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EDITORIAL
II Série, n.º 22, tomo 2, Julho 2018
Proprietário e Editor |
Centro de Arqueologia de Almada,
Apartado 603 EC Pragal, 
2801-601 Almada Portugal
NIPC | 501 073 566
Sede | Travessa Luís Teotónio
Pereira, Cova da Piedade, 
2805-187 Almada
Telefone | 212 766 975
E-mail | c.arqueo.alm@gmail.com
Internet | www.almadan.publ.pt
ISSN | 2182-7265
Estatuto editorial |
www.almadan.publ.pt
Distribuição | http://issuu.com/almadan
Patrocínio | Câmara M. de Almada
Parceria | ArqueoHoje - Conservação
e Restauro do Património
Monumental, Ld.ª
Apoio | Neoépica, Ld.ª
Director | Jorge Raposo
(director.almadan@gmail.com)
Publicidade | Centro de Arqueologia
de Almada (c.arqueo.alm@gmail.com)
Conselho Científico |
Amílcar Guerra, António Nabais, 
Luís Raposo, Carlos Marques da Silva
e Carlos Tavares da Silva
Redacção | Centro de Arqueologia de
Almada (sede): Vanessa Dias,
Ana Luísa Duarte, Elisabete
Gonçalves e Francisco Silva
Resumos | Jorge Raposo (português),
Luisa Pinho (inglês) e Maria Isabel dos
Santos (francês)
Modelo gráfico, tratamento de imagem
e paginação electrónica | Jorge Raposo
Revisão | Elisabete Gonçalves, 
Fernanda Lourenço e Sónia Tchissole
Colaboram neste número |
Sara Brito, Jacinta Bugalhão, Mafalda
Capela, Guilherme de Jesus P. Cardoso,
João Luís Cardoso, Alexandre Carrança,
António Rafael Carvalho, Liliana
Carvalho, Ana Rosa Cruz, Vitor Durão,
José d’Encarnação, José da Silva
Ferreira, Maria Teresa Ferreira, Silvério
Figueiredo, Miguel Lago, Eva Maria 
F. Leitão, Sebastião L. de Lima Filho,
António Marques, Sérgio Monteiro-
-Rodrigues, Andreia Moreira, Maria
João Neves, Susana Nunes, Franklin
Pereira, Silvina Pereira, Paula Queiroz,
Ana Cristina Ribeiro, Carla Ribeiro,
Morgana Cavalcante Ribeiro, Maria 
Capa | Jorge Raposo
Composição sobre imagem da anta 
Olival da Anta, um dos monumentos
megalíticos do Município de Avis.
Foto © Ana Cristina Ribeiro, 
Câmara Municipal de Avis.
de Jesus Sanches, João Luís Sequeira,
Miguel Serra, Armando Coelho F. 
da Silva, Rodrigo Banha da Silva, Sara
Simões, Fábio Soares, Cátia Teixeira, 
Ana Vale, Marco Valente, Carlos Vítor
D. D. Vasques e Sofia N. Wasterlain.
Os conteúdos editoriais da Al-Madan Online
não seguem o Acordo Ortográfico de 1990.
No entanto, a revista respeita a vontade dos
autores, incluindo nas suas páginas tanto
artigos que partilham a opção do editor
como aqueles que aplicam o dito Acordo.
E ste novo tomo da Al-Madan Online abre com um merecido destaque ao Património
arqueológico megalítico do Município de Avis. Um vasto conjunto de monumentos
funerários, erguidos pelas comunidades que aí viveram entre o 5.º e o 3.º milénios a.C.,
ainda hoje marca a paisagem e justifica estratégias sustentadas de gestão, valorização e 
promoção que articulem o seu importante valor científico com as não menos relevantes 
valências culturais e turísticas. Um processo a seguir e, principalmente, 
a fruir através das múltiplas ofertas de roteiros de visita.
A Arqueologia de campo está presente através dos resultados de intervenção realizada no 
centro histórico de Pinhel, em níveis de necrópole medieval-moderna que propiciaram a análise
antropológica dos indivíduos aí inumados, e ainda de trabalho que ilustra as potencialidades
abertas ao estudo da arte rupestre pelas novas tecnologias digitais, exemplificando com 
a sua aplicação à denominada “Pedra da Lua”, na serra do Caldeirão (Almodôvar).
Correspondendo ao crescente interesse que desperta em leitores desse país lusófono, 
a Al-Madan Online dá também espaço à Arqueologia brasileira, publicando uma investigação
sobre estruturas murárias ligadas à ocupação colonial da zona centro-norte da Baía 
na transição dos séculos XIX-XX.
Outros estudos retomam problemáticas portuguesas. O primeiro incide sobre trajectos matrizes
da área de Lisboa e analisa o seu papel no desenvolvimento e consolidação das urbes antigas de
Odivelas, da Graça, da Colina do Castelo e da Frente de Alfama; um segundo parte das
magníficas ilustrações de uma publicação alemã dos finais do século XVIII para avivar a 
memória das grutas ou cavidades naturais existentes no vale de Alcântara, entretanto
desaparecidas devido à extracção intensiva de pedra calcária; um terceiro tece considerações 
sobre contextos e práticas funerárias neolíticas identificadas entre os estuários dos rios Âncora 
e Lima; um quarto sistematiza a análise iconográfica de um cofre em marfim profusamente
decorado, executado em Paris no século XIV, e contextualiza-o na arte parisiense e luso-oriental
da época; um último reflecte sobre a experiência de encenar peças de repertório clássico nas
ruínas do Teatro Romano de Lisboa, nomeadamente A Paz de Aristófanes, em 2016, 
e O Misantropo de Menandro, em 2017.
Um texto de opinião aborda as novidades da Lisboa romana, outro as questões de género 
na Arqueologia profissional portuguesa, e outro ainda enfatiza a pertinência da Arqueologia de
“cota positiva”, particularmente em contextos industriais. O Património cultural, em sentido
amplo, está representado por análise documental que enriquece o conhecimento da toponímia 
da zona do Torrão (Alcácer do Sal) no século XV, e por recolha oral junto de Jorge Augusto, 
um operário e original criador artístico da zona do Porto. Por fim, há ainda uma crónica
estimulante e diversificado noticiário arqueológico, sobre livros, revistas e eventos científicos
recentes, terminando com uma agenda dos que estão publicitados para os próximos meses.
Como sempre… votos de boas leituras!
Jorge Raposo
4
ÍNDICE
II SÉRIE (22) Tomo 2 JULHO 2018
online
EDITORIAL ...3 
CRÓNICAS
Contextos e Práticas Funerárias 
Neolíticas Entre os Estuários do Âncora 
e do Lima (Noroeste de Portugal): 
algumas considerações |
Fábio Soares...72 
ARQUEOLOGIA
Copiar, Colar e... Omitir! |
José d’Encarnação...6 
ESTUDOS
Intervenção Arqueológica no Centro
Histórico de Pinhel (Guarda): resultados
arqueológicos e paleobiológicos |
Susana Nunes, Carla Ribeiro, 
Maria João Neves, Sofia N. Wasterlain 
e Maria Teresa Ferreira...18 
A História Que Resiste: um estudo de 
caso acerca de remanescentes históricos
edificados no Centro Norte Baiano (Brasil) |
Morgana Cavalcante Ribeiro e Sebastião
Lacerda de Lima Filho...34 
Trajeto Matriz. 
Análise de trajetos
matrizes em estruturas
territoriais e urbanas
antigas da área de Lisboa:
Odivelas, Graça, 
Colina do Castelo e
Frente de Alfama |
Vitor Durão...47 
Pedra da Lua (Serra do Caldeirão, Almodôvar): 
uma redescoberta à luz das novas tecnologias 
[MRM - Modelo de Resíduo Morfológico] |
Marco Valente...26 
Entre Pedras e 
Pedrinhas: construção 
de um roteiro megalítico 
de Avis | Ana Cristina
Ribeiro...8 
ARQUEOLOGIA BRASILEIRA
As Grutas do 
Vale de Alcântara |
Eva Maria F. Leitão,
Carlos Vítor D. D.
Vasques e Guilherme
de Jesus P. Cardoso
...58 
Cofre em Marfim 
Parisiense do Século XIV: análise
iconográfica e contextualização
portuguesa | Cátia Teixeira...85 
5
OPINIÃO
EVENTOS
Agenda...165 
PATRIMÓNIO
NOTICIÁRIO
ARQUEOLÓGICO
Questões de Género em Contexto 
Laboral em Arqueologia: breves notas |
Sara Simões, Sara Brito, Liliana Carvalho,
Jacinta Bugalhão e Andreia Moreira...111 
ESTUDOS CLÁSSICOS
O Misantropo no Teatro Romano 
de Lisboa: quando a criação artística se
encontra com a investigação académica |
Silvina Pereira...93 
E Algumas Coisas Que 
Não Deveriam Ter Sido
Esquecidas, Foram Perdidas |
João Luís Sequeira...114 
Topónimos da 
Vila do Torrão, de Meados do 
Século XV: segundo um documento
de administração de uma Capela
sediada na Igreja Matriz | António
Rafael Carvalho...117 
Localização do Balneário Castrejo Atribuído ao 
Castro de Eiras / Aboim das Choças (Arcos de Valdevez) |
José da Silva Ferreira e Armando Coelho F. da Silva...136 
Frutos de Roseira na Urna Funerária 
do Tumulus 1 do Souto (Abrantes, Portugal) |
Paula Queiroz e Ana Rosa Cruz...138 
Petição Pela Defesa do Património 
Arqueológico Nacional | Marco Valente...141 
LIVROS & REVISTAS
Actas do Primeiro Encontro 
de Arqueologiade Lisboa |
João Luís Cardoso...144 
Caetobriga. O Sítio Arqueológico 
da Casa dos Mosaicos: recensão 
de uma obra fundamental |
João Luís Cardoso...147 
Novidades...150 
X Jornadas de 
Jovens em Investigação
Arqueológica | Cátia
Teixeira...151 
II Encontro de Arqueologia 
de Lisboa | António Marques...153 
Colóquio Anual da ERA Arqueologia |
Mafalda Capela...155 
ARQUEOCIÊNCIAS 2018. Da matéria-prima 
ao artefacto: algumas notas | Ana Vale, 
Sérgio Monteiro-Rodrigues e Maria 
de Jesus Sanches...158 
As Ruínas da Lisboa Romana |
José d’Encarnação...107 
Arte Não-Académica, 
Arte Popular, Arte Bruta: 
as criações de Jorge Augusto |
Franklin Pereira...127 
Comissão de Arqueologia Profissional da Associação
dos Arqueólogos Portugueses | Rodrigo Banha da
Silva, Miguel Lago e Jacinta Bugalhão...142 
O II Congresso Internacional As Aves:
evolução, paleontologia, arqueozoologia, 
artes e ambientes | Silvério Figueiredo 
e Alexandre Carrança...161 
Arqueologia, Museu(s) e Comunidade(s): 
arqueologia comunitária e museologia 
comunitária | Miguel Serra...162 
111
A té ao ano de 1969, apenas 7%
dos arqueólogos registados no
ENDOVÉLICO, Sistema de Infor -
ma ção e Gestão Arqueológica correspon-
dem a arqueólogas em direcção de tra-
balhos arqueológicos (BUGALHÃO, 2017:
124-125), número que deverá ser com-
preendido à luz da situação sócio-políti-
ca do Portugal contemporâneo, natu-
ralmente condicionante de um desem-
penho profissional no feminino.
Desde então, o papel da mulher na pro-
fissão de Arqueólogo em Portugal tem
re velado uma evolução notável. Após as primeiras pioneiras (entre os anos 40 e 70 do sé -
culo passado), as mulheres passaram a representar entre 30% (anos 80) e 40% (anos 90),
alcançando a paridade numérica no início do século XXI. Apenas na região Norte do
país, o género feminino na actividade arqueológica aparenta atingir valores relativos infe-
riores aos registados na população portuguesa (ASSOCIAÇÃO…, 2014).
Hoje em dia, as mulheres marcam presença transversal em todos os sectores da actividade
arqueológica, desempenhando funções profissionais ao nível da Arqueologia preventiva e
comercial, na investigação, mu seus, ensino, divulgação, gestão ou produção bibliográfica.
Os números parecem indicar a existência de mais mulheres do que homens a adqui rir os
graus académicos em Arqueologia que permitem o exercício da profissão (li cenciatura e
mestrado), mas ainda não foi atingida a proporção nacional de graduados superiores
(con sideradas todas as áreas) que se revela mais favorável ao género feminino (cerca de
60%) (BUGALHÃO, 2017).
Contudo, alguns problemas subsistem e, em Portugal, ser mulher em Arqueologia ainda
significa lutar contra barreiras laborais que dificultam um exercício pleno da profissão,
so bretudo porque as barreiras laborais são o reflexo de paradigmas sociais solidamente
RESUMO
Breves notas sobre as questões de género no 
contexto profissional da Arqueologia portuguesa, 
numa reflexão do Sindicato dos Trabalhadores 
de Arqueologia.
Com base nos dados disponíveis, 
constata-se que hoje, em Portugal, ser mulher 
em Arqueologia ainda significa lutar contra barreiras 
laborais que dificultam um exercício pleno da profissão,
sobretudo porque as barreiras laborais são o reflexo 
de paradigmas sociais solidamente implantados 
e que urge corrigir.
PALAVRAS CHAVE: Arqueologia; Direito; 
Sociedade; Mulher.
ABSTRACT
The Archaeological Workers Union offers 
some reflexions on gender issues in the professional 
context of Portuguese Archaeology.
An analysis of available data clearly shows 
that being a woman in Archaeology still 
means fighting against labour barriers 
which make it more difficult for women 
to fully develop in their profession. 
Moreover, labour barriers just reflect 
deeply ingrained social paradigms 
that we must urgently overcome.
KEY WORDS: Archaeology; 
Law; Society; Woman.
RÉSUMÉ
Brèves notes sur les questions 
de genre dans le contexte 
professionnel de l’Archéologie 
portugaise dans une réflexion 
du Syndicat des Travailleurs 
dans l’Archéologie.
Se basant sur les données 
disponibles, on constate que, 
aujourd’hui, au Portugal, être femme 
dans le monde de l’Archéologie signifie 
encore lutter contre des barrières professionnelles 
qui compliquent un exercice plein du métier, 
surtout parce qu’elles sont le reflet de 
paradigmes sociaux solidement ancrés 
et qu’il y a urgence de corriger.
MOTS CLÉS: Archéologie; Droit; 
Société; Femme.
Questões de Género
em Contexto Laboral
em Arqueologia
breves notas
Sara Simões I, Sara Brito I, Liliana Carvalho I, Jacinta Bugalhão I e Andreia Moreira I
I Sindicato dos Trabalhadores de Arqueologia.
Por opção das autoras, o texto não segue as regras 
do Acordo Ortográfico de 1990.
“
“
[...] o papel da mulher 
na profissão de Arqueólogo
em Portugal tem revelado
uma evolução notável [...],
alcançando a paridade
numérica no início 
do século XXI.
dade e pela instabilidade pode “influenciar o tipo de reação e o facto da
reação ser imediata ou não. No limite, falta de reacção, mantendo-se si -
tuações de assédio que progressivamente vão deixando de ser contestadas.
Um ambiente hostil é assim, ao mesmo tempo, factor propiciador de assé-
dio e factor de bloqueio à mudança, reduzindo o bem-estar e ofendendo
a dignidade humana e no trabalho” (TORRES et al., 2016: 212).
Não existem dados recolhidos e estudados de forma sistemática sobre
as principais problemáticas associadas às questões de género em con-
texto laboral de Arqueologia, como sejam a discriminação ou a dife-
renciação salarial com base no género. Contudo, existe a convicção
empírica de que alguns aspectos da prática quotidiana da actividade
arqueológica se revelam ainda problemáticos para as mulheres, exis-
tindo um longo caminho a percorrer no sentido da verdadeira igual-
dade e respeito de género.
De formas evidentes ou mais subtis, muitas mulheres deparam-se com
práticas sexistas no local de trabalho, enfrentando situações de pre-
conceito, nomeadamente na escolha e organização de equipas, tam-
bém em função do tipo de trabalho em causa, com base no género,
discriminando os elementos femininos. Numa economia competitiva
e baseada na premissa de que “tempo é dinheiro”, muito embora não
seja posta em causa a capacidade de trabalho das arqueólogas de cam-
po, persistem práticas de maior valorização do trabalho masculino, fi -
sicamente mais concordante com uma arqueologia empresarial que se
quer rápida, com mais feito em menos tempo, logo, com menos custos.
Registam-se e aceitam-se com naturalidade práticas misóginas de des-
respeito a mulheres em posições de autoridade e liderança, com actos
de assédio sexual e/ou moral por parte de colegas de profissão e, mais
comummente, por trabalhadores e chefias da construção civil. Não
raramente, arqueólogas em contexto de obra vêem-se confrontadas
112
im plantados. Assim, importa alertar para as situações de desigualdade
de género e discriminação. É este cenário de apenas aparente igualdade
laboral que o Sindicato dos Trabalhadores de Arqueologia (STARQ)
tem procurado analisar, reflectindo e encontrando linhas de acção e
so lução para os problemas identificados.
Devido às extraordinárias condições de instabilidade e precariedade
laboral, aliadas ao carácter muito itinerante da profissão, a parentali-
dade é uma questão crítica na profissão de arqueólogo (BUGALHÃO,
2017). Ainda que consagrados por lei e na Constituição da Repú bli -
ca, os direitos de maternidade e de paternidade continuam a ser alvo
de constantes ataques e violações patronais. E tudo indica que a ma -
ternidade é consideravelmente mais problemática. O índice sintético
de fecundidade entre as arqueólogas (0,5) está muito abaixo da média
nacional (0,7) (ASSOCIAÇÃO…, 2014: 44).
Ao contrário da tendência geral, hoje, há mais arqueólogos que ar -
queó logas em exercício profissional entre os 25 e os 40 (faixa etária so -
ciologicamente fértil). Após quase duas décadas de fortes ingressos fe -
mininos jovensno nosso grupo profissional, a maternidade parece
im por algum impulso de abandono da profissão para as arqueólogas
(ASSOCIAÇÃO…, 2014)).
As arqueólogas vêem-se ainda confrontadas com frequentes situações
discriminatórias, assistindo-se à impossibilidade destas trabalhadoras
garantirem, por conta da precariedade e da ausência de prestações so -
ciais, o exercício dos direitos relacionados com a maternidade. Por
ou tro lado, o facto de, muito habitualmente, os pais também não po -
derem aceder à licença de paternidade penaliza duplamente as mães.
A violência psicológica a que estão submetidas reflecte-se ainda na
coação e falta de apoio por parte das entidades patronais, muitas vezes
sujeitando estas profissionais a períodos de deslocação domiciliária e
itinerância, vedando-lhes o direito à amamentação e impedindo-as de
garantir as necessidades educacionais de filhos menores.
No combate a esta realidade, impõe-se uma urgente alteração das po -
líticas sociais e de emprego, a eliminação da precariedade laboral e o
aumento dos rendimentos, principal meio de subsistência das famí-
lias. É urgente a elaboração de convenções colectivas de trabalho e a
existência de protecção social adequada, nomeadamente a concessão
do regime de horário flexível a trabalhadoras/es com filhos até aos 12
anos de idade, nas condições previstas na lei. Neste âmbito, deve sa -
lientar-se a enorme relevância social e económica da existência de uma
oferta pública e universal de creches no contexto da rede pública de
en sino, reivindicação que, a ser concretizada, representaria um salto
civilizacional para a condição feminina, para o apoio às famílias e para
o equilíbrio social nacional.
Segundo estudos aplicados à generalidade dos sectores profissionais,
promovidos pela Comissão para a Igualdade no Trabalho e no Em -
pre go, o assédio sexual e o assédio moral no local de trabalho estão
relacionados com más condições laborais. Estes estudos, efectuados
em 2015, demonstram que o vínculo laboral marcado pela precarie-
OPINIÃO
II SÉRIE (22) Tomo 2 JULHO 2018
online
“
“
Não existem dados 
[...] sobre as principais
problemáticas associadas 
às questões de género 
em contexto laboral de
Arqueologia [...]. Contudo,
existe a convicção empírica
de que [... há] um longo
caminho a percorrer no
sentido da verdadeira
igualdade de género.
113
com linguagem e práticas ofensivas, bem como com condições de tra-
balho que as colocam em situações de desprotecção e fragilidade. 
Assédio constitui crime e deve ser denunciado. A presença dos Sin di -
catos nos locais de trabalho e o exercício da actividade sindical são um
pilar essencial no combate a estas situações e, neste sentido, o STARQ
não poderia deixar de incluir na sua luta sindical a garantia de segu-
rança moral no trabalho. Torna-se fundamental a existência de uma
política de sensibilização e prevenção contra práticas de assédio, que
permita aos trabalhadores reconhecer situações de assédio e que di -
vulgue os mecanismos e as formas de combate deste tipo de ocorrên-
cias nos locais de trabalho, através da sua denúncia e punição em vez
do afastamento da vítima do seu local de trabalho.
Através da sensibilização, prevenção, controlo e denúncia (trabalho a
desenvolver em parceria com as autoridades oficiais competentes, Au -
toridade para as Condições do Trabalho e Comissão para a Igualdade
no Trabalho e no Emprego), o STARQ considera fundamental lutar por
infraestruturas que assegurem a protecção das mulheres em obra, tais
como instalações sanitárias e/ou vestiários exclusivos.
É sabido que os trabalhadores são afectados por doenças profissionais,
como sejam o elevado risco de lesões músculo-esqueléticas e situações
de exaustão física e psicológica, causados pelos elevados níveis de stress e
pelos acelerados ritmos de trabalho, muitas vezes em condições atmos -
féricas difíceis e extremas. Estes riscos na área da saúde no trabalho são
agravados pela falta de condições laborais (sejam elas materiais, físicas
ou de escassez de pessoal) e pelas situações de precariedade. Embora
se imponha um estudo aprofundado no que respeita às mulheres em
exercício profissional em Arqueologia (que, aliás, o STARQ tenciona
promover), às patologias que afectam a generalidade dos trabalhado-
res acrescem os problemas de saúde especificamente femininos que,
devido ao contexto exposto, são frequentemente ampliados.
Assim, e em síntese, o grupo profissional em Arqueologia em Por tu -
gal revela genericamente uma paridade numérica de género. Contu -
do, e embora escasseiem estudos específicos,
uma observação de pormenor nas diversas ver-
tentes das problemáticas laborais de género per -
 mite constatar disparidades que urge caracteri-
zar, analisar e compreender. Entende-se assim,
no que ao género diz respeito, que a igualdade no
exercício da profissão não pode ainda ser con -
 siderada plena.
Cabe a todas e a todos os profissionais lutar con -
tra práticas discriminatórias e de violência ain-
da existentes sobre as mulheres, lutar por direi-
tos laborais igualitários e universais e contra o
seu incumprimento, com a consciência de que
só o esforço conjunto, um dia, fará da Arqueo -
lo gia uma profissão sem género. 
“ “[...] só o esforço conjunto,
um dia, fará da Arqueologia 
uma profissão sem género.
BIBLIOGRAFIA
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Portugal 2012-14. Associação Profissional de
Arqueólogos. Em linha. Disponível em
http://bit.ly/2kyweD5 (consultado em 
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BUGALHÃO, Jacinta (2013) – “As mulheres 
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as desigualdades das mulheres no trabalho
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maternidade/paternidade, assédio, doenças
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GOMES, Francisco (2015) – “Género, identidade 
e poder: para uma leitura crítica das relações de
género em Arqueologia”. Conímbriga. 
Coimbra. 54: 27-44.
JORGE, Victor Oliveira e JORGE, Susana Oliveira
(1996) – “Women in Portuguese Archaeology”.
Trabalhos de Antropologia e Etnologia. 
Porto. 36: 159-167.
TORRES, Anália; COSTA, Dália; SANT’ANA, Helena;
COELHO, Bernardo e SOUSA, Isabel (2016) –
Assédio sexual e moral no local de trabalho. 
Lisboa: Comissão para a Igualdade no Trabalho 
e no Emprego (CITE).
[http://www.caa.org.pt]
[http://www.facebook.com]
[c.arqueo.alm@gmail.com]
[212 766 975 | 967 354 861]
[travessa luís teotónio pereira, cova da piedade, almada]
uma edição
[http://www.almadan.publ.pt]
[http://issuu.com/almadan]

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