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Atendimento de Urgência e Emergência A organização dos serviços de urgência e emergência no SUS e as diretrizes clínicas para atendimento à vítima de trauma. Prof.ª Maria Isabel Santos Prof. Angelo da Silva Ribeiro 1. Itens iniciais Propósito Os conceitos de urgências e emergências são essenciais para o desenvolvimento de habilidades e competências dos profissionais de saúde no que se refere ao atendimento extra e intra-hospitalar. Objetivos Definir a organização da rede para atendimentos de urgência e emergência. Reconhecer a avalição da cena e a cinemática do trauma. Analisar a abordagem inicial da vítima no atendimento pré-hospitalar. Introdução O modelo que conhecemos hoje dos serviços de urgência (com ou sem risco potencial à vida) e emergência (sofrimento intenso ou risco iminente de morte) foi construído ao longo dos séculos, e sua estrutura se baseia em demandas sociais e conjunto de leis. Essas demandas sociais são analisadas, geram os dados epidemiológicos que são traduzidos em ações preventivas à saúde da população e leis. Por isso, iremos apresentar aqui as legislações que constroem a rede de atenção à urgência e emergência, contextualizando as organizações dos serviços pré-hospitalar fixo, pré-hospitalar móvel, atendimento hospitalar e pós- hospitalar. Após conhecermos a construção da rede de urgências e emergências, trilharemos pela cinemática do trauma (avaliação da cena de acidentes para determinar a origem das lesões) e pelo atendimento às vítimas de acidentes. Ao concluir este estudo, você dominará a construção da rede de atendimento e distinguirá os tipos de traumas. • • • 1. Rede de atenção Organização da rede de atenção às urgências e emergências O modelo de atenção à saúde no Brasil é baseado na Constituição Brasileira. A partir desse marco, a saúde obteve um caráter de importância primordial. Nesse contexto, o Estado, por meio da adoção de políticas públicas, sociais e econômicas nas diversas esferas federativas, tornou-se responsável por oferecer a todos igual tratamento, promovendo o acesso universal, no qual todos possuem direito aos serviços de saúde. Conheça os princípios da rede de atenção integral em saúde: Universalidade Determina que todos têm direito aos serviços de saúde, sem qualquer discriminação. Equidade Considera proporcionar mais a quem tem menos. Integralidade Considera que o indivíduo deve ser atendido na sua totalidade, de forma preventiva e curativa, e entende que é preciso olhar o indivíduo de forma integral. Participação popular Envolve a participação dos usuários nos serviços de saúde, por meio de conferências e conselhos de saúde. A mudança no conceito de cuidar se consolidou a partir da implantação do Sistema Único de Saúde (SUS), pela Lei nº 8.080/1990. Nessa lei se estabelecem os princípios organizacionais respeitando a regionalização e hierarquização e considerando os crescentes de níveis de complexidade de determinada área geográfica, planejados a partir de critérios epidemiológicos e com definições e formas de conhecimento populacionais. Estão incluídos no SUS equipes de: Saúde da Família Unidades Básicas de Saúde (UBS) Hospitais públicos municipais, estaduais e federais — incluindo os universitários Fundações e institutos de pesquisa Laboratórios • • • • • Hemocentros (bancos de sangue) Serviços de Vigilância Sanitária, Vigilância Epidemiológica e Vigilância Ambiental Hospitais e serviços privados de saúde contratados ou conveniados pelo Poder Público Agora, falaremos sobre a evolução do SUS. Com o passar dos anos, o SUS foi ampliado e modificado para atender às demandas sociais e epidemiológicas, originando novas políticas e aprimorando serviços. Destacaremos os Serviços de urgências e emergências, que historicamente sempre foram oferecidos para população, porém, com o aumento de óbitos por acidentes e traumas, foi necessário padronizar o atendimento no âmbito nacional. Essa normatização aconteceu por meio da Portaria nº 1863/ GM, de 29 de setembro de 2003 – Política Nacional de Atenção às Urgências (PNAU), também conhecida como uma abordagem às urgências e emergências a ser implantada em todas as unidades federadas, respeitando as competências das três esferas de gestão. A PNAU tem como base quatro estratégias: Organização de redes assistenciais Humanização no atendimento dos pacientes Qualificação e educação permanente dos profissionais de saúde Implantação e operação de central de regulação médica de urgências A seguir, entenderemos outras questões relacionadas ao assunto. Funcionamento de serviços de urgência e emergência Logo na introdução vimos a diferença entre urgência e emergência. Você se lembra qual é? Esse questionamento faz toda diferença no atendimento, portanto, fique atento. A Portaria nº 354, de 10 de março de 2014, que publica a proposta de Projeto de Resolução “Boas Práticas para Organização e Funcionamento de Serviços de Urgência e Emergência”, traz as seguintes definições: Com base nesses conceitos, podemos afirmar que atendimento de urgência é uma situação que requer agilidade e rapidez no atendimento, porém, o risco não é grave; já o atendimento de emergência requer atenção imediata com risco de morte. O reflexo desse entendimento é crucial e reflete na vida do paciente que vai ser atendido, pois condutas atrasadas e não assertivas podem gerar sequelas irreparáveis. Serviços da Rede de Assistência às Urgências e Emergências Na Rede encontram-se os seguintes serviços: • • • • • • • Emergência Constatação médica de condições de agravo à saúde que impliquem sofrimento intenso ou risco iminente de morte, exigindo, portanto, tratamento médico imediato. Urgência Ocorrência imprevista de agravo à saúde com ou sem risco potencial à vida, cujo portador necessite de assistência médica imediata. Serviço pré-hospitalar fixo São compostos por Unidades Básicas de Saúde, assim como pela Estratégia de Saúde da Família, por ambulatórios especializados, Unidade de Pronto Atendimento 24h (UPA 24H), além dos serviços de apoio, diagnóstico e tratamento. Pré-hospitalar móvel Serviço de atendimento móvel de urgência, também conhecido como SAMU, trata-se de um serviço de resgate e ambulâncias da iniciativa privada, entre outros. Rede hospitalar Serviço de atendimento móvel de urgência, também conhecido como SAMU, trata-se de um serviço de resgate e ambulâncias da iniciativa privada, entre outros. Pós-hospitalar Refere-se ao sistema de assistência de reabilitação, além dos serviços de atenção domiciliar. Esses componentes são controlados em relação às vagas de internação, por meio do serviço de regulação médica de urgências, cuja finalidade é garantir o acesso equânime aos serviços de urgência e emergência. A regulação é realizada de acordo com os critérios de gravidade clínica do cliente e busca oferecer ao usuário do SUS maior possibilidade de obter um atendimento correspondente a sua necessidade, de acordo com o recurso disponível na rede. Objetivos da Rede de Atenção às Urgências e Emergências (RUE) A Portaria nº 1.600/2011 trata da Reformulação da Política Nacional de Atenção às Urgências e institui a Rede de Atenção às Urgências no Sistema Único de Saúde (SUS); além disso, elabora componentes para a rede de atenção às urgências e define como principais metas os cuidados cardiovasculares, cerebrovasculares e traumatológicas. A seguir, destacaremos os objetivos de cada componente dessa portaria: Promoção, Prevenção e Vigilância em Saúde Estimular e fomentar o desenvolvimento de ações de saúde e educação permanente voltadas para a vigilância e a prevenção de agravos, violências e dos acidentes. Atenção Básica Ampliar o acesso, o fortalecimento do vínculo, a responsabilização e o primeiro atendimento às urgências e emergências, em ambiente adequado, até a transferência/encaminhamento dos pacientes a outros pontos de atenção, quando necessário. Serviço de Atendimento Móvel às Urgências Ordenar o fluxo assistencial e disponibilizar(> 8 mm) Pupila fixa unilateral Fotorreação bilateral Fotorreação unilateral Fotorreação ausente Leve Moderado Grave Exposição e controle do ambiente Atenção Avaliação secundária Quais as diretrizes clínicas para atendimento a vítimas de trauma? Conteúdo interativo Vem que eu te explico! Qual a conduta em uma contenção hemorrágica externa? Conteúdo interativo Avaliação neurológica: Escala de Glasgow Conteúdo interativo Verificando o aprendizado 4. Conclusão Considerações finais Podcast Conteúdo interativo Explore + Referênciasatendimento precoce e transporte adequado, rápido e resolutivo às vítimas acometidas por agravos à saúde de natureza clínica, cirúrgica, gineco-obstétrica, traumática e psiquiátricas. Essa unidades móveis podem ser: viatura para Unidade de Suporte Básico de vida terrestre (USB), viatura para Unidade de Suporte Avançado de vida terrestre (USA), equipe de aeromédico, equipe de embarcação, motocicleta classificada como motolância e Veículo de Intervenção Rápida (VIR). Sala de Estabilização Funcionar nas 24 horas do dia e nos 7 dias da semana para aplicação, com apoio de equipe multidisciplinar, de protocolos clínicos, acolhimento, classificação de risco e procedimentos administrativos estabelecidos pelo gestor responsável. Unidades de Pronto Atendimento (UPA 24h) e o conjunto de serviços de urgência 24 horas Atender prontamente 24h nos 7 dias da semana. Componente da Atenção Hospitalar Organizar a atenção às urgências nos hospitais, de modo que atendam à demanda espontânea e/ou referenciada e que funcionem como retaguarda para os outros pontos de atenção às urgências de menor complexidade; garantir retaguarda de atendimentos de média e alta complexidade, procedimentos diagnósticos e leitos clínicos, cirúrgicos, de cuidados prolongados e de terapia intensiva para a Rede de Atenção às Urgências; e garantir a atenção hospitalar nas linhas de cuidado prioritárias em articulação com os demais pontos de atenção. Atenção Domiciliar (AD) Estruturar e organizar o cuidado no domicílio a partir de 3 modalidades (AD1, AD2, AD3), de acordo com condição clínica e uso de equipamentos e, ainda, visitas domiciliares. Acolhimento e classificação de risco A criação da Política Nacional de humanização (PNH) a partir do SUS, com o objetivo de aperfeiçoar a qualidade do atendimento nos serviços pré-hospitalares e hospitalares de urgência, possibilitou a formulação e a implantação da organização do atendimento com acolhimento orientado para a escuta ativa. Essa escuta permite entender queixas e necessidades, bem como ordenar a classificação de risco, um processo para identificar os pacientes que necessitam de tratamento imediato, conforme o potencial de risco, os agravos à saúde ou o grau de sofrimento, seguindo os protocolos definidos pelo Ministério da Saúde. A Portaria nº 2.048 do Ministério da Saúde, em seu capítulo VI, propõe a implantação do acolhimento e da triagem classificatória de risco nas unidades de atendimento de urgências. De acordo com a referida Portaria, o processo de triagem: [...] deve ser realizado por profissional de saúde, de nível superior, mediante treinamento específico e utilização de protocolos preestabelecidos e tem por objetivo avaliar o grau de urgência das queixas dos pacientes, colocando-os em ordem de prioridade para o atendimento. (PORTARIA Nº 2.048/2002) O sistema de classificação de risco seguirá, como princípio, as seguintes divisões de prioridade de atendimento: Classificação de Manchester Uma alternativa ao modelo estabelecido pelo Ministério da saúde é a classificação de Manchester, atualmente, a mais usada. Ela tem como objetivo obter o risco do quadro em questão, colocando uma pulseira no indivíduo que indica a gravidade do seu caso e a priorização do seu atendimento. Fundamenta-se em prioridades clínicas, para garantir um atendimento adequado e equânime. Foi, inicialmente, direcionada para serviços de pronto-socorro, mas é possível adotá-la nas Unidades Básicas de Saúde e Unidades de Saúde da Família de forma singularizada. A seguir, veremos sobre acidentes com múltiplas vítimas. Sistema de triagem START Em casos de acidentes com múltiplas vítimas, podemos optar pelo sistema de triagem START (Simple Triage and Rapid Treatment, traduzido como “Triagem Simples e Tratamento Rápido”). O método considera quatro cores — vermelho, amarelo, verde e preto —, cada uma significando um nível distinto de prioridade. Observe! O enfermeiro nos serviços de urgência e emergência Devido às transformações que emanam do aspecto epidemiológico local, o serviço de urgência e emergência na Enfermagem teve de se ajustar às novas demandas dos estabelecimentos de saúde. Os profissionais que atuam na rede de atenção às urgências e emergências integram diferentes categorias profissionais: enfermeiros, médicos, nutricionistas, assistentes sociais, psicólogos, farmacêuticos, técnicos de laboratório, equipe de limpeza. Os principais destaques de atuação da(o) enfermeira(o) serão apresentados a seguir, levando em consideração os procedimentos e competências legais na área de urgência e emergência: É privativa ao enfermeiro, na esfera da equipe de enfermagem, a realização da classificação de risco, que irá estabelecer os critérios iniciais de abordagem ao paciente, conforme descritos na Resolução Cofen nº 423/2012. A realização da montagem, a conferência e a reposição de materiais do carro de emergência deverão ser realizadas pela equipe de enfermagem, sob a supervisão do enfermeiro (Parecer nº 37/2013/SP). Cabe ao enfermeiro a prescrição de oximetria contínua (Parecer nº 016/2010/DF). A execução das punções arterial e venosa (jugular externa) é atribuição privativa do enfermeiro, na equipe de enfermagem, ressaltando que deve possuir conhecimento técnico-científico para realização do procedimento, conforme definido na Resolução Cofen nº 390/2011. A inserção da máscara laríngea e combitubo esofagotraqueal, a desfibrilação com o uso do DEA e da manobra vagal, e a punção intraóssea são procedimentos complexos relacionados ao contexto das arritmias e da reanimação cardiopulmonar mais voltadas para a atuação dos enfermeiros especialistas (Parecer 022/2011/DF; Decisão nº 128/2009/RS; Parecer 040/2012/ MS; Parecer 056/2012/ MS; Parecer 26/2 013/SP; Parecer 33/2 010/SP; Parecer 01/2009/SP). Além dessas considerações, há outra possibilidade de atuação do enfermeiro: Em situações de risco iminente de morte e na impossibilidade de o procedimento ser realizado pelo médico, cabe ao enfermeiro certas condutas, em urgência/emergência. • • • • • Portanto, o enfermeiro pode seguir as seguintes condutas, conforme dispositivos legais: Execução da sondagem nasogástrica em usuário que fez uso de substância tóxica sem prescrição médica (Parecer nº 04/2002/DF). Administração de oxigênio medicinal sem prescrição médica (Parecer nº 14/2 012/SP). Sutura efetuada por profissional de enfermagem (Resolução Cofen nº 278/2003; de acordo com o Parecer nº 39/2013/SP), nesse caso, deverá ser elaborado relatório descrevendo detalhadamente a situação que gerou tal conduta; além disso, esse procedimento é liberado ao profissional enfermeiro, em casos de episiorrafia. A utilização de Dispositivos Extraglóticos (DEG) e outros procedimentos para acesso à via aérea, nas situações de urgência e emergência, nos ambientes intra e pré-hospitalares (Resolução Cofen nº 641/2020). A seguir, temos outra informação importante a se considerar com relação a esse contexto: Saiba mais Exclusivamente as resoluções, os pareceres e as decisões do Conselho Federal de Enfermagem possuem abrangência nacional. No vídeo a seguir entenderemos outras questões. Rede de atenção às Urgências e Emergências Neste vídeo, descrevemos a seguir a construção histórica dos serviços de urgência e emergência na história até os dias atuais. Conteúdo interativo Acesse a versão digital para assistir ao vídeo. Vem que eu te explico! Os vídeos a seguir abordam os assuntos mais relevantes do conteúdo que você acabou de estudar. Urgência x emergência Conteúdo interativo Acesse a versão digital para assistir ao vídeo. • • • • Como entender os componentes da Rede de assistência às urgências e emergências? Conteúdo interativo Acesse a versão digital para assistir ao vídeo. Atuação do enfermeiro nos serviços de urgência e emergências Conteúdo interativo Acesse a versão digital para assistir ao vídeo. Entendendo o acolhimento e classificação de risco Conteúdo interativo Acesse a versão digital para assistirao vídeo. Verificando o aprendizado Questão 1 A Portaria MS/ GM nº 1.600/2011, que reformula a Política Nacional de Atenção às Urgências e institui a Rede de Atenção às Urgências no Sistema Único de Saúde (SUS), visa articular e integrar todos os equipamentos de saúde, ampliando e qualificando o acesso humanizado e integral aos usuários em situação de urgência e emergência nos serviços de saúde. Nesse sentido, assinale a alternativa que cita os componentes da rede de assistência às urgências. A Rede SAMU 192; estratégia de saúde da família (ESF); ambulatórios especializados; unidade de pronto atendimento (UPA); serviços de apoio, diagnóstico e tratamento. B Unidades básicas de saúde (UBSs); sistema de resgate e ambulâncias da iniciativa privada. C Rede intra-hospitalar de serviço de centrais de transplantes; central de leitos estadual e sistema de verificação de óbito. D Rede hospitalar: clínicas de média e alta complexidade. E Promoção, prevenção e vigilância em saúde; atenção básica; SAMU 192; sala de estabilização; UPA 24h; unidades hospitalares e atenção domiciliar. A alternativa E está correta. A Rede de Atenção às Urgências e Emergências (RUE) tem como objetivo organizar a assistência, definindo os fluxos e as referências adequadas no sistema. Essa rede é constituída pelos seguintes componentes: promoção, prevenção e vigilância em saúde; atenção básica; SAMU 192; sala de estabilização; UPA 24h; unidades hospitalares e atenção domiciliar. Questão 2 De acordo com a Resolução COFEN nº 423/2012, que normatiza, no âmbito do Sistema COFEN/Conselhos Regionais de Enfermagem, a participação do enfermeiro na classificação de riscos, pode-se afirmar que A a classificação de risco e a priorização da assistência em serviços de urgência são de responsabilidade da equipe de enfermagem e podem ser executadas pelo técnico de enfermagem. B a classificação de risco e a priorização da assistência em serviços de urgência são atividades privativas da equipe médica, sendo o médico emergencista o principal executor. C a classificação de risco e a priorização da assistência em serviços de urgência são realizadas na porta de entrada do pronto-socorro, de modo que o paciente é avaliado pela recepção do pronto-socorro ao fazer a ficha de internação. D a classificação de risco e a priorização da assistência em serviços de urgência são realizadas no decorrer do atendimento por qualquer componente da equipe. E a classificação de risco e a priorização da assistência em serviços de urgência são atividades privativas do enfermeiro, observadas as disposições legais da profissão. A alternativa E está correta. Na equipe de enfermagem, é atividade privativa do enfermeiro a realização da classificação de risco. 2. Cena e Cinemática do Trauma Cinemática do trauma O termo “trauma” é de origem grega e significa “ferida”. Podemos encontrar essa terminologia ligada a situações de lesões físicas causadas por ações externas lesivas ou violentas, assim como pela ação de substâncias tóxicas no organismo, gerando, muitas vezes, danos psicológicos ou emocionais. A cinemática do trauma, por sua vez, é um processo de avaliação da cena do acidente por meio de sinais biomecânicos específicos, a partir dos quais é possível prever as prováveis lesões que a vítima pode apresentar. Constitui uma ferramenta importante de triagem na cena do acidente, pois determina os ferimentos resultantes das forças e dos movimentos envolvidos, bem como estima a gravidade da lesão e estuda a transferência de energia de uma fonte externa para o corpo da vítima. A avaliação da cena de um acidente é fundamental para traçar a conduta do atendimento de urgência e emergência, auxiliando o diagnóstico das lesões sofridas pela vítima, além de preservar a segurança da equipe assistencial na cena do acidente. A equipe primeiramente deve avaliar a cena e garantir que não há riscos no local ao prestar a assistência. Recomendação A ambulância deve ser estacionada no local mais próximo e, caso necessário, devem ser acionados outros recursos para o local, como policiamento. Caso o local do socorro ofereça riscos que não possam ser neutralizados, deve-se remover a vítima rapidamente para um local seguro, mas sempre que possível realizar a avaliação e estabilização da vítima. A equipe assistencial deverá utilizar as precauções-padrão para impedir o contato direto com as substâncias corpóreas dos pacientes (sangue, saliva, vômito). Os itens de precaução incluem luvas, aventais, máscaras e óculos. Para evitar acidentes, além das precauções-padrão, os profissionais devem estar atentos ao utilizarem os equipamentos perfurocortantes. Deve-se analisar a situação questionando, por exemplo: O que realmente aconteceu? Por que a ajuda foi solicitada? Qual o mecanismo de trauma e quais as forças e energias provocaram as lesões nas vítimas? O fator que levou ao trauma pode ter sido um problema clínico? Quantas pessoas estão envolvidas e quais as idades das vítimas? Quantas ambulâncias são necessárias para prestar uma assistência correta? Será necessário acionar outros sistemas públicos (policiamento, companhia elétrica, bombeiros, transporte aéreo)? Fases da avaliação da cinemática do trauma • • • • • • • No PHTLS (Prehospital Trauma Life Support, traduzido como Suporte pré-hospitalar de vida no trauma), são propostas três fases para as condições de avaliação da cinemática do trauma: pré-evento, evento e pós- evento (NAEMT, 2018): Fase pré-evento Inclui todos os eventos que precedem o incidente, como ingestão de álcool ou drogas. Condições prévias ao incidente também fazem parte dessa fase. Nesse caso, o objetivo é prioritariamente prevenir a ocorrência de lesões. Como ainda não ocorreu o acidente, essa fase caracteriza-se por abordagens educativas para prevenir o fato. Por exemplo, a lei seca. Fase do evento Tem início no momento do impacto entre o objeto em movimento e um segundo objeto, ou seja, é exatamente o momento do trauma. O objetivo dessa fase é minimizar os danos provenientes do trauma. Fase pós-evento Fase do atendimento propriamente dito, nessa fase o profissional terá o contato com o resultado do evento. Para atender à vítima de forma correta, deve-se agrupar as informações colhidas durante as fases de pré-evento e evento. O que você sabe sobre energia? Para que o profissional que atenderá a vítima compreenda os efeitos das forças que produzem as lesões corporais é essencial entender sobre energia. Podemos analisar a energia pelos fundamentos da Física. Veja! A lei da conservação da energia afirma que a energia não pode ser criada nem destruída, mas sua forma pode ser modificada, podendo assumir a forma de energia mecânica, elétrica ou química. A primeira lei de Newton descreve que um corpo em movimento ou em repouso permanece nesse estado até que uma força externa atue sobre ele. A segunda lei de Newton nos apresenta que força é igual à massa (peso) do objeto multiplicada por sua aceleração. Energia cinética é a energia do movimento. Ela é igual à medida da massa multiplicada pela velocidade elevada ao quadrado. Na troca de energia, há energia de corpos em velocidades divergentes que, ao se colidirem, entram em equilíbrio. Quanto maior a densidade do tecido, maior a troca de energia. • • • • • • Cavitação é transferência de energia. Por exemplo, quando um objeto em movimento colide com o corpo ou quando este é lançado contra um objeto parado, há transferência de energia e, assim, os tecidos são deslocados, criando uma cavidade (podendo ser temporária ou definitiva). Traumas Em geral, o trauma pode ser classificado quanto ao impacto como contuso ou penetrante. A transferência de energia e a lesão produzida são semelhantes, porém, diferenciam-se em relação à penetração da pele. A seguir, veremos as características de cada um deles. Trauma contuso Duas forças estão envolvidas no impacto contuso: Cisalhamento Diz respeito ao resultado da mudança brusca de velocidadede um órgão ou estrutura. Compressão É o resultado de um órgão ou estrutura sendo comprimida diretamente entre outros órgãos ou estruturas. Os traumas contusos por acidentes automobilísticos, por exemplo, podem ser subdivididos em cinco tipos de impactos conforme tabela. Não podemos esquecer de que existem os sistemas de contenção dos ocupantes que ajudam a conter os impactos durante as colisões no interior do carro e impedem a ejeção do automóvel. Os sistemas de contenção conhecidos são: Cinto de segurança (cinto abdominal ou cinto de fixação) Air bags As leis da Física envolvidas nas colisões de motocicletas são as mesmas que atuam na colisão de automóvel, e os tipos de impactos envolvidos são: Frontal Angular Ejeção A velocidade do veículo e o tipo de impacto vão definir as lesões (cabeça, tórax, pelve, entre outros) e as queimaduras, assim como o cenário do acidente pode também interferir nos tipos de lesões na vítima. Como dispositivos de proteção temos as vestes de proteção, as botas e o capacete. Os casos de atropelamentos envolvem as mesmas leis da Física já citadas, e os tipos de impactos envolvidos são: Frontal Angular Projeção Quanto às lesões produzidas, tendem a ser mais graves, pois os pedestres estão menos protegidos do que o ocupante de um veículo, pois a carroceria do veículo absorve parte da energia cinética da colisão. Normalmente, os mecanismos de lesão são acionados quando o para-choque atinge o corpo ou quando o corpo acelerado pela transferência de energia atinge o chão ou outro objeto. As lesões variam de acordo com o tamanho da vítima; os adultos, geralmente, apresentam fraturas bilaterais nos membros inferiores, e as crianças, lesões na pelve ou no tronco. • • • • • • • • • https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/04652/docs/tabela_01.pdf Nas quedas, a vítima também pode sofrer lesões causadas por impactos múltiplos. Por isso, o profissional que irá atendê-la deve estimar a altura da queda, avaliar a superfície na qual a vítima caiu e determinar qual parte do corpo bateu primeiro. Esta última informação ajuda o profissional que está prestando assistência a prever o possível tipo de lesão. Quanto às forças de cisalhamento e compressão, devemos levar em consideração cada região do corpo durante o impacto e o tipo de acidente. Observe! Parte externa Composta por pele, ossos, partes moles, vasos e nervos. Parte interna Formada pelos órgãos. Lesões Produzidas como resultado das forças de cisalhamento e compressão. Veja, a seguir, outras questões sobre este assunto. Trauma penetrante Ferimentos penetrantes são cavidades permanentes produzidas pela passagem de um objeto através do corpo. Na maioria dos casos, são ferimentos provocados por arma de fogo, quando um projétil é impulsionado ao longo do cano de uma arma e causa dano à vítima. O dano vai depender do tamanho do projétil. As feridas por arma de fogo possuem três componentes: orifício de entrada, orifício de saída e lesão interna. Traumas crainioencefálico e de face Cranioencefálico Traumas cranioencefálicos são as principais causas de óbito de vítimas de acidentes envolvendo automóveis e motocicletas. Os traumatismos de cabeça podem envolver, isoladamente ou em qualquer combinação, o couro cabeludo, o crânio e o encéfalo. Mesmo que não cause morte, esse tipo de trauma pode ocasionar sequelas graves. Podemos classificá-los em traumatismo cranioencefálico leve, moderado e grave. Quanto à anatomia do crânio e do encéfalo, a cabeça (excluindo a face) inclui as seguintes estruturas: Couro cabeludo Crânio e meninges Líquido cérebro espinhal Vasos sanguíneos Meninges Membranas fibrosas que recobrem o cérebro. Dessa estrutura, destaca-se o encéfalo, que possui capacidade de autorregular o fluxo de sangue que recebe quando se encontra sob estresse fisiológico. Apesar disso, quando a pressão arterial média (PAM) baixa para menos de 60 mmHg, esse fluxo começa a cair. • • • • A lesão cerebral traumática (LCT) pode ser: LCT primária Representa danos graves às células nervosas (neurônios) como resultado direto de uma agressão inicial, independentemente do mecanismo de lesão; Nesse caso, se o doente sobreviver ao trauma, pode ocorrer lesão neurológica permanente. LTC secundária Refere-se a um déficit neurológico permanente e mais extenso, decorrente da lesão cerebral primária. Esse tipo de lesão pode ser classificado em lesão sistêmica e lesão intracraniana. Fatores sistêmicos que podem levar à lesão cerebral secundária podem ser tratados no ambiente pré- hospitalar. Esses fatores incluem hipóxia, hipocapnia, anemia, hipotensão, hiperglicemia e hipoglicemia. A seguir, faremos considerações em relação aos traumas na face. Face As causas diversas do trauma de face são relacionadas, principalmente, a acidentes de trânsito, acidentes esportivos, queda, violência interpessoal, ataque de animais, ferimentos por arma branca ou de fogo, acidentes de trabalho ou domiciliares. Trauma na face pode ocasionar lesões com diferentes graus de extensão e profundidade, desde contusão, abrasão, laceração, lesão cortante ou penetrante, com ou sem perda de substância. As lesões em diversas estruturas podem resultar em obstrução de vias respiratórias, por presença de corpo estranho, hemorragia, massa de coágulo ou ptose da língua, devido à fratura dos ossos da face e à lesão de estruturas nervosas. O trauma de face é didaticamente dividido em fraturas e em lesões dos tecidos moles, que muitas vezes ocorrem simultaneamente. A abordagem ao trauma da face é feita em três fases: Urgência Precoce Definitiva A maioria dos pacientes é atendida na fase precoce, pois não apresentam urgência. As fraturas também podem ser classificadas de acordo com a sua localização na face, a partir da avaliação do quadro clínico e dos exames complementares específicos para cada região. São classificadas em: a) Fratura nasal Tipo I – Fratura da região anterior da pirâmide e septo nasal. Tipo II – Deslocamento septal e fratura cominutiva da pirâmide nasal. Tipo III – Envolvimento do processo frontal da maxila uni/bilateralmente, fratura nasoetmoidal. O tratamento de fraturas nasais pode ser do tipo conservador ou cirúrgico. • • • • • • b) Fratura da órbita Da margem orbital (orbitozigomática, maxilo-orbital, fronto-orbital, nasoetmoidal). Isolada das paredes da órbita (superior, lateral, inferior e medial). Ápice orbital. O tratamento de fratura de órbita pode ser do tipo conservador ou cirúrgico. c) Fratura da maxila Le Fort I – Fratura horizontal da maxila. Le Fort II – Fratura piramidal envolvendo o terço médio da face. Le Fort III – Fratura que promove uma disjunção craniofacial. A forma de tratamento é cirúrgica. d) Fratura de mandíbula Ângulo (30%) Côndilo (23%) Sínfise (22%) Corpo (18%) Ramo (2%) Processo coronoide (1%) Em termos percentuais, as áreas mais comumente fraturadas são: Tratamento de forma fechada (tratadas apenas com fixação intermaxilar ou maxilomandibular) ou aberta (procedimento cirúrgico). Traumas torácicos Os traumas torácicos podem ser classificados em contusões (traumas fechados) e ferimentos (traumas abertos). Essa classificação é importante, pois a fisiopatologia, a evolução e o prognóstico são diferentes. Os traumas contusos, em geral, são resolvidos com tratamento conservador ou com uma simples drenagem, e os traumas penetrantes são potencialmente mais complicados e requerem mais investigação e procedimentos mais invasivos com maior frequência. Traumas fechados (contusão torácica) Os principais agentes causadores de contusão torácica grave são os acidentes automobilísticos, além das ocorrências domésticas, como a síndrome do tanque solto. Além desses fatores, o contato interpessoal com obstáculos pode levar a traumas torácicos fechados. A contusão torácica pode resultar em fraturas simples e múltiplas de costelas, fratura do esterno, hemotórax, pneumotórax, síndrome do desconforto respiratório agudo (SDRA), rupturatraumática de aorta e tamponamento cardíaco. Veja a seguir: • • • • • • • • • • • • Fratura de costela simples Entre as lesões torácicas, esta é a que ocorre em maior incidência quando a região afetada é a estrutura óssea da parede torácica. Em algumas situações, esse trauma pode ocorrer de forma isolada ou associado a um pneumotórax ou um hemotórax. Enquanto as lesões dos primeiros arcos costais podem provocar lesões vasculares, as fraturas dos últimos arcos costais são capazes de produzir lesões hepáticas (fígado) ou esplênicas (baço). Fraturas múltiplas de costelas Conhecidas também como afundamento torácico ou tórax flácido, estão associadas aos traumas mais graves do tórax e, frequentemente, de outros órgãos. São definidas como fraturas múltiplas as fraturas de dois ou mais arcos costais em mais de um local, o que determina perda da rigidez de parte ou de todo o envoltório ósseo torácico, desencadeando no segmento um comportamento de expansibilidade diferente do normal, o qual denominamos de movimento paradoxal. Fratura do esterno Lesão resultante de compressão anteroposterior do tórax, podendo estar associada à contusão cardíaca. O principal mecanismo de origem é a batida do tórax sobre o volante do automóvel, no caso de acidentes automobilísticos. O uso do cinto de segurança diminui significativamente o risco dessa fratura. Hemotórax Neste trauma, a vítima apresenta acúmulo de sangue na cavidade pleural. Esse conteúdo é proveniente de lesões do parênquima pulmonar, assim como da estrutura vascular da parede torácica ou de grandes vasos, como aorta, artéria subclávia, artéria pulmonar ou do coração. Todavia cabe destacar que em muitas vítimas a simples presença do hemotórax nem sempre caracteriza uma lesão extremamente grave. Por outro lado, vítimas com traumas torácicos com presença de derrame pleural (DP) supostamente hemorrágico devem receber uma atenção por parte da equipe de atendimento, pois podem ser pacientes potencialmente de risco. Esse acompanhamento deve ser mantido até o total esclarecimento da lesão e da resolução do volume de sangue retido na cavidade pleural. Pneumotórax simples Caracteriza-se pelo acúmulo de ar na cavidade pleural. Essa ação acaba, muitas vezes, por gerar uma compressão do parênquima pulmonar, o que pode provocar um quadro de insuficiência respiratória aguda. Nos casos de contusões torácicas, podemos encontrar dois tipos de mecanismo responsáveis pela lesão pulmonar e pelo consequente extravasamento de ar do pulmão para o seguimento pleural, sendo eles: laceração do pulmão pela compressão aguda do tórax ou pela espícula óssea de uma costela fraturada perfurando o pulmão. Pneumotórax hipertensivo Ocorre quando uma fístula de parênquima pulmonar apresenta um mecanismo valvulado. Nessa situação, o pneumotórax pode se tornar hipertensivo, apresentando as seguintes características: presença de desvio do mediastino para o lado contralateral ao pneumotórax, torção das veias cavas e choque. Essa situação é uma condição crítica, quando não revertida rapidamente, pode ocasionar o óbito da vítima. Ruptura traumática da aorta Trata-se de uma lesão de alta incidência em situações de acidentes automobilísticos em alta velocidade ou devido a quedas de grandes alturas, em consequência de uma cinemática de desaceleração súbita. Nessas situações, há evolução para óbito na maioria dos casos. A maior incidência de rupturas ocorre na região do istmo aórtico, ocasionando hemotórax de grande porte e evolução rápida. Tamponamento cardíaco Geralmente, é resultado de ferimentos penetrantes. O trauma contuso, entretanto, pode também causar um derrame pericárdico de sangue proveniente do coração, dos grandes vasos ou dos vasos pericárdicos. A vítima manifesta a clássica tríade de Beck, que consiste em elevação da pressão venosa (turgência jugular), diminuição da pressão arterial e abafamentos de bulhas cardíacas. Pode também ser observado o pulso paradoxal, que é uma redução fisiológica da pressão sistólica que ocorre durante a inspiração espontânea. Quando essa diminuição é exagerada e excede a 10 mmHg, ela constitui outro sinal de tamponamento cardíaco. Por último, também podemos observar que o sinal de Kussmaul (aumento da pressão venosa na inspiração durante a respiração espontânea) reflete um comportamento paradoxal da pressão venosa efetivamente associado ao tamponamento. Ainda temos mais uma observação importante: A contusão pulmonar tem como manifestação mais temida a Síndrome do Desconforto Respiratório Agudo (SDRA) e, muitas vezes, está associada à contusão torácica grave do tipo afundamento torácico. As alterações dependem principalmente do edema intersticial inflamatório pós-traumático, de modo que os sintomas clínicos podem não se manifestar inicialmente ou, em alguns casos, manifestam-se entre 12 e 24 horas depois. A seguir, falaremos sobre outro tipo de trauma. Traumas abertos (ferimentos torácicos) Os ferimentos torácicos têm sua origem mais frequente na agressividade da espécie humana, sendo seus principais agentes as: Primeiro Armas brancas Segundo Armas de fogo Diversos órgãos intratorácicos podem ser atingidos nos ferimentos. Na maioria das vezes, são resolvidos com uma drenagem pleural sob selo d’água, mas, em alguns casos, o diagnóstico topográfico e a abordagem da lesão são necessários, indicando uma toracotomia exploradora de urgência, ou mesmo em condições de emergência. As feridas cardíacas e as da aorta ou do hilo pulmonar são as mais graves, em virtude de seu potencial hemorrágico agudo. Ferimentos aparentemente inofensivos, como os periféricos de pulmão, quando acompanhados de pneumotórax hipertensivo, também podem ser fatais. Na presença de ferimento torácico, três diagnósticos sindrômicos devem ser imediatamente propostos e confirmados ou descartados: Pneumotórax Hemotórax Tamponamento cardíaco • • • Nessas situações, o diagnóstico e a conduta são semelhantes aos descritos para traumas fechados. Na imagem a seguir veremos os tipos de pneumotórax: Traumas abdominal, pélvico e ortopédico Trauma abdominal O trauma abdominal faz parte da rotina de profissionais que atuam na área de emergências. O diagnóstico precoce de lesões traumáticas intra-abdominais tem como objetivo evitar óbitos e sequelas indesejáveis. Os mecanismos de lesão dividem-se em: Traumatismos fechados ou contusos No trauma fechado, as lesões ocorrem por impacto direto ou pela desaceleração. Os impactos diretos determinam lesão tecidual diretamente proporcional à quantidade de energia transferida e podem ser ainda maiores se houver compressão contra estruturas mais rígidas, como o arcabouço ósseo. Traumatismos abertos ou penetrantes Ferimentos penetrantes são aqueles provocados por armas brancas (facas, estiletes, lanças), projéteis de armas de fogo ou estilhaços de explosões. Quanto às estruturas anatômicas, devemos lembrar que o abdome tem dois grandes compartimentos, o peritoneal e o retroperitoneal. As lesões podem atingir um deles ou ambos e ser classificadas como anteriores, laterais, posteriores e transfixantes. Os limites anatômicos da região abdominal são os seguintes: Anterior Região entre o quarto espaço intercostal e a sínfise púbica, tendo como limite lateral a linha axilar anterior. Laterais Região entre o sexto espaço intercostal e as cristas ilíacas, entre as linhas axilares anterior e posterior. Posterior Região entre a ponta da escápula, superiormente, e as cristas ilíacas, inferiormente, com limites laterais nas linhas axilares posteriores. Em pacientes com traumatismos abdominais, a sequência é a mesma utilizada para todos os pacientes vítimas de trauma, conforme a avaliação XABCDE, um dos principais protocolos utilizados. O Prehospital Trauma Life Support (PHTLS) é uma metodologia rápida para abordagem primária da vítima de trauma, seguindo o mnemônico XABCDE, como descrito a seguir: X. (Stop Exsanguinating hemorrhage) Contenção de hemorragias externas. A. (Airway) Abertura dasvias aéreas com restrição da mobilidade da coluna cervical. B. (Breathing) Ventilação e suporte respiratório. C. (Circulation) Circulação e suporte volêmico. D. (Disability) Avaliação neurológica. E. (Exposure and Environment) Exposição e controle do ambiente. Durante o atendimento inicial ou no exame secundário, o médico que assiste o paciente vítima de trauma abdominal precisa estar atento aos sinais e sintomas. A dor abdominal, seja localizada ou difusa, é o sintoma predominante e auxilia na identificação da região afetada ou na presunção de acometimento de toda a cavidade. As lesões traumáticas abdominais acarretam acúmulo de sangue que podem produzir como consequência hipovolemia ou contaminação da cavidade por secreções gastrintestinais ou urinárias. Trauma pélvico O trauma pélvico é geralmente associado ao trauma contuso e pode ter uma apresentação clínica extremamente variável, desde uma fratura óssea sem manifestações significantes ou até mesmo lesões complexas que podem comprometer a estabilidade hemodinâmica e, se não diagnosticadas e tratadas corretamente em tempo hábil, podem levar a vítima a óbito. As lesões traumáticas mais graves da pelve, geralmente, resultam de traumas que envolvem a liberação de grande quantidade de energia cinética, como acidentes automobilísticos ou quedas de grandes alturas. • • • • • • O anel pélvico é constituído pelos dois ossos do quadril ou coxais que se unem ao sacro/cóccix posteriormente e se encontram ao nível da sínfise púbica anterior. Os ligamentos anteriores, incluindo a sínfise púbica, são responsáveis por cerca de 40% da estabilidade do anel pélvico. No entanto, os ligamentos posteriores sacrotuberosos, sacroespinhosos, sacroilíacos e interósseos têm papel mais importante para manter a integridade e a estabilidade do anel pélvico. A cavidade pélvica é contida pelos ossos da pelve e compreende a parte inferior do abdome, tanto intra- abdominal quanto retroperitoneal. Nela, estão presentes a bexiga, o reto, os vasos ilíacos e, nas mulheres, os órgãos ginecológicos (útero, ovários, tubas uterinas e vagina). Atenção Na abordagem do paciente politraumatizado, deve-se ter alto índice de suspeita para o trauma pélvico. Geralmente, o diagnóstico se faz pela história clínica devido à cinemática do trauma, associado a um exame físico minucioso e, muitas vezes, em série. Na suspeita de fratura, preconiza-se a realização da manobra para avaliar se há instabilidade do anel pélvico. Ela é realizada pela palpação da crista ilíaca anterior associada a um suave movimento em direção à linha média, assim como um movimento anteroposterior rotacional. Essa manobra deve ser realizada por um cirurgião experiente e uma única vez durante a avaliação inicial, devido à possibilidade de agravamento das lesões com complicações potencialmente catastróficas. Mesmo sendo solicitada rotineiramente no atendimento ao politraumatizado, a radiografia de bacia pode não determinar o diagnóstico de fratura pélvica. Trauma ortopédico Fratura exposta é aquela em que ocorre uma comunicação entre o foco fraturário e o meio externo, devido à lesão dos tecidos moles no local da fratura ou próxima a ela. A exposição óssea pode ser direta, através da pele, ou por um ferimento puntiforme próximo ao local da fratura, havendo relação entre o ferimento e o foco de fratura, comunicando-o com o ambiente externo. As fraturas expostas podem ser causadas por: Trauma direto de alta energia Refere-se a colisões automobilísticas ou quedas de altura. Trauma indireto de baixa energia Diz respeito ao mecanismo de torção que gera fragmentos ósseos e que penetra nos tecidos moles, perfurando a pele e promovendo a comunicação com o meio externo. Projéteis de armas de fogo, além de ferir gravemente os tecidos moles, podem atingir o tecido ósseo, sendo também responsáveis por promover fraturas expostas. Pacientes com esse tipo de trauma apresentam quadro de dor e sangramento da exposição no local ou próximo ao foco de fratura. Também pode ser observada deformidade no local fraturado, o que ocorre, por exemplo, nos casos de fratura dos ossos longos dos membros superiores ou inferiores. As classificações das fraturas expostas avaliam a lesão óssea e a lesão de partes moles. Em alguns casos, permite entender em que ambiente ocorreu, possibilitando ao cirurgião o planejamento terapêutico em relação ao grau de infecção. A importância da cinemática do trauma Neste vídeo, descreveremos a importância do profissional na cinemática do trauma para detecção das lesões das vítimas. Conteúdo interativo Acesse a versão digital para assistir ao vídeo. Vem que eu te explico! Os vídeos a seguir abordam os assuntos mais relevantes do conteúdo que você acabou de estudar. Como avaliar a cena do trauma? Conteúdo interativo Acesse a versão digital para assistir ao vídeo. Trauma contuso e penetrante Conteúdo interativo Acesse a versão digital para assistir ao vídeo. Identificando uma suspeita de trauma torácico Conteúdo interativo Acesse a versão digital para assistir ao vídeo. Verificando o aprendizado Questão 1 O enfermeiro precisa estar atento à cinemática do trauma, bem como aos sinais e sintomas apresentados pela vítima. Isso permite ao profissional suspeitar de diferentes traumas. Considerando o atendimento de um trauma pélvico, marque a resposta correta: A O trauma pélvico não deve ser associado ao trauma contuso. Esse tipo de trauma manifesta uma clínica não variável e pode associar lesões em ossos e demais órgãos. B O trauma pélvico é comumente relacionado ao trauma contuso e pode ter uma apresentação clínica variável, apresentando uma fratura óssea sem manifestações significantes ou até mesmo lesões complexas, desde uma fratura óssea sem manifestações significantes até lesões complexas. C O trauma pélvico é geralmente associado ao trauma raquimedular e pode ter uma apresentação clínica variável, desde uma fratura óssea sem manifestações significantes ou até mesmo lesões complexas. D O trauma pélvico é semelhante ao trauma abdominal; é geralmente associado ao trauma contuso e pode ter uma apresentação clínica extremamente variável, desde uma fratura óssea sem manifestações significantes ou até mesmo lesões complexas. E O trauma pélvico é geralmente associado ao trauma e pode ter uma apresentação clínica extremamente variável, desde uma fratura óssea sem manifestações significantes até lesões complexas. A alternativa B está correta. O trauma pélvico é comumente associado ao trauma contuso e pode ter uma apresentação clínica bastante variável e, ainda, pode apresentar desde uma fratura óssea sem manifestações significantes até lesões bastante complexas, o que pode comprometer a estabilidade dinâmica do paciente. Assim, caso o trauma não seja identificado de forma rápida e com a conduta assertiva, a vítima poderá ir a óbito. Questão 2 O trauma abdominal é uma realidade da prática diária dos enfermeiros atuantes em urgência e emergência. Por isso, precisam desenvolver habilidades e competências para uma atuação assertiva. Quando observamos um paciente que apresenta palpação com rigidez e percussão maciça nesse segmento corporal, podemos suspeitar de lesões internas. Marque a opção que apresenta o principal fator de risco de morte nessa situação: A Hipovolemia B Sepse abdominal C Empalamento D Dissecção abdominal E Lesão pleural A alternativa A está correta. Ao observarmos uma vítima de trauma abdominal, é muito importante realizar o exame físico direcionado. Na ocorrência de abdome distendido, rígido, com percussão maciça, podemos suspeitar de lesões internas e, consequentemente, da existência de pontos hemorrágicos, que ocasionarão risco de morte por hipovolemia. 3. Abordagem inicial da vítima Diretrizes clínicas para avaliação primária à vítima de trauma O atendimento da vítima de trauma tem início no ambiente pré-hospitalar, ou seja, ainda no local do evento traumático, cabendo aos órgãos competentes estabelecerem os procedimentos necessários.No Brasil, o atendimento a essas vítimas ocorre frequentemente pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU) e pelo Corpo de Bombeiros, os quais, muitas vezes, atuam de forma conjunta, para que o cuidado tenha o máximo de cobertura e qualidade possível. Dentro do contexto de atendimento de emergência ao paciente vítima de trauma, temos níveis de suporte diferentes: Suporte básico de vida (SBV) Envolve manobras não invasivas para a manutenção da vida e a prevenção de lesões irreparáveis. Suporte intermediário de vida (SIV) Envolve o atendimento dos pacientes críticos na ausência do SAV, com a realização de práticas avançadas e medicações. Suporte avançado de vida (SAV) Envolve manobras invasivas específicas e mais complexas para o tratamento de agravos à saúde. Nesse tipo de atendimento, destacam-se a garantia da segurança da cena, a triagem e a descontaminação do paciente, se for necessário. No que tange o atendimento à vítima na abordagem inicial, um dos principais protocolos utilizados é o protocolo PHTLS. Como vimos, essa metodologia segue o mnemônico XABCDE (contenção de hemorragias externas, abertura de vias aéreas e estabilização da coluna vertebral, ventilação, circulação, grau de incapacidade neurológica e avaliação pupilar e exposição do paciente com proteção contra hipotermia). Contenção de hemorragias externas No início do processo de atendimento à vítima de trauma, a contenção de hemorragia externa grave passa a ser prioritária, pois é o fator de maior índice de mortes no atendimento pré-hospitalar. Nesse contexto, são considerados os ferimentos que causam danos estruturais em vasos calibrosos, como femoral, braquial e axilar. Recomendação Cabe ao profissional da saúde realizar uma compressão direta da área, ou a utilização de torniquetes, em hemorragias nas quais não é possível a compressão direta em periferias. A seguir, entenderemos mais sobre as formas dessa contenção. Vias aéreas com controle cervical No atendimento do paciente vítima de trauma deve ser avaliado a permeabilidade das vias aéreas, mantendo a precaução com a mobilidade da coluna cervical. Deve-se procurar por causas de obstrução das vias aéreas, por exemplo, presença de corpos estranhos, fraturas de mandíbula e face, assim como fraturas de laringe. Também é importante que secreções coletadas na cavidade oral sejam aspiradas para evitar obstrução. Cabe ao profissional de saúde ficar atento aos sinais de obstrução de vias aéreas, que em caso de inconsciência, normalmente se relacionam à queda de língua. Com a finalidade de manter a via aérea desimpedida, podemos utilizar duas técnicas diferentes: Manobra de elevação do mento (queixo) Baseia-se no posicionamento dos dedos de uma das mãos do profissional sob o queixo do paciente, produzindo uma suave tração para cima e para frente, enquanto o polegar da mesma mão deprime o lábio inferior, gerando a abertura da boca; a mão oposta do profissional é posicionada na região frontal para fixar a cabeça da vítima. Manobra de tração de mandíbula Deve ser utilizada em vítimas sob suspeita de lesões raquimedulares. Consiste na utilização das mãos do profissional, posicionando os dedos médios e indicadores no ângulo da mandíbula, produzindo uma projeção para frente, enquanto os polegares rebaixam o lábio inferior, produzindo uma abertura da cavidade oral, propiciando acesso às vias aéreas da vítima. Nesse cenário, o colar cervical pode ser utilizado como dispositivo para realização de restrição de mobilidade cervical. É importante destacar que o colar cervical, quando adotado, deve ser mantido na vítima até que seja excluída uma lesão da coluna cervical. A exclusão da suspeita de lesões de coluna só será confirmada após a realização de radiografias ou tomografia computadorizada da coluna cervical. Nos casos em que exista necessidade de intubação endotraqueal ou cricotireoidostomia, o profissional deve manter o colar cervical aberto e um segundo operador deve realizar a estabilização manual da coluna cervical. Ventilação e oxigenação Durante a abordagem inicial ao politraumatizado, é importante que, após o controle dos focos hemorrágicos externos, possamos abordar a via aérea da vítima, levando em consideração que as vias aéreas superiores (VAS) devem estar pérvias; no entanto, apenas mantê-las livres não significa que a troca gasosa esteja ocorrendo de forma satisfatória. Dica É importante que os profissionais saibam também identificar situações clínicas que possam comprometer a hematose. Essa identificação pode ser obtida por meio de observação do padrão respiratório, palpação, percussão e ausculta pulmonar. Deve-se avaliar o padrão e a frequência respiratória, como também a simetria torácica e os níveis de saturação de oxigênio. Nos traumas complexos de face, muitas vezes, a primeira alternativa para se obter uma via aérea definitiva é a realização de cricotireoidostomia em pacientes adultos, e por punção em crianças abaixo de 12 anos. Os dispositivos extraglóticos, como máscaras e tubos laríngeos, são adjuntos no manejo das vias aéreas e devem sempre estar à disposição durante o atendimento de um politraumatizado grave. Tais dispositivos são uma importante alternativa, pois, em caso de vias aéreas de difícil manipulação, aumentam a possibilidade de sucesso na obtenção de maior via para oxigenação. Vítimas de trauma podem apresentar três situações que comprometem criticamente a ventilação/oxigenação (ENGEL, 2015): Pneumotórax hipertensivo Quando o ar penetra na cavidade pleural de forma contínua, e um mecanismo valvular o impede de sair; ou seja, o ar tem fluxo unidirecional. Pneumotórax aberto Conhecido também como ferida aspirativa. Tórax instável Surge quando o paciente apresenta fratura em pelo menos dois ou mais arcos costais consecutivos, sendo que cada arco se encontra fraturado em dois pontos. Essa separação dos arcos costais do esterno (disfunção costocondal) também é causa de instabilidade torácica. A prioridade quanto ao aspecto respiratório é que se consiga manter uma oxigenação de pelo menos 95%. Isso é possível com a utilização de oxigênio suplementar com fluxo de 10L/minuto por meio de máscara com reservatório. A avaliação da eficiência ventilatória pode ser rapidamente obtida por meio da oximetria de pulso. A intubação orotraqueal é uma indicação nas situações em que vítimas apresentem alterações graves de nível de consciência, sinais de hipoxemia e hipóxia, proteção de vias aéreas pérvias, como em situações de vítimas de queimaduras de VAS, acidose respiratória persistente e parada cardiorrespiratória. Cuidados emergenciais à vítima de trauma Circulação Estudos mostram que o sangramento é o grande responsável pelos óbitos ocorridos nas primeiras 24 horas após o trauma. O choque é definido como a presença de perfusão orgânica e oxigenação tecidual inadequada. O primeiro passo na abordagem do choque em paciente traumatizado é reconhecer sua presença, baseado na avaliação clínica, já que nenhum teste faz o diagnóstico inicial de choque. O diagnóstico de choque é baseado em três variáveis: Má perfusão periférica. Achados clínicos de hipoperfusão periférica, os quais incluem: extremidades frias; muitas vezes cianose; oligúria (diuresea causa mais comum de morte na abordagem primária da vítima. No choque hipovolêmico de origem hemorrágica, a pressão de pulso encontra-se convergente, pois, com a perda volêmica, há uma redução da pressão arterial sistólica e uma elevação da pressão arterial diastólica, em virtude da ativação do sistema nervoso simpático e da liberação de catecolaminas pela medula suprarrenal. Cabe ao profissional de enfermagem ficar atento aos sinais precoces de choque hipovolêmico e intervir de forma a evitar a sua ocorrência ou o seu agravamento, uma dessas ações visam à obtenção de pelo menos dois acessos venosos calibrosos (cateter sobre agulha 16 ou 14) e à infusão de soluções cristaloides. Quando há reversão de choque hipovolêmico em situações de atendimento pré-hospitalar podem ser utilizadas substâncias cristaloides: ringer simples ou com lactato ou soro fisiológico. Já no ambiente intra-hospitalar, podem ser utilizados hemoderivados, como o concentrado de hemácias. A seguir, falaremos sobre a função neurológica. Estado neurológico • • • Ao iniciarmos atendimento ao paciente grave, é importante ter em mente a importância da avaliação do nível de consciência, já que situações de inconsciência ou coma são sinais de complicações neurológicas na vítima, principalmente, em casos de traumatismos cranioencefálicos. As alterações da consciência são comuns na prática clínica e possuem alta morbidade e mortalidade, o que justifica a necessidade de rapidez no diagnóstico e no tratamento apropriado. Em um momento primário, podemos utilizar a avaliação AVDI (Alerta, Verbal, Doloroso e Inconsciente), que pode ser aplicada a partir de algumas técnicas, como: Avaliação de despertar Refere-se ao estímulo verbal, com perguntas simples, ao chamado, como: "Senhor(a) pode me ouvir?", ou, caso saiba o nome, chamar pelo nome. Avaliação de resposta Diz respeito ao estímulo doloroso, em pontos específicos, como: exercer pressão sobre o leito ungueal, em região de trapézio ou na região de incisura supraorbital. Durante a avaliação neurológica, é importante também verificar as pupilas do paciente quanto à simetria e ao diâmetro e se a pupila é fotorreagente, já que alterações pupilares podem sugerir a causa etiológica da alteração do nível de consciência. Veja a seguir: 1 Pupilas puntiformes ou mióticas ( 8 mm) Intoxicação por anfetaminas ou cocaína ou comprometimento do nervo oculomotor. 4 Pupila fixa unilateral Lesão do terceiro nervo craniano (oculomotor). Após a avaliação rápida da vítima, podemos utilizar a escala de coma de Glasgow (ECG), que determinará de forma mais específica o nível de consciência da vítima a partir de um somatório de pontos, de acordo com a resposta clínica obtida durante a avaliação do paciente. Veja o esquema a seguir: Em conjunto com a avaliação de Glasgow, deve ser verificada a fotorreagência: Fotorreação bilateral Pontuação 0. Fotorreação unilateral Pontuação 1. Fotorreação ausente Pontuação 2. Após essa verificação, aplica-se a seguinte fórmula: Ao avaliarmos essa fórmula, podemos constatar que: Essa fórmula serve para classificar qual é o mais grave caso tenha pontuação similar na tabela de Glasgow. A pontuação varia de 01 a 15, sendo 15 a pontuação para pacientes lúcidos e orientados, e 01 a pontuação para pacientes com suspeita de morte encefálica. As variações indicam o nível de comprometimento neurológico que o paciente apresenta. As variações podem ser consideradas: Leve Entre 13 e 15 pontos; é responsável por cerca da maioria dos traumas, tem bom prognóstico; a mortalidade neste grupo é bem pequena. Pontuação de Glasgow – Pontuação de reação pupilar = VALOR FINAL DA AVALIAÇÃO DO NÍVEL DE CONSCIÊNCIA Moderado Entre 9 e 12 pontos; pode apresentar um bom prognóstico; requer avaliação clínica constante para verificar a evolução do paciente e as possíveis complicações. Grave Entre 1 e 8 pontos, representa 10 a 20% das internações por traumatismo cranioencefálico (TCE); pode evoluir para óbito em até 30% dos casos de TCE de forma geral; porém, quando analisados somente os casos graves, este percentual pode evoluir para óbito em até 50%. Durante a avaliação motora, o profissional de saúde deve estar atento aos sinais de déficits motores focais, que normalmente apresentam padrões assimétricos. Essas situações podem sugerir patologias estruturais, com raras exceções. Pode-se avaliar a resposta motora com: Observação da movimentação espontânea do paciente. Pesquisa de reflexos com atenção à sua presença, simetria e se existem sinais patológicos como o sinal de Babinski. Pesquisa do tônus muscular pela movimentação passiva, com atenção a hipertonia, hipotonia e paratonia. Observação dos movimentos apresentados pelo paciente à estimulação dolorosa (leito ungueal, região supraorbitária e esterno). Durante essa estimulação, pode haver alterações importantes, como: hemiparesia com comprometimento facial do mesmo lado, o que sugere lesão acima da ponte contralateral; decorticação, que sugere lesão ou disfunção supratentorial extensa; descerebração, que sugere lesão ou disfunção de tronco cerebral ou até do diencéfalo; ausência de resposta motora, que sugere lesão periférica, pontina ou bulbar. A seguir, conheceremos sobre a última etapa da avaliação primária. Exposição e controle do ambiente Como etapa final da avaliação primária, o profissional realizará a exposição completa da vítima, para uma correta inspeção corporal fazendo a procura por sinais de trauma, como escoriações, hematomas, queimaduras, fistulas, abrasões etc. Atenção Durante esta etapa, deve-se manter o controle térmico da vítima, com o uso de mantas térmicas, devido ao risco de hipotermia. Ao final da avaliação primária, deve-se considerar a necessidade de transferência da vítima para uma unidade hospitalar, que será indicada pelo sistema de regulação de vagas, de acordo com a complexidade e especialidade que o paciente necessita. Durante todo o trajeto, deve ser realizada a reavaliação contínua do paciente, atentando-se aos sinais que caracterizam lesões neurológicas ou alterações hemodinâmicas da vítima. Avaliação secundária • • • • Não entraremos na avaliação secundária, pois o foco deste estudo é a abordagem pré- hospitalar. Deixaremos, no entanto, algumas considerações referentes à avaliação secundária. A avaliação secundária tem início depois de terminado o atendimento primário, durante o transporte do paciente para o ambiente intra-hospitalar. Nessa etapa, buscam-se lesões que não ameaçam imediatamente a vida, porém, se não detectadas e tratadas, podem gerar sequelas, desconforto ou deteriorização do estado clínico. Sinais vitais, monitorização e responsividade devem ser checados constantemente durante o exame. Havendo deteriorização no quadro clínico em qualquer momento, deve-se prontamente refazer a avaliação primária. Inicia-se pela história e prossegue-se com o exame físico detalhado. O exame físico neste momento deve se concentrar em não deixar nenhuma lesão passar desapercebida. Como vimos, em geral, o atendimento a um paciente vítima de trauma se inicia ainda no ambiente pré- hospitalar, e a abordagem inicial da vítima bem executada garante um bom prognóstico. Quais as diretrizes clínicas para atendimento a vítimas de trauma? Neste vídeo, explicaremos as diretrizes clínicas do atendimento às vítimas de trauma. Conteúdo interativo Acesse a versão digital para assistir ao vídeo. Vem que eu te explico! Os vídeos a seguir abordam os assuntos mais relevantes do conteúdo que você acabou de estudar. Qual a conduta em uma contenção hemorrágica externa? Conteúdo interativo Acesse a versão digital para assistir ao vídeo. Avaliação neurológica: Escala de Glasgow Conteúdo interativo Acesse a versão digital para assistir ao vídeo. Verificando o aprendizado Questão 1 O paciente traumatizadodeve ser avaliado rapidamente e de forma eficiente, baseando-se em uma sequência lógica de atendimento e prioridades. Essas prioridades consistem no ABCDE do trauma. A letra A significa que a prioridade de atendimento deve ser A circulação. B respiração. C via aérea com controle da coluna cervical. D avaliação do estado neurológico. E exposição da vítima. A alternativa C está correta. A permeabilidade da via aérea deve ser assegurada, por isso, deve-se fazer uma avaliação para identificar os sinais de obstrução da via aérea por corpos estranhos, fraturas faciais, fraturas mandibulares, trauma de laringe e traqueia, lesões por inalação e rebaixamento do nível de consciência, entre outras causas. Outra técnica que permite a permeabilidade da via aérea é o controle da coluna cervical (colar cervical ou imobilização manual). Questão 2 Uma vítima de acidente automobilístico deu entrada no setor de emergência, com suspeita de traumatismo cranioencefálico (TCE). Constatou-se escala de coma de Glasgow abaixo de 7 (sete). Esse parâmetro quantitativo significa A rebaixamento do estado de consciência. B consciência preservada com déficit motor. C funções somáticas preservadas com déficit motor. D atividade cerebral deprimida, mas com preservação de movimentos. E funções somáticas ligeiramente deprimidas e preservação motora. A alternativa A está correta. Um escore na escala de Glasgow (GSC) igual ou inferior a 8 se tornou uma definição aceita de coma ou trauma cranioencefálico grave com rebaixamento do nível de consciência. 4. Conclusão Considerações finais Traçamos aqui os objetivos de reconhecer os conceitos de urgência e emergência de trauma, a importância da avaliação das cenas de acidentes e suas respectivas lesões, assim como o protocolo de atendimento à vítima de trauma. As habilidades e competências do enfermeiro abarcam o conhecimento técnico-científico-assistencial; e, no campo da urgência e emergência, esse profissional pode assumir o gerenciamento de casos, responsabilizando-se pela ordenação, pelo direcionamento e pela integração de todos os pontos das redes de atenção, com destaque, ainda, para os aspectos da humanização na prática do acolhimento e da triagem como pontos importantes na rede de urgência e emergência. Agora que você conhece diferentes conceitos, legislações e diretrizes, você será capaz de estabelecer um pensamento crítico, reflexivo e assertivo no atendimento de urgência e emergência. Podcast Legislações de urgências e emergências no SUS e as interfaces na prática profissional. Conteúdo interativo Acesse a versão digital para ouvir o áudio. Explore + Assista no YouTube ao vídeo da 1º Reunião Científica 2021: Cinemática do Trauma, ministrada por Dr. Carlos Alberto Fagundes do grupo LAITE UFES. Leia o material Rede de Atenção às Urgências e Emergências: Avaliação da Implantação e do Desempenho das Unidades de Pronto Atendimento (UPAs), publicado pelo CONASS em 2015. Referências BRASIL. Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Atenção Especializada. Manual instrutivo da Rede de Atenção às Urgências e Emergências no Sistema Único de Saúde (SUS). Brasília: Ministério da Saúde, 2013. BRASIL. Rede de Atenção às Urgências e Emergências: Avaliação da Implantação e do Desempenho das Unidades de Pronto Atendimento (UPAs). Brasília: CONASS, 2015. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Hospitalar às Urgências, Coordenação Geral da Força Nacional do SUS. Protocolo de Suporte Avançado de Vida – Serviço de Atendimento Móvel de Urgência – SAMU 192. Brasília: Ministério da Saúde, 2016. Consultado na internet em: 16 mar. de 2022. ENGEL, C. L. (Ed). Medgrupo - Ciclo 1: Medcurso 2015. Rio de Janeiro: MEDYIN, 2015. p. 11-56. GUEDES, H. et al. Classificação de risco: retrato de população atendida num serviço de urgência brasileiro. Rev. Enferm. Ref., v. 4, n. 1, p. 37-44, 2014. MACKWAY-JONES, K. et al. Grupo brasileiro de classificação de risco. Sistema Manchester de Classificação de Risco. Belo Horizonte, 2021. NAEMT. National Association Of Emergency Medical Technicians. Atendimento pré-hospitalar ao traumatizado - PHTLS. 8. ed. Rio de Janeiro: Elsevier Brasil, 2018. VELASCO, I. T. et al. Medicina de emergência: abordagem prática. 13. ed., rev., atual. e ampl. Barueri, SP: Manole, 2019. RASSLAN, Z. et al. Medicina de urgência. Barueri, SP: Manole, 2016. TOBASE, L.; TOMAZINI, E. A. S. Urgências e emergências em enfermagem. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2017. Atendimento de Urgência e Emergência 1. Itens iniciais Propósito Objetivos Introdução 1. Rede de atenção Organização da rede de atenção às urgências e emergências Universalidade Equidade Integralidade Participação popular Funcionamento de serviços de urgência e emergência Serviços da Rede de Assistência às Urgências e Emergências Serviço pré-hospitalar fixo Pré-hospitalar móvel Rede hospitalar Pós-hospitalar Objetivos da Rede de Atenção às Urgências e Emergências (RUE) Promoção, Prevenção e Vigilância em Saúde Atenção Básica Serviço de Atendimento Móvel às Urgências Sala de Estabilização Unidades de Pronto Atendimento (UPA 24h) e o conjunto de serviços de urgência 24 horas Componente da Atenção Hospitalar Atenção Domiciliar (AD) Acolhimento e classificação de risco Classificação de Manchester Sistema de triagem START O enfermeiro nos serviços de urgência e emergência Saiba mais Rede de atenção às Urgências e Emergências Conteúdo interativo Vem que eu te explico! Urgência x emergência Conteúdo interativo Como entender os componentes da Rede de assistência às urgências e emergências? Conteúdo interativo Atuação do enfermeiro nos serviços de urgência e emergências Conteúdo interativo Entendendo o acolhimento e classificação de risco Conteúdo interativo Verificando o aprendizado 2. Cena e Cinemática do Trauma Cinemática do trauma Recomendação Fases da avaliação da cinemática do trauma Fase pré-evento Fase do evento Fase pós-evento O que você sabe sobre energia? Traumas Trauma contuso Cisalhamento Compressão Parte externa Parte interna Lesões Trauma penetrante Traumas crainioencefálico e de face Cranioencefálico LCT primária LTC secundária Face a) Fratura nasal b) Fratura da órbita c) Fratura da maxila d) Fratura de mandíbula Traumas torácicos Traumas fechados (contusão torácica) Fratura de costela simples Fraturas múltiplas de costelas Fratura do esterno Hemotórax Pneumotórax simples Pneumotórax hipertensivo Ruptura traumática da aorta Tamponamento cardíaco Traumas abertos (ferimentos torácicos) Primeiro Segundo Traumas abdominal, pélvico e ortopédico Trauma abdominal Traumatismos fechados ou contusos Traumatismos abertos ou penetrantes Anterior Laterais Posterior Trauma pélvico Atenção Trauma ortopédico Trauma direto de alta energia Trauma indireto de baixa energia A importância da cinemática do trauma Conteúdo interativo Vem que eu te explico! Como avaliar a cena do trauma? Conteúdo interativo Trauma contuso e penetrante Conteúdo interativo Identificando uma suspeita de trauma torácico Conteúdo interativo Verificando o aprendizado 3. Abordagem inicial da vítima Diretrizes clínicas para avaliação primária à vítima de trauma Suporte básico de vida (SBV) Suporte intermediário de vida (SIV) Suporte avançado de vida (SAV) Contenção de hemorragias externas Recomendação Vias aéreas com controle cervical Manobra de elevação do mento (queixo) Manobra de tração de mandíbula Ventilação e oxigenação Dica Pneumotórax hipertensivo Pneumotórax aberto Tórax instável Cuidados emergenciais à vítima de trauma Circulação Atenção Estado neurológico Avaliação de despertar Avaliação de resposta Pupilas puntiformes ou mióticas (