDADO DE SEGURANÇA - PROCEDIMENTO POLÍTICO- 
ADMINISTRATIVO - CASSAÇÃO DE PREFEITO - DENÚNCIA - FATO TÍPICO - 
INÉPCIA - SEGURANÇA CONCEDIDA. A denúncia apta à instauração de 
procedimento político-administrativo, objetivando à cassação de mandato de 
Prefeito Municipal, deve descrever minuciosamente a conduta consideradatípica, com indicação de provas contundentes, se possível pré-constituídas, e a 
conduta deve ser grave e apresentar-se incompatível com a continuidade do 
mandato do Prefeito, sob pena de nulidade do procedimento por inépcia da 
peça de instauração.[grifos nossos]. 
[omissis] 
[...] considerando que a Câmara, assim como o denunciante, dispunha de 
meios para a apuração prévia, para que a instauração do procedimento se 
desseapenas em havendo prova efetiva e técnica a respeito, entendo pela sua 
inépcia. (Número do processo: 1.0000.07.466250-3/000 - TJMG Relator: 
EDILSON FERNANDES - Relator do Acórdão: MAURÍCIO BARROS - Data do 
Julgamento: 20/05/2008 - Data da Publicação: 25/07/2008) [grifos nossos]. 
 
• Impedir o funcionamento regular da Câmara Municipal (inciso I). 
Trata o inciso de ato do Prefeito que, objetiva e caracterizadamente, impeça o regular 
funcionamento da Câmara Municipal. Portanto, não é qualquer ato que dificulte o funcionamento da 
Câmara. O tipo só se caracteriza com ato de gravidade capaz e suficientea impedir as atividades do legislativo, 
com clara conotação de intencionalidade. 
7 
 
 
• Impedir o exame de livros, folhas de pagamento e demais documentos que devam constar 
dos arquivos da prefeitura, bem como a verificação de obras e serviços municipais, por comissão de 
investigação da Câmara Municipal ou auditoria, regularmente instituída (inciso II). 
Trata-se de impedir que comissão de investigação (parlamentar) ou auditoria, tenhaacesso a 
livros e documentos relativos aos atos da administração pública, em seusaspectos financeiros e 
contábeis. 
Não se confunde com devassa nem implica em desconsiderar a independência dospoderes. As 
comissões de investigação devem sempre verificar fato determinado. 
Já as auditorias, à luz da CF/88, são as realizadas pelo Tribunal de Contas na suacondição de órgão 
auxiliar das Câmaras Municipais. Também aqui, o ato infracional exige o elemento volitivo com o claro 
propósito de impedir a função fiscalizadora. 
 
• Desatender, sem motivo justo, as convocações ou os pedidos de informações da Câmara, 
quando feitos a tempo e em forma regular (inciso III). 
A modalidade das mais candentes na relação Câmaras/Prefeito são osdesatendimentos às 
convocações de secretários ou auxiliares direto do prefeito, para prestar esclarecimentos ao Legislativo. Não 
se trata, por evidente, da convocação do próprio prefeito. 
Não basta que o não atendimento se dê de forma apenas culposa, mas, exige-se que o 
desatendimento seja sem motivo justo, não apenas mera justificativa para o não atendimento das 
convocações ou prestação das informações. 
Quanto aos pedidos de informação, convém não confundir com fornecimento de documentos. 
O prefeito é sempre obrigado a prestar informações “[...] quando feitas a tempo e em forma regular”, mas 
não a atender ao fornecimento de todos e quaisquer documentos solicitados4, assim preconiza o art. 50, § 
2º da Constituição Federal/88. 
Portanto, se no prazo legal oprefeito não puder atender a convocação do secretárioou atender aos 
pedidos de informações, deve justificá-lo no prazo previsto em lei. 
8 
 
 
• Retardar a publicação ou deixar de publicar as leis e atos sujeitos a essa formalidade (inciso 
IV). 
A publicação de leis ou atos sujeitos a essa formalidade não são responsabilidade direta ou 
pessoal do prefeito. É sabido que no desempenho do cargo o prefeito tem uma gama de atribuições, que 
não lhe permitem controlar diretamente a publicação de leis ou atos. Essa atribuição geralmente é da 
assessoria imediata ou da Chefia de Gabinete ligadaao prefeito. 
Assim, para caracterizar o tipo, exige-se que o retardamento ou a não publicação das leis ou atos, 
visem a objetivo escuso, ilícito ou de favorecimento próprio ou de terceirosatribuível ao prefeito. 
 
• Deixar de apresentar à Câmara, no devido tempo, e em forma regular, a proposta 
orçamentária (Inciso V). 
O prefeito é obrigado a enviar o Orçamento Anual e também o PPA e a LDO nos prazos legais. 
Deve, pois, respeitá-los, somente se escusando em motivo plausível e devidamente justificado. Qualquer 
razão para desatendimento dos prazos legais devem sercomunicados previamente à Câmara Municipal, 
acompanhado das razões e justificativas que tiver. Mesmo assim, o atraso do envio deve se situar dentro do 
razoável. 
 
• Descumprir o orçamento aprovado para o exercício financeiro (inciso VI). 
O orçamento é composto de texto de lei, da peça financeira e dos anexos. 
Aqui, por evidente, aplicam-se os preceitos da Lei de Responsabilidade Fiscal no que é pertinente 
aos dispositivos de observância obrigatória. 
Descumprir o orçamento não significa não realizar todas as previsões expressas na peça 
orçamentária, mas, sim, descumprir mandamento do texto da lei como, por exemplo,limite de gastos com 
despesas de pessoal, limite de endividamento, promover a efetiva cobrança dos tributos, inverter 
propositadamente as prioridades estabelecidas, sem qualquer justificativa ou solicitação à Câmara 
Municipal, dentre outros. 
9 
 
 
• Praticar, contra expressa disposição de lei, ato de sua competência ou omitir-se na sua 
prática (inciso VII). 
É tratado esse tipo de prática de ato comissivo ou omissivo face à lei. As competências do 
prefeito devem ser exercidas em obediência ao princípio da estrita legalidade. Do mesmo modo, o prefeito 
não se escusa de exercer sua competência, por atomanifestamente omisso. 
A modalidade desse inciso, mais se assemelha ao tipo de improbidade que atentacontra os 
princípios da administração, em que não haja dano ao erário. 
 
• Omitir-se ou negligenciar na defesa de bens; rendas; direitos ou interesses do Município 
sujeito à administração da Prefeitura. 
Dentre os deveres do cargo, ressaltam-se a defesa de bens; rendas; direitos ou interesses do 
Município. A negligência manifesta caracteriza a infração, sujeitando o Prefeito à perda do cargo por 
cassação. 
 
• Ausentar-se do Município, por tempo superior ao permitido em lei, ou afastar-se da 
prefeitura, sem autorização da Câmara dos Vereadores. 
A ausência do prefeito está prevista em Lei Orgânica e a inobservância injustificadado prazo, 
acarreta a cassação do mandato. 
Já o afastamento da Prefeitura, não previsto em lei, depende da análise do caso concreto. 
“Afastar-se da Prefeitura, [...]” significa deixar de comparecer regularmente ao gabinete e abandonar a 
Administração Pública, deixando-a acéfala, para atender interessesoutros. 
O cargo exige seu efetivo exercício posto que, o afastamento por qualquer razão não pode dar- 
se ao arrepio da lei, imotivadamente, senão nos casos e formas previstos em lei. 
 
• Proceder de modo incompatível com a dignidade e o decoro do cargo. 
Por derradeiro, a conduta do prefeito, para caracterizar procedimento incompatível com a 
dignidade e o decoro do cargo, compreende atos de inquestionável procedimento condenável pela 
sociedade. 
Trata-se de procedimento e atitude indigna com o decoro exigido pelo cargo, tal como bebedeira 
habitual, transgressão contumaz da ordem pública, envolvimento com brigas e rixas, conduta que ofende os 
valores sociais e familiares. 
10 
 
 
 
1.6 O PROCESSO DE CASSAÇÃO E LEGISLAÇÃO APLICÁVEL, A ANALOGIA E OS PRINCÍPIOS 
GERAIS DE DIREITO 
Quanto à aplicação subsidiária e analógica da legislação processual civil ou penal,existe sintonia 
entre a doutrina e jurisprudência suprindo, assim, a deficiência legislativa doDecreto-Lei nº 201/67. 
Assim é quanto a impedimento e suspeição dos membros da Comissão, tanto paraa condução do 
processo quanto para integrarem o quorum de votação, das condições processuais, das testemunhas, das 
provas, dentre outros, posto que as normas processuaissempre são de ordem pública. 
Sobre aplicação dos Códigos de Processo Civil e de Processo Penal a propósito desua aplicação aos 
processos administrativos em geral, veja-se na sequência a decisão do Tribunal deJustiça do Maranhão: 
PROCESSUAL CIVIL. APELAÇÃO CÍVEL. MANDADO DE SEGURANÇA. PREFEITO 
MUNICIPAL. COMISSÃO PROCESSANTE. DL 201/67. PRINCÍPIOS 
CONSTITUCIONAIS. OBEDIÊNCIA. 1 - A Comissão Processante que objetiva 
apurar denúncias que levariam a cassação do Prefeito Municipal, deve ser 
nomeada de acordo com as normas contidas no Decreto-Lei nº 201/67, 
obedecendo aos princípios inseridos na Constituição Federal/88 (contraditório, 
ampla defesa, legalidade).2 - As regras previstas no CPC e CPP no que dizem 
respeito aos impedimentos e suspeição, devem ser completamente aplicáveis 
ao processode cassação do Prefeito, pois os membros da Comissão devem 
preencher os requisitos inerentes à função jurisdicional.3 - Apelo provido. 
Unanimidade. (TJMA -AC 017563/2000 - (44.177/2003) - 2ª C. Civ. - Rel. Des. 
Raimundo Freire Cutrim - 
J. 22.04.2003) [grifos nossos]. 
 
 
O caso acima tratava de aplicação das regras sobre impedimento ou suspeição dos membros da 
Comissão reforçando a orientação doutrinária, legal e jurisprudencial de que o processo de cassação do 
prefeito ou vereador, e a conduta dos membros das Comissões Processantes devem obediência aos 
princípios da legalidade e moralidade (conforme preconiza o art. 37 da CF/88). 
Nenhum móvel pessoal, nenhum sentimento de perseguição ou vingança devem mover os 
membros das Comissões Processantes, sob pena de socorro ao judiciário. 
11 
 
 
 
1.7 O DEVIDO PROCESSO LEGAL: A AMPLA DEFESA E O CONTRADITÓRIO 
Sem dúvida, nos processos de que trata o Decreto-Lei 201/67 aplicam-se, como nos processos 
em geral, as garantias dos incisos LIV e LV do art. 5º da Constituição Federal/88, conforme segue: 
LIV-ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo 
legal. 
LV - aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em 
geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos 
a ela inerentes. [grifos nossos]. 
 
1.8 DESVIO DE PODER OU DESVIO DE FINALIDADE: VÍCIOS DE VONTADE EVÍCIOS FORMAIS. A 
INTERVENÇÃO JUDICIAL 
Tal como qualquer ato administrativo, o processo de cassação do prefeito se submete ao controle 
do judiciário. 
Por sua vez, Hely Lopes Meirelles, nos autos do Projeto do Decreto-Lei 201/67 é quem ensina: 
O processo de cassação de mandato pela Câmara é independente de qualquer 
procedimento judicial, mas pode ser revisto pela Justiça nos seus aspectos 
formais e substanciais de legalidade, ou seja, quanto a regularidade do 
procedimento a que está vinculado e à existência dosmotivos autorizadores da 
cassação5. [grifos nossos] 
 
O controle judicial é, ademais, garantia constitucional assegurada no art. 5, inciso XXXV: “XXXV. 
A lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça de direito”. 
 
 
1.9 JULGAMENTO PELA CÂMARA – IMUTABILIDADE DA DECISÃO DE MÉRITO 
Salvo por desvio de poder ou desvio de finalidade seja por vício de vontade ou vício formal ou 
substancial, a decisão da Câmara pela cassação do mandato do prefeito é imutável, quanto à análise da 
conveniência e oportunidade. 
Trata-se decisão interna corporis, insuscetível de revisão pelo judiciário quanto ao mérito. 
Nos demais aspectos, referente ao devido processo do contraditório e da ampla defesa, como 
garantias do devido processo legal, tendentes a confirmar um julgamento justo e consoante às provas 
produzidas, cabe ao judiciário o exame da legalidade dos atosdesde o recebimento da denúncia até final 
decisão pela cassação. 
12 
 
 
 
1.10 CONSEQUÊNCIAS LEGAIS E INELEGIBILIDADE 
Além da cassação do mandado do prefeito, a destituição do cargo implica em suspensão dos 
direitos políticos e inelegibilidade: “[...] para as eleições que se realizarem durante o período remanescente 
do mandato para o qual foi eleito e nos 08 (oito) anos subsequentes ao término do mandato para o qual 
tenham sido eleitos6”. 
Quer dizer, as seriíssimas consequências da cassação do mandato do Prefeito, devem levar os 
Vereadores a pensar profundamente e agir dentro da mais estrita legalidade. 
13 
 
 
 
 2. INFRAÇÕES POLÍTICO-ADMINISTRASTIVA DE VEREADOR 
 
 
2.1 POR FALTA DE ÉTICA DO PARLAMENTAR 
Tipos infracionais – casos de cassação – art. 7º, incisos I a III. 
O vereador poderá ter o mandato cassado quando (conforme dispõe o art. 7º): 
I - Utilizar-se do mandato para a prática de atos de corrupção ou de 
improbidadeadministrativa; 
II - Fixar residência fora do Município; 
III- - Proceder de modo incompatível com a dignidade, da Câmara ou faltar 
com o decoro na sua conduta pública.[grifos nossos]. 
 
 
A definição sobre as faltas ético-parlamentares não possuem um rigor técnico científico, nem se 
encontram em qualquer preceito legal, sendo mera interpretação dos incisos. 
Assim, o judiciário, se invocado a dirimir dúvida sobre caso concreto poderá entender 
diversamente, evidentemente. 
 
• Utilizar-se do mandato para a prática de atos de corrupção ou de improbidade 
administrativa. 
A definição é sem dúvida genérica. Todavia quanto a ato de corrupção deve entender-se o uso 
do mandato para favorecimento próprio, ou de terceiros, ou para obtenção de vantagem ilícita para si ou 
terceiros, inclusive por ato legislativo. 
Aqui não se distingue a modalidade ativa ou passiva. 
O ato de improbidade, ainda que não cause lesão ao erário, favorecimento próprioou de terceiro, 
mas, que configure comprovadamente ato de desonestidade, é passível decassação. 
 
• Fixar residência fora do Município 
O dispositivo é autoexplicativo, e tem fundamento no entendimento de que o mandato está 
intimamente ligado ao conceito de cidadania, ligada à circunscrição do mandato eletivo. 
14 
 
 
• Proceder de modo incompatível com a dignidade da Câmara ou faltar com o decoro na sua 
conduta pública. 
Vale aqui a definição aplicável ao prefeito no que se refere ao proceder de modo incompatível 
com a dignidade e o decoro do cargo: a conduta do vereador, para caracterizar procedimento incompatível 
com a dignidade e o decoro do cargo, compreendeatos de inquestionável procedimento condenável pela 
sociedade. 
Trata-se de procedimento e atitude indigna com o decoro exigido pelo cargo, tal como bebedeira 
habitual, transgressão contumaz da ordem pública, envolvimento com brigas e rixas, conduta que ofende os 
valores sociais e familiares. 
 
Por Extinção 
O Decreto-Lei 201/67 também prevê outras hipóteses de perda do mandato do Vereador, as 
quais caracterizam a extinção, quais sejam: 
Art. 8º Extingue-se o mandato do Vereador e assim será declarado pelo 
Presidenteda Câmara, quando: 
I - Ocorrer falecimento, renúncia por escrito, cassação dos direitos políticos ou 
condenação por crime funcional ou eleitoral; 
II - Deixar de tomar posse, sem motivo justo aceito pela Câmara, dentro do 
prazo estabelecido em lei; 
III - deixar de comparecer, em cada sessão legislativa anual, à terça parte das 
sessões ordinárias da Câmara Municipal, salvo por motivo de doença 
comprovada,licença ou missão autorizada pela edilidade; ou, ainda, deixar de 
comparecer a cincosessões extraordinárias convocadas pelo prefeito, por escrito 
e mediante recibo de recebimento, para apreciação de matéria urgente, 
assegurada ampla defesa, em ambos os casos. 
IV- Incidir nos impedimentos para o exercício do mandato, estabelecidos em lei 
e não se desincompatibilizar até a posse, e, nos casos supervenientes, no prazo 
fixado em lei ou pela Câmara. 
15 
 
 
 
2.2 O PROCESSO DE CASSAÇÃO E LEGISLAÇÃO APLICÁVEL. A ANALOGIA E OS PRINCÍPIOS 
GERAIS DE DIREITO. (2) O DEVIDO PROCESSO LEGAL: A Ampla Defesa, E O CONTRADITÓRIO. (3) DESVIO DE 
PODER OU DESVIO DE FINALIDADE: VÍCIOS DE VONTADE E VÍCIOS FORMAIS. A INTERVENÇÃO JUDICIAL 
Aos tópicos supracitados se aplicam as mesmas regras e considerações relativas à cassação do 
mandato do prefeito. 
 
2.3 CONSEQUENCIAS LEGAIS E INELEGIBILIDADE 
Assim, baseado no mesmo exemplo aplicado aos prefeitos,o vereador cassado fica inelegível “[...] 
para as eleições que se realizarem durante o período remanescente do mandato para o qual foram eleitos e 
nos oito anos subsequentes ao término da legislatura”,conforme disposição do art. 1º, inciso I, alínea “b” da 
Lei Complementar 64/90. 
Se a renúncia, antes de concluído o processo de cassação, for considerada como fraude ao 
processo, por decisão da justiça eleitoral, ficará inelegível de qualquer modo, conforme disposto na alínea 
“k” do inciso mencionado, combinado com o § 5º do artigo primeiro7. 
 
2.4 TIPOS DE PENAS 
As diversas penalidades para os ilícitos de que tratamos, vão desde a perda ou cassação do 
mandato, inelegibilidades (até 8 anos), suspensão dos direitos políticos (até 10 (dez) anos), penas privativas 
de direitos (participar de concurso público), penas privativas da liberdade, penas pecuniárias (multa e 
reparação civil), penas de prestação de serviços, liberdade ou benefícios condicionais, até impedimento de 
contratar com órgãos públicos. 
A Lei nº 12.550, de 15 de dezembro de 2011, publicada em 16 de dezembro de 2011 no Diário 
Oficial da União, entre outras inovações legislativas, criou uma nova modalidade de interdição temporária 
de direitos, qual seja, a "proibição de inscrever-se emconcurso, avaliação ou exame públicos", prevista no 
inciso V do artigo 47, do Decreto- Lei nº 2.848, de 07 de dezembro de 1940 do Código Penal. 
16 
 
 
 
 3. VIAS DE RESPONSABILIZAÇÃO 
 
 
Portanto, os agentes públicos e seus equiparados, assim como os terceiros, que por ato de ação 
irregular ou até por omissão (em certos casos) estarão sujeitos a ser responsabilizados, na medida e limite 
aplicável. 
E a apuração dos fatos e responsáveis poderá ocorrer em mais de uma via,independentemente 
uma das outras. 
Obviamente, por meio de processos que lhes propiciem o direito à defesa e ao contraditório (art. 
5º, inciso LV da Constituição Federal/88), quais sejam: 
a) Administrativa (no âmbito do órgão afetado); 
b) Penal (no Poder Judiciário); 
c) Civil (no Poder Judiciário); 
d) Político-administrativa (pelo Legislativo). 
 
3.1 PENAS A QUE OS RESPONSÁVEIS ESTÃO SUJEITOS 
Após o trâmite processual, na respectiva via, podem ser aplicadas as seguintes penas aos 
responsabilizados: 
 
3.2 NO PROCESSO ADMINISTRATIVO JUNTO AO RESPECTIVO TRIBUNAL DE CONTAS 
A despeito de que cada Tribunal de Contas é submetido à legislação do respectivo Estado- 
Membro, geralmente existem as seguintes punições administrativas previstas paraaplicação destas Cortes: 
▪ multa administrativa; 
▪ multa por infração fiscal; 
▪ multa proporcional ao dano e sem prejuízo do ressarcimento; IV - restituição de 
valores; 
▪ impedimento para obtenção de certidão liberatória; VI - inabilitação para o exercício 
de cargo em comissão; 
proibição de contratação com o Poder Público estadual ou municipal; 
▪ a sustação de ato impugnado, se não sanada a irregularidade no prazo de 30(trinta) 
dias. 
17 
 
 
 
Contudo, tais sanções envolvem penas a serem aplicadas também aos órgãos envolvidos, como 
o impedimento de liberação da certidão institucional. 
Concernentemente aos responsáveis, podemos dizer que os resultados negativosde sua conduta 
dolosa, culposa, ativa ou passiva, sejam: 
• multa funcional; 
• ressarcimento (restituição); 
• inelegibilidade (indireta, da LC 64/90); 
• declaração de inidoneidade; 
• impedimento de ocupar cargo comissionado. 
 
Aliás, outro ato dos Tribunais de Contas que pode ser considerado como uma pena aos 
responsabilizados é o lançamento, de seus nomes no cadastro dos responsáveis com contas julgadas 
irregulares. 
 
3.3 EM AÇÃO CIVIL PÚBLICA (OU AÇÃO POPULAR) 
Quando da incidência de um ato ou omissão do agente público, que cause prejuízosao erário ou 
que desobedeça a princípio aplicável à Administração Pública, caracterizandoImprobidade Administrativa 
(Lei nº 8.429/92), esse estará sujeito às seguintes sanções, já mencionadas anteriormente: 
• perda da função pública; 
• perda dos bens adquiridos ilicitamente; 
• suspensão dos direitos políticos (inelegibilidade de até 10 (dez) anos); 
• IV penas pecuniárias (até cem vezes); 
• impedimento de contratar com órgãos públicos; 
• impedimento de participar de concurso público; 
• impedimento de receber benefícios públicos; 
• impedimento de receber incentivos fiscais. 
18 
 
 
 
3.4 EM PROCESSO PENAL 
Como dito anteriormente, é possível existirem processos em várias vias, apurandoos mesmos 
atos ou omissões, em busca de responsabilizações em campos diversos. 
Uma das vias possíveis de apuração, paralela, concomitante, ou até em sequencia,é a penal. 
A intenção neste campo é apurar se houve ocorrência de crime.Nessa área de apuração, as penas 
resultantes podem ser: 
I penas privativas de direitos 
II penas pecuniárias 
III penas de prestação de serviços 
IV penas privativas da liberdade 
V liberdade ou benefícios condicionais 
 
3.5 EM PROCESSO DISCIPLINAR (FUNCIONAL) ONDE ESTEJA VINCULADO 
Por falta funcional cometida por servidor, o órgão ao qual esteja vinculado poderá abrir processo 
administrativo disciplinar (PAD) para apurar eventuais responsabilizações. 
O processo administrativo disciplinar – PAD (lato sensu) abrange a sindicância administrativa e o 
processo administrativo disciplinar (stricto sensu), nos termos do art. 143da Lei nº 8.112/90. 
O processo administrativo disciplinar é o meio de apuração e punição de faltas graves dos 
servidores públicos, e demais pessoas sujeitas ao regime funcional de determinados estabelecimentos da 
Administração Pública, enquanto que a sindicância é omeio sumário de elucidação de irregularidades no 
serviço para subsequente instauração de processo e punição ao infrator. 
Esta é o verdadeiro inquérito administrativo que precede o processo administrativodisciplinar. 
Numa primeira modalidade a sindicância caracteriza-se como peça preliminar e informativa do 
processo administrativo disciplinar, ou seja, é meio de apuração prévia. 
A segunda espécie seria a sindicância de caráter processual, pois destina a apurar a 
responsabilidade de servidor identificado, por falta leve, podendo resultar em aplicação de pena, é um 
processo administrativo disciplinar sumário. 
A sindicância administrativa poderá resultar em: 
I – arquivamento do processo, no caso de inexistência de irregularidade ou deimpossibilidade de 
se apurar a autoria; 
II – aplicação de penalidade de advertência ou suspensão de até trinta dias; ouIII – instauração 
de processo administrativo disciplinar. 
19 
 
 
 
O prazo para conclusão da sindicância não excederá 30(trinta) dias, podendo ser prorrogado por 
igual período, a critério da autoridade superior. 
Após as apurações deve a administração pública chegar à conclusão se cabe ou nãoinstaurar o 
processo administrativo disciplinar. 
Verificando que o caso concreto exige a aplicação de punição administrativa, que não é 
compatível com a sindicância, deve proceder à instauração do referido processo, abrindo prazo para defesa 
do acusado, sob pena de nulidade do processo. 
A instauração de PAD será sempre necessária para a aplicação das seguintes penalidades: 
a) demissão; 
b) cassação de aposentadoria; 
c) disponibilidade; 
d) destituição de cargo em comissão; 
e) destituição de função comissionada 
f) suspensão superior a 30 (trinta) dias - o limite da penalidade desuspensão é de 90 
(noventa) dias). 
 
Nos demais casos, bastam à sindicância para apurar a infração imputada ao servidor e, desde 
que se lhe assegure o contraditório e ampla defesa prévios, aplicar a respectiva sanção, advertência ou 
suspensão por até 30 (trinta)dias. 
As fases do processo administrativo disciplinar de procedimento ordinário são no sistema 
federal: 
 
 
a) instauração, com a publicação do ato que constituir a comissão; 
b) inquérito administrativo, que compreende instrução, defesa e relatório; 
c) julgamento (art.151 da Lei nº 8.112/90). 
 
 
3.6 EM PROCESSO DISCIPLINAR (PROFISSIONAL), PELO RESPECTIVO ÓRGÃO DE CLASSE 
Por certo que o contador, o advogado, o engenheiro, e inúmeros outros profissionais com 
regulamentação federal, devem atuar com disciplina, ética e responsabilidade, independentemente de estar 
vinculado ao poder público ou à iniciativa privada. 
Com isso, o órgão de classe com competência sobre esse profissional, processaráo fato, nos 
moldes da legislação correlata a cada categoria, sujeitando-lhe às penalidades aplicáveis, que podem ser 
cumulativas e independentes de outras consequências em vias distintas. 
20 
 
 
 
3.7 AFASTAMENTOS TEMPORÁRIOS OU DEFINITIVO 
Quando da análise de cada fato, o órgão julgador poderá encontrar razões para o afastamento 
do acusado, temporário ou em definitivo. 
Por certo que, ao final, ainda poderão ocorrer outras penas cumulativas. 
 
 
3.8 OUTRAS RESPONSABILIZAÇÕES NA ÁREA CÍVEL 
Cabe ainda registrar, que além das penalidades antes abordadas, poderão tambémser propostas 
outras ações no Judiciário, em busca da responsabilização de gestores e servidores públicos, por atos 
cometidos ou em sua omissão, tais como: 
I - ressarcimento ao erário (imprescritível, segundo o STF); 
II - indenizatória (dano moral e material); 
III - regressiva de ressarcimento (se o órgão for penalizado, por exemplo). 
21 
 
 
 
 4. RESPONSABILIZAÇÃO ADMINISTRATIVA DOS SERVIDORES PÚBLICOS 
 
 
Aqui a responsabilização, a ser apurada e sancionada pela Administração Pública, decorre do 
descumprimento de regras de conduta, impostas pela lei (em sentido amplo), por parte dos administrados 
e dos seus funcionários. 
As sanções devem ser impostas mediante a existência de processo administrativo, e podem ser 
das seguintes espécies: multa, interdição, suspensão, embargo, descontinuidade de benefícios, 
impedimento, dentre outras. 
A infração a deveres funcionais acarreta diversos efeitos jurídicos. Assim, a sua 
responsabilização pode ocorrer em diversas esferas/instâncias: administrativa, cível, política, penal, dentre 
outras. 
Nesse sentido, fala-se em responsabilidade administrativa em sentidoamplo e responsabilidade 
administrativa em sentido estrito. 
Em sentido amplo, responsabilidade administrativa é aquela a qual estásujeito o agente público 
por qualquer ato praticado no exercício de suas atribuições legais, infringentes das normas administrativas, 
podendo ocorrer ounão a qualificação penal adicional, e, não raro, a responsabilização patrimonial (civil) 
decorrente. 
Já em sentido estrito, significa a obrigação de responder perante a Administração pela prática 
de ilícito administrativo, na infração de regras de conduta relacionadas à função pública, desdobrando-se 
em ilícito disciplinar e funcional. 
Nesse capítulo, abordaremos apenas a responsabilidade administrativa em sentido estrito. 
Segundo Marçal Justen Filho (2010) reforça: 
A responsabilidade administrativa consiste no dever de o agente estatal 
responder pelos efeitos jurídico-administrativos dos atos praticados no 
desempenho de atividade administrativa estatal,inclusive suportando a sanção 
administrativa cominada em lei pela prática de ato ilícito. 
Isso significa dizer que a investidura em função pública gera um 
comprometimento entre o agente estatal e o Estado, impondo inúmeras regras 
de condutas (proibições e deveres funcionais). O agente torna-se o responsável 
pelo exercício da função pública, não podendo se eximir dosefeitos gerados por 
sua conduta (ações e omissões). 
22 
 
 
 
Quando essa conduta é reprovável, ela constitui um ato ilícito. A 
responsabilidade administrativa, nesse caso, abarca o sancionamento 
administrativo, ou seja, a aplicação de uma sanção, como explicamos: “Asanção 
administrativa é consequência jurídica cominada à prática de um ato ilícito, o 
que pressupõe a existência de um elemento subjetivo reprovável” 
 
Dentre os chamados princípios gerais do direito, ressalta-se que: 
“Ninguém pode ser condenado sem ser ouvido ou sem que seja assegurada a 
respectiva defesa” (Nemu in auditus damna ripotest). 
A Constituição Brasileira da República o acolheu no art. 5º, inc. LIV, dizendo que “ninguém será 
privado da liberdade ou de seus bens sem o devidoprocesso legal”. Referida fórmula, por força do art. 5º, 
inc. LV, da Constituição Federal de 1988, também se aplica no âmbito administrativo. 
Assim, a imposição de sanção administrativa depende, em qualquer caso, de processo 
administrativo. Em se tratando de processo disciplinar, as regras procedimentais do processo administrativo 
dependerá de cada ente federativo, podendo existir mais de uma regulação conforme o regime jurídico 
específico de cada carreira. O processo administrativo dos policiais militares, por exemplo, é diverso dos 
servidores civis. 
No entanto, a estrutura procedimental deve seguir princípios e regrasfundamentais, de 
caráter geral, com previsão na Constituição Federal de 1988. 
Muitos diplomas funcionais (Estatutos) foram editados durante outra ordem constitucional, e 
não contemplam de forma integral todos os atuais princípios vigentes, bem como a evolução jurisprudencial 
a respeito do tema. Nesses casos, as normas de sancionamento devem ser lidas e aplicadas à luz da vigente 
Constituição de 1988 (filtragem constitucional), afastando os dispositivos com ela incompatíveis e utilizando- 
se de técnicas de integração da norma. 
De modo geral, há que se buscar, sempre, o equilíbrio entre a buscapela verdade real, com 
a apuração imparcial das responsabilidades funcionaisa bem da Administração Pública e a garantia do amplo 
direito de defesa e do contraditório, aos investigados prevista na Constituição da República Brasileira. 
Toda forma, o ilícito administrativo pode ser definido como o comportamento do servidor, no 
âmbito de suas atribuições, ou a pretexto de exercê-las, que seja típico, antijurídico e reprovável. 
Não obstante, a severidade da sanção aplicada deve guardar proporcionalidade com a gravidade 
da conduta punida (grau de reprovabilidade). Igualmente há que se observar o princípio da necessidade, a 
sanção deve ser a necessária para reprovar e prevenir o ilícito. 
23 
 
 
 
Finalmente, a observância ao devido processo legal, com respeito ao contraditório e à ampla 
defesa, é pressuposto constitucional para a aplicaçãode qualquer sanção, seja ela penal ou administrativa. 
 
4.1 O DEVER DE REPRESENTAR 
Na Administração Pública é dever do servidor representar contra suposta irregularidade, 
cometida por qualquer outro servidor, de que tiver ciência, exclusivamente em razão do cargo, bem como 
contra ato ilegal, omissivo ou abusivo por autoridade. Referida norma consta de todos os estatutos 
funcionais. A representação deve decorrer das atribuições do cargo exercido pelo representado, e possuir 
como objeto também fatos relacionados à atividade pública. 
24 
 
 
 
 5. SINDICÂNCIA ADMINISTRATIVA 
 
 
5.1 SINDICÂNCIA INQUÉRITO (PROCEDIMENTO) 
Historicamente, o termo “sindicância” sempre foi empregado para se referir à apuração de 
qualquer fato supostamente ocorrido, acerca de qualquer matéria de que trate a administração pública, não 
necessariamente para apurar irregularidade disciplinar cometida por servidor, de que se teve 
conhecimentode forma genérica e sem prévia indicação de autoria (ou concorrência). Daí, em geral, nessa 
acepção, o termo refere-se a procedimento administrativo investigativo (ou preparatório) discricionário 
(sem rito previsto em norma, à margem do devido processo legal) e de natureza inquisitorial (sem a figura 
de acusado a quem se conceder ampla defesa e contraditório). 
 
 
FIGURA 90–MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO CEARÁ. 
Procedimento administrativo. Disponível em: http://tmp.mpce.mp.br/nespeciais/nupad/procadmindisciplinar.html>.Acesso 
em:15 maio 2017. 
 
 
 
A sindicância inquisitorial pode ser instaurada por meio de ato de desnecessáriapublicidade, 
designando apenas um sindicante ou uma comissão com número de integrantes a critério da autoridade 
competente. 
http://tmp.mpce.mp.br/nespeciais/nupad/procadmindisciplinar.html%3e.Acesso
25 
 
 
 
Além de servir, em regra, como meio preparatório para o processo disciplinar, pode ser aplicada 
em qualquer outra circunstância que comprometa a regularidade do serviço público. Assim, o seu relatório 
tanto pode recomendar instauração de processo disciplinar, como também pode esclarecer fatos, orientar 
a autoridade sobre falhas e lacunas normativas ou operacionais, recomendar medidas de gestão de pessoal 
ou de gerência administrativa, alteração do ordenamento e criação ou aperfeiçoamento de rotinas e de 
sistemas internos de controle. 
Na hipótese de seus trabalhos culminarem no entendimento, ainda que preliminar, de suposto 
cometimento de irregularidade administrativa, o sindicante ou a comissão de sindicância, obrigatoriamente, 
representará à autoridade instauradora, propondo instauração de procedimento disciplinar. Dessa maneira, 
esse sindicante ou esses integrantes da comissão, consubstanciando-se em representantes, e tendo exarado 
em seu relatório convicção formada unilateralmente, sem participação contraditória do servidor, estariam 
impedidos de atuar no consecutivo rito contraditório. 
 
5.2 SINDICÂNCIA ACUSATÓRIA (PROCESSO) 
Alguns Estatutos, o tratam de processos sancionatórios, e pregam nãosó a expressão “processo 
administrativo disciplinar” mas também o termo “sindicância”. Ou seja, sem prejuízo da manutenção 
daquele uso genérico para o termo “sindicância”, anteriormente descrito, com fim meramente investigativo 
preparatório, prevê mais especificamente a sindicância, somente o tendo feito para o processo 
administrativo disciplinar. 
Ora, na ausência de específica previsão legal e diante da necessidade de se estabelecer um rito, 
a solução mais coerente é estender para a sindicância o rito que a própria Lei previu para o processo 
administrativo disciplinar. 
Portanto, conceitualmente, pode-se interpretar que a expressão genérica “processo 
administrativo disciplinar” comporta as espécies processo administrativo disciplinar (PAD) e a sindicância 
acusatória. Assim, tudo o que couber ao primeiro, aplica-se à segunda. 
Em regra, a sindicância acusatória destina-se à apuração de infrações menores, assim entendidas 
as puníveis com pena de advertência, repreensão ou, no máximo, suspensão até 30 (trinta dias). 
Nesse contexto, a sindicância pode resultar em proposta: de arquivamento; de punição com 
advertência, repreensão, ou suspensão de até trinta dias; ou de abertura de processo administrativo 
disciplinar, para que neste se possibilite aplicar penas de suspensão superior a trinta dias, demissão ou 
cassação de aposentadoria ou de disponibilidade ou destituição do cargo em comissão. 
26 
 
 
 
Sindicância Inquérito Sindicância Acusatória 
Inquisitória (procedimento de 
investigação. 
Processo Administrativo 
Suspeito Acusado 
Sem contraditório e ampla defesa Com contraditório e ampla defesa 
Sem indiciamento Com indiciamento 
Não sugere pena. 
Pode sugerir o arquivamento ou a 
instauração de processo 
administrativo. 
Pode sugerir o arquivamento ou a aplicação 
de pena de advertência, repreensão ou 
suspensão de até 30 
(trinta) dias. 
 
QUADRO 2- Caro, Thiago.Sindicância inquérito e Sindicância acusatória. Disponível em: 
http://slideplayer.com.br/slide/1247331/>.Acesso em: 15 maio 2017. 
http://slideplayer.com.br/slide/1247331/%3e.Acesso
27 
 
 
 
 6. DA RESPONSABILIZAÇÃO DE TERCEIROS 
 
 
6.1 RESPONSABILIZAÇÃO DE TERCEIROS, PESSOAS FÍSICAS 
Como abordado anteriormente, terceiros, pessoas físicas, que cometerematos de improbidade 
administrativa, estarão sujeitos à aplicação da Lei nº 8.429/92, conforme previsão do art. 1º: 
Art. 1° Os atos de improbidade praticados por qualquer agente público, servidor 
ou não, contra a administração direta, indireta ou fundacional de qualquer dos 
Poderes da União,dos Estados, do Distrito Federal, dos Municípios, de Território, 
de empresa incorporada ao patrimônio público ou de entidade para cuja criação 
ou custeio o erário haja concorrido ou concorra com mais de cinqüenta por 
cento do patrimônio ou da receita anual, serão punidos na forma desta lei. 
 
6.2 RESPONSABILIZAÇÃO DE TERCEIROS, PESSOAS JURÍDICAS 
A Lei nº 12.846/13 nasceu do Projeto nº 6.826/10, encaminhado aoCongresso Nacional pela 
Presidência em fevereiro de 2010. 
O referido diploma legal é constituído por sete capítulos e tem por escopo, a responsabilização 
administrativa e civil de pessoas jurídicas pela prática de atos contra a Administração Pública, nacional ou 
estrangeira. 
Dentre as inovações trazidas pela Lei nº. 12.846/2013 estão a responsabilidade objetiva de 
pessoas jurídicas, o compliance, o acordo de leniência, o Cadastro Nacional de Empresas Punidas–CNEP, bem 
como a rigidez das sanções. 
E anuncia: 
Art. 1o Esta Lei dispõe sobre a responsabilização objetiva administrativa e civil 
de pessoas jurídicas pela prática de atos contra a administração pública, 
nacional ou estrangeira. 
Parágrafo único. Aplica-se o disposto nesta Lei às sociedades empresárias e às 
sociedades simples, personificadas ou não, independentemente da forma de 
organização ou modelo societário adotado, bem como a quaisquer fundações, 
associações de entidades ou pessoas, ou sociedades estrangeiras, que tenham 
sede,filial ou representação no território brasileiro, constituídas de fato ou de 
direito, ainda que temporariamente. [grifos nossos](BRASIL, 2013). 
28 
 
 
 
6.3 LEI Nº 12.846/13 
De acordo com a Lei Anticorrupção, uma mesma conduta pode gerar responsabilização civil e 
administrativa ao mesmo tempo. 
A responsabilização civil – que na prática é o pagamento de indenização – ocorrerá em âmbito 
judicial; a administrativa, imposição de multa, retenção de depósitos, proibições diversas no âmbito da 
Administração Pública. 
 
 
 
 
repará-lo. 
6.4 RESPONSABILIDADE OBJETIVA 
Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a 
 
 
Parágrafo único. Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de 
culpa, nos casos especificados em lei, ouquando a atividade normalmente 
desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os 
direitos de outrem.[grifos nossos]. 
 
A responsabilidade objetiva é aquela que não depende de culpa (negligência, imprudência ou 
imperícia), nem dolo (intenção deliberada de praticar o ato ilícito) para que imponha ao causador do dano o 
dever de repará-lo. 
Exemplo: avião atingido por um raio, caindo e gerando dano aos passageiros. A empresa aérea, 
mesmo sem culpa, deverá responder pelos danos causados. 
Prevista a responsabilidade objetiva, há que se investigar apenas seestá presente o nexo 
causal entre a conduta e o dano (deve se perguntar: “foia conduta que causou o dano?”, se a resposta for 
sim, está presente o nexo). 
Com a Lei Anticorrupção a disciplina da responsabilidade objetiva chega também à relação entre 
a Administração Pública e as pessoas jurídicas particulares. 
A partir de agora, para aplicar sanção à pessoa jurídica, não é mais necessário identificar a culpa 
ou o dolo na conduta da pessoa física que tenha praticado o ato ilícito favorecendo os interesses daquela 
pessoa física, basta a constatação da conduta e do dano consequente. 
29 
 
 
 
6.5 SUJEITOS ATIVOS E PASSIVOS 
• Pessoas jurídicas de direito público – são gestoras do patrimônio públicoe são o alvo de 
proteção da Lei Anticorrupção; assim, não podem ser tidas como sujeito ativo da prática de atos lesivos. 
Eventual responsabilidade no âmbito da Administração deve ser imputada à pessoa do agente público. 
• Sociedades empresárias – pessoas jurídicas de direito privado que atuam no âmbito de seu 
objeto social, visando à exploração de atividade empresarial;• Sociedades simples – são as demais sociedades de direito privado, ainda que não tenham 
efetivado a inscrição de seus atos constitutivos; 
• Fundações – conjunto personificado de bens, conforme a vontade de seu instituidor, 
vinculadas à realização de finalidade religiosa, moral, cultural ou de assistência. As fundações públicas, de 
natureza autárquica, não podem ser sujeito ativo das condutas vedadas pela lei em estudo. 
• Partidos políticos e suas fundações – embora sejam sujeitos ao regime jurídico de direito 
privado, é inadequado impor-lhes as sanções da Lei Anticorrupção, pois são agremiações que atendem ao 
interesse público e participam do regime democrático; 
• Associações de entidades ou pessoas – união de pessoas para finalidades não econômicas. 
• Organizações sociais (Lei nº 9.637/98) – pessoa jurídica de direito privado, sem fins 
lucrativos, na qual as finalidades são dirigidas ao ensino, à pesquisa científica, ao desenvolvimento 
tecnológico, à proteção e preservação do meio ambiente, à cultura e à saúde. Podem figurar no polo ativo 
da corrupção, pois firmam parcerias com o Estado. 
• OSCIP (Lei 9.790/99) – Organização da Sociedade Civil de Interesse Público – associações 
privadas que se dedicam a atividades de interesse público: assistência social, cultura, defesa e conservação 
do patrimônio histórico e artístico, da educação, da saúde, do meio ambiente, combate à pobreza, direitos 
humanos. Também podem ser sujeitos ativos da corrupção porque firmam contratos e parcerias com o Poder 
Público, recebendo dotaçõese recursos.Organizações não governamentais – ONGs – termo usado para 
qualquer associação civil que não tenha finalidade lucrativa e que atue no terceiro setor da sociedade civil. 
É pessoa jurídica de direito privado e também pode ser sujeito ativo da corrupção. 
• Sociedades de fato – associações eventuais de pessoas físicas ou jurídicas com um 
objetivo comum. Nos termos da presente lei, para prática de corrupção. Exemplo: cartéis – “[...] acordo 
explícito ou implícito entre concorrentes para, principalmente, fixação de preços ou quotas de produção, 
divisão de clientes e de mercados de atuação”. 
30 
 
 
• Sociedades e associações estrangeiras – basta que tenha caráter privadoe qualquer tipo 
de representação no território brasileiro, mesmo que essa representação seja ou tenha sido temporária. Não 
é necessário que tenha finalidade lucrativa para submetê-la aos ditames da Lei Anticorrupção. Nesta 
categoria se encontra as associações e federações de caráter esportivo internacionais, como a FIFA ou o COI 
(Comitê Olímpico Internacional) que, por força da realização de eventos esportivos financiados por entes 
públicos, podem ser atingidos pelas sanções da Lei nº 12.846/13. 
31 
 
 
 
 7. AS SANÇÕES 
 
 
A sanção pode ter natureza civil, penal e administrativa, como dito antes, e pode ser definida 
como a imposição de um mal àquele que não observa uma conduta prevista por uma norma jurídica. 
A Lei nº. 12.846/2013 prevê a responsabilização administrativa e civilda pessoa jurídica. A 
responsabilização civil é a que melhor consegue atingiros anseios sancionatórios aplicáveis às pessoas 
jurídicas, já que o processo administrativo tem se demonstrado mais efetivo no combate às ilicitudes 
oriundas de contratos administrativos e procedimentos licitatórios, conforme dispõe o anteprojeto da 
referida lei. 
Na esfera administrativa, as sanções aplicáveis às pessoas jurídicas responsáveis pelos atos 
lesivos são multa e publicação extraordinária da decisão condenatória. Já na esfera judicial, as sanções 
consistem em perdimento de bens, direitos ou valores que representem vantagem ou proveito direta 
ou indiretamente obtidos da infração, suspensão ou interdição parcial de suas atividades, dissolução 
compulsória da pessoa jurídica e proibição de receber incentivos, subsídios, subvenções, doações ou 
empréstimos de órgãos ou entidades públicas e de instituições financeiras públicas ou controladas pelo 
poder público 
 
7.1 PROGRAMA DE COMPLIANCE 
O artigo 7º, inciso VIII, da Lei Anticorrupção enuncia que a existênciade mecanismos e 
procedimentos internos de integridade, auditoria e incentivo àdenúncia de irregularidades e a aplicação 
efetiva de códigos de ética e de conduta no âmbito da pessoa jurídica serão levadas em consideração no 
momento da aplicação das sanções. 
Em outras palavras, a lei nº. 12.846/2013 está concedendo benefíciode atenuação depena às 
empresas que inserirem efetivamente procedimentos de combate à corrupção, como códigos de ética e de 
conduta, bem como canalde ouvidoria e de denúncia, a fim de prevenir a prática de ilicitudes e implantar 
uma mudança cultural no modo de agir das pessoas jurídicas que contratam com o Poder Público. 
O ministro-chefe da Controladoria Geral da União (CGU), Jorge Hage (2014), declarou que a lei 
vai contribuir com a mudança de atitude e mentalidade do empresariado brasileiro. [...] Percebemos o 
interesse das empresas em se preparar, em instaurar mecanismos de compliance [integridade] e códigos de 
conduta. Os empresários estão ansiosos para saber qual vai ser a exigência de administração pública. 
32 
 
 
 
Diante disso, verifica-se que há uma expectativa de que as empresas que pactuam coma 
Administração Pública se conscientizem aos poucos do efeito pedagógico e repressivo das sanções e, visando 
obter a concessão da atenuante prevista no artigo7º, elaborem o programa de compliance, definido como 
“ato de cumprir, de estar em conformidade e executar regulamentos internos e externos, impostos às 
atividades da instituição, buscando mitigar o risco atrelado à reputação e ao regulatório/legal”(MANZI, 2008, 
p.15). 
Vale destacar que a prática de compliance já é utilizada por algumas empresas (como a 
Siemens).A previsão de compliance na Lei nº. 12.846/2013 constitui um avanço, direcionado à ética e à 
transparência das relações negociais entre a Administração Pública e o setor privado. Ademais, trata-se de 
um sinal de quea empresa deve adotar um determinado padrão de conduta, compatível com uma boa-fé 
objetiva. 
 
7.2 DO ACORDO DE LENIÊNCIA 
O acordo de leniência é previsto no artigo 16 da Lei nº. 12.846/2013 e muito se assemelha ao 
instituto da delação premiada, previsto no Direito Processual Penal. Vale enfatizar que não consiste numa 
exclusividade da Lei Anticorrupção, uma vez que no ano 2.000 a antiga Lei Antitruste (Lei nº.8.884/1994) 
inaugurou o referido instituto em seu artigo 35-B. 
Trata-se do acordo celebrado entre a autoridade máxima de cada órgão, e as pessoas jurídicas 
responsáveis pela prática de atos lesivos à Administração Pública, que tiverem colaborado de modo efetivo 
com a investigação e o processo administrativo. O aludido auxílio deve resultar na descoberta de outros 
envolvidos no ilícito, e no alcance de informações e documentos que comprovem a infração apurado. 
33 
 
 
 
 
 
FIGURA 91 – ASSESSORPLAN. Acordo de leniência :requisitos. 
Disponível em:<http://www.assessorplan.com/capa.asp?infoid=5062>.Acessoem: 15 maio 2017. 
 
 
Os requisitos concomitantes para a celebração do acordo de leniência são a pessoa jurídica ser a 
primeira a se manifestar sobre seu interesse em cooperar para a apuração do ato ilícito; a pessoa jurídica 
cessar seu envolvimento na infração investigada a partir da data de propositura do acordo; e a pessoa 
jurídica admitir sua participação no ilícito e cooperar com as investigações e o processo administrativo, 
comparecendo, sempre que solicitada, a todos os atos processuais, até seu encerramento. 
Por meio do referido acordo, a pessoa jurídica obterá somente a isenção das sanções de 
publicação da decisão condenatória e de proibição de receber incentivos, subsídios, subvenções, doações ou 
empréstimos de órgãosou entidades públicas e de instituições financeiras públicas ou controladas pelo 
poder público, bem como a redução de dois terços do valor damulta. 
Logo, a feitura do acordo de leniência apenas abrandará as penalidades a serem impostas à 
pessoa jurídica, mas não interferirá no dever de reparar integralmente os danos causados. Entendemos que, 
no caso de impossibilidade fática de reparação integral do dano, a autoridade competente deverá 
estabelecer condições que contribuam para o ressarcimento do dano pela empresa infratora, ainda que 
parcialmente e a longo prazo. 
http://www.assessorplan.com/capa.asp?infoid=5062%3e.Acesso
34 
 
 
 
Desse modo, se a pessoa jurídica autora da conduta ilícita tiver preenchido simultaneamente os 
requisitos para a celebração do acordo de leniência, fará jus à isenção de sanções e/ou redução da multa 
mesmo que tenha havido tão-somente reparação substancial do dano. 
O Decreto Federal nº 8.420/2015 regulamentou a Lei Anticorrupção. 
 
 
 
FIGURA 92 – CONTROLADORIA GERAL DA UNIÃO. CIES e CNEP- 
Disponível em: 
<http://www.cgu.gov.br/assuntos/responsabilizacao-de-empresas/lei-anticorrupcao/imagens>.Acesso em: 15 maio 2017. 
http://www.cgu.gov.br/assuntos/responsabilizacao-de-empresas/lei-anticorrupcao/imagens%3e.Acesso
http://www.cgu.gov.br/assuntos/responsabilizacao-de-empresas/lei-anticorrupcao/imagens%3e.Acesso
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 8. DO RESSARCIMENTO AO ERÁRIO 
 
 
8.1 RESPONSABILIDADE CIVIL 
 
Esse tipo de responsabilização tem como pressuposto a existência de dano e a necessidade de 
sua reparação, buscando um retorno ao status quo ante ao ato que gerou o dano. 
De acordo com Maria Helena Diniz: “[...] o princípio que domina a responsabilidade civil na era 
contemporânea é o da restitutio in integrum, ou seja, da reposição completa da vítima à situação anterior 
à lesão". 
DIREITO PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO. APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO ANULATÓRIA DE ATO. 
A responsabilidade civil tem natureza compensatória e função ressarcitória e, portanto, 
pressupõe a existência de um dano, uma conduta e um nexo causal entre a conduta e o dano. Quando a 
responsabilidade civil é objetiva, dispensa a presença de culpa ou dolo (elemento subjetivo da conduta) do 
causador do dano. Tema bastante polêmico nesse âmbito, é a questão da imprescritibilidade do 
direito/dever de ressarcir prejuízos econômicos ao erário. 
Depois de vários anos e debates acerca, o STF-Supremo Tribunal Federal publicou julgado em 
25.03.2019 definindo o prazo para ressarcimento de danos causados ao erário. Nesse julgado, de 
Repercussão Geral nº 897 no Recurso Extraordinário 852.475/SP, fixou as seguintes regras: 
“DIREITO CONSTITUCIONAL. DIREITO ADMINISTRATIVO. RESSARCIMENTO AO ERÁRIO. 
IMPRESCRITIBILIDADE. SENTIDO E ALCANCE DO ART. 37, § 5 º, DA CONSTITUIÇÃO. 
1. A prescrição é instituto que milita em favor da estabilização das relações sociais. 
2. Há, no entanto, uma série de exceções explícitas no texto constitucional, como a prática dos 
crimes de racismo (art. 5º, XLII, CRFB) e da ação de grupos armados, civis ou militares, contra a ordem 
constitucional e o Estado Democrático (art.5º, XLIV, CRFB). 
3. O texto constitucional é expresso (art. 37, § 5º, CRFB) ao prever que a lei estabelecerá os 
prazos de prescrição para ilícitos na esfera cível ou penal, aqui entendidas em sentido amplo, que gerem 
prejuízo ao erário e sejam praticados por qualquer agente. 
4. A Constituição, no mesmo dispositivo (art. 37, § 5º, CRFB) decota de tal comando para o 
Legislador as ações cíveis de ressarcimento ao erário, tornando-as, assim, imprescritíveis. 
5. São, portanto, imprescritíveis as ações de ressarcimento ao erário fundadas na prática de 
ato doloso tipificado na Lei de Improbidade Administrativa. 
6. Parcial provimento do recurso extraordinário para (i) afastar a prescrição da sanção de 
ressarcimento e (ii) determinar que o tribunal recorrido, superada a preliminar de mérito pela 
36 
 
 
imprescritibilidade das ações de ressarcimento por improbidade administrativa, aprecie o mérito apenas 
quanto à pretensão de ressarcimento.” 
Portanto, conclui-se que a Corte Máxima Nacional apontou pela imprescritibilidade do 
ressarcimento, apenas se o ato for configurado como doloso, dentre os previstos na legislação correlata 
(Lei de Improbidade Administrativa). 
Se não for doloso, prescreverá no prazo legal: 5 anos. 
 
8.2 DA AÇÃO REGRESSIVA 
Para as hipóteses de danos causados diretamente ao órgão empregador, as leis estatutárias 
em geral estabelecem procedimentos auto executáveis (não dependem de autorização judicial), pelos 
quais a Administração desconta dos vencimentos do servidor a importância necessária ao ressarcimento 
dos prejuízos, respeitado limite mensal fixado em lei, visando preservar o caráter alimentar do salário do 
servidor. 
Por outro lado, quando se trata de dano causado a terceiros, aplica-se anorma do artigo 37, § 
6º, da Constituição Federal, em decorrência da qual o ente federado responde objetivamente, ou seja, 
independentemente de culpa ou dolo, porém possui o direito de regresso contra o servidor que provocou 
o dano, desde que este tenha agido com culpa ou dolo. 
http://www.jusbrasil.com.br/topicos/2186546/artigo-37-da-constitui%C3%A7%C3%A3o-federal-de-1988
http://www.jusbrasil.com.br/topicos/10710882/par%C3%A1grafo-6-artigo-37-da-constitui%C3%A7%C3%A3o-federal-de-1988
http://www.jusbrasil.com.br/topicos/10710882/par%C3%A1grafo-6-artigo-37-da-constitui%C3%A7%C3%A3o-federal-de-1988
http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/155571402/constitui%C3%A7%C3%A3o-federal-constitui%C3%A7%C3%A3o-da-republica-federativa-do-brasil-1988
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8.3 INDEPENDÊNCIA E COMUNICABILIDADE DAS ESFERAS DE RESPONSABILIDADES 
Uma única conduta praticada por um servidor público poderá configurar infração administrativa, 
implicar dano à Administração e ser tipificada como crime, ensejando, nessa hipótese, responsabilidades 
nas esferasadministrativa, civil e criminal, pois as três têm fundamentos e naturezas diversas. 
As esferas de responsabilidades (administrativa, cível e penal) são, em regra, independentes, de 
tal sorte que as penas aplicadas em cada uma das esferas serão cumulativas, ressalvadas as exceções em 
que a decisão proferida no juízo penal deve prevalecer, fazendo coisa julgada na área cível e na 
administrativa. 
38 
 
 
 
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