Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Genética Básica São Cristóvão/SE 2011 Bruno Lassmar Bueno Valadares Edilson Divino de Araujo Silmara de Moraes Pantaleão Projeto Gráfi co e Capa Hermeson Alves de Menezes Diagramação Nycolas Menezes Melo Ilustração Bruno Lassmar Bueno Valadares Edilson Divino de Araujo Silmara de Moraes Pantaleão Elaboração de Conteúdo Bruno Lassmar Bueno Valadares Edilson Divino de Araujo Silmara de Moraes Pantaleão V136g Valadares, Bruno Lassmar Bueno. Genética Básica/ Bruno Lassmar Bueno Valadares, Edilson Divino de Araújo, Silmara de Moraes Pantaleão. - São Cristóvão: Universidade Federal de Sergipe, CESAD, 2011. 1. Genética. 2. Hereditariedade. 3. Genética de populações. I. Araújo, Edilson Divino de. II. Pantaleão, Silmara de Moraes. III. Título. CDU 575 Copyright © 2011, Universidade Federal de Sergipe / CESAD. Nenhuma parte deste material poderá ser reproduzida, transmitida e gravada por qualquer meio eletrônico, mecânico, por fotocópia e outros, sem a prévia autorização por escrito da UFS. FICHA CATALOGRÁFICA PRODUZIDA PELA BIBLIOTECA CENTRAL UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE Genética Básica Presidente da República Dilma Vana Rousseff Ministro da Educação Fernando Haddad Secretário de Educação a Distância Carlos Eduardo Bielschowsky Reitor Josué Modesto dos Passos Subrinho Vice-Reitor Angelo Roberto Antoniolli Chefe de Gabinete Ednalva Freire Caetano Coordenador Geral da UAB/UFS Diretor do CESAD Antônio Ponciano Bezerra Vice-coordenador da UAB/UFS Vice-diretor do CESAD Fábio Alves dos Santos Diretoria Pedagógica Clotildes Farias de Sousa (Diretora) Diretoria Administrativa e Financeira Edélzio Alves Costa Júnior (Diretor) Sylvia Helena de Almeida Soares Valter Siqueira Alves Coordenação de Cursos Djalma Andrade (Coordenadora) Núcleo de Formação Continuada Rosemeire Marcedo Costa (Coordenadora) Núcleo de Avaliação Hérica dos Santos Matos (Coordenadora) Carlos Alberto Vasconcelos Núcleo de Serviços Gráfi cos e Audiovisuais Giselda Barros Núcleo de Tecnologia da Informação João Eduardo Batista de Deus Anselmo Marcel da Conceição Souza Raimundo Araujo de Almeida Júnior Assessoria de Comunicação Edvar Freire Caetano Guilherme Borba Gouy Coordenadores de Curso Denis Menezes (Letras Português) Eduardo Farias (Administração) Haroldo Dorea (Química) Hassan Sherafat (Matemática) Hélio Mario Araújo (Geografi a) Lourival Santana (História) Marcelo Macedo (Física) Silmara Pantaleão (Ciências Biológicas) Coordenadores de Tutoria Edvan dos Santos Sousa (Física) Raquel Rosário Matos (Matemática) Ayslan Jorge Santos da Araujo (Administração) Carolina Nunes Goes (História) Rafael de Jesus Santana (Química) Gleise Campos Pinto Santana (Geografi a) Trícia C. P. de Sant’ana (Ciências Biológicas) Vanessa Santos Góes (Letras Português) Lívia Carvalho Santos (Presencial) UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE Cidade Universitária Prof. “José Aloísio de Campos” Av. Marechal Rondon, s/n - Jardim Rosa Elze CEP 49100-000 - São Cristóvão - SE Fone(79) 2105 - 6600 - Fax(79) 2105- 6474 NÚCLEO DE MATERIAL DIDÁTICO Hermeson Menezes (Coordenador) Marcio Roberto de Oliveira Mendonça Neverton Correia da Silva Nycolas Menezes Melo AULA 1 Bases cromossômicas da hereditariedade ............................................07 AULA 2 Leis básicas da hereditariedade e extensões das leis de Mendel .. .......17 AULA 3 Ligação, recombinação e mapeamento gênicos ............................... 33 AULA 4 Herança ligada ao sexo e mecanismos de determinação sexual ... 51 AULA 5 Estrutura dos ácidos nucleicos . ........................................................ 65 AULA 6 Replicação do DNA e transcrição ...................................................................79 AULA 7 Código genético e tradução..............................................................113 AULA 8 Mutação e reparo do DNA.... ........................................................... 133 AULA 9 Regulação da expressão gênica ...... .............................................. 151 AULA 10 Princípios de Genética de Populações............................................ 167 Sumário BASES CROMOSSÔMICAS DA HEREDITARIEDADE META Demonstrar a estruturação cromossômica e a organização do material genético durante o ciclo celular. OBJETIVOS Ao fi nal desta aula, o aluno deverá: conhecer a constituição do material de preenchimento do núcleo celular, a forma como a cromatina se organiza durante a interfase e o processo de compactação do DNA e o comportamento dos cromossomos durante as divisões mitóticas e meióticas. PRÉ-REQUISITO Biologia celular. Aula 1 8 Genética Básica INTRODUÇÃO Nesta aula iniciaremos o estudo da genética com as bases cromossômi- cas da hereditariedade. Vamos discutir como os cromossomos são consti- tuídos e sua relação com a molécula de DNA e os genes. Os conceitos aqui estudados serão importantes para os conteúdos seguintes de hereditariedade. CROMATINA O núcleo das células é preenchido por material genético (DNA) as- sociado a proteínas responsáveis pela compactação e organização dos cro- mossomos, e RNA produzido na atividade de expressão dos genes. Esse material que preenche o núcleo é denominado cromatina. As moléculas de DNA (que serão estudadas mais detalhadamente na aula de estrutura dos ácidos nucléicos) constituem, cada uma, um cromos- somo da célula. Os cromossomos são visualizados apenas durante o período de divisão celular. Durante a interfase, o DNA se encontra disperso no núcleo, não sendo possível individualizar os cromossomos. A cromatina apresenta diferentes níveis de compactação, dependente da atividade genética da região do DNA. Regiões com maior atividade (síntese de RNA para tradução de proteínas) encontram-se mais dispersas e, por esse motivo, menos coradas nas observações microscópicas. Essas regiões recebem o nome de eucromatina. As regiões de menor atividade encontram- se mais compactadas, e por isso, também mais coradas, recebendo o nome de heterocromatina. Essas diferenças de compactação devido à atividade de expressão genética podem ser visualizadas na Figura 1. Figura 1. Eletromicrografi a destacando núcleo celular interfásico com regiões mais coradas de heterocromatina e menos coradas, com eucromatina (Fonte: adaptado de: http://www.biologia. edu.ar/cel_euca/images/01541a.jpg). 9 Bases cromossômicas da hereditariedade Aula 1Algumas regiões da heterocromatina permanecem sempre compactadas e sem atividade genética. Essas regiões recebem o nome de heterocromatina constitutiva. Outras regiões podem ser encontradas tanto sem atividade como em atividade de expressão gênica, recebendo o nome de heterocro- matina facultativa. Genes localizados nas regiões de eucromatina são responsáveis por codifi car proteínas importantes em todo o ciclo de vida da célula, como exemplo, as enzimas envolvidas no metabolismo energético. Na hetero- cromatina constitutiva não encontramos genes em expressão. Esse mate- rial genético está relacionado à história evolutiva do organismo e ainda é fonte de inspiração para muitas pesquisas. As regiões de heterocromatina facultativa apresentam genes responsáveis por diferenciar uma célula da outra. Todas as células apresentam os mesmos genes, mas diferem pelos genes que se encontram em expressão e os que se encontram inativados. Na Figura 2 temos o exemplo de células do tecido conjuntivo responsáveis pela síntese de colágeno. Quando estão em atividade são denominadas fi broblastos e apresentam núcleos grandes e pouco compactados (devido a alta atividade genética). Quando não estão mais em atividade, estas célu- las são denominadas fi brócitos e apresentam núcleo menor e mais denso (pouca atividade de síntese).Figura 2. Fibroblastos (A) e fi bócitos (B) (Fonte: http://ht.org.ar/histologia/NUEVAS%20UNI- DADES/unidades/unidad3/imagenes/hetm1.jpg). 10 Genética Básica COMPACTAÇÃO DO DNA Durante a divisão celular, a cromatina que preenche o núcleo reduz sua atividade de síntese e sofre um processo intensifi cado de compactação. A compactação do DNA e individualização dos cromossomos serve para organizar o material genético, facilitando a segregação na divisão da célula. A compactação tem início com o enovelamento do DNA em uma estrutura composta por 8 proteínas, um octâmero de histonas (H2A, H2B, H3 e H4, cada uma em dose dupla). O DNA dá duas voltas em torno do octâmero e, por fora, é acoplada a histona H1 (Figura 3). A esse complexo é dado o nome de nucleossomo. Figura 3. Representação de um nucleossomo, composto pelo octâmero de histonas, DNA em duas voltas e a histona H1 (Fonte: http://scienceblogs.com/transcript/upload/2006/08/nucleosome.gif). A histona H1 tem um papel importante na compactação do DNA, ela é responsável por fi xar o DNA ao octâmero de histonas e ainda, de aproximar um nucleossomo do nucleossomo seguinte. Esta aproximação faz com que o DNA adquira agora a forma de um solenóide (aspiral) (Figura 4). Figura 4. Aproximação dos nucleossomos pela histona H1 formando o solenóide (Fonte: http://3. bp.blogspot.com/). 11 Bases cromossômicas da hereditariedade Aula 1Alguns pontos do solenóide vão se associar a proteínas não histônicas, formando um fi lamento em espiral com “alças” do solenóide presas ao mesmo. Essa estrutura de proteínas não histônicas vão formar uma “es- queleto” que determina a estrutura do cromossomo. A eletromicrografi a de um cromossomo na Figura 5 mostra sua superfície irregular devido à presença dessas alças. Figura 5. Eletromicrografi a de cromossomo. Observar as alças em sua superfície irregular (Fonte: www.biomania.com.br/bio/Imagens/50122/Fig01.GIF). ESTRUTURA DO CROMOSSOMO A visualização dos cromossomos ocorre no período de divisão celular. Nesta faze o cromossomo é visualizado com cromátides duplicadas, pois, já ocorreu a duplicação do DNA durante a fase S da interfase. As cromátides de um mesmo cromossomo são chamadas cromátides irmãs. As duas cromátides são unidas por um ponto de constrição primária, denominado centrômero. O centrômero tem um papel importante na divisão celular, pois, é nessa região onde se encontra uma estrutura de pro- teínas denominada cinetócoro, onde se ligam as fi bras do fuso. Porções de cromossomos sem centrômero, originadas a partir de quebras, se perdem durante a divisão celular por não sofrerem direcionamento. O centrômero divide cada cromátide em braço curto (p) e braço longo (q). Ainda podemos encontrar em alguns cromossomos regiões de con- strição secundária. Estas regiões apresentam genes que sintetizam RNA ribossomal (que será estudado na aula de transcrição e tradução) e que, no núcleo interfásico, correspondem à região organizadora do nucléolo. As porções terminais, após a constrição secundária, são denominadas de satélite. As extremidades de cada cromátide também são muito importantes para o cromossomo, pois também estão relacionadas à manutenção de sua estabilidade. Estas, recebem o nome de telômeros. A Figura 6 apresenta esquematicamente essas estruturas citadas. 12 Genética Básica Figura 6. Estrutura cromossômica (http://www.mundovestibular.com.br/materias/biologia/ citogenetica02.jpg). DIVISÃO CELULAR Existem dois tipos de divisão celular que, conseqüentemente, originam cada um, um tipo de célula. A mitose é o tipo de divisão que origina as células somáticas que compõem o corpo de um organismo, mantendo suas características genéticas como o mesmo número de cromossomos (2n) da célula mãe para as células fi lhas; e a meiose, por sua vez, origina as células reprodutivas com metade do número de cromossomos da célula mãe (n). MITOSE A mitose tem grande importância para os seres vivos por possibilitar a multiplicação celular que leva ao crescimento, reposição de células perdi- das e também na reprodução assexuada de alguns organismos. A mitose é subdividida nas seguintes fases: Prófase – condensação dos cromossomos de forma que os mesmos possam ser Individualizados. Formação das fi bras do fuso mitótico e de- saparecimento da membrana nuclear (carioteca). Prometáfase – Organização dos cromossomos entre as fi brilas do fuso mitótico e acentuação da compactação da cromatina. Metáfase – Maior grau de condensação dos cromossomos e disposição destes na placa equatorial da célula devido à tração das fi bras do fuso. 13 Bases cromossômicas da hereditariedade Aula 1Anáfase – Separação das cromátides e migração dos cromossomos para os pólos da célula. Telófase – Descondensação da cromatina e reconstituição dos núcleos. Citocinese – Divisão do citoplasma e separação das células fi lhas. As fases da mitose poder ser visualizadas na Figura 7. Figura 7. Representação do ciclo mitótico (http://www.virtual.epm.br/cursos/biomol/ciclo/gif/ ciclo.gif). MEIOSE Importante na formação dos gametas para os organismos que se repro- duzem sexuadamente, assim, mantendo a quantidade de material genético na fusão dos gametas e possibilitando diversidade entre os organismos. Este processo se constitui por duas etapas de divisão celular: 1ª Divisão Meiótica - Uma célula com 2n cromossomos (diplóide) origina duas células com n cromossomos, devido à separação dos cromos- somos homólogos. Prófase I: Leptóteno: início da condensação da cromatina. Zigóteno: maior grau de condensação, possibilitando individualizar os cromossomos com o início de aproximação dos homólogos. Paquíteno: cromossomos homólogos pareados, formando as tétrades. Diplóteno: visualização dos quiasmas onde ocorre a recombinação de partes das cromátides homólogas. Diacinese: desaparecimento da membrana nuclear (carioteca) e dis- posição dos cromossomos entre as fi brilas do fuso mitótico. 14 Genética Básica Metáfase I: Organização dos cromossomos na placa equatorial onde os homólogos se encontram, desta vez, pareados. Anáfase I: Separação dos cromossomos homólogos que migram para os pólos da célula orientados pelos centríolos. Telófase I: Reorganização do núcleo nos pólos e divisão do citoplasma. 2ª Divisão Meiótica - Das duas células-fi lhas haplóides resultarão 4 células também haplóides por separação, agora, das cromátides irmãs. Prófase II: Corresponde ao fi nal da telófase I com o desaparecimento da mem- brana nuclear. Metáfase II: Posicionamento dos cromossomos na região equatorial da célula. Anáfase II: Separação das cromátides irmãs e migração para os pólos da célula. Telófase II: Reconstituição dos núcleos e divisão citoplasmática (citocinese), com a formação de 4 células fi lhas haplóides e geneticamente diferentes entre si devido à recombinação de partes dos cromossomos homólogos ocor- ridas na prófase I. As fases da meiose estão representadas resumidamente na Figura 8. Figura 8. Representação das fases da meiose (Fonte: http://4.bp.blogspot.com/). 15 Bases cromossômicas da hereditariedade Aula 1RECOMBINAÇÃO GÊNICA A recombinação genética que ocorre durante a Prófase I da meiose tem um importante papel evolutivo e adaptativo para as espécies. A recombina- ção durante a formação de gametas possibilita uma maior diversidade de arranjos alélicos. Alguns livros didáticos ainda denominam a recombinação meiótica como “crossing over” (Figura 9). A recombinação meiótica será estudada novamente na aula de ligação gênica e mapeamento cromossômico. Figura 9. Recombinação genética entre cromátides de cromossomos homólogos, promovendo diver- sidade na formação de gametas (Fonte: http://www.accessexcellence.org/AB/GG/crossing.php). CONCLUSÃO Nesta aula é importante ressaltara idéia da constituição cromossômica e como ocorre a compactação do DNA para sua formação. Compare o que ocorre na mitose e na meiose, veja as diferenças entre as células formadas em cada um desses tipos de divisão celular. O entendimento da hereditariedade estudada nas próximas aulas será mais fácil com uma boa compreensão dos conceitos aqui abordados. 16 Genética Básica RESUMO Os cromossomos são resultado da compactação do DNA. Durante a interfase, a cromatina se encontra dispersa preenchendo o núcleo da célula de eucariontes. Durante a divisão celular, a cromatina sofre a compactação, o que torna possível a individualização dos cromossomos. Na divisão mitótica, o numero cromossômico e as características genéticas da célula são mantidas, enquanto na meiose, ocorre a redução do número de cromossomos para formação de gametas. ATIVIDADES 1. Explique as etapas da compactação do DNA e relacione aos elementos envolvidos na mesma: 2. Compare a divisão celular meiótica e mitótica quando ao resultado cro- mossômico nas céluas fi lhas: AUTOAVALIAÇÃO Após estudar esta aula, consigo. 1. Defi nir eucromatina, heterocromatina constitutiva e heterocromatina facultativa? 2. Descrever a morfologia dos cromossomos? 3. Explicar o processo de compactação do DNA? 4. Descrever as fases da mitose? 5. Descrever as fases da meiose? 6. Explicar a importância da recombinação meiótica? PRÓXIMA AULA Na próxima aula iremos falar sobre princípios básicos da hereditar- iedade propostos por Mendel e as variações de mecanismos de herança. . REFERÊNCIAS GRIFFITHS AJF, MILLER JH, SUZUKI DT, LEWONTIN RC, GEL- BART WM. 2009. Introdução à Genética. 8 ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 794p. PIERCE BA. 2004. Genética: um enfoque conceitual. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 758p. SNUSTAD DP, SIMMONS MJ. 2008. Fundamentos de Genética. 4ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 903p. LEIS BÁSICAS DA HEREDITARIEDADE E EXTENSÕES DAS LEIS DE MENDEL META Explicitar os princípios básicos da hereditariedade propostos por Mendel e as variações de mecanismos de herança. OBJETIVOS Ao fi nal desta aula, o aluno deverá: compreender os princípios da segregação de alelos (1ª lei) e segregação independente (2ª lei); compreender a relação de dominância e recessividade entre alelos; defi nir conceitos de homozigose e heterozigose, genótipo, fenótipo e sua relação com o ambiente; interpretar as proporções genotípicas e fenotípicas de descendentes obtidos em um cruzamento; aplicar as regras de proporção e probabilidade nos cruzamentos; conhecer um cruzamento teste; compreender casos de ausência de dominância, alelos múltiplos, herança quantitativa, alelos letais e interação gênica. PRÉ-REQUISITO Bases cromossômicas da hereditariedade e noções matemáticas de proporção e probabilidade. Aula 2 18 Genética Básica INTRODUÇÃO Nesta aula muitos conceitos de Genética deverão ser observados para que você tenha um melhor aproveitamento, como conceitos de genes, alelos, dominância, recessividade, genótipo e fenótipo. A base desta aula é a realização de cruzamentos onde serão observados os genótipos e fenótipos dos descendentes. Para tanto, é importante que você tenha compreendido bem os conceitos de segregação na aula anterior sobre bases cromossômicas da hereditariedade. A compreensão dos diferentes mecanismos de herança vai lhe propor- cionar uma interpretação matemática da Genética. Primeiramente é impor- tante compreender os mecanismos propostos por Mendel de segregação dos alelos na formação dos gametas e a segregação independente de alelos localizados em cromossomos distintos. Os cruzamentos descritos por Mendel apresentam uma proporção fenotípica de descendentes que caracterizam os princípios básicos da he- reditariedade. Os demais mecanismos de herança que serão estudados a seguir (nesta e em outras aulas) poderão obedecer a esses princípios, ou, apresentar variações nessas proporções. Figura 1. Representação dos cruzamentos realizados por Mendel, observando as proporções entre os fenótipos de cor verde ou amarela das sementes. Assim, verifi cou a existência de fatores hereditários que determinavam essas características, sendo que estes fatores existiam aos pares nos organis- mos, segregando na formação dos gametas. Assim, na fecundação, o novo organismo recebia um desses fatores vindo de dada um dos parentais. Entre esses fatores, um deles era dominante sobre o outro, defi nindo com isso a dominância e a recessividade. Mais tarde, esses fatores foram denominados “genes”. Observe o esquema do primeiro cruzamento onde são originadas apenas ervilhas amarelas na Figura 2: 19 Leis básicas da hereditariedade e extensões das leis de Mendel Aula 2 Figura 2. Diagrama representando o cruzamento entre ervilhas verdes puras e ervilhas amarelas puras, resultando em 100% de descendentes híbridos com fenótipo amarelo. Neste caso, as ervilhas verdes (vv) e amarelas (VV) cruzadas eram puras e, nos cruzamentos, foram produzidos os híbridos (Vv) que apresentavam a cor amarela devido a seu fator de hereditariedade ser dominante para esta característica. Em seguida, em um auto-cruzamento dos descendentes da primeira geração (F1) originou a segunda geração de descendentes (F2) com ervil- has amarelas e verdes, respectivamente, na proporção 3:1 (Figura 3). Neste cruzamento temos a demonstração dos princípios da primeira lei de Mendel que postula a segregação dos alelos na formação dos gametas. Como podemos observar, para a manifestação da característica da cor verde das ervilhas, é necessário que estejam presentes os dois genes reces- sivos (vv), enquanto para a característica amarela existem ervilhas puras (VV) e híbridas (Vv), devido a dominância do gene para cor amarela. Na genética, o indivíduo híbrido é conhecidos como heterozigotos, e os indi- víduos puros, homozigoto dominante e homozigoto recessivo. Em um segundo momento, Mendel observou o comportamento de duas características nos cruzamentos (Figura 4). Neste cruzamento são obtidas as proporções 9:3:3:1. A observação de duas características indepen- dentes em um mesmo cruzamento demonstra os princípios da segunda lei de Mendel que propõe a segregação independente dos alelos na formação dos gametas. 20 Genética Básica Figura 4. Cruzamento entre ervilhas amarelas/lisas com ervilhas verde/rugosas. A constituição genética de um indivíduo é denominada genótipo, ou seja, os genes que ele possui, dominantes ou recessivos, em homozigose (puros) ou heterozigose (híbridos). Este genótipo produz um resultado de expressão que é denominado fenótipo, sendo este, dependente das condições ambientais e podendo ter sua manifestação alterada pelo ambi- ente, por exemplo, a cor da pele de um indivíduo claro que se torna mais escura pela exposição ao sol. Os genes estão localizados nos cromossomos e ocupam posições es- pecífi cas determinadas lócus. As variações de um gene são denominadas alelos e estes ocorrem aos pares nos indivíduos, ocupando o mesmo lócus no par de cromossomos homólogos. Recordando a divisão celular, os cromossomos homólogos são aqueles que se separam na formação dos gametas e que, na fecundação, o indivíduo recebe um lote de cada um dos pais que formarão novamente os pares de homólogos. CRUZAMENTO TESTE Um individuo que apresenta fenótipo dominante para uma deter- minada característica pode ser tanto um homozigoto recessivo quanto 21 Leis básicas da hereditariedade e extensões das leis de Mendel Aula 2um heterozigoto. Assim, para determinarmos seu genótipo é necessário realizar o que chamamos de cruzamento teste que consiste em cruzar um indivíduo de fenótipo dominante com outro de fenótipo recessivo para a mesma característica. O indivíduo de fenótipo recessivo só pode apresentar um genótipohomozigoto recessivo, portanto, os descendentes deste cruzamento serão 100% com fenótipo dominante e genótipos heterozigotos se o indivíduo em questão for um homozigoto dominante. Sendo um heterozigoto, o cru- zamento resultará 50% de indivíduos com fenótipo recessivo e 50% com fenótipo dominante (sendo estes, heterozigotos). Observe os exemplos de diagrama de cruzamentos teste na Figura 5. Figura 5. Cruzamentos teste. PROBABILIDADE NOS CRUZAMENTOS Utilizando os conhecimentos da genética é possível estimar a proba- bilidade de um determinado evento acontecer, por exemplo, a freqüência esperada de indivíduos com determinada característica, descendentes de um dado cruzamento, ou então, a possibilidade de nascimento de um ou mais indivíduo que apresente uma característica em questão. No cruzamento entre dois indivíduos, ambos heterozigotos, as chances de nascer um que apresente fenótipo com a característica recessiva é de ¼ ou 25% (Figura 6). Figura 6. Proporções observadas no cruzamento entre indivíduos heterozigotos. 22 Genética Básica DETERMINAÇÃO DA PROBABILIDADE DE MAIS DE UM EVENTO INDEPENDENTE Regra do “ou” Ocorrência de um ou outro evento: somam-se as frações Ex.: No cruzamento entre dois indivíduos heterozigotos, qual a proba- bilidade de gerar um indivíduo de fenótipo dominante, seja ele homozigoto ou heterozigoto? Genótipo homozigoto (AA) = ¼ Genótipo heterozigoto (Aa) = ¼ + ¼ = ½ → ¼ + ½ = ¾ As chances de gerar um indivíduo de fenótipo dominante, seja ele homozigoto ou heterozigoto, são de ¾. Regra do “e” Ocorrência de um evento e outro, necessariamente: multiplicam-se as frações. Ex.: Considerando o cruzamento de heterozigotos, qual a probabili- dade de gerar um indivíduo de característica recessiva e outro dominante? Fenótipo recessivo (aa) = ¼ Fenótipo dominante (AA + Aa) = ¾ → ¼ x ¾ = 3/16 As chances de gerar um indivíduo com característica dominante e outra com característica recessiva, são de 3/16. AUSÊNCIA DE DOMINÂNCIA Dominância incompleta: É um tipo de ausência de dominância onde o indivíduo heterozigoto apresenta fenótipo intermediário ao dominante e ao recessivo. Ex.: Flor de Mirabilis jalapa (conhecida como boca de leão) (Figura 7). VV – fl or vermelha Vv – fl or rósea vv – fl or branca Figura 7. Flor boca de leão (Mirabilis jalapa) (Fonte: http://www.theora.com/). 23 Leis básicas da hereditariedade e extensões das leis de Mendel Aula 2Co-dominância: Outro tipo de ausência de dominância. Neste caso, o indivíduo heterozigoto manifesta as duas características. Ex.: Pelagem do gado da raça Shorthorn VV – pelagem avermelhada Vv – tipo ruão (pelos brancos e avermelhados) Vv – pelagem branca Figura 8. Gado da raça Shortorn apresentando a pelagem do tipo ruão (Fonte: http://www.infoescola.com/pecuaria/gado-shorthorn/). ALELOS MÚLTIPLOS Considera-se alelos múltiplos a ocorrência de mais de dois alelos para um mesmo gene. Ex.: determinação da cor da pelagem de coelhos onde existem 4 alelos diferentes na espécie, mas, o indivíduo possui apenas um par desses alelos (Figura 9). Nesta situação, os alelos ainda apresentam uma ordem de dominância: C+ > cch > ch > c Fenótipo Genótipo Aguti C+C+, C+cch, C+ch, C+c Chinchila cch cch, cchch, cchc Himalaia chch, chc Albino Cc 24 Genética Básica Figura 9. Coelhos com pelagem aguti, chinchilla, himalaia e albino (Fonte: http://crv.educacao. mg.gov.br/sistema_crv/index). GRUPOS SANGUÍNEOS Um caso de alelos múltiplos na espécie humana é a herança do sistema ABO, onde existem os genes IA, IB, i. Sendo que entre os alelos IA e IB também existe uma co-dominância, pois ambos se expressam. As células apresentam mecanismos de identifi cação em suas membra- nas por meio dos antígenos que são expressos nas mesmas. Quando uma célula em um organismo apresenta um antígeno estranho ao mesmo são produzidos anticorpos de defesa que consideram estes elementos como um corpo estranho. Estes alelos IA e IB produzem antígenos que se expressam nas mem- branas das hemácias, enquanto o alelo i não produz esses antígenos de membrana. 25 Leis básicas da hereditariedade e extensões das leis de Mendel Aula 2 O fator Rh nos grupos sanguíneos é determinado por um outro gene localizado em cromossomo diferente e, portanto, independente do lócus de determinação do fator ABO. Fenótipo Genótipos Antígeno de membrana Anticorpo Doa para Recebe de A IAIA, IAi A Anti-B A e AB A e O B IBIB, IBi B Anti-A B e AB B e O AB IAIB A e B - AB A, B e O O Ii - Anti-A e Anti-B A, B e AB O Fenótipo Genótipos Antígeno de membrana Anticorpo Doa para Recebe de Rh+ RR, Rr Rh - Rh+ Rh+ e Rh - Rh - RR - Anti-Rh Rh+ e Rh - Rh - Heritroblastose fetal: mulheres que apresentam fator Rh – quando casadas com homem Rh+ devem fi car atentas para essa questão. Tendo um fi lho Rh+ ocorre o contato de sangue durante o parto fazendo com que a mulher inicie a produção de anticorpos anti-Rh. Esses anticorpos são capazes de atravessar a placenta, e no caso de outra gravidez seguinte com fi lho Rh+, este seria espontaneamente abortado por rejeição do corpo da mãe. Ciente dessa condição, estas mulheres devem procurar um médico que iniciará o tratamento para evitar que ocorra a heritroblastose fetal. “Falso O” Existe um gene que é precursor da expressão dos antígenos de mem- brana do fator ABO. Para que o indivíduo expresse esses antígenos é importante que o indivíduo tenha genótipo HH ou Hh. Indivíduos com genótipo hh não apresentam antígenos do fator ABO e pertencendo ao grupo O, mesmo tendo os genes para antígenos A ou B. Este fenômeno é conhecido como “efeito Bombaim”. INTERAÇÃO GÊNICA Existem vários casos onde os genes se interagem, havendo mais de um par de alelos determinando uma única característica. Um exemplo clássico de interação gênica é encontrado na determinação do formato da crista de galinhas (Figura 10). 26 Genética Básica Fenótipo Genótipos Noz RREE, RrEE, RREe, RrEe Rosa RRee, Rree Ervilha rrEE, rrEe Simples Rree Figura 10. Diferentes fenótipos para cristas de galinhas (Fonte: http://www.iped.com.br/sie/ uploads/18609.jpg). PLEIOTROPIA Ao contrário da interação gênica, alguns alelos são responsáveis por mais de uma característica, ocasionando assim casos de pleiotropia, que ocorre algumas vezes devido aos genes para estas características estarem localizados muito próximos em um mesmo cromossomo, ou então por uma característica ser conseqüência da outra, como é o caso do albinismo (indivíduos com ausência de pigmentação na pele) que também determina outras características como hipersensibilidade à luz e maior predisposição ao câncer de pele (Figura 11). 27 Leis básicas da hereditariedade e extensões das leis de Mendel Aula 2 Figura 11. Indivíduo albino (Fonte: http://www.cecillethestoryteller.fi les.wordpress.com). Outro exemplo clássico de pleiotropia é o caso da cebola arroxeada, que é resistente à infecção de um fungo, enquanto a cebola branca é sus- cetível (Figura 12). Figura 12. Cebolas roxas e brancas (Fonte: http://www.saude.abril.com.br/imagens/0312/20- trocas-14.jpg). 28 Genética Básica HERANÇA QUANTITATIVA Para uma mesma característica existem dois ou mais pares de genes situados em cromossomos de pares distintos. Cada alelo dominante apre- senta um efeito aditivo sobre o fenótipo. É o tipo de herança observada em características como a cor da pele (Figura 13), altura e cor dos olhos. Nesse tipo de herança cada caracter- ística apresenta mais de dois fenótipos. A relação entre alelos e fenótipos é expressa pela fórmula a seguir: Nº de fenótipos = Nº de alelos + 1 Figura 13. Diferença quantitativa na pigmentação da pele (Fonte: http://www.citasimundoevari-ascaras.blogspot.com). Negros: AABB. Mulatos escuros: AABb, AaBB. Mulatos médios: AAbb, AaBb, aaBB. Mulatos claros: Aabb, aaBb. Brancos: aabb. Onde temos: Nº de classes = 5 Nº de alelos = 4 Vejamos o exemplo da cor da pele: 29 Leis básicas da hereditariedade e extensões das leis de Mendel Aula 2As proporções para cada classe podem ser calculadas construindo-se o triângulo de pascal. 1 1 1 1 2 1 1 3 3 1 1 4 6 4 1 1 5 10 10 5 1 1 6 15 20 15 6 1 Havendo 5 classes fenotípicas, temos as seguintes proporções: Negros: 1 Mulatos escuros: 4 Mulatos médios: 6 Mulatos claros: 4 Brancos: 1 GENES LETAIS Em alguns casos, determinados genótipos são letais para o indivíduo, alterando a freqüência esperada de descendentes para determinada carac- terística. Ex.: foi detectado em alguns camundongos que no cruzamento entre indivíduos de pelagem preta, 100% dos descendentes eram pretos, enquanto no cruzamento entre indivíduos marrons, sempre encontravam em torno de 33% de indivíduos pretos, nunca havendo uma descendência exclusiva de indivíduos marrons. O gene A determina a cor marrom da pelagem nesses indivíduos, enquanto a, determina a cor preta. Os resultados observados nesses cru- zamentos mostraram que não existiam indivíduos marrons homozigotos (AA), mas apenas heterozigotos (Aa). Estudos posteriores mostraram que os indivíduos de genótipo AA morriam ainda no útero, mostrando que este genótipo era legal para os camundongos. Assim, a freqüência esperada de descendentes nos cruza- mentos entre camundongos marrons era de 1/3 de indivíduos pretos para 2/3 com pelagem marrom (Figura 14). 30 Genética Básica Figura 14. Diagrama representando o cruzamento para alelos letais. CONCLUSÃO Ao fi nal desta aula podemos concluir que as interpretações matemáticas dos resultados obtidos nos cruzamentos facilitaram a compreensão dos diversos mecanismos de herança. Será muito importante essa compreensão das proporções de fenótipos e genótipos entre os descendentes nos cru- zamentos para que o conteúdo das próximas aulas (Ligação gênica e ma- peamento cromossômico e herança ligada ao sexo) sejam bem assimilados. RESUMO Com a observação de cruzamentos realizados com ervilhas, Mendel descreveu os princípios básicos da hereditariedade, postulados como 1ª Lei de Mendel: segregação dos alelos na formação dos gametas, e 2ª Lei de Mendel: segregação independente dos alelos. Conceitos muito importantes para a Genética também foram descritos por Mendel, como a relação de dominância e recessividade. Variações das leis de Mendel podem ser ob- servadas diversas características em diferentes organismos, que não obede- cem as proporções descritas por Mendel, como nos casos de ausência de dominância, alelos letais, alelos múltiplos, herança quantitativa e interação gênica. Em alguns desses outros mecanismos a proporção de descendentes encontrada nos cruzamentos pode diferir do que foi proposto por Mendel, como no caso dos alelos letais onde um tipo de genótipo é eliminado e na ausência de dominância onde um terceiro fenótipo é determinado pelo indivíduo hibrido. 31 Leis básicas da hereditariedade e extensões das leis de Mendel Aula 2ATIVIDADES 1. Esta atividade consiste em um jogo que aborda a determinação genética dos grupos sanguíneos. Acesse o jogo pelo endereço a seguir, imprima, leia as informações, monte as peças e jogue com pessoas da sua família ou até mesmo sozinho. http://www.geneticanaescola.com.br/ano4vol1/MS11_004.pdf 2. Faça uma listagem relacionando diferentes mecanismos de herança abor- dados na aula que você encontra no jogo da atividade 1: COMENTÁRIO SOBRE AS ATIVIDADES 1. O aprendizado de conteúdos de genética pode ser facilitado por meio da utilização de recursos como jogos e modelos didáticos. Essa atividade lúdica é bastante útil para rever conceitos e fi xar grande parte do conteúdo estudado. 2. Esta atividade aborda diferentes conteúdos da aula de bases da hereditariedade. Alem de rever, exercitar e fixar o conteúdo de determinação genética dos grupos sanguíneos você poderá encontrar exemplos de segregação independente, ausência de dominância, alelos multiplos e interação gênica. AUTOAVALIAÇÃO Após, estudar esta aula, consigo: 1. Explicar a relação alélica de dominância e recessividade? 2. Explicar como o ambiente pode infl uenciar em um fenótipo? 3. Conhecer a base citológica para explicar a 1ª e a 2ª lei de mendel? 4. Descrever como são realizados cruzamentos testes e explique qual sua fi nalidade? 5. Conhecer qual aspecto diferencia um caso de co-dominância de outro com dominância incompleta? 6. Saber qual a infl uencia de um alelo letal dominante na proporção espe- rada de descendentes? 7. Conhecer no cruzamento de um casal de coelhos chinchila, no qual foi gerado um coelho albino, qual o genótipo para esta característica dos parentais? 8. Defi na o conceito de pleiotropia? 32 Genética Básica PRÓXIMA AULA Na próxima aula, serão estudados genes localizados em um mesmo cromossomo, diferente, do que estudamos nessa aula (genes de segrega- ção independente). Tenha como base os conhecimentos desta aula de cruzamentos e segregação de alelos e da aula anterior, da segregação de cromossomos homólogos na meiose. REFERÊNCIAS GRIFFITHS AJF, MILLER JH, SUZUKI DT, LEWONTIN RC, GEL- BART WM. 2009. Introdução à Genética. 8 ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 794p. PIERCE BA. 2004. Genética: um enfoque conceitual. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 758p. SNUSTAD DP, SIMMONS MJ. 2008. Fundamentos de Genética. 4ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 903p. LIGAÇÃO, RECOMBINAÇÃO E MAPEAMENTO GÊNICOS META Discutir a importância dos princípios que regem a origem da diversidade genética a cada geração celular e a construção de mapas físicos para a localização de genes em cada cromossomo do genoma. OBJETIVOS Ao fi nal desta aula, o aluno deverá: compreender a importância dos mecanismos de ligação gênica e recombinação para a origem da diversidade genética nas populações naturais; construir mapas genéticos. PRÉ-REQUISITOS Antes de iniciar o estudo da Recombinação Genética, o aluno deverá fazer uma leitura sobre a As Leis de Mendel em um livro de genética Genética consultando a bibliografi a recomendada. Aula 3 34 Genética Básica INTRODUÇÃO A diversidade biológica de determinada espécie é o conjunto de car- acterísticas morfológicas e fi siológicas que a torna capaz de responder ás mudanças ambientais. Essa diversidade é originada pelos diferentes con- juntos de alelos estocados nos diferentes indivíduos de uma população. As- sim, quanto mais diversifi cada for esta população, maior a variabilidade de respostas ás mudanças ambientais e, consequentemente a sua sobrevivência. Os mecanismos genéticos que dão origem a essa diversidade, a seg- regação independente e a recombinação gênica, ocorrem durante a divisão celular meiótica, gerando os gametas. Na segregação independente dos cromossomos (Fig. 1), ou 2ª Lei de Mendel, os cromossomos e seus genes podem combinar-se ao acaso, gerando gametas com diferentes arranjos, como em um sorteio. As com- binações mais freqüentes são as parentais; as menos freqüentes são a de gametas recombinantes, ou seja, com novas combinações. As proporções esperadas serão 1:1:1:1. No entanto, nem todos os genes se comportam de maneira indepen- dente, pois quanto mais próximos estiverem no cromossomo maior a probabilidade de serem herdados juntos. A única maneira de separá-los é por meio do crossing-over ou recombinação gênica, que ocorre durante a prófase da meiose I, permitindo que genes muito próximos no cromossomo possam ser re-arrumados a cada divisão celular, gerando gametas com diferentes combinações.Mas, diferente da segregação independente de Mendel, na recombinação gênica a proporção de recombinantes é maior e a análise dos cruzamentos mostra uma proporção maior dessas combinações. Pode-se relacionar a freqüência de recombinantes produzida pelo crossing over á distancia entre os genes, mostrando o rearranjo de genes ao longo de um cromossomo e permitindo construir mapas físicos dos cromossomos antes dos mapas moleculares, como veremos neste capitulo 35 Ligação, recombinação e mapeamento gênicos Aula 3Cada espécie de organismo deve conter de centenas a milhares de genes e, geralmente, um número menor de cromossomos. Para entender essa desigualdade as analises genéticas mostram que cada cromossomo é um pedaço de DNA, que carrega centenas ou poucas centenas de diferentes genes que estão dispostos ao longo dele como contas em um colar Os cromossomos são, por isso, chamados grupos de ligação, pois con- têm um grupo de genes que são ligados juntos. O número de grupos de ligação corresponde ao número de tipos de cromossomo de dada espécie. Figura 2 – Estrutura de um cromossomo evidenciando cromossomos ligados P. exemplo, em humanos Figura 3- Cariograma humano 36 Genética Básica - 22 grupos autossômicos de ligação - Um grupo de ligação do cromossomo X - Um grupo de ligação do cromossomo Y O termo ligação (linkage) tem dois signifi cados relacionados: 1. Dois ou mais genes podem estar localizados no mesmo cromossomo. 2. Genes que são muito próximos tendem a ser transmitidos juntos. BREVE HISTÓRICO DOS ESTUDOS DE RECOMBINAÇÃO Logo após a descoberta dos trabalhos de Mendel, em 1900, seus ex- perimentos foram repetidos por vários cientistas, utilizando-se de diferentes modelos, animais e vegetais, para corroborar seus estudos. Assim, em 1905, William Bateson e Reginald Punnett conduziram um cruzamento em ervilha de cheiro envolvendo 2 traços diferentes: - Cor da fl or e forma do grão. - Esperavam uma proporção fenotípica de 1:1:1:1 na geração F2. - Encontraram resultados surpreendentes que não souberam explicar. Figura 4 – Experimento envolvendo ligação gênica em ervilhas 37 Ligação, recombinação e mapeamento gênicos Aula 3Entre os anos de 1910 e 1915, porém, os estudos de Thomas Hunt Morgan e seus colaboradores em Drosophila melanogaster, mostraram também, desvios da 2ª lei de Mendel. Seus estudos associariam genes e cromossomos defi nitivamente. A escolha desse organismo foi essencial para os estudos de Morgan, uma vez que essas moscas são de pequeno tamanho (3 a 4 mm), de fácil manuseio, têm um ciclo de vida muito curto (aproximadamente 12 dias), além de serem extraordinariamente fecundas (cada fêmea pode originar 200 a 300 descendentes ao longo da sua vida), terem sexos facilmente distinguíveis, apresentam grande diversidade de formas e o seu cariótipo possui apenas quatro pares de cromossomas (três autossômicos e um par de cromossomas sexuais). Nesses estudos, Morgan e col. analisaram cruzamentos envolvendo 2 caracteres autossômicos: cor do olho e tamanho das asas em Drosophila. Sabia-se que a cor do olho era determinada por um gene (vermelho ou púr- pura), e o tamanho da asa (normal ou vestigial). O cruzamento de indivíduos de olhos vermelhos e asa normais com outro de olhos púrpura com outro de asas vestigiais gerava só indivíduos com olhos vermelhos e asas normais: Cor dos olhos: Vermelho- pr+ (dominante), pr- púrpura (recessivo) Forma das asas: normal- vg+ (dominante), vg- vestigial (recessivo) P pr/pr. vg/vg X pr+ / pr+. vg+/ vg+ Gametas pr. vg pr+ vg+ Diíbrido de F1 pr+/ pr . vg+/ vg Cruzamento-teste ♀ pr+/ pr . vg+/ vg X ♂ pr/pr. vg/vg (testador) O cruzamento teste, que serve para testar a segregação do geni- tor diíbrido em relação ao genitor recessivo (testador), mostrou uma proporção diferente da mendeliana (1:1:1:1), revelando números dife- rentes de descendentes com combinações parentais e recombinantes, como segue: pr+. vg+ 1.339 pr . vg 1.195 pr+ . vg 151 pr . vg+ 154 2.839 Esse desvio mostra que as 2 primeiras combinações de genes es- tão ligadas. Observando-se o percentual de recombinantes na prole, Morgan percebeu que o numero de indivíduos era aproximadamente igual (151 154), gerando um total de 305, que é uma freqüência de 10,7 ou (305/2839) X 100. ~ 38 Genética Básica Com esses dados Morgan postulou que os genes estavam fi sica- mente ligados no mesmo cromossomo e as combinações são mantidas juntas na prole. Desse modo fi cou comprovado que os genes que estão juntos no mesmo cromossomo não segregam de modo independente; Mas se os genes estão ligados como mostra a alta proporção de combinações parentais, como aparecem as combinações novas, re- combinantes? Morgan sugeriu que, durante a meiose, quando há o pareamento de homólogos, os cromossomos podem trocar pedaços, em um processo chamado crossing-over. Esse processo permite a recombinação gênica. O crossing-over ocorre durante a prófase I da meiose no estágio bivalente, onde cromátides não-irmãs de cromossomos homólogos trocam pedaços de DNA. Essa troca pode ocorrer em qualquer local entre 2 moléculas complementares de DNA, mas não é constante. Figura 5 – Crossing-over e recombinação durante a meiose A evidência citológica do crossing-over são os quiasmas-pontos de união entre as cromátides não-irmãs de cromossomos homólogos que trocaram pedaços durante a meiose. 39 Ligação, recombinação e mapeamento gênicos Aula 3Não há alteração nas seqüências de nucleotídeos no sítio de troca; a quebra e os eventos de religação ocorrem de uma forma tão precisa que não há perda, ganho ou alteração de um único nucleotídeo. O crossing-over ocorre no estagio de quatro cromátides, podendo ocorrer de um a vários crossing a cada divisão, por cromossomo. A freqüência de recombinação não é constante ao longo de todo o genoma e é infl uenciada por efeitos tanto globais quanto locais. Ela pode medir a força da ligação entre os genes. Quanto mais próximos, mais rara a separação e a recombinação, ou vice-versa. Para qualquer 2 genes, a freqüência de recombinação nunca ultrapassa 50%; pois essa só é alcançada quando os genes estão muito distantes em um cromossomo ou estiverem em cromossomos diferentes e se distribuem independentemente. Ou seja, não estão ligados. Figura 6- Distribuição cromossômica envolvendo diíbridos com genes ligados Quanto ao arranjo dos alelos dominantes e recessivos, há duas con- fi gurações possíveis: cis, quando os alelos dominantes estão no mesmo cromossomo e trans quando em cada cromossomo localiza-se um domi- nante e um recessivo. Figura 7 – Confi gurações de ligação entre genes ligados 40 Genética Básica FREQÜÊNCIA DE RECOMBINAÇÃO E MAPA GENÉTICO A contribuição mais importante dos estudos de Morgan e seus colabora- dores foi relacionar a freqüência de recombinantes produzida pelo crossing over á distancia entre os genes, mostrando o rearranjo de genes ao longo de um cromossomo, permitindo construir mapas físicos dos cromossomos antes dos mapas moleculares. A distância entre os genes determina a probabilidade da ocorrência de crossing. As freqüências de recombinantes para genes ligados variam de 0 a 50%, dependendo da distancia entre eles. Como já vimos, quanto mais distantes mais suas freqüências se aproximam de 50%, o que difi culta saber de os genes estão ligados ou em cromossomos diferentes. O método básico de mapeamento gênico foi desenvolvido por Alfred Sturtevant, aluno de Morgan, que associou a distancia de genes a distancia real entre eles nos cromossomos.Usando a freqüência de recombinante encontrada por Morgan de 10,7 % (ver acima) Sturtevant propôs utilizá-la como um índice quantitativo da distancia linear entre os genes pr e vg em um mapa de ligação. Ele então defi niu uma unidade de mapa (u.m.) como a distancia entre genes para a qual um produto de meiose em 100 é recombinante. Ex: a freqüência de recombinação (FR) de 10,7 será 10,7 u.m. A unidade de fi cou também conhecida como centimorgan (cM), em homenagem a Morgan. O mapa geralmente é representado de maneira linear, onde os locus gênicos delimitam as distancias entre os genes. Ex: Porcentagem de recombinação entre genes A e B: 19% Porcentagem de recombinação entre A e C: 2% Porcentagem de recombinação entre B e C: 17% A distância entre A e B será de 19 centimorgans, A e C, de 2 centim- organs e B e C, de 17 centimorgans: CRUZAMENTO –TESTE DE 3 PONTOS Pode-se calcular a freqüência de recombinantes e, conseqüentemente, a as distancias entre os genes por meio do cruzamento-teste diíbrido, como mostrado nos cruzamentos entre os genes pr e vg , e, de maneira mais 41 Ligação, recombinação e mapeamento gênicos Aula 3complexa, utilizando o cruzamento teste de 3 pontos. Essa metodologia utiliza um cruzamento entre um triíbrido e um testador triplo recessivo. 42 Genética Básica Figura 8- Recombinação e formação de gametas em cruzamento-teste de 3 pontos. A detecção de classes recombinantes duplas mostra que podem ocor- rer crossing-over duplos. Um crossing-over em uma determinada região do cromossomo afeta a probabilidade de ocorrência de outro crossing em uma região adjacente, ou seja, esses fenômenos não são independentes. Essa interação é chamada de interferência. Se os crossings em duas regiões são independentes, então, a frequência de recombinantes duplos seria igual ao produto das frequências de recombinantes nas regiões adjacentes Interferência (I): um crossing reduz a probabilidade de outro crossing em uma região adjacente Coincidência (C): proporção de recombinantes duplos observados em relação ao esperado 43 Ligação, recombinação e mapeamento gênicos Aula 3Assim: I = 1 – C, em que: C = (nº observado de recombinantes duplos - FRDO/ nº esperado de recombinantes duplos - FRDE) No exemplo de Drosophila: FRDO = 8 FRDE = 0,064 x 0,132 = 0,0084 (8% de 1448 = 12) I = 1 – 8/12 = 4/12 = 1/3 = 33% C = 0 (interferência completa, I = 1) Nesse caso não são observados duplo recombinantes C = 1 (ausência de interferência, I = 0) Nesse caso o número de duplo recombinantes observado é igual ao número esperado de duplos recombinantes CONCLUSÃO O mapeamento de genes através de analise ligação serve para estimar a posição relativa dos genes através da freqüência de crossing. Mas ainda é incompleto, pois não estabelece distancias em relação ao centrômero ou telômeros, os marcos citológicos de um cromossômico, para associar um dado gene a um cromossomo. No entanto a analise conjunta de um gene ligado a determinado cromossomo e seu mapa cromossômico ampliam a analise genética. Com o emprego das metodologias moleculares, os mapas de ligação são associados a dados de mapas físicos e tem fornecido infor- mações valiosas sobre doenças e seus genes defeituosos. Essas associações permitiram construir um “mapa mórbido” (Figura 9)) 44 Genética Básica Mapa genético humana, representando a associação entre genes e doenças Figura 9- Mapa genético humano representando a associação entre genes e doenças (Fonte: www.educarchile.cl). 45 Ligação, recombinação e mapeamento gênicos Aula 3do genoma humano que tem ajudado muitas famílias com doenças genéticas raras a rastrear genes de doenças em suas famílias, auxiliando no aconselhamento genético e no prognóstico dessas doenças. Além dessa aplicação, os mapas de ligação associados a outros tem auxiliado nos estudos de fi logenia, na compreensão da diversidade entre espécies próximas, no melhoramento genético animal e vegetal e, em seu sentido mais amplo, na compreensão da diversidade genômica de populações naturais. RESUMO A formulação da teoria cromossômica da herança, associando genes a cromossomos, foi um marco na Genética que possibilitou o grande avanço que vemos hoje nas mais diversas áreas biológicas. A construção dos mapas genéticos, através da freqüência de recombinantes em cruzamentos utili- zando diferentes espécies, nos ajudou a associar genes a locais específi cos. Essa grande estratégia associada a metodologias citogenéticas e moleculares atuais têm revelado uma gama enorme de diversidade, tanto visível (fenóti- pos) quanto oculta, nos genomas de diferentes espécies. Para a espécie humana, essa compreensão tem fornecido dados e met- odologias essenciais que podem ajudar a pesquisa medica a fornecer dados mais diretos a sociedade e impulsionado a construção de metodologias que, em breve tempo, salvarão vidas. EXERCÍCIO RESOLVIDO Ex: Calculo de recombinação em cruzamento – teste de 3 pontos (3 genes) em Drosophila: - v: olhos vermilion. - cv: ausência de nervuras nas asas. - ct: margens das asas cortadas. P. v+v+ cvcv ctct x v v cv+cv+ ct+ct+ F.1 v+v cv+cv ct+ct x vv cvcv ctct Distância entre os 1º e 2º genes v e cv (crossing simples) 580 592 45 40 89 94 3 5 Total 1448 v cv+ ct+ v+ cv ct v cv ct+ v+ cv+ ct v cv ct v+ cv+ ct+ v cv+ ct v+ cv ct+ FR = (45+40+89+94)/1448 FR = 268/1448 FR = 0,1850 x 100 FR = 18,5 cM 46 Genética Básica Conclusão: Todos os locos estão ligados (situados no mesmo cromos- somo), pois os valores de FR são menores que 50%. Teste de três pontos: Locos FR (cM) v e cv 18,5 v e ct 13,2 cv e ct 6,4 Observe que a soma de 13,2 e 6,4= 18,2 refere-se a soma entre os 1o e o 2º genes e entre o 2º e o 3º. v ct cv 13,2 6,4 Com o cruzamento teste foi possível determinar a ordem dos três genes no cromossomo. As duas distâncias no mapa, 13,2 cM e 6,4cM, somam 19,6 cM, que é maior que 18,5 cM (distância calculada para v e cv) As duas classes mais raras de genótipos correspondem a duplos recombinantes que surgem de dois crossings. Distância entre os 1º e 3º genes v e ct (crossing simples) D Distância entre os 2º e 3º genes v e ct (crossing duplos) 580 592 45 40 89 94 3 5 Total 1448 v cv+ ct+ v+ cv ct v cv ct+ v+ cv+ ct v cv ct v+ cv+ ct+ v cv+ ct v+ cv ct+ FR = (89+94+3+5)/1448 FR = 191/1448 FR = 0,1320 x 100 FR = 13,2 cM 580 592 45 40 89 94 3 5 Total 1448 v cv+ ct+ v+ cv ct v cv ct+ v+ cv+ ct v cv ct v+ cv+ ct+ v cv+ ct v+ cv ct+ FR = (45+40+3+5)/1448 FR = 93/1448 FR = 0,0640 x 100 FR = 6,4 cM 47 Ligação, recombinação e mapeamento gênicos Aula 3 A detecção de classes recombinantes duplas mostra que podem ocor- rer crossing-over duplos. - Um crossing-over em uma determinada região do cromossomo afeta a probabilidade de ocorrência de outro crossing em uma região adjacente, ou seja, esses fenômenos não são independentes. Essa interação é chamada de interferência. - Se os crossings em duas regiões são independentes, então, a frequência de recombinantes duplos seria igual ao produto das frequências de recom- binantes nas regiões adjacentes. Interferência (I): um crossing reduz a probabilidade de outro crossing em uma região adjacente. Coincidência (C): proporção de recombinantes duplos observados em relação ao esperado. Assim: - I = 1 – C, em que: - C = (nº observado de recombinantes duplos - FRDO/ nº esperado de recombinantes uplos - FRDE). - No exemplo de Drosophila: - FRDO = 8. - FRDE = 0,064 x 0,132 = 0,0084 (8% de 1448= 12). - I = 1 – 8/12 = 4/12 = 1/3 = 33%. 48 Genética Básica C = 0 (interferência completa, I = 1). - Nesse caso não são observados duplo recombinantes - C = 1 (ausência de interferência, I = 0). - Nesse caso o número de duplo recombinantes observado é igual ao número esperado de duplos recombinantes. ATIVIDADES 1. Analisando-se dois pares de genes em ligamento fatorial (linkage) rep- resentados pelo híbrido BR/br, uma certa espécie apresentou a seguinte proporção de gametas: 48,5% BR 48,5% br 1,5% Br 1,5% bR Pela análise dos resultados, pode-se concluir que a distância entre os genes B e R é de: a. 48,5 cM b. 97 cM c. 1,5 cM d. 3 cM. e. 50 cM 2. O daltonismo deutan é um caráter determinado por gene recessivo ligado ao sexo. A doença retinitis pigmentosum (cegueira completa ou parcial) é determinada por gene dominante parcialmente ligado ao sexo. Uma mulher não daltônica e com retinite, cuja mãe é daltônica e sem retinite e o pai não daltônico e com retinite, homozigoto, casa-se com um homem daltônico e sem retinite. Considerando que a distância entre os dois locos, no X, é de 10 unidades de mapa? Responda: a) Qual a proporção genotípica esperada na descendência? b) Qual a proporção fenotípica esperada na descendência? c) Se o casal deseja ter dois fi lhos, qual a probabilidade de ocorrer um me- nino normal e uma menina normal, para as duas características? 49 Ligação, recombinação e mapeamento gênicos Aula 3AUTOAVALIAÇÃO Após estudar esta aula, consigo saber: 1. O que caracteriza um gene ligado? 2. Quantos e quais arranjos um gene ligado pode ter? 3. Qual a função do percentual de recombinação em um cruzamento para a construção de um mapa genético? 4. O que signifi ca Interferência? 5. O que signifi ca Coincidência? PRÓXIMA AULA Trataremos da herança ligada ao sexo e dos mecanismos de determi- nação sexual REFERÊNCIAS GRIFFITHS AJF, MILLER JH, SUZUKI DT, LEWONTIN RC, GEL- BART WM. 2009. Introdução à Genética. 8 ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 794p. PIERCE BA. 2004. Genética: um enfoque conceitual. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 758p. SNUSTAD DP, SIMMONS MJ. 2008. Fundamentos de Genética. 4ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 903p. Vídeos sugeridos http://www.youtube.com/watch?v=f18U__0nBxQ&feature=PlayList&p =36C97B9652CDB3E9&index=32 HERANÇA LIGADA AO SEXO E MECANISMOS DE DETERMINAÇÃO SEXUAL META Apresentar o mecanismo de herança de genes localizados nos cromossomos sexuais e os diferentes mecanismos de determinação do sexo. OBJETIVOS Ao fi nal desta aula, o aluno deverá: compreender o mecanismo de herança dos genes estruturais localizados nos cromossomos sexuais e conhecer exemplos de características determinadas por genes localizados no cromossomo X; compreender o mecanismo de compensação de doses e explicar diferentes mecanismos de determinação do sexo. PRÉ-REQUISITOS Conteúdo das aulas de mecanismos de herança e bases cromossômicas da hereditariedade. Aula 4 52 Genética Básica INTRODUÇÃO Na natureza, a maioria dos animais e muitas plantas, apresentam diferença sexual, onde encontramos organismos masculinos e femininos. Geralmente, essa diferenciação é determinada por cromossomos especiais, denominados cromossomos sexuais. As características determinadas pelos genes presentes nesses cromossomos também terão padrão de herança diferente dos genes localizados nos demais cromossomos (autossomos). Nesta aula vamos estudar a herança de caracteres genéticos determi- nados por genes localizados nos cromossomos sexuais, algumas variações e também os diferentes padrões de determinação genética do sexo. HERANÇA DE CARACTERÍSTICAS RELACIONADAS AO SEXO A diferença cromossômica entre machos e fêmeas promove também a ocorrência de um mecanismo de herança característico para os genes lo- calizados nestes cromossomos. Havendo uma diferença morfológica entre os cromossomos sexuais, regiões homólogas e não homólogas serão en- contradas nos mesmos (Figura 1). As regiões não homólogas são chamadas de regiões diferenciais, pois apresentarão genes presentes apenas naquele tipo de cromossomo, assim, esses genes não terão homólogos no outro cromossomo sexual. Figura 1. Representação dos cromossomos X e Y humanos, destacando as regiões de homologia e região não homóloga. 53 Herança ligada ao sexo e mecanismos de determinação sexual Aula 4A região homóloga entre X e Y são importantes por promover um pareamento parcial entre esses cromossomos durante a divisão meiótica, o que garante sua segregação na formação dos gametas. Nas regiões não homólogas do cromossomo X, encontram-se genes de importância estru- tural, inclusive genes para algumas doenças que serão estudadas a seguir. No cromossomo Y, em sua porção não homóloga, encontramos genes masculinizantes e de características exclusivas para o sexo masculino. Esses genes são denominados holândricos. HERANÇA LIGADA AO CROMOSSOMO X Também conhecida como “herança ligada ao sexo”, engloba o estudo de genes presentes no cromossomo X. Estes genes apresentam padrão de herança diferente do convencional, descrito pelas leis mendelianas, pois, nos machos, se encontram em hemizigose. Como no cromossomo Y não existe a região de homologia para esses genes, os machos apresentam apenas um alelo e vão expressar a característica determinada por ele. Características de expressão recessiva, basta um alelo presente no X para que a mesma se expresse em indivíduos do sexo masculino. Nesses casos dizemos que a característica foi transmitida pela mãe, pois, o alelo responsável está presente no cromossomo X herdado dela. Vejamos alguns exemplos: DALTONISMO A percepção de cores pelo olho humano ocorre em células dos cones que revestem a retina. Estas células detectam três tipos de cores específi cas: azul, verde e vermelho (as demais cores são resultado da combinação real- izada em nosso cérebro). O tipo mais comum de daltonismo em humanos é o que não distingue as cores vermelho e verde. Os genes que determinam a capacidade para a percepção destas cores estão localizados no cromossomo X. Um exemplo de teste para daltonismo está na Figura 2. Observação: O gene para detecção da cor azul está localizado no cro- mossomo 7, portanto, tem padrão de herança autossômica. 54 Genética Básica Figura 2. Exemplo de teste para daltonismo. Indivíduos daltônicos não conseguem visualizar o número na fi gura. Mulheres que apresentam um alelo Xd para o daltonismo tem fenótipo normal e são consideradas apenas portadoras, pois apresentam um alelo normal XD que mascara a caracaterística. Homens portadores de um alelo Xd para o daltonismo já apresentam o fenótipo daltônico, pois, seu outro cromossomo sexual não apresenta a região de homologia com a possibi- lidade de haver um alelo normal para mascarar o daltonismo. Para uma mulher ser daltônica, precisa possuir os dois alelos para esta característica, sendo o daltonismo uma característica recessiva. Veja o cruzamento (Figura 3) apresentando um casal formado por uma mulher portadora (XDXd) e um homem normal (XDY). A possibilidade de descendentes é de 25% para mulher normal (XDXD), 25% para mulher portadora (XDXd), 25% para homem normal (XDY) e 25% para homem daltônico (XdY). Neste cruzamento é possível visualizar que, para carac- terísticas ligadas ao cromossomo X, é a mãe portadora quem transmite o alelo defeituoso ao fi lho. Figura 3. Cruzamento entre um homem normal XDY e uma mulher portadora do alelo para o daltonismo XDXd. Os descendentes 55 Herança ligada ao sexo e mecanismos de determinação sexual Aula 4Nos heredogramas para características ligadas ao sexo usa-se represen- tar o indivíduo portador com um sinal diferente ao do indivíduo normal. Veja a representação deste padrão de herança naFigura 4. Observe também que homens que apresentam a característica não a transmitem para seus fi lhos do sexo masculino, mas, suas fi lhas serão todas portadoras do alelo para a característica. Figura 4. Heredograma para representação de característica ligada ao sexo (Fonte: http://www. infoescola.com/ciencias/genetica/exercicios/). HEMOFILIA A hemofi lia é uma doença caracterizada pela defi ciência na produção de fatores de coagulação do sangue. Esta característica é determinada por um gene presente no cromossomo X. Indivíduos portadores do alelo XH são capazes de produzir a proteína responsável pela coagulação do sangue, enquanto o alelo Hh não produz essa proteína. DISTROFIA MUSCULAR DE DUCHENNE Doença caracterizada pelo enfraquecimento e atrofi a progressiva dos músculos, manifesta-se por volta dos quatro anos de idade, quando os meninos começam a apresentar difi culdades em movimentos comuns do cotidiano como se levantar de uma cadeira ou subir uma escada. A doença progride lentamente até comprometer funções vitais, causando insufi ciência cardíaca e respiratória. Geralmente os indivíduos com esta característica sobrevivem até por volta dos vinte anos de idade. Como estes pacientes ao atingirem a idade fértil já se encontram muito comprometidos pela doença, não chegam a se reproduzir e por esse motivo, não são encontradas mulheres com distrofi a muscular, pois, para estas apresentarem a doença, seria necessário herdar um par de alelos defeituosos (Xd) do pai e da mãe. 56 Genética Básica HERANÇA LIGADA AO CROMOSSOMO Y Na porção diferencial do cromossomo Y não vamos encontrar genes estruturais como encontramos no cromossomo X. Nesse cromossomo encontramos apenas genes ligados a características exclusivas ao sexo mas- culino, como o gene SRY que produz o fator de diferenciação testicular (TDF), responsável pela diferenciação embrionária do testículo. Outra característica também ligada ao cromossomo Y é a ocorrência de pêlos nas bordas das orelhas (Figura 5), característica não muito comum, mas, exclusiva a indivíduos do sexo masculino. Um homem que apresente essa característica vai transmiti-la a todos os seus descendentes do sexo masculino. Figura 5. Indivíduo normal e indivíduo com pêlos nas bordas das orelhas. HERANÇA INFLUENCIADA PELO SEXO Alguns genes localizados em autossomos tem comportamento dife- rente dependendo do sexo do individuo, comportando a característica, hora como dominante, hora como recessiva, se o individuo for do sexo masculino ou feminino. Um exemplo para esse tipo de herança é a calvície, que no homem é uma característica dominante, enquanto na mulher, é recessiva (Figura 6). 57 Herança ligada ao sexo e mecanismos de determinação sexual Aula 4 Figura 6. Calvície – característica dominante no sexo masculino e recessiva no sexo feminino. MECANISMO DE COMPENSAÇÃO DE DOSES No início do período embrionário das fêmeas de mamíferos ocorre a inativação aleatória de um dos cromossomos X em cada célula. Essa inati- vação ocorre por meio da compactação do material genético que fi ca visível como uma pequena região de coloração mais densa no núcleo. Essa inativação persiste por todas as mitoses, sendo transmitida às célu- las fi lhas seguintes e, dessa forma, uma célula que anulou um cromossomo X herdado do pai, vai gerar toda uma linhagem de células com este mesmo cromossomo compactado. Por esse motivo de apresentarem linhagens uma de células com inativação do cromossomo X paterno, e outra do X materno, as fêmeas são consideradas mosaicos de células. Na visualização microscópica, esse ponto do material genético cor- respondente ao cromossomo X anulado por compactação é denominado cromatina sexual ou corpúsculo de Barr (Figura 7) e fi ca localizado próximo à membrana do núcleo. A cromatina sexual está presente apenas em células femininas, pois, os machos apresentam apenas um cromossomo X não sofrem inativação desse cromossomo. Figura 7. Cromatina sexual presente em células femininas (Fonte: http://evolucionarios.blogalia. com/historias/28254) 58 Genética Básica Um exemplo do mecanismo de compensação de doses pode ser obser- vado na pelagem de gatas (fêmeas). A cor preta ou marrom das manchas é determinada por um gene localizado no cromossomo X e, dependendo de qual cromossomo foi inativado em uma fêmea heterozigota, a mancha terá a cor determinada pelo alelo presente no X que permaneceu funcio- nal. Apenas fêmeas heterozigotas apresentarão as duas cores de manchas (Figura 8), machos, por possuírem apenas um cromossomo X e fêmeas homozigotas, apresentarão manchas de apenas uma cor. Figura 8. Gatas apresentando o padrão de colocação das manchas determinado pela inativação do X (Fonte: http://www.infoescola.com/genetica/cromatina-sexual/). DETERMINAÇÃO DO SEXO Existem diferentes sistemas para determinação do sexo, entre eles, podemos citar os que serão estudados a seguir: SISTEMAS CROMOSSÔMICOS A determinação do sexo por sistemas cromossômicos é baseada na ocorrência de variações de morfologia ou número nos cromossomos sexuais, onde podem existir machos heterogaméticos ou fêmeas heterogaméticas. MACHOS HETEROGAMÉTICOS Nestes sistemas de determinação sexual, os machos (heterogaméticos) formam gametas distintos, por tanto, é quem determina o sexo do descen- dente. As fêmeas formam apenas um tipo de gameta. 59 Herança ligada ao sexo e mecanismos de determinação sexual Aula 4- Sistema XY/XX Os machos formam gametas que apresentam, além do lote de autos- somos, cromossomos sexuais distintos, uns contendo o cromossomo Y que determinara o sexo masculino, outros contendo o cromossomo X, que determina o sexo feminino. Este sistema é encontrado em humanos e outros mamíferos. Células somáticas Gametas Macho 2 lotes de autossomos + XY 1 lote de autossomos + X ou 1 lote de autossomos + Y Fêmea 2 lotes de autossomos + XX 1 lote de autossomos + X - Sistema X0/XX Os machos formam gametas que apresentam numero distinto de cro- mossomos. A presença de um cromossomo X no gameta do macho, além dos autossomos, determina a formação de uma fêmea e, sua ausência, a formação de um organismo macho. Ocorre em percevejos, gafanhotos e baratas. Células somáticas Gametas Macho 2 lotes de autossomos + X 1 lote de autossomos + X ou 1 lote de autossomos Fêmea 2 lotes de autossomos + XX 1 lote de autossomos + X FÊMEAS HETEROGAMÉTICAS Agora, são as fêmeas quem vão formar gametas distintos e determinar o sexo dos descendentes. Para diferenciar dos sistemas de machos het- erogaméticos, os cromossomos sexuais nesta condição são denominados como Z e W. - Sistema ZW/ZZ As fêmeas formam gametas contendo ou o cromossomo Z, que deter- minará a formação de um macho, ou o cromossomo W, que determina a formação de uma fêmea. Os machos formam apenas gametas portadores do cromossomo Z, alem do lote de autossomos. Ocorre em borboletas, mariposas, alguns peixes e aves. 60 Genética Básica Células somáticas Gametas Macho 2 lotes de autossomos + ZZ 1 lote de autossomos + Z Fêmea 2 lotes de autossomos + ZW 1 lote de autossomos + Z ou 1 lote de autossomos + W - Sistema Z0/ZZ Gametas das fêmeas contendo o lote de autossomos mais o cromos- somo Z determina a formação de um macho. Se o gameta da fêmea, apre- senta apenas o lote de autossomos, o organismo formado será uma fêmea. Os gametas dos machos, todos apresentam o cromossomo Z alem do lote de autossomos. Encontrado em galinha e alguns répteis. Células somáticas Gametas Macho 2 lotes de autossomos + ZZ 1 lote de autossomos + Z Fêmea 2 lotes de autossomos + Z 1 lote de autossomos + Z ou 1 lote de autossomos Também existem outras variações nos sistemas de determinação do sexo como exemplo: SISTEMA HAPLOIDE-DIPLOIDEÉ o tipo de determinação de sexo comum em himenópteros (abelhas, vespas, cupins). Nesse sistema, as fêmeas são diplóides, originadas de fe- cundação da rainha (fêmea fértil da colônia) pelo macho. Já, os machos, se desenvolvem por partenogênese, a partir de ovos não fertilizados, sendo estes, haplóides. Figura 9. Abelha rainha e operária (diplóides), zangão (haplóide). 61 Herança ligada ao sexo e mecanismos de determinação sexual Aula 4SISTEMA DE BALANÇO GÊNICO EM DROSOPHILA No gênero Drosophila (Figura 10), encontramos um sistema peculiar de determinação do sexo. Mesmo havendo a presença de cromossomos sexuais X e Y (machos heterogaméticos), vão ocorrer variações de sexo relacionadas à proporção entre cromossomos X e autossomos. Figura 10. Mosca das frutas, gênero Drosophila (Fonte: http://www.iayork.com/Images/10-24-07/ Drosophila.jpg). Os machos apresentam 2 lotes de autossomos mais os cromossomos sexuais XY. As fêmeas, 2 lotes de autossomos mais XX. O índice sexual (IS) é determinado pela razão entre o número de cromossomos X e o número de lotes de autossomos. Assim, as fêmeas apresentam IS = 1,0 e os machos, IS = 0,5. Qualquer IS entre 0,5 e 1,0 determina um indivíduo intersexo. IS maiores que 1,0 determinam metafêmeas e menores que 0,5, metamachos. Machos: 2A + XY Fêmeas: 2A + XX Índice Sexual (IS) = no. de cromossomos X no. de conjuntos autossomicos Índice Sexual em Drosophila Índice Sexual (IS) Sexo < 0,5 Metamacho 0,5 Macho (0,5 - 1,0) Intersexo 1,0 Fêmea > 1,0 Metafêmea 62 Genética Básica DETERMINAÇÃO GENÉTICA DO SEXO EM HUMANOS Em humanos, apesar da existência de cromossomos morfologicamente distintos, a determinação do sexo ocorre devido à presença de um gene especifi co no cromossomo Y, o gene SRY. Este gene é responsável por pro- duzir no período de diferenciação embrionária uma proteína denominada fator de diferenciação testicular (TDF), que promove a diferenciação dos tecidos embrionários da gônada indiferenciada em testículo. Na ausência deste gene e, consequentemente do TDF, a gônada embrionária se dife- rencia em ovário. Também é o testículo que produzirá fatores específi cos que diferenciarão os demais tecidos do aparelho genital masculino e sua ausência determina o desenvolvimento de estruturas femininas. CONCLUSÃO Ao fi nal desta aula você deve conhecer exemplos de características determinadas por genes localizados nos cromossomos sexuais, sabendo explicar seu mecanismo de herança e diferenciar em que diferem da herança autossômica mendeliana. Também é importante que tenha compreendido os diferentes sistemas cromossomicos de determinação sexual. RESUMO Os genes localizados nos cromossomos sexuais apresentam um padrão de herança diferente dos autossomos devido ao macho apresentar apenas um cromossomo X. Alelos recessivos no cromossomo X manifestam-se em dose única nos machos por não haver homologia no par sexual. Na fêmeas de mamíferos a presença de dois cromossomos X é compensada pela anulação aleatória de um desses cromossomos por compactação, tornando as fêmeas mosaicos. Nos sistemas de determinação de sexo, encontramos sistemas de machos heterogaméticos (XX/XY, XX/X0) e de fêmeas he- torgaméticas (ZZ/ZW, ZZ/Z0). 63 Herança ligada ao sexo e mecanismos de determinação sexual Aula 4ATIVIDADES 1. Assista ao fi lme Óleo de Lorenzo e explique o mecanismo de herança da doença adenoleucodistrofi a apresentada nessa história. 2. Uma mulher, em um exame oftalmológico, foi diagnosticada com dalton- ismo, mas, esta característica se manifestava apenas em seu olho direito. Do olho esquerdo, essa mulher apresentava visão normal. Com base nos con- hecimentos estudados nessa aula, explique como esse fenômeno é possível: COMENTÁRIO SOBRE AS ATIVIDADES 1. O filme Óleo de Lorenzo apresenta uma doença genética (a adrenoleucodistrofi a) ligada ao sexo. Todo o drama relacionado ao contexto familiar desde a descoberta e progressão da doença é abordado de forma que sensibiliza a todos os que assistem. Neste fi lme também são abordadas questões relacionadas à ética e à pesquisa científi ca. 2. Esta atividade estimulará ao estudante a habilidade de contextualizar o conhecimento estudado, exigindo o estabelecimento de relações conceituais estudadas nessa aula com o problema proposto. AUTOAVALIAÇÃO Após ter estudado esta aula, consigo: 1. Montar o heredograma de família cujo casal de indivíduos não daltônicos tiveram 1 fi lho daltônico e uma fi lha normal, e determinar o genótipo do casal? 2. Saber se uma fi lha daltônica de um pai daltônico, tem que, obrigatoria- mente, ter uma mãe também daltônica? 3. Saber qual a probabilidade de um casal normal que tem um fi lho hemofí- lico ter um fi lho do sexo masculino normal? 4. Explicar o que são genes holândricos? 5. Explicar por qual motivo as fêmeas de mamíferos são consideradas mosaicos em relação à inativação do cromossomo X? 6. Defi nir a diferença entre os sistemas de determinação do sexo de machos heterogaméticos e fêmeas heterogaméticas? 7. Explicar o que diferencia os gametas nos sistemas de determinação do sexo XX/XY e XX/X0? 64 Genética Básica PRÓXIMA AULA A partir da próxima aula, iniciaremos o estudo da Genética molecular. Será entendida a estrutura do material genético e todo o funcionamento dos genes. É muito importante ter a idéia da estrutura cromossômica e dos mecanismos de herança, para que esses novos conceitos venham completar efetivamente a compreensão da Genética. REFERÊNCIAS GRIFFITHS AJF, MILLER JH, SUZUKI DT, LEWONTIN RC, GEL- BART WM. 2009. Introdução à Genética. 8 ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 794p. PIERCE BA. 2004. Genética: um enfoque conceitual. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 758p. SNUSTAD DP, SIMMONS MJ. 2008. Fundamentos de Genética. 4ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 903p. ESTRUTURA DOS ÁCIDOS NUCLEICOS META Apresentar a estrutura molecular do DNA e RNA. OBJETIVOS Ao fi nal desta aula, o aluno deverá: conhecer as estrutura de um nucleotídeo; compreender as propriedades dos ácidos nucléicos relacionadas à sua constituição molecular; compreender o sentido 5’-3’ na estrutura dos ácidos nucléicos; conhecer as diferentes bases nitrogenadas e a forma como interagem entre si; diferenciar estruturalmente DNA e RNA. PRÉ-REQUISITOS Conceitos de biologia celular e química de ensino médio. Aula 5 66 Genética Básica INTRODUÇÃO Bem vindo ao maravilhoso mundo da Genética Molecular. A partir desse capítulo, você vai conhecer detalhadamente a constituição molecular dos ácidos nucléicos (DNA e RNA) e assim, poderá compreender suas propriedades, como o comportamento destas moléculas, a natureza da informação genética e a estrutura de um gene, conhecimentos de extrema importância para a compreensão de todo o funcionamento gênico e também para o desenvolvimento das novas tecnologias da genética. Será estudada a constituição dos nucleotídeos e a forma como se “encaixam” e interagem entre si para compor as moléculas dos ácidos nucléicos. Em seguida, serão apresentadas as diferenças estruturais entre DNA e RNA, estendendo às suas propriedades funcionais relacionadas à sua estruturação molecular. As informações desta aula são a base para a compreensão de todo o conteúdo de genética molecular que será estudado. Assim, será muito importante que dedique atenção especial a essa aula e que também faça revisões dos conceitos aqui apresentados sempre que for necessário nas aulas posteriores. CONHECENDO O NUCLEOTÍDEO Os ácidos nucléicos são moléculas orgânicas constituídas por polímeros, uma cadeia de subunidades determinadas nucleotídeos. Assim, para com- preender os ácidos nucléicos, é de suma importância conhecer antes
Compartilhar